olavo de carvalho - hef 31, enigma maquiavel_new

Upload: cilene-paredes-de-souza

Post on 04-Jun-2018

347 views

Category:

Documents


12 download

TRANSCRIPT

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    1/31

    0 enigma

    coleoHistriaEssencial daFilosofia

    ,'

    ,r,.inr n ,,.'..-ur" i:=+-@-@@i

    Maquiavelpo' Olavo cle Carvaihu

    -zu

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    2/31

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    3/31

    O enigma MaquiavelAula 51

    por Olavo de Carvalho

    coleoHistriaEssencial daFilosofia

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    4/31

    Col Histia lssn.il da liloliAcpnhn sta putli.a un DVD,qre no ,odo se. vendido separadetrte.Imt esa o Brasil, lrubrc 2003Clpyri8ht o 2003 b Otvd d Caivalh.

    ,dson Manoel de olivea FilhoMmiqu sche.tk e Dagne zlolrtudio i Andr cavalenle cimc.ez

    Os diftitosuldais dsa ediao pe*enccm Realizaoes lditorar Lnana e Dr5nibuidoh Ltda.vik Malian CEP 04016-002E-mil: [email protected] brv qealiaoe;cos.b.tu:e rcdo, rodo> o. d'eno, oe.rd ob'r P 'drodrcqraq-r'.prcoiiotrrtdcd.\.po.or 0d. \e a to elero -E o' Tq ar, , lo o.o0 a,sa,(dlr or qus qrd nro.

    O enigma MaquiavelAula 31

    por Olavo de CarvalhocoleoHistriaEssencial ilaFilosofia

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    5/31

    Coleo Hisiria Essencil da FilosoliaO enigma Maquiavel - Aula 51por Olavo de CarvalhoCc,no ns estmos na penliima aula, eu pensei se ns no podi_nos aproveitar para tapar uns buracos que ficaram pr trs. Tem

    algumas paries que foram onitidas e que nalutalmente podem suscitarlguma criosidade. Esss omisses foram causads pelo p6prio cri_rio colocado no incio que a definio d ilosofia como ulidade doconhecimento n unidade da conscinci e vice_versa. Querdizef tudoaquilo que sasse desse eixo, tudo aquilo que fosse construdo a parlirde ma outra pespectiva diferente ficaria ento colocado como ele-mento externo filosolia, o qual pode exercer influnci no curso dacontecimentos filosIicos, mas que no propriamente filosofia uacho que um dos gJandes motivos de conluso na refilosfica essedesejo bsurdo de incluir tudo, quer dizer, se voc conea a chmarde lilosofia tudo o que qualquer sujeito disse sobre um assunto nomi-nalnente filoslico, da evidentemenie o quadro perde a sua unidade eno fim rcc no consegue tirat concluso nenhuma. E isso iem sido aorienlo depraticmente todos os histoiadores desde o sculo XIX.Eu acho que no d para fazer isto, se o conceito de filosofia que vocvai usar abrangente, para caber tudo ali dentro, ento at a idia defalar de uma histria se torna utpico.Histda subentende-se uma nrrativa e numa narativa uma coisatem que ter algo a ver com a outr, se voc no iem um fio condutor,voc no sabe onde que as coisas tm qe ver uma com a outra e porque tm. Ento. fic iudo desconjuntado e s resi voc voitr ao tipodo que no comeo eu chamei ldel as histris enciclopdicas qe soaquelas qlle colocamtudo 1 dentro sem ter uma ordem intetna, ento,voc ieiali mis ou menos un1 livro dehistria dafilosofia, a unidade

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    6/31

    do assunto seria dada pelo tio de quc todos aqueles autores e iemasestao denio do mesmo livrc, quer dizer, voc ten1 Llma unidade dito-ril por assim dizcr. Assim como numa laculdde d lilosofia voc temuma uridade arquitetnica. quer dire, os assuntos so consideradosfiloslicos porque clcs so trrdos dentro daquele edifcio, ento. uma unidade administriiva, por assim dizeri li voc tcri uma unidade editoriI. quer dizer, os assuntos filosficos porque eles esto dentrodesie livro de histria da iilosofi. Mas isso ai rorna o conjunto dificil-mcnte inteligvel pelo estlrdante. ento, a minha proposta nesse cursoloi limitar a nalrtiva da hlstria d filosofia qnilo que se enquadrasseno que Scrres esiava fazcndo. Tomamos Scrales cono o pai da filo-sofia e narrnos en1 seguid iudo aquilo que tem quc vcr diretanentecon1 o esforo soctico. Scries uma figura multilateral, ento, par-tindo mesno dessa figura. Lrsando Scrates conlo o pad6o de aferi-o da unidade do conjunto, voc ainda teria a possibilidade de outrasnarrativas, totalmente difercntes daqucla quc u fiz aqui Uma delasseria aquel que partissc d constaiao leit por Leo Sirauss de quca filosofia na Grcia comea csscncialmente como filosol'ia poltioa:quer dizer que a discusso poltica o comeo d discusso [ilosica]ento. evidente quc dcpois, prtindo de 1en$ que so inicilmcntcpoliiicos, o prprio Scrles cda alguns desen\.olvimentos quc so tovigorosos que eles se tornam autnomos; ms de qualquer maneira adiscusso poltica continua sendo a base.ru o pretexio

    Se Iossc para abrcar liiosLrfia politica dentro da nossa nrrat;vael teria qlre ser duplicda. Por qu? Porque a pollica no tivi-dade prpria dos filsofos. ela apenas um lena do qul os filsolospacrn par cri o seu nundo prpio, mas poltica pcrtcnce todos. conunidade inieira, ento, todo rnundo vi l e mcle a no noassunro, quer dizcr, no preciso ser l\lsofo para voc pensar lgumacoisa a respeito. dificuldade de monla essa rlarrativa pdrtindo da

    origem poliic dadisc sso filosfica seia essa, vocteri que colocarl dentrc muita coisa que no filosfica absolutmente. mas que indispcnsvel pra a compreensao da naruativ. IJoi por isso que ns pu_lanlos, por exemplo, alguns autores enormement importntes como oprprio Maquiavel. Ns mcncionamos aqui Mquiavel de pssagem Eo Maquiavel um autor Druito prcpcio parvocver intetrncia dem elmento no s extra{ilosfico. mas anti-liloslico na histria dlilo$lia. Ns nao podemos esquecet que todo o empreendimento deMaquiavel leito contra todaa tBdio l'ilosIica. Ento, como que oconsiderarmos um lilsofo? No, ele un suieito de fora que pain_do de outros interesses e de outros objetivos foi l e deu meia dzia depalpiis que exerceram um efeito histrico ao longo do temp.r'

    Ento. dcidi dedicar esta aula de hoje o bonl e velho Maquia-vel como unl exemplo. isso no tem tinalidade exustiv, s dar umexcmplo de como clmentos que vm de fora da filosofia, vn1at con_tra ela. podem cxercer un influncia grande no curso do pensamcntofilostico posterior Maquiavel unr dos gmndes enigmas da histriads idis, porqe um sujeiro cuj inragen ao longo dos tempos foimudando radicalmente e o nmero de interpretaes conirditrisde l aquiavel lbi 1o grande que Benedetio Croce chegou a dizer queaquilo era um enigma que jamais sria resolvido. A primeira dessasimagens foi resultado do impacto que ieve o livro'O Prncipe", nona Itlia mcsmo onde tudo aquilo que estava no livro foi accito nisou menos como uma cois no nal, tinha todos queles conselhos hor_rveis que elc d aos govrnantes, j eram praticados de long datana Itlia, ento, ningum estranhou, mas quando aquilo chegou naInglatcna, por exemplo, teve unr cardcal chamado Reginald Prle queimeditamente ficou escandlizado com o negcio e escreveu que Ma_quiavel era d lato um esprito satnico, maligno, e loi mais ou menoscom cssa imagem dc esprito n]aligno, inuge de mau conselheio,

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    7/31

    que cle cntrou pam a histria populamente, por assim dizer Querdizcr at hoje voc tem a palavra " aquiavlico", at hoje quer dizerum sujeito que esi iranrando alguma por trs, [que] cst tentando tern.rn'nrlor para rc cr Panar cn \Jrr.BiIr prupr:rPorrn. quando chega no sculo xlx, qundo sc l'olmam s ci(nL:r. .o. i|,Jefl a., \nbrcrud com Drvid Ln.:l

