ordens do discurso na visão faircloughiana. representações

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Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações/Discursos. Funcionalismo e Discurso 1º semestre de 2015 Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (FFLCH-USP) [email protected]

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Page 1: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Ordens do discurso na visão faircloughiana.Representações/Discursos.

Funcionalismo e Discurso

1º semestre de 2015

Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (FFLCH-USP)

[email protected]

Page 2: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

ACD – Modelo de Norman Fairclough

Relações externas

1. Estruturas sociais

2. Práticas sociais

3. Eventos sociais

Relações Interdiscursivas

Ordens do discurso: aspectos linguísticos das práticas sociais por

meio dos quais a variação linguística é controlada. Gêneros, estilos e

discursos.

Relações internas

1. Semântica

2. Gramática e léxico

3. Fonologia e Grafologia

Estilos: modos sociossemióticos de ser (identidade)Gêneros: modos sociossemióticos de agir (ação)Discursos: modos sociossemióticos de representar (representações)

Discursos podem levar à inculcação de estilos e ao engendramento de gêneros.Relação entre identidade, ação e representação.

Relação complexa entre agência social e estruturação social – entre liberdade e coerção.

“Semiosis — the making of meaning — is a crucial part of social life but it does not exhaust the later. Thus, because texts are both socially-

structuring and socially-structured, we must examine not only how texts generate meaning and thereby help to generate social structure but

also how the production of meaning is itself constrained by emergent, non-semiotic features of social structure” (Fairclough; Jessup; Sayer,

2010, p. 206). Assim, a semiose não pode ser reduzida apenas aos jogos das diferenças entre redes de signos assim como não pode ser

entendida sem identificar e explorar as condições extra-semióticas que a tornam possível e asseguram sua eficiência.

Page 3: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

ACD – Modelo de Norman Fairclough

Relações externas

1. Estrutura social

2. Práticas sociais

3. Eventos sociais

Ordens do discurso (interdiscursividade)

1. Discursos modos de representar

2. Gêneros modos de agir

3. Estilos modos de ser

Dimensão cognitiva

1. Tecnologias externalistas

2. Corporeamento

3. Processos e capacidades cognitivas

Relações internas

1. Nível semântico-discursivo

2. Nível léxico-gramatical

3. Nível fonético-fonológico e grafológico

Texto

Nenhuma abordagem dasemiose pode evitar as questõesde ‘truth’, ‘truthfulness’ e‘appropriateness’ de Habermas.A produção e interpretação detextos geralmente se baseia emclamores de validade que dizemrespeito a qual é o caso (truth),as intenções, as crenças, aintegridade, etc. do agente(truthfulness) e a relação dotexto com o contexto social(appropriateness).

Fairclough; Jessup; Sayer (2010,p. 208).

Page 4: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Discursos/RepresentaçõesFairclough (2003: 124, destaques meus)I see discourses as ways of representing aspects of the world – the processes,relations and structures of the material world, the ‘mental world’ of thoughts,feelings, belifes and so forth, the social world. Particular aspects of the world may berepresented differently, so we are generally in the position of having to consider therelationship between different discourses. Different discourses are differentperspectives on the world, and they are associated with the different relations peoplehave to the world, which in turn depends on their positions in the world, their socialand personal identities, and the social relationships in which they stand to otherpeople. Discourses not only represent the world as it is (or rather is seen to be), theyare also projective, imaginaries, representing possible worlds which are differentfrom the actual world, and tied in to projects to change the world in particulardirections. The relationships between different discourses are one element of therelationships between different people – they may complement one another, competewith one another, one can dominate others, and so forth. Discourses constitute partof the resources which people deploy in relating to one another – keeping separatefrom one another, cooperating, competing, dominating – and in seeking to changethe ways in which they relate to one anoher.

Page 5: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Discursos/RepresentaçõesVan Leeuwen (2008: 6)As discourses are social cognitions, socially specific ways of knowing social practices,they can be, and are, used as resources for representing social practices in text. Thismeans that it is possible to reconstruct discourses from the texts that draw on them.[...]In Foucault’s words (1977: 125), discourses not only involve“a field of objects”, butalso “the definition of a legitimate perspective for the agent of knowledge” in a givencontext. They not only represent what is going on, they also evaluate it, ascribepurposes to it, justify it, and so on, and in many texts these aspects of representationbecome far more important than the representation of the social practice itself.

