o romantismo

33
O Romantismo foi para além da literatura, foi um movimento artístico e filosófico que surgiu no final do século XVIII na Europa, indo até o final do século XIX. A maior característica do Romantismo era a visão de mundo que se contrapunha ao racionalismo do período anterior (neoclassicismo). O movimento romântico cultiva uma visão de mundo centrada no indivíduo, e portanto os autores voltavam-se para si mesmo, retratando dramas pessoais como tragédias de amor, idéias utópicas, desejos de escapismo e amores platônicos ou impossíveis. O século XIX seria, portanto, marcado pela arte voltada para o lirismo, a subjetividade, a emoção e a valorização do “eu”. No Brasil , o período histórico era marcado por um sentimento nacionalista, em especial pelo fato marcante que foi a Independência, em 1822. Encontramos, pois, elementos que caracterizam o período, presentes nas obras dos autores românticos. É o exemplo da exaltação da Pátria feita por Gonçalves Dias , e do clima nostálgico presente nas poesias de Álvares de Azevedo e Fagundes Varela, sem falar no engajamento nas causas sociais , presente fortemente na obra de Castro Alves, o qual abordou temas polêmicos como a escravidão. A produção Romântica foi rica e vasta, tanto em outros países, quanto aqui, tanto em prosa, quanto em versos. Na poesia, a obra que marca o início das produções românticas é “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães. A poesia romântica é dividida em 3 gerações: Primeira Geração: Nacionalismo - influenciada pela Independência do Brasil, a poesia buscava a identificação do país com suas raízes históricas, linguísticas e culturais. O desejo era o de contruir uma arte brasileira, livre da influência de Portugal, e o sentimento era de nacionalidade, resgatando elementos da história do país. Foi fortemente marcada pelo indianismo e trazia à toda elementos da natureza (flora e fauna) brasileiros. O índio era exaltado como herói, pois representava o povo brasileiro, e o Brasil em sua essência.

Upload: aquiles

Post on 23-Dec-2015

6 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

pesquisa sobre o Romantismo e outros periodos literarios

TRANSCRIPT

Page 1: O Romantismo

O Romantismo  foi para além da literatura, foi um movimento artístico e filosófico que surgiu no final do século XVIII na Europa, indo até o final do século XIX. A maior característica do Romantismo era a visão de mundo que se contrapunha ao racionalismo do período anterior (neoclassicismo). O movimento romântico cultiva uma visão de mundo centrada no indivíduo, e portanto os autores voltavam-se para si mesmo, retratando dramas pessoais como tragédias de amor, idéias utópicas, desejos de escapismo e amores platônicos ou impossíveis. O século XIX seria, portanto, marcado pela arte voltada para o lirismo, a subjetividade, a emoção e a valorização do “eu”.

No Brasil, o período histórico era marcado por um sentimento nacionalista, em especial pelo fato marcante que foi a Independência, em 1822. Encontramos, pois, elementos que caracterizam o período, presentes nas obras dos autores românticos. É o exemplo da exaltação da Pátria feita por Gonçalves Dias, e do clima nostálgico presente nas poesias de Álvares de Azevedo  e Fagundes Varela, sem falar no engajamento nas causas sociais, presente fortemente na obra de Castro Alves, o qual abordou temas polêmicos como a escravidão.

A produção Romântica foi rica e vasta, tanto em outros países, quanto aqui, tanto em prosa, quanto em versos.

Na poesia, a obra que marca o início das produções românticas é “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães. A poesia romântica é dividida em 3 gerações:

Primeira Geração: Nacionalismo - influenciada pela Independência do Brasil, a poesia buscava a identificação do país com suas raízes históricas, linguísticas e culturais. O desejo era o de contruir uma arte brasileira, livre da influência de Portugal, e o sentimento era de nacionalidade, resgatando elementos da história do país. Foi fortemente marcada pelo indianismo e trazia à toda elementos da natureza (flora e fauna) brasileiros. O índio era exaltado como herói, pois representava o povo brasileiro, e o Brasil em sua essência.

Segunda Geração: Mal do Século - Neste período, que se iniciou por volta de 1850, a poesia vinha de encontro às ideias e temáticas da geração anterior: o eu-lírico volta-se mais para si e afasta-se da realidade social à sua volta. Traz em si o pessimismo e o apego aos vícios. Os sentimentos são exagerados e aparecem de forma idealizada na poesia. Além disso, elementos como a noite, a melancolia, o sofrimento, a morbidez e o medo do amor são recorrentes em seus textos poéticos. O eu-lírico vivem em meio solidão, aos devaneios e às idealizações.

Terceira Geração: Condoreirismo - a última geração da poesia romântica se inspira em Victor Hugo, e traz um foco político e social. Na época, ideias abolicionistas e republicanas vinham à tona, e junto com elas o desejo de se libertar do Império. É a fase que prenuncia o Realismo, que viria em seguida, tanto é que tem como foco a realidade social, a crítica à sociedade, a poesia liberal, enfim, era o final do movimento romântico no Brasil. O condoreirismo se refere à figura do condor, uma ave que tinha voo alto, assim como os poetas românticos faziam em busca de defender seus ideais libertários.

Enquanto isso, na prosa romântica, iniciava-se, de fato, a produção de prosa literária no Brasil. Neste campo, o romantismo se dividiu por tendências, sendo elas:

Page 2: O Romantismo

Romance Urbano - ligava-se à vida social, principalmente no Rio de Janeiro, descrevendo os tipos humanos encontrados naquela sociedade.

Romance Regionalista (sertanejo) - demonstrava atração pelo pitoresco e tinha como principal característica a retratação da vida no interior do Brasil, seus hábitos, seu modo de falar, etc.

Romance Histórico - tratou-se de uma revalorização do passado, trazendo ao romance personagens da nossa história, retratando-os de modo nacionalista.

Romance Indianista - por fim, porém não menos importante, há o romance indianista, que teve como maior representante o romancista José de Alencar, e como característica a idealização do ínidio, como herói brasileiro, nobre e valente.

Já em relação aos aspectos formais, a literatura romântica é desvinculada dos padrões do Classicismo, caracterizando-se pelo verso livre, sem métrica e pelo verso branco, sem rima.

Características como o subjetivismo e o sentimentalismo não podem ser separadas da estética romântica, pois estiveram presentes em toda ela, tanto na prosa, quanto na poesia.

Além destas, há outras características tipicamente românticas, como o nacionalismo, o ufanismo, a religiosidade, a evasão, a idealização da realidade e do ser amado, o escapismo e o culto à natureza.

O romantismo floresceu na Alemanha (Goethe e Schlegel), na França (Madame de Stäel e Chateaubriand) e na Inglaterra (Coleridge e Wordsworth), como resposta aos modelos pretendidos pelos Iluministas, que privilegiavam o racional e o objetivo, em detrimento do emocional e da subjetividade.

Houve, no período, o desenvolvimento da chamada poesia ultra-romântica, dos romances (novels) e dos romances históricos (romances). Tanto a prosa quanto a poesia foram amplamente difundidos no período. Porém, com a ascenção da imprensa e da burguesia comercial, os romances e os periódicos foram ganhando cada vez mais espaço e se popularizaram a ponto de atingir um novo público leitor que até então não tinha acesso à literatura.

Há uma diferença significativa com relação aos padrões poéticos vistos até então no Arcadismo, que se assemelhavam à estrutura camoniana e eram inspirados nas obras greco-romanas. O verso clássico deu espaço ao verso livre, aquele sem métrica e sem entonação, e ao verso branco, sem rima, que possibilitou uma maior liberdade de criação do poeta romântico, agora livre para expressar sua individualidade.

Os temas principais da poesia romântica giram em torno do sentimento de nacionalidade surgido a partir novo do contexto histórico e cultural. A nova pátria, com a declaração da independência, manifestava-se através da exaltação da natureza do país, no retorno ao passado histórico e na criação dos heróis nacionais.

A hipervalorização dos sentimentos e das emoções pessoais (angústias, tristezas, paixões, felicidades etc.) também é característica do movimento, que pressupunha uma olhada para o interior do artista e de suas emoções, em detrimento do racional e do objetivo iluminista. Esse sentimentalismo exagerado está refletido nos enredos que, em sua maoria, consistem em histórias de amor ou, quando este não é o mote principal, em histórias em que o amor e a paixão prevalecem.

A individualidade como refúgio proporciona também a evasão para mundos distantes como forma de escapar a sua realidade. Essa característica está associada, principalmente, aos autores da chamada Geração Mal-do-Século - autores acometidos pela tuberculose (a doença considerada

Page 3: O Romantismo

o mal do século XIX) - que almejavam uma vida de prazeres em países e territórios distantes para escapar à dor e à morte.

