octávio amorim neto- o rio de janeiro e o estado nacional (1946-2010)

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E ste artigo procura mostrar que o estudo da trajetória política de um estado específico, no caso, o Rio de Janeiro, em uma república federativa, é também uma análise de como os contornos mais gerais da política estadual se relacionam com a configuração do quadro políti- co-partidário em âmbito nacional. Portanto, para além de um estudo de uma unidade política subnacional, propomos, a seguir, parâmetros teóricos e empíricos para o avanço de pesquisas sobre o federalismo. O que sugerimos não é exatamente uma novidade. Nas décadas de 1970 e 1980, cientistas sociais e historiadores, brasileiros e brazilianis- tas, procuraram analisar o peso político específico dos principais esta- dos brasileiros no âmbito da Federação. Os mais destacados trabalhos dessa agenda de pesquisa foram as obras de Love (1971; 1980), Schwartzman (1982) e Wirth (1977). Não é surpresa terem sido Minas Gerais, São Paulo e o Rio Grande do Sul as unidades subnacionais por eles estudadas. Surpreende, todavia, a ausência de reflexão de monta sobre o Rio de Janeiro, tradicionalmente o segundo maior PIB e a ter- ceira maior população do país. Conquanto não faltem publicações so- bre as consequências políticas e econômicas da transferência da capital 467 Revista Dados – 2013 – Vol. 56 n o 3 1ª Revisão: 01.08.2013 Cliente: Iesp – Produção: Textos & Formas * Os autores agradecem pelos dados econômicos e fiscais generosamente cedidos por José Roberto Afonso e Carlos Roberto Azzone, pelos comentários de Antônio Octávio Cintra e de dois pareceristas anônimos, e pela assistência de pesquisa de Saulo Said. DADOS – Revista de Ciências Sociais , Rio de Janeiro, vol. 56, n o 3, 2013, pp. 467 a 496. O Rio de Janeiro e o Estado Nacional (1946-2010)* Octavio Amorim Neto 1 Fabiano Santos 2 1 Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE), da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil 2 Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, Brasil

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Octávio Amorim Neto- O Rio de Janeiro e o Estado Nacional (1946-2010)

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  • E ste artigo procura mostrar que o estudo da trajetria poltica deum estado especfico, no caso, o Rio de Janeiro, em uma repblicafederativa, tambm uma anlise de como os contornos mais gerais dapoltica estadual se relacionam com a configurao do quadro polti-co-partidrio em mbito nacional. Portanto, para alm de um estudode uma unidade poltica subnacional, propomos, a seguir, parmetrostericos e empricos para o avano de pesquisas sobre o federalismo.

    O que sugerimos no exatamente uma novidade. Nas dcadas de1970 e 1980, cientistas sociais e historiadores, brasileiros e brazilianis-tas, procuraram analisar o peso poltico especfico dos principais esta-dos brasileiros no mbito da Federao. Os mais destacados trabalhosdessa agenda de pesquisa foram as obras de Love (1971; 1980),Schwartzman (1982) e Wirth (1977). No surpresa terem sido MinasGerais, So Paulo e o Rio Grande do Sul as unidades subnacionais poreles estudadas. Surpreende, todavia, a ausncia de reflexo de montasobre o Rio de Janeiro, tradicionalmente o segundo maior PIB e a ter-ceira maior populao do pas. Conquanto no faltem publicaes so-bre as consequncias polticas e econmicas da transferncia da capital

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    Revista Dados 2013 Vol. 56 no 31 Reviso: 01.08.2013Cliente: Iesp Produo: Textos & Formas

    * Os autores agradecem pelos dados econmicos e fiscais generosamente cedidos porJos Roberto Afonso e Carlos Roberto Azzone, pelos comentrios de Antnio OctvioCintra e de dois pareceristas annimos, e pela assistncia de pesquisa de Saulo Said.

    DADOS Revista de Cincias Sociais, Rio de Janeiro, vol. 56, no 3, 2013, pp. 467 a 496.

    O Rio de Janeiro e o Estado Nacional (1946-2010)*

    Octavio Amorim Neto1

    Fabiano Santos21Escola Brasileira de Administrao Pblica e de Empresas (EBAPE), da Fundao GetulioVargas, Rio de Janeiro, Brasil2Instituto de Estudos Sociais e Polticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ), Rio de Janeiro, Brasil

  • para Braslia em 1960 e da fuso do antigo Estado do Rio de Janeirocom a Guanabara em 1975 (ex.: Ferreira, 2000; Freire, Sarmento eMotta, 2001; Lessa, 2000; Motta, 2001; Osrio, 2005), estas tratam so-bretudo do impacto, por assim dizer, domstico de tais mudanas.Assim, inexiste artigo ou livro que avalie sistematicamente a evoluodo lugar do Rio de Janeiro na poltica nacional antes e depois da trans-ferncia e da fuso. Procuramos aqui suprir essa carncia.

    Do ponto de vista emprico, examinamos evidncias quantitativas dafrequncia de polticos cariocas e fluminenses no Executivo Federalentre 1946 e 2010. Metodologicamente, tratamos a antiga capital, o ve-lho Estado do Rio de Janeiro e o extinto Estado da Guanabara comouma unidade entre 1946 e 1974. A partir de 1975, essas trs unidades seencontram dentro do novo Estado do Rio de Janeiro. Dessa maneira,oferecemos novas verificaes empricas a respeito do papel do Rio napoltica nacional e avanamos duas hipteses: uma de natureza induti-va e histrica e a outra de cunho mais dedutivo e institucional, ambasextradas da literatura sobre instituies polticas brasileiras e de nos-sas intuies a respeito do que tem acontecido na poltica desse estadonos ltimos anos. A primeira argumenta que a participao de polti-cos do Rio nos gabinetes presidenciais , em boa medida, uma funodo peso relativo do estado nas bancadas de deputados federais dosprincipais partidos governativos. A segunda sustenta que o fortaleci-mento do governo central, a partir da promulgao da Constituio de1988, no que toca ao seu relacionamento com os estados, forou o Rio aajustar-se s alianas partidrias montadas pelos presidentes, o quecontribuiu para uma relativa recuperao da influncia nacional do es-tado na primeira dcada do sculo XXI.

    Dito isso, o artigo se organiza da seguinte maneira: a prxima seoapresenta uma medida quantitativa da variao do papel poltico doRio de Janeiro na poltica nacional entre 1946 e 2010, com foco na parti-cipao ministerial dos estados; a terceira seo busca identificar as ra-zes do impressionante declnio poltico do Rio entre o final da dcadade 1960 e o comeo do atual sculo; a seo seguinte discorre sobre a re-cuperao poltica esboada a partir de 2003; a quinta oferece umareflexo de cunho normativo sobre as consequncias, para o Brasil, domarcante declnio poltico e econmico do estado no plano nacional; asexta seo enuncia as concluses.

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  • A PARTICIPAO DO RIO DE JANEIRO NOS GOVERNOS FEDERAIS

    At recentemente, foram muito frequentes as notcias sobre a fuga deempresas e o esvaziamento econmico do Estado do Rio de Janeiro.Por exemplo, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica(IBGE) mostraram que o Rio foi a unidade da Federao que menoscrescera entre 1985 e 2001. Alm disso, entre 1985 e 2002, o Rio de Janei-ro tambm fora quase sempre mal no tocante sua influncia sobre apoltica nacional. Mesmo com a chegada de Lula ao poder em 2003, umpresidente que recebera uma enorme percentagem dos votos dos elei-tores cariocas e fluminenses no segundo turno da eleio de 2002(79,0%, a maior percentagem obtida por Lula numa contagem por esta-do), parecia que os polticos do Rio de Janeiro podiam ser facilmentedescartados. Assim, em janeiro de 2004, os trs ministros do Rio queLula nomeara no dia da sua posse Benedita da Silva, Miro Teixeira eRoberto Amaral tiveram que deixar suas pastas ou foram afastadosdo governo. De janeiro de 2004 a julho de 2005, o estado ocupou apenasum cargo com status ministerial, a Secretaria de Direitos da Mulher.

    Entretanto, e de forma no menos surpreendente, sob os dois manda-tos de Lula, entre 2003 e 2010, o Rio de Janeiro alcanou seu nvel maisalto de participao desde que o Brasil se redemocratizara em 1985, fi-cando, em mdia, com 6,9% das nomeaes ministeriais dos dois qua-drinios.

