objetivos da doutrinacao e seus metodos

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  • 8/14/2019 Objetivos Da Doutrinacao e Seus Metodos

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    Objetivos da doutrinao e seus mtodos

    ASTOLFO OLEGRIO DE OLIVEIRA FILHODe Londrina

    Segundo Edgard Armond (1), as sesses de doutrinao de Espritos objetivam esclarecer entidadesdesencarnadas a respeito de sua prpria situao espiritual, orientando-as no sentido do seu

    despertamento no plano invisvel e o seu subseqente equilbrio e progresso espirituais.Para facilitar o seu despertamento ou o seu esclarecimento, Espritos jungidos ao habitat terrestre por

    fora da lei de afinidade so trazidos s sesses de doutrinao e a ligados momentaneamente a mdiunsde incorporao, com o que, no contato com os fluidos benficos da corrente a formada, acrescidos dosensinamentos recebidos do doutrinador encarnado, logram quase sempre despertar e retomar o caminhodo aperfeioamento espiritual.

    Doutrinar Espritos no , porm, tarefa fcil, pois exige conhecimentos doutrinrios bastantedesenvolvidos e senso psicolgico para que o doutrinador possa captar com rapidez a verdadeira feiomoral do caso que defronta e, em conseqncia, encaminhar a doutrinao no devido rumo.

    necessrio ainda ao doutrinador possuir pacincia e bondade, humildade e tolerncia, porquesomente com auxlio dessas virtudes poder enfrentar os casos mais difceis em que se manifestam

    Espritos maldosos, zombeteiros ou empedernidos.

    Atributos do doutrinador - Observa Andr Luiz (2) que a pessoa envolvida nessa tarefa no podeesquecer que a Espiritualidade Superior confia nela e dela aguarda o cultivo de determinados atributoscomo os que se seguem:

    a) direo e discernimento;b) bondade e energia;c) autoridade fundamentada no exemplo;d) hbito de estudo e orao;e) dignidade e respeito para com todos;f) afeio sem privilgios;

    g) brandura e firmeza;h) sinceridade e entendimento;i) conversao construtiva.A doutrinao, explica Herculano Pires (3), existe em todos os planos, mas o trabalho mais rude e

    pesado o que se processa em nosso mundo. Orgulhoso e intil, e at mesmo prejudicial, ser odoutrinador que se julgar capaz de doutrinar por si mesmo. Sua eficincia depende sempre de suahumildade, que lhe permite compreender a necessidade de ser auxiliado pelos bons Espritos. Odoutrinador que no compreende esse princpio precisa de doutrinao e esclarecimento, para alijar doseu esprito a vaidade e a pretenso. S pode realmente doutrinar Espritos quem tiver amor e humildade.

    Dito isto, Herculano Pires observa, na mesma obra j citada, que importante no confundirhumildade com atitudes piegas, com melosidade. Muitas vezes a doutrinao exige atitudes enrgicas,

    no ofensivas nem agressivas, mas firmes e imperiosas. o momento em que o doutrinador trata oobsessor com autoridade moral, a nica autoridade que podemos ter sobre os Espritos inferiores, quesentem a nossa autoridade e se submetem a ela, em virtude da fora moral de que dispusermos. Essaautoridade, no entanto, s conseguimos adquirir por meio de uma vivncia digna no mundo, sendosempre corretos em nossas intenes e em nossos atos, em todos os sentidos, porquanto as nossas falhasmorais no combatidas, no controladas, diminuem nossa autoridade sobre os obsessores.

    1 Trabalhos Prticos de Espiritismo, cap. IV, pgs. 59 e seguintes.2 Desobsesso, cap. 13.3 Obsesso, o Passe, a Doutrinao, pgs. 66 e 67.

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    Mtodos a serem utilizados Na tarefa de doutrinao dos Espritos que se comunicam nassesses medinicas no existe regra fixa, pois cada caso nico. Como a doutrinao no objetivasomente Espritos sofredores, mas igualmente Espritos ignorantes que ainda permanecem em esferas deembrutecimento, e Espritos maldosos que se devotam ao mal conscientemente, bem variado deve ser omodo de doutrinar uns e outros.

    H, entretanto, determinadas regras que no podem deixar de ser aplicadas nessa tarefa:a) receber com ateno e interesse as comunicaes;

    b) ouvi-las com pacincia e imbudo da melhor inteno de ajudar;c) envolver o comunicante em um clima de vibraes fraternais, dando oportunidade para que elefale;

    d) estabelecer em tempo oportuno um dilogo amigo e esclarecedor;e) evitar acusaes e desafios desnecessrios;f) confortar e amparar atravs do esclarecimento;g) no discutir com exaltao tentando impor seu ponto de vista;h) no receber a todos como se fossem embusteiros e agentes do mal;i) ser preciso e enrgico na hora necessria, sem ser cruel e agressivo;j) evitar o tom de discurso e tambm as longas prelees;l) ser claro, objetivo, honesto, amigo, fraterno, buscando dar ao comunicante aquilo que gostaria de

