ocorrência de barita no grupo barreiras
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA
CRISTIANE MACIEL DE LIMA
OCORRÊNCIA DE BARITA NO GRUPO BARREIRAS - LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA
Salvador 2008
CRISTIANE MACIEL DE LIMA
OCORRÊNCIA DE BARITA NO GRUPO BARREIRAS - LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA
Monografia apresentada ao Curso de Geologia,
Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia.
Orientador: Prof. Dr. JOSÉ HAROLDO DA SILVA SÁ
SALVADOR 2008
TERMO DE APROVAÇÃO
CRISTIANE MACIEL DE LIMA
OCORRÊNCIA DE BARITA NO GRUPO BARREIRAS - LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. José Haroldo da Silva Sá Prof. Dr. Aroldo Misi Prof. Dr. Sérgio Augusto de Morais Nascimento
Salvador, Dezembro de 2008
Dedico esta monografia aos meus pais, que sempre me apoiaram.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar àquele que sempre foi e sempre será o primeiro, ao
meu Pai Celestial, Jesus Cristo, o qual é a minha rocha principal, bendito seja o meu
rochedo, Ele que sempre me amou, mesmo antes de o conhecer e ainda se fez
como um de nós para que um dia tivéssemos acesso ao seu trono para lhe dar
honra e graça, pois só Ele é merecedor!
À minha família, na pessoa do meu pai Timoteo Maciel de Lima (in memoriam), que
sempre me amou e ensinou muito do que sou hoje, à minha mãe Hilda Carlota de
Almeida Lima, pela paciência e amor, aos meus irmãos: Stella(Teta), Ana Sueli(Su),
Mary Grace(Gal) e João Paulo(Jhow), que sempre estiveram do meu lado, de uma
forma ou de outra, aos sobrinhos: Lorena, Álvaro, Ana Paula, Felipe e Raul, que
sempre trazem alegria e ingenuidade.
Aos meus irmãos em Cristo, pessoas que me ajudam a caminhar perseverando na
fé, sempre com muito amor, companheirismo e orações.
À Universidade Federal da Bahia, conquista alcançada através de uma longa
caminhada no ensino público, desde a infância. Ao Prof° José Haroldo da Silva Sá,
pela paciência e dedicação em me orientar. Aos professores, Osmário Resende,
Iracema Reimão, Flávio Sampaio, Antônio Marcos, Maria José Rego, Cícero Paixão,
Vilton Fernandes, Ernandes, Sergio Nascimento, Joana Luz, Olivar Lima, Telésforo
Marques, Aroldo Misi, José Castro, Simone Cruz, Johildo Barbosa, Abílio Bittencourt
e Ângela Beatriz, pelos incentivos sempre prestados.
Aos funcionário Joceane Cristina, Aldaci, Mércia, Alcilene, Deraldo, Claudionor,
Edgar, Nea, Sales e Mônica, pela dedicação e paciência em servir.
A CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral), pelo apoio nas análises
químicas, na confecção das lâminas delgadas e impressão desta monografia.
As minhas amigas “Lúcias”, Uyara Cabral Machado, Leila Tatiane, Ramille Daniele,
Patrícia Campinho, Ana Maria, Joilma Santos, Ana Carolina, Andressa Tessari,
Sâmia Silva e Rosenilda Paixão, descontração e aprendizado na medida certa. Aos
amigos, Carlos Emanuel, André, Jofre e todos os colegas que de uma forma ou de
outra colaboraram na construção deste trabalho.
Que o Senhor Jesus Cristo abençoe a todos.
RESUMO
A ocorrência da Barita de Conde aflora num corte de estrada ao longo da BA-099
(Linha Verde), no km 142, no sentido Salvador Aracaju e esta inserida em uma lente
de argilito do grupo Barreiras. Esta ocorrência de barita no grupo Barreiras é um fato
inédito na metalogênese do Estado da Bahia, uma vez que nesta unidade geológica,
até então, não se conhecia a presença de barita, o que trouxe questionamentos
quanto às condições ambientas para a gênese desta ocorrência. O grupo Barreiras
que já foi estudado por diversos autores, que ao descreverem a estratigrafia das
suas unidades litológicas em diversos locais na costa do Brasil, observaram que
seus ambientes de sedimentação podem variar desde continental, fluvial e lacustrino
até o ambiente marinho. Além de acrescentar uma novidade à metalogênese do
período Terciário no Estado da Bahia, os resultados deste trabalho também
contribuem para a caracterização e evolução de parte dos ambientes geológicos
durante a deposição do grupo Barreiras.
PALAVRAS-CHAVE: Barita; Grupo Barreiras; Ambiente de Sedimentação e
Argilominerais.
ABSTRACT
The occurance of barita of Conde occurs in a road section, on the BA-099 (Linha
Verde), in the km 142, in the direction Salvador Aracaju and it is inserted in lens of
“argilito” in the Barreiras group. These barite’s occurance in the Barreiras group it is a
new fact on the metallogeny in the Bahia state, once in this geological unit, which has
brought questions about the environmental conditions to this barite genesis. The
Barreiras group, what has already been studied by a number of authors, who
describes the stratigraph of their litological units in a lot of places in the Brazil cost,
they observed that it’s sedimentation environment could vary from continental, river
and lake united to marine environment. Besides to adding a new about the
metallogeny of the Tertiary period in the State of Bahia, the results of this study also
contribute to the characterization and evolution of geological environments during the
deposition of the part of Barrieras group.
KEY WORDS: Barite; Barreiras group; Sedimentation environment and Clay Minerals
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa de situação e localização da área estudada 16
Figura 2 - Modelo Digital do Terreno. Fonte: Squivel (2006) 17
Figura 3 - Mapa da Tipologia climática do Estado da Bahia 20 Figura 4 - Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo. Fonte: Caixeta et. al. 1994)29 Figura 5 - Mapa Geológico entre a foz do Rio Itariri e a foz do Rio Itapicuru. Fonte: Vilas Boas et. al. (2005) 32
Figura 6 - Esquema de evolução do grupo Barreiras lato sensu na costa do Norte do Brasil. Arai. M. (2006) 42
Figura 7 – Desenho esquemático do afloramento do grupo Barreiras no local da ocorrência da barita, mostrando a posição relativa das camadas 53 Figura 8 - Difratograma da amostra CCH 1 normal 55
Figura 9 - Difratograma da amostra CCH 1 glicolada 55
Figura 10 - Difratograma da amostra CH 1 aquecida 55
Figura 11 - Difratograma da amostra CH 5 normal 55
Figura 8 - Difratograma da amostra CH 5 glicolada 55
Figura 9 - Difratograma da amostra CH 5 aquecida 55
Figura 10 - Difratograma da amostra CH 6 normal 56
Figura 11 - Difratograma da amostra CH 6 glicolada 56
Figura 12 - Difratograma da amostra CH 6 aquecida 56
Figura 13 - Difratograma da amostra CH 8 normal 56
Figura 14 - Difratograma da amostra CH 8 glicolada 56
Figura 15 - Difratograma da amostra CH 8 aquecida 56
Figura 20 - Difratograma da amostra CH 2 normal 56
Figura 21 - Difratograma da amostra CH 4 normal 56
Figura 16 – Esboço de um modelo genético para a barita de Conde 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estratigrafia e origem do Grupo Barreiras em Pernambuco, Paraíba
e Rio Grande do Norte. Mabesoone et. al. (1972) 40
Tabela 2 - Resultado da análise química dos sedimentos do grupo Barreiras, na área da ocorrência da barita. As amostras grifadas de cinza são da encaixante da barita 57
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 15
1.1 HISTÓRICO 15
1.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 15
1.2.1 Localização 15
1.2.2 Geomorfologia 16
1.2.2.1 Geomorfologia Regional 16
1.2.2.2 Geomorfologia Local 17
1.2.3 Clima 19
1.2.4 Vegetação 20
1.2.5 Hidrografia 23
1.2.6 Potencial Hidrogeológico 23
1.3 OBJETIVOS 24
1.4 METODOLOGIA 24
1.5 TRABALHOS ANTERIORES 25
2 GEOLOGIA DA ÁREA 27
2.1 GEOLOGIA REGIONAL 27
2.1.1 Cinturão Salvador-Esplanada 27
2.1.2 Bacia Sedimentar da Recôncavo – Tucano 28
2.1.3 Sedimentos Terciários 29
2.1.4 Sedimentos Quaternários 30
2.2 GEOLOGIA LOCAL 32
2.2.1 Grupo Barreiras 32
2.2.2 Leques Aluviais Coalescentes 33
2.2.3 Aluviões 33
2.2.4 Sedimentos de Praia 34
2.2.5 Dunas 34
2.2.6 Terraços Marinhos Holocênicos 34
2.2.7 Arenitos de Praia 34
2.3 GEOLOGIA ESTRUTURAL 35
3 O GRUPO BARREIRAS 36
4 AMBIENTES DE FORMAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE BARITA 44
4.1 INTRODUÇÃO 44
4.2 GEOLOGIA DA BARITA 45
4.3 AMBIENTES DE FORMAÇÃO DA BARITA NO BRASIL 46
4.3.1 Ambientes de depósitos hidrotermais associados com o magmatismo alcalino-carbonático 46
4.3.2 Ambientes de depósitos vulcano-sedimentares 46
4.3.3 Ambientes de depósitos sedimentares exalativos 47
4.3.4 Ambientes de depósitos hidrotermais filoneanos 47
4.3.5 Ambientes de depósitos associados à circulação de fluidos conatos 47
4.3.6 Ambientes de depósitos residuais 48
5 UMA PROPOSTA PARA O MODELO GENÉTICA O DA BARITA
DE CONDE 49
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA BARITA DE CONDE 49
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA ROCHA ENCAIXANTE 52
5.2.1 Características Mineralógicas e Químicas 53
5.3 ESBOÇO DE UM MODELO GENÉTICO PARA A BARITA DE
CONDE 57
6 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES 60
LISTA DE FOTOS FOTO 1 - Barita botroidal 50 FOTO 2 - Barita estalactitica 50 FOTO 3 – Barita placóide 50 FOTO 4 - Todos os tipos de amostras 50 FOTO 5 - Barita placóide (in situ), onde pode-se observar o crescimento dentro de pequenas fendas no argilito. 50 FOTO 6 - Barita estalactitica (in situ), mostrando crescimento vertical, também dentro de pequenas fendas no argilito 50 FOTO 7 - Barita placóide (in situ), vista lateralmente, preenchendo uma fenda no argilito 51
FOTO 8 - Barita estalactitica (in situ), onde pode-se observar o crescimento Vertical 51 FOTO 9 - Barita botroidal (in situ) associada com hidróxido de ferro 51 FOTO 10 - Afloramento do argilito com a barita na parte Inferior da foto, as setas indicam a posição de algumas concreções de barita 51
LISTA DE FOTOMICROGRAFIAS
FOTO 11 - Amostra CH 53 52 FOTO 12 - Amostra CH 53 52 FOTO 13 - Amostra CH 52 52 FOTO 14 - Amostra CH 55 52 FOTO 15 - Afloramento do grupo Barreiras no local da ocorrência da barita, mostrando a posição relativa das camadas 53
15
Capítulo I - Introdução 1.1 – Histórico Este trabalho é fruto da curiosidade gerada durante a disciplina Geologia
de Campo II, no semestre 2006.1, quando, ao fazer a descrição geológica do Grupo
Barreiras num corte de estrada da BA 099 (Linha Verde), nos deparamos com
formas exóticas de cristais numa fácies argilosa desta formação e, depois de
diversos questionamentos durante o semestre e algumas discussões e análises,
concluiu-se que se tratava de uma ocorrência singular de barita no Grupo Barreiras,
o que estimulou a busca por respostas aquele fato observado em campo.
