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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Luiz Borges
Ensino e aprendizagem de leitura, enquanto interação entre
sujeitos e construção de sentidos, no ensino fundamental
na modalidade da EJA.
Londrina 2013
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional
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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma
2013
Título: O fomento de leitores na EJA – fase II
Autor: Luiz Borges
Disciplina/Área: Língua Portuguesa
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Padre Ângelo Casagrande
Município da escola: Marilândia do Sul
Núcleo Regional de Educação: Apucarana
Professor Orientador: Lidia Maria Gonçalves
Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Londrina
Relação Interdisciplina
Resumo: O nascimento do referido projeto na EJA-fase ll ocorreu em razão da minha angústia enquanto professor ao perceber que estes alunos estavam voltando para a escola para terminarem seus estudos e tinham muitas dificuldades de leitura. A unidade temática dará em três passos. O primeiro momento crie-se em sala uma relação recíproca de amizade, confiança e abertura para que o alunado possa também assumir a postura de criticidade diante dos textos e consigam perceber as informações explícitas e implícitas. No segundo serão oferecidos aos alunos, a escolha individual por alguns exemplares literários constantes na biblioteca da escola de implantação do projeto. No terceiro serão oportunizados a opção individual por textos virtuais do gênero jornalístico, onde os alunos deverão perceber e expor de forma oral e/ou escrita a intencionalidade presente por trás da informação, e compreender as marcas ideológicas intrínsecas do texto.
Palavras-chave: Leitura; exclusão; autonomia; criticidade
Formato do Material Didático: Unidade Temática
Público:
Alunos da Educação de Educação de Jovens e Adultos, Fase II, do Ensino Fundamental
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Sumário
l - Resumo da proposta de intervenção ............................................. 4
ll - Apresentação ................................................................................ 4
lll - Contextualização: Os alunos da Educação de Jovens e Adultos-
EJA, Fase II........................................................................................ 6
lV – Objetivo Geral ............................................................................. 8
V - Objetivos Específicos ................................................................... 8
Vl - O encaminhamento metodológico .............................................. 9
1º Passo: Leitura em sala de aula ..................................................... 9
2º Passo: A escolha das obras literárias e sua apreciação ............ 11
3º Passo: A leitura on line de textos midiáticos ............................... 12
Vll - Cronograma das atividades de leitura...................................... 13
Vlll - Contribuições esperadas ......................................................... 15
lX - Bibliografia ................................................................................. 17
X - Fontes do “corpus” de pesquisa ................................................ 18
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l - Resumo da proposta de intervenção
A elaboração desta unidade temática é fruto de um projeto de intervenção
pedagógica elaborado por este professor PDE, com a orientação da professora
doutora Lidia Maria Gonçalves. O foco deste trabalho é a leitura em sala de
aula para os alunos que estão frequentando a Educação de Jovens e Adultos,
Fase II, na modalidade do Ensino Fundamental. O nascimento do referido
projeto ocorreu em razão da minha angústia enquanto professor ao perceber
que estes alunos estavam voltando para a escola para terminarem seus
estudos e tinham muitas dificuldades de leitura, eram sempre contundentes em
afirmar que não gostavam de ler e que buscavam a instituição escolar apenas
porque queriam o certificado de conclusão do ensino fundamental. É neste
contexto que mais recentemente, começamos a enfocar não somente a
questão do ensino como também a aprendizagem e passamos a investigar
formas para que nossos alunos tenham mais motivação dentro do universo
escolar, sobretudo quanto à leitura, porque, consequentemente, esta é uma
alavanca para melhorar a aprendizagem em geral. Minhas experiências como
professor de Língua Portuguesa na EJA, fase II, são as mesmas pelas quais
outros docentes e alunos têm transitado sem tanto sucesso, como demonstram
os exames nacionais, e estes resultados me conduzem a uma procura para me
refazer como mediador deste saber sistematizado.
ll - Apresentação
A elaboração desta unidade temática volta-se para os alunos de
Educação de Jovens e Adultos EJA Fase II, na modalidade do Ensino
Fundamental e é proveniente do projeto de intervenção pedagógica a ser
desenvolvido no Colégio Estadual Padre Ângelo Casagrande, em Marilândia do
Sul-PR, pertencente ao Núcleo Regional de Ensino de Apucarana, como
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requisito do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), em 2013.
