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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A Ruptura da Dicotomia entre a Geografia Física e Humana: o Entorno Escolar
e suas Unidades de Paisagem na construção dos Arranjos Espaciais
Autor: Antonio Timóteo da Silva GervasiOrientadora: Ângela Massumi Katuta
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo mostrar como a dicotomia historicamente construída na ciência ge-ográfica pode ser rompida a partir do estudo do entorno escolar, tendo como base os conceitos deunidades de paisagem e arranjos espaciais do bairro Jardim Araçá, em Paranaguá-Paraná, trabalha-dos durante o programa PDE. A ausência de um material didático específico para auxiliar na com-preensão por parte dos educandos desse assunto, partindo do seu espaço vivido, do entorno da es-cola, me incentivou a elaborar um projeto e, posteriormente, uma Unidade Didática, com aulas decampo para coleta de informações por meio de entrevistas com moradores antigos e fotorreportagem,desenhos simples do bairro, classificação das unidades de paisagem, edição e seleção das fotospara, finalmente elaborar leituras e análises das mesmas. Na sequência, ocorreu o terceiro períodode formação, conhecido como GTR (Grupo de trabalho em Rede), no qual foram angariadas grandescontribuições ao projeto por parte dos professores cursistas participantes, indicando a relevância des-te projeto para as escolas públicas do Paraná. Finalmente, ocorreu a implementação do projeto naescola que tratou da “Ruptura da dicotomia entre a geografia física e humana: o entorno escolar esuas unidades de paisagem na construção dos arranjos espaciais”, por meio do qual os educandospuderam trabalhar com a unidade didática, que objetivava que eles compreendessem os arranjos es-paciais do entorno escolar, o que evidenciou a possibilidade de ruptura com a dicotomia da geografiafísica e humana por meio deste trabalho. Buscou-se a compreensão de que essas mudanças estãoassociadas a um conjunto de fatores, sobretudo os de ordem física, econômica, social e política. Aparticipação dos educandos foi de grande valia para ampliar os conhecimentos sobre o espaço locale também para o próprio professor PDE que verificou a possibilidade de ruptura com a dicotomia dageografia física e humana por meio dos trabalhos realizados ao longo da formação.
Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior.
INTRODUÇÃO
Neste artigo apresento o trabalho desenvolvido no projeto intitulado “A Ruptu-
ra da Dicotomia entre a Geografia Física e Humana: o Entorno Escolar e suas Uni-
dades de Paisagem na Construção dos Arranjos Espaciais”, ao longo de nossa for-
mação como professor do PDE 2013 (Programa de Desenvolvimento Educacional
da Secretaria de Educação do Estado do Paraná). Esse tema foi escolhido em fun-
ção da necessidade de um material didático inédito que contribuísse e auxiliasse na
compreensão dos educandos sobre a dicotomia historicamente construída na ciên-
cia geográfica e a tentativa de ruptura com a mesma, a partir do estudo do espaço
local vivido e percebido por todos. O que me motivou a desenvolvê-lo e, consequen-
temente, a unidade didática referente ao tema foi a observação ao longo dos anos
das mudanças urbano/espaciais, especialmente nas áreas próximas aos mangue-
zais e isso despertou em mim o interesse pelo estudo. Como professor de geografia
sempre verificava a ausência de produções didáticas que auxiliassem na compreen-
são por parte dos educandos sobre as transformações urbano/espaciais locais em
suas particularidades, partindo do seu espaço vivido como o entorno do colégio. Ao
mesmo tempo, pretendia contribuir por meio dos meus estudos com a ruptura da di-
cotomia da geografia fisica e humana com a construção de um material di-
dático-pedagógico para uma educação de qualidade, em todas as escolas públicas
do Paraná. Assim, o problema focado foi a ausência de um material didático inédito
para a pesquisa e trabalho docente e, ao mesmo tempo, verificar quais materiais se-
riam mais adequados para instigar e auxiliar os educandos a compreenderem as
transformações urbano/espaciais do entorno do colégio, em especial do bairro do
Jardim Araçá, nos últimos anos. Comecei o trabalho buscando autores que tratas-
sem do referido tema. Um dos referenciais importantes naquele momento foram as
Diretrizes Curriculares da Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná (PARANÁ, 2008, p. 70), pois o tema atende o que está disposto neste do-
cumento, nos conteúdos estruturantes intitulado A Dimensão Econômica do Espaço
Geográfico, no qual está indicada a “[...]importância de se analisar para entender
como se constitui o espaço geográfico”. Neste sentido, Moreira (2007, p. 62) afirma
que o
[...]processo formador do espaço geográfico é o mesmo da formação econô-mico-social. Por isso, tem por estrutura e leis de movimento a própria estru-tura de leis de movimento da formação econômico-social. Podemos, comisso, doravante designar o que até agora chamamos de organização do es-paço por formação espacial, ou formação socioespacial, como propôs San-tos (1978).