1.2 – Caracterização da Área 1.2.1 – Localização A área pesquisada está localizada no Litoral Norte do Estado da Bahia, no
município de Conde, a cerca de 150 km de Salvador, tendo seu ponto médio as
coordenadas x = 645555 e y = 8682122. O principal acesso é pela BA 099 (Linha
16
Verde), partindo de Salvador até Conde; outro acesso é por Alagoinhas pela BR 101
até Esplanada e depois até Conde pela BA 233. (Figura 1)
Ocorrência da Barita
Figura 1 - Mapa de situação e localização da área estudada 1.2.2 – Geomorfologia
1.2.2.1 - Geomorfologia Regional
Segundo Bittencourt et al (1979), as características fisiográficas e
geomorfológicas do Litoral da Bahia foram divididas em 6 setores, sendo a região de
Itapoan até Conde denominada de setor I, que é caracterizada por uma planície
litorânea descontinua, representada pelo Grupo Barreiras. Nas zonas escavadas
desta unidade encontram-se os depósitos quaternários. Neste setor ocorre também
uma linha de arenitos de praia, praticamente continuo. Quanto ao retrabalhamento é
possível reconhecer dois modelados distintos, um de dissecação e outro de
acumulação. As altitudes variam desde o nível do mar até 154,9m, porem na área da
ocorrência a altitude é de aproximadamente 85m, como mostra o mapa abaixo
(Figura 2)
17
Figura 2 – Modelo Digital do Terreno. Fonte: SQUIVEL (2006) 1.2.2.2 - Geomorfologia Local Na região estão definidas as seguintes unidades geomorfológicas Lima et. al.
(2006): 1-Praias; 2- Dunas; 3-Terraços marinhos holocênicos; 4-Leques aluviais; 5-
grupo Barreiras, descritas a seguir:
Unidades Geomorfológicas
Praia
Esta unidade esta relacionada com os processos morfogenéticos de origem
marinha, o modelado é o de acumulação em toda a extensão mapeada, exceto na
foz do rio Itariri, onde o modelado é o de dissecação sujeito a erosão moderada a
18
forte. O relevo é aplainado, porem com declividade de aproximadamente 4º. E
subdividi-se em três zonas morfológicas distintas que são:
• Antepraia, localizada na parte submersa no nível da maré baixa e se
estende até o limite da plataforma continental. O relevo predominante é plano com
uma declividade muito pequena.
• Praia, zona que está localizada na porção intermaré, o relevo apresenta
uma declividade maior que a anterior, mas esta zona ainda se configura como uma
região plana.
• Pós-praia, zona que se localiza a partir da maré alta até o cordão de
dunas I, tendo esta a maior declividade que é de aproximadamente 4º.
Dunas
Ocorrem por toda a extensão da área estudada, margeando as praias, são
separadas em dois cordões, um atual, que esta sofrendo retrabalhamento eólico das
areias vindas da praia, e um outro cordão de dunas já imóveis (paleodunas). Este
esta sofrendo dissecação e apresenta um relevo ondulado.
Terraços Marinhos Holocênicos
Nesta unidade, observa-se uma baixa altitude, em torno de 5 m, no máximo.
É composta por sedimentos inconsolidados, com presença de matéria orgânica,
possui um alto grau de infiltração devido a sua porosidade. É proveniente da
acumulação marinha, nos locais onde afloram o nível estático tem-se a presença de
lagoas.
Leques Aluviais Pleistocênicos
Unidade onde ocorre o modelado de dissecação homogênea, apresenta topos
convexos, com vertentes convexas, essas formas dos topos decorrem do processo
de denudação intenso responsável pelo rebaixamento da área e pela formação de
morros caracterizados por pequenas elevações. Com cotas em torno de 50m. É uma
área que esta sujeita a antropização.
Grupo Barreiras
Composto basicamente de sedimentos areno-argilosos e arenosos,
dissecado homogeneamente pelos brejos e drenagens principais que formam a
19
bacia do rio Itariri, formando vales em ‘U’, com vertentes convexas e topos também
convexos. Nesta unidade ocorrem alguns indicadores de erosão, como sulcos e
ravinas, localizados ao longo da Linha Verde. Estão associados a forte antropização
com a retirada quase que total da vegetação natural, o que diminui a
sustentabilidade dos solos e sedimentos.
Como sinais da ação antrópica, foram observados: cortes e aterros ao longo
da Linha Verde, e nas estradas secundárias. O modelado é uma resposta aos
processos de escoamento laminar difuso, este vinculado às zonas de baixa e média
declividade, com vegetação natural ainda preservada, e as zonas sujeitas a erosão
fraca á moderada; e escoamento laminar severo, em vertentes de alta declividade.
1.2.3 – Clima A região apresenta, segundo PROJETO RADAMBRASIL (1983), um clima
tropical megatérmico, fato este reforçado pelas baixas altitudes do seu relevo, que
poucas vezes ultrapassam 100m na área de estudo. A ação reguladora do Oceano
Atlântico é exercida sobre a extensa área costeira, que se estende de Salvador ao
Conde, e se manifesta não apenas nos índices térmicos, mas, sobretudo, na
intensidade das chuvas e no regime pluvial, sendo marítimos os ventos que trazem
os sistemas meteorológicos portadores de chuvas.
O clima predominante na região é o tropical chuvoso, com seca na primavera-
verão. Sua estrutura pluvial modela-se de sul para norte e de leste para oeste. A
intensidade das chuvas decresce de Salvador (2.099mm anuais) para Conde
(1.450mm anuais). O grau decrescente de pluviosidade na direção sul-norte não
altera o regime das chuvas, que é o mesmo em toda a área, sendo o outono-inverno
o período mais chuvoso, isto nos mês de maio e a primavera-verão o mais seco, isto
nos meses de setembro e janeiro.
Habitualmente, a região é dominada pelos ventos alísios de SE, que
assumem também a direção E ou NE, no verão, estes são ventos reguladores e
constantes (brisas), com velocidade fraca. As variações térmicas não são relevantes
e as isotermas anuais de 25ºC e 24ºC se distribuem por toda a região. Pelas suas
relações com a temperatura, às variações dos elementos umidade relativa,
nebulosidade, evaporação e insolação são pouco relevantes (Figura 3).
20
Figura 3 - Mapa da Tipologia climática do Estado da Bahia 1.2.4 – Vegetação
Na área de estudo foram encontrados IV domínios fitoecológicos: I Floresta
Ombrófila e Mata Ciliar, II Restingas, III Áreas Antropizadas, IV Vegetação de água
Doce e Salobra, descritos detalhadamente a seguir :
Domínio I – Floresta Ombrófila e Mata Ciliar
Florestas Ombrófilas
Na área está localizada, segundo Lima A. C. S. (2005), numa faixa de Mata
Atlântica que passou a fazer parte da Reserva da Biosfera pela Unesco, desde
1993, através do programa MaB13 UNESCO, que a incluiu nesse patamar
internacional deveras importante em termos de conservação ambiental, ocupam
pequenas áreas, associadas aos sedimentos areno-argilosos do grupo Barreiras.
Esta Vegetação funciona como importante fornecedor de nutrientes que
alimentam os cursos de água. Funciona também como um importante estabilizador
de nível de erosão, protegendo a qualidade hídrica e biota. Caracterizada por uma
fisionomia arbórea fechada, formada por várias espécies com altura media de 120 a
20 metros.
Mata Ciliar
21
Representa uma pequena parte da vegetação natural da área, representando
as mesmas características e variedades de espécie encontrados na Floresta
Ombrófila, sendo diferenciada apenas em termos de localização e função, já que
esta localizada apenas nas margens do rio Itariri e seus afluentes. Atua como área
de proteção contra a erosão, funcionando como corredores de fauna entre áreas
entre a montante e a jusante da bacia.
As raízes das árvores que compõe esta mata ajudam a fixar o solo evitando o
assoreamento e fazendo com que os mananciais hídricos subterrâneos sejam
constantemente realimentados pela infiltração das águas pluviais, contribuindo
diretamente com o volume de água e da alteração da temperatura do ecossistema
aquático. A mata serve como habitat de várias espécies da fauna,
Domínio II – Restingas
Restinga em Duna
Esta unidade representa um compartimento próprio por sua distribuição
territorial restrita, estando associadas aos cordões de dunas I e II. Essas áreas são
de difícil sobrevivência para os vegetais por uma série de fatores tais como, falta de
água, devido a excessiva porosidade, escassez de nutrientes das areias quartzosas,
alta salinidade, temperatura e forte ações dos ventos marinhos. Apresentam uma
mistura de tipologia herbácea e arbustiva.
Predominando arbustos de ramos retorcidos formando moitas intercaladas com
espaços abertos ou em aglomerados contínuos com plantas de até 3 metros de
altura, poucas plantas epífitas, representadas por liquens, samambaias, bromélias e
orquídeas. Trepadeiras ocorrem com mais abundância e diversidade e o estrato
herbáceo também é freqüente.
Restinga de Praia
Esta unidade de vegetação vai desde o nível de maré mais alta e o continente,
até o limite com o terraço marinho holocênico abrangendo não só essas faixas
arenosas, como também o pós-praia, representado pelos cordões dunas.
A vegetação possui um porte herbáceo, de caules longos e prostados que
funcionam como barreira à movimentação da areia. A unidade é constituída por
22
plantas herbáceas altamente adaptadas a salinidade, ainda apresenta uma
distribuição esparsa ou recobrindo totalmente a areia.
Domínio III - Áreas Antropizadas
Coqueiral
Predominam nas áreas mais próximas à praia já que a cultura de coco se
adapta especialmente bem aos solos baixos, arenosos e pouco férteis dos terraços
marinhos, associados aos sedimentos do quaternário costeiro, apresenta uma
distribuição espacial bastante definida e nítida.
O impacto dessa atividade esta relacionado apenas na total eliminação da
cobertura vegetal de restinga, os coqueirais representam elemento típico da costa
do litoral norte, historicamente integrados à paisagem e à economia regional.
Área ocupada por pastagem
Abrange uma área extensa, que foi desmatada para construção de pastos e
plantação em pequena escala de agricultura de subsistência. Os impactos
ambientais dessa atividade esta associada ao aumento do nível de erosão
produzindo progressivo assoreamento dos cursos de água, principalmente quando
desenvolvidas em vertentes com alta declividade e onde ocorre a remoção das
matas ciliares originais.