O culto à natureza ganha traços diferenciados no romantismo pois, a partir de agora, passa a funcionar não apenas como pano de fundo para as histórias mas também, passa a exercer profundo fascínio pelos artistas. Além disso, a natureza passa a entrar em contato com o eu romântico, refletindo seus estados de espírito e sentimentos.

Nos romances góticos, surgidos no final do século XVII e desenvolvidos durante o século XIX, a natureza tem um papel muitas vezes hostil e ameaçador na trama, responsável por momentos de tensão. Com o passar do tempo, essa natureza transformou-se em um clichê para histórias de terror na forma de cenários assustadores: noite, névoa, pântanos, neve, árvores retorcidas etc.

 

Conceitos importantes

 

a) Subjetivismo e Individualismo - glorificação do que é particular e íntimo, dos sentimentos. Segundo o professor Sergius Gonzaga, em seu livro Manual de Literatura Brasileira (Mercado Aberto, 1989):

Com frequência, o destino da grandeza individual é a "maldição", ou seja, distanciamento pessoal da vida em sociedade, através da solidão voluntária, da orgia, da ofensa aos valores comuns, da recusa em aceitar os princípios da comunidade. Isto ocorre em um segundo momento, quando os artistas se dão conta da impossibilidade de uma nova experiência napoleônica e da mediocridade da burguesia pós-revolucionária, voltada apenas para a acumulação de capital.

 

b) Patriarcalismo - o século XIX também é conhecido por refletir em sua literatura canônica uma sociedade conservadora e patriarcalista. Neste modelo, a família (homem, mulher e filhos) é o núcleo da sociedade burguesa, cujo poder está centrado na figura do pai. Os enredo giram basicamente em torno dela, de suas relações, seus costumes e seus desejos.

Embora no Brasil o modelo de sociedade patriarcal sempre esteve presente desde o início da colonização, no Romantismo que uma explicitação desse modelo, pois ele fazia parte do projeto nacional presente no século XIX, isto é, aparecia na literatura como reflexo da ideologia dominante e para estabelecer os costumes esperados na sociedade e destinados principalmente às mulheres

Com o advento do Realismo (movimento literário seguinte) muitos autores dedicam-se a criticar este modelo e a retratar (da forma mais realista possível) as mazelas que se encontravam por trás da família burguesa, como a submissão das mulheres, a violência praticada contra esposas e filhas e a própria condição dessas personagens, moedas de troca a fim de garantir a situação financeira das famílias.

 

c) Eurocentrismo - com a expansão mercantilista, a europa se transformou na grande potência mundial expandindo seus mercados para além do continente, espalhando sua visão de mundo e acreditando na soberania dos países e no modo de pensar europeu. As consequencias causadas pelo choque cultural dos europeus com outras sociedades (principalmente africanas, asiáticas e americanas) criou uma série de estereótipos a respeito desses povos "bárbaros" e a ideia de que o pensamento europeu seria civilizatório moldou as colônias e que foi refletida através da história principalmente na literatura do século XIX.

 

f) Nacionalismo - com o desenvolvimento de uma burguesia mercantil, os reinos europeus foram se dissolvendo e desenvolvendo, inicialmente, uma ideia de organização política e cultural autônoma. Nas colônias, o sentimento de nacionalidade surgiu como reação à política mercantil restritiva das metrópoles e do desejo de liberdade econômica e política. No Brasil, os escritores produziram obras importantes motivadas pelo ideal nacionalista no sentido de delinear uma literatura que fosse considerada brasileira e não mais submissa à colônia.

Primeira metade do século XIXAs primeiras manifestações do período romântico aconteceram em forma de poesia. Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães inaugura o movimento romântico no Brasil, no

Page 4: O Romantismo

ano de 1836. Além disso, diversos outros autores desenvolveram suas temáticas por meio da poesia, o que permitiu aos críticos agruparem as manifestações literárias do gênero em três principais gerações.

 

Primeira Geração Romântica: nacionalista ou indianista

Nessa geração, os temas principais giram em torno da nova pátria, com menções ao passado histórico do país. Também estão presentes temas como a exaltação do índio, considerado o herói nacional por excelência, que deu nome à geração. O mito do bom selvagem, do filósofo Rousseau é aqui traduzido na figura do índio que, além de valente e defensor da sua terra, é livre e incorruptível. Seus principais autores são Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre.

 

Gonçalves de Magalhães (1811-1882)

Gonçalves de Magalhães nasceu em Niterói (RJ) em 1811 e faleceu em Roma, onde exercia cargos diplomáticos, no ano de 1882.

 

Estudou Medicina e viajou para a Europa, onde exerce a função de diplomata e passa a ter contato com a produção literária do velho continente e funda, em Paris, a revista literária Niterói, revista brasiliense, um dos marcos iniciais do movimento romântico no país.

Suspiros poéticos e saudades (1836) inaugura o movimento com uma literatura ufamista, celebrando a nacionalidade e também com temas religiosos, repudiando a estética clássica e a temática da mitologia pagã (bastante expressiva no período anterior). Além da poesia lírica voltada para o sentimentalismo, nacionalismo e religiosidade, Magalhães escreveu a Confederação dos Tamoios (1856), poema em dez cantos, inspirado nos poemas épicos, em que versa sobre a rebelião dos indígenas contra os colonizadores portugueses ocorrida entre os anos de 1554 e 1567. Nele, o poeta defende os índios como bravos guerreiros empenhados na defesa de sua terra, o que denotaria um forte sentimento nacionalista embora, é claro, ainda não houvesse oficialmente um país. Logo, os índios seriam os primeiros heróis nacionais.

Veja um trecho do poema:

Redobrando de força, qual redobraA rapidez do corpo gravitante,Vai discorrendo, e achando em seu arcanosNovas respostas às razões ouvidas.Mas a noilte declina, e branda aragemComeça a refrescar. Do céu os lumesPerdem a nitidez desfalecendo.Assim já frouxo o Pensamento do índio,Entre a vigília e o sono vagueando,Pouco a pouco se olvida, e dorme, sonha,

Como imóvel na casa entorpecida,Clausurada a crisálida recobraOutra vida em silêncio, e desenvolveEssas ligeiras asas com que um diaEsvoaçará nos ares perfumados,Onde enquanto reptil não se elevara;Assim a alma, no sono concentrada,Nesse mistério que chamamos sonho,Preludiando a vista do futuro,A póstuma visão preliba às vezes!

Page 5: O Romantismo

Faculdade divina, inexplicávelA quem só da matéria as leis conhece.

Ele sonha... Alto moço se lhe antolhaDe belo e santo aspecto, parecidoCom uma imagem que vira atada a um tronco,E de setas o corpo traspassado,Num altar desse templo, onde estivera,E que tanto na mente lhe ficara,— "Vem!" lhe diz ele e ambos vão pelos ares.Mais rápidos que o raio luminosoVibrado pelo sol no veloz giro,E vão pousar no alcantilado monte,Que curvado domina a Guanabara.

 

O último tamoio (1883), de Rodolfo Amoedo

 

Saiba Mais:

O escritor José de Alencar escreve, sob o pseudônimo Ig (referência à índia Iguassú), uma série de críticas acerca do poema, de sua temática e da sua composição:

Se me perguntarem o que falta, de certo não saberei responder; falta um quer que seja, essa riqueza de imagens, esse luxo da fantasia que forma na pintura, como na poesia, o colorido do pensamento, os raios e as sombras, os claros e escuros do quadro.

Alencar dizia também que o gênero épico não era compatível com a literatura das Américas, principalmente do Brasil, uma nação ainda em nascimento. Essa série de críticas resultou na publicação Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, em 1856, que deu projeção literária ao então jornalista José de Alencar e contribuiu para que ele escrevesse seus principais romances indianistas.

 

Gonçalves Dias (1823-1864)

Gonçalves Dias nasceu em Caxias (MA) em 1823 e morre em 1864, vítima do naufrágio do navio Ville de Boulogne quando retornava da Europa para o Brasil.

 

Page 6: O Romantismo

Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão e, com quinze anos, vai a Coimbra estudar Direito. Longe do Brasil, toma contato com poetas portugueses que cultivavam a Idade Média. É considerado o primeiro poeta de fato brasileiro por dar vazão aos sentimentos de um povo com relação à pátria.

Em 1843 escreve seu famoso poema Canção do Exílio, onde se percebe algumas das principais características do Romantismo: saudosismo, nacionalismo, exaltação da natureza, visão idealizada da pátria e religiosidade. Veja:

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossas flores têm mais vida,Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu cá;Em cismar - sozinho, à noite -Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morraSem que eu volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem qu'inda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Também fazem parte de seu trabalho a poesia indianista, representada pelo conhecido I-Juca Pirama, e a poesia lírica, pelo poema Se se morre de amor!

