o que aprendi sobre redação e posso lhe ensinar

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O que aprendi sobre redação não é um livro acadêmico, muito menos um manual contendo aqueles exercícios

que você não tem paciência para realizar.

Trata-se de um diálogo com os leitores, no qual o autor coloca para fora sua

prática de alguns anos como redator/cronista e sua experiência

como analista e avaliador de textos nos concursos e programas de treinamento do Banco do Brasil, enriquecida com o

estudo de teorias e suas próprias reflexões sobre o ato de escrever. Esse acúmulo de experiências e

conhecimentos não poderia de maneira alguma ficar repousando nas gavetas da memória, sem a oportunidade de ser transmitido a todos aqueles que

necessitam de alguma forma praticar a redação, de maneira ocasional ou

constante: desde trabalhos dissertativos, incluindo artigos para

jornais, até simples cartas de reclamação a empresas (o livro inclui

um capítulo sobre a técnica de correspondência formal).

É um livro claro e objetivo, de leitura agradável, colocando à mostra muito

daquilo que não é abordado nos manuais de redação. Sua leitura é

recomendada não só aos que pretendem aperfeiçoar a técnica de

redigir, mas também aos que pretendem desvendar a estrutura e o

significado de um texto, para sua melhor interpretação.

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O QUE APRENDI SOBRE REDAÇÃO. (e posso lhe ensinar)

HILTON GÕRRESEN

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Copyright © 2008 Hílton Görresen Revisão e Edição: o Autor Capa: Lizie Capello

Digitalizado e revisado por: Tiago Walter Fagundes

469.5 G673q Gõrresen, Hílton. O que aprendi sobre redação : e posso lhe ensinar / Hilton Gõrresen. - Blumenau : Nova Letra, 2008. 80 p.

ISBN 978-85-7682-343-8

1 .Gramática – Concepções. 2. Redação. 3. Texto - Formas - Conteúdo Argumentação. I. Título

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SUMÁRIO Introdução ...................................................................................... 7

No começo era o verbo..................................................................... 9

Concepções de gramática ................................................................ 10

Língua escrita x língua falada ......................................................... 11

A frase ............................................................................................ 12

A redação ........................................................................................ 12

O texto ............................................................................................ 13

- Formas do texto ............................................................................ 14

- A crônica ...................................................................................... 17

- Unidade do texto ........................................................................... 17

- Coesão e coerência ........................................................................ 18

- Elementos que interferem no texto ................................................ 21

- Qualidade do texto ........................................................................ 22

- Gerenciando o texto ...................................................................... 23

- A leitura do texto .......................................................................... 24

Conteúdo ........................................................................................ 25

- Originalidade

- Peneirando os fatos ....................................................................... 29

- Pressupostos e subentendidos ...................................................... 30

- Como achar o conteúdo do texto? ................................................. 31

Expressão ....................................................................................... 32

- Objetividade e clareza ................................................................... 32

- Fluência ....................................................................................... 35

- Paralelismo ................................................................................... 39

- Concisão ....................................................................................... 40

- Lugares comuns ........................................................................... 41

- Metáforas ..................................................................................... 42

- Aspas e parênteses ....................................................................... 43

- Um caso de crase .......................................................................... 44

- Recursos gramaticais .................................................................... 45

Estrutura do texto........................................................................... 48

- Tema e assunto ............................................................................ 52

- A tese ........................................................................................... 54

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- Planejamento do texto ................................................................... 55

- "Enchendo lingüiça" ...................................................................... 57

Argumentação ................................................................................. 58

Parágrafo ........................................................................................ 62

Organização do texto ....................................................................... 64

Revisando o texto ............................................................................ 67

Bom senso e bom gosto ................................................................... 68

Correspondência ............................................................................. 69

Estratégias de construção do texto empresarial ............................... 75

Anexo:

- Plano de Redação .......................................................................... 78

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INTRODUÇÃO

Você que está aí tranquilão pode achar que escrever é coisa para "poetas". Para

que saber redigir? Na certa haverá coisas mais importantes para se fazer.

Mas sempre chega a hora em que terá de enfrentar o papel em branco. Carta para

uma instituição argumentando que lhe estão cobrando algo indevidamente, para

sua escola, relatório de pesquisas, nota para a imprensa reclamando de algum

deslize dos órgãos públicos, monografia em seu curso, e por aí vai. E agora? Você

sabe certamente que o texto bem elaborado dá maior credibilidade à mensagem,

possui eficiência muito maior.

Você já ouviu muitas vezes alguém dizer que redigir é uma coisa difícil. Mas o

diabo não é tão feio como pintam. Para redigir, não é necessário fazer literatura,

nem procurar fazer bonito utilizando vocabulário difícil e construções sintáticas

rebuscadas. O principal é aprender a gostar de escrever: narrar, dissertar,

descrever, fazer crônicas, letras de música, poesias para a namorada.

Em todos os casos, o ato de redigir deve partir da necessidade psicológica ou

concreta de expressar alguma coisa. Aquele sentimento de revolta ou de

indignação que o atormenta em vista de uma injustiça, a vontade de registrar seu

posicionamento sobre algum tema, a necessidade de questionar, de organizar

suas idéias, rebater idéias opostas às suas. Tudo é motivo para redigir.

Assim como você pode discutir com eficiência sobre futebol, política, música,

garotas, e outros assuntos do cotidiano, pode também colocar as idéias no papel.

Basta apenas bom senso e organização, enriquecidos com algumas técnicas para

melhorar a apresentação de seu comunicado.

Muitos sofrem de uma estranha "doença": a síndrome do papel em branco.

Mesmo os que discutem com desembaraço sobre qualquer assunto, dão uma

tremidinha, suam frio, bambeiam as pernas quando têm que colocar alguma

coisa no papel. Medo de cometer erros? Talvez a culpa disso seja dos "gramáticos

profissionais", aqueles que escrevem na mídia e, mesmo dizendo o contrário, dão

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a impressão de que a língua que falamos é tão difícil que precisa ser ensinada a

cada dia. Mas talvez o problema maior seja conseguir um texto coerente, claro e

objetivo.

Na ocasião em que ministrei alguns cursos de redação, aplicava um teste simples,

que você pode efetuar agora e estendê-lo aos amigos ou filhos.

Na ocasião em que ministrei alguns cursos de redação, aplicava um teste simples,

que você pode efetuar agora e estendê-lo aos amigos ou filhos.

Pronto. Parece fácil, não? Mas o redator deve tomar algumas decisões: como

abordar o assunto? Que tipo de linguagem adotar? Que argumentos poderão

convencer o dono do restaurante? Se a pessoa conseguir redigir um bilhete que

seja claro, discreto, inclua todas as informações necessárias sem ser prolixo, já é

um bom sinal.

NO COMEÇO ERA O VERBO

Embora alguns jovens insistam em que a maior invenção da humanidade foi o

videogame, ainda acho que foi a linguagem.

Pela linguagem é que apreendemos, ordenamos e expressamos a realidade. Tente

formular um só pensamento sem se valer da linguagem. Impossível, pois

linguagem e pensamento se confundem, são as duas faces da mesma moeda.

Você costuma almoçar em determinado restaurante, daqueles que serve bufê com "limitação dos pedaços de carne". O restaurante majora o preço você então, resolve deixar um bilhete na caixinha de sugestões a respeito do assunto. Os dados são os seguintes: 1. Os restaurantes similares mantêm preço mais baixo. 2. Sua sugestão é rever o aumento ou, se o mantiver, liberar a quantidade de carne. 3. Você deve argumentai de alguma forma a favor de sua sugestão.

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Por intermédio dela conseguimos nos distanciar dos animais, para quem apenas

existe o momento presente. Com a linguagem - e aqui me refiro à linguagem

verbal - temos condição de nos referir ao passado e de planejar o futuro.

Conseguimos falar de coisas que não têm existência concreta, como o amor, a

saudade, a distancia, etc.

Veja como a criação de um simples fenômeno lingüístico, o substantivo comum,

possibilitou melhor apreensão da realidade: o substantivo comum representa

uma maneira de abstração, isto é, de classificar sob a mesma denominação seres

ou objetos que possuem as mesmas características gerais, deixando de lado

diferenças individuais. Não fosse isso, cada gato ou cada mesa do mundo, por

exemplo, seriam denominados de forma diferente. Teríamos, assim, milhões de

nomes para o animal caracterizado como "gato" e para o objeto caracterizado

como "mesa". Imaginaram a confusão?

E isso não é tudo. Como transmissora da cultura, é ela a responsável pelo atual

estágio de nossa civilização. Sem o registro, pela palavra, de todas as experiências

anteriores do ser humano, o mundo seria um eterno recomeçar, um eterno

ensaio-erro, a fim de se inventar alguma coisa. Não é à toa que diz a Bíblia: no

começo era o Verbo. A linguagem é o início de tudo!

CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA

Quando se fala em gramática, todos (ou quase todos) têm em mente aquele livro

por vezes chato trazendo regras para "bom uso" da língua. Na verdade, o termo

gramática refere-se também à estrutura de qualquer língua, consagrada pelo uso

e internalizada na mente dos falantes. Digo falantes, visto que mesmo as línguas

apócrifas, isto é, que não possuem escrita, têm a sua gramática. Vê-se portanto

que não é a gramática dos livros que determina o aprendizado da língua.

Baseados nisso, encontramos duas espécies de gramática: a normativa, que

procura impor regras, estribada nos textos de autores antigos, denominados

clássicos, que bem manejavam a língua; a descritiva, que registra os fatos da

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língua, verificando a constância de certos fenômenos, como um cientista registra

os fatos naturais, sem no entanto querer transformá-los em regras.

A primeira gramática - a normativa nos vem da antiguidade, cerca do século II

antes de Cristo. Seu objetivo era organizar e estudar as normas utilizadas pelo

idioma mais antigo, para que pudessem ler as obras daquela época, como as de

Homero. Ainda não se dedicava à imposição de regras.

A gramática normativa fixou-se na linguagem escrita culta, sem atentar para o

fato de que até essa linguagem sofre mudanças. Enquanto outras áreas de

conhecimento assimilam mudanças, a gramática continua conservadora, não

incorporando novos conhecimentos, insistindo no ensino da velha teoria

gramatical. Se outras áreas fossem tão conservadoras quanto a gramática, na

medicina, por exemplo, ainda estariam efetuando sangrias e anestesiando os

pacientes com goles de conhaque.

Por que uma dessas concepções de gramática se sobrepôs à outra? Simples,

porque sempre foi cultuada pela elite como uma forma de divisão de classes. É no

falar "corretamente", de acordo com normas quase que estratificadas, que se dis-

tinguem os falantes cultos.

LÍNGUA ESCRITA E LÍNGUA FALADA

Alguns amantes do português (quero dizer, da língua portuguesa, não me

entendam mal) mostram-se indignados sempre que encontram alguma "heresia"

da fala. Para eles, a linguagem falada deve seguir o modelo da linguagem escrita,

mesmo que essa última tenha sido criada posteriormente.

Na realidade, nem a escrita é a transposição da fala, nem essa é a transposição

da escrita. Trata-se de duas linguagens diferentes, com suas características

próprias, a começar pelo material com que trabalham, sua substância. Enquanto

a fala se utiliza de sons vocais, a escrita opera com sinais gráficos. A fala é um

meio imediato de comunicação, influenciada pelas emoções do falante; a escrita é

mais distante e racional, podendo ser planejada. A fala conta com um inteiro

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arsenal para auxiliar na construção do discurso: gestos, expressões, silêncios,

bem como se beneficia do espaço e do contexto em que estão inseridas as

pessoas.

A escrita, ao contrário, necessita valer-se de seus próprios recursos para suprir

todos esses aspectos. E nesse fato reside uma das maiores dificuldades dos

redatores inexperientes, que não conseguem transportar para o texto as situações

que estão presentes no discurso oral.

Por esses aspectos, e por seu registro ser permanente, é natural que a escrita se

torne mais policiada, mais controlada socialmente, e que a evolução de suas

formas seja processada de modo muito lento, para garantir o entendimento aos

leitores de outras regiões e de outras épocas. Daí que, enquanto uma se

transforma dinamicamente, a outra permanece com formas ―clássicas»‖ não

podendo, portanto, tornarem-se modelo uma da outra.

A FRASE

A frase é a unidade mínima do texto. Deve estar ligada ao contexto e poderá

influir no significado geral. Muitas vezes, a má formação de uma frase poderá

tornar o resto do texto desconexo. Tente colocar um "não" onde não existe sentido

de negação.

A boa formação de frases comunicativas insere-se em algumas estratégias, que

podem passar despercebidas aos leitores.

Consideremos que a captação de informações por nosso cérebro segue um

esquema de assimilação dos novos dados aos dados já conhecidos (Piaget). Isso se

reflete numa estrutura de frase que permite ao leitor identificar primeiramente as

informações já conhecidas e acrescentar as novas informações. Ex.: O filho da

vizinha (informação conhecida) passou no vestibular (informação nova). Quem

quebrou a vidraça (informação conhecida) foi o filho da vizinha (informação nova).

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Outra estratégia é a de dar relevância a determinadas informações. Como fazer

isso? Dando-lhes posição de destaque no final da frase. Ex.: "Quando você

chegou, eu estava estudando". Dá-se relevo ao fato de que eu estava estudando.

Veja o contrário: "Eu estava estudando, quando alguém bateu à porta". Qual fato

chama maior atenção?

A REDAÇÂO

A redação é constituída toes básicas, o que dizer, como dizer a quem dizer. Bem

ou mal, todos possuem um conteúdo (o que dizer), derivado de nosso repertório,

que pode (e deve) ser enriquecido com leituras, experiências e informações.

Lembre-se de que ninguém pode dar o que não tem.

Já no como dizer é que transparecem as qualidades do redator. Quando alguém

diz que "não tem jeito para escrever" ou que "não sabe escrever", na realidade o

que não sabe é o como dizer. Falta-lhe a experiência de colocar as idéias no papel.

Como iniciar o texto? Como organizar as idéias? Como construir parágrafos?

Como motivar e atrair o leitor? Como conseguir objetividade e clareza? Como,

enfim, não passar de um simples "enchedor de lingüiça"?

Quanto ao terceiro aspecto, a quem dizer, trata-se de uma questão de coerência e

bom senso. O texto deve ser encarado como um diálogo entre o redator e o leitor.

O seu leitor terá de entender as palavras que você usa; assimilar facilmente suas

idéias; compreender as alusões que você faz a outros fatos; partilhar da realidade

que você analisa.

O que tentarei fazer será municiá-lo com as ferramentas para enfrentar um texto,

principalmente o dissertativo. Enfrentar no sentido lúdico, de afastar o medo e

redigir com prazer. Se conseguir isso, estarei satisfeito.

