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ANA PAULA DA SILVA CARDOSO
O SIGNIFICADO DO JUDÔ PARALÍMPICO: UM ESTUDO DE CASO DA NARRATIVA BIOGRÁFICA DE UM ATLETA COM DEFICIÊNCIA
VISUAL
Área de Pesquisa: Fenômeno Esportivo
SÃO PAULO 2016
ANA PAULA DA SILVA CARDOSO
O SIGNIFICADO DO JUDÔ PARALÍMPICO: UM ESTUDO DE CASO DA NARRATIVA BIOGRÁFICA DE UM ATLETA COM DEFICIÊNCIA
VISUAL
Dissertação apresentada à Universidade São Judas Tadeu, como exigência para obtenção do título de Mestre em Educação Física, sob orientação da Professora Doutora Maria Regina Ferreira Brandão.
SÃO PAULO 2016
Cardoso, Ana Paula da Silva
C268s O significado do judô paralímpico: um estudo de caso da narrativa
biográfica de um atleta com deficiência visual / Ana Paula da Silva
Cardoso. - São Paulo, 2016.
120 f. : il. ; 30 cm.
Orientadora: Maria Regina Ferreira Brandão.
Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo,
2016.
1. Atletas. 2. Deficiência Visual. 3. Judô. I. Brandão, Maria Regina Ferreira. II.
Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Educação Física. III. Título
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca
da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecário: Ricardo de Lima - CRB 8/7464
A todos os profissionais do esporte que se
mantém motivados na incansável busca pelo
conhecimento, apesar das dificuldades presentes
no mundo e a todos os atletas que representam
os verdadeiros atores da realidade esportiva
brasileira contemporânea.
AGRADECIMENTOS
Primeiro, a Deus pela vida que me concede e pela oportunidade de mais uma conquista.
Àqueles mestres do curso que acreditam na transformação por meio do conhecimento, por promoverem mudanças no meu modo de agir, pensar, ser e sentir a pesquisa científica; pelas esperanças plantadas em mim como uma semente a florescer a cada disciplina, além dos ensinamentos e experiências compartilhados que me serviram e servem de suporte para a vida toda.
À doutora Maria Regina Ferreira Brandão e Aline Magnani, pelas orientações necessárias para a confecção deste trabalho e pela atenção e paciência na construção desta dissertação.
Aos meus pais, pelos ensinamentos, mas, sobretudo, por todo companheirismo, conversas, risadas e choros, também pela confiança e por serem sempre um colo, mostrando-me que devo buscar no mundo aquilo em que acredito, com amor e dedicação. Obrigada por nunca deixarem de acreditar no meu esforço e sempre representarem o meu porto seguro.
À minha irmã, pela paciência, compreensão e horas dedicadas à leitura e sugestões para construção deste trabalho.
Aos colegas de profissão pelo acolhimento e aprendizado, mas em especial a cada um dos amigos que participaram dos momentos de angústia, presentes ou distantes, contribuindo com palavras capazes de não me fazer desistir e pelos momentos infinitos de prazer e risos e companheirismo dignos de verdadeiros amigos.
Ao sujeito dessa pesquisa por permitir a realização e desenvolvimento deste projeto.
À Universidade São Judas Tadeu, que viabilizou a pós graduação stricto senso em Educação Física, que promove aprimoramento dos conhecimentos e da prática docente.
RESUMO
O significado atribuído ao judô paralímpico pelo atleta está vinculado ao desempenho competitivo e o reconhecimento da prática em seu contexto social. O objetivo deste estudo é trazer elementos para reflexão e compreensão do significado de ser atleta de judô paralímpico. O método foi baseado na história de vida de um atleta de judô deficiente visual, ganhador de cinco medalhas, sendo quatro de ouro e uma de bronze, em jogos paralímpicos, com base na teoria apresentada por RUBIO (2001). Os dados foram coletados por meio de uma entrevista por meio da qual se solicitou que o atleta contasse sua história de vida e observou-se a importância que o participante atribui aos eventos e experiências que lhe são marcantes na sua trajetória esportiva e de vida. Os resultados norteiam e contribuem para a necessidade de se perceber o significado da prática esportiva atrelado às vivencias que o indivíduo tem e as emoções que a prática evoca no contexto esportivo e o modo como repercute e representa uma etapa da sua carreira. Dado o exposto, o sentido atribuído ao esporte aparece de forma singular na relação atleta-esporte que norteia a condição de lugar para viver, ser, sentir e significar a prática esportiva, pois o indivíduo em questão vincula o significado da prática aos sentimentos que evoca ao recorrer à memória, os momentos e eventos importantes que vivenciou. Dessa forma, os espaços físico e social são culturalmente estruturados pelo sujeito, por vivenciar nestes espaços emoções que permanecem vivas na memória coletiva e adquire um significado que transcendem ao sujeito no que tange a identificação com a torcida, a valorização da moral e ética, o representar a nação, a luta incessante pela vitória, o pertencer a um importante clube, conquistar títulos e obter um posto de trabalho muito almejado, porque proporcionam reconhecimento e a aprovação, sentimentos esses importantes que influenciam na construção de significado da prática esportiva.
Palavras - chave: Atletas Paralímpicos; Esporte Paralímpico; Narrativas; História de Vida, Deficiência Visual, Judô.
ABSTRACT The meaning attributed to judo by paralympic athlete is linked to competitive performance and the recognition of the practice in its social context. The aim of this study is to provide elements for reflection and understanding of the meaning of being an athlete of judo Paralympics. The method was based on the life story of an athlete visually impaired judo, winning five medals, four gold and one bronze in Paralympic Games, based on the theory by RUBIO (2001). Data were collected through an interview by which it requested that the athlete tell his life story and noted the importance that the participant gives to the events and experiences that are striking in their sport and life trajectory. The results guide and contribute to the need to realize the significance of sports linked to livings that the individual has and the emotions that the practice evokes the sporting context and how it affects and is a stage of his career. Given the above, the meaning attributed to the sport appears uniquely in athlete-sport relationship that guides the condition of place to live, be, feel and mean sports practice, because the individual in question binds the meaning of the practice to the feelings that evokes to resort to memory, the important moments and events experienced. Thus, the physical and social spaces are culturally structured by subject, by experiencing these spaces emotions that remain alive in the collective memory and acquires a meaning that transcends the subject with respect to identification with the fans, the appreciation of moral and ethics, represent the nation, the unceasing struggle for victory, belonging to an important club, win titles and get a much desired job because they provide recognition and approval, these important feelings that influence the construction of meaning of sports. Key - words: Paralympic Athletes; Paralympic sport; narratives; Life History, Visual Impairment, Judo.
LISTA DE TABELA
Tabela 1: Adaptação da Matriz de análises das representações de um processo de construção da
narrativa biográfica de atletas paralímpicos brasileiros....................................................................23
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
2. OBJETIVOS DA PESQUISA.................................................................................14
2.1.1 Objetivos Especifícos....................................................................................15
3. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................15
4. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO.....................................................................17
4.1.Conceito história oral........................................................................................17
4.1.1 História de vida como vertente da História oral.............................................18
4.2 Memória...........................................................................................................20
4.3. Procedimentos de entrevista...........................................................................22
4.3.1Narrativas.......................................................................................................24
4.3.2 Paricipantes...................................................................................................25
4.3.2.1 Definição dos Colaboradores: Comunidade de Destino.............................25
4.4 Plano de Análise...............................................................................................26
5. REVISÃO DE LITERATURA...................................................................................29
5.1 Esporte de Alto Rendimento - Profissionalismo...............................................29
5.2 Histórico do Esporte Paralímpico.....................................................................31
5.2.1 Divergências do Movimento Paralímpico......................................................34
5.2.2 Movimento Paralímpico Brasileiro.................................................................36
5.3 Esporte de Alto Rendimento e a Deficiência Visual.........................................38
5.3.1Deficiência Visual no Judô Paralímpico.........................................................39
5.4 Significado do Esporte......................................................................................40
5.4.1 Significado do Esporte Paralímpico...............................................................45
6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA NARRATIVA..................................................49
6.1 Verbete – B1 Conhecendo a Superação e Perseverança de um Atleta
Paralímpico........................................................................................................................49
6.1.2 Entrevista – B1 Conhecendo a Superação e Perseverança de um Atleta
Paralímpico........................................................................................................................51
6.2 Processo de Tematização................................................................................58
6.2.1 Tema 1 – Iniciação e Acesso à Alta Competição..........................................59
6.2.1.1Iniciação ao Esporte para Pessoas com Deficiência...................................60
6.2.1.2 Obstáculos à Iniciação...............................................................................67
6.2.1.3 Acesso à Alta Competição.........................................................................67
6.2.2 Tema 2 - Experiência Vivida na Alta Competição.........................................69
6.2.2.1 Comprometimento......................................................................................71
6.2.2.2 Sucesso x Insucesso..................................................................................74
6.2.2.3 Reconhecimento.........................................................................................76
6.2.2.4Transcendência...........................................................................................79
6.2.2.5 Significado do Esporte Paralímpico............................................................83
6.2.2.6 Obstáculos à Prática..................................................................................87
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................99
ANEXOS .............................................................................................................114
ANEXOS 1...........................................................................................................114
ANEXOS 2...........................................................................................................118
ANEXOS 3...........................................................................................................119
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1. INTRODUÇÃO
O esporte é um fenômeno que se reveste de características que
variam e derivam da complexidade do indivíduo praticante, pois ele constrói e é
construído por essa relação, ou seja, o indivíduo interfere na formação e
execução da prática esportiva e esta exerce influências sobre a formação do
sujeito por meio da transmissão de valores morais, possibilidades de
relacionamento e até de adaptações físicas de acordo com o significado da
prática, exercendo influência sobre hábitos e comportamentos em nossa
sociedade.
O esporte como manifestação cultural carrega um significado
formativo que é compartilhado por determinada comunidade ou grupo
(HABERMAS, 1987). O significado da prática diz respeito às razões e os valores
transmitidos por ela modificam conforme as condições sociais, culturais e
históricas dos indivíduos envolvidos, que exercerão influência sobre a concepção
da atividade, e lhes dão significado (MARQUES, 2008).
O significado atribuído ao esporte é decorrente da importância e do
papel que o atleta desempenha no processo competitivo, os valores que esta
prática promove, e o reconhecimento dentro de contextos sociais específicos
(BOURDIEU, 1983). O esporte apresenta significados e impactos diferentes no
atleta, bem como, a intenção desses indivíduos que são protagonistas no cenário
esportivo.
O elo com a prática esportiva se estabelece por meio do significado
que o atleta atribui ao esporte de acordo com a modalidade escolhida. Uma
mesma modalidade pode ser percebida por meio de valores, contextos e
significados diferentes, por seus praticantes, por vivenciarem o fenômeno de
12
forma distinta.
É imprescindível entender como se dá a atribuição de significado ao
esporte paralímpico considerando a percepção do atleta, atribuindo um olhar
especial e atento aos fatores externos que estão presentes na carreira do
esportista paralímpico.
A prática de atividade física por pessoas com deficiência acontece
desde a Grécia antiga, porém, caracterizado com finalidade terapêutica
(GORGATTI; GORGATTI, 2008). Somente após a segunda Guerra Mundial que o
movimento do esporte adaptado passa a ser percebido como conhecemos hoje
devido as influências inglesas e americanas
O esporte adaptado para atletas com deficiência visual é organizado
em nível nacional pela Confederação Brasileira de Desporto de Deficientes
Visuais (CBDV) e internacional pela International Blind Sports Federation (IBSA).
Dessa forma, estes atletas participam dos Jogos Paralímpicos promovidos pelo
Internacional Paralympic Committee (IPC) representando o Comitê Paralímpico
Brasileiro (CPB).
Os Jogos Paralímpicos, assim como os jogos Olímpicos são hoje o
reflexo e a expressão máxima do esporte para pessoas com deficiência ao
direcioná-los para o alto rendimento (Brittain, 2010; Howe, 2008a). O início do
século XXI foi marcado por grande número de atletas, que promovem a prática
paralímpica, a ampliação do público, que prestigia as competições, além das
admiráveis performances vivenciadas por aletas paralímpicos (DEPAUW &
GAVRON, 2005). Destacar-se neste cenário nada mais é que o fruto do
comprometimento, do empenho de horas de dedicação e de um caminho
preenchido de vitórias e derrotas nas mais variadas arenas. É assim que o atleta
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paralímpico atinge o auge da sua carreira, por meio das suas habilidades,
conquistando resultados que os inserem no hall dos melhores comparando-os a
herói, por vencer não só um adversário, mas a batalha travada por uma nação.
O esporte paralímpico vem a ser um instrumento que contribui para
a sensibilização da sociedade quanto à deficiência e também influencia no
reconhecimento do sujeito deficiente por valorizar seus feitos esportivos (J.
ANDERSON, 2003; HOWE, 2008A; WOFF, TORRES, & HUMS, 2008), porém o
esporte necessita de outros elementos que sejam capazes de atuar como agente
transformador na sociedade.
Em um ambiente tão singular como o esporte paralímpico, em que
ser atleta está carregado de significado pessoal e social, o esporte tem o poder de
ser um instrumento para transformações sociais (LEGG & STEADWARD, 2011), o
que vem a ser extremamente benéfico no caso de pessoas com deficiência, por
meio da prática esportiva e a influencia na percepção social do atleta e,
consequentemente, da própria pessoa deficiente.
Dessa forma, estudos sobre este tema se tornam relevantes para
que o significado atribuído à prática esportiva paralímpica, seja conhecido por dar
voz ao sujeito que a vivencia.
É pertinente, então, provocar discussões sobre os elementos para
reflexão e compreensão do significado do judô paralímpico. Isto nos leva à
indagação sobre os fatores que contribuem para a atribuição de significados.
14
2. OBJETIVOS DA PESQUISA
O objetivo desta pesquisa é trazer elementos para reflexão e
compreensão do significado do judô paralímpico que ecoe para o cotidiano de um
atleta com deficiência visual a partir da narrativa do sujeito objeto de estudo.
2.1 Objetivos Específicos
1. Compreender a trajetória da vida e da deficiência, por meio da
história de vida com vista para o futuro.
2. Compreender a trajetória no esporte, por meio da iniciação
esportiva, participação na seleção brasileira e participação em Jogos
Paralímpicos e seus desdobramentos no contexto esportivo.
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3. JUSTIFICATIVA
Debruçar-se nesta proposta de investigação é ir muito além de uma
simples descrição para compreensão dos significados culturais, é dar voz ao
sujeito que é carregado de significado e está imerso neste contexto esportivo. É
com base nesse intercâmbio que as singularidades são visualizadas e
despertaram a intenção desse trabalho.
As pesquisas históricas têm colaborado para a compreensão do
contexto em que o esporte está inserido, por contribuir com a reflexão e a
constatação de rupturas e permanências estabelecidas no percurso histórico do
judô paralímpico. É característica das pesquisas em história oral desenvolverem
historiadores, sociólogos e antropólogos em busca da compreensão de
fenômenos sociais. O principal objetivo com a história oral é o modo como se
constituíram concepções, eventos, nações, noções de civilidade, e suas relações
e tensões na perspectiva do esporte e da atividade física.
Considerando a crescente da história oral e em especifico da história
de vida, encontramos alguns estudos como de Smith e Sparkes (2004, 2008) em
que o objeto de investigação está pautado em atletas com deficiência, abordando
o esporte de alto rendimento, já em Sparkes e Smith (2005), o estudo busca
explorar novas temáticas e associam a narrativa à investigação de atletas com
deficiência praticantes de esporte de alto rendimento. Ainda nessa temática,
encontramos os autores que priorizam os discursos contemporâneos sobre o
Movimento Paralímpico por meio de análise das narrativas (Peers 2009, 2012a,
2012b; Purdue & Howe, 2012a, 2012b). Ainda assim, percebe-se uma lacuna de
estudos na área da psicologia do esporte em geral e da compreensão do
significado sobre o esporte paralímpico, em particular no que se refere às
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narrativas biográficas. Dessa forma, este estudo se configura como mais um
elemento importante para futuras pesquisas sobre esse tema.
Observou-se por meio da consulta a acervos e documentos
históricos, na extensão que foi possível pesquisar até o presente momento, a
ausência de estudos na realidade brasileira que investigassem os elementos para
reflexão e compreensão do significado do judô paralímpico para um atleta com
deficiência visual. É neste contexto em que se justifica este estudo, por trazer de
forma inédita elementos para reflexão e compreensão do significado do judô
paralímpico e proporcionar maior entendimento, visibilidade e uso por
pesquisadores e interessados na área do Significado e do Esporte Paralímpico de
forma geral, por elucidar o paradesporto.
No próximo capítulo, serão apresentados os procedimentos
metodológicos norteadores para o desenvolvimento desta pesquisa.
17
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 Conceito de História Oral
A história oral surgiu por volta dos anos 20 e é relativamente
contemporânea (TOLEDO, SCHIAVON, SARÔA, FIORIN-FUGLSANG, 2012).
É na história oral que a história de vida tem suas raízes. No entanto,
a história de vida distingue-se da história oral por estar pautada no relato de um
único narrador sobre sua experiência de vida no tempo, a fim de reconstituir os
acontecimentos e transmitir a experiência que adquiriu (RUBIO, 2001), e ampliar
fontes usadas pelos historiadores, como também promover interdisciplinaridade
entre sociologia e antropologia, ciências que lançam olhar sobre a sociedade,
rompendo os paradigmas de uma história apenas como sucessão de fatos,
restrita a uma descrição linear e sem significância (TOLEDO, SCHIAVON,
SARÔA, FIORIN-FUGLSANG, 2012).
Para um dos autores mais renomados da história oral, Thompson
(2012), afirma que, na história oral, não há pretensão de contrapor-se aos
documentos escritos, mas, principalmente, vislumbrar no registro oral, uma forma
de colaborar para uma história mais humana e significativa, ao ampliar o
conhecimento sobre o que já se viveu por meio de uma ótica pessoal e particular
com o intuito de compreender a sociedade através desse indivíduo que
estabeleceu vínculos afetivos e sociais.
A história oral é percebida de forma ampla por recobrir uma
quantidade de relatos a respeito de fatos, documentos ou instituições que não
possuem registros, ou a que documentação tem interesse de completar. Assim, a
história de vida é uma vertente mais específica da história oral com o objetivo de
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recolher informações ou dada oralmente, assim como o são as entrevistas, os
depoimentos pessoais, as autobiografias, as biografias (TOLEDO, SCHIAVON,
SARÔA, FIORIN-FUGLSANG, 2012).
4.1.1 História de Vida uma vertente da História Oral
O caminho escolhido para compreender a trajetória de vida e
esportiva foi narrativa bibliográfica, cuja apreensão dar-se-á por meio de
estratégias e conceitos pautados na memória social e história oral. Desde o
século XX a história oral tem se consolidado como importante forma de
conhecimento no processo histórico psicossocial (QUEIROZ,1998), e tem figurado
as pesquisas das ciências humanas e estudos do esporte RUBIO(2001a, 2004b,
2008, 2010, 2014) com os mesmos intuitos, assim entende-se o uso desta base
metodológica, pois a autora tem uma série de trabalho na área que justifica a
utilização deste método.
A história de vida é percebida como método qualitativo por
excelência, ao qual se permite que as qualidades e limitações da construção das
narrativas venham recorrer às memórias e atribuir uma dimensão humana com o
intuito da compreensão dos fenômenos sociais, proporcionando ao atleta refletir
os fatos e eventos que vivenciou e vivencia (RUBIO 2001, 2004a, 2014;
HOLANDA 2009). Faz-se necessário um conjunto de procedimentos éticos para o
recolhimento e utilização do depoimento, o atleta que será o narrador precisa
concordar com a realização da entrevista e o entrevistador precisa realizar a
devolutiva desta ao protagonista do esporte.
Os registros audiovisuais fazem parte da entrevista, bem como o
domínio do material, essencial à compreensão da narrativa, deverá passar pela
19
transcrição e posterior análise.
Entende-se que a história oral é um processo de construção
narrativa na qual o atleta prioriza os eventos e experiências que lhe são
marcantes e que estabelecem significado a sua trajetória esportiva e de vida.
As narrativas são usadas para discutir as dimensões e propriedades
das historias, sequências, falas estruturas, categorias, incluindo uma história em
particular (SAMANIEGO, DEVIS-DEVIS, SMITH, SPARKERS, 2011). A entrevista
é a cooperação estabelecida entre pesquisador e sujeito, sendo o último o ator
que abre suas memórias, ao refletir sobre quem foi e quem é (QUEIROZ, 1998,
RUBIO, 2001). Cabe ao pesquisador ser ouvinte das possibilidades de revelações
dos fatos vivenciados dentro do cenário esportivo por meio das emoções e
identificações ao remontar as memórias.
