ofício desmatamento mg

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Belo Horizonte, 08 de fevereiro de 2012 Exmo. Sr. Antônio Augusto Junho Anastasia Governador do Estado de Minas Gerais (C.c. secretário Adriano Magalhães) Senhor Governador, Ontem, dia 07, foi apresentada à Câmara de Atividades Agrossilvopastoris do Copam, minuta "final" de decreto sobre reposição florestal, que prevê no art. 1.o, parágrafo 2º, item II, possam os plantios de florestas homogêneas substituir vegetação nativa. Ironicamente, a permissão prevê respeito às RL e apps, como se isto fosse algo de novo e uma benesse, e não algo já previsto em Lei. Segundo o secretário Adriano Magalhães, a decisão de elaborar plano estadual para proteção da biodiversidade, partiu de sua pessoa. De um lado, isto traz esperança de que consigamos manter pelo menos o mínimo da riqueza ambiental do Estado. Mas por outro, sabemos que, se o Plano não estiver integrado com outras políticas públicas, ficará no papel e a destruição continuará. Nada temos contra plantio de florestas de produção e outras culturas, mas não entendemos como o governo pretende proteger a biodiversidade, com a continuidade do desmatamento no ritmo em que está. De março a novembro, somente através das Copas, foi autorizada supressão de 22.000 ha de vegetação nativa nas regiões Norte e Noroeste do Estado. Não temos estatísticas relativas aos desmatamentos oriundos de processos licenciados e clandestinos. Mas certamente superaram em muito esse total. Consideramos então, que é incoerente e despropositado que o governo publique um decreto que estimule ou autorize desmatamento para expansão de cultivos (seja qual for). Independente do que dizem as estatísticas oficiais sobre a cobertura vegetal remanescente, o que temos de realidade é uma extensa área antropizada e subutilizada/abandonada, que permite expansão de cultivos sem necessidade de novas supressões; A reposição florestal foi criada exatamente para exigir, dos consumidores de produtos florestais nativos, compensação pela supressão causada. Não para incentivar novas supressões. Admitir supressão de vegetação nativa para cumpri-la, é como permitir utilizar o recurso arrecadado de uma infração, para que a mesma infração volte a ser praticada, o que temos certeza, V.Exa. não concordaria. Caso isto permaneça, teremos um circulo vicioso entre “arrecadação pelo fato de determinado consumo ter causado desmatamentos e utilização da arrecadação para permitir novos desmatamentos”.

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Belo Horizonte, 08 de fevereiro de 2012

Exmo. Sr.

Antônio Augusto Junho Anastasia

Governador do Estado de Minas Gerais

(C.c. secretário Adriano Magalhães)

Senhor Governador,

Ontem, dia 07, foi apresentada à Câmara de Atividades Agrossilvopastoris do Copam,

minuta "final" de decreto sobre reposição florestal, que prevê no art. 1.o, parágrafo 2º,

item II, possam os plantios de florestas homogêneas substituir vegetação nativa.

Ironicamente, a permissão prevê respeito às RL e apps, como se isto fosse algo de novo

e uma benesse, e não algo já previsto em Lei.

Segundo o secretário Adriano Magalhães, a decisão de elaborar plano estadual para

proteção da biodiversidade, partiu de sua pessoa. De um lado, isto traz esperança de que

consigamos manter pelo menos o mínimo da riqueza ambiental do Estado. Mas por

outro, sabemos que, se o Plano não estiver integrado com outras políticas públicas,

ficará no papel e a destruição continuará.

Nada temos contra plantio de florestas de produção e outras culturas, mas não

entendemos como o governo pretende proteger a biodiversidade, com a continuidade do

desmatamento no ritmo em que está. De março a novembro, somente através das Copas,

foi autorizada supressão de 22.000 ha de vegetação nativa nas regiões Norte e Noroeste

do Estado. Não temos estatísticas relativas aos desmatamentos oriundos de processos

licenciados e clandestinos. Mas certamente superaram em muito esse total.

Consideramos então, que é incoerente e despropositado que o governo publique um

decreto que estimule ou autorize desmatamento para expansão de cultivos (seja qual

for). Independente do que dizem as estatísticas oficiais sobre a cobertura vegetal

remanescente, o que temos de realidade é uma extensa área antropizada e

subutilizada/abandonada, que permite expansão de cultivos sem necessidade de novas

supressões;

A reposição florestal foi criada exatamente para exigir, dos consumidores de produtos

florestais nativos, compensação pela supressão causada. Não para incentivar novas

supressões. Admitir supressão de vegetação nativa para cumpri-la, é como permitir

utilizar o recurso arrecadado de uma infração, para que a mesma infração volte a ser

praticada, o que temos certeza, V.Exa. não concordaria. Caso isto permaneça, teremos

um circulo vicioso entre “arrecadação pelo fato de determinado consumo ter causado

desmatamentos e utilização da arrecadação para permitir novos desmatamentos”.

Diante disto, as entidades que compõem a Frente Mineira pela Proteção da

Biodiversidade, solicitam-lhe que seja modificado o artigo mencionado, proibindo

substituir vegetação nativa por plantios, medida que em nosso entendimento, além de

não permitir ilegalidade no trato do assunto, é coerente com a decisão de V.Exa. de

proteger o que nos restou de biodiversidade.

Cordialmente,

1 – Anga - Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro

2 – Associação Amigos de Iracambi

3 - Associação Mineira de Defesa do Ambiente – Amda

4 - Ceco - Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental CECO

5 - Centro de Estudos Ambiente Brasil

6 - Conservação Internacional - CI

7 - Fundação Biodiversitas

8 - Fundação Relictos

9 - Instituto Ekos

10 - Instituto Espinhaço

11 - Instituto Hóu para Cidadania

12 - Instituto Terra Brasilis

13 - Movimento Pró Rio Todos os Santos e Mucuri

14 - Movimento Verde de Paracatu - Mover

15 - Valor Natural

16 -Zeladoria do Planeta