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OBSERVATÓRIO DO TRABALHO DE CURITIBA
Relatório Especial
Heterogeneidade da estrutura ocupacional e condições de trabalho: a informalidade na região metropolitana de Curitiba na década de
2000
Contrato de Prestação de Serviços Nº. 17731/2007 - PMC / DIEESE
DEZEMBRO DE 2011
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EXPEDIENTE DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE CURITIBA
Prefeito LUCIANO DUCCI
Secretário Municipal do Trabalho e Emprego PAULO BRACARENSE
Superintendente da Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego CESAR BASSANI
Departamento de Convênios da Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego JONI CORREIA
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EXPEDIENTE DO DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍS TICA E
ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS - DIEESE
Direção Técnica
Clemente Ganz Lúcio – Diretor Técnico Ademir Figueiredo – Coordenador de Estudos e Desenvolvimento
José Silvestre Prado de Oliveira – Coordenador de Relações Sindicais Clemente Ganz Lúcio – Coordenador de Pesquisas
Nelson de Chueri Karam – Coordenador de Educação Rosana de Freitas – Coordenadora Administrativa e Financeira
Coordenação Geral do Projeto
Ademir Figueiredo – Coordenador de Estudos e Desenvolvimento Angela Maria Schwengber – Supervisora dos Observatórios do Trabalho
Lenina Formaggi – Técnica Responsável pelo Projeto
Equipe Executora
DIEESE
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos Rua Aurora, 957 – Centro – São Paulo – SP – CEP 01209-001
Fone: (11) 3874 5366 – Fax: (11) 3821 2199 - E-mail: [email protected] http://www.dieese.org.br
Observatório do Trabalho de Curitiba Rua Treze de Maio, 778, sala 05
São Francisco – Curitiba – PR – CEP 80010-180 Tel: (41) 3225-2279
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Sumário
Apresentação ................................................................................................................................................. 5
Introdução ...................................................................................................................................................... 6
Nota Metodológica ......................................................................................................................................... 9
1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MERCADO DE TRABALHO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA ...................................................................................................................................................... 11
2 – HETEROGENEIDADE DA ESTRUTURA OCUPACIONAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA ...................................................................................................................................................... 13
3 – CONDIÇÕES DE TRABALHO SEGUNDO POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO ................................................. 18
4 – SEGURANÇA DO TRABALHADOR: CONTRIBUIÇÃO À PREVIDÊNCIA .............................................. 23
5 – A INFORMALIDADE NA AGENDA DO TRABALHO DECENTE ............................................................. 26
6 – OS MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS EM CURITIBA ............................................................. 28
Considerações finais...................................................................................................................................... 34
Referências bibliográficas .............................................................................................................................. 38
Anexos ........................................................................................................................................................... 39
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Apresentação
O presente relatório faz parte do plano de atividades do Observatório do Mercado
de Trabalho, parceria entre o DIEESE e a Prefeitura do Município de Curitiba (Contrato
Nº. 17731/2007 e aditivos). O estudo apresenta indicadores relacionados à estrutura
ocupacional e à condição de trabalho dos ocupados na região metropolitana de Curitiba
(RMC) durante o período 2001-2009.
A principal fonte de informação utilizada foi a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também se
utilizou a base de dados sobre os Microempreendedores Individuais (MEI), disponível no
Portal do Empreendedor, produzida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio – MDIC.
O trabalho divide-se em seis partes, além da introdução, da nota metodológica e
de uma breve conclusão. Nele são abordadas as características gerais do mercado de
trabalho metropolitano, a heterogeneidade da estrutura ocupacional, as condições de
trabalho de acordo com a posição na ocupação, a contribuição à previdência, a questão da
informalidade no âmbito da agenda nacional do trabalho decente e, por fim, os
microempreendedores individuais no município de Curitiba.
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Introdução
A questão da informalidade constitui, desde longa data, um tema relevante de
debate tanto para o movimento sindical1 quanto para formuladores de política pública e
para o meio acadêmico. Algumas razões podem ser apontadas para essa importância. Em
primeiro lugar, a informalidade “revela a face perversa de relações de trabalho plasmadas
na ausência de proteção social, tanto como de inserções no mercado de produtos e
serviços indiferentes ao pleno exercício da cidadania (...) e impossibilita a constituição de
uma sociedade igualitária e inclusiva” (Maia e Garcia, 2011). Em segundo lugar, e
adicionalmente ao exposto acima, a compreensão do tema “extrapola os muros restritos
interpostos pelas análises sobre o mercado de trabalho estrito senso e extravasa para
outras dimensões que englobam questões relativas à seguridade social, às políticas fiscais,
monetárias, creditícias, e que, por sua vez, repercute sobre outros temas concernentes aos
estudos sociológicos e históricos, tais como pobreza, marginalidade, violência,
discriminações de gênero, raça, idade e toda sorte de impactos revelados pela
permanência de uma estrutura ocupacional heterogênea, segmentada e discriminatória no
País. (Maia e Garcia, 2011)
Outra razão importante refere-se à temporalidade da discussão, que ganha novos
contornos particularmente a partir da década de 1990, marcada por mudanças importantes
na economia, de forma geral, e no mercado de trabalho, mais especificamente. Já na
década de 2000, apesar da recuperação do emprego com vínculo formal, permanece a
grande heterogeneidade no mercado de trabalho e fenômenos como “a contratação ilegal
de trabalhadores sem registro em carteira, os contratos atípicos de trabalho, as falsas
cooperativas de trabalho, o trabalho em domicílio, os autônomos sem inscrição na
previdência social, a evasão fiscal das microempresas, o comércio ambulante e a
economia subterrânea, podem ser evocados como exemplos da diversidade de situações
que podem caracterizar o que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) denomina
‘economia informal’” (Krein e Proni, 2010).
Por fim, no contexto de mudanças e permanências no mercado de trabalho
brasileiro e em sua institucionalidade, cabe destacar o esforço desprendido em inúmeros
1 Em outubro de 2009, o DIEESE assinou convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID – (ATN/ME 11684 – BR) para desenvolver o Projeto “Redução da Informalidade de Micro, Pequenas e Médias Empresas por Meio do Diálogo Social”, por um prazo de três anos.
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estudos e artigos para rediscutir o tema da informalidade a partir de diversas perspectivas.
Krein e Proni (2011) apontam algumas dessas perspectivas: a importância da economia
informal na geração de ocupações; a economia informal como expressão da rigidez da
legislação trabalhista; a sua denúncia pela precariedade e insegurança que traz para o
mundo do trabalho; a economia informal como um fato inexorável da transição para uma
sociedade de serviços; e o entendimento de que há um “processo de informalidade”
implícito na reorganização econômica contemporânea. Apesar de não as considerarem
necessariamente antagônicas, os autores afirmam que essas perspectivas diferenciam o
posicionamento dos diferentes interlocutores no debate (Krein e Proni, 2010).
Embora o presente relatório não tenha como objetivo discutir os principais
aspectos conceituais e teóricos da economia informal, ele busca colocar em discussão
algumas manifestações recentes da nova informalidade2 (a partir da década de 2000).
Nesse sentido, é importante ter em mente que existem questões relacionadas com o
trabalho executado no setor informal da economia, por um lado, e questões relativas ao
trabalho que é objeto de um processo de “informalização” em empresas razoavelmente
estruturadas, por outro (Krein e Proni, 2010). Isso significa dizer, em grande medida, que
“empiricamente é possível observar que as fronteiras entre formal e informal são cada vez
mais tênues. Entretanto, (...) organismos financeiros e governamentais ainda insistem na
dicotomia, distinguindo o atrasado do desenvolvido, como se estes não fossem partes da
mesma organização produtiva. (...) Formal e informal coexistem na mesma unidade, e
(...), nesta era da acumulação flexível, o trabalho informal, longe de ser suplementar ou
intersticial, tende a ser cada vez mais incorporado pelo núcleo capitalista” (Tavares, 2004
apud Escobar, 2009).
No âmbito do presente trabalho, utiliza-se o conceito de informalidade como
ausência de proteção presente tanto dos empregados como dos trabalhadores
independentes3. Nesse sentido, o relatório não busca oferecer uma ‘taxa’ de
2 Krein e Proni (2010) sugerem que há uma “’nova informalidade’ que advém do processo de reorganização econômica e de redefinição do papel da regulação do trabalho, com implicações significativas na estruturação do mercado de trabalho e das políticas de proteção social (incluindo o financiamento das políticas sociais). Trata-se de um fenômeno resultante tanto das restrições impostas pelo baixo crescimento econômico ao longo de extensos períodos, com a geração de um número de postos de trabalho insuficientes para absorver o aumento da PEA, quanto de uma redefinição das formas de contratação por parte das empresas, inclusive em segmentos econômicos mais estruturados e articulados com a dinâmica da econômica capitalista contemporânea” (Krein e Proni, 2010). 3 O presente conceito foi utilizado por Maia e Garcia (2011) e adequa-se à interpretação do DIEESE sobre o tema.
