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Sobre o REDD
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1986 Smbolo Panda WWF WWF uma marca registrada da rede WWFWWF-Brasil: SHIS EQ QL 6/8, Conjunto E CEP 71620-430, Braslia, DF (55+61) 3364-7400
WWF.ORG.BR O SISTEMA DE INCENTIVOS POR SERVIOS AMBIENTAIS DO ESTADO DO ACRE, BRASIL
Compatibilidade em diversas escalasRegimes de REDD devem ser compatveis nos nveis municipal, estadual e federal.
Participao ampla no desenho do regime de REDDConsultas pblicas devem permear todas as fases do desenho de um regime de REDD, desde sua formulao inicial.
Benefcios eficientes e efetivos para REDDA mudana efetiva de comportamentos depende de investimentos na transformao dos sistemas produtivos.
REDD no uma ilhaRegimes de REDD devem fazer parte de um contexto mais amplo de esforos voltados para a reduo do desmatamento.
Tempo e oramentoO desenho dos diversos aspectos de um regime de REDD requer tempos distintos e oramento adequado.
O SISTEMA DE INCENTIVOS POR SERVIOS AMBIENTAIS DO ESTADO DO ACRE, BRASIL Lies para Polticas, Programas e Estratgias de REDD Jurisdicional
Conservao
If there is no URL
With URL - Regular
OR
Why we are hereTo stop the degradation of the planets natural environment andto build a future in which humans live in harmony and nature.
Por que existimos
www.wwf.org.br
Para interromper a degradao do meio ambiente e construir umfuturo no qual seres humanos vivam em harmonia com a natureza
2013
ESTUDOBR
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Secretria-Geral
Maria Ceclia Wey de Brito
Superintendente de Conservao
Mauro Jos Capossoli Armelin
Superintendente de Polticas Pblicas
Jean Francois Timmers
Coordenao do Programa de Mudanas
Climticas e Energia
Carlos Rittl
F IC H A T C N IC A
Texto
Anthony Anderson e Carlos Rittl WWF-Brasil
Luis Meneses-Filho The Global Canopy Programme
Brent Millikan International Rivers
Emily Brickell e Sarah Hutchison WWF-UK
Edio e reviso
Isadora de Aphrodite Richwin Ferreira
Fotografia
John D. McHugh, Greg Armfield e Simon Rawles
Design grfico
Mrcio Duarte PageLab
Publicado por
WWF-Brasil
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 1
SUMRIOLista de siglas 2
Resumo Executivo 6
Executive Summary 10
Introduo 15
O desmatamento no Acre 19
Polticas pblicas do Acre 27
O Programa ISA Carbono 37
Anlise do Programa ISA Carbono 59
Lies estratgicas 79
Agradecimentos 83
Referncias citadas 85
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 2
LISTA DE SIGLAS AAUs Assigned Amount Units
AB32 Nova poltica de clima do estado de Califrnia
ATER Assistncia Tcnica e Extenso Rural
BM&F BOVESPA Bolsa de Valores de So Paulo
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
CBMAC Corpo de Bombeiros Militares do Acre
CCBA Climate, Community and Biodiversity Alliance
CDSA Companhia de Desenvolvimento de Servios Ambientais
CEGdRA Comisso Estadual de Gesto de Risco Ambiental
CEVA Comisso Estadual de Validao e Acompanhamento
CIFOR Centre for International Forestry Research
CO2e Unidades equivalentes ao dixido de carbono em termos de efeito estufa
CNS Conselho Nacional das Populaes Extrativistas da Amaznia
CPI/Acre Comisso Pr-ndio do Acre
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
ETS Sistema de Troca de Emisses da Unio Europia
FSC Forest Stewardship Council
GEE Gases de Efeito Estufa
GTA Grupo de Trabalho da Amaznia
Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
IBGE InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 3
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade
IMC Instituto de Mudanas Climticas e Regulao de Servios Ambientais
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
ISA Incentivos por Servios Ambientais
KfW Banco de Desenvolvimento Alemo (Kreditanstalt fr Wiederaufbau)
LIDAR Light Detection And Ranging
Mt Milhes de toneladas
ONG Organizao No Governamental
PAS Plano Amaznia Sustentvel
PDC Plano de Desenvolvimento Comunitrio
Pesacre Grupo de Pesquisa e Extenso em SistemasAgroflorestaisdoAcre
PNMC Plano Nacional sobre Mudana do Clima
PPCDAM Plano de Preveno e Controle do Desmatamento no Amaznia
PRODES Programa de Clculo do DesflorestamentodaAmaznia
PSA Pagamentos por Servios Ambientais
RCEs ReduesCertificadasdeEmisses
REDD Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao Florestal
RESEX Reserva Extrativista
SEANP Sistema Estadual de reas Naturais Protegidas
SEAPROF Secretaria Estadual de Extenso AgroflorestaleProduoFamiliar
SECT Secretaria Estadual de Cincia e Tecnologia
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 4
SEDENS Secretaria Estadual de Desenvolvimento Florestal, da Indstria, do Comrcio e dos Servios Sustentveis
SEF ex-Secretaria de Florestas do Acre
SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente
SISA Sistema de Incentivos por Servios Ambientais
UCEGEO Unidade Central de Geoprocessamento e Sensoriamoto Remoto
UCs Unidades de Conservao
UFAC Universidade Federal do Acre
UICN Unio Internacional para a Conservao da Natureza
UNFCCC Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima
VCS Voluntary Carbon Standard
ZEE Zoneamento Ecolgico-Econmico
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Este estudo trata do desenho de um Sistema Estadual de Incentivo a Servios Ambientais
(SISA) que inclui um regime de REDD (Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao Florestal) no Estado do Acre, Brasil. Conhecido como Incentivos por Servios Ambientais associados com Carbono, ou ISA Carbono, esse programa representa uma das primeiras polticas pblicas de REDD jurisdicional e considerada a mais avanada em todo o mundo. O estudo visa:
analisar o desenho e o processo de construo do programa, identificandofortalezasedesafios
contribuir com subsdios para sua implementao identificarliesrelevantesparaodesenhodeoutrosregimes
de REDD.
OEstadodoAcremantmmaisde86%desuacoberturaflorestaloriginal. Entre 2003 e 2012, a taxa de desmatamento caiu 71%, um padro que tambm foi observado posteriormente em toda a Amaznia brasileira.
A partir de 1999, o governo do Acre comeou a implementar uma srie de polticas socioambientais que contriburam para a queda mais precoce do desmatamento no estado. Dentre essas polticas destacam-se:
o Zoneamento Ecolgico-Econmico, que serve como instrumento bsico de ordenamento territorial
o estabelecimento e a expanso de um sistema de reas protegidas, que cobrem quase 50% do estado, considerando somente as reas pblicas.
um sistema extremamente avanado de monitoramento da coberturaflorestal
oapoioeconomiaflorestal,pormeiodeconcessesflorestaisefomentoaomanejoflorestaldeusomltiplo,sistemadepreosmnimos e investimentos em indstrias de processamento
incentivos para pequenas unidades produtivas que adotem prticas socioambientais.
RESUMO EXECUTIVO
O ESTADO DO ACRE MANTM
MAIS DE
86%DE SUA
COBERTURA FLORESTAL
ORIGINAL
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 7
O Programa ISA Carbono apresenta inmeros aspectos positivos e inovadores, entre os quais se incluem:
a insero do programa em um contexto poltico-institucional favorvel
a compatibilidade com metas e linhas de base regionais a extenso sobre todo o territrio estadual e a ambio de beneficiarmaisde30milestabelecimentosrurais
o estabelecimento de um arcabouo poltico e institucional no nvel estadual antes de partir para iniciativas locais em forte contraste com a grande maioria de experincias de REDD documentadas no mundo
um processo altamente participativo de desenho, que envolveu osbeneficirioseoutrosgruposdeinteresse
a insero num arcabouo maior o Sistema de Incentivos por Servios Ambientais (SISA) em que outros servios
ambientais, tais como a biodiversidade e processos hidrolgicos, so valorizados.
O programa j atraiu apoio de diversas parcerias tcnicas e financeiras.Oseufinanciamentoasseguradoatofinalde2012foi de cerca de R$107,7 milhes, e as perspectivas futuras para financiamentosopromissoras.
O Programa ISA Carbono do Acretambmenfrentadesafiosimportantes, dentre os quais se destaca um complexo modelo degovernanadefinidoparaoSISA, fruto da deciso de incluir diversas instncias para controle social. O programa tambm
enfrentaodesafiodeintegrar-seaumaEstratgiaNacionaldeREDD, atualmente em desenvolvimento. Externalidades, como a ocorrnciadeincndiosflorestaisdegrandesproporesemanosrecentes no sudoeste da Amaznia, representam uma ameaa significativamanutenodasflorestasedosserviosambientaisassociados no estado. O estudo apresenta recomendaes especficasparatratardecadaumdestesdesafios.
A ocorrncia de incndios florestais de grandes propores em anos
recentes no sudoeste da Amaznia representa uma
ameaa significativa manuteno das florestas e dos servios ambientais
associados no estado
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 8
AexperinciadoAcretrazimportantesliesparaadefiniodeoutros regimes de REDD, resumidas a seguir:
mostra claramente que esses regimes devem fazer parte de um contexto mais amplo, voltado para a reduo do desmatamento eapromoodaconservaodeflorestasedodesenvolvimentosustentvel
a compatibilidade de regimes de REDD em diversas escalas fundamental para sua plena operacionalizao
umdosmaioresdesafiosenfrentadosporregimesdeREDDe outros sistemas de pagamentos por servios ambientais desenhar benefcios que possam ser implementados com eficinciaeefetividade
o engajamento de diversos atores locais, por meio de, por exemplo, amplas consultas pblicas, fornece recomendaes valiosas para o desenho de regimes de REDD e contribuem para sua legitimao perante diferentes setores da sociedade.
Finalmente, os componentes do Programa ISA Carbono que levaram mais tempo para ser desenhados foram os sistemas de gesto e de repartio de benefcios. Hoje, a existncia de modelos eadisponibilidadedefinanciamentodevemfacilitaracriaodenovos regimes de REDD. A experincia do Acre pode servir de inspirao para o desenho desses regimes em outras partes do mundo, alm de trazer referncias que podem contribuir para a definiodeumaEstratgiaNacionaldeREDD.