Capoeira
A vegetação local encontra-se em diversos estágios de recuperação, desde a
fase final até a avançada. No campo foi observado áreas de vegetação natural
queimadas para serem transformadas em pastagens ou cultivos agrícolas.
As queimadas provocam um aumento na acidez do solo, ocasionada pela
queima de matéria orgânica e destruição dos organismos, ocasionando uma
modificação drástica na paisagem.
Domínio IV - Vegetação de água Doce e Salobra
Este domínio é formado por áreas cobertas temporariamente por água doce e
salobra, formadas a partir da exudação de águas subterrâneas associadas a
23
aqüíferos formados nos sedimentos Tércio-Quaternários arenosos e fluxo das
marés, onde sobrevivem espécies vegetais bastantes características desses
ambientes. Neste domínio foram encontradas as seguintes unidades:
Brejos
Representam áreas potencialmente inundáveis dos cursos de água ao longo
da área, cortando o Tabuleiro Costeiro e a Planície litorânea. Apresentam vegetação
hidrófila com fisionomia herbácea e com pequena altura podendo chegar até 2
metros no caso.
Manguezais
O manguezal da área esta compreendido desde a foz do rio Itariri até o limite
maxímo de atuação da água do mar. Um número pequeno de espécies forma
associações muito densas, apresentando forma arbustiva e arbórea, de raízes
aéreas, com árvores de cerca de 4 m de altura.
1.2.5 – Hidrografia A área estudada esta inserida na sub-bacia do Rio Itariri, que esta contida na
bacia hidrográfica do Rio Inhambupe. Os limites desta bacia hidrográfica encontram-
se nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs), ou seja, APA do Litoral Norte e de
Mangue Seco A área de drenagem do Rio Inhambupe corresponde a um total de
aproximadamente 36.440 km2.
Já a sub-bacia do Rio Itariri possui uma área de 367 km2, é estreita e não
possui afluentes expressivos. O índice pluviométrico é de 1.6000 mm/ano. Tem
como rio principal o Rio Itariri e como principal afluente o rio Mucambo com 22,2 km
de extensão. Com sua foz no Povoado de Barra do Itariri.
1.2.6 - Potencial Hidrogeológico
A bacia do rio Inhambupe apresenta condições bastante privilegiadas no que
diz respeito à ocorrência de água subterrânea, considerando que se encontra num
ambiente geológico extremamente favorável. Esta bacia mostra um potencial
24
hidrogeológico que se caracteriza com um dos melhores do Estado da Bahia, tanto
em quantidade como em qualidade.
Na área de estudo predomina os sedimentos do grupo Barreiras sobre o
embasamento cristalino conferindo localmente a esse sistema melhores condições
de alimentação, qualidade da água e vazão. Tal aspecto o classifica como um
aqüífero misto Granular/Fissural. Neste domínio a ocorrência de água subterrânea
está associada aos sedimentos do grupo Barreiras e os depósitos aluvionares, que
funcionam como alimentadores para o aqüífero fissural cristalino.
1.3 – Objetivos
Esta monografia tem como objetivo geral descrever e investigar as condições
de formação da ocorrência de barita e propor o modelo genético da barita no grupo
Barreiras no Litoral Norte do Estado da Bahia.
1.4 – Metodologia Durante a pesquisa houve o desenvolvimento das seguintes fases:
→ Levantamento bibliográfico, sobre o tema e formulação da proposta de trabalho,
onde foram consultados artigos científicos, textos e alguns livros que abordam
assuntos sobre as formas de ocorrência da barita no Brasil, formação Barreiras e
dados relativos à área, como: fotografias aéreas, mapas, poços (CERB, 1973). A
partir de então a pesquisa tomou diversos enfoques, em diferentes escalas de
observação, apoiadas principalmente, nas características e propriedades geológicas,
mineralógicas e geoquímicas da ocorrência da barita.
→ Trabalhos de campo:
• Para o reconhecimento das unidades do grupo Barreiras;
• Coleta de amostras.
→ Trabalhos de laboratório:
• Identificação das argilas, com o uso da técnica de Difração de Raios-X, mais
indicadas para a determinação de argilominerais, pois como alguns cristais tem os
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átomos ordenados em planos cristalinos separados entre si por distâncias da
mesma ordem de grandeza dos comprimentos de onda dos raios X;
• Como também análise químicas ICP para “trinta elementos”, nos sedimentos, para
a determinação das concentrações dos elementos químicos;
• Estudos petrográficos em lâminas delgadas de amostras de agregados de barita.
→ Trabalhos de escritório:
• Análise, interpretação e integração dos dados e informações obtidas no campo e
laboratório;
• Elaboração do texto (em forma de monografia).
1.5 – Trabalhos Anteriores
A primeira referência conhecida ao termo Barreiras data de 1500, na carta de
Pero Vaz de Caminha, “... traz ao longo do mar, em algumas partes, grandes
barreiras, delas vermelhas e delas brancas... “. Segundo Chignone (1979).
Quanto à primeira descrição litológica do grupo Barreiras, foi feita por Branner
(1902, apud Lima. C. C. U. 2002), utilizando a terminologia Barreiras, para nomear
as camadas sedimentares expostas nos tabuleiros da costa atlântica do nordeste
brasileiro. Inicialmente, essa denominação tinha apenas um caráter morfológico,
pois foi denominado Barreiras os tabuleiros formados por sedimentos inconsolidados
ou pouco consolidados que ocorrem ao longo do litoral. Que sugestivamente se
apresentam como falésias (Barreiras), formadas pelo trabalho erosivo do mar.
Bigarella e Andrade (1964) propõem à denominação de Grupo Barreiras em
substituição a nomenclatura antiga de “série” ou “Formação Barreiras” por
concluírem um conjunto de formações pós-Formação Cabo e de uma superfície de
discordância erosiva, observando que toda seqüência poderia ser subdividida em
duas formações, a inferior de Formação Guararapes e a superior de Formação
Riacho Morno. Constituídas dos materiais clásticos fornecidos pelos aplainamentos
e pedimentos cenozóicos.
Mabesoone et al. (1972) propuseram a divisão do grupo Barreiras em três
unidades estratigráficas distintas, que são: a formação Macaíba; a formação
Guararapes e a formação Serra dos Martins, cada uma caracterizada por uma capa
de intemperismo típico.
26
Vilas Boas et. al. (2005) observaram que o Grupo Barreiras é uma cobertura
sedimentar terrígena, de idade Miocênica a Pleistocênica Inferior, que tem grande
ocorrência ao longo do litoral brasileiro, e que apresentam características
sedimentológicas indicativas de uma deposição por sistemas fluviais.
Arai M. (2006) concluiu que o Sistema Pirabas/ Barreiras Inferior foi
depositado durante a subida eustática ocorrida no intervalo Aquitaniano –
Serravalliano (Eomioceno a Mesomioceno). Segundo este autor a unidade Barreiras
Superior foi depositada no Plioceno, existindo, entre esta e a unidade Barreiras
Inferior, a Discordância Tortoniana, ou seja, durante a evolução da deposição dos
sedimentos conhecidos como Grupo Barreiras houve uma transgressão marinha,
que deixou algumas evidências ao longo da costa do Brasil.
Squivel (2006) relata que a morfologia da “Formação” Barreiras corresponde
às áreas de tabuleiros costeiros ou relevos de topos tabulares, encostas retilíneas e
declivosas e vales alargados em forma de “U” e quando aflorante em sua base o
embasamento apresentam-se como formações colinosas de topo convexo com
vertentes do tipo convexas, convexo-côncavas e retilíneas, bastante dissecadas por
vales em forma de “V” em diversos graus de aprofundamento que se destacam
topograficamente das unidades integrantes da planície costeira (Squivel apud Nunes
et al. 1981).
Domingues et. al. (2008) também propõem uma origem marinha para parte do
grupo Barreiras, pois segundo estes autores, uma origem marinha para a “Formação
Barreiras” é muito mais consistente que uma origem puramente fluvial uma vez que
consegue explicar e conciliar várias observações a respeito desta unidade.
27
Capítulo II – Geologia da Área 2.1 – Geologia Regional
A geologia regional do Litoral Norte da Bahia está representada, pelas rochas
Paleoproterozóicas do Cinturão Salvador-Esplanada, pela Bacia Sedimentar do
Recôncavo-Tucano, pelos sedimentos do Terciário e pelos sedimentos do
Quaternário.
2.1.1 - Cinturão Salvador-Esplanada
No Cinturão Salvador-Esplanada, Segundo Barbosa (1996), ocorrem rochas
granodioríticas, graniticas, gnaisses e anfibolitos, que foram afetadas por uma
sucessão de cisalhamentos dúcteis, transcorrentes, com as foliações variando de
N45°E a N65°E, com mergulhos subverticais, alinhado na direção principal N45°E,
onde as cidades de Salvador e Esplanada, estão inclusas. Segundo Barbosa (1996)
apud Oliveira Júnior (1990), toda a região foi submetida ao metamorfismo da fácies
anfibolíto alto a granulito, com posterior retrometamorfismo à fácies anfibolito médio
a baixo (epidoto-anfibolíto), nas partes medianamente deformadas. A idade das
rochas nas imediações de Esplanada foi determinada pelas isócronas Rb-Sr
Barbosa, op. cit, como do Proterozóico Inferior.
28
2.1.2 - Bacia Sedimentar do Recôncavo-Tucano
Esta Unidade litoestratigrafica, segundo Ghignone (1979), faz parte da Bacia
Recôncavo-Tucano, que contém unidades de espesso pacote sedimentar
pertencente ao Supergrupo Bahia, os quais na geologia regional incluem os
sedimentos permo-triássicos/jurássicos do grupo Brotas, que é constituído pelas
formações Aliança e Sergi. A formação Aliança é composta de folhelhos, calcários,
evaporitos e conglomerados no membro Afligidos e arenitos vermelhos, pintalgados
de branco no membro Boipeba, e a formação Sergi, que situa-se estratigraficamente
acima da formação Aliança, é constituída de arenitos finos, médios e grosseiros, de
coloração variada entre branco e amarelo.
De idade cretácica inferior têm-se os grupos Santo Amaro, Ilhas e a formação
São Sebastião. O grupo Santo Amaro é composto, da base para o topo, pelas
formações Itaparica e Água Grande que é representado por arenito cinza
esbranquiçado a cinza-esverdeados, quartzosos às vezes feldspatico, fino a médio,
raramente grosso a conglomerática, localmente com estratificações cruzadas.
Formação Candeias é composta por folhelhos e siltitos, contendo intercalações finas
de calcarias, dolomitos e espessos corpos de arenitos maciços.
