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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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O DESINTERESSE DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PELAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA

TANIA MARA SANCHES

Prof.ª Me. Almir de Oliveira Ferreira

RESUMO

Este artigo é o resultado da Implementação Pedagógica, que tinha como objetivo diagnosticar e analisar a motivação dos alunos nas aulas de Educação Física, no ensino médio do Colégio Estadual D. Carolina Lupion de Cambará. Esta investigação visou fornecer subsídios capazes de auxiliar a prática pedagógica com o intuito de analisar e discutir as variáveis motivacionais que compõem e influenciam o comportamento dos alunos, bem como suas relações mais significativas com o processo de ensino e aprendizagem em Educação Física. A orientação do clima motivacional surge como um dos principais fatores responsáveis pela qualidade das atividades proporcionadas aos alunos e, consequentemente, pela forma com que os alunos se relacionarão com essas experiências. Foi aplicado aos alunos um questionário no início da investigação e novamente ao final para observar os avanços durante a implementação. Foram realizadas várias aulas atrativas e dinâmicas para estimular a motivação e participação dos mesmos nas aulas. Durante as aulas os alunos foram submetidos a diferentes tipos de situações que puderam originar o sentimento de emoções diversas, positivas ou negativas. Durante e após a realização das atividades, os alunos passaram a participar muito mais ativamente, pois perceberam a importância que a educação física tem em suas vidas de modo geral. Palavras-chave: Evasão escolar; educação física; ensino médio; motivação.

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INTRODUÇÃO

Enquanto professora PDE e Gestora por oito anos na rede estadual de

ensino, pude perceber a falta de motivação e interesse dos alunos do Ensino

Médio em relação às aulas de Educação Física. Sempre que os alunos do Ensino

Médio saiam para as aulas pude observar o descaso que os alunos tratam a

Educação Física, e esta realidade pode ser encontrada em muitas escolas

estaduais, fato este, que me levou pesquisar sobre a realidade das aulas de

Educação Física no Ensino Médio. Contudo, uma das principais preocupações

no que tange aos estudos relacionados à Educação Física é com relação aos

conteúdos ministrados nas aulas, pois os alunos vêm recebendo sempre os

mesmos conteúdos desde o ensino fundamental, sendo o desporto o mais

ministrado.

A Educação Física enquanto componente curricular da educação básica

deve assumir a tarefa de introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de

movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la,

instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e

dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade de

vida. “A integração que possibilitará o usufruto da cultura corporal de movimento

há de ser plena – e efetiva, social, cognitiva e motora. Vale dizer, é a integração

de sua personalidade” (Betti, 1992, 1994ª). Os conteúdos escolhidos devem

sempre propiciar a inclusão de todos os alunos, deve tanto quanto possível,

incidir sobre a totalidade da cultura corporal de movimento, incluindo jogos,

esporte, atividades rítmicas/expressivas e dança, lutas/artes marciais, ginásticas

e práticas de aptidão física, com suas variações e combinações, devem adquirir

complexidade crescente com o decorrer das séries. Neste sentido, o declínio da

Educação Física escolar, reflete uma tendência global, apontada por Medina

(1989), quando diz que a maioria dos professores não se encontra preparados

para trabalhar com esse nível de ensino, tendo em decorrência, um baixo

prestígio desta disciplina.

Esse fato apresentado tem colaborado para que a Educação Física

escolar não seja um componente curricular tão importante quanto os outros para

os alunos. Por outro lado, considero que esta fase relacionada ao Ensino Médio,

é extremamente importante na formação da personalidade do aluno, segundo

Etchepare (2000), a escola possui atualmente a tarefa de desenvolver no aluno

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as características que lhe permitirão viver de forma eficiente numa sociedade

complexa. Quando os alunos ingressam no Ensino Médio, já trazem consigo uma

bagagem motora adquirida nas etapas anteriores e esses conhecimentos devem

ser ampliados, permitindo sua utilização em situações sociais (MATTOS, NEIRA,

2000). Almeida e Cauduro (2007) consideram que a fase a qual o aluno se

encontra no Ensino Médio, é extremamente importante na formação da sua

personalidade, através da definição de valores e a Educação Física como

componente curricular precisa contribuir para a formação do seu aluno.