REDD A EXISTNCIA DE MODELOS E A DISPONIBILIDADE DE FINANCIAMENTO DEVEM FACILITAR A CRIAO DE NOVOS REGIMES DE REDD
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Title: The Environmental Service Incentives System in the State
of Acre, Brazil: Lessons for Policies, Programmes and Strategies for Jurisdiction-wide REDD
This study analyses the design of an Environmental Service Incentives System (SISA, in Portuguese), which includes a programme for REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation) in the State of Acre, Brazil. Known as Environmental Service Incentives for Carbon (or ISA Carbon, inPortuguese),thisprogrammerepresentsoneofthefirstpublic policies for REDD and is considered the most advanced jurisdiction-wide REDD regime in the world.
This study aims to:
analyse the design and the process of constructing the programme, identifying its strengths and potential challenges
provide insights for its implementation identify relevant lessons for the design of other REDD regimes.
The state of Acre has over 86% of its original forest cover. Between 2003 and 2012, its rate of deforestation fell by 71%, a pattern that initiated later throughout the entire Brazilian Amazon.
Since 1999, the government of Acre has implemented a series of social and environmental policies that have contributed to the early drop in deforestation in the state. The following policies are especially noteworthy:
ecological-environmental zoning, which serves as a basic instrument for territorial planning
establishment and expansion of a system of protected areas, which cover nearly 50% of the state
development of an extremely advanced system for monitoring forest cover
support for a forest-based economy, through the establishment of forest concessions and promotion of multiple-use forestry, definitionofminimumpricesforforestproductsandinvestments in processing industries
EXECUTIVE SUMMARY
THE STATE OF ACRE HAS OVER
86%OF ITS ORIGINAL
FOREST COVER
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 11
provision of incentives for adoption of socially and environmental sound resource management practices by small-scale production units.
The ISA Carbon Programme presents numerous positive and innovative aspects, including:
insertion of the program in a favourable political and institutional context
compatibility with regional targets and baselines extension over the entire state, with the goal of ultimately benefitingmorethan30thousandruralhouseholds
the establishment of a state-wide political and institutional framework prior to initiating local initiatives in sharp contrast with the vast majority of REDD experiences documented worldwide
a highly participatory process of design that involved beneficiariesandotherinterestgroups
insertion within a larger policy framework the Environmental Service Incentives System (SISA) which aims to add value to other environmental services, such as biodiversity and hydrological processes.
The programme has attracted a variety of technicalandfinancialpartnerships. By the end of 2012, it had secured approximately R$ 107.7 millioninfinancing,andfuture prospects for funding are promising.
Acres ISA Carbon Programme also faces important challenges, among which stands out a complex governance model,
due to the inclusion of several entities for social control. The programme also faces the challenge of integration into a national REDD strategy that is currently under development. Externalities, suchastheoccurrenceoflarge-scaleforestfiresinrecentyearsinthesouthwesternAmazonposesasignificantthreattothemaintenance of forests and associated environmental services in
The recent occurrence of large-scale forest fires in the southwestern Amazon posed
a significant threat to the maintenance of forests and
associated environmental services in the state
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thestate.Thestudypresentsspecificrecommendationstoaddresseach of these challenges.
The experience of Acre provides important lessons for the definitionofotherREDDregimes,summarizedbelow:
such systems should be part of a broader policy framework, aimed at reducing deforestation and promoting forest conservation and sustainable development
the compatibility of REDD regimes at various scales is critical to their effective implementation
one of the biggest challenges facing REDD and other payment for environmentalservicesschemesistodesignbenefitsthatcanbeimplementedbothefficientlyandeffectively
the involvement of multiple actors, through, for example, broad public consultations, provides valuable recommendations for the design of REDD regimes and contributes to their legitimacy among different sectors of society.
Finally,thedefinitionofarrangementsforgovernanceandbenefitsharing were the components of the ISA Carbon Programme that haverequiredmosttimetodefineinAcre.Today,theexistenceof models and the availability of funding should facilitate the establishment of new REDD regimes. The experience of Acre has the potential to inspire the design of such systems in other parts of the world, and contribute to the development of a national REDD strategy in Brazil.
THE EXISTENCE OF MODELS AND THE AVAILABILITY OF FUNDING SHOULD FACILITATE THE ESTABLISHMENT OF NEW REDD REGIMES
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Este estudo trata do desenho do Sistema de Incentivos por Servios Ambientais, no qual se insere um novo regime para Reduo de
Emisses por Desmatamento e Degradao Florestal (REDD), no Estado do Acre. O regime formalmente conhecido como Programa de Incentivos por Servios Ambientais associados com Carbono (ISA Carbono) o programa jurisdicional de REDD mais avanado do mundo, seja nacional ou estadual (Moutinho et al., 2012; EPRI, 2012). O programa tem o potencial de gerar importantes lies para outros regimes de REDD no nvel subnacional e nacional, no Brasil e em outros pases.
No de surpreender que uma das primeiras polticas que tratam de REDD no mundo tenha surgido no Acre. O estado ainda possui maisde86%dasuacoberturaflorestaloriginal,quaseametadedo territrio foi alocada para reas protegidas e, desde 2004, odesmatamentovemcaindosignificativamente,atingindoasmenores taxas anuais entre 2007 e 2012, desde que se comeou a monitorar o desmatamento no Acre, em 1988.
Desde 1999, o Acre governado por um grupo poltico progressista, que tem implementado uma srie de polticas desenhadas para estruturar e fortalecer um modelo de desenvolvimento pautado no desenvolvimento sustentvel, na conservao ambiental, no uso racional de recursos naturais, na reduodepobrezaenacriaodeumaeconomiadebaseflorestal.
Experincias internacionais tm revelado que um regime de REDD dependedeboagovernanaflorestalparatornar-seeficiente,efetivo e equitativo (Angelson, 2009; Larson & Petkova, 2011). Com sua longa histria de governana socioambiental, o Estado do Acre oferece um ambiente favorvel para o desenho e implementao exitosos de um regime de REDD.
Este estudo tem trs objetivos:
1. analisar o desenho do Programa ISA Carbono e do Sistema de IncentivosporServiosAmbientaisnoAcre,identificandoasfortalezaseosdesafios
INTRODUO
O SISTEMA DE INCENTIVOS POR SERVIOS AMBIENTAIS DO ESTADO DO ACRE, BRASIL
O ESTADO DO ACRE OFERECE UM AMBIENTE
FAVORVEL PARA O DESENHO E A
IMPLEMENTAO EXITOSOS DE UM REGIME DE REDD
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2. contribuir com subsdios para a fase de implementao do programa e do sistema
3. identificarliesdessaexperinciaquesorelevantesparaodesenho de regimes de REDD em outros contextos no Brasil e em outros pases.
O estudo, portanto, almeja contribuir para o aprimoramento do desenho e da implementao da estratgia de Pagamentos por Servios Ambientais (PSA) do governo do Acre e subsidiar processos de formulao de polticas pblicas e de tomada de deciso em experincias emergentes de REDD no Brasil e ao redor do mundo.
O estudo se baseia na anlise de quatro conjuntos de documentos-chave gerados durante o processo de elaborao do Programa ISA Carbono:
o documento base do programa (governo do Acre, 2009b), que descreve os aspectos tcnicos (escopo, meta provisria e linhas de base, reas prioritrias para implementao, incentivos a servios ambientais e custos estimados)
o texto da Lei 2.308 de 22 de outubro de 2010 (governo do Acre, 2010a),quedefineagovernanadoprogramaedosistemanoqual est inserido
o texto do Decreto 1.471 de 25 de maro de 2011 (governo doAcre,2011a),quedefineaestruturadeduasentidadesresponsveis1, entre outras atribuies, pela gesto do programa
diversos documentos gerados nos primeiros dois anos de regulamentao, estruturao e implementao do programa (201112).
Alm disso, outras publicaes e documentos foram consultados como subsdio s anlises apresentadas neste estudo. Foram tambm entrevistados oito representantes do governo do Acre, dois representantes de centros de pesquisa e oito representantes da sociedade civil acreana, como forma de obter insumos sobre o tema a partir do olhar de diferentes grupos de atores.
importante destacar que, ao concluir este estudo em meados de 2013, ainda h aspectos do Programa ISA Carbono, e do Sistema
1 ALei2.308/2010defineoestabelecimentodoInstitutodeMudanasClimti-
cas e Regulao de Servios Ambientais (IMC) e da Companhia de Desenvol-
vimento de Servios Ambientais (CDSA; governo do Acre, 2010a).
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 17
de Incentivos por Servios Ambientais (SISA) no qual o programa est inserido, em fase de desenvolvimento. Portanto, alm de lies relevantes para outros contextos, este estudo visa gerar subsdios para o Programa ISA Carbono e o SISA do Acre.
Finalmente, embora o enfoque do estudo seja o Programa ISA Carbono, esse programa faz parte de um contexto amplo de polticas pblicas voltadas para a conservao, valorizao e restauraoflorestalnoAcre,eumaseodoestudodedicadaaexaminar esse contexto. Para no perder de vista o tema central, porm, o estudo trata desse contexto de polticas pblicas de uma forma seletiva e resumida. Em relao s instituies responsveis pelo SISA, o estudo apenas explora as atribuies diretamente relevantes para sua gesto do Programa ISA Carbono.
O estudo est dividido em cinco sees que tratam de:
DESMATAMENTO NO ACREcom enfoque na
escala, padres,
tendncias
e causas
CONTEXTO DE POLTICAS PBLICAS DO ACREcom foco em po-
lticas estaduais
existentes que
servem de base
para o Programa
ISA Carbono e
o SISA
ELEMENTOS PRINCIPAIS E O PROCESSO DE FORMULAO do Programa
ISA Carbono e
do SISA
ANLISE DAS FORTALEZAS E DOS DESAFIOS do Programa
ISA Carbono
e do SISA no
Acre abordando
avanos, fatores
limitantes e reco-
mendaes para
o aprimoramento
do programa na
sua prxima
fase de
implementao
LIES ESTRATGICAS para o desenho
de polticas
e programas
de REDD em
outros contextos
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O Acre mantm 86,4% de sua coberturaflorestaloriginale, desde 2004, as taxas de desmatamento no estado vm caindo. Na Amaznia Legal, essa tendncia de queda se iniciou um ano mais tarde e se mantm at hoje (Figura 2). Estimativa feita ainda em 2006 aponta que, no pior
cenrio possvel, ou seja, caso nenhuma medida fosse tomada, o desmatamento poderia alcanar at 36% da rea total do Acre em 2030 (Soares-Filho et al., 2006). Devido queda das taxas dedesmatamentodesde2004,possvelafirmarqueumanovamodelagem com os dados atuais traria resultados mais positivos.
Tendncias do desmatamento
O Acre ocupa uma rea de pouco mais de 164 mil quilmetros quadrados. At 2012, 13,6% desse territrio haviam sido desmatados (Figura 1), de acordo com o Programa de Clculo do
Figura 1 Desmatamento e
reas Protegidas no Estado do Acre em
2010. (Fontes: www.mma.gov.br para
reas protegidas; www.inpe.br para
desmatamento; www.ibge.gov.br para estradas; e www.ana.
gov.br para rios).