O grupo Ilhas é constituído, de baixo para cima, pelas formações Marfim,
Taquipe e Pojuca. A formação Marfim constitui-se predominantemente de arenitos
finos a silticos, raramente grossos, cinza-claro a esverdeado, com matriz argilosa,
fragmento de carvão e de folhelhos, distribuídos por folhelhos cinza com
estratificação paralela localmente piritoso, contendo níveis de marga castanha, mole.
A formação Pojuca consiste em arenitos, folhelhos, siltitos e calcários intercalados.
Por fim a Formação São Sebastião que é constituída de arenitos grassos a finos,
amarelos-avermelhados, friáveis, feldspático, intercalados com argilas silticas,
variegadas.
De idade Albiano-Aptiano há a formação Marizal composta de arenitos,
conglomerados, folhelhos e calcários. Os conglomerados, que ocupam a base da
formação são médios a grossos apresentam-se maciços ou estratificados, possuem
matriz dominantemente arenosa e podem conter seixos e calhaus de gnaisse,
arenito, calcário, quartzo, sílex, siltitos, lamito, quartzito e rochas ígneas básicas.
29
Muitas vezes, os clastos apresentam-se imbricados, a seguir esta a carta
estratigráfica da bacia do Recôncavo, (Figura 4).
Figura 4 – Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo. Caixeta et. al. (1994) 2.1.3 - Sedimentos Terciários
Fazendo parte dos sedimentos terciários tem-se a formação Sabiá e o grupo
Barreiras. A formação Sabiá apesar de apresentar poucos afloramentos é
identificada por ocupar terrenos baixos e planos, com vegetação de gramínea e é
composta, segundo Bittencourt (1996) apud Viana at al. (1971) por folhelhos cinza-
esverdeados e amarelados, às vezes siltícos ricos em foraminíferos com
30
intercalação de arenitos finos a sílticos, de coloração amarela-clara, muito micáceos
e finas lentes de calcários amarelos-alanrajados, argilosos muito fossilíferos.
O grupo Barreiras é composto de areias finas a grossas, argilas com
coloração de alterações vermelhas, roxa, amarelada e branca. Arenitos finos com
níveis conglomeráticos, de matriz cauliníca, pouco consolidados, pobremente
selecionados. As areias e argilas apresentam estratificações cruzadas planar,
laminações plano-paralela, tendo na base um conglomerado maciço, e os arenitos
com níveis conglomeraticos apresentam-se maciço. Ainda á observado uma
discordância predominantemente erosiva entre as unidades de areia e argila e a do
arenito maciço.
2.1.4 - Sedimentos Quaternários
Os sedimentos que fazem parte desta unidade são os terraços marinhos, os
leques aluviais coalescentes, as dunas, os depósitos fluviolagunares e os arenitos
de praia.
Os terraços marinhos se dividem em pleistocenicos e holocênicos, Os
Pleistocênicos são encontrados na planície costeira e foram formados pela
progradação da linha de costa que ocorreu no período de regressão marinha, após o
máximo da Penúltima Transgressão Squivel (2008) apud Bittencourt et al. (1979), a
cerca de 120 mil anos atrás. Estes depósitos sedimentares apresentam-se sob a
forma de terraços arenosos com altimetria máxima em torno de 7 a 10 metros acima
do nível do mar atual, é constituído por areias quartzozas de coloração branca e
textura variando de areia fina a média.
Os terraços marinhos holocênicos são depósitos de areias litorâneas
regressivas que constituem um terraço arenoso desenvolvido a partir do máximo da
última transgressão, a cerca de 5.100 anos atrás Squivel (2008) apud Bittencourt et
al. (1978). Estes depósitos são constituídos por areias quartzozas bem
selecionadas, de coloração ocre-amarelada, contendo biodetritos e estão separados
dos terraços marinhos pleistocênicos por uma área baixa ocupada por zonas
úmidas.
31
Leques aluviais coalescentes são encontrados em diferentes locais da costa,
normalmente encostados no sopé de elevações, e com topos situados de 15 a 20 m
acima do nível atual do mar. Constituem depósitos de areias brancas mal
selecionadas, e contendo seixos arredondados a angulosos. Tendo em visto a sua
extensão, características sedimentológicas, posição aos pés das encostas e, em
alguns casos, a forma em leque dos depósitos, esses sedimentos foram
considerados por Vilas Boas et al. (1979,1985) como continentais, do tipo depósitos
de leques aluviais coalescentes, o que implica, para a sua formação, condições
climáticas totalmente diferentes das atuais, clima do tipo semi-árido com chuvas
esparsas e violentas.
As dunas foram identificadas baseando-se nas características macroscópica
de suas areias, bem como as relações de contato com outros depósitos quaternários
que ocorrem na região, foram observadas três gerações de dunas; as dunas
internas, as dunas externas e os cordões de dunas. De uma maneira geral são
constituídas de areias finas, bem selecionadas, predominantemente quartzosas, e
com graus de arredondamento dependendo da área-fonte que, pode ter sido tanto
os depósitos de leques aluviais anteriores à penúltima transgressão, quanto aos
sedimentos dos terraços relacionados com a mesma ou, ainda, as praias atuais.
Os depósitos fluviolagunares sãs compostos de sedimentos lagunares
tipicamente argilo-siltosos, de cor cinza a preta, ricos em matéria orgânica e
contendo conchas marinhas e lagunares. Esses sedimentos foram depositados em
antigas lagunas formadas durante a parte terminal da última transgressão que, tendo
cortadas suas comunicações com o mar na regressão subseqüente, foram
colmatadas e evoluíram para os pântanos. Quanto aos terraços fluviais, são siltico-
argilosos, constituídos basicamente de sedimentos de diques marginais, barra de
meandro e de canal abandonado.
Os arenitos de praia localizam-se desde a zona de antepraia até dezenas de
metros mar adentro, estando sempre alinhados paralelamente sub-paralelamente à
linha de costa. Ocorrem formando corpos rochosos tabulares estratificados
constituídos predominantemente por areias quartzosas e fragmentos de conchas por
cimento carbonático apresentam fraturas ortogonais.
32
2.2 – Geologia Local
Na área de estudo, é possível observar três unidades litológicas: As rochas do
embasamento cristalino, representada pelo Cinturão Salvador-Esplanada; Os
sedimentos terciários aqui representados pelo grupo Barreiras, foco principal desta
pesquisa, que será detalhado a seguir e os sedimentos quaternários, abaixo
observa-se o mapa geológico da área (Figura 5).
N
OCORRÊNCIA DA BARITA
Figura 5 – Mapa Geológico entre a foz do Rio Itariri e a foz do Rio Itapicuru. Fonte: Vilas Boas (2005)
2.2.1 - Grupo Barreiras
É importante ressaltar, que neste trabalho se usa a denominação de grupo,
ao sedimentos do Barreiras, apesar de que no Litoral Norte do Estado da Bahia não
foi observado o perfil típico, estudado pelos autores, que se encontram no capítulo
III.
Foi observado em campo, que os sedimentos do Grupo Barreiras se
apresentam da base para o topo composto de conglomerado, com pouca matriz de
composição arenosa, sendo que os seixos apresentam forma sub-arredondados e,
subindo na estratigrafia este conglomerado vai intercalando com camadas de argila
ferruginosa.
33
Outra unidade é representada por um arenito de coloração branca a creme, e
arenitos cascalhosos, os grãos são arredondados a sub-arredondados, com
estratificação sub-horizontal e em alguns locais apresentam estratificação cruzada.
Fazendo um limite gradual e lateral com o arenito ocorre uma fácies argilosa
de coloração cinza esverdeada que não apresenta estratificação visível, suas
dimensões são de no máximo 10m de espessura por 100m aproximadamente de
comprimento, imediatamente acima há outra fácies argilosa, porém de coloração
ferruginosa e estrutura planar sub-horizontal, todo este pacote esta sendo cortado
por um superfície erosiva, onde na parte superior foi depositado um arenito
conglomerático de coloração amarelada e grãos sub-arredondados a arredondados.
2.2.2 - Leques Aluviais Coalescentes
Sobrepostos aos arenitos conglomeráticos, que estão no topo do Barreiras
encontra-se em diferentes locais da costa, normalmente encostados no sopé de
elevações, cujos topos estão situados de 15 a 20 m acima do nível atual do mar, os
leques aluviais coalescentes.
Constituem depósitos de areias brancas mal selecionadas, que contem seixos
arredondados a angulosos. Tendo em visto a sua extensão, características
sedimentologicas e posição aos pés das encostas e, em alguns casos, a forma em
leque dos depósitos, esses sedimentos foram considerados por Vilas Boas et al.
(1979,1985) como continentais, do tipo depósitos de leques aluviais coalescentes, o
que implica, para a sua formação, condições climáticas totalmente diferentes das
atuais, clima do tipo semi-árido com chuvas esparsas e violentas. 2.2.3 – Aluviões São sedimentos quaternários que ocorrem associados ao rio Itariri e seus
afluentes. São mais desenvolvidos no delta do rio Itariri e regiões de restinga.
Iniciam o seu desenvolvimento nos médios cursos, crescendo à medida que
se aproximam dos baixos cursos e na embocadura do rio, alcançam larguras
consideráveis nos vales e próximo à orla. Esses aluviões são representados por
areias finas a grosseiras, de cores variadas, incluindo cascalheiras, argilas e matéria
orgânica em decomposição.
34
2.2.4 - Sedimentos de Praia
A praia é subdividida em três feições morfológicas: Ante-praia, praia e pós-
praia, que geral apresentam areia de granulometria média composta por quartzo,
minerais opacos e carbonáticos, de coloração amarelado, branco, e preto dando um
aspecto geral com tonalidade bege, os grãos são arredondados a sub-
arredondados, sendo que nos sedimentos do pós-praia há presença de organismos.
2.2.5 – Dunas
As dunas estão divididas em: Cordão de Dunas I que esta situado logo após a
pós-praia adentrando para o continente, apresenta uma altitude média de dois
metros e suas características são de areia com granulometria média, composto de
quartzo, minerais opacos e carbonáticos, de coloração amarelado, branco e preto
dando um aspecto geral com tonalidade bege, os grãos são arredondados a
subarredondados; Cordão de Dunas II, que encontra-se logo após os terraços
marinhos holocênicos, no sentido oeste, sua altitude é de aproximadamente oito
metros e seus sedimentos arenosos de granulometria fina e de coloração superficial
esbranquiçada que possui composição do Cordão de Dunas I, além de matéria
orgânica provinda da vegetação de restinga típica dessa área.
2.2.6 - Terraços Marinhos Holocênicos
Está localizado após o cordão de dunas I, apresenta uma área
topograficamente baixa e plana, onde inclusive se observa formações de lagoas,
resultantes de afloramentos do nível estático, a granulometria dos sedimentos
arenosos varia de média a fina, com coloração superficial branca, é essencialmente
composta de quartzo, minerais opacos e carbonáticos, além de matéria orgânica.