    Para se ter uma perspectiva histrica do peso poltico do Rio de Janeirona poltica nacional, convm tabular alguns nmeros a respeito da par-ticipao dos maiores estados nos gabinetes presidenciais durante ostrs regimes que tivemos desde o fim da Segunda Guerra Mundial: oregime democrtico de 1946 a 1964, o regime militar de 1964 a 1985, e onovo regime democrtico de 1985 ao presente. Cabe ainda lembrarque, no contexto do nosso presidencialismo de coalizo, as nomeaesministeriais constituem o principal mecanismo pelo qual os presiden-tes montam sua base de apoio poltico e, consequentemente, o controlede cargos ministeriais um dos mais importantes meios de exerccio deinfluncia poltica no plano nacional (Abranches, 1988).

    Para estimar o peso dos estados nos gabinetes presidenciais, precisodefinir critrios que estipulem quando a origem estadual de um minis-tro relevante ou irrelevante para a sua nomeao. Por exemplo, o fatode Pedro Malan ter nascido e vivido no Rio de Janeiro no teve influn-cia na sua escolha como ministro da Fazenda de FHC. J a nomeao de

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  • Guido Mantega para essa pasta por Lula pode ser associada, entre ou-tras dimenses, ao fato de ser um economista paulista. Alm disso, hque se levar em conta no o lugar de nascimento dos ministros, mas oestado em que conduziram suas carreiras polticas. Assim, DilmaRousseff, ainda que tenha nascido em Minas, deve ser consideradauma representante do Rio Grande do Sul nos gabinetes de Lula, umavez que foi neste estado que transcorreu a sua carreira poltica. Por l-timo, ministros com perfil exclusivamente tcnico no devem ter suasnomeaes relacionadas a qualquer estado. o caso do embaixadorCelso Amorim, diplomata de carreira, que foi o chanceler de Lula du-rante oito anos, mas cuja nomeao no esteve ligada sua origemsantista.

    Portanto, a diferena entre tecnocratas e polticos fundamental paraos propsitos deste artigo1. Sem dvida, aqueles tambm so atorespolticos. No obstante, seus recursos, preferncias e critrios de de-sempenho so marcadamente diferentes dos que regem a ao de umpoltico, mormente se este for detentor de cargo eletivo. Para um polti-co, a defesa e a promoo dos interesses distributivos de partidos, clas-ses sociais, grupos de interesse e regies so inevitavelmente o foco darepresentao. J os tecnocratas tendem a privilegiar critrios de efi-cincia e equidade alocativas com base em conhecimento especializa-do ou experincia profissional (Centeno e Silva, 1998). Porm, h tam-bm os tecnocratas cuja origem estadual relevante, pois so nomea-dos justamente para levar em conta o impacto de suas decises em m-bitos polticos subnacionais. Isso inevitvel num pas de vasta di-menso territorial e numa federao heterognea como a brasileira.

    Outra deciso operacional de monta deste artigo inserir, na mesmaamostra, governos democrticos (os formados em 1946-1964 e1985-2010) e autoritrios (1964-1985). Contudo, se nossa distino fun-damental entre ministros polticos e tecnocrticos, a comparao nodeveria ento cingir-se apenas aos regimes democrticos, j que, pordefinio, os regimes autoritrios no precisam do apoio de polticoseleitos?

    Afavor da comparao de todos os governos do perodo 1946-2010, po-dem ser arrolados os seguintes fatores. Em primeiro lugar, no obstan-te o regime militar, ao longo desses 65 anos, as bases constitucionais dopas permaneceram praticamente inalteradas: o presidencialismo(com a exceo do interregno parlamentarista de setembro de 1961 a ja-

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  • neiro de 1963), o bicameralismo, o federalismo, e o calendrio e os sis-temas eleitorais da Cmara dos Deputados, do Senado e das Assem-bleias Legislativas estaduais. Sem dvida, durante essas seis dcadas emeia, houve considervel variao no formato dos sistemas partid-rios, na extenso de poder do governo central vis--vis os governossubnacionais, na competitividade e lisura das eleies, e na indepen-dncia e influncia dos Poderes Legislativo e Judicirio. Entretanto eaqui entra o segundo fator , a necessidade de o Executivo federal con-tar com o apoio da classe poltica seja no Congresso, seja nos estados esteve sempre presente, com a possvel exceo dos 10 meses em que oCongresso esteve fechado em 1969. Ou seja, houve grande continuida-de institucional e nas prticas polticas, o que permite o cotejamentoentre os regimes democrticos e o autoritrio. Obviamente, em geral,os polticos foram menos importantes em 1964-1985 do que em1946-1964 e 1985-2010. Em particular, interessa-nos saber como o Riode Janeiro foi afetado pela degradao da classe poltica promovidapelos militares.

    Estabelecidos os critrios de avaliao do controle ministerial pelos es-tados e lanadas as bases de comparao entre os trs regimes, olhe-mos a Tabela 1 a seguir. Nela exibe-se a percentagem de nomeaes mi-nisteriais (para cargos civis) destinadas ao Rio e a outros seis grandesestados, por regime. O dado mais impressionante o declnio da parti-cipao ministerial do Rio de Janeiro. Em 1946-1964, o ex-Distrito Fe-deral e os antigos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara ficaramcom 15,7% das nomeaes ministeriais, abaixo apenas de So Paulo,com 20,7%. Sob o regime militar, o antigo Estado do Rio de Janeiro e oento recente Estado da Guanabara (at 1974) e o novo Estado do Riode Janeiro (a partir de 1975) receberam uma percentagem considera-velmente menor de nomeaes ministeriais, 5,3%. No perodo de 1985a 2010, o peso mdio do Rio nos gabinetes presidenciais caiu novamen-te, para 4,6%, muito prximo ao nvel do Paran (4,0%) e de Pernambu-co (3,9%).

    Cabe registrar que outros grandes estados tambm perderam influn-cia poltica no plano federal de um perodo para outro. So Paulo, porexemplo, experimentou uma queda vertiginosa durante o regime mili-tar. Porm, sob o atual regime democrtico, voltou a ter um nvel departicipao nos gabinetes presidenciais prximo ao que tivera em1946-1964. Note-se tambm que todos os sete estados decaram politi-camente sob o interregno autoritrio. Isso era de se esperar, dado o for-

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  • te carter tecnocrtico do regime e a averso dos militares polticapartidria. No toa, a percentagem de ministros cuja origem estadualfoi politicamente irrelevante chegou a 65,3% entre 1964 e 1985 (haviasido de 11,4% em 1946-1964, vindo a ser 6,6% em 1985-2010). J o RioGrande do Sul manteve aproximadamente a mesma cota de nomea-es ministeriais ao longo dos trs regimes. Mas apenas o Rio caiu aolongo dos trs perodos, sendo tambm o estado que sofreu a maisdrstica reduo em sua presena nos gabinetes presidenciais entre aprimeira experincia democrtica e a atual.

    At o momento, os dados foram examinados de um ponto de vista bas-tante agregado. Se os desagregamos por presidncia, um quadro maiscomplexo se apresenta, permitindo identificar a gnese e a motivaodo declnio. Os Grficos 1 e 2 a seguir descrevem, respectivamente, apercentagem de ministros do Rio de Janeiro em relao ao total de minis-tros, por presidncia, e a percentagem de ministros deste estado em re-lao ao conjunto de ministros com origem estadual politicamente relevante,tambm por presidncia. Os dois grficos atestam que, entre 1946 e1964, o estado teve presena poltica marcante nos governos de Dutra,

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    Tabela 1

    Mdia e Desvio-Padro da Participao Ministerial dos Sete Maiores Estados, por

    Regime Poltico (1946-2010)

    1946-64 1964-85 1985-2010

    Mdia Desvio-Padro Mdia Desvio-Padro Mdia Desvio-Padro

    BA 9,3 7,2 3,2 3,5 6,2 3,1

    MG 14,3 6,2 6,3 5,2 11,3 5,8

    PE 8,6 2,1 2,1 3,0 3,8 2,3

    PR 2,9 4,7 2,1 2,8 4,0 3,6

    RJ* 15,7 8,0 5,3 4,8 4,6 2,4

    RS 7,9 5,2 7,4 5,1 7,8 3,4

    SP 20,7 3,4 2,1 2,7 18,2 6,5

    Outros Estados 9,3 7,7 6,3 5,1 27,6 7,4

    OEPI** 11,4 24,6 65,3 11,1 16,6 5,1

    Fontes: Para 1946-1964, Amorim Neto (1991); para 1946-1985, Abreu et al (2001); para 1985-2006,Amorim Neto (2007); e para 2007-2010, os dados foram coletados do portal da Presidncia da Rep-blica: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes (acesso em outubro de 2011; doportal do Dicionrio Histrico-Biogrfico Brasileiro, do CPDOC/FGV: http://cpdoc.fgv.br/acer-vo/dhbb (acesso em outubro de 2011); e da Wikipedia: http://pt.wikipedia.org (acesso em outubrode 2011).* A sigla RJ engloba o antigo DF e o antigo Estado do Rio de Janeiro entre 1946 e 1960; engloba o antigoEstado da Guanabara e o antigo Estado do Rio de Janeiro entre 1960 e 1974; e, a partir de 1975, signifi-ca o novo Estado do Rio de Janeiro.** Origem estadual politicamente irrelevante.