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informalidade, mas procura discutir a estrutura ocupacional e sua heterogeneidade,
associando as condições de trabalho à posição na ocupação – ou inserção ocupacional – e
explicitando as diferenças existentes entre o ‘informal’ e o emprego protegido.
O relatório busca ampliar o entendimento sobre o fenômeno no contexto do
desenvolvimento capitalista atual, “em que as grandes empresas capitalistas e o processo
de globalização e integração das cadeias produtivas criam e recriam formas de
subordinação e exploração do trabalho” (Maia e Garcia, 2011), bem como trazer a
discussão para o âmbito regional, investigando o fenômeno na região metropolitana de
Curitiba. Procura-se, assim, trazer elementos que possibilitem a elaboração de políticas
públicas locais que levem em conta as diversas formas de inserção ocupacional.
O relatório divide-se em seis partes – além da introdução, nota metodológica e
considerações finais. Na primeira, apresentam-se as características gerais do mercado de
trabalho na região metropolitana de Curitiba. Na segunda parte, discute-se a estrutura
ocupacional com sua heterogeneidade e a evolução observada no período de 2001 a 2009.
Já a terceira parte procura associar as condições de trabalho à posição na ocupação e à
contribuição à previdência, de forma a explicitar as diferenças entre o ‘informal’ e o
emprego protegido. A quarta parte debate a questão da informalidade no âmbito do
trabalho decente. A quinta seção analisa a questão da informalidade no âmbito do
trabalho decente. E por fim, a sexta seção debate brevemente a formalização recente do
trabalhador por conta própria, consubstanciada nos Micro Empreendedores Individuais
(MEI).
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Nota Metodológica
A metodologia utilizada nesse relatório procura investigar, em grande medida, a
heterogeneidade da estrutura ocupacional da Região Metropolitana de Curitiba, captando
suas evidências empíricas ao longo da década de 2000, numa tentativa de evidenciar a
magnitude da informalidade.
As informações disponíveis para esse tipo de investigação são oriundas dos
microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)4, realizada
anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A caracterização
geral foi realizada a partir da ‘condição de ocupação’ e as análises mais específicas
(seções II, III, IV e V) foram executadas a partir do cruzamento da declaração de ‘posição
na ocupação’ dos ocupados na região com os temas de análise pontuais (setores de
atividade, rendimento, jornada de trabalho, contribuição à previdência, sexo, faixa etária,
etc).
A PNAD, como seu próprio nome indica, é uma pesquisa domiciliar e amostral.
Em decorrência dessas características, nem todas as suas informações podem ser
desagregadas, o que acarretou (para o presente relatório) duas consequências importantes:
não foi possível analisar as informações específicas do município de Curitiba,
restringindo a análise à sua região metropolitana; e algumas categorias analisadas não
apresentaram amostra suficiente para serem extrapoladas, acarretando em sua exclusão ou
seu reagrupamento em grupos denominados de ‘outros’ ou ‘demais categorias’.
É importante destacar, adicionalmente, que a ‘posição na ocupação’ trabalhador
doméstico foi desagregada do total dos empregados por suas características peculiares
que o distinguem dos demais trabalhos assalariados: “suas atividades se restringem quase
exclusivamente ao âmbito da casa, em afazeres que historicamente estiveram ligados às
habilidades consideradas femininas, tais como cozinhar, limpar, lavar, passar e cuidar de
crianças. (...) o termo também se refere a cozinheiras, governantas, babás, lavadeiras,
vigias, motoristas, jardineiros, acompanhantes de idosos, caseiros, entre outros. Como se
4 Cabe destacar a existência da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pelo DIEESE e parceiros regionais a partir de convênios com governos estaduais e com apoio do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Atualmente, a PED é realizada seguintes Regiões Metropolitanas: Porto Alegre; São Paulo; Distrito Federal; Belo Horizonte; Salvador; Recife e mais recentemente em Fortaleza. Infelizmente, a Pesquisa não é realizada no estado do Paraná, restringindo a análise aos dados da PNAD.
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trata de um trabalho com características próprias, sem finalidade lucrativa, em que o
empregador é uma pessoa física, a legislação que regula a profissão é bastante específica,
limitando os direitos trabalhistas destes profissionais, em comparação aos de outras
ocupações” (DIEESE, 2011). Cabe ressaltar, ainda, que no trabalho doméstico “a relação
com o empregador é fortemente marcada por relações interpessoais e familiares, o que
descaracteriza o caráter profissional da ocupação” (DIEESE, 2011).
Por fim, tendo em vista o objetivo de analisar a evolução da informalidade na
década e investigar as formas pelas quais ela pode estar se reduzindo mais recentemente,
o relatório analisa estatísticas acerca dos Microempreendedores Individuais (MEI) que,
de acordo com a lei complementar nº 128, de 19/12/2008, são empreendedores que
auferiram receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 36.000,005, cuja atividade
tenha sido admitida no Simples Nacional e que seja optante por este sistema tributário.
Esses empresários podem contratar até 1 empregado, que receba exclusivamente um
salário mínimo ou o piso da categoria. Para a análise dos MEI foram utilizados dados do
município de Curitiba (dada a impossibilidade de selecionar informações agregadas para
a RM de Curitiba), extraídos do Portal do Empreendedor, do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC.
5 Vale lembrar que a partir de 2012 o teto passa a R$ 60 mil.
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1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MERCADO DE TRABALHO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
O mercado de trabalho na região metropolitana de Curitiba era composto de
aproximadamente 1,73 milhão de ocupados e pouco mais de 138,5 mil desempregados
em 2009 – uma taxa de desemprego equivalente a 7,4% (Tabela 1). A faixa etária
compreendida entre 30 e 39 anos representava a maioria dos ocupados (26,0%) e as
mulheres eram 45,2% do total.
Já entre os desempregados, pode-se observar a vulnerabilidade da inserção dos
grupos de mulheres e jovens. O grupo concentrado na faixa etária de 19 a 24 anos era
responsável por 30,4% (ou 42.096 do total) desempregados – embora representasse
13,6% dos ocupados – e havia um desequilíbrio marcante entre a participação de homens
e mulheres, que representavam 52,9% dos desempregados. É interessante notar que,
embora as mulheres representassem 45,6% dos ocupados entre 30 e 39 anos de idade,
chegaram a alcançar 71,9% dos desempregados nessa mesma faixa etária, ou seja, em
cada 10 desempregados de 30 a 39 anos de idade, aproximadamente sete eram mulheres.
A participação das mulheres e dos jovens entre os desempregados refletia-se nas taxas de
desemprego, que chegaram a alcançar 15,2% para os jovens (entre 19 e 24 anos) e 17,0%
para as mulheres nessa mesma faixa etária.
Ao longo da década de 2000, o mercado de trabalho local envelheceu e
distribuiu-se de forma mais equilibrada entre homens e mulheres. Se em 2001 os jovens
(até 29 anos de idade) representavam 38,7% dos ocupados, em 2009 esse percentual caiu
para 32,8%. O número de mulheres ocupadas cresceu 42,3% na década, ao passo que o de
homens ocupados aumentou 21,0%. Assim, foi possível que a participação feminina
dentre os ocupados tenha aumentado quatro pontos percentuais, passando de 41,2% para
os já citados 45,2%. Os valores absolutos podem ser observados na Tabela 1.
A taxa de desemprego também caiu ao longo da década, passando de 9,4% para
7,4%, e sua redução foi mais acentuada entre as mulheres – queda de 30,6% - do que
entre os homens – queda de 11,1%. Ainda assim, não foi suficiente para eliminar a
desigualdade entre os dois grupos e permaneceu superior para as mulheres, cuja taxa de
desemprego alcançou 8,6% em 2009, enquanto para os homens foi de 6,4%. Já a análise
por faixa etária revela que a diminuição do desemprego foi mais favorável ao grupo dos
adultos (30 a 39 anos), em que caiu 39,2%, do que ao grupo dos jovens, em que
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apresentou pequena redução de 6,2% entre os jovens de 19 a 24 anos e aumento entre os
jovens de 25 a 29 anos (20,9%).