Fairclough (2003):1. Identificar as áreas da vida social ou as principais partes do mundo que são

representadas – os ‘temas’;2. Identificar a perspectiva particular ou ponto de vista a partir do qual o recorte é

representado.

Page 6: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Discursos/RepresentaçõesQuestões de classificação/categorização são centrais para a depreensão de discursos:

1. relações locais de sinonímia, hipo/hiperonímia, antonímia;

2. relações metonímias e metafóricas;

3. padrões de colocação útil para análises em grandes corpora;

4. padrões de transitividade;

5. padrões de recontextualização [...] all texts, all representations of the world and what isgoing on in it, however abstract, should be interpted as reoresentations of social practices(Van Leeuven, 2008: 5)

What is at issue here is classification, preconstructed classifcatory schemes or systems ofclassification, ‘naturalized preconstructions... that are ignored as such and which canfunction as unconscious instruments of construction’ (Bordieu and Wacquant, 1992),preconstructed and taken for granted ‘di-visions’ through which people constinuouslygenerate ‘visions’ of the world. When different discourses come into conflict and particulardiscourses are contested, what is centrally contested is the power of these preconstructedsemantic systems to generate particular vision of the world which may have performativepower to sustain or remake the world in their image, so to speak. (Fairclough, 2003: 130).

Page 7: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)1. O pontapé inicial da TMC foi o livro Metaphors we live by, de Lakoff & Johnson, em

1980. Outra obra essencial para a abordagem é a Women, Fire and DangerousThings: What Categories reveal about the mind, escrita por Lakoff (1987).

2. Os autores propuseram-se a enfrentar a corrente majoritária daquele momento,que via a metáfora como um recurso figurativo de caráter estilístico, típico detextos literários.

3. Lakoff & Johnson, a partir de uma análise volumosa de dados linguísticos dediversas campos, buscam mostrar que a metáfora não é apenas um fenômeno delinguagem, mas um fenômeno de cognição que envolve a projeção decorrespondências entre differents domínios cognitivos – um domínio-fonte, maisconcreto e usualmente mais corporificado; e um domínio-alvo, mais abstrato.

4. A partir dos estudos sobre metáfora, também abarcou-se o fenômeno dametonímia.

5. Hoje, a TMC, apesar de influente, tem perdido espaço para outras abordagens,como a Teoria dos Espaços Mentais e da Integração Conceptual (MSCI) e asabordagens de metáforas emergentes e situadas. Entretanto, muitos autores têmtrabalhado no sentido de refiná-la, dentre eles Ruíz de Mendoza Ibañez, Grady,Kövecses, Diéz, Vereza, dentre outros.

Page 8: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)I. Diferenças básicas entre Metáfora e Metonímia

a. Croft & Cruse (2004: 193)

“Metáfora envolve a interação entre dois domínios construídos a partir de duasregiões de significado, e o conteúdo do domínio-fonte consiste em um ingrediente do alvo,construído por meio de processos de correspondência e mesclagem [...] Na metonímia, afunção do veículo é meramente identificar a construção do alvo”.

b. Ferrari (2011: 92; 102)

“[...] a metáfora é, essencialmente, um mecanismo que envolve a conceptualização deum domínio da experiência em termos de outros [...] a projeção metonímica envolve só umdomínio, ao contrário da metáfora, que se dá entre dois domínios”.

c. Ruiz (2006)

A metáfora prototípica é predicativa e envolve a projeção entre domínios, permitindo-nos compreender e raciocinar sobre o alvo a partir dos conhecimentos e das experiênciasacerca da fonte, ao passo que a metonímia prototípica é referencial, viabilizando que façamosreferência a uma entidade em um domínio ao sinalizarmos outra no mesmo domínio.

Page 9: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)i. O Haiti tem nos custado muito dinheiro.

ii. O 121 está subindo agora. Ruiz de Mendoza (2000)

Intervençãomilitar

Haiti

Apartamento 121

Condômino

LUGAR POR EVENTO

MORADIA PELO MORADOR

Metonímia Alvo-na-Fonte (target-in-source): um domínio inteiro é usado para simbolizar

um subdomínio.

Metonímia Fonte-no-Alvo (source-in-target): um subdomínio é utilizado para simbolizar

um domínio todo.

