oh! como se me alonga, de ano em ano

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Corrente renascentista Oh, como se me alonga, de ano em Camões

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Lírica Camoniana

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  • 1. Cames Corrente renascentista
  • 2. Oh! como se me alonga, de ano em ano,a peregrinao cansada minha!Como se encurta, e como ao fim caminhaeste meu breve e vo discurso humano!Vai se gastando a idade e cresce o dano;perde se me um remdio, que inda tinha;se por experincia se adivinha,qualquer grande esperana grande engano.Corro aps este bem que no se alcana;no meio do caminho me falece,mil vezes caio, e perco a confiana.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana,se os olhos ergo a ver se inda parece,da vista se me perde, e da esperana.
  • 3. Vocabulrio: 1. peregrinao: longo percurso 2. vo: intil 3. discurso humano: passagem pela vidaOh, como se me alonga, de ano em ano, 4. dano: mal, sofrimentoA peregrinao cansada minha! 5. se por experincia se adivinha: se aComo se encurta, e como ao fim caminha experincia permite prever o futuroEste meu breve e vo discurso humano! 6. bem: felicidade 7. falece: falta (capacidade de atingir um fim)Vai-se gastando a idade e cresce o dano; 8. parece: aparecePerde-se-me um remdio, que inda tinha;Se por experincia se adivinha,Qualquer grande esperana grande engano.Corro aps este bem que no se alcana;No meio do caminho me falece,Mil vezes caio, e perco a confiana.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana,Se os olhos ergo a ver se inda parece,Da vista se me perde e da esperana.
  • 4. Tema: A DESILUSO DE VIVEROh, como se me alonga, de ano em ano,A peregrinao cansada minha!Como se encurta, e como ao fim caminha Uma reflexo sobre a sua vidaEste meu breve e vo discurso humano! suscita no poeta sentimentos contraditrios: o cansao deVai-se gastando a idade e cresce o dano; viver e pena de caminharPerde-se-me um remdio, que inda tinha; para o fim.Se por experincia se adivinha, Lamenta ao mesmo tempo oQualquer grande esperana grande engano. prolongamento e a brevidade da sua vida. O tempoCorro aps este bem que no se alcana;No meio do caminho me falece, passa, as mgoas crescem eMil vezes caio, e perco a confiana. desvanecem-se as ltimas esperanas.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana,Se os olhos ergo a ver se inda parece,Da vista se me perde e da esperana.
  • 5. Tema: Desconcerto PessoalOh, como se me alonga, de ano em ano, Passagem do tempo (peregrinao) eA peregrinao cansada minha!Como se encurta, e como ao fim caminha mudana para pior, que leva perdaEste meu breve e vo discurso humano! da confiana.Vai-se gastando a idade e cresce o dano;Perde-se-me um remdio, que inda tinha;Se por experincia se adivinha, Assunto: Fala sobre a esperana que oQualquer grande esperana grande engano. sujeito potico teve ao longo da sua vida e respetivas consequnciasCorro aps este bem que no se alcana;No meio do caminho me falece,Mil vezes caio, e perco a confiana.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana,Se os olhos ergo a ver se inda parece,Da vista se me perde e da esperana.
  • 6. O sentido trgico da vida Os poetas maneiristas, dentre elesOh, como se me alonga, de ano em ano, Cames, confrontados com a crise geral queA peregrinao cansada minha! se abate sobre o homem e a sociedade ps-Como se encurta, e como ao fim caminha renascentista, os maneiristas passam aEste meu breve e vo discurso humano! integrar obsessivamente o sentimento trgico da vida, a postura melanclica eVai-se gastando a idade e cresce o dano; saturniana, a contemplao da morte. EssaPerde-se-me um remdio, que inda tinha; atitude existencial que subjaz lricaSe por experincia se adivinha, maneirista tem ampla conexo com aQualquer grande esperana grande engano. convico dos poetas acerca da predestinao do homem dor e aoCorro aps este bem que no se alcana; sofrimento, a uma vida transitria eNo meio do caminho me falece, infeliz, que apenas serve como um dolorosoMil vezes caio, e perco a confiana. hiato entre o bero e o tmulo. Toda ela transcorrida em agonias, em dores, emQuando ele foge, eu tardo; e, na tardana, pranto e em desventuras, a vida, para osSe os olhos ergo a ver se inda parece, maneiristas, s oferece tormentosDa vista se me perde e da esperana. fsicos, morais e espirituais. Da o lamentoso canto camoniano, no qual o poeta tece reflexes acerca da sua dolorosa trajetria existencial.
