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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Título: Entre a pena da galhofa e a tinta da melancolia
Autor Melissa Santana Nestorio Pizani
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Escola de Implementação Projeto e sua localização
Colégio Estadual “D. Bosco” – EFM
Rua: Piquiri, nº283, Vila Operária
Município da escola Cianorte
Núcleo Regional de Educação
Cianorte
Professor Orientador Prof. Dra. Aparecida de Fátima Peres
Instituição de Ensino Superior
Universidade Estadual de Maringá
Relação Interdisciplinar _____________________________
Resumo
Este projeto tem por objetivo formar leitores a partir da análise dos contos “A cartomante”, “Pai contra mãe”, “A causa secreta” e “Missa do galo”, todos de Machado de Assis. O reforço da leitura literária pressupõe, no plano formal, a abordagem dos recursos composicionais e estilísticos, no plano temático, as estratégias de compreensão e interpretação dos recursos relacionados aos “espaços vazios”, potencializando a interferência interpretativa do leitor, contribuindo para sua formação. O texto de Machado de Assis parece apropriado para esse trabalho por ser considerado um dos ficcionistas mais expressivos da literatura brasileira, por universalizar as contradições comportamentais do homem, e, neste sentido, propor uma interpretação filosófica da experiência humana. O projeto que escolhemos realizar orienta-se por pressupostos teóricos da Estética da Recepção e teoria do conto.
Palavras-chave Leitura literária; leitor; Machado de Assis; conto
Formato do Material Didático
Unidade Didática
Público Alvo Alunos do Ensino Médio
1. APRESENTAÇÃO
Propor um trabalho no qual a literatura assume um papel preponderante
nem sempre se constitui numa tarefa fácil, pois até mesmo conceituar o que é
literatura suscitou e suscita inúmeras indagações. Considerando a condição de
formadores (no caso, de leitores) implícita na ideia de magistério, e também os
objetivos do PDE, parece necessária uma abordagem voltada para a leitura
literária, possibilitando ao aluno o acesso à ficção de qualidade de forma
prazerosa para que ele conheça mais a si mesmo, o mundo que o cerca e atue de
maneira emancipatória.
São vários os motivos que levaram à escolha do tema, o primeiro, e talvez
o principal, seja a paixão por literatura desde muito cedo, o segundo, e não
menos importante, se deve ao fato de o autor escolhido, Machado de Assis, ser
considerado um dos ficcionistas mais expressivos da literatura brasileira. A
escolha do título, “Entre a pena da galhofa e a tinta da melancolia”, retirada da
fala de um dos personagens mais famosos de Machado de Assis, Brás Cubas,
também merece uma justificativa e a que melhor se adéqua é traduzi-la enquanto
a ironia cética do autor, que tanto nos encanta e ensina, essa riqueza sugestiva
vista, principalmente, nas reflexões de cunho filosófico.
A leitura, enquanto prática social, pode ser ensinada, às vezes precisa.
Desse modo, envolver os alunos no processo ensino-aprendizagem dos contos
machadianos: “A cartomante”, “Pai contra mãe”, “A causa secreta” e “Missa do
galo”, requer dinamismo e criatividade num trabalho de percepção, compreensão
e interpretação. O conto, enquanto gênero literário em prosa, mais curto que o
romance, se torna mais viável para esse tipo de trabalho devido ao tempo de que
dispomos para execução completa desse tipo de projeto, considerando meu
interesse aqui.
Estudos recentes nos mostram que a leitura tem, sim, ao contrário de
alguns entendimentos atuais, assumido um papel importante em nossa sociedade
e, ainda, muitos são os leitores que têm descoberto o prazer nas páginas (ou tela)
de um livro. Para comprovar tal afirmação basta acompanhar os catálogos das
editoras ou caminhar por uma livraria e observar a quantidade de livros que são
expostos diariamente como lançamentos. A quem se destinam, pois, todos esses
livros?
Na realidade, o que nos importa é qual leitor queremos formar para ser o
consumidor das passadas e futuras (quem sabe atuais) publicações: o leitor
passivo, que absorve o que lhe é imposto, ou o leitor ativo, que tem condições de
analisar criticamente o que lê? Assim, a partir de tais considerações somos
levados a problematizar nosso trabalho e a principal indagação de nosso projeto
baseia-se em como contribuir para a formação do aluno leitor de literatura?
Como optamos por trabalhar com os contos de Machado de Assis, esse
questionamento traz à tona outros: de que recursos o autor se utiliza para
promover a mediação com o leitor? Em que medida se configuram os espaços
vazios no texto, de modo a contribuir para a formação do leitor?
Para responder a essas indagações estabelecemos os objetivos do nosso
trabalho que, de forma geral, é formar leitores literários e, de forma específica,
propiciar a leitura dos contos propostos a partir do exame de seus recursos
composicionais e estilísticos, através dos quais se configuram enquanto literatura;
oportunizar a compreensão e interpretação dos recursos temáticos utilizados pelo
autor para tornar o leitor mais crítico; reconhecer a contribuição dos espaços
vazios para a formação do leitor e estimular a leitura literária de textos de
Machado de Assis.
O projeto que propusemos realizar será pautado sob a perspectiva da
Estética da Recepção, à luz dos pressupostos teóricos de Hans Robert Jauss e
Wolfgang Iser, teorias que valorizam o leitor. Também nos importa sobre a teoria
do conto, mediante as obras de Alfredo Bosi e Nádia Battella Gotlib. O tipo de
material elaborado é uma Unidade Didática e o público alvo são alunos do Ensino
Médio.
Destacamos que ao propor estratégias de leitura para alunos, esse projeto
junta-se a outros já desenvolvidos por professores que valorizam a literatura como
meio de educar pela arte, em busca de uma sociedade mais justa em que
prevaleça o respeito.
2. MATERIAL DIDÁTICO
2.1. FUNDAMENTAÇÂO TEÓRICA
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (2008) sugere
que o ensino da literatura seja pensado a partir dos pressupostos teóricos de
Hans Robert Jauss, Estética da Recepção, e Wolfgang Iser, Teoria do Efeito,
indicando que a escola, bem como o presente trabalho, deve conceber a literatura
em sua dimensão estética, voltada para a valorização do leitor. Em relação ao
leitor vale suscitar algumas indagações, principalmente em relação a sua
ascensão no cenário literário.