O poema I-Juca Pirama é dividido em dez cantos e conta a história de um guerreiro tupi capturado pela tribo inimiga, os Timbiras. Como seu pai estava velho e doente, o guerreiro chora e pede clemência à tribo para que sua vida seja poupada e ele possa voltar à companhia do velho. Ao saber disso, o pai, decepcionado, alega que seu filho é fraco e covarde por não ter aceitado seu destino de morrer lutando como um verdadeiro guerreiro nas mãos da tribo inimiga.

Veja abaixo um trecho do poema indianista:

No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos — cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já cantam vitória, Já meigos atendem à voz do cantor: São todos Timbiras, guerreiros valentes! Seu nome lá voa na boca das gentes, Condão de prodígios, de glória e terror!

(...)

Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; 

Page 7: O Romantismo

Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.

(...)

Eu era o seu guia Na noite sombria, A só alegria Que Deus lhe deixou: Em mim se apoiava, Em mim se firmava, Em mim descansava, Que filho lhe sou.

(...)

"Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte; Pois choraste, meu filho não és! Possas tu, descendente maldito De uma tribo de nobres guerreiros, Implorando cruéis forasteiros, Seres presa de vis Aimorés.

(...)

"Um amigo não tenhas piedoso Que o teu corpo na terra embalsame, Pondo em vaso d’argila cuidoso Arco e frecha e tacape a teus pés! Sê maldito, e sozinho na terra; Pois que a tanta vileza chegaste, Que em presença da morte choraste, Tu, cobarde, meu filho não és."

 

Saiba Mais:

O ritmo do poema lembra o som de tambores, denotando o aspecto guerreiro das tribos indígenas e criando um clima de tensão no enredo, acompanhando os acontecimentos da relação entre o pai e o filho.

 

Segunda Geração Romântica: mal-do-século

Inspirados nas obras dos poetas Lord Byron, Goethe, Chateaubriand e Alfred de Musset, os autores dessa geração também são conhecidos como "byronianos". As principais características da geração são: o individualismo, egocentrismo, negativismo, dúvida, desilusão, tédio e sentimentos relacionados à fuga da realidade, que caracterizam o chamado ultra-romantismo. São temas recorrentes nas obra dos autores da segunda geração: a idealização da infância, a representação das mulheres virgens sonhadas e a exaltação da morte. Seus principais poetas são Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.

 

Quem foi...

Lord Byron (1788 - 1824)

Page 8: O Romantismo

George Gordon Byron foi um poeta romântico inglês que influenciou toda uma geração de escritores com sua poesia ultrarromântica. A ele estão associados termos como o spleen, que significa tédio, mau humor e melancolia, geralmente causados por amores não correspondidos ou pela descrença na vida em razão da aproximação da morte, temáticas comuns na poesia ultrarromântica.

De família aristocrática (porém, com dívidas), passava a vida a escrever poesia e a gastar dinheiro, vivendo no ócio. Suas principais obras são Horas de Lazer (1870), A Peregrinação de Childe Harrold (1812-1818) e Don Juan (1819-1824).

 

Álvares de Azevedo (1831 - 1852)

Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo em 1831 e faleceu, vítima da tuberculose, em 1852.

 

Poeta romântico por excelência, Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo e estudou na Faculdade de Direito, porém, não chegou a concluir o curso. Faleceu jovem, aos 21 anos, vítima da tuberculose e da infecção resultante de um acidente de cavalo. A partir de então, desenvolveu verdadeira fixação com a própria morte, escrevendo a respeito da passagem do tempo, do sentido da vida e do amor - esse último, jamais realizado.

Seu livro de poesias, Lira dos Vinte Anos (publicada postumamente em 1853), carrega consigo a melancolia de um poeta empenhado em expressar seus sentimentos mais profundos. O conjunto de poesias também evidencia um poeta sensível, imaginativo e harmonioso.

Pode-se dizer que sua obra possui características góticas, pois retratam paisagens sombrias, donzelas em perigo, personagens misteriosas, envoltas em vultos e véus entre outros.

Saiba mais:

 

Tuberculose: doença grave que pode atingir todos os órgãos do corpo, especialmente os pulmões, pois o bacilo causador (Koch) se desenvolve nas regiões do corpo em que há

Page 9: O Romantismo

bastante oxigênio. Em estágios mais avançados, o doente passa a tossir com pus e sangue (a chamada hemoptise). Os principais sintomas são: tosse crônica, febre, suor noturno, dores na região torácica e perda de peso. No Brasil, muitos escritores do período romântico sofriam de tuberculose muitos chegando, inclusive, a falecer em decorrência da doença. Logo, aquela geração de poetas ficou conhecida como a "geração do mal-do-século", isto é, da tuberculose.

 

Romance gótico: subgênero originado na Inglaterra ao final do século XVIII. As principais características desse romance dizem respeito à atmosfera de terror, aos enredos assustadores e aos personagens. Neles, é comum encontrar cenários medievais, donzelas, cavaleiros, vilões e personagens do meio religioso e mistérios envolvendo as linhagens das famílias aristocráticas.

 

A frustração presente em sua obra é amenizada apenas através da lembrança da mãe e da irmã. Além disso, a perspectiva da morte, apesar de assustadora, traz conforto por saber que cessará a dor física causada pela doença e pelos sofrimentos amorosos do poeta. Veja no poema abaixo:

Se eu morresse amanhã!

Se eu morresse amanhã,viria ao menosFechar meus olhos minha triste irmã;Minha mãe de saudades morreriaSe eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!Que aurora de porvir e que amanhã!Eu pendera chorando essas coroasSe eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que dove n'almaAcorda a natureza mais loucã!Não me batera tanto amor no peito,Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devoraA ânsia de glória, o dolorido afã...A dor no peito emudecera ao menosSe eu morresse amanhã!

Além de poeta, Álvares de Azevedo produziu a peça de teatro Macário (1852), escrita após haver sonhado com o diabo. A peça conta a história de um personagem que, em uma viagem de estudos, faz amizade com um desconhecido e desobre ser ninguém mais, ninguém menos que o próprio satã. Não há menções sobre o nome da cidade em que eles se encontram, porém, há referências diretas à cidade de São Paulo. Assim, o poeta aproveita para fazer uma crítica à devassidão na qual a cidade estava imersa.

Azevedo também escreveu um romance chamado Noite na Taverna (publicada postumamente em 1855), uma narrativa composta por cinco histórias paralelas sobre cinco homens que relatam, em um bar, histórias de terror vivenciadas pelos mesmos. São eles: Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. Os nomes são claramente europeus e fazem referência aos romances românticos produzidos naquele continente (especialmente os italianos e os alemães), bem como sua temática macabra, inspirada nos romances góticos.

 

Page 10: O Romantismo

Casimiro de Abreu (1839 - 1860)

Casimiro de Abreu nasceu em Capivary (RJ) em 1839. Faleceu na cidade de Nova Friburgo no ano de 1860.

 

Nasceu em Capivary (RJ) e aos quatorze anos embarcou com o pai para Portugal, onde escreveu a maior parte de sua obra, em que denota a saudade da família e da terra nativa. Poeta da segunda geração romântica, Casimiro escreveu poemas onde o sentimento nativista e a busca pela inocência da infância estão presentes. Pertenceu, graças à amizade com Machado de Assis, à então recém fundada Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número seis. Vítima da tuberculose, faleceu na cidade de Nova Friburgo (RJ).

Os aspectos formais de sua obra são considerados fracos, porém, sua temática revela grande importância no desenvolvimento da poesia romântica para as letras brasileiras. Sua linguagem simples, acompanhada por um ritmo fácil, rima pobre e repetitiva revelam um poeta empenhado na expressão dos sentimentos saudosistas com relação à pátria e à infância. Essa última, em tom de profunda nostalgia, revela um tempo em que a vida era mais prazerosa, junto à natureza e longe dos afazeres e das responsabilidades da vida adulta.

Sua produção poética está reunida no volume As primaveras (1859) cujo poema mais conhecido é Meus oito anos, em que o poeta canta a saudade da infância vivida:

 

Meus oito anos

Oh que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueiras,A sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais.

Como são belos os diasDo despontar da existênciaRespira a alma inocência,Como perfume a flor;

O mar é lago sereno,O céu um manto azulado,O mundo um sonho dourado,A vida um hino de amor!

(...)

 

Saiba Mais:

O poema Meus oito anos é um dos mais populares da literatura brasileira, sendo parodiado por diversos autores, principalmente pelos poetas do período conhecido como Modernismo.

 

Page 11: O Romantismo

Junqueira Freire (1832 - 1855)

Junqueira Freire nasceu e faleceu em Salvador (BA). Monge beneditino, sacerdote e poeta, Freire é autor de uma série de poemas acerca dos sofrimentos da vida religiosa.