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    8/31

    concepo de stado de Maquiavcl no seria uma descrio cicntficd realidade. ms seria uma obra de a$e. Na verddc isso inverie ainterpretao, porque em vez de ele estr dcscrcvendo o Estado comoclc realmente funcion e tentando iirar dali leis universais que valhanrpafa todos os Estados, ao conirrio, ele est inventando unl estruturacujo significado morl no lhe inieressa porque ele esl interssdoapenas na forma considerda cm si mesrna. EntAo, M aqu iavel seri unrlbmralista artistico Ai cri uma situao difcil porque sss inlerpre-tacs so ntgnicas, so separadas por cento e oiteniagraus. Pormun pouco mais adiante surgc a primeira interpretao que me precvivel de Maquiavel, que lbi empreerdida por Antonio Gransci, Antonio Gramsci hrvia lido muito um autor chamado Ceoge Sorel. EGeorge Sorel nota que o mundo da poltic movido por objetivos queas pessoas pretendcm lcanar ro flrturo; esses obictivos. no inslanlecm que voc est lutando por eles. clcs no existem efetivamente. En-to, tudo o que contec n poltic tem que vir do mundo das idiaspara relidde, cnto, cle ten1 que existit anies como uma utopiai c,untes como um ideal; e ele inventa, ento, o conceito de nrito. Querdizer, o corceito soreliano do mito no o conceito que tm os histo-riadores da mitologia, quer dizer, no 1em nada a vcr com os esiudosde mitologia clssica, o mito para George Sorcl uma image agenle,quer dizeri ua coisa que no cxiste, mas que un1a vez divulgada pelapopulao funciona como um hornnio. qedizer, coloca a sociedadeem rovimcnto para tenlar realizar aquilo. Ento. a imagem dotadade um poder magniico. E Antonio Cramsci que no cra nad burro, na verdade o prirnciro sujeito que petcebe, quc cntra na pist ceriada inieryreiao de Maquiavel; podemos dizcr que Gransci eniendeuMaquiavel realmente;lsso oque cu acho, ms iern gente que podc dc-Iender as outrs intcrpretaqs. Enlo, O P1cipc .lc Maquiavel un1aentiddc inexistente, quer dizer. no cxistia aqnele gove anle. uml0

    govenni onipotente, capaz de se elevar do meio da nlultido e tra-vs dc una sucesso mirbolantc de golpes e trapas dquirir o poderabsoluio sobre a unidde politica, iosse um principado ou qualquerouiro regime; o prncipe, ento. seria um miio. Isso se deve ao fto dequc a Itlia na pocade Mquiavel n,to tinhaunidade poltica, ela eava dividida en cinco principdos iidependntes mais ou menos hostlsentre sii e quc cm luno desta diviso o pas iinh sidlr facilmente in_\.adido pla Frana, como mais tarde a Frana se facilmcntc invadidapela lernanha. Ento. os lianceses entraram l. lizerm um alraso eos italianos csiavam se sentindo muito hunilhados e "O Principe" deMaquiavel se a ulna respost a csia situa(o humilhanie. Elc dclineiaeste nito do prfucipc onipotenie e o lna ao pblico comlr mito sore-liano, qtler dizcr, una imagem magntic que deveria produzir a mobi-lizo das nasss naquele scntido, mesmo que o que fosse rcalizadono lim no coincidisse exatmente com o mito originrio. a coisa iediunclonado dc algum modo

    Ai ns j temos essa sucesso de lnterprelaires, quer dizc o Ma'quiavel mau conselheiro. o Maquivel imoralista, o Maquivel cien-llsta, o N{aquiavel aista, e o Maquiavcl mitgrafo. Esses quatro clc_rncntos esio presentes cle lato cm llaquivel, po logo cnl scguidsurge Llma ouira, uma quinta interpretao, e cu cstou abreviando,houve muitas outras nlr meio disso, c o fato de que cada uma delastenha lguma vercidade em si i nostr que Maquiavel no umtem. mas um problema Eu escoihi essas dentre ccntens que existerr, logo cm seguida surge unr quinta. justmente com o tilsolo LeoStruss. Leo Strauss um slrjcito que em pleno sculo xx descobriuque depois de Plto e Aristteles no havia acontccido prticnenieoada, e qu, ento, dedicou a su vida a rcstaurar o sentialo da filoso_fia clssica, sobreiudo a filosofia poltica clssica. Ele era professor defilosoli poltica na Uni\.ersidde de Chicago, e excrceu un1 inlluncia

    1l

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    9/31

    enoflne, inclusive n po1tica prtica, afirma-sc que meia dzia deasscssorcs de George Bush so straussianos de ca(eirinha e possvel

    Mas Stra ss, enio, escreve 11m livro chmdo "Pensamentos so-brc Naquiavcl". no qul ele diz "Exminando tlrdo, pensndo be,quem est\r cerlr a primeia il11agem de Maquiavel'. Que dizer,Maquiavel era um canalha 1llesrro, s qu eic coloca outrcs clcmcn-tos li quc flrndamenrarn aquela primeira inpressu muillr m.tis prolundamenie do qlre at os prirneiros porta-vozes del podrinr terimaginado Leo Struss descobre que na escrita filosfica a partir dcxffa crta data surgc uma cspcie dc artc dc camulagen, quer dizeras pessoas no podia dizer as coisirs com todas as letms, ento.inventavam uma aneira indieta de dizer. Ele descobrc, cnto, ind-cios dess nov rte de cscrcvcr cm Maquiavcl, cn] Thomas Hobbes,em Espinosa, etc.. etc. Existe um estlrdo dele brilhanie sobrc Espi-nosa, mas voc v que rro caso do Espinos no adiantou rnuito clctenta disfarr porque le acabou scndo cxcomnngado da singogmcsrnoi enlo, por mais que dislrasse os caras prcebcrm quc cleestv com ireta e o boiaranr pa foa.

    No cso de Maquivel, ponr, ns temos o scguintc problema: Porquc Maquiavcl tinha que disfarar lguma coisa? Voc v que na Itlia,na poca. vlrc estav enr plena poca de neopagnisnro triunfantc.quer dizer, a moda era o neopagnismo; e o Vaiicano a cssa altura eraapcns uma das cntidadcs polticas que estvam em concorrnci conlas ouiras e a auioridade da lgreja, no caso, estava reduzida ao nrnimo,ento. Maqoiavel da prte da Igrci dificilmentc correria algum ris-co rnuito srio dc represlia. Ns podemos perguntar: Ento, por queele tinha que us.rr desta arte da escrit "strussina' que diz tudo demneir indireta? Partindo do Strauss aparece, cnto, uma sexta in-tcrprctao qlre eu subscrcvo, sobretudo uma historiador nericana

    chamada Vickie Sullivn. Ela diz que o tem de Maquiavel essencial-nlente a conquista da liberdade poltica, nras a liberdade evidentenenie a librdade contra um liranoi s qe o tirno no cso o Deus biblico. E ela descobre, ento. que o grande tema do Mquiavel : comons vanros nos livrar de Deus? Para entender isso prccisa ver que Maquiavel escrcveu duas obras imporiantes, unia "O Prncipe"t e outra."os Discursos sobre a Primeira Dcada de Tilo Lvio". Dcadas soas divises do livro do historiador rcmano Tito Lvio. E ele pretendiafazer um comentrio inleiro a Tito Livio, mas no deu tempo, ento.clc fez s sobre a prineira diviso. Que unl obra muito mais slida,muito mais extensa do que "O Prncipe", e ainda tenl uma segunddiferena, "O Prncipe" dedicado ao assunto chmdo principado,quer dizer como que se monta um principdo. E "Os Discursos' sodedicados Repblica. como se monta um Repblica Pelo simplesfio de tcl escrito um livro sobre o principado e outro sobre a Repbli-ca, se v que Maqiavel no iavorvel neln a um desses rcgimcs nema outro, ele de certo modo gosta de ambos e v mritos em ambos, elediz que o principado mais fcil de voc monta\ e a repblica naisfcil de voc manter ao longo do telnpo; as repblicas se dcfcndem alongo prazo melhor do que os principados pelo lto dc que elas tm umnaior coeficicnte de nobilizao popnlar. c clc tambm na pocacomofuncionrio pblico foi um adepto da lbrnao da milcia nacional, idia do povo em armas. Ele achava que isso funcionava rnuito naisdo que voc ficar contriando ffercenrios. que uma coisa de cujofracasso j se iem nolicia desde Antigidade, quer dizer, cxistiu a fa'mosa guerr de Roma contra Caago que o obicto do livro "I-{isiriade Polbio" onde voc v que CItago sc deu lnal justamente por ierconfiado en1 trlrpas nercenrias que no filn se voltaram contraelamcs-ma. E Maquiavcl, ento, baseado ness xemplo c muitos oulros. elediz quc uma reprblic se dende melhor por caus d lnilci popular

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    10/31

    que era justamente a rese que ele estav tentando implantar n Itli,e que inrplantou efetivamente.