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O TEXTO

Texto é toda mensagem expressa por uma combinação de signos. Mensagem, por

que deve transmitir alguma coisa. E os signos utilizados podem ser palavras,

desenhos, notas musicais, sinais, movimentos, comportamentos...

Todo texto é criado com um objetivo, com uma intenção, clara ou implícita,

definida ou inconsciente (informar, expressar sentimentos, persuadir, divertir,

divulgar, compor uma imagem etc). Não se redige nada gratuitamente. Nenhum

texto é neutro, mesmo os ditos textos imparciais, jornalísticos ou científicos.

Para que se possa compreender um texto é importante, antes de tudo, estabelecer

sua intenção ou seu objetivo.

Se um amigo vai lhe visitar, num dia frio, e sua casa está com as janelas abertas,

ele poderá perguntar: você está com calor? Aí, você percebe que a intenção dele é

sugerir que você feche as janelas, não é isso?

O texto não possui um tamanho definido. Pode se tratar de um romance de

"trocentas" páginas ou de uma simples palavra, colocada em situação

comunicativa, como

"SOCORRO!". O essencial é que seja suficiente para transmitir sua mensagem.

FORMAS DO TEXTO

Existem três formas de organizar o texto. Sempre que você pensar em redigir,

fatalmente utilizará uma dessas três formas (ou todas elas):

DESCRITIVA - expõe características de seres, processos, lugares,

comportamentos, etc, contemplando o essencial, segundo a visão do redator.

Toma algo como tema (um prédio, por exemplo), suas propriedades e partes

constitutivas, visualizados num espaço delimitado. Nela, predominam palavras

concretas e verbos de significado passivo (ser, estar, manter, localizar, etc). Faz

parte também da linguagem do cinema, da pintura e dos quadrinhos.

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NARRATIVA - expõe seqüências de ações, que se desenvolvem no tempo,

constando de uma situação inicial (ou apresentação), um conflito (quebra ou

mudança) e uma resolução (ou desenlace), não necessariamente nessa ordem.

Utiliza basicamente palavras concretas, verbos de ação e o tempo verbal pretérito

(tempo narrado). Serve para veicular relatórios, anedotas, histórias em

quadrinhos, fofocas, simples relatos, até narrativas literárias (contos, romances).

DISSERTATIVA - relaciona fatos e idéias, segundo um processo que

compreende um tema, uma tese (ou opinião do redator) e uma série de

argumentos e comprovações em favor da tese. Utiliza principalmente termos

abstratos, tempo verbal no presente (tempo comentado). Ex.: A privação da moral

é prejudicial ao ser humano, pois enfraquece o organismo social

Pode veicular o texto informativo (instruções, exposições em aulas, matérias

informativas) ou o argumentativo (opiniões, editoriais, cartas, monografias,

dissertações, etc). Nesse tipo de texto, normalmente o tema admite controvérsia e

sua função é persuadir o leitor da validade das idéias apresentadas.

DESCRIÇÂO

O salão era enorme, cercado de vidros por um lado, de livros pelo outro. Tinha

aparência de biblioteca pública, (plano geral)

Ao fundo, era a mesa de trabalho do diretor. A sua cadeira, grave e refinada

(impressões do redator), de couro, com brasões, datava do século XIX. Sobre a

mesa, um abajur trabalhado em prata, com a proteção dourada, de bordas

recortadas. Ao seu lado, uma pilha de documentos, de modo organizado, e um

cinzeiro de prata cheio de tocos de cigarrilha, (impressões do redator),

O silêncio era completo, compatível com o ambiente de certo modo sagrado.

Aproximei-me devagar, temendo arranhar o chão encerado, parecendo um espelho,

que conduzia ao altar do todo-poderoso.

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O redator fixa-se no que lhe interessa - o local de trabalho do diretor. Pela

seqüência, nota-se que primeiro observou o ambiente com visão ampla; antes de

aproximar-se, analisou o local de seu destino, observando alguns detalhes que

lhe dariam o perfil do diretor: refinado, organizado, nervoso, etc. Isto o intimidou.

O silêncio o deixou constrangido. Predomina a impressão visual. Vê-se que a

descrição cumpre uma finalidade no texto. O ambiente não parece acolhedor para

o redator.

NARRAÇÃO

Quando entrava, madrugadinha, em seu hotel, o vendedor Ivanor de Tal ouviu um

rangido na velha escada de madeira: créc... créc... Quem será, a essas horas? Foi

quando viu um vulto branco, subindo lentamente a escadaria. Ivanor, que era

cardíaco, teve logo um troço, esparramou-se no chão. (comuto)

Para esclarecer o que houve naquela madrugada, preciso antes falar do Mineiro.

Mineiro era um legitimo mineiro - discreto, fala mansa, um bigodinho fino. Alugou

um quarto no hotel familiar, não pretendia permanecer muito tempo na cidade,

(INTRODUÇÃO)

Um dia, recebeu convite para uma festa fantasia. Recusou. Mas de noitinha,

movido pela solidão do sábado, teve vontade de ir, só não tinha fantasia. Pegou um

lençol, fez dois furos para os olhos e estava pronta a fantasia de balula (fantasma).

Nem chegariam a saber que esteve na tal festa.

Divertiu-se naquela noite. Pela madrugada, resolveu ir embora. Não sei se pelos

cubas que tomara ou para manter-se incógnito, foi fantasiado para o hotel. As ruas

estavam desertas, (DESENVOLVIMENTO)

Quando subia a escada, ouviu um barulho - ploft - e viu um careca estatelado no

chão. (INÍCIO DO CONFLITO) Foi ao quarto, despiu a fantasia e voltou discretamente ao

local do sinistro. O hóspede se levantava ainda branco. O hotel ficou com fama de

mal-assombrado. (RESOLUÇÃO)

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A CRÔNICA

Sua linguagem é intermediária entre a linguagem jornalística e a linguagem

literária. Nesse espaço que vai de um gênero a outro, o cronista possui maior

liberdade. Pode narrar, fazer comentários, criticar, refletir, conversar com os

leitores, interpretar a realidade ou mesmo alguma notícia atual.

A crônica pode se confundir com o conto, forma da qual se aproxima bastante. Só

que é mais superficial em sua essência; pode ser encarada como uma "conversa

fiada", simples entretenimento, ou como "prosa fiada" no entender de Vinícius de

Moraes.

Por ser dirigida ao público de jornal, a crônica utiliza linguagem mais simples e

ágil, de fácil entendimento. Seu texto também é limitado pelo espaço concedido ao

cronista, razão pela qual não se pode aprofundar o tema.

Seu objetivo, além de entreter o leitor, é fazê-lo refletir sobre cenas ou assuntos

que passam despercebidos ao seu olhar, mas nunca ao olhar curioso do autor.

Uma conversa no bar, um revoar de pássaros, um vendedor de rua, tudo é

assunto para o cronista.

UNIDADE DO TEXTO

Uma das principais características de um texto é a sua unidade, ou coerência.

Um texto sem unidade perde sua

qualidade de texto e passa a ser apenas um amontoado de frases.

Unidade significa articulação (lógica e de sentido) entre as partes que formam a

estrutura de uma mensagem. O tema que abordamos deve ser mantido do

começo ao fim, e não deve haver contradição entre as idéias, nem idéias absurdas

ou não pertencentes ao tema e à realidade.

Page 17: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

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O texto pode ser comparado a um jogo de "quebra-cabeças". Nele, cada peça

sozinha nada significa, mas quando encaixadas umas às outras podem formar

um belo desenho.

Os parágrafos que produzimos são peças que se combinam entre si e estão

voltados para o desenvolvimento da idéia principal. A conclusão é a última peça,

aquela que "fecha" o texto.

Mas não adianta as partes de um texto se articularem direitinho, se você ficar

repetindo em cada parágrafo as mesmas idéias. Primeiro parágrafo: "a fome é o

maior mal da humanidade...''. Segundo parágrafo: "a fome é o pior dos males...".

Terceiro: "a fome é uma grande tragédia...". As palavras mudam, mas as idéias

são as mesmíssimas. Isso é "encher lingüiça".

Aí é que entra a tal de articulação de sentidos; é necessário que haja uma

progressão de idéias, isto é, que em cada parte (normalmente, em cada parágrafo)

se acrescente algo ao assunto. Novas idéias, informações, novo ângulo, de-

monstrações, testemunhos, citações, etc. Isso se consegue aplicando uma

fórmula mágica, antes de iniciar seu texto: planejamento (tópico que veremos

mais adiante).

COESÃO E COERÊNCIA

Coesão é a vinculação de um parágrafo aos anteriores, ou de uma frase à

anterior, um "encaixe" como no jogo de quebra-cabeças acima mencionado.

Coerência é a ligação das idéias de todos os parágrafos ao tema central. O texto

pode não possuir coesão (caso do relato de um sonho), embora tenha coerência.

Mas se possuir apenas coesão será como um quebra-cabeças em que as peças se

encaixam entre si, mas possuem desenhos diferentes, não podendo portanto

formar nenhuma imagem.

A coesão, portanto, aplica-se ao texto, em sua forma; a coerência, ao conteúdo e

ao contexto. Termos coesivos:

Exemplos:

Page 18: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

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O hospital de Lage Grande iniciou um processo de modernização. Novos

equipamentos foram adquiridos e contratados mais funcionários e médicos. Aquela

instituição, fundada em 1963, é uma das mais antigas da região. Além disso...

A realidade é neutra. Mas entre nós e ela existe um outro plano, o dos significados,

que é construído pela cultura na qual estamos imersos... Isso quer dizer que o

sentido que damos ás palavras tem por base não a realidade mas uma

interpretação que dela fazemos. Assim, certos fatos, embora neutros, chegam à

nossa percepção como positivos ou negativos.

Nota-se que os termos sublinhados mantêm a ligação de idéias entre as frases,

num processo seqüencial.

É ainda elemento de coesão e coerência de um texto a chamada seleção lexical,

uso de termos pertencentes ao universo vocabular do tema desenvolvido. Leia o

texto a seguir:

O CINEMA WESTERN

O chamado cinema weslern, também popularizado sob os termos "filmes de

cowboys" ou "filmes de faroeste", compõe um gênero clássico do cinema norte-

americano. O termo inglês western significa "ocidental" e refere-se à fronteira do

Oeste norte-americano durante a colonização. Esta região era também chamada de

farwest - e é daqui que provém o teimo usado no Brasil e Portugal, faroeste

(também se usou o termo juvenil bang-bang, na promoção das antigas matinês e de

quadrinhos).

Os westerns podem ser quaisquer formas de arte que representem, deforma

romanceada, acontecimentos desta época e região. Ainda que tenham sido um dos

gêneros cinematográficos mais populares da história do cinema e ainda tenham

muitos fãs, a produção de filmes deste gênero ê praticamente residual nos tempos

que correm, principalmente depois do desastre comercial do filme Heaven's Gate ("O

portal do paraíso"), de Michael Cimino, no início da década de 1980.

Page 19: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

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Contudo, houve ainda alguns sucessos comerciais posteriores que foram, inclusive,

galardoados com o Oscar de melhor filme, como Dança com lobos, de Kevin

Costner, ou Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood. Mas os westerns que vêm à

memória da maioria dos cinéfilos são, mesmo, os da sua época áurea: os filmes de

John Ford, Howard Hawks, entre outros nomes cimeiros do cinema.

O cenário dos westems é, como já foi dito, o Oeste dos Estados Unidos, a partir da

Unha do Mississippi, desde o período que precede a Guerra Civil Americana até ao

virar do século XX. (...) Ê o tempo da ocupação de terras; do estabelecimento de

grandes propriedades dedicadas à criação de gado; das lutas com os índios; das

corridas ao ouro na Califórnia; da demanda das terras prometidas e da guerra no

Texas.

(Wikipédia)

O texto é um pouco extenso mas é interessante. O tema, como o título indica,

envolve dois universos lexicais: o do cinema e o do western. De um lado, termos

como: gênero, formas de arte, história do cinema, fãs, produção de filmes,

sucessos comerciais, Oscar de melhor filme, cinéfilos, cenário. De outro lado:

fronteira, Oeste, colonização, Mississipi, Guerra Civil, ocupação de terras, criação

de gado, lutas com os índios, corridas ao ouro, etc.

É essa seleção vocabular que vai reforçar a coerência do enunciado, integrando as

duas vertentes desenvolvidas. Você pode redigir um texto fazendo analogia entre

a competição por um cargo e uma batalha, o que, na certa, demandará o uso de

vocabulário pertencente aos dois universos.

ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO TEXTO

Autor

Intenção/objetivo

Destinatário/interlocutor

Page 20: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

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Cada um desses elementos interfere nos outros. É óbvio que um texto tem um

autor. Mas quem é ele? Um superior hierárquico, um empregado, um cientista,

um religioso, uma empresa, um órgão do governo?

Qual a credibilidade de um texto técnico escrito por um leigo? Num texto de órgão

de imprensa devemos desvendar a linha ideológica por baixo das notícias e

editoriais. Um texto de um diretor dirigido aos empregados está ligado ao

exercício do poder. Um texto do professor (uma apostila, por exemplo) deve ser

seguido pelos alunos. Um texto de um religioso deixa as marcas de suas crenças

(se for espiritista, por exemplo, irá mencionar reencarnação, espíritos de luz, etc).

Veja, então, que o tipo de autor influencia a intenção e o destinatário.

Ninguém escreve (ou fala) nada sem uma intenção ou objetivo. A intenção pode

ser a mais tola possível, como apenas "pegar no pé" de alguém, "tirar um sarro".

Pode ser puxar conversa ou mostrar-se educado. Daí as frases do tipo "parece

que vai chover", "você mora aqui mesmo?" e outras.

A descoberta da intenção de um texto também se relaciona com os outros

elementos: o autor fala a sério ou está brincando? Ê necessário então conhecer

sua personalidade, seu estilo ou saber a quem está dirigida a mensagem. A uma

banca de eruditos? A um público desejoso de se divertir? A intenção em um texto

informativo ou numa crônica é bem diferente da de uma carta comercial, cujo

objetivo é sempre conseguir algo concreto: um pagamento, um pedido, uma

informação...

O tipo de destinatário também influi na mensagem. Se um especialista em

informática escreve para leigos, terá de modificar sua linguagem técnica para ser

entendido. Se alguém escreve para uma empresa ou para um amigo naturalmente

usará linguagens diferentes. Se escreve para uma namorada ou para um

concorrente, também.

