o_papel contabilidade gerencial

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O Papel da Contabilidade Gerencial no Processo Empresarial de Criação de Valor Caderno de Estudos, São Paulo, nº 21 – Maio a Agosto de 1999 1 O PAPEL DA CONTABILIDADE GERENCIAL NO PROCESSO EMPRESARIAL DE CRIAÇÃO DE VALOR Clóvis Luiz Padoveze Doutor em Controladoria e Contabilidade – FEA/USP Mestre em Ciências Contábeis – PUC/SP Professor do Departamento de Contabilidade e Finanças da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP INTRODUÇÃO A Contabilidade gerencial pode ser definida como o processo de identificação, mensuração, acumulação, análise, preparação, interpretação, e comunicação de informação (tanto financeira como operacional) utilizada pela administração para planejamento, avaliação e controle dentro da organização e para assegurar o uso e a responsabilidade sobre seus recursos 1 . O atual foco das pesquisas sobre a missão das entidades empresariais está centrado no conceito de criação de valor, associando dentro do mesmo escopo o processo de informação gerado pela Contabilidade para que as entidades cumpram adequadamente sua missão. Atkinson, Banker, Kaplan & Young iniciam seu trabalho mais recente com este conceito, dizendo: “Contabilidade Gerencial – Informação que cria valor 2 - “Sistemas contábeis gerenciais efetivos podem criar valor consideravelmente pelo fornecimento de informações acuradas e oportunas sobre as atividades necessárias para o sucesso das organizações de hoje”. Horngren , Foster & Datar também deixam claro que o escopo da contabilidade gerencial é a cadeia de valor, quando citam na introdução de seu trabalho: “Através desse livro nós organizamos nossa visão sobre as organizações pela utilização da cadeia de valor das funções do negócio, que aparecem na Figura 1 – Cadeia de Valor é a seqüência das funções do negócio no qual a utilidade é adicionada aos produtos ou serviços de uma organização. Essas funções são: Figura 1 – Cadeia de Valor A figura 1 também mostra uma função de estratégia e administração, que estende-se através de todas as funções individuaus do negócio” 3 ”. Mais especificamente na administração financeira, Van Horne inicia seu último trabalho no mesmo enfoque quando diz: “O objetivo de uma companhia deve ser a criação de valor para seus acionistas. O valor é representado pelo preço de mercado da ação ordinária da companhia, o qual, por outro lado, é uma função das decisões de investimento, financiamento e dividendos da empresa... Por todo este livro, o tema unificante é a criação de valor” 4 . 1 INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS INTERNATIONAL MANAGEMENT ACCOUNTING PRACTICE STATEMENT. Management accounting concepts. Relatório de Fevereiro de 1989. 2 ATKINSON, Anthony A,. BANKER, Rajiv D., KAPLAN, Robert S. & YOUNG, S. Mark. Management accounting. 2. Ed. New Jersey: Pretice-HallNJ 1997, p. 1 e 4. 3 HONGREN, Charles T., FOSTER, George & DATAR, Srikant. Cost accounting – a management emphasis. 8. Ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1994, p.6. 4 VAN HORNE, James C. Financial management and policy. 11 ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1998, p. 3. Pesquisa e Desenvolvimen to Desenho Produção Marketing Distribuição Serviços ao Cliente Estratégia e Administração

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  • O Papel da Contabilidade Gerencial no Processo Empresarial de Criao de Valor

    Caderno de Estudos, So Paulo, n 21 Maio a Agosto de 1999

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    O PAPEL DA CONTABILIDADE GERENCIAL NO PROCESSO EMPRESARIAL DE CRIAO DE VALOR

    Clvis Luiz Padoveze Doutor em Controladoria e Contabilidade FEA/USP

    Mestre em Cincias Contbeis PUC/SP Professor do Departamento de Contabilidade e Finanas

    da Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP

    INTRODUO

    A Contabilidade gerencial pode ser definida como o processo de identificao, mensurao, acumulao, anlise, preparao, interpretao, e comunicao de informao (tanto financeira como operacional) utilizada pela administrao para planejamento, avaliao e controle dentro da organizao e para assegurar o uso e a responsabilidade sobre seus recursos1.

    O atual foco das pesquisas sobre a misso das entidades empresariais est centrado no conceito de criao de valor, associando dentro do mesmo escopo o processo de informao gerado pela Contabilidade para que as entidades cumpram adequadamente sua misso.

    Atkinson, Banker, Kaplan & Young iniciam seu trabalho mais recente com este conceito, dizendo: Contabilidade Gerencial Informao que cria valor2 - Sistemas contbeis gerenciais efetivos podem criar valor consideravelmente pelo fornecimento de informaes acuradas e oportunas sobre as atividades necessrias para o sucesso das organizaes de hoje.

    Horngren , Foster & Datar tambm deixam claro que o escopo da contabilidade gerencial a cadeia de valor, quando citam na introduo de seu trabalho: Atravs desse livro ns organizamos nossa viso sobre as organizaes pela utilizao da cadeia de valor das funes do negcio, que aparecem na Figura 1 Cadeia de Valor a seqncia das funes do negcio no qual a utilidade adicionada aos produtos ou servios de uma organizao. Essas funes so: Figura 1 Cadeia de Valor

    A figura 1 tambm mostra uma funo de estratgia e administrao, que estende-se atravs de todas as funes individuaus do negcio3.

    Mais especificamente na administrao financeira, Van Horne inicia seu ltimo trabalho no mesmo enfoque quando diz: O objetivo de uma companhia deve ser a criao de valor para seus acionistas. O valor representado pelo preo de mercado da ao ordinria da companhia, o qual, por outro lado, uma funo das decises de investimento, financiamento e dividendos da empresa... Por todo este livro, o tema unificante a criao de valor4.