TABELA 1
Estimativa dos ocupados, desocupados e taxa de dese mprego, segundo sexo e faixa etária
RM de Curitiba, 2001 e 2009
Condição de ocupação Faixa etária
2001 2009
Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total
Ocupados
Até 16 anos 26.726 17.572 44.298 18.429 16.025 34.454
17 e 18 anos 34.779 23.430 58.209 33.655 23.636 57.291
19 a 24 anos 130.689 87.489 218.178 133.794 101.740 235.534
25 a 29 anos 120.077 74.679 194.756 132.192 108.568 240.760
30 a 39 anos 199.166 144.241 343.407 244.372 205.113 449.485
40 a 49 anos 143.506 116.780 260.286 197.088 167.050 364.138
50 a 59 anos 89.329 63.701 153.030 129.807 108.174 237.981
60 anos ou mais 39.171 21.599 60.770 58.489 51.671 110.160
Total 783.443 549.491 1.332.934 947.826 781.977 1.729.803
Desempregados
Até 16 anos 7.687 6.958 14.645 8.411 5.207 13.618
17 e 18 anos 9.519 9.517 19.036 7.610 4.804 12.414
19 a 24 anos 16.473 25.623 42.096 21.233 20.835 42.068
25 a 29 anos 4.392 9.517 13.909 8.816 12.419 21.235
30 a 39 anos 11.349 18.309 29.658 6.406 16.423 22.829
40 a 49 anos 5.857 5.124 10.981 6.809 8.412 15.221
50 a 59 anos 4.393 2.562 6.955 4.004 4.806 8.810
60 anos ou mais 1.464 1.464 2.003 401 2.404
Total 61.134 77.610 138.744 65.292 73.307 138.599
Taxa de desemprego
Até 16 anos 22,3 28,4 24,8 31,3 24,5 28,3
17 e 18 anos 21,5 28,9 24,6 18,4 16,9 17,8
19 a 24 anos 11,2 22,7 16,2 13,7 17,0 15,2
25 a 29 anos 3,5 11,3 6,7 6,3 10,3 8,1
30 a 39 anos 5,4 11,3 7,9 2,6 7,4 4,8
40 a 49 anos 3,9 4,2 4,0 3,3 4,8 4,0
50 a 59 anos 4,7 3,9 4,3 3,0 4,3 3,6
60 anos ou mais 3,6 - 2,4 3,3 0,8 2,1
Total 7,2 12,4 9,4 6,4 8,6 7,4
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE.
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2 – HETEROGENEIDADE DA ESTRUTURA OCUPACIONAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
Dentre os 1.729.803 ocupados na região metropolitana de Curitiba em 2009
(Tabela 1), 1.660.491 declararam rendimento positivo na PNAD, e é a esse grupo de
ocupados que o presente relatório se refere6. Como se observa na Tabela 2, a estrutura
ocupacional local era bastante heterogênea, com predominância dos empregados sobre as
demais situações de trabalho. O emprego (com ou sem carteira) compreendia 60,8% dos
ocupados em 2009, ao passo que o trabalho ‘independente’, representado pela posição de
conta própria, respondia por 19,4% dos ocupados. Em seguida apareciam os
trabalhadores domésticos, com 7,5% do total de ocupados e, por fim, os empregadores,
com 5,3% (Tabela 2).
De acordo com Maia e Garcia (2010), o Brasil teria construído, ao longo de seu
processo de industrialização, um mercado de trabalho com muitas especificidades,
predominantemente assalariado, mas profundamente caracterizado pela identificação de
“inserções ocupacionais tão diferenciadas como o emprego padrão (protegido pelos
marcos regulatórios, trabalhistas e previdenciários), quanto situações de emprego
desprotegido, fraudes nas contratações de trabalhadores cujos vínculos de emprego estão
dissimulados por contratos comerciais entre supostas empresas, ou seja, pessoas jurídicas,
empregados domésticos sem registro, trabalhadores por conta própria que não contribuem
pra a previdência social, pequenos empregadores, trabalho não remunerado etc” (Maia e
Garcia, 2010). Nesse sentido, cabe destacar que o emprego formal referido no presente
relatório é aquele circunscrito ao emprego protegido decorrente do registro na carteira de
trabalho, assegurando-se a proteção trabalhista prevista na CLT (Consolidação das Leis
Trabalhistas).
Isso posto, percebe-se que 48,0% dos ocupados na região metropolitana de
Curitiba em 2009 eram empregados com carteira de trabalho assinada. Considerando
apenas a posição de empregados, a grande maioria possuía carteira assinada (78,9%).
Apesar do percentual elevado, a situação era bastante distinta entre os setores de
atividade, como será analisado adiante. Entre 2001 e 2009, os empregados com carteira
6 Considerando os objetivos principais do estudo, de traçar comparações entre o emprego protegido e o ‘informal’ e a desagregação das informações (a falta de registros dos casos para as categorias), os trabalhadores sem rendimento, os ocupados na construção para o próprio uso e os ocupados na produção para o próprio consumo foram retirados da análise.
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cresceram 49,3%, ficando atrás apenas dos empregadores, que aumentaram 56,9% no
período. Os empregados sem carteira, por seu turno, apresentaram o menor percentual de
crescimento na década (17,6%), o que contribuiu para que sua participação caísse de
14,7% em 2001 para 12,8% em 2009.
TABELA 2 Estimativa dos ocupados segundo posição na ocupação
RM de Curitiba, 2001 e 2009
Posição na ocupação Estimativas Distribuição (%) Variação (%)
2001 2009 2001 2009 2009/2001
Total de ocupados 1.232.262 1.660.491 100,0 100,0 34,8
Empregados 714.968 1.010.296 58,0 60,8 41,3
Com carteira 534.124 797.599 43,3 48,0 49,3
Sem carteira 180.844 212.697 14,7 12,8 17,6
Conta própria 288.488 322.107 23,4 19,4 11,7
Empregador es 55.643 87.323 4,5 5,3 56,9
Trabalhador es doméstico s 94.086 123.788 7,6 7,5 31,6
Com carteira 31.850 44.468 2,6 2,7 39,6
Sem carteira 62.236 79.320 5,1 4,8 27,5
Demais ocupados 79.077 116.977 6,4 7,0 47,9
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE. Nota: ocupados que declararam rendimento positivo
Ao longo dos anos analisados, percebe-se que a diminuição do percentual de
conta própria ocorreu de forma mais acentuada a partir de 2007, tendo se intensificado
em 2008. O contrário pode ser observado com os empregados com carteira e com os
empregadores, cujas participações aumentaram significativamente em 2008, tendo se
reduzido em 2009. Esses movimentos inversamente relacionados podem indicar que o
crescimento econômico brasileiro mais acelerado nos últimos anos tendeu a estimular a
criação de empregos formais e de novos empreendimentos, por um lado, e incentivou a
migração de ocupações por conta própria para o emprego formal, por outro. Já a crise
econômica internacional pode ter influenciado negativamente esse processo, freando-o na
medida em que se reduziu a criação de postos de trabalho e aumentaram as demissões.
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GRÁFICO 1
Distribuição dos ocupados segundo posição na ocupaç ão RM de Curitiba, 2001 a 2009
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE.
O Comércio era o setor de atividade com maior número de ocupados na RM de
Curitiba em 2009: considerando os quatro principais setores de atividade (Comércio7,
Serviços8, Indústria9 e Construção), mais de 676 mil trabalhadores ocupavam-se no
Comércio – o equivalente a 42,0% do total; os Serviços eram o segundo maior setor de
atividade em número de ocupados, com aproximadamente 444 mil pessoas (27,5% do
total). Indústria e Construção eram responsáveis pelas menores parcelas de ocupados: a
primeira ocupava 276 mil pessoas e a segunda ocupava 215 mil (17,1% e 13,4% do total,
respectivamente) (Anexo 1).
A Indústria era o setor de atividade com maior participação do emprego protegido
em 2009: 70,7% dos ocupados eram empregados com carteira assinada. Ao mesmo
tempo, era o setor com menor participação de conta própria (13,5% dos ocupados), o que
pode estar associado à própria natureza da atividade (Gráfico 3).
7 Inclui Comércio e reparação.
8 Inclui: Alojamento, alimentação, transporte, armazenagem, comunicação, educação, saúde, serviços
sociais, outros serviços coletivos, sociais e pessoais. 9 Indústria de transformação.
