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O SISTEMA DE SAÚDE BRITÂNICO COMO MODELO DE
FORTALECIMENTO DOS PRINCÍPIOS DO SUS
Flávia Rocha de Barros
(LATEC/UFF)
Resumo: Este artigo aborda uma comparação das características do sistema único de saúde no Brasil, a partir da
Constituição Federal de 1988, com sistema de saúde britânico (NHS), a partir da reforma realizada em 1990. As
formas de financiamento, o fortalecimento da Atenção Primária, a redução das desigualdades são processos e
estratégias que podem ser seguidas como modelo para o fortalecimento dos princípios éticos e doutrinários
estabelecidos pelo SUS, considerando que ambos os sistemas de saúde são universalistas.
Palavras-chaves: sistema único de saúde, sistema britânico de saúde, reforma sanitária.
ISSN 1984-9354
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
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1- INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 representou uma profunda transformação no padrão de
proteção social brasileiro, consolidando, na lei maior, as pressões que já se faziam sentir há mais de
uma década. Inaugura-se um novo período, no qual o modelo da seguridade social passa a estruturar a
organização e formato da proteção social brasileira, em busca da universalização da cidadania. Nesse
modelo, busca-se romper com as noções de cobertura restrita a setores inseridos no mercado formal e
afrouxar os vínculos entre contribuições e benefícios, gerando mecanismos mais solidários e
redistributivos. Os benefícios passam a ser concedidos a partir das necessidades com fundamentos nos
princípios da justiça social, o que obriga a estender universalmente a cobertura e integrar as estruturas
governamentais. O novo padrão constitucional da política social caracteriza-se pela universalidade na
cobertura, o reconhecimento dos direitos sociais, a afirmação do dever do Estado, a subordinação das
práticas privadas à regulação em função da relevância pública das ações e serviços nestas áreas, uma
perspectiva publicista de cogestão governo/sociedade em arranjo organizacional descentralizado.
(FLEURY, 2009).
O sistema único de saúde foi instituído pela Constituição de 1988 como uma nova formulação
política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde no Brasil. Esse sistema
nasceu através de muitas lutas e conquistas da sociedade civil e com o processo de redemocratização
do Brasil. Os seus princípios organizativos são seguidos em todo território nacional e estão sob a
responsabilidade das três esferas do governo (federal, estadual e municipal) integradas às atividades de
promoção, proteção e recuperação da saúde. Na Constituição de 1988 e na Lei 8080/90, a Saúde ficou
definida como um direito de todos e um dever do Estado e estabelecido que o SUS seja baseado nos
princípios da universalidade, integralidade e participação social. Na Lei 8142/90, as Conferências,
realizadas a cada quatro anos, e os Conselhos de Saúde se tornaram instâncias colegiadas do pode
deliberativo. O financiamento do SUS é de responsabilidade das três esferas do governo, sendo
determinado pela Emenda Constitucional de 29 de 2000 os limites mínimos a serem aplicados nos
recursos de saúde na União, nos Estados e nos Municípios.
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De acordo com Andrade (2012), em termos de leito hospitalar, por exemplo, o SUS oferece
hoje mais de 350 mil dos 503 mil leitos disponíveis no país. Leitos de UTI são mais de 17 mil,
representando 49% do total existente. Todos os brasileiros são usuários do SUS, que não é apenas
atendimento médico. O SUS é um sistema de Vigilância em Saúde, Ambiental e Epidemiológica, com
ações de Promoção da Saúde que acontecem 24 horas por dia, 365 dias por ano. No quesito assistência
hospitalar e ambulatorial, dependem exclusivamente do SUS 145 milhões de pessoas. Têm atuação
permanente no Sistema dois milhões de profissionais, que atuam em 64 mil estabelecimentos de saúde.
Por ano, são realizados cerca de 3,4 bilhões de procedimentos ambulatoriais e quase 480 milhões de
consultas médicas. Somente em 2011, foram realizados 10,5 milhões de procedimentos para câncer
(quimioterapia e radioterapia), 282 mil cirurgias cardíacas, 98 mil cirurgias oncológicas e 21 mil
transplantes. O Sistema movimenta 90% do mercado de vacinas e 70% do de equipamentos
hospitalares.