Abalando as teorias vigentes, a resistência do leitor nos argumentos a favor
da leitura começa a incomodar a partir das reflexões das ideias de Proust, ainda
em 1907, nas quais ele insiste em afirmar que não há meios de se atingir um livro
porque se trata de uma reação a ele, por isso, o acesso puro e imediato que se
acreditava obter no contato com a obra, precisava ser repensado, visto que essa
“reação ao livro” só poderia ser mensurada através da figura do leitor.
Os estudos tentavam, de certa forma, mensurar o efeito causado pela obra
nesse leitor, ao mesmo tempo passivo e ativo nesse contato, visto que a obra
adquire sentido na ação de ser lida. Uma única categoria tornou-se insuficiente
para abarcar os trabalhos que surgiram, que foram, segundo Compagnon (2001,
p.148) divididos em duas: “os que dizem respeito à fenomenologia do ato
individual de leitura (originalmente em Roman Ingarden, depois em Wolfgang
Iser), por outro lado, aqueles que se interessam pela hermenêutica da resposta
pública ao texto (em Gadamer e particularmente Hans Robert Jauss).” Tanto uma
abordagem quanto a outra propiciam meios para se analisar com precisão a
experiência de leitura, como as duas linhas não são excludentes, faremos uso das
duas em nosso trabalho para que nossos objetivos sejam alcançados.
Sendo assim, a questão acerca da história da literatura foi um dos
primeiros pontos debatidos por Jauss (1994), na conferência que ministrou em
1967. Para Jauss (1994, p.7-8), a qualidade e a categoria de uma obra literária
vêm “dos critérios da recepção, do efeito produzido pela obra e de sua forma junto
à posteridade, critérios estes de mais fácil apreensão.” Assim, a qualidade ou
valor de uma obra não podem ser julgados a partir de sua origem biográfica ou
histórica, nem no desenvolvimento do gênero no qual está inserida. Delimitando o
caminho para resolver os problemas da história literária, unindo-a com a estética,
Jauss (1994) fundamenta seus princípios teóricos em sete teses.
Considerando as quatro primeiras teses, que formam a base da estética da
recepção, Jauss (1994) desenvolve outra três, seu programa metodológico, no
qual investiga a literatura sob três aspectos: diacronicamente (recepção das obras
literárias ao longo do tempo – tese 5); sincronicamente (sistema de relações da
literatura numa dada época e a sucessão desses sistemas – tese 6); a relação
entre literatura e vida prática (tese 7).
De acordo com Jauss (1994), a nova obra literária é recebida e julgada
tanto em seu contraste com o pano de fundo oferecido por outras formas
artísticas, quanto contra o pano de fundo da experiência cotidiana de vida. Assim,
uma obra literária pode, mediante uma forma estética desconhecida, romper as
expectativas de seus leitores e, ao mesmo tempo, levá-los a uma questão para a
qual não haja uma solução ‘adequada’, advinda da religião ou do Estado. Então, a
contribuição específica da literatura é aquela de que ela não se esgota na função
de uma arte da ‘representação’, pois vai além do representar ao passo que cria
modelos novos para os quais ainda não há soluções do ponto de vista moral.
A concepção teórica que segue na valorização do leitor em seus
pressupostos, privilegiando o texto e suas estruturas, analisando os efeitos que a
obra literária provoca no leitor por meio da leitura proposta pelo também alemão
Wofgang Iser (1926 – 2007), ficou conhecida como Teoria do Efeito. A origem
desse postulado encontra-se nos estudos do filósofo Roman Ingarden (1893 –
1970), discípulo de Edmund Husserl (1859 – 1938), fundador da Fenomenologia.
Assim, na obra O ato da leitura: uma teoria do efeito estético (1996), Iser
afirma que a obra literária tem dois pólos, o artístico e o estético, em que “o polo
artístico designa o texto criado pelo autor e o estético a concretização produzida
pelo leitor” (ISER, 1996, p.50). Dessa premissa advém que a obra não pode ser
idêntica ao texto nem à sua concretização, mas em algum ponto de intersecção
entre ambos. Assim, a obra literária converge-se num dispositivo a partir do qual o
leitor constrói, num todo coerente, suas representações porque ativam, sobretudo,
processos de realização de sentidos, experiências reais de leitura.
Durante a leitura, há uma sequência de representações, na qual um objeto
imaginário apresenta-se em oposição ao pano de fundo de um outro já inserido no
passado. Dessa forma, o objeto abre-se para novos sentidos e liga-se ao próximo
objeto imaginário, a partir de sua posição na sequência. Iser (1999) mostra que
por ser condicionada pela duração temporal da leitura, o objeto novo, na
sequência das representações, precisa tornar-se passado, pois somente dessa
forma inscreve as modificações no objeto da representação que está presente no
momento e o sentido do texto emerge, na extensão plena da leitura. “Quando os
objetos de representação ganham seu aspecto temporal na fantasia do leitor, o
sentido se forma a partir da modificação temporal das representações.” (ISER,
1999, p. 77)
Assim, os espaços vazios ou lacunas, propostos por Iser (1999), são os
que originam a comunicação no processo de leitura, em elos fundamentais entre
texto e leitor. Iser (1999) afirma que esses espaços não significam que o texto ou
a ideia que dele se quer obter precise de preenchimento, mas de combinação
entre os elementos textuais. “Pois só quando os esquemas do texto são
relacionados entre si, o objeto imaginário começa a se formar, esta operação
deve ser realizada pelo leitor e possui nos lugares vazios um importante
estímulo.” (ISER, 1999, p. 126).
O efeito e os significados que advém do texto, dessa forma, estão sempre
em evidência, cabendo ao leitor as combinações das partes e seleção do ponto
de vista a ser privilegiado. O teórico afirma que: “o lugar vazio induz o leitor a agir
no texto.” (ISER, 1999, p. 156); ou ainda: “ O lugar vazio permite então que o
leitor participe da realização dos acontecimentos do texto.” (ISER, 1999, p.157).
Mediante o aparato teórico acima, sabemos que ele por si só não é
suficiente para que a produção de significados ocorra, pois implica uma relação
dinâmica entre autor/leitor e aluno/professor, que de acordo com as Diretrizes
Curriculares (2008) ocorre de forma emancipatória, considerando diferentes
possibilidades de diálogo com o texto. Dessa feita também fazem parte desse
processo um trabalho com os elementos estruturais do gênero conto, o autor em
estudo e a época de sua produção.