Ao observar o comportamento dos alunos nas aulas de Educação física,

o tema surgiu como pesquisa pela preocupação em ver que os alunos se

mostram desinteressados, desmotivados a participarem das aulas, ou seja, a

preocupação de que a comunidade escolar, os alunos e por vezes alguns

professores consideram a Educação Física como uma disciplina exclusivamente

prática e muitas vezes voltada para os interesses imediatos dos alunos que se

restringe apenas em jogar futebol, associado ao fator relevante sobre a repetição

dos programas desenvolvidos no Ensino Fundamental e ministrados novamente

no Ensino Médio, tornando a prática da disciplina sem significado a estes alunos.

Para tanto o objetivo central do trabalho realizado foi analisar as razões

da desmotivação e desinteresse dos alunos nas aulas de Educação Física

baseando-se nas repetições dos programas desenvolvidos tanto para o Ensino

Fundamental quanto para o Ensino Médio.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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A Educação Física como disciplina escolar caracteriza-se como uma

atividade eminentemente prática, muitas vezes desvinculada da teoria que

poderia servir de auxílio à compreensão e ao esclarecimento de fatores

relacionados à atividade física, como também das regras do esporte. Atualmente

percebe-se uma grande preocupação dos professores de Educação Física no

que se refere à sua práxis, considerando que um grande número de alunos não

participa efetivamente desta disciplina. Existem vários motivos que influenciam

neste desinteresse, dentre eles a falta de materiais e instalações adequadas

para a realização da aula, a carência de profissionais capacitados, além de

problemas sociais e familiares, que também podem desencadear o desânimo

para a prática das aulas que normalmente seguem uma ação rotineira de se

encaminharem à quadra e simplesmente se acomodarem.

É importante destacar Barbosa (1997), quando em suas considerações

sobre teoria e prática destaca que “a teoria é um processo interno, abstrato – é

o pensamento em si – e a prática é o ato concreto que se pode ver, ouvir, sentir;

é quando nosso interior entra em contato com o mundo exterior”.

Dessa forma, cabe aos professores de Educação Física utilizarem-se dos

conhecimentos adquiridos na sua formação acadêmica para o fortalecimento de

que a educação física é entendida como uma disciplina curricular que introduz e

integra o aluno na cultura corporal, sendo assim, não basta largar uma bola com

os alunos e esperar que a comunidade escolar valorize nosso trabalho e nossa

disciplina. De acordo com Neira (2006, p.9) por trás de toda prática educativa há

implícita uma concepção de aprendizagem. A Educação Física é uma disciplina

curricular como qualquer outra e o dever dos professores é adotar uma prática

pedagógica que apresente coerência com os objetivos do ensino.

Salienta-se que o não desenvolvimento, no Ensino Fundamental e

Ensino Médio, de qualquer dos objetivos previstos, poderá levar a uma aversão,

e consequente evasão, por parte dos alunos, das aulas de Educação Física,

caso o professor não ministre conteúdos de acordo com a realidade dos

educandos, não se preocupando em demasia com a “esportivização” das aulas,

pois:

Confrontando, portanto, os objetivos do Ensino Médio com os que se tem no cotidiano da Educação Física nas escolas, deparamo-nos com uma incongruência. Enquanto as demais áreas de estudo dedicam-se

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a aprofundar os conhecimentos dos alunos, através de metodologias diversificadas, estudos do meio, exposição de vídeos, apreciação de obras de diversos autores, leituras de textos, solução de problemas, discussão de assuntos atuais e concretos, as aulas do “mais atraente” dos componentes limita-se aos já conhecidos fundamentos do esporte e jogo (PCN’s, BRASIL, 1999, p.02).

Nesse sentido, a manifestação deve ser levada em conta, quando se

almeja a participação dos alunos e, principalmente sua aprendizagem. No

entanto, temos consciência que estamos vivendo uma época repleta de

atrativos, que todos os dias são oferecidos pela mídia, despertando interesses

tecnológicos e eletrônicos. Nem sempre a escola consegue oferecer esses

atrativos, e precisa enfrentar outros fatores que também contribuem com a

desmotivação dos alunos, sendo estes: a obesidade, a falta de habilidade na

pratica dos esportes, problemas psicológicos, físicos, sociais, a rejeição e

incapacidade perante os colegas nas atividades que são desenvolvidas.

