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1 Texto Extraído do Livro: Evolução para o Terceiro Milênio Carlos Toledo Rizzini Capítulo 5 Desequilíbrios (Enfermidades) Obsessão: Definição, Presença na literatura não espírita, Causas, Efeitos, Modalidades e Mecanismo a) Definição 1. Mencionamos e definimos antes obsessão. Repisando, é a influência maléfica e mais ou menos persistente que espíritos, tão ou mais atrasados do que nós, podem exercer sobre nossa vida mental e, daí, sobre a conduta; esses espíritos nem sempre têm consciência do mal que fazem, pois, sua forte perturbação deixa-os embotados (que perdeu a sensibilidade, o gosto). Decorre da lei de sintonia vibratória, em virtude da qual temos a mente em contato com outras mentes do mesmo padrão geral. Se pretendemos, no íntimo (embora afirmando conscientemente o contrário), obter satisfações licenciosas, prejudicar a outros para auferir vantagens, cometer desonestidades, praticar vícios, etc., teremos companhia estreitamente aderente a nós desejando colaborar no empreendimento manifestado. É natural que, à medida que facilitamos tal assédio, os espíritos vão tomando conta de nossa personalidade e exercendo domínio cada vez maior; muitos deles são altamente inteligentes e dispõem de grandes conhecimentos sobre operações hipnóticas, podendo agir de maneira calculada e metódica. Posto isto, as motivações inconscientes para agir segundo padrões inferiores sofrem ampliação notável, pois, os obsessores atuam emitindo forças mentais do tipo que encontraram, as quais se somarão às nossas. Em síntese, a obsessão é um fator que amplia e modifica os impulsos de alguém. O problema é de sintonia decorrente da afinidade moral. Se girarmos o dial de um rádio ao longo da escala numérica de freqüência, apanharemos cada estação conforme o número indicativo do tipo de onda. Parando a agulha em 1.400, captaremos a Rádio Rio de Janeiro, isto é, neste ponto da escala estabeleceremos sintonia com o comprimento de onda da mesma (ou com a freqüência). É o que se passa entre um homem e um espírito. Nossas "vibrações", provenientes dos nossos pensamentos, sentimentos, aspirações, defeitos, vícios, etc., atraem e permitem a aproximação de espíritos semelhantes, que possam sintonizar conosco. No caso de homens e espíritos, a sintonia, ao invés de física como no rádio, baseia-se na semelhança de nível moral. Podemos ser influenciados, e nossa conduta modificada, pelas sugestões de espíritos bons ou (pelo comum) maus. Estes aproveitam a fraqueza humana, decorrente das nossas imperfeições, para levar-nos a falir, tanto quanto eles próprios faliram antes, muitos tendo a intenção de manter nossos defeitos e vícios objetivando prolongar o império do mal sobre a face da Terra. À medida que o ser humano se eleva, vai-se distanciando dos representantes das sombras e para tanto goza de livre arbítrio, não sendo obrigado a ceder aos impulsos inferiores que traz em si e que os desencarnados ampliam envolvendo-o em pensamentos similares. Promana daí a noção de que os espíritos atrasados funcionam como instrumentos cegos da Lei de Deus, promovendo o progresso de seus semelhantes e estes, mais tarde, hão de reconhecê-los como benfeitores espirituais, conforme já se exarou antes. Ao demais do supradito, a vingança é outro móbil freqüente da obsessão. Inácio Ferreira, o citado psiquiatra espírita, declara que a obsesssão está presente em cerca de 70% das tragédias humanas. No Sanatório Espírita de

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Page 1: Obsessão e Jesus - WordPress.com · por invadir o corpo de um ser terreno e dominar-lhe as faculdades mentais, de modo súbito, embora possa vir preparando o assalto há algum tempo

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Texto Extraído do Livro: Evolução para o Terceiro Milênio Carlos Toledo Rizzini

Capítulo 5 – Desequilíbrios (Enfermidades) Obsessão: Definição, Presença na literatura não espírita, Causas, Efeitos,

Modalidades e Mecanismo

a) Definição

1. Mencionamos e definimos antes obsessão. Repisando, é a influência maléfica e mais ou menos persistente que espíritos, tão ou mais atrasados do que nós, podem exercer sobre nossa vida mental e, daí, sobre a conduta; esses espíritos nem sempre têm consciência do mal que fazem, pois, sua forte perturbação deixa-os embotados (que perdeu a sensibilidade, o gosto). Decorre da lei de sintonia vibratória, em virtude da qual temos a mente em contato com outras mentes do mesmo padrão geral. Se pretendemos, no íntimo (embora afirmando conscientemente o contrário), obter satisfações licenciosas, prejudicar a outros para auferir vantagens, cometer desonestidades, praticar vícios, etc., teremos companhia estreitamente aderente a nós desejando colaborar no empreendimento manifestado. É natural que, à medida que facilitamos tal assédio, os espíritos vão tomando conta de nossa personalidade e exercendo domínio cada vez maior; muitos deles são altamente inteligentes e dispõem de grandes conhecimentos sobre operações hipnóticas, podendo agir de maneira calculada e metódica. Posto isto, as motivações inconscientes para agir segundo padrões inferiores sofrem ampliação notável, pois, os obsessores atuam emitindo forças mentais do tipo que encontraram, as quais se somarão às nossas. Em síntese, a obsessão é um fator que amplia e modifica os impulsos de alguém.

O problema é de sintonia decorrente da afinidade moral. Se girarmos o dial de um rádio ao longo da escala numérica de freqüência, apanharemos cada estação conforme o número indicativo do tipo de onda. Parando a agulha em 1.400, captaremos a Rádio Rio de Janeiro, isto é, neste ponto da escala estabeleceremos sintonia com o comprimento de onda da mesma (ou com a freqüência). É o que se passa entre um homem e um espírito. Nossas "vibrações", provenientes dos nossos pensamentos, sentimentos, aspirações, defeitos, vícios, etc., atraem e permitem a aproximação de espíritos semelhantes, que possam sintonizar conosco. No caso de homens e espíritos, a sintonia, ao invés de física como no rádio, baseia-se na semelhança de nível moral. Podemos ser influenciados, e nossa conduta modificada, pelas sugestões de espíritos bons ou (pelo comum) maus. Estes aproveitam a fraqueza humana, decorrente das nossas imperfeições, para levar-nos a falir, tanto quanto eles próprios faliram antes, muitos tendo a intenção de manter nossos defeitos e vícios objetivando prolongar o império do mal sobre a face da Terra. À medida que o ser humano se eleva, vai-se distanciando dos representantes das sombras e para tanto goza de livre arbítrio, não sendo obrigado a ceder aos impulsos inferiores que traz em si e que os desencarnados ampliam envolvendo-o em pensamentos similares. Promana daí a noção de que os espíritos atrasados funcionam como instrumentos cegos da Lei de Deus, promovendo o progresso de seus semelhantes e estes, mais tarde, hão de reconhecê-los como benfeitores espirituais, conforme já se exarou antes. Ao demais do supradito, a vingança é outro móbil freqüente da obsessão.

Inácio Ferreira, o citado psiquiatra espírita, declara que a obsesssão está presente em cerca de 70% das tragédias humanas. No Sanatório Espírita de

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Uberaba, que dirigia, em15 anos de trabalho atendeu a 1915 enfermos mentais; conseguiu 763 curas ou 40% — números que incluem 600 casos de obsessão, o que dá um total de 78% de obsedados entre os curados. André Luiz trata desta questão com minúcia e proficiência em vários livros.

Há uma forma paroxística (ou crise aguda), em que o ser descorporificado luta por invadir o corpo de um ser terreno e dominar-lhe as faculdades mentais, de modo súbito, embora possa vir preparando o assalto há algum tempo e imperando o momento julgado azado (conveniente oportuno). Adianto dois paradigmas, o primeiro de Ian Currie (You Cannot Die, Ed. Playboy, 1981) e o segundo da minha experiência pessoal.

1º Caso: Ann, uma loura atraente e ativa, dotada de mediunidade não exercitada, formada em economia e funcionária administrativa de uma corporação, teve um entrevero muito desagradável com um habitante das sombras, que a deixou fundamente perturbada.

Sentara-se ela para jantar com alguns amigos. Distraiu-se completamente enquanto observava descuidadamente a chama de uma vela; relaxou o tonus muscular e psíquico, como quem entra em estado de passividade. De repente, deu-se conta de uma presença masculina invisível caindo sobre ela. Esta proclamava repetidamente: "Quero um corpo! Quero um corpo!" A última lembrança que conservou foi de ter percebido, em si, ímpetos eróticos, — e perdeu a consciência. Amparada pelos amigos (a Providência Divina nunca falha), estava totalmente desordenada e aqueles apavorados. Contarem-lhe que o seu rosto, subitamente, assumiu aparência masculina e a voz tornou-se a de um homem. Não quiseram, porém, repetir-lhe as coisas medonhas que a voz enunciou! Mas, disseram, ela tornara-se furiosa e deu de quebrar tudo na sala de jantar. O rosto estava sangrando, ferido com profundos arranhões. A coisa, felizmente, durou pouco e a mesma entidade tentou ainda, uma boa meia dúzia de vezes tomá-la à força. Ann descobriu que podia resistir pelo poder da vontade: ele só a invadiria se ela relaxasse e o permitisse. Finalmente, o espirito desistiu e foi-se.