A história oral caracteriza-se como método independente de
concepções, não há verdades absolutas, mas a impressão do sujeito em relação
a um acontecimento (MEIHY & HOLANDA, 2007). Quem narra nem sempre
recorre aos recursos cronológicos embora não exclua essas estruturas dialéticas
e use os recursos internos e externos disponíveis na construção da sua
rememoração transitando entre o presente e passado, ao buscar na memória
coletiva elementos para construir uma memória individual (HALBWACHS, 2006).
Assim, entende-se que o pesquisador se faz essencial, por ser de suma
importância os estímulos adequados para emergir as memórias significativas.
É importante salientar que os caminhos trilhados pela história oral
dialogam com a realidade criada pelo indivíduo; a narrativa é edificada com a
intenção de compreender as ideias, impressões, fantasias, a ausência de
cronologia e o desejo de fazer da própria história uma experiência repleta de
20
significados (RUBIO 2001). Portanto, o pesquisador tem que buscar referencial
teórico e experiências a fim de contemplar os significados que querem ser
compreendidos, levando em conta não apenas o que é dito, mas o que também
vem a ser silenciado.
Para Pollak (1989), o silêncio é o elo da memória e do
esquecimento, ou ainda, da angústia não verbalizada, da incompreensão entre
outras situações que liberam diferentes formas de emoções, por meio da própria
verbalização a experiência atribui significados a determinadas memórias. É
complexo determinar as razões dos silêncios por estar vinculado ao processo
árduo que o atleta vivencia no cotidiano esportivo, por isso, são elementos de
difícil percepção; sem se esquecer da integridade e questões éticas que devem
ser preservadas por parte do pesquisador com o narrador. O silêncio só virá a
público ao encontrar quem o ouça, como também o ambiente e momento
propícios que permitam sua consolidação.
4.2 Memória
O trabalho de resgate de memória é antes de tudo um trabalho
humano, uma vez que o atleta busca sobreviver representando outros papéis
sociais, por experimentar o esquecimento e a solidão; e em seu discurso
manifestar a pluralidade e a diversidade deste importante fenômeno cultural.
Por acreditar que as fontes e os documentos oficiais não são
elementos suficientes para que se tenha dimensão dos fenômenos humanos,
sejam eles quais forem, recorre-se ao relato de histórias de vida de alguns atletas
e com essas narrativas, pretende-se contemplar a subjetividade própria, sendo
esta o lugar onde são apresentados para o sujeito os sonhos, os afetos e as
21
instituições. Enfim, histórias de vida, situadas em um âmbito inalcançável pela
documentação oficial, mas nem por isso menos importante, como é apresentado
em estudos de Bossi (1994).
A memória trabalha com fatos registrados, na maioria das vezes,
não obedecem à ordem cronológica ditada pelo calendário, e sim, a importância
atribuída aos episódios que tem grande representação significativa para o sujeito.
Para tal afirmação Bossi (2003) diz que
A maioria dos sujeitos opera com grande liberdade escolhendo acontecimentos no espaço e no tempo, não arbitrariamente, mas porque se relacionam por meio de índices comuns, tornando – se mais intensas quando sobre elas incide o brilho de um significado coletivo (p.31).
Toda memória pessoal também é social e, por isso, ao recuperá–la é
possível captar os modos de ser do indivíduo e de sua cultura (BOSSI, 1994).
Chauí (1994) enfatiza que ao descrever a substância social da memória,
evidencia-se que o modo de lembrar é individual tanto quanto social. O grupo
transmite, retém e reforça as lembranças; o sujeito faz com que fique o que
signifique.
A história de vida é a busca pelas experiências e interpretações do
sujeito sobre o mundo que o cerca, podendo ainda ser complementada por outras
fontes.
Assim Rubio, (2006) afirma que:
Ao se reconhecer como sujeito produtor e reprodutor de significados, o indivíduo esta participando da história, e refletindo sobre a sua participação na história pessoal e social. Essa atitude reflexiva permite a re-experimentação de situações passadas não apenas do ponto de vista do desenrolar dos fatos, mas pela re-significação de episódios marcantes para o narrador, que se permite inverter (ou subverter) a narrativa obedecendo a uma cronologia própria da afetividade implicada no evento ocorrido, dando ao seu texto um contexto (p. 26).
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Meyer (1998) encontra a origem e o fio condutor dessas
representações com a finalidade de compreender ou descobrir as razões ocultas
do processo. Por meio da memória, o sujeito busca elaborar uma narrativa a fim
de pontuar os elementos que são significativos para compreensão de um
determinado fenômeno ao valorizar ou omitir fatos, protagonizando, assim, um
processo de reflexão.
4.3 Procedimentos de Entrevista
A coleta das narrativas biográficas constitui-se de uma entrevista
semiestruturada por ser norteada pelos pilares da matriz de análise. A entrevista
começa ao solicitar que o atleta conte sua história, escolhendo livremente o fio
condutor que irá acessar suas memórias e como conduzirá sua narrativa. A partir
dessa indagação é que determina o tempo de entrevista.
O entrevistador precisa sensibilizar sua escuta. Pois é o atleta que
conduz a entrevista e expressando o seu interesse em apresentar uma narrativa
minuciosa ou não, como também depende do estilo que o entrevistador adere,
interage e conduz as intervenções ao fazer uso das questões auxiliares. Assim,
objetiva-se que por intermédio das intervenções pautadas nas questões
auxiliares, permita-se o aprofundamento dos temas desenvolvidos pelo
entrevistador, ou até fazer emergir episódios que não apareceram na narrativa.
Conforme ilustração da matriz de análise (tabela 1), é possível vislumbrar uma
possível estrutura de entrevista de história de vida de atleta paralímpico brasileiro
estabelecendo um olhar reflexivo sobre a percepção do atleta como participante
ativo da construção dessa narrativa mediante utilização de questões auxiliares.
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Tabela 1: Adaptação da Matriz de análises considerando as representações de um processo de
construção da narrativa biográfica (FERREIRA JUNIOR, 2014)
Considerando a matriz de análise, atribui-se às questões auxiliares
os pilares de sustentação das trajetórias de vida e esportivas por envolverem as
informações demográficas e as informações do processo de aceitação da
deficiência; como as experiências ao longo da trajetória esportiva, por meio da
compreensão da iniciação esportiva, as experiência mais significativas, a
participação na seleção e os jogos paralímpicos, com os quais permitem
estabelecer de forma concreta um princípio para o desenrolar narrativo.
Em algumas vezes, a solicitação – “conte-me sua história de vida” –
é satisfatória para que o atleta explore e elabore a própria história, evidenciando
que as questões auxiliares não se fazem necessárias na condução da entrevista.
Ao narrar a própria trajetória, o atleta nos oferece mais que significados, uma
forma particular de perceber o fenômeno como é ou o que foi como atleta. A
24
questão do significado sobre o esporte paralímpico está imersa em dois dos
pilares de apoio da narrativa do atleta, convidando-o a refletir sobre os fatores que
ele considera significativo no esporte e os caminhos trilhados no processo de
contextualização dessa percepção sobre o significado que o esporte tem para ele
mesmo.
É importante salientar que as entrevistas são gravadas, com recurso
audiovisual e, só após a apresentação do tema “conte-me sua história de vida”, é
que se inicia o tempo útil da entrevista.
4.3.1 Narrativas
É notável como os seres humanos organizam as suas experiências
e memórias em forma de narrativas tais como, histórias, desculpas, mitos,
metáforas, entre outras, assim interagimos socialmente com o meio, de modo
que, a narrativa emerge como primeira forma da qual a atribuímos significado
(BRUNER, 2004).
Considerando a singularidade da narrativa enquanto possibilidade
para atribuir significado, encontramos trabalhos de R. Atkinson, (1998); Bruner,
(2004); Denzin, (1989); Gubrium & Holstein, (1998); Josselson,( 2006); Denzin,
(1989); que referem a essa metodologia como forma privilegiada na comunicação,
a fim de permitir aos atores sociais atribuírem significado à sua vida e ao mundo
que os rodeia.
Na área da Psicologia os estudos de Bandeira, (2012); Carless &
Sparkes, (2008); B. Smith & Sparkes, (2006, 2009a, 2009b), que abordam
diferentes temáticas, enfatizando que o esporte seja um meio para fomentar os
valores olímpicos e crenças. A narrativa tem muito para oferecer nas
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investigações (ARMOUR & CHEN, 2012).
É essencial o uso das narrativas, por proporcionar a compreensão
das experiências de atletas e treinadores, como o conhecimento sobre o próprio
contexto da prática esportiva, por construir e reconstruir o modo como vemos o
mundo e de interagir com ele em episódios temporais (RICHARDSON, 2001).
A narrativa revela-nos uma história situada em um tempo e contexto,
que ajuda a compreender os significados atribuídos de forma profunda (B.
ROBERTS, 2002).
Considerando que é por meio da narrativa que o sujeito organiza a
sua experiência de forma cronológica ou não, percorrendo o passado, presente e
futuro da carreira do atleta, salientando que o espaço é essencial na atribuição de
significado à narrativa, por estabelecer vínculos com episódios e vivências
marcantes para o atleta, situando-os no contexto específico em que foram vividos.
4.3.2 Participantes
Com o intuito de orientar os critérios de inclusão e exclusão dos
participantes que compõe a amostra desse estudo, buscou-se contato com o
atleta, sem a preocupação com o número de narrador (MEIHY e HOLANDA,
2010).
4.3.2.1 Definição dos Colaboradores: Comunidade de Destino
Para a constituição deste grupo definimos como critérios de inclusão: ser
atleta de judô, ter participação em Jogos Paralímpicos, estar ativo na prática da
modalidade e ser deficiente visual. Para proceder aos critérios de definição do
grupo de estudo, foi solicitada ao Comitê Paralímpico Brasileiro a lista de todos os
26
atletas que integraram os Jogos Paralímpicos.
Obteve-se um total de dezoito atletas deficientes visuais que participaram
das diversas edições dos Jogos Paralímpicos, na modalidade de judô. Desses,
somente 5 atenderam aos critérios de inclusão. Assim, o sujeito que compõe a
amostra do estudo será 1 atleta, considerando aquele que tem maior participação
em Jogos Paralímpicos e maior número de medalhas conquistadas nos últimos
vinte anos, por considerar que há uma vasta carreira na prática esportiva da
modalidade judô e sua narrativa seja rica no que tange os objetivos da pesquisa.
O atleta foi convidado e informado do estudo por meio de contato
telefônico. As entrevistas foram agendadas de acordo com a disponibilidade do
atleta e local escolhido por ele, para que se sinta à vontade em falar da sua
história de vida, questões demográficas e das questões do roteiro que estão
vinculadas aos pilares que compõem a matriz de análise.
4.4 Plano de Análise dos Dados
A análise de dados foi realizada de forma qualitativa, de acordo com
os critérios de Rubio (2001). Pauta-se a escolha pela interpretação da cultura
apresentada por Geertz (1998), que dialoga entre a hermenêutica e a dialética, ao
valorizar a compreensão das estruturas, dentro da base social e material além da
interpretação e reinterpretação dos atores sociais, no caso desta pesquisa, o
atleta paralímpico que interage em determinado espaço e tempo por meio da
contextualização.
Considerando a interpretação de significados, Gadamer (1992) e
Habermas (1987) contribuem ao se referirem à hermenêutica e à dialética. Este
27
reconhece a importância da hermenêutica, mas discorre sobre a importância na
articulação da dialética por caminhar no desvendamento do significado que
propomos interpretar, considerando as contradições de significado e sua relação
com o contexto. Já aquele percebe a importância dessa relação para chegar à
conclusão e buscar esclarecer as condições sob as quais surge a fala do sujeito.
Assim, Rubio (2001) diferencia-se da análise de discurso de Bardin no que se
refere à interpretação e análise das histórias de vida, por este optar pela
separação do material ao elaborar categorias e pautar-se no conceito de
inferência, e não na dialética e hermenêutica. Além disso, as frases de narração,
de forma ilustrativa, foram analisadas de acordo com os dois principais blocos da
matriz de análise a saber: trajetória de vida e trajetória no esporte. Como forma de
ilustração apresenta-se os relatos textuais do sujeito em forma de verbetes na
dissertação.
Para seleção dos trechos, buscou-se a lógica interna dos relatos e
das observações, além de situá-los no contexto; retirou-se os trechos inerentes e
significativos em relação aos objetivos desse trabalho, com base nos elementos
da Hermenêutica, ou seja, a compreensão do fenômeno por meio da
interpretação das partes a fim de compreender o todo e vice-versa, pois as
palavras não têm sentidos fixos, por estabelecer relações e inter-relações que
constituem o nosso mundo, a fim de construir ou reconstruir o mundo de quem
narra, produzindo um relato dos fatos em que o atleta nele se reconheça.
Os dados coletados estão inseridos na revisão de literatura para dar
consistência prática e dinâmica ao texto. Desta maneira, a fala do atleta
fortalecerá os diálogos mantidos com os autores conceituais, exemplificando as
citações bibliográficas.
28
No anexo localizado ao final do trabalho, encontra-se roteiro de
entrevista semiestruturada com o intuito de auxiliar as entrevistas quando
necessário.
No próximo capítulo, apresenta-se a revisão de literatura, por meio
da qual será explicado o esporte de alto rendimento, o movimento paralímpico e
suas implicações frente ao judô paralímpico brasileiro, com o intuído de subsidiar
a rede de significado que é atribuída ao esporte paralímpico pelo atleta de judô.
29
5. REVISÃO DE LITERATURA
5.1. Esporte de Alto Rendimento - Profissionalismo
O modo como tratamos o esporte no Brasil o referencia como
profissional. O esporte de alto rendimento é pautado na comparação direta e
análise objetiva de performances por meio da valorização de resultado. Dessa
maneira, as características voltam-se para um melhor desempenho atlético e
competitivo, exigindo grande dedicação dos praticantes em condições estruturais
e materiais de treinamento, para que haja um ambiente profissional de alto
rendimento (MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008).
É dessa forma que se percebe o profissionalismo como algo inerente
ao esporte de alto rendimento, sobretudo por possibilitar e exigir uma dedicação
integral do atleta ao esporte. Assim, sua especialização e o financiamento de toda
a estrutura para a realização e aprimoramento do espetáculo esportivo, exige que
se tenha um pessoal técnico, capaz de organizar o treinamento e a manutenção
do capital físico (MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008).
Tem-se, por exemplo, as equipes de futebol americano, ou até
mesmo o futebol brasileiro, nas quais os indivíduos que compõem o staff e a
comissão técnica excedem o número de jogadores e serve, quase sempre, de
apoio publicitário a uma indústria de equipamentos e de acessórios esportivos
(BOURDIEU, 1983b).
O profissionalismo, logo, não deve ser visto como uma característica
negativa do esporte, pois o crescimento, a divulgação do esporte advém das
conquistas desse fenômeno no passado que se faz presente nos dias atuais.
Além disso, é notável que tal situação ainda preserve os valores morais diferente
30
da ética, que permeia o cenário esportivo.
Em sua obra, Bourdieu (1983) afirma que existe uma forte relação
entre a modalidade esportiva praticada e a classe social dos praticantes, tendo
essa diferente significado social.
Assim para Bourdieu (1983b), as classes sociais impostas pela
sociedade possuem expectativas diferentes quanto à prática esportiva, o que vem
a explicar a familiarização do atleta com esportes que valorizem sua classe social
ou proporcionem a ascensão, por meio de uma vida esportiva. Dessa forma,
pode-se dizer que a prática esportiva está relacionada às condições
socioeconômicas, capital, cultural e tempo livre. Portanto, é evidente que o
esporte proporciona a pessoas maiores ou menores possibilidades de acesso a
práticas esportivas, pois a condição de vida e o poder aquisitivo determinam o
acesso a estas práticas (MARQUES, 2007).
É importante esclarecer que esta é uma situação vivenciada na
realidade brasileira, onde pouco fomenta-se a prática esportiva de alto
rendimento. Para o autor as classes sociais menos favorecidas buscam
modalidades que valorizem a força, virilidade e que não precise de materiais de
custo alto, enquanto as classes de maior ascensão social praticam modalidades
ligadas à preservação de integridade física.
Sabemos não existir hoje um sentido único para o esporte, sendo que convém perceber qual o essencial. Velhos, novos, mulheres e crianças, de todas as condições, para todos o esporte só pode ter um significado – o da realização humana (MARQUES, 2000, p. 10).
Para Bento (2004), o esporte existe no plural, para satisfazer a
clientela, modelos, cenários, modalidades, sentidos e significados, porém é
singular e intrínseco à prática de cada indivíduo.
31
O fenômeno esportivo é modificado, re-significado ou criado para
contemplar os envolvidos que constantemente buscam a superação e
compreensão daqueles que orientam os padrões de normalidade para serem
aceitos por meio de ações articuladas e adaptar a pessoa com deficiência à
sociedade e vice-versa (DUARTE& SANTOS, 2003 e PACIOREK, 2004 ).
5.2 O Histórico do Esporte Paralímpico
Os Jogos Paralímpicos surgem como uma versão dos Jogos
Olímpicos para o esporte adaptado, após a 2° Guerra Mundial, e este é visto
como marco histórico disseminador do esporte adaptado, já que muitos militares
retornavam a suas nações mutilados ou com graves sequelas adquiridas em
combate. Assim, o movimento paralímpico é visto como um processo de
reabilitação na história (PEERS, 2012).
Ludwig Guttmann, neurocirurgião alemão, iniciou um trabalho de
reabilitação médica e social com os militares por meio de praticas esportivas, no
Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville, Inglaterra,
fundado em 1944 pelo próprio cirurgião (COMITÊ ORGANIZADOR DOS JOGOS
PARAPANAMERICANOS, 2007).
Contradizendo à maioria das informações vinculadas ao movimento
paralímpico, Peers (2012), contribui ao dizer em sua revisão de literatura que o
movimento paralímpico surge como alternativa de emergência no pós-guerra, por
meio de novos hospitais em concomitante com o precursor Stoke Mandeville,
valorizando a reprodução da incapacidade biomédica de seus pacientes, mas
também ao reproduzir sua própria autoridade como médico para agir de acordo
com as entidades perpetuando o estigma do “vale a pena viver como cidadãos
32
úteis e respeitáveis”.
No entanto, não se deve esquecer o trabalho desenvolvido por
Guttmann no Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville, ao
criar a organização da primeira competição para atletas em cadeiras de rodas, em
29 de julho de 1948 – data esta em que ocorria a abertura dos Jogos Olímpicos
de Londres, a “Stoke Mandeville Games” (SENATORE, 2006).
A competição contou com a participação de 16 atletas paraplégicos
(14 homens e duas mulheres), disputando as modalidades de arco e flecha
(LANDRY, 1995). Em 1952, ex-soldados holandeses juntamente com os ingleses
participam dos Jogos de Stoke Mandeville, e fundaram a ISMGF - International
Stoke Mandeville Games Federation - Federação Internacional dos Jogos de
Stoke Mandeville, assim iniciando o movimento esportivo internacional que vem a
ser a base para a criação do que hoje é conhecido como esporte paralímpico
(SENATORE, 2006).
Em 1960, as competições, que antes ocorriam apenas em Stoke
Mandeville, ganham espaço no cenário mundial e acontecem pela primeira vez
fora do território inglês, na Itália, em Roma, logo após a edição dos Jogos
Olímpicos, fazendo uso dos mesmos espaços esportivos. Esta edição contou com
a participação de 400 atletas de 23 países. Desde então, os jogos passaram a
acontecer de quatro em quatro anos e a participação era apenas de atletas com
lesão medular até 1976. Nos jogos de Toronto, Canadá, agregou–se a
participação dos atletas cegos e amputados, e a partir de 1980, em Arnhem, na
Holanda, passou a contar também com a participação paralisados cerebrais.
Ressalta-se que os Jogos Paralímpicos sempre foram realizados no
mesmo ano dos Jogos Olímpicos, porém em diferentes lugares até que em 1988,
33
em Seul, Coréia do Sul, isso acontece de forma definitiva já que passa a ser um
critério do comitê organizador dos jogos Olímpicos e Paralímpicos para qualquer
cidade candidatar-se como sede de um dos maiores eventos esportivos, evitando
transtornos ou cancelamento do evento, devido a não acessibilidade ou ainda o
interesse em receber apenas os jogos Olímpicos.
Portanto, os Jogos Paralímpicos, que começaram como um evento
com raiz em fins terapêuticos e sociais passa a ser o evento esportivo mais
importante para as pessoas com deficiência em âmbito mundial.
Embora explicitamente construído sobre a ideia de reintegração da
pessoa com deficiência na sociedade, o movimento paralímpico serviu para
reproduzir a deficiência com discurso e práticas que diferenciam ainda mais o
indivíduo com deficiência do normal, reproduzindo o discurso nacionalista e
capitalista com base numa produtividade econômica, independência como pessoa
política e física. Assim, é colocado em prática não apenas o esporte adaptado
como lazer e sim uma prática regular projetada para levar à reabilitação e
independência (PEERS, 2012).