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    Grfico 1

    Percentagem de Ministros do Rio de Janeiro em relao ao Total de Ministros, por

    Presidncia (1946-2010)*

    Fontes: As mesmas da Tabela 1.* Rio de Janeiro engloba o antigo DF e o antigo Estado do Rio de Janeiro entre 1946 e 1960; engloba oantigo Estado da Guanabara e o antigo Estado do Rio de Janeiro entre 1960 e 1974; e, a partir de 1975,significa o novo Estado do Rio de Janeiro.

    Grfico 2

    Percentagem de Ministros do Rio de Janeiro em relao ao Total de Ministros com

    Origem Estadual Politicamente Relevante, por Presidncia (1946-2010)*

    Fontes: As mesmas da Tabela 1.* Rio de Janeiro engloba o antigo DF e o antigo Estado do Rio de Janeiro entre 1946 e 1960; engloba oantigo estado da Guanabara e o antigo estado do Rio de Janeiro entre 1960 e 1974; e, a partir de 1975,significa o novo estado do Rio de Janeiro.

  • Caf Filho e Joo Goulart e jamais medocre nas outras administraes.Sob o regime militar, polticos cariocas e fluminenses se destacaram nogoverno de Costa Silva, mas no receberam, no que a chave para nos-sa explicao, sequer um ministrio de Mdici e Geisel2.

    Sob o regime democrtico iniciado em 1985, o Rio de Janeiro passou aser aquinhoado com uma fatia bastante reduzida dos gabinetes presi-denciais de Sarney, Collor, FHC I e FHC II. A situao poltica do Rio deJaneiro melhorou de forma significativa nos dois mandatos de Lula, al-canando seus mais altos nveis de participao ministerial desde1985, principalmente quando se consideram apenas os ministros comorigem estadual politicamente relevante.

    Se considerarmos os dois teros de sculo coberto pelos Grficos 1 e 2,fica claro que o ponto de inflexo que inaugura o declnio poltico doRio de Janeiro foram as presidncias de Mdici e Geisel, pois, a partirdesses 10 anos, nunca mais o Rio viria a ter uma cota do Executivo fede-ral comparvel aos picos que se observam entre 1946 e 1968. Ressal-ve-se, contudo, que a chegada da esquerda ao poder em 2003 sugereuma reverso do declnio.

    RAZES DO DECLNIO POLTICO DO RIO DE JANEIRO

    Quais so as razes para o marcante declnio poltico do Rio no planofederal, mormente entre 1969 e 2002, se o estado, desde 1946, permane-ceu como o detentor do segundo PIB da Federao, da terceira maiorbancada na Cmara dos Deputados, sendo tambm bero de algumasdas melhores universidades e institutos de pesquisa do pas?

    Argumentamos que as razes do declnio poltico do Rio de Janeiro de-vem ser buscadas, acima de tudo, em fatores polticos. Descontando-seo fato obviamente relevante da transferncia da capital para Braslia,as explicaes que mais contribuem para o entendimento do fenmenodizem respeito, por um lado, ao esforo bem-sucedido do regimemilitar de enfraquecer politicamente a rebelde ex-capital do pas. E,por outro, sobretudo a partir de 1985, dinmica poltica do estado e sambies eleitorais das suas lideranas.

    No que toca ao colapso da presena de polticos cariocas e fluminensesnos governos Mdici e Geisel, o que oferecemos aqui so reflexes que,futuramente, devero ser objeto de pesquisa mais ampla. Assim, deacordo com Skidmore (1988:106), as nomeaes ministeriais feitas por

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  • Mdici tiveram um carter mais marcadamente tecnocrtico do que asdos seus dois antecessores militares. Alm disso, a Assembleia Legis-lativa da Guanabara era dominada pelo MDB (Movimento Democrti-co Brasileiro), partido oficial de oposio ao regime. Embora o lder doMDB carioca, Chagas Freitas, no representasse uma ameaa ideolgi-ca aos militares, h que se destacar o fato de que o PTB (Partido Traba-lhista Brasileiro), partido do presidente deposto pelas Foras Armadasem maro de 1964, [...] participou na constituio do MDB local [daGuanabara e do Rio de Janeiro] em propores superiores mdia na-cional (Dias, 2000:167-168). Ainda nas palavras de Dias (2000:168),

    Mesmo na fase mais fechada do regime, entre 1969 e 1973, o MDB man-teria sua posio eleitoral, obtendo 50% dos votos da eleio para a C-mara Federal na Guanabara, na difcil eleio de novembro de 1970, va-lor bem superior mdia nacional (21,3%) e votao obtida nos esta-dos de So Paulo (16,4%) e do Rio Grande do Sul (36,4%). [...] estes valo-res seriam repetidos por ocasio da grande vitria no pleito nacional de1974. O MDB obteve quase 60% dos votos na Guanabara, tornando o se-gundo estado da Federao em termos de importncia econmica, commais de dois milhes de eleitores, um bastio oposicionista incontorn-vel.

    Ou seja, o fato de a Guanabara estar nas mos de um MDB com tais ca-ractersticas certamente contribuiu para enfraquecer politicamente oRio de Janeiro perante o Executivo federal. Alm disso, no se pode es-quecer que at o grande lder da direita carioca, Carlos Lacerda, ban-deara-se para a oposio aos militares em 1966, consagrando o Riocomo uma das grandes ameaas polticas ao regime autoritrio.

    O conflito do Rio de Janeiro com o regime militar continuou sob a pre-sidncia de Geisel. No toa, sob esse presidente, se deu a fuso dos es-tados da Guanabara e do Rio de Janeiro, fuso feita por meio da LeiComplementar no 20, de julho de 1974, apreciada em regime de urgn-cia e aprovada em plenrio em pouqussimo tempo e com escassasemendas (Ferreira e Grynszpan, 2000:118). Convm deixar claro queno estamos a afirmar que a fuso tinha como objetivo exclusivo ani-quilar politicamente o Rio de Janeiro. Entretanto, apesar de suas diver-sas motivaes e complexa histria3, inegvel que foi instrumental noamesquinhamento poltico dessa unidade da Federao. Novamenteno dizer de Dias (2000:169),

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  • Neste quadro de derrota eleitoral [do regime militar] e alternativa opo-sicionista, a fuso ofereceu para os estrategistas do regime militar, umaalternativa de baixo custo. Independentemente de suas justificaesburocrticas ou dos projetos dos prceres da segurana nacional, o fato o que processo da fuso representou, de imediato, a possibilidade deretirar esta independncia do Estado da Guanabara e a nomeao dis-cricionria de um novo governador. Ainda que o MDB continuassecomo a fora poltica dominante, uma vez que, no antigo Estado do Riode Janeiro, o partido tambm havia vencido as eleies de novembro de1974, adiava-se o problema da constituio do governo, com a nomea-o do almirante Faria Lima.

    luz dos pargrafos anteriores, , ento, plausvel sustentar que a fra-queza poltica do Rio de Janeiro no Executivo federal na dcada de1970 correspondeu fora eleitoral, no estado, do MDB, nau capitniada oposio. O quadro se agravou mais ainda com a fuso ocorrida em1975 e aps o restabelecimento do multipartidarismo em 1979. A Tabe-la 2 a seguir mostra o peso dos sete maiores estados dentro das delega-es do MDB e da ARENA (Aliana Renovadora Nacional) na Cmarados Deputados. Note-se que o Rio sempre teve a maior ou a segundamaior bancada dentro do MDB, posies que jamais ocupou dentro daARENA.

    Tabela 2

    Peso dos Sete Maiores Estados (%) na Delegao do MBD e da ARENA na Cmara

    dos Deputados (1966-1978)

    1966 1970 1974 1978

    UF ARENA MDB ARENA MDB ARENA MDB ARENA MDB

    BA 9,0 4,5 8,4 3,2 11,0 2,9 10,4 4,1

    MG 13,4 8,3 12,4 7,4 12,0 8,0 12,2 9,8

    PE 6,9 3,8 5,3 3,2 6,8 2,9 6,1 4,1

    PR 7,2 3,8 8,4 4,2 7,9 8,0 8,3 7,8

    RJ+GB 5,8 19,7 8,0 21,1 7,9 10,9 4,8 18,1

    RS 5,1 11,4 6,2 12,6 6,8 10,9 6,1 9,3

    SP 11,6 20,5 14,2 11,6 8,9 16,7 7,8 19,2

    Total 277 132 225 95 191 174 230 193

    Fonte: Tribunal Superior Eleitoral, Candidatos Eleitos Perodo 1945-1990, disponvel emhttp://www.tse.jus.br/eleicoes/eleitos-1945-1990 (acesso em outubro de 2011).

