o senhor da chuva

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Anjos e demônios lutam entre si. Mas, impedidos de interferir no mundo físico, eles apenas manipulam os humanos para que ajam de acordo com suas vontades. Quando o anjo Thal é perseguido e atacado por demônios, ele decide dominar o corpo de uma pessoa, violando assim as regras sagradas. Porém, esse ato terá consequências funestas, pois ele dá direito aos demônios de convocar uma guerra. Começa então o confronto sobrenatural entre os dois exércitos. De um lado anjos de luz, do outro os demônios das trevas. E o cenário terrestre, antes tranquilo e belo, será o campo de batalha quando as armas se chocarem. Prepare-se. O mundo vai tremer quando essa guerra começar. “André Vianco faz sucesso com livros de terror.” - Portal Globo.com

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São Paulo 2011

novo século ®

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2013IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

Alameda Araguaia, 2190 – 11º andar – CJ 1111CEP 06455-000 – Barueri – SP

Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Vianco, AndréO senhor da chuva / André Vianco. – Osasco, SP : Novo Século Editora, 2001.

1. Ficção brasileira I. Título

01-4667 CDD-869.935

Índices para catálogo sistemático:1. Romances : Literatura brasileira 869.93

Copyright © 2011 by André Vianco

Texto de adequado às normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Coordenadora Editorial

Capa

Diagramação

Revisão

Equipe Novo Século

Christian Pinkovai

Carlos Eduardo Gomes

Cristiane Mezzari

Lucas de Souza Cartaxo

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CAPÍTULO 1

— DROGA DE CHUVA! — praguejou Gregório. Olhou para o chão. Os sapatos estavam encharcados, deixando os

pés próximos a zero grau. — Detesto chuva. Detesto frio. Quando estiver com dinheiro, vou

me mandar pra Moçambique, Irã, sei lá. Algum lugar em que chova a cada ano bissexto.

— Irã? — É. sol o ano inteiro, paz e sossego. Os dois acocoraram-se debaixo de um toldo, tentando se proteger

da chuva. Gregório estava vestido de preto, como costumava se vestir sempre. Sapatos pretos de cadarço, calça jeans escura, camiseta preta e um jaquetão de couro preto. Esfregava as mãos a fim de aquecê-las. O rosto estava ressecado pelo frio, mas mantinha uma expressão vivaz, de garotão, bem longe de seus 32 anos. Seu amigo, Renan, não tinha 20 ainda.

— É coisa grande? — perguntou o garoto. — Não. Oito “g”. Um carinha metido a esperto. Não gosto de tra-

balhar com ele. Você vai ver; tipo estranho. — E polícia? Nunca pintou no teu canto? — Pintou. Pintou, sim. — E aí? Quanto tempo você catou? — Eu? Deus me livre, mano. Eu nunca levei cana, mas o policial

levou... levou cinco papelotes, bem pesados. Os dois riram alto. Gregório colocou a mão no bolso interno da

jaqueta, verificando o pequeno pacote. Estava seco e a salvo. Vinte minutos depois, um carro adentrou aquela rua escura. Era um

Chevrolet surrado pelo tempo. Mantinha a lanterna acesa, movendo-se lentamente em direção aos dois amigos.

Gregório, percebendo a aproximação do veículo, levantou-se. Puxou Renan pela blusa, fazendo-o ficar de pé.

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— Fique calmo, garoto. Esse aí é o cara. Nosso cliente. Trovões roncaram, parecendo praguejar contra a terra. Renan estre-

meceu. Além do vento frio que cruzava a rua, estava bastante nervoso. Era a primeira vez que estava na rua para traficar. Sem pai, sem mãe. Sua única família era um irmão mais novo trancafiado na Febem. Procurara emprego, mas sempre lhe ofereciam cargos cujo maior salário chegava a 300 reais. Muito trabalho para pouco. Queria conseguir dinheiro para alugar uma casa. Para tirar o irmão da cana. Advogado é troço caro. Já passara fome, e nin-guém lhe estendera a mão. Quando estenderam ela veio com drogas entre os dedos e uma arma na outra. Traficantes barra-pesada. Ficara com medo. Muito medo. Era um passo e tanto, porém não podia mais com aquela situ-ação. Morar na rua. Nela ouvira falar de Gregório. Traficante, peixe pequeno. Conseguiu entabular conversa com o homem. Expôs sua condição. Prometeu dedicação, empenho e, principalmente, fidelidade. Gregório aceitou. Estava querendo ampliar o esquema. Um braço a mais viria a calhar.