    receber se no lugar dele estivesse.Andr Luiz (4) atribui o servio de doutrinao equipe de mdiuns esclarecedores, a quem elesugere a observncia da seguinte postura para o bom cumprimento de sua tarefa:

    a) guardar ateno no campo intuitivo, a fim de registar com segurana as sugestes e ospensamentos dos benfeitores espirituais que comandam as reunies;

    b) tocar no corpo do mdium em transe somente quando necessrio;c) cultivar o tato psicolgico, evitando atitudes ou palavras violentas, mas fugindo da doura

    sistemtica que anestesia a mente sem renov-la, na convico de que preciso aliar raciocnio esentimento, compaixo e lgica, a fim de que a aplicao do socorro verbalista alcance o mximorendimento;

    d) estudar os casos de obsesso surgidos na equipe medinica, que devam ser tratados na rbita dapsiquiatria, para que a assistncia mdica seja tomada na medida aconselhvel;

    e) impedir a presena de crianas nas tarefas da desobsesso.

    Princpios essenciais tarefa- Andr Luiz (5)recomenda, ainda, a dirigentes e esclarecedores ea todos os que participam das reunies medinicas, que tenham sempre em mente os 13 seguintesprincpios:

    1o. Desobsesso no se realiza sem a luz do raciocnio, mas no atinge os fins a que se prope, semas fontes profundas do sentimento.

    2o. Esclarecimento aos desencarnados sofredores se assemelha psicoterapia e a reunio tratamento em grupo, na qual, sempre que possvel, devero ser aplicados os mtodos evanglicos.

    3o. A parte essencial ao entendimento atingir o centro de interesse do Esprito preso a idias fixas,

    para que se lhes descongestione o campo mental, sendo de todo imprprio, por causa disso, qualquerdiscurso ou divagao desnecessria.4o. Os manifestantes desencarnados, seja qual for sua conduta na reunio, so, na realidade, Espritos

    carecedores de compreenso e tratamento adequados, a exigir pacincia, entendimento, socorro edevotamento fraternais.

    5o. Cada Esprito sofredor deve ser recebido como se fosse um familiar nosso extremamente querido;agindo assim, acertaremos com a porta ntima atravs da qual lhe falaremos ao corao.

    4 "Desobsesso", cap. 24.5 Ibidem, cap. 32 a 37.

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    6o. Pelo que oua do manifestante, o esclarecedor deduzir qual o sexo a que o Esprito comunicantetenha pertencido na precedente existncia, para que a conversao elucidativa se efetue na linhapsicolgica ideal.

    7o. Os problemas de animismo ou de mistificao inconsciente que porventura surjam no grupodevem ser analisados sem esprito de censura ou de escndalo, cabendo ao dirigente fazer todo opossvel para esclarecer com pacincia e caridade os mdiuns e os desencarnados envolvidos nessesprocessos.

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    . preciso anular qualquer intento de discusso ou desafio com os Espritos comunicantes, dandomesmo razo, algumas vezes, aos manifestantes infelizes e obsessores.9o. Nem sempre a desobsesso real consiste em desfazer o processo obsessivo de imediato,

    porquanto em diversos casos a separao de obsidiado e obsessor deve ser praticada lentamente.10o. Quando necessrio, o esclarecedor poder praticar a hipnose construtiva no nimo dos Espritos

    sofredores, quer usando a sonoterapia para entreg-los direo e ao tratamento dos instrutoresespirituais presentes, com a projeo de quadros mentais proveitosos ao esclarecimento, quer sugerindoa produo e ministrao de medicamentos ou recursos de conteno em favor dos manifestantes que semostrem menos acessveis enfermagem do grupo.

    11o. No se deve constranger os mdiuns psicofnicos a receberem os desencarnados presentes,atentos ao preceito da espontaneidade, fator essencial ao xito do intercmbio.

    12o. O esclarecimento no deve se alongar em demasia, perdurando a palestra educativa em torno dedez minutos, ressalvadas as situaes excepcionais.

    13o. Se o manifestante perturbado se fixar no braseiro da revolta ou na sombra da queixa, indiferenteou recalcitrante, o esclarecedor deve solicitar a cooperao dos benfeitores espirituais presentes para queo necessitado rebelde seja confiado assistncia espiritual especializada. Nesse caso, a hipnose benficapoder ser utilizada para que o magnetismo balsamizante asserene o companheiro perturbado e oafastamento dele seja efetivado.

    Antes da doutrinao vm os primeiros socorros - Reportando-se aos casos em que osEspritos comunicantes se mostram demasiado renitentes, a ponto de perturbar os trabalhos, sugereHerculano Pires (6) que a o melhor a fazer chamar o mdium a si mesmo, fazendo-o desligar-se doEsprito perturbador. O episdio servir ainda para reforar a autoconfiana do mdium, demonstrando-lhe que pode interromper por sua vontade as comunicaes perturbadoras. O Esprito geralmente voltarem outras sesses, mas ento j tocado pelo efeito da doutrinao e desiludido de sua pretenso dedominar o ambiente.

