objetividade em weber

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Pensamento webberiano acerca da objetividade.

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HZ 358 B SOCIOLOGIA DE WEBERProfessor Doutor Thomas Dwyer

Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Cincias Humanas

Aluno: Vitor Lacerda VasquezRA: 993485

A questo da objetividade em Weber

Quando estamos na nossa vida cotidiana so raras as vezes em que paramos para uma reflexo de como a cincia interfere em nossas aes. Pode-se dizer tambm que a no reflexo ocorre mesmo quando quem age so os outros. Porm a anlise no passa despercebida por Weber quando o autor discute sobre a relevncia do cientista. Em A cincia como vocao, ele pe-se a responder qual, em essncia, a contribuio positiva da cincia para a vida prtica e social (p.45). A resposta para esta pergunta, entretanto, no nem simples tampouco direta, ela percorre um frreo caminho de metodologia, de discusso da utilizao de valores, de meios e de fins.A questo levantada rica tanto quanto complexa pois trata da dificuldade de como lidar objetivamente com problemas das cincias sociais que tm por natureza carteres subjetivos. Como desenvolver mecanismos metodolgicos para conquistar conhecimentos objetivos aplicveis a partir de uma estrutura de significados subjetivos? Eis o desafio posto neste trabalho: responder a pergunta feita por Weber sobre a contribuio positiva da cincia, utilizando-se dos dispositivos que o prprio autor fornece de modo a realizar esta contribuio como ferramentas para alcanar a objetividade.Uma primeira contribuio da cincia para a vida permitir realizar um domnio dela (vida) atravs de previses, isto se torna possvel graas a conhecimentos tcnicos que, aplicados adequadamente, permitem escrever possveis hipteses futuras de forma objetiva. Outra ajuda da cincia reside no sentido de mtodos de pensamento, ou seja, para conseguir o conhecimento tcnico anteriormente falado, preciso ferramentas e um campo especfico onde elas possam ser manuseadas.Por fim, o mais importante legado que a cincia pode proporcionar o que Weber chama de clareza. Dado um determinado problema levantado, o cientista capaz de fornecer quais desenvolvimentos de solues podem ser adotados, ele pode demonstrar ainda quais posies possveis, mas sem tomar partido de nenhuma delas como melhor ou pior quaisquer que sejam, ele pode apenas esclarecer a necessidade de escolha; optar por uma forma ou outra seria fugir do papel de sua profisso, seria inserir um juzo de valor na resposta questo inicialmente dada.Torna-se central, portanto, o rigor no exerccio cientfico para que seus resultados possam ser positivamente desfrutados na vida prtica e social, preciso afastar o conhecimento objetivo do conhecimento de valores, a cincia no pode ser tal qual uma religio. Para conquistar esta reificao do mundo social, quer dizer, transformar fatos abstratos em algo concreto, preciso um processo de racionalizao para tratar conceitos como coisas e assim ordenar a realidade a partir de algumas categorias subjetivas. A organizao e compreenso desta intersubjetividade o caminho do sucesso para o cientista dar utilidade e importncia ao seu trabalho no dia a dia das pessoas. Por isso a relevncia de destrinchar todo o percurso do profissional da cincia at a produo de sua obra, esse o meio de garantir o status dela como recurso vlido.A sociologia como cincia deve ser orientada para pesquisa, o conhecimento emprico precisa ser alcanado isento de juzos de valor. Porm, at onde pode chegar a objetividade de uma pesquisa sociolgica? Weber parte do princpio que pr-existe um tipo de conhecimento incondicionalmente vlido capaz de organizar as verdades empricas no ramo das cincias sociais. Agora, qual a verdade objetiva possvel nesta rea cientfica? O que quer dizer na metodologia weberiana objetividade? Est a pergunta central que as prximas linhas tm a pretenso de responder.Para tanto o enfoque a partir de agora ser principalmente o texto A objetividade do conhecimento na cincia social e na cincia de 1904, escrito para a revista Arquivo, da qual Max Weber foi editor. A questo colocada era como deveriam ser pensados cientificamente fenmenos da sociedade e, alm disso, o que definiria o carter cientfico da vida social.Quando Weber comea a tratar dos fenmenos scio-econmicos o sentido de objetividade" para ele comea a transparecer. Ele argumenta que tais fenmenos tm em comum a limitao de quantidade e qualidade dos meios externos para atender as nossas demandas (p. 118):Todos os fenmenos que, no sentido mais amplo, designamos por scio-econmicos vinculam-se ao fato bsico de a nossa experincia fsica, assim como a satisfao das nossas necessidades mais ideais, depararem-se por todos os lados com a limitao quantitativa e com a insuficincia qulitativa dos meios externos, que demandam a previso planejada e o trabalho, a luta frente a natureza e a associao com os homens. Por sua vez, o carter de fenmeno scio-econmico de um processo no algo que lhe seja objetivamente inerente.