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Na Construção Civil acontecia o inverso: os conta própria eram a posição
ocupacional com maior participação e representavam 41,2% dos ocupados, enquanto os
empregados com carteira eram 24,7%. É interessante notar que nesse setor a participação
dos empregados sem carteira era superior à dos trabalhadores protegidos: 28,6%. Embora
o trabalho por conta própria não indique necessariamente uma inserção mais precária do
trabalhador, ainda que independente, apenas quando ele vem combinado à contribuição à
previdência social é possível garantir o acesso à aposentadoria, ao auxílio doença e a
outros benefícios para o trabalhador. Como será analisado adiante, esse não era o caso da
maioria dos trabalhadores da Construção Civil na RM de Curitiba.
O setor do Comércio contava com uma participação expressiva de conta própria
(26,8% dos ocupados) e de empregados sem carteira assinada (19,1%). Esses
percentuais são particularmente importantes nesse setor, pois como ele era responsável
pelo maior número de ocupados na RM de Curitiba, representa uma parcela importante
de trabalhadores que podem estar desprotegidos. Os Serviços, que ocupavam o segundo
maior contingente de trabalhadores da região, possuíam metade de seus ocupados
(50,0%) como empregados com carteira assinada, embora praticamente 1/3 dos
ocupados se dividisse entre conta própria e empregados sem carteira assinada.
17
GRÁFICO 3 Distribuição dos ocupados por setores de atividade, segundo posição na ocupação
RM de Curitiba, 2009
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE. Nota: Nos Serviços, 13,2% dos ocupados eram funcionários públicos estatutários.
18
3 – CONDIÇÕES DE TRABALHO SEGUNDO POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO
A análise do rendimento dos ocupados na RM de Curitiba revela que os
empregadores encontravam-se em patamar bastante superior às demais posições na
ocupação em 2009 (Gráfico 4). Enquanto o rendimento médio da região era de R$
1.397,7, os empregadores auferiam rendimento de R$ 4.583,5. Já o emprego protegido
apresentava o segundo maior rendimento médio dentre os ocupados, e os empregados
com carteira assinada recebiam R$ 1.491,9.
Os trabalhadores domésticos sem carteira recebiam a menor remuneração média,
R$ 495,0 em 2009, praticamente atrelada ao salário mínimo, que era de R$ 527,010.
Apesar de ser um trabalho desprotegido, a aderência da remuneração desses trabalhadores
ao salário mínimo indica a importância da política de valorização do mesmo como
garantia de melhorias na remuneração. É importante destacar, ainda, que o trabalho
doméstico era exercido, em sua grande maioria, por mulheres (91,9%) (Anexo 2) sem
acesso aos benefícios que os trabalhadores com carteira assinada podem ter, como
descanso semanal remunerado, férias e 13º terceiro salário.
Ao longo do período analisado, apenas os empregadores apresentaram grandes
oscilações no rendimento, com queda expressiva no início da década (2002 e 2003) e pico
em 2004. Apesar dessa movimentação, o aumento real dessa posição ocupacional foi de
1,2% na década, a menor dentre todas. Considerando a totalidade de ocupados, o aumento
médio real foi de 10,7% na década. Os trabalhadores domésticos com carteira
apresentaram o maior aumento (20,2%) e os trabalhadores domésticos sem carteira
tiveram aumento de 17,9%, o que por um lado evidencia a eficácia da política de
valorização do salário mínimo na melhoria do rendimento desses trabalhadores e, por
outro lado, mostra que o rendimento muito baixo é um dos fatores que permite aumentos
mais expressivos, ao deixar ‘espaço’ para avançar mais do que as demais posições
ocupacionais.
É importante ressaltar que os rendimentos médios dos trabalhadores por conta
própria apresentaram pouca variação no período estudado, mostrando até uma certa
estagnação, mostrando que este grupo não acompanhou o movimento vivido pelo país, de
incremento à renda, em especial nesta faixa de rendimento (de 1 a 3 salários mínimos). 10 Em valores corrigidos de nov/2011. Em valores nominais, foi de R$ 465 entre fevereiro e dezembro de 2009.
19
GRÁFICO 4 Evolução do rendimento médio dos ocupados segundo p osição na ocupação
RM de Curitiba, 2001 a 2009 (R$ nov/2011)
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE.
Em relação aos setores de atividade, os Serviços possuíam as remunerações mais
altas em 2009 (R$ 1.648,1), seguidos pela remuneração dos ocupados na Indústria (R$
1.576,2) (Tabela 3). É importante destacar que a Administração Pública está quase
inteiramente incluída nos Serviços, e que a remuneração desses trabalhadores é
geralmente superior à média, o que pode contribuir para ‘puxar’ a média do setor para
cima. Ao mesmo tempo, os Serviços domésticos também estão incluídos nos Serviços, e
a remuneração dos ocupados nessa atividade era inferior à média, como foi mostrado no
Gráfico 4.
No que tange à remuneração das diversas posições ocupacionais dentro dos
setores, percebe-se que os empregadores nos Serviços auferiam os maiores rendimentos
em 2009 (R$ 5.465,5) e que o empregado sem carteira assinada na Construção percebia
o menor rendimento médio (R$ 431,6). Ao longo da década, os ocupados no Comércio e
na Construção – setores com percentuais mais elevados de conta própria e empregados
sem carteira assinada e cujas remunerações médias eram inferiores às dos demais setores
20
– tiveram queda no seu rendimento médio de 32,7% e 35,3%, respectivamente. Já os
Serviços e a Indústria apresentaram aumento de 11,6% e 12,8%, respectivamente.
TABELA 3 Rendimento médio dos ocupados por setores, segundo posição na ocupação
RM de Curitiba, 2001 e 2009
Formas de inserção 2001 2005 2009 Evolução % 2009/2001
Ser
viço
s
Empregado c/ carteira assinada 1.304,7 1.239,7 1.311,8 0,5
Empregado s/ carteira assinada 996,5 1.007,8 947,6 -4,9
Conta própria 1.495,1 1.543,1 1.569,9 5,0
Empregador 4.461,4 7.467,0 5.766,5 29,3
Total 1.476,6 1.580,4 1.648,1 11,6
Com
érci
o
Empregado c/ carteira assinada 1.275,0 893,3 797,0 -37,5
Empregado s/ carteira assinada 714,4 565,4 651,3 -8,8
Conta própria 1.391,5 921,9 787,5 -43,4
Empregador 3.884,5 2.354,4 2.483,5 -36,1
Total 1.410,6 986,5 948,7 -32,7
Indú
stria
Empregado c/ carteira assinada 1.409,4 1.432,6 1.678,2 19,1
Empregado s/ carteira assinada 1.273,7 934,6 1.078,8 -15,3
Conta própria 904,6 764,0 869,5 -3,9
Empregador 5.213,4 3.372,4 3.749,7 -28,1
Total 1.396,8 1.363,4 1.576,2 12,8
Con
stru
ção
Empregado c/ carteira assinada 1.412,8 862,3 843,3 -40,3
Empregado s/ carteira assinada 604,2 533,5 431,6 -28,6
Conta própria 852,6 622,4 652,0 -23,5
Empregador 2.854,4 2.553,1 1.637,6 -42,6
Total 1.069,1 756,1 691,4 -35,3 Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE.
A jornada de trabalho semanal média dos ocupados na RM de Curitiba era de 39,8
horas semanais em 2009. Embora estivesse abaixo da jornada máxima legal, ela diz
respeito apenas à jornada do ocupado no trabalho principal, ou seja, nos casos de
trabalhadores com mais de uma ocupação não se pode auferir a jornada total. Mesmo com
essa ressalva, alguns subsetores apresentavam jornadas superiores a 47 horas semanais,
como era o caso do subsetor de Alojamento e Alimentação. Dentro desse subsetor, os
empregadores atingiam uma jornada de 59,5 horas por semana.
Os ocupados nos Serviços domésticos apresentavam as menores jornadas
(33,7h/semana), e dentro dessa atividade os trabalhadores sem carteira tinham jornada
de 29,8h/semana. É importante ressalvar que esses trabalhadores geralmente possuem
diversos vínculos de trabalho, muitas vezes distantes um do outro, gerando tempo
adicional de deslocamento, além de gastos com transporte e alimentação, o que torna a
jornada efetiva de trabalho – e seu custo – muito maior.