Vamos ver um exemplo prático do dia-a-dia:

Page 21: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Alguém está na casa de Fulano num dia de muito calor. O ar-condicionado está

desligado. Então pergunta: este ar-condicionado é só para enfeite?

Sua intenção, é claro, não é obter uma resposta à pergunta, mas fazer com que

fulano ligue o aparelho. Entendendo a mensagem, Fulano acha que a visita (o

autor do texto) merece consideração e faz o solicitado. Fosse a frase dita por um

amigo gozador, a intenção não seria a mesma, e sim a de "pegar no pé" de Fulano.

Se o destinatário não fosse Fulano e sim um empregado, proibido de mexer nos

aparelhos da casa, a mensagem não teria eficácia.

QUALIDADE DE UM TEXTO

A qualidade de um texto não está (apenas) no acerto gramatical. Aliás, está muito

mais em aspectos que ultrapassam a parte linguística. Pode ser medida em

relação à intenção, ao universo do receptor e ao assunto.

Por outra: O objetivo foi atingido?

O leitor entendeu?

O assunto foi tratado com eficiência?

Vejam o exemplo do "ar-condicionado" acima. O objetivo da mensagem não está

na forma da frase e sim num "código" entre os interlocutores.

Tais elementos também se influenciam. Se o leitor não entende a mensagem, o

objetivo não será atingido. Pode-se também atingir o objetivo de informar algo, o

leitor entender, mas as idéias desenvolvidas estarem ultrapassadas, ou conterem

erro. Nesse caso, não houve eficiência.

Já vimos anteriormente algo sobre a intenção. Quanto ao universo do receptor, se

o texto não considerar a que tipo de leitor está se dirigindo e ajustar-se a ele,

claro que não será entendido. Os textos de Rui Barbosa são irretocáveis, mas será

que todos os entendem? Portanto, deve o redator situar-se no universo do

receptor e, às vezes, "baixar a bola".

Page 22: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Do mesmo modo, o texto que não leva em conta, quanto ao assunto, coisas como

a lógica, a verossimilhança (não é o mesmo que verdade, depende da intenção), a

atualidade, a coerência, a manutenção do tema, a progressão das idéias, etc, não

pode se gabar de qualidade.

GERENCIANDO O TEXTO

Hoje se fala muito em gestão. Gerir ou administrar alguma coisa aparenta ser

mais eficiente do que simplesmente "tocar em frente". Administração de pessoal,

gestão de informação. Então, por que não falarmos também de gerência de

textos?

Olhando desse modo, tomamos consciência de que existe em um texto um

conjunto de elementos que devem ser administrados, utilizados na medida certa.

Tom (formal, satírico, coloquial, etc.)

Informação (idéias, argumentos)

Relação com o leitor (motivação, contato, vocabulário, etc.)

Organização (parágrafos, coesão, coerência, etc.)

Dependendo do texto, não basta distribuir informações. É necessário manter o

contato com o leitor, motivá-lo a ler, conquistar sua simpatia. Utilizar-se das

funções da linguagem, dirigindo-se a ele como um interlocutor e não como um

simples depositário das informações que você sapiente-mente lhe transfere. Um

caso de relacionamento.

Quanto à organização, pode-se aproveitar o adágio: cada coisa em seu lugar.

Coisas como o parágrafo foram inventadas para facilitar a apreensão de um texto,

separando ou hierarquizando as idéias e argumentos. Os elementos de coesão,

como alguns advérbios, conjunções e pronomes, facilitam a condução dos

argumentos e mantêm a continuidade do tema em todo o texto. A boa redação é

um componente importante de seu marketing pessoal. Acostume-se, portanto, a

gerenciá-la com eficiência.

Page 23: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

A LEITURA DO TEXTO

Tempos atrás, um leitor me abordou no supermercado: não entendi seu texto de

hoje! Ele se referia a uma das crônicas que publicava semanalmente. Meu

primeiro impulso foi parodiar aquele famoso quadro protagonizado por Walter

D'Ávila na Praça da Alegria: então vamos representar.

Mas não é isso, gente. Um texto - que não seja informativo - adquire o sentido

que lhe dá o leitor. O leitor não é um ente que recebe passivamente o texto. A

leitura é um processo de cooperação, no qual o leitor emprega seus

conhecimentos e sua experiência de vida, preenchendo lacunas, ampliando ou

substituindo sentidos. Numa crônica recente, na qual comentava o caxangá,

brincadeira infantil ("Escravos de Jó jogavam caxangá"), afirmei que, naquele

tempo, o governo havia mandado fechar todas as casas de caxangá.

Para entender o trecho como uma sátira, o leitor, além de identificar a época de

Jó, teria de relacioná-la com o atual fechamento das casas de bingo.

Você já ouviu esta história? Quatro pessoas presenciaram um acidente de carro.

Quando, mais tarde, retransmitiram o fato, um deles, que era médico, deu ênfase

aos ferimentos mortais provocados nas vítimas. Outro, advogado, preocupou-se

em estabelecer as responsabilidades do acidente; o que era padre mostrou-se

sensibilizado com o estado emotivo dos sobreviventes; o último, que era

mecânico, calculou o prejuízo ocorrido com os veículos.

Cada um deles efetuou uma "leitura" do mesmo fato. Assim acontece na leitura

de textos; muitas vezes, o leitor tende a valorizar frases ou sentidos que para o

autor não passaram de pormenores.

Quando afirma que não gostou de determinado texto, é porque esse não "bateu"

com seu repertório de vida, não provocou sua imaginação ou não desafiou sua

inteligência, levando-o a ir além do que está escrito. Por isso, Umberto Eco

denomina alguns tipos de texto de "obras abertas"; são textos que estão abertos

ao entendimento e à interpretação de cada leitor

Page 24: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

CONTEÚDO (o que dizer)

As idéias e informações apresentadas no texto são chamadas de conteúdo. O

conteúdo de um texto pode ser bom ou ruim, dependendo do que e de como

dizemos. Isto é, nosso conteúdo está também relacionado à nossa forma de ra-

ciocínio, de concisão, de julgamento e de apresentação de fatos e idéias. Você na

certa deve conhecer algum professor, especialista em sua matéria, mas que não

consegue expô-la de forma clara. Resultado: os alunos não entendem "bulhu-fas".

A mensagem não foi apreendida.

De onde se origina nosso conteúdo?

Experiências

Conhecimentos

Valores

Crenças

Visão da realidade etc.

Tudo isso forma nosso repertório. Você não pode transmitir o que não possui

dentro de você, não é mesmo? Num sentido mais amplo, podemos dizer que o

emissor último de um texto é a própria sociedade em que nos achamos inseridos,

pois ela nos fornece os valores e ideologias que compõem nosso repertório.

Somos submetidos a uma infinidade de mensagens: idéias (religiosas, morais,

artísticas, educacionais, políticas...), citações, provérbios, narrações, anúncios,

músicas, tradições, normas, etc - que determinam nosso modo de pensar e agir.

Desse modo, dificilmente nossos conteúdos serão completamente originais, pois

estamos sempre nos apropriando de idéias ou de temas do universo de

"discursos" no qual estamos imersos.

Somos seres situados dentro de uma cultura, de um espaço e de um tempo.

Utilizamos, por isso, idéias correntes em nosso sistema social, com o intuito de

contestá-las, de reafirmá-las, de interrogá-las, de ironizá-las ou de buscar

credibilidade para o que dizemos.

Page 25: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Para adquirir conteúdo: leia livros, jornais ou revistas, ouça noticiários, assista a

filmes, vá a espetáculos, converse, pesquise, vá a palestras, cursos, etc. Analise e

critique os fatos, as informações, os comportamentos.

UNIVERSO IDEOLÓGICO

Apesar das limitações comentadas, o texto que se preza não é constituído de

idéias óbvias, de coisas que todos já sabem. Você não vai ensinar o padre a rezar

missa.

Ninguém - a não ser em um manual didático — redigiria um texto para informar

que a terra gira em redor do sol. Quando alguém lê um texto espera encontrar

informações ou idéias que para ele são novidade. É o que se chama de conteúdo

rico.

Page 26: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

ORIGINALIDADE

Todo refrigerante serve para beber. Todo papel higiênico tem a mesmo função,

não é mesmo? O que cria a diferença entre uma marca de produto e outra é a

forma de apresentá-las ao consumidor.

O que chamamos de "conteúdo" de nossos textos, aulas ou conversas pode não

ser assim tão original. Aparentemente, tudo já foi dito em nossa civilização

ocidental. Vejam os temas do "triângulo amoroso" ou do amor de "Julieta e

Romeu" que povoam até hoje novelas e filmes. O próprio Shakespeare já se

baseou nas narrativas de outros autores (só que com maior talento).

Nossas mensagens estão recheadas de recursos, digamos assim, que não são de

nossa autoria. Muitos não falam em beleza sem repetir os versos de Vinícius: "as

feias que me perdoem...". Outros se valem de frases ou idéias de escritores, de

comunicadores, de humoristas, da Bíblia, etc. Há alguma novidade nos discursos

de políticos? E nos programas da televisão?

Quem fala ou escreve sobre futebol, está na realidade se valendo de um arsenal

de fatos, teorias, opiniões, reportagens, etc. que se firmaram desde o nascimento

desse esporte. Quem fala sobre ensino, provavelmente estará reproduzindo

teorias de educadores e psicólogos: Dewey, Vigotsky, Paulo Freire, etc. É o texto

interagindo com outros textos. E é natural reconhecer esse fato, pois não é a

linguagem transmissora da cultura de um povo?

Quando nos posicionamos diante da realidade, mesmo sem saber estamos nos

enquadrando em algum sistema filosófico. Quem sabe você não percebeu ainda

que é um estóico, um positivista ou um bergsoniano?

Como escrevi anteriormente, quem fala por nós é a própria sociedade, que nos

fornece os valores e ideologias que formam nosso repertório. Desse modo,

dificilmente o conteúdo do que dizemos será original. Dito de outro modo: nada se

cria, tudo se copia.

Page 27: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

E então, o que nos resta? Se não somos capazes de criar idéias novas,

procuremos ser originais na forma de expressá-las. Se isto faz diferença na venda

de papel higiênico, por que não o fará em nossos comunicados?

PENEIRANDO OS FATOS

Já dissemos anteriormente que nenhum texto é neutro. Mesmo os comunicados

científicos ou as mensagens jornalísticas, que se dizem imparciais ao noticiar os

fatos, apresentam uma forma implícita de formular julgamentos contra ou a favor

de alguma coisa. É o que se conhece por "viés", uma forma de "peneirar" o fato,

submetendo-o à ótica pessoal do redator, que pode selecionar aspectos a serem

omitidos ou ressaltados. Pode também utilizar uma seleção vocabular e sintática

que demonstra ao leitor atento a linha ideológica embutida em suas opiniões.

Veja, como exemplo, os itens a seguir, referentes aos "pontos polêmicos" do novo

estatuto do advogado, publicados em 1994 por um conhecido jornal de S.Paulo:

"Quando o advogado empregado de uma empresa vencer uma causa, os honorários

pagos pelo perdedor irão para o advogado - que já recebe salário - não para a

empresa. A jornada de trabalho do advogado assalariado é fixada em apenas

quatro horas diárias e vinte horas semanais. As extras serão pagas com pelo

menos 100% de acréscimo. Cidadãos são obrigados a contratar advogado mesmo

para recorrer aos juizados de pequenas causas, que foram criados para baratear e

simplificar o acesso à Justiça".

Os termos ressaltados em sublinhas, dentre outros, revelam o viés utilizado,

deixando claro o posicionamento jornalístico contrário aos benefícios outorgados

pelo Estatuto aos advogados.

Quando redigir, você não poderá evitar a análise dos fatos pela sua ótica pessoal,

mas procure ser o menos subjetivo possível na sua argumentação, evitando

opiniões e julgamentos "contaminados" pelas suas emoções.

Page 28: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS

Num ato de comunicação, é comum a existência de coisas não ditas. Essas são as

informações implícitas. Ligados a elas, estão dois fenômenos lingüísticos: os

pressupostos e os subentendidos.

Pressupostos são aquelas informações que se dão como certas, de conhecimento

do interlocutor. Ex.: Finalmente, o Lula conseguiu chegar à Presidência. O autor

da frase dá como certo que o ouvinte conhece as anteriores candidaturas de Lula.

O governo continua gastando profusamente. (pressupõe-se que gastava

anteriormente). Os políticos regressaram nesta segunda-feira ao plenário,

(pressupõe-se que estavam ausentes.

Algumas vezes, usam-se pressupostos para manipular os ouvintes/leitores,

dando como certa uma informação que é contestável. Ex.: A desorganização na

empresa X chegou a um ponto crítico. Neste caso, o redator dá como pressuposto o

que é somente uma opinião individual, o fato de haver uma desorganização na

mencionada empresa.

Subentendidos são aquilo que se diz não dizendo. Tenho uma crônica que se

inicia assim: "Atenção, leitor, esta é uma história tétrica. Por favor, chame as

crianças". Há aí uma informação subentendida, a de que são as crianças que

mais "curtem" as histórias de terror.

Normalmente, utilizam subentendidos pessoas que não querem dizer algo

explicitamente, por efeito humorístico, por maldade, ou para evitar

responsabilidades. Perguntado sobre a competência de um colega de serviço, o

funcionário afirma apenas: ele é um cara muito educado. Subentendido: não

apresenta nenhuma qualidade destacável. Nesse caso, o "dedo duro" não pode ser

censurado, pois "nada disse" em detrimento do colega.

Page 29: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

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COMO ACHAR O CONTEÚDO DE UM TEXTO?

Quando lê uma fábula, como "A Cigarra e a Formiga", como você a interpreta?

Um incidente entre pequenos animais? Um tipo de anedota: você passou o verão

cantando? Então agora dance! Hahaha!

Não é nesse nível que está o conteúdo, principalmente nas narrativas. Debaixo de

qualquer texto existe uma estrutura, como nas construções. No caso, trata-se de

um confronto entre valores mais amplos: o Trabalho e o Lazer. Para os padrões

da época - e na mente do criador da fábula o trabalho artístico (representado pela

cigarra) não tinha valor. Era simples representação do ócio. O que o autor queria

dizer, em outras palavras, era: quem não trabalha, não come. Narrativas nada

mais são do que a "figuração" de um tema. Em um texto, ficam impressas não

somente as idéias do autor, mas as ideologias, os desejos e preconceitos do grupo

e da época a que pertence. Certamente na época nem se desconfiava de que

artistas (como a cigarra) e outros participantes da indústria do lazer poderiam

"faturar" mais do que os que "pegam no pesado".