2.2.7 - Arenitos de Praia
Localizam-se numa estreita área no encontro do mar com o rio Itariri, estando
sempre alinhados paralelamente sub-paralelamente à linha de costa. Ocorrem
formando corpos rochosos tabulares estratificados constituídos predominantemente
35
por areias quartzosas e fragmentos de conchas, litificadas por cimento carbonático,
apresentam fraturas ortogonais.
2.3 - Geologia Estrutural
Evidencias de neotectonismo foram observadas, segundo Santos et. al.
(2006) apud Silva & Tricart (1980) nos sedimentos da Formação Barreiras, no litoral
sul da Bahia. A primeira dela seria basculamento suave para sudeste que, segundo
esses autores se prolongaria por toda a plataforma ocidental. Também foram
observados vários alinhamentos de vales e áreas deprimidas que estão direcionados
segundo as orientações dos afloramentos do embasamento pré-cambriano, o que
representa uma reativação recente dessas linhas de fraqueza.
Santos ap. cit. apud Lima & Vilas Boas (1999), estudando as falésias do
grupo Barreiras no litoral sul da Bahia, citando algumas evidencias de neotectonismo
associadas a esse complexo sedimentar, observou que o sistema de alinhamento
dessa região, possui um paralelismo com a linha de costa, indicando provavelmente
um controle estrutural na deposição de sedimentos como possível reativação de
falhas pertencentes a esses alinhamentos.
Do ponto de vista geotectônico, essas feições provam que apesar da
estabilidade relativa do território brasileiro, existiu atividade tectônica na zona
costeira, durante o Quaternário. Do ponto de vista geomorfológico fica evidente que
o tectonismo atual é um dos principais mecanismos controladores dos processos de
modelamento do terreno.
Na área de estudo foram observados nos arenitos de praia, sistemas de
fraturas ortogonais e perpendiculares à atual linha de praia. No grupo Barreiras, ao
longo da Linha Verde, foram observados falhamentos escalonados e fraturas bem
definidas, com direção predominante NNE, Santos et. al. (2006).
36
Capítulo III – O Grupo Barreiras
Este capítulo específico sobre o Grupo Barreiras fez-se necessário pois a
ocorrência de barita aqui estudada, teria, em princípio, incompatibilidade com o
ambiente geológico que normalmente se considera, na maioria da literatura anterior,
para a formação desta unidade geológica.
Os depósitos sedimentares reunidos no chamado grupo Barreiras vem sendo
objeto de estudo desde o início do século passado, corresponde aos sedimentos
siliciclásticos que afloram na costa do Brasil, de uma forma quase continua do
Amapá até o Rio de Janeiro e apresenta uma grande variação litológica, que foi
observada por Matoso e Robertson (1959). Admite-se ao Barreiras idade Pliocênica,
porém é possível que haja segundo os autores (op. cit.) depósitos mais antigos e
mais novos, num intervalo de tempo que vá desde o Cretáceo Superior até o
Quaternário. Pelo fato destes sedimentos ocorrerem numa faixa muito extensa do
território brasileiro e sua variedade litológica, os ambientes de deposição podem
variar desde continental, fluvial e lacustrino até o ambiente marinho, Matoso e
Robertson (op. cit.).
37
Bigarella e Andrade (1964) numa tentativa de subdividir as seqüências
sedimentares do “Barreiras” por entenderem como impróprias as denominações de
“Série” ou “Formação” realizaram uma pesquisa baseada na metodologia da
estratigráfica moderna, aplicando conceitos geomorfológicos, morfoclimáticos,
estruturais e texturais. Propuseram então a denominação de grupo Barreiras, por
interpretarem duas formações distintas, na cidade de Recife, a saber: Formação
Guararapes como sendo a porção basal do grupo Barreiras, é uma seqüência de
sedimentos de granulação fina a grosseira, pouco consolidada e variam desde
sedimentos argilo-sílticos a arenosos, que são quase sempre mal selecionados e
apresentam seixos de quartzo e feldspato. A deposição da formação Guararapes
segundo Bigarella e Andrade (op. cit) ocorreu através de processos de
deslocamento de fluido, com corridas de lama, alternando com corridas de areia, o
que originou a falta de seleção. A origem desta formação esta relacionada a uma
grande flexura regional na zona costeira, fazendo com que a juzante houvesse uma
deposição dos sedimentos que foram erodidos anteriormente. Na sua porção
superior há a formação Riacho Morno, que foi depositado em discordância erosiva
sobre a formação Gaurarapes. Na secção tipo, duas litologias fundamentais
ocorrem: i) – sedimento siltico-argiloso, até arenoso, de espessura muito variável
lateralmente, com coloração cinza esbranquiçada e mosqueada, sem estratificação
e com presença de grânulos esparsos; ii) – sedimentos arenosos mal selecionados,
com linhas de seixos, sem estratificação, revelando acabamento incipiente só
representando corridas de areia.
Segundo Mabesoone (1966) o nordeste brasileiro é caracterizado por um
relevo de vários pediplanos e os seus depósitos correlativos. Na região costeira o
autor distinguiu pelo menos quatro formações diferentes, cobertas por vários
depósitos de idade relativamente recente. Em seu trabalho em 1972 Mabesoone
publicou um artigo intitulado “Estratigrafia e origem do Grupo Barreiras em
Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte” com o intuito de oferecer uma
contribuição local ao conhecimento sobre os sedimentos Barreiras e que servisse de
base para interpretações futuras. Tendo como base os trabalhos feitos por Bigarella
e Andrade (1964), como já foi citado, que designou ao Barreiras a nomenclatura de
Grupo e o subdividiu em duas Formações, Guararapes e Riacho Morno, Mabesoone
colocou em dúvida esta subdivisão, pois sedimentologicamente as duas formações
não podem ser distinguidas, indicando assim um mesmo ambiente de deposição
38
apud Mabesoone (1966, 1967) e, no lugar do afloramento, a formação Guararapes é
caracterizada por uma estratificação horizontal ou lenticular que coincide com a
coloração das camadas. A formação Riacho Morno não mostra tal estratificação,
possuindo manchas vermelhas em forma de infiltrações de óxidos de ferro. A
superfície inferior dessa unidade parece ser uma discordância de erosão. Além
disso, há numerosas dessas discordâncias através de ambas as formações, o que
corresponde bem ao ambiente de deposição continental. O estudo pormenorizado
das extensas falésias, entre Cabo Branco e Barra do Gramame, na Paraíba,
mostrou que a unidade Riacho Morno acompanha a superfície, parecendo assim
simplesmente uma capa de intemperismo intenso, até 6 m, da formação
Guararapes. “Assim, as duas “Formações”, Guararapes e Riacho Morno, no sentido
de Bigarella e Andrade (1964), não podem ser mantidas como formações
autônomas e unidades estratigráficas, “A formação” Riacho Morno difere da
“Formação” Guararapes somente por caracteres secundários, levando à conclusão
de que a “formação” Riacho Morno é uma capa de intemperismo da subjacente
“formação” Guararapes”. Mabosoone então propõem a seguinte subdivisão:
- A unidade inferior, é constituída por uma seqüência arenosa até arenítica.
Nas suas ocorrências nas chapadas do interior da Paraíba e do Rio Grande do
Norte, possui, na base, uma seqüência arenosa, friável, bastante caulínica, às vezes
dificilmente distinguível da capa de intemperismo caulínico do cristalino subjacente,
de coloração branca com algumas camadas mais escuras, geralmente de cores
roxas e amarelas; para cima, essas areias caulínicas tornam-se arenitos, localmente
silicificados até quartzitos sedimentares; na parte superior, há uma seqüência
arenosa até conglomerática, com cimento ferruginoso e bastante dura. Encerra a
seqüência total um capa laterítica, de arenitos ferruginosos, seja em blocos soltos,
seja ainda em forma de crosta.
Na direção da costa: Serra de Mossoró, hosts de Tibau, host de
Mamanguape, os sedimentos tornam-se melhor selecionados e menos duros; na
subsuperficie, na região de Natal, existe uma seqüência essencialmente arenítica,
que se torna em baixo quartzítica. Nessas regiões costeiras, a seqüência superior
ferruginosa geralmente falta, talvez devido à erosão posterior. As cores são também
claras. Na unidade média, que é composta por uma seqüência variegada, de
sedimentos arenosos até argilosos, em camadas horizontais ou em lentes, com
pequenas discordâncias de erosão local, marcadas por leitos de seixos. Assim,
39
corresponde à descrição inicial das "Barreiras", caracterizada por uma seqüência
muito heterogênea, de maneira tal que não há, nem mesmo em localidades vizinhas,
dois perfis iguais. No campo, os depósitos chamam a atenção pelas suas cores
vivas e pela sua estratificação irregular.
Essa irregularidade transforma-se, em alguns afloramentos, numa laminação
perturbada. No topo, existe uma capa de intemperismo, que destruiu a estratificação
original pela infiltração de óxidos de ferro. Esses óxidos de ferro apresentam-se em
manchas ou colunas verticais, às vezes cimentando os arenitos ferruginosos. Essa
capa segue mais ou menos a superfície atual, porém é truncada nos vales mais
profundos. A unidade encontra-se ao longo da costa, constituindo as barreiras dos
rios, inclusive do baixo Jaguaribe, e as falésias das praias, desde Recife até Aracati
(CE). Na capa ocorre ainda uma unidade superior, constituída por uma seqüência
essencialmente arenosa até argilosa, de coloração clara, com bastante caulim,
tendo na base um horizonte de espessura variável de seixos de quartzo e rochas
cristalinas. A granulação é bastante irregular e a estratificação muito indistinta. Toda
a seqüência parece, assim, ser muito homogênea. Raramente ocorrem
concentrações de óxidos de ferro, em forma de pequenas manchas alaranjadas até
avermelhadas. A formação está separada da unidade subjacente por uma evidente
discordância erosiva. Ela se encontra ao sul do Recife nos montes Guararapes,
entre João Pessoa (Cabo Branco) e os topos dos tabuleiros do vale do baixo rio
Jaguaribe, com sua melhor aparência na região de Natal e Macaíba, não
constituindo, porém, uma ocorrência contínua. Capeia-a uma série de intemperismo,
pouco espessa, de areias até siltes avermelhados. Esse capeamento pode estender-
se também sobre o intemperismo da unidade média, truncando-a.
A unidade inferior foi denominada então como formação Serra dos Martins,
para a unidade média foi mantido o nome de formação Guararapes e a unidade
superior ficou com o nome de formação Macaíba, estas três formações formam o
Grupo Barreiras, segundo Mabesoone et. al. (1972).
Quanto a sua idade, Mabesoone (op. cit.), data o único indício certo de uma
datação estratigráfica o fato de que as camadas do equivalente da formação
Guararapes na região de Belém do Pará repousam sobre a formação Pirabas, cujo
registro fossilífero é típico do Mioceno Inferior. No Rio Grande do Norte, os depósitos
da mesma formação são mais recentes do que o vulcanismo basáltico do Cabugi,
que, conforme datações geocronológicas, também é de idade miocênica. Dessa
40
maneira, pode-se supor que a formação Guararapes seja de idade miocênica
superior ou pliocênica, O intemperismo Riacho Morno seria do Plioceno superior,
formado num período relativamente longo, considerando-se a profundidade de 5-6 m
da capa intemperizada, a (Tabela 1), resume as litologias e idades relativas do grupo
Barreiras, segundo Mabesoone et. al. (1972).