    Mas existe a tambm um ourro detaihe que o primeiro a chanara ateno foi Leo Strauss. Leo Strauss lia esses autores maliciosos,le li conr a nalicia redobrada, ento. ele notou que "O Prncipe"era dcdicado ao Lorenzo de Medici, que era o prncipe governnte nomomento, e quc 'Os Discursos sobre a Primeira Dcada dc Tito Lvio"que tratam d reprblica sAo dedicados a dois lderes pol1icos qlre noiinham cargo no rnomnto, no eram governantcs, rnas que eram do;scndidtos possveis ao poder no caso de aii lloren, quc a cidadede Maqliavel, se translbrmassc ctn repblic. EntAo. como se eleestivesse se prcpardo paa as duas oportu dadcs, qucr dizer, rlse fi,car o principdo, ns lisonjeamos o pncipe, e se l'Lrr repblica, ns llisonjemos os goverrntes rcpublicanos"gnto. por quc aconiece isto? Maquiavel tinha sido umfunciondoda epblica, em Florena, durante, eu creio, quatorze anos. Seria umaespcie de terceiro esclo, muito eficicnte, muito dedicado e respon,svel inclusive pela fonnao da milcia popular que substituiu s 1ropas nercenris ali. Enaquela poca a Itlia inteira era muito lil cmconspiraes, golpes de Estdo, etc., e numa destas cl rcpblic quetinha sido implantada antes medinte a de[ubada da familia gove-nante, os Medici, e numa dessas rei,irvoltas a repblica cai e voltamos Mcdici, e Maquiavel i cialmente achava que ele i se conservadono posto cm vista d sla eficincia, como tinha sido um funcionriomuiio bom: "no vaDros tir-io daquil" Mas dois dias depois ele estavano somcnte demitido, mas foi preso, lbi torlurado; no foi peso mujto lempo, vinte e um dias, mas apanhou pr c:rmba na cadcia aindafoi confinado null1 territrio, quer dizer, "no pode sair daquil", tevcque pagar uma multa e no podia nem entrar no palcio do governoonde ele tinha irablhado to lealmenie.t+

    Ess j m coisa estrnha Se Maquiavcl realmente analisasse poltica cono ela , slr cle fosse realnente o realista cientiico quedizem que , ele teda percebido que a situao dele no eslav nuitofavorvel. Ento, ele parte pr um exlio de dcz ou doze nos. nome lenbro exatmente, durante o qul jusiamente ele escreve os doislivtos, "O Principe" e "Os Discursos"; "discursos" ou "comentrios".no Brasil foi publicado como "Conentrios sobre a Primcira Dcadade Tito Livio", que um ttulo absolutamenie medonho plrlque noh coflentrios solr/?, no se lzem comcntrios sore algum coisa,a preposio esl errada. se [z conentrio a algun coisa, no so,".Mas nica traduo que existe. m taduo da UnB.O ttulo original "Discurso sobre a Primeir Dcada d Tlio L'vio '. no sei por que no traduziram literlnente. Ento, no podc serconentrio soi7/e porquc esse rico-" j junto, comenlrio aquilo quevoc pensou junlo: ento, se eu estou pensando junto com voc. euno cstou pnsando sobre voc.

    Ento, entre "O Prncipc" e "Os Discursos", voc v que idiade Maqlriavel evolLri muito. quer dizcr, primeiro le concebe o modelodo Novo Estado italiano ideal que unilicaria a Illia e cuja realizaorequeri. ento, um governante capaz de se sobrepor a tods as lorasantagnicas, utiliz ls todas e conquistr o poder absoluto. quer dizer a unificao do pas teria que ser feita por um sujeito qlre govcr-nasse li con mo de l'erro. E cle concebe esie modelo no "Prncipe'unillcando de algum modo numa teoria uma sric de prticas polticasque erIn, dc algum modo. suais, apenas no havia um sujeito que asjuniasse todas en1 si, quer dizer, cada um fazi a sua sacanagem, masele junia iodas e Iaz um sistema das sacanagens.Durante o seu perodo de firncionrio pblico, ele lbi enviadonuma misso para lev uma mensagem a Csar Borgi. Csa Borgiaera m general que trabalhva para o Vaticano e quc fcz l um srie

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    11/31

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    12/31

    do Estado itliano: e ele dividc a listria em trs pcdaos, voc iem aRona ntiga; depois voc ten1 a Roma crist. o Vaticano: e iinalmentevoc ter o Esido ideal que j a ierceira Iloma. O proieto da terceirRor j no mais sumenie nlIl projeto pa.a o Estado italiano. ouseja. urn projeto para resolver a situao itlina inediata. mas umprojcto de abrangncia muito maior porquc unla novil ci ilizao nollm das contas. Qucr dizer. se houve LLIna civilizo roman ntig,Lrln civilizao rlrman crist, haver ma tercea cilizo romanaconccbida por Naquivcl.

    Ele diz que para atuar eiicaznrente no mundo da hisiria, ns precisarnos conhccer as leis e as foras que delerrnina o curso dos con_tecimenios e ele divide essas lbras enr duas, uma que ele chama dcFortun. ou sorte, ou acaso, como queiam; c outr que ele chma deVirtude, mas no a viriude no sentido morttl, a virudc qucr dizepenas fora de vontade. Ele diz que exisie Lun srie de elenentosque esto lbra do controle humano, e existem aqueles ponlos ondc avontade humn pode intcrlerir

    Quando elc cstud a origenr do iudasmo e do cistinismo. ele dlzque houvc ali algum componcntc de virtude, de rill, por pate dosseus fundadores, ras que o essenciat ioi leiio pela Fortlla ou pcloacaso. Quer dizer Moiss e a lgreja iiveranl unl anplo respaldo da tsortuna. Ento. elc identiiic a Fol1una com a Providncia Divin, o queos ludeus c Cristos chamariam ldel a Providncia. elc chama [de] Fortun. E Ronra. ao contrrio. ele v que Rom lbi criad intciramente pela z)r11 , qucr dize pela fora dc vontade, pela fora de deciso,dos seus criadorcs. dos seus fundadores. Nl.ts qe Roma depois se cor_rompe por no ter sabido sc defender contra s influncins otieniais.cspeciticanrente iudaicas. Ento. aquilo cntra no lnundo romaro e vaicorrompendo gradativmente a ?rlrtu dos govemanles.18

    Nun1 certo momcnto chega a lazer um eLogio de unl gc,vernante ro_mano, Numa. Numalinha enxedado a rcligio rornana, a nritologiaro_rnan, na prpria esirutura do Estado; ao lzer io ele consegue dt aoEstado rcnlano uma elicincia muilo grnde no controle qLIe ele temsobre a populao. Porque ele diz: 'Nem sempre o governantc dispeJ pr'n ^. uu .-\rigo' na.criris p,r i.'du/ir 5 n\ s\r\ a :rg;r (unformc cle quer". Ento, sc voc li inventa 1lm rcligio ou voc anexuma religio no Estado, voc tem prnios de lrr-tffulo quc no voc quc vai pagar ento, a rcligio greco ronrana uma vantagenrrnuito grande porque iinha cste novo meio de o usado agora paragovemar s muliides. o prn1io e o castigo post mol/er,. Ento, o qlreele es1 louvando n religio mmana? religio rornn cra evidentenrentc uma liaude, nras era uma fuude qlre funcionva en1 beneliciodo Estado, portanto cm benelicio de todos os mcmbros daconunidadcpoltica, era pr o bem de iodos. Mas ele diz que este csquema dareligio rornana, como era um esquema em aberi, qucr dizer que po-dia anexar quaisquer dinddes novas, medida que lbsse anexandoterrilios ancxava junlo as religics deles, ento deix abcrta umabrech por onde entrou influncia primeiro iudica c depois c strcsponsvel pela decadncia e desmorcnrnenio do Estdlr ronano.