Entender um texto é, portanto, entender a proposição que está por baixo do nível

do discurso. Independe da forma em que é apresentada. Com o mesmo conteúdo

você pode escrever um conto, uma poesia, uma crônica, um texto dissertativo, ou

até fazer um filme ou uma história em quadrinhos. Quantas obras foram

elaboradas para dizer o mesmo que Ataúlfo Alves conclui em uma de suas

músicas: eu era feliz e não sabia!

Veja os textos a seguir:

Certo dia, Mariazinha estava brincando, sentada no chão, ao lado da estante de

livros. Seu pai chegou apressado, retirou o dicionário da estante e deu uma rápida

consultada, retirando-se em seguida. Espantada com isso, e como querendo

recriminá-lo, Mariazinha exclamou:

- Desse jeito, você nunca vai terminar um livro tão grosso!

Page 30: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Faz parte da ingenuidade (ou da lógica) infantil considerar um objeto em si, da

maneira como lhe chega aos sentidos, sem levar em conta suas características

intrínsecas e suas condições de uso.

Se for analisar, notará que os dois textos significam a mesma coisa; o texto

narrativo, no caso, funciona como interpretação ou concretização da tese

formulada em termos abstratos no segundo texto.

EXPRESSÃO (como dizer)

A expressão não abrange apenas o bom uso da gramática, mas um conjunto de

elementos que irão tornar seu texto assimilável e esteticamente agradável.

OBJETIVIDADE E CLAREZA

Ora, direis, entender a linguagem! Sim, não é uma coisa fácil: na maioria das

vezes, as mensagens não são entendidas como deveriam. Não é raro as pessoas

entenderem o contrário do que se pretende. Nesse caso, ao invés de comunicar

(tornar comum), a linguagem complica e pode causar antagonismos. Isso pode se

dar por falhas de entendimento do leitor ou por falta de clareza do texto. A

linguagem que utilizamos é imprecisa. Não é como a linguagem matemática, na

qual 2 + 2 são quatro e ponto final. Por isso precisamos ser claros: utilizar as

palavras mais adequadas, eliminar as frases longas e arrevesadas, colocar o leitor

dentro do contexto.

Para fazer isso, é preciso observar a diferença característica entre a linguagem

falada e a escrita. Numa conversa, o ouvinte ou interlocutor se encontra diante de

nós. Podemos nos valer de gestos, expressões e objetos, para auxiliar na

comunicação. Às vezes, as frases não precisam nem ser completadas... Contamos

ainda com o "feedback" do ouvinte: "Como é que é isso? Explica melhor!" - que

nos sinaliza se houve ou não entendimento. Já na escrita é diferente. Contamos

apenas com as palavras para transmitir os detalhes da situação, levando o leitor

a reconstruir todo o contexto.

Page 31: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

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Para conseguir clareza é preciso buscar os elementos necessários ao entendimento

da mensagem, expressando-os numa linguagem simples e adequada. Para

alcançar objetividade, devem-se eliminar os elementos que não contribuem para o

entendimento, os chamados "entulhos".

Parece uma contradição? Não é. Aí, funciona o bom senso do redator, a fim de

perceber o que é ou não necessário. O que está faltando e o que está sobrando no

texto.

Veja o texto a seguir:

Vampiro é um ser que ataca as pessoas à noite para sugar o

sangue. Possui os dentes caninos enormes, os quais deixam

sua marca no pescoço das pobres vitimas.

Geralmente veste-se de preto e sua imagem não se reflete nos

espelhos.

É original da Transilvânia, um país romeno, e mora num castelo antigo. Suas

vítimas tornam-se também vampiros.

O texto não está sendo claro nem objetivo. Deixa de fora a informação que define

um vampiro: o fato de sobreviver à custa do sangue de pessoas e animais. Outra

pessoa - um louco, por exemplo - poderá atacar as pessoas para sugar-lhes o

sangue. Não esclarece que se trata de uma lenda (que foi aproveitada pelo escritor

Bram Stocker na criação do personagem Drácula). Descreve detalhes que não são

importantes para a definição e que não se aplicam a todo vampiro: vestir-se de

preto, morar em um castelo antigo, atacar à noite.

Para se conseguir OBJETIVIDADE e CLAREZA:

USAR vocabulário simples e expressivo.

CONSTRUIR frases ou períodos simples e preferencialmente na ordem direta.

Page 32: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

UTILIZAR, quando necessário, expressões e termos que relacionam as idéias,

denotando oposição, conseqüência, causa, conclusão, etc. (porém, ao contrário,

apesar disso, etc).

ELIMINAR "frases feitas", termos desgastados (de muito uso), adjetivos e

advérbios desnecessários, verbos compostos, etc. Ex.: ondas de calor, infausto

acontecimento, frio de rachar, desnecessário dizer, etc.

EXPLICITAR a idéia principal (o tema - se for dissertação; o objetivo - se for uma

solicitação).

SUBSTITUIR palavras ambíguas, de duplo sentido ou que deixem dúvida quanto

ao seu significado.

CONSTRUIR parágrafos simples, de pouca extensão - algumas vezes, é preciso

dividir um parágrafo a fim de tornar a leitura mais fácil. Você acabará

acumulando idéias ou mesmo intercalando frases e orações, com prejuízo da

clareza de raciocínio.

EVITAR o uso de palavras das quais você desconhece o significado correto e que

podem tornar sua frase até ridícula.

Ex.: "férias fatais", por férias no prazo fatal; "pessoas fami-goradas", por famintas;

"vestido lutulento" (ref. a lodo), por vestido de luto.

SUPRIMIR prolixidade, palavras demais para dizer pouco (o belo rio que banha

com suas águas a parte norte de nossa cidade = o rio Tererê).

EVITAR termos e idéias de sentido impreciso. Ex.: elevada quantia, boa margem

de lucro, condições deploráveis... O que significa uma condição de vida

deplorável? Depende da própria condição de vida do receptor. Seja, portanto,

mais específico.

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EVITAR afirmações generalizadas. Ex.: como todos sabem... (talvez nem todos

saibam); a população pobre não possui divertimentos...; todos nessa região falam

mal o idioma (e se um ou dois o falarem bem?), etc.

FLUÊNCIA

Você gosta de dançar? Ou de praticar surfe? Pois é, ter fluência (eu disse fluência,

não flatulência) é ter a habilidade de fazer o texto deslizar, como numa dança, ou

como uma prancha sobre as ondas. Ao lê-lo, o leitor tem aquela sensação de que

as palavras se encaixam umas nas outras, os sons se combinam como numa

música, sem entraves, sem obstáculos.

Para conseguir isso, você terá de "apurar os ouvidos", fazer uma leitura mental, e

sentir se suas frases deslizam ou caminham pesadamente, dando freadas

repentinas, esbarrando em vírgulas mal colocadas, em construções arreve-sadas,

em frases intercaladas. Em outras palavras, se elas "pisam no pé" do leitor.

As frases devem ter ritmo. Quando redige, você deve variar os passos como numa

dança. Nada de ficar somente no "dois pra cá dois pra lá". Experimente intercalar

frases curtas e frases mais extensas (não tão extensas que não se possa fixar a

informação).

Algumas vezes, o que atrapalha a fluência é o choque de sons - como se o redator

estivesse participando de um jogo de "quebra-línguas" (frases do tipo: ocupou-o o

ócio) - ou o término da frase de modo abrupto, inesperado. Muitas vezes, vale a

pena acrescentar um adjetivo para melhorar o ritmo da frase. O adjetivo, além de

sua função prática de qualificar um termo ou limitar seu sentido, possui também

uma função estilística.

UMA PALAVRA SOBRE O USO DA VÍRGULA

O uso da vírgula em muitos casos é opcional. No entanto, em orações na ordem

direta, não se separam por virgula sujeito de verbo, nem verbo de seus

complementos. Ex.: Maria canta uma música triste.

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Quando existem outros termos ou orações intercalados, esses figurarão entre

vírgulas: Maria, quando anoitece, canta uma música triste. Maria canta, quando

anoitece, uma música triste.

Obs.: Quando os termos a serem intercalados são de pequena extensão podem-se

eliminar as vírgulas. Ex.: Maria canta agora uma música triste.

Somente se usa vírgula após que ou se quando ali se intercalam termos, frases ou

orações. Ex.: Espero que, com as medidas ora implantadas, a empresa tenha

maior participação no mercado. Não sei se, com essa chuva, poderemos viajar.

• Não escreva, portanto:

Tenho certeza de que, as coisas vão melhorar. Conheço pessoas que, não têm

senso de humor. Não sei se, as coisas vão melhorar.

Função importante da vírgula é organizar (limitar ou ampliar) o significado

dos termos utilizados. As palavras ligam-se entre si, formando conjuntos de

significação. A vírgula serve para delimitar esses conjuntos. Espere aí, que você já

vai entender...

Se escrevo: curso de jornalismo gratuito, que significado quero dar à frase?

O que é gratuito, o curso ou o jornalismo? A vírgula resolve o assunto: curso de

jornalismo, gratuito. Desvinculamos o termo gratuito do conjunto formado com

jornalismo.

Outro exemplo: Mandaram cortar as árvores, que estão secas. O significado

aí é o corte de todas as árvores, pois estão secas. Sem a vírgula, vinculamos a

expressão que estão secas ao termo árvores, limitando-lhe o sentido: somente as

que estão secas.

Outra função realizada pela vírgula é selecionar na frase as informações

acessórias, menos importantes, que são um tipo de figuras de fundo. Ex.: João foi

acampar, no último verão, em seu novo sítio. Informação importante: João tem um

novo sítio. Informação acessória: no último verão.

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Se, porém, alterarmos a disposição da frase: João foi acampar, em seu novo

sítio, no último verão, a informação que se destaca é que João foi acampar no úl-

timo verão. As informações entre vírgulas é como se fossem um acréscimo.

DlCAS para o bom uso da expressão em seus textos:

• Manutenção da harmonia entre as formas e os significados de nossa mensagem

Ex.: Viajou por mares, terras, montanhas, planícies e em lombo de burro.

O termo "em lombo de burro" destoa da cadeia de sentido formada pelos demais

termos.

... três coisas são necessárias: organização, respeito e trabalhar corretamente.

Aqui há desarmonia de formas, o redator mistura verbo e substantivos. Seria

preferível: organização, respeito e trabalho...

• Adequação entre os tempos verbais empregados

Ex.: Não deixem que eu vou embora, (o verbo ir está no subjuntivo, portanto: ...

que eu vá embora.).

Uso de vocabulário expressivo

Ex.: Com a terrível notícia, o homem sentou na cadeira. Prefira:... o homem

desabou (ou estatelou-se) na cadeira. Assim você estará exprimindo o estado de

ânimo da pessoa.

Divisão harmônica das idéias em parágrafos (intercalar parágrafos curtos e

extensos)

Uma seqüência de frases ou parágrafos curtos pode indicar uma visão dinâmica

ou fragmentada da realidade; o exagero em seu uso deixa a leitura monótona,

sem substância. A frase ou o parágrafo longo indicam uma visão total e sintética;

o exagero torna a leitura pesada e cansativa.

• Eliminação de construções desagradáveis (ecos, cacófatos, repetições de termos,

excesso de vírgulas)

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Ex.: Vou, agora, novamente, correndo, pegar o ônibus. Pode ter certeza de que,

com tantas paradas, já perdeu a condução!

Quando a inflação entrou em ação, a inflação já estava em dois dígitos. (Repare no

eco e na repetição ocorridos)

• Uso correto dos termos de referência do texto (este/esse, o qual, cujo)

Esse(a) refere-se ao assunto de que já falei; este(a), ao de que vou falar.

Ex.: Essa festa ficou famosa. Esta notícia vai lhe alegrar! Usa-se que quando seu

referente anterior está próximo; o qual, quando o referente está distante.

Ex.: Observei o jovem que andava na rua. Interroguei o garoto parado perto do

poste, o qual nada me disse (no caso, o termo o qual refere-se a garoto, termo an-

tecedente mais distante do que poste).

Cujo não se aplica ao seu antecedente, e sim a algo que lhe é inerente.

Ex.: O jovem cujo carro foi batido. A menina de cuja amiga lhe falei.

PARALELISMO

Paralelismo é um processo estilístico no qual as construções verbais se tornam

harmônicas como duas linhas que correm paralelas. Ex.: Espero que venhas e

que tragas o violão. A falta de paralelismo é uma das causas da redação

deficiente.

FALTA DE PARALELISMO VERBAL:

Ê necessário chegar a tempo e que tragas o violão. Funcionários cogitam nova greve

e isolar o prédio. As críticas buscam ser imparciais e que não haja excessos. Ele a

viu logo que ela houvera voltado.

FALTA DE PARALELISMO NOMINAL:

Os jornais destinam-se à veiculação dos fatos e a comentá-los dia a dia.

Os leitores querem as notícias e poder acreditar no que lêem em seus jornais

preferidos.

São suas obrigações: o estudo, a organização e obedecer aos pais. Não fuja delas.

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57

Deu-lhe um abraço de modo forte, firme e afetuosamente.

FALTA DE PARALELISMO SINTÁTICO:

Isso, por um lado, fixa o homem no campo, mas não lhe fornece meios de viver,

(correto: por um lado... por outro...) Fulano é tão inteligente igual ao pai. (tanto...

quanto...)

Nosso time é campeão quer em terra gu no mar. (quer...quer) O prejuízo foi tamanho

quanto da outra vez. (foi tamanho que... ou: foi tão grande quanto...)

FALTA DE PARALELISMO SEMÂNTICO:

Viajou por estradas, campos e em lombo de burro. Um beijo, um abraço e um

pontapé.

Quem semeia vento, colhe desilusão.

Obs.: às vezes, a quebra do paralelismo semântico se processa com fins estéticos:

"...Levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos e o meu

coração...". (Chico Buarque) "...meu sabiá, meu violão, e uma cruel desilusão, foi

tudo que ficou...". (Ary Barroso)

"Com açúcar e com afeto, fiz teu doce predileto..." (Chico Buarque)

CONCISÃO

A maioria das pessoas acha que a maior dificuldade a ser vencida na redação é o

acerto gramatical. No entanto, um dos problemas mais comuns que temos

encontrado em pessoas que redigem é a falta de concisão. Muitos nem percebem

que nela estão incorrendo.

É quando se possui algumas informações para colocar no papel e não se

consegue organizá-las de forma objetiva e econômica. As frases se arrastam, as

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palavras se sucedem sem precisão, as idéias se repetem, os parágrafos ficam

enormes.

Concisão é o contrário de prolixidade. Claro, você não deve se preocupar com ela

a ponto de tornar seu texto impreciso por falta de informações. Tudo tem seu

ponto ideal. Também nem toda prolixidade é problemática: há autores que usam

a prolixidade como estilo, detalhando as idéias, degustando a linguagem.