Quando se pensa em motivação na escola, devemos considerar o

ambiente escolar, as tarefas e atividades proporcionadas na escola, métodos de

ensino e avaliação, dentre outras. O professor de Educação Física também faz

parte desse ambiente. Conhecendo e interpretando as emoções de seus alunos,

pode estimulá-los a desenvolver aprendizado a partir de tarefas adequadas,

encorajando-os a participar de práticas de esportes, de jogos, de danças, de

maneira que também pratiquem essas atividades fora do espaço da escola.

Esse papel estimulador do professor é decisivo para que o aluno sinta-

se motivado. Ele deve criar condições de desenvolver a criatividade dos alunos,

proporcionando-lhes uma aprendizagem significativa, deve discutir as regras do

jogo, promover atividades que façam com que os alunos sintam prazer em

participar das aulas e que valorizem a disciplina em questão. A motivação e os

motivos vêm sendo estudados ao longo dos tempos por diversos autores, porém

deve-se ter claro que o termo motivo tem um significado diferenciado da

motivação. Magill (1984) coloca que a palavra motivo veio do latim motivum e

significa “uma causa que põe em movimento”, e pode ser definida como um

impulso que faz com que se haja de certa forma.

No entanto a motivação não se demonstra na mesma intensidade em

todas as pessoas, pois temos interesses diferenciados. Sendo assim, o

professor deve estar consciente da necessidade premente em se buscar

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conteúdos diversificados e motivantes, para que se consiga atender aos

interesses contidos nas turmas, não venha lhe causar dúvidas no que diz

respeito à motivação de seus alunos. Segundo Almeida (2007) os procedimentos

didáticos pedagógicos do professor também influenciam na qualidade das aulas

e, consequentemente, na motivação dos alunos. O professor que leva a sério o

que faz e que alia a sua competência técnica ao compromisso de ensinar,

desperta a criatividade e conduzem os alunos a reflexão através do lúdico, pode

não ter alunos desinteressados ou desanimados. Ao adotar estes

procedimentos, o professor leva grande vantagem sobre as outras disciplinas

escolares, pois a Educação Física, por si só é uma prática motivadora e que

permite abordar uma grande variedade de temas e assuntos que estão

relacionados com a maioria das disciplinas existentes no currículo de uma

instituição, podendo promover um ensino mais desafiador e interessante para os

alunos e professores. De acordo com as referências, bem como os autores

pesquisados os fatores da evasão nas aulas de educação Física, são:

Darido Suraya Cristina (2004) ressalta que os praticantes que já

possuem certa habilidade, recebem do professor uma atenção diferenciada

enquanto os demais alunos acabam se distanciando das atividades físicas.

Fulle Alexandra (2005), já afirma que a infraestrutura, as condições

ambientais, a atuação do professor (a) (desinteresse demonstrado nas aulas,

comportamento, atenção/relacionamento com os alunos, maneira de ministrar as

aulas, poucas explicações/informações) influencia diretamente as aulas

ministradas.

Martinelli, Rodrigues Camila (2006), alega que o profissional contribui

para o desinteresse dos alunos, pois os métodos utilizados para

desenvolvimento das aulas, conteúdos pouco relevantes, relacionamento com

os alunos, pois é através desta relação aluno/professor que irá motivar a

participação.

Marzinek, Adriano e Neto, Feres Alfredo (2007), apostam que a evasão

surge pela falta de materiais adequados para a realização da aula, a carência de

profissionais capacitados, além de problemas sociais e familiares.

É importante salientar que não estamos falando de aulas individuais e

sim de conteúdos diversificados que busquem contemplar os diversos objetivos.

Somente assim os diferentes interesses entre as pessoas irão transcorrer em

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uma imensa riqueza e principal fonte de entendimento do paradoxal fenômeno

da motivação humana, (Bergamini, 1989). No entanto, deve-se ter em mente que

o problema da motivação não está centrado só no aluno, pois os outros membros

da escola também podem apresentar comportamentos que evidenciem a falta

da motivação.