 

Monge beneditino, sacerdote e poeta, é conhecido por seus versos em que a tensão presente na vida religiosa está presente. Faleceu jovem, aos vinte e três anos e deixou uma obra poética permeada pelo sofrimento em decorrência da saúde debilitada e da vida clerical, que impunha severas restrições ao espírito do jovem sacerdote. Foi escolhido patrono da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número vinte e cinco por indicação de Franklin Távora.

Sua obra é conhecida pela tensão presente nos versos, que oscilam entre a vida espiritual, a religiosa e o mundo material. Junqueira Freire também é produto do seu tempo, revelando interesse em aspectos então contemporâneos, como a postura republicana e antimonárquica, fruto de sua desilusão com a vida religiosa. A busca pela liberdade viria apenas com a morte. Sua obra mais famosa é Inspirações do claustro (1855) cujo poema mais famoso é Louco, veja abaixo:

Louco(Hora de Delírio)

Não, não é louco. O espírito somenteÉ que quebrou-lhe um elo da matéria.Pensa melhor que vós, pensa mais livre,Aproxima-se mais à essência etérea.

Achou pequeno o cérebro que o tinha:Suas idéias não cabiam nele;Seu corpo é que lutou contra sua alma,E nessa luta foi vencido aquele,

Foi uma repulsão de dois contrários:Foi um duelo, na verdade, insano:Foi um choque de agentes poderosos:Foi o divino a combater com o humano.

Agora está mais livre. Algum atilhoSoltou-se-lhe o nó da inteligência;Quebrou-se o anel dessa prisão de carne,Entrou agora em sua própria essência.

Agora é mais espírito que corpo:Agora é mais um ente lá de cima;É mais, é mais que um homem vão de barro:É um anjo de Deus, que Deus anima.

Agora, sim - o espírito mais livrePode subir às regiões supernas:Pode, ao descer, anunciar aos homensAs palavras de Deus, também eternas.

E vós, almas terrenas, que a matériaOs sufocou ou reduziu a pouco,Não lhe entendeis, por isso, as frases santas.E zombando o chamais, portanto: - um louco!

Não, não é louco. O espírito somenteÉ que quebrou-lhe um elo da matéria.

Page 12: O Romantismo

Pensa melhor que vós, pensa mais livre.Aproxima-se mais à essência etérea.

 

Fagundes Varela (1841 - 1875)

Luis Nicolau Fagundes Varela nasceu em Rio Claro (RJ). Escreveu uma das mais belas poesias da literatura brasileira em homenagem ao filho morto.

 

Abandonou a faculdade de Direito, casou aos vinte e um anos e teve um filho. A morte do filho, aos três meses de vida, que serviu de inspiração para a composição de um dos seus poemas mais importantes, Cântico do Calvário. A este fato também é atribuida a sua entrega ao alcoolismo, levando o poeta à depressão e à vida boêmia pelos bares. Ocupante da cadeira número onze da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Lúcio de Mendonça.

Em contrapartida, sua obra cresce consideravelmente em função das amarguras da vida causadas pelas perdas dos filhos (outro filho seu morre, também prematuramente) e da esposa. Ela é variada e gira em torno da exaltação da natureza e da pátria, da morte, do mal-do-século, do sentimento religioso, além de poemas que tratam da abolição da escravatura em que prega uma América livre, como é o caso dos poemas presentes no conjunto Vozes da América (1864). Faleceu jovem, aos trinta e três anos.

Veja abaixo, trecho do poema Cântico do Calvário:

Cântico do calvárioà memória de meu filho morto a 11 de dezembro de 1863

Eras na vida a pomba prediletaQue sobre um mar de angústias conduziaO ramo da esperança. Eras a estrelaQue entre as névoas do inverno cintilavaApontando o caminho ao pegureiro.

Eras a messe de um dourado estio.Eras o idílio de um amor sublime.Eras a glória, a inspiração, a pátria,O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,Pomba, - varou-te a flecha do destino!

Astro, - engoliu-te o temporal do norte!Teto, - caíste!- Crença, já não vives! Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,Legado acerbo da ventura extinta,Dúbios archotes que a tremer clareiamA lousa fria de um sonhar que é morto!

(...)

Terceira geração romântica: condoeira

A terceira geração romântica é caracterizada pela poesia libertária influenciada, principalmente, pela obra político-social do escritor e poeta francês Victor Hugo, que originou a expressão "geração hugoana". Além disso, a ave símbolo da geração é o condor, ave que habita o alto das cordilheiras dos Andes, e que representa a liberdade daí o nome da geração ser condoeira. A poesia dessa geração é combativa e prima pela denúncia das condições dos escravos, decorrência do sistema

Page 13: O Romantismo

econômico brasileiro, baseado no trabalho escravo. Os poetas dessa geração também clamam por uma poesia social em que a humanidade trabalhe por igualdade, justiça e liberdade.

Seus principais autores são Castro Alves e Sousândrade.

 

Castro Alves (1847 - 1871)

Nasceu em Curralinho e faleceu em Salvador (ambas na Bahia) em decorrência da tuberculose e de uma infecção no pé causada por acidente em uma caçada.

 

"Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro purotorna a nascer para a terra livre,

deixa a mim, poeta da nossa América,coroar a tua cabeça com os louros do povo.

Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar."

-Pablo Neruda

Nasceu em Curralinho e faleceu em Salvador (ambas na Bahia) em decorrência da tuberculose e de uma infecção no pé causada por acidente em uma caçada. Considerado um dos poetas brasileiros mais brilhantes, Castro Alves tem sua obra dividida em duas grandes temáticas: poesia lírico-amorosa e a poesia social e das causas humanas.

Começou a escrever cedo e aos dezessete anos já tinha seus primeiros poemas e peças declamados e encenados. Aos vinte e um já havia conseguido a consagração entre os maiores escritores daquele tempo, como José de Alencar e Machado de Assis. É o patrono número sete da Academia Brasileira de Letras.

Uma das principais características de sua obra é a eloquência, a utilização de hipérboles, de antíteses, de metáforas, comparações grandiosas e diversas figuras de linguagem, além da sugestão de imagens e do apelo auditivo. O poeta também faz referência a diversos fatos históricos ocorridos no país, tais como a Independência da Bahia, a Inconfidência Mineira (presente na peça O Gonzaga ou a Revolução de Minas),

Diferentemente dos poetas da primeira geração, individualistas e preocupados com a expressão dos próprios sentimentos, Castro Alves demonstra preocupação com os problema sociais presentes na sua época. Demonstra também um certo questionamento aos ideais de nacionalidade, pois, de que adiantava louvar um país cuja economia estava baseada na exploração de sua população (mais especificamente dos índios e dos negros)?

A visão do poeta demonstra paixão e fulgor pela vida, diferentemente dos poetas ultrarromânticos da geração precedente.

 

Seus trabalhos mais importantes são:

a) poesia lírico-amorosa: a poesia lírico-amorosa está associada ao período em que o poeta esteve envolvido com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Assim, a virgem idealizada dá lugar a uma mulher de carne e osso e sensualizada. No entanto, o poeta ainda é um jovem inocente e terno em face a sua amada corporificada e cheia de desejo.

Seus poemas mais famosos dessa fase estão presentes em sua primeira publicação, Espumas Flutuantes (1870), conjunto de 53 poemas que versam sobre a transitoriedade da vida frente à morte, sobre o amor no plano espiritual e físico, que apela para o sentimental e para o sensual e sensorial. Além disso, o romance com a atriz portuguesa acendeu no poeta o desejo de escrever sobre esperança e desespero.

Page 14: O Romantismo

Veja um trecho:

Boa-Noite

Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.A lua nas janelas bate em cheio.Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...Não me apertes assim contra teu seio.Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.Mas não digas assim por entre beijos...Mas não mo digas descobrindo o peito— Mar de amor onde vagam meus desejos.

(...)

Lambe voluptuosa os teus contornos...Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinosAo doudo afago de meus lábios mornos.Mulher do meu amor! Quando aos meus beijosTreme tua alma, como a lira ao vento,Das teclas de teu seio que harmonias,

Que escalas de suspiros, bebo atento!Ai! Canta a cavatina do delírio,Ri, suspira, soluça, anseia e chora...Marion! Marion!... É noite ainda.Que importa os raios de uma nova aurora?!...Como um negro e sombrio firmamento,Sobre mim desenrola teu cabelo...E deixa-me dormir balbuciando:— Boa-noite!, formosa Consuelo!...

Neste poema, o poeta, apaixonado, não se contenta com apenas uma amante, e mostra envolvimento com diferentes mulheres (Maria, Marion, Consuelo...), todas belas e sensuais, se oferecendo para que o poeta, meigo e inocente, não vá embora.