O DESMATAMENTO NO ACRE
www.mma.gov.brwww.inpe.brwww.ibge.gov.brwww.ana.gov.brwww.ana.gov.br
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 20
DesflorestamentodaAmaznia(PRODES),desenvolvidopeloInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Dados de 2008 indicam que 70% de todo o desmatamento ocorrido no estado se concentram nas regies do Alto e Baixo rio Acre (governo do Acre, 2010b). Essa concentrao explicada pela facilidade de acesso a essas regies por meio de rodovias, pela presena de projetos de assentamento rural e pelos solos favorveis atividade agropecuria.
Ainflunciadasrodoviassobreodesmatamentopodeserdemonstrada por outro dado, de 2007, divulgado pelo governo do Acre: 68% do desmatamento no estado se localizam nas reas de influnciadasduasprincipaisestradasquecortamseuterritrio,a BR-317, no sentido norte-sul, e a BR-364, no sentido leste-oeste (Figura1).Areadeinflunciadasestradascorrespondea50quilmetros para cada lado da rodovia.
OutraalternativadeanlisedodesmatamentonoAcreidentificaras categorias fundirias das reas desmatadas. Para essa anlise, foram consideradas seis categorias fundirias distintas: terras indgenas, unidades de conservao, propriedades particulares, projetosdeassentamento,terraspblicasemprocessodedefinioeterraspblicassemdefiniofundiria.
Figura 2Taxas anuais de
desmatamento no Acre e na Amaznia
Legal entre 1988 e 2012. Fonte: www.inpe.br.
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Acre Amaznia Legal
%
rea
desm
atad
a/an
o
www.inpe.br
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Como pode ser visto na Tabela 1 abaixo, as reas protegidas, que englobam terras indgenas e unidades de conservao, apresentam baixas taxas de desmatamento. Juntas, essas duas categorias fundirias representam 45,7% da rea total do Acre e concentram apenas8,1%dareadesmatada.Asreassemdefiniofundiriatambm tm baixas taxas de desmatamento, principalmente devidoaseuisolamentogeogrficoodifcilacessodificultaaderrubadadafloresta.Essasterrassomam9,1%doterritriodoAcre e 3,9% da rea desmatada.
Nasterrasemprocessodedefiniofundiriaenaspropriedadesparticulares, o nvel de desmatamento considerado intermedirio. Um total de 15,6% do territrio acreano est emprocessodedefiniofundiriaeconcentra21,4%dareadesmatada. As propriedades particulares somam 19,6% da rea estadual e 31,5% do desmatamento. J os projetos de assentamento apresentam nveis de desmatamento altos, tanto relao sua extenso quanto em termos absolutos. Eles ocupam apenas 10% do territrio do estado, mas concentram 35% do desmatamento.
Tabela 1. Categorias fundirias com as propores correspondentes da rea e desmatamento do Acre, em 2010.
Categoria Fundiria R E A rea (1.000 km2)
Porcentagem da rea Total
do Estado
Porcentagem da rea Total Desmatada do Estado
Terras Indgenas 14,6 1,2 24,0
Unidades de Conservao 31,1 6,9 51,1
Propriedades Particulares 19,6 31,5 32,2
Projetos de Assentamento* 10,0 35,0 16,4
Terras em Processo deDefinio*+
15,6 21,4 25,6
TerrassemDefinio* 9,1 3,9 14,9
T O TA L 100 100 164,2
* Dados estimados a partir da base de dados
geogrficos da UCEGEO (no publicados).+ Terras discriminadas, ou terras discriminadas e arrecadadas.
AS REAS PROTEGIDAS
CONCENTRAM APENAS
8,1% DA REA
DESMATADA DO ACRE
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 22
Tendncias semelhantes podem ser observadas quando se cruzamosdadossobreasreasresiduaisdeflorestaeastaxasde desmatamento com os dados sobre os principais grupos socioeconmicos (Tabela 2). Nota-se que as taxas mdias de desmatamento so relativamente baixas entre os grupos indgenas e extrativistas, o que indica a necessidade de medidas que possam incentivaracontinuidadedaconservaodaflorestae,portanto,doestoquedecarbonoflorestalmantidoporessesgrupos.
Em contraste, a taxa mdia de desmatamento associada aos assentados mais de 30 vezes mais alta que a dos grupos indgenas e extrativistas, o que aponta para a necessidade de concentrar esforos nos assentados para reduzir o desmatamento e as emisses de gases de efeito estufa (GEE) associadas. Os projetos de assentamento do Acre incluem cerca de 21 mil famlias de pequenos produtores (Tabela 2) que, de modo geral, adotam prticas agropecurias tradicionais. Essas famlias poderiam se beneficiardeassistnciatcnicaeextensoruralparaaprimorarseus mtodos de produo.
Nos projetos de assentamento, as propriedades rurais so pequenas e h fortes sinais de expanso da pecuria extensiva. a criao de animais, principalmente gado bovino, o principal indutor do desmatamento nessas reas. Os custos de aes para evitar o desmatamento e as emisses de gases de efeito estufa associadas a ele nas pequenas propriedades so relativamente altos. Portanto, aformamaiseficientedeconteratendnciadeampliaododesmatamento nos assentamentos concentrar esforos para intensificarossistemasdeproduopecuria,ouseja,paraaumentaro nmero de cabeas de gado por hectare. Com boas prticas de manejo,possveldiminuirapressosobreaflorestacausadapelaampliao da criao de gado extensiva praticada no Acre.
Alm do foco nas pequenas propriedades de projetos de assentamento, importante gerar dados sobre o desmatamento realizado por proprietrios de reas maiores que 100 hectares. Esses dados sero crticos para determinar o nvel de prioridade de esforos de controle do desmatamento junto a esse grupo. Outra ao indispensvel acelerar a regularizao das terras em processodeousemdefiniofundiria.Essasterrasabrangem24,7% do territrio estadual (conforme Tabela 1) e, portanto, podemafetarsignificativamenteastaxasdedesmatamentodoestadocasocontinuemsemdefinio.
OS PROJETOS DE ASSENTAMENTO
DO ACRE INCLUEM CERCA DE
21 MIL FAMLIAS DE
PEQUENOS PRODUTORES
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Na Tabela 2 abaixo, apresentada a caracterizao preliminar dos principais grupos socioeconmicos da zona rural do Acre. So expostos o tamanho da populao, a rea total ocupada por ela, aproporodareaqueaindamantmsuacoberturaflorestale a taxa mdia de desmatamento. A tabela traz ainda o valor do investimento necessrio para implementar aes para evitar as emisses de carbono.
Tabela 2. Principais grupos socioeconmicos da zona rural do Acre.
Grupo Socioeco-nmico
No de Fa-mlias ou
Estabeleci-mentos Ru-rais (2006)
rea Total (ha)
rea Florestada(ha, 2007)
Desma-tamento (%/ano)
Custo de Oportuni-dade para
Evitar Emisses
(US$/tCO2)
Famlias indgenas
2.000 2,390 milhes (30 reas)
2,365 milhes (99%)
0,06 $0,10
Famlias de extrativistas
6.000 2,678 milhes(5 reas)
2,605 milhes (97,2%)
0,05 $2,16
Famlias de assentados ( 100 ha)
2.000 4,781 milhes
3,203 milhes (67%)
A ser determi-nado
$1,66
Outras reas pblicas*
-- 4,054 milhes
-- A ser determi-nado
$1,22
Total 31.040 11,844 milhes
9,350 milhes
-- $1,70
* Terras discriminadas, ou terras discriminadas e
arrecadadas, ou terras sem definio.
Fontes: Meneses-Filho et al., 2009; IBGE, 2006; UCEGEO,
dados no publicados; Alencar et al., 2012.
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 24
Fatores indutores e tendncias do desmatamento no Acre
Como explicado anteriormente, o principal fator indutor do desmatamento no Estado do Acre a pecuria. Dados de 2010 indicam que 85,2% de toda a rea desmatada do estado esto cobertos por pastagens (Costa et al., 2012). Grande parte dessas pastagens est degradada, o que faz com que os produtores precisem procurar novas reas para desmatar e, assim, manter ou ampliar sua produo. Alm disso, as capoeiras representam 10,4% do total desmatado, e as reas exploradas pela agricultura, 4% (Costa et al., 2012). O desmatamento tambm est associado facilidade de acesso dessas reas e, portanto, a presena de estradas um fator determinante.
Em 2012, 79,4% da rea desmatada no Acre foram compostos por polgonos menores do que 6 hectares, e mais 13,5% por polgonos entre 6 hectares e 10 hectares. Os dados, fornecidos pela Unidade Central de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto do Acre (UCEGEO), demonstram que a maioria absoluta do desmatamento
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no estado ocorre em pequenas reas. Embora no tenham sido cruzados com dados fundirios, esses dados sugerem a existncia de maior presso de desmatamento em pequenas e mdias propriedades.
Assim como na Amaznia, as taxas de desmatamento do Acre caramsignificativamentenosltimos10anos.Oltimopicodedesmatamento registrado no estado foi em 2003 e na Amaznia como um todo, em 2004 (Figura 2). A partir do ano seguinte e at 2007, a taxa caiu acentuadamente. No entanto, entre 2010 e 2012, o desmatamento no Acre aumentou constantemente em comparao com as taxas da Amaznia Legal, que continuaram caindo (Figura 2). Mesmo que os nmeros continuem muito abaixo do pico de 2003, o aumento gerou preocupao.
Uma anlise preliminar feita pelo governo do estado levanta a hiptese de que a perspectiva de mudanas na principal legislao ambiental do pas, o Cdigo Florestal, a partir de 2010, e sua efetivao em 2012 contriburam para esse aumento. Ainda precisofazerumaanlisedefinitivasobreascausasdesseaumentododesmatamentonoestado,paraquesejamdefinidasasaesnecessrias para frear essa tendncia.
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DE TODA A REA DESMATADA DO ESTADO ESTO COBERTOS POR PASTAGENS85,2%
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Desde 1999, o Acre tem sido alvo de polticas pblicas estaduais voltadas para o desenvolvimento sustentvel e a reduo do desmatamento. Esse tipo de poltica passou a ser
adotado no Acre antes de outros estados da Amaznia. Essas polticas, que ajudam a explicar por que a queda do desmatamento no estado comeou um ano antes do que no resto da Amaznia Legal, tm origem nos movimentos de seringueiros, castanheiros e povos indgenas das dcadas de 1970 e 1980. Esses povos dafloresta,comosochamados,seorganizaramparareivindicar seus direitos e combater o desmatamento causado pela expanso da pecuria ao longo da ento nova rodovia BR-364.