    N segunda fase que lbi a segund Rorna, ento, ele no ncga quehouve d parte dos lundadors do cristianisnro u certo coeliciente defora de vontde e capacidade. mas que eles foram, sobretudo. uxi_liados pela Fortuna. Ento, essa espcie dc culio da Fortun, ou scja,o culto da Providnci Divina. para ele a mesna coisa, teri sidosdo tmbm conro instrumento do prprio Vticano para dissolveros vrios Estados em torno c as vrias identidades nacionis, corro'endo a su ,i/r. Porque ensin como tudo depende mcsmo de Deus, melhor voc conlia nelc c tentar se adapir ao curso imprevisveldas coiss detenninadas pela Providncia Divin. Enlo. isso corri

    t9

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    13/31

    na classc poltica. poltico-militar o deseio de interir e de moldr ascoiss conl'orme a sua vontade e assim os Estados vo se dissolvendoe o Vaticano vai anipliando a sua influncia. Ele v sobretudo na idiada Povidncia Divina uma fora corrosiva com a qual a casta saccrdo-tl enliaquece a csta governante. Ento, na Terceira Roma que serio Estado ideal futuro. voc teria que resolver este problema. E comoresolver? Ele diz: "Ns no podemos elinrin totalmenie a religio".Por qu? ^ experinci de Numa em ltoma j mostrou qlre a religio um insumento indispensvel pra voc lbmentar obedincia, o pairiotismo, etc., e1c., poque ne,n sempre voc val te dinheiro ou cas-tigos para fzcr as pcssoas agir como voc qucr, cnto. voc apcla cstc negcio do prmio ou cstigo depois da mortc. um instrurnentoindispensvel do govemo. Porm, ns temos que fazer conl que esiareligio esieja subrneiida o Est.Io. Qer dizer, o Estado qre vcmprimeiro, a rcligio depois. Ento. o que Maquiavcl captou? Elc captouum coNtnte da histria hlrmna que o confliio da csta governnte, a casta poltico-rlilit coln a cast sacerdotal. QLrer dizer, isto uma cois to antiga q e iem ul1la sri de l1liios. se voc procurarno Rcn Gunon, "Smbolos da Cincia Sagrada", tem I unl captulosobre o javali e a urs. urs represeniando, ento. a casta suerreir eo javali a casta sacerdoiali e o javli acaba sendo comido pela ursa

    Mas Maquiavel pega esse conflito num momento em que a coisacstava pariicularmcnte aguda, cnto, o emprecndimcnto dclc consis-le en1 liberar a casl govemanie dos entraves moris e religiJsos, elep'ocl"r" a rnllepende rcin Lld (arra go\ernale ScIa o qF na lnJiaseri uma revolta dos lhatrys. Os IGhtryas se colocam no topo dahierrquia e submetcm a cast sacerdotal, ento, a rcligio passa a seruma [uno do Esiado, e no uln poder independenie, e muito tnenosum poder superio ao Estado.

    Esta idia, no sculo xx, deixaria maravilhado uln sujeito chama_do lulius Evola. Voc v que coisa interessantel Iulius Evola escreveuniuits coiss, muitas inclusive valioss, mas historicamente falando,politicamente falando, o livro mais significativo dele "O FscismoVisto da Direit". Ele er contra o fascismo, porqe o fascismo nocr suficientcmente direiiist para o gosto dele, e, sobretudo. o fas_cismo era muito moleng, quer dizer, o fascismo no estava pegandomesmo o projeto dc Maquiavel, tinha que botar o Estado para cimade tudo, cal a boc dos padres e restaurar o podcr d casi eler toda a sua plenjtude. O Julius Evoia m sujeito que consegueinvcrtr a ordem da hisiria e colocar a casa real como cst originri e os sacerdotes como urna coisa que apareceu depois, o que simblica e historicamente falso, n verdade; mas o Evola sonhavcom sta resturao do lmprio Romno literlmente: havi umairadio romana inclusive com os seus elemenlos iniciticos, simbli'cos. etc., etc., que ele qlreria restaurar e inplantar na Itli. E quandoaprece cnto o fascismo, o fascismo acredita inicialmente que tr aprovao do Julius Evola, mas ele como um bom aristocrata empinao iariz quelc bndo de satgentos e "proletas" que vinham ali doPartido Socialista e diz: "No. vocs no entenderam nadal" E elefica ento margem do govemo fscista. O mundo do Evol tocomplicado assim mitolrgicamente que no d para caber na beado Mussolini. urn cra assim, no i dar mesmo.

    Mas curioso que n mesma poca. o Maquiavel atria a atenoe a dmirao. por un1 ladr, do comunist que estava marginlizadopelo governo, na cadeia. que era Antonio Cramsci e, por outro lado,do supra-sumo do dircitismo universal que era o lulius Evola quctambm estva mrginalizado enrbora no preso, e aprecem essesdois admiradorcs de Maquiavel. E onde que eles coincidem exata-mente? Coincidem na subjugao da lgreja aos fins do llsido. En_

    ]

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    14/31

    to, a rcligio se tornaria meament instrumcntal. Quer dizer que oMaquiavel naio ien m uiopia, mas icnl dus; primeira topia o sujeito que quer unificar a ltlia e botar os invasoes estrngeirospara corrcr c quc pra conquistr o pode necessrio par isso vjlzer todas aquelas sacanagens quc cle recomenda ali. E a segundutopia de escla maior a Tcrceira Roma.

    Durnte cstc perodo de exilio no qual Maquiavel escreve esses doislivros existe uma carta muito interessantc que ele escreveu para Lrmamigo dele na qal ele diz: 'Olha, qui nesra vidirha med ocre, idiota,que eu estou vivcndo, assim: eu almoo. e depois vou me cncontrarcorn os meus amigos. Os neus migos so ul]l aougueiro, dois mo'leiros, so gente assim, uns caras itetrados. E ns ficamos alijogandobaralho o dia intciro, c tod hora a gente briga por causa do jogo dcbaralho, a gcnte se inga um ao outro, disputa por causa de ninha a eagenie grit tanto alique os cams da cidade vizinh j ouviram agentegriiar Ento, da, de noite cu entro no meu escritrio e tirc quela rou-pa sja durantc o dia. me visto de vestes reais e ento vou lcr os cls'sicos da Anligidade, e ali e sou transportado pr um outro mundomaravilhoso. Ficamos 1 convcrsndo a respeiio da filosofia polticaenr ltima anlisc. Ali eu esiolr no meu elemento, quer dizer, eu cstouconsumindo aqlrelas iglrarizrs reais par as quais eu fui feito."

    S que umacoisa inlercssantc : por um ladotem aquela vida mise-vel de provncia, no mcio de sujeiios brutais, grosseios e iletrados; cpor outro lado, a hora em que ele se tranca no escritrio, foi para ummundo ideI, uma espcie de mundo platnico. Mas quando voc viveri espeG a, mas qual o contedo desse mundo plainico? O con-iedo do quc cle ficv estudando l assim: como quc voc sobena victa com a ajuda dos oulfos os nata depois. Ento, moralmeniefalando. os cars que disputam ninharia no baralho sao at um poucomelhores do quc os outros, quer dizer. difercna de escala entre os22

    clois mundos delinitivamente no de ordem moral. E ele descreveisto, e isso at hoje lindo, inclusive o Carpeaux tem um artigo cha'mdo 'A inteligncia de Maquiavel", e aparece est idi, o intelectulnum mundo medocre, ento. ele se fecha e se transporta ali para ummLrndo ideal. Mas qual o contedo desse mundo ideal? O conterdo muito pior moralmenie falando, do que aquele dos meros jogadotesdc barlho que brigam por cusa de besteira.