A nomenclatura “paraolímpico” era a denominação dada aos jogos
em seu início, derivado da preposição grega “para”, que refere-se “ao lado
paralelo” e a palavra “olímpico”, que se relaciona aos Jogos Olímpicos. Dessa
forma, a junção do prefixo “para” e da palavra “olímpico” desde 1960, consolida a
combinação de paraplégico e olímpico, e veio sofrer modificação na edição dos
Jogos Paralímpico de Londres ao agregar uma nomenclatura que abrange as
diversas deficiências contempladas por este evento esportivo (SENATORE,
2006).
Desde então, o símbolo Paralímpico traz consigo um novo lema:
34
“Espírito em movimento”. A ideia deste lema é: Sempre em movimento, seguindo
adiante, nunca desistindo. O lema Paralímpico tem como objetivo impulsionar o
atleta a ultrapassar os próprios limites, ressalta-se que o movimento paralímpico
bem como os atletas que dão magnitude a este movimento está além destes
ideais, por proporcionar alterações ao cotidiano dos pares.
5.2.1 Divergências do Movimento e Paralímpico
As paralimpíadas tem sua origem no esporte moderno e no esporte
adaptado com a gênese pautada na reabilitação e inclusão, assim diferencia-se
do movimento olímpico por ter em sua cerne a transmissão de valores morais e o
controle da sociedade perante aos movimentos sociais do século XX.
(MARQUES; DUARTE; GUTIERREZ; ALMEIDA e MIRANDA, 2009).
Há de se considerar as similaridades do esporte olímpico e
paralímpico, já que o esporte paralímpico surge em concomitante com a busca do
esporte olímpico, em firmar sua importância cultural e político no mundo. Não que
isto tenha sido um processo natural por enaltecer a deficiência por meio do
diagnóstico médico, esquecendo a deficiência social, arquitetônica e de
estereótipos (PEERS, 2012).
O esporte adaptado tem pautado em sua essência nas construções
e aceitação social de modo a valorizar as características atribuídas ao fenômeno
contemporâneo e cada vez tem a comercialização de seus símbolos e produtos,
adotando o modelo competitivo hegemônico representado pelo consumismo que
ganha espaço nas competições pela imposição de critérios para sediar os Jogos.
O movimento paralímpico está vinculado ao “fair play” e busca a
melhora de performances, autocontrole, rejeição à discriminação, promoção do
35
respeito mútuo, cooperação e paz entre as nações. Desse modo, estima-se que
tais atitudes devam imperar durante os jogos e até mesmo apropriar-se desses
conceitos para o convívio em sociedade. Assim, o movimento paralímpico está
vinculado ao movimento olímpico, cujo lema empregado por Pierre de Coubertin é
Citius, Altius, Fortius, que vem comparar o atleta olímpico a um herói, em alguns
casos a Deuses da mitologia por conquistas muitas vezes consideradas
humanamente impossível (MARQUES; DUARTE; GUTIERREZ; ALMEIDA e
MIRANDA, 2009).
É importante destacar que o movimento paralímpico é percebido
como uma alternativa para a recuperação e reabilitação e se estruturou de forma
a atender a demanda e não como um diferenciador social, mas sim como um
movimento de luta pela inclusão social por meio da prática esportiva. Já o
movimento olímpico recebe estímulos da sociedade relacionados à luta de
classes, impulsionado pela era industrial e pela busca de racionalização das
práticas.
Hardin (2007), contribui ao dizer que o esporte institucionalizado
serve também para reforçar as ideologias sexista, e ainda poucas críticas
tangenciais são percebidas ao esporte adaptado de elite, por estabelecer
relações de poder nas quais participam e reproduzem o discurso capitalista.
As diferenças sócio históricas que norteiam os movimentos estão na
incorporação de características integrais do esporte contemporâneo pelo esporte
olímpico, por se manifestar de forma heterogênea e manter seu principal objetivo
na disputa de alto rendimento e a busca do lucro, o que no esporte paralímpico
ocorre por meio de manifestação, pois tanto o profissionalismo e a exploração
comercial se encontram em fase inicial, embora o esporte adaptado seja um
36
aspirante fenômeno comerciável (MARQUES; DUARTE; GUTIERREZ; ALMEIDA
e MIRANDA, 2009).
Já é possível perceber que o movimento paralímpico tem se
distanciado da perspectiva de recuperação e reabilitação e cada vez mais se
aproxima da prática competitiva, num crescimento notável do alto rendimento
adaptado, pois o doping já se faz presente no esporte paralímpico, que pode ser
interpretado como um sinal de que a preocupação e as recompensas pela vitória
passam a ser, para muitos, o ponto central da prática (MARQUES; DUARTE;
GUTIERREZ; ALMEIDA e MIRANDA, 2009).
O surgimento do discurso da equidade é notável no movimento
Paralímpico, porque representa uma ideia lógica que é o grande ausente no
campo discursivo da reabilitação (PEERS, 2012). No entanto, em pleno século
XXI a equidade é percebida apenas no discurso haja vista que a sociedade
valoriza e acentua as formas de competição sejam sociais ou esportivas, que vem
a ser vistas como problemas quando enaltecidas de forma exacerbada.
5.2.2 Movimento Paralímpico Brasileiro
O movimento internacional conhecido como "Jogos Paralímpicos"
origina-se na década 70. Desde então, o número de atletas participantes tem
aumentado a cada edição das Paralimpíadas e isso é considerado uma conquista
para o segmento, demonstrando ao mundo o potencial dos deficientes.
(STEFANE, MATARUNA E SILVA, 2005).
A estrutura do esporte paralímpico brasileiro é semelhante à dos
esportes olímpicos, a diferença estabelece-se devido aos atletas serem
agrupados em função de suas deficiências e não por modalidades.
37
A história do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) é recente, mas
repleta de conquistas: surge em 1995, com o intuito de unificar Associação
Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), Associação Brasileira de Voleibol
Paralímpico (ABVP), Associação Brasileira de Desportos para Cadeirantes
(ABRADECAR), Associação Brasileira de Desportos para Deficientes Mentais
(ABDEM), Associação Brasileira de Desportos para Deficientes (ANDE),
Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas (CBBC),
Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e Federação Brasileira de Vela e Motor
(FBVM), entre outras (VITAL ET AL, 2007).
Desde esta união, percebeu-se um notável crescimento nas
participações paralimpíadas, com 76 medalhas no total, conquistando o 37º lugar
em Atlanta, com duas medalhas de ouro, seis de prata e 13 de bronze; em
Sydney, foram seis de ouro, 10 de prata e seis de bronze, consagrando a
delegação o 24º lugar; nos Jogos de Atenas, 14º lugar com 14 medalhas de ouro,
12 de prata e sete de bronze, o que evidencia os grandes feitos desses atletas e
estes resultados vem estimular maior participação dos portadores de deficiências
em programas esportivos (VITAL ET AL, 2007).
É de suma importância ressaltar que o comitê paralímpico brasileiro,
desde a sua origem, estabelece com as universidades uma parceria, com o
intuito de valorizar o comprometimento da pesquisa científica e do trabalho prático
nos esportes paralímpicos, possibilitando criar um espaço para reflexão e troca
de experiências entre pesquisadores e profissionais sobre o fenômeno esporte
paralímpico nas suas diferentes dimensões e aplicações no campo do
treinamento, classificação funcional e da prática de atividades físicas para
pessoas com deficiência, o que vem a fazer toda diferença para o crescimento e
38
estruturação do comitê paralímpico brasileiro e do esporte paralímpico como
conhecemos hoje.
5.3 Esporte de Alto rendimento e a Deficiência Visual
Os Jogos Paralímpicos têm desempenhado um papel importante na
mudança de atitudes ao promover o conceito de um ambiente livre de barreira e,
assim, o esporte adaptado deixa de ser um mero lazer e passa ser percebido por
contribuir com o desenvolvimento social.
Para Guaragna, Pick, e Valentini (2005) e Rechineli et al. (2008), o
desenvolvimento social origina-se na prática esportiva, por contribuir em
desenvolver as habilidades de comunicação e proporcionar oportunidades para o
indivíduo deficiente valorizar as suas ações, reforçando as vivencias positivas e a
autonomia (DEPAUW & GAVRON, 2005).
A deficiência para Ferreira (2007), acontece de duas formas
distintas: o estruturalismo funcional, em que o sujeito é percebido como passivo
na transmissão de significados acerca da deficiência, das suas crenças e de seus
valores; e o estruturalismo simbólico, em que o indivíduo com deficiência é
percebido como sujeito ativo na construção da sua própria vida e em particular,
nos contextos em que constrói significados e a sua noção do “eu”.
Franco (2001) expõe que o processo de reabilitação de um
deficiente visual está atrelado a uma reorganização total do seu cotidiano, diante
da perda deste sentido, o que implica na readaptação física, psicológica, social e
profissional como um todo, vivenciando um processo de revolta, ansiedade,
angústia e negação da deficiência atribuindo importância à prática esportiva no
39
período de reabilitação, por caracterizar atividades grupais a fim de melhorar a
autoestima.
5.3.1 Deficiência Visual no Judô Paralímpico
Foi em 1882 que o judô teve sua origem oficial em competições com
a padronização de normas a fim de facilitar seu aprendizado e o estabelecimento
de regras para um confronto esportivo, este feito deu-se com os ensinamentos de
Jigoro Kano, mais conhecido como o pai do judô.
Esta arte marcial caracteriza-se pelas técnicas e bases filosóficas,
que contribuem com a formação integral do indivíduo. Esta é uma das
modalidades que apresenta grande adesão, devido à popularização no período
das conquistas olímpicas dos atletas Aurélio Miguel e Rogério Sampaio, bem
como pelas decorrentes divulgações da mídia (HUSSAIN e PENDSE, 2012).
O judô Paralímpico brasileiro conquistou sua primeira medalha em
1988 com os atletas Jaime de Oliveira na categoria até 60 kg, Júlio Silva na
categoria até 65 kg e Leonel Cunha Filho na categoria acima de 95 kg, atribuindo
ao judô 18 medalhas e a Antônio Tenório da Silva que tem o título de maior
medalhista com cinco medalhas. No judô, os atletas são classificados em
categorias de acordo com o peso e também em três classes, de acordo com o
grau da deficiência visual. Todas começam com a letra B (blind,): B1, B2 e B3
(CPB, 2014).
O judô é um dos esportes mais praticados pelos deficientes visuais
por desenvolver um senso de orientação espacial, sensibilidade auditiva,
sensibilidade ao toque e sensibilidade muscular, o que compensa a ausência de
visão.
40
A deficiência visual aguça o sentido do tato na prática da
modalidade, o que faz necessário que as regras estejam relacionadas com a
segurança dos competidores. A aprendizagem da modalidade tende desenvolver
um controle completo do corpo e uma mente afiada que age coordenadamente
com o corpo (HUSSAIN E PENDSE, 2012).
O processo de ensino acontece de modo progressivo e adaptado à
capacidade de um indivíduo ao contribuir para ultrapassar as dificuldades que
uma pessoa com deficiência visual enfrenta.
5.4 Significado do Esporte
Não se conceitua o significado do esporte pelo esporte, pois ele está
vinculado a valores próprios do esporte que ligam as pessoas a ele (BENTO,
2004b). Isto é, o esporte não se expressa por si só, mas de acordo com o
significado que lhe é dado, pois qualquer ação esportiva tem de ser adequada a
seu ambiente, significado e modalidade.
O significado do esporte passa pelo “o que está em jogo”, elemento
relacionado a interesses materiais, prestígio pessoal e de grupo, e que dá
significado à cultura esportiva (STIGGER; SILVA, 2004). A competição é algo
característico a esse universo (PAES, 2001), e o “valor” atribuído ao jogo está
submetido ao papel que se dá à competição.
A modalidade escolhida evidencia sua importância significativa na
rede de apoio para seu envolvimento com a prática da modalidade. Assim,
alicerça as significações do atleta sobre o jogar em sua existência, e o significado
atribuído ao esporte aparece de forma singular na relação atleta-esporte que
norteia a condição de lugar para viver, ser, sentir e significar.
41
Dessa forma, entende-se que toda prática esportiva expressa uma
forma de manifestação do esporte, que é concebida na inter-relação de um
significado que está pautado na razão de transmitir valores estabelecidos pela
modalidade, legitimando e justificando-se por mostrar contribuições no papel de
formação do indivíduo, isto ocorre devido a interpretação única e singular dos
praticantes, e das influências socioculturais de determinado contexto social
(BORDIEU,1990).
O significado do termo esporte é amplo, em consequência das inter-
relações existentes entre diversos aspectos das ações humanas, das quais
Reverdito, Scaglia e Paes (2013) destacam o esporte como fonte decisiva de
sentido na vida das pessoas, as inter-relações estabelecidas podem ser
observadas nas diversas esferas da prática do esporte, abrangendo as diferentes
dimensões nas atividades humanas.
Para Guareschi, Medeiros e Bruschi (2003), são os variados
sistemas de significados que constituem as culturas e que dão sentido às ações
humanas. Para tanto, encontramos no contexto esportivo seu próprio universo de
significado e práticas.
Para Melhem (2012), é importante entender o ser atleta por meio
das relações estabelecidas com os significados próprios do esporte, pois um
mesmo processo desencadeia diferentes relações, visto que na infância a prática
esportiva tem sua essência, vinculada às descobertas e desafios; na
adolescência, ela apresenta um caráter de responsabilidade e exigências; já no
alto rendimento, o esporte e ser atleta torna-se mais evidente no mundo pela
ascensão social.
Pensando nessas representações do esporte por meio das fases da
42
vida, essas práticas conciliam aspectos que podemos denominar de ambíguos,
mas que se potencializam mutuamente, ressaltando valores característicos do
esporte, sempre buscando a realização do homem que carrega em si, a
necessidade de se emocionar, superar, jogar, brincar e comunicar. (BENTO,
2013).
A disciplina, o espetáculo e o heroísmo são condições essenciais
aos feitos sobre-humanos que também ganham destaque na imagem dos atletas
de alto rendimento (RUBIO, 2001).
Lurie (2006) fala sobre a relação entre as características dos atletas
e a busca da superação como pontos importantes estabelecido na relação atleta-
esporte. Permeado por tantas particularidades, espetáculos e demandas, o
contexto esportivo tem se tornado cada vez mais amplo, relacionando-se com
diversas áreas afins para contemplar suas necessidades.
Para Haines (1989), dificilmente encontraremos uma única definição
de para o termo esporte, pois os motivos que contribuem para as pessoas
permanecerem na prática esportiva são fatores particulares e as razões da
participação podem ser diversas. Já para Hussel (2001), o significado atribuído
parte da consciência, ou seja, o ato de significar é intencional.
Hobsbawm partilha a ideia de que o esporte moderno faz parte de
uma “invenção da tradição” que é repleta de significados e motivada pelo senso
de pertencimento, de identidade e etnia de quem inventa.
Ele, assim, define o conceito:
O termo ‘tradição inventada’ é utilizado num sentido amplo, mas nunca indefinido.Inclui tanto as ‘tradições’ realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e determinado de tempo [...] Por ‘tradição inventada’ entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais
43
práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente; uma continuidade em relação ao passado (HOBSBAWM & RANGER, 1984, p. 9).
Isso faz com que o esporte moderno na concepção de Hobsbawm
seja uma criação da classe média ou “nova burguesia” para manter a sociedade
ocupada no tempo livre. Hobsbawm (1992), traz ainda em seus estudos que o
esporte foi apropriado, de forma equivocada, pelas classes menos favorecidas ao
vislumbrarem uma possibilidade de ascensão (HOBSBAWM, 1992).
As formas simbólicas podem ser apropriadas diferentemente por
grupos de interesse, como, por exemplo, o futebol, que pode, por um lado, ser
uma brincadeira, para as crianças e adultos em seu momento de lazer e, por
outro, um ramo lucrativo de negócios para empresários, patrocinadores gerando
diferentes concepções que ficam explicitas nas diferenças culturais (COHEN,
1978).
O significado só é possível a partir da percepção humana que é
inexoravelmente corporal, o que vem a ser totalmente compreensível nas
contribuições de Merleau–Ponty (2006), pois a cultura é um contexto onde os
homens se movimentam, dando significado ao mundo vivido. Ela reside
justamente nas relações humanas e na significação de suas práticas, ela é social,
portanto pública.
Além de ser pública a cultura é dinâmica, no sentido da possibilidade
de sua constante transformação, a partir da ação humana.
Nas palavras de Durham (1977, p.34):
A cultura constitui o processo pelo qual os homens orientam e dão significado às suas ações através de uma manipulação simbólica que é atributo fundamental de toda prática humana. Nesse sentido, toda análise de fenômenos culturais é necessariamente análise da dinâmica cultural, isto é, do processo permanente de organização das representações na prática social, representações estas que são
44
simultaneamente condição e produto desta prática.
Vale ressaltar que quem dá significado à prática esportiva são os
sujeitos por evocar sentimentos, desta forma, o espaço físico e social são
culturalmente estruturados pelos sujeitos, por vivenciar nestes espaços, emoções
que permanecem vivas na memória coletiva apesar da ausência dos homens que
o fizeram, adquiriram um significado que transcende aos sujeitos, reafirmando
cotidianamente aos sujeitos uma racionalidade própria, independente dos
mesmos.
Para Durham (1977), a tentativa homogeneizante da Indústria
Cultural esbarra na característica heterogênea da cultura, que cada grupo
apreende e interpreta diferentemente os produtos desta indústria, criando novas
significações.
Os conteúdos transmitidos sofrem necessariamente uma seleção, reordenação ou mesmo transformação de significado apoiados nos padrões de representações locais (DURHAM, 1977 p.35).
O esporte é, nesse sentido, um exemplo paradigmático para se
compreender o exposto acima, pois seu caráter mundializado é incontestável, por
refletir a cultura local, haja vista que a maioria dos esportes conhecidos são
praticado nos cinco continente. Assim, possuem contextos, elementos e
significados particulares de cada região, nacionalidade que caracterizam sua
prática. Da mesma forma, apresentam estruturas de significados próprias e
também envolvem um mundo de significados exteriores ao que se designa ser do
campo estritamente esportivo.
45
5.4.1 Significado do Esporte Paralímpico
É na prática esportiva que grande parte dos atletas com deficiência
tem a primeira oportunidade de vivenciar e experimentar as possibilidades do seu
corpo, ao permitir conhecer seus limites e capacidades. O esporte é um agente
facilitador por modificar a atitude pessoal no que tange à deficiência, além de
transformar o olhar dos “outros”.
Trata-se de um fenômeno que exerce transmissão e renovação
cultural, pois deriva das características de seus praticantes e o esporte transmite
valores, e por isso interfere na formação humana ao demonstrar a capacidade de
fazer uma nova vida, novos significados após o trauma/lesão a experimentar
crescimento psicológico, físico e social (DAY, 2013).
Esses valores são diferenciados de acordo com o significado
atribuído à prática. Por exemplo, uma atividade que transmita segregação e
comparações objetivas se diferencia de outra que transmita inclusão e
autovalorização.
Ao assumir múltiplos significados, o esporte contribui com amplas
experiências. Nesse contexto, destaca-se não apenas para a importância que a
prática possui na vida deste sujeito, mas os benefícios conquistados por meio da
participação esportiva (WHEELER et al., 1996).
Esta possibilidade traz à tona o atleta competitivo, que é uma
condição desenvolvida desde o inicio na pratica esportiva, já que, como ressalta
Machado (1998), a competição é uma tendência humana a ser aprendida e que
se constitui, muitas vezes, numa causa apaixonante.
Considerando que os jogos paralímpicos constituem-se em um
evento que promove o reconhecimento por meio das conquistas e deixa em
46
segundo plano a deficiência (LE CLAIR, 2011; PURDUE & HOWE, 2012b), que é
reforçado por Wheeler et al., (1996), afirma-se o reconhecimento pelo “outro”
como uma pessoa “normal”, capaz de atingir grandes feitos como os atletas não
deficientes. Isso é uma conquista imensurável na carreira como atleta que
compõe o cenário Internacional.
Por meio de um percurso esportivo glorioso, deixa a deficiência em
segundo plano e passa a ser vista de modo positiva, transferindo essa percepção
para todo o seu corpo, tal como encontramos em estudos anteriores
(KAVANAGH, 2012; SOUSA, 2009; SOUSA ET AL., 2009; TAWSE, BLOOM,
SABISTON, & REID, 2012).
Para Wheeler et al. (1999) e Legg e Steadward (2011), há uma
transição no caminho percorrido pelo sujeito com deficiência transitando de
paciente a atleta e, cada vez mais, do atleta para o cidadão, passando a ser
reconhecido e aceito pela própria família e pelo meio social no qual está inserido.
Em decorrência das constantes lutas contra as perdas associadas à
deficiência, são capazes de aceitar suas limitações. Mais que isso: ganham
consciência do quanto podem avançar e o quanto são capazes de se adaptar e
assumir a responsabilidade de testar os limites da sua capacidade (DAY, 2013).