21
De forma geral, os empregadores possuíam as maiores jornadas de trabalho na
região (48,3h/semana), seguidos pelos empregados com carteira assinada
(43,9h/semana). Vale destacar que os empregados com carteira assinada foram a única
posição ocupacional que aumentou sua jornada desde o início da década, na contramão
do que ocorreu com todas as demais posições, que diminuíram ou mantiveram estáveis as
horas de trabalho semanais.
22
TABELA 4 Jornada de trabalho média semanal dos ocupados por setores, segundo posição na
ocupação RM de Curitiba, 2001 e 2009
Setor de Atividade Posição na ocupação 2001 2009
Indústria de transformação
Empregado c/ carteira assinada 43,5 43,8 Empregado s/ carteira assinada 41,1 39,6 Conta própria 39,4 35,0 Empregador 51,2 47,7 Total 42,6 42,2
Construção
Empregado c/ carteira assinada 44,5 45,0 Empregado s/ carteira assinada 45,0 43,3 Conta própria 43,5 43,9 Empregador 43,6 47,1 Total 42,9 43,9
Comércio e reparação
Empregado c/ carteira assinada 46,9 45,7 Empregado s/ carteira assinada 41,6 41,1 Conta própria 45,9 40,3 Empregador 51,7 49,2 Total 45,9 43,6
Alojamento e alimentação
Empregado c/ carteira assinada 46,2 46,9 Empregado s/ carteira assinada 43,4 38,9 Conta própria 53,9 54,4 Empregador 60,7 59,5 Total 48,1 47,3
Transporte, armazenagem e comunicação
Empregado c/ carteira assinada 44,7 47,1 Empregado s/ carteira assinada 46,7 39,9 Conta própria 50,7 48,3 Empregador 51,7 52,3 Total 46,3 46,5
Educação, saúde e serviços sociais
Empregado c/ carteira assinada 39,3 37,9 Empregado s/ carteira assinada 28,8 30,7 Conta própria 33,8 35,4 Empregador 38,8 44,4 Total 36,3 36,0
Serviços domésticos
Trabalhador doméstico c/ carteira assinada 42,8 42,8 Trabalhador doméstico s/ carteira assinada 34,0 29,8 Total 37,0 33,7
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
Empregado c/ carteira assinada 44,3 42,4 Empregado s/ carteira assinada 37,5 34,4 Conta própria 39,0 35,9 Empregador 47,7 47,8 Total 40,1 37,9
Total
Empregado c/ carteira assinada 43,6 43,9 Empregado s/ carteira assinada 40,0 39,2 Trabalhador doméstico c/ carteira assinada 42,8 42,8 Trabalhador doméstico s/ carteira assinada 34,0 29,8 Conta própria 44,8 41,1 Empregador 49,4 48,3 Total 42,0 39,8
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE.
23
4 – SEGURANÇA DO TRABALHADOR: CONTRIBUIÇÃO À PREVIDÊNCIA
A contribuição à previdência na RM de Curitiba era realizada por 65,7% dos
ocupados em 2009. Os empregados com carteira assinada podem ser considerados os
grandes responsáveis por essa taxa relativamente elevada de contribuição, pois têm um
percentual de 100% (contribuição compulsória), ao mesmo tempo em que representavam
48,0% dos ocupados na região, como já mostrado na seção 2. Dentre as posições que não
possuíam contribuição compulsória, apenas os empregadores possuíam percentual de
contribuição à previdência relativamente alto: 65,7% deles eram contribuintes (Gráfico
6). As demais posições não alcançavam mais de 21,0% de contribuição – caso dos conta
própria. No caso dos trabalhadores domésticos sem carteira assinada, a contribuição à
previdência era feita por 9,3% dos ocupados.
É importante destacar que, ao longo da década, a contribuição aumentou de forma
significativa para a maior parte das posições ocupacionais, particularmente para os
trabalhadores domésticos sem carteira, em que apenas 3,5% dos ocupados eram
contribuintes em 2001, e para os empregados sem carteira assinada, que praticamente
dobraram o percentual de contribuintes à previdência social. Em contrapartida, o número
de empregadores que contribuíam foi reduzido em quase 10 pontos percentuais entre
2001 e 2009.
24
GRÁFICO 6 Contribuição à previdência social por posição na oc upação
RM de Curitiba, 2001 a 2009
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE.
Considerando algumas características marcantes do trabalho doméstico, tais como
“a baixa sindicalização, o acesso limitado aos direitos trabalhistas plenos, mesmo quando
com carteira de trabalho assinada, uma ocupação de baixos rendimentos e de longas
jornadas” (DIEESE, 2011), a presença quase exclusiva de mulheres na atividade, bem
como a necessidade de as empregadas domésticas conquistarem direitos equivalentes aos
dos demais trabalhadores, torna-se relevante discutir algumas informações específicas
dessa atividade.
Dentre os 123.788 ocupados no trabalho doméstico na RM de Curitiba em 2009,
91,9% eram mulheres, percentual que se manteve elevado ao longo da década, embora
fosse ligeiramente superior em 2001, quando 95,7% dos ocupados eram do sexo
feminino. Dentre as trabalhadoras domésticas, 40,5% contribuíam para a previdência
social em 2009 – em 2001, esse percentual era de 34,1% (Anexo 2).
De forma geral, a contribuição à previdência era realizada por 42,1% dos
trabalhadores domésticos, percentual bastante superior ao observado no início da década,
em que 36,2% dos ocupados eram contribuintes. O rendimento médio mensal dos
25
contribuintes11 era 55,0% superior ao dos não contribuintes no trabalho doméstico –
enquanto os primeiros auferiam rendimento de R$ 744,5 mensais, os últimos recebiam
R$ 480,4. Ao longo do período analisado, o rendimento dos contribuintes aumentou
18,6% e, a partir de 2006, apresentou uma trajetória de crescimento constante (Gráfico 5).
Como já foi dito anteriormente, a evolução desse rendimento pode estar atrelada à
política de valorização do salário mínimo implementada em anos recentes. Por seu turno,
o rendimento dos não contribuintes aumentou 15,4% no período, apresentando uma
trajetória de queda até 2004, quando atinge seu menor valor, e de recuperação até 2008.
GRÁFICO 5
Estimativa de ocupados e rendimento médio (em R$ de nov/2011) dos ocupados no trabalho doméstico, por contribuição à previdência social
RM de Curitiba, 2001 a 2009
Fonte: PNAD/IBGE. Elaboração: DIEESE.
11
O rendimento mensal dos trabalhadores domésticos foi apresentado também na seção 3, junto com as
demais posições ocupacionais. Entretanto, classificava os trabalhadores entre ‘com’ e ‘sem’ carteira de
trabalho assinada. Na presente seção, utilizou-se a classificação de ‘contribuintes’ e ‘não contribuintes’ à
previdência social, o que trouxe pequenas modificações nos valores do rendimento mensal, já que parte
dos trabalhadores sem carteira de trabalho assinada pode ser contribuinte.
26
5 – A INFORMALIDADE NA AGENDA DO TRABALHO DECENTE
Uma dimensão fundamental da qualidade dos postos de trabalho seria, segundo a
OIT, a disseminação dos contratos regulares, isto é, aqueles definidos segundo a
legislação vigente e que propiciam acesso à proteção social (OIT, 2009). Diante deste
contexto, a OIT considera a redução da informalidade como um elemento central para a
promoção do trabalho decente.
Embora o relatório não tenha como objetivo definir ‘taxas’ de informalidade, a
presente seção utiliza parte da metodologia aplicada pela OIT para a construção dos
indicadores de trabalho decente. Como um dos indicadores é a taxa de informalidade
desagregada por sexo, faixa etária e cor/raça, ela foi calculada, no presente relatório, com
o objetivo de dialogar com a agenda do trabalho decente e, mais especificamente, com a
agenda que vem sendo implantada pelo próprio município de Curitiba.
Entre 2001 e 2009, a taxa de informalidade12 dos homens se reduziu mais do que
a das mulheres – embora tenham alcançado patamar semelhante ao final da década de
2000, há uma inversão ao longo do período analisado: 46,0% dos ocupados homens eram
informais em 2001, ao passo que as mulheres eram 44,3%; em 2009, 38,8% dos homens
estavam nessa condição, e entre as mulheres eram 39,9%. Na perspectiva de cor/raça
ocorreram avanços mais significativos: em 2001, quase metade dos ocupados negros
eram informais, ao passo que em 2009 esse percentual caiu para 41,8%. Ainda assim, a
informalidade entre os ocupados brancos era inferior à dos negros (passou de 44,4%, em
2001, para 38,4% em 2009). A taxa média de informalidade era de 39,3% em 2009 e de
45,3% no início da década.