    1 INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS INTERNATIONAL MANAGEMENT ACCOUNTING PRACTICE STATEMENT. Management accounting concepts. Relatrio de Fevereiro de 1989. 2 ATKINSON, Anthony A,. BANKER, Rajiv D., KAPLAN, Robert S. & YOUNG, S. Mark. Management accounting. 2. Ed. New Jersey: Pretice-HallNJ 1997, p. 1 e 4. 3 HONGREN, Charles T., FOSTER, George & DATAR, Srikant. Cost accounting a management emphasis. 8. Ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1994, p.6. 4 VAN HORNE, James C. Financial management and policy. 11 ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1998, p. 3.

    Pesquisa e Desenvolvimento

    Desenho Produo Marketing Distribuio Servios ao Cliente

    Estratgia e Administrao

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    Ramirez, no recente artigo A criao de valor na nova economia discute o mesmo escopo, procurando alertar que o conceito tradicional de cadeia de valoresdeve ser revisado quando diz: No esquema tradicional de cadeia de valores, o valor criado pelos produtores e destrudo pelos consumidores. No entanto, essa concepo deixa de fazer sentido num mundo de empresas, fornecedores e clientes estreitamente vinculados numa rede global de negcios em que seus respectivos relacionamentos esto em constante mutao. Nesse ambiente, as tradicionais ferramentas de anlise ecnomica tornam-se inteis. A tarefa, agora, descobrir uma maneira mais flexvel de conceber as distines entre clientes, fornacedores, bens e servios5.

    O objetivo deste trabalho discutir o conceito de criao de valor e suas variantes, buscando sua validao, sua interao com a contabilidade e o papel da contabilidade no processo de gerao de valor no ambiente empresarial. Nesse sentido, est-se tambm objetivando circunscrever a funo contbil dentro das empresas, rediscutindo sua misso.

    CONTABILIDADE GERENCIAL E A FUNO DE CRIAO OU GERAO DE VALOR

    O atual estgio da contabilidade gerencial, que abarca todos os estgios evolutivos anterirores, centra-se no processo de criao de valor atravs do uso efetivo dos recursos empresariais. Esta funo-objetivo est declarada no Relatrio Revisado de Maro de 1998, emitido pelo Comit de Contabilidade Financeira e Gerencial da Federao Internacional de Contadores (International Federation of Accountants IFAC), sobre os conceitos de Contabilidade Gerencial.

    Mostra-se a seguir os principais tpicos relacionados como tema de gerao ou criao de valor, partindo da apresentao dos estgios evolutivos da contabilidade gerencial, de acordo com o IFAC.

    EVOLUO E MUDANA NA CONTABILIDADE GERENCIAL6

    O campo da atividade organizacional abarcado pela contabilidade gerencial foi desenvolvido atravs de quatro estgios reconhecveis. Estgio 1 antes de 1950, o foco era na determinao do custo e controle financeiro, atravs

    do uso das tecnologias de oramento e contabilidade de custos; Estgio 2 por volta de 1965, o foco foi mudado para o fornecimento de informao para o

    controle e planejamento gerencial, atravs do uso de tecnologias tais como anlise de deciso e contabilidade por esponsabilidade;

    Estagio 3 por volta de 1985, a ateno foi focada na reduo do desperdcio de recursos usados nos processos de negcios, atravs do uso das tecnologias de anlise do processo e administrao estratgica de custos;

    Estagio 4 por volta de 1995, a ateno foi mudada para a gerao ou criao de valor atravs do uso efetivo dos recursos, atravs do uso de tecnologias tais como exame dos direcionadores de valor ao cliente, valor para o acionista, e inovao organizacional.

    5 RAMIREZ, Rafael. A criao de valor na nova economia. In: Mastering global business. Caderno editado pelo jornal Gazeta Mercantil. So Paulo, 07/08/98, p. 16. 6 INTERNATIONAL FEDERATION OF ACCOUNTANTS IFAC / INTERNATIONAL MANAGEMENT ACCOUNTING PRACTICE STATEMENT. Management accounting concetpts. Relatrio Revisado de maro de 1998, p. 4.

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    Figura 2 Evoluo da Contabilidade Gerencial

    Cada estgio da evoluo representa adaptao para um novo conjunto de condies que as organizaes enfrentam, pela bosoro, reforma, e adio aos focos e tecnologias utilizadas anteriormente. Cada estgio uma combinao do velho e do novo, com o velho sendo reformado para ajustar-se com o novo em combinao a um novo conjunto de condies para o ambiente gerencial. A contabilidade gerencial atual refere-se ao produto do processo de evoluo cobrindo os quatro estgios. (IFAC, pargrafos 9 e 15)

    Nos estgios 3 e 4, ela ( a Contabilidade Gerencial) vista como parte integral do processo de gesto, com informaes sendo disponibilizadas em tempo real diretamente para a administrao, e com a distino entre a administrao de apoio e linha sendo progressivamente embaraada. O foco do uso dos recrusos (incluindo a informao) para criar valor uma parte integral do processo gerencial das organizaes. (IFAC, pargrafo 19). Nos estgios 3 e 4, a informao vista como um recurso organizacional, juntamente com outros recursos organizacionais; o foco, agora, contudo na reduo das perdas e desperdcios desses recursos (tanto em termos reais como financeiros) e em conservar ou alavancar seu uso na gerao ou criao de valor. (IFAC, pargrafo 17).

    A Contabilidade gerencial, como uma parte integral do processo de gesto, adiciona valor distintivamente pela investigao continua sobre a efetividade da utilizao dos recursos pelas organizaes na criao de valor para acionistas, clientes e outros credores.(IFAC, pargrafo 29).

    Passa-se a discutir, a seguir, os principais conceitos, que, no entendimento desse autor, devem ser revistos luz desta funo-objetivo da contabilidade gerencial, que a adio e criao de valor.

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    CRIAO DE VALOR A ATIVIDADE PRODUTIVA

    O estudo da criao de valor ou gerao de riqueza, a atividade produtiva, no o onjeto de estudo da Cincia Contbil, mas sim, o ponto fundamental da Cincia Econmica7. A economia, objeto da CinciaEconmica, pode ser definida como o conjunto de atividades de uma coletividade humana relativas produo, distribuio e consumo de bens.8.