Ser atleta está carregado de significado, pois supera a prática do
esporte pelo esporte e apoia-se como um importante pilar de função social, a
identificação com a torcida, a valorização da moral e ética, o representar a nação,
a luta incessante pela vitória, pertencer a um importante clube, conquistar títulos é
obter um posto de trabalho muito almejado, porque proporcionam reconhecimento
e a aprovação, sentimentos esses importantes que influenciam na construção de
significado da prática esportiva (SGOBI, 2012).
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Para Day (2013), o esporte permite criar significados que são
reforçados pelo sucesso e recompensas significativas, assim os significados
importantes, que tanto podem ser estabelecidos, restabelecidos e reforçados ao
criar um feedback por meio do sucesso alcançado.
É característico do esporte aflorar em seus praticantes os valores da
perseverança, da dedicação, da valentia, da coragem, do rigor e disciplina, dentre
outros que vem a contribuir na aceitação da deficiência, deixando de lado a visão
de incapacidade, dando enfoque às potencialidades e testando-os ao limite no
esporte e na vida. (B. SMITH & SPARKES, 2004).
Assim, o esporte é visto como prova de superação por excelência,
principalmente pelas dificuldades e obstáculos que enfrentam no cotidiano; há
uma busca incansável em ser mais e melhor, não só no ambiente competitivo,
mas também no palco social (HUTZLER & BERGMAN, 2011b; PEERS, 2012b;
PURDUE & HOWE, 2012a).
Dessa forma,
ainda que se possa afirmar que todo o esporte contém determinados componentes que o caracterizam como tal, esta atividade é praticada por indivíduos que dão a cada um destes elementos um peso na constituição da sua prática esportiva particular (STIGGER, 2002, p. 250).
Isto é, com múltiplos valores e sentidos ao esporte associado pelos
seus adeptos, na construção e negociação de significado. Quaisquer que sejam
os significados que se procurem designar ao esporte, estes não brotam
espontaneamente devido à prática esportiva, como se fossem inerentes a ela,
mas por meio das relações sociais, dos vínculos oriundos do contexto em que o
esporte está enraizado, independente do contexto em que ele é praticado
(MARQUES; GUTIERREZ e ALMEIDA, 2008).
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Assim, pode-se dizer que a prática esportiva está carregada de
mensagens, conteúdos morais transmitindo valores e significados, portanto, são
experiências socializadoras, principalmente no que se refere a encarar os
compromissos, cumprir horário, as tarefas, as regras e até os próprios momentos
da rotina que, posteriormente, serão reproduzidos pelos indivíduos em outros
contextos da sua vida.
Levando em conta este tipo de expectativa, podemos afirmar que
não se trata apenas de pretender uma aprendizagem de valores, mas de
pretender gerar uma apropriação destes aprendizados aos princípios que
orientam e produzem as condutas, práticas e hábitos do indivíduo. Além disso,
não se interfere na cultura de determinado ambiente sem levar em conta o
significado deste espaço/tempo no lazer entre seus praticantes e sua articulação
com as relações de sociabilidade em que se encontra.
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6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA NARRATIVA
A partir da coleta de todos os dados, por meio da entrevista de
história de vida, deu-se início ao processo de análise e interpretação de dados. A
análise foi conduzida de acordo com os objetivos da pesquisa: 1. Compreender a
trajetória de vida e da deficiência por meio da história de vida; 2. Compreender a
trajetória no esporte, por meio da iniciação esportiva, participação na seleção
brasileira e participação em Jogos Paralímpicos e seus desdobramentos no
contexto esportivo. Em seguida, analisou-se separadamente como proposto por
Rubio (2001), o significado do judô paralímpico na percepção do atleta deficiente
visual de judô, bem como sua história de vida, confrontando-as com base nos
estudos de Smith & Sparkes (2004), Marques (2008), (2000), Bourdieu (1983),
Bento (2004b), Stigger; Silva (2004), Guareschi, Medeiros e Bruschi (2003),
Hussel (2001), Day (2013), Sérgio (2012), Stigger (2002) que embasam a
fundamentação teórica.
Após ter descrito a abordagem metodológica, o contexto da
pesquisa, os procedimentos e instrumentos de coleta, bem como os
procedimentos de análise e interpretação dos dados, a próxima etapa é
interpretar e discutir os resultados. Para tanto, os dados coletados gerou um
discurso que foi convertido em texto, propiciando uma análise consistente, que
tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre o significado do judô
paralímpico e os desdobramentos na prática esportiva.
6.1 Verbete – B1 conhecendo a superação e perseverança de um atleta
A.T.S., mais conhecido como T. quatro vezes medalhista de ouro
nas paralimpíadas, desde 1996 em Atlanta nos Estados Unidos, passando Sidnei
50
– Austrália em 2000, Atenas- Grécia 2004 e Pequim a China 2008, em Londres -
Inglaterra 2012, conquistou a medalha de bronze, e almeja mais uma medalha
nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro- Brasil em 2016.
Nasceu em 24 de Outubro de 1970. Desde então, vive em São
Bernardo do Campo na região metropolitana de São Paulo, está vinculado à
equipe de CESEC- SP, disputando diversas competições nacionais,
internacionais, regulares e especificamente para deficientes visuais.
Aos 13 anos, brincava com amigos, quando foi atingido por uma
semente de mamona, o que veio a provocar o descolamento de retina esquerda
em uma brincadeira com estilingue. Perdeu completamente a visão deste olho,
passando a ser monocular. Mais tarde aos 19 anos, em plena juventude
diagnosticou uma infecção na vista direita, perdendo a visão completa, então
“classificado” B1 por não enxergar tornando-se deficiente visual.
Entre seus principais títulos, encontra-se tetracampeão paraolímpico
no Judô para deficientes visuais, na edição de Pequim. Consagrou-se o único
atleta a obter quatro medalhas de ouro consecutivas no judô paraolímpico,
também é Campeão Mundial, título este conquistado em 2006 e acumula
inúmeros campeonatos brasileiros. Além das edições das paralimpíadas, tornou-
se campeão dos Jogos Parapan-Americanos do Rio de Janeiro-2007; prata nos
Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara-2011; bronze dos Jogos Parapan-
Americanos de Toronto-2015. No ano de 2008, T. consagrou-se campeão
Paulista Master na categoria Meio Pesado no judô regular, em competição
realizada em Valinhos, interior de São Paulo.
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6.1.2 Entrevista – B1 a superação e perseverança de um atleta
A entrevista de T. foi realizada no dia 06 de Outubro de 2015, após o
treino com a seleção brasileira de judô regular, no centro de treinamento de judô,
no Ginásio do Ibirapuera em São Paulo Capital. Sentamos na arquibancada, em
um espaço movimentado, conversamos durante cerca de 60 minutos.
No decorrer da conversa, o atleta mostrou ser mais informal e
sincero o que contribuiu para identificar alguns pormenores da vida de T. Em sua
narrativa de história de vida, encontrou-se em pleno contágio.
T. tem 44 anos e, devido à deficiência adquirida aos 13 anos e
agravada aos 20, é classificado como B1 nas competições de judô e, há 11 anos,
devido a uma infecção, T. perdeu a percepção de claro e escuro, passando a
perceber os ambientes de modo acinzentado devido a uma hemorragia.
Iniciou na competição regular com 7 anos, mas foi no judô para
pessoas com deficiência que se tornou conhecido pelos diversos títulos
conquistados. Aos 19 anos ingressou no esporte paralímpico e, desde então, tem
trilhado uma carreira com inúmeras medalhas e troféus, sendo o único atleta
brasileiro a subir no lugar mais alto do pódio quatro vezes consecutivas.
Atualmente vive exclusivamente dedicado à prática esportiva e
compete em distintas competições para judocas com deficiência ou não. Todas as
medalhas foram conquistadas na categoria B1, destinada a indivíduos totalmente
cegos. Ressalta-se que, nas competições, a classificação dos atletas é realizada
de acordo com o peso da categoria que ele representa e não de acordo com a
definição oftalmológica como é descrito anteriormente nesta dissertação. Assim, o
atleta B1 disputa concomitantemente com atletas B2 e ou B3 e estes possuem
uma percepção pequena ou ainda conseguem enxergar com o auxilio de óculos
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ou uma correção. Uma das características que diferencia T. dos demais atletas
que compõem a categoria B1 é a noção de espaço que possui do tatame
proporcionando autonomia no seu deslocamento. No decorrer do seu percurso,
evidenciam-se os resultados de excelência obtidos nas diversas competições
nacionais e internacionais das quais participou. Enquanto atleta de elite, esteve
presente nos Jogos Paralímpicos de Atlanta 1996, Sidney 2000, Atenas 2004,
Pequim 2008 consagrando-se o único atleta a subir ao pódio 4 vezes
consecutivas e Londres 2012, onde conquistou um 3º lugar e uma medalha de
bronze, respectivamente. De seu vasto percurso esportivo, fazem ainda parte
diversos campeonatos estaduais e brasileiros.
Dando início à sua história, T. começou por reportar-se à forma
como iniciou no judô regular, este que é seu primeiro contato com o esporte
quando era ainda criança.
Ah, eu iniciei no judô aos 7 anos de idade por intermédio de meu pai no Ciclo do Mini Patrulheiro. Meu pai chamava Graciliano Tenório da Silva. Meu primeiro professor era um policial militar chamado Lauro Gomes e foi ele que me iniciou no judô regular aos 9 anos. Passei a competir, defendendo a Volkswagen.
Esta prática esportiva durante a infância transformou os caminhos
da vida de T. que aos 13 anos teve descolamento da retina esquerda o que alterou radicalmente o seu percurso de vida e teve consequências visíveis no seu trajeto pessoal.
Não, não lembro não de como era minha infância. Só me lembro que era muito puxado os treinos eram muito puxado. A gente chegava 8h da manhã e saia meio dia do treinamento. Em São Bernardo do Campo lá tinha muita mata. Eu costumava brincar muito, no meio do mato o menino atingiu meu olho com a mamona eu acabei ficando deficiente visual do olho esquerdo. Eu tive esse descolamento de retina da vista esquerda perdi totalmente a visão quatro anos depois de iniciar as competições, e do olho direito foi trabalhando num shopping. Eu acabei perdendo também a visão do olho direito. Foi uma infecção alérgica provocando o descolamento da retina. Pra mim foi um pouco difícil, fiquei deficiente visual aos 13 anos de idade da vista esquerda e me tornei monocular e aos 19 anos pedi totalmente a visão (silêncio). É não tive tempo de adaptação, não tive tempo para voltar e retomar minha vida, não tive tempo de adaptação, não tive tempo de aprender braile, não tive tempo de fazer muitas coisas não, eu tinha que retomar minha vida rapidamente porque a minha vida era muito corrida e eu tinha
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que tá cumprindo algumas obrigações da minha vida mesmo, já era pai e precisei me recuperar muito rápido para poder sustentar minha família. Nem tive muito tempo de pensar na minha cegueira. Depois que eu fiquei deficiente, porque eu tinha um filho pequeno e tinha que manter minha família e pra mim adaptar foi em 3 meses já tava me adaptando às minhas rotinas. Meu pai sempre me cobrava minhas responsabilidades, mesmo eu sendo deficiente visual. Queria seguir a carreira militar, mas abri mão.
Num percurso repleto de obstáculos e percalços, as dificuldades
foram sempre muitas, ao mesmo tempo que sua motivação crescia.
O esporte surgiu quando T. era ainda uma criança. Com 7 anos,
iniciou-se no Judô. Todavia, sempre muito disciplinado na prática esportiva ainda
hoje carrega este estigma. T. iniciou, com 20 anos, aquela que viria a ser uma
carreira de sucesso no esporte.
Não eu nunca pensei em parar com o judô, porque eu sempre falava para o médico se eu ia voltar a poder praticar judô, ele falava: “Não. É muito cedo. Vamos esperar. Vamos esperar sua recuperação. Depois lá na frente nós vamos ver.” E um belo dia, quando eu fui no médico, eu vi que não ia ter mais jeito que ele tava me dando uma enrolada eu cheguei em casa muito decepcionado e acabei esbarrando no quimono que estava em cima da cama. Peguei meu quimono abracei, era uma sexta feira ai perguntei para o meu sobrinho se ele poderia me levar para treinar ele prontamente falou que poderia tá me levando e eu peguei meu quimono e fui treinar chegando lá eu não vi nenhuma diferença do judoca regular pra um deficiente eu não vi diferença nenhuma. Comecei a fazer handori, dei aula pros meu companheiros, mostrei alguns ensinamentos que eu sabia e eu percebi que não havia diferença nenhuma. Fiquei parado um ano e meio sem treinar, porque o médico me proibia de treinar, mas quando eu vi que não tinha mais jeito eu voltei a treinar rapidamente fui fazer judô, e voltei a dar aula, voltei a competir voltei a minha atividade normal, retornei para o judô em 1991 voltei a treinar em 1991, ou 9 e...91 pra 92,e voltei no judô regular não foi muito difícil pra mim porque todos os movimentos que eu aprendi eu aprendi enxergando e aplicava dentro do judô paralímpico tranquilamente quando migrei para o judô paralímpico. Eu voltei novamente ao Ciclo do Mini Patrulheiro e assim que eu voltei a minha forma física voltei a Volkswagen Clube na onde iniciei novamente a minha vida de competidor. O desporto Paralímpico eu conheci em 1993, por intermédio do professor Fernando da Cruz.
Iniciou-se no Judô por meio da competição regular, ainda na
infância, não deixou de treinar após perder a visão do olho esquerdo, mas só
iniciou uma dedicação exclusiva após 2000 com a conquista da segunda medalha
de ouro brasileira no judô paralímpico. Vivenciava as competições por meio do
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judô regular, até conhecer em 1993 o esporte paralímpico. A dedicação e
disciplina ao treinamento permitiu-lhe alcançar o reconhecimento e inúmeras
vitórias ao longo do seu trajeto esportivo.
Ainda hoje T. está inscrito e compete em provas do Campeonato
regular de Judô. Estreou no Ciclo do Mini Patrulheiro, passou pelo Volkswagen
Clube e atualmente representa CESEC- SP. Em 1993, aos 23 anos, passau a
integrar o esporte para pessoas com deficiência e a participar de competições
adaptadas. T. aceitou o convite feito pelo Professor Fernando da Cruz, pra
integrar a seleção paralímpica e explica porque:
O professor Fernando da Cruz, num campeonato Paulista, ele me viu competindo e me convidou pra integrar a seleção paralímpica, só que eu tinha que disputar um campeonato brasileiro foi quando ele me levou pro Rio de Janeiro e me tornei campeão brasileiro paralímpico pelo pur São Paulo ai que eu fui pela primeira vez campeão brasileiro do Paralímpico no Rio de Janeiro.
Neste início, T. estava longe de imaginar o êxito que iria ter a partir
do momento em que aceitou dedicar-se integralmente a esta prática esportiva.
Rapidamente ascendeu ao palco paralímpico em sua primeira participação de
Judô para pessoas com deficiência visual. Sagrou-se campeão brasileiro dando-
lhe direito de participar do processo seletivo para compor a seleção brasileira
paralímpica, o que vem na contramão do movimento olímpico, no qual a conquista
do lugar junto a equipe nacional não se dá apenas pela credibilidade e percepção
do técnico aqui representado pelo professor Fernando por ser o precursor de
oportunizar um lugar na missão paralímpica brasileira para Atlanta 1996.
Os atletas conseguem o status internacional no esporte adaptado
entre seis meses e dois anos. As rotinas de treino e técnica os condicionam
rápido para as exigências dos jogos nacionais, inclusive com oportunidade de
ganhar medalhas. Na realidade, a iniciação no esporte é um processo informal,
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pois passa pelo processo de reabilitação, mas o credenciamento e inclusão no
esporte de alto rendimento acontece de forma rápida e pautada no conceito e
atributos do professor/ técnico, valorizando a relação de confiança estabelecida
entre atleta e técnico. A experiência anterior que possui no esporte convencional
faz com que T. seja notado como forte candidato na corrida de medalhas na
competição mais nobre do esporte para pessoas com deficiência.
Minha primeira participação nos jogos paralímpicos foi 1996 em Atlanta. Eu era da categoria ate 90kg e lá foi um sonho que era sai do Brasil, consegui realizar, sendo campeão Paralímpico pela primeira vez na história do judô, trazendo uma medalha de ouro para o Brasil. Foi uma emoção muito grande em 1996. Incrível! Realmente a única medalha do judô sendo minha. 96 eu acho que foi o grande momento de saber o que é era o que ia ser um atleta paralímpico da diferença do movimento do regular, do judô regular. As outras participações também a minha última Olimpiada, Paralímpiada que trouxe o ouro foi em Pequim que eu era, da categoria ate 100kg e ali eu trouxe mais um ouro me tornando tetra campeão Paralímpico pelo Brasil, mais alto do pódio.
Atentando neste excerto, é possível perceber o valor atribuído pelo
atleta à sua primeira participação paralímpica, principalmente quando o atleta
utiliza-se do termo “única” atribuindo significado de forma singular a sua prática
esportiva. É evidente o quão significativo e inesquecível foi sua participação nesta
competição, propiciou-lhe não apenas ganhos esportivos, mas também,
crescimento pessoal. Fica evidente que os louros das competições são frutos do
comprometimento e esforço com judô em cenário nacional e internacional.
O meu dia a dia é duro viu? É 4h de treinamento por dia ai, onde separa em parte técnica a parte física e parte combate, se torna uma hora de parte física uma hora e meia de preparação técnica e uma hora e meia de parte de combate. Tendo que treinar 4 horas por dia em busca de patrocínios de novos patrocínios né? Para manter no pódio das competições Paralímpicas, conto com a loteria né? que é da Caixa Econômica Federal e o BB mais ainda os recursos são muito pouco ainda a gente tem que a cada dia buscar mais patrocínio porque o alto rendimento é muito caro ser um atleta no regular já é difícil um atleta paralímpico é muito mais difícil ainda porque os empresários não acreditam muito no mundo paralímpico ainda né? Mas a gente vem mostrando a cada dia que a gente é capaz, de tá fazer esse lado social com as empresas e as empresas tá se produzindo na mídia através da gente. Antigamente a gente não tinha nada. A gente dormia em alojamento, a
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gente comia marmitex, a gente não tinha patrocínio, e a gente tinha que contar com alguém que quisesse nos patrocinar ou dar alguma coisa para gente, hoje não o governo, vê a seleção Olímpica e Paralímpica com os mesmos olhos e o Governo Federal vem dando todo apoio pra gente na questão de treinamento para a gente conseguir atingir nossos objetivo.
Neste testemunho, T. constata a relevância que os patrocínios e o
apoio do Governo Federal adquirem no percurso esportivo de um atleta de alto
rendimento. Sem apoio de grandes clubes, os atletas são forçados procurar
maneiras de se manter e a atribuir ao esporte um papel secundário na sua vida, o
que impede a progressão do esporte para pessoas com deficiência no Brasil.
Ser reconhecido em cima de um tatame, fala ó aquele ali é o T., aquele
ali é o professor Fernando, a gente tem uma equipe multidisciplinar, hoje eu conto com uma equipe de preparador, de uma medica que trabalha todo o momento para me trazer o melhor, né minha equipe multidisciplinar é o Fernando, é a doutora Tati, é o Gilscar então a gente trabalha a todo momento pro melhor, e esses atletas também tem o melhor, né e outras equipes que vem integrar a seleção paralímpica que vem da essa assistência para eles, a gente demonstrando isso a gente conquista cada vez mais para o judô paralímpico.
Neste momento do percurso de T. o reconhecimento do seu valor foi
uma das melhores recompensas face ao esforço empregue até então. Partindo do
conhecimento adquirido no decorrer da sua carreira, T. deu-nos ainda a sua
opinião sobre o momento atual do esporte para pessoas com deficiência no
Brasil. De acordo com seu ponto de vista, é fundamental que este tipo de prática
esportiva assuma uma maior visibilidade em contexto nacional, por meio de uma
efetiva divulgação e informação da sociedade em geral.
O trabalho de base ainda é muito é muito precário que não cabe ao comitê paralímpico nem comitê olímpico fazer o trabalho de base, sim federações e clubes fazer o trabalho de base. É a gente ainda não tem essa grande coisa de vamos supor um grande clube tá administrando o as modalidades paralímpicas como Flamengo, Vasco, e outros clubes Corinthians, São Paulo, não tem essa grande imaginação de que o desporto paralímpico é uma coisa rendável também então eu acho que quando nos tivermos essa consciência o desporto paralímpico na base vai se tornar muito mais interessante para esses clubes estarem se interessando e desenvolvendo essas modalidades. Isso é uma consciência que os empresários ainda não tem de ver o atleta paralímpico como competidor, o mesmo esporte que se prática no regular prática o paralímpico prática, o mesmo hino que toca pro
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olímpico toca pro paralímpico e as empresas não encaram assim ainda as empresas ainda veem com preconceito. Eu creio que se haver a mesma divulgação que há para o olímpico para o paralímpico a gente vai ter o mesmo público a mesma divulgação, o que falta é a divulgação da mídia a mídia tratar o assunto como esporte realmente é o esporte, são brasileiros que estão representando e eu vou dar a mesma atenção que eu vou dar pra um eu vou da pra outro.