2.2. UNIDADE DIDÁTICA
O GÊNERO CONTO
Muitas são as discussões ao longo dos tempos sobre quais os limites da
especificidade do conto enquanto um tipo determinado de narrativa, ou ainda, o
que faz com que continuem sendo contos mediante as mudanças que sofreram
no decorrer da história. Tais questionamentos são amplamente abordados na
obra Teoria do Conto (1998), pela estudiosa Nádia Batella Gotlib que reconhece
não haver consenso sobre a definição do gênero nem mesmo entre os autores.
Mário de Andrade diz ser “conto aquilo que seu autor batizou com o nome
de conto” e reconhece que bons contistas como, Maupassant e Machado de
Assis, encontraram a forma do conto que é “indefinível, insondável, irredutível a
receitas”, enquanto que o próprio Machado de Assis em 1873 reconheceu-o como
um gênero difícil, apesar de sua aparente facilidade.
Para Gotlib (1998) discutir sobre a teoria do conto é “aceitar uma luta em
que a força da teoria pode aniquilar a própria vida do conto”. Por se tratar de uma
narrativa apresenta três pontos distintos em sua composição: uma sucessão de
acontecimentos, pois há sempre algo a narrar; que nos interessa porque é de nós,
para nós, acerca de nós, organizados numa linha temporal estruturada e na
unidade de uma mesma ação. O conto também não se refere só a aquilo que já
aconteceu , pois não tem compromisso com o real, nele, realidade e ficção não
podem ser delimitados de modo preciso.
O conto numa perspectiva terminológica, segundo Gotlib (1998, p.15)
conserva características da fábula e da parábola: “a economia do estilo e a
situação e a proposição temática resumidas”. Ao pensar no que caracteriza o
conto através dos tempos, admite-se que de fato houve uma evolução segundo o
modo tradicional de narrar, a ação e o conflito passam pelo desenvolvimento até o
desfecho, com crise e resolução no final. Segundo o modo moderno, a narrativa
não obedece este esquema e fragmenta-se numa estrutura sem regras pré-
estabelecidas.
Para Gotlib (1998) também foram importantes às contribuições dos escritos
de Edgar Allan Poe em resenha publicada em 1842 na qual analisa os contos de
Nathanael Hawthorne. Poe tece uma comparação entre conto e poema e propõe
que o efeito de “elevação da alma”, comum no poema, devia ser algo inerente ao
processo de criação do conto na medida em que o contista devia fazer uma
combinação de acontecimentos capaz de alcançar a densidade e a tensão
narrativa. O contista devia planejar qual efeito desejava motivar no receptor para
que seus objetivos fossem alcançados no ato de leitura.
Nessa perspectiva, os contos breves são os mais propensos a estimular no
leitor a exaltação da alma. Para o autor, as narrativas curtas requerem uma leitura
que dura de meia a uma ou duas horas, podendo serem lidas de uma só vez. A
extensão do conto é assim marcada como um critério de valorização da narrativa
curta, ou seja, conseguir com pouco, muito efeito.
Assim, desde a análise do conto excepcional, enquanto marca de
qualidade literária, até compará-lo com a fotografia, em relação à seleção do
significado, passando pela criatividade na definição do gênero, nas quais são
abordadas: a condição de tempo de leitura, condição do maior impacto, flagrância
do presente e até o elemento erótico, sem esquecer-se do “manual do perfeito
contista”, conclui-se que para cada conto, mediante todas as suas especificidades
vistas até aqui, faz-se necessário uma teoria. Dessa maneira, estudaremos os
contos machadianos levando em consideração os elementos da narrativa e as
especificidades de cada um.
ATIVIDADE 1 – PRECISAMOS DE LITERATURA?
Apresentar a Unidade Didática e as questões motivadoras do trabalho,
encaminhando uma conversa para a importância da literatura. Em seguida,
entregar o questionário sobre as leituras realizadas.
Orientações para o professor
Nesse primeiro contato, é necessário que o aluno perceba o nosso entusiasmo.
Então devemos abordar que estudaremos o gênero conto, de um escritor
chamado Machado de Assis, que assistiremos a vídeos e filmes, que montaremos
um painel sobre o século XIX, que dramatização (e o que mais julgarmos
necessário) e dar tempo para os alunos responderem e se sentirem envolvidos no
processo.
QUESTIONÁRIO
1) Você gosta de literatura? Por quê?
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2) Você já leu algum livro este ano?
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3) Quantos livros você já leu, aproximadamente?
( ) 1 a 3 ( ) 7 a 15 ( ) nenhum
( ) 4 a 7 ( ) mais de 15 ___________
4) Você lê somente o texto literário que é pedido na escola ou outros? Quais?
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5) Assinale o(s) gênero(s) de que mais gosta:
( ) fábula ( ) conto ( ) poema
( ) crônica ( ) romance ( ) teatro
6) Escreva o título e/ou comente uma história que o marcou.
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7) Por que você considera a história da resposta anterior marcante?
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8) Qual a temática que mais lhe agrada?
( ) amor ( ) policial ( ) drama
( ) suspense ( ) terror ( ) ficção científica
9) Na sua opinião, ler textos literários é importante? Por quê?
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10) Onde você tem contato com os textos literários?
( ) casa ( ) escola ( ) amigos ( ) internet
ATIVIDADE 2 – LITERATURA, UM DIREITO DE TODOS
Leitura silenciosa do texto “Com sua voz de mulher”, da escritora Marina
Colassanti (COLASSANTI, Marina. Longe como meu querer. São Paulo: Ática,
2002.), seguida de discussão oral com a turma sobre a importância do texto
literário, enfatizando que a literatura permite que conheçamos mais a nós
mesmos, o outro e o mundo que nos cerca, sendo, portanto, um direito de todos.
Orientações para o professor
Caso julgue necessário saber mais sobre as funções da literatura que justificam
sua relevância, consulte as obras do teórico Antonio Candido presentes nas
referências do projeto que subsidia essa unidade didática.
PARA O ALUNO
Você sabia que a literatura aparece como manifestação universal de todos os
homens em todos os tempos e que não há povo e não há homem que possa viver
sem ela? E mais, que não há meios de passar um único dia sem entrar em
contato com o universo da ficção e da fantasia? Duvida? Pois faça o teste! Você
costuma contar para seu(sua) amigo(a) sobre aquele filme, novela, vídeo, seriado,
piada, email, recado, livro, declaração de amor, bronca/elogio dos pais ou
professores? Ao reconhecer qualquer uma das opções presentes no seu dia a
dia, comprova o que os estudos sobre literatura apontam. Viu só, a literatura faz
parte da sua vida muito mais do que você imagina!!!!