Inaceitável é a prolixidade viciosa, aquela em que o redator se enrola todo para

prestar informações simples.

Aconselhável é determinar se seu estilo é conciso ou prolixo e prestar maior

atenção nos aspectos negativos dessas duas modalidades. Se conciso, observar se

não está deixando de lado informações que possam tornar mais claro o comuni-

cado; se prolixo, eliminar tudo que seja rebuscado ou redundante.

LUGARES-COMUNS

Você certamente já ouviu falar nos irmãos siameses, aqueles que nasceram

ligados um ao outro. Pois existem palavras siamesas: parece que uma não existe

sem a outra. Normalmente são adjetivos que "encarnam" em algum substantivo,

formando o que se chama de "lugar comum". Duvido que você já não ouviu ou

usou estes termos: exame criterioso, lauto jantar, condição essencial, rigoroso

inquérito, prova concludente, amplamente divulgado, extenuante tarefa, situação

preocupante e outros.

Como se não bastassem esses gêmeos inseparáveis, ainda existem as chamadas

frases feitas. Veja só: entrar pelo cano, dormir no ponto, de boca pra fora, dançar

conforme a música, desnecessário dizer, dar nome aos bois, e muitas outras.

Esses tipos de "muleta" não ficam bem num texto escrito. Denotam pobreza de

vocabulário, falta de originalidade, enfraquecem a mensagem. De tão usadas,

transformam-se em observações genéricas, sem valor expressivo. O que significa

um lauto jantar? Quanto vale uma quantia astronômica? Quanto tempo

demoram medidas urgentes? Qual a medida de conhecimento de um douto

palestrante?

Page 39: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Adotando tais fórmulas quando redige, você não está se valendo da reflexão ou da

emoção para ir atrás da palavra exata, que traduza o que tem a dizer. Está

apenas utilizando fórmulas prontas, já-ditas e já-escritas por milhares de

pessoas.

METÁFORAS

"Metáfora" é um termo corrente em nossa língua. Quem já não ouviu a expressão

"falar por metáforas"? Mas você sabe o que é uma metáfora? Trata-se de uma

figura em que um termo sofre um deslocamento de sentido, em virtude de se-

melhança de significados. Vejamos:

A luz ilumina um espaço

A idéia ilumina a mente (metáfora)

O lápis risca o papel

O avião risca o céu. (metáfora)

Se você diz que Maria é bela como uma flor, está simplesmente efetuando uma

comparação. Se disser que Maria é uma flor, está produzindo uma metáfora.

Se você acha que metáfora é uma coisa rara, ouça (ou leia) ao seu redor. Nossa

língua vive coalhada de metáforas. Algumas delas estão tão enraizadas no

cotidiano, que a gente nem percebe.

O objetivo da metáfora é tornar mais claro, ou mais colorido, o que comunicamos,

pelo envolvimento de nossos sentidos. Por outro lado, é impossível que haja uma

palavra para cada idéia ou cada coisa. Daí o deslocamento de sentidos, o

aproveitamento de imagens para comunicar idéias diferentes.

Quando enfrentamos, espantamos ou ignoramos um problema, estamos tomando

emprestados termos que se referem ao ser humano, como se o problema fosse um

inimigo. Quando roubamos um beijo, uma cena ou uma oportunidade de alguém,

Page 40: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

estamos praticando um ato "prejudicial" ao próximo, privando-o de alguma coisa,

como se fôssemos um ladrão.

Existem inúmeros casos em que palavras relativas ao ser humano nomeiam seres

inanimados: dorso das ondas, seio da floresta, braço de mar, olho do furacão,

rosto de livro, língua de fogo, cabeça de cebola e outros. Por outro lado, também o

homem pode ser "agraciado" com expressões do mundo natural. Fulano pode ser:

um anjo, um túmulo, um gato, um asno, uma montanha, um verme, um rato,

um armário, um mala...

A metáfora não é apenas um elemento para embelezar o texto, mas indica uma

visão que temos da realidade. Por que se "constrói" um casamento, uma amizade,

uma carreira; por que se "eliminam" concorrentes, adversários; por que se

"quebram" ou se "desfazem" expectativas como se fossem coisas concretas?

Metáforas devem ser expressivas, originais e discretas.

ASPAS E PARÊNTESES

São formas gráficas de organização do texto. São uma espécie de interferência do

redator no discurso. Os parênteses (e também o travessão) indicam uma

explicação ou comentário ao que está sendo dito, um "à parte".

Ex.: Os parênteses - e também o travessão - indicam... Isso - falou o gerente - é

coisa de fulano. Isso (falou o gerente)... As histórias em quadrinhos (e isso não está

no gibi) ensinaram muitos a ler. As histórias em quadrinhos - e isso não está no gibi

- ensinaram muitos a ler.

As aspas têm basicamente duas funções:

Fazer menção a frases ou palavras de terceiros; fazer menção a palavras

consideradas em seu sentido lingüístico e não de significado.

Ex.: Quem falou "diga ao povo que fico"? (note que a pontuação é após os

sinais)

"Gato" é masculino. "Mesa" tem duas sílabas. "Etc." é uma expressão latina.

Page 41: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Indicar que palavras ou termos não estão sendo usadas da forma usual

(gírias, ironias, expressões não avalizadas pelo redator, exageros, palavras

estrangeiras, erros gramaticais, sentido afetivo, destaques, clichês, etc).

Ex.:

Você viu uma barata? E onde está esse "monstro"?

Fulano acha que os extraterrestres" estão por toda parte.

Pode me dar provas desse "amor" de que você fala?

O ataque dos "rebeldes" resultou em 10 feridos, conforme relato do Ministro.

Tudo isso "é um horror".

Naquele dia, fulana estava "naqueles dias".

Hoje me lembrei "daquela canção". "Nosso amigo" não gostou da brincadeira,

(nesses casos, só o receptor sabe a "chave" para entender a frase).

Os mercadores levavam as escravas a um local, onde avaliavam a

"mercadoria".

(afastamento - não se trata de expressão própria do redator, nem dos

leitores)

Nós "fumo" e não "encontremo" ninguém...

OBS.: Na maioria dos casos, as aspas podem ser substituídas por negrito, itálico

ou sublinhas.

UM CASO DE CRASE

Eu sei, o uso da crase é uma coisa chata. Se depois de alguns anos de escola a

pessoa ainda necessita de regrinhas e macetes para poder utilizá-la, alguma coisa

está errada.

Mas o que é a crase? A maioria das pessoas acha que é aquele sinalzinho que se

coloca acima do "a". Não, aquele é simplesmente o acento grave, sinal que os

franceses utilizam em profusão. Crase é o processo de fusão de duas letras,

normalmente o "a" artigo definido feminino com o "a" preposição. Daí se deduz

que somente acontece antes de palavras femininas.

Page 42: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Um dos casos que suscita mais dúvidas é sua presença antes de pronomes

possessivos (deu um presente a sua filha ou à sua filha?). Alguns dirão que o uso

nesses casos é opcional, como se fosse um acessório de automóvel. Isto quer dizer

que você pode jogar no palitinho para decidir se há ou não a crase antes de um

possessivo?

Não é bem assim. Trata-se de uma questão de estilo. Vou explicar: você pode

dizer "dei o livro a seu dono" ou "dei o livro ao seu dono". No primeiro caso, faz

uso somente da preposição; no segundo, da preposição e do artigo. Por que você

optou por uma dessas formas? Possivelmente, porque é um hábito linguístico. A

mesma coisa acontece quando se trata de termos femininos. Você pretende dizer -

ou escrever - que deu o livro a sua dona (com preposição) ou à sua dona (com

artigo e preposição)?

A propósito: com palavras femininas no plural somente se pode discutir a

existência de crase quando essas palavras estiverem antecedidas de artigo plural

(lógico, o artigo deve concordar com o nome). Preciso explicar que não se coloca o

famigerado acento grave em frases como "dei um presente a minhas filhas"?

RECURSOS GRAMATICAIS

Quando se fala em objetividade do texto, você encontra conselhos do tipo: elimine

adjetivos e advérbios. Obviamente, só devem ser eliminados os elementos que se

encontram em excesso, que nada acrescentam. Adjetivos, advérbios ou

conjunções são elementos preciosos para a clareza de seu comunicado.

Os adjetivos têm a propriedade de limitar ou ampliar o significado dos termos

utilizados, delimitando o alcance de sua proposição.

Ex.: O mal em nosso país são os políticos (significado amplo, de maior extensão -

quais políticos?).

O mal em nosso país são os políticos ineptos e corruptos (significado limitado). Os

homens são sábios.

Os homens pacientes e humildes são verdadeiros sábios.

Page 43: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Você eliminaria os adjetivos dessas frases? Os advérbios, além de situar a ação do

texto no tempo e no espaço, cumprem variadas funções. Podem funcionar como:

JULGAMENTOS (intervenção do redator sobre o conteúdo): Infelizmente, esse conflito

durou doze anos. O diretor atribuiu enganosamente o erro aos funcionários.

MODALIZAÇÃO (limitação do compromisso do redator sobre o enunciado):

Ex.: Chegou-se possivelmente ao final do problema. Esse ato do governo

acarretaria, talvez, uma onda de protestos populares.

Nota-se que o redator não afirma claramente os fatos. ATENUAÇÃO ou INTENSIDADE:

a) Em parte, a corrupção no país é atribuída aos maus políticos.

b) Estudou, pelo menos, até o segundo grau.

c) Minha idéia foi impetuosamente acatada pelos amigos.

d) Após sua saída, a amada ficou dolorosamente só.

Note que em c) e d) o uso dos advérbios torna-se necessário, pois além de

intensificarem o valor dos complementos (acatada e só), ainda lhe agregam um

significado a mais, deixando transparecer sentimentos e emoções no texto, de

uma forma discreta.

As conjunções conduzem o pensamento, fazendo um elo entre as idéias

desenvolvidas nas frases e nos parágrafos. São elementos de coesão.

Ex.: Os homens são mortais. No entanto, pelos obras e pela contribuição à

sociedade, sua memória torna-se perene.

Se eu disser: Choveu o dia todo. Em vista disso, as ruas não ficaram alagadas,

haverá falta de coesão, pois a locução (em vista disso) não se aplica ao sentido da

segunda frase, ocasionando igualmente falta de coerência.

Page 44: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Os verbos situam no tempo a ação ou o processo desencadeados em seu texto.

Tomando como base o tempo da redação, que é o momento em que você "toma da

pena" para redigir, você tem à frente três opções temporais nas quais situar o

discurso: presente, passado e futuro.

Normalmente, as narrações desenvolvem-se no tempo passado e as dissertações

no tempo presente. Mas, ao escrever, você deve observar que esses tempos

básicos admitem nuances que irão deixar seu enunciado mais preciso. São os

chamados aspectos.

As ações que você descreve podem ter sido concluídas, a concluir, ou ainda estar

sendo realizadas. Deixando de lado o famigerado gerundismo (vou estar

enviando), há casos em que a ação decorrerá durante um determinado período

(vou estar trabalhando durante todo o dia). Há ações que se repetem no tempo (ele

vem alcançando as melhores notas na escola); outras, foram concluídas num

espaço momentâneo (estive trabalhando naquele horário).

A utilização coerente dos verbos depende do contexto e da informação a ser

transmitida.

ESTRUTURA DO TEXTO

O texto dissertativo, ou dissertação, é o tipo de redação mais "cobrado" do

estudante ou do candidato ao vestibular. Ê o modo de verificar se o aluno possui

idéias e se sabe organizá-las em um texto. Os textos narrativos e descritivos

produzem uma representação da realidade (recriam ações, comportamentos,

acontecimentos, objetos etc). Já os dissertativos, analisam, interpretam, explicam

e avaliam dados da realidade.

O texto dissertativo é fruto de uma reflexão; significa uma contribuição pessoal ao

assunto; expressa uma visão crítica (ou mesmo satírica) da realidade; possui

finalidade de informar ou persuadir o leitor. Em um texto dissertativo:

Page 45: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

A introdução, de modo geral, desperta o interesse, apresenta o assunto, orienta o

leitor (e o próprio redator), caracteriza uma situação. O desenvolvimento

apresenta as informações e argumentos referentes à tese defendida. A conclusão

sintetiza as idéias apresentadas, conclui o pensamento, apresenta ou deixa no ar

uma proposta ou sugestão.

INTRODUÇÃO

Qual o tamanho ideal de uma introdução? Não há imposição quanto a isso, mas

devemos observar o equilíbrio harmônico entre as partes do texto. Lógico que a

introdução não deve ser mais extensa do que o desenvolvimento do tema. Deve,

isso sim, ser suficiente para cumprir os objetivos acima tratados.

Quando o assunto irá ser problematizado, o que é normal em dissertações, ou

quando o redator irá contestar idéias correntes, que constam do mundo do leitor,

é comum iniciar o texto efetuando um balanço sintético dessas idéias, para que o

leitor possa assimilar facilmente a tese a ser proposta. Você pode ainda iniciar

seu texto de outras formas (ver adiante).

DESENVOLVIMENTO DO TEMA

Nesta fase, é óbvio, você irá desenvolver as idéias que comprovam e demonstram

sua tese. Se o seu objetivo é convencer o destinatário, é preciso que você se utilize

de alguns atos comunicativos tais como: afirmativas, comparações, exemplos,

raciocínios, definições, ilustrações, informações. Pode também lançar mão de

artifícios de envolvimento emocional do leitor, tais como recorrer a valores morais,

familiares, religiosos, ecológicos, sociais, etc.

Num plano geral, a dissertação pode desenvolver-se utilizando os processos de:

Indução (do particular para o geral, do concreto para o abstrato);

Dedução (do geral para o particular, do abstrato para o concreto);

Analogia (explorando semelhanças entre áreas diversas ou entre idéias que

pertencem ao tema);

Contraste (explorando diferenças);

Desacordo (opondo-se a idéias ou conceitos correntes);

Page 46: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Causa e conseqüência (analisando-as com referência a um fato ou

acontecimento).

A CONCLUSÃO

Podem existir dois tipos predominantes de conclusão: sintética e expansiva (que

se expande).