Assim, somos ns que damos significao de scio-econmico a um dado processo. Toda vez que for possvel encontrar o problema da limitao ou insuficincia que anteriormente foi dito, isto poder ser um objeto de estudo a ser tratado dentro da disciplina das cincias sociais no intuito de elucidar uma resoluo especfica para cada caso levantado.Quando Weber diz que determinado carter especfico de algum fenmeno social no objetivamente inerente, ele quer dizer que esta objetividade no est dada no processo isolado, e sim na significao que o cientista d ao objeto de estudo, isto implica em diferentes graus de relevncia para as diferentes situaes que sero analisadas. Abaixo me ponho a esclarecer os trs nveis de relevncia que o autor prope.Determinando-se um fato bsico que d um carter capaz de identificar alguns processos como um especfico tipo de fenmeno (considere um dado substantivo para nomear este fenmeno, isto ser importante no desenvolvimento da idia), pode-se estabelecer algumas distines entre esses processos. Quando o processo trabalhado gera um interesse intrnseco ao tipo de fenmeno especificado, ou seja, a ligao entre um e outro radical e existe uma grande relevncia, esse processo classificado como especificamente relacionado ao adjetivo oriundo do substantivo usado para nomear o fenmeno; No caso para o qual o interesse do processo analisado no dado a priori, mas em algumas situaes pode adquirir a intimidade da situao anterior, quer dizer, existe uma relevncia, porm no to forte quanto a primeira, tal processo classificado como relevante do ponto de vista do adjetivo acima definido; Por fim, aqueles processos que so de pouco ou nenhum interesse para o fenmeno em questo, eles so classificados como apenas condicionados pelo fenmeno, isto , as caractersticas desse processo so determinadas tambm por diferentes fenmenos, a sua relevncia, neste caso especfico, bem menor.Ainda sobre a questo da significao, cabe ressaltar que ela dada a partir do que Weber chama de idias de valor e o autor vai alm, afirma que o prprio entendimento nosso sobre cultura tambm o . Por isso esta significao no pode ser transformada automaticamente em realidade, seno a realidade seria a prpria idia de valor.O processo no pode ser direto e mesmo que passe por uma anlise investigativa que no deixa de lado os valores esta realidade emprica ainda permanece como cultura, pois as sees da realidade que foram abraadas apenas se tornaram significativas atravs de idias de valor.Mas como fazer que a significao dada a partir destas idias de valores que insistentemente falo (e falarei!) transforme-se em objeto cientfico concreto? preciso que tal significao seja comprovada com procedimentos que abandonem o juzo de valor, s assim possvel analisar a realidade, livre de valores, apenas dessa forma possvel conhecer suas leis e orden-las segundo conceitos gerais.Esta uma peculiaridade dos fenmenos da vida social, em um primeiro momento ele relaciona-se com valores subjetivos, porm, para uma tratativa cientfica rigorosa desses fenmenos, preciso abandonar os valores. Ocorre, portanto, uma subjetividade dentro da objetividade do conhecimento da cincia, pois a escolha do objeto deve fazer sentido para o cientista, mas para ser tratado como objeto cientfico ele deve passar por um crivo de anlises histricas isento de valores para identificar quais elementos objetivamente percorrem esse objeto. Assim possvel determinar porque determinado fenmeno social de uma forma e no de outra e determinar quais elementos interagiram para formatar tal substncia deste jeito.Portanto, para fazer cincia social primeiro necessrio construir uma hiptese, este o momento de levantar dados, aqui a subjetividade faz-se presente e s aqui, ela no pode de maneira nenhuma ultrapassar este limite, esta uma condio de contorno que deve ser respeitada. Agora preciso comprovar que a causa inicialmente atribuda realmente funciona e isto deve ser to transparente que faa sentido para qualquer um que a observe, independentemente de seus valores individuais (cultura). As hipteses construdas tornar-se-o modelos e eles precisam ser testados empiricamente. Para tanto deve fazer-se presente a histria, esses modelos devem ser testados no passado mais remoto possvel e todo este procedimento ferrenho demonstra a impossibilidade de simplesmente dar a causa real de um fenmeno de antemo. Por fim o cientista pode fazer um movimento de imputao causal j que aps este rduo exerccio ele est munido de ferramentas e mecanismos para escrever hipteses futuras que sejam possveis baseado nos passos anteriormente descrito.Portanto Weber demonstra que possvel ter objetividade sim dentro das Cincias Sociais, mas este no um movimento dado de imediato. Tal objetividade advm de um primeiro passo subjetivo, fato que deixa o termo entre aspas, s assim a palavra cabe no lxico da disciplina. Isto ganha validade quando a subjetividade passa com rigor pelos mtodos anteriormente demonstrados, mas a energia de ativao no deixar ter origem na subjetividade do indivduo. A superfcie que separa o primeiro momento do restante cientfico fina porm necessita ser impermevel, se no for dessa forma a cincia fica contaminada de valores num momento em que isso seria fatal para ela, o que a comprometeria como verdade emprica cientfica. A objetividade, desta forma, tarefa rdua, particular e essencial do cientista social.Referncia Bibliogrfica:1 Weber, M. Cincia e poltica: duas vocaes. 17 edio. So Paulo: Editora Cultrix, 2002. Cap. Cincia como Vocao.2 WEBER, Max. Metodologia das Cincias Sociais. So Paulo e Campinas, Cortez e Ed. Da Unicamp, 1992. Vol. 1, cap. 2.3 SCHUTZ, Alfred. Fenomenologia e Relaes Sociais. Rio de Janeiro, Zahar. Pp. 261-288, 110-120, 231-237.

Vitor Lacerda VasquezRA 9934855