Para Witter e Lomônaco (1984) a falta de motivação do professor afeta

diretamente o aluno, pois é o docente a pessoa na escola que tem o maior

contato com os discentes. Sendo assim, ele tem grande responsabilidade para

com a motivação deles. Com certeza uma aula ministrada sem motivação criará

um clima desfavorável à aprendizagem, pois o aluno já tem consigo um estigma

quanto à ida à escola, e ao encontrar o professor desmotivado certamente

causará ainda maior resistência em motivar-se para aprender.

Darido (2004) publicou um relatório de pesquisa sobre alunos não

praticantes das aulas de Educação Física que, além de realizar uma interessante

revisão da literatura sobre a prática regular da Educação Física na escola,

apresenta novos dados sobre as origens e razões da não prática de educação

Física. A autora conclui que há um progressivo afastamento dos alunos da

Educação Física na escola, onde aponta que o total de alunos que nunca

participam das aulas de Educação Física passa de 1% no ensino fundamental,

para quase 20% no início do Ensino Médio. Um dos fatores desencadeantes

desse afastamento seria a repetição dos programas de Educação Física: os

programas desenvolvidos no Ensino Fundamental são os mesmos do Ensino

Médio. Tais programas, grosso modo, se restringem à execução dos gestos

técnicos esportivos. A escola é o ambiente que deve se apropriar da participação

como algo concreto, do respeito às diferenças individuais, oportunizando

vivências de práticas corporais diversas de maneira contextualizada e

sistematizada.

Considerando pertinentes as reflexões de Darido (2004), no entanto,

destacamos que, em virtude de uma tradição instituída, é comum que os alunos,

a comunidade escolar e, por vezes, os seus professores vejam a Educação

Física como uma disciplina exclusivamente prática e, muitas vezes, voltada para

os interesses imediatos dos alunos (como exemplo, o jogar futebol). Assim,

apesar de existir uma construção social, nesse sentido Goodson (2008), cita que

a Educação Física enquanto componente do currículo escolar, ainda é percebida

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por muitos como uma atividade complementar à escola e com objetivos utilitários

tais como extravasar as energias ou disciplinar os alunos.

Segundo Betti e Zuliani (2002), essa situação gera um questionamento

da atual prática pedagógica da Educação Física escolar por parte dos próprios

alunos, que, não vendo mais significado na disciplina, desinteressam-se e

forçam situações de dispensa ou a não participação nas aulas. Contudo, eles

valorizam muito as práticas corporais realizadas fora da escola. O problema se

concentra com muita frequência no Ensino Médio, no qual, desconsiderando-se

as mudanças psicossociais por que passam os adolescentes, a Educação Física

preserva um modelo pedagógico concebido para o Ensino Fundamental posição

semelhante à de Darido (2004). Dessa forma, as aulas de educação Física

perdem o significado no Ensino Médio. O Ensino Médio é um dos níveis da

Educação Básica, como cita a LDB (BRASIL,1986), ele é entendido como uma

continuidade do Ensino Fundamental, ou seja, para a Legislação (Lei nº 9394 de

20 de dezembro de 1986 – Seção IV – Art. 35) o Ensino Médio prevê a finalidade

de consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino

Fundamental.

Além dessa finalidade há outras: prosseguimento dos estudos; preparo

para o trabalho e a cidadania; o desenvolvimento de habilidades como continuar

a aprender e capacidade de se adaptar com flexibilidade às novas condições de

ocupação e aperfeiçoamento; o aprimoramento do educando como pessoa

humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia

intelectual e do pensamento crítico; e a compreensão dos fundamentos

científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria e prática.

Infelizmente, se analisarmos bem a Educação Física, podemos observar

que essa continuidade no Ensino Médio em relação às experiências vividas pelo

educando no Ensino Fundamental, não ocorre. Para Mattos e Neira (2000) há

escolas em que o aprofundamento tático das modalidades é o único conteúdo

das aulas de Educação Física. Essa especialização, não se mostra eficaz, pois

só quem domina os fundamentos do jogo pode “jogar taticamente”, perdendo o

significado esse conhecimento de alto nível para os educandos que não os

dominam, fator relevante para que os alunos não participem das aulas

contribuindo com a evasão da disciplina. Vemos que a prática pedagógica pouco

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tem contribuído para a compreensão dos fundamentos, para o desenvolvimento

da habilidade de aprender ou para formação ética.