O carro encostou. As gotas da chuva ricocheteavam no capô do Che-vrolet, tamborilando com rapidez. Um homem de sobretudo cáqui desceu. Correu desajeitadamente, fazendo a volta pelo veículo. Era um sujeito baixinho, gordo e de face corada. Parecia nervoso, um quê de irritação. Tinha um jeito afetado de movimentar os braços e as mãos. No rosto, mantinha um sorriso estranho, como se tivesse uma gargalhada entalada na garganta, prestes a explodir.

— Fala, Grégui. Cadê meu bagulho? Gregório tirou o papelote do bolso, deixando-o à vista. O gorducho

arregalou os olhos. — Grégui, Grégui. Você nunca falha mesmo. O cliente fez menção de agarrar o pacote, mas Gregório esquivou

o braço estendido. — Calma lá, freguês. Primeiro a grana, depois a coca. — Correto. Correto. Cê tá certo — repetiu o homem várias vezes,

empertigando-se e vasculhando os bolsos até encontrar um modesto maço de notas de dez. Estendeu-as para Gregório.

Renan apanhou a grana e conferiu. O cliente surpreendeu-se com a intromissão do rapaz. Encarou-o

de maneira estranha. Parecia pronto a ter um ataque, a enfiar a mão no bolso e retirar um revólver: — Não gosto deste teu ajudante.

— Só tenho ele, Beiço. Lamento. Vai com calma nas carreiras, brou. Essa aí é daquela lá.

O gorducho balançou a cabeça com rapidez.

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Gregório contou o dinheiro e voltou a se encostar debaixo do toldo, como se o cliente não existisse mais.

Renan imitou-o. O gorducho ficou parado debaixo da chuva, olhando para os dois

por quase um minuto. O rosto tinha uma expressão de deboche que desa-parecia toda vez que uma gota pesada acertava-lhe em cheio um dos olhos, depois voltava à mesma expressão.

Gregório acendeu um cigarro. A primeira tragada foi longa e demo-rada. Que diabos aquele cara queria?

— Tá tudo certo, chapa. Precisa de mais alguma coisa? — É. Eu preciso, sim. — Droga? — É. Mais coca. Mas é um pedido especial. Muito mais do que

isso aqui. — Consigo — Gregório deixou algum excitamento escapar. —

Quanto? — Muito mais. O homem voltou a correr na chuva. Entrou no Chevrolet. Abaixou

o vidro do lado direito, acionando-o eletricamente, colocando a cara gorda para fora.

— Se você conseguir arrumar mais, tenho um amigo que vai ficar muito contente. Você acertou na loteria, Grégui, acertou, sim. Ah, ah, ah! — gargalhou eufórico o gorducho por três segundos, calando-se de forma repentina. — Tome, este cartão tem o telefone dele. Converse com o cara, diga que eu te indiquei, saberá que o negócio é bom.

O gorducho deu partida no carro, saindo lentamente. Gregório guardou o cartão no bolso. Deu um tapinha nas costas de Renan.

— Fica frio, garoto. Você está muito tenso. Mais nervoso do que eu na minha primeira transa. — Gregório viu o carro desaparecer no fim da rua. Apagou o cigarro, atirando-o ao chão e pisando em cima.

— Vambora, Renan. Os dois começaram a caminhar com rapidez, deixando a rua escura

para trás. — Vamos comer alguma coisa. Dessa vez, eu pago. Entraram num beco sombrio e deserto. A chuva diminuía grada-

tivamente. A cidade, imersa na noite escura, exalava cheiros agradáveis, relaxada e alheia à vida, como recém-saída de um banho refrescante.

Os dois brincavam junto às poças d’água, como puros inocentes, abstraídos da cidade, abstraídos da escuridão.