    A produo e a consequente gerao de renda assim apresentada por Rossetti. Dentre as trs diferentes categorias bsicas de atividade econmica (produo, consumo

    e acumulao), aproduo considerada como atividade fundamental. O seu carter de atividade fundamental decorre de que as demais categorias dependem das funes produtivas, medida que os diferentes agentes que operam nos sistemas econmicos nacionais s podem satisfazer s suas encessidades de consumo e acumulao de riquezas se, preliminarmente, destinarem tempo, talento e esforo ao de produzir bens e servios que desejarem consumir e acumular.9

    A gerao de renda ocorre paralelamente ao processamento da produo. Independentemente da sua natureza, quaisquer bens ou servios que sejam produzidos exigem o emprego de recursos econmicos, denominados fatores de produo, como o trabalho, o capital, a tecnologia e a capacidade empresarial. Como j vimos, a mobilizao, pelas empresas, desses diferentes tipos de fatores conduz ao pagamento de remunerao, sob a forma de salrios, juros, aluguis e lucros. Estas remuneraes, geralmente denominadas custo dos fatores correspondem ao conceito econmico de renda.10.

    Hicks, J.R. citado por Rossetti, ressalta que o conceito de produo no se limita atividade industrial e sim, abrange tambm a atividade comercial e a atividade de servios, quando diz:

    Os comerciantes no so originalmente responsveis pela produo dos bens com que transacionam; todavia, o comrcio desempenha a til atividade de reunir e oferecer os bans locais que melhor satisfaam s necessidades dos consumidores...alm disso, h numerosos trabalhadores que no esto diretamentwe ligados produo de bens materiais. Os mdicos, os professores e os atores so, todos eles, exemplos de produtores de servios que satisfazem necessidades to importantes quanto as proporcionadas por certos tipos de bens materiais11.

    As empresas tem sido o meio mais eficaz de produo de valor na economia moderna. Tambm conforme Rossetti afinal, o que diferencia os modos de produo das modernas organizaes sociais, comparativamente aos praticados pelas organizaes primitivas, no a essncia em si do ato de produzir, mas o nmero cada vez maior de etapas interpostas entre a produo e o consumo, decorrentes da maior especializao e da diviso social do trbalho.12.

    Neste trabalho quer-se deixar claro que o problema de criao de valor deve ser medido objetivamente, e portanto, conceitua-se como criao de valor a gerao ou aumento do valor econmico de um recurso ou ativo.Neste trabalho, est-se interpretando desta maneira o conceito de criao de valor, no de outra maneira subjetiva. Exemplificando, criar valor para o cliente fazer com que ele se sinta cada vez mais satisfeito com os produtos e servios oferecidos pelas empresas, entende-se esse como um conceito subjetivo de criao de valor. Assim, este conceito (subjetivo) apenas um meio (provavelmente o melhor) de criar valor econmico (conceito objetivo) para as empresas. 7 SANDRONI, Paulo. Novo dicionrio de economia.5 ed., So Paulo: Best Seller, 1994, p. 107. 8 Grande enciclopdia Larousse Cultural. V. 3, So Paulo: Universo, 1988, p. 1113. 9 ROSSETTI, Jos Paschoal. Contabilidade Social. 7.ed., So Paulo: Atlas, 1994, p. 58. 10 ROSSETTI, Jos Paschoal. Op. Cit., p. 60. 11 Idem , ibidem, p. 59. 12 Idem ,ibidem.

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    VALOR AGREGADO OU ADIO DE VALOR

    A Cincia Econmica responsvel pelo conceito base de adio ou agregao de valor.

    Conforme Rossetti a produo deve ser vista como um processo contnuo de entradas (inputs) e sadas (outputs). O produto deve ser entendido como a diferena entre o valor da sada e o valor das entradas, o que equivale a dizer que o conceito de produto corresponde ao valor agregado pelas empresas no decurso do processamento da produo.13

    Complementando, tambm com Rossetti...devemos ter presente o significado do valor agregado, que expressa, como j vimos, a diferena entre o valor bruto da produo e a soma dos valores de todos os bens e servios intermedirios utilizados quando do processamento dessa mesma produo.14

    No processo de agregao de valor, fica claro tambm que as empresas so as entidades que se responsabilizam pelos processos intermedirios de agregao de valor, conforme Rossetti...cada uma das empresas integrantes do aparelho de produo da economia ser considerada, sob um ponto de vista sistmico, como uma unidade processadora dependente de fornacimentos originrios de outras empresas.15

    A Cincia Contbil incorporou oconceito de valor agregado no seu escopo, com o desenvolvimento do conceito de valor adicionado.Conforme De Luca podemos definir Valor Adicionado como sendo a diferena entre o valor da produo/faturamento e os consumos intermedirios (compras a outras empresas) nesse perodo, ou seja, a mesma definio utilizada pela economia.16

    DESTRUIO DE VALOR

    O processo de destruio de valor considerado o consumo dos bens e servios produzidos pelas empresas. Conforme Ramirez na economia industrial que estamos prestes a deixar para trs, supunha-se que o consumo de bens ou servios pelos clientes destrusse o valor que havia sido criado pelos produtores.17

    Apesar da viso deste autor, de que este processo destrutivo possa ser visto de maneira mais vanada, o consumo considerado o processo destrutivo do valor dos bens e servios produzidos.

    CRIAO OU ADIO DE VALOR E CONTABILIDADE GERENCIAL

    Retorna-se funo-objetivo da atual Contabilidade Gerencial apresentada na introduo deste trabalho segundo a IFAC.A Contabilidade Gerencial, como uma parte integral do processo de gesto, adiciona valor distintivamente pela investigao continua sobre a efetividade da utilizao dos recursos pelas organizaes na criao de valor para os acionistas, clientes e outros credores.18

    A criao de valor para os clientes e outros credores, faz parte, no entender desse autor, dos concetitos subjetivos de criao de valor. So vlidos medida em que podem auxiliar o processo de mensurao econmica do sistema empresa, mas no permitem num primeiro momento, enquadr-los como criao ou adio de valor.