A análise da informalidade por posição na ocupação revela que a taxa de
informalidade entre os trabalhadores domésticos caiu muito pouco entre 2001 e 2009,
passando de 66,4% no início da década para 64,8% ao final, mantendo-se extremamente
elevada. Nas faixas etárias mais jovens, de 16 até 19 anos de idade, 100% dos
trabalhadores domésticos da RMC eram informais em 2009. Apenas nas faixas etárias
concentradas entre os 30 e 49 anos de idade a informalidade concentrou-se abaixo de
60,0% dos ocupados, e na faixa etária mais elevada, acima de 60 anos de idade,
12 O cálculo da taxa de informalidade foi realizado a partir de uma das três diferentes definições do grau de informalidade oferecidas no Ipeadata com base na PNAD. Esta taxa corresponde ao resultado da seguinte divisão: (empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria) / (trabalhadores protegidos + empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria).
27
praticamente 90% dos ocupados eram informais – o que pode estar relacionado ao
trabalho como complemento da aposentadoria.
A taxa média de informalidade na primeira metade da década, em que o
crescimento do PIB foi menor, é ligeiramente superior à da segunda metade, na qual
houve maior crescimento, o que poderia sugerir uma relativa aderência entre crescimento
econômico e formalização dos trabalhadores domésticos. Entretanto, quando se compara
a informalidade média por períodos com os demais grupos (mulheres, homens, negros e
brancos) fica evidente que não existe o mesmo comportamento entre a formalização dos
trabalhadores domésticos e a da totalidade dos ocupados.
TABELA 5 Indicadores de trabalho decente – Taxa de Informali dade
Região metropolitana de Curitiba, 2001 a 2009
Indicadores de Trabalho Decente 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Taxa de informalidade 45,3 44,3 42,4 42,5 42,7 41,0 41,1 36,2 39,3
Mulheres 44,3 41,2 41,6 42,6 41,5 40,3 40,6 37,2 39,9
Homens 46,0 46,6 43,0 42,4 43,7 41,7 41,5 35,3 38,8
Negros 49,4 49,3 47,3 46,3 47,3 44,3 41,0 37,4 41,8
Brancos 44,4 43,1 41,2 41,5 41,4 40,1 41,1 35,8 38,4 Taxa de informalidade dos trabalhadores domésticos 66,4 69,0 67,3 68,6 64,5 65,3 71,4 62,6 64,8
16 e 17 anos de idade 88,9 85,7 87,5 100,0 90,0 100,0 100,0 100,0 100,0
18 e 19 anos de idade 75,0 70,0 83,3 100,0 62,5 100,0 88,9 100,0 100,0
De 20 a 24 anos de idade 65,4 68,4 69,2 52,2 72,2 60,0 69,6 64,7 70,0
De 25 a 29 anos de idade 72,4 65,1 61,3 48,5 54,5 62,1 67,6 60,7 66,7
De 30 a 39 anos de idade 52,3 64,5 66,7 68,3 64,6 51,2 63,0 60,9 57,0
De 40 a 49 anos de idade 66,7 71,0 64,1 67,7 61,5 61,1 69,1 57,5 55,1
De 50 a 59 anos de idade 71,4 63,6 68,7 83,3 61,1 81,6 79,4 62,0 77,4
60 anos ou mais de idade 80,0 94,1 77,8 77,8 80,0 83,3 84,2 90,0 89,5 Fonte: PNAD/IBGE Elaboração: DIEESE
28
6 – OS MICROEMPREENDEDORES INDIVIDUAIS EM CURITIBA
De acordo com os dados do Portal do Empreendedor, o número de
microempreendedores individuais optantes pelo Simples Nacional (SIMEI13) em Curitiba
havia sido de 632 em 2009, ano em que teve início a Lei do Microempreendedor
Individual, e alcançou a marca de 19.615 microempreendedores individuais ao final de
2011. Isso significa dizer que ocorreram, em média, 9,5 mil inscrições por ano no
município entre 2010 e 2011.
O Gráfico 6 apresenta a evolução mensal das inscrições no SIMEI entre o último
trimestre de 200914 e dezembro de 2011. É possível perceber que os meses de agosto
tiveram o maior volume de inscritos: 1.070 em agosto de 2010 e 1.040 em agosto de
2011. Também é notável o aumento da média de inscrições mensais entre 2010 e 2011.
No primeiro ano, foram aproximadamente 680 inscrições/mês; já em 2011 o município
alcançou 905 inscrições/mês.
13 A inscrição do MEI iniciou-se em julho de 2009, devendo ter trâmite especial na forma a ser disciplinada pelo Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios. 14 Em Curitiba, apenas a partir de outubro de 2009 existem registros de microempreendedores cadastrados no SIMEI.
29
GRÁFICO 6 Evolução mensal dos microempreendedores individuais
Curitiba, último trimestre de 2009 a dez/2011
Fonte: Portal do Empreendedor/MDIC. Elaboração: DIEESE
As subclasses de atividade econômica representam o maior nível de
detalhamento da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), sendo
disponibilizadas dessa forma pelo Portal do Empreendedor. As dez maiores subclasses de
atividade desenvolvidas pelos microempreendedores individuais de Curitiba eram
responsáveis por 39,6% do total das atividades desempenhadas por esses trabalhadores
em dezembro de 2011.
O Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios possuía a maior
participação individual, sendo responsável por 9,8% de todas as atividades desenvolvidas
por microempreendedores individuais. Também merecem destaque os cabeleireiros
(7,8% do total) e as atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza
(6,3%).
30
TABELA 6 Ranking das dez subclasses de atividade econômica c om maior participação no total de
atividades desenvolvidas pelos microempreendedores individuais Curitiba, acumulado de out/2009 a dez/2011
Descrição CNAE Total optantes
Participação %
1º Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios 1.928 9,8
2º Cabeleireiros 1.538 7,8
3º Atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza 1.237 6,3
4º Obras de alvenaria 567 2,9
5º Reparação e manutenção de computadores e de equipamentos periféricos 496 2,5
6º Instalação e manutenção elétrica 466 2,4
7º Serviços de pintura de edifícios em geral 426 2,2
8º Confecção, sob medida, de peças do vestuário, exceto roupas íntimas 421 2,1
9º Promoção de vendas 343 1,7
10º Serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas 342 1,7
Total 19.615 100,0 Fonte: Portal do Empreendedor/MDIC. Elaboração: DIEESE
As divisões de atividade econômica representam um nível de agregação mais
elevado em relação às subclasses de atividade econômica e, na medida em que agrupam
diversas subclasses em categorias maiores, permitem analisar com mais clareza quais as
principais atividades desempenhadas pelos microempreendedores. A partir da
reorganização das informações (de subclasses em divisões), discute-se brevemente a
seguir o perfil das principais atividades desempenhadas pelos microempreendedores de
Curitiba.
O Comércio varejista era a divisão de atividade com maior número de
cadastrados e nela as mulheres eram maioria, representando 58,5% dos
microempreendedores. Dentro dessa divisão, o Comércio varejista de artigos do
vestuário e acessórios era a subclasse com maior número de inscritos, cuja maioria
também eram mulheres (74,6%). A segunda maior subclasse dentro do comércio varejista
era o comércio varejista especializado de equipamentos e suprimentos de informática, no
qual as mulheres representavam 23,6%.
As Outras atividades de serviços pessoais eram responsáveis pelo segundo
maior contingente de cadastrados e pela maior participação feminina dentre os inscritos
no SIMEI: 82,2%. Dentro dessa divisão, a subclasse de atividades de estética e outros
serviços de cuidados com a beleza possuía 97,1% de mulheres.
Dentre as atividades com maior participação, duas divisões de atividade eram
desempenhadas predominantemente por homens: serviços especializados para
construção e comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, com 94,1% e
31
85,6% de participação masculina, respectivamente. As demais divisões eram
desenvolvidas, em sua maioria, por mulheres.