2º Caso: Eu mesmo, estando já há alguns anos trabalhando regulamente em um Centro, tive acomentimento idêntico, conquanto por motivos radicalmente distintos. Era domingo, por volta das 12 h., e estava só em casa, estudando no escritório; ninguém para ajudar-me. Em certo momento, dei de sentir dor de cabeça, que mui rapidamente cresceu de modo assustador. Era uma dor especial, muito aguda, como se alguém estivesse atravessando o crânio com afiada lâmina. Em poucos instantes eu estava quase cego. Só pude pensar que talvez devesse almoçar, dado o avançado da hora, e para a cozinha encaminhei-me Mas, mal enxergando, nada pude fazer lá.

Nesse momento de total anulação (eis, de novo a Divina Providência), vi algo como um letreiro, com os olhos do espirito, que me dizia: "Faça uma prece", coisa em que eu estava absolutamente impedido de cogitar dado o clímax doloroso. Dirigi-me, automaticamente, para a minha poltrona de leitura e lançando a mão desajeitadamente apanhei sem o perceber O Evangelho Segundo o Espiritismo. Foi só abri-lo ao acaso para imediatamente voltar à normalidade habitual.

Que foi um paroxismo obsessivo, não há duvidar por que: 1) nunca tenho dores de cabeça; 2) a ocasião era propícia por estar só; 3) vi um "cartão" com letras sugerindo a prece; 4) o livro sagrado fez a entidade desaparecer num átimo: estava paralisado de dor em um dado momento e no segundo subseqüente já nada mais sentia! Logo, caro

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leitor, há remédio para tudo e não estamos sós. Podes crer: 1 minuto depois almoçava normalmente.

A prova cabal do diagnóstico veio meses mais tarde, quando houve nova tentativa de assalto. Quedava-me só no gabinete de trabalho, lá pelas 11 horas da manhã. Começou a dor, outra vez. Não me impressionei, pois aprendemos com a experiência, e disse alto: desta vez não conseguirás. Entrei em prece pedindo por mim e por ele sintonizando com os meus mentores. De fato, ficou-me ligeira sensação desagradável. Então resolvi dar uma volta pelo Leblon e almoçar por lá; assim, distraí-me completamente e esqueci tudo até hoje, quando estou relembrando como adjutório (ajuda) ao leitor, talvez menos experiente neste campo. O que o espírito queria de mim? Não um corpo físico, apenas afastar-me do serviço ao próximo do aprimoramento espiritual, ou seja, manter o império do mal e da ignorância sobre o orbe terreno; é bem sabido que todo cooperador interessado cai no desagrado das forças das sombras e sofre certa quota de perseguição, que não é inútil como ferramenta para desbastar (aparar) imperfeições.

A modalidade usual é a obsessão crónica, de curso demorado que às vezes se transfere até para outra existência. Darei um paradigma (padrão) referente a uma vítima sem culpa (caso em que não havia má intenção), pelo menos imediata, estudado pelo eminente James Hyslop (professor de Filosofia), e outro relativo a uma vítima com culpa no cartório (caso com malevolência), investigado pelo preclaro Walter Franklin Prince (pastor e psicólogo). Ambos eram sábios de primeira grandeza, mas o leitor interessado deveria procurar as obras notáveis do nosso psiquiatra Inácio Ferreira, infelizmente inacessíveis há longo tempo.

3º Caso: Robert Swain Gifford era um pintor de quadros e Frederico L. Thompson um ourives, ambos norte-americanos; em vida haviam-se avistado apenas duas vezes. Do meio para o fim do ano de 1905, Thompson, que jamais pintara, foi tomado de um irresistível impulso, fortíssimo, de desenhar e pintar quadros. Tal situação tornou-se muito prejudicial à sua profissão de ourives e quase comprometeu sua capacidade de ganhar a vida no seu negócio. Sua vontade, de fato, não mais parecia própria dele. Não demorou a verificar que já não podia trabalhar como ourives porque sempre que o tentava sentia-se nauseado. Tampouco era seu desejo pintar algo em estilo normal: a atividade era acompanhada de numerosas visões vividas de árvores e paisagens que ele se sentia compelido a retratar na tela. Tais alucinações eram tão freqüentes que ele procurou a ajuda do Prof. Hyslop, pois temia pela sua sanidade mental.

As pinturas denotavam alto padrão de qualidade. Quando as produzia. Thompson freqüentemente sentia que ele era Gifford. Em janeiro de 1906, o médium inadvertido viu uma exposição das obras de Gifford e aí descobriu que ele estava morto — 10 meses antes dos seus incríveis ímpetos começarem. Enquanto mirava os quadros, ele ouviu uma voz dizer: “Veja o que eu fiz. Não pode retomar e terminar a minha obra?”

Daí por diante, o impulso e as visões cresceram enormemente, a ponto de o ourives temer mais ainda ficar louco. Hyslop concordava com isto e teve uma idéia: para saber se as alucinações emanavam do pintor falecido bastaria leva Thompson a um médium, que o atrairia. Foram e nada informaram à intermediária sobre os seus propósitos. Contudo, a médium descreveu precisamente o pintor-obsessor; e, logo um grupo de carvalhos, uma visão que vinha perturbando o ourives há tempos. E o espirito esclareceu onde se achava aquela cena, afirmando querer que

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Thompson fosse lá e a pintasse! Este, deveras, acabou vendo vários lugares antes impressos em sua mente.

Outros médiuns foram visitados com idêntico resultado. Em uma destas ocasiões, o espírito disse psicofonicamente: "Pergunte a ele se está lembrado de um incidente quando, estando sobre uma ponte e olhando para baixo, viu pinturas na água semelhantes a reflexos e um grande desejo de pintar invadiu-o? Eu estava lá e o segui durante algum tempo”. Thompson lembrou-se disso perfeitamente: tivera visões de paisagens impressas sobre a água e ficara louco para pintar. Acabou procurando a ilha onde o fato ocorrera e encontrou as cenas projetadas pelo espírito — tendo-as transposto para a tela com o estilo de Robert S. Gifford...

4º Caso: O segundo exemplo é o da senhora Latimer, que, por carta, em maio de 1922, consultou o Dr. Walter Franklin Prince, então gozando de justo renome.

Tal senhora, pessoa de fino trato, estava convencida de que se achava possuída por uma entidade desencarnada. Os fatos passaram-se da maneira seguinte. Um primo dela, conhecido como Marvin, bastante relacionado com ela, morrera há 2 anos. Pouco antes da morte, ela começou a ouvir uma voz parecida, com a dele que afirmava ser mesmo a dele. Tal voz falava-lhe carregada de ódio, afirmando que desejava fazê-la sofrer, pois tinha seus motivos. Durante dois anos, suportou essa voz interior, que era muito angustiante e a fazia sofrer enormemente; a vida tornou-se-lhe insuportavel. Com freqüência, a voz afiançava: "Você fez-me sofrer e, por isso, eu a farei sofrer também". Como não compreendesse as razões dessa afirmativa, pediu explicações e as recebeu. Dizia o espírito: quero vingar-me de certa ocasião em que, ocultamente, a vi escrever uma carta, na qual foi incluída uma observação sobre ele que ferira profundamente os seus sentimentos. Estava ainda magoado. Isto sucedera pouco antes da sua morte. A referida senhora lembrou-se do fato. O primo verberou-a (condenar), ainda, por não ter enviado flores ao enterro dele; de fato, ela havia mandado rosas, mas, verificou depois não tinham sido colocadas em local visível.

A sra. Latimer passava péssimas noites; não raro, acordava aos gritos, pondo a casa em polvorosa. E Marvin advertiu-a não pararia de atormentá-la até que ela fizesse uma "retratação mental", que ela julgava não ser possível empreender conscientemente.

O Dr. Prince emitiu o diagnóstico de paranóia, mudando, mais tarde, com novos casos, para esquizofrenia paranóide (conhecemos já esta expressão...). Ainda não havia tratado caso de delírio de perseguição acompanhado de alucinações auditivas. O pastor-psicólogo resolveu empreender, o que lhe pareceu "um novo método de tratamento", algo completamente diferente.