Outro poema famoso deste conjunto é O Livro e a América, em que o poeta incentiva a leitura e a produção literária no país:

(...)

Por isso na impaciênciaDesta sede de saber,Como as aves do deserto  --As almas buscam beber...Oh! Bendito o que semeiaLivros... livros à mão cheia...E manda o povo pensar!O livro caindo n'almaÉ germe -- que faz a palma,É chuva -- que faz o mar. 

(...)

 

b) poesia social: poeta da liberdade, Castro denuncia as desigualdades sociais e a situação da escravidão no país, além de solidarizar-se com os negros, que eram trazidos de modo precário dentro dos navios negreiros. Castro clamava à natureza e às entidades divinas para que vissem a injustiça cometida pelos homens sobre os homens e intervissem para que a viagem rumo ao Brasil fosse interrompida.

Graças a sua obra empenhada na denúncia das condições dos negros, ficou conhecido como "o poeta dos escravos", por solidarizar-se com a situação dos que aqui vinham e eram submetidos a todo tipo de trabalho em condições desumanas.

As obras mais importantes dessa fase são:

Vozes D'África: Navio Negreiro (1869)

A Cachoeira de Paulo Afonso (1876)

Os Escravos (1883)

 

Page 15: O Romantismo

Veja trecho de Navio Negreiro:

Canto VI

Existe um povo que a bandeira empresta P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia? Silêncio.  Musa... chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 

Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!... 

Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas, Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares!

 

Didivido em seis cantos, segundo a divisão clássica da epopeia:

1º canto: descrição do cenário;

2º canto: elogio aos marinheiros;

3º canto: horror - visão do navio negreiro em oposição ao belo cenário;

4º canto: descrição do navio e do sofrimento dos escravos;

5º canto: imagem do povo livre em suas terras, em oposião ao sofrimento no navio;

6º canto: o poeta discorre sobre a África que é, ao mesmo tempo tempo, um país livre, acaba por se beneficiar economicamente da escravidão.

O poema épico é eloquente e verborrágico. Embora o último navio negreiro que tenha chegado ao país date de 1855, a escravidão ainda era parte do sistema econômico brasileiro.

 

Saiba mais:

eloquente - que é convincente, persuasivo e expressivo; que se expressa de maneira loquaz.

verborrágico - que se expressa utilizando muitas palavras nem sempre providas de uma ideia lógica.

 

Curiosidades:

(1) A poesia de Castro Alves já demonstra aspectos, temáticas e tendências do movimento chamado Realista, que "nega" os preceitos românticos embora sua obra seja romântica.

(2) Em 1941 o escritor baiano Jorge Amado escreveu o ABC de Castro Alves, uma biografia sobre o poeta e sua obra. Há um trecho que exemplifica bem tanto a poesia amorosa quando a poesia social do poeta baiano:

Este, cuja história vou te contar, foi amado e amou muitas mulheres. Vieram brancas, judias e mestiças, tímidas e afoitas, para os seus braços e para o seu leito. Para uma, no entanto, guardou ele suas melhores palavras, as mais doces, as mais ternas, as mais belas. Essa noiva tem um nome lindo, negra: Liberdade.

Page 16: O Romantismo

 

Sousândrade (1833 - 1902)

Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido como Sousândrade, nasceu e faleceu no Maranhão, porém, viveu grande parte da sua vida entre o Brasil, a Europa e os Estados Unidos.

 

Autor de vasta obra, seu trabalho mais importante é fruto de suas viagens, responsáveis pelo contato com realidades diferentes ao redor do mundo. O aspecto que mais o diferencia dos outros poetas brasileiros é a originalidade da sua poesia, principalmente com relação à ousadia de vocabulário com o uso de palavras em inglês e neologismos, bem como de palavras indígenas. Além disso, a sonoridade dos poemas também rompe com a métrica e com o ritmo tradicionais, o que despertou a atenção da crítica literária do século XX.

Seu trabalho, então esquecido, foi resgatado na década de 1960 pela crítica literária, principalmente pelos poetas Haroldo e Augusto de Campos, responsáveis pela análise de sua obra.

Seu poema mais famoso é o Guesa Errante, escrito entre 1858 e 1888, composto por treze cantos e inspirado em uma lenda andina na qual um adolescente, o Guesa, seria sacrificado em oferecimento aos deuses. O índio, porém, consegue fugir e passa a morar em uma das maiores ruas de Nova York, a Wall Street. Os sacerdotes que o perseguiam estão agora transformados em capitalistas da grande cidade de Nova Iork e ainda querem o sangue do Guesa, que vê o capitalismo consollidado como uma doença.

Dotada de pinceladas autobiográficas, o Guesa Errante denuncia o drama dos povos indígenas à exploração dos povos europeus.

Veja um trecho do poema:

(...)

"Nos áureos tempos, nos jardins da AméricaInfante adoração dobrando a crençaAnte o belo sinal, nuvem ibéricaEm sua noite a envolveu ruidosa e densa.

"Cândidos Incas! Quando já campeiamOs heróis vencedores do inocenteÍndio nu; quando os templos s'incendeiam,Já sem virgens, sem ouro reluzente,

"Sem as sombras dos reis filhos de Manco,Viu-se... (que tinham feito? e pouco haviaA fazer-se...) num leito puro e brancoA corrupção, que os braços estendia!

"E da existência meiga, afortunada,O róseo fio nesse albor amenoFoi destruído. Como ensanguentadaA terra fez sorrir ao céu sereno!

(...)

Page 17: O Romantismo

Segunda metade do século XIXO desenvolvimento da prosa no período romântico coincide com o desenvolvimento do romance como um gênero novo que, no Brasil, chegou graças à influência dos romances europeus e do surgimento dos jornais -- que publicavam, diariamente, os folhetins, isto é, capítulos de histórias que compunham um romance.

As primeiras manifestações no gênero estavam empenhadas na descrição dos costumes da classe dominante na cidade do Rio de Janeiro, que agora vivia um grande período de urbanização, e de algumas amenidades da vida no campo. Ou então, apresentavam personagens selvagens, concebidos pela ideologia e imaginação do período romântico como idealização do herói nacional por excelência: o índio.

Cronologicamente, o primeiro romance romântico publicado no Brasil foi O filho do pescador (1843), de Teixeira de Souza, porém, como o romance apresenta enredo confuso e foi considerado pelo público como "sentimentalóide", A Moreninha (1844), de Joaquim Manoel Macedo, viria a ser considerado o primeiro romance efetivamente brasileiro por receber uma maior aceitação do público e por definir as linhas dos romance brasileiro.

Os principais autores do período são: Joaquim Manoel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar e, constituindo o teatro nacional, Martins Pena.

 

Autores:

Joaquim Manuel de Macedo (1820 - 1882)

Joaquim Manuel de Macedo nasceu e faleceu na cidade do Rio de Janeiro. Fomrado em medicina, exerceu a carreira por pouco tempo dedicando-se posteriormente à vida literária e ao ensino. É o patrono da cadeira de número vinte da Academia Brasileira de Letras.

 

É considerado um dos romancistas mais importantes do período por ter inaugurado o romance romântico brasileiro, em termos de temática, estrutura e desenvolvimento de enredo. Este último se desenvolve da seguinte maneira, com o seguinte movimento: descrição do ambiente, surgimento de um conflito, resolução do mistério e restabelecimento do ambiente pacífico inicial.

Seu principal romance é A Moreninha (1844), em que estão representados os costumes da elite carioca da década de 1840, bem como suas festas e tradições (viajar para o litoral era um costume das famílias pertencentes à elite), e hábitos da juventude burguesa do Rio de Janeiro. Ainda, segundo o professor Roger Rouffiax, "a fidelidade com que o romancista descreveu os ambientes e costumes serviu como um documentário sobre a vida urbana na capital do Império."

Outras obras do autor são O Moço Loiro (1845) e A Luneta Mágica (1869).

 

A Moreninha:

Page 18: O Romantismo

Em uma viagem ao litoral, Augusto, Filipe e outros dois amigos, todos estudantes de medicina, fazem uma aposta: Augusto não se apaixonaria por nenhuma moça durante o período em que eles permaneceriam de férias no litoral. Caso o estudante perdesse a aposta, deveria escrever um romance contando a sua história de amor.

Na praia, mais especificamente na casa da avó de Filipe, em Paquetá, Augusto acaba se apaixonando por Carolina, irmã de Filipe. Os dois passam a se conhecer melhor e o jovem recorda que, quando criança, havia jurado amor a uma menina naquela praia e cujo nome desconhecia. Recorda também que havia dado a ela um camafeu, isto é, um broche adornado com pedras, como símbolo do verdadeiro amor.

Carolina então revela a Augusto que possui um camafeu igual ao descrito pelo moço, o qual havia ganhado de um menino por quem havia se apaixonado e jurado amor quando criança.