TABELA 7 Ranking das divisões e subclasses de atividades eco nômicas com maior participação no
total de atividades desenvolvidas pelos microempree ndedores, por sexo Curitiba, acumulado de out/2009 a dez/2011
Divisões e subclasses Masculino Feminino Total
% Absoluto % Absoluto %
1º Comércio varejista 41,5 1.869 58,5 2.634 100,0
Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios 25,4 433 74,6 1.269 100,0
Comércio varejista especializado de equipamentos e suprimentos de informática 76,4 214 23,6 66 100,0
2º Outras atividades de serviços pessoais 17,8 480 82,2 2.221 100,0
Cabeleireiros 25,6 358 74,4 1.042 100,0
Atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza 2,9 32 97,1 1.069 100,0
3º Alimentação 45,4 439 54,6 529 100,0
Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares 37,3 109 62,7 183 100,0
Bares e outros estabelecimentos especializados em servir bebidas 56,9 112 43,1 85 100,0
4º Serviços especializados para construção 94,1 1.584 5,9 99 100,0
Obras de alvenaria 96,8 491 3,2 16 100,0
Instalação e manutenção elétrica 91,5 376 8,5 35 100,0
5º Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas 85,6 685 14,4 115 100,0
Serviços de manutenção e reparação mecânica de veículos automotores 92,3 191 7,7 16 100,0
Serviços de lavagem, lubrificação e polimento de veículos automotores 80,0 96 20,0 24 100,0
Total 52,6 9.430 47,4 8.493 100,0 Fonte: Portal do Empreendedor/MDIC. Elaboração: DIEESE Nota: Como nem todos os inscritos no SIMEI declaram informações como sexo e faixa etária, a soma dos microempreendedores do sexo masculino e feminino é inferior ao total de 19.615 cadastrados.
Duas faixas etárias eram responsáveis pelo maior número de
microempreendedores cadastrados e possuíam praticamente a mesma participação: a dos
empreendedores entre 31 e 40 anos (30,9%) e a daqueles compreendidos entre 21 e 30
anos de idade (30,4%). Os mais jovens – com até 20 anos de idade – tinham uma
participação modesta, inferior a 5%, ao passo que os mais velhos – acima de 50 anos de
idade – representavam aproximadamente 13% do total.
32
GRÁFICO 7 Participação dos Microempreendedores Individuais, s egundo faixa etária
Curitiba, acumulado de out/2009 a dez/2011
Fonte: Portal do Empreendedor/MDIC. Elaboração: DIEESE
Por fim, os dados do Portal do Empreendedor permitem identificar quais as
formas de atuação dos microempreendedores individuais. Em Curitiba, 53,0% dos
microempreendedores inscreveram-se como estabelecimentos fixos. Já a forma de
atuação porta a porta, postos móveis ou por ambulantes era representada por 18,7% dos
cadastrados. É interessante notar que a atuação por internet era desempenhada por 10,7%
dos inscritos. As demais formas de atuação eram responsáveis por 17,6% das atividades
dos microempreendedores individuais do município.
33
GRÁFICO 8 Participação dos Microempreendedores Individuais, s egundo forma de atuação
Curitiba, acumulado de out/2009 a dez/2011
Fonte: Portal do Empreendedor/MDIC. Elaboração: DIEESE
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O relatório procurou discutir algumas manifestações recentes da informalidade,
bem como a estrutura ocupacional e sua heterogeneidade, e explicitar as diferenças
existentes entre o ‘informal’ e o emprego protegido.
De forma geral, os ocupados na RM de Curitiba em 2009 eram homens (54,8%) e
adultos jovens: a faixa etária compreendida entre 30 e 39 anos representava a maior
parcela dos ocupados (26,0%). Embora a taxa de desemprego fosse baixa (7,4%), era
maior para mulheres (8,6%) do que para homens (6,4%) e significativamente superior
para os jovens (15,2% para os jovens de 19 a 24 anos de idade). Ao longo da década de
2000, o mercado de trabalho local envelheceu e distribuiu-se de forma mais equilibrada
entre homens e mulheres, embora a desigualdade tenha persistido.
A estrutura ocupacional local era bastante heterogênea, com predominância dos
empregados sobre as demais situações de trabalho. Também é importante destacar que
quase metade (48,0%) dos ocupados na RM de Curitiba em 2009 eram empregados com
carteira de trabalho assinada. Entre 2001 e 2009, os empregados com carteira cresceram
49,3%, ficando atrás apenas dos empregadores, que aumentaram 56,9% no período. Os
empregados sem carteira, por seu turno, apresentaram o menor percentual de crescimento
na década (17,6%), o que contribuiu para que sua participação caísse de 14,7% em 2001
para 12,8% em 2009.
Ao longo dos anos analisados, pode-se observar uma diminuição do percentual de
conta própria de forma mais acentuada a partir de 2007, tendo se intensificado em 2008.
O contrário ocorreu com os empregados com carteira e com os empregadores, cujas
participações aumentaram significativamente em 2008, tendo se reduzido em 2009,
indicando que o crescimento econômico brasileiro mais acelerado nos últimos anos
tendeu a estimular a criação de empregos formais e de novos empreendimentos, por um
lado, e incentivou a migração de ocupações por conta própria para o emprego formal, por
outro. Já a crise econômica internacional pode ter influenciado negativamente esse
processo, freando-o na medida em que se reduziu a criação de postos de trabalho e
aumentaram as demissões.
O Comércio era o setor de atividade com maior número de ocupados na RM de
Curitiba em 2009 e contava com uma participação expressiva de conta própria (26,8%
35
dos ocupados) e de empregados sem carteira assinada (19,1%). Já os Serviços eram o
segundo maior setor de atividade em número de ocupados e possuíam metade de seus
ocupados (50,0%) como empregados com carteira assinada, embora praticamente 1/3
dos ocupados se dividisse entre conta própria e empregados sem carteira assinada. A
Indústria, por sua vez, era o setor de atividade com maior participação do emprego
protegido em 2009: 70,7% dos ocupados eram empregados com carteira assinada. Na
Construção Civil acontecia o inverso: os conta própria eram a posição ocupacional com
maior participação e representavam 41,2% dos ocupados, enquanto os empregados com
carteira eram 24,7%.
No que diz respeito ao rendimento dos ocupados, os empregadores encontravam-
se em patamar bastante superior às demais posições na ocupação em 2009. Já os
trabalhadores domésticos sem carteira recebiam a menor remuneração média,
praticamente atrelada ao salário mínimo. A aderência da remuneração desses
trabalhadores ao salário mínimo indica a importância da política de valorização do
mesmo como garantia de melhorias na remuneração. É importante destacar, ainda, que o
trabalho doméstico era exercido, em sua grande maioria, por mulheres (91,9%) sem
acesso aos benefícios que os trabalhadores com carteira assinada podem ter, como
descanso semanal remunerado, férias e 13º terceiro salário.
No que tange ao rendimento das diversas posições ocupacionais dentro dos
setores, percebe-se que os empregadores nos Serviços auferiam os maiores rendimentos
em 2009 (R$ 5.465,5) e que o empregado sem carteira assinada na Construção percebia
o menor rendimento médio (R$ 431,6). Ao longo da década, os ocupados no Comércio e
na Construção – setores com percentuais mais elevados de conta própria e empregados
sem carteira assinada e cujas remunerações médias eram inferiores às dos demais setores
– tiveram queda no seu rendimento médio de 32,7% e 35,3%, respectivamente.
Os ocupados nos Serviços domésticos apresentavam as menores jornadas
(33,7h/semana), e dentro dessa atividade os trabalhadores sem carteira tinham jornada
de 29,8h/semana, embora esses trabalhadores geralmente possuam diversos vínculos de
trabalho, o que torna a jornada efetiva de trabalho muito maior.
A contribuição à previdência na RM de Curitiba era realizada por 65,7% dos
ocupados em 2009. Os empregados com carteira assinada podem ser considerados os
grandes responsáveis por essa taxa relativamente elevada de contribuição, pois têm um
36
percentual de 100% (contribuição compulsória), ao mesmo tempo em que representavam
48,0% dos ocupados na região. Dentre as posições que não possuíam contribuição
compulsória, apenas os empregadores possuíam percentual de contribuição à previdência
relativamente alto: 65,7% deles eram contribuintes. As demais posições não alcançavam
mais de 21,0% de contribuição – caso dos conta própria. No caso dos trabalhadores
domésticos sem carteira assinada, a contribuição à previdência era feita por 9,3% dos
ocupados.
Dentre os ocupados no trabalho doméstico na RM de Curitiba em 2009, 91,9%
eram mulheres, percentual que se manteve elevado ao longo da década. Dentre as
trabalhadoras domésticas, 40,5% contribuíam para a previdência social em 2009 – em
2001, esse percentual era de 34,1%.