Embora não estivesse convencido de que um espírito real ali procurasse prejudicar a citada senhora, resolveu "tentar uma experiência nova, baseando-me na crença de que está realmente possuida", asseverou à senhora Latimer. Ela concordou e foi iniciada a psicoterapia, passando a dirigir doutrinações invisíveis de modo ostensivo, no sentido de convencê-lo do mal que fazia a si mesmo. Mostrava à entidade que esta vinha prejudicando a si própria, furtando-se a uma felicidade que poderia obter se esquecesse o mal e procurasse deixar a vitima em paz. Afirmou que ele tinha suas razões para agir e que, ao mesmo tempo, vinha sentindo certa amargura intima. E, afinal: "O senhor está impedindo o seu desenvolvimmento e o seu progresso...” Concitou-o a perdoar tal senhora e a

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transformar o ódio em piedade. E foi por esse caminho, com belo desempenho, não há como duvidar.

Sugeriu ao espírito uma experiência: que tentasse ajudá-la e fazer justiça a ela, que procurasse ser bom, e veria logo “lampejos de felicidade, algo que não sentiu desde que deixou o nosso mundo".

À senhora Latimer, mandou que não respondesse à voz se ela continuasse a atormentá-la. Mas, se a voz mostrasse melhora, que fosse dada alguma resposta. À noite, ela sonhou que estava livre daquele tormento. Em a noite seguinte, sonhou que sua mãe lhe dizia: "ouvimos o que disse aquele senhor; cuidaremos do Marvin; vá dormir". Realmente em anos, não tivera uma noite tão repousante.

O próprio Marvin veio vê-la durante o repouso noturno, limitando-se a ficar observando e sofrendo. Nada disse. A senhora Latimer teve de viajar por algum tempo, sem qualquer piora; a voz emudecera. Por fim, ela mesmo evocou o espírito, dizendo que queria escutá-lo. Ele garantiu-lhe que ia embora, mas gostaria de dar-lhe uma explicação. E discorreu: morrera aborrecido com ela e não conseguira ver-se livre após a morte; mas, agora, ajudado por outros, livrei-me e vou-me para onde devo ir. E, assim, ficou definitivamente curada. Embora se sentisse melhor desde a primeira consulta com Prince e, depois, quase boa, a cura completa levou 8 meses.

Como é notório, no caso do ourives e do pintor, o espírito ocupou o corpo do encarnado sem intenção de fazer o mal — embora o fizesse evidentemente. No caso do primo da senhora, o espírito perseguiu-a movido pelo ódio e desconforto, embora a causa fosse pequena. Em certo número de casos, os seres astrais não conhecem o seu estado de desencarnado, julgam-se vivos na Terra, e, não tendo destino, unem-se por afinidade aos encarnados; o móvel mais comum da aproximação dos espíritos é o desejo de vingança por antigos danos materiais e morais, procurando fazer a vítima atual sofrer o mesmo que antes sofreram e até enlouquecer. Outros praticam o mal pelo mal, para assegurar a permanência dele na face da Terra.

Comumente, uma lesão - como pancada, corte, úlcera varicosa — apresenta-se infectada. A doença não é a infecção; esta é secundária, pois a lesão abriu a via para a entrada das bactérias piógenas (que causam infecção e produção de pus), que apenas se instalaram em um terreno que lhes era propício. Algo semelhante sói acontecer com uns tantos casos de obsessão. Há enfermidades do próprio sujeito que secundariamente atraem espíritos desocupados, levianos, etc., que a ele se ligam e o prejudicam. Temos, aí, a obsessão secundária, mas a obsessão não é a doença principal; outra criou condições favoráveis à infestação posterior, pois o mal atrai o mal tanto quanto o bem atrai o bem. É uma complicação, como, por exemplo, uma complicação pulmonar do sarampo - que pode ser mais grave do que o sarampo, o morbo (doença) primário no caso.

Não há de ser por motivo diferente que, nos Centros Espíritas, é muito grande o número de diagnósticos de obsessão: na mesa mediúnica, mui comumente, comparecem espíritos perturbados relacionados a uma pessoa em atendimento, mas nem sempre se trata de obsessão vera (verdadeira), genuína; muita vez, ela é apenas superveniente (que vem depois de outra coisa). Dilucidar (elucidar) esse aspecto da questão tem mais interesse acadêmico do que prático, mas não pode ser ignorado quando o problema é analisado de um ângulo científico.

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Apresento, na seção relativa a tratamento, três observações recolhidas no meu próprio trabalho, agradecendo a cooperação amistosa e desinteressada dos membros da equipe. Vejam lá, para encerrar esta parte conceitual do estudo da obsessão.

b) Presença na literatura não espírita

A literatura está repleta de relatos, sob diferentes interpretações, em que se reconhece facilmente a obsessão. Livros de medicina, Psicologia e de Parapsicologia referem, sob outras interpretações, uma legião de casos típicos, cujos detalhes não permitem dúvidas quanto à origem e mecanismo. O seguinte exemplo é particularmente valioso porque foi relatado pelo famoso psicanalista E. H. Erikson (Infância e Sociedade, Zahar ed. RJ, 1971), naturalmente de um ponto de vista diferente do nosso.

5º Caso: Erikson estudou o caso de um menino de 5 anos que “sofreu uma mudança de personalidade", transformando-se, de bonzinho que era, em "uma criança violenta, obstinada e desobediente. O sintoma mais alarmante era um irreprimível desejo de provocar incêndio". Aos 5 anos de idade...

Os pais dele estavam separados, vivendo a criança com a mãe. O pai pertencia à força aérea, tendo sido declarado herói durante a guerra; todos o louvavam. Em sua primeira licença veio visitar o filho. Em seguida, morreu em combate.

Justamente desse evento data a modificação do menino. “Afetuoso e dependente, manifestou progressivos sintomas inquietantes de destrutividade e desafio que culminaram na vocação de incêndios". Um dia, ao levar uma sova da mãe, apontou para uma pilha de lenha que inflamara e exclamou: “Se fosse uma cidade alemã você gostaria de mim". Estas palavras, aos 5 anos, caracterizam a obsessão: quem falava pela boca do menino era o espírito paterno, inconsciente da posição, julgando-se ainda vivo. Daí procede a mudança de caráter do garoto.

O psicanalista interpreta o caso como devido à identificação do filho com o pai – “ao provocar incêndios, fantasiava pilotar um avião de bombardeio como o pai, que lhe havia contato suas proezas". Ora, a verdade é que o menino mudou de repente, logo após a morte do pai, e tornou-se parecido com este... O que houve foi que o espírito paterno, desorientado pela morte súbita em estado de furor belicoso, uniu-se automaticamente, em virtude da sintonia, à organização magnética do filho e passou a comandar seus pensamentos e atos.

6º Caso: Eventos dessa índole se revelam demasiadamente disseminados. Eis um dos mais bem caracterizados casos, explanado pelo conhecido psiquiatra francês H. Baruk (Psychiatrie Moral et Expérimentale, Individuelle et Sociale, Presses Univ., Paris, 2.a ed., 1950), cuja experiência e capacidade são muito profundas.

Fala-nos de um doente mental, de índole afetuosa e sensível, impregnado de Cristianismo, que sente sua alma, em certos momentos, tomada de uma "rigidez de aço"; tudo o deixa impassível "como este muro", seria até capaz de "degolar pai e mãe". É uma impressão de endurecimento da sua personalidade "que se acompanha em certas ocasiões, de sentimentos de influência e do que se chama de fenômenos de médium e fenômenos de transe (impressão de ser desmaterializado, pressão de ter em si uma força imensa, infinita, duma potencia sobrenatural que subjugou sua vontade e que ele crê ser Deus)". Vê-se aí, nota Baruk, um homem amável e caridoso "tornar-se bruscamente de uma secura e

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dureza extrema" com profunda aversão pelas mulheres, neste estado. Além disso, ele mesmo menciona a influência espiritual inferior que sofre, coisa rara. Ao demais, nos momentos de crise descritos, “ele grita, salta, parece violento e às vezes hostil; depois, algumas horas passadas, tudo volta à ordem". Taís dados de auto-análise decorrem de ser o enfermo inteligente e culto, além de religioso. E interessante, para o nosso diagnóstico, a observação do psiquiatra de que o paciente "durante longos períodos apresenta comportamento sensivelmente normal". O seu estado não mudou em mais de 9 anos de observação.