O assassinato da principal liderana desses movimentos, o seringueiro Chico Mendes, atraiu ateno nacional e mundial e induziu o governo federal a reconhecer e criar as primeiras reservas extrativistas. As RESEX, como so conhecidas, so um tipo peculiar de unidade de conservao, desenhada para proteger os direitos das populaes extrativistas sobre seus territrios,incentivarousosustentveldaflorestaevalorizarosconhecimentos tradicionais dessas populaes, alm de conservar o meio ambiente. At 2010, 65 RESEX haviam sido criadas em toda a Amaznia, com rea total de pouco mais de 133 mil quilmetros quadrados, a partir do modelo criado no Acre.
Quando decidiu investir em polticas pblicas voltadas ao desenvolvimento sustentvel, em 1999, o governo do Acre baseou suas aes no conceito de Florestania, que visa conciliar o crescimento econmico com a incluso social e a conservao ambiental a partir de seis princpios:
Uso dos recursos naturais com responsabilidade e sabedoria Reconhecimento ao conhecimento e direitos dos povos dafloresta
POLTICAS PBLICAS DO ACRE
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Fortalecimento da identidade e respeito diversidade cultural, combate pobreza e elevao da qualidade de vida da populao
Fortalecimentodaeconomiadebaseflorestalsustentvel Transparncia e participao social na formulao e execuo de
polticas pblicas Repartio justa e equitativa dos benefcios econmicos e sociais
oriundos das polticas pblicas de desenvolvimento sustentvel.
H atualmente um conjunto amplo de polticas que visam promoveraconservao,valorizaoerestauraoflorestalnoAcre, mas seis delas se destacam por estarem relacionadas ao SISA e ao Programa ISA Carbono e so apresentadas a seguir.
Zoneamento Ecolgico-Econmico
O Zoneamento Ecolgico-Econmico (ZEE) um instrumento bsico de ordenamento territorial que deve ser realizado em todos os estados da Amaznia. O Acre foi o primeiro estado a alcanar a plena implementao desse instrumento. O ZEE do Acre foi realizado em duas fases e teve ampla participao popular.
Figura 3Mapa de Gesto
Territorial do Acre definindo
as quatro principais zonas de ordenamento territorial. Fonte:
Governo do Acre, 2006.
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 29
Graas a esse processo participativo, o governo considera o ZEE como um grande pacto da sociedade acreana sobre a gesto do territrio do estado.
A segunda fase do ZEE foi concluda em 2006, aps um processo indito de consulta a diversos setores da sociedade, em todos os municpiosdoestado(governodoAcre,2006).OZEEidentificoureasespecficasparaaconservaoeproteoambientalereasapropriadasparaofomentoeagestoflorestalepassouanortear a implementao de polticas pblicas no estado. O Mapa deGestoTerritorialgeradocomopartedoZEE-FaseIIdefiniuquatro zonas (Figura 3): Consolidao de Sistemas de Produo Sustentveis (Zona 1, que cobre 24,7% do estado); Uso Sustentvel dos Recursos Naturais e Proteo Ambiental (Zona 2, 49,0%); reas Prioritrias para Ordenamento Territorial (Zona 3, 26,2%); e Centros Urbanos (Zona 4, 0,2%).
Sistema Estadual de reas Naturais Protegidas
O Sistema Estadual de reas Naturais Protegidas (SEANP) do Acre foi criado em 2008 e abarca as unidades de conservao (UCs) federais, estaduais e municipais, j existentes e a serem criadas; as terras indgenas; e, nas propriedades particulares, as reservas legais e as reas de preservao permanente. Seu principal objetivo coordenar o funcionamento das reas protegidas e estabelecer diretrizes para o monitoramento da utilizao dos recursos naturais nessas reas. Alm de criar o sistema de gesto das reas protegidas, a partir de 2004, o governo do Acre investiu na ampliao das reas sob proteo, e as unidades de conservao estaduais passaram de 47 mil hectares para mais de 1,2 milho de hectares (Onaga & Drumond, 2009; governo do Acre, 2011a).
Com isso, quase metade do territrio do Acre passou a estar ocupada por reas protegidas, incluindo unidades de conservao e terras indgenas (Figura 1). Na Tabela 3 abaixo possvel observar a distribuio das diversas categorias de reas protegidas.
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 30
Tabela 3. Nmero, jurisdio, rea em hectares e porcentagem do Acre em diferentes categorias de reas protegidas.
Categoria Nmero Jurisdio rea (ha) % Territrio
Terras Indgenas 28 Federal 2.390.112 14,6
Unidades de Conservao de Proteo Integral
2 Federal 868.466 5,3
1 Estadual 695.303 4,2
Unidades de Conservao de Uso Sustentvel
8 Federal 3.022.453 18,4
8 Estadual ou Municipal
521.614 3,2
T O TA L 47 7.497.948 45,7
Fonte: governo do Acre, 2011a.
Entre 2000 e 2008, a rea total das unidades de conservao no estado aumentou em 112,7% e hoje ocupa 31,1% do territrio do estado. As terras indgenas, por sua vez, ocupam atualmente 14,6% do territrio, mas sua rea deve aumentar em breve, graas criao de novas terras indgenas. A maior parte da rea protegida no Acre, 83,8% do total, est sob jurisdio do governo federal. Essa rea corresponde a 38,3% de todo o territrio do estado.
Como ocorre em outros estados da Amaznia, no Acre a maioria das reas protegidas mesmo as de proteo integral onde, teoricamente, no deveria haver habitantes habitada por comunidades tradicionais, como pescadores e caadores artesanais, extrativistas, pequenos produtores rurais e povos indgenas. Nas terras indgenas, por exemplo, vivem mais de 17 mil pessoas em 14 grupos tnicos. Assim, a equao de desenvolvimento social com conservao da natureza imprescindvel no estado, e as reas protegidas desempenham um papel central na manuteno desse equilbrio.
Desde 1999, vm sendo elaborados planos de gesto para as unidades de conservao do estado, tanto federais quanto estaduais. O governo do estado e o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio) tm investido esforos
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 31
naelaboraodessesplanose,atofinalde2012,13unidadesde conservao, incluindo seis estaduais, haviam constitudo conselhos gestores. A elaborao do plano de gesto e o estabelecimento do conselho gestor so os passos bsicos para a efetiva implementao e a boa gesto das unidades de conservao.
Monitoramento
OgovernodoAcremontouumsistemaeficazdemonitoramentodacoberturaflorestaledasqueimadasnoestado.RealizadopelaUnidade Central de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto (UCEGEO), o sistema utiliza imagens de satlite Landsat, com dados disponveis desde 1988. A UCEGEO tem como misso armazenar, gerenciar, atualizar e disponibilizar a base de dados gerada no ZEE do estado.
A metodologia de monitoramento utilizada similar ao sistema nacionaldemonitoramentodacoberturaflorestaldaAmazniarealizado pelo INPE. No entanto, a UCEGEO utiliza uma resoluo mnima de 0,54 hectare, enquanto o PRODES do INPE trabalha com resoluo mnima de 6,25 hectares. Essa resoluo maior extremamenterelevantenoAcre,jque,comoafirmadoanteriormente, cerca de 80% dos polgonos desmatados no estado tm rea menor do que 5 hectares.
Ainda em 2013, a UCEGEO espera poder realizar o monitoramento tambmdadegradaoflorestal,enoapenasdodesmatamento.Com recursos do Fundo Amaznia2,aunidadeestrefinandosua metodologia de monitoramento e avaliao de impacto deincndiosflorestaispormeiodautilizaodelaseraerotransportado,imagensdealtaresoluo,fotografiasareaseinformaes sobre queimadas. Outra ao importante da UCEGEO foi o georreferenciamento de cerca de 50% das propriedades em projetos de assentamento, que apresentam as maiores taxas de desmatamento do estado.
2 Estabelecido em 2008 para apoiar iniciativas que reduzem o desmatamento e
promovemaconservaodafloresta,principalmentenaAmazniabrasileira,
oFundoAmazniadeverreceberfinanciamentodeUS$1bilhodogoverno
do Governo da Noruega, e o governo da Alemanha contribuiu com mais
US$20 milhes provenientes de impostos gerados pelo leilo de autorizaes
para emitir gases de efeito estufa.
80% DOS POLGONOS
DESMATADOS NO ESTADO TM REA MENOR DO QUE 5 HECTARES
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 32
Gesto de florestas pblicas, privadas e comunitrias
OAcrepioneiroemconcessesflorestaisnoBrasil.Agestodasflorestaisestaduaisrealizadadiretamentepelogovernodoestado, que responsvel por realizar a explorao dos recursos florestaisereverterolucroobtidoparaamanutenodaflorestaestadual e para as comunidades que nela vivem. A primeira experinciadessetipodegestoflorestalnoAcrefoiimplantadaem 2005, na Floresta Estadual do Antimary. L o governo estadual realizaaexploraoflorestaleleiloaamadeira.UmnovoprojetodeconcessoflorestalestsendopreparadoparaaFlorestaEstadual do Mogno.
EssefocodogovernodoAcrenagestodosetorflorestalseiniciouem 1999, quando o governo federal comeou a transferir para osestadosaresponsabilidadesobreagestodesuasflorestas.Desde ento, o governo do Acre vem estabelecendo normas para aexploraoflorestal.Deacordocomessasnormas,osrecursosprovenientes de multas aplicadas sobre atividades ilegais de desmatamento e extrao de madeira devem ser aplicados em projetosdereflorestamento.Essesrecursossodestinadosaum fundo criado em 2001, chamado Fundo Florestal, que at novembro de 2012 somava mais de R$ 2,7 milhes.
Fortalecimento da economia florestal
O governo do Acre tem implementado um conjunto de polticas para incentivar as atividades de explorao econmica sustentvel dosrecursosdafloresta,comooltex,acastanha-do-Brasileamadeira. No caso do ltex, o governo estabeleceu o preo mnimo para a borracha e investiu na instalao da Fbrica de Preservativo Natex, a nica do mundo a utilizar ltex de seringal nativo. Em 2008, a fbrica processou cerca de 103 mil litros de ltex fornecido por mais de 400 seringueiros. Ainda assim, a produo de borracha no estado caiu entre 2002 e 2010 (Tabela 4). Especialistas do setorafirmamque,mesmocompreossubsidiados,aextraodeborracha est se tornando menos atrativa se comparada a outras atividades, como agricultura e pecuria.