    Com a fuso, as foras polticas reunidas em torno da liderana de Cha-gas Freitas entraram em disputa pelo controle da mquina partidria

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    Octavio Amorim Neto e Fabiano Santos

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  • em oposio aos seguidores de Amaral Peixoto, antigo lder do PSD(Partido Social Democrtico) em territrio fluminense e que, no con-texto bipartidrio imposto pelos militares, passara a liderar o MDB lo-cal. Chagas finalmente derrotou Amaral Peixoto nas eleies indiretaspara o governo do estado em 1978. No entanto, comeou a enfrentarprogressivo desgaste poltico, em larga medida devido s dificuldadesde coordenao das elites polticas do antigo estado com os atoresoriundos da antiga Guanabara. Para alm dos efeitos da crise econmi-ca que atingiu o conjunto do pas no incio da dcada de 1980 e que for-taleceu candidaturas de oposio em todos os estados, a derrota docandidato do PMDB (Partido do Movimento Democrtico Brasileiro)ao cargo de governador do Rio nas eleies de 1982, Miro Teixeira,pode ser creditada tambm a um vigoroso processo de realinhamentopoltico resultante da nova configurao territorial do estado.

    De toda forma, com relao ao minsculo peso poltico do Rio no Exe-cutivo federal entre 1985 e 2002, cabe registrar, em primeiro lugar, queo eleitorado do estado esteve sempre mais esquerda do que as coali-zes partidrias que dirigiram o governo nacional ao longo daqueles18 anos. Tal quadro redundou em srias divergncias entre as duas en-tidades polticas.

    Em segundo lugar, o principal partido a governar o Rio de Janeiro des-de as primeiras eleies pluripartidrias em 1982, o PDT (Partido De-mocrtico Trabalhista), sempre foi de mdio a pequeno porte no planonacional, o que contribuiu para reduzir a importncia desta unidadefederativa nas negociaes relativas formao de maiorias legislati-vas no Congresso. A Tabela 3 a seguir mostra o grande peso que o Riode Janeiro possuiu na delegao dessa sigla na Cmara durante os vin-te anos em que os partidos de esquerda estiveram na oposio ao go-verno federal (1983-2002).

    Em terceiro lugar, os trs grandes partidos que conduziram o governonacional, de Sarney a FHC, o PSDB (Partido da Social Democracia Bra-sileira), o ento PFL (Partido da Frente Libera) (hoje DEM Democra-tas) e o PMDB, nunca tiveram um nmero expressivo de deputados esenadores fluminenses em suas bancadas ( exceo do PMDB a partirde 2006, tema a que voltaremos mais adiante). As Tabelas 4, 5 e 6 a se-guir exibem, respectivamente, o peso dos sete maiores estados dentrodas delegaes do PSDB, PFL/DEM e PMDB na Cmara dos Deputa-dos. So Paulo e Minas Gerais sempre controlaram as maiores banca-

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  • das dentro do PSDB, e Bahia e Pernambuco, dentro do PFL (a nica ex-ceo 1998-2001, quando o RJ comandou a segunda maior bancadadentro do PFL4). Com relao ao PMDB, entre 1982 e 2002, o Rio de Ja-neiro sempre ficou apenas com a sexta ou stima maior banca dentroda delegao do partido na Cmara (considerando-se apenas os setemaiores estados). Ou seja, a relativa fraqueza do Rio dentro das trsagremiaes que constituram o ncleo partidrio que lastreou politi-camente a presidncia entre 1985 e 2002 certamente debilitou a influn-cia do estado no plano nacional.

    Tabela 3

    Peso dos Sete Maiores Estados (%) na Delegao do PDT na Cmara dos

    Deputados (1982-2010)

    UF 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010

    BA 0,0 0,0 8,7 8,8 4,0 4,8 12,5 14,8

    MG 0,0 4,2 0,0 23,5 4,0 4,8 8,3 7,4

    PE 0,0 0,0 0,0 5,9 0,0 0,0 4,2 3,7

    PR 0,0 4,2 4,3 8,8 4,0 4,8 4,2 0,0

    RJ 69,6 54,2 41,3 23,5 28,0 33,3 12,5 11,1

    RS 30,4 20,8 15,2 14,7 16,0 19,0 12,5 11,1

    SP 0,0 8,3 4,3 5,9 16,0 19,0 12,5 11,1

    Total 23 24 46 34 25 21 24 27

    Fontes: Jairo Nicolau, Dados Eleitorais (1982-2006) , disponvel em http://jaironico-lau.iesp.uerj.br/banco2004.html (acesso em outubro de 2011); e Tribunal Superior Eleitoral, EleiesAnteriores, disponvel em http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores (acesso em outubrode 2011).

    Tabela 4

    Peso dos Sete Maiores Estados (%) na Delegao do PSDB na Cmara dos

    Deputados (1990-2010)

    UF 1990 1994 1998 2002 2006 2010

    BA 5,3 6,3 6,1 8,5 3,0 3,7

    MG 23,7 12,7 14,1 19,7 10,6 14,8

    PE 0,0 1,6 1,0 1,4 3,0 3,7

    PR 10,5 1,6 5,1 7,0 6,1 5,6

    RJ 2,6 9,5 11,1 15,5 4,5 3,7

    RS 2,6 3,2 2,0 2,8 3,0 1,9

    SP 23,7 23,8 15,2 21,1 27,3 24,1

    Total 38 63 99 71 66 54

    Fontes: As mesmas da Tabela 3.

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  • Tabela 5

    Peso dos Sete Maiores Estados (%) na Delegao do PFL/DEM na Cmara dos

    Deputados (1986-2010)

    UF 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010

    BA 11,9 13,3 18,0 19,0 23,8 20,0 14,0

    MG 8,5 7,2 11,2 7,6 9,5 9,2 7,0

    PE 9,3 13,3 12,4 7,6 9,5 4,6 4,7

    PR 4,2 4,8 6,7 5,7 7,1 7,7 4,7

    RJ 5,9 6,0 4,5 8,6 10,7 7,7 4,7

    RS 1,7 1,2 1,1 1,0 1,2 3,1 2,3

    SP 5,1 1,2 3,4 7,6 9,5 7,7 14,0

    Total 118 83 89 105 84 65 43

    Fontes: As mesmas da Tabela 3.

    Tabela 6

    Peso dos Sete Maiores Estados (%) na Delegao do PMDB na Cmara dos

    Deputados (1982-2010)

    UF 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010

    BA 7,0 8,5 7,4 5,6 3,6 4,1 1,1 2,6

    MG 13,5 13,5 13,0 10,3 10,8 12,2 7,9 9,0

    PE 6,0 5,0 3,7 0,0 3,6 4,1 3,4 1,3

    PR 10,0 9,2 6,5 3,7 4,8 5,4 9,0 7,7

    RJ 5,0 5,0 1,9 3,7 2,4 2,7 11,2 10,3

    RS 6,0 6,5 8,3 7,5 8,4 9,5 5,6 5,1

    SP 15,0 10,8 11,1 13,1 6,0 6,8 3,4 1,3

    Total 200 260 108 107 83 74 89 78

    Fontes: As mesmas da Tabela 3.

    Tabela 7

    Peso dos Sete Maiores Estados (%) na Delegao do PT na Cmara dos

    Deputados (1982-2010)

    UF 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010

    BA 0,0 0,0 5,7 4,1 8,6 5,5 9,6 12,0

    MG 12,5 0,0 28,6 6,1 12,1 7,7 10,8 9,6

    PE 0,0 0,0 0,0 4,1 1,7 1,1 6,0 4,8

    PR 0,0 0,0 8,6 6,1 5,2 3,3 4,8 6,0

    RJ 12,5 12,5 8,6 6,1 6,9 4,4 7,2 6,0

    RS 0,0 12,5 11,4 14,3 13,8 8,8 8,4 9,6

    SP 75,0 50,0 28,6 28,6 24,1 15,4 16,9 18,1

    Total 8 16 35 49 58 91 83 86

    Fontes: As mesmas da Tabela 3.