ATIVIDADE 3 – OUVIR COM A MEMÓRIA E COM A IMAGINAÇÃO
Antes, a criação do conto e sua transmissão oral. Depois, seu registro
escrito e posteriormente, a criação por escrito de contos, quando o narrador
assumiu esta função. A voz de quem conta, seja oral seja escrita, interfere
diretamente no discurso. Nesse momento é importante abordar que há um
repertório no modo de contar e nos detalhes do modo como se conta: entonação
de voz, gestos, olhares, ou mesmo algumas palavras e sugestões, que é passível
de ser elaborado pelo contador, neste trabalho de conquistar e manter a atenção
da sua plateia. Assim, vamos ouvir o conto “Medo”, da escritora Cora Coralina,
disponível no site da Olímpiada de Língua Portuguesa, na versão impressa e em
áudio.
Orientações para o professor
Leia para os alunos o título do conto: “Medo” e peça que façam uma lista das
emoções, dos sentimentos, das impressões que essa palavra desperta: susto,
pavor, temor, receio, horror, ameaça. A seguir, que prevejam acontecimentos,
fatos, ações e personagens com o objetivo de envolvê-los, trazendo o contexto da
história e evidenciando a utilização dos recursos da oralidade na construção do
sentido.
ATIVIDADE 4 – RELEMBRANDO OS ELEMENTOS DA NARRATIVA
Leitura silenciosa de Um Apólogo, de Machado de Assis, seguida de leitura
oral, valorizando os elementos da oralidade. Discussão oral e registro escrito dos
elementos estéticos e estruturais que compõem a narrativa, mediado pelo
professor e fazendo uso do material de apoio.
UM APÓLOGO
(disponível em www.dominiopublico.gov.br)
Orientações para o professor
Esclareça que apólogo é uma narrativa curta e, como a fábula, tem uma moral.
Questione as funções da agulha, da linha e do alfinete e se gostaram do texto e
por quê. Trabalhe os conceitos de arrogância e o de humilhação a partir da moral.
Em seguida, faça o levantamento dos elementos da narrativa a fim de que
percebam que eles são importantes na construção do sentido.
ELEMENTOS DA NARRATIVA
A narração é o relato de um fato ou acontecimento, contado por um
narrador. Para construir esse tipo de texto, é preciso explorar os elementos da
narrativa: enredo, personagem, espaço, tempo e narrador.
Enredo é o conjunto de fatos de uma história.
O ENREDO
Situação inicial – personagens e espaço são apresentados.
Quebra da situação inicial – um acontecimento modifica a situação
apresentada.
Estabelecimento de um conflito – surgimento de uma situação a ser resolvida,
que quebra a estabilidade de personagens e acontecimentos.
Desenvolvimento – busca de soluções para o conflito.
Clímax – ponto de maior tensão na narrativa.
Desfecho – solução do conflito. Note-se bem que a solução do conflito não
significa um final feliz. Pode ser um rompimento se, diante de um impasse, os
personagens optarem por essa solução.
Personagem – ser praticante das ações, responsável pelo desenvolvimento do
enredo; pode ser inventado ou inspirado na realidade.
Espaço – lugar onde se passa a ação na narrativa.
Tempo – constitui o pano de fundo para o enredo. A época da história nem
sempre coincide com o tempo real em que foi publicada ou escrita.
Narrador – elemento estruturador da história. Há dois tipos de narrador,
identificados, à primeira vista, pelo pronome pessoal usado na narração: 1ª
pessoa – que participa diretamente do enredo, é conhecido por narrador
personagem; 3ª pessoa – narrador que está fora dos fatos narrados, é conhecido
pelo nome de narrador observador.
ATIVIDADE 5 – CONHECENDO MACHADO E SEU TEMPO
Considerado o maior escritor em língua portuguesa de todos os tempos e
um dos grandes autores que a humanidade já produziu, de acordo com o
repeitado crítico inglês Harold Bloom, Machado de Assis é o autor dos contos que
iremos estudar. Estima-se que ele tenha escrito mais de trezentos, inclusive o que
acabamos de ler. Vamos conhecer mais sobre esse autor e sobre a época em
que viveu? Pesquise com seus colegas, inclusive imagens da época, porque com
os dados montaremos um painel para ficar exposto na sala durante as leituras.
Para auxiliá-lo utilize o material de apoio sobre a biografia, características da obra
e século em que viveu Machado de Assis.
PARA O ALUNO
O escritor que vamos estudar agora, Machado de Assis, é considerado um
clássico, você sabe por quê? Porque a qualidade da narrativa, a complexidade
com que os conflitos foram nela expostos, a força das ideias que transmitem e os
questionamentos que suscitam dão essa característica aos escritos de Machado.
Mulato, gago e epilético, considerado popular em sua época, mas admirado e
respeitado nos mais nobres salões da corte... quer saber mais? Então venha ler e
aprender sobre Machado de Assis e sua obra!
O BRUXO DO COSME VELHO
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21 de
junho de 1839 e morreu na mesma cidade em 29 de setembro de 1908.
Descendente de um negro e uma portuguesa cresceu numa casa simples no
morro do Livramento, na então capital do país, em pleno período escravocrata.
Autodidata, se tornou fluente em alemão, francês e inglês só para poder ler os
clássicos que mais admirava. Antes dos 15 anos, escreveu num jornal seu
primeiro trabalho literário, um soneto. Aos 16, foi contratado pela Imprensa
Nacional como tipógrafo e aos 19 já colaborava com várias publicações. Além de
jornalista, foi tradutor, crítico, contista, cronista, poeta, dramaturgo e romancista.
Machado se casou em 1870 com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de
Novaes, seu grande amor e companheira até o fim da vida. Depois de casado,
morou na rua do Cosme Velho, no tradicional bairro de mesmo nome. Por causa
desse endereço, ganhou o apelido de Bruxo do Cosme Velho, uma homenagem
de Carlos Drummond de Andrade no poema A Um Bruxo, com Amor. Em 1873,
iniciou a carreira de burocrata e funcionário público, o que garantiu seu sustento
até a morte. Sua obra literária abrange quase todos os gêneros. Em 1887, junto
aos maiores nomes da literatura de então, como Rui Barbosa, Olavo Bilac e
Joaquim Nabuco, fundou a Academia Brasileira de Letras – tornando-se depois
seu presidente perpétuo. Era igualmente admirado pela corte e pelo povo.