Atualmente, o sistema de saúde brasileiro é formado por uma rede complexa de prestadores e
compradores de serviços que competem entre si, gerando uma combinação público-privada financiada,
sobretudo por recursos privados. O sistema de saúde tem três subsetores: o subsetor público, no qual os
serviços são financiados e providos pelo Estado nos níveis federal, estadual e municipal, incluindo os
serviços de saúde militares; o subsetor privado (com fins lucrativos ou não), no qual os serviços são
financiados de diversas maneiras com recursos públicos ou privados; e, por último, o subsetor de saúde
suplementar, com diferentes tipos de planos privados de saúde e de apólices de seguro, além de
subsídios fiscais. Os componentes público e privado do sistema são distintos, mas estão
interconectados, e as pessoas podem utilizar os serviços de todos os três subsetores, dependendo da
facilidade de acesso ou de sua capacidade de pagamento (J PAIM, C TRAVASSOS, C ALMEIDA e J
MACINKO, 2001).
O sistema de saúde britânico (NHS) originou-se na Grã Bretanha , em 1948, centrado na figura
do General Practitioner (GP), médicos de atenção primária que recebiam por captação, ou seja,
conforme o número de pacientes que compunham sua lista de espera. Os GP proviam serviços
ambulatoriais e agiam como porta de entrada (gatekeepers) para assistência hospitalar não
emergencial. O sistema previa cobertura universal baseado nos princípios da equidade e integralidade,
exceto para tratamento dental, oftalmológico e dispensação de medicamentos. A maioria dos leitos
estavam em hospitais públicos. Neste contexto, a atenção hospitalar era garantida para todos os GP e
não havia competição entre os hospitais (KOEN, 2000). Os recursos financeiros destinados aos
hospitais regionais e aos serviços locais eram calculados de forma per capita, ajustado por fatores
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demográficos e epidemiológicos, e repassados para os serviços via Autoridade Distritais Sanitárias
(District Health Authorities – DHA).
Em 1970, devido à crise econômica do Petróleo, o Welfare State passou a ser criticado e
responsabilizado pelos altos impostos e má administração. O Welfare State surgiu nos países europeus
devido à expansão do capitalismo após a Revolução Industrial e o Movimento de um Estado Nacional
objetivando a democracia. Algumas teorias pregam que seu início efetivo dá-se exatamente com a
superação dos absolutismos e a emergência das democracias de massa. O Welfare State é uma
transformação do próprio Estado a partir das suas estruturas, funções e legitimidade. Ele é uma solução
para a necessidade de serviços de segurança sócio-econômica. Com o inicio da industrialização surgiu
a divisão social do trabalho, o que gerou um crescimento individual em relação à sociedade. Assim, os
serviços sociais surgiram para amenizar as dificuldades individuais, visando garantir a sobrevivência
das sociedades. O Welfare State surgiu por três razões básicas: garantia de renda mínima às famílias,
dar segurança às famílias nas “contingências sociais (doença/velhice) e assegurar a todos os cidadãos
qualidade nos serviços sociais.
Nesse período de crise econômica, o NHS também foi alvo de críticas devido ao aumento dos
custos do sistema. O gasto público com a saúde resultou em um aumento significativo comparado ao
gasto em 1960, fazendo com que o Partido Conservador defendesse, fortemente, a reforma do sistema
de saúde para combater a ineficiência econômica, introduzindo elementos de gerência e competição
(OLIVEIRA e col., 2004; NEGRI e VIANA, 2002).
Após 10 anos no poder, sob o lema da inovação, eficiência e ampliação dos direitos do
consumidor, os conservadores propuseram reforma do NHS. Em 1991, foi implementada a reforma do
sistema de saúde, baseada no White Paper Working for Patients, no qual foi observado déficits no
financiamento e qualidade de atendimento. E a partir desse documento, foi formulado o Patients
Charter, onde o paciente passa a ser o foco principal do sistema e propõe uma mudança na lógica de
organização da oferta de serviços. Foi, então, promovida a introdução do conceito de “mercado
interno”, separando os “compradores” dos “provedores” de serviços de saúde com o melhorar a
qualidade dos serviços, diminuir a lista de espera e controlar o desperdício de recursos (WHO, 1997).
Porém essas mudanças ocasionaram uma insatisfação popular com o novo sistema como aumento da
demora na marcação de consultas e exames emergenciais, desigualdades dos Distritos Sanitários,
ineficiência e falta de autonomia dos provedores. Sendo assim, nas eleições de 1996, o Partido
Conservador foi derrotado pelo Partido Trabalhista com o propósito de resolver os problemas causados
pelo NHS dos Conservadores.