No que diz respeito aos indicadores de trabalho decente, entre 2001 e 2009 a taxa
de informalidade dos homens se reduziu mais do que a das mulheres – embora tenham
alcançado patamar semelhante ao final da década de 2000, há uma inversão ao longo do
período analisado: 46,0% dos ocupados homens eram informais em 2001, ao passo que as
mulheres eram 44,3%; em 2009, 38,8% dos homens estavam nessa condição, e entre as
mulheres eram 39,9%. Na perspectiva de cor/raça ocorreram avanços mais significativos:
em 2001, quase metade dos ocupados negros eram informais, ao passo que em 2009 esse
percentual caiu para 41,8%. Ainda assim, a informalidade entre os ocupados brancos era
inferior à dos negros (passou de 44,4%, em 2001, para 38,4% em 2009). A questão do
trabalho decente e a visão da OIT sobre o tema podem contribuir para o debate acerca da
informalidade à medida que estimulam o conhecimento das diversas realidades locais, a
partir da construção de indicadores, que incentivam a adoção de metas nacionais e
regionais de superação dos principais problemas e que, principalmente, reforçam o
diálogo social como forma de enfrentar questões estruturais que não possuem uma saída
única e que não podem ser ultrapassadas sem mecanismos de diálogo entre governos,
trabalhadores e empregadores.
Por fim, o relatório analisou informações acerca dos microempreendedores
individuais de Curitiba e procurou investigar qual o perfil dessa categoria de ocupados
recém-formalizados – o processo teve início em meados de 2009. Pode-se perceber um
relativo equilíbrio entre homens e mulheres, embora três das cinco divisões de atividade
econômica analisadas fossem ocupadas predominantemente por mulheres. As atividades
37
relacionadas ao comércio varejista ocupavam o primeiro lugar em número de
cadastrados, mas é importante ressaltar que as atividades de cabeleireiros e as
relacionadas aos serviços pessoais seriam, se somadas, a maioria. Os adultos com mais de
30 anos também eram maioria entre os inscritos, tendo os mais jovens (até 20 anos) uma
participação baixa, indicando que esta pode ser, entre outras, uma forma recolocação a
pessoas que estão fora do mercado de trabalho há algum tempo. A forma de atuação em
estabelecimentos fixos era predominante, embora seja importante ressaltar que cerca de
10% dos cadastrados já atuava pela internet.
Espera-se que o entendimento sobre o fenômeno tenha se ampliado, assim como a
apropriação de suas manifestações no âmbito regional, a partir da investigação na RM de
Curitiba. Procurou-se, com o presente relatório, trazer elementos que possibilitem a
elaboração de políticas públicas locais que levem em conta as diversas formas de inserção
ocupacional e, que busquem, por meio do diálogo social, dar mais dignidade às parcelas
mais vulneráveis dos trabalhadores, com melhores condições de trabalho, acesso a
previdência, entre outros benefícios.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIEESE. As características do trabalho doméstico remunerado nos mercados de trabalho metropolitanos. Sistema PED. Especial Abril 2011.
IPEADATA. Site oficial. 2011. Disponível em < http://www.ipeadata.gov.br/>. Data de acesso: jan/2010.
KREIN, J. D. ; PRONI, M. W. . Economia Informal: aspectos conceituais e teóricos. 1. ed. Brasília: Escritorio da OIT no Brasil - OIT, 2010. v. 4. 39 p.
MAIA, R.; GARCIA, L. Informalidade atualizada: Análise das Regiões Metropolitanas e Distrito Federal no período 1999 a 2009. FUNDAJ. No prelo.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Perfil do trabalho decente no Brasil / Escritório da Organização Internacional do Trabalho. Brasília e Genebra: OIT, 2009.
TAVARES, M. A. Os fios (in)visíveis da produção capitalista: informalidade e precarização do trabalho. In: ESCOBAR, L. O trabalho informal em confecções paulistas: a situação de imigrantes latino-americanos e as relações de trabalho nas oficinas. Relatório Final de Iniciação Científica com Bolsa PIBIC-CEPE. Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária. São Paulo: PUC/SP, 2009.
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ANEXOS
Anexo 1 Número de ocupados, segundo setores de atividade e posição na ocupação
RM de Curitiba, 2001 a 2009 Posição na ocupação 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Se
rviç
os
Empregado com carteira de trabalho assinada 148.641 172.181 169.248 191.418 163.987 191.964 196.955 234.354 222.336
Funcionário público estatutário 33.682 34.366 44.199 36.170 41.386 41.710 58.888 57.963 58.495
Outro empregado sem carteira de trabalho
assinada 49.421 64.383 60.447 63.312 64.822 63.340 63.669 66.720 73.707
Conta própria 69.196 60.763 60.824 66.321 61.300 79.576 73.607 65.886 64.506
Empregador 13.911 14.102 13.223 14.699 16.010 15.840 25.068 30.441 25.234
Total 314.851 345.795 347.941 371.920 347.505 392.430 418.187 455.364 444.278
Co
mé
rcio
Empregado com carteira de trabalho assinada 109460 322.090 240.597 126.936 386.015 253.512 154.620 423.354 293.450
Funcionário público estatutário 366 1.557 1.218 378 378 605 - - -
Outro empregado sem carteira de trabalho
assinada 35878 141.298 101.724 37.022 159.844 116.171 46.866 164.703 129.198
Conta própria 81270 233.156 154.722 78.585 236.839 188.783 94.491 250.183 181.134
Empregador 16473 76.031 55.427 27.200 85.864 58.085 28.890 113.057 73.059
Total 243447 774.132 553.688 270.121 868.940 617.156 324.867 951.297 676.841
Ind
úst
ria
Empregado c/ carteira assinada 148997 146.143 156.030 187.649 190.549 191.987 202.519 219.759 195.090
Funcionário público estatutário - - 755 377 - - 796 2.919 1.203
Empregado s/ carteira assinada 29653 25.324 23.430 29.393 34.357 30.897 29.047 25.854 32.843
Conta própria 33311 29.298 31.731 35.417 40.602 40.940 45.358 28.773 37.259
Empregador 4759 11.216 9.447 9.796 12.884 8.111 11.939 15.429 9.616
Total 216720 211.981 221.393 262.632 278.392 271.935 289.659 292.734 276.011
Co
nst
ruçã
o
Empregado com carteira de trabalho assinada 23.063 60.586 62.741 27.956 81.730 42.964 23.816 73.111 53.139
Funcionário público estatutário - - 609 - 611 1.815 - 1.803 -
Outro empregado sem carteira de trabalho
assinada 18.307 74.303 62.734 15.116 64.609 62.928 14.061 69.369 1.592
Conta própria 51.619 148.104 103.544 59.682 169.666 81.077 61.300 161.098 88.756
Empregador 6.588 21.475 10.964 4.914 15.913 12.101 6.638 24.678 12.077
Total 99.577 304.468 240.592 107.668 332.529 200.885 105.815 330.059 215.564
Fonte: PNAD/IBGE Elaboração: DIEESE
40
Anexo 2 Número de ocupados no trabalho doméstico, por sexo e contribuição à previdência social
RM de Curitiba, 2001 a 2009
Anos Sexo Contribuinte para a previdência %
contribuição
Sim Não Total
2001
Masculino 3.296 732 4.028 81,8
Feminino 30.751 59.307 90.058 34,1
Total 34.047 60.039 94.086 36,2
2002
Masculino 4.340 7.235 11.575 37,5
Feminino 32.555 67.277 99.832 32,6
Total 36.895 74.512 111.407 33,1
2003
Masculino 2.646 1.511 4.157 63,7
Feminino 37.399 69.130 106.529 35,1
Total 40.045 70.641 110.686 36,2
2004
Masculino 1.508 4.899 6.407 23,5
Feminino 36.550 64.436 100.986 36,2
Total 38.058 69.335 107.393 35,4
2005
Masculino 2.734 2.343 5.077 53,9
Feminino 38.282 64.024 102.306 37,4
Total 41.016 66.367 107.383 38,2
2006
Masculino 772 3.092 3.864 20,0
Feminino 40.566 62.186 102.752 39,5
Total 41.338 65.278 106.616 38,8
2007
Masculino 3.184 3.582 6.766 47,1
Feminino 37.800 75.205 113.005 33,4
Total 40.984 78.787 119.771 34,2
2008
Masculino 4.587 3.753 8.340 55,0
Feminino 45.870 65.469 111.339 41,2
Total 50.457 69.222 119.679 42,2
2009
Masculino 6.006 4.007 10.013 60,0
Feminino 46.075 67.700 113.775 40,5
Total 52.081 71.707 123.788 42,1
Fonte: PNAD/IBGE Elaboração: DIEESE