7º Caso: Lin Yutang, o célebre escritor chinês, no romance Momento em Pequim, descreve um caso absolutamente típico de obsessão. A rica senhora Yao, sabendo que o seu filho e uma criada dita Tela de Prata estão de amores, tendo esta já um filho daquele, resolve confiscar o neto alegando que é do seu sangue e que deve ser educado à moda da família. Manda raptá-lo e trazê-lo para sua casa. Tela de Prata quase enlouquece de dor, larga-se no leito e deixa de comer. O jovem pai associa-se-lhe na dor, mas nada pode fazer contra o poder materno. A infeliz mãe logo se enforca. O rapaz, cheio de ódio amaldiçoa a mãe, prognosticando que o "espírito de Teia Prata há de perseguí-la e atormentá-la até o fim dos seus dias”. Acertou plenamente. Logo, a velha matrona entra a deperecer física e mentalmente. Vive triste, apavorada, enfraquecida, os cabelos branqueiam, tem o sono agitado, dizendo que o espírito da suicida a perseguia de fato. Chorava à toa. Foram consultar "uma feiticeira que invocava os espíritos dos mortos, permitindo-lhes comunicar-se com os vivos". As coisas pioraram para a doente: veio Tela de Prata e ordenou-lhe “que tratasse bem do seu filhinho" (ela, uma criada chinesa ...). Contudo, a velha Yao ganhou com a dor: tornou-se boníssima. Por fim, perdeu a voz e passou a viver na cama; o exorcismo nada adiantou — entorpeceu-se-lhe a mente... Vê-se, daí, que o fenômeno é universal e não peculiar ao Espiritismo.

8º Caso: Santo Antão foi celebérrimo santo católico. Viveu no deserto existência muito longa. Durante os anos iniciais, lutou denotadamente com o "demônio". Via espíritos para todo lado! Apareciam-lhe tentações lúbricas(senduais) da pior espécie. Quem o visse vociferando e gesticulando com o ar vazio, haveria de tê-lo na conta de um velho louco prenhe de alucinações, pois via espíritos dia e noite. E, contudo, Antão era, deveras, forte na vontade e na fé em Cristo. Acabou vencendo em toda a linha e vivendo como um exímio santo. Santo Agostinho (A Cidade de Deus) conhecia o fenômeno obsessivo. Fala do poderio dos espíritos sobre as mentes humanas e observa que até crianças estão sujeitas aos espíritos maus. E menciona o mecanismo: o demônio só submete aquele que tem alguma semelhança com ele — o desejo é que abre a porta ao diabo... A tentação, dizia, é que ensina ao homem a conhecer-se, pondo às claras o que estava oculto dentro dele. A tentação mostra o que somos e, como tudo o mais, exibe um fim providencial, digo eu completando a lição.

3. Obsessão múltipla — Em muitíssimas instâncias, há mais de um

obsessor zurzindo o pobre encarnado. Isto é dito frequentemente nas sessões mediúnicas para tratamento do mal em tela: "eu não estou só, não; há outros lá comigo", etc. Aqui, porém, vão dois exemplos de numerosas entidades obsessoras que atuam em conexão, seguindo um plano preestabelecido e manifestando-se, cada uma; de quando em quando, umas mais, outras menos. A Psicologia chama tal fenômeno “personalidade múltipla", admitindo que o próprio paciente, inconscientemente, cria quejandas (quem tem a mesma natureza ou qualidade),

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criaturas, as quais, no entanto declaram-se formalmente distintas entre si e individualizadas, dando, ao demais, evidentes provas disso.

9º Caso: O caso de Sybil não será referido (com suas 19 personalidades que se manifestam pelo corpo daquela moça) porque H. C. Miranda apresentou (Reformador, 92, n. 3, 1974) competente resumo do livro da médica (psicanalista) que tratou, durante cerca de 11anos, e curou a jovem psicótica — que era médium de um grupo inconsciente do seu estado espiritual. Nesta instância, ficou patente que era tarefa (e obrigação) de Sybil cuidar deles pacientemente e com tolerante boa vontade; e, de fato, ela suportou inúmeras situações penosas, incongruentes e até perigosas, armadas pelos espíritos durante a posse do seu corpo; quando desincorporavam, por vezes, a pobre Sybil estava em palpos de aranha com os atos realizados em inconsciente, cujas conseqüências tinha de enfrentar ...

10º Caso: Importa-nos mais o que sucedeu a Barbara O´Brien (A Vida Intima de uma Esquizofrênica, Imago Ed., 1972), perseguida por alentada falange que ela mesma declara ser alucinação do inconsciente. Diagnóstico psiquiátrico: esquizofrenia paranóide (procurem esta expressão em citações anteriores).

Um dia, sem mais nem menos, deu de cara com o grupo instalado no seu quarto de moça solteira, vendo-os como pessoas de carne e osso. Gente esquisita. Durante 6 meses conviveu na intimidade deles. Magna era a habilidade e calculada a não menor perversidade deles para apavorá-la. Contudo, ninguém notou que estava "louca" por que eles a fizeram viajar sem parar pelo País. Típico é que no meio dessa quadrilha (ela mesma os apelida de "bandidos") apareceu um espírito protetor, que se dizia "Vovó", o qual, mui cautelosamente, procurava orientá-la sem dar-se a perceber aos malfeitores. Não há quem esteja sozinho, com efeito.

Para positivar a maldade fria, basta referir que os obsessores, logo de começo, no primeiro colóquio com Bárbara, estabeleceram uma distinção muito adequada aos seus propósitos: ela era uma "Coisa" e eles, "Operadores". Coisas, explicaram, são pessoas de vontade fraca, fáceis de dominar, que obedecem aos seus Operadores, já que estes são obsessores especializados em manejar pessoas, ou seja, têm a mente capaz de penetrar e dominar as outras, podendo ser encarnados ou desencarnados. Declararam poder ler os seus pensamentos sem dificuldade, isto era banal para "qualquer Operador que estivesse sintonizado" — verbo espírita tradicional. Podiam, também, injetar pensamentos nela à vontade, governando o seu comportamento. Vejam só! É o que a realidade mostra freqüentemente.

A moça assevera: "Em nenhum ponto havia compaixão ou sentimento de responsabilidade pelas Coisas". Por que? E explicaram os algozes:

Primeiro, as Coisas exploram tudo o que podem: “não há nada mais cruel do que uma Coisa" (olhem quem o diz!). Segundo, "uma Coisa pode ser influenciada principalmente porque deseja dinheiro e poder" (e não é mesmo?); o grande caso é que os Operadores também os querem! Eis aí a causa da obsessão não-vingativa, por sintonia com o plano inferior —a lei de ação e reação, ou causa e efeito.

Em suma: "as Coisas poderiam ser motivadas para ações horríveis por razões cruéis"; muitos eram os elementos malévolos no relacionamento entre Coisas (encarnados subjugados) e Operadores (desencarnados verdugos). Diz um destes: "as Coisas quase não conseguem pensar; a maioria delas simplesmente segue padrões que algum Operador cuidadosamente cultivou em suas cabeças" (leiam Libertação, de André Luiz). O reverso da medalha é este: eles, igualmente, estavam sujeitos a regulamentos e vontades superiores, piores do que as deles próprios — "os Operadores saqueiam uns aos outros" e tem de obedecer os mais

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poderosos. Vejam que essas "alucinações" de Barbara, na qualidade de criações dela mesma (“fantasias bem organizadas" do inconsciente), além de dominar a mente e fazê-la demente, ainda apresentavam "nítidas indicações de orientação e planejamento" que "persistiam em salientar-se”. Já no primeiro dia da sua aparição haviam os espíritos "esboçado o quadro das coisas que viriam".

O livro é um valioso relato, detalhado e ao vivo, de aspectos do mecanismo da obsessão, enriquecendo as obras existentes. Seis meses passados, os seres do Além desapareceram para sempre. Mas, a moça precisou de mais 3 meses para voltar ao normal — pois sua mente, livre dos intrusos, ficou vazia e seca". Notáveis "alucinações", cheias de vida e de mitos peculiares! Por fim, ela assinala que a orientação “gentil e protetora" fez com que sempre lhe aparecesse o melhor, de modo a não haver prejuízos fatais. E continuou a viver com novas idéias sobre o mundo e a vida, sem envolver-se na áspera competição da chamada luta pela vida (que descreve à perfeição). É bem de ver que as alucinações merecerão a nossa atenção mais do que é usual!

NOTA — Acabamos de apreciar o ciclópico (enorme) desprezo que os espíritos voltados para o mal dedicam aos seres humanos, meras coisas sem qualquer valor e submetidas ao seu poder. Tal se ouve comumente nas sessões de doutrinação. Todavia, é curioso que, há uns 200 anos, Swedenborg já assinalava o fato por si mesmo. Esclarece que os maus espíritos que estão na companhia de um homem consideram-no "but as a vile slave" (simplesmente como um mísero escravo) e o conduzem para onde quer que desejam, passando-lhe seus desejos e pensamentos. Atentem para a concordância: A. Luiz — B. O'Brien — Swedenborg. Já os "anjos", informa este, consideram o homem como irmão e só lhe transmitem o bem e a verdade, conduzindo-o, com liberdade, para onde agrada ao Senhor e não para onde querem eles próprios.

c) Causas da Obsessão

A causa fundamental da influência obsessiva reside nas imperfeições que o espírito alimenta ao se desviar do rumo evolutivo traçado pela lei de amor e justiça de Deus. Temos procurado compreender os princípios e normas desta lei, que rege o Universo como pensamento e vontade do Criador. A influência ou dominação decorre sempre do mau uso da liberdade de pensar e de agir. A vitima sempre consente no assédio ou por fraqueza ou por desejá-lo. Em todos os casos ela presta o seu concurso ao obsessor. No primeiro caso, o sujeito perdeu a capacidade de reagir por ligar-se ao mal. No segundo, gosta de uma dependência que lhe lisonjeia os desejos, o orgulho, o egoísmo, a vaidade, etc. Por conseqüência, entregou-se voluntariamente à ligação mental perturbada.