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  • De maneira complementar, os governadores do Rio, exceo de Mar-celo Alencar, sempre foram candidatos a presidente ou srios presi-denciveis, o que, por sua vez, os colocou em rota de coliso frontalcom o governo federal. Tudo isto num contexto de esvaziamento eco-nmico do estado, o que contribuiu, em muito, para acirrar os nimosde eleitores e lderes cariocas e fluminenses para com Braslia.

    Cabe ainda um comentrio a respeito de Marcelo Alencar, governadordo Rio de Janeiro entre 1995 e 1998, isto , sob o primeiro mandato deFHC. Os dois pertenciam ao mesmo partido, o PSDB. Assim, era de seesperar que o estado tivesse uma participao no gabinete presidencialmaior do que a verificada (2%). Por que isso no ocorreu? Uma poss-vel razo j foi listada nos pargrafos anteriores: comparado ao de ou-tros grandes estados, o peso do Rio dentro das delegaes legislativasdos trs maiores partidos governativos do perodo (PSDB, PFL ePMDB) era de segunda ordem. Alm disso, pode ter sido tambm rele-vante o fato de FHC ter obtido relativamente poucos votos no estado(47,2%). De fato, os piores percentuais estaduais de FHC em sua triun-fal eleio em 1994 vieram do DF, RJ, SC e RS, sendo os trs ltimos jus-tamente os estados em que o PDT de Leonel Brizola era forte. De qual-quer modo, um estudo detalhado sobre as relaes do Rio com o Execu-tivo federal durante o primeiro mandato de FHC se faz necessrio.

    Em suma, nos 20 anos que se seguiram ao restabelecimento do pluri-partidarismo em 1982, gerou-se uma espcie de ciclo vicioso nas rela-es entre o Rio de Janeiro e o governo federal: a distncia poltica en-tre o estado e Braslia levou a um substancial declnio da presena doRio nos gabinetes presidenciais, dificultando o entrosamento entreesta unidade da Federao e a capital federal, dificuldade que, no limi-te, levaria queda nas transferncias oramentrias da Unio para oestado5. Este resultado, por sua vez, acabou por justificar, em basesobjetivas, uma quase permanente disposio oposicionista no seio deeleitores e lderes cariocas fluminenses para com o governo federal,aumentando mais ainda a distncia entre o Rio e Braslia.

    A RECUPERAO POLTICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    Como se explica a recuperao poltica do Rio a partir de 2003? Enten-der a recuperao do prestgio e do peso poltico do estado no planonacional exige uma pequena digresso histrica, especificamente, so-bre o quadro poltico e partidrio que antecedeu o golpe militar de

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  • 1964. Lima Jr. et al. (1987) mostraram que a dinmica do sistema parti-drio no mbito nacional caminhava na direo da dinmica do subsis-tema partidrio estadual do Rio de Janeiro, naquele tempo representa-do pelo Estado da Guanabara.

    O que significa dizer que a dinmica de um sistema partidrio cami-nha na mesma direo de um subsistema partidrio? Foram duas asmedidas usadas pelos autores para responder questo: (1) a evoluodo grau de disperso eleitoral e parlamentar das foras partidrias naCmara dos Deputados, em geral, e na Guanabara, em particular (en-fatizando tanto a bancada estadual da GB na Cmara quanto a suaAssembleia Legislativa); e (2) a identificao dos partidos que, num enoutro caso, ascendiam e declinavam em termos eleitorais e de cadei-ras legislativas.

    O que mais chamou a ateno de Lima Jr. et al. quando observaram oquadro da disputa eleitoral e parlamentar na Cmara dos Deputados apartir das eleies de 1958 foram o avano contnuo do PTB, em preju-zo do PSD, e a relativa estabilidade da UDN (Unio Democrtica Na-cional). Como resultante, identificaram um quadro de maior fragmen-tao eleitoral e partidria, e, como efeito da natureza da disputa entreas bases de apoio dos trabalhistas e as foras udenistas, tambm umquadro de radicalizao e polarizao ideolgica. Ou seja, o centroperdia fora, com as extremidades ampliando seu poder, em paralelocom o crescente enrijecimento das posies de bancadas e faces nointerior dos partidos.

    O trao que sempre marcou a disputa partidria na antiga capital, eque continuou a marcar o novo Estado da Guanabara, foi justamente oda polarizao entre o PTB e a UDN. No Rio de Janeiro, o PSD nuncagozou de grande densidade eleitoral, sempre tendo que disputar espa-o com uma mirade de pequenos partidos, alguns mais e outros nemum pouco relevantes. O que Lima Jr. et al. tentaram mostrar que, svsperas do golpe de 1964, a disperso de foras polticas na Cmarados Deputados, ou seja, no plano nacional, assim como a temperaturado jogo poltico neste mesmo plano, se aproximava cada vez mais da-quilo que sempre caracterizara a poltica na antiga capital.

    Como indicamos na segunda seo deste artigo, com o golpe militar, aex-capital da Repblica, sua polarizao ideolgica e sua influnciasobre a poltica nacional tornaram-se alvos preferenciais de interven-o do novo regime autoritrio. Depois de um incio em que a presena

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  • de ministros oriundos do Rio de Janeiro ainda era sentida, observa-seum longo perodo durante o qual esta unidade da Federao perde re-levncia no cenrio poltico nacional, sobretudo se medimos esta rele-vncia como presena nos gabinetes presidenciais.

    Vale lembrar o que dissemos no incio do trabalho: o estudo da recupe-rao poltica do Rio tambm um estudo de como os contornos maisgerais da poltica estadual se relacionam com a configurao do qua-dro poltico-partidrio em mbito nacional. Recapitular alguns pontose aprofundar outros mais uma vez se faz necessrio.

    Com a extino do PTB e a cassao ou exlio dos seus principais qua-dros, a esquerda poltica no Rio de Janeiro, composta, de uma parte,pelas camadas sociais de mais baixa renda e, de outra, por parcelas daclasse mdia identificada ideologicamente com a esquerda intelectual,passou a votar no MDB. J o voto popular acabou dominado pelamquina eleitoral e poltica comandada pelo ex-governador ChagasFreitas, dando origem ao fenmeno do chaguismo e passando o votomais intelectualizado, digamos assim, a ser canalizado para polticospertencentes chamada ala autntica do MDB6.

    Como dito na seo anterior, a transio democrtica e o restabeleci-mento do multipartidarismo tiveram impactos importantes na estru-turao da disputa partidria no Rio. Leonel Brizola, herdeiro do anti-go trabalhismo, reorganiza o velho PTB, agora sob uma nova sigla,PDT, em 1980. Vence as eleies para governador em 1982 e constituiuma importante bancada de deputados estaduais e federais. Duranteum longo tempo, Brizola e seu partido constituram a referncia dovoto de esquerda popular no Rio de Janeiro, assim como boa partedos polticos que viria a dar o tom da competio poltica no estado in-gressara na vida pblica a reboque da sua liderana7.

    Se o voto da esquerda, sobretudo o popular, foi canalizado, no Rio deJaneiro, para o PDT, o mesmo no ocorreu em mbito nacional. Nestenvel, a partir das bases estabelecidas em So Paulo, Minas Gerais e RioGrande do Sul, o PT (Partido dos Trabalhadores) a sigla que conseguea hegemonia de tal voto, tendncia que se consolida aps a derrota deBrizola para Lula nas eleies presidenciais de 1989 e o mal-sucedidosegundo governo daquele no Rio em 1991-1994. A Tabela 7, acima,apresenta o peso dos sete maiores estados dentro da delegao do PTna Cmara dos Deputados, deixando clara a preponderncia daquelastrs unidades da Federao.

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  • Com a decadncia do brizolismo, sobretudo como resultado de confli-tos que se estabelecem entre antigas e novas faces e lideranas doPDT (cujo melhor exemplo o ex-governador Anthony Garotinho), ovoto popular no Rio se tornou, mais uma vez, objeto de disputa. Po-rm, o PT no logrou ampliar seu apoio eleitoral para alm de algunsnichos bem demarcados por lideranas como Benedita da Silva, CarlosMinc e Jorge Bittar, lideranas cuja capacidade de agregar apoio noavanou para alm do necessrio para a conquista de cargos legislati-vos. No vcuo do brizolismo e da falta de pujana do PT local, surgiu aoportunidade para o velho PMDB recobrar a posio perdida paraLeonel Brizola em 1982, como mostra a Tabela 6 acima, principalmentea partir de 2006.

    Nas eleies de 2006, no segundo turno, o senador peemedebista Sr-gio Cabral obtm vitria contundente sobre a candidata do minsculoPPS, a juza Denise Frossard. O segredo do sucesso de Cabral residiuem boa parte na deciso de aliar-se, no mbito nacional, ao candidatodo PT presidncia, Lula, que tambm disputava o segundo turno. Oscontornos da aliana que hoje domina a poltica carioca e a fluminensevieram ento a se definir, contornos que invertem a trajetria percorri-da a partir do fim da dcada de 1960. Se, at meados dessa dcada, a po-ltica nacional seguia a poltica carioca, com sua marca de fragmen-tao e polarizao ideolgica, agora a disputa local que se orienta se-gundo os ditames da poltica nacional.