    13 ROSSETTI, Jos Paschoal. Op. Cit, p. 81. 14 Idem, Ibidem., p. 85. 15 Idem, ibidem,p. 80. 16 DE LUCA, Mrcia Martins Mendes. Demonstrao do valor adicionado. So Paulo: 1991. Dissertao (Mestrado). Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade FEA/USP, p. 39. 17 RAMIREZ, Rafael. Op. Cit., p. 16. 18 Management accounting, as an integral part of the management process, distinctly adds value by continusly probing whether resources are used effectiveky by organizations in creating value for shareholders, customers or other stakeholders.(IFAC, pargrafo 29)

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    Outrossim, a funo-objetivo da Contabilidade Gerencial de criao de valor para os acionistas parece clara e um conceito objetivo, pois pode ser mensurado economicamente. A criao do valor para o acionista centra-se na gerao do lucro empresarial, que por sua vez, transferido pasra os propietrios da entidade, o qual, genericamente, est-se denominando de acionistas. O pequeno e simples exemplo, sobre objetivo de finanas com a abertura de uma empresa, de Ross Westerfield & Jaffe ilustra bem a questo:

    No linguajar financeiro, seria feito um investimento em ativos, tais como estoques, mquinas, terrenos e mo-de-obra. O dinheiro aplicado em ativos deve ser contrabalanado por uma quantia idntica de dinheiro geradopor algum financiamento. Quando comear a vender, sua empresa ir gerar dinheiro. Essa a base da criao de valor (grifo desse autor). A finalidade da empresa criar valor para o seu proprietrio. O valor est refletido no modelo bsico da empresa, representado pelo seu balano patrimonial.19

    Em resumo, o conceito de criao (ou adio) de valor na Contabilidade Gerencial, como em Finanas, est ligado ao processo de gerao de lucro para os acionistas.

    O CONCEITO DE ATIVIDADES QUE NO ADICIONAM VALOR NA CONTABILIDADE GERENCIAL

    Decorrente da filosofia de administrao de produo JIT (Just-in-time) e do conceito de

    eficincia dos ciclos de produo e entrega, dentro da abordagem da Gesto Estratgica de Custos, surgiu o conceito de atividades que adicionam ou no valor ao produto ou ao cliente.

    Conforme Nakagawa, uma atividade que no adiciona valor ao produto aquela que pode ser eliminada, sem que os atributos do produto (desempenho, funo, qualidade, valor reconhecido) sejam afetados.20

    Ainda conforme Nakagawa, nas atividades relacionadas com a produo, o conceito de valor no adicionado pode ser visualizado mais facilmente. Produtos parados na empresa, desde a armazenagem de matria-prima, passando pelos materiasi em circulao na rea de produo at a estocagem de produtos acabados, constituem custos de atividades, que poderiam ser eliminadas pela manuteno de um fluxo contnuo do produto atravs do processo de produo.

    Com as atividades consomem tempo, e os tempos de espera, inspeo e movimentao no adicionam ou agregam valor ao produto e, portanto, ao cliente, estas devem ser eliminadas. Assim, a nica atividade que agrega valor ao produto a atividade de produo. Nessa viso, h o conceito de throughput time, ou tempo de fabricao que, em seguida, evoluiu para o tempo do ciclo de entrega e de fabricao, alm do processamento normal e necessrio, existem muitos tempos que deveriam ser evitados, por no serem rpodutivos. So os tempos de espera, movimentao e inspeo. Um dos grandes objetivos, ento da manufatura, a busca desses tempos improdutivos, que so denominados tempos que no adicionam valor aos produtos, para que sejam eliminados. A figura 3 mostra os ciclos de tempo com esse conceito. 19 ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph W. & JAFFE, Jefrey E. Administrao financeira. So Paulo: Atlas, 1995, p. 26. 20 NAKAGAWA, Masayuki. Gesto estratgica de custos, So Paulo: Atlas, 1991, p. 43.

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    Figura 3 Tempo do Ciclo de Fabricao e de Entrega

    Como uma medida de desempenho de manufatura, adotando os conceitos de tempos quwe adicionam ou no valor, tem-se a eficincia do ciclo de produo que assim expressa: Observao: Como ideal, as empresas deveriam buscar a eficincia = 1.

    Horngren, Foster & Datar21 e Ostrenga22, tambm entendem que as atividades internas da companhia podem ser classificadas (e mensuradas) entre as atividades que adicionam valor ao produto e as que no adicionam valor, apresentando exemplos de demonstraes de resultados evidenciando essas mensuraes e classificaes.

    21 HONRNGREN, FOSTER & DATAR. Op. Cit., p. 474. 22 OSTRENGA, Michael R. et al. Guia da Ernst & Young para gesto total de custos. Rio de Janeiro: Record, 1993, p. 232.

    Pedido do cliente Incio de produo Mercadoria expedida Tempo de espera Tempo de processamento + Tempo de inspeo + Tempo de Movimentao+ Tempo de espera Tempo de ciclo da produo Tempo de ciclo de entrega Tempo que adiciona valor Tempo que no adiciona Valor Tempo de processamento Tempo de inspeo Tempo de Movimentao Tempo de espera

    Eficincia Do Ciclo de = Tempo de processamento Fabricao (Tempo de Processamento + Tempo de espera + Tempo de Movimentao + Tempo de Inspeo)

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    Horngren, Foster & Datar assim definem: O conceito de atividade que adiciona valor um ponto chave na gesto de custos. Atividades que adicionam valor so aquelas que os clientes percebem como incrementadoras da utilidade dos produtos ou servios que eles compram.23

    ATIVIDADES QUE ADICIONAM VALOR, CADEIA DE VALOR E VALOR AGREGADO

    Apesar de similares, os conceitos de valor agregado e adio de valor podem ser distinguidos. O conceito de valor agregado um conceito macroeconmico, e fundamenta-se na transferncia de bens ou servios entre as empresas. O conceito de adio de valor, da forma como propugnado pelos estudiosos da Gesto Estratgica de Custos, relaciona-se com as atividades internas da empresa. H ligao entre os dois conceitos, obviamente. Partindo do pressuposto que as atividades desenvolvidas internamente no so mais do que subprocessos de uma atividade maior, nas transferncias entre as atividades internas, h a adio ou agregao de valor. Pode-se ilustrar esses dois conceitos como na figura a seguir. Figura 4 A Empresa, Atividades que adicionam Valoe e Valor Agregado do Produto