Em seu discurso é perceptível a necessidade das estruturas
organizativas atuarem no sentido da aproximação das condições proporcionadas
a atletas olímpicos e paralímpicos. Na opinião do atleta, este representa o único
meio viável para a manutenção dos atletas paralímpicos.
Ao terminar a entrevista com T., é possível concluir que ele é um
verdadeiro atleta. É evidente que da sua história emana o ideal olímpico tão
conhecido por todos, “citius, altius, fortius” expandido por Pierre de Coubertin. Um
atleta nato, vive a competição ao limite e que se supera a cada instante para se
revelar o melhor de todos os atletas. É alguém que valoriza o esporte e que por
isso se entrega a ele para vivenciar profundamente. No palco esportivo, T. gosta
de assumir o protagonismo nas provas, adota o papel principal como se este
fosse sempre seu e representa-o de forma gloriosa. Tal como um autêntico
guerreiro faz quando enfrenta uma batalha, T. domina a cena esportiva.
Sabemos que o caminho é árduo e doloroso... O que me motiva é é... o prazer em representar meu país bem, é o prazer de estar em cima do tatame e saber que estou fazendo minha lição de casa bem, para quando eu chegar no campeonato ganhando ou perdendo eu sei que eu fiz o meu melhor, isso me motiva muito.
O seu dinamismo, a ambição, a força de vontade e o espírito
competitivo que fazem parte do seu ser, levando à conquista do mérito esportivo
que lhe reconhece e que as medalhas conquistadas falam por si só, não exclui o
processo que qualquer atleta de alto rendimento passa em seu percurso
esportivo, atribuindo às conquistas valores significativo e mostra-se como fator
importante na motivação para permanência na prática.
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6.2 Processo de Tematização
Pode dizer-se que agrupar a entrevista em temas ou tematizá-la
ajuda a emergir significados dos imaginários da investigação, a fim de enquadrar
o texto por meio da seleção de temas (VAN MANEN, 1990 E DAHLBERG et al.,
2008)
Abordar a experiência vivida por meio da interpretação do seu
significado é um processo de perspicácia, que contribui em perceber significados
nas entrelinhas, no silêncio e até mesmo no riso (VAN MANEN, 1990). Nesta
medida, quando analisamos um fenômeno, por meio da tematização, buscamos
as estruturas que tornam as experiências do sujeito significativas.
Finalizada a tarefa de redação da narrativa do atleta paralímpico
entrevistado, faz-se a leitura diversas vezes da entrevista transcrita (Hastie &
Glotova, 2012; Patton, 2002; B. Roberts, 2002), com o intuito de interiorizar,
aprofundar e compreender as narrativas, para elucidar o conhecimento sobre o
seu conteúdo, identificar elementos vividos e marcantes para os sujeitos e
possibilitar a sua organização em função de distintos temas com base na matriz.
O ato de contar uma história é uma narrativa singular e própria do
indivíduo. Dessa maneira, nosso desígnio é compreender o contexto do esporte
paralímpico brasileiro por meio da vivência de sua história de vida.
Por conseguinte, foram emergindo de modo indutivo, por meio de
um processo de apreensão do material escrito, os diferentes temas e subtemas
expressos na narrativa e que se encontra, em muitos casos, intrinsecamente
relacionados bem como, nas entrevistas de tipo biográfico realizadas. Destacam-
se dois grandes temas, contemplando a matriz de análise, com subsequentes
divisões.
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Os temas e subtemas emergentes das narrativas são os seguintes:
Tema 1 – Iniciação e Acesso à Alta Competição:
Subtema: Iniciação ao esporte para Pessoas com Deficiência
Subtema: Obstáculos à Iniciação
Subtema: Acesso à Alta Competição
Tema 2 – Experiência Vivida na Alta Competição:
Subtema: Comprometimento
Subtema: Sucesso x Insucesso (Vitória x Derrota)
Subtema: Reconhecimento
Subtema: Transcendência
Subtema: Significado do Esporte Paralímpico
Subtema: Obstáculos à Prática
6.2.1 Tema 1 - Iniciação e Acesso à Alta Competição
Este tema encontra-se dividido em 3 subtemas, nomeadamente:
“Iniciação ao Esporte para Pessoas com Deficiência”; “Obstáculos à Iniciação”; e
“Acesso à Alta Competição”.
Um dos objetivos do nosso estudo é compreender como se edifica e
desenrola a carreira esportiva do atleta paralímpico brasileiro. Considerando a
abordagem temporal inerente à entrevista de tipo biográfico realizada e a sua
aproximação à história de vida do atleta, o tema da “Iniciação esportiva” é
abordado naturalmente no discurso dos entrevistados.
No subtema “Iniciação ao Esporte para Pessoas com Deficiência”
temos o intuito de conhecer como se inicia a carreira do atleta, uma vez que este
60
representa o ponto de partida para a construção de uma vida esportiva que é
regada de sucessos internacionais.
Faz-se necessário conhecer experiências de iniciação desportiva do
atleta que atinge a alta competição. Somente assim, teremos elementos para
preencher as lacunas existentes que permeiam o processo de captação de atletas
e seleção de talentos, com a intenção de ampliar oportunidade de prática
esportiva para pessoas com deficiência no território nacional.
Partindo da experiência narrada, é possível notar que no esporte
adaptado nem sempre o período de iniciação se constitui como próspero, sendo
de ordem diversa os obstáculos mencionados ou até mesmo por ocorrer na fase
adulta. As dificuldades vivenciadas estão presentes em inúmeras áreas, desde as
estruturas físicas, como recursos humanos, apoios financeiros, as dificuldades de
transporte, gestão esportiva entre outras. Assim, parece imprescindível abordar o
subtema –“Obstáculos à Iniciação”.
Pode-se perceber o valor atribuído ao esporte adaptado é pequeno.
Fato este vivenciado por aqueles que se iniciam no esporte para pessoas com
deficiência e que lutam, diariamente, em busca de conquistar um lugar no hall da
alta competição. Por conseguinte, o caminho percorrido no “Acesso à Alta
Competição” representa uma importante etapa da carreira do atleta que se deseja
conhecer. Assim, pretende-se identificar as experiências significativas para
melhor atuar neste contexto.
6.2.1.1 Iniciação ao Esporte para Pessoas com Deficiência
O esporte para pessoas com deficiência está pautado em um
contexto específico e detém características próprias, tornando o período de
61
iniciação esportiva destes atletas distinto. Ao nos deparar com os dados relativos
à idade de iniciação do atleta paralímpico brasileiro, percebemos que, ao adquirir
a deficiência, este atleta migra da prática regular para a prática adaptada,
iniciando a carreira já na fase adulta, vivenciando primeiramente a prática
esportiva com caráter de reabilitação.
Deve-se atentar que uma deficiência adquirida no decorrer da vida
do atleta vem influenciar, a idade de iniciação bem como, constatamos na história
de vida do atleta.
O Esporte para pessoas com deficiência, em sua maioria vem a ser
conhecido por meio de Instituições e Associações ligadas à área da deficiência ou
professores/ técnicos especializados. O vínculo estabelecido com as entidades se
dá pelo apoio ao nível médico ou na formação profissional específica de pessoas
com deficiência.
A família ainda blinda muito porque a família é o ícone de tudo. É a ancora se ela incentivar o seu deficiente a praticar esporte e estudar, ele vai ser igual a qualquer pessoa.
Fitzgerald & Kirk (2009) afirmam que, quando a família é adepta à
prática esportiva, a iniciação, mesmo no esporte adaptado surge com
naturalidade e em idades baixas. Devemos lembrar que a família tem um papel
preponderante na carreira esportiva de atletas de alta competição, especialmente
quando esta se inicia muito cedo (FERREIRA & MORAES, 2012).
Mesmo no esporte de alto rendimento, é a família que habitualmente
conduz o atleta ao esporte, providenciando apoio contínuo nesse envolvimento
(FITZGERALD & KIRK, 2009).
Minha família sempre me apoiou desde que eu fiquei cego, desde quando eu era pequeno aos sete anos de idade em geral minha família sempre me apoia. Porque eles são meu alicerce, eu ganhando ou perdendo eu vou voltar para casa e ser abraçado por todos. Então eu não vou ouvir críticas, eu
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não vou ouvir comentários maldosos e lá eu vou ser realmente acolhido. Sempre procurei fazer tudo sozinho, minha família nunca me tratou como um coitadinho. Busquei meu espaço, não sou de ficar parado, muito menos de pedir algo a alguém.
É notável como o apoio familiar é essencial para a permanência e
manutenção na pratica esportiva. Contudo, quando se refere à iniciação esportiva
no caso do atleta brasileiro, o processo nem sempre sucedeu deste modo, pois a
família muitas vezes blinda o deficiente ao privar o mesmo do convívio em
sociedade, haja vista que a idade de iniciação esportiva é elevada, ocorrendo, na
maior parte dos casos, na fase adulta, por adquirir a deficiência ao longo da
adolescência e vida adulta. Nestas circunstâncias, é compreensível que a
influência da família tenha sido essencial na iniciação, o que vem a ser
fundamental, não apenas para o atleta entrevistado, mas para qualquer atleta
com deficiência.
São os resultados de sucesso, que o atleta constitui um modelo de
comportamento para novos atletas, experiências que revelam a importância que
os meios de comunicação social poderão desempenhar na divulgação e
informação do público em geral sobre este contexto. O entrevistado realça a
importância destes modelos, não só na sua motivação, mas também no
comprometimento com o esporte, o testemunho dado pelo atleta é revelador na
importância que disseminar as experiências vividas, de histórias e de resultados
esportivos de sucesso pode contribuir na captação de novos atletas. É
fundamental que os responsáveis pelos atletas estejam cientes do quanto podem
contribuir para a disseminação positiva, seja do esporte paralímpico, seja dos
atletas.
Fala-se pouco de esporte paralímpico por preconceito ou falta de conscientização, acredito numa desinformação generalizada. Se a mídia fala em Olimpíada, precisaria tratar da Paralimpíada. O canal pago
63
Sportv é o único que transmite os Jogos Paralímpicos muitos desconhecem esse tipo de prática esportiva no Brasil. 96 quando eu voltei pro Brasil eu acabei perdendo patrocínios porque não houve a divulgação devida por meio da imprensa ao desporto paralímpico. Essa relação de imprensa com comitê paralímpico, onde que comitê paralímpico tem que pagar ainda passagem ainda de jornalista pra tá acompanhando a delegação, não devemos fazer mais isso nos já mostramos o nosso valor, nos temos já um grande resultado fora do Brasil pra esses veículos de comunicação ter uma confiança na gente e tá dando esse crédito de acompanhamento pra delegação.
No que diz respeito ao atleta que é forçado a transitar da prática
esportiva regular para o esporte adaptado em decorrência da deficiência, é
notável que este já esteja inserido no esporte desde cedo. No contexto esportivo
ou até mesmo competitivo, foi dado total apoio no seio familiar. Nestes casos, o
esporte sempre fez parte da sua vida e da vida da sua família, por isso, a
integração no esporte adaptado foi uma natural consequência da crescente
informação sobre este contexto.
É notável que o incentivo dos familiares venha a ser fundamental,
não há dúvidas de que um dos papéis essenciais do pai e da mãe seja o de
incentivar a prática do esporte, pois a família é, muitas vezes, determinante no
processo, principalmente em relação à motivação para dar continuidade aos
treinamentos diários, ou mesmo estimulando em momentos pontuais, mais
importantes da vida de um atleta (SCHIAVON, 2009)
Salienta-se, dessa forma, que o atleta em questão iniciou a sua
carreira há vinte e cinco anos, quando o esporte para pessoas com deficiência
dava ainda os primeiros passos em contexto nacional.
6.2.1.2 Obstáculos à Iniciação
A iniciação de qualquer atividade esportiva acarreta dificuldades ao
praticante e o esporte adaptado não escapa desta característica, sendo crucial
64
identificá-las e compreendê-las. Deve-se, destacar a falta de informação como um
dos principais obstáculos à iniciação, o que dificulta melhores resultados
esportivos, o que vem a ser justificado pelo tardio ingresso na modalidade
escolhida.
A conquista da primeira medalha internacional e a participação nos
primeiros Jogos Paralímpicos são percebidas como momento de reconhecimento
do valor do atleta.
T.,prestou o seu testemunho sobre esta questão:
Foi uma emoção muito grande em 1996 quando eu sai do Brasil para representar o Brasil na categoria meio médio em Atlanta, incrível realmente a única medalha do judô sendo minha. Em 2000 indo para Sidney conseguindo mais uma medalha de ouro, minha vida começou a melhorar como atleta de alto rendimento. E as medalhas de ouro foram conquistadas em 96, 2000, 2004, 2008 foi conseguida por mim. A conquista, com as medalhas, representando o país e as brigas ai com dirigentes, com técnico para melhoria da seleção, para treino melhor, para conquistar a mesma qualidade de treino do Olímpico isso é muito importante que nem hoje me da o direito de treinar com os melhores, de treinar junto com a seleção brasileira em cima do tatame, de ser reconhecido em cima de um tatame, fala ó aquele ali é o T. aquele ali é o professor Fernando.
Esta situação é comum nos atletas que iniciaram a prática esportiva
há mais de uma década, numa época em que o esporte de alto rendimento, para
pessoas com deficiência, estava ainda em fase inicial no Brasil e era
caracterizada pelo amadorismo. Este amadorismo refletia-se não apenas pelo
baixo nível de performance dos atletas, mas também pela falta de formação de
recursos humanos especializados, desconhecimento das regras das modalidades
ou até mesmo como se daria a classificação dos atletas, falta de especificidade
do treino no que tange a técnica e tática, escassez de materiais específicos desse
contexto, observável internacionalmente no mesmo período.
Para tanto, é importante que os meios de comunicação social e as
organizações federativas devam realizar um trabalho efetivo na divulgação e
65
informação sobre o esporte adaptado em escolas, clubes,
associações/instituições a nível nacional, bem como da sociedade em geral. Nos
últimos anos, tem sido notório algum esforço neste sentido. São imprescindíveis a
manutenção e ações efetivas a este tipo de iniciativas.
É importante salientar que a escola vem a ser um agente divulgador
do esporte para pessoas com deficiência no Brasil e meio de captação e
encaminhamento de atletas para este tipo de prática esportiva, por considerar que
a escola nas aulas de educação física, deve contemplar a diversidade cultural,
social e física por meio de incentivo para realizar as atividades em aulas de
Educação Física ou a praticar uma modalidade esportiva adaptada às suas
necessidades ao longo do seu percurso escolar. Não só no que tange o esporte
adaptado, pois não agregar a escola como forma de promoção do esporte
contribui para disseminação de obstáculo que vem a fazer com que muitas
crianças e jovens com deficiência sejam privados de experiências esportivas e de
oportunidades de iniciação esportiva.
A centralização de recursos é outro obstáculo, no discurso do atleta
entrevistado nota-se a existência da falta de infraestruturas e de espaços
esportivos adequados ao treino específico da modalidade esportiva adaptada de
forma a contemplar diversas regiões. O centro de treinamento é localizado,
centralizado na grande, São Paulo, o que faz com que o atleta que deseja uma
melhor performance migrem a procura de acompanhamento especializado. No
caso daqueles com deficiência visual, por exemplo, é fundamental a existência de
uma forte e sólida estrutura de apoio ao atleta.
A gente tem uma equipe multidisciplinar, hoje eu conto com uma equipe, com preparador e médica que trabalha todo o momento para me trazer o melhor Minha equipe multidisciplinar é o Fernando, é a doutora Tati, é o
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Gilscar então a gente trabalha a todo momento para o melhor. Quando você se lesiona você tem que saber que você precisa do fisioterapeuta fazendo aquele trabalho, aquela intervenção ali, aquele tempo que você tem que dar... aquele tempo de recuperação pro seu corpo, não adianta você se lesionar hoje e voltar a competir amanhã que você só agrava sua lesão, por isso que muito atleta não tem sua sequência de vitórias seja no judô regular ou paralímpico. Tem 3 mil pessoas dentro do estádio, você não pode perder o ouvido do seu técnico, você tem que aprender a ouvir a voz do seu técnico, onde está seu técnico o som para gente é muito importante no combate, então, o técnico pra mim são os meus olhos, ele está vendo o placar ele tem muito mais dimensão de luta do lado de fora do que eu dentro do tatame tendo que me preocupar com meu adversário, os ataques do meu adversário em atacar em defender, então o técnico pra mim ali são meus olhos, é o meu instrumento de comunicação total, então tenho que aprender a ouvir meu técnico pra ter um bom desempenho na minha luta, o atleta que não faz o que o técnico manda tem acho que 30% de chance de perder uma competição.
Um desses enquadramentos realizado por treinadores
especializados e médicos, bem como de infraestruturas adequadas, é inexistente
em áreas mais afastadas. A escassez de recursos é um dos principais fatores que
contribui para o atleta a abandonar a família e a enfrentar um novo desafio para
além da prática.
No decorrer da prática esportiva, as adversidades são mutáveis.
Para Brittain (2010) e Jaarsma et al. (2013), o transporte é uma das barreiras
mais mais comuns para atletas com deficiência que decidem ingressar numa
carreira esportiva, seja qual for a deficiência.
T. corrobora com o discurso ao falar de acessibilidade, pois as
dificuldades não estão presentes apenas na vida do atleta com a ida para o treino
que depende de terceiros, sejam eles familiares ou amigos que os possam
transportar de carro, bem como de transportes públicos nem sempre adaptados
às necessidades dos deficientes.
Como é que um deficiente, um cadeirante vai esperar não sei quantas horas por um ônibus especial para pegar ele ou ele vai ter que ligar para o atende para vir busca-lo, então dificulta muito a preparação no dia a dia da pessoa com deficiência no mercado de trabalho ou pra prática do esporte. Nós temos que ter uma política que venha transformar tudo isso novamente em realidade, que a gente possa ter acessibilidade para a
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gente ser capaz também de estar brigando de igual para igual com as outras pessoas. Hoje em dia nem prédios públicos estão adaptados à acessibilidade adequada para deficientes, imagina dentro de estádios, ginásios, que não são preparados para receber essas pessoas para a prática de esporte.
Neste contexto, clubes e associações/instituições devem ser
capazes de criar e suportar uma rede de transportes especializados e adaptados
às necessidades dos atletas. A alteração desta situação promoverá o
comprometimento com o processo de treino e a maior disponibilidade do atleta
para se empenhar e dedicar à competição. Ao mesmo tempo, proporcionará ao
atleta autonomia na vida e no esporte. Esta é uma adversidade que se coloca não
apenas na iniciação à prática, mas em todo decorrer de toda da carreira do atleta,
mesmo que as questões de transporte sejam ultrapassadas, a acessibilidade ao
local de treino é igualmente essencial.
Percebe-se a melhoria no que tange o acesso, porém existem ainda
alguns espaços esportivos no Brasil que não estão preparados para receber
atletas com deficiência, seja pela impossibilidade de acesso ou pela dificuldade
de utilização de equipamentos (HUTZLER & BERGMAN, 2011b; JAARSMA et al.,
2013).
6.2.1.3 Acesso à Alta Competição
Quando o atleta passa a compor à seleção nacional, recebe uma
distinção. É um momento simbólico de reconhecimento do empenho e dedicação
ao esporte. Simboliza ainda a opção por uma carreira; escolha esta que vai alterar
a sua vida e ditar o início de um novo rumo no seu trajeto esportivo. Assim se dá
o início da vida esportiva do atleta paralímpico.
Está presente no discurso do atleta a experiência de rápida chegada
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à seleção nacional e, consequentemente, à competição internacional. É possível
encontrar na narrativa do atleta seu rápido acesso à alta competição, e a
conquista de medalha na sua estreia em Jogos Paralímpicos; marcaram a sua
estreia no palco internacional. Para ilustrar esta ideia, recorremos a alguns
relatos:
As outras participações também a minha ultima Olimpi, Paralímpiada que trouxe o ouro foi em Pequim que eu era, da categoria ate 100kg e ali eu trouxe mais um ouro me tornando tetra campeão Paralímpico pelo Brasil, mais alto do pódio. Por intermédio do professor Fernando da Cruz que não parei, ele me estimulou novamente a competir em solo internacional. O judô vem marcando desde Seul trazendo medalha com Leonel Cunha que mora em Goiás, né com outros atletas também. Nós temos três medalhas em Seul, medalha de bronze e as medalhas de ouro foram conquistadas em 96, 2000, 2004 e 2008 que foi conseguida por mim, mas é uma grande tradição.