    Desde 2006, aps a vitria de Srgio Cabral na disputa pelo governo doestado, a coalizo entre o PMDB e o PT tem organizado a aliana entresetores populares, setores da classe mdia e elites econmicas alinha-das ao projeto defendido por Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff. pela via do alinhamento ao projeto hegemnico no plano nacional e dareproduo quase perfeita, no mbito estadual, da coalizo partidriaque sustenta o Executivo federal que o Rio de Janeiro conseguiu recu-perar sua influncia na poltica nacional. Temos aqui no apenas umacoincidncia de siglas a comporem coalizes governativas, mas tam-bm uma aproximao de agendas, permitindo ao estado uma capturamais ampla de espao poltico e transferncias oramentrias.

    Em suma, nossa hiptese, de natureza indutiva e histrica, reza o se-guinte: na dcada de 1950 e no comeo da dcada de 1960, a poltica doRio de Janeiro moldara, em considervel medida, a estrutura da com-petio partidria nacional e a composio dos gabinetes presiden-

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  • ciais. A dcada de 1960 viria a ser o ltimo perodo em que o Rio de Ja-neiro teria grande influncia sobre os rumos da poltica nacional, mes-mo sob os governos militares de Castello Branco e Costa Silva. A dca-da de 1970 assistiria reduo radical dessa influncia.

    Ironicamente, os vinte primeiros anos do novo regime democrtico ini-ciado em 1985 confirmariam o declnio poltico do estado. J na segun-da metade da primeira dcada do sculo XXI, o Rio voltaria a ter umpeso poltico nacional mais compatvel com a sua condio de segundoPIB e terceira populao da Federao. Porm, essa recuperao polti-ca expressou, sobretudo, o alinhamento das foras partidrias do esta-do poltica do Executivo federal.

    Assim, se durante o perodo 1946-1964 a influncia poltica do Rio deJaneiro decorreu da capacidade de exportar seu padro de competiopartidria para o plano nacional, sob o atual regime representativo, oRio recupera influncia aps decidir importar os padres de alinha-mento partidrio estabelecidos pelo governo central.

    Que condies permitiram ao Rio exportar sua poltica para o planonacional na dcada de 1950 e que condies levaram o estado a ter queimportar a poltica da presidncia, no comeo do sculo XXI, para quevoltasse a ter um papel poltico nacional relevante? Aqui elaboramos anossa segunda hiptese, de natureza institucionalista e dedutiva.

    Em 1946-1964, com a exceo do interregno de Nereu Ramos, quatrodas seis administraes presidenciais foram abortadas prematura-mente. Entre outubro de 1988 e 2013, apenas uma das sete administra-es federais no concluiu o seu mandato constitucional. Segundo essesimples critrio de avaliao de desempenho poltico, o Brasil melho-rou muito aps a promulgao da Constituio de 1988. Segundo Fi-gueiredo e Limongi (2007) e Santos (2003; 2007), h mecanismos insti-tucionais que explicam a recente tendncia a uma maior estabilidade: aconcentrao de prerrogativas legislativas nas mos do chefe do Exe-cutivo promovida pela nova Carta Magna fortaleceu a efetividade go-vernamental, o que, por sua vez, diminuiu a probabilidade de encerra-mento prematuro das presidncias. Essas prerrogativas legislativas di-zem respeito, sobretudo, s medidas provisrias, urgncia constitu-cional e aos poderes oramentrios.

    Esses mesmos autores, todavia, reconhecem que o fortalecimento doPoder Executivo tem-se dado pari passu diminuio do poder legife-

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  • rante do Congresso e dos legisladores tomados individualmente.Como se d o enfraquecimento do Legislativo?

    Em trabalho sobre o perfil dos deputados federais que conseguem veraprovados seus projetos de lei, Amorim Neto e Santos (2003) susten-tam que o Congresso brasileiro tem um papel de menor importncia noelaborao das leis no s por causa da ampla delegao ao Executivode autoridade para tomar decises sobre polticas pblicas de abran-gncia nacional (por meio de medidas provisrias), mas tambm emvirtude dos incentivos construo das carreiras legislativas. Esses in-centivos decorrem do fato de ser o Poder Executivo o centro de gravi-dade poltica do pas, dissuadindo os deputados de tentarem uma car-reira mais duradoura no Congresso. Por sua vez, a existncia de pou-cos polticos dispostos a permanecer muito tempo no Congresso limitaainda mais o papel do Legislativo na elaborao de polticas nacionais(Amorim Neto e Santos, 2003:692).

    De maneira complementar, a Constituio de 1988 procurou descen-tralizar o poder poltico, numa resposta concentrao promovidapelo regime militar. A nova Carta Magna transferiu montante conside-rvel de recursos fiscais para estados e municpios. Porm, o esforo dedebelar a inflao acabou por chocar-se com o intuito descentralizadorda Assembleia Nacional Constituinte. O fim da inflao alta em 1995desvelou a crise fiscal dos estados. FHC os ajudou a sair dela exigindoem contrapartida a privatizao de empresas e bancos, o que, por suavez, ensejou um pujante processo de centralizao (Arretche, 2012).Este tem como uma das suas principais expresses uma alta e crescentecarga fiscal, extrada, em boa medida, por meio de contribuies tribu-trias que no tm que ser partilhadas pela Unio com estados e muni-cpios. A Lei de Responsabilidade Fiscal, promulgada em 2000, outroponto de inflexo desse processo. Mas h nele uma grande novidade:pela primeira vez em nossa histria, o Brasil experimentou um proces-so de centralizao em bases democrticas, centralizao a que Lula vi-ria a dar continuidade, seja aumentando a carga fiscal, seja por meio deprogramas sociais como o Bolsa Famlia.

    Para oferecer slidas evidncias do fortalecimento do governo federalao longo das ltimas dcadas, o Grfico 3 a seguir, elaborado a partirde dados cedidos pelo economista Jos Roberto Afonso, mostra a divi-so da arrecadao direta (como percentagem do PIB) entre Unio, es-tados e municpios em 1970-2012. Est claro que, a partir do comeo da

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  • dcada de 1990, a Unio a grande vencedora na disputa pela receitafiscal do pas. A partir de 2000, a fatia dos estados se estabiliza e a dosmunicpios cresce um pouco8. Isto , os estados, na ltima dcada, fo-ram os perdedores no conflito federativo. Isso significou um forte in-centivo fiscal para que se ajustassem politicamente ao Executivofederal.

    A centralizao significa essencialmente o fortalecimento do PoderExecutivo nacional em detrimento dos demais entes federativos. Essefortalecimento maximizado pelo fato de alguns estados e metade dosmunicpios no conseguirem se sustentar exclusivamente com seusprprios meios fiscais. Portanto, no tocante s relaes entre o governocentral e os governos subnacionais, o Brasil tem vivido uma situaorelativamente semelhante identificada nas relaes Executivo-Legis-lativo, sob a qual o fortalecimento do Poder Executivo corresponde aoenfraquecimento de outras importantes unidades polticas (no caso, osgovernos subnacionais).

    A proposio subjacente discusso entabulada nos ltimos pargra-fos pode ser formulada da seguinte maneira: a ampliao das prerro-gativas da Unio gera incentivos para que os atores polticos estaduaisse coordenem no sentido de emular em suas prprias unidades federa-tivas o formato das coalizes polticas organizadas em mbito nacio-nal. O caso recente do Rio de Janeiro seria a manifestao emprica per-feita e acabada da validade da proposio.

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    Grfico 3

    Diviso Federativa da Arrecadao Direta

    1970-2012 % PIB

    Fonte: Elaborao dos autores a partir de dados cedidos por Jos Roberto Afonso.

  • Por ltimo, uma nota sobre as relaes entre o declnio poltico e o de-clnio econmico do Rio de Janeiro se faz necessria. O Grfico 4 a se-guir, elaborado a partir de dados cedidos pelo economista Carlos Ro-berto Azzone, mostra a evoluo do peso relativo das economias deMinas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo como percentagem do PIB na-cional entre 1939 e 2010. impressionante a decadncia econmica doRio. No comeo da srie, o estado chega a ter 20,7% do PIB nacional.Em 2010, este valor despenca para 10,8%! Isto , ao longo de dois terosde sculo, a presena econmica do Rio foi cortada pela metade. SoPaulo tambm decaiu, mas no taxa observada para o Rio: de um picode 42,7% em 1973 para 33,1% em 2010. Minas Gerais se manteve relati-vamente estvel ao longo dos 72 anos analisados. Por conta disso, oRio, malgrado seu declnio, sempre se manteve como o segundo maiorPIB estadual do pas9.