    Outrossim, importante ressaltar que as adies internas de valor tem um limite que o valor do produto final entregue ao mercado. Desta maneira, associando o conceito dos gargalos da Teoria das Restries24, todas as adies dentro da cadeia interna de atividades da empresa no conseguem exceder ao valor do produto final vendido aos clientes, que o preo de mercado. Assim, por mais que as atividades internas possam ter condies de adicionar valor, o rproduto 23 HORNGREN, FOSTER & DATAR, Op..cit., p. 473. 24 GOLDRATTT, Eliyahu & COX, Jeff. A Meta . So Paulo: IMAM, 1986.

    Fornecedores A Empresa Clientes

    Materiais Bens e Servios Recebidos de Terceiros

    Atividade 1 Atividade 2 Atividade N (final)

    Produtos Ou Servios

    Adies Internas de Valor

    Valor Agregado pela Empresa

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    final tem um valor agregado limtrofe, ou seja, um valor que no pode ser ultrapassado, que o valor da diferena dos preos de mercado dos materiais e servios adquiridos de terceiros, e do valor do produto final entregue aos seus clientes. Desta maneira, ganhos internos de adio de valor podem ser perdidos pelas restries impostas pelo mercado.

    Contudo, no entendimento desse autor, o objetivo do desenvolvimento do conceito de atividade que adiciona valor est ligado ao conceito de tempos possveis de serem eliminados, e no no conceito correto de adio de valor. Quando Horngren, Foster & Datar dizem atividades que adicionam valor so aquelas que os clientes percebem como incrementadoras da utilidade dos produtos ou servios que eles compram esto, falando sobre valor agregado pela empresa, e no atividades desenvolvidas internamente.

    De fato, os clientes percebem utilidades diferentes de produtos diferentes, mas no tem condies de distinguir quais atividades desenvolvidas internamente para determinado produto so executados pela empresas.

    Se uma empresa vende um aparelho de televiso em branco e preto e outra vende um em cores, os clientes daro mais valor aos televisores em cores. Da mesma forma, se uma empresa oferece tevs sem controle remoto, os clientes daro mais valor se outra empresa oferecer aparelhos com controle. Identicamente, se uma empresa oferece uma tev simples de vinte polegadas e outra oferece um aparelho de vinte polegadas conjugado com videocassete, os clientes esto propensos a pagar mais pelo aparelho conjugado. Nesse sentido, h valores agregados aos produtos, pois so produtos diferentes que os clientes percebem diferentemente. O valor de um produto ou servio expresso pelo seu preo de venda ao mercado, aceito pelo cliente.

    Entende-se que o conceito de atividade que adiciona ou no adiciona valor, da forma como apresentado por esses autores, um conceito questionvel, uma vez que o cliente no sabe quais as atividades que a empresa emprega no seu processo de produo e comercializao, salvo algumas evidentes, como os servios ps-venda.

    Partindo tambem da prepossuposio que os processos utilizados pela empresa apresentam possibilidades opcionais, ou seja, a empresa tem opes vrias de adotar determinados processos produtivos e comerciais, fica difcil, a um cliente, conseguir avaliar se alguma atividade adiciona ou no valor ao produto ou servio que ele adquire.

    No h dvida que o cliente, eventualmente, venha a perceber algumas diferenas entre os diversos produtos similares a ele oferecidos, mas essa diferenciao de carter altamente subjetivo e de julgamento de cada cliente, no sendo possvel, trazer isto para dentro da empresa, e consequentemente, ter relevncia informar e mensurar.

    No entendimento desse autor, TODAS as atividades que a empresa desenvolve internamente so necessrias e, portanto, tm VALOR para a EMPRESA. Assim, no seria lgico e racional supor que uma empresa desenvolvesse internamente uma atividade desnecessria.

    Contudo, entende-se que o conceito de atividade que adiciona ou no o valor est mais na idia de quanto custa cada atividade, se ela est sendo desenvolvida de forma eficiente e eficaz, e se no h desperdcios. Concorda-se com este ponto de vista, se le que est subjacente idia de adicionar ou no valor. Cada atividade desenvolvida pela empresa deve ser gerida e ter um resultado eficiente e eficaz, sob pena de comprometer o lucro e a eficcia empresarial.

    Mesmo com relao ao tempo despendido na execuo das atividades e sua separao em tempos que adicionam ou no valor, a aplicao do conceito questionvel. bvio que as empresas buscam reduzir o tempo gastono desenvolvimento das atividades para vender, produzir e entregar os produtos e servios com o menor consumo de recursos e ativos para isso. Isto tem sido medido pela anlise financeira e de balano com o conceito tradicional de giro do ativo e dos prazos mdios da atividade.

    Contudo, se os tempos de espera, movimentao e inspeo so necessrios, tanto para produo e venda como para garantir a qualidade dos bens e servios, esses tempos no so eliminveis. So to necessrios quantos os tempos produtivos. Sem eles, os produtos no seriam gerados dentro das condies idealizadas.

    A avaliao do tempo gasto nas atividades fundamental para apurao e determinao da capacidade de produo e venda, seja em termos de recursos humanos quanto de outros

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    recursos (materiais, energia eltrica, etc.) Essa avaliao uma atribuio dos gestores operacionais das diversas reas, setores e processos pelos quais o produto ou servio manipulado.

    O tipo de tempo gasto, no entendimento desse autor, irrelevante. A tecnologia de produo e comercilaizao adotada exige um processo de movimentao e transporte de materiais e produtos, e todo esse tempo necessrio. Se o equipamento exige um tempo de preparao, este no poder ser eliminado. Se entre um equipamento e outro h necessidade de transporte de material, tambm este procedimento no poder ser eliminado. Se o material, por exemplo, exige um servio fora da empresa ( a tercerizao tem sido uma poltica de reduo de custos muito utilizada), ser impossvel eliminar o transporte e a burocracia exigida para tal tarefa. Se a inspeo deve ser feita, seja no momento de produo ou em um momento posterior, esta tambm no ser eliminvel, dentro daquela tecnologia e daquele processo, para aquele produto ou servio.