    Hermnio C. Miranda (7) afirma que, no incio, os Espritos em estado de perturbao no esto emcondies psicolgicas adequadas pregao doutrinria. Necessitam, ento, de primeiros socorros, dequem os oua com pacincia e tolerncia. A doutrinao vir no momento oportuno, e, antes que odoutrinador possa dedicar-se a este aspecto especfico, ele deve estar preparado para discutir o problemapessoal do esprito, a fim de obter dele a informao de que necessita, esclarece Hermnio.

    Divaldo P. Franco (8) concorda: No podemos ter a presuno de fazer o que a Divindade tem pacincia no realizar. Essa questo de esclarecer o Esprito no primeiro encontro um ato deinvigilncia e, s vezes, de leviandade, porque muito fcil dizer a algum que est em perturbao:Voc j morreu! muito difcil escutar-se esta frase e receb-la serenamente". E acrescenta: A nossatarefa no a de dizerverdades, mas a de consolar, porque dizer simplesmente que o comunicante jdesencarnou os Guias tambm poderiam faz-lo. Deve-se entrar em contato com a Entidade, participarde sua dor, consol-la, e, na oportunidade que se faa lgica e prpria, esclarecer-lhe que j ocorreu ofenmeno da morte.... (9)

    6 Obsesso, o Passe, a Doutrinao, pgs. 85 e 86.7 "Dilogo com as Sombras", cap. II, pgs. 68 e 69.8 Diretrizes de Segurana, questo no 62.9 Ibidem, questo no 62.

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    A tarefa assemelha-se, assim, ao chamado atendimento fraterno que as Casas espritas dispensam aosencarnados que as buscam, no qual mais importante ouvir do que falar, idia essa defendida pelaconhecida mdium e escritora Suely Caldas Schubert. (10)

    A propsito do assunto, J. Raul Teixeira (11) sugere: O doutrinador dispensar, sempre, os discursosdurante a doutrinao, entendendo-se aqui discurso no como a linha ideolgica utilizada, mas sim afalao interminvel, que no d ensejo outra parte de se exprimir, de se explicar. Muitas vezes, nansia de ver as Entidades esclarecidas e renovadas, o doutrinador se perde numa excessiva e cansativa

    cantilena, de todo improdutiva e exasperante. O dilogo com os desencarnados dever ser sbrio econsistente, ponderado e clarificador, permitindo boa assimilao por parte do Esprito e excelente treinolgico para o doutrinador.

    Para Roque Jacintho (12) a pacincia inscreve-se como uma das virtudes maiores de todos os que sededicam tarefa de doutrinao das entidades desencarnadas. A pacincia, diz ele, filha do amor-sbio.

    A ironia no cabe na tarefa da doutrinao - Por isso que, envolvendo os nossossemelhantes com as vibraes de nosso amor, poderemos ouvi-los dissertar longamente sobre seusproblemas, sem nos atirarmos empreitada de demoli-los ou censur-los, pois sabemos que eles selevantaro um dia.

    A ironia jamais nos aular ao de revide nem a mpetos de agresso, porque acolheremos a nossahumilhao como degraus da escada evolutiva.Saber ouvir ser to importante quanto falar.Saber calar ser to urgente quanto redargir.Saber pacificar ser to importante quanto reagir.Saber compreender ser to importante quanto ser compreendido. (13)

    Concluindo, podemos afirmar que seja qual for o mtodo adotado preciso, para doutrinar,conhecer a Doutrina Esprita e ter uma conduta que seja a mais crist possvel, cientes todos ns de queJesus opera por meio das pessoas que se dedicam ao bem, como Emmanuel observa na lio que sesegue:

    "Que os doutrinadores sinceros se rejubilem, no por submeterem criaturas desencarnadas, emdesespero, convictos de que em tais circunstncias o bem ministrado, no propriamente por eles, emsua feio humana, mas por emissrios de Jesus, caridosos e solcitos, que os utilizam maneira decanais para a misericrdia divina; que esse regozijo nasa da oportunidade de servir ao bem, deconscincia sintonizada com o Mestre Divino, entre as certezas doces da f, solidamente guardada nocorao". (14)

    10 Esse pensamento de Suely Caldas Schubert foi expresso em Seminrio sobre Mediunidade por ela ministrado em 7 deoutubro de 2000 no Centro Esprita Nosso Lar, em Londrina (PR).11 Diretrizes de Segurana, questo no 63.12 Doutrinao, cap. 7, pgs. 43 a 45.13 Ibidem, cap. 7, pgs. 43 a 45.14 "Caminho, Verdade e Vida", cap. CXLV.