Segundo os autores, para os alunos que apresentam um fracasso no

desenvolvimento motor ou não alcançam o desempenho desejado, a Educação

Física passa a ter característica recreativa, encontramos alunos que frequentam

as aulas de forma descompromissada e percebemos uma visível evasão das

aulas.

ANALISE DE DISCUSÃO DOS RESULTADOS

Este artigo é a finalização do PDE Programa de Desenvolvimento

Educacional, cuja implementação das ações foram realizadas no Colégio

Estadual D. Carolina Lupion, para os alunos do Ensino Médio.

As atividades tiveram como objetivo despertar o interesse dos alunos do

Ensino Médio em relação às aulas de Educação Física.

Participaram das atividades os alunos do 3º Ano do Ensino Médio, que

é composto por 12 alunos, sendo 04 do sexo masculino e 08 do sexo feminino.

Para detectar os motivos que tornam as aulas desmotivante a primeira

atividade foi à aplicação de um questionário, onde as respostas foram as mais

diversas. Estas variam desde que as aulas são chatas, não gosta de práticas

esportivas, não se interessam pelas aulas entre outras.

A segunda atividade foi o trabalho com uma reportagem da revista veja,

onde foi apresentado as consequências do sedentarismo para os indivíduos de

modo geral.

Após os alunos compreenderem a importância da atividade física, foram

trabalhadas várias atividades recreativas como o futebol, racha ou pelada, nesta

atividade, os alunos aprendem que os esportes podem ser muito divertidos e não

necessitam de local especifico para ser realizado.

A prática da corrida foi realizada em uma praça onde todos puderam

realiza-la de maneira muito agradável e dentro de seu ritmo, aqui é importante

respeitar cada aluno de forma individual.

Para a atividade cinco foi convidado um personal traneir que realizou

uma palestra para explicar a importância de uma orientação antes de realizar as

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atividades físicas onde o mesmo propôs aos alunos que participem de algum

treinamento que ele orientará.

A atividade seguinte foi um voleibol, esporte que pode ser realizado em

qualquer local, necessitando apenas de uma corda ou um elástico para servir de

rede.

Após a realização de todas estas atividades apliquei novamente o

questionário para verificar se os alunos estavam mais motivados a participar das

aulas de educação física, para discutir os resultados, aconteceu também uma

mesa redonda onde os alunos puderam expor suas opiniões a respeito dos

resultados.

As opiniões foram as mais diversas, mas basicamente todas falavam

sobre a falta de conhecimento a respeito dos benefícios que as aulas de

Educação Física proporcionam a saúde de forma global, pois, achavam que não

gostavam das atividades, mas muitos deles nunca tinham realizado a referida

atividade. Disseram que quando as atividades são propostas de modo

diferenciadas torna-as mais atrativas e isto provoca a motivação necessária para

a realização das mesmas.

Os resultados foram bem satisfatórios, pois os alunos passaram a

participar de maneira mais ativas das aulas e isto é de grande relevância, pois

segundo Maggil (1984), a motivação é importante para a compreensão da

aprendizagem e do desempenho de habilidades motoras, pois tem um papel

importante na iniciação, manutenção e intensidade do comportamento. Sem a

presença da motivação, os alunos nas aulas de Educação Física, não realizarão

as atividades de maneira satisfatória ou desempenharão mal os desafios que lhe

for proposto.

Sobre a ótica pedagógica, motivação significa fornecer um motivo, ou

seja, estimular o aluno a ter vontade de aprender. E uma das condições

indispensáveis para o aluno aprender é o seu nível motivacional, que pode

depender muito do professor. Pois como afirma Freire (1996, p.25), “ensinar não

é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a

sua construção”.

O professor como agente estimulador é decisivo para que os alunos se

sintam motivado, sendo que ele deve criar condições para desenvolver a

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criatividade dos educandos, o que proporcionará a eles uma aprendizagem mais

significativa.