No caso da castanha-do-Brasil, a produo vem subindo desde 2002. O estado atualmente o segundo maior produtor brasileiro, com 28% da produo nacional, segundo dados do Instituto BrasileirodeGeografiaeEstatstica(IBGE).Desde2004,a
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 33
castanhaoprodutoflorestalno-madeireirodemaiorvaloreconmico no estado, de acordo com informaes do governo estadual. A produo ultrapassa as 10 mil toneladas por ano e a principal fonte de renda de mais de 15 mil famlias. O Acre detm ainda o posto de maior processador de castanha-do-Brasil para exportao, com 63% do volume processado em 2005 (Silva, 2010). O governo investiu na instalao de duas fbricas que aumentaram a capacidade de processamento local. Entre 2002 e 2007, a produo de castanha-do-Brasil aumentou 55% (Tabela
4), e o valor nominal bruto cresceu 316% (governo do Acre, 2009a).
O governo estadual apoiouacertificaodoprimeiro projeto de manejo comunitrio de madeira na Amaznia: o Projeto Agroextrativista Chico Mendes, estabelecido em 2002. Investiu tambm no estabelecimento de uma fbrica de pisos, seis movelarias e uma indstria de faqueados. Atualmente, 60% da produo estadual de madeira em tora vm desistemascertificados(por exemplo, o Forest Stewardship Council
FSC), e mais da metade originaria de um plano de manejo aprovado pelo governo do estado. No entanto, o volume da produo de madeira em tora tem cado progressivamente entre 2005e2010.Essesdadosnorefletem,necessariamente,umaqueda equivalente no peso da madeira na economia acreana, j que hoje existem muito mais empreendimentos voltados para a adio local de valor ao produto, como, por exemplo, com a produo demveiseassoalho.Noentanto,faltamdadosespecficosparamonitorar as tendncias econmicas desse setor.
Na Tabela 4 abaixo possvel observar a evoluo da produo do ltex, da castanha-do-Brasil e de madeira no Acre, de 2002 a 2010.
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Tabela 4. Produo dos principais produtos florestais no Estado do Acre.
Ano Borracha ltex coagulado (t)
Castanha-do-Brasil (t) Madeira em tora (m3)
2002 1.598 6.674 287.306
2003 1.489 5.661 317.190
2004 1.710 5.859 353.861
2005 2.073 11.142 483.441
2006 1.407 10.217 397.414
2007 1.226 10.378 326.138
2008 845 11.521 152.668
2009 533 10.313 120.566
2010 507 12.362 121.947
Fontes: governo do Acre, 2008, 2009a, 2011a.
Certificao da Propriedade Sustentvel
OProgramaCertificaodaPropriedadeSustentvelfoicriadoem2008 para incentivar pequenas unidades produtivas, de at 150 hectares, a adotarem prticas socioambientais para conservar e aumentaracoberturaflorestalediminuirodesmatamento,ousodo fogo e a degradao do solo.
O programa voluntrio e os participantes assumem gradativamente prticas sustentveis ao longo de um perodo de nove anos. Em compensao, os participantes recebem: (i) um bnus na forma de pagamentos que variam de R$500 a R$600 por ano (conforme o grau de compromisso assumido), (ii) assistncia tcnica e extenso rural (ATER) para fortalecer a produo e comercializaoagroflorestal,e(iii)inseroprioritriaemlinhasdefinanciamentooficiais.Atmaiode2013,1.239famliashaviam sido inscritas no programa, de acordo com informaes da SecretariaEstadualdeExtensoAgroflorestaleProduoFamiliar(SEAPROF).Acertificaodepropriedadessustentveis um dos tipos de incentivos que sero contemplados pelo Programa ISA Carbonopelosserviosrelacionadosacarbonoflorestal.
1.239 FAMLIAS HAVIAM
SIDO INSCRITAS NO PROGRAMA CERTIFICAO
DA PROPRIEDADE SUSTENTVEL AT
MAIO DE 2013
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O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais (SISA), do qual faz parte o Programa ISA Carbono, integra a Poltica de Valorizao do Ativo Ambiental Florestal. De acordo com o governo do Acre (2011b), essa poltica engloba seis programas:
Incentivos aos Servios Ambientais Regularizao do Passivo Ambiental CertificaodeUnidadesProdutivasSustentveis Gesto de Florestas Pblicas, Privadas e Comunitrias Reflorestamento Recuperao de reas Degradadas.
Esses programas visam contribuir para o estabelecimento de uma economia de baixo carbono que melhore a qualidade de vida e amplie a sustentabilidade ambiental e econmica. Parte dos recursos gerados pelo Programa ISA Carbono ser usada para fortalecer os demais programas da poltica. O Programa ISA Carbono faz parte, portanto, de um arcabouo de polticas pblicas voltadas para a o desenvolvimento sustentvel, a conservao, a valorizaoerestauraoflorestalnoAcre.
A Poltica de Valorizao do Ativo Ambiental tambm tem interface com polticas federais, entre elas o Plano Amaznia Sustentvel (PAS), o Plano de Preveno e Controle do Desmatamento na Amaznica (PPCDAM) e o Plano Nacional sobre Mudana do Clima (PNMC).
O SISA foi criado para valorizar e estimular os principais servios ambientais no Acre. Para isso, de acordo com Moutinho et al. (2012), sero desenvolvidos cinco programas relacionados a:
Carbono Florestal (ISA Carbono) Sociobiodiversidade Recursos Hdricos Regulao do Clima Valorizao Cultural e Tradicional.
O primeiro programa a ser desenhado e implementado foi o Programa ISA Carbono, que tem por objetivo geral promover a reduo progressiva, consistente e de longo prazo das emisses de gases de efeito estufa, com vistas ao alcance da meta voluntria
O PROGRAMA ISA CARBONO
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 38
estadual de reduo de emisses por desmatamento e degradao florestal(governodoAcre,2010a).Pararealizarumaanliseaprofundada sobre o programa, seis aspectos sero descritos a seguir: escopo, meta e linhas de base, subprogramas e projetos, mecanismosdefinanciamento,processosconsultivosegovernana.
Escopo
O escopo do Programa ISA Carbono ambicioso: abrange todo o territrio do Estado do Acre (164.221 Km2), inclusive reas protegidas federais e estaduais, assentamentos federais e estaduais epropriedadesprivadas.Almdametageogrfica,oprogramavisabeneficiar,potencialmente,maisde30milestabelecimentosruraisdo estado, com foco nos principais grupos socioeconmicos:
assentados e proprietrios de terras que diminurem a presso sobreasflorestas,resultandonareduodasemissesoriundasdodesmatamentoedegradaoflorestal
povos indgenas e outras populaes tradicionais, que historicamenteconservaramasflorestas,mantendoosserviosambientais.
Convm ressaltar que, de acordo com dados do IBGE, em 2006 havia 29.488 estabelecimentos rurais no Acre. O programa ISA Carbono, portanto, pretende alcanar praticamente todos os estabelecimentos rurais do estado.
Meta e linhas de base
O Brasil se comprometeu a reduzir at 2020 o desmatamento na Amaznia em 80%, em relao mdia do perodo de 1996 a 2005. A meta est diretamente relacionada reduo das emisses de gases de efeito estufa e foi estabelecida no Plano Nacional sobre Mudana do Clima (Lei 12.187/2009 e Decreto 7.390/2010). O governo do Acre tambm adotou a meta de reduzir o desmatamento em 80% at 2020 em relao taxa mdia entre 1996 e 2005 (governo do Acre, 2010b).
Com base no desmatamento histrico, que d uma mdia de 602 quilmetros quadrados de reas desmatadas por ano entre 1996 e 2005, o Acre deve chegar a um desmatamento anual de 120 quilmetros quadrados por ano em 2020. Em 2012 o Acre atingiu 61% dessa meta. A subida recente no desmatamento entre
EM 2006 HAVIA
29.488 ESTABELECIMENTOS
RURAIS NO ACRE, DE ACORDO COM
DADOS DO IBGE
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2010 e 2012 notada acima levanta preocupaes, principalmente sobre as causas desse fenmeno, preliminarmente atribudas a mudanas no Cdigo Florestal em 2012. Ainda assim, a reduo do desmatamento no estado continua seguindo uma trajetria em direo ao cumprimento da meta prevista para 2020.
No processo de criao do Fundo Amaznia, o governo brasileiro props uma linha de base para a reduo do desmatamento na regioamaznica,definidapelataxamdiadedesmatamentonadcada anterior e ajustada a cada cinco anos (governo do Brasil, 2008). Seguindo essa metodologia, o Estado do Acre j reduziu suas emisses em 97 milhes de toneladas de CO2 entre 2006 e 2012. Esse clculo feito a partir da reduo de desmatamento entre 2006 e 2012, que totaliza 215.200 hectares em relao linha de base, e de um estoque mdio de 123 toneladas de carbono (ou 451 toneladas de CO2) por hectare (governo do Acre, 2010b). Se atingir a sua meta, o Acre poder reduzir um total de 153 Mt CO2 entre 200620 (Figura 4A). Essa estimativa ligeiramente inferior estimativa feita com dados at 2008, que era de 164 Mt de CO2 a ser reduzidas at 2020 (governo do Acre, 2010b). Essa diferena se deve ao aumento inesperado nas taxas de desmatamento no Acre no perodo de 2010 a 2012 (Figura 2).
Figura 4Linhas de base e
meta para a reduo do desmatamento no Estado do Acre
at 2020, baseadas em dados atuais
de desmatamento at 2012 (fonte: www.inpe.br), e
no desmatamento projetado para
alcanar a meta entre 2013-20. A: Aplicao de trs
linhas de base entre 2006-20, conforme a metodologia definida
pelo Governo do Brasil (2008); B:
Aplicao de uma linha de base entre 2006-20, conforme posio defendida
pelos estados da Amaznia.
1200
1000
800
600
400
200
Ano
LEGENDA
Reduo do desmatamento em relao linha de base
Desmatamento
Linha de base Calculada Aplicada
Reduo atual e projetada do desmatamento 2006-2020
Projeo do desmatamento 2013-2020
602 Km2 602 Km2
Km
2
496 Km2
264 Km2
0
1200
1000
800
600
400
200
019
9619
9719
9819
9920
0020
0120
0220
0320
0420
0520
0620
0720
0820
0920
1020
1120
1220
1320
1420
1520
1620
1720
1820
1920
20
Ano
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
A B
www.inpe.br
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 40
Juntamente com outros estados amaznicos, o governo do Acre estpropondoumamodificaonametodologiaparacalcularalinha de base, em que se manteria a taxa mdia de 1996 a 2005 at 2020, sem ajustes a cada cinco anos (Ludovino Lopes Advogados, 2012).Issoaumentariasignificativamenteasreduesdeemisses,que chegariam a um total de 251 Mt de CO2 entre 2006 e 2020, casooestadoatinjasuameta(Figura4B).Aadoodefinitivadessa metodologia para calcular a linha de base depender da definiodeumaestratgiacompatveldeREDDnonvelnacional,atualmente em desenvolvimento.