    De qualquer modo, o esvaziamento econmico por que passou o Rio,em tese, pode ser considerado um fator no declnio poltico da regio,uma vez que dinamismo econmico e poder poltico costumam andarde mos dadas. Um possvel mecanismo que intermedeia a relao en-tre declnio econmico e declnio poltico o enfraquecimento de pre-sidenciveis ou candidatos presidenciais que tenham sido governado-res do estado. Como a perda de dinamismo econmico debilitara o de-sempenho administrativo dos governadores do Rio e, consequente-mente, sua imagem perante o eleitorado nacional, suas postulaes presidncia acabaram sempre fracassando. So os casos das candida-turas presidenciais de Brizola em 1989 e 1994 e de Garotinho em 2002.O fato de Wellington Moreira Franco, governador do Rio em1987-1990, ter desistido de candidatar-se presidncia em 1989 podeser tambm creditado m imagem que deixara como administrador.

    O Grfico 4, porm, tambm deixa claro que o declnio econmico doRio um fenmeno que precede a transferncia da capital para Bras-lia, perodo em que a influncia poltica da regio estava no seu auge.De maneira complementar, a recuperao poltica do Rio na primeiradcada do sculo XXI tambm se deu num contexto de perda de pre-sena econmica nacional, ainda que a uma taxa mais suave do que averificada nas dcadas anteriores. Tais constataes reforam uma dasnossas principais proposies: a variao na influncia poltica do Riono plano nacional deve ser explicada por fatores predominantementepolticos.

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  • Foi bom para voc? As Consequncias do Declnio do Rio para oBrasil

    O pronunciado declnio poltico e econmico do Rio um dos aspectosmais marcantes da histria da Federao brasileira nos ltimos cin-quenta anos. Sabemos que isso foi pssimo para o estado. Mas o quesignificou para o pas?

    Para esboar uma resposta, visitamos brevemente o trabalho clssicode Simon Schwartzman, Bases do Autoritarismo Brasileiro (publicado em1982), uma reflexo sobre o desenvolvimento brasileiro marcada poruma discusso a respeito do papel dos principais estados. SegundoSchwartzman, a poltica brasileira passara, historicamente, pelo eixoRio-Minas-Nordeste-Rio Grande do Sul, deixando de fora justamenteo centro mais dinmico da economia do pas, So Paulo (e tambm Pa-ran e Santa Catarina), o qual, no mximo, produzira lideranas popu-listas, que no lograram transcender a fronteira do estado.

    Seguindo Faoro (1958), Schwartzman v o Estado Nacional brasileiro,at o final da dcada de 1970, como sendo essencialmente patrimonia-lista, no sentido de que no seria o representante de determinados

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    Grfico 4

    Participao de MG, RJ e SP no PIB Brasileiro

    (1939-2010)

    Fonte: Elaborao dos autores a partir de dados cedidos por Carlos Roberto Azzone.

  • interesses, mas, sim, o objeto de interesses de um estamento polticoque viveria de e para o poder; de que a poltica exercida por este Estadoseria ou autoritria, com os militares, ou populista, com Vargas, ouuma combinao das duas coisas; e que o sistema partidrio de1946-1964 se basearia na cooptao das lideranas (inclusive sindicais)pela oligarquia poltica10.

    Schwartzman esperava que, com o tempo e a modernizao do pas,outro tipo de poltica, originria de So Paulo, passaria a predominarno Brasil uma poltica mais autenticamente representativa, com par-tidos apoiados nas classes modernas, burguesas e proletrias, da partemais capitalista do pas. Com o declnio histrico do Rio e a chegada aopoder federal do PT e do PSDB partidos com tais atributos a partirde meados da dcada de 1990, parte das expectativas de Schwartzmanse cumpriu. De fato, nossos dados sobre a participao ministerial dosestados corroboram as teses e expectativas de Schwartzman: o regimemilitar foi durssimo com os polticos paulistas, passando Minas e oRio Grande do Sul a serem os estados com melhor participao minis-terial. De 1985 a 2010, entretanto, So Paulo emerge como o estadodominante nos gabinetes presidenciais, capitaneado por lderes doPSDB e do PT, resultado que oferece margem viso segundo a qualo programa de modernizao da poltica brasileira previsto porSchwartzman estaria seguindo seu curso.

    Uma leitura da histria brasileira inspirada por Schwartzman, portan-to, poderia levar a crer que o declnio do Rio teve um aspecto positivopara o Brasil, uma vez que significou o enfraquecimento de uma dasprincipais bases estaduais do populismo. A nosso ver, o problema comtal interpretao a fragilidade do conceito de populismo11 e a falta depreciso no que concerne ao significado essencial da queda de influn-cia poltica nacional desta unidade da Federao.

    Como procuramos mostrar na segunda seo deste artigo, o problemada poltica na antiga capital federal residia em seu carter fragmenta-do e polarizado, aspecto que, aos poucos, passou a invadir a dinmicado conflito poltico no mbito nacional. Pelo lado conservador, a UDNno admitia solues de compromisso por entender que a democraciarepresentativa brasileira padecia de um vcio de origem: varguista,corporativa, baseada na cooptao de segmentos populares desquali-ficados para o exerccio da escolha poltica por meio do voto. Pelo ladodo trabalhismo, os opositores seriam traidores da nao, entreguistasdas riquezas naturais e do fruto do sacrifcio do povo trabalhador. Porconseguinte, sim, a decadncia do Rio significou, em alguma medida,

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  • a revalorizao dos mecanismos de mediao da poltica representati-va.

    H alguma coisa negativa para o pas advinda do declnio do Rio? Cre-mos que sim, pois dificilmente pode ser boa para um pas a dominnciaexcessiva de uma de suas unidades constitutivas, como tem sido o casode So Paulo sob o regime nascido em 1985. Os dezesseis anos segui-dos em que o pas foi governado por presidentes originrios politica-mente desse estado isto , os quatro mandatos de FHC e Lula so umindicador eloquente de dominncia. Se verdade que ocorreu umadesconcentrao de poder no plano regional gerada pela decadnciacarioca-fluminense, tambm verdadeiro que temos assistido a umatendncia de concentrao por conta do excessivo peso de polticos ori-undos de So Paulo.

    Por ltimo, o amesquinhamento de uma unidade da Federao com opeso econmico e cultural da regio em que se fez e consolidou a inde-pendncia nacional acaba por produzir o risco de retomada de uma po-ltica de gueto, de isolamento e autovitimizao vis--vis o resto dopas, poltica deletria para o Rio e para o Brasil em seu conjunto, poisem nada contribui para uma slida convivncia democrtica entre asentidades federativas.

    CONCLUSO

    Este artigo procurou mostrar que, entre 1946 e 1964, uma unidade sub-nacional importante como o Rio de Janeiro logrou exportar sua polticapara o plano nacional porque a balana de poder entre o governo cen-tral, por um lado, e o Congresso e a Federao, por outro, pendia paraestes. Durante o regime autoritrio, o Executivo, como era de se espe-rar, concentrou amplas prerrogativas, passando a ter recursos para pu-nir o Rio por sua rebeldia. Com a vida ancorada nesta unidade federa-tiva, apenas tcnicos com origem estadual politicamente irrelevanteviriam a participar dos gabinetes presidenciais entre 1969 e 1979.

    A diferena entre tecnocratas e polticos de extrema importncia paranossa discusso. Certamente, os primeiros tambm podem ser consi-derados atores polticos. Todavia, sua agenda, interesses e medidas desucesso so distintos dos parmetros que marcam a atuao de um po-ltico, sobretudo se eleito por determinada regio e estado. Em uma re-pblica federativa como a brasileira, presses pela defesa dos interes-ses distributivos de municpios e do estado so fatos corriqueiros, ne-cessrios e inarredveis na vida de um representante. Os tecnocratas,

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  • por sua vez, sobretudo aqueles cuja origem estadual politicamente ir-relevante para sua nomeao para um ministrio, observam indicado-res relativos nao como um todo. Seu estado de origem, quando daavaliao das polticas pelas quais lutam, apenas mais uma varivel,a atrapalhar ou ajudar o desempenho agregado do pas.