(Revista Nova Escola, set. 2008, p.46-53)
Orientações para o professor
É por meio dos clássicos, como é o caso da obra de Machado de Assis, que
crianças e adolescentes passam a compartilhar referenciais linguísticos, artísticos
e culturais que permitem a eles estabelecer vínculos com as gerações anteriores
e se integrarem à cultura. Autores como ele têm um papel muito importante na
formação de leitores literários, por isso, professor, mãos à obra!
Ítalo Calvino (2007, p.13), escritor italiano, definiu clássicos como “aqueles livros
que chegaram até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a
nossa e os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou
mais simplesmente na linguagem e nos costumes)”.
REALISMO E CARACTERÍSTICAS DA OBRA MACHADIANA
De acordo com Alfredo Bosi, teórico literário, o Realismo ficcional
aprofunda a narração de costumes contemporâneos da primeira metade do
século XIX e de todo o século XVIII, exibindo poderosos dons de observação e de
análise. “Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrastes da vida íntima;
e buscam-se para ambas causas naturais (raça, clima, temperamento) e culturais
(meio, educação).” O escritor realista leva a sério as suas personagens e fará o
possível para descobrir-lhes a verdade, diante da análise minuciosa de seu
comportamento.
Por isso, a preferência pelos ambientes urbanos e estruturação impessoal
que denota os sentimentos amargos, quase sempre certo fatalismo, que retratam
a impotência submetida ao homem diante do todo social. Para justificar ou
explicar essa impotência o determinismo se mantinha enquanto filosofia oficial. O
determinismo evidencia-se no modo em que se movimentam os narradores ao
apresentar as suas personagens. Envolto em uma aparente neutralidade, o
narrador não chega ao ponto de esconder a carga sombria que destila sobre o
destino das delas.
Machado de Assis é quem promove o resultado, de forma depurada e
sóbria, da precariedade em que se resume toda a existência humana. Assim, no
Realismo houve um salto para o típico e o factual. Quanto à composição, os
narradores realistas brasileiros buscaram maior consistência na relação dos
episódios, conduzidos por necessidades objetivas do ambiente ou da estrutura
moral das personagens. Para Bosi (1994, p.174) “o ponto mais alto e mais
equilibrado da prosa realista brasileira acha-se na ficção de Machado de Assis”.
Principais características literárias de Machado de Assis:
Enredo não linear.
Microcapítulos digressivos.
Metalinguagem.
Estilo antirretórico, substantivo.
Análise psicológica/ psicanalítica das personagens.
Humor sutil e permanente.
Ironia fina e corrosiva.
Visão metafísica relativista dos valores humanos (pessimismo).
Linguagem repleta de ambiguidades.
A época em que viveu o escritor foi das mais importantes e movimentadas
da história do Brasil. Machado passou toda a vida no Rio de Janeiro, trabalhou
como jornalista e ocupou cargos públicos importantes, convivendo com
personalidades da segunda metade do século XIX.
1808 – Chegada da Família Real, Fundação da Imprensa Régia do Rio de Janeiro
e circulação do primeiro número do jornal Correio Braziliense.
1811 – Inauguração da biblioteca Nacional e circulação do primeiro número de O
Patriota, primeira revista brasileira.
1822 – Proclamação da Independência.
1839 – Nascimento de Joaquim Maria Machado de Assis, no Morro do
Livramento, no Rio de Janeiro.
1855 – Publicação do poema “Ela” – estreia de Machado de Assis na Imprensa.
1858 – Trabalha como revisor de provas de Francisco de Paula Brito, editor do
jornal A Marmota Fluminense.
1859 – A Companhia Carris de Ferro realizou a primeira viagem experimental da
linha de bonde de tração animal da cidade e do país.
1861 a 1866 – Machado de Assis publica: Quedas que as mulheres têm para
tolos; Desencantos, Crisálidas, Quase ministro; Os deuses da casaca.
1867 – Nomeação de Machado para um cargo público – ajudante do diretor de
publicação do Diário Oficial.
1869 – Seu casamento com Carolina Augusta Xavier de Novais. Machado publica
Contos Fluminenses.
1872 a 1878 – Nesse período Machado publica: Ressurreição; Histórias da meia-
noite; A mão e a luva; Americanas; Helena; Iaiá Garcia.
1879 – Início da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas em Revista
Brasileira.
1881 – Lançamento do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas.
1882 a 1884 – Machado publica Papéis Avulsos; Tu, só tu, puro amor; Histórias
sem data.
1888 – Lei Áurea: Abolição da Escravatura. Machado de Assis desfila no préstito
organizado para celebrar a abolição.
1889 – Proclamação da República.
1892 – Surgem as primeiras bancas e os primeiros jornaleiros no Rio de Janeiro.
1896 – Machado de Assis lança o livro Várias Histórias.
1897 – É instalada a Academia Brasileira de Letras.
1899 a 1901 – Dom Casmurro; Páginas recolhidas; Poesias completas.
1901 – Reunião de intelectuais no Hotel Rio Branco, Rio de Janeiro.
1904 – Falecimento de Carolina Xavier de Novais. Machado de Assis publica o
livro Esaú e Jacó.
1906 – Lança a coletânea Relíquias de Casa velha.
1908 – Falecimento de Machado de Assis. Nascimento de Guimarães Rosa. Em
julho de 1908 publica a obra Memorial de Aires.
Orientações para o professor
Sugerimos para a montagem do painel as Imagens do Instituto Moreira Salles
usadas na edição especial sobre Machado de Assis da revista Na Ponta do Lápis,
Olimpíada de Língua portuguesa: ano IV; número 8; fevereiro de 2008; edição
especial.
ATIVIDADE 6 – VERDADE OU MENTIRA?
Você acredita em testes de personalidade? Nestes que veiculados na
internet? Olha que experiência bacana a escritora Martha Medeiros nos conta no
texto que se segue. Leia-o com atenção, primeiramente silenciosamente, e depois
discuta oralmente em grupo sobre VERDADE OU MENTIRA nas questões que
envolvem descobrir peculiaridades da alma humana.
TESTES (MEDEIROS,M. Doidas e santas. Porto Alegre: L&PM, 2008, p.93)
Orientações para o professor
O texto indicado é uma leitura leve, com o objetivo de chamar a atenção dos
alunos para a próxima atividade. Na discussão, aborde questões sobre prever o
futuro, se eles pensam que se é possível, em quais circunstâncias, quem exerce
esse papel ou profissão, quem acredita ou não, por que, dentre outras. Esta
atividade compõe a primeira etapa do método recepcional que é do atendimento
do horizonte de expectativas.