Page 10: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)iii. A máquina de arrecadação de impostos no Brasil faz do governo sócio parasita detodo mundo que trabalha.

Fórmula: DOMÍNIO-ALVO É DOMÍNIO-FONTESOCIEDADE É UM ORGANISMO; INSTITUIÇÕES SÃO PARTES/COMPONENTES DO CORPO; GOVERNO É PARASITA.

Análise não exaustiva e focada apenas na metáfora em negrito.

Domínio-Fonte Domínio-Alvo

Parasita Governo

Alvo: Organismo Alvo: Conjunto de Trabalhadores

Método de atuação: Infecção Método de atuação: Cobrança de impostos

Consequência: Adoecimento Consequência: Empobrecimento

Page 11: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)II. Explorando a Metáfora Conceptual

a. A TMC assume como foco a abordagem das metáforas convencionalizadas, atribuindo o caráterconvencional à importância cognitiva das projeções, uma vez que são ancoradas na experiênciahumana corporificada.

b. Hipótese da Invariância: as projeções metafóricas preservam a estrutura imagética do domínio-fonte;em outros termos, nós raciocinamos sobre o domínio-alvo a partir da imagética da fonte.

Consequência 1: assimetria entre Domínio-fonte e Domínio-Alvo.

Consequência 2: O Domínio-Fonte não é reconceptualizado por suas correspondências emrelação ao domínio-alvo.

c. Lakoff & Johnson propõem dois tipos de correspondências: i. as ontológicas, que dizem respeito àsprojeções de um domínio a outro; ii. as epistêmicas, que abarcam as relações possíveis e inferíveis entre oselementos dos domínios, tendo como base o conhecimento enciclopédico.

d. A TMC tem sérias dificuldades para explicar o uso de metáforas novas. Nesses casos, a abordagem torna-se apenas descritiva, carecendo de caráter explicativo.

e. Há teorias alternativas, como a Teoria da Mesclagem e da Integração Conceptual e a Teoria Neural daLinguagem, que defendem uma maior interação entre os domínios, permitindo conceber umareconceptualização da fonte devido a traços do alvo.

Exemplo: Os EUA temem que o Iraque seja o novo Vietnã.P.S. Exemplo cheio de metonímias.

Page 12: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)III. Explorando a Metáfora Conceptual – Teoria da Metáfora Primária

a. Grady denomina primárias as metáforas que estruturam domínios-alvo combase em imagens sensoriais com objetivo de destacar operações cognitivasde fundo. Os domínios-fonte estão sempre relacionados a experiênciassensório-motoras, derivadas da experiência, ao passo que os domínios-alvoreferem-se a respostas e avaliações que emergem da experiência corpórea.

Exemplos: SIMILARIDADE É PROXIMIDADE; IMPORTÂNCIA É TAMANHO; QUANTIDADE ÉELEVAÇÃO VERTICAL; CAUSAS SÃO FORÇAS; MUDANÇA É MOVIMENTO; DESEJO É FOME; ESTADOÉ CONTÊINER.

b. Grady denomina compostas as metáforas que emergem da unificação demetáforas primárias.

Exemplos: TEORIAS/ARGUMENTOS SÃO CONSTRUÇÕES emerge das metáforas primáriasPERSISTIR É PERMANECER ERETO e ORGANIZAÇÃO É ESTRUTURA FÍSICA.

Page 13: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)III. Explorando a Metáfora Conceptual – Teoria da Metáfora Primária

Exemplos:

1) SIMILARIDADE É PROXIMIDADE Essas abordagens sobre a linguagem são bem próximas.

2) IMPORTÂNCIA É TAMANHO Amanhã será um grande dia.

3) QUANTIDADE É ELEVAÇÃO VERTICAL Ele tem uma alta capacidade de atenção.

4) CAUSAS SÃO FORÇAS Aquela pessoa me levou à loucura.

5) MUDANÇA É MOVIMENTO Ele saiu da adolescência agora.

6) DESEJO É FOME Ele está com fome de bola.

7) ESTADOS SÃO CONTÊINERES Eles entraram em coma ontem; não conseguimos sair dessaenrascada.

Exemplos:

8) TEORIAS E ARGUMENTOS SÃO CONSTRUÇÕES Aquela teoria não tem fundamento; seuargumento não se sustenta; ele construiu um argumento sólido; toda aquele aparato teóricoruiu.