SINTÉTICA:

Reforça uma idéia exposta

Acrescenta um "fecho de ouro" inesperado

Conclui um raciocínio desenvolvido

Retoma sinteticamente a tese apresentada

EXPANSIVA:

Tira conseqüências dc uma idéia desenvolvida

Apresenta sugestões para resolver o problema levantado

Solicita providências sobre o assunto

Adverte o leitor

A forma expansiva de conclusão é muito encontrada nas redações escolares ou dc

vestibulares: "Deve o governo... por isso devemos todos... para que a situação se

normalize...9. Exemplos de conclusão:

"Como se vê, purificar o Legislativo è trabalho para uma geração. Mas que pode ser iniciado

nas próximas eleições, recusando-se conceder um mandato popular a quem quer que já

tenha sido eleito para algum cargo público.' - conclusão EXPANSIVA (apresenta sugestões

para resolver um problema).

"Ora, quando uma causa politica se traveste de religião, acaba-se trocando o melhor da

politica pelo pior da religião. Perdem-se a conversa, a transigência e a negociação, que são

o melhor da política. Fica-se com a intolerância, que é o pior da religião.' - conclusão

SINTÉTICA (conclui um raciocínio /"fecho de ouro").

Page 47: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

TIPOS DE INTRODUÇÃO DE TEXTOS

Os textos podem ser iniciados de diversas formas:

a) Com uma INTERROGAÇÃO:

"Como se sentiria um mendigo que fosse presenteado com um milhão de reais?"

"Depois de uns tempos, (os aposentados) concluem que se toma tedioso viver

pescando ou cuidando de hortaliças... Que fazer então para que a aposentadoria

valha a pena?

São formas eficazes de atrair a atenção do leitor, espicaçando sua curiosidade e

criando uma expectativa para o que diremos a seguir.

b) Com uma MENÇÃO HISTÓRICA:

"Entre os antigos persas havia um deus cujo corpo representava um dualismo: uma

metade personificava o Bem e a outra metade, o Mal. O nome do deus era Mani, de

onde derivou o termo maniqueísmo."

Esta estratégia - trate-se de uma história real ou fictícia, antiga ou atual - traz o

leitor para o "clima" do assunto a ser tratado. Trata-se também de uma forma de

personalizar e tornar mais assimilável o tema.

c) Com SUSPENSE:

"A brasileira Mônica Frydman, casada, duas filhas pequenas, recebeu, em junho do

ano passado, a pior notícia de sua vida."

Neste tipo de introdução, o redator deixa para o próximo (ou os próximos)

parágrafo a elucidação do mistério apresentado.

d) Com uma CLASSIFICAÇÃO:

Page 48: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

"Nesse dia tórrido de verão saí de casa por vários motivos. O primeiro....; o

segundo..."

"Dois foram os pecados apresentados pelos nossos atletas: orgulho e inércia. A

manifestação de orgulho deu-se..."

Este é um método clássico de introdução, bastante utilizado em textos

informativos. O redator classifica uma realidade ou um fenômeno em dois ou

mais itens e se ocupa de comentá-los e esclarecê-los. É bastante utilizado

também para iniciar discursos orais: "minha presença aqui hoje tem dois

objetivos. O primeiro... ; o segundo..."

e) Com uma AFIRMAÇÃO (ou NEGAÇÃO):

"Não se pode negar a influência das histórias em quadrinhos na formação dos

jovens, principalmente a partir da década de 30, quando iniciou a consagração

dessa arte.”

Uma introdução não necessita apresentar a tese defendida logo "de cara".

Algumas vezes, ocupa-se primeiramente de "pescar" o leitor; outras, de enquadrar

o tema, estabelecendo uma ponte entre esse e a tese a ser desenvolvida.

TEMA E ASSUNTO

Digamos que você encontre dois de seus amigos conversando. Curioso, você lhes

pergunta: qual é o assunto? Futebol - respondem. Ou cinema. Mas estariam eles

falando sobre futebol ou cinema em geral? Não! Certamente falam de um

determinado aspecto desses assuntos: o campeonato estadual, a atuação dos

jogadores ou os filmes de terror, a crítica sobre o último filme assistido, etc.

A apresentadora de um programa de TV para mulheres dirige-se às espectadoras:

"Hoje o nosso assunto é beleza! Será que a beleza dos pés femininos é notada

pelos homens?". Note que, nos casos apresentados, o termo assunto refere-se a

Page 49: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

algo de significado geral, futebol, cinema, beleza. Ao comentar sobre esses

assuntos, pinçamos de dentro deles uma parte específica, o que se conhece por

delimitar o assunto. Ao delimitar o assunto, estamos selecionando nosso tema.

No caso do futebol, podemos tematizar (tomar como tema) "a violência no futebol".

De dentro de um campo mais abrangente (o campo do Esporte) foi tirado o

assunto específico, futebol, do qual selecionamos o tema violência. Agora torna-se

mais fácil organizar o pensamento, pois será dirigido a um campo delimitado.

Eis aí a diferença entre TEMA e ASSUNTO. O assunto é mais abrangente,

pertence ao domínio dos significados gerais, enquanto que o tema é um ponto

específico dentro de determinado assunto. Alguns exemplos:

ASSUNTO Comunicação; Tema: Liberdade de imprensa.

ASSUNTO: Lazer; Tema: Um domingo no campo.

ASSUNTO: Educação; Tema: A influência da TV na educação infantil.

PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA

Ao elaborar uma dissertação, que é um texto essencialmente argumentativo,

estamos admitindo que o tema tratado está sujeito a controvérsias. Trata-se de

uma realidade que estamos problematizando. Se não pretendemos problematizar

um tema, para que abordá-lo numa dissertação? Para dizer o óbvio?

Por isso, nada melhor do que estruturar nosso texto partindo de uma

problematização: você acredita em A, pois eu lhe proponho B. E vou lhe dizer por

quê.

Em sua "infra-estrutura", um texto dissertativo apresenta um confronto entre

valores abrangentes: Natureza x Tecnologia; Educação x Lazer; Opressão x

Liberdade. Quem vencerá? Isso vai depender de seu ponto de vista. Se você

condena a violência no futebol, seu posicionamento está situado em um contexto

maior, que poderá ser o confronto entre Violência e Esportividade. Como efetuar

essa estruturação? Veja possíveis abordagens:

Page 50: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

"O futebol tem sua origem atribuída ao povo inglês, um povo educado e fleumático.

Seus primeiros praticantes certamente se tornariam surpresos se assistissem hoje

às verdadeiras batalhas que se travam nos gramados, em nome de uma es-

portividade que perdeu a inocência e tornou-se uma indústria."

"Futebol é um esporte? Se for, nunca o sentido de esporte foi tão aviltado,

enxovalhado quanto nos jogos disputados ultimamente..."

A TESE

Tese é o posicionamento do redator diante de uma realidade. É ele contra ou a

favor da monarquia, da internet, da alta dos juros, da pornografia? A que causas

atribui um determinado problema?

O desenvolvimento ou a comprovação dessa tese é que tecerá a dissertação. Aí é

que se encontram as técnicas argumentativas, ou seja, os métodos de raciocínio,

a utilização de exemplos, comprovações, testemunhos autorizados, etc.

O importante é persuadir o freguês a comprar nossa mercadoria, as idéias que

tentamos passar.

Exemplos de teses:

a) "O papel ideológico dos heróis da comunicação de massa ficou evidente durante

a última guerra mundial..." (Segue-se a argumentação do autor).

Tese: os heróis da CM têm um papel ideológico.

b) "A forma mais eficiente, senão a única, de manipular pessoas é por intermédio

da palavra.(tese) Veja o caso da publicidade ..(argumento). Outros processos

utilizados nessa espécie de manipulação... (argumento).

c) "Os programas humorísticos do rádio e da televisão - do tipo do extinto "Escolinha

do Professor Raimundo"— costumam sobrecarregar o imaginário do povo com uma

idéia simplista e equivocada do que é (ou deve ser) a escola, (tese)

Page 51: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Apesar do talento da maioria dos artistas/alunos, que cumprem sua função de

divertir o telespectador, é necessária uma reflexão sobre o tipo de escola aí

representada. Essa "escolinha", em si, é incompetente pois aparentemente nada

ensina a seus alunos. Além disso, transmite aos espectadores uma imagem

distorcida do ensino, onde impera o autoritarismo, o enciclopedismo e o vazio

didático, (argumento)

Para os Professores Raimundos, a aula é um constante processo de avaliação,

destinada a colocar a nu a "ignorância" dos alunos, sem espaço para o verdadeiro

aprendizado. O aluno não vai à escola para aprender e sim para ser "sabatinado".

Como podemos esperar que responda corretamente às perguntas do professor, se

nós não os vemos absorver nenhuma espécie de conhecimento? " (argumento)

PLANEJAMENTO DO TEXTO

Dissemos anteriormente que havia uma palavra mágica para garantir a unidade e

coerência do texto: planejamento. Planejar é saber com antecedência como irá

estruturar o texto: qual seu objetivo, quais os argumentos que serão utilizados,

que objeções poderão ser levantadas às suas idéias, como concluir, que tipo de

abordagem você pretende utilizar (irônica, satírica, moralista, persuasiva,

didática, etc).

O planejamento é um trabalho de reflexão, em que se colhem idéias relacionadas

ao tema. Nessa fase, podem-se avaliar quais as informações e os argumentos

mais apropriados e em que ordem deverão ser estruturados para melhor efeito

persuasivo.

Fazendo isto, já se eliminam as repetições de idéias em diferentes parágrafos.

Haverá, isto sim, a progressão de idéias, antes mencionada como fator de

coerência do texto. Você terá em mãos, desse modo, o esqueleto do texto. A planta

baixa de sua futura construção verbal.

O cr < o"

Page 52: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Tendo resolvido a ordem e a importância das idéias a serem exploradas, você terá

a mente mais livre para se concentrar no desenvolvimento dessas idéias, ou seja,

na argumentação.

Nem todos os que escrevem costumam relacionar por escrito suas idéias, mas,

em se tratando de um texto extenso, isso se torna inevitável, para que o redator

não se perca e nem deixe de fora idéias e argumentos importantes. Alguns trazem

na mente o esquema que será desenvolvido. Na fase de revisão do texto sempre se

pode alterar a estrutura, eliminar ou acrescentar argumentos.

Para o redator inexperiente, é fundamental colocar no papel os itens que pretende

desenvolver.

"ENCHENDO LINGÜIÇA"

Agora vamos ver como ficaria um texto redigido sem planejamento, cujo objetivo é

apenas "preencher as 20 linhas' exigidas numa redação:

OS PROBLEMAS NO TRÂNSITO

O trânsito em nosso cidade é um caos. Existe uma quantidade excessiva de carros,

o que provoca inúmeros engarrafamentos durante o dia. (o que direi agora?) Quem

espera ônibus para ir ao trabalho ou à escola perde um tempo precioso nos pontos

de ônibus, e às vezes até chega atrasado ao seu destino.

O desenvolvimento da indústria automobilística no Brasil tem proporcionado

facilidades para que todos adquiram seu veiculo. Com o lançamento anual de

novos modelos, as pessoas que têm maior poder aquisitivo passam adiante seus

modelos antigos e compram os novos. Os mais ricos adquirem os modelos

importados, que são mais seguros e confortáveis. Sô que há mais dificuldade em

conseguir peças e acessórios para esses nwdelos e, quando se acham, os preços

são exorbitantes, (e agora?)

Page 53: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Na hora de rush os pedestres têm que se cuidar, pois o movimento de carros é

constante. Quando não há engarrafamento, é o excesso de velocidade que torna

perigoso atravessar uma rua ou avenida.

Torna-se necessário que o poder público, por intermédio do órgão controlador do

trânsito em nossa cidade, tome providências imediatas para modificar essa

situação caótica, quer educando os motoristas, quer tornando o trânsito mais

civilizado, evitando, assim, transtornos aos pedestres, (vejam como estiquei o

parágrafo)

(Ah, lembrei de uma coisa) A indústria de multas (é moda falar da indústria de multas)

em nossa cidade tem apenas o objetivo de arrecadar dinheiro, não resolvendo de

modo nenhum a questão da desorganização do trânsito. (Ótimo, passei das vinte

linhas).

ARGUMENTAÇÃO

Argumentação, em sentido amplo, é uma técnica que usamos diariamente quase

sem perceber na defesa de nossas idéias, a fim de convencer e influenciar outras

pessoas.

Cumpre fazer uma distinção entre persuadir e convencer. O primeiro é baseado

em argumentos emocionais, que buscam influenciar o receptor. O segundo

baseia-se em argumentos lógicos e leva o receptor a considerar a opinião de-

fendida como uma verdade.

A propaganda veiculada na TV persuade o espectador a comprar determinado

produto, associando esse produto ao sucesso. Seu argumento foi: as pessoas que

usam tal produto são bem sucedidas. Usando-o, você também será bem

sucedido.

Neste caso, provocou aceitação emocionalmente, pois o argumento não é

verdadeiro. Argumentamos, entre outros motivos, para: provar alguma coisa;

explicar afirmações ou juízos; justificar procedimentos ou pontos de vista.

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57

Em princípio, usa-se argumentação quando se trata de um assunto

controvertido, que pode ser discutido. Para que usar argumentos para provar que

a água molha ou que a noite é escura?

ARGUMENTOS:

Argumento, em seu sentido específico, é um discurso formado por proposições,

sendo uma a tese, outra ou mais as premissas, em que fica provada a veracidade

da tese a partir da aceitação das premissas. As premissas funcionam como

provas do que afirmamos. Vulgarmente, a argumentação admite:

Raciocínios; evidências (fatos, pesquisas, estatísticas, etc); exemplos; ilustrações

(exemplos narrativos); opiniões autorizadas (opiniões de especialistas no assunto);

verdades admitidas (verdades científicas, provérbios, citações, etc); valores morais

ou espirituais.

a) "Quem viu Joinville há mais de 15 anos, não a reconhecerá mais. Foram abertas

novas avenidas, o tráfego deixou de circular pela Rua do Príncipe, que virou

calçadão. Com três grandes shoppings, os jovens que se concentravam em

pequenos pontos, como a Sorveteria Polar, freqüentam as praças de alimentação.

Os bairros se expandiram e se tornaram autônomos. A construção civil foi

incrementada, e os prédios se tornaram o espelho da cidade. Os velhos casarões

coloniais desapareceram".

O autor do comentário quer nos convencer de que a cidade de Joinville não é

mais a mesma de anos atrás. Para isso, utiliza evidências (novas avenidas, três

shoppings, crescimento dos bairros e da construção civil).

b) O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: O FUMO É PREJUDICIAL À SAÚDE

Nessa última mensagem, temos uma argumentação por raciocínio. Premissa: o

fumo é prejudicial à saúde. Tese ou conclusão (as duas se confundem): se você

fumar, estará sujeito a doenças. Se a premissa (ou premissas) for verdadeira, a

conclusão também será.

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57

Muitas vezes os argumentos usados para nos persuadir são falsos, não resistem a

uma análise mínima. Ex.: Não se pode confiar no que fulano diz: ele é inexperiente.