    Esta trnsio do Maquiavel par quele espao protegido definilivamente no um ascenso platnica desde este baixo mundo, ummundo c1e vulgaridades, para um mundo de belezas ideais e verdadesetems, etc., etc. Mas uma ascnso sim, lns scensAo desde amera maldde espontneado suicito quemau, porque ele grosseiro.para uma maldale elaborada c requintada. a mldade, consideradacomo obra dc alte. De certo nodo, voc v que esta cart simboliza oqu? Sinboliza uma contra-iniciao no sentido guenoniano do ter-mo. quer dizer, uma espcie dc iniciaao diablica. oncle voc nao vaisubir do mundo do pecado para o da santidade, mas voc vai subir donundo do pecado vulgr para [o do] pecado requintado A diz o LeoStrauss que isso a prov qe o Maquiavel pcrtence a uma espcie denobreza demoniaca de nvel muito a1to, qucr dizer, ele no um diaboqualquer, um coisa ssim mais de uma cel1a classe. E justamenteneste periodo que clc escreve as duas utopias dele, primeiro, "O Principe"; e segundo. " Terceia Rom". Usando n m1d 'lo struss' elediz que qundo um suieito de certo gabarito inleleciual entra em con_tradies mujto flagrantes, el esi escondendo lguma coisa, no possvel que ele no tenha percebido; e o mundo de Maquiavel cheiode tantas contradies e tants bsurdidades que voc v necessria_mente que cle est escondendo lguma coisa Eu vou dar un exemploda contradio flagrante: ele cusa os ilsofos antigos de conceberenrEstados ideais que no podem ser levados prtica porque esses fi_

    2l

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    15/31

    lsoIos en1 vez de examinarem a realidde da vida humana. ficvamespeclrlando no vazio e usando pura dcduEo bstrata. Ora, se voc l,por exemplo, a "Poliica ' de ristteles, voc v que no nada disso,a "Poltic" de risttels leit todinh de observes da relidade,todinha ela. MaqiaveL leu de fato cssas coisas, ele conhece Plato, co-nhece Aristtcles. Por que ele diz isto? Por que ele est mentindo toflagrantemente com relao aos filsolos antigos? E por ouiro lado elediz que ele o realista que ele vai baixar o padro, bixar o critrio,para tratardc homens reais. Porm, a surge o segndo contmste, Aris-ticles diz cldramente que o ser humano um bichinho limitado e quea possibilidade de um regimc idcal remota porque voc depende deuma sde infinitade casualidades; voc precisa ler um bom territrio eum bom povo, mais isso, mas aquilo, mais aquilo... Ele dizr "olha, isso no vai darl ' O que Aristteles est dizendo simplesmente queno existe o regimc ideal, no mximo existe uln m ezzo a mezao. E issoparece, alis, bastnte relista. Mas Maquiavel no instante mesmo emque ele acusa os antigos de conceberem modelos idcais que no podemser realizdosl, est clc concebendo o modelo da lbrceira Roma. o qual

    O prprio PLato aps 0 o tcr concebido az n dcsiq. do regine ideal tra 'Rcpblica'Nrais trdc,.ns "Lc". rle lar..onrpnsaso disso. cLc discu as po$ibilidades renis deidplementar lqrilo c v qu. n. d llucr dize,: voc vri Le, que tarrlantas conceses qucvoc nxo ilazc n regime ideal, voc vai laz.r outn coisa, no fim Ento, prraPl. esasduas ivcilases so scparadas ,.r unr lxdo exisie o ..nhecinenr. & nalurez humlna.enrao, da n uzr hmlna v. deduz um nDdelo dc rcgimc idcaL, no para vo. rliz lD,ms Far roc (sr como crilrio dcalcriqaro para v.c conrprndlr o: reines rcah, os quaissc alastaro dcLr ncccssriamcnld cono ele bein diz nas Leis Etrto, ludo is nc prrecebaanlerelisla na eerdade Quo dlTc' scrlcnoftmrapazd.on.eberuregime eal,vo. vai iulllnios otrlrs...mo? Enlio, teDque tcro prortipo, no par,taliz lo, platodiuqu. n,io para rcalizar, aquio s um ne8c hip.tiir. pa sevir d. nrodelo de lorio.Plr cxcmplo. {tuxlquer Ld de miris taz rsor quer dizcr eoc tcn p1r da rcr.rqr de...hotro. mq dc.a alo, ctc, c dcpols voc tem os cxrmplalts toris qt. reliznrdc nrancira mis.u menosinpereil qucscaprimamouseataamdaquilo,rnasqucvocconhece as qralidad.s idlois daqu.la raqa paE roc pod' zer a rteriqio L n] .s en qualqnc, c..cur$ de u.ho. .i r.n.rposiqo de.achom: o co taor lcnro,. thulllal .snn ossinr, sirnr.n1o. c$caquic mais rrarimo on nrnos pnl\ino " E hsoqrc Parr. stnlazo.do ali n. p$ece.rJad. ir alisl: irealtr scrl sc invcntac r ft,piaptr scr rcaliradr e oli no Dtrdc$c scr rcalizada nnto, ncnr ,\risrchs, nem pltio p.denso rci m.nrc a.usado\ dlsoz1

    implic nda rnais, nada menos do que a idia de voc poder vencera Fortuna, isto , vencer o acaso. Ento. ele acrediia que o ser huma-no pode dobrar a Providnci Divina e fazer um Estado no qual esttudo sob controle. Ms isio qe ser utpicol No ? Ele muitomais utpico do qu queles quc cle acus de ser utpicos. E o que cleest fazendo s no parece u1l,pi, por qu? Porque o padro morl bixo. Into. no um ealismo. de lto um idcalismo do mal.Do mesmo modo existem rnilharcs de contradioes e contra-sensos lique Maquivel par acreditar nisso precisaria ser um peteito idiota,mas obviamcnte ele no un idiota: ento. alguma ele st queendo.Quando ns vmos ver qual a estrtgia expositiva dele, qual estratgia mesmo, tcnica que ele usa para expor as suas idis vocdescobre lgums coisas absolutanente fantstics. Ele inventa. porexenplo, un1 jeito de s vezes criticar o cristianismo c a Igreja at ofim, clpando-os por praticamenie todos os mle5 da Europ, ms poroutro lado, ele declara que o cristianismo um verdade divina. querdizer faz um eiogio da boc para loa. Mas no possve], se o cris-tianismo to ruim assir11, como quc pode ser to bom ssim? Ten1alguma cois ali. Teln un pargralb dele quc cu acho rm verdadeiramaravilha dc estilo strussiano de dizer um coisa parccendo que estdizendo o contrrio, cm quc ele diz o seguinte: "No, a culpa do queaconteceu no a do cristianismo, culp dos pdres que deixararno cristianismo dcair. Porqlle se o c stinismo tivesse permanecidotiel mensagem do seu fundador todos os pses por onde tem a repblica crist seriam nuito nais llizes do que so'. E qundo vocvai ver o que ele quer dizer com esse cristianismo primitjvo? A queele est se refcrindo? Ele estava se relerindo eliccia dos milagres,pois no pargraib anterior ele cst lalndo da elicci dos milagrcs.Elc d como exemplo de eiiccia dos milagres m grupo de soldadosromanos quc invadirln uma delenninada cidadc c l tinha nr ienrplo

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    16/31

    de Juno. e os soldados entraram c perguntaram pdraa esttua deJuno:"Voc quer vir conosco para Rom? " E todo mundo viu a esttua fazcrque \rm. cnrJU Jar rud rr-ndu Ii(ou conle.lre com a in\aao roTJna.porque a deusa queda ir Ele disse: "Estvendo? Isso um exemplo deuma religio que {unciona, uma religio que est no seu pleno vigorl"Ele diz isto c no pargralb seguinle, diz: "Se o cristianismo tivesse per-manecido liel mensagem do seu fundador, ento todos teriam sidofelizesl" O que quer dizcr "todos teriam sido lelizes"? Quer dizerlvoc teria um Estado de tipo romano. no qual a religio funcionadacorno neio de controle social medianie nrilagres como esse da esttuade Juno. Diio de outro modo: 'Cristo er um enganador maquiavlicoeficlente. e vocs perderam a elicincia. E a esse cristianismo pri-mitivo quc ns tenos que voliar'. Ele consegr.le, nunl par8raio queparece elogioso. dizer a coisa mais tervel que algun j disse sobre ocistianismo. Quer dizcr csse elogio dele do cislianismo primitivo :"O cristianismo primitivo er como a religio romana, enganava todomundo, 1zia aqueles milagres, todo mundo creditava, todo mundoobedecla. Agora, vocs, padres, so uns caras decadentes, vocs tantose entregaram a este negcio de Proviclncia Divina que vocs corroln-peram todo mundo, e agora todo nrndo virou irrcligioso, ningummais credita em vocs'. O cristianismo como se losse unra gnciade publlcidade que tivcssc perdido os seus clienies por inficincia dosseus administradores E assin existe vrios trechos no Maquiavel,nos quais, fazendo um elogio, da boc pam fora, do cristianismo. eleernbute uma interprctao que sonente os leitores mis visados quepercebem. E css interpretao justanrente o qe embasa a TerceiraRomai a Terceir Ron.i tambm ter ma religio s pr iins de pro'paganda a lavor do Estado.