  • 7. Oh, como se me alonga, de ano em ano, Nesse soneto, ntido o sentimentoA peregrinao cansada minha! trgico da vida, tipicamente maneirista.Como se encurta, e como ao fim caminha Ano aps ano se vai alongando a cansadaEste meu breve e vo discurso humano! peregrinao do poeta pelo mundo e se vai aproximando o fim de sua vida, que eleVai-se gastando a idade e cresce o dano; sente ter vivido inutilmente. Regida pelaPerde-se-me um remdio, que inda tinha; tirania de Cronos, que a todos e a tudoSe por experincia se adivinha, metamorfoseia e destri, em seu fluirQualquer grande esperana grande engano. contnuo, a vida humana concebida pelo poeta como uma dolorosa via crucis, semCorro aps este bem que no se alcana; sentido, v. uma caminhada num mundoNo meio do caminho me falece, de enganos, sempre espera de umaMil vezes caio, e perco a confiana. esperana que nunca chega. Com o passar dos anos, veio-lhe o cansao, cresceu-lhe oQuando ele foge, eu tardo; e, na tardana, desgosto, ele perdeu a esperana,Se os olhos ergo a ver se inda parece, chegando velhice despojado daDa vista se me perde e da esperana. confiana e perdido.
  • 8. Oh! como se me alonga, de ano em ano,1 momento: a peregrinao cansada minha!O poeta est cansado de viver em busca da Como se encurta, e como ao fim caminhafelicidade. Mas, apesar de ter cada vez menos este meu breve e vo discurso humano!esperana de encontrar o que busca, lamenta queo fim da vida se aproxime. Vai se gastando a idade e cresce o dano;O que verdadeiramente doloroso a frustrao perde se me um remdio, que inda tinha;de ter lutado por algo que no alcanou e sentir se por experincia se adivinha, qualquer grande esperana grande engano.que toda a sua vida foi em vo. Corro aps este bem que no se alcana; no meio do caminho me falece, mil vezes caio, e perco a confiana. 2 momento: A sua vida consiste numa busca incessante da Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana, felicidade, um bem que no se alcana. se os olhos ergo a ver se inda parece, da vista se me perde, e da esperana.
  • 9. Recursos de Estilo Paradoxo: Como se me alonga/Como se encurtaOh, como se me alonga, de ano em ano,A peregrinao cansada minha!Como se encurta, e como ao fim caminhaEste meu breve e vo discurso humano!Vai-se gastando a idade e cresce o dano;Perde-se-me um remdio, que inda tinha;Se por experincia se adivinha,Qualquer grande esperana grande engano.Corro aps este bem que no se alcana;No meio do caminho me falece,Mil vezes caio, e perco a confiana.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana,Se os olhos ergo a ver se inda parece,Da vista se me perde e da esperana.
  • 10. Na primeira estrofe, o sujeito potico manifesta desalento em relao vida. 1. Refere as duas formas de designar a vida. 1. peregrinao; vo discurso humano.Oh, como se me alonga, de ano em ano, 1.1 Explicita o seu sentido.A peregrinao cansada minha! 1.1 peregrinao -percurso de vida, caminhadaComo se encurta, e como ao fim caminha difcil, com sofrimento; vo discurso humano - tempoEste meu breve e vo discurso humano! inutilmente gasto.Vai-se gastando a idade e cresce o dano; 1.2 Interpreta a expressividade do aparente contrastePerde-se-me um remdio, que inda tinha; entre se (...) alonga (v. 1) e se encurta (v. 3).Se por experincia se adivinha, 2. 1.2 medida que o tempo passa (alonga), o euQualquer grande esperana grande engano. potico fica mais velho e consequentemente mais perto do final da sua vida (se encurta), da morte.Corro aps este bem que no se alcana;No meio do caminho me falece,Mil vezes caio, e perco a confiana.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana,Se os olhos ergo a ver se inda parece,Da vista se me perde e da esperana.