Foi feito o seguinte raciocínio: a pessoa inexperiente não merece crédito

(verdadeiro?). Fulano é inexperiente: portanto, fulano não merece crédito.

OBS.: Esse tipo de raciocínio denomina-se silogismo. Note que, nas duas

afirmativas iniciais, o termo que se repete (inexperiente) fica em lados opostos.

Outro exemplo:

Fulano está bêbado: não deve dirigir.

A pessoa bêbada não tem condições de dirigir (verdadeiro). Fulano está bêbado.

Logo, fulano não deve dirigir.

Alguns tipos de argumento, como vimos, são construídos logicamente, não dando

margem a dúvidas. Outros, baseiam-se em valores subjetivos, construídos

socialmente, mas que em nossa cultura adquirem valor de verdade. Ex.: mais

pessoas compraram/leram determinado livro, logo o livro é bom (vide os best-

sellers). Fulano anda bem vestido, logo deve ser mais bem sucedido na vida do que

outros que andam mal vestidos. Fulano freqüenta assiduamente a igreja; logo,

trata-se de uma pessoa decente, digna de confiança. E assim por diante.

PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO

O parágrafo argumentativo geralmente apresenta uma estrutura composta de

uma afirmativa e uma (ou mais) comprovação (e às vezes uma conclusão). A

afirmativa comporta as indagações: POR QUÊ? COMO?

"Pior do que criar uma página desinteressante, talvez seja inventar uma carregada

demais - design em excesso pode ser desastroso, (afirmativa)

O leitor acabará confuso e desinformado, (comprovação). Para ser bom, o design de

página precisa ser "transparente", isto é, não deve chamar atenção, ou não estará

cumprindo sua junção." (conclusão)

Page 56: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Algumas vezes, a afirmação pode se encontrar no final, como conclusão:

"Os animais lutam uns contra os outros por alimento ou liderança, mas não lutam,

a exemplo dos seres humanos, por coisas que representam a riqueza (dinheiro,

ações, títulos), distintivos de classe para a lapela ou números baixos de placas de

licença para automóveis, que alguns supõem corresponder a prestígio social. Parece

não existir entre os animais, exceto numa forma muito rudimentar, a relação onde

uma coisa representa aualauer outra." (S.I. HAYAKAWA)

O que pode caracterizar a linguagem argumentativa é que nela as afirmações

constituem julgamentos do redator, que por isso devem ser comprovados.

Afirmações como "um metro possui 100 centímetros" ou aa terra é redonda" são

fatos observados e não precisam de comprovação. Podem, no entanto, funcionar

como afirmações nas linguagens narrativa e descritiva. Fatos observados podem

ser utilizados em dissertações com o propósito de comprovar afirmativas.

OBSERVAÇÃO:

A fórmula AFIRMAÇÃO/COM PROVAÇÃO pode ser utilizada também em outros

tipos de parágrafos, como o narrativo e o descritivo. Ex.: "A cidade fica linda no

inverno." (comprovar) "A batalha foi desigual." (comprovar).

EXEMPLOS (Afirmação/Comprovação) tirados de textos de livros ou da imprensa:

Para onde quer que nos voltemos, aí vemos o processo simbólico se processando.

Plumas no chapéu ou divisas na manga podem representar liderança militar;

conchas de marisco, braceletes de bronze ou pedaços de papel podem representar

riqueza; dois paus cruzados podem representar um grupo de crenças religiosas;

botões, dentes de alce, fitas, o corte de cabelo ou o estilo de tatuagem, podem

representar afiliações associativas.

S.I.HAYAKAWA - "A linguagem no pensamento e na ação".

Os bons amigos. os companheiros de verdade, foram sempre exaltados em todas

as civilizações. A Bíblia, com sua sabedoria divina, não se cansa de louvar o valor

do bom companheiro (...)

Page 57: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Há um luaar privilegiado em aue a prática da boa amizade se recomenda de modo

todo especial. Esse lugar é a família. Dizer que o marido deve ser o melhor

companheiro da mulher e a mulher a melhor companheira do marido parece

redundância inútil (...)

DOM Tito Buss - A Notícia

No seu começo - há cerca de 20 ou 30 mil anos - a escrita se confunde com a arte.

As pinturas rupestres e as inscrições paleolíticas são as primeiras expressões e

representações do pensamento do homem. (...)

Pouco a pouco, a escrita, cada vez mais complexa no plano técnico, torna-se mais

flexível no uso. A história nos demonstrará que ela será usada para contratos de

venda, para lembrar a fundação de palácios, para redigir leis e certificar unidades

de medidas. (...)

PIERO PINTO - A Notícia

PARÁGRAFO

Você abre uma revista ou livro atual e encontra tipos diferentes de parágrafo.

Alguns são curtíssimos, outros são quilométricos, outros ainda não se

completam. Isto é para você sentir que em questão de parágrafos não existe o

certo e o errado. Existe, sim, o parágrafo bem ou mal construído para cumprir o

propósito do autor.

Na verdade, o tipo de parágrafo é influenciado pelo estilo do redator. Alguns se

expressam por parágrafos "fechados" como um ovo (idéia principal,

desenvolvimento e conclusão, como se fosse um minitexto); outros distribuem a

idéia em mais de um parágrafo; outros ainda costumam empregar o parágrafo

com final-suspense: a última frase é o tópico que será desenvolvido no próximo

"segmento".

A função básica do parágrafo é a organização do texto, a fim de que suas

informações possam ser melhor assimiladas.

Page 58: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

57

Tem a vantagem de nortear a mensagem, delimitando as idéias tratadas e

mantendo a coerência. Se desenvolvermos em um parágrafo apenas uma idéia,

haverá pouca margem para fuga do assunto. Algumas vezes, uma idéia necessita

de mais de um parágrafo a fim de ser desenvolvida adequadamente.

Normalmente, o redator experiente não se pergunta que tipo de parágrafo irá

elaborar, simplesmente dá forma às suas idéias. Na revisão do texto, poderá

considerar a forma mais eficiente de estruturar sua mensagem e então alterar

seus parágrafos.

Se você é principiante na arte de redigir, seu professor ou o "corretor" de redações

de vestibular poderá, ao analisar seu trabalho, fazer observações deste tipo:

A idéia encontra-se fragmentada em vários parágrafos.

O parágrafo desenvolve várias idéias diferentes.

O parágrafo é muito extenso, perdeu-se o "fio da meada" das idéias.

As idéias estão confusas.

Isso significa que você não deve cair nos extremos. Procure seu caminho para

redigir, elaborando parágrafos simples, com uma só idéia principal.

Tópico ou idéia principal

A noção de tópico ou idéia principal é muito aproveitada em textos de

propaganda. Trata-se de um norteador das idéias que vêm a seguir, que o

desenvolvem e explicitam. Tópico é, portanto, a idéia ou afirmativa que será

desenvolvida no parágrafo. A idéia principal está para o parágrafo assim como a

tese está para o texto. A diferença está em que a tese é o fator mantido no texto

considerado globalmente e a idéia principal refere-se unicamente a um parágrafo

ou a um conjunto de parágrafos.

Modernamente, como podemos observar pela leitura das principais revistas

informativas do país, os parágrafos têm se desvinculado da limitação da idéia

principal, abrangendo idéias diversas, dando predominância talvez à disposição

gráfica do texto.

Page 59: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

O QUE APRENDI SOBRE REDAÇÃO — e posso lhe ensinar

ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

O texto dissertativo, que é o tipo que nos interessa, inicia com a problematização

de um tema. Nos textos meramente informativos não existe tal conflito. Podemos

visualizar assim nosso texto:

Introdução

Problematização ou conflito

Argumentação

Conclusão

Está bem, mas como se organiza isso? Tomemos um assunto, "o Lazer", do qual

delimitaremos como tema a violência na TV, em que defenderemos a seguinte

tese: os filmes da TV influem prejudicialmente na educação da criança. Atenção:

normalmente em provas e vestibulares o tema e a própria tese já se apresentam

delimitados.

Em nosso caso, vemos que existe um conflito LAZER (representado pela TV) x

EDUCAÇÃO. Podemos, com isso, montar nosso plano de redação, organizando as

informações e idéias que irão representar os dois times adversários. Como o

resultado do jogo já está marcado, o vencedor deverá ser o time da Educação.

Então, vamos fazer o seguinte, utilizando a imaginação: colocamos em

contraposição as características sadias da Educação versus as características

perniciosas dos filmes de violência, influenciando três esferas educacionais: a

família, a escola e a igreja. Três gois a zero! Veja a seguir:

EDUCAÇÃO

Família: concórdia, obediência

Escola: disciplina, respeito, estudo

Igreja: amor ao próximo, fé.

Page 60: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

TV (filmes de violência)

Família: discórdias, brigas, rebeldias

Escola: indisciplina, ignorância, deboche

Igreja: mentira, mortes, roubos, desavenças,

e descrença.

Com tal planejamento, você não corre o risco de repetir as mesma idéias, estará

dando uma progressão de idéias ao seu texto. Veja, a seguir, como ficou: (texto

produzido apenas com objetivo didático)

A VIOLÊNCIA NA TV

Com o desenvolvimento do sistema de televisão torna-se difícil, atualmente,

encontrar família que não possua seu aparelho de TV. Devido à fascinação provoca-

da pela imagem, a cultura televisiva vem aos poucos substituindo as formas

tradicionais de socialização da criança.

Isso, no entanto, tem provocado sérias alterações na visão de mundo da criança,

levando-a a se distanciar das normas estabelecidas pela aprendizagem tradicional.

Os filmes apresentados na TV. os quais têm na violência, sobre todos os aspectos,

a forma ideal de resolver as questões, têm exercido maléfica influência sobre

nossos filhos.

Incidindo sobre a esfera familiar, tais filmes tomam como assunto a discórdia

conjugal, quase sempre terminada em separações, provocando nos filhos o senti-

mento de rebeldia. Sob outro aspecto, enfocam também brigas violentas entre os

próprios irmãos.

No que diz respeito à vida escolar, esses filmes fartam-se em mostrar cenas de

indisciplina, de deboche aos professores, enfocando, muitas vezes, a ignorância

como qualidade desejável, visto que heróis incultos mas violentos saem-se bem em

todas as situações.

Page 61: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

Finalmente, as histórias veiculadas pela TV opõem-se aos ensinamentos dá própria

religião. Onde a igreja prega o amor ao próximo, esses filmes promovem a

desavença, a ganância, o desprezo. Onde a religião afirma o valor profundo da

vida humana, que apenas Deus pode tirar, a TV prega a filosofia contrária, em que

é muito fácil tirar a vida de um semelhante. Mostra, igualmente, a mentira e a

devassidão triunfando sobre a inocência. Com tudo isso, como não se abalar o bem

mais precioso da criança que e a fé?

Como vimos, por mais que se insista em uma educação mais abrangente e humana

para nossos filhos, tais intenções são neutralizadas pela ação anti-educativa desse

monstro que nós próprios introduzimos em nossos lares.

Você pode verificar que a introdução teve a função de enquadrar o tema, de

maneira geral, admitindo a disseminação do uso da TV. É o momento em que o

Autor "passa a limpo" o que é senso comum sobre o tema, os fatos com que todos

já devem concordar.

No segundo parágrafo, apresenta um conflito, um desacordo, uma maneira sua

de conceber a influência da TV. O que caracteriza isso, essa mudança no rumo do

texto, é o termo no entanto, que significa oposição, ressalva ao que foi dito.

É nesse parágrafo que o Autor apresenta sua tese, que se acha contida no período

sublinhado.

0 autor utiliza a argumentação por oposição, ou contraste, contrapondo a filosofia

exposta nos filmes aos valores morais pregados e admitidos pelas instituições

sociais. Revela igualmente um desenvolvimento de forma dedutiva: uma ideia

geral, abstrata, que passa a ser "esmiuçada".

Na conclusão, efetua um reforço de sua tese, ao mesmo tempo em que conclui

seu raciocínio. A conclusão, aqui, se manifesta de forma sintética, mas poderia

tomar uma forma expansiva se o autor sugerisse providências contra o abuso da

violência na TV.

Page 62: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

REVISANDO O TEXTO

Ao redigir, preocupe-se apenas com o fio de suas idéias; lance no papel o que você

pretende dizer, sem preocupar-se i " i i i o vocabulário, com a sintaxe, ou mesmo

com a pertinência das idéias. Sem atrapalhar seu potencial criativo.

Depois, chega a hora de revisar. Dificilmente alguém consegue produzir um bom

texto de primeira. Normalmente, são necessárias várias revisões. É hora de

analisar, de verificar se as idéias estão claras e objetivas, se é possível identificar

a tese, se os argumentos são convincentes, se os parágrafos enlao bem

construídos e se a conclusão "fecha" o assunto (se for uma conclusão sintética).

É hora também de procurar as palavras mais justas e expressivas, de caçar

sinônimos, de verificar a ortografia.

Observe exemplos de revisão ajustando e tornando mais concisa uma frase

frouxa:

Comunicação é um processo social, pois é através dela que o homem se integra

com seus semelhantes, tornando possível o desenvolvimento da sociedade. (24

palavras)

A comunicação é um processo social. Integra o homem com seus semelhantes,

tornando possível o desenvolvimento da sociedade. (18 palavras)

Redigir é um trabalho artesanal, em que se torna necessário, muitas vezes,

desfazer o que já está feito, em busca de melhor caminho para ordenar as idéias

que se atropelam. (30 palavras.)

Redigir é um trabalho artesanal. Muita vezes é necessário desfazer o que está feito,

em busca de melhor caminho. As idéias se atropelam e é preciso ordená-las (27

palavras)

Page 63: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

BOM SENSO E BOM GOSTO

Concluindo, para bem escrever são necessárias duas coisas: bom senso e bom

gosto. Por isso se diz que escrever é uma arte. Munido de sua ferramenta (a

gramática), o redator se vale de sua arte para confeccionar belas peças.

O bom senso evita que cometa exageros, que diga mais do que deve ou que utilize

linguagem inadequada; evita, ainda, que se afaste do tema tratado ou do universo

do provável leitor. Faz também com que organize o texto, para sua melhor

compreensão e procure os termos corretos para traduzir o que pretende dizer. Na

maioria das vezes, sinônimos não produzem o mesmo sentido. Veja a diferença

entre casa velha e casa antiga.

O bom gosto faz o redator produzir textos fluentes como uma corrente d'água,

originais, atraentes, sem generalizações e preconceitos. Deixa de lado os lugares-

comuns e busca metáforas adequadas.