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Em 1999, foi implantada a reforma da reforma do NHS com o objetivo de reafirmar a
universalidade e reverter as políticas mal sucedidas. A separação entre “compradores” e “provedores”
de serviços de saúde foi mantida, porém com o foco no monitoramento do desempenho, e não mais na
competição da qualidade e custos. Foi praticada a junção de todos os GPs em Grupos de Atenção
Primária, os quais passaram a ser subordinados pelas Autoridades Sanitárias, diminuindo assim sua
autonomia e desenvolvendo um processo de regionalização. Foram realizadas duas medidas
inovadoras na atenção primária: a NHS walk-in centers e a NHS direct. Além disso, foi definido como
nível de Atenção secundária o atendimento ambulatorial especializado e os procedimentos de alta
complexidade a serem realizados em hospitais, complementados pelas instituições de Care Trust,
Mental Health Trusts, NHS Trusts e Ambulance Trusts. Para o monitoramento e avaliação dos serviços
de saúde foram criados os Padrões Nacionais de Serviços (National Service Framework) a fim de
reduzir as diferenças de atenção dos distritos sanitários. Outra estratégia foi o desenvolvimento do
National Institute for Clinical Excellence com o objetivo de padronizar e estabelecer protocolos
clínicos garantindo maior efetividade e qualidade nos processos (NHS, 2014). O financiamento do
sistema de saúde britânico é obtido, em sua maioria, pelo setor público através de impostos, com
contribuição da Seguridade Social. O Reino Unido é um dos países que apresenta menos gastos totais
em saúde per capita, mesmo sendo observada uma tendência ao aumento da porcentagem do PIB gasta
em saúde nas últimas décadas. Os principais grupos de serviços para onde o NHS destina o seus gastos
são tratamento hospitalar (44,1%), tratamento por enfermarias (16,2%), medicamentos (12,9%),
tratamento odontológico (4,8%) e outros serviços (7,4%). Assim, todos esses recursos associados à
implementação de indicadores de desempenho dos serviços, resolutividade, ampla cobertura e
remuneração dos prestadores resultou em um adequado funcionamento do sistema de saúde britânico.
Desde o nascimento do NHS, em 1948, o setor privado não deixou de existir e passou a
coexistir com o setor público. As despesas em saúde privada no Reino Unido incluem apenas as
despesas de consumo final em saúde por parte das famílias, capital do setor privado e instituições sem
fins lucrativos ao serviço das famílias (UK spending, 2014). Existe um cruzamento entre provisões do
setor público e do setor privado que possibilita que alguns pacientes do NHS possam ser tratados em
instalações de saúde privados. O setor privado tem sido associado ao setor público com o objetivo de
aumentar a capacidade do NHS, conforme ilustrado na figura 1. No entanto, o NHS continua sendo
fundamental, uma vez que os hospitais do setor privado tendem a gerir apenas as operações de rotina e
faltam unidades de cuidados intensivos de nível três (ou unidade de terapia intensiva); emergências
podem levar o paciente a ser transferido a um hospital NHS.
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Figura 1: A figura ilustra a difenreça dos gastos com a saúde entres os setores públicos e
privado do Reino Unido.
Fonte: Adaptada de Office for National Statistics
Indicadores de saúde são parâmetros utilizados internacionalmente com o objetivo de avaliar,
sob o ponto de vista sanitário, a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsídios aos
planejamentos de saúde, permitindo o acompanhamento das flutuações e tendências históricas do
padrão sanitário de diferentes coletividades consideradas à mesma época ou da mesma coletividade em
diversos períodos do tempo. (Rouquayrol, 1993). A expectativa de vida aumentou bastante no Reino
Unido durante as últimas décadas, principalmente devido ao maior investimento em saúde e hábitos da
população. A expectativa de vida no Reino Unido ao nascer é de 81 anos, sendo que as mulheres
possuem uma expectativa de vida de 83 anos, enquanto a dos homens é de 79 anos.
O Estado de saúde informada, outro indicador de saúde muito importante, mostra que 78% da
população do Reino Unido classificamos como boa sua saúde. Levando em consideração o gênero,
79% dos homens do Reino Unido consideram boa sua saúde, enquanto 77% das mulheres consideram
como boa a sua saúde. Pessoas mais velhas, pessoas desempregadas, ou as que possuem menor grau de
instrução ou renda relatam menos saúde.
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2- OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi apresentar uma descrição do contexto do desenvolvimento do
sistema único de saúde e sistema de saúde britânico a fim de analisar as similaridades entre esses dois
sistemas de saúde universalistas possibilitando a viabilidade de desenvolvimento estratégias do NHS
que poderão servir como modelo de gestão e aprimoramento dos princípios do SUS.
3- MÉTODO
O presente estudo adotou como metodologia, a orientação bibliográfica através de consultas em
artigos científicos, bibliotecas públicas e privadas, além de sites da internet.