Tabela 1 - Estratigrafia e origem do grupo Barreiras em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Mabesoone et. al. (1972).
A formação Serra do Martins cobre os topos das chapadas e serras em
altitudes correspondentes ao pediplano superior da região (Pd2, de Bigarella e
Ab'Sáber 1964 = superfície Sul-americana, de King, 1956) apud Mabesoone (1972).
Dessa maneira, pode ser um depósito correlativo dessa pediplanização ou de um
período um pouco posterior, como sedimento sobre uma planície já formada. O
referido pediplano foi abaulado depois da sua formação. Segundo dados recentes,
apresentados por Mabesoone (1972) apud Almeida (1969), esse movimento
epirogenético aconteceu no Oligoceno Superior até o Mioceno Inferior,
acompanhado pelo vulcanismo basáltico do Rio Grande do Norte (Cabugi). Isso
significaria, para a formação Serra do Martins, uma provável idade oligocênica ou
um pouco mais antiga. De qualquer maneira, sua ocorrência na faixa costeira em
posição discordante sobre os calcários maestrichtianos do Grupo Apodi indica uma
idade cenozóica.
Para a determinação dos prováveis ambientes de deposição Mabesoone et.
al. (1972) trabalhou com a composição granulométrica e o caráter morfoscópico e
morfométrico dos grãos de areia. Das amostras cimentadas fizeram-se lâminas
petrográficas, estudadas ao microscópio, concluindo então ambiente fluvial com
períodos de corrida de lama.
Na região Sul do Estado da Bahia o grupo Barreiras foi estudado por Lima
(2002), que o interpreta como sendo um ambiente de deposição em sua maior parte
41
de origem fluvial, com predominância de rios entrelaçados, havendo ainda depósitos
de planície de maré que são os ritmitos encontrados ao sul da Ponta de Corumbau
Lima (2002) apud Domingues et al. (2000), ritmitos esses que se encontram sobre
carbonatos de provável origem marinha, o que pode implicar numa incursão marinha
para aquela região, o que segundo os autores reforça a idéia de que o mar
influenciou a deposição dos sedimentos Barreiras, interpretando então a gênese dos
ritmitos resultante de depósitos em ambiente lacustrino.
Vilas Boas et. al. (2005) observaram que o grupo Barreiras é uma cobertura
sedimentar terrígena, de idade miocênica a pleistocênica inferior, que tem grande
ocorrência ao longo do litoral brasileiro, e que apresentam características
sedimentológicas indicativas de uma deposição por sistemas fluviais.
Arai M. (2006) concluiu que o Sistema Pirabas/ Barreiras Inferior foi
depositado durante a subida eustática ocorrida no intervalo Aquitaniano –
Serravalliano (Eomioceno a Mesomioceno). A unidade Barreiras Superior foi
depositada no Plioceno, existindo, entre esta e a unidade Barreiras Inferior, a
discordância Tortoniana, ou seja, durante a evolução da deposição dos sedimentos
conhecidos como grupo Barreiras houve uma transgressão marinha, que deixou
algumas evidências ao longo da costa do Brasil.
Este ultimo autor conclui, então, que antes do evento erosivo do Tortoniano, o
cenário na margem continental brasileira foi dominado pela grande transgressão no
intervalo Aquitaniano –Serravalliano (Eomioceno – Mesomioceno) que foi
responsável pela acumulação de uma grande quantidade de sedimentos nas áreas
hoje emersas do continente. E cita que se conhecem vários relictos de depósitos
transgressivos e de mar alto (highstand tract) que se manifestam em forma de
unidades litoestratigráficas quase contínuas como o grupo Barreiras, ou em forma
mais ou menos isolada como as formações Sabiá, aqui no Estado da Bahia, entre
outras. Estes depósitos foram formados em áreas extensas – sobretudo na faixa
costeira que vai atualmente da Foz do Amazonas ao Estado do Rio de Janeiro –,
onde a ausência de topografia elevada teria propiciado o avanço do onlap para
continente adentro, mas, devido à erosão sofrida no Tortoniano, sua ocorrência atual
é restrita. No Zancleano (Plioceno), ocorreu uma nova transgressão, e muitas das
áreas erodidas receberam uma nova cobertura que viria a constituir o Barreiras
superior. Mas para o interior – Alto Amazonas, Alto Xingu e Planalto de Borborema –
o horizonte que representaria a Discordância Tortoniana se encontra exumado, ou
42
se encontra ampliado em forma de hiato entre o Pré-Tortoniano e o Quaternário,
pois estas áreas não foram atingidas pela transgressão do Zancleano.
Arai (op. cit.) propôs então um modelo de evolução para o Grupo Barreiras,
para a costa norte do Brasil, conforme ilustrado na (Figura 6).
Figura 6 – Esquema de evolução do grupo Barreiras lato sensu na costa do Norte do Brasil. Arai M. (2006).
43
Squivel (2006) observou que na zona costeira do município de Conde o grupo
Barreiras é encontrado na sua porção mais interna, ocupando uma área expressiva,
cerca de 630 km2, o que representa 66% da área do município de Conde. Nesta
área, encontram-se principalmente, depósitos de seixos, areias e areias argilosas
pouco consolidadas. Morfologicamente esta unidade apresenta um relevo bastante
dissecado e fortemente ondulado, com colinas de topo convexo a tabular com
altitudes que variam de cerca de 50 metros, nas porções mais litorâneas, a cerca de
120 metros nas porções mais interioranas do município.
Domingues et. al. (2008) observam que as altitudes médias do grupo
Barreiras raramente ultrapassam os 100m, embora nas áreas mais interiorizadas
possam alcançar até 400m, o que pode ser atribuído principalmente aos seus
depósitos crono-correlatos, como a formação Sabiá. Estas altitudes médias são
compatíveis com as estimativas do nível do mar eustático no Mioceno Médio-Inferior
que alcançou um máximo entre 25 e 100 acima do nível atual Domingues (op. cit.)
apud Miller et al. 2005, Haq et al.1988. Os autores concluíram ainda, que uma
origem marinha para uma parte da “formação Barreiras” é muito mais consistente
que uma origem puramente fluvial uma vez que consegue explicar e conciliar várias
observações a respeito desta unidade: (i) sua morfologia em onlap sobre as
unidades mais antigas, (ii) sua distribuição espacial e altitude média, estando
ausente justamente naqueles trechos onde originalmente não havia espaço de
acomodação para a sua deposição (p.ex. Serra do Mar), (iii) altitudes compatíveis
com o nivel eustático do mar durante o Mioceno Médio-Inferior (ignorando-se
movimentos verticais posteriores), (iv) o grau de incisão experimentado pelas
drenagens que dissecam esta formação em decorrência da continuada descida do
nível eustático desde o Mioceno Médio, acentuando-se no Quaternário, (iv) as
ocorrências de sedimentos marinhos/transicionais com distribuição desde o Pará até
pelo menos o sul da Bahia.
44
Capítulo IV - Ambientes de formação dos depósitos de barita
4.1 - Introdução
A barita é um mineral composto de sulfato de bário (BaSo4), onde
teoricamente 65,7% é de monóxido de bário (BaO) e 34,3% de trióxido de enxofre
(SO3). O termo vem do grego “barys”, que significa pesado, por conta da sua alta
densidade, que varia de 4,3 a 4,6. Cristaliza-se no sistema ortorrômbico, classe
bipiramidal-rômbica, apresentando clivagem perfeita 001 e menos perfeita 210,
apresenta um brilho vítreo e uma dureza de 2,5 a 3,5 na escala de Mohs.
O mineral foi descoberto, na Itália, no Século XVII Luz A. B. et. al. (2005)
apud Velho et al., (1998). Um dos primeiros usos ocorreu, no século XIX, na
indústria de tinta branca, como carga. A seguir, passou a ser usada na produção de
um pigmento branco denominado de lithopone, constituído por uma mistura de
sulfato de bário, sulfato de zinco e óxido de zinco. Depois surgiu a indústria química
dos sais de bário e, por último, já no século XX, foi descoberto o uso da barita como
45
controlador de densidade de fluido de perfuração Luz A. B. et. al. (2005) apud
Haines (1979).
Atualmente, a barita é explotada em 66 países, sendo a China (3,5 Mt), a
Índia (0,9 Mt) e os EUA (0,4 Mt) os maiores produtores e, também, os detentores
das maiores reservas Luz A. B. et. al. (2005) apud Searls, (2004). Em termos
mundiais, cerca de 90% da barita produzida destina-se ao uso na perfuração de
poços de petróleo e parte significativa dos 10% restantes destina-se à manufatura
de carbonato de bário para a fabricação de vidros de TV, Luz A. B.(op. cit) apud
Griffiths, (1995), Harben, (2002). No Brasil o perfil típico de consumo da barita tem a
seguinte distribuição: indústria química 50%; indústria petrolífera 35%; outros (tinta,
papéis, borracha, vidros, abrasivos etc.) 15%segundo o mesmo autor.
4.2 – Geologia da barita
A barita ocorre em várias regiões do mundo, podendo ser encontrada em
rochas ígneas, metamórficas ou sedimentares. Os depósitos de valor comercial são
classificados, geologicamente, em três tipos: camada, veios e depósitos residuais.
Os depósitos em camadas ocorrem em rochas sedimentares e são
considerados os de maior importância em termos comerciais, sendo normalmente
constituídos de lentes ou níveis de barita, agrupados. O teor de BaSO4 é maior no
centro das lentes, diminuindo em direção às extremidades. Nos depósitos do tipo
veio, comumente, a barita ocorre em rochas carbonáticas, associada a sulfetos de
chumbo e zinco. Esse tipo de ocorrência costuma apresentar volumes menores de
minério se comparados com os do tipo camada. Os veios têm origem hidrotermal,
sendo formados a partir da precipitação de sulfato de bário. Por último, têm-se os
depósitos residuais encontrados em materiais não consolidados e que são formados
pelo intemperismo de materiais preexistentes. Os depósitos residuais, normalmente,
apresentam minério de baixo teor (6 a 10% BaSO4) e têm sido aproveitada como
barita de grau químico Luz A. B. et. al. (2005) apud Coffman e Kligore, (1986);
Brobst, (1994).
Segundo Luz A. B. et. al. (2005) uma importante característica da barita é a
de permanecer praticamente insolúvel em água e ácido, o que lhe confere a
propriedade de inércia química. Na maioria dos depósitos comerciais ocorre como
46
concreções, massas e nódulos irregulares e como camadas laminadas e massivas
de cristalinidade fina.
Betekhtin, (1967) observou que em zonas de intemperismo, influenciados pelo
clima árido, formam-se pequenos cristais de barita, provavelmente por grande
evaporação de água e saturação de (BaSo4), com posterior precipitação de barita,
frequentemente com habitus colunar, associados com gipsita e hidróxidos de ferro.