Também fui auxiliado por várias leituras de Milton Santos, que defende que
“[...] a sociedade é entendida como totalidade social [...]”(Santos, 1985, p. 123). Por-
tanto, para que se compreenda a produção social é necessário ir além da aparência,
dos aspectos visíveis, é preciso compreender como os determinantes políticos, cul-
turais e econômicos se constituem na essência social e produzem as transforma-
ções espaciais.
Ao mesmo tempo, elaborei um questionário para pesquisa de campo por meio
da qual fui verificar junto aos moradores do bairro do entorno da escola o que sabi-
am sobre as transformações urbanas em Paranaguá nos últimos cinquenta anos.
Além disso, verifiquei também o que eles possuíam de materiais fotográficos deste
período. Somado a isso, fotografei a área de estudo ao longo de diferentes pontos
onde ocorreram as transformações mais intensas. Concluída essa parte do projeto,
passei a produzir o material, optando por elaborar uma Unidade Didática composta
das seguintes atividades: aulas de campo, noções de cartografia, texto sobre o pro-
cesso de ocupação urbana, depoimentos de moradores e fotografias da área para
aprofundamento da temática. Na elaboração destas atividades, utilizei as leituras
que tratam das referidas metodologias, como as “Diretrizes Curriculares da Educa-
ção Básica da Secretaria de Estado da Educação do Paraná” (2008), "A Cartografia
das Unidades de Paisagem: questões metodológicas", de Martinelli & Pedrotti
(2001), "Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico", de G. Bertrand
(1972), “O Brasil frente aos Arranjos Espaciais do Século XXI", de Ângela M. Katuta
& William R. Da Silva (2007), “Analise da Dinâmica Espacial da Ocupação Antrópica
em Paranaguá/Paraná (1952-1996)” de Sony Cortese Caneparo (1999), “A natureza
do espaço, técnica e tempo, razão e emoção”, de Milton Santos (1996) e "Espaço e
Método" (1985), também do mesmo autor.
Os objetivos alcançados através destas atividades foram a identificação, por
parte dos educandos, das transformações urbanas que ocorreram na área de estudo
ao longo das últimas décadas e por pesquisa de elementos explicativos destas mes-
mas, tais como unidades da paisagem, arranjos espaciais e circuitos da economia.
Entenderam que essas mudanças, a partir da compreensão dos locais onde ocorre-
ram as transformações mais marcantes, estão associadas a um conjunto de fatores,
sobretudo os de ordem econômica, sociocultural e política. Os resultados obtidos fo-
ram contemplados através da compreensão e conhecimento por parte dos educan-
dos sobre o referido assunto do estudo tratado.
A CONSTRUÇÃO DO TRABALHO
Para a construção e desenvolvimento de todo o trabalho, fizemos uso de di-
versos recursos, dentre os quais as leituras de vários autores que tratam do assunto
da dicotomia na ciência geográfica, que muito contribuíram na fundamentação teóri -
ca necessária.
Atualmente, tem sido um árduo trabalho ensinar geografia, frente aos desafios
contemporâneos enfrentados. Por isso, ao longo de todo o processo, privilegiamos o
local onde o educando vive e mora, que se constitui de fundamental importância.
Acreditamos que o cotidiano do aluno deva dialogar com o conteúdo escolar para
que o ensino ganhe significado e para que o mesmo consiga compreender os luga-
res que habita.
A análise acerca do ensino da geografia começa pela compreensão do seu
objeto de estudo. Muitos foram os objetos da geografia antes de se ter algum con-
senso, sempre relativo, em torno da ideia de que o espaço geográfico é o foco da
análise. Entretanto, a expressão espaço geográfico, bem como os conceitos básicos
da geografia – lugar, paisagem, região, território, natureza, sociedade – não se auto-
explicam. Ao contrário, são termos que exigem esclarecimentos, pois, a depender do
fundamento teórico a que se vinculam, refletem posições filosóficas, políticas e vi-
sões de mundo distintas.