    Entende-se mais relevante, em relao avaliao dos tempos operacionais os conceitos de otimizao da produo da Teoria das Restries. Dentro da viso destaca-se os seguintes conceitos em relao ao tempo gasto nas atividades necessrias ao processo operacional: a) uma hora perdida no gargalo uma hora perdida no sistema inteiro; b) uma hora economizada onde no gargalo apenas uma iluso (grifo desse autor).25

    Um exemplo deste tipo de procedimento o de um fabricante de relgios norte-americano. O fabricante identificou um modo de montagem num pas asitico de custo extremamente reduzido. Num determinado momento dodia, as peas eram reunidas e enviadas, de avio , para tal pas. Durante o dia acontecia a montagem e, em seguida, o avio retornava com o produto montado. Ora, se o tempo de transporte fosse eliminado, no haveria essa possibilidade de ciusto. Mas ainda, neste caso, aumentou-se o tempo pelo transporte e montagem em outro pas, mas foi a melhor opo econmica. Mesmo o termpo de entrega ao cliente, analisado de forma individualizada, foi aumentado em um dia. Obviamente, a empresa dispe de capital de giro para bancar um estoque adicional que possibilite a mesma condio de entrega do produto. Portanto, o que importa no necessariamente o tempo reduzido, e sim, a otimizao do valor econmico obtido pelo processo de produo, venda e distribuio.

    Em resumo, todas as atividades da empresa devem ser analisadas economicamente em termos de resultados, receitas e menos custos. O tempo gasto nas atividades deve ser sempre o menor possvel, em todas as suas etapas, na busca da maior eficincia e produtividade operacional.

    A anlise e a possvel reduo dos tempos deve ser feita luz da tecnologia de produo, processoe comercializao adotada; avaliado economicamente, na busca do melhor resultado positivo, o lucro empresarial.

    VALOR ECONMICO ADICIONADO (EVA ECONOMIC VALUE ADDED)

    Na rea de finanas, mais ligado anlise de investimentos, surgiu o conceito de EVA/MVA Valor Econmico Adicionado/Valor Adicionado de Mercado. Conforme Atkinson, Banker, Kaplan & Young, recentemente, um nmero de analistas e consultores tem proposto o uso do valor econmico adicionado como ferramenta para avaliao do desempenho da organizao...o analista ajusta o lucro contbil, corrigindo-o com que os proponentes do valor econmico adicionado consideram para sua viso conservadora. Por exemplo, os ajustes incluem a capitalizao e amortizao de custos significativos de lanamento de produtos. A seguir o analista computa a importncia do investimento na organizao e deriva o valor econmico adicionado como segue: Valor Econmico Adicionado = Lucro Contbil Ajustado 25 GUERREIRO, Reinaldo. A meta da empresa: seu alcance sem mistrios. So Paulo: Atlas, p. 38.

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    (-) Custo de Capital x Nvel de Investimento.26

    Na realidade pode-se dizer que o conceito do EVA nada mais do que uma aplicao do conceito de custo de oportunidade do capital e do conceito de manuteno do capital financeiro da empresa.

    CUSTO DE OPORTUNIDADE

    Todas as atividades devem ser avaliadas pelo mercado, o que representa o custo de oportunidade de manter determinada atividade. Fundamentalmente, isto explicitado em dois conceitos de custo de oportunidade: 1. preo de mercado e preo de transferncia baseado no preo de mercado, para avaliao dos

    estoques e produtos finais, e dos produtos e servios produzidos pelas atividades internas. 2. Custo de oportunidade financeiro, para mensurar e avaliar o aspecto financeiro das atividades

    e do custo de oportunidade dos acionistas, fornecedores de capital `a empresa e s atividades. A adoo do custo de oportunidade para acionistas implica em criar uma rea de

    resultados especfica para mensurar a rentabilidade dos acinistas. O custo de oportunidade dos acionistas o lucro mnimo que eles deveriam receber para justificar seu investimento ( o seu custo de oportunidade, a preo de mercado). Ao mesmo tempo, a adoo deste conceito permite incorporar o conceito de manuteno d\o capital empresarial e, nesse sentido, estamos adotando o conceito de lucro de Hicks, que conceitua o lucro como a importncia que uma pessoa pode consumir durante um perodo de tempo e estar to bem no fim daquele perodo como ele estava no seu incio.27

    O conceito de custo de portunidade dos acionistas permite uma viso correta de lucro distribuvel, ou seja, s distribuir o excedente manuteno do capital financeiro e, com isso, d as condies econmicas para o processo de sobrevivncia do sistema empresa e, portanto, sua continuidade.

    O conceito de custo de oportunidade, acoplado a conceitos de mesnsurao relacionados com o fluxo futuro de benefcios, configura o conceito de lucro econmico em oposio ao conceito tradicional de lucro contbil.

    LUCRO ECONMICO versus LUCRO CONTBIL

    O resultado apurado segundo os princpios contbeis geralmente aceitos denominado de lucro contbil. Denomina-se de lucro econmico o resultado apurado segundo os conceitos de mensurao no atrelados ao custo original como base de valor e, sim, em valores de realizao ou de fluxo futuro de benefcios, decorrente da abordagem das atividades para mensurao do lucro.28

    Iudcibus assim se expresa: ...a avaliao conservadora, baseada no custo original, falha, nos demosntrativos financeiros, como elemento preditivo de tendncias futuras para os usurios externos(...) Nesse ponto, a Contabilidade a valores de realizao seria mais informativa para o usurio, pois no se sabendo at que ponto ir a continuidade da entidade )pelas normas atuais de avaliao), talvez fosse mais fcil depreender quo prxima est a descontinuidade.29 26 ATKINSON, BANKER, KAPLAN & YOUNG, Op. Cit., p. 478-479. 27 HICKS, James R. Value and capital. 2. Ed., London: Oxford: Oxford Press, 1946, p. 172. 28 HENDRISKEN, Eldon S. Accounting theory. 3 ed. Illions: Irwin, 1977, p. 143-144. 29 IUDCIBUS, Srgio de. Teoria da contabilidade. So Paulo: Atlas, 1980, p. 58.