    Um litor modemo 1 ora Mquivel descendo o cacetc na religio,ora fazendo elogios, da ele diz: "O]ha, ai que Maquiavel um cara26

    eqlrilibrado, ele no st to anticisto assim". S voc escavandomis um poLlco paravoc ver a que cristianismo primitivo quc cle quervoltr Est idia do cristianismo primitivo que ser brandida nais tar-de por uma sde de movimenios, uns ;niernos ao cristianismo, outroscxternos, inclusivc a Teologia da Libertao. lbi inveno de Maqui-vel. Quer dizef o primeiro sujeito que llou em voltar ao cristinisnoprimiiivo entendiao cistianismo primitivo exatamente s avessas. En_to, o cristinismo prinitivo leria sido de iato um religio do engodo,da Iraude bem sucedida a lavor do Estado.Do mesnlo modo voc v outras contradles do mcsmo tipo queno so ralmen1e contradies; quer dizcr, so contradi(aes enqun-to voc esl lendo na aprncia, quando voc eniende quc o que elequer a Terccira Roma, ento, da fecha lodo o esquerna de voc veresta estratgia dele de descristinizar totalmente o mundo atravs deum "retono" o cristianisno primitivo. Isto aqui, evidentemente, muito nals diablico do qe o mcro csquema do "Prncipc', o prncife r rnplc\lre'lrL \e lin,irava a ( rgan-r oe.5o3\. ma\ agor vule q-ercriar uma civilizao inteira baseado na cnganaao universal. Ento.pr isto ele usa duma srie de artifcios. O projeto em si no apenascontrio ao cristianismo, mas contrrio realidade histrica, porqe claro que o cdsiinismo prinitivo no foi isso; quem quet que ienhalido os evangelhos v que ro nada disso Cristo ao era um governnte, no estava trabalhando par nenhuma casta governanie; independentemente de o sjeito scr cristo ou no, historicamente voc vque no tbi isto. Quer dizer. ele est criando un1 proielo baseado numllsilicao histrica absolutamentc monstruos. Quer dizer, falsiiicao da histria d lilosofi poitic, ele troca, ele invcrtc a poio delee dos filsolos antigos; o que ele critica nclcs exalamente o que clcest fazendo, e o que ele diz que ele vai fazer exaiamente o que elesestavam fazcndo. E o que ele est lzendLr? Est invertcndo rea.lidade

    Z7

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    17/31

    hisirica tanto da tilosolia antig, quanto do criianismo. E o projeto baseado numa inverso. quer dize um projcto de futuro baseadonun1 lalsil]cao do passado. claro que isio no vai dar ccrto, evi-denterrente. E est llsificao do passado ser vendida como se lbsseo verdadeirc conheclmento do p:rssado, quer dize "antigmente eless tinln1 especulacs idealsticas, agoraque eu tenho o conhecimen-to cienttico da realidade". E o conhecimento cienifico da realidadeconsistc na inverso da realidade. E o estudo cicntifico qe os antigosIaziam passa a ser uma especulao idelstica. Ento, evidente quepata voc vender un projcto absurdo e alrto-coniradiirio como essevoc vai ter qe lalsificar muita coisa, ento, todas s linhas gerais domundo de Maquiavet so iodas lalsificadas, agora, nos dctalhes ele ealista. Por eremplo, csscs dtalhes com relao tto procedimentodo prncipe, do modo de ao do prncipe, as pessoas de laio fazimassim; as obselvaes que ele faz, por exemplo, sobre a vida militar dque uma milcia popular melhor para a defesa da Repbiica do quem exrcito merceni.rio. Tudo isto muito realisla, qer dize4 voctem urna sric de detlhes realistas colocdos dentro de uma estrutura

    absolutanente fictcia, no pens fictcia, mas invertid. E, ento, clro que par voc vendcr um projeto desse voc vai ter que mentirmuito. E o ppio Maquivel. numa cart a um amigo, confess: "Eununca digo aquilD em que crejo e no creio em rlada do quc cu digo.E se por acaso encontro alguma verdade. por pequeninha que seja, eulraro de e.conde li" (mb \o du ranr. melrrr"s q,re ring. ern (or,(g-eencontr-]a mais'. Olha. ianto que levou quatro, cinco sculos paraa gente chegar entender mais o menos qual o esquern do Ma-quiavei. Entao, no de espantar quej como o esquem central- ele profundamcnte meniiroso, ele s poder se expor c gnhar algum cre-dibilidde atravs de um tecido complexssino de rnentirs e falsifica-es. So esss meniiras c falsificaes que deso entaram os lejtores2ll

    durante scullrs. Por isso que um via Maquiavel de u jeito, outro viade ouiro, e no iim chegou o [Bencdcrto] Croce falando: 'No, isso a um en gma que a B

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    18/31

    contar un1a histri haudulenta. E essas lraudcs _ como diz ele - somontanhas dc menlirs nas quais se existe algum gro de verdade elevai estar escondido L dentro e ningun vai achar"

    A cstrutt do pensamcnto de Maquiavel no a esirutura de umadoutrina, estrutum de uma utopia fraudulenta Mas essa utopiafraualulenta s pocle ser constitud evidentement com elementos deverdade. Ento, voc v que no lutuo do desenvolvinento das idiaspolticas acontecen algumas coisas muiio estranhas. Qundo Maquivcl aiiscute as vantagens do Principado e da Reparblica. ele chega concluso. muito scnsata. alis, de que o melhor regime, o Inais est_vel, o regimc misio, quer dizet, um regime no qul haja elemcntosdc democraci, em quc todos particiPaln da politica. e por outro lado.elementos de arisiocracia. quer dizer. com unla csta lundadora,lbrte,JUro-con\ :enle. cl. , elr . e lambn .om (lmerlur 're nonarq-ra' is'u, com u poder centrl que est na no de um indivduo E se vocpensa: onde lbi realizado isso? Nos Esiados Unidos. esse modelopoltico anericano S que foi realizado no sentido de Maquivel, isto, com uma religio mcranente insirumental? No' foi relizado comlbrtssimos elenrentos de cristianismo dentro da estrulura do EsladoQue o que IAlexis de] Tocqueville diz: "O segredo deste negcio aqui que eles consegui.am juntar o modelo democrtico moderno com ocrislianismo; e por isso luncionou"

    Quer alizer, voc v que nos Estados Unidos a religio no est sub_metida ao Estado con1o prctendia Maquiavel, ao contrrio' lotalmen_tc indepenalente. mas ao nesmo tempo elc un elcmenio inspiradordo Estado. Dir o Leo Stauss. ento. que os Estados Unidos forn oprimeiro sistema concebido em diteta oposio proposta de Mquia-vel. Mas uma oposio no contedo, mas na tbrma, n estrutura oque Maquiavel disse. nto, aquito que ele prope conro utopia anti_crist efeiivmcnte construdo conto repblica crist

    (Alu o) Corno , na ptca, que a rcLiqio ctist est ifisetida nacst t tu do Estado dos Es ldos Ufiidas?El no est inscrida, tlvez o termo esteja errado, el a fora

    inspirdora daquilo. Ms no cristianismo considerado no con1o religio organizada, voc no tem um Igreja csiatal, lis. ao contrrio,os elenentos da constituio dizem: esra assemblia no lcgislarsobre isto, assim, assim. Tem uma srie de coisas em qu o Estado seautolinit. Quer dizer exatamenle o contrrio que diz MquiavclNo Maquiavel a religio ronana faz prte da estrutut do Estado, ee] esi submetida ao Estado. Nos Estados Unidos ela completamentc independente enquanto organizo. mas o sentido dos DezMandamentos, da sacralidade da vida humana, etc., elc., i esi em'butido no esprito da constitujo.

    (AL o) Ptncpios notais...Principios moraisl Princpios morais cristos orientam aquilo. E o

    curioso voc ver que nos Estados Unidos isso fnciona mesno. Nsaqui estamos to cosiundos con esta sen_vergonhice gerI, quens acreditanos que o mundo inieiro assim. Por exemplo. eu lembroqundo deu aquele negcio do Clinton "Escuta. voc comeu a m_lher? No comeu mulher?" E os caras licaram loucos d vida porqueo sujeito mentiu. Ou no tenpo do Nixon: "Voc grampeou o tclclonedo cara ou no?' No Brasil iodo mundo grmpeia o telcfone de todonundo. e todo mundo come todo mundo e ningum estmnh. Ento, agente imaginaque isso d prte dos amcricanos hipocrlsia, rnas no hipocrisi no, eles levam esse negcio ieitamente a srio, quer dizer,quando descobriram que o Nixon grampeou um tclcfDnem, iicaramcscandalizados mesmo, porque "isso no se faz. isso conira s regrsdo jogoi" "E sc o sujeito comeu a dona l denlro do salo oval, ele nosescuihambou com todosl" E o problem nao ele tcr comido, o proble_

    31

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    19/31

    ma assim: voc peguntou para ele: "voc ltz isso?" EIe disse: 'No /: LIrd el. nc.lriu. ua. ^qui ni rgu(-n jrmri' (.orenerio un n'p-sidcntc a csse ponto par saber se o sujeito mentiu. Porque j sabcriaque mentiu enr primeiro lugr e acharia que est inieiramcnte certo.