Para Lefebvre (1974), o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico,
entendido como o espaço produzido e apropriado pela sociedade. Já, para Santos
(1966), o espaço geográfico é composto pela inter-relação entre sistema de objetos
– naturais, culturais e técnicos – e sistema de ações – relações sociais, culturais, po-
líticas e econômicas. O ensino da Geografia deve assumir o quadro conceitual das
abordagens críticas dessa disciplina, que propõem a análise dos conflitos e contradi-
ções sociais, econômicas, culturais e políticas, constitutivas dos arranjos espaciais.
De acordo com Moreira (2007), a geografia é historicamente definida como
ciência. Seu tema tem sido o conhecimento, aqui e ali se ocupando do problema da
existência, mas sempre confundido com o tema da sobrevivência.
Segundo Santos (1985, p. 51):
Há uma relação entre a sociedade e um conjunto de formas materiais e cul-turais. O espaço pode ser entendido como um produto social em permanen-te transformação, ou seja, sempre que a sociedade sofre mudança, as for-mas (objetos geográficos) assumem novas funções. Novos elementos, no-vas técnicas são incorporados à paisagem e ao espaço, demonstrando a di-nâmica social. Os objetos construídos sobre o espaço são datados e vão in-corporando novas tecnologias e novas formas de produzir.
A significação do conhecimento deve ser fundamental para a sua construção.
De acordo com Moreira & Masini (2011), a aprendizagem significativa é, antes de
tudo, um conjunto de relações entre conhecimentos e os processos através dos
quais um novo conhecimento se relaciona de maneira não arbitrária e não literal à
estrutura cognitiva do aprendiz. Toda aprendizagem significativa dá ênfase ao que o
educando já sabe.
Segundo Freire (2011), “[...] a nossa capacidade de aprender, de que decorre
a de ensinar, sugere ou, mais do que isso, implica a nossa habilidade de aprender a
substantividade do objeto aprendido.”
A metodologia da pesquisa-ação, proposta por Thiollent (2007), fundamentou
todo o processo de aprendizagem do projeto PDE, com o intuito de aproximar dife-
rentes abordagens no estudo, entendimentos e ações sobre e com os fatos.
O mesmo Thiollent (1992, p. 114) nos diz:
O universo com o qual a pesquisa-ação dialoga é bastante amplo, o que in-fluencia na configuração de ações, existindo a necessidade de se conside-rar um contexto sociocultural em contínua mudança, em função da própriacomplexidade das relações sociais.
Toda a metologia adotada visa oferecer ferramentas para novas percepções,
análises, estabelecimento de estratégias e de ações em diferentes realidades, imer-
sa em uma rede de comunicação entre vários agentes que opinam, interagem, com-
prometem-se e relacionam-se através de falas entre um ou mais atores que partici-
pam e se norteiam por questões de como as ações devam ser orientadas.
Para falar da formação do bairro do entorno do colégio Maria de Lourdes Ro-
drigues Morozowski, buscamos auxílio em relatos de antigos moradores da localida-
de e nos arquivos da prefeitura municipal de Paranaguá que contribuíram na funda-
mentação teórica.
Segundo o que foi apurado, as origens do bairro do entorno estão relaciona-
das com o surgimento dos primeiros arruamentos estruturais de cerca de quatro dé-
cadas atrás, segundo a Secretaria Municipal de urbanismo. Tal fato verificou-se
apenas na parte alta do bairro Jardim Araçá do entorno do colégio. De acordo com
os moradores, a parte baixa ou manguezal antropizado, passou a ser ocupado há
cerca de 30 anos.