Subprogramas e projetos
Para minimizar os riscos de vazamento, impermanncia e dupla contagem das emisses reduzidas, o Programa ISA Carbono dever fazer parte da Estratgia Nacional de REDD e contribuir para o alcance de metas nacionais de reduo de emisses. Como parte do programa, foi estabelecido um sistema para alcanar o estado inteiro. Agora, por meio de subprogramas e projetos, o enfoque est sendo dirigido a escalas menores. Essa abordagem distingue o ISA Carbono da grande maioria de experincias de REDD documentadas no mundo, que geralmente iniciam projetos emlocaisespecficos,semumsistemaparaintegrarajurisdiointeira (EPRI, 2012).
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No desenho original do Programa ISA Carbono, os subprogramas foram concebidos ao redor de reas prioritrias3 onde a relao custo-benefcio,emtermosdeconservaodaflorestaoureduodo desmatamento futuro, seria maximizada. Posteriormente, o governo decidiu abandonar essa abordagem original e optou por um enfoque de planejamento que possa responder s demandas quesurgiremespontaneamente,emvezdedefinirpreviamenteas reas de atuao. O programa ser desenhado em um sistema hierrquico de subprogramas e projetos que ainda esto sendo definidos(governodoAcre,2012a).
Os subprogramas podero ser temticos (podem, por exemplo, abranger terras indgenas, terras dedicadas pecuria ou outro temarelacionadoaousodaterra),geogrficos(porexemplo,podem selecionar a regio da bacia do Rio Purus, com enfoque nareadeinflunciadaBR-364)ouumacombinaodeambos(assentamentos da bacia do Alto Acre, por exemplo). Os projetos tero uma abrangncia local dentro dos subprogramas e podem ser implementados com o envolvimento direto de agncias governamentais ou, no caso de projetos especiais, sob a gesto de agentes privados. Parcerias pblico-privadas tambm so previstas por meio da recm-criada Companhia de Desenvolvimento de Servios Ambientais. O Acre atualmente tem um projeto especial de REDD, chamado Projeto Purus, em fase de registro no SISA. Esse projeto engloba 34.702 hectares e proposto por Moura &
3 ParadefinirasreasprioritriasdeatuaodoPrograma,ummodeloba-
seado em 12 variveis de risco foi usado para mapear as zonas com alto risco
dedesmatamentoat2020.Aszonasdealtoriscocomflorestasaltamente
fragmentadas foram eliminadas, e os limites das zonas restantes foram
ajustados para incorporar a totalidade das unidades de territrio (tais como
assentamentosoureasprotegidas).Essametodologiapermitiuidentificar
provisoriamente seis reas prioritrias, a maioria localizada ao longo da BR-
364, recentemente aberta para trnsito permanente. Essas reas represen-
taram 35% do Estado do Acre (5,8 milhes de hectares), porm englobaram
cerca de 50% da rea total das zonas de alto risco de desmatamento (Soares
Filho et al., 2006). Apenas 4% dessas reas esto atualmente desmatados, o
que sugeriu altos benefcios potenciais em termos de conservao do estoque
decarbonoflorestal.Aomesmotempo,adensidadepopulacionalnessasreas
baixa, o que implica custos reduzidos para implementao. As reas prio-
ritriasidentificadasparaaimplementaoinicialdoprogramaofereceram,
portanto, um potencial de altos benefcios ambientais a baixos custos.
NO DESENHO ORIGINAL DO
PROGRAMA ISA CARBONO, OS
SUBPROGRAMAS FORAM
CONCEBIDOS AO REDOR DE REAS
PRIORITRIAS
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 42
Rosa Empreendimentos Imobilirios LTDA, proprietrios da rea, eCarbonCoLLC,responsvelporobteracertificaodoprojetoeofinanciamentoinicial(McFarland,2012).Haindaoutrosprojetosespecficosemnegociao.
OProgramaISACarbonoinvestiunadefiniobastantedetalhada de Incentivos por Servios Ambientais (ISAs), cada um voltado para um determinado segmento da populao rural. Nodesenhoinicial,osISAspoderiamincluirfinanciamentopara iniciativas e organizaes comunitrias; assistncia tcnica para a preparao de planos de gesto no nvel de municpios, comunidades e propriedades individuais; e extenso rural para
aumentar a quantidade, valor e sustentabilidade de produtos agrcolaseflorestais(governodo Acre, 2009b).
Em termos gerais, os ISAs ainda sodefinidoscomoasintervenesquemotivamosbeneficiriosa manterem e incrementarem os servios ambientais. Sero determinados de acordo com cada subprograma e/ou projeto a ser executado.Adefiniodetalhadados mecanismos de ISA a serem
aplicados ser feita pela regulamentao da Lei 2.308 e, para permitirmaiorflexibilidadeeadaptaoscircunstnciaslocais,de acordo com cada subprograma e/ou projeto a ser executado.
Os ISAs sero estabelecidos principalmente para fortalecer trs aspectos relacionados reduo do desmatamento e das emisses:
aproteodasflorestas omanejoflorestaleascadeiasdeprodutosflorestais aintensificaodeprticasagrcolas,pecurias,silviculturaiseagroflorestaisassociadasrestauraodereasdegradadas,deformaavalorizarasflorestasereduzirapressopornovasreasdesmatadas.
Porexemplo,umdosincentivosdefinidosnoProgramaISACarbono,acertificaodapropriedaderural,jexisteeespecialmente apropriado para pequenos produtores em assentamentos. Como descrito anteriormente, ao se comprometer
Em termos gerais, os ISAs ainda so definidos como
as intervenes que motivam os beneficirios a
manterem e incrementarem os servios ambientais
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a adotar prticas sustentveis, os donos das propriedades certificadasrecebemumbnusnaformadepagamentos,aesprioritrias do governo estadual, assistncia tcnica e acesso facilitado a crdito e mercados.
No entanto, a natureza exata dos ISAs vai depender muito dalocalizaogeogrficadecadaprojetoedaoportunidade,para projetos pblicos, de alavancar programas j existentes de extenso rural, educao, sade etc. Como estratgia degarantirasuaeficcia,oSISAnopretendecriarnovasmodalidadesdeincentivosaosbeneficirios,masaproveitarprogramas governamentais existentes ou que seriam criados independentemente do SISA.
AnecessidadedeflexibilidadenodesenhodosISAstorna-seaparente numa simples comparao dos custos de oportunidade para evitar o desmatamento em diferentes unidades de terra no Acre. Esses custos variam de US$0,10/tCO2 em terras indgenas, geralmente localizadas em reas isoladas, at US$2,162,21/tCO2 em reservas extrativistas e assentamentos, respectivamente, conforme apresentado na Tabela 2 (Alencar et al., 2012). As RESEX e os projetos de assentamento tendem a ser localizados em reas mais acessveis, mas os custos para fornecer servios de extenso e outros benefcios tendem a ser altos para pequenas unidades de produo. Os dados apresentados representam mdias para o estado e variam muito conforme o grau de acesso de cada localidade. Essas consideraes indicam a importncia de desenvolver os ISAs localmente,conformeascondiesgeogrficaseasnecessidadesedemandas das populaes residentes em cada projeto.
Mecanismos de financiamento
Existemdiversasfontesatuaisepotenciaisdefinanciamentoparaas duas principais fases do Programa ISA-Carbono, conforme ilustrado na Figura 5. A preparao inicial do SISA e do Programa ISA Carbono, que culminou na aprovao da Lei 2.308/2010 que criouoSISA,foifinanciadadiretamenteporrecursosdotesouroestadual do Acre, de agncias internacionais de cooperao e por parcerias com ONGs nacionais. Entre o incio da sua concepo at a aprovao da Lei 2.308, o SISA e o do Programa ISA Carbono receberam um aporte total de cerca de R$240.000 da Agncia de Cooperao Alem (GIZ), do WWF-Brasil e da Unio Internacional para a Conservao da Natureza (IUCN).
OS CUSTOS DE OPORTUNIDADE PARA EVITAR O
DESMATAMENTO EM DIFERENTES
UNIDADES DE TERRA NO ACRE
VARIAM DE
US$0,10 POR tCO2 AT
US$2,21
POR tCO2
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ParaaFase2,quecorrespondeaodesenhofinaleimplementao, a maior fonte atual o Fundo Amaznia, que disponibilizou R$60 milhes em recursos pblicos ao governo do Acre durante trs anos a partir de 2010, a fundo perdido. Outras fontes internacionais incluem a empresa de televiso a cabo Sky do Reino Unido, por meio de uma parceria com o WWF (R$3,8 milhes durante trs anos a partir de 2011, metade dos quais vem de doaes particulares dos clientes da empresa).
Em dezembro de 2012 o governo do Acre concretizou a primeira transao estadual de redues de emisses do desmatamento, por meio de um acordo com o banco de desenvolvimento alemo, KfW. Com base na reduo de emisses j alcanada pelo estado, obancoofereceuumfinanciamentode16milhesdurantequatro anos, o que equivale ao pagamento de aproximadamente 4 milhes de toneladas de CO2 ao valor de US$5 por tonelada. Em vez de envolver compensaes por emisses no reduzidas empasesindustrializados,ofinanciamentodoKfWprovmde
Figura 5Fontes existentes
e potenciais de financiamento para as principais fases
do Programa ISA Carbono. A caixa que corresponde fonte potencial
de financiamento (Mercados Oficiais de Carbono) tem a
margem pontilhada.
FundaesPrivadas
ONGs
FONTES DE FINANCIAMENTO
AgnciasInternacionaisde Cooperao
Preparao(2007-10)
Desenho do SISA e do Programa ISA Carbono
Levantamento defundos
Estruturao das agncias implementadoras
Assistncia tcnicae compensaopara beneficirios
Tesouro Estadualdo Acre
FundoAmaznia
InvestidoresPrivados
Desenho Final& Implementao(2011-presente)
Empresas
Agncias Internacionaisde Cooperao
AAUs
MercadosVoluntrios
de C
MercadosOficiais
de C
FASES
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um imposto do governo da Alemanha sobre transaes realizadas dentro do sistema de troca de emisses (ETS) da Unio Europeia, chamadas AAUs (Unidades de Quantidade Atribudas ou Assigned Amount Units, que so compostas por unidades comercializveis de uma tonelada equivalente de dixido de carbono 1 tCO2e). Parte desse imposto deve ser destinada a apoiar esforos de pases em desenvolvimento para reduzir suas emisses de gases de efeito estufa.