    Ento, eu veio quc, desde o ponto de vist brasileiro, no d paraentcndcr o sistNa poltico nericano, ele inirnaginvel pra o brasi-leiros.quins estamos nuln prov nci que esttotlmcnte corrompi-da, isso aq u i est govcrnado por narcotraficanle, proxeneia, etc., etc., ens achmos isso ieirmenie norm]. E o padro de exigncia moralanericano to alio que o pessoal no consegu imaginar No que 1no tenha sacnagcm, mas sacanagen ten1 qlre ser Lrilo disiaadaporquc\ cg11m. ru(L .,rJ liauid.rdo. cgorr. dq.. pegan e -o Jrr"parte inlina ds pessos cha rulm. Ouios achar ruim no por cau-\r de ro'al na' nnrq. c \e ie rem lc-do.: -L o nus.o d rhe:ru Alrnosa crpresso: "O nosso dinheirol" A coisa mais sacrossanta doBrasil isso. "O Lula esi gastIrndo o nosso dinheirol" No porque sacanage, poque "o nosso dinhciro"l Ento, por isso que euacho quc o sistema poltico arnc cno no conrpreensvel desde oponto de vist brasileirlr. Os Est.rdos Unidos virrrn ul1la cspcic deouira galxia que interpretado pelo padro hrasilciro vir uma espciede mundo de Maquiavcl, qucr dizcr uni conjunto to grand de con-tradies que no d para voc enlerder. Mas. veja, ea a ironia dhistria. quer dizer. o esquema lonal d Rpblica dc Maquiavel, que Repblic mist. foi realizado historicanente, mas ro com unraIgreja esttI, e no no seniido anticristo. Ouiro exmplo dc aplica-o, nao do Estado maquiavlico, mas do Prlnipe de Mquiavel, loiSlalin. Sialln lez exaiamentc o que Mquiavel disse par.r iazer E ele defato conseguiu botarpar lbra um invasor estrangeio. Ento. podcnosdizer que Ioi realizado em grande escala. mas no que deu? Terminounu a quantidadc de sofrimcnto absoiutanent i maginvel. E rolz

    fundo, se voc pensar bem, o Estado comnista er o qu? Elc eraumaliaude, elc er o Estado maquiavlico.Diria ntonio Gramsci qlle fracassou poque no soube usar areligio, aboliu a religjo m vcr de utilizla Gramsci semprc diseissoi "No se deve destruir a Igreja Ctlica, as devc-se usr a suaestrutur preenchendo- do nosso contedo" Qe exatmente o quefaz a Teologia d Libe ao. NIas inllizmente o Stalin no leu o Ma-quiavel at o t'im, nao dnha ningum para avis 1o, infelizmenie noexistia a Teologia da Libertao na poca. Enio. os dois elementosquc Mqiavel prccisaria, por um lado, o Pncipe, por ouirc lado. areljgio cstatI. apareccran separadatncnte. no deu para lundir' Sclundir. a de lto a Tcrceira Ronr c ai vai ser um "Deu nos acrda".Mas evidente que conlo proposta dete bascada nuna mcntir,no se tata de ser ioral, anii-religiosa, ou demonaca, mas aboltnentc inexeqvel uma coisa quc se ior levad prtica. ser umacoisa to holrvel, ms io horrvcl. to hoffvl que no d pm vocconcebe Mas par voc icr un1a iclia, voc v que ele proveita doantigo epicurismo um dos elemenios que ele disse: "Tirar do homerro tcrnor dos deuscs '. Mas se 1ar dele o temor dos deuses. ele no vaiobedece o EstadLr. Ento, voc vi fzer uma epcie de fachad detemor dos deuses que na verdade o temor de homens. Quer dizer. arealiza a prolecia budist de que no fim dos tempos os homens seriamdeuses uns para os outos. Dc certo nodo, voc lica livre do tcmor dosdeuses, mas no do iemor dos governntcs. Os governntcs, por suvez, tnbm vivcn no temo porque estrutura do Estado soberanaen1 relao aos seus componentes, en o, nenhum daqueles indivduospode ser divinizado pessoalmente, quer dizer j outro crro do Stalin,somente a eliutura do Estdo devc ser sacrossanta. E os seus ocupan-tes devem pernanentenrentc cstar tambm sob o temor, de modo quede tempos em tempos nccessrio sacrificar alguns elementos d casta

    t3

    --,-

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    20/31

    governante, e at ele recomenda que de dez em dez aios se executemrljur r.r\ fe\.os Je p'e[e'err.r" c', hidd' dFnte o\ jvens p14riscorc..quer dize os jovens da classe dominantc. Voc nlata os caras de tem-pos em tempos pra servir de exemplo. ste o tipo de negcio ondeningum se sentiria bem, esldam lodos ]nal, o governado c mal,o governanle trnbrn st mal, ento cabe voc pcrguntar lnas porquc ns vamos lazer isto? Essa proposta absollrlamente inaceiivelibaseada na mentira Se isso que voc quer lzer, voc no vai podcra*umentar isso a litemlmente, voc vai ier quc cncobrir dc lato comtanta rncntira, rnentira que \.em da ouira mentira, da outra. da outra,d ouira, da Lrulra, e no prii mais. Por exenrplo, ele explicar o su-cesso do ju.lasmo e do cristinisnro po uln concurso dc ltorcs queseria a Providncia Divina. um Fortuna. mas por ouiro lado qundo\c p(rg-nrj' p ,r qu( \4oi\c. uol( e .u(e\\o Lnlan. c P Ji7 -f mLrrosimples. Mquiavel, era rn prcfeta rmdo, ento, clc mandou matarum monto de gent c obteve succsso". E clc contrasta o exeDlplo deMquiavel com um frde, Ciovarni Savonarola, qlre ientotl rorlizar a Repblica de Florena e que facassou. Ele diz que Savonarola ha-cassou porqe er rm profei desarmado. Enio, os prolttas m1dosdo ccrto, os prol'ctas armados tln sucesso. os profetas desrmadosliacassaln, cono, por exemplo, respeciivmente, Moiss c Svonrola.Como que loi o flcasso de Svonrola? Savonarola er um mongeque condcnndo os rnaus costumcs da poca obteve unl enorme suces-so populr e era a auloridade mri a e mtria de moral naquele lu-gar At que unr dia um suieito o desafiou. porque j cstava adquirindos dimcnscs dc unl profcta, c dissc: "Olha, ms se voc unr proletamesmo. ento, o seguinte: varnos atravessar no logol Se voc no forqueimado pelo [ogo. a platia ceit a sua condio de proleta. e se forqueimado prova-sc quc voc um charlatol ' E eu sei que Savonaolatopou da boca pra lbra, mas chegou na hora apresentou um substi-34

    iuto par andr no lbgo Imcdiatamentc cle flri desmorlizado. Ento.Savonarola fracassoll no porque fossc um profet desarmado, n1asporque no cr u prolcia de mancira algLrma.