Para conseguir isso, você deverá "curtir" o texto que estiver redigindo, dar tudo de

si, como se estivesse confeccionando uma pequena obra de arte. Pergunte a si

mesmo: o que estou querendo comunicar? Minha mensagem irá de qualquer jeito,

ou vale a pena dar-lhe uma "arte final"? E nessa arte final é que você poderá

aplicar os preceitos de bom senso e bom gosto.

CORRESPONDÊNCIA

CARTA

Trataremos aqui por carta o tipo de correspondência, mesmo pessoal, que seja de

cunho formal. O texto da carta, ao contrário de outros tipos de texto, possui um

objetivo concreto, isto é, visa produzir uma ação real, FAZER ACONTECER algo:

efetuar uma venda, conseguir um pagamento, fazer uma reclamação, prestar ou

conseguir uma informarão, alterar um comportamento, etc.

Page 64: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

TIPOS DE CARTA

Para nosso estudo, utilizaremos os termos carta empresarial e carta pessoal. A

empresarial refere-se ao texto emitido por uma empresa, de caráter

administrativo ou negocial. A carta pessoal é o texto emitido por indivíduos com o

intuito de fazer comunicados, reclamações, solicitações a empresas, órgãos

públicos ou a terceiros.

ESTRUTURA FORMAL

Uma carta apresenta em sua estrutura ou forma externa alguns elementos

básicos, como local, data, destinatário, invocação, epígrafe e fecho.

A estrutura interna, que se refere ao texto propriamente dito, pode apresentar,

conforme o caso, uma Solicitação, Argumentações e Considerações (nem sempre

nesta ordem).

OBS.: A epígrafe ou referência é um elemento importante, pois identifica de

imediato o assunto tratado, norteando a leitura e principalmente orientando a

distribuição da correspondência. Pode identificar o assunto geral, seguido do

enfoque específico. Ex.: EMPRÉSTIMO IMOBILIÁRIO - Prestações Mensais;

TÍTULOS EM COBRANÇA - Prorrogação de vencimento.

CONTEÚDO/EXPRESSÃO

Todo texto é composto de um conteúdo (o que dizer) e de uma forma ou expressão

(como dizer). O conteúdo de uma carta é normalmente determinado por um

conjunto de fatores inerentes à empresa ou ao redator: seus objetivos, ne-

cessidades, filosofia, etc.

Na parte da expressão é que se manifesta a técnica redacio-nal. É um conjunto de

habilidades que abrange, entre outras, o domínio da língua, o vocabulário,

Page 65: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

raciocínio verbal, bom senso, coerência, poder de argumentação, capacidade de

motivação, organização das idéias, objetividade, clareza, criatividade.

EMISSOR/RECEPTOR

No texto empresarial há distinção entre as figuras do emissor e do redator.

Emissor do texto é a empresa, que fornece o objetivo, baseado em um problema

concreto, influenciado pela situação contextual. Redator é o que exerce a função

de dar forma à mensagem, utilizando-se de técnicas lingüísticas e

argumentativas. Seu repertório deve, portanto, abarcar o repertório da empresa (o

funcionamento, os problemas, as normas, a ideologia, as necessidades, etc).

Neste caso, o conteúdo é determinado de forma acentuada pelo objetivo da

mensagem e pela situação contextual.

Devemos considerar que o redator é um representante de sua empresa; não

poderá, desse modo, usar de subjetividade no texto, e sim considerar o ponto de

vista da empresa. Deve ainda considerar se a intenção da mensagem é fazer uma

solicitação, uma ameaça ou um aviso; se o receptor é uma pessoa ilustre, de

cerimônia, ou um operário da firma, situação em que a forma de tratamento e o

nível de vocabulário serão alterados.

a) "Fulano, a firma está mal de caixa. Faça um levantamento das duplicatas que

vencem no final do mês e escreva aos clientes solicitando pagamento em dia".

Objetivo: conseguir pagamento dos títulos nos prazos.

Situação: necessidade de dinheiro; necessidade de respeitar os clientes;

considerar a hipótese de que o cliente não é obrigado a pagar no prazo; a firma

precisa manter a clientela.

b) "Redija um comunicado aos operários, convencendo-os a não deixarem de usar

os capacetes de segurança".

Objetivo: conseguir que os operários utilizem capacete.

Page 66: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

Situação: ocorrência freqüente de acidentes; a firma tem por filosofia dialogar

com os operários; o repertório dos operários não se presta a mensagens formais e

longas (deve haver o máximo de simplificação).

APELO / INCENTIVO

Normalmente, os receptores de textos vivem em meio a um amontoado de

mensagens, que disputam sua atenção. São notícias, comunicados, memorandos,

avisos, instruções, regulamentos, relatórios, propagandas e outros. Para atraí-los,

portanto, e, mais ainda, persuadi-los a fazer algo, não bastam informações. É

preciso "pescá-los", atrair sua atenção, motivá-los a ler nosso texto e dar-lhe a

devida atenção.

Para isso, utilizamos duas técnicas: apelo e incentivo. O Apelo visa atraí-los

emocionalmente, mexendo com seus interesses, suas necessidades, seus desejos,

etc. Observe que o destinatário não está interessado em resolver os problemas

nossos ou de nossa empresa, e sim em saber como seus problemas poderão ser

resolvidos ou quais as vantagens que lhe advirão ao fazer o que lhe pedimos.

Por isso, deve o redator ressaltar os aspectos positivos do que é proposto. Não

deverá dizer: "Em vista das dificuldades em organizar nossos arquivos,

solicitamos-lhes...", mas sim: "Visando reorganizar nossos arquivos para

proporcionar atendimento mais rápido aos nossos clientes, solicitamos-lhes...".

Outros exemplos:

a)"Nossos produtos, além de contar com grande aceitação, permitem faixa de lucro

de 10% a mais do que qualquer similar".

b) "Conhecemos sua solidez nos negócios e o prestígio de sua empresa, conquistado

ao longo dos anos..."

O incentivo, por seu lado, é um estímulo para captar, logo de início, a atenção do

receptor. Equivale à introdução no texto dissertativo. Serve para despertar sua

curiosidade ou sua boa vontade para a leitura do texto. É necessário que seja

Page 67: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

criativo e pertinente ao assunto e ao receptor. O incentivo redigido sem

competência (principalmente utilizando lugares-comuns) poderá estragar a

mensagem, afastando o leitor, por isso deve ser usado sem exageros e com bom

senso.

Dependendo do assunto e do receptor, você poderá utilizar uma metáfora, uma

narração, um suspense, uma afirmativa inusitada, etc. Nem todo tipo de carta

admite a técnica do incentivo, pelo menos muito explícito. É ideal para malas

diretas de vendas, folders, oferecimento de serviços, avisos publicitários, etc.

Ex.: "Você nunca aplicou em fundo de investimentos? Ê verdade, nem todos os

fundos são honestos. E não oferecem as vantagens que você pretende ao aplicar

seu dinheiro..."

"Gostaríamos de conversar sobre ecologia (o cliente é adepto). Mas o que tem a ver

nossa empresa com os problemas ecológicos?"

"Não vimos propor-lhe um negócio, mas sim colocar dinheiro em seu bolso..."

Há, nessa última, uma junção das técnicas de apelo e incentivo, despertando no

leitor o interesse e a curiosidade.

É necessário reconhecer o tipo de motivação que impulsiona determinado tipo de

receptor. Não se pode propor a venda de computadores, apelando para a

necessidade de informação ou de modernidade, a uma faixa de consumidores que

se preocupa com problemas de auto-conservação (moradia, estabilidade etc).

MOTIVANDO A AÇÃO

Por conter nosso tipo de correspondência um objetivo concreto, exige na maioria

das vezes uma ação do receptor em resposta a ela. Se o objetivo é vender um

produto, o interesse do emissor é que o cliente efetue seu pedido. Se é cobrar

nina dívida, espera-se que o cliente efetue o pagamento de imediato. Esses

objetivos não podem "ficar no ar", devendo ser bastante explícitos. É útil, por isso,

Page 68: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

a utilização de um convite à ação, mostrando ao receptor o que deve fazer e como

deve fazê-lo.

Ex.: "Não mande dinheiro. Apenas assinale sua opção no formulário anexo e

remeta-nos hoje mesmo." "Para fazer seu pedido, ligue para o fone..." "Preencha

esta autorização e debitaremos o valor em sua conta corrente."

Técnicas desse tipo são comuns em ofertas de mercadorias a t raves de revistas

ou da TV. Devem conter uma única proposta de ação, tão prática e fácil que

mesmo o receptor mais Ocupado ou comodista tenha condições de realizá-la.

DANDO RAZÃO AO CLIENTE

Ninguém gosta de oposição às suas idéias ou de que lhe I icguem no pé", como se

diz comumente. Um bom modo de persuadir mais facilmente o destinatário é

levar em consideração seus pontos de vista, reconhecê-los como válidos, antes de

argumentarmos. Isso eliminará a idéia de conflito, Due poderá levá-lo a não

aceitar o que propomos.

Ex.: "Não pretendemos influenciar sua decisão, pois sabemos que é um leitor

inteligente. Mas veja as propostas que fazemos."

"Cremos que V.Sa. possui razões para ter suspendido a compra de nossos

produtos. A falha ocorrida em nossa última remessa foi lamentável. Como clientes,

teríamos feito o mesmo. Mas já tomamos todas as providências..."

"Sou obrigado a informar-lhes de minha decepção com essa empresa. Sei que,

devido a problemas de informática, como queda de sistema, muita vezes acontecem

falhas no controle dos pagamentos recebidos. No entanto, não se justifica que por

três vezes tenham deixado de registrar a quitação de minhas mensalidades, dentro

da data de vencimento, conforme comprovações anexas...." (carta pessoal para

empresa)

Page 69: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

Satisfazendo os brios do receptor, estaremos removendo uma pedra do caminho

de nossas futuras negociações. Isso, com toda certeza, produz melhores

resultados do que tentar demonstrar-lhe que está errado e que nós é que estamos

com a verdade.

ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO EMPRESARIAL

ESTILO SAC (Solicitação - Argumentação - Considerações):

Joinville, 12 de junho de 1999

EDITORA MEFISTÓFELES LTDA.

Rancho Fundo (AM)

Prezados Senhores,

REPRESENTAÇÃO NA PRAÇA - Solicitamos-lhes a representação de sua

conceituada editora neste Estado. (SOLICITAÇÂO)

Trabalhamos há mais de 10'anos na área editorial e possuímos um corpo de

vendedores capacitados na venda de liuros. Além disso, a cidade de Joinville

apresenta-se como um bom mercado, visto que temos uma universidade e mais

quatro instituições de curso superior e o nível cultural dos habitantes é um dos

melhores do Estado. Acreditamos, portanto, que estaremos aptos a desenvolver um

bom trabalho nesta praça. (ARGUMENTAÇÃO)

V.Sas, poderão obter informações a nosso respeito na editora Marcapasso Ltda.

(endereço), da qual fomos representantes por cinco anos na praça de Curitiba(PR),

anteriormente à nossa transferência para Joinville.

No caso de sermos atendidos, pedimos que nos forneçam as t nientações para que

possamos abraçar essa tarefa, que para nós será muito gratificante,

(CONSIDERAÇÕES)

Page 70: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

Atenciosamente

ESTILO SUSPENSE - CAS (Considerações, Argumentação, Solicitação) - O redator

vai construindo um clímax, que se estabelece no final da mensagem.

Joinville, 16 de agosto de 1998

FINANCEIRA ARPOADOR LTDA.

Nesta

CONCESSÃO DE EMPRÉSTIMO

Senhor Gerente:

O desenvolvimento da indústria de artigos de couro provocou a criação de novas

empresas, consumidoras dessa matéria-prima, não mais nos sendo possível

atender aos pedidos, numerosos e urgentes, visto que a produção de nossa

empresa é pequena, (CONSIDERAÇÕES)

Para produzirmos maior quantidade e satisfazer todos os compradores é

indispensável ampliação da nossa indústria, adquirindo-se novas máquinas e

aumentando as dependências.

Precisamos, pois, da quantia necessária à cobertura do encargo a ser assumido e

cujos resultados reverterão em beneficio de todos quantos, nesta cidade, se

dedicam à produção de couro e seus artefatos, (ARGUMENTAÇÃO)

Em tais condições, recorremos a V.Sas, e solicitamos um empréstimo de R$

50.000,00, para o qual apresentaremos as garantias necessárias, além do

empenho de nossa idoneidade e conceito comercial já plenamente conhecidos nesta

praça, (SOLICITAÇÃO)

Saudações

Page 71: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

ESTILO ANÚNCIO - Colorido e atraente, com uso de imagens e movimentos

(substantivos, adjetivos e verbos, visado impressionar o receptor. Predomina o

uso da linguagem persuasiva (utilizado em malas diretas, ofertas de vendas,

publicidade, etc.)

"Depois de um bom tempo de convivência com sua revista, você conquistou uma

séria de privilégios. Escolheu uma revista feita para você, decidiu que ela deveria

chegar em seu endereço, aproveitou um preço fixo por ano e recebeu edições

primorosas, com a qualidade que você exige.

Agora, chegou a hora de renovar esse privilégio. E , sua renovação vem

acompanhada de muitas vantagens...".

Veja como este cartão inovador atende suas expectativas:

VOCÊ quer ficar livre da taxa de anuidade. Nosso cartão tem a anuidade gratuita

por toda a vida.

VOCÊ quer facilidade para pagar contas Com nosso cartão você pode concentrar

seus títulos a pagar no vencimento do cartão de crédito, ganhando até 60 dias a

mais de prazo, evitando assim atrasos e multas.

Nota-se o tratamento coloquial (você), a técnica do apelo e da motivação

Page 72: O Que Aprendi Sobre Redação e Posso Lhe Ensinar

ANEXO

PLANO DE REDAÇÃO

Digamos que você pretende desenvolver o seguinte tema: o desmoronamento da

família. Certamente, em sua estrutura mais profunda, seu texto considerará a

oposição Estabilidade x Desagregação. Entre outras opções, você poderia efetuar

o seguinte levantamento de idéias:

A família de antigamente (introdução)

A família está desmoronando (tese)

Argumentos:

Estatísticas sobre separações

Causas do desmoronamento familiar

Instituição do divórcio

Liberação da mulher

Dissolução dos costumes (mídia)

Comentário sobre filme ou livro que ilustra o assunto

Conclusão

Consequências dos distúrbios familiares sobre os filhos (ou soluções).

Com esse trabalho, você estará hierarquizando as idéias, dando-lhes coerência

lógica e progressão. Seu conteúdo estará todo ali, bastará preencher o papel com

suas técnicas de redação.