Ocorre em alguns casos segundo Bee (2003) que a participação é

prejudicada pela vergonha, pelo medo de falhar, pelo medo de ser zombado

pelos colegas de aula. A imagem corporal distorcida de si mesmo, a obesidade

são fatores que estão ligados diretamente às habilidades físicas, ao

desenvolvimento motor. A descriminação social, o complexo de inferioridade, a

baixa-estima, também na desmotivação à prática da atividade física, levando a

um isolamento e diminuindo o desenvolvimento social, elevando o índice de

rejeição sofrido por esses alunos.

Gráficos que demonstram a participação dos alunos antes e depois da

intervenção.

0

10

20

30

40

50

60

70

Não

Participa

Participa

Feminino

Masculino

0

20

40

60

80

100

Não

Participa

Participa

Feminino

Masculino

Antes do projeto Depois do projeto

Após a visualização dos gráficos fica possível perceber que a

participação dos alunos foi maciça, durante a aplicação do projeto e continuou

após o mesmo, sendo que estes puderam perceber a importância da pratica da

atividade física na sua vida como um todo.

Este gosto pelas aulas de Educação Física é muito importante, pois a

partir disto o aluno pode utilizar os componentes curriculares da disciplina onde

se introduzem e se integram na cultura corporal, formando-se como um cidadão

que produz, reproduz e transforma, instrumentalizando o jogo, os esportes, a

dança, a ginásticas e práticas de aptidão física, em benefícios da melhoria de

sua qualidade de vida. A esse respeito, Betti (2002 p. 45) comenta que “A

integração que possibilitará o usufruto da cultura corporal de movimento há de

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ser plena – é afetiva, social, cognitiva e motora. Vale dizer, é a integração de sua

personalidade.”.

Considerações Finais.

Após a realização do Projeto de Implementação na Escola, que tinha

como objetivo analisar as razões da desmotivação e desinteresse dos alunos

nas aulas de Educação Física baseando-se nas repetições dos programas

desenvolvidos tanto para o Ensino Fundamental quanto para o Ensino Médio.

A aparente falta de interesse dos alunos diante das aulas é devido à

resistência que têm sobre o que se propõe de novo, pois já vem de uma

Educação Física esportivista pautada na valorização da performance, sem

preocupação em relação à formação do jovem crítico e construtivo.

Alguns alunos também falaram sobre as críticas que recebem durante

as aulas, pois não conseguem realizar as atividades de maneira adequada, e

isto diminui a vontade de participar das aulas.

Com as atividades do projeto os alunos perceberam que a Educação

Física, não era como eles a viam, com atividades diversificadas e demonstrando

a importância que a disciplina tem na qualidade de vida de todos, os alunos

compreenderam e tornaram-se motivados a participar das aulas.

A professora conseguiu demonstrar que a Educação Física serve para

formar cidadão críticos, capazes de transformar a realidade onde estão

inseridos, bem como a sua própria vida.

O importante é que os próprios professores de Educação Física não se

limitem apenas ao caráter desportivo da Educação Física, ou seja, o esporte pelo

esporte, sem fundamentação e sim que tratem a Educação Física como

realmente uma área do conhecimento que possui uma especificidade: o

movimento humano consciente. E para isso é preciso que a prática seja realizada

com embasamento teórico, sem perder suas características e sua abrangência

prática.

Conclui-se que um aluno somente se sente motivado se for desafiado a

participar de diferentes atividades e que, fundamentalmente, apreenda a

desenvolver certas habilidades e que seja respeitado dentro de suas

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necessidades e possibilidades. Se os professores começarem a ficar atentos aos

reais interesses que os alunos têm diante dos conteúdos programados nas aulas

de Educação Física, essa realidade será mudada e as aulas no Ensino Médio se

tornarão mais atrativas e motivantes tanto aos alunos quanto aos professores.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Pedro Celso. O Desinteresse pela Educação Física no Ensino Médio. Revista Digital. Buenos Aires, ano 11, n 106, Mar. 2007.EFDeportes.com. ALMEIDA, C.; CAUDURO, M. T. O Desinteresse pela Educação Física no Ensino Médio. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires. Ano 11, n. 106, mar, 2007. BARBOSA, C. L. Educação Física Escolar da alienação à libertação. 1ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997. BEE Helen. A criança em desenvolvimento. 9. ed. Porto Alegre. Artmed, 2003.

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