    E com relao Nloiss. ns temos o scguinte prcblema: Olh, seMoiss loi fvorccido pel Fortulra, isto pelo conjunto de fatoresdcsconhecidos ou pela Providncia Divina, ento, ele nao pode ser ohomem que, auvs da zri,lr e da lbra. dobrou Founa. Mas se clcvenccu plrrque estava a ado, ento, vcnceu pela rillll c nio pela For_tuna tinto, voc v qlre Moiss o sujcitlr que combate a foduna aqual no mesmo instante o ajudava. Eu lalor csper ai. E errdo estcnegciol Ento, a histria clo Savonarol rneniiros c a histia deMoiss mals mcntirosa ain.la. ir a histri de Savonarola lambn mcntiros. S qlrc pra a gcnte pegar cssa estrutura, voc precisa ler oMaquiavcl com muita ateno, no d pa lcr tlrdo de uma vez, voclem que ler de pouquinho, e ir catando rm pedao qui. oulro pedaol, c \.oc acaba vcndo a articulao do conjunto. Agor a gente ielnquc perguntar: Conro que um sujeito desse cxerceu uara influncito grande? Ele eirercelr por qu? Porque ningum vi o conjunto; pe-gva esses vrios ponlos, discutia a sua validade eltiv e reconsiruao Maqlriavcl luz dos scus intercsscs do momento Quer dizcr se oseu iniercsse era lundar una cincia objeli\, da sociedade, voc ciavaunr Maquiavel que cra um precursor das cincias obieiivas d socieda-dc, e assim por diante Sc voc quc tzff um miro sorclino, ento,Maquiael cra urn holncn do mito soreliano E cra nesmo, assiln dealgn modo, quer dizcr. o Grmsci pego a cois dire;tinho, s faltouele explicar qual o coniedo dcsie miio. las quando voc vai ver' acstrulura do mundo de Antonio Gramsci conr o ncgcio da RevoluoCulilrral crtamente o Estado maquivlico no qual a rltura e areli-giao so elementos dc propaganda e mnipulao das mssas. "i

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    21/31

    Ento, voc v que a primeira reao d plati estrangeir aMaquiavel quc lbi desse Cardeai Pole, ela estva cerla, quer dizer,Mquiavel era um imoralista mesmo, n1as s que no neste scntidoem que voc est pensndo, ms nun senlido intiniiarnenie pior Eleinventou uma civilizo bascada na mentir, um Esiado bascadoh meniira. c contou um monte de mcntira para que as pessoas pen-sassenr que ele estava fazendo outra coisa. Pensasscm que ele estavfazendo o qu? Uma cincia obietiva da poltica, a construAo dc unlEsiado Nacional Italiano, o Estado como obra de arte, etc, Todasesss interpretacs lictcias de Maquiaveli estavm no prprio Ma-quiaveli quer clizer. ele j botou pista falsa o iempo todo' E de fato acoisa s se articula quando nasce a pcrgunia: Mas o que Maquiavelest quernalo? Onde quc ele quer chegar? Ou seia, articulaodele no uma articulao doutrinal quc vi ds premisss par asconseqncias, um rliculao dc tipo prlico ele ten um cerioobjetivo e este objetivo quc articula. ele quc constitui pemissa dores1o. Ento, voc tem a o qlle eu chmo dc pleudo-profetismo, quc o sujeito invcntar o futuro e alcpois elc reinterpreta o passacio luz dofuturo que cle imaginou. Tm duas ctapas, cle primeiro invenia o Es_raaio Nacional Italino a ser enpreendido pelo Prlncipe. e segundo'invent 'llrccira Roma que ulna nol'a civilizao, i no apenas aItlia, mas uma nova civilizao Ele no diz isso, mas subentede_sc. a coisa de um nvel de generalidade to grande que elc entendeque un modclo universal. Elc concebc este modelo e toda a interprctao dcle da histri baseada nisso Ento, interpretao re_troativa, no s rctroativa como todinha flsificada em todos os seusconponentes, exceto queles quc possam ser desiacados do conjuntoe utiiizaclos como anlises pontuais de um tcma ou de outro, clrmopor exemplo, a questo da milcia, a questo do governo misto etc ,etc. claro que xis1e uma srie de elementos li que so ai cien36

    tificamenie valiosos. Existe o elenrento de observaqo d rcaljdade,existc o elemento de tentaliva de generlizao cientfica coeto, sque tudo isso est inserido dentro de Llm edifcio que totalmenteriu \o Jlopi. o. ma. ne r. iroso nr bate. lrerr i 'o.u nd 'ua cnnccp\io.mentiroso na su substncia se chegar a ser realizado porque basc_ado n nentira. c mentiroso na sua estratgi expositiva.

    Acontece que todo mundo. que Ie Mquiavel e estudou Maquiavel, entendeu partes, destacou alguma parie, mas contcce quc aquelaestrutura de fundo nesmo que voc no tenha captado conscicnte-mente, uma vcz que voc leu, el est em voc. Quer dizer. a tem oefeito Oito Ptzl. Otto Pztl um psiclogo austraco quc descobriuo negcio do subliminar, ele fazia um teste em quc boiava mas l'igu_ras conl uns pontinhos. projctava uns pontinhos, e depois a pcssotinha que LembrI s figuras lbmradas pclos ponlinhos, mas no meioelc colocav alguns pontinhos que cranl projetdos na tela nma fra_o inlinitesimal de segundo dc maneira que o indivduo no a perce-besse conscientenenie. No dia seguinie quando ele perguntav quaisas figuras que voc recordava, a pessoa recordav melhor esias qLIetinham sido proietadas duranic um trao infinitesimal de segundodo que aquelas que a pessoa tinha visto realmente lsto mostr quequalquer percepo qucvoc tenha, tcm os elementos que voc captoclarmente, conscientenente, e tcn1 a llglrra d fundo que est l c quevoc captou tanbm, embora voc no saiba. Enio, quando voc 1Maquiavcl voc est lendo as duas coisas, quer dizet, voc est lendoum Maquiavel que voc oomprccnde e tem toda estrutur de fLrndoque voc captou tmbm. mas no no nvel consciente.

    (Aluna) Vac no fica cam neo de let ludo isso?Para vomitar conida tem que i'l comido pdmejro. Eu estou

    aqui vornitando. Faz um mal desgraado ler tudo isso, mas eu s leio37

  • 8/13/2019 Olavo de Carvalho - HEF 31, Enigma Maquiavel_NEW

    22/31

    as coisas se eu cstou disposto conprcend_las ai o fim' pormais tra_blho que isso me d. Agora, fazer digesio inconscicnte' eu falo: nopode fzerl Ento, claro que isso i eu no percebi sozinho' quer di-zer. cu esiou basedo em .tois autores que j decifrararn o neilcjo queloram o Strauss e a Vickie Sullivan. Nenhum desses diz o que eu estoudizendo gora: " tuclo mentirl " A mentira a estrutura bsica daquito, eles no chegam a dizer isto Mas cu no vejo como escapar dcssaconcluso. Porquc se o centro Tercelra Roma, a Terceira Roma mentirosa na sa substncia, qanclo ela for consiruda, se for' ela scrbascada n mntirai cla nentira no instante etn que Mquiavel a ex'pc. ele expe atravs ale uma estrtgia de mcntira, e ela mcntirano elato histrico, n inlerpretao, na teoia histrica en1 que ela sebasei, quc mcntira na sua estruluta geral e mentira en cada um dossus detalhes. O quc ele diz a respeito dos lilsolbs antigos meniia'o que ele cliz a respe;to ale Moiss nrentira, o qLre cle diz a respeiio deCristo mentira; er'r digor s mcntira' ti mais aind' ele tez o lvor dedeclarar paravoc: " tudo nrentira "

    E a mente humana tem ccrtas liniiaes, uma delas r problemado pradoxr clo mentiroso Se o mentiroso diz: "Eu sou um mentiro_sol" Em que sentido voc devc interpretar isto? Ele mentiu durante asua vida inieira e est tlizendo a verdade agora ou ele esi mentindoagora a rcspeito do restante da vida dele? Eu digo: jamais saberenos'Ento, s cluas coisas ao mesmo tempo no so possveis' O seja' ouMaquiavel disse verdade e cst metindo contra si prprio agora' ouele meniiu a suavida inteira e agora ele esi dizendo a verdde Quaseiodas as interpretaes desde Maqltiavel al o sculo )LX so basea_als na primeira hiptcse: Mqiavel disse a verdade e gora ele cstmentindo contr si mesmo por exagcro, por tor de expressAo' etc''etc. Vamos tentr a hiptese contrria? E se agora ele est dizcndo averdaale? E se estafoi nica veralacle nesmo que ele disse? Enio' lbiiudo mentira c apenas isto verdadel Esta a minh condusao

    (ALuno) Quana o senhat comentou no @nelo o lao de ele otet percebido que ao continaia como uttciontio Pblico... Issoda tafibm nd.ica que a mefitiru a inilniEa denttu dela..Clarol Mas isto o que chamo [de] a pal xe cognitiva: o indi_vduo vive uma situaao real que ele no pode confrontar com a suconstruqo teric, porqe se conrontr, ci. Qualquer generalizoque voc faa sobre a espcie humana o incli. Se eu digo, por exenr-plo: o homem um aninal racional, supe-sc que eu tambm seja umnimal rcional, senao eu no poderia cmilir isto aqui Sempre quevoc laz uma ieoria geral sobre a sociedade humana, voc tem que estar incldo nela, ento, essa teoria gerl deve poder ser ilustrada pelasua situao, e a sua situao, por slla vez, servi como um fertamen_rd int(rprelativa pard o conjunto Pm ce-lo ca\o' \ot'i nao cnn'cgu