DESENVOLVIMENTO
Para a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica e da Unidade Di-
dática sobre a ruptura da dicotomia na geografia, a partir da análise do bairro Jardim
Araçá, foi necessário o afastamento de um ano das atividades de sala de aula em
2013. Durante a Semana Pedagógica de fevereiro de 2014, apresentei a proposta
do Projeto de Intervenção e da Unidade Didática, a serem aplicados a partir de mar-
ço do mesmo ano, a todos os membros da escola (professores, equipe pedagógica,
direção e funcionários). Ainda, no início do mês de março, apresentei as propostas
ao Conselho Escolar do colégio. De início, convidei educandos dos três nonos anos
em que lecionava (9º “G”, “H” e “I”), explicando-lhes que as atividades seriam no
contra-turno. Um total de 15 educandos dos nonos anos G e I aceitaram participar
da implementação. Para a nossa primeira atividade experimental, constante da Uni-
dade Didática, apareceram somente 07 educandos. Fomos, então, realizar uma re-
portagem fotográfica em pontos pré-determinados do bairro Jardim Araçá, definidos
como Parte Alta, Parte Baixa e Área de Transição. Nesse mesmo dia, os educandos
presentes tiveram de discutir a interrogação “O que estudei em geografia que existe
no meu bairro?” Tal atividade experimental durou cerca de quatro horas. Passada
uma semana, apareceram dez educandos e, então, começamos a analisar as fotos
tiradas por eles nos celulares e máquinas fotográficas e indagá-los sobre as percep-
ções dos elementos da Geografia presentes nas imagens. Foi um trabalho cansativo
de mais de 4 horas, porém recompensador. Depois de duas semanas, um grupo de
11 educandos apareceram para o início da segunda atividade experimental, intitula-
da “leitura e interpretação do material fotográfico e montagem de um painel de análi-
se.” Tal atividade foi desenvolvida no laboratório de informática do colégio. Lá, os
educandos tiveram de selecionar as imagens que possuíam elementos em comum
com o que foi proposto (partes alta, baixa e de transição) e, em seguida montar um
painel com as fotos ou imagens em slides de exibição no projetor de multimídia do
colégio. Essa atividade levou 8 horas para ser realizada, o dobro do que havíamos
previsto inicialmente. No projetor multimídia do colégio, os educandos já começaram
a identificar claramente os elementos formadores do espaço em análise, tais como
as Unidades de Paisagem, o Entorno Escolar, os Arranjos Espaciais e os Circuitos
Superior e Inferior da economia. No fim do mês de abril, cerca de doze educandos
iniciaram a prática experimental 3 de construção coletiva dos conceitos já citados
anteriormente. Eles elaboraram questões sobre os conceitos trabalhados, sendo ori-
entados pelo professor nas respostas a tais conceitos. Para realizar tal atividade ex-
perimental, foram necessárias 8 horas, ou seja, dois encontros de quatro horas
cada, envolvendo imagens produzidas por eles, entrevistas e vídeos curtos. Tal ati -
vidade foi realizada no laboratório de informática. Finalmente, a última atividade, de-
nominada de “Sistematização dos estudos da produção didático-pedagógica”, foi re-
alizada no laboratório de informática e envolveu a produção de vídeos curtos e sli-
des nos computadores do colégio, a partir das fotos produzidas e das filmagens nos
celulares. Toda a atividade envolveu três encontros de quatro horas cada um.
O projeto foi desenvolvido, como já dito anteriormente, no contra-turno onde
os educandos puderam desenvolver suas atividades, sob a supervisão do professor
pde, da equipe pedagógica do colégio e direção.
Paralelamente à aplicação do projeto no colégio, teve início o GTR (Grupo de
Trabalho em Rede) em meados do mês de março e que se encerrou no início do
mês de maio. Durante o GTR, pudemos refletir sobre a relevância do projeto e da
unidade didática para o aperfeiçoamento da prática escolar no ensino da Geografia.
A primeira temática do GTR discutiu o Projeto de Intervenção na escola intitulado “A
dicotomia entre a área física e humana na geografia: o entorno escolar e suas uni-
dades de paisagem na construção do espaço.” Nesta temática, o grupo de professo-
res participantes discutiram, questionaram e fizeram sugestões de aperfeiçoamento
do projeto proposto. Algumas intervenções contribuíram muito para o aperfeiçoa-
mento do projeto. O professor W. G. de M. afirmou que “a geografia como ciência
pode e deve ser uma só, embora didaticamente existam pseudas separações entre
os docentes devido à formação acadêmica.”
Já a professora A. T. de L. afirmou que os livros, os planos de trabalhos do-
centes e a formação continuada nos alertam para uma geografia mais integrada e
que olhando algumas apostilas de cursinho pré-vestibular a coisa fica feia com a
parte física separada da humana. Ainda na temática 01, o professor D. A. V. afirmou
que “sem dúvida que uma sociedade da totalidade só será construída se existir o
rompimento ou superação da dicotomia entre a geografia física e humana, sempre
lembrando que nosso espaço geográfico está em constante movimento e que a geo-
grafia não se resume apenas a estudar a parte física, mas fazendo um estudo do
todo, nunca esquecendo os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais que
estão inseridos no contexto local.”