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    Desta maneira, entende-se que o conceito de Lucro Econmico o nico conceito que permite ver a aplicao da teoria da mensurao de forma abrangente e integrada com modelos de deciso para os eventos econmicos e as atividades, dentro do Sistema de Informao Contbil.

    Est-se aceitando como premissa que o lucro obtido pela diferena do valor do patrimnio lquido final menos o inicial. Neste sentido, adota-se o conceito de lucro econmico como mensurao do resultado empresarial, em acordo com as colocaes de Guerreiro.30

    Sobre o lucro econmico, diz Guerreiro: Em termos econmicos, o lucro visto como a quantia mxima que a firma pode distribuir

    como dividendos e ainda continuar to bem ao final do perodo como estava no comeo. Continuar to bem, economicamente falando, interpretado como manter o capital intacto emtermos do valor descontado no fluxo de recebimentos lquidos futuros. O lucro econmico gerado, portanto, assim que exista um aumento do patrimnio lquido. Por outro lado, para mensurar o licro como incremento do patrimnio lquido necessria a avaliao de todos os ativos da empresa, com base nos recebimentos lquidos futuros esperados. O lucro mensurado atravs do crescimento do patrimnio lquido, originado pela manipulao dos ativos. Sob esse prisma, os ativos de qualuqer natureza so recebveis esperados para fulir para a empresa perodo a perodo.31Complementando, o conceito de lucro econmico, conforme diz Iudcibus em outro trabalho: O conceito econmico depende, para sua mensurao, de fluxos nominais (correntes) de caixa (ou, eventualmente, at o lucro contbil, na falta de valores de caixa), da fixao de um horizonte temporal e da estimao de uma taxa de juros que seria utilizada para o clculo do valor presente dos fluxos futuros.32

    LUCRO ECONMICO, GOODWILL E CUSTO DE OPORTUNIDADE

    Conforme visto anteriormente com Guerreiro, continuar to bem, economicamente falando, interpretado como manter o capital intacto em termos do valor descontado do fluxo de recebimentos lquidos futuros. Para manter o capital intacto necessria a adoo do conceito de custo de oportunidade do capital. O conceito de custo de oportunidade do capital implica em uma rentabilidade mnima de mercado, de tal forma que os investidores sejam remunerados alm desta rentabilidade mnima, sob pena de abandonarem os investimentos da empresa.

    Tambm, conforme Guerreiro, em termos prticos, o custo de portunidade corresponde remunerao mnima exigida pelos acionistas sobre o seu investimento na empresa.33

    Assim, dois conceitos de mensurao so fundamentais na Contabilidade para obter o correto valor da empresa e o resultado econmico correto: custo de oportunidade e fluxo lquido de benefcios futuros.

    Nesse sentido, a figura do Goodwill emerge naturalmente, como valor da empresa sobre a avaliao individual de seus ativos, como diz Martins: O goodwill tem sido genericamente aceito como o fruto da existncia de diversos fatores que a Contabilidade no aceita formalmente como elementos do Ativo, quer sejam eles a organizao interna da empresa, o bom relacionamento com os empregados, a condio monopolstica, a localizao da firma, ou outros quaisquer.34

    Como se v, o conceito de Lucro Econmico muito mais abrangente, pois permite incorporar as questes fundamentais da mensurao do resultado, eficcia e sobrevivncia e valor da empresa, alm do que o faz de uma forma integrada e dentro da viso sistmica.

    30 GUERREIRO, Reinaldo. Mensurao do resultado econmico . In: Caderno de Estudos, So Paulo: FIPECAFI, v. 3, setembro/1991, p. 1-23. 31 GUERREIRO, Reinaldo. Op. .cit., p.5. 32 IUDCIBUS, Srgio de,. Conceitos econmicos e contbil de lucro: simetrias e arritmias. Revista Brasileira de Contabilidade, v. 24, n. 96., nov/dez. 1995, p. 13. 33 GUERREIRO, Reinaldo . Um modelo de sistema de informao contbil para mensurao do desempenho econmico das atividades empresariais. Caderno de Estudos. So Paulo: FIPECAFI, v. 4, maro/1992., p. 17. 34 MARTINS, Eliseu . Contribuio avaliao do ativo intangvel. So Paulo, 1972. Tese (Doutorado). Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade FEA/USP, p.78.

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    EVA E DESTRUIO DE VALOR

    O conceito de destruio emerge como conceito inverso ao conceito de adio de valor, considerando o custo de oportunidade de capital. Todas as atividades que tiverem um resultado inferior ao custo de oportunidade do investimento apresentam destruio de valor, pois os acionistas estaro sendo remunerados com rentabilidade inferior ao custo mdio de oportunidade do mercado.

    A distribuio de resultados nesta condio implicaria num processo de destruio do capital da empresa, pois estar-se-ia, na realidade, distribuimdo capital dos acionistas e, conseqentemente, reduzindo a valor da empresa.

    EVA E A MENSURAO DO RESULTADO DOS PRODUTOS, ATIVIDADES E DIVISES DA EMPRESA

    O conceito de EVA deve ser aplicado no s para a avaliao geral do empreendimento, e

    sim, para todas as atividades e divises da empresa, no processo de avaliao do desempenho dos gestores divisoriais.

    Nessa mesma linha, o processo de anlise de rentabilidade dos produtos deve incorporar o mesmo conceito, objetivando a congruncia de objetivos especficos, setoriais e globais do empreendimento.