4.3 - Ambientes de formação da barita no Brasil
Segundo Dardene (1997) são conhecidos no Brasil seis tipos de ambientes
geológicos para a formação da barita, estes ambientes foram separados em função
da associação mineral como o magmatismo alcalino-carbonático, vulcanismo,
exalações sedimetares, filões hidrotermais, circulação de fluidos conatos e de
alteração supergênica.
4.3.1 - Ambientes de depósitos hidrotermais associados com o magmatismo alcalino-carbonático
No Brasil são conhecidos diversas ocorrências de barita neste ambiente que
estão associadas á chaminés alcalino-carbonática, uma das ocorrências mais
conhecidas é a de Araxá no Estado de Minas Gerais, que é constituído de
piroxenitos, glimeritos e carbonatitos. Os carbonatitos do tipo beforsitos (dolomita
predominante) ocupam a parte central do Complexo e é onde ocorre o foscorito,
constituído por flogopita, apatita, magnetita, carbonatitos e pirocloro. A barita de
Araxá esta associada à apatita e à magnetita em veios recortados por carbonatitos
ou próximos de corpos de silexito na cobertura laterítica ou ainda nas encaixantes.
4.3.2 - Ambientes de depósitos vulcano-sedimentares
A barita de origem vulcano-sedimentar esta normalmente associada aos
depósitos de sulfetos maciços de Cu-Pb-Zn. A formação se dá a partir de exalações
sobre ou perto do fundo oceânico, que são produtos de células geotermais
convectivas alimentadas pela água do mar, neste contexto a barita ocorre na forma
de um horizonte externo, associada normalmente a óxidos de ferro e chert. No Brasil
47
um dos poucos exemplos são nos depósitos auríferos vulcano-sedimentar de Mara
Rosa (GO), onde a barita aparece como um horizonte bem definido de origem
exalativa, em associação com níveis de chert e de sulfetos.
4.3.3 - Ambientes de depósitos sedimentares exalativos
São depósitos extratiformes de chumbo-zinco, prata e subordinadamente
cobre e barita, tectônicamente ocorrem em bacias intrecratônicas geralmente
limitadas por falhas profundas com feições de meio-grabens, as mineralizações que
ocorrem próximo as falhas são consideradas exalativas submerina. Dardene (op. cit)
apud Large (1983) observou que esta descargas corresponde a soluções
hidrotermais mineralizantes no fundo da bacia com precipitação de sulfetos e de
barita . No Brasil o maior exemplo é da jazida de barita de Água Clara no Estado do
Paraná.
4.3.4 - Ambientes de depósitos hidrotermais filoneanos
A mineralização de origem hidrotermal ocorre preenchendo fraturas de
extensão, na maioria das vezes relacionadas a processos de rifteamento, são
soluções constituídas de barita e quartzo por vezes associada à fluorita, sulfetos e
óxidos de ferro na forma de hematita/magnetita. A origem dos fluidos se da através
da infiltração de água meteórica ou marinha nas falhas, onde há o aquecimento,
então os fluidos hidrotermais promovem uma lixiviação nas rochas encaixantes e
precipitação das mineralizações, que apois a subida das falhas ficam próximo à
superfície. No Brasil uma das ocorrências mais conhecida é em Santa Catarina,
onde a barita ocorre associada nos filões de fluorita.
4.3.5 - Ambientes de depósitos associados à circulação de fluidos conatos
São formados quando os fluidos diagenéticos hidrotermais de baixa
temperatura em soterramento de bacias, migram lateralmente e verticalmente em
direção aos altos paleogeográficos, dissolvendo e substituindo rochas sedimentares.
Este tipo de depósito é semelhante ao modelo MVT (Mississippi Valley Type)
48
quando há mineralizações de chumbo e zinco nas rochas carbonáticas e ao modelo
Red Beds/Kupferschiefr quando há mineralizações de Cu-Pb-Zn em rochas
clásticas. No Brasil os maiores exemplos estão na Bahia, na bacia de Camamu e na
Bacia de Tucano, onde a barita ocorre em arenitos da Formação Marizal.
4.3.6 - Ambientes de depósitos residuais
As ocorrências de barita relacionada aos depósitos residuais são resultantes
da alteração superficial de depósitos preexistentes, pois como a barita possui pouca
solubilidade ela é encontrada como resistato em relação aos outros componentes do
minério original que são lixiviados, Dardene (op. cit.) apud Brobst (1983). A barita de
Araxá e de Camamu, que foram citadas acima, são bons exemplos pois nos seus
depósitos há alteração residual, o que provocou, apesar da sua baixa solubilidade a
formação de concreções supergênicas Dardene (op. cit.) apud Issa Filho et. al.
(1984).
49
Capítulo V – Uma proposta para o modelo genético da Barita de Conde
5.1 – Caracterização da barita de Conde
A barita de Conde se apresenta como agregados de formas variáveis, tais
como, placóide (tipo crosta), colunar estalactitica, e botroidal, com dimensões
centimétricas, às vezes ultrapassando 10 cm. A coloração varia de creme
esbranquiçada para o tipo colunar estalactitica, cinza para o tipo botroidal e creme
arroxeada para a placoíde tipo crosta. A densidade média medida é de 4,02 g/cm³,
um pouco abaixo do padrão para a barita, pois esta ocorrência apresenta algumas
impurezas, como as argilas, que tem densidade média de 1,70 g/m³. Assim as
amostras que contém menores quantidades de argila, como a tipo crosta
apresentam densidade de 4,26 g/cm³, enquanto que as amostras do tipo estalactitica
apresentam a menor densidade de 3,84 g/cm³, por apresentar maiores quantidade
de argilla inclusa (Fotos 1 - 4). Quanto a dureza ela esta em torno de 3 na escala de
Mohs.
50
FOTO 1 FOTO 2
FOTO 3 FOTO 4
FOTOS: 1 – BARITA BOTROIDAL; 2 – BARITA ESTALACTITICA; 3 – BARITA PLACÓIDE E 4 – TODAS OS TIPOS DE AMOSTRAS
Os agregados de barita ocorrem, invariavelmente, preenchendo pequenas
fendas (fraturas irregulares) entrelaçadas, geralmente em posição vertical a sub-
vertical. No mesmo contexto encontra-se agregados semelhantes formados por
hidróxido de ferro. A seguir apresentam-se fotos da ocorrência da barita de Conde
no afloramento ( Fotos 5 – 10).
FOTO 5 FOTO 6
FOTO 5 – Barita placóide (in situ), onde pode-se observar o crescimento dentro de pequenas fendas no argilito.
FOTO 6 – Barita estalactitica (in situ), mostrando crescimento vertical, também dentro de pequenas fendas no argilito.
51
FOTO 7 FOTO 8
FOTO 7 – Barita placóide (in situ), vista lateralmente, preenchendo uma fenda no argilito.
FOTO 8 – Barita estalactitica (in situ), onde pode-se observar o crescimento vertical.
FOTO 9 FOTO 10
FOTO 9 – Barita botroidal (in situ) associada com hidróxido
de ferro. FOTO 10 – Afloramento do argilito com a barita na parte inferior da foto, as setas indicam a posição de algumas
concreções de barita
Algumas amostras de barita foram analisadas em microscópio petrografico
onde foram observadas as relações com a rocha encaixante (Fotos 11 – 14).
Amostra de número CH – 53, fotomicrografias 11 e 12, são de uma barita do
tipo placóide, onde foi possível observar o cristal com forma subeuédrico, de
coloração cinza, clivagem, birrefrigência baixa e inclusões de argila, que
provavelmente foram incorporadas durante o crescimento do cristal da barita.
Amostra de número CH – 52, fotomicrigrafia 13, corresponde a barita do tipo
estalactitica, onde se observa o cristal de barita fraturado, mostra ainda os contatos
serrilhados/curvo.
Amostra de número CH – 55, fotomicrografia 14, que corresponde a barita do
tipo botroidal, onde se observa uma fratura na argila, que apresenta coloração
marrom, que esta preenchida pelo cristal de barita, que cresceu alí. As fotos
apresentam aumento de 50x.
52
FOTO 12
FOTO 11
5.2 – Caracterização da rocha encaixante
A ocorrência da barita esta inserida numa lente de argilito do grupo
Barreiras, que possui dimensões aflorantes de aproximadamente 100 metros de
comprimento e com espessura máxima de 10 metros, onde ocorrem também
concreções semelhantes à ocorrência da barita, porem de óxido de ferro. O argilito
encaixante da barita apresenta cor cinza esverdeada, sem estratificação visível,
estando sobreposto a um arenito fino esbranquiçado, e abaixo de um camada de
outro argilito, porem de coloração ferruginosa. Acima há uma grande discordância
erosiva, que separa a fácies argilosa por outra fácies estratigraficamente acima de
arenito grosso levemente conglomerático de coloração amarela avermelhada. A
seguir a fotografia mostra o afloramento do grupo Barreiras no local da ocorrência
FOTO 13 FOTO 14
FOTOS 11 E 12 – AMOSTRA CH 53; FOTO 13 – AMOSTRA CH 52 E FOTO 14 – AMOSTRA CH 55
53
(Foto 15) e na (Figura 7) um desenho esquemático do afloramento no local da
ocorrência.
FOTO 15 – Afloramento do grupo Barreiras no local da ocorrência da barita, mostrando a posição relativa das camadas.
FIGURA 7 – Desenho esquemático do afloramento do grupo Barreiras no local da
ocorrência da barita, mostrando a posição relativa das camadas.
5.2.1. Características Mineralógicas e Químicas Os sedimentos argilosos do grupo Barreiras, no local da ocorrência da barita,
foram analisados no Difratometro de Raio X (RIGAKU, Modelo D / MAX 2ª, tubo de
CuKα 1,5418) para identificação dos argilominerais. Assim, foi possível observar
que a rocha encaixante da barita apresenta argilominerais diferentes daqueles
presentes nas mesmas camadas sedimentares, que não contem a barita, como
mostram os difratogramas a seguir:
Nas figuras (8 a 21) tem-se os difratogramas das amostras de argilominerais
presentes nas diversas camadas do afloramento. Os difratogramas 8 a 19 são dos
argilominerais do argilito encaixante da barita, e os difratogramas 20 e 21, são dos
demais argilominerais das camadas que não contem a barita.