Eu não vou representar o T. eu vou representar uma nação de 193
milhões de brasileiro onde que 17 milhões são deficientes, aí eu me foco nos 17 milhões e tento fazer algum benefício não só pra mim, mas pra esse grupo todo de deficiente onde que a gente traz tecnologia a questão do esporte, a questão do mercado de trabalho, abre o dia a dia para melhora do deficiente, então eu procuro fazer a minha parte.
A este respeito, Wheeler et al. (1996) e (1999), nos seus estudos
sobre a carreira esportiva de atletas paralímpico, identificar uma rápida ascensão
ao sucesso nacional e internacional, grande parte dos atletas dos seus estudos,
relatam que o sucesso demorou dois anos ou menos. O mesmo aconteceu com o
atleta que entrevistamos que após sua primeira participação em um campeonato
para pessoas com deficiência visual conquistou uma medalha de ouro nos Jogos
Paralímpicos de Atlanta.
A transição do esporte amador para o esporte profissional
representa um período em que várias mudanças ocorrem, fato este estudado por
Brandão et al (2000), ao discorrer em seus estudos que durante a carreira
esportiva, um atleta vivencia diferentes transições, todas elas com exigências de
ajustamento e características próprias, que pode ser identificadas como a
69
transição da iniciação esportiva, para o treinamento mais intenso e para a alta
performance; a transição do esporte infantil, para o juvenil, juniores e adulto; a
transição do esporte amador para o profissional e a transição para o término da
carreira esportiva, todas elas com exigências de ajustamento e características
próprias. à semelhança do que é identificado na narrativa do atleta paralímpico
desta investigação.
Ascender à condição de atleta paralímpico assume-se como uma
batalha a ser travada e, todo o processo de conquista, implica esforço, abdicação,
disposição para o embate e capacidade para perseguir os sonhos (Rubio, 2001).
Tal como refere o nosso entrevistado, a partir do momento em que acederam à
competição internacional e conquistaram a sua primeira medalha, o objetivo a
perseguir é “ser o melhor” - pois ser bom já não basta em tão elevado nível
competitivo.
6.2.2 Tema 2: Experiência Vivida na Alta Competição
Este tema encontra-se dividido em 6 subtemas, nomeados Subtema
“Comprometimento”, “Sucesso x Insucesso”, “Reconhecimento”,
“Transcendência”, “Significado do Esporte Paralímpico”, “Obstáculos à Prática”.
Salienta-se que não foi colocada nenhuma questão especificamente
direcionada para a abordagem dos temas ou subtemas, todos emergiram da
história esportiva vivida e narrada pelo atleta paralímpico brasileiro
Quando nos centramos na narrativa do atleta paralímpico, que figura
no mais elevado nível competitivo, o subtema “Comprometimento” surge com
naturalidade, o que vem a ser semelhante em outros estudos (BAILEY, 2008;
CARLESS & DOUGLAS, 2012; GARCI & MANDICH, 2005; WOOD, 2011). É
70
notável, o compromisso, investimento pessoal, dedicação, empenho no processo
de treino e na competição expressam a responsabilidade assumida no
desempenho do seu papel e parecem ser determinantes no sucesso obtido.
Na vida de um atleta não encontramos apenas momentos de vitória,
mas também árduos momentos de superação e derrota. Embora o fato destas
duas polaridades serem inerentes à competição, não são, necessariamente,
sinônimo de “Sucesso x Insucesso”, algumas vezes ganhar uma medalha nem
sempre é visto como um troféu para o atleta.
No esporte o reconhecimento pode surgir na forma de um prêmio, ou
de uma recompensa, passando a ser o símbolo dessa façanha esportiva ou surgir
como forma de agradecimento por uma conquista no contexto esportivo. O
“Reconhecimento” é uma consequência supervalorizada pelos atletas (Garci &
Mandich, 2005), episódios como este foram enaltecidos na narrativa do atleta e
buscaremos aprofundar na tarefa interpretativa.
É perceptível nos relatos a ascensão e superação, vista aqui como
transcendente a qual só os mais audazes têm acesso. Na realidade, a superação
vivenciada pelo atleta é marcante no seu discurso. Há eventos em que o atleta
demonstra o desejo em perpetuar o seu nome no esporte e elevar-se à condição
de “herói paralímpico” (RUBIO, 2001, 2004; M. SILVA & RUBIO, 2003; WOOD,
2011). É neste contexto que surge o subtema “Transcendência”.
É fato que na exploração da história de vida no esporte de elite
encontramos histórias esportivas significativas para os atletas, estes expressam
episódios únicos e significativos na vida do atleta, se distinguem pelas fortes
emoções e sentimentos, provocados por diferentes motivos, conferindo a sua
prática de um sentido único (COSTA, 2006; ELIADE, 1996). Neste subtema
71
procura-se desvendar as experiência esportiva marcante ou não para o atleta
paralímpico, com o intuito de conhecer o esporte paralímpico na sua essência e
nas suas diferentes formas de representação.
Deste modo, ao considerar as especificidades do esporte de alto
rendimento para pessoas com deficiência, percebe-se que algumas experiências
tornam cruciais no modo como os atletas vivem e constroem a sua carreira.
A experiência esportiva nos leva a discernir o “Significado do
Esporte Paralímpico” a partir de uma visão pessoal. É nossa expectativa que da
análise da narrativa, tenhamos elementos para compreender o significado
atribuído à sua prática esportiva. Portanto faz-se necessário, atentar à função vital
desempenhada pelo esporte na vida do entrevistado, é essencial conhecer no seu
significado primordial e responder a uma das principais questões de partida da
investigação.
Destaca-se que, o trajeto esportivo de um atleta paralímpico não se
pauta apenas por um caminho trilhado de louros, experiências simbólicas e
míticas. As dificuldades vivenciadas são inúmeras e evidentes na narrativa do
atleta, o que contribuiu com a definição do subtema “Obstáculos à Prática”,
mostrando a relevância do seu entendimento.
6.2.2.1 Comprometimento
O comprometimento é um dos valores base do esporte, por consistir
no empenho, esforço e dedicação; pode ainda simbolizar a paixão, toda emoção
colocada no treino em busca da concretização dos objetivos traçados, é à
persistência, à superação, à vitória, mas à capacidade de não desistir e aceitar a
72
derrota como a alavanca na obstinação de uma nova vitória, pois é acreditar que
se pode aprender a cada dia mais como atleta (BENTO, 2004).
No testemunho de T. identifica-se o comprometimento como uma
característica fundamental do atleta paralímpico.
Aos sete anos já tinha, já tinha campeonato valendo medalha, não era festival, já era medalha mesmo, e a gente competia como um adulto. Não, não lembro não, só lembro que era muito puxado os treino, eram muito puxado, a gente chegava 8h da manha e saia meio dia do treinamento. O meu desempenho é do dia a dia, a gente vem se regrando todo dia, é um batalha a gente mata um leão por dia. O atleta o técnico que vem do desporto olímpico para o paralímpico vê o atleta ainda como coitadinho, ele não encara ainda o atleta como alto rendimento se o atleta quer treinar ele treina se não quer fica encostadinho lá, acho que a mesma cobrança que é feita com o atleta olímpico tem que ser feita com o atleta paralímpico também, porque nós somos atletas de alta performance, atletas de alto rendimento. Eu procuro fazer a minha parte de preparação técnica principalmente... meu dia de treino é sempre de estudar os adversários de vê quem está melhor e quem está pior.
Observando as características do atleta em questão no estudo, é
notável a regularidade e extensão da carreira esportiva do entrevistado a maioria
dos atletas do esporte adaptado tem carreiras muito longas, contrapondo os
atletas de alta competição (SILVA & RUBIO, 2003). Para o entrevistado, a
excelência esportiva foi uma constante em seu percurso esportivo.
Diante do exposto é fácil atribuir um elevado comprometimento com
o esporte, assim, o atleta paralímpico reconhece o comprometimento com a
prática esportiva e com os vários agentes que a ela se associam como fatores
que permeiam o contexto. Este empenho e o processo de treino, dotando-os da
persistência e determinação necessárias para nunca falharem. Nota-se que a
prioridade é treinar, independente das barreiras que precise ultrapassar, pegar
transportes, abdicar de tempo com a família, realizar investimentos pessoais,
privar-se de muitas coisas na vida.
É notável a dificuldade do atleta conseguir o apoio de patrocínios, e
73
viver unicamente do esporte.
Para aqueles que têm por diversos motivos de gestão, periodização,
treino entre outros e conseguiram um patrocínio, por comprometimento aumenta
exponencialmente perante a responsabilidade assumida com empresas/entidades
e as metas que se propuseram atingir.
De maneira ilógica a medalha de ouro não me trouxe benefícios. Por precisar treinar cada vez mais para manter um nível de competição alto, acabei saindo da Volks. Não bastasse, perdi meus patrocínios, porque o ciclo do paradesporto é perverso, as pessoas só querem saber de aparecer nas vésperas dos Jogos Paralímpicos. Tive então que voltar a dar aula de judô para sobreviver, foi um período muito difícil para mim. Descobri que o esporte funciona da seguinte maneira: você pode estar no auge e no minuto seguinte, no chão. No fim de 1999, fui convidado pela Teresa Costa d’Amaral, coordenadora-geral do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), para ir ao Rio de Janeiro. Foi aí que me senti um atleta de verdade, contando com o apoio de uma instituição e também do Vasco da Gama, apesar de tomar uns calotes do Vasco, o nome do clube me abria portas. Mas a Teresa é que foi muito importante na minha vida, ela acreditou em mim, acreditou no meu potencial e pude me dedicar, exclusivamente, ao judô. Devo a ela meu segundo ouro em Sydney e, de certa forma, os outros dois que conquistei. Aliás, eu devo a ela a minha carreira. Sem o apoio do IBDD ia ter que trabalhar para sobreviver. Teresa me ajudou mais do que qualquer dirigente ou instituição ligada ao paradesporto. Consegui me manter no pódio, quase vinte anos depois da primeira medalha, Mas nossos dirigentes não enxergam isso, voltei de Londres e novamente passei por dificuldades financeiras. Perdi patrocínios, as pessoas parecem não dar valor a conquistas que não sejam um ouro. O Brasil é o único lugar que não valoriza uma medalha paralímpica como deveria e nem os resultados conquistados em outras competições internacionais. Ganho hoje metade do salário que ganhava em 2003. Conto com o patrocínio do Time São Paulo e da Caixa Econômica Federal, e continuo recebendo o bolsa-atleta, mas tenho que dar palestras para me manter e à minha família. Na verdade, o que existe é uma grande indefinição com relação ao futuro, não sei o que esperar. Se você não compete e muitas vezes, ganha te dá um conformo muito grande, de você não treinar, era o que estava acontecendo comigo, porque eu vinha do Brasil e não tinha adversário, a gente não vinha para fora, me dava o conforto, para que treinar se você não tem adversário?, É diferente, você sabe, é uma Paralímpiada, você sabe que tem adversários fortes, você sabe que tem que entrar em ritmo de competição, se você não fizer esse trabalho nesse momento você sabe que vai faltar alguma coisa lá, você vai contar com a sorte? O judô é o único esporte que não tem sorte, você não conta com a sorte você conta com o seu trabalho que você desenvolveu no seu dia-a-dia.
O apoio financeiro é, então, mencionado como essencial no que
tange o comprometimento com as questões do esporte, pois permite que não se
74
preocupe com atividades que não estejam relacionadas com o esporte e até
mesmo com o sustento da sua família (GARCI & MANDICH, 2005).
Para o autor referido acima, o comprometimento com o esporte de
alto rendimento, com o treino, com o seu treinador e com os pares está
relacionado com a importância de se desafiarem e colocarem à prova diariamente
para melhorarem o seu desempenho.
Atuar na alta competição implica em desafios ao atleta, este deve
ser capaz de estar físico e mentalmente preparado para competir e alcançar seus
objetivos, em particular, na competição que é vista como a mais importante no
esporte adaptado e com características tão particulares (WOFF et al., 2008).
Para o atleta em estudo, o comprometimento com o treino é crucial,
o que vai ao encontro ao estudo de Woff et al. (2008) e Wood (2011), quando
referem que o verdadeiro sucesso dos Paralímpicos está no planejamento
adequado do ciclo paralímpico e no completo comprometimento com o esporte e
só assim poderão transformar horas dedicadas ao treino em medalhas de ouro.
6.2.2.2 Sucesso x Insucesso
A sociedade contemporânea valoriza a vitória, o sucesso e a
ascensão; e censuram as falhas, perdas, derrotas ou insucessos, isto é
reproduzido no esporte, por meio da competição pois só o vitorioso é valorizado.
No entanto este fenômeno de grande abrangência social vem invadindo o esporte
adaptado não apenas com atividades profissionais e comerciais.
É característico dessa sociedade valorizar excessivamente a vitória
social e esportiva, consagrando apenas o primeiro a subir no pódio e designar aos
75
demais competidores, o titulo de perdedores sem a preocupação de olhar este
sujeito como um todo inserido no contexto esportivo (SILVA & RUBIO, 2003).
Estar no lugar mais alto do pódio permite ao atleta escrever seu
nome na história e garante e a “imortalidade” e reconhecimento, a derrota surge
como a sombra do esporte contemporâneo revelando a desumanização do atleta
moderno (RUBIO, 2006).
No esporte, a tensão entre sucesso e insucesso é constante e
evidente na prática esportiva. A verdade é que não existe nenhum atleta de alta
competição, nem mesmo o atleta paralímpico, que apenas tenha experimentado a
condição de vencedor, mas existe uma alternância na carreira e o modo como
conseguem lidar com as vitórias e derrotas é que faz um verdadeiro atleta.
A luta esta presente nas mais diversas formas de competição, na
vida esportiva e social, saliento que a vitória não deve carregar como símbolo a
conquista do primeiro lugar, pois o sucesso deve ser visto como a concretização
de objetivos e metas definidas e não estar no pódio de uma prova (SILVA &
RUBIO, 2003 e RUBIO, 2006).
O esporte paralímpico tem sofrido mudanças ainda que de forma
mais lenta, mas tem aproximando-se do contexto competitivo aos moldes do
esporte moderno, isso acontece em decorrência da evolução de tecnologias,
conhecimentos e recursos.
Por conseguinte, é importante realçar que o conceito de sucesso
tem transformado, reflexo este das características da sociedade em que estamos
inseridos e por isso deve ser analisado e compreendido à luz das características
que permeiam o esporte moderno.
O atleta paralímpico brasileiro revela sua satisfação por alcançar e
76
atingir as metas definidas para uma determinada competição, pelo sentimento de
dever cumprido, convivendo naturalmente com as suas limitações e sendo
realistas face às suas possibilidades. Porque, como refere T.
Para eu estar disputando no meio do regular é super, é muito, eu encaro com muito prazer porque eu estou sempre aprendendo, cada dia que eu vô lá competir entre as 4 linhas, os três juízes e meu técnico me orientando do lado de fora, perdendo ou ganhando é uma grande experiência para mim, continuo fazendo o mesmo caminho, então para mim esse trajeto meu de estar competindo no meio do regular só me traz benefício, só me faz chegar muito mais motivado em ritmo de competição para ganhar medalhas. Está caindo meu rendimento, está caindo... você começa a se contundir muito, começa a fazer um monte de coisa, você vai pela experiência, enrola um pouquinho aqui, um pouquinho ali, você vai compensando por sabedoria.
No testemunho escolhido, nota-se muitas vezes, que a simples
obtenção de um lugar específico na competição; o ato de bater um recorde; a
superação de uma marca pessoal; a conquista do prêmio associado a uma
medalha; a possibilidade de se manter no projeto paralímpico, entre outros
fatores, simboliza uma vitória e mostram-nos que cada experiência é singular e
percebida no íntimo de quem a viveu.
A derrota tem como papel atribuído provocar desmotivação ou
fortalecer para as competições seguintes. Cabe ao atleta de alta competição ser
capaz de seguir pela segunda via sem hesitar (RUBIO, 2006). O atleta
paralímpico brasileiro mostra-nos apenas um caminho, o da valorização humana
e da aceitação de que todos têm limites.
6.2.2.3 Reconhecimento
O que leva um atleta a competir é a vitória, aliado a diferentes tipos
de recompensas como aplausos, prestígio, medalhas e prêmios estes são
símbolos do reconhecimento e que podem manifestar-se também no apreço das
77
pessoas obtido no meio esportivo e social, estendendo-se aos pares e a outros
contextos da sua vida (HUIZINGA, 2003). Este efeito foi amplamente reconhecido
pelo atleta ao narrar algumas das experiências mais marcantes que viveram na
competição.
A conquista de medalhas, prêmios, autógrafos, as homenagens, as
festas de recepção no aeroporto ou na localidade onde nasceu, no clube que
representa, são exemplos claros da dimensão alcançada a nível social, percebe-
se no excerto da narrativa a relevância que o reconhecimento atinge no seu
percurso esportivo.
Me sinto como um gigante, indo representar meu país. Quero ajudar, mas de alguma outra forma, e quero enfatizar a importância dos clubes nesse processo de revelar novos talentos, são eles que formam o atleta, necessitam ser valorizados. Até quando eu posso trazer resultado para o Brasil, porque lutar eu posso lutar até 50 anos, agora até quando eu vou lá para fora e vou trazer resultados para o Brasil, aí eu não sei. Eu tenho que representar meu país em algum lugar que eu possa trazer resultado não só para o meu país, mas para mim também, para o meu dia-a-dia, para minha vida.
A alegria, satisfação e entusiasmo com que são narrados estes
episódios expressam o quão significativos este percurso é para o atleta. É comum
aos atletas serem reconhecidos pelos seus feitos esportivos e para alguns, este é
o sentido como um dos maiores troféus da sua carreira só assim percebem-se
como atleta de alta competição.
As múltiplas formas de reconhecimento permitem ao atleta sentir
que o seu valor é apreciado pelos outros e ver o seu mérito esportivo consagrado,
constituindo-se como um excelente incentivo ao treino e à competição assim
configurando-se como forma de reconhecimento por meio do prestigio e poder
social equiparando aos feitos de um herói (SILVA E RUBIO, 2003).
78
Como refere Rubio (2001), a vida do atleta é um exercício
continuado de virtudes, uma busca constante por ir mais além, ser herói nada
mais é do que a luta, na vida e no esporte. Através do discurso do entrevistado,
percebe-se que as múltiplas homenagens, recompensas, prêmios,
condecorações, levam o atleta paralímpico a sentir-se um verdadeiro guerreiro
que venceu a mais dura das batalhas - um herói. Concomitantemente, o
reconhecimento do atleta pode ainda surgir sob a forma de notícia, na imprensa
escrita ou em noticiários; através de reportagens.
A visibilidade conquistada de quatro em quatro anos, nos Jogos
Paralímpicos, muitas vezes contribui com o abandono na luta diária para se atingir
o mais elevado nível nas competições internacionais em que participam
anualmente. Neste sentido, é importante lembrar que a consagração dos
resultados conquistados nada mais é que os resultado de esforço durante todo o
ciclo de preparação.
Não podemos negar, o reconhecimento obtido favorece as relações
sociais do atleta, passa a ser percebido pelos outros como campeão, brilhando no
palco social. A alteração do comportamento social promove e facilita a aceitação
da própria deficiência do atleta, para além de promover e facilitar a sua inclusão
social. Do mesmo modo, aumenta a responsabilidade sentida, elevando a
pressão e ansiedade na tentativa de corresponder às expectativas dos outros, no
entanto, é uma responsabilidade que tende a ser assumida com orgulho pelo
atleta e que parece alimentar a crença dos outros nas suas capacidades.
Eles não praticam judô porque são muito cobrados até pelo resultado que eu tenho, e vem aquela cobrança, você tem que ser como seu pai, você tem que ser isso, e é um trabalho que não pode ser feito pelo educadores, não tem que ser dessa forma. O atleta tem que estar ali e se tornar um grande competidor se não ele vai ser um grande cidadão.
79
Diante do testemunho recolhido, entende-se que a cobrança por
resultados exacerbados extrapola o âmbito esportivo e invade o convívio familiar
do atleta paralímpico, pois os seus feitos são capazes de igualar e até mesmo
superar as conquistas de outros atletas. Esta cobrança passa ser evidente, pois
um incentivo à dedicação ao esporte e à obtenção de resultados que está
vinculado é vista como uma necessidade de manutenção.
No caso de atletas que treinam e competem com escassos apoios, o
seu investimento tende a ser recuperado e recompensado por meio do
reconhecimento conquistado pelas suas conquistas esportivas em contextos
diferenciados. Esta recompensa é de tal modo significativa que muitos atletas
receiam perdê-la, quando não conseguirem manter sua excelência. Convém,
apesar de tudo, relembrar que:
a alta competição produz um orgulho nacional, é um difusor de prática esportiva e, nos seus exatos limites, e sem particulares exageros, uma forma de nos sentirmos profundamente felizes quando as vitórias ocorrem. Mas também devemos sentir-nos felizes mesmo quando elas não ocorrem, porque a simples ideia do que representa de esforço, de determinação, de paciência, de luta contra as adversidades, que um atleta de Alta Competição precisa de percorrer, também merece, em todos os momentos, a nossa avaliação criteriosa e não demagógica (BENTO, 2004, P. 145).