As causas especificas, que atuam imediatamente no espírito levando-o à submissão doentia, são duas. Pode-se resvalar aos poucos para a influência maléfica pela invigilância; ou rapidamente, nutrindo paixões, vícios e crimes.

4. A invigilância é o modo de viver descuidado, no qual não prestamos atenção ao que pensamos e fazemos, de modo a permitir certas inclinações crescerem à vontade, sem exame critico. Segundo Emmanuel e Scheila, pela mão de Francisco C. Xavier, a obsessão torna-se um perigo provável sempre que permitamos se torne um hábito:

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1) A cabeça e as mãos desocupadas; 2) A palavra irreverente; 3) A boca maledicente; 4) A conversa inútil e fútil, prolongada; 5) A atitude hipócrita; 6) O gesto impaciente; 7) A inclinação pessimista; 8) A conduta agressiva; 9) O apego demasiado a coisas e pessoas; 10) O comodismo exagerado; 11) A solidariedade ausente; 12) Tomar os outros por ingratos ou maus; 13) Considerar o nosso trabalho excessivo; 14) O desejo de apreço e reconhecimento; 15) O impulso de exigir mais dos outros do que de nós mesmos; 16) Fugir para o álcool ou drogas estupefacientes.

Agora, mais do que um perigo, a obsessão já estará em desenvolvimento

quando (M. P. de Miranda, Nos Bastidores Obsessão, FEB, 1970):

1. Surgirem idéias fixas torturantes que interrompem o curso dos pensamentos próprios, difíceis de afastar da mente.

2. Sentir a vontade dominada por outra vontade, estranha e invisível. 3. Experimentar inquietação crescente sem causa aparente. 4. Forem excitados desejos fortes além do habitual. 5. Emergirem impulsos adormecidos, mais ou menos inconscientes. 6. Aparecerem indisposições agressivas contra alguém sem motivo

patente.

Em tais circunstâncias, o recomendável é tratar de recorrer à prece e de por mãos à obra para renovação da mente.

As paixões são moléstias (hipertrofias) dos sentimentos e necessidades do espírito. Apresentam-se como estados afetivos intensos e duradouros. Admite-se que às vezes uma paixão seja útil, levando o indivíduo a grandes feitos nas artes e na política, por exemplo. Contudo, não são para ser estimuladas. Paixões significam apego excessivo a pessoas, objetos, instituições e causas. São aberrações mentais e sentimentais; levam à guerra e ao crime. O sujeito apaixonado por uma mulher, pelo poder, pelo ouro, pela bebida, pelo jogo, etc., é capaz de tudo para satisfazer-se. Uma paixão por pessoa ou objeto pode estabelecer uma fixação mental capaz de prender o espírito até por séculos numa posição de desequilíbrio em que o seu pensamento revoluteia continuamente em torno dela ou dele; nada mais lhe interessa, passa o tempo, o mundo transforma-se e ele com a mente ocupada pela idéia fixa referente ao passado distante. A renovação é a própria essência da vida do Espírito, que é forçado a viver no meio de suas criações.

Os vícios como alcoolismo e drogas, aberrações sexuais e jogo, não diferem muito dos estados passionais. E, afinal, o crime comumente liga-se a tudo isso; é o prejuízo deliberado ao próximo, que procurará vingar-se, criando a cadeia do mal. Comumente, o móvel da obsessão é o violento desejo de vingança por antigos malefícios sofridos: a vítima passa a verdugo.

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5. Em todas as eventualidades analisadas, o que ressalta notável, servindo de

base ao processo obsessivo, são sentimentos inferiores ou mórbidos (egoísmo, orgulho, hostilidade e vaidade), pensamentos malévolos, ambições excessivas e impulsos criminosos. Esse tipo de afetividade já foi apontado ao tratarmos das desordens mentais e veremos agora mesmo que a obsessão é sobretudo tal coisa.

d) Efeitos

6. Instalada, a obsessão, deve ser considerada primariamente como uma forma de demência, uma psicose. As funções mentais alteram-se pela ação intencional ou inconsciente de outra mente; a razão declina, a vontade enfraquece, os sentimentos deterioram-se, os hábitos mudam, etc. Eis porque os manicômios estão cheios de obsedados, em dura provação, tratados como loucos genuínos. O doente pode tornar-se um autômato, dizendo-se "bananeira", "relógio", "leão”, pode beber sem querer, etc. Na forma denominada licantropia, que deu origem à lenda do lobisomem, adota posturas animalescas e declara-se cão, lobo, lobisomem, etc., por sofrer intensa sugestão mental após prolongada hipnotização por parte de entidades perversas e vingativas. Provoca ainda a obsessão, instabilidade emocional, razão de choro, raiva, riso, ansiedade, apatia e fúria, sem motivo aparente, bem como sentimentos de culpa.

Alucinações — Já as estudamos antes entre as consequencias dos desequilíbrios psíquicos. Constituem capítulo particularmente importante nas psicoses e obsessões. Estamos a par do que são e de que podem ser produzidas por substâncias químicas. Denizard Souza, professor em Santa Maria, RS, estudou comparativamente as alucinações em um grupo de doentes mentais (20) e outro de dotados paranormais (20) confrontando-os com as alucinações deflagradas por drogas alucinógenas (LSD, maconha e mescalina).

Os psicóticos, em tratamento psiquiátrico, foram observados quando estavam recebendo tratamento espírita: desobesessão e desenvolvimento das faculdades parapsíquicas (mediunidade). Todos exibiam alucinações visuais e auditivas. Onze curaram-se (55%) e 6 ficaram sem sintomas, embora ainda em tratamento (total de ambos: 85%). Três continuaram sintomáticos. As alucinações dos 17 melhorados foram consideradas como faculdades paranormais e, assim, postas a desenvolver; chegaram a ser médiuns 15 (75%), dos quais 3 ainda em tratamento psiquiátrico; 4 dos curados foram-se; só 1 abandonou o grupo e foi internado alhures. Sete casos esquizofrenia!

Dos 20 médiuns, apenas 1 (diabético) mostrou anormalidades no eletroencefalograma. Contudo, médiuns tão seguros e elevados quanto F. C. Xavier podem apresentar anomalias eletroencefalográficas; no caso do magnânimo Chico: disritmia, desacompanhada, manifestamente, de qualquer remoto sinal de distúrbio anatomofuncional.

Estabeleceu Denizard Souza a "grande semelhança” entre o fenômeno alucinatório observado nos psicóticos, nos intoxicados e nos médiuns em função. Diz ele: "O estado alucinatório desorganizado dos psicóticos passa a um estado organizado quando eles são submetidos a um desenvolvimento das suas faculdades paranorrnais. Na proporção de 75%, os enfermos que sofreram tal orientação voltaram às condições normais".

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Delírio de influência — O citado psiquiatra francês H. Baruk estuda particularmente este aspecto da sintomatologia subjetiva, que está muito relacionado às alucinações. Uma das preocupações essenciais do homem é o receio de perder a identidade, de ser submetido a uma dominação subterrânea ou influências que o dissociem (cf. Sybil e Barbara). Este medo cresce de intensidade no curso dos desequilíbrios mentais vindo a ser fonte de "muitos delírios de influência". Nestes delírios, a vítima queixa-se da ação de inimigos — frequentemente espíritos ou o diabo! O fato é notório.

Muitos doentes têm a impressão de estar sufocados e amarrados por fios elétricos, que os isolam e impedem de receber simpatia dos demais. Ouvem e entendem as palavras, mas não percebem os sentimentos que fazem com que notem estar em comunicação com alguém. Experimentam-se como se já fossem senhores de si, como se fossem agarrados, dominados, esmagados por um sistema elétrico que os encerra em si mesmos, que põe massa de fósforo nos canos do banheiro... Outros vêem máquinas que registram os seus pensamentos e, assim, os controlam. Existe quem julgue receber, no cerebro, aparelhos de controle ou sinta que lhe retiraram parte especial para que não pense direito. Doentes há perderam a noção ou o sentimento do funcionamento da mente; acham que não têm personalidade nem cogitações — pensam e falam, mas lhes parece não existir nem idéias nem palavras: levam a impressão de estarem descerebrados, mortos...