Atofinalde2012,portanto,ogovernodoAcrehaviaatradofinanciamentoexternodeemtornodeR$107,7milhesparaoPrograma ISA Carbono.
Emtermosdefinanciamentofuturoparaoprograma,ogovernodo Acre acredita que uma proporo crescente dos recursos vir de mercados de carbono, inicialmente voluntrios e eventualmente regulados. A escala dos mercados voluntrios de carbono atualmente pequena: em 2011, um total de 87 milhes de toneladas de CO2e foram comercializadas globalmente, das quais apenas 7,7 milhes de toneladas de CO2e por meio de projetos de REDD 60% abaixo do volume registrado para 2010 (Kossoy & Guigon, 2012). No entanto, o governo do Acre est apostandonocrescimentofuturodessesmercados.Atofinalde2012, quatro projetos de REDD potencialmente voltados para o mercado voluntrio de carbono estavam em diversos estgios de desenvolvimento. No total, esses projetos poderiam representar at 37 milhes de toneladas de CO2 ao longo dos prximos 10 anos.
NovosmercadosoficiaisdecarbonoqueatuamforadombitodaConveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima (UNFCCC)representamoutrasfontespotenciaisdefinanciamento.Por exemplo, um novo programa de cap-and-trade4 do governo da Califrnia representa uma opo futura para a comercializao de crditos de carbono oriundos de estados e provncias de diversos
4 O termo cap-and-trade trata de um mecanismo de mercado que cria limites
para as emisses de gases de efeito estufa provenientes de um determinado
setor ou grupo. Com base nos limites estabelecidos, so lanadas permis-
ses de emisso e cada participante do esquema determina como cumprir
esses limites. No caso de REDD, transaes em mercado envolveriam a
venda de redues de emisses (por exemplo, por meio da queda de desma-
tamento) e a compra de compensaes (por exemplo, por indstrias que no
alcanarem suas metas).
AT O FINAL DE 2012, O
GOVERNO DO ACRE HAVIA
ATRADO FINANCIAMENTO
EXTERNO EM TORNO DE
R$107,7 MILHES PARA
O PROGRAM ISA CARBONO
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pases. Um memorando de entendimento entre os estados de Califrnia, nos Estados Unidos, Acre, no Brasil, e Chiapas, no Mxico,foiassinadoemnovembrode2010,paradefinirasbaseslegais e tcnicas para lanar o programa entre esses trs estados (Alencar et al., 2012).
A nova poltica de clima da Califrnia (AB32), prevista para entrar em vigor a partir de 2013, permitir que entidades reguladas (por exemplo, empresas de eletricidade gerada pela queima de carvo) aloquem uma pequena proporo (2% at 2015, aumentando para 4% at 2020) das suas redues obrigatrias de emisses para compensaes internacionais (ROW, 2013). Estima-se que o nvel de compensaes internacionais (inclusive iniciativas
de REDD) absorvido pela Califrnia, se aprovada a incluso de compensaes de reduo de emisses (offsets) de iniciativas de REDD em seu sistema, possa chegar a at 97,7 milhes de toneladas de CO2e entre 2013 e 2020 (Kossoy & Guigon, 2012).
Alm de participar ativamente no dilogo com a Califrnia, o governo do Acre est buscando oportunidades no mbito de um potencial mercado nacional de carbono
com outros estados brasileiros, especialmente So Paulo e Rio deJaneiro.OEstadodeSoPauloadotoumetassignificativasdereduo de emisses at 2020, que envolvero principalmente setores industriais. Em 2012 os governos do Acre e de So Paulo assinaram um memorando de entendimento para implementar um sistema de cap-and-trade, no qual a reduo de emisses geradas pelo Programa ISA Carbono poderia compensar pelas emisses industriais em So Paulo. Um memorando de entendimento semelhante tambm foi assinado entre os governos do Acre e do
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Rio de Janeiro e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), com possibilidade de agregar outros estados. O governo do Acre tambm planeja registrar as suas redues de emisses no mercado brasileiro de aes, por meio da Bolsa de Valores de So Paulo (BM&FBOVESPA).
Emresumo,asperspectivasdefinanciamentodoProgramaISACarbono tanto por meio de recursos pblicos como de mercados voluntrios de carbono so promissoras. Porm, as regras para a alienao de crditos de carbono no nvel estadual, para potencial comercializao desses crditos de REDD em mercados regulados, dependerodadefiniodeumaEstratgiaNacionaldeREDDque incorpore os sistemas j implantados em diversos estados (Governo do Brasil, 2012).
Processos consultivos
Os processos de consulta realizados durante a fase de elaborao do documento base com os aspectos tcnicos do Programa ISA Carbono foram extremamente abrangentes. As consultas foram feitas entre setembro de 2009 e abril de 2010 e envolveram representantes de trs pblicos-alvo:
organizaes locais da sociedade civil, que foram informadas sobre a elaborao do programa em cinco reunies
os principais segmentos da populao rural do Acre que sero contemplados pelo programa: pequenos produtores, extrativistas egruposindgenas,queparticiparamdetrsoficinasdetrsdiasde durao, das quais saram 357 recomendaes
organizaes nacionais e internacionais com experincia na rea de REDD, que participaram de um seminrio tcnico e foram convidadas a submeter recomendaes por escrito.
Diversos representantes da sociedade civil do Acre foram entrevistados para a elaborao deste estudo e caracterizaram os processos de consulta como sem precedentes, devido sua abrangncia. O governo do Acre pretende publicar em meados de 2013 um relatrio com o detalhamento das respostas s recomendaes feitas durante esses processos e a explicao de como essas recomendaes foram incorporadas Lei 2.308 quecriouoprogramaeaosdecretosquevmdefinindosuaregulamentao. Na Tabela 5 a seguir so resumidas as consultas feitas na fase de elaborao do programa.
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Tabela 5. Os processos, objetivos e resultados de consulta associados aos dois principais produtos elaborados na preparao do Programa ISA Carbono e do SISA.
Produto Elaborado Processo/Objetivo Representantes/Organizaes Envolvidas
Documentobasedefinindoos aspectos tcnicos do Programa ISA Carbono (governo do Acre 2009b)
Reunies para informar organizaes locais da sociedade civil e de classe sobre a preparao do programa
5 reunies com total de 40 pessoas de organizaes locais
3oficinasde3diascadapara capacitar os principais gruposbeneficiriosdo programa e solicitar suas recomendaes
Total de 80 participantes representando os principaisbeneficiriose 357 recomendaes
Envio a 72 organizaes nacionais e internacionais para colher comentrios e recomendaes tcnicas
3 respostas escritas enviadas por correio eletrnico
Seminrio tcnico de 3 dias para colher comentrios e recomendaes tcnicas
32 pessoas de 10 organizaes nacionais e internacionais e 7 secretarias governamentais
Lei 2.308definindoagovernana do SISA (governo do Acre 2010a)
Reunies para apresentar e solicitar comentrios
2 reunies com total de 42 pessoas representando o Conselho Estadual de Florestas, o Conselho Estadual de Meio Ambiente, Cincia e Tecnologia, e o Conselho de Desenvolvimento Rural Florestal
Reunies setoriais com grandes produtores, pequenos produtores, instituies federais e instituies governamentais
5 reunies com participao total de 60 pessoas
Debate na Assembleia Legislativa durante 2 dias
Lei aprovada
Fonte: governo do Acre, 2012b.
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Aps as recomendaes recebidas quanto aos aspectos tcnicos do Programa ISA Carbono, o governo do Acre seguiu em frente com o desenho do arcabouo institucional de um sistema muito mais amplo, o SISA, que contempla a valorizao de diversos serviosambientaisenoapenascarbonoflorestal.Omodeloinstitucional de governana do SISA foi proposto em uma minuta do projeto de lei preparada pelo governo. A minuta foi apresentada em uma reunio conjunta dos trs conselhos consultivos sobre Meio Ambiente, Florestas e Desenvolvimento Rural. Tambm foi distribuda a organizaes locais, nacionais e internacionais para comentrios. Em uma segunda reunio dos trs conselhos, o governoapresentouosajustesfeitosnoprojetodelei.Aversofinalfoi enviada Assembleia Legislativa que, em 22 de outubro de 2010, aps dois dias de debate, aprovou a Lei 2.308 por ampla maioria.
Algumas das 357 recomendaes para o desenho do Programa ISA Carbono foram incorporadas Lei 2.308, que criou o SISA,eaosvriosdecretosseguintesquevmdefinindoasuaregulamentao. No entanto, por fora das circunstncias, diversas recomendaestrataramdeaspectosespecficospropostasparao Programa ISA Carbono que j esto superados. Exemplos disso sooestabelecimentodeumametodologiaparadefiniodereas prioritrias para atuao inicial do programa e a natureza dos Incentivos por Servios Ambientais (ISAs) conforme o grupo socioeconmico contemplado. Na regulamentao do programa a partir de 2011, optou-se por um enfoque de planejamento que poderia responder s demandas por subprogramas e projetos, em vezdepr-definirumdesenho.
Governana
Para estabelecer os princpios de governana do Programa ISA Carbono, foi realizado um estudo sobre possveis modelos institucionais alternativos (Ludovino Lopes Advogados, 2010). Em seguida, sob a gesto direta do governo do Acre, foi elaborada umapropostaparaadefiniodosistemadegovernanadoSISA,incluindo os arranjos institucionais, arcabouo legal, salvaguardas e controle social. O sistema de governana selecionado, conforme representado na Figura 6, envolve diversas instncias governamentais que sero diretamente responsveis pelas diversas aesassociadasaofuncionamentodoSISA.Ospapisespecficosdessas instncias esto resumidos na Tabela 6 abaixo.
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Figura 6 Modelo atual de governana do SISA, com as funes relevantes ao programa definidas por lei ou decreto at dezembro de 2012. Instituies j existentes com as margens slidas; ente a ser criado com a margem pontilhada. As linhas slidas indicam funes de superviso, as setas indicam troca ou repasse de informao ou relatoria; as linhas pontilhadas indicam atuais ou potenciais fluxos financeiros. Fontes: Lei 2.308 (Governo do Acre, 2010a); Decretos 1.471/2011, 4.511/2011, e 4.301/2012; e Governo do Acre, 2012a.