No esporte o atleta com deficiência compete lado a lado com
adversários com as mesmas características, se é capaz de vencer o seu
adversário, o atleta atinge a superação e é reconhecido pelo seu sucesso.
6.2.2.4 Transcendência
O ser humano e a sociedade em geral não podem viver sem utopias.
É pela idealização que buscam a transcendência de seus mais profundos desejos
(BOFF, 1999). Somos, assim, seres de imanência e de transcendência que nos
faz cobiçar, ir mais além sempre.
80
T.revela-se como exemplo notável do valor superação no esporte
paralímpico.
As brigas são para melhoria da seleção, por um treino melhor, para conquistar a mesma qualidade de treino do Olímpico, isso é muito importante como hoje me da o direito de treinar com os melhores, de treinar junto com a seleção brasileira em cima do tatame então a gente trabalha a todo momento para o melhor, e esses atletas também tem o melhor Outras equipes que vem integrar a seleção paralímpica que vem dar essa assistência para eles, a gente demonstrando isso, a gente conquista cada vez mais para o judô paralímpico. Eu estava migrando da faixa marrom para faixa preta, nessa época, foi uma sequencia natural, né?! acho que a faixa preta chegou pra mim em meados de 93 , finalzinho de 93 eu era aluno do professor Shitomo Tsuma, ele me obrigou a fazer o kata, naquela época era obrigado a fazer o kata. Como eu era campeão regional de São Bernardo acabei não precisando lutar, mas por ele, se eu não tivesse sido campeão eu teria que lutar para conseguir minha faixa preta. Eu fiz o naguiro kata todo completo as 5 series, e antigamente era muito mais cobrado porque a gente tinha o professor Ogaua que veio do Japão que introduziu o judô dentro do Brasil e era vivo nessa época e acompanhava todos os exames de faixa preta. Nós erámos muito mais cobrados pela antiga budokan, ele liderava a budokan com mão de ferro mesmo, ele estava na minha bancada, mas fiz todos os exames de faixa verde até a marrom na Budokan com o professor Ogua é uma medalha. A bolsa atleta foi formatada no modelo antigo dela onde os atletas que fossem para paralimpíadas ou pra olimpíada ou que tivesse resultado internacional ou nacional ganharia uma ajuda de custo, essa ajuda foi muito bem-vinda do governo, tinha atletas ali que passavam até fome. Acho que o desporto olímpico e paralímpico tem dois momentos, o momento antes da Agnelo Piva e o momento depois da chegada da lei que chegou em 2003 se não me engano 2002, o grande crescimento do desporto olímpico e paralímpico foi depois dessa data em diante quando o governo Sancionou a lei Agnelo Piva Era esforço do próprio atleta, antigamente acho que até 2000, 2004 e 2006 era influência do próprio atleta, era qualidade do atleta para chegar para buscar.
O papel do poder público no atleta paraolímpico que, com todos os
problemas, vive intensamente. O poder público não tem como negar a parcela de
contribuição que especialmente na carreira desse atleta. Como afirma Sérgio
(2012), o significado do esporte é a transcendência, é a busca pela liberdade,
sonhar e perseguir os seus sonhos é intrínseco ao ser humano e o atleta
paralímpico não é exceção. T. é um excelente exemplo disso.
Eu tenho sonhos que eu posso alcançar e realizar, mas sonhar que um dia vou ser reconhecido no meu país por ser o melhor judoca paraolímpico, isso eu não tenho isso é besteira. Quando eu iniciei no judô paralímpico então a gente hoje tem grandes vantagens ai de ser um atleta paralímpico e muitas portas abertas com o
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governo Federal. Antigamente a gente não tinha nada, a gente dormia em alojamento, a gente comia marmitex, a gente não tinha patrocínio, e a gente tinha que contar com alguém que quisesse nos patrocinar ou dar alguma coisa para gente, hoje não, o governo, vê a seleção Olímpica e Paralímpica com os mesmos olhos e o Governo Federal vem dando todo apoio para gente nos treinamentos, para a gente conseguir atingir nossos objetivos. O esporte paralímpico hoje tem um novo significado, ele tem o apoio total do Governo Federal e hoje é muito diferente de 20 anos, 25 anos atrás quando eu iniciei no judô paraolímpico, então a gente hoje tem grandes vantagens de ser um atleta paralímpico e muitas portas abertas com o governo Federal.
No esporte, a superação não aponta apenas para um resultado
extraordinário, mas o aprimoramento dos sentidos do ser, na ética e no respeito
pelos valores humanos e do esporte. O esporte é e sempre será campo fértil da
transcendência, de cultivo de símbolos e mitos, de heróis e de heroínas a sua
transcendência estende-se aos diversos contextos da sua vida (BENTO, 2007),
como se pode observar em T.
Em 1995 fui para o Mundial e no ano seguinte conquistei meu primeiro ouro em Atlanta. Não sabia o que seria dali para frente, não sabia se continuava a treinar, se dava aula... Voltei a treinar em 1998 e em 2000 fui bi campeão paralímpico. Foi a partir desta época que a mídia e os patrocinadores começam a dar uma atenção maior. Eu aprendi realmente que ser atleta dentro do Brasil é uma coisa muito difícil. Ser atleta nesse país não é só vencer, mas ter uma enorme persistência, um empenho imenso. Mostrar o esforço de um atleta paralímpico que é igual ao esforço de um atleta regular. Em 2008 fiquei um ano e meio sem competir internacionalmente, ai surgiu o argelino dentro desse um ano, foi bom ele surgir, e me alertou e fez com que eu colocasse os pés no chão e falar: opa, tem um cara mais forte! Eu tenho que treinar, eu vou ter que me preparar para pegar aquele cara, não só aquele cara, como o cubano e o cara dos Estados Unidos.
O paralímpismo, bem como o esporte em geral vive uma luta
permanente , pela excelência na busca pela perfeição, pela excelência e pela
transcendência, pois o atleta não nasce campeão, mas torna-se um ao buscar os
ideais olímpicos (GARCIA, 2012).
O atleta que é capaz de se transcender no mais importante dos
palcos e de ser o protagonista de elevados feitos esportivos, pode ser
condecorado à condição de herói, onde será admirado e respeitado socialmente,
82
passando a ser um referencial de modelo aos demais (Rubio, 2001).
Todavia, não é apenas os símbolos do esporte que faz do atleta
paralímpico um herói, mas a superação de questões individuais e sociais, bem
como a demonstração de valores morais e éticos, representa um feito importante
para a formação e consagração do herói, mas acima de tudo um herói moral,
condições que no esporte de alto rendimento adaptado nos parecem ser mais do
que evidentes (RUBIO, 2004).
O Comitê Paralímpico Internacional, assume, assim, a ideia do herói
paralímpico como elemento inspirador para que outras pessoas com deficiência
se sintam motivadas a alcançar os seus próprios feitos, tanto no esporte como em
diversas áreas da vida ao propagar o lema “Espírito em Movimento” -, no qual se
valorizam a coragem, a determinação, a inspiração e a equidade.(PEERS, 2012b;
PURDUE & HOWE, 2012a).
O herói paralímpico busca superar diariamente as dificuldades não
apenas como expressão do ideal da transcendência, mas para além do esporte,
para sua própria vida, assim no esporte paralímpico, o herói surge como alguém
capaz de alcançar o inesperado e ir para além do que seria o seu destino óbvio.
É evidente que o atleta para perpetuar a condição de herói e
escrever seu nome na história esportiva é, sem dúvida, através de marcas únicas
e raras, superando não só os seus adversários, mas também a si próprio (RUBIO,
2006; SILVA & RUBIO, 2003).
O recorde, a conquista são a expressão mais evidente da
transcendência no esporte; representa a ideia de progresso ilimitado associada ao
rendimento e ao triunfo alcançado através do treino incessante e da dedicação,
por isso a tentativa de ir mais longe e de superar os limites não é mais do que
83
uma necessidade antropológica, mas uma condição humana para legitimar
existência. (SILVA & RUBIO, 2003), bem como no participante deste estudo.
Foi um sonho que era sair do Brasil, consegui realizar sendo campeão Paralímpico pela primeira vez na história do judô trazendo uma medalha de ouro para o Brasil. As outras participações também a minha última Olimpiada, Paralímpiada que trouxe o ouro foi em Pequim, eu era da categoria até 100kg e ali eu trouxe mais um ouro me tornando tetra campeão Paralímpico pelo Brasil, mais alto do pódio. A vida é de arriscar cara e se eu arrisco e ganho mais uma. É muito mais fácil eu arriscar e saber o que eu estou fazendo do que eu não arriscar e falar que poderia ir, eu poderia eu poderia não sei o que, então vamos arriscar.
No esporte, o limite está sempre à frente para ser alcançado, batido
e superado por aqueles que sonham alto.
O esporte como campo do simbólico é mesmo interpretado como um
mito primordial da existência (COSTA, 2006; GARCIA, 2012). Os simbolismos
míticos do esporte associam à transcendência do atleta. O atleta sente-se o
melhor do mundo quando ganha uma medalha. Não é um determinado contexto
esportivo que eleva a transcendência, mas sim a possibilidade de superação de
que todo o ser humano dispõe.
6.2.2.5 Significado do Esporte Paralímpico
Por mais simples que seja, o jogo tem uma função significante,
adquirindo um sentido próprio e que é mutável de acordo com o praticante, a
especificidade da sua prática e o meio que o envolve, assim conferindo
significado à ação (HUIZINGA, 2003). Considerando a narrativa no esporte
paralímpico, percebe-se que não existe um significado único na prática esportiva.
Ela pode assumir múltiplos significados de acordo com as características
individuais do atleta, as particularidades do seu percurso esportivo e as
experiências vividas neste contexto. A narrativa de T. expressa, claramente, esta
84
influência.
Ninguém quer ser deficiente, ninguém quer uma nova chance não como deficiente, ninguém quer ser deficiente ninguém, a gente vive em um mundo que é estética pura, então a gente não vai mergulhar nos nossos problemas jamais, mas a gente vai aprender a conviver com a nossa deficiência isso a gente tem que aprender se não a gente vai ser além de cego revoltado (riso) e não da cara não da pra ser revoltado, então a gente aprende a conviver com nossos problemas.
Para Legg e Steadward (2011), é por meio do esporte, que as
pessoas com deficiência transitaram do paciente para o atleta e, cada vez mais,
do atleta para o cidadão, o que é extremamente valorizado por estes atletas.
Wheeler et al. (1999), em seus estudos, em concomitante, a sua
carreira de atleta permitiu-lhes serem reconhecidos e aceites dentro do contexto
com o qual dividem as suas alegrias e sucessos esportivos. Neste ponto, o
orgulho que os seus mais significativos manifestam pelos seus resultados de
excelência é muito sobrevalorizado.
Eu sempre falo para os meninos que eu nunca saio do meu país pra não trazer resultado eu quero resultado porque eu vivo de judô né, eu quero tá no pódio eu quero tá entre os 3 em cima do pódio porque eu vivo disso, eu quero continuar se for possível quero continua sendo campeão paralímpico. Ser judoca é questão de disciplina de lealdade é questão de igualdade é questão de aceitar vitória e aceitar a derrota também.
Talvez esteja aqui em dos sentidos da competição e do próprio ser
atleta passa-se a precisar do rendimento, além ou ao invés de deseja-lo. Assim
estabelecendo uma relação íntima com o projeto, com o ser-no-mundo-como-
atleta, que estabelece com o rendimento uma ligação em que este significa a
própria realização do projeto: o vencer irá anunciar e posicionar sua pertinência,
sua continuidade e seu sucesso.
A importância que o esporte competitivo tem em vida se modifica, o
sentido do esporte enquanto profissão passa a ser o mesmo que aquele
construído em torno do esporte amador onde o atleta compete em primeiro lugar
85
representando a si mesmo.
Um atleta vive a vida através de um modo muito próprio em busca
de ser mais e melhor, não só no terreno competitivo, mas também no palco social
(SÉRGIO, 2012). Para tanto o esporte paralímpico significa também capacitação,
realização pessoal, reconhecimento e superação pessoal e social do atleta
(HUTZLER & BERGMAN, 2011b; PEERS, 2012b; PURDUE & HOWE, 2012a). T.
ilustra:
Os fisioterapeutas do Brasil deram um jeitinho na minha lesão de menisco na final de Sidney. Eu acho que o tatame é meu mundo, eu acho que quando eu estou dentro, eu sou eu, não preciso mais da minha bengala, eu não preciso mais da noção do cara que está falando: olha, aqui é meu mundo, estou exercendo a minha profissão, estou exercendo aqui a vida inteira.
O esporte vem a ser associado à sua profissão, para o atleta, o valor
atribuído por integrar integrarem o projeto paralímpico representa o único
rendimento do atleta.
o esporte a eu trabalho para eles e o esporte é minha segunda rotina mais apta da minha vida.
Nestas situações particulares, a prática esportiva de alto rendimento
permite ao atleta assegurar a sua independência financeira e transpor as
consequências negativas da deficiência, também observado no estudo de Garci e
Mandich (2005).
Considerando a mobilidade e autonomia do atleta, o esporte
devolveu a liberdade a muitos deles e T.é um exemplo:
Eu era muito apegado ao meu pai, meu pai que me levou para o judô ele nunca me deu nada na mão, quando eu fui ficando adolescente e minha mãe faleceu ele não me dava mais nada ele falava que eu tinha que conseguir as coisas e quando eu fiquei portador de deficiência visual não foi diferente, ele me manteve 3, 4 meses depois a gente viu que não tinha mais jeito ai ele falou está na hora de você se virar novamente, eu não vou te dar mais nada, você vai ter que se virar de hoje por diante e realmente se ele tivesse me dado algumas coisas eu teria ficado em casa, eu teria me acomodado esperando por ele eu não teria eu não teria o que eu tenho hoje, minha cidadania, minha dignidade, minhas
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coisas se não fosse as palavras dele, olha de fala hoje não vou te dar mais nada de hoje por diante não dou mais nada a você, de hoje em diante vai trabalhar e viver do seu suor, meu pai se libertou daquela responsabilidade e me deixou viver minha vida tranquilamente.
A liberdade funcional e financeira conquistada reflete-se de modo
evidente na vida do atleta, explicitado na compra de uma cadeira de rodas
elétrica, recurso com um custo muito elevado e que, através das recompensas e
prémios ganhos no esporte, foi possível adquirir. Hoje vivem de modo
independente e muito mais feliz, ou ainda comprar um carro adaptado,
equipamentos para utilizar dentro de casa o que, expressa a liberdade de
movimentos que foi adquirida pelos atletas devido à emancipação financeira
conquistada enquanto atletas de alto rendimento estendendo a melhoria das suas
condições de vida a sua família.
O esporte incutiu no entrevistado valores da perseverança, da
dedicação, da valentia, da coragem, do rigor e disciplina, entre muitos outros,
valores que são essenciais na luta do esporte, mas também na aceitação da sua
deficiência. É neste contexto que aprenderam a olhar para a deficiência sem a
valorização das limitações transitando da incapacidade para uma perspectiva de
possibilidades no esporte e na vida (SMITH & SPARKES, 2004).
A experiência esportiva adquirida até à data da entrevista
transformou-o como atleta, mas, fundamentalmente, como seres humanos. Para
alguns, o esporte, enquanto espaço privilegiado de crescimento e de
aprendizagem pessoal é responsável pelo que são hoje como pessoas -
verdadeiros seres íntegros.
87
6.2.2.6 Obstáculos à Prática
A adversidade faz naturalmente parte do percurso de um atleta de
alto rendimento e o atleta com deficiência não está livre desse estigma, fato
relatado por autores de estudos nacionais e internacionais (J. V. Carvalho, 2006;
Hutzler & Bergman, 2011b; Jaarsma et al., 2013; Vilela, 2008). As barreiras
mantêm-se presentes e fazem parte da realidade do percurso esportivo do atleta
de elite (Dieffenbach & Statler, 2012; Hutzler & Bergman, 2011a; Jaarsma et al.,
2013). No Brasil, estas dificuldades são notória na narrativa do entrevistado o que
revela a importância que a melhoria de condições poderá significar para os atletas
brasileiros.
As dificuldades a prática esportiva têm natureza diversa e vão desde
a escassez de apoio financeiro; à falta de recursos humanos, treinadores,
médicos, fisioterapeutas, psicólogos, técnicos dificuldades em conciliar o treino
com o desempenho de uma atividade profissional e a vida familiar; entre muitos
outros fatores enunciados por Dieffenbach & Statler (2012); Gold & Gold (2007);
Jaarsma et al. (2013). O conhecimento destes obstáculos revela-se crucial para
que seja possível uma intervenção futura a fim de corresponder às reais atletas.
A título de exemplo, recuperamos um excerto da narrativa de T.
Antigamente a gente não tinha nada é a gente dormia em alojamento, a gente comia marmitex, a gente não tinha patrocínio, e a gente tinha que contar com alguém que quisesse nos patrocinar ou dar alguma coisa para gente.
No estudo de Wheeler et al. (1999), os atletas tais como o nosso
referem-se aos obstáculos à prática, o funcionamento das instituições, falta de
reconhecimento do valor dos atletas; a falta de comunicação com os atletas; a
falta de apoio e de sistemas adequados de assistência; a falta de apoio aos
atletas durante os treinos. Mesmo que estas falas mostrem –se presente no
88
discurso de outros atletas, tal situação é recorrente na realidade brasileira pois os
países que compõem a américa do norte e os países da Europa o poder público
fomenta muito o esporte e tem investido para aprimorar a prática do desporto
adaptado, e aqui mesmo com esse incentivo crescente, tal ação mostra se
pequena perto de como o esporte como um todo precisa para desenvolver-se,
não nos referimos apenas a recursos financeiros mas de um gerenciamento de
gestão, que tem sido partidária e nos deixa a mercê dessa situação que vivemos
no Brasil deixando de lado a o principal objetivo que é a prática esportiva, esta
situação se agrava por algumas particularidades com relação ao desportista
paralímpico
Segundo Brittain (2010), a disponibilidade e os custos associados
aos equipamentos necessários para competição de algumas modalidades
adaptada é elevado. Nesta adversidade, o entrevistado destaca a falta de apoio
financeiro, essencialmente, para a compra de material esportivo e para a sua
manutenção.
A escassez de apoios aos atletas paralímpicos não é identificada
apenas no âmbito financeiro. No discurso de T. é também notória a falta de apoio
nos diversos níveis do contexto esportivo.
Eu sou atleta de competição e sei que cada vez que se subestima o adversário, o adversário vai lá e te garfa, o H. eu acho que foi em 1990 e 2004, acho que foi 2004, falaram tanto que ele ia ganhar a medalha de ouro na Grécia encheram a bola do negão, sabe o negão estava treinadinho, afiado, sabe?! Ninguém ganhava do H., ele saiu daqui do Brasil como favorito, A Coca-Cola colocou comercial, colocou outdoor do H. em todo lugar, sabe a cidade tinha outdoor do H. por todo lado, a confederação Brasileira de judô tinha já contado com a medalha de ouro do H. no judô todo mundo tinha contado com a medalha do H., e o H. começou a acreditar que ele realmente ia ganhar aquela medalha de ouro, ele começou esquecer que ele tinha que treinar, ninguém chegava nele e tem que treinar mais. Aquela medalha de ouro é sua e o erro dele foi começar a acreditar que aquela medalha era dele, ele ganhou a primeira luta, assim se você tem vídeo ele ganhou, se você tem vídeo ele ganhou a primeira luta em 2 minutos de luta do cara mais forte da chave que ele tinha que ganhar, ele ganhou é, ele foi para segunda luta dele,
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ele perdeu para o cara que não tinha evidência nenhuma, ele perdeu pô, H. perdeu para o cara que surgiu ontem e para você colocar na cabeça de um cara desse que ele tem mais não sei quantas lutas da repescagem para fazer né, o patrocínio dele, ele indo para área de concentração novamente. Poxa, meu patrocínio da Coca- Cola e agora? e meu patrocínio de São Caetano e agora? e meu apartamento que eu comprei como vou pagar?, pô, meu carro novo que eu comprei que eu vou fazer? Como você acalma um cara desse que todo mundo colocou que era favorito e ele perdeu a segunda luta que ele foi fazer, ele perdeu, ele voltou para repescagem sem cabeça nenhuma, tomou uma estampada que até hoje está procurando o cara, até hoje, H. depois de 2004 o H. não voltou mais fazer judô como antes, excesso de confiança passado pelos outros é muito ruim para o atleta porque ele começa a acreditar e começa relaxar no treinamento dele.