    Assim, o que nos interessou no artigo foi constatar que a participaopoltica do Rio de Janeiro no governo federal foi praticamente nula apartir de meados da dcada de 1970 do sculo passado at boa parte doperodo relativo transio e consolidao democrtica. J no comeodo sculo XXI, a balana continuou a oscilar, agora em bases democr-ticas, para o lado do governo central, forando cariocas e fluminenses ater que importar a poltica deste para terem novamente um papel pol-tico nacional relevante.

    De maneira complementar, o esvaziamento econmico por que passouo Rio desde 1950 e a transferncia dos ativos administrativos da capitalpara Braslia em 1960 tambm devem ser considerados fatores relevan-tes no declnio poltico da regio, uma vez que dinamismo econmico epoder poltico costumam andar de mos dadas. Porm, a perda de in-fluncia poltica no mbito nacional decorrente de esforos bem-suce-didos do regime militar certamente contribuiu para acentuar o decl-nio econmico. Alm disso, a implantao do brizolismo no estado apartir de 1983 acabou por ampliar mais ainda o fosso entre o Rio de Ja-neiro e o governo federal, gerando um ciclo vicioso entre decadnciaeconmica e desentrosamento poltico, agravado pela crise inflacion-ria da dcada de 1980 e do comeo da dcada seguinte.

    Ao que tudo indica, este ciclo parece ter chegado ao fim a partir de2007, quando o estado e o Executivo federal voltaram a se alinhar poli-ticamente, criando um ciclo virtuoso entre cooperao intergoverna-mental e revitalizao econmica. A questo-chave agora saber se aretomada da relevncia poltica do Rio tornou-se um valor e desidera-to de suas elites, isto , com tendncia a se tornar meta permanente dasprximas geraes de polticos do estado. Ainda est por ser compro-vado se o atual ciclo nada mais seria do que resultado da astcia dos l-timos governantes, passageiro, portanto, tanto quanto o so as pes-soas, ao invs das instituies e prticas governamentais.

    (Recebido para publicao em maro de 2013)(Reapresentado em julho de 2013)

    (Aprovado para publicao em agosto de 2013)

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  • NOTAS

    1. A distino entre ministros que possuem origem estadual relevante e os que no opossuem segue, em boa medida, a adotada por Santos (1971) em sua anlise sobre operfil dos governadores nomeados pelos militares em 1970, em contraposio gera-o anterior, de 1966, ainda escolhidos pelo meio do voto. O importante para ns, as-sim como para Santos, consiste na via de acesso ao cargo, se por conta de seu currcu-lo como profissional ou como poltico.

    2. Convm enfatizar que dois importantes ministros de Geisel, Mrio Henrique Simon-sen, da Fazenda, e Antnio Francisco Azeredo da Silveira, das Relaes Exteriores,eram naturais do Rio, mas suas nomeaes no tiveram a ver com sua origem carioca.

    3. Para uma excelente discusso das diversas motivaes e da longa histria da fuso,ver Ferreira e Grynszpan (2000).

    4. Na verdade, o desempenho do PFL no Rio de Janeiro a partir de meados da dcada de1990 acompanhou a trajetria de um poltico especfico, Cesar Maia. Oriundo dashostes brizolistas, Maia se transferiu para o eleitorado conservador em 1992, logran-do conquistar a prefeitura da capital do estado trs vezes. Conflitos com parceirosnacionais, como o PSDB, alm de acirradas disputas internas pela liderana do parti-do, acabaram por no institucionalizar o DEM como a opo conservadora no Riocomo fora o caso da UDN.

    5. Amorim Neto e Simonassi (2013) mostram que, entre 1985 e 2004, nveis mais eleva-dos de transferncia de recursos per capita do governo federal para os governos esta-duais esto associados composio partidria-estadual das coalizes governativas.

    6. Sobre as faces do MDB no Rio de Janeiro, ver o estudo clssico de Eli Diniz (1982).

    7. Sobre o brizolismo na poltica carioca, o estudo de referncia S (1999).

    8. Segundo Arretche (2012:145-171), a centralizao a que nos referimos fortaleceu osmunicpios sobretudo como executores de polticas federais. Quanto aos estados, osmecanismos que contriburam para o seu relativo enfraquecimento foram a reestru-turao das dvidas estaduais e as restries oramentrias impostas pela Lei de Res-ponsabilidade Fiscal.

    9. De acordo com os dados de Azzone para 1939-2010, dos outros quatro grandes esta-dos (BA, PE, PR e RS), apenas Pernambuco experimentou um declnio econmico damagnitude verificada para o Rio: de um pico de 4,5 em 1939 para 2,3% em 2004.

    10. Anlises clssicas sobre a evoluo do sistema partidrio durante o perodo1946-1964, como so os casos de Soares (1973) e Souza (1976), de alguma forma ecoama viso dualista segundo a qual existiriam duas formas distintas de se fazer polticano Brasil: uma ideolgica, autenticamente representativa, e outra, oligrquica, patri-monialista, em algumas verses, estadocntrica. Tais estilos de se praticar a polti-ca, ademais, seriam bem localizados geograficamente. Nossa viso correspondemais linha adotada por Lima Jr. (1983), em estudo igualmente importante, de com-preender as variaes polticas na Federao brasileira segundo o que chamou deracionalidade contextual. Nesta perspectiva, no haveria espaos geogrficosmais claramente representativos, mais ou menos ideolgicos. As estratgias dos par-tidos variariam de acordo com o contexto da disputa pelo voto, isto , os principaisadversrios em mbito estadual e os nveis de disputa, se estadual ou nacional. Nestesentido, clientelismo, patrimonialismo e ideologia conviveriam lado a lado no inte-

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  • rior de uma mesma unidade da Federao, sendo a intensidade de seu uso funo detais variveis.

    11. O termo populismo possui diversas definies, dependendo do autor, pas e contex-to histrico em que utilizado. No Brasil, muito comum uma acepo pejorativa dotermo, acepo oriunda quase sempre de uma viso da poltica como epifenmeno.Tome-se, por exemplo, o conhecido estudo de Weffort (1978), em que diversos tiposde polticos populistas so definidos e suas bases sociais, identificadas. Contextossociais subdesenvolvidos, nesta viso, levariam produo de lderes polticosruins. Contextos desenvolvidos gerariam lideranas modernas. A poltica vistacomo destituda de poder de agncia, ou, como diria Santos (1986), um bal metaf-rico da economia, incapaz de, atravs de mecanismos como o voto e partidos, modi-ficar a ecologia social e impulsionar mudanas modernizadoras.

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  • ABSTRACTRio de Janeiro and the National State (1946-2010)

    This article argues that the political heft of a specific state (Rio de Janeiro)within the Federative Republic of Brazil has to do with how state party politicsrelates to the national party politics. The article assesses the decline in Riosrole in national politics before and after transfer of the national capital toBrasilia in 1960 and the fusion of Guanabara with the former state of Rio deJaneiro in 1975. The article draws on previously unpublished data andproposes two hypotheses: (1) the share of cabinet posts held by politiciansfrom Rio de Janeiro is largely a function of the states relative weight in themain governing parties delegations in the Chamber of Deputies and (2) thatthe strengthening of the Federal government since the promulgation of the1988 Constitution prompted Rio to adjust to the party alliances forged by thevarious Presidents, thereby contributing to a relatively recovery of the statesnational political influence in the first decade of the 21st century. Finally, thearticle provides a normative reflection on the consequences, for Brazil, of Riode Janeiros political and economic decline.

    Keywords: federalism and political institutions; state politics; Rio de Janeiro

    RSUMRio de Janeiro et ltat National (1946-2010)

    Dans cet article, on montre que la trajectoire politique dun tat brsilienparticulier, celui de Rio de Janeiro, au sein dune rpublique fdrative, adoptela faon dont les contours plus gnraux de sa politique sont relis au cadrepolitique et celui des partis, lchelon national. On value le dclin du rlede ltat dans la politique nationale avant et aprs le transfert de la capitale Braslia en 1960 et partir de la fusion de ltat de Guanabara avec lancien tatde Rio de Janeiro en 1975, par le biais de vrifications empiriques indites,allies deux hypothses: (1) la participation dhommes politiques de Riodans les cabinets prsidentiels est, pour une large part, fonction du poidsrelatif de ltat dans les groupes de dputs fdraux des principaux partisprsents au gouvernement; et 2) le renforcement du gouvernement centraldepuis la Constitution de 1988 a stimul Rio sajuster aux alliances entrepartis passes par les prsidents, ce qui a contribu un relatif rtablissementde linfluence nationale de ltat dans les dix premires annes du XXIe sicle.On arrive, enfin, une rflexion de type normatif concernant les consquences,pour le Brsil, du dclin politique et conomique de ltat.

    Mots-cls: fdralisme et institutions politiques; poltique de ltat; Rio deJaneiro

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