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CAPÍTULO 2

FALTAVAM APENAS DOIS minutos para a meia-noite. Estendendo o magnífico par de asas, a criatura decolou. Observou o quarteirão. Deserto. Pousou no topo de um prédio vermelho. Dali, poderia observá-la perfeita-mente. Permaneceu de pé, em cima do parapeito da cobertura, e olhou para baixo. Era uma queda e tanto. Sorriu. Aspirou fundo o ar noturno. Estava plena de felicidade. A chuva fizera bem à cidade. Era como se a redimisse das tensões e insanidades. Estava limpa outra vez, refrescada. Estranha-mente quieta, como se a noite conspirasse. Ela sentia-se bem. A chuva lhe dava vigor e energia. Sentia-se em paz. Com a bendita gota vinda do céu, tinha a força redobrada. Concentrou-se nessas sensações. As gotas pene-travam em sua pele acobreada. Era um ser divino, abençoado. Possuía asas brancas, de alvura impecável. Sua pele tinha a cor de cobre, envolta num leve luzir vivo. O corpo era robusto, grande, francamente um guerreiro. A face transpirava energia e tranquilidade, num despertar de confiança. Os olhos eram duas brasas vivas, feitas de fogo amarelo. A túnica era tão branca quanto as asas. Uma espada longa e embainhada descansava na cin-tura, junto a uma trombeta curta, que parecia feita de chifre retorcido. Sua silhueta no topo do prédio poderia ser facilmente confundida com a sombra de um homem alto não fosse o gritante par de asas, que volta e meia far-falhava, movendo-se impaciente. Há muito os homens haviam perdido aquela pureza feroz, aquela autoridade favorecida por Deus. A figura, lá no topo, não era um homem... era um guerreiro de luz, destinado a lutar pelos seres de alma pura. Empertigava-se com a presença do inimigo, das forças das trevas. Combatia demônios quando aquela espada voava para fora de sua bainha e cortava o ar, partindo feras malditas, salvando as almas ameaçadas. Pelos inimigos era temido. Dos exércitos da luz, era um enco-rajador. O rosto reto e vincado, a pele cor-de-cobre, os olhos chamejantes e vivazes como os de uma águia lhe conferiam uma imponência impressio-nante. A criatura era o que os humanos chamam de anjo... um anjo de luz.

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Ela sempre deixava o emprego por volta da meia-noite. Saiu pela frente do estabelecimento, um bar-lanchonete pequenino, encravado bem no meio de uma das maiores avenidas da cidade. Ela era Eloísa, a prote-gida. Não era rica nem bonita. Trabalhava de segunda a sábado, folgando aos domingos. Ganhava pouco, mas era o suficiente para se manter com a mínima dignidade. Com seus 59 anos, solitária, cativava por não ser amarga nem rabugenta. Mantinha o apartamento de um quarto, sala e cozinha, sem esperar visitas dos filhos ou dos pequenos netos. Aparen-temente, um tipo normal, cumprindo mecânica e biologicamente suas funções no conturbado quadro social da metrópole. Contas para pagar, dinheirinho apertado. Entretanto, essa normalidade cabe somente a nós, seres humanos, que hoje não conseguimos enxergar um palmo adiante do nariz. Não entendemos o que é este universo e espírito. Vemos somente a matéria. Então, sob essa perspectiva, ela era comum. Mas para ele, Eloísa era muito especial. Tinha fé. Fé no que não se vê. Fé nos instintos. Amor pelo Pai Criador e confiança em tudo o que estava escrito. Simplesmente isso.

O anjo a amava. Um amor fraterno e antigo. A seus olhos, aquela velhinha permanecia envolta constantemente em uma chama viva de paz, amor e fé. Eloísa era iluminada! O anjo cor de bronze chama-se Thal. Tem a forma de guerreiro de luz e fé, dura, como a mais dura rocha do uni-verso. Thal é amado e respeitado entre os seus. É um líder bravo.