Page 14: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)IV. Interações entre Metáfora e Metonímia (Ruiz de Mendoza Ibañez)

a. Elx conquistou meu coração.

Domínio-Fonte (GUERRA/INVASÃO) Domínio-Alvo (AMOR)

Agente: Conquistador Agente: Amante

Ação: conquistar Ação: fazer apaixonar

Alvo: Território Alvo: Coração de alguémMetonímia Alvo: Amor

Page 15: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)IV. Interações entre Metáfora e Metonímia

b. Caetano Veloso é o Pelé da música.

Domínio-Fonte (FUTEBOL/JOGADOR) Domínio-Alvo (MÚSICA/CANTOR-COMPOSITOR)

Modelo: Pelé

Metonímia

Ação: jogar futebol

Propriedades: Talento, excepcionalidade, o “Rei do Futebol”

Modelo: Caetano Veloso

Ação: compor/cantar/interpretar canções

Propriedades: Talento, excepcionalidade, “?O Rei da Música”

Page 16: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)IV. Interações entre Metáfora e Metonímia

c. Ele saiu com o rabo entre as pernas.

Domínio-Fonte Domínio-Alvo

Page 17: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)Para quebrar a cabeça... (comecem dessa, a propósito...)

a. O pai de vocês deveria abrir uma padaria, porque vocês são todos coxinhas.

b. Propaganda é a alma do negócio.

c. Ele explodiu com a professora.

d. Estou colando aí na sua casa.

e. Meu amigo adora fazer a egípcia na balada.

f. Está na hora de vazar, galera!

g. Fulano não para de me encher o saco.

h. Fui três vezes campeão brasileiro!

i. Napoleão foi derrotado pelo General Inverno.

j. A USP está se abrindo para a África.

k. Não está muito claro o que ele quis dizer.

l. Não consigo acompanhar seu raciocínio.

Page 18: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)Sugestões de encaminhamento

f. Está na hora de vazar, galera!

Domínio-Fonte Domínio-Alvo

Contêiner Lugar

Fluido Pessoas

Ação: extravasar Ação: sair

Page 19: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)c. Ele explodiu com a professora.

g. Fulano não para de me encher o saco.

Domínio-Fonte Domínio-Alvo

Contêiner Pessoa/psique

Calor Raiva

Ação: explodir Ação: brigar, discutir

Domínio-Fonte Domínio-Alvo

Contêiner [saco] Pessoa/psique

Conteúdo: Ar Conteúdo: falar/chatear

Ação: encher Ação: irritar

Consequência: explodir Consequência: perder paciência/brigar

Page 20: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)d. Estou colando aí na sua casa!

Domínio-Fonte Domínio-Alvo

Contato Chegada

Figura: objeto que cola Agente que se move [Eu]

Marco: local onde se cola Local para o qual se move [casa]

Page 21: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

Discursos/RepresentaçõesFormas de Recontextualização (Van Leeuwen, 2008)

a. Substituição: substituição de elementos da prática social real com elementos semióticos. O tipo de substituição depende do contexto em que uma prática é recontextualizada.

i. particularização, nomeação, generalização ou agregação de participantes;

ii. reificação de ações por nominalização; etc.

b. Deleção: envolve o apagamento de elementos da prática social.

c. Rearranjos: abarca reordenação de eventos na prática, ofuscamento de participantes, estruturas, espaços, etc.

d. Adições: abrange a inclusão de reações subjetivas, propósitos, legitimações e avaliações.

Page 22: Ordens do discurso na visão faircloughiana. Representações

atores_sociais

exclusão supressão

encobrimento

inclusão

ativação

passivização sujeição

beneficiação

participação

circunstancialização

possessivização

pessoalização

determinação

associação

dissociação

diferenciação

indiferenciação

categorização

funcionalização

identificação

classificação

identificação-relacional

identificação-física

avaliação

nomeação

formalização

semiformalização

informalização

titulação

honorificação

afiliação

destitulação

determinação-única

sobredeterminação

inversão anacronismo

desvio

simbolização

conotação

destilação

indeterminação

genericização

especificação individualização

assimilação coletivização

agregação

impessoalização

abstração

objetivação

espacialização

aunomização-enunciativa

instrumentalização

somatização

}