Também na temática 1, o professor E. S. disse que “a dicotomia na geografia
é fruto dos diferentes enfoques que os geógrafos atribuem às suas pesquisas, e que
guardam relação com o ambiente político, econômico e social pelos quais os países
passam no período histórico nas quais as mesmas são desenvolvidas e que, por
isso que se desenvolveram diferentes tendências no âmago da geografia, priorizan-
do mais aspectos físicos, como a escola russa ou alemã ou mais aspectos huma-
nos, como a escola francesa.”
Quando teve início a temática 02 que discutiu a “Produção Didático-Pedagó-
gica” produzida para ser aplicada no 1º semestre de 2014, vários professores cur-
sistas do GTR enriqueceram, elogiaram e sugeriram elementos novos para um bom
aproveitamento com os discentes. O professor F. C. N. de Paranaguá elogiou o fato
de se trabalhar o entorno do colégio como ponto de partida para o rompimento da
dicotomia na Geografia e salientou que os educandos envolvidos são residentes no
local, o que despertaria um maior interesse nos mesmos.
O professor N. N., destacou a boa estruturação da Produção Didática. Se-
gundo ele, a mesma apresentava objetivos claros e passíveis de serem alcançados
em qualquer realidade escolar. O professor A. F. R., comentou que os educandos, à
medida que avançavam nas várias séries, perderiam o interesse pela Geografia,
além de apresentarem uma ideia muito negativa de onde moravam e que a produ-
ção didática proposta contribuiria para uma desconstrução da paisagem imaginada
inicialmente e poderia desenvolver uma criticidade, por parte dos mesmos, sobre o
porquê de tal disposição espacial encontrada e, dessa forma, proporiam soluções
de melhora de tal realidade.
O professor R. P., cursista do GTR, ressaltou que talvez o conceito de lugar
poderia auxiliar na abordagem para a leitura do espaço como uno e múltiplo, já que
este conceito também tem sido retomado nos recentes debates teóricos, e torna-se
importante quando compreendido como uma construção única, singular, carregada
de simbolismo e que agregaria ideias e sentidos produzidos por todos os envolvi-
dos.
A professora C. I. S. M, afirmou que as atividades do projeto estavam todas
bem elaboradas, mas destacaria e utilizaria o interesse não só em resumir o entorno
da escola ou colégio, mas abrangeria uma área maior, indo além. Por exemplo, gos-
taria de saber mais sobre a população do lugar, qual é a atividade econômica que
geraria emprego à população, qual a origem das pessoas do entorno desse espaço
escolar. Disse também que faria uma entrevista com algum morador do lugar e que
usaria toda tecnologia disponível para que o trabalho ficasse completo.
A professora O. R. salientou que o interessante na proposta seria o fato dos
educandos terem a oportunidade de aprenderem inicialmente o que estaria próximo
através do concreto, a partir de suas vivências, valendo-se de suas experiências,
através de situações didáticas de fácil acesso. A professora I. V., de Paranaguá, co-
laborou com a discussão afirmando que os educandos envolvidos se sentiriam
como “produtores do conhecimento” e não meros expectadores do mesmo.
A professora D. E. M., afirmou que a diversidade de propostas elencadas no
projeto possibilitariam uma participação mais efetiva por parte dos educandos, pois
as mesmas iriam desde a observação, incluindo a aula de campo, até ao local, uma
atividade bastante salutar, com coleta de dados e a sistematização dos referidos
elementos pesquisados, bem como o compartilhamento destes conhecimentos ad-
quiridos.
Quando iniciei a temática 03 “Vivenciando a Prática” tive muitas trocas inte-
ressantes com os cursistas do GTR. Abri a temática salientando a dificuldade de se
trabalhar no contraturno com os educandos dos 9º anos envolvidos. O professor M.
P. S. F. disse que estava trabalhando com seus educandos do Ceebja algumas pro-
postas práticas do projeto PDE, incluindo o conhecimento dos entornos de vivência
de cada um e que sentia que os resultados seriam bons.