ATIVIDADE 7 – MISTÉRIO
Inicie a atividade questionando os alunos: Você conhece uma cartomante?
Você já fez uma consulta ou conhece quem fez? Em seguida leitura silenciosa do
conto A cartomante, de Machado de Assis. Para instigá-los diga que a história se
inicia com uma conversa de Rita e Camilo após uma consulta que ela faz. Numa
narrativa cheia de mistérios, permeada por uma trama envolvente que culmina
num desfecho que eles vão ter que ler para descobrir. Sugira que eles venham e
mergulhem nesta surpreendente história!
A CARTOMANTE
(disponível em www.dominiopublico.gov.br)
ATIVIDADE 8 – DESBRAVADOR DA ALMA HUMANA E INTÉRPRETE
DE SEU TEMPO
Nesta atividade a proposta é levar o aluno a perceber, a partir da análise
do conto A cartomante, os elementos composicionais da obra, tanto estéticos
quanto estruturais, os vazios deixados pelo autor. Para isso, abordar as questões
sobre a análise dos elementos constitutivos da narrativa, destacando
personagens, a relação com o contexto representado e de produção,
especialmente em função das relações familiares e de poder. Levantamento e
análise de recursos como ironia, metalinguagem, digressão, dentre outros já
citados, indicando a visão do autor e o tratamento universalizante dos temas,
caracterização da linguagem machadiana, relacionando-a com o movimento
realista.
Orientações para o professor
A análise da obra pode ser feita de várias formas, isso também depende da sua
leitura e do direcionamento da aula, mas questões cruciais não podem deixar de
ser abordadas, principalmente quando o nosso foco é a formação do leitor. Por
isso, faça uma leitura minuciosa do conto a fim de ensinar com propriedade, pois
como nos diz Marisa Lajolo “Creio mais na sedução do que na indução.” Muitas
vezes nossos alunos não gostam porque não entendem a obra. Cabe a nós tornar
esta atividade de descoberta prazerosa e edificante, tanto quanto nos for possível.
PARA O ALUNO
E aí, gostou do conto? Surpreendeu-se com o desfecho? Caso não tenha
gostado, com certeza, a partir da análise proposta para esta atividade, vai se
apaixonar! E, se já gostou, vai gostar mais ainda! Nesse momento, você vai ter a
oportunidade de discutir e de perceber elementos que compõem a narrativa e que
constroem todo o sentido do texto. Você vai se surpreender observando detalhes
importantes que, muitas vezes, passam despercebidos em uma primeira leitura,
mas que em Machado faz toda a diferença!
ATIVIDADE 9 – CIÚME EM MACHADO DE ASSIS: ENTRE A PROSA
REALISTA E O LEITOR CONTEMPORÂNEO
Comparação do conto A cartomante com releituras em filme (de Wagner de
Assis e Pablo Uranga, 2004) e em vídeo (de Matheus Marconi disponível no site
www.youtube.com). Abordar os recursos utilizados na transposição para a
linguagem cinematográfica e dos vídeos; debate sobre as modificações
decorrentes da mudança do suporte (filme e vídeo) e a intenção comunicativa de
cada um, considerando o contexto de circulação e leitura (Onde se lê ou se vê?) e
avaliando a finalidade da transposição (Qual objetivo?).
ATIVIDADE 10 – É O QUE PARECE SER?
Antes de lermos o próximo conto, a sugestão é treinar o nosso olhar, a
nossa percepção, para que nenhum detalhe da obra passe despercebido. A
verdadeira história vai ser apresentada de uma maneira bem sutil,
propositalmente criada pelo autor Machado de Assis. Observe atentamente a
seleção das ilusões de ótica propostas aqui e faça os testes em grupo, com os
colegas. A ilusão de ótica é uma arte que mexe com o inconsciente, deixando-
nos por momentos sem saber o que está ocorrendo. Essa atividade, com certeza,
vai ajudá-lo a aguçar a sua percepção. Divirta-se!
Orientações para o professor
Na mediação dos testes de ilusão de ótica, sugerimos encaminhar a discussão
para o caráter ambíguo que elas propõem, a fim de que os alunos levem esse
olhar para as duas versões do conto Missa do galo, propostas a seguir. Por isso,
deixe que discutam suas impressões com os colegas, comentando cada detalhe
constitutivo que os testes propõem.
ILUSÃO DE ÓPTICA
(disponível em www.ifi.unicamp.br/~dfigueir/holosite/ilusao.htm)
ATIVIDADE 11 – QUEM CONTA UM CONTO ACERTA NO PONTO?
Nesta atividade, a proposta é a leitura silenciosa do conto Missa do galo,
de Machado de Assis. Em seguida, discussão oral dos elementos composicionais
do texto, tanto estruturais quanto estéticos, se possível, leitura oral da obra
enfocando esses aspectos. Para tanto, destacamos nas atividades abaixo alguns
dados importantes a serem analisados.
1. Por que o título do conto é Missa do galo?
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2. Quem é o narrador da história?
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3. Como pode ser classificada a família descrita no conto? Assinale as
alternativas corretas:
a) da alta burguesia e) idealizada
b) da classe média f) não idealizada
c) pobre g) hábitos simples
d) rica h) hábitos sofisticados
4. Por que se pode afirmar que o ambiente doméstico dessa família se caracteriza
pela dissimulação (disfarce, fingimento, hipocrisia)?
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5. O que sobressai no texto: a descrição do ambiente ou a análise psicológica da
personagem? Exemplifique.
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Orientações para o professor
Caso julgue necessário, explique para os alunos o que é uma missa do galo. Na
biblioteca virtual Wikipédia, você encontra alguns dados relevantes, inclusive
explicação para o nome.
PARA O ALUNO
Agora que você já conhece um pouquinho de Machado de Assis e de sua obra,
não pense que ficará somente nisso! O conto A cartomante foi um aquecimento
para o que ainda está por vir. Com a leitura das imagens, você percebeu que nem
tudo é o que parece ser. Será que essa máxima vale para o conto Missa do
galo? Só lendo para descobrir, mas fica a dica: atenção redobrada em quem está
narrando e nos detalhes daquilo que é narrado. Boa leitura!