    CONCLUSES

    Diante do exposto, pode-se concluir que existem dois pontos referenciais na anlise do processo de criao de valor: I O Conceito de Valor Agregado, decorrente da Teoria Econmica, que expresso pelo valor de mercado do produto final entregue aos clientes, menos o valor dos insumos adquiridos de terceiros, tambm a preos de mercado, ou seja, o conceito de Valor Adicionado adotado pela Cincia Contbil. II O Custo de Oportunidade de Capital dos Acionistas, que entende como criao de valor o lucro empresarial que excede ao custo de oportunidade do capital sobre o valor dos investimentos no negcio.

    A Contabilidade Gerencial e a atividade de Controladoria35 deve-se inserir entre esses dois pontos referenciais. Portanto, os conceitos de atividades que adicionam ou no valor tambm se

    35 Est-se considerando neste trabalho Controladoria como uma unidade administrativa dentro da empresa, cujo responsvel o controlador (controller), que exerce a sua funo de controle fundamentalmente pela utilizao da Cincia Contbil, denominada neste trabalho de Contabilidade Gerencial, atravs do sistema de informao contbil, em conformidade com o entendimento de Nakagawa: Para tanto, geralmente o controller acaba tornando-se o responsvel pelo projeto, implementao e manuteno de um sistema integrado de informaes, que operacionaliza o conceito de que a contabilidade, como principal instrumento para demonstrar a quitao de responsabilidade que decorrem da accountability da empresa e seus gestores, suportada pelas teorias da deciso, mensurao e informao. obrigao de se prestar contas dos resultados obtidos, em funo das responsabilidades que decorrem de uma delegao de poder. NAKAGAWA, Masayuki. Introduo controladoria. So Paulo: Atlas, 1993, p. 13-14 e 17.

    Goodwill: valor da diferena obtida entre o valor total da empresa, avaliada por determinados critrios, e o valor resultante da soma aritmtica do valor dos ativos e passivos avaliados isoladamente; valor intangvel adicional da empresa.

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    circuscrevem dentro desses mesmos pontos referenciais e, desta maneira, iluso entender que uma atividade interna pode agregar valor de forma isolada, j que limitada pelo valor do bem ou servio produzido pela empresa.

    Nestes pontos referenciais, a Controladoria, no exerccio da funo contbil gerencial, pode monitorar,m adequadamente, o processo de gerao de valor dentro da empresa, atravs da: Adoo dos conceitos adequados de mensurao do lucro empresarial, que no entendimento

    desse autor, so derivados do conceito de lucro econmico; Apoio s atividades operacionais no processo de gerao de valor, atravs do sistema de

    informao contbil gerencial. Os fundamentos do lucro econmico so:

    I O Resultado da Empresa obtido pela diferena entre Patrimnios Lquidos , Final menos inicial, excludos os aumentos e redues de capital durante o perodo. II Ativos avaliados pelo ValorPresente do FluxoFuturo de Benefcios, e conseqentemente, incorporao do conceito de Goodwill. III Adoo do Custo de Oportunidade de Capital para mensurao do resultado dpos produtos, atividades, divises e da empresa. IV Adoo do Custo de Oportunidade para o processo de distribuio de dividendos e manuteno do capital da empresa.

    Nesse sentido, todas as estruturas organizacionais da empresa trabalharo de forma congruente junto aos acionistas, objetivo maior da entidade e da continuidade do empreendimento.

    A Controladoria uma rea de apoio dentre as empresas e no tem responsabilidade pelo processo operacional de gerao de lucro, salvo os decorrentes de sua prpria atuao, pois no um rgo de linha.

    Assim, no se v como possvel imaginar que a Contabilidade Gerencial e a Controladoria consigam gerar valor dentro da empresa. A Controladoria, atravs do sistema contbil gerencial, que incorpora os conceitos de lucro econmico, d as condies empresa de avaliar todo o processo de gerao ou criao de valor ( gerao de lucro para os acionistas).

    Outrossim, considerando que para exercer as funes da Controladoria so necessrios recursos, que custam para a empresa (esta funo, como todo recursos internado, deve ser sempre avaliada luz dos benefcios gerados). Desta maneira, cabe ao controlador e empresa avaliarem o exerccio da funo de controladoria na relao custo versus benefcio da produo de informao, como qualquer sistema informacional existente dentro da empresa.

    RESUMO

    Segundo a International Federation of Accountants IFAC, o atual estgio da Contabilidade Gerencial, que abarca todos os estgios evolutivos anteriores, centra-se no processo de criao de valor atravs do uso efetivo dos recurosos empresariais. Esta funo- objetivo tambm tem sido reconhecida por diversos cientistas e autores contbeis, sendo em alguns casos, determinante para a estruturao de livros-textos de Contabilidade Gerencial ou de Custos.

    O conceito de criao de valor para a empresa um conceito tambm adotado como objetivo primrio da Administrao Financeira. Mais recentemente, tem-se visto a expanso do conceito do Economic Value Added EVA ( Valor Econmico Adicionado), tanto na rea financeira como na rea contbil propriamente dita. Na abordagem da Gesto Estratgica de Custos conceito similar adotado, focalizando as atividades internas desenvolvidas pelas entidades empresariais, separando-as em atividades que adicionam valor e atividades que no adicionam valor.

    Contudo, apesar do conceito de atividades que adiciona valor ser similar aos conceitos de criao de valor e ao conceito de valor econmico adicionado, eles podem ser entendidos diferentemente. O conceito de atividade que adiciona valor est mais ligado s atividades internas da companhia e conceitos de reduo de custos, atividades necessrias ou desnecessrias,

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    enquanto que os outros dois conceitos esto ligados ao conceito de custo de oportunidade do capital dos acionistas da empresa.

    Outro ponto fundamental o conceito da Cincia Econmica de criao de valor, atravs da atividade produtiva e, conseqentemente, de valor agregado no processamento de recursos recebidos e utilizados na empresa, transformando-os em produtos finais, os quais tm um preo de mercado.

    Desta maneira, o papel da Contabilidade no processo de criao de valor tem dois pontos referenciais: primeiro, o valor dos produtos finais, que o valor criado ou agregado pelo processo produtivo; segundo, o custo de oportunidade do capital, que possibilita a mensurao do valor econmico adicionado.

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