O catatônico (que sofre de uma forma de esquizofrenia), por exemplo, cuja vontade está paralisada, julga que isso sucede devido a uma intervenção sobrenatural: a ação de Deus, ou do demônio, ou dos seus inimigos, ou de ondas elétricas ou de venenos. Os obsessores ameaçam realizar certas operações e o sujeito acredita; a Bárbara, disseram que iam "raspar-lhe a grade", o que a impediria de pensar e ela acabou crendo piamente nisso. Que os espíritos estavam no catatônico prova-se pelo fato de, estando inerte, levantar-se de um golpe, atacar um companheiro e logo voltar à primitiva rigidez; num período de remissão, podia cometer furtos e maltratar outrem enrubescendo depois de vergonha ao inquirido. Logo, tais impulsos maus estão fora de uma vontade impotente e mostram o quanto ele estava dividido. Depois de curado, um paciente desses explicou "que agia sob ordens": uma força extraordinária impulsionava sua vontade a agir. Está bem configurada a atuação de agentes inteligentes exteriores. Caso não fosse assim, como recuperar subitamente os movimentos para fazer o mal e recair depressa na imobilidade? Como ficar completamente curado mais de 20 anos depois? E não o ficaram Sybil e Barbara, aquela com a Psicanalise, esta sem nada?

E que dizer do enfermo dócil que entra em acesso furioso toda vez que vê a mãe? Anos depois, isto passou e recebia mesma. Mais tarde, outro delírio: descobriu descender de personagens bíblicos...

Quejando delírio de influência é bem conhecido na Psiquiatria. H. Ey et al. assinalam, no grande Tratado de Psiquiatria, que nas crises de depressão surgem "idéias de influência de dominação e de possessão", com sentimentos de depreciação moral: os pacientes sentem como se o seu espírito estivesse vazio, sem vontade, inerte. "Às vezes, crêem-se influídos, possuídos (demonopatia) ou habitados por um animal (zoopatia)". André Luiz (Libertação) mostra, bem a propósito, como pela sugestão repetida, uma poderosa mente malévola faz uma fraca culpada sentir-se (e assumir os ademanes (comportamento ou gesto) de) uma loba...

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R. D. Laing (Insegurança Ontológica, em T. Millon, Teorias da Psicologia) observa que há séculos se conhece o fenômeno de o indivíduo parecer o veículo de outra personalidade, estranha. Tal personalidade parece "possui-lo" e encontrar expressão através de suas palavras e ação, enquanto a personlidade do próprio "perde-se ou desaparece" temporariamente. Vai até a "extrema aflição da pessoa que se vê sob a compulsão de assumir as características de uma personalidade que talvez odeie...” O fenômeno leva à ruptura do senso de identidade quando é compulsivo e contraria a vontade da vítima. Mesmo no caso de moléstia mais orgânica do que psíquica pode haver essa impressão de ser atingido de fora. Eis o que expõe M. J. Martin, 1978, sobre os fatores psicogênicos nas dores de cabeça:

"A cefaléia está geralmente associada a outros sintomas e é muitas vezes descrita de maneira delirante. Esses pacientes podem atribuir suas dores de cabeça a influências externas, como alguém que tenha o controle dos seus processos de pensamento ou por estarem sendo influenciados por toxinas externas.”

Agressões ao corpo físico— Pode ser lesado pela longa permanência dos obsessores ou pela transmissão das lesões que eles conduzem no perispírito, em virtude da íntima sintonia com o paciente. Sugestões de estar doente, de morrer em breve, são vulgares. De repente, o sujeito entra a pensar que sofre de câncer do pulmão; após o despistamento pelo médico mete-se-lhe pela cabeça a dentro a idéia fixa de que padece de efisema: nova consulta... Depois, cardiopatia...Sintomas típicos são: enfraquecimento geral, perda de forças, inapetência, emagrecimento, anemia, fadiga fácil, etc. A. Luiz denomina vampirismo ao ato de absorver fluidos da vítima, reduzindo lenta e progressivamente, de modo inexorável, se não houver atendimento adequado, o vigor da mesma; além de com os fluidos revitalizarem os seus perispíritos enfraquecidos, também alimentam a sensualidade (ver adiante).

7. Os espíritos interferem também nos sonhos, para o bem e para o mal. Instrutores ensinam e amigos advertem. Ao lado disso, inúmeros pesadelos são produzidos pelos discúpulos das sombras. Alguém sonha que teve uma entrevista com um morto a quem ofendera certa feita. Acorda suando frio e tremendo, o coração disparado (ansiedade). Passado o susto, atribui sorridente o fato a um jantar indigesto. Na realidade, houve um acerto de contas no baixo mundo espiritual, para onde o sonhador foi atraído e encontrou o outro. Alguém sonha com cenas terrificantes, das quais quer fugir sem conseguir; lá esteve ele, realmente, sofrendo em espírito uma experiência penosa.

Concluindo, nem tudo quanto pensamos, dizemos ou fazemos pertence inteiramente à nossa individualidade, o que, contudo, não retira a responsabilidade envolvida. E isto porque, se outros têm ingerência nos sucessos, a cada um deve-se o ter criado as condições necessárias para que eles tivessem lugar: há liberdade suficiente para opor a vontade ao que parece errado.

e) Modalidades

A despeito dos esforços de Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, e das elucidações de André Luiz, em várias obras, bem como de I. Ferreira, em Novos Rumos à Medicina e A Psiquiatria em Face da Reencarnação, de Divaldo P. Franco, em Grilhões Partidos e Nos Bastidores da Obsessão, de Yvone A. Pereira, em Dramas da Obsessão, de Celestina Lanza, em O Espírito das Trevas, de Celso Martins, em A Obsessão e o seu Tratamento Espírita, v. gratia, a obsessão

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continua sendo um assunto de apreensão difícil e sobre o qual há muita imprecisão entre os que lidam com ela; opiniões e tratamentos mostram-se altamente discrepantes. Isto prende-se às vastissimas relações dos espíritos envolvidos entre si, que podem cobrir várias existências e ao enorme campo de ação da mente sobre o corpo físico. Há, portanto, uma multidão de aspectos a considerar, atingindo um grau de complexidade superior às possibilidades humanas — que leva, em conseqüência, a uma simplificação artificial do problema vítima-algoz. A seguir, explanaremos o essencial sobre os tipos de obsessão que se podem identificar e definir com a exatidão requerida.

1º) Atração por sintonia com o plano inferior. Toda vez que o encarnado se deixa dominar por pensamentos viciados e sentimentos inferiores, a lei de afinidade moral faz com que se estabeleça íntimo relacionamento com entidades dotadas de idêntico padrão vibratório. Isto já estudamos (11.a). Sucede que inúmeros espíritos dedicam-se à manutenção e propagação do mal, não perdendo oportunidade de influenciar os que se harmonizam com eles. Além disso, outro motivo importante é o vampirismo, a operação consistente em absorver forças do hospedeiro terreno. Desse contato resulta que as inclinações e impulsos do encarnado são multiplicados, mantendo-se ele indefinidamente nas baixas esferas evolutivas.

2º) Influência recíproca de encarnados e desencarnados perturbados. É o

que anteriormente denominamos obsessão bidirecional (11 e segs.): troca de pensamentos, sentimentos e emoções transviados e desordenados, entre encarnados e desencarnados afins. Vibrações de ódio, ressentimento, mágoa, desânimo, maledicência, etc., unem os espíritos de ambos os planos. Não há intenção maléfica, pois, os desencarnados são geralmente parentes e amigos cuja consciência está embotada e que pertencem ao mesmo nivel mental.

Vejam o que foi exposto antes sobre contaminação fluídica (17, n. 5); nesta, os espíritos, embora desconhecidos unem-se aos encarnados pela afinidade ou por ligações cármicas inaparentes (não aparente), etc. Em tais circunstâncias, é preferível falar em obsessão passiva, visto que a entidade não empreende nenhuma ação hostil motu proprio contra o seu hóspede; prejudica-o passando-lhe fluidos deletérios, pastosos e escuros, por osmose...