O professor R. P., na presente temática disse que já tinha desenvolvido um
projeto voltado para o cotidiano dos educandos e que tal prática foi muito positiva
porque os envolvidos se sentiram parte do mesmo e que o projeto de intervenção
sugerido por mim tinha também essa característica. O professor E. S., salientou as
adaptações que o projeto pode abranger na sua aplicabilidade, sobretudo na ques-
tão do tempo e que tais eventos só enriquecem a busca pelo conhecimento.
A professora O. R., disse que para trabalhar com aulas de campo é preciso
tempo e planejamento para que dê certo. Afirmou que já trabalhou nesse sentido
também, realizando estudo com os educandos para detectar os problemas ambien-
tais no entorno da escola em que trabalhava e que os educandos fotografaram e
perceberam coisas que ela nem havia imaginado. O professor A. F. R., disse achar
muito importante começar por aquilo que os educandos já conhecem. Nesse senti-
do, é ideal começar pelo espaço cotidiano dos mesmos e que eles já possuem uma
curiosidade muito grande pela vizinhança. Disse também ser maravilhoso colocar os
educandos para descobrir aquilo que não está tão visível sobre o espaço local.
Por último, cito aqui também a contribuição da professora A. C. P., quando a
mesma afirmou o seguinte: “O crescente interesse dos educandos é algo que temos
acompanhado e sentimos que ao trabalharmos de forma "diferente" inicialmente
causa desconfiança, mas a partir do momento que eles percebem e reconhecem a
proposta como algo interessante passam a dedicar-se e desempenhar papéis cada
vez mais significativos.
Como se vê, pelas contribuições dos professores cursistas do Gtr sobre a
ruptura da dicotomia na geografia, muitas riquezas podem e devem ser exploradas
por cada um dos agentes envolvidos como professores, educandos, direções e
equipes pedagógicas. Foi gratificante ser mediador e provocador de discussões que
levaram a um conhecimento mais concreto da ciência do espaço, a nossa querida
geografia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A materialização do Projeto “A Ruptura da Dicotomia na Geografia: o Entorno
Escolar e suas Unidades de Paisagem na Construção dos Arranjos Espaciais”, con-
tribuiu muito para o meu conhecimento sobre tal assunto, por meio do estudo de al-
guns conceitos-chave da geografia, dando ênfase ao entorno escolar. A bibiografia
utilizada sobre o referido assunto foram de grande ajuda no desenvolvimento do
projeto e na construção da proposta pedagógica. Durante o desenrolar do projeto
andei por vários pontos do entorno do colégio “Maria de Lourdes Rodrigues Moro-
zowski”, entrevistando moradores antigos das partes alta e baixa e da chamada
área de transição ou de Logística Portuária, que me apontaram subsídios funda-
mentais para o entendimento da realidade local e suas transformações ao longo do
tempo. Tudo isso se constituiu num período rico de conhecimentos e experiências
sem igual para mim. O período do GTR ou Grupo de Trabalho em Rede, onde de-
senvolvi o papel de tutor, também representou para mim um crescimento sem igual.
Durante o desenvolvimento das diversas temáticas, pude aprender um pouco
sobre o uso da tecnologia online e as novas visões dos cursistas sobre a educação
ligada à ciência geográfica. As reflexões e sugestões dos cursistas do GTR para o
projeto do PDE muito contribuíram para meu crescimento como professor pesquisa-
dor. Paralelamente, ocorria a implementação do projeto com o publico alvo (os edu-
candos), mediante a aplicação da Produção Didático Pedagógica, onde os objetivos
foram atingidos de modo concreto por eles, por meio das diversas atividades pro-
postas, tais como: fotorreportagem, entrevistas e montagem de painéis das unida-
des de paisagem. Acredito que esse momento da implementação foi o mais rico de
todos, porque os educandos puderam vivenciar a geografia do cotidiano, através do
estudo da localidade em que moravam e, dessa forma, mudarem a visão que tinham
sobre o mesmo.
Quero terminar dizendo que o Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE) foi um momento de crescimento profissional e pessoal sem igual, que envol-
veu aspectos culturais e tecnológicos nunca vivenciados por minha pessoa. Gosta-
ria de agradecer a todos, em especial, à minha família que esteve sempre ao meu
lado, à minha orientadora que teve toda a paciência do mundo comigo, à direção e
equipe pedagógica do meu colégio que sempre estiveram em minha companhia e
que se colocaram à disposição em todos os momentos difíceis. Meu muito obrigado
a todos.
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