Instituio de Mudanas Climticas e Regulao de Servios Ambientais IMC
Prepara normas e regulaesAprova pr-registro de planos e projetosMonitora e registra projetosEmite redues certificadasde emisses (RCEs) aps auditoria independente
Fundo de Florestas
Capta e gere transfernciase doaes (pblicas e privadas)Financia ISAs e aesestruturantes
Conselho Estadual de Florestas
DeliberativoMembros do governo e da sociedade civilMonitora a gestoFiscaliza a aplicao de recursos
Companhia de Desenvolvimento de Servios Ambientais CDSA*
Pblico-privadaCapta e gere investimentos privadosPrepara projetos REDD (com ou sem terceiros)Executa projetos REDD (com terceiros)Negocia e vende crditos de carbono
Comisso Estadual de Validao e Acompanhamento CEVA
Deliberativa Composta por representantes do governo e da sociedade civilAprova normas, regulaes e subprogramas
Regulao, Planejamento eMonitoramento
Governo do Acre
Superviso Financiamento e Implementao
Secretaria Estadual de Cincia e Tecnologia SECT
Secretaria Estadual deDesenvolvimento Florestal, Indstria, Comrcio e ServiosSustentveis SEDENS
Comit Cientfico
ConsultivoComposto por especialistas notveisFornece orientaotcnica
Beneficirios Investidores
UCEGEO
Monitora estoques e fluxos de carbono associados com usos da terra
AuditoriaEntidades independentes de verificao e certificao
OuvidoriaRecebe, analisa e acompanha dennciasMedia conflitos
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Tabela 6. Fases, aes e instncias responsveis pelo SISA
FASE AO INSTNCIA RESPONSVEL
1. Regulao, Planejamento e Gesto
Prepara normas e regulaes edefinesubprogramas
Instituto de Mudanas Climticas e Regulao de Servios Ambientais (IMC), subsidiado peloComitCientfico
Revisa e aprova normas, regulaes e subprogramas
Comisso Estadual de Validao e Acompanhamento (CEVA)
Prepara planos de ao e projetos de servios ambientais
Companhia de Desenvolvimento de Servios Ambientais (CDSA) e/ou agentes independentes
Aprova pr-registro e o registro de planos e projetos
IMC
2. Monitora-mento tcnico e controle social
Exerce controle social do IMC CEVA
Fornece conselho tcnico ao IMC
ComitCientfico
Exerce controle social do Fundo Florestal
Conselho Estadual de Florestas
Recebe, analisa e acompanha dennciasemediaconflitos
Ouvidoria
Forneceamediooficialdo desmatamento no estado (e as emisses de CO2 associadas aos subprogramas e projetos)
INPE (PRODES)
Monitora o desmatamento noestadoparafinsdefiscalizao;futuramente,monitorar a degradao florestaleosumidouropor meio de restaurao florestalereflorestamento
UCEGEO
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FASE AO INSTNCIA RESPONSVEL
3. Validao e Certificao de Subprogramas e Projetos e de Emisses/Crditos Certificados
ValidaecertificaReduesCertificadasdeEmisses(RCEs) e os crditos de carbono em termos de salvaguardas socioambientais
Entidades Independentes de auditoria (p.e., VCS, CCBA)
Emite RCEs, que possam ser usadas para atender as metasoficiaisouconvertidosem crditos de carbono para transao em mercados
IMC
Contabiliza as RCEs e os crdito de carbono, e registra os Crditos para transao em mercados
Markit/IMC
4. Financia-mento e Im-plementao de Projetos
Capta recursos a fundo perdido*
IMC (para recursos a fundo perdido) junto com outras secretarias; CDSA (para investimentos com o setor privado)
Administra recursos a fundo perdido
Fundo de Florestas*
Capta e administra recursos atravs da venda de crditos de REDD
CDSA **
Vende crditos de carbono CDSA e/ou agentes independentes aprovados pelo IMC
Implementa projetos com recursos gerados pela venda decertificadosdeREDD
CDSA e/ou agentes independentes
* Atualmente o Fundo Florestal o gestor de recursos do ISA Carbono oriundos
do Fundo Amaznia e parte dos recursos da empresa Sky.
**A Lei 2.308, Art. 15, define que a Companhia poder captar recursos financeiros oriundos
de fontes pblicas, privadas ou multilaterais, sob a forma de doaes e/ou investimentos.
Por enquanto, o Fundo Florestal gere o financiamento a fundo perdido.
Fontes: Lei 2.308 (governo do Acre, 2010a); Decretos 1.471/2011 4.511/2011, 4.301/2012; e governo do Acre, 2012a.
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Duas das novas instituies tm papis de destaque no mbito do Programa ISA Carbono:
o Instituto de Mudanas Climticas e Regulao de Servios Ambientais (IMC), criado em maro de 2011 e vinculado Secretaria Estadual de Cincia e Tecnologia (SECT) e responsvel pela preparao de normas e regulaes, criao de subprogramas, aprovao de planos e projetos e emisso de reduescertificadasdeemisses5
a Companhia de Desenvolvimento de Servios Ambientais (CDSA), uma sociedade de economia mista em forma de sociedade annima, sobre a qual o governo estadual ter o controle majoritrio, com vnculo Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indstria, do Comrcio e dos Servios Sustentveis (SEDENS) e responsvel pela preparao e execuo de planos de ao e projetos REDD (com ou sem investidores independentes) e negociao e venda de crditos de carbono.
Segundo a Lei 2.308, a CDSA eventualmente ser responsvel pelacaptaoegestoderecursosfinanceirosdetodasasfontes,inclusive aqueles gerados pela venda de crditos de carbono, quepoderiafinanciaraimplementaodeplanoseprojetos.Atualmente,ofinanciamentoprovenientederecursospblicosque no venham do oramento do estado so geridos pelo Fundo Florestal, tambm vinculado SEDENS.
Outras trs entidades importantes de controle social e tcnico no mbito do SISA so:
a Comisso Estadual de Validao e Acompanhamento (CEVA), responsvel pela reviso e aprovao de normas, regulaes e subprogramas propostos pelo IMC e composta de forma paritria por representantes de governo e sociedade civil, esses ltimos originrios de trs conselhos do estado j existentes (Meio Ambiente, Florestal e de Desenvolvimento Rural)
5 ConformedefinidopeloDecreto10.513/2011,oIMCtambmresponsvel
pela avaliao, monitoramento e articulao referentes mitigao e adapta-
o aos impactos das mudanas climticas; realizao peridica do inventrio
estadual de emisses de gases de efeito estufa (GEE); desenvolvimento de
estratgiasdequantificao,provisoedistribuioterritorialdeservios
ambientais; e articulao de aes de gesto de riscos associadas aos incenti-
vos aos servios ambientais.
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oComitCientfico,compostoporespecialistasnotveisnoscampos de cincia e questes socioeconmicas, que orienta o IMC sobre questes tcnicas, tais como o monitoramento de carbonoflorestal,salvaguardasedistribuiodebenefcios
a Ouvidoria, que ser responsvel pelo monitoramento de eventuaisdennciasemediaodeconflitos.
Alm disso, outras instncias governamentais devero ser mobilizadas para o funcionamento do sistema. Por exemplo, conformejacontecenoProgramadeCertificaodaPropriedadeSustentvel, o Programa ISA Carbono mobiliza a Secretaria de ExtensoAgroflorestaleProduoFamiliar(SEAPROF)parafornecer assistncia tcnica e extenso rural aos produtores que aderem ao programa. Outros programas governamentais esto previstos para fornecer servios e benefcios s populaes que participam no Programa ISA Carbono.
Dados fornecidos pelo INPE por meio do PRODES so usados pelo Programa ISA Carbono para medir o desmatamento total em relao meta e linha de base, seguindo o padro usado pelo governo federal para a regio amaznica. A UCEGEO, entidade estadual, continuar monitorando o desmatamento no Acre em escalasmaisfinas,parapoderacionaraesdefiscalizaoemonitoramento de riscos.
Em breve, a UCEGEO tambm ter o papel de monitorar a degradaoflorestalesumidourospormeioderegeneraonaturalereflorestamento,deformaaampliarasaesdeREDDquepodero ser valorizadas pelo Programa ISA Carbono. Atualmente, os dados disponveis sobre a degradao so limitados ocorrncia de focos de queimadas. Para preencher esta lacuna, o governo do Acre pretende destinar parte dos recursos fornecidos pelo Fundo Amaznia implantao de um sistema LIDAR (Light Detection And Ranging), o que permitir o monitoramento mais detalhado dadegradaoflorestal.
O SISA escolheu a Markit, mediante a Markit Environmental Registry,comoplataformaderegistrodasreduescertificadasdeemisses (RCEs) e crditos de carbono e, eventualmente, de outros bens ambientais. A Markit tem um sistema robusto de registro, com mais de 75% de participao de mercado, mais de 600 clientes e 75 milhes de crditos listados. O sistema de registro permite contabilizar e acompanhar a situao das RCEs e dos crditos de carbono, desde sua emisso, suas transaes comerciais (se
OUTRAS INSTNCIAS
GOVERNAMENTAIS DEVERO SER MOBILIZADAS
PARA FORNECER SERVIOS E
BENEFCIOS S POPULAES
QUE PARTICIPAM NO PROGRAMA
ISA CARBONO
O Sistema de Incentivos por Servios Ambientais do Estado do Acre, Brasil Pgina 56
for o caso) at a sua aposentadoria. A Markit utiliza oito dos 10 principaispadresinternacionaisdecertificaodeemissesecrditos de carbono (governo do Acre, 2012a).
Em termos gerais, o sistema de governana do Programa ISA Carbono est dividido em duas partes uma voltada estritamente emisso de RCEs emitidas pelo Instituto de Mudanas Climticas e Regulao de Servios Ambientais, e a outra
direcionada venda de crditos de carbono, com ou sem a participao da Companhia de Desenvolvimento de Servios Ambientais.
Para garantir a credibilidade do sistema, est previsto que tanto as RCEs quanto os crditos de carbono sero validados por entidades independentes de auditoria, especialmente o VCS (Voluntary Carbon Standard) e a CCBA (Climate, Community and Biodiversity Alliance), amplamente usados em projetos voluntrios de REDD para averiguar o cumprimento de salvaguardas
internacionalmente reconhecidas. De fato, o Acre faz parte de um grupo seleto de pases (Equador, Nepal, Mxico, Tanznia) e jurisdies subnacionais (Kalimantan, Indonesia e Acre, Brasil) que esto desenvolvendo padres de CCBA em escalas nacionais ou subnacionais (Albn & Durban, 2012).
O estado do Acre tambm est desenvolvendo, em parceria com a Markit Environmental Registry,umpadroespecficoparaasreduescertificadasdeemissesdoAcresemfinscomerciais.Paraissoestdefinindooscritrios,procedimentosenormativasquefaropartedessepadro,previstoparaserdefinidoatofinalde2013.
Aindaquefaltedefiniosobrealgunsaspectosdosistemadegovernana do SISA, de modo geral, e do Programa ISA Carbo