4- DISCUSSÃO
A situação problema do presente artigo consiste na alta taxa de desigualdade social
característica da população brasileira, falta de educação, gestão não capacitada tecnicamente levando
ao subfinanciamento e desorganização política administrativa do sistema de saúde.
As mudanças ocorridas no NHS foram decorrentes de dois processos de reforma da saúde em
um curto período de tempo, que geraram importantes transformações e desenvolvimento, e ainda assim
mantiveram as suas características originais de universalidade e caráter, prioritariamente, público.
Enquanto que no sistema único de saúde, a origem foi distinta do sistema citado acima, sendo
predominante o sistema privado de saúde, o qual havia sido planejado para ser de caráter
complementar. Tal fato foi fortalecido pelas características culturais e organizacionais herdadas do
Instituto Nacional de Assistência Médica de Previdência Social (INAMPS), que incentivava as
empresas a criarem as medicinas de grupo, conhecidas como Planos de Saúde e a maioria dos leitos
pertencia ao setor privado, filantrópico e lucrativo.
A análise das reformas da estrutura organizacional do sistema de saúde inglês aponta que a
universalidade foi garantida pela oferta de atenção básica, bem como o caráter público do sistema. A
atenção primária responde, no Reino Unido, por 90% da atenção em saúde, e 99% da população está
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cadastrada na lista dos GPs. Após a sua reestruturação, através do NHS Plan, aproximadamente 81%
do total de recursos do sistema de saúde britânico é monitorado pelos Grupos de Atenção Primária a
fim de estabelecer condições e definir responsabilidades na porta de entrada do sistema. No SUS, esse
contexto não ocorre, pois devemos ainda nos conscientizar que a porta de entrada no sistema de saúde
deve ser sempre a da prevenção e promoção da saúde a fim de reduzir os custos do sistema. Para isso,
é necessário fortalecer o Programa Médico da Família com visita domiciliar em cada território para
coleta e identificação de dados que servirão para traçar o perfil epidemiológico da população, e
posterior planejamento estratégico e criação de metas e indicadores.
No sistema único de saúde, esforços têm sido concentrados para realocação dos recursos
financeiros visando à mudança no modelo de atenção em prol da atenção primária, todavia, ainda se
predomina a maior parte dos recurso financeiros destinados na média e alta complexidade do sistema
de assistência à saúde.
No NHS, os hospitais eram subordinados diretamente aos Grupos de Atenção Primária e às
Autoridades Distritais Sanitárias, que disputavam pela prestação de serviços aos médicos de atenção
primária. Após a unificação dos GPs e Grupos de Atenção Primária, passou-se a pode comprar
serviços somente dentro da área geográfica de abrangência definida pelo DHA (WHO, 2003). Esse
novo sistema manteve a competição entre os prestadores, porém devido à limitação territorial
estabelecida só pode vender serviço para o seu Distrito Sanitário. Esse modelo tem similaridade com o
que foi proposto pela NOAS 01 e 02, porém não foi houve sucesso na implantação devido a
dificuldades técnicas e interesses políticos que proporcionassem pactuação de distintos personagens
sociais. Contudo, em 2006, com a Portaria/GM 399, o projeto de regionalização e o Plano Diretor de
Regionalização são retomados como diretrizes para gestão do SUS com o objetivo de garantir acesso,
resolutividade e qualidade às ações e serviços de saúde, promover a equidade, garantir a integralidade
na atenção à saúde, racionalizar os gastos e otimizar os recursos.
O governo inglês também inovou com mudanças nos níveis de decisões distritais. Foram
criados cargos remunerados e eliminada a participação dos profissionais de saúde e de autoridades
municipais nas estruturas de representação com a finalidade de priorizar o caráter gerencial de
profissionalização da gestão. Assim, houve um incentivo à economia do país e maior controle e
transparência dos gastos públicos e aumento da eficiência dos serviços prestados através da definição
de padrões de trabalho, planejamento, monitoramento e controle dos processos. Em relação ao SUS, há
uma forte presença de profissionais da saúde ocupando cargos de gerência e direção desde unidades de
atenção básica até os níveis mais altos de complexidade e coordenação. Porém ainda há uma carência
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muito grande em profissionais capacitados tecnicamente para ocupação desses cargos devido ao novo
modelo de gestão. Algumas estratégias importantes para a reorganização e a humanização do sistema
foram implantadas. Entre elas, a Estratégia Saúde da Família, a Política Nacional de Humanização, o
Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PHPN), entre outras. Essas estratégias visam
principalmente contribuir para a reorientação do modelo, investindo na integralidade da atenção à
saúde, em conformidade com os princípios e as diretrizes do SUS. Isso implica em novas dinâmicas de
atuação nas unidades de saúde, com redefinição de responsabilidades entre os serviços/gestores, os
trabalhadores e a população.