A coincidência faz com que os dois relembrem da infância e descubram que eram os amantes prometidos. Augusto, então, revive a paixão pela menina e pede Carolina em casamento. Perdida a aposta, Augusto escreve um romance. O título do livro foi dado pelo protagonista fazendo referência aos aspectos físicos de Carolina, e seu apelido carinhoso dado pelas pessoas mais próximas, "a moreninha".

 

Saiba mais:

camafeu: é um adorno, mais especificamente um broche ou pingente, esculpido em pedra de maneira a formar uma figura em relevo. De origem persa, o artefato foi muito usado pelas classes mais altas europeia que influenciaram a moda dno Rio de Janeiro no século XIX.

 

Trechos Selecionados:

Page 19: O Romantismo

A Moreninha, por Tarsila do Amaral

 

Capítulo I - Aposta Imprudente

(...)

— Que vaidoso!… te digo eu, exclamou Filipe.

— Ora, esta não é má!... Então vocês querem governar o meu coração?...

— Não; porém eu torno a afirmar que tu amarás uma de minhas primas durante todo o tempo que for da vontade dela.

— Que mimos de amor que são as primas deste senhor!

— Eu te mostrarei.

— Juro que não.

Aposto que sim.

— Aposto que não.

— Papel e tinta: escreva-se a aposta.

— Mas tu me dás muita vantagem, e eu rejeitarei a menor. Tens apenas duas primas: é um número de feiticeiras muito limitado. Não sejam só elas as únicas magas que em teu favor invoquem para me encantar: meus sentimentos ofendem, talvez, a vaidade de todas as belas; todas as belas, pois, tenham o direito de te fazer ganhar a aposta, meu valente campeão do amor constante!

— Como quiseres, mas escreve.

— E quem perder?...

— Pagará a todos nós um almoço no Pharoux, disse Fabrício.

Qual almoço! acudiu Leopoldo. Pagará um camarote no primeiro drama novo que representar o nosso João Caetano.

Page 20: O Romantismo

— Nem almoço, nem camarote, concluiu Filipe; se perderes, escreverás a história da tua derrota; e se ganhares, escreverei o triunfo da tua inconstância.

— Bem, escrever-se-á um romance, e um de nós dois, o infeliz, será o autor.

Augusto escreveu primeira, segunda e terceira vez o termo da aposta; mas depois de longa e vigorosa discussão, em que qualquer dos quatro falou duas vezes sobre a matéria, uma para responder e dez ou doze pela ordem; depois de se oferecerem quinze emendas e vinte artigos aditivos, caiu tudo por grande maioria, e entre bravos, apoiados e aplausos, foi aprovado, salva a redação, o seguinte termo:

"No dia 20 de julho de 18... na sala parlamentar da casa n° ... da rua de..., sendo testemunhas os estudantes Fabrício e Leopoldo, acordaram Filipe e Augusto, também estudantes, que, se até o dia 20 de agosto do corrente ano, o segundo acordante tiver amado a uma só mulher durante quinze dias ou mais, será obrigado a escrever um romance em que tal acontecimento confesse; e, no caso contrário, igual pena sofrerá o primeiro acordante. Sala parlamentar, 20 de julho de 18... Salva a redação".

Como testemunhas — Fabrício e Leopoldo.

Acordantes — Filipe e Augusto.

E eram oito horas da noite quando se levantou a sessão. 

 

(...)

 

Epílogo

A chegada de Filipe, Fabrício e Leopoldo veio dar ainda mais viveza ao prazer que reinava na gruta. O projeto de casamento de Augusto e d. Carolina não podia ser um mistério para eles, tendo sido, como foi, elaborado por Filipe. de acordo com o pai do noivo, que fizera a proposta, e com o velho amigo, que ainda no dia antecedente viera concluir os ajustes com a senhora d. Ana e portanto, o tempo que se gastaria em explicações passou-se em abraços.

— Muito bem! Muito bem! disse por fim Filipe; quem pôs o fogo ao pé da pólvora fui eu, eu que obriguei Augusto a vir passar o dia de Sant’Ana conosco.

— Então estás arrependido?...

— Não, por certo, apesar de me roubares minha irmã. Finalmente para este tesouro sempre teria de haver uni ladrão: ainda bem que foste tu que o ganhaste.

— Mas, meu maninho, ele perdeu ganhando...

— Como?...

Estamos no dia 20 de agosto: um mês!

— E verdade! Um mês!... exclamou Filipe.

— Um mês! ... gritaram Fabrício e Leopoldo.

— Eu não entendo isto, disse a senhora d. Ana.

Minha boa avó, acudiu a noiva, isto quer dizer que, finalmente, está presa a borboleta.

— Minha boa avó, exclamou Filipe, isto quer dizer que Augusto deve-me um romance.

— Já está pronto, respondeu o noivo.

— Como se intitula?

A Moreninha. 

 

Curiosidades:

(1) A Moreninha é um exemplo de Metalinguagem, pois é um romance supostamente escrito por um de seus personagens. A metalinguagem é caracterizada pela propriedade que a língua tem de falar sobre si mesma e de mesclar o que existe na ficção com a realidade.

Page 21: O Romantismo

(2) Muitos dos aspectos encontrados no romance são considerados clichês nos dias de hoje. Isto é, são situações e/ou frases que se tornaram lugar-comum na literatura principalmente no que diz respeito às histórias de amor, criadas pelos romancistas brasileiros cujos enredos sempre terminam em um final feliz.

Esse é um dos motivos pelo qual Joaquim Manoel Macedo é considerado o fundador do romance brasileiro, por ter iniciado um gênero novo e incluído todo um estilo e situações novas na literatura brasileira.

 

Manuel Antônio de Almeida (1830 - 1861)

Nasceu no Rio de Janeiro e faleceu em Macaé (também no estado do Rio de Janeiro), vítima de um naufrágio. Formado em medicina, abandonou o ofício para se dedicas às letras, sendo nomeado, posteriormente administrador da Tipografia Nacional.

 

Nascido e falecido no Rio de Janeiro, Manuel Antônio de Almeida foi um importante fomentador das letras brasileiras. Seu romance mais famoso, Memórias de um Sargento de Milícias, foi publicado em formato de folhetim entre os anos de 1852 e 1853 no periódico Correio Mercantil do Rio de Janeiro. A ideia para a composição do romance surgiu após ouvir as histórias de um colega de jornal, um antigo sargento comandado pelo Major que inspirou o personagem homônimo do livro.

O romance é uma obra inovadora para sua época pois rompe com o retrato exclusivo da vida e dos hábitos da aristocracia para retratar o ambiente e a linguagem do povo em sua simplicidade. Além disso, Leonardinho, o protagonista, não é o protótipo do herói romântico, mas sim, um menino travesso que mais tarde se transforma em um jovem pícaro, dado à vadiagem e à malandragem no lugar de procurar uma ocupação.

 

O gênero picaresco

O gênero picaresco, na literatura, é caracterizado pela narrativa de um pícaro, sinônimo para malandro. O personagem é, geralmente, um garoto inocente e puro que é corrompido e desiludido à medida em que cresce e toma contato com a realidade do mundo adulto. Nas suas origens espanholas e medievais, o personagem sempre termina desiludido e adaptado às condições de um mundo na miséria ou em um casamento que não lhe proporciona nenhum tipo de prazer. No entanto, no romance brasileiro o "pícaro" Leonardinho difere um pouco do espanhol por não ser um personagem tão inocente e por terminar feliz em sua vida adulta e em seu casamento.

Se há tantas rupturas, o que faz de Manoel Antônio de Almeida um escritor do romantismo brasileiro? Embora haja muitas convenções do romance romântico em sua obra, tais como o tom irônico e satírico do narrador, o estilo frouxo, a linguagem descuidada e o final feliz do romance, o livro inova por envolve personagens das classes mais baixas da sociedade, o clero e a milícia além de não idealizar seus personagens.

O compadre quer ver Leonardinho instruído pois quer vê-lo como padre ou formado em Direito, diferentemente do romance pícaro original, em que os protagonistas precisam fazer trabalhos manuais (geralmente nas posições mais baixas como criado ou ajudante de cozinheiro) para garantir seu sustento. Além disso, ao final do romance, ele casa com seu amor e recebe "cinco heranças" sem precisar trabalhar para isso. O que faz de Leonardinho um pícaro com características à parte e o transforma em mais um tipo brasileiro.

O romance é considerado por alguns teóricos como o primeiro romance realmente de costumes brasileiro por retratar a sociedade em toda a sua simplicidade e Manoel Antonio de Almeida é por vezes considerado um autor de transição entre o Romantismo e o período seguinte, o Realismo.