  • 11. Oh, como se me alonga, de ano em ano,A peregrinao cansada minha!Como se encurta, e como ao fim caminhaEste meu breve e vo discurso humano! Atenta na segunda estrofe. 2.1 Explica o sentido do primeiro verso.Vai-se gastando a idade e cresce o dano; 2.1 O desgaste fsico e psicolgico originam aPerde-se-me um remdio, que inda tinha; intensificao do sofrimento do eu,Se por experincia se adivinha,Qualquer grande esperana grande engano. 2.2 O sujeito potico afirma que se perde um remdio, que inda tinha (v. 6). Clarifica o significadoCorro aps este bem que no se alcana; do vocbulo remdio.No meio do caminho me falece, 2.2 O remdio remete para a juventude.Mil vezes caio, e perco a confiana.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana,Se os olhos ergo a ver se inda parece,Da vista se me perde e da esperana.
  • 12. Oh, como se me alonga, de ano em ano,A peregrinao cansada minha!Como se encurta, e como ao fim caminhaEste meu breve e vo discurso humano! 3. Das ltimas duas estrofes, transcreve as expresses que transmitem a ideia de luta e deVai-se gastando a idade e cresce o dano; busca do bem desejado. 3. Corro aps este bem que no se alcana (v. 9);Perde-se-me um remdio, que inda tinha; Mil vezes caio (v. 1); Se os olhos ergo a ver seSe por experincia se adivinha, inda parece (v. 13).Qualquer grande esperana grande engano. 3.1 Refere o nome das figuras de estilo presentesCorro aps este bem que no se alcana; nos versos 10 e 11.No meio do caminho me falece, Esclarece a sua expressi-vidade.Mil vezes caio, e perco a confiana. 3.1 Metfora e hiprbole. Metfora - No meio do caminho - percurso de vida; hiprbole - Mil vezes caio vida cheia de obstculos, dificuldades que oQuando ele foge, eu tardo; e, na tardana, eu, persistentemente, tenta ultrapassar/vencer.Se os olhos ergo a ver se inda parece,Da vista se me perde e da esperana. 4. Identifica o tema do soneto. 4. Balano de vida.
  • 13. Oh, como se me alonga, de ano em ano,A peregrinao cansada minha! Aprecia o ritmo da composioComo se encurta, e como ao fim caminha potica, relacionando-o com oEste meu breve e vo discurso humano! desenvolvimento do tema.Vai-se gastando a idade e cresce o dano; O ritmo lento nas duas primeiras quadras ePerde-se-me um remdio, que inda tinha; rpido nos dois tercetos.Se por experincia se adivinha, Nas quadras, o balano do eu potico realiza-Qualquer grande esperana grande engano. se de modo claramente denso, revelando um pesado desnimo e pessimismo em relao Corro aps este bem que no se alcana; sua vida.No meio do caminho me falece, Nos tercetos, o ritmo rpido, concretizadoMil vezes caio, e perco a confiana. atravs de vocbulos com menor nmero de slabas e de sentido dinmico.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana, Note-se, contudo, que o ltimo versoSe os olhos ergo a ver se inda parece, recupera o ritmo lento inicial com a palavraDa vista se me perde e da esperana. esperana, pois que a sua conotao positiva anulada pela forma verbal perde.
  • 14. Tendo em conta o seu esquema estrfico, classifique esta composioOh, como se me alonga, de ano em ano, potica.A peregrinao cansada minha! O poema um soneto, pois constitudoComo se encurta, e como ao fim caminha por duas quadras e dois tercetos.Este meu breve e vo discurso humano! Atente na estrutura formal do texto.Vai-se gastando a idade e cresce o dano; Apresente o seu esquema rimtico ePerde-se-me um remdio, que inda tinha; classifique as rimas que o integram.Se por experincia se adivinha, O poema apresenta o seguinte esquemaQualquer grande esperana grande engano. rimtico: ABBA / ABBA / CDC / CDC. A rima interpolada (A__A) e emparelhada (_BB_)Corro aps este bem que no se alcana; nas quadras e cruzada nos tercetos.No meio do caminho me falece,Mil vezes caio, e perco a confiana. Faa a escanso do primeiro verso e classifique-o.Quando ele foge, eu tardo; e, na tardana, Oh!| Co|mo| se| me a|lon|ga,| de a|noSe os olhos ergo a ver se inda parece, em| a|no Trata-se de um verso de dezDa vista se me perde e da esperana. slabas mtricas; , portanto, um decasslabo (verso decassilbico).
  • 15. Disciplina: PortugusProf.: Helena Maria Coutinho