3º) Sugestão hipnótica durante o sono. Nesta variedade, o indivíduo, durante

o dia, parece ativo e normal, mas tem a vontade dominada pelas sugestões feitas pelo obsessor durante o sono. Este aproveita as horas livres para exercer sua nefasta influência, considerando a estreita sintonia entre ambos. Durante o dia, as sugestões emergem no consciente sob a forma de impulsos e pensamentos que o obsedado obedece como se fossem seus. O indivíduo é um autômato crendo ser independente. Vejam a senhora que se indispôs com o marido por questões secundárias; durante a noite, entretém-se no umbral com os "seus amigos", que a aconselham constantemente a abandonar "aquele miserável indigno das suas atenções". Cada dia está menos disposta a tolerar as pequenas coisas que lhe desagradam. E o cavalheiro disposto à auto-reforma que à noite recebe sugestões menos dignas no sentido de certas inclinações suas; durante o dia, encontra grandes dificuldades em manter a conduta dentro dos padrões de dignidade cristã. Só a vontade firme pode superar essa atuação disfarçada. Até ações físicas e desastres são produzidos por esse mecanismo. Y. Pereira (Devassando o Invisível)

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relata curiosa experiência pessoal nesse sentido. Estava em visita a um grupo de espiritos votados ao mal dos semelhantes, num botequim, em companhia de um guardião elevado. Um desses seres, desagradando-se dela, entrou a repetir: "estás com o braço quebrado". "serás atropelada amanhã", "olha o teu braço, quebrou-se". E dona Yvone começou a sentir fortes dores no braço (fluídico) que parecia realmente fraturado. Foi preciso que o guardião interviesse... Agora, vejam. Se o sujeito comum, sem guardião especial, recebe tais ordens, no dia seguinte acordará predisposto a sofrer o acidente, pois elas estarão agindo no inconsciente; escapará se cortar a sintonia ou se a Lei protegê-lo.

4º) Dominação telepática. Fenômenos telepáticos estão envolvidos -na

obsessão de maneira muito geral. Aqui, porém, faz-se referência mais específica à ação telepática de encarnados e desencarnados sobre um outro, quando está em sintonia vibratória (relação fluídica) com eles. Ele recebe pensamentos, emoções e sensações, padecendo não raro terríveis angústias sem compreender o que se passa. Acontece nos lares, escritórios, etc., onde antigos inimigos se reencontram mantendo as aversões e fugindo ao reajuste; e envolve ódios e vinganças. Basta que o indivíduo emita silenciosas vibrações na direção de outro que se relaciona com ele, pensando e sentindo contra ele. Chega ao ponto de a vítima ver imagens alucinatórias ligadas ao emissor, mesmo vindas de longe; a esposa pode-se ver cercada pela imagem da amante do marido, se não despolui a mente expulsando a hostilidade e a mágoa: o marido é que está sob dominação telepática mas a esposa deixa-se atingir pelo pensamento inferior. Só a elevação do padrão vibratório cortaria a ligação com a mente perniciosa, mediante o perdão e a fraternidade operante.

5º) Influência sutil. Temos aqui uma maneira discreta e imanifesta de minar as

energias de um encarnado. O malfeitor, às vezes há bastante tempo, observa a futura vítima aguardando um momento favorável para aproximar-se dela e influi-la prejudicialmente. Não quer ser acintoso e percebido. Fá-lo quando a invigilância momentânea abre urna entrada nas defesas pessoais. Sem causa aparente o sujeito começa a experimentar depressão mental e dificuldades súbitas: não consegue ficar alegre, está tristonho e cheio de apreensões, enche-se de irritação surda e pensamentos deprimentes, não pode ler assuntos edificantes, nem orar, julga-se vítima, etc. Daí podem surgir desavenças, fracassos e aborrecimentos variados. Tudo passa em deixando o indivíduo a lastimar-se por suas atitudes “incompreensíveis”... Quando começar a ficar azedo sem motivo patente, cuidado com a obsessão sutil, momentânea.

6º) Mediunidade perturbada. Na obsessão, sempre é possível invocar a

mediunidade, mas aqui ela é específica. Como apreciamos antes, os espíritos imperfeitos "abrem” o canal mediúnico. O aparecimento da mediunidade costuma-se acompanhar de muitas perturbações, que permanecerão se não houver medidas adequadas ao desenvolvimento; é preciso disciplinar a mediunidade para que produza trabalho benéfico. Dada a condição inferior da Terra, os médiuns incipientes têm sempre espíritos sofredores, inconscientes ou vingativos, aderentes ao seu campo magnético. Assim, mediunidade iniciante e obsessão andam unidas pelo menos durante certo tempo e até a vida toda. Além disso, o médium poderá ser iludido ou seduzido, de modo persistente, pelo espírito "superior" que se diz

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seu "guia", etc., pelo que a obsessão pode-se tornar um obstáculo ao exercício produtivo da mediunidade.

7º) Imantação pela cumplicidade ou conivência. Erros e crimes cometidos

em conjunto unem os espíritos na cadeia do mal (causa e efeito). Quando um dos sócios delibera melhorar-se e reencarna para cumprir o programa de provas e provações necessárias a isso, o outro ou outras dicordando, entram a persegui-lo para que não se liberte e ascenda. Querem mantê-lo tão inferior e infeliz quanto eles próprios são. Paixões intensas fazem o mesmo, encadeando espíritos perturbados; se um volta à carne, o outro procura aderir a ele e prejudicá-lo seja como for.

8.°) Vingança. O desforço pessoal — "fazerjustiça pelas próprias mãos" — é a

grande causa de obsessão e da pior espécie. Aquele que foi vítima aparentemente frágil e indefesa, uma vez posto em liberdade pela morte do corpo físico, na maioria dos casos empreende severa perseguição contra o antigo carrasco. Pode durar mais de uma vida, criando uma cadeia de erros. O próprio "justiceiro" sofre muito com a situação e a encarniçamento contra o seu inimigo não lhe traz a alegria que esperava colher.

9º) Obsessão entre vivos. Comumente, pessoas ligadas por sentimentos

enfermiços ou necessidades neuróticas criam laços de dependência que chegam a uma como perseguição do outro. Mães super-solícitas, dominadas pelo impulso de domínio, tanto andam atrás de um filho que este acaba não raro quase manietado; de 5 em 5 minutos chamam-no para saber "se está tudo bem"... Pessoas dominadoras e pessoas morbidamente dependentes mantêm relações que não discrepam daquelas existentes entre obsessor e obsedado; o ciúme compulsivo não foge disso e assim por diante.

10º) Obsessão coletiva. Talvez hoje não haja casos manifestos de uma turba

de entidades votadas ao mal cair sobre uma pequena comunidade, levando os seus membros a cometer desatinos. Mas, já houve vários exemplos no passado. Citam-se os convulsionários dos antigos conventos europeus, freiras e frades que caíam de repente em contorsões, aos grupos. Aqui, no Brasil, houve um caso típico em Pedra Bonita, MG, entre 1836 e 1838. Um homem obsedado pregava que havia um reino encantado que, banhado o solo com sangue humano, seria desencantado e ofereceria grandes riquezas. Conseguiu atrair ao local cerca de 300 pessoas falando-lhes, em tom místico, dos tesouros; a ignorância e a cobiça fizeram o resto. O relator do episódio esclarece que o chefe disso pudera "mergulhar aquela turba numa espécie de delírio ou embriaguês continuada" — isto é, na obsessão. As pessoas ofereciam os próprios filhos para o sacrifício e algumas suicidavam-se, dando em resultado a morte de 53 em dois dias e meio! Um dos seduzidos conseguiu escapar e avisou pessoas gradas das redondezas que, indignadas, puseram fim à loucura coletiva pelas armas, salvando ainda uma porção de coitados.

2. Kardec distinguia três categorias no processo obsessivo. Obsessão

simples, fascinação e subjugação, termos clássicos que designam graus de intensidade da atuação e domínio, com particular referência aos médiuns em treinamento.

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a) A obsessão simples é a fase mais leve. O espírito intromete-se nas

atividades mediúnicas e impede que outros se comuniquem. Qualquer médium poderá ser enganado por um espírito leviano e até o Chico diz ter sido mais de uma vez. A obsessão reside na impossibilidade de afastar o desocupado teimoso. Aí o médium sabe que se acha sob tal império e não há dissimulação: o obsessor age abertamente e só consegue atrapalhar.

b) A fascinação é muito mais séria. O médium acredita piamente no obsessor e zanga-se se lhe disserem que está sendo enganado. Acha-se cego e aceita tudo como obra excelente. Mesmo pessoas cultas caem sob este tipo de obsessão e não percebem o ridículo de certas atitudes. Na obsessão simples, o espírito é um importuno que cansa pela tenacidade; na fascinação, é um ardiloso hipócrita que se torna perigoso inimigo.Tudo faz ele para isolar o seu instrumento, afastando-os dos que lhe poderiam esclarecer a situação.

c) A subjugação é a possessão das Escrituras. Caracteriza-se pelo domínio

completo do pensamento e da vontade da vítima, que age sob comando de outro. Muitas vezes, o obsedado é forçado a tomar resoluções absurdas, comprometedoras e até contrárias aos seus legítimos interesses. Outras vezes, exibe comportamento estranho, realizando atos ridículos e mesmo perigosos.

Comumente, é difícil manejar, para tratamento, fascinados e subjugados. Os primeiros acreditam que não precisam de nada, conforme lhes sopra o sócio invisível. Os segundos ora caem e machucam-se, ora "dormem" horas e não podem sair, no dia de comparecer ao centro. Nas duas categorias há muitos dos chamados "loucos"

A obsessão pode ainda apresentar aspectos físicos no sentido fenomênico. Há pessoas, médiuns de efeitos materiais em cujo redor se ouvem ruídos e pancadas; por vezes, originam fortes distúrbios no ambiente, com roupas rasgadas, queda de objetos, pedradas, tapas, lâmpadas que se acendem etc. Tudo cessa depois de esclarecida a bulhenta entidade.