54
Analisando os difratogramas concluiu-se que todas as amostras
apresentaram os picos principais da caulinita, que são de 7,18 Ǻ e 3,58 Ǻ, porem
para as amostras do argilito que contem barita surgiram picos secundários, nas
amostras CCH1, CCH5 e CCH6 no valor de 15Ǻ, que não foi possível relacionar com
segurança ao argilomineral presente. Então recorreu-se, como o recomendado por
Albers et. al. (2002), a solvatação com etilenoglicol, processo conhecido como
Glicolagem, pois esse processo baseia-se na capacidade de alguns argilominerais
de admitem em sua estrutura ligações com álcoois e com água, fazendo com que
ocorra um aumento da distância interplanar. O que foi comprovado, pois apois a
glicolagem tiveram o pico de 15Ǻ descolado para 17Ǻ, para uma melhor
comprovação do argilomineral presente, seguiu-se com o aquecimento a 500° na
mufla, o que resultou na redução da distância interplanar, fazendo com que os picos
calcinassem para 10Ǻ, o que levou a conclusão de que se trata de argilominerais do
grupo da Esmectita Mg, Ca, Resende, M et. al. (2005). Para a amostra CCH8 além
dos picos da caulinita apareceu um pico de 10Ǻ, que depois da glicolagem e do
aquecimento permaneceu no mesmo valor, o que levou a conclusão de que se trata
de Ilita. As amostras CCH2 e CCH4 (Figuras 20 e 21 respectivamente) que são de
argilas ferruginosas e não contem a barita, mostraram em seus difratogramas a
caulinita. Em todas as amostras ocorre o quartzo.
A presença da caulinita já era esperada, pois trata-se de um argilomineral de
ampla ocorrência nos solos de domínio tropical. Esta freqüência é atribuída à sua
formação porque a caulinita tem uma grande variedade de materiais de origem,
produto do intemperismo ácido, onde se prevê uma expressiva retirada de sílica e
bases do sistema, Resende, M et. al. (2005). Quanto à esmectita é um argilomineral
do grupo da montmorilonita, resultado da ação do intemperismo químico de rochas
básicas em clima árido/semi-árido ou tropical seco. Já a ilita é tipicamente resultante
do intempirismo mecânico de folhelhos, argilitos e ardósias, ou ainda no
intemperismo químico de rochas ácidas, em condições de clima árido/semi-árido ou
temperado Bionde, J.C. (2003).
55
Figura 8 - Difratograma da Amostra CCH1 Figura 11 - Difratograma da Amostra CCH5 normal
Figura 9 - Difratograma da Amostra CCH1 glicolada Figura 12 - Difratograma da Amostra CCH5 glicolada
Figura 10 - Difratograma da Amostra CCH1 aquecida Figura 13 - Difratograma da Amostra CCH5 aquecida
56
Figura 17 - Difratograma da Amostra CCH8 normal
Figura 14 - Difratograma da Amostra CCH6 normal
Figura 15 - Difratograma da Amostra CCH6 glicolada Figura 18 - Difratograma da Amostra CCH8 glicolada
Figura 16 - Difratograma da Amostra CCH6 aquecida Figura 19 - Difratograma da Amostra CCH8 aquecida
Figura 20 - Difratograma da Amostra CCH2 normal Figura 21 - Difratograma da Amostra CCH4 normal
57
Também formam analisadas 8 (oito) amostras para “trinta elementos” (método
ICP), em cada uma das camadas identificadas no afloramento, onde chamou
atenção os altos valores de Ba, K, Mg, La e Y, nas amostras da camada que contem
a ocorrência de barita, em relação as demais camadas, conforme mostrado na
tabela abaixo (Tabela 2). Este aspecto geoquímico pode também ser considerado
como um indicador de ambiente de deposição diferenciado para o argilito encaixante
da ocorrência de barita, assim como foi sinalizado antes pela diferença entre os
argilominerais.
Al Ba Cr Cu Fe K La Mg Mn Ni P Pb Sc Sr V Y Zn Zr Amostras ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm ppm
CCH/01 19000 174 83 18 41000 900 27 1400 < 0.01 9,2 200 6,3 13 1 79 3,5 20 2,6
CCH/02 12000 16 54 4,4 24000 200 < 10 100 < 0.01 1 < 0.01 11 3,8 < 1 91 < 1 2 5
CCH/03 4200 3,6 13 6,8 14000 < 0.01 < 10 < 0.01 < 0.01 6,9 < 0.01 4,1 < 3 1,1 10 < 1 1,1 1
CCH/04 1200 34 80 5,4 22000 200 < 10 200 < 0.01 < 1 < 0.01 8,4 8,7 < 1 56 < 1 2 4
CCH/05 17000 205 57 13 25000 700 34 1200 < 0.01 6,7 < 0.01 6,9 13 < 1 66 4,4 17 1,5
CCH/06 9700 147 17 5,8 7800 300 35 500 < 0.01 3 < 0.01 4,7 5,9 < 1 15 2,8 8,9 1,6
CCH/07 2400 18 2,9 < 1 5500 100 < 10 < 0.01 < 0.01 3,6 < 0.01 < 3 < 3 < 1 < 3 < 1 < 1 < 1
CCH/08 19000 15 50 2,9 19000 300 20 200 < 0.01 1,2 < 0.01 6,5 13 < 1 62 1,5 1,8 4,2 Tabela 2 – Resultado da análise química dos sedimentos do grupo Barreiras, na área da
ocorrência da barita. As amostras grifadas de cinza são da encaixante da barita.
5.3 – Esboço de um modelo genético para a barita de Conde Com base nas evidências de campo, nos resultados das análises
mineralógicas e geoquímicas, nos modelos metalogenéticos para a formação da
barita e no conhecimento mais recente sobre a natureza e evolução dos ambientes
geológicos propostos para o grupo Barreiras. Fez-se a integração dos dados e
informações disponíveis, através de um esquema evolutivo para explicar a formação
da ocorrência de barita do município de Conde, conforme mostrado a seguir (Figura
22).
58
Fase 4
D
Fase 3
C Fase 2
B Fase 1
A
Sedimentos continentais 2
Sedimentos marinhos, encaixante da barita
Sedimentos continentais 1
Embasamento
Figura 22 – Esboço de um modelo genético para a barita de Conde
59
Na Fase 1 observa-se que há deposição dos Sedimentos Continentais do
Grupo Barreiras durante período(s) de baixo nível do mar (Figura 21A), o material
erodido, constituído de sedimentos areno-argilosos pobremente selecionados, foi
acumulado no sopé das encostas sob a forma de extensos depósitos de leques
aluviais sobre o embasamento. Nesta época, o nível do mar estava mais baixo que o
atual, o que permitiu a extensão dessa deposição à plataforma continental atual
(Bigarella & Andrade 1964). Isto é confirmado, por exemplo, pela existência de
falésias vivas do grupo Barreiras com até 50 m de altura em alguns trechos da
costa.
Fase 2 (Figura 21B), houve elevação do nível do mar, cobrindo os sedimentos
continentais que foram depositados na fase 1. Segundo Bittencourt et al. (1979),
houve vários episódios transgressivos e regressivos, que ocorreram entre o fim do
Plioceno e o antepenúltimo alto do nível marinho, em condições de clima úmido. Ao
mesmo tempo, os baixos cursos dos rios da região foram afogados, constituindo
estuários, segundo o autor.
Na fase 3 (Figura 21C), regressiva, o clima retornou progressivamente à
semi-aridez. Este retorno a condições climáticas favoreceu a evaporação da água
contida nos sedimentos marinhos que foram depositados anteriormente, e
concomitantemente erosão dos sedimentos depositados anteriormente.
considerando que a água, contida nos sedimentos marinhos continha íons de Ba ++ e
SO4 2- , dissolvidos, e quando há uma variação nos valores do Ph e Eh, para um
ambiente mais alcalino e redutor, segundo Bionde (op. cit) e com a evaporação da
água a solução ficaria saturada em Ba ++ e SO4 2- o que vai promover a precipitação
da barita, em nódulos, preenchendo fraturas e entre as gretas de contração,
formadas em condições semi-árida.
Fase 4 (Figura 21D) regressão marinha com erosão da maior parte do
registro da fase 3 e deposição dos sedimentos continentais, quando o clima passa a
ser mais úmido.
É importante ressaltar que este esboço sustenta-se apenas nos registros
observados na área de ocorrência da barita e, assim deve ser considerado quando
comparado com outras áreas de exposição do grupo Barreiras.
60
Capítulo VI – Discussões e Conclusões
De acordo com o que foi proposto, conclui-se que o grupo Barreiras
apresenta, em parte da sua evolução, evidências de sedimentação em ambiente
marinho, devido a subida do nível do mar, o que deve ter ocorrido durante o
Plioceno.
A formação dos argilominerais do grupo da montimorilonita, como a
esmectita, que foi encontrado nos sedimentos, que contem a barita, tem sua
formação favorecida em ambientes de clima árido a semi-árido. Este clima favoreceu
a formação da barita, pois foi quando houve a evaporação da água e saturação do
sulfato de bário, com posterior precipitação da barita.
Na busca de um modelo genético para explicar a origem da ocorrência da
barita na região de Conde, deve-se considerar primeiramente as seguintes
características dessa ocorrência:
a) O confinamento dos agregados de barita a uma única camada de argilito, que
apresenta características indicativas de deposição em ambiente marinho.
b) A ausência de qualquer indicação de atividade hidrotermal na área da
ocorrência.
61
c) O caráter inconsolidado dos sedimentos encaixantes, indicando ambiente
essencialmente supergenico.
d) As formas de ocorrência dos agregados, que preenche pequenas fendas, em
posição vertical, indicando a natureza epigenética dos agregados.
e) A forma do crescimento dos cristais da barita, que apresentam texturas em
nódulos colunares.
f) A associação, na mesma camada, de formas semelhantes, porem
constituídas de hidróxido de ferro.
Diante das características apresentadas acima, conclui-se que a ocorrência
de barita de Conde é do tipo sedimentar-supergenica- stratabound, pois somente
está presente numa unidade estratigráfica bem definida, o argilito.
Numa tentativa de colocar a barita de Conde num dos modelos de ambientes
de formação para barita, apresentados no capítulo IV, o tipo que mais se aproxima é
o de circulação de fluidos conatos, uma vez que, apois a regressão do mar a água
que estava nos poros da argila começou a sofrer evaporação, devido a influência do
clima árido, como observado por Betekhtin, (1967), onde o autor diz que em zonas
de intemperismo, influenciadas pelo clima árido, formam-se pequenos cristais de
barita, provavelmente por grande evaporação de água e saturação de (BaSo4), com
posterior precipitação de barita, frequentemente, com habitus colunar, associados
com gipsita e hidróxidos de ferro. O que lhe confere as características típicas de
ambiente supergênico.
Deve-se, entretanto, considerar o caráter aproximativo do esboço de modêlo
aqui proposto para a formação da barita de Conde. Algumas questões básicas
relacionadas à gênese dos depósitos de barita - tais como , a baixa solubilidade do
sulfato de bário nas condições normais do ambiente supergênico e a fonte do
enxofre, dentre outras, devem ser contempladas na formulação de um modêlo mais
completo, o que, entretanto, ultrapassa os objetivos e recursos metodológicos deste
trabalho. Assim, sugere-se a realização de trabalhos mais detalhados para
esclarecer a natureza e a origem dessa ocorrência de barita, particularmente
baseados em métodos isotópicos, tais como, medidas das relações δ34S e Sr87/Sr86.
62
BIBLIOGRAFIA
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