Com os olhos serenos, ele acompanhava o lento caminhar de Eloísa pelas calçadas. Volta e meia, via um de seus irmãos cruzando os céus, que logo montavam sentinela no topo dos outros prédios, com as asas cer-radas, imóveis, concentrados em manter seus protegidos fora do alcance das feras do mundo inimigo. Se homens comuns pudessem vê-los, pode-riam confundi-los com impressionantes estátuas antigas, contrastando com a arquitetura dos prédios daquela cidade. Dali via dois dos seus. Abriu as asas e arremessou-se. Disparou em queda livre, de encontro ao chão. Pousou em cima de um relógio digital da Dimep, que ficava no can-teiro central da Avenida Paulista. Um de seus irmãos se foi, abrindo as asas, subindo ligeiramente para o céu, transformando-se em uma bola de luz, desaparecendo nas nuvens. Thal via agora apenas um. Eloísa reali-zava lentamente sua caminhada, em ritmo de passeio, que durava exatos vinte minutos. Thal olhou ao redor. A cidade estava calma. Na esquina do quarteirão, surgiram cinco jovens. Dentre eles, um iluminado também.

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Thal olhou para cima e acenou. Taguinel sobrevoava o grupo e desceu ao encontro de Thal. Pousou em cima do relógio também e cumprimentou:

— Como está, guerreiro? — Bem. Nada de novo até agora? — perguntou Thal. — Eles não

tentaram nada hoje. Estão fracos depois da última investida. Perderam muitas criaturas e nos darão alguns dias de sossego por enquanto.

— Lembro-me de poucos anos atrás. O céu permanecia sempre forrado por nossos irmãos. Eram centenas, milhares por vezes. Todos acompanhando, protegendo e auxiliando os iluminados. Hoje, chego a me entristecer. Vê o céu? Onde estão nossos irmãos de luz? A fraqueza da fé humana, hoje em dia, nos deixa enfraquecidos também, tornando nossos corpos penetráveis pelas espadas e dentes inimigos. Eles sabem e se apro-veitam. Pensam que estão vencendo; se fortalecem, se multiplicam com velocidade assustadora. Os homens começaram a cultivá-los sem saber — Thal remexeu as asas, empertigando-se.

— Não se aflija, nobre irmão. Você mesmo nos advertiu. Enquanto houver um iluminado, um escolhido do Homem, seremos fortes, e mais fortes que nossos inimigos — Taguinel saltou e alçou voo. — Nossa fé é poderosa. Somos homens do Homem — gritou, afastando-se no ar.

Thal sorriu, decolando também. Eloísa estava prestes a tomar a nova rua.

Cinco minutos depois, entrava no prédio. Subiu lentamente os sete lances de escada que davam em seu andar. Vasculhou a pequena bolsa de couro à captura das chaves. Thal surgiu ao seu lado, varando o piso. Encontrou. Ela ouviu som de passos na escada. Eram velozes. Parecia duas pessoas que conversavam alto e animadamente. Thal percebeu a apreensão da mulher. Pousou a mão no cabo da espada chamejante. Os dois chegaram ao sétimo andar e entraram no corredor, ainda falando em voz alta. Eloísa respirou com alívio, pois conhecia um dos rapazes. Ambos estavam apa-rentemente molhados. A chuva. Thal semicerrou os olhos; não gostava daquele homem, ele atraía as criaturas. O anjo aspirou fundo, sentindo o poderoso cheiro da chuva exalar dos dois e inundar sua alma. Gostava daquele cheiro; dava-lhe alegria e vigor. Os dois pararam na porta vizinha ao apartamento de Eloísa. O mais velho apanhou as chaves no jaquetão de couro preto. Eloísa já estava com a porta aberta.

— Olá, Gregório. Como vai, meu filho? — Tudo maravilha. Senti sua falta esses dias, dona Elô. Principal-

mente do bolinho da tarde. A velha sorriu mostrando os dentes amarelos.

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— Pois é, filho. Visitei uma irmã mais nova. Ela está muito doente. Tenho bolo aí, pegue uma metade amanhã pela manhã. Qualquer coisa, eu mesma levo.

— Sou sem-vergonha demais para uma mulher tão gentil quanto a senhora ficar se preocupando comigo, me paparicando tanto.

— Imagina, menino. Pra mim, é uma alegria — disse a velha, já dentro do apartamento. — Agora, deixa eu descansar meu esqueleto. E vocês dois, tratem de tomar um banho quente antes de deitar. Resfriado mata qualquer um, novo, velho, negro, branco... — sua voz foi sumindo atrás da porta que ia se fechando.

Os dois também entraram, deixando o corredor vazio e silencioso. Thal atravessou os andares até o topo do prédio e lá montou guarda.

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