Os comunicantes definem-se pela linguagem e pelo comportamento. Os bons espíritos falam o suficiente e dizem muito; seus conceitos são claros e nunca ofendem ao amor, à caridade, à humildade, a Deus e a Jesus; não constragem ninguém, nada impõem; são calmos e benevolentes. O sujeito brusco, exigente, falador, que gosta de elogiar e que não admite dúvidas de ninguém, pouco interessado no bem, que evita mencionar Deus e Jesus — é um perigo a observar!

f) Mecanismo

1. Liga-se estreitamente ao assunto anterior. Pergunta-se: como um espírito mal-intencionado (nem sempre o é) influencia uma pessoa harmonizada ou identificada com ele?

Não há dúvida de que a perseguição sistemática pode-se iniciar antes mesmo do nascimento, no ventre materno. Mas, em geral é preciso haver um terreno adequado, um substrato de imperfeições espirituais (defeitos morais), que apreciamos mais acima como causa primordial, e uma brecha ou porta aberta por onde penetrar; esta comumente é o enfraquecimento físico (doença, parto) ou um deslize grave. De acordo com isso, sucede freqüentemente o obsessor acompanhar durante anos a pretendida vítima sem conseguir submetê-la, até que

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um acontecimento na vida desta venha permitir a influência permanente. Por exemplo, a moça foi perseguida com escasso sucesso até casar-se e ter o primeiro filho, quando declarou-se a obsessão franca; estando no ambiente doméstico paterno, pôde-se manter segura, mas a gravidez e o parto facilitaram o assédio, que a Lei permitiu em vista dos laços inferiores com o espírito. Outro manteve-se razoavelmente bem, com perturbações esporádicas, até que um tombo sério facilitou a penetração do inimigo oculto, que estava em vigília constante.

. 2. Não é difícil ao obsessor comum descobrir que direção dar aos seus esforços

para perturbar o irmão encarnado, que ele declara desejar "retificar", "corrigir" ou "punir" (palavras estranhas só na aparência em espíritos perturbados: todo neurótico julga-se perfeito e que os outros precisam mudar, não ele). Os impulsos de uma pessoa podem ser facilmente superalimentados por meio das emissões mentais daqueles.

Todos os seres humanos, explica André Luiz, têm um desejo central ou tema básico em torno do qual giram os interesses mais íntimos e que se manifesta pelo grande número de pensamentos formados do assunto envolvido no tema central. Tais idéias, que são expelidas pelo cérebro, constituem em uma espécie de reflexo da personalidade e por meio delas os espíritos interessados logo diagnosticam o traço dominante do caráter de qualquer indivíduo: se é ambicioso, usurário (avarento), dado ao álcool, maledicente, jogador, cruel, sátiro, etc. Sabedores disto, eles podem ampliar a natureza pessoal de alguém emitindo pensamentos do mesmo tipo, os quais vão nutrir os já existentes em torno do sujeito. Deste modo, os impulsos que comandam certas práticas sofrem acentuado incremento na freqüência e na intensidade. O que atrai os obsessores é o reflexo peculiar a cada pessoa, mas antes esta já estava perturbada por suas próprias criações mentais. Daí um impulso sexual ou uma violenta cobiça ou uma propensão para a bebida serão acentuados até o abuso e mesmo o crime; o alcoolismo será levado à dispsomania (excessiva propensão para beber) e assim por diante.

Quanto está em jogo resume-se nos 4 PP: posses, prestígio, poder e prazer, os quais englobam todas as ambições e desejos humanos.

Por exemplo, o que é o jogo senão o desejo de vencer o próximo e a busca de emoções intensas? Logo, desejo de poder e de prazer, mesmo furtando, lançando a família na miséria e até arriscando a pele! Não será a mesma coisa fornicar com a mulher alheia (conquista e gozo)? Por que correr de carro a centenas de km por hora e aleijar-se? Juntar muito dinheiro? E vai por aí...

Com freqüência, uma pessoa já voltada para a prática bem possui certas tendências inferiores, geradoras de impulsos menos dignos. É certo que se ocupando ela constantemente com atividades superiores, poucas oportunidades para a emersão de um impulso desses. E cada um é-lhe tão desagradável que o sujeito trata de sufocá-los cada vez. O há aí são restos da antiga animalidade e desencarnados inteligentes, para os quais a edificação espiritual é uma ameaça cuidam, portanto, de lançar energia sobre aquele homem no intuito de ativarem suas inferioridades. Daí ver-se presa de ansiedade e freqüentes impulsos que não cabem mais e admirar-se... Bem, se os impulsos podem ser despertados é porque existem e precisam ser combatidos até à extinção, pelo que, no futuro, ele será agradecido aos obsessores e tê-los-a como benfeitores. O bem é a meta de tudo!

O que acaba de ser exarado a respeito do mecanismo da obsessão pede que se acentue o fato de que o problema é de sintonia decorrente da afinidade moral. Se girarmos o dial de um rádio ao longo da escala numérica de freqüência,

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apanharemos cada estação conforme o número indicativo do tipo de onda, não será mau repisar. Parando a agulha em 1.400, captaremos a Rádio Rio de Janeiro, isto é, neste ponto da escala estabeleceremos sintonia com o comprimento de onda desta emissora (ou com a sua freqüência). É o que se passa entre um homem e um espírito. Nossas "vibrações", provenientes dos nossos pensamentos, sentimentos, aspirações, defeitos, vícios, etc., atraem e permitem a aproximação de espiritos semelhantes, que possam sintonizar conosco. No caso de homens e espíritos, a sintonia, ao invés de física como rádio, baseia-se na semelhança de nível moral. Podemos ser influenciados, e nossa conduta modificada, pelas sugestões de espíritos bons ou (pelo comum) maus. Estes aproveitam a fraqueza humana, decorrente das nossas imperfeições, para levar-nos a falir, na mesma medida em que eles próprios faliram antes, muitos tendo a intenção de sustentar nossos defeitos e vícios objetivando prolongar o império do mal sobre a crosta planetária. Na proporção em que o ser humano se eleva, vai-se distanciando dos representantes das sombras e para tanto goza de livre-arbítrio, não sendo obrigado a ceder aos impulsos inferiores que traz em si e que os desencarnados ampliam envolvendo-o em pensamentos similares. Promana daí a noção de que os espíritos atrasados funcionam como instrumentos cegos da Lei Divina, promovendo o pro-gresso de seus semelhantes e estes, mais tarde, hão de reconhecê-los como benfeitores espirituais.

4. O já referido vampirismo é outro elemento ou motivo atuante. Os

desencarnados desequilibrados extraem forças dos encarnados, revitalizando seus perispíritos e minando as energias destes. Absorvem o que André Luiz denomina larvas, isto é, corpúsculos magnéticos que pululam, como bactérias, nos órgãos perturbados em suas funções e que são gerados pela mente enfermiça. Basta que adiram à aura da pessoa. Esta sorte de parasitismo é importante fator de manutenção do mal sobre a face da Terra; que fariam os espíritos perturbados sem os homens perturbados? Sobre quem agir, em quem pensar e de quem ordenhar energia?

A sugestão do tipo hipnótico também já mereceu referência. Toma parte em muitos processos obsessivos. A idéia, vimos antes (11.a e 11.c), introduzida na mente impelirá o indivíduo à ação contra sua vontade: ordens para fazer isto ou aquilo, assumir certas atitudes ou posturas, etc. Notamos igualmente que os erros praticados em comum imantam as pessoas, bem como o exercício das paixões, vícios e delinqüência, em cadeias de ódio; ficam, portanto, sujeitas umas às outras. Ainda a mediunidade participa em geral do mecanismo dos fenômenos obsessivos; muitas vezes, ela começa assim e fica perturbada até ser disciplinada pelos esforços conjuntos do encarnado e dos mentores amigos. É comum o obsessor invadir o campo mental e falar pela boca da vítima; esta não raro cai estatelada, seja onde for, ao ser envolvida numa crise sonambúlica.

5. Muitos obsedados acomodam-se à influência dos seus obsessores e acabam

até gostando dela. Quando acontece serem afastados, ficam inquietos, angustiados, e atraem-nos vigorosamente de novo! O obsessor, não sendo um inimigo encarniçado que quer perder sua vítima o mais depressa possível, alimenta suas ilusões, desejos, hábitos, vícios, o que lhes causa prazer... O resto pouca importância passa a ter para eles: a alienação do eu, a restrição mental. Tal será um dos mais sérios obstáculos ao tratamento.