Page 22: O Romantismo

Além disso, o autor traz para o enredo elementos que até então não eram retratados pelos romancistas, como acampamentos de ciganos e bares frequentados pelas camadas sociais mais baixas.

 

Memórias de um Sargento de Milícias (1852)

Publicado em formato de folhetim, o romance narra a história de Leonardinho, filho dos portugueses Leonardo Pataca e Maria-da-Hortaliça que chegam ao Rio de Janeiro. Na viagem em direção ao Brasil, Leonardo dá uma pisadela em Maria, que retruca com um beliscão. "Nove meses depois, filho de uma pisadela e um beliscão, nascia Leonardo." Porém, abandonado pelos pais, acaba sendo criado pelo compadre barbeiro. Largado à vagabundagem, o personagem é o protótipo do malandro brasileiro.

Veja trecho abaixo:

Capítulo I - Origem, nascimento e batizado

(...)

Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda  e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte  estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.

Page 23: O Romantismo

Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

(...)

Capítulo II - Primeiros Infortúnios

(...)

Logo que pôde andar e falar tornou-se um flagelo; quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. Tinha uma paixão decidida pelo chapéu armado do Leonardo; se este o deixava por esquecimento em algum lugar ao seu alcance, tomava-o imediatamente, espanava com ele todos os móveis, punha-lhe dentro tudo que encontrava, esfregava-o em uma parede, e acabava por varrer com ele a casa; até que a Maria, exasperada pelo que aquilo lhe havia custar aos ouvidos, e talvez às costas, arrancava-lhe das mãos a vítima infeliz. Era, além de traquinas, guloso; quando não traquinava, comia. A Maria não lhe perdoava; trazia-lhe bem maltratada uma região do corpo; porém ele não se emendava, que era também teimoso, e as travessuras recomeçavam mal acabava a dor das palmadas.

Assim chegou aos 7 anos.

Afinal de contas a Maria sempre era saloia, e o Leonardo começava a arrepender-se seriamente de tudo que tinha feito por ela e com ela. E tinha razão, porque, digamos depressa e sem mais cerimônias, havia ele desde certo tempo concebido fundadas suspeitas de que era atraiçoado. Havia alguns meses atrás tinha notado que um certo sargento passava-lhe muitas vezes pela porta, e enfiava olhares curiosos através das rótulas: uma  ocasião, recolhendo-se, parecera-lhe que o vira encostado à janela. Isto porém passou sem mais novidade.

Depois começou a estranhar que um certo colega seu o procurasse em casa, para tratar de negócios do oficio, sempre em  horas desencontradas: porém isto também passou em breve. Finalmente aconteceu-lhe por três ou quatro vezes esbarrar-se junto de casa com o capitão do navio em que tinha vindo de Lisboa, e isto causou-lhe sérios cuidados. Um dia de manhã entrou sem ser esperado pela porta adentro; alguém que estava na sala abriu precipitadamente a janela, saltou por ela para a rua, e desapareceu.

À vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu, como se costuma dizer, as estribeiras; ficou cego de ciúme. Largou apressado sobre um banco uns autos que trazia embaixo do braço, e endireitou para a Maria com os punhos cerrados.

— Grandessíssima!...

E a injúria que ia soltar era tão grande que o engasgou... e pôs-se a tremer com todo o corpo.

A Maria recuou dois passos e pôs-se em guarda, pois também não era das que se receava com qualquer coisa.

— Tira-te lá, ó Leonardo!

— Não chames mais pelo meu nome, não chames... que tranco-te essa boca a socos...

— Safe-se daí! Quem lhe mandou pôr-se aos namoricos comigo a bordo?

Isto exasperou o Leonardo; a lembrança do amor aumentou-lhe a dor da traição, e o ciúme e a raiva de que se achava possuído transbordaram em socos sobre a Maria, que depois de uma tentativa inútil de resistência desatou a correr, a chorar e a gritar:

— Ai... ai... acuda, Sr. compadre... Sr. compadre!...

Porém o compadre ensaboava nesse momento a cara de um freguês, e não podia largá-lo. Portanto a Maria pagou caro e por junto todas  as contas. Encolheu-se a choramingar em um canto.

O menino assistira a toda essa cena com imperturbável sangue-frio: enquanto a Maria apanhava e o Leonardo esbravejava, este ocupava-se tranqüilamente em rasgar as folhas dos autos que este tinha largado ao entrar, e em fazer delas uma grande coleção de cartuchos.

Quando, esmorecida a raiva, o Leonardo pôde ver alguma coisa mais do que seu ciúme, reparou então na obra meritória em que se ocupava o pequeno. Enfurece-se de novo: suspendeu o menino pelas orelhas, fê-lo dar no ar uma meia-volta, ergue o pé direito, assenta-lhe em cheio sobre os glúteos, atirando-o sentado a quatro braças de distância.

Page 24: O Romantismo

— És filho de uma pisadela e de um beliscão; mereces que um pontapé te acabe a casta.

(...)

 

Vocabulário:

algibebe - negociante de roupas feitas.

saloia - pessoa que vive no campo.

maganão - malicioso, travesso.

Tejo - rio que banha a Península Ibérica.

atraiçoado - traído, enganado.

rótulas - grade de madeira que ocupa o vão de uma janela.

perder as estribeiras - atrapalhar-se.

José de Alencar (1829 - 1877)

Nasceu em Messejana, no Ceará e faleceu no Rio de Janeiro. Advogado, jornalista e romancista, teve papel fundamental para o desenvolvimento do romance e do pensamento intelectual no Brasil do século XIX. É patrono número vinte e três da Academia Brasileira de Letras por escolha de Machado de Assis.

 

Primeiro escritor romântico a desenvolver o romance com temas mais variados e abrangentes do que seus sucessores. Alencar empenhou-se em retratar diversas esferas e incluir o maior número de tipos de personagens até então vistos na literatura brasileira. Alencar não se contentou somente com a sociedade burguesa carioca de seu tempo mas, também, empenhou-se nos tipos brasileiros como o gaúcho e o sertanejo. Sua intenção era de retratar um painel geral do país, de norte a sul, além de tentar estabelecer uma linguagem brasileira.

Segundo o crítico José de Nicola em seu Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias (ed. Scipione, 2001), a obra de José de Alencar é um retrato de suas condições políticas e sociais: grande proprietário de terras, político e conservador, monarquista, nacionalista exagerado e escravocrata. O romancista transparece essas posições em sua obra, como se pode perceber na maneira como retrata os índios e a sexualidade feminina em seus romances.

Os críticos costumam dividir em quatro as fases principais de sua produção:

a) urbana ou social: Cinco Minutos (1856), A viuvinha (1860), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875), Encarnação (1893);

b) indianista: O Guarani (1857), Iracema (1865), Ubirajara (1874);

c) histórico: As Minas de Prata (1865), Guerra dos Mascates (1873);

d) regionalista: O gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872), O Sertanejo (1875);

 

Curiosidade: no ano de 1856 Alencar publica uma série de cartas em resposta ao poema A Confederação dos Tamoios (1857), de Gonçalves de Magalhães. A coletânea de oito cartas, pubilcada sob o título de Cartas sobre a confederação dos tamoios pretendia criticar o poema de Magalhães que, na época, era protegido do imperador Dom Pedro II. A crítica recai principalmente no modelo escolhido por Magalhães para seu poema, o épico, um gênero clássico que não seria

Page 25: O Romantismo

adequado para cantar o índio brasileiro. Além disso, critica a fraca musicalidade do poema, a falta de "arte" na descrição da natureza brasileira e dos costumes indígenas. No ano seguinte (1857), Alencar publica seu primeiro romance indianista, O Guarani como resposta ao poema de Magalhães.

 

José de Alencar

a) romances urbanos ou sociais:

As características principais dos romances urbanos ou sociais são:

- final feliz ou ideal;

- prevalência do amor verdadeiro;

- protagonistas femininas (que refletem um "ideal de feminilidade");

- retrato das relações familiares;

- ambiente doméstico;

- casamentos;

- questões financeiras (heranças, dotes, títulos, falências...);

Os três romances mais conhecidos dessa fase são: Lucíola (1862), Diva (1864) e Senhora (1875) que fazem parte da chamada trilogia "perfis de mulheres". Eles retratam uma sociedade elegante marcada pela ascenção da burguesia carioca empenhada em seguir a moda das cidades europeias, mais notadamente de Paris, no que diz respeito tanto às vestimentas quanto à vida cultural no período do Segundo Reinado.

Os enredos, dramáticos, seguem uma estrutura tradicional das histórias de amor: situação inicial - conflito/quebra - reparação/solução. O drama quase sempre gira em torno de um jovem casal que precisa enfrentar obstáculos sociais, geralmente envolvendo questões financeiras, se quiserem ficar juntos

b) romances indianistas:

Características principais:

- nacionalistas;

- exaltação da natureza;

- idealização do índio;

- temas históricos;

- resgate de lendas;

- índio como um herói, europeizado, quase medieval;

- contato do índio com o europeu colonizador;

Os romances mais conhecidos da fase são O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).