Apesar de alguns avanços, a formação dos profissionais de saúde ainda está muito distante do
cuidado integral. O perfil dos profissionais de saúde demonstra qualificação insuficiente para as
mudanças das práticas. Uma necessidade crescente de educação permanente para esses profissionais,
com o objetivo de (re) significar seus perfis de atuação, para implantação e fortalecimento da atenção à
saúde no SUS é um grande desafio (BATISTA, K. e GONÇALVES, O, 2011).
A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde aparece como uma proposta de ação
estratégica para contribuir para a transformação e a qualificação das práticas de saúde, a organização
das ações e dos serviços, dos processos formativos e das práticas pedagógicas na formação e no desen-
volvimento dos trabalhadores de saúde. Implica em trabalho intersetorial capaz de articular o desen-
volvimento individual e institucional, as ações e os serviços e a gestão local, a atenção à saúde e o
controle social (Brasil, 2004).
Os sistemas de saúde são financiados exclusivamente por recursos públicos (impostos,
contribuições e renúncia fiscal) ou fundos privados (desembolso direto, co-pagamento) e
alternativamente por um mistura destas fontes, conformando diversos modelos de financiamento. O
sistema de saúde inglês se utiliza exclusivamente de recursos públicos se caracterizando como de
cobertura universal, com uma pequena contribuição do sistema da seguridade social. As unidades de
saúde são muito bem equipadas e sem filas para atendimento. Os médicos são muito bem remunerados
desde o início de sua carreira com aumento progressivo ao longo de sua carreira. A remuneração é
isonômica em todas as regiões do país (DUARTE, 2013). O Reino Unido apresenta um dos menores
gastos totais em saúde per capita e um gasto total em saúde de mais de 80%, pertencendo ao ranking
dos países com as mais altas porcentagens de gasto público em saúde.
Enquanto que no Brasil, o governo responde por apenas 44% de todo o gasto em saúde e o
gasto de 7,6% do PIB com saúde. O financiamento do SUS tem como fontes as receitas estatais e de
contribuições dos orçamentos federal, estadual e municipal. As demais fontes são privadas, gastos por
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desembolso direto ou por empregadores. O financiamento do sistema único de saúde não tem sido
suficiente para assegurar recursos financeiros adequados ou estáveis para sistema público, sendo
caracterizado pelo subfinanciamento, resultando em infraestrutura precária e recursos humanos
ineficazes. Esse fato foi agravado pela revogação, em 2007, da contribuição social (contribuição
provisória sobre a movimentação financeira – CPMF), a qual era um fundo especificamente para
financiar a saúde. Não foram repostos outros fundos destinados à saúde, havendo, portanto uma
redução do financiamento federal do SUS, que só foi parcialmente contrabalançada pelo aumento na
despesa estadual e municipal com a saúde. Fontes privadas de financiamento são as principais
responsáveis pelo custo com a maior parte dos planos e seguros de saúde privado e a compra de
medicamentos.
5- CONCLUSÕES
A nossa sociedade ainda é muito estratificada socialmente, que é o que retrata nosso sistema
único de saúde. Os sistemas únicos de saúde no mundo só foram possíveis de serem implementados
devido a pouca ou quase inexistente estratificação social, conforme ocorrido na Inglaterra. Precisamos
de um sistema de saúde em que haja uma integração de recursos, organização, financiamento e
gerenciamento para que a prestação do serviço de saúde seja eficiente, qualificada e de forma
continuada e atenda toda a população em território nacional e em todos os níveis de complexidade.
Apesar dos recursos e processos de gestão alcançados pelo sistema de saúde britânico, é
importante ressaltar que o nível cultural do povo inglês faz com que aquela população adoeça muito
pouco (como ocorre em outras partes do mundo). É inversamente proporcional a relação nível
cultural/comportamental X índices de morbimortalidade.
Apesar das crises, limitações e dificuldades de financiamento e gestão, o sistema único de
saúde é referência para o mundo em saúde pública universal, e permanece confiante em seus princípios
de garantir assistência universal e integral à saúde da população brasileira, com qualidade e tempo
adequado, rumo ao alcance de metas e novos desafios, pois o foco deve sempre ser a educação e a
saúde do povo brasileiro.
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6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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