MISSA DO GALO
(disponível em www.dominiopublico.gov.br)
ATIVIDADE 12 – QUEM CONTA UM CONTO AUMENTA UM PONTO?
Agora que analisamos o conto Missa do galo, se ainda restam dúvidas
quanto ao ambiente em que nada se passa aparentemente, criado por Machado,
nessa sugestão de atmosferas na qual o tumulto interior das personagens
transparece em uma conversa sem sentido, de palavras espaçadas e longos
silêncios, permeada pelo jogo de sedução entre uma mulher madura e um jovem
rapaz, a dica é que se leia o quadro abaixo do teórico Afrânio Coutinho. Assim,
sem espaço para as dúvidas, a atividade que se segue é a leitura silenciosa de
outra versão do conto, escrita por Nélida Piñon, em 1977. Após a leitura,
identifique em quais aspectos as versões se DIFERENCIAM.
DICA: “A verdadeira história é um veio oculto, que vai correndo fora da nossa
percepção imediata, mas em contato estreito com os nossos pressentimentos. O
essencial é apenas induzido e se passa discretamente. A utilização de um
sistema de infiltrações na consciência do leitor, a atmosfera de insinuação
constante e discreta, mantém o interesse suspenso até as últimas páginas,
quando se produz subitamente a revelação de um segredo que podíamos ter
descoberto antes. Todo trabalho do escritor é um ajustamento ou dosagem de
circunstâncias e elementos psicológicos, a fim de formar um ambiente enigmático
de adivinhação, impedindo, entretanto, que se determinem prematuramente.”
(COUTINHO, Afrânio dos Santos. A literatura no Brasil. 7.ed. rev. e atual. São
Paulo: Global, 2004, p. 166)
ATIVIDADE 13 – TEMOS MUITO QUE CONTAR
Essa atividade se inicia com a audição do poema Navio negreiro, de Castro
Alves, interpretado por Caetano Veloso (disponível em www.youtube.com), na
qual você deve anotar a descrição do sofrimento dos escravos e a oposição entre
a condição de escravos e libertos. Sugerimos que ouçam o poema mais de uma
vez e que as anotações sejam feitas somente após a primeira.
ATIVIDADE 14 – TRABALHO OU ESCRAVIDÃO: A CRÍTICA À
REALIDADE NACIONAL
Na época em que publicou Pai contra mãe, na coletânea Relíquias de Casa
Velha, de 1906, o assunto escravidão, apesar de a abolição ter ocorrido em maio
de 1888, era contemporâneo. Após ler o conto, faça o levantamento dos aspectos
da escravidão negra, situada ironicamente como situação paliativa para a torpeza
das atitudes humanas configuradas na obra.
Orientações para o professor
Como já foi dito, a publicação do conto se deu após a abolição, esse fator deve
ser analisado de forma crítica, assim como a sociedade retratada na obra. A
história que o texto narra combina com o tom irônico que o narrador a conta. De
acordo com Marisa Lajolo (2008), não nos esqueçamos de que Machado de Assis
nasceu mulato e em um morro carioca e que, além de ser um grande escritor
brasileiro, ele é um escritor brasileiro negro. Assim, ao fazer o levantamento dos
aspectos da escravidão como os meios de tortura, a postura da sociedade, dentre
outros que julgar necessários, termine por mediar a leitura com a discussão sobre
a justificativa torpe dos atos de Candinho, ironizados pelo autor.
PAI CONTRA MÃE
(disponível em www.dominiopublico.gov.br)
ATIVIDADE 15 – OBJETO OU SUJEITO/AUTOR DE LITERATURA
Leia a poesia Passo ao mar, de Miriam Alves (disponível em
http://alvesescritorapoeta.blogspot.com.br/p/trajetoria.html). Autora de contos e
poesias, além de alguns ensaios, essa escritora afro brasileira justificou da
seguinte forma o porquê de escrever: “É um desafio desfiar as amarras e nos
libertar. Às vezes temos para isto somente a folha branca de um papel olhando-
nos de esguela. E, é aí que eu jorro. Jorro as histórias que vi no espelho. Jorro
um pouco das histórias que não vi. Nem sempre somos felizes nesta prática. Mas
enfim é um ato irrefutável. É a saída. Ou a entrada para sair-se das encruzas do
mutismo.” Em seguida, com base nos textos lidos, assinale a alternativa correta.
1. Qual(is) do(s) texto(s) propõe(m) uma visão distanciada do negro como objeto
da literatura?
a) Navio negreiro, de Castro Alves
b) Pai contra mãe, de Machado de Assis
c) Passo ao mar, de Miriam Alves
2. Qual(is) do(s) texto(s) retrata(m) uma atitude comprometida do negro como
sujeito/autor da literatura?
a) Navio negreiro, de Castro Alves
b) Pai contra mãe, de Machado de Assis
c) Passo ao mar, de Miriam Alves
ATIVIDADE 16 – FRONTEIRAS TÊNUES
Você acredita que a genialidade e a loucura são coisas díspares ou apenas
separadas por uma tênue fronteira? O certo é que grandes nomes das artes
foram assim considerados: gênios por sua obra e loucos por seus
comportamentos. A seguir, observe atentamente as obras de dois ícones dessa
premissa, o pintor Vincent van Gogh e o poeta Augusto dos Anjos.
PARA O ALUNO
Caso queira saber um pouquinho mais sobre o pintor e o poeta, pesquise com
seus colegas as obras desses dois fabulosos artistas.
Orientações para o professor
Preparamos dois boxes com informações, um sobre o pintor e o outro sobre o
poeta. Professor, o nosso objetivo aqui não é explorar as questões biográficas,
mas evidenciar que elas existem e que estão presentes na sociedade, por mais
que se tente mascará-las. E, portanto, instigar o aluno para o último conto a ser
lido, no qual Machado abordou com maestria algumas questões filosóficas da
alma humana.
Augusto dos Anjos nasceu em Engenho Pau d’Arco, Paraíba, em 1884 e morreu
em Leopoldina, Minas Gerais, em 1914. Nasceu na riqueza e morreu na pobreza.
A passagem de uma vida a outra reforçou o sentimento de isolamento que o
poeta tinha. Augusto dos Anjos não pertenceu a nenhum movimento literário de
sua época, foi um avis rara: “esse negócio de escolas é esquadria para
medíocres, só há uma regra para a escrita: que é a do escritor conhecer a sua
língua e saber manejá-la de acordo com o seu individualíssimo sentir”. Sofreu, no
entanto, influências naturalistas, simbolistas e neoparnasianas. O poeta teve
muita dificuldade de conviver com as pessoas, fazia provas em época de férias,
tinha pouquíssimos amigos, irritava-se com facilidade, era atormentado por dores
constantes de cabeça e, com o consentimento de sua mãe, manteve relações
sexuais com a irmã mais velha no intuito de tornar sua experiência menos sofrida.