O Brasil, agora uma nação indepentende, precisava definir seus heróis nacionais e os autores indianistas viam o índio como o personagem ideal por este ser quem primeiro expressou amor às terras brasileiras, defendendo seu território e seu povo contra os colonizadores europeus. Outros autores, como o Padre Anchieta, Basílio da Gama e Gonçalves Dias já haviam versado sobre a singularidade do índio brasileiro, porém, com o desenvolvimento da prosa e a popularização dos romances de folhetins, Alencar pôde não apenas criar histórias mas também desenvolver e difundir junto aos seus leitores um sentimento de nacionalidade mais abrangente e que tocasse em todos os seus leitores baseando-se nos heróis medievais europeus, símbolos de honra e bravura.

Page 26: O Romantismo

c) romances históricos:

São os romances de fundo histórico, voltados para o período colonial brasileiro propondo uma nova interpretação para fatos marcantes do período colonial do século XVII, como a busca por ouro e as lutas pela expansão territorial. Seus enredos denotam, em vários momentos, nacionalismo exaltado e a importância da construção histórica da pátria através da literatura.

O romance As Minas de Prata (1865) retrata o início pelas minas de prata e a corrida por metais preciosos e A guerra dos Mascates trata dos conflitos entre as cidades históricas de Olinda e Recife. Os principais romances desta fase são: As Minas de Prata (1865) e Guerra dos Mascates (1873);

 

d) romances regionalistas:

Nesses romances, Alencar procurou dar conta da diversidade brasileira e das regiões que se encontravam distantes da corte e das principais cidades que receberam forte influência europeia. O autor desejava cobrir os territórios de maneira a mostrar como a vida de seus habitantes estava intimamente ligada ao meio físico no qual travavam contato.

Nesses romances, os homens recebem os papéis de destaque, em detrimento das personagens femininas, diversamente retratadas nos romances urbanos e sociais.

Porém, há controvérsias sobre o retrato feito por Alencar de seus homens: quando trata do nordestino e do sertanejo, Alencar consegue ser fiel à realidade por conhecer mais profundamente a região e seus habitantes. Porém, quando retrata o gaúcho o autor incorre em uma série de falhas, provenientes da falta de familiaridade com o tipo retratado e com a distância que separava Alencar do sul do país.

Os romances mais conhecidos desta fase são: O gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872) e O Sertanejo (1875);

Demais autores do romantismo:

Embora menos expressivos quando se trata do cânone literário brasileiro, os autores abaixo são importantes pois também contribuíram para a produção literária do período. São eles:

 

a) Bernardo Guimarães (1827 - 1884)

Seu livro mais conhecido é A escrava Isaura (1875), romance com pretensões abolicionistas que conta a história de Isaura, uma escrava branca, nobre e educada que é perseguida por Leôncio, seu senhor, um homem marcado pelos vícios sociais. A moça é salva pelo herói Álvaro, que a retira das garras do vilão.

Embora aborde a temática escravista, o romance mostra uma ideologia patriarcal, ao retratar uma escrava branca e que segue a educação dos moldes da elite. A questão dos escravos aparece de maneira superficial, não revelando a verdadeira condição dos negros que eram submetidos ao sistema social escravista.

Escreveu também outros romances, como O Seminarista (1872) e O Garimpeiro (1872).

 

Page 27: O Romantismo

b) Maria Firmina dos Reis (1825 - 1917)

Com relação à temática escravista, há outros romances na literatura brasileira que abordam a questão com uma visão mais acurada da realidade vivida pelos escravos, como é o caso do romance Úrsula (1859) de Maria Firmina dos Reis, considerado o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira. Além disso, o romance é considerado o primeiro de autoria de uma afrodescendente e o primeiro romance de autoria feminina de nossa literatura.

No entanto, como as mulheres que se dedicavam à escrita eram vistas com preconceito pelos olhos dos escritores (pois as Letras no Brasil sempre foram um território predominantemente masculino), a autora se absteve de publicar Úrsula com seu nome verdadeiro e optou por usar o pseudônimo "Uma Maranhense".

Seu romance pode ser considerado inovador pois pela primeria vez utiliza a prosa para as denúncias de uma sociedade patriarcal sob o aspecto de suas principais vítimas: a mulher e o negro. Diferentemente dos escritores do romantismo, que denunciavam a mesquinhez das relações pessoais em uma sociedade burguesa (como é o caso de José de Alencar), Maria Firmina dos Reis denuncia o que estava por trás dessas relações, isto é, a dominação e a exploração das mulheres e dos negros pelo marido e pelo senhor.

Educadora preocupada com a literatura e com a educação, a autora também foi professora e, depois de aposentada, fundou a primeira escola mista do estado. É responsável por uma série de poemas e contos no periódico literário Semanário Maranhense e em outros jornais, além do livro de poesias Cantos à beira-mar (1871) e um diário, publicado somente em 1975 pelo historiador José Nascimento Moraes Filho.

Saiba mais:

pseudônimo -- nome fictício utilizado por um autor ou uma autora para velar sua verdadeira identidade. A prática era

muito utilizada pelas mulheres que resolviam "se aventurar" no terreno das Letras, porém, sem expor o nome de seu

marido e sua família pois a atividade da escrita pelas mulheres era vista com preconceito pelos homens.

 

c) Alfredo Taunay (1842 - 1899)

Autor do romance Inocência (1872), considerado um romance romântico regionalista, Visconde de Taunay empenhou-se em descrever o cenário sertanejo e a retratar a vida no campo. Inocência é uma moça que, por imposição do pai autoritário, deve se casar com Manecão, um sertanejo bruto e negociante de gado criado. A moça adoece e é salva por Cirino, estudante de farmácia, e os dois se apaixonam, convergindo em um final trágico.

 

d) Franklin Távora (1842 - 1888)

Page 28: O Romantismo

Autor também empenhado no retrato da realidade nordestina e do cangaceiro, evidenciando a vida com as secas no sertão. Acredita que o Norte ainda tem muito o que oferecer para a formação da literatura brasileira, tendo em vista que, diferentemente do Sul do país, ainda não foi totalmente invadido, e ainda possui muito o que ser explorado. O Cabeleira (1876), seu romance mais famoso, trata do cangaceiro José Gomes (o Cabeleira). A narrativa, embora com tons realistas e combativa, recai na estrutura melodramática dos romances românticos. O Cabeleira, ao reencontrar seu amor de infância, Luisinha, abandona sua vida de criminoso e dispõe-se a total regeneração pelo amor da amada. A moça, porém, morre de uma enfermidade e o cangaceiro acaba preso e enforcado na prisão.

 

O Teatro no RomantismoO teatro no Brasil, até então, era proveniente da Europa e tinha como principal objetivo agradar às elites brasileiras, que transformavam as apresentações em verdadeiros eventos sociais, principalmente nas grandes cidades. Embora alguns escritores já houvessem se arriscado na dramaturgia brasileira, como Castro Alves e José de Alencar, cujas obras eram baseadas nas europeias, ainda não havia uma discussão sobre o perfil do teatro brasileiro. Foi apenas com Martins Pena que o teatro passou a refletir as cenas e as problemáticas da realidade brasileira.

 

Martins Pena (1815 - 1848)

Luís Carlos Martins Pena nasceu no Rio de Janeiro, em 1815 e faleceu em Lisboa, em 1848. Proveniente de uma família abastada, nasceu no Rio de Janeiro e faleceu na cidade de Londres, na Inglaterra, Martins Pena é patrono da Academia Brasileira de Letras.

 

Suas obras estão classificadas no gênero "comédia de costumes", inaugurado por ele, e se empenham no retrato de situações cômicas da realidade brasileira compondo uma espécie de sátira social. Além disso, é responsável por criar tipos característicos e situações peculiares tanto no ambiente urbano quanto no ambiente rural. O malandro, o estrangeiro e a mulher (responsável por "segurar as pontas" da família), são talvez seus personagens mais característicos.

No retrato do ambiente urbano, Pena trabalha na sátira dos costumes da classe média carioca do século XIX, principalmente, com relação aos relacionamentos amorosos e a busca pela ascenção social. Pena escreve para as camadas mais populares, decorrendo daí a sua popularidade. Escreveu, durante sua curta vida, cerca de 28 peças tendo 19 delas sido encenadas na época.

Suas peças mais famosas são: O juiz de paz na roça (1842), Casadas solteiras (1845) e Os dois ou o inglês maquinista (1871).

 

Page 29: O Romantismo