O papel da Psicologia do Esporte se torna importante no
desenvolvimento da autonomia e independência desses atletas e pode
proporcionar diversos benefícios, favorecendo a melhoria das capacidades
cognitivas, convivência sadia em grupo e também contribuir diretamente para com
o desenvolvimento do Desporto Paralímpico no Brasil.
Percebe-se na fala de T. a importância de estratégias cognitivas,
que é comum a todo atleta olímpico e paralímpico, situações que o atleta passa, e
as implicações do não desenvolvimento desses atributo, o quanto vem a
influenciar na performance por não controlar a interferência de fatores externos e
internos no que tange a carreira do atleta, assim passa a ser essencial a atuação
da psicologia do esporte devido as etapas que este atleta paralímpico não
vivenciou no processo de iniciação em decorrência da rápida ascensão no cenário
esportivo, por muitas vezes não estar adaptado a grandes eventos, por nunca ter
ido a uma competição internacional e já estar em uma paralímpiada, entre outros
fatores.
Quanto ao Esporte Adaptado, a Psicologia do Esporte se faz ainda
mais importante, uma vez que os atletas buscam, além do equilíbrio mental para
disputar uma competição, a superação dos limites impostos pela própria
90
deficiência.
Para Samulski (2005), pode-se dizer que a "Psicologia do Esporte
não se limita a um tipo específico de atleta, podendo ser utilizada para qualquer
interessado em desenvolver suas capacidades psicológicas e não poderia ser
diferente quando se trata dos atletas Paralímpicos".
Certamente a Psicologia do Esporte tem papel fundamental a ser
desenvolvido junto a esses atletas, pois os impactos causados pelas sequelas da
deficiência ou pelas incapacidades impostas a algum segmento corporal podem
fazer com que essas pessoas apresentem níveis mais elevados de ansiedade e
insegurança diante de determinadas situações, advindas tanto das condições de
vida diária ou das exigências próprias do esporte (ROBBINS; DUMMER, 2001).
Como refere Lima (2002), o apoio multidisciplinar é fundamental
para a construção de um percurso esportivo de sucesso para o atleta de alto
rendimento. T. refere que:
Eu acho que muitos atletas se intimidam na área de competição por estar vendo o cara competir e fala o cara é muito grande, acho que o grande fator psicológico, do cara está vendo o outro, abala também, então, comigo eu acho que levo essa vantagem, eu procuro não ficar muito focado no tamanho na dimensão do cara.
Tal como percebemos na narrativa em questão como também é
relatado em outros estudos Gorley, Lobling, Lewis, & Bruce (2002); Guast, Golby,
Van Wersch, & D’Arripe-Longueville (2013); Martin (2005), reforçam a importância
de programas de longa duração, programas consistentes, específicos e
sistemáticos de treino de competências psicológicas, tática e técnica no âmbito
nacional.
É notável o enorme orgulho em representar o Brasil – é fato que
nem sempre sentem a sua dedicação, empenho e esforço diário devidamente
91
reconhecidos por um país que parece alheio às dificuldades diárias que estes
enfrentam para treinar ao mais elevado nível.
Ao abordarmos este tema não poderíamos deixar à escassez de
recursos humanos especializados na área, haja visto que encontrar um treinador
com conhecimentos, tempo e disponibilidade para treinar nem sempre se revela
tarefa fácil para um atleta com deficiência que deseja atingir a alta competição
(BRITTAIN, 2010).
Segundo Cregan et al. (2007), nota-se que muitos treinadores de
atletas paralímpicos têm formação específica apenas na área do esporte,
desconhecendo as especificidades e implicações da deficiência na prática de uma
modalidade esportiva. Nesta área de intervenção, é crucial que o treinador
conheça a deficiência do atleta (CARVALHO, 2006; TAWSE et al., 2012). Tais
constatações, levam-nos a reparar que mesmo com o crescimento do esporte
paralímpico, a aposta na formação de recursos humanos especializados ainda é
pequeno, o que representa uma barreira considerável ao desenvolvimento da
área e ao reconhecimento do atleta paralímpico como um atleta de elite (TAWSE
et al., 2012).
92
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão sobre o significado do esporte para o atleta paralímpico
deficiente visual da modalidade de judô é uma área nova. As dificuldades marcam
a prática esportiva adaptada no país, principalmente no que se refere à
fomentação do esporte não mais apenas como processo de reabilitação mas
como esporte competitivo. Assim potencializado o que está historicamente posto:
a prática esportiva adaptada não é vista como uma prática competitiva, o que
impede uma disseminação e popularização da prática pelos pares.
A busca por elementos que estivessem presentes na história de vida
do atleta, por meio do seu discurso, conduziu esta pesquisa para um campo que
apontou a atribuição de significado por parte do atleta deficiente visual a prática
do judô. A história de vida do atleta que utilizamos como fonte para esta pesquisa
trouxe com seu discurso pontos de reflexão tais como iniciação e acesso à alta
competição; a iniciação ao esporte para pessoas com deficiência; os obstáculos à
iniciação; o acesso à alta competição; a experiência vivida na alta competição; o
comprometimento; o sucesso x insucesso; o reconhecimento; a transcendência; o
significado do esporte paralímpico e os obstáculos à prática que levam a crer que,
em sua carreira, ter questionado as diferenças atribuídas ao treinamento olímpico
e paralímpico foi parte significativa do processo que culminou com a permanência
nos últimos 20 anos dentre os principais medalhistas nas competições nacionais e
internacionais.
Por meio da apreciação dos fatos relatados pelo atleta, percebeu-se
que ele possui singularidades que tornara sua carreira no esporte paralímpico
brasileiro excepcional, por estar presente nas últimas cinco edições dos jogos
93
paralímpicos no pódio além de ser um atleta que percebe a modalidade, além dos
tatames. Foi possível verificar alguns pontos que norteiam e contribuem com a
importância e o significado que o atleta vincula a prática esportiva. Percebe-se
que a iniciação ao esporte adaptado ocorre por meio do processo de transição da
prática regular a esta nova forma de esporte pelo qual o sujeito passa no período
de aceitação da sua condição como deficiente.
Na análise das informações, é notável que para o entrevistado logo
após adquirir a deficiência visual, este não tinha conhecimento do esporte
adaptado no que se refere à prática no âmbito competitivo, contudo não foi um
empecilho para que ele fosse adiante em suas experiências no esporte adaptado.
Identificado como habilidoso, esse sujeito passou a desenvolver suas habilidades
no judô com o intuído de potencializar e aprimorar essas habilidades ao logo da
carreira esportiva agregando ao grupo que compõe a seleção brasileira de judô
adaptado.
O parâmetro de excelência, que norteia as primeiras participações
paralímpicas brasileiras, não eram próximas aos investimentos destinados ao
esporte olímpico. Fato este que atualmente apresenta menor discrepância, mas
ainda presente em alguns contextos do esporte adaptado. E o atleta em questão
é um dos pioneiros nos questionamentos e na busca constante por melhor
qualidade técnica e tática no judô adaptado. É também o primeiro a colher os
louros do profissionalismo no esporte adaptado, alcançando o feito de conquistar
consecutivamente quatro medalhas de ouro paralímpica e em sua participação
nos Jogos Paralímpicos de Londres a medalha de Bronze.
A ideia de buscar compreender o significado de ser atleta de judô
paralímpico partiu de uma preocupação particular sobre o percurso trilhado pelo
94
atleta deficiente visual quanto ao desporto adaptado. Por meio do referencial
teórico do tema, foi possível perceber que, para além de uma prática marcada por
obstáculos e constantes conquistas, implica em processos mais amplos e
complexos na reflexão das experiências no que tange o significado vinculado ao
esporte por meio de quem o vivencia. Embora tenha conquistado títulos de
grande expressão internacional e nacional, o esporte adaptado ainda mostra-se
isento dos holofotes do glamour.
Foi diante deste contexto que percebemos que o atleta ao
estabelecer significado a sua trajetória esportiva e de vida, apresenta uma relação
das características individuais como atleta, as particularidades do percurso
esportivo e as experiências vividas. Dessa forma, por meio dos diferentes temas
que emergiu durante a entrevista realizada entende-se a importância atribuída ao
processo de aceitação da deficiência e as experiências ao longo da trajetória
esportiva por meio da compreensão da iniciação esportiva e todo processo que
compõem a carreira de um atleta de alto rendimento, assim é possível notar que o
significado atribuído ao esporte adaptado está relacionado com as vivencias que
o indivíduo tem e as emoções que a prática evoca no contexto esportivo e o modo
como repercute e representa uma importante etapa da carreira.
Um tema que foi amplamente explorado na narrativa do refere-se ao
processo de aceitação da deficiência, bem como as experiências ao longo da
trajetória esportiva por meio da compreensão da iniciação esportiva e todo
processo que compõem a carreira de um atleta de alto rendimento. Dado o
exposto, o significado atribuído ao esporte aparece de forma singular na relação
atleta-esporte que norteia a condição de lugar para viver, ser, sentir e significar a
prática esportiva, pois o individuo em questão vincula o significado da prática aos
95
sentimentos que evoca ao recorrer à memória, os momentos e eventos
importantes que vivenciou.
Dessa forma, o espaço físico e social são culturalmente estruturado
pelos sujeitos, por vivenciar nestes espaços emoções que permanecem vivas na
memória coletiva e adquirem um significado que transcende ao sujeito no que
tange a identificação com a torcida, a valorização da moral e ética, o representar
a nação, a luta incessante pela vitória, o pertencer a um importante clube,
conquistar títulos é obter um posto de trabalho muito almejado, porque
proporciona reconhecimento e a aprovação, sentimentos esses importantes que
influenciam na construção de significado da prática esportiva.
Em suma, a narrativa biográfica oferece consistente aporte a
reflexão sobre a importância do cultivo de atividades para além do esporte.
Mostram também que o significado atribuído em ser atleta não foi o único fator
determinante para permanecia no esporte, mas uma dentre as diversas forças
que constituíam representações sociais sobre o esporte e seu protagonista, assim
ao mostrar-se capaz de individualmente demonstrar combatividade na construção
de sua carreira esportiva vencendo obstáculos como a falta de recursos, ou a
diferença de prêmios.
Procura-se o sentido de ser atleta quando se relaciona que a
escolha e o sentido são fenômenos que se engendram formando aquilo que
mantem e direciona o atleta a sua historia. No universo esportivo, o desporto para
pessoas com deficiência é ímpar e distingue-se pelas suas particularidades, na
sua maioria, relacionadas com as próprias potencialidades e limitações do atleta
para competir.
Embora os atletas sejam, posteriormente, encaminhados para a
96
competição, muitos não iniciam mais cedo a prática esportiva por
desconhecimento em face de sua existência e de possíveis locais de prática.
Todavia, não podemos esquecer que no desporto para pessoas com deficiência é
possível encontrar atletas cuja deficiência foi adquirida no decorrer da vida,
circunstância que justifica uma entrada tardia no desporto e que sucedeu com
alguns dos entrevistados.
Mas a verdade é que o atleta tem ainda uma enorme batalha a
travar seja paralímpico ou olímpico: falta-lhe conquistar o reconhecimento dos
meios de comunicação social e do espectador em geral para se aproximar da
condição heroica naturalmente atribuída ao atleta de elite. É primordial que as
suas virtudes e talentos sejam conhecidos e reconhecidos, pois mais do que um
herói no esporte, o atleta paralímpico pode torna-se um modelo capaz de inspirar
outras pessoas/atletas a seguir o seu exemplo.
Em território nacional, os atletas paralímpicos alcançam visibilidade
apenas nos anos em que se realizam os Jogos Paralímpicos. Nessa altura -
antes, durante e após a competição - os seus nomes são revelados, os seus
resultados noticiados e a sua imagem surge em vários meios de comunicação
social.
Para o atleta brasileiro que se inicia na competição, o esporte
adaptado é gradativamente mais difícil, perante um contexto internacional onde se
observa um crescente investimento. Por conseguinte, mas não apenas por isso,
ainda esbarramos no incentivo, no apoio e a criação de condições estes são
aspetos fundamentais para o desenvolvimento da carreira paralímpica. Sem este
auxílio, poucos serão aqueles que, individualmente, conseguirão fazer o
investimento necessário para alcançar lugar de destaque no esporte de elite para
97
pessoas com deficiência.
O atleta paralímpico é incitado pela conquista pessoal, pela
transcendência humana e pelo reconhecimento social que poderá advir de uma
carreira desportiva meritória. Enquanto ser humano, o atleta é um projeto aberto,
um ser em potencial permanente e um homem que anseia o inatingível. Ninguém
nasce campeão, um atleta de elite “faz-se”! Ser atleta é contemplar o mais além, é
visar o aprimoramento constante e viver em busca de consecutivos sonhos -
sonhos sempre mais altos e grandiosos.
A transcendência é um ato iminentemente humano e um feito que
todo o homem deseja alcançar. No caso do atleta paralímpico, a busca da
transcendência materializa-se no espaço esportivo e também social, em virtude
das barreiras e obstáculos que tem de superar diariamente. Se no esporte
adaptado a superação de limites é expressa através de recordes, de marcas ou
medalhas; na vida pessoal a transcendência fica patente nas vitórias
profissionais, pessoais e, maioritariamente, sociais que o atleta alcança.
Recuperando as experiências vividas e narradas pelo atleta no
esporte destacam-se momentos que parecem revestir-se de maior significado,
tais como: a participação na primeira competição internacional ou paralímpica; a
conquista da primeira medalha (nacional, internacional ou paralímpica); a
obtenção da primeira medalha de ouro; o instante em que se quebra um recorde;
o momento em que se vence uma prova após lesão ou após uma fase marcada
por maus resultados desportivos; a experiência de vencer numa prova em que o
atleta não era favorito; subir ao pódio e ouvir o hino nacional, entre outros.
E a partir disso o trabalho corrobora por articular três grandes eixos:
esporte paralímpico deficiência e significado do esporte por meio da narrativa e
98
por dar voz a este atleta paralímpico ele traz a tona em seu discurso a
importância em ser modelo para seus pares, os 17 milhões de deficientes que
residem no Brasil, é importante, porque muitos deles experimentaram a
superproteção das famílias e tem pouca vivência na sociedade, e o esporte
quebra esse paradigma por perceberem que podem, sim, serem exemplos e que
estão se desenvolvendo a fim de melhorar o cotidiano e vem contribuir com
benefícios para os pares quanto a tecnologia, mercado de trabalho a visibilidade
para o cotidiano do deficiente.
Por meio da tecnologia e oportunidade, é notório na voz do sujeito
que não é apresentado na literatura acadêmico cientifica o que vem diferenciar o
atleta paralímpico do atleta olímpico, pois para o atleta paralímpico a conquista
de seus objetivos está atrelada a melhoria e acessibilidade de tantos outros
deficientes no seu dia a dia.
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114
8. ANEXOS
Anexo 1- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Prezado Atleta,
Você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa intitulada “O
Significado do Judô Paralímpico: um estudo de caso da narrativa biográfica de um
atleta com deficiência visual” desenvolvida por ................ aluna do curso de
Mestrado da Faculdade de Educação Física da Universidade São Judas Tadeu,
sob orientação da Prof.ª Dr.ª ............... O estudo visa contribuir para a reflexão
sobre sua trajetória de vida e trajetória esportiva, por isto, solicitamos que, por
gentileza, responda às questões propostas na entrevista. Asseguramos total sigilo
nos dados coletados, que serão utilizados somente para fins de pesquisa. Desde
já agradecemos sua colaboração.
Eu, ___________________________________________________________,
RG_____________________________________,CPF __________________,
Endereço__________________________________________________________
_______________________________,telefone ______________________,
email: _________________________________________________________,
assino o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para participar como
voluntário do projeto de pesquisa supracitado, sob a responsabilidade do
Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu.
Assinatura:______________________________________________________
115
Ao assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e rubricar todas as
páginas, declaro que:
1) Estou ciente de que o objetivo da pesquisa é trazer elementos para reflexão do
significado do esporte paralímpico, analisando as características deste processo
por meio da minha narrativa biográfica.
2) Estou ciente que deverei responder a indagação conte-me sua “história de
vida” e o questionário sociodemográfico com questões sobre a modalidade que
pratico, tempo de experiência, principais competições em que participei.
3) Responderei com sinceridade e de maneira voluntária ao questionário e
entrevista da pesquisa em questão.
4) Estou ciente de que poderei obter esclarecimentos sobre o andamento e a
metodologia aplicada na pesquisa a qualquer momento que desejar e que os
resultados não serão utilizados para outro fim que não o de pesquisa cientifica.
5) Estou ciente de que há possibilidade de ser necessário realizar mais de uma
entrevista e pode ter a duração prevista de aproximadamente 30 minutos.
6) Estou ciente de que as entrevistas serão gravadas em mídia e arquivadas
criando um banco de dados no grupo de estudo os da Universidade São Judas
Tadeu e não serão utilizadas em outros trabalhos com objetivo diferente do
exposto acima. Saliento que as mídias serão descartadas após 5 anos da
publicação dos resultados gerais obtidos com a pesquisa.
7) Estou ciente de que os procedimentos utilizados apresentam risco mínimo à
minha integridade biopsicossocial e restringe-se ao possível constrangimento
referente às questões levantadas, caso seja necessário o participante poderá ser
encaminhado para atendimento psicológico no Centro de Psicologia Aplicada
116
(CENPA).
8) Estou ciente de que a presente pesquisa trará como benefícios minha
compreensão sobre os processos envolvidos no tema estudado.
9) Estou ciente de que poderei interromper ou até abandonar este estudo a
qualquer momento, sem que nenhuma implicação recaia sobre mim.
10) Estou ciente de que a participação nesta pesquisa é voluntária, e que terei
meu nome e respostas resguardados sob rigoroso sigilo e os resultados não
servirão como critério de minha avaliação ou classificação na seleção brasileira.
11) Estou ciente de que os dados obtidos a partir das respostas dadas serão
confidenciais, de uso restrito dos pesquisadores, e os resultados gerais obtidos
serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho exposto acima,
incluída sua ampla publicação na literatura cientifica especializada.
12) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente
sobre a minha participação na referida pesquisa por meio da leitura do
pesquisador para compreensão e decisão quanto a participação no estudo.
13) Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas
Tadeu para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através
do telefone (11) 2799-1944.
14) Poderei entrar em contato com os responsáveis pelo estudo – ..... e ........
15) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma
permanecerá em meu poder e a outra com a pesquisadora responsável.
__________________________, _____ de ________________ de 2015
________________________________
Assinatura do atleta
_______________________________
117
Assinatura da Pesquisadora Responsável
_______________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
118
Anexo 2- Avaliação Demográfica
Nome:__________________________________________________________
Data de Nascimento: ____________Idade: ___________
Gênero: ( ) Masculino
Modalidade: __________________________Categoria:___________________
Motivo da deficiência: _____________________________________________
Se a deficiência foi adquirida, há quantos anos isso aconteceu: ____________
Há quanto tempo você pratica Judô?
_____________________________________
O nível mais alto que competiu até o momento foi:
( ) Regional ( ) Estadual ( ) Nacional ( ) Internacional ( ) Jogos Paralímpicos
Principais resultados que você obteve:
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
119
Anexo 3- Roteiro de Entrevista
As questões que se seguem têm como objetivo conhecer a sua trajetória de vida
e trajetória no esporte enquanto atleta de elite, tentando compreender o seu
percurso esportivo de uma forma abrangente, através das histórias e vivências no
esporte. Importa perceber qual o significado que o esporte adquire na sua vida.
Questões da entrevista:
1. Conte–me sobre sua história de vida
2. Lembra-se de como começou a praticar esporte? Conte-me como foi? -
episódios marcantes
3. Como foi a sua primeira competição esportiva? E a primeira competição a
nível internacional? - sentimentos - experiências episódios marcantes -
ambiente envolvente
4. Lembra-se como foi ganhar a primeira medalha? De todas as que já
ganhou, qual é aquela de que se recorda melhor e porquê? - sentimentos
recordações/fatos marcantes
5. No seu percurso esportivo, como surgiram as competições? Em algum
momento pensou abandonar a competição ou o esporte de um modo
geral?
6. O que o(a) motiva a treinar diariamente?
7. Que lugar ocupa o treino na sua vida diária? E a competição? Conte-me
como é habitualmente o seu dia.
8. Como é participar em competições Internacionais e Paralímpicas? Conte
me as suas experiências a este nível. - experiências marcantes -
sentimentos - ambiente - maiores dificuldades/obstáculos
9. Na sua carreira esportiva que pessoa(s) foi(foram) mais marcante(s) para
si e porquê?
10. Como foi sua convocação para seleção brasileira?
11. Se pudesse voltar atrás e iniciar agora a sua prática esportiva, o que
gostaria de mudar relativamente no seu percurso? Porquê?
120
12. Há mais algum aspeto que considere importante referir acerca do seu
percurso esportivo e que deseje acrescentar?