Um dos seus poemas mais conhecidos e significativos é “Versos Íntimos”.
(CERIBELLI, E.; MACIEIRA, H. Arte & Loucura: o mito do artista louco: ciclo de
palestras, de debates e apresentações artísticas: música/ dança/ teatro/ poesia/
artes plásticas/ psiquiatria. Maringá: Sociedade Médica de Maringá, 1998, 12 p.)
Vincent van Gogh, pintor holandês nascido em 1853. Filho de pastor calvinista,
tentou obstinadamente seguir a carreira religiosa, porém sem sucesso. Viveu uma
vida atormentada com crises frequentes de depressão e melancolia. Sua obra
revela uma sensibilidade inquieta e veemente e causou uma verdadeira revolução
no mundo da pintura. É considerado um poderoso influenciador do
expressionismo na arte moderna. Suicidou-se em julho de 1890 com um tiro no
peito. A obra Autorretrato é uma das mais significativas e como não conseguia
pintar a orelha com perfeição, decidiu arrancá-la. O episódio da automutilação
ocorreu cerca de 1 ano e meio antes do seu suicídio.
(CERIBELLI, E.; MACIEIRA, H. Arte & Loucura: o mito do artista louco: ciclo de
palestras, de debates e apresentações artísticas: música/ dança/ teatro/ poesia/
artes plásticas/ psiquiatria. Maringá: Sociedade Médica de Maringá, 1998, 12 p.)
AUTORRETRATO
(disponível em www.dominiopublico.gov.br)
VERSOS ÍNTIMOS (disponível em www.dominiopublico.gov.br)
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão — esta pantera — Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! (Pau d‘Arco, 1901)
ATIVIDADE 17 – DE PERTO NINGUÉM É NORMAL?
Leitura silenciosa do conto A causa secreta, de Machado de Assis, seguida
de discussão oral mediada pelo professor sobre os elementos composicionais,
tanto estéticos quanto estruturais, os vazios deixados pelo autor. Após, faça uma
reflexão dos comportamentos humanos retratados no conto a partir das principais
características do autor: análise psicológica/ psicanalítica das personagens;
humor sutil e permanente; ironia fina e corrosiva; visão metafísica relativista
dos valores humanos (pessimismo) e linguagem repleta de ambiguidades.
PARA O ALUNO
Este conto é um dos mais ricos do autor em estudo, foi propositalmente o último,
pois requer mais habilidade do leitor, que é o seu caso agora. Por meio de
explicações de um narrador onisciente, isto é, que domina o universo mental das
personagens, sabendo a respeito delas mais do que elas mesmas podem
compreender. Ao mesmo tempo, fornece a nós, leitores, indícios, pistas sobre a
história que vai contar. Boa leitura!
Orientações para o professor
Por meio de um narrador onisciente, temos a lógica existente por trás das ações
de cada personagem e se, na verdade, com o seu olhar irônico, Machado queria
antes condenar do que absolver, sua crítica é, portanto, uma crítica da própria
sociedade, visto que são as manifestações individuais que a moldam. Explore
com seus alunos tais questões a partir da análise dos personagens. Bom
trabalho!
A CAUSA SECRETA
(disponível em www.dominiopublico.gov.br)
ATIVIDADE 18 – O QUE É BOM DURA PARA SEMPRE
Nesta atividade, a proposta é relembrar um pouco o que estudamos. Por
isso, retome os contos lidos e responda:
1. De qual conto você mais gostou?
a) A cartomante c) Pai contra mãe
b) Missa do galo d) A causa secreta
2. Faça uma breve explicação do que mais gostou no conto escolhido.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
3. Você indicaria a leitura de Machado de Assis para:
a) amigos
b) família
c) professores
d) outro _______________
4. Qual dos contos lidos você pensa ser o mais apropriado para indicar a um leitor
iniciante de Machado de Assis?
a) A cartomante c) Pai contra mãe
b) Missa do galo d) A causa secreta
5. Você concorda que os assuntos tratados por Machado de Assis em sua obra
são universais e atuais?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
6. Caso fôssemos expandir nossa Proposta Pedagógica para as outras turmas do
colégio, qual seria a forma mais adequada de atrair participantes?
a) Leitura de trechos dos contos.
b) Dramatização de um dos contos.
c) Mural sobre Machado de Assis, sua época e sua obra.
d) Audição de um dos contos.
e) Sinopses das obras, parando em um ponto culminante da narrativa.
f) Todas as respostas anteriores.
g) Outra: ____________________________________________
ATIVIDADE 19 – INSTIGANDO NOVOS LEITORES
A partir do resultado da atividade anterior, apresentar e discutir com os
alunos participantes do projeto uma estratégia de abordagem para incentivar
outros alunos a lerem Machado de Assis e, assim como eles, terem essa nova
visão de si mesmo, do outro e da sociedade, mediante a ordenação mental que a
literatura de qualidade produz em nós.
ATIVIDADE 20 – O FIM PODE SER O COMEÇO
Toda experiência literária tende a ser extremamente significativa, por isso,
crendo na ação transformadora da literatura, mediante as funções que exercem
em nós, para ampliação do repertório, fica a indicação de três romances de
Machado: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro,
todos com suas peculiaridades, mas com o mesmo brilhantismo que o autor
exerceu em todas as suas obras. Leia as sinopses na internet ou na biblioteca da
escola e escolha o que mais lhe agradar. Obrigada pela participação. Boa Leitura,
leitor de Machado de Assis!
3. REFERÊNCIAS
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.13.
COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. 1.ª reimpr. Tradução: Cleonice P. B. Mourão e Consuelo F. Santiago. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2001.
COUTINHO, Afrânio dos Santos. A literatura no Brasil. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Global, 2004, p. 166
ISER, Wolfgang. O ato de leitura: uma teoria do efeito estético. Tradução: Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1996, v. 1. ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Tradução: Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1999, v. 2.
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática, 1994.
GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. São Paulo, Ática, 1985.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Diretrizes curriculares da educação básica: língua portuguesa. Paraná: Imprensa oficial, 2008.