Desde o início, pensei em desenvolver um trabalho que, de fato, viesse ao
encontro da necessidade de oferecer uma alternativa aos alunos desta
modalidade de educação que, mesmo frequentando a sala de aula, estão
afastados do mundo da leitura. Ao refletir sobre esta realidade em que se
encontra a grande maioria deste alunado coloco-me como um mediador
interessado, e, assim como lembra Silva (2002, p.77), estes alunos estão
inseridos num sistema educacional que, em tese, precisa pautar as suas ações
na liberdade do homem para estruturar o seu projeto de existência, para viver
os diferentes horizontes da cultura.
(...) a educação é a transformação do homem e do mundo.
Para que essa transformação se estabeleça, é necessário que
o homem se movimente de um lugar significado para outro, isto
é, pratique em sua vida o exercício dialético da libertação. No
ato de libertar-se, isto é, de tomar consciência da sua
necessidade é que o ato de ler passa a ganhar a sua
significação maior e primeira (SILVA, 2002, p.77).
As estratégias desta unidade temática têm como o objetivo despertar
nos alunos o gosto pela leitura, independente do gênero proposto, não
deixando de levar em consideração que estamos lidando com pessoas que
estão fora da faixa etária de idade escolar, quase sempre oriundos da zona
rural e/ou trabalhadores da construção civil. Estes costumam voltar para a
escola amparados por lei e visam apenas concluírem o ensino fundamental ou
médio, conforme prescrição da LDB - Lei nº 9394/96, no seu art. 37.
Aqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
no ensino fundamental e médio, na idade própria, deverão ter
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as
características próprias, interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante cursos e exames. Nesse mesmo artigo,
propõe que a Educação de Jovens e Adultos deverá articular-
se, preferencialmente, com a educação profissional (PROEJA,
2010, p.5).
É dentro deste contexto que devemos intermediar as ações de leituras
em sala de aula, lembrando sempre da heterogeneidade e a herança histórico-
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social de nossos alunos, para valorizarmos o que já sabem e ampliarmos o
universo cultural deles. Há entre eles os que trazem de casa um histórico de
leitor, como exemplifica Zulim (2011, p.19). A autora diz que mesmo sendo filha
de agricultores com pouca escolaridade, tinha em seu pai um apaixonado por
leitura, pois a cada compra de mercadorias que fazia na cidade sempre
arrumava um jeito de comprar um livro. No entanto, este comportamento é a
exceção, principalmente, em se tratando do alunado de escolas públicas, onde
os pais são trabalhadores rurais, da construção civil ou da informalidade e que,
geralmente, já não tiveram cultivado este hábito citado por Zulim. Neste
contexto, este educador pretende atuar em prol do desenvolvimento do perfil
de leitores.
lll - Contextualização: Os alunos da Educação de Jovens e Adultos-
EJA, Fase II
“A etnografia é a tentativa de descrição da cultura” (ANDRÉ, 1995, p.19)
e, ao longo desta pesquisa, farei uso de técnicas tradicionalmente associadas à
etnografia para realizar uma descrição cultural.
A experiência revela que, mesmo estando em sala de aula, em sua
grande maioria, o aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA) está excluído
do mundo da leitura, independente do gênero textual, na maior parte das vezes
porque, ao longo de sua curta vida escolar, este foi se afugentando da
atividade devido a um complexo de incompetência linguística e,
consequentemente, a sua proficiência em leitura não evoluiu e até mesmo
decresceu.
Diante desse quadro, surge a oportunidade de realizar, em trinta e duas
horas, com estes alunos um projeto de leitura que possa modificar as suas
maneiras de visualizarem-se, de pensar como leitores. A intenção pedagógica
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é aguçar neles o interesse pela leitura, para que possam ir além das
obrigações que, geralmente, são impostas pelo sistema de ensino, e
adquirirem um perfil leitor. É preciso que, neste curto prazo, o foco da ação
pedagógica seja a apreciação de alguns exemplares de jornais, revistas e
obras literárias. Não buscamos uma cobrança acentuada do domínio das
propriedades dos gêneros textuais a serem enfocados, como características
composicionais, análise do contexto de produção, do tipo de discurso e análise
linguística. Nosso trabalho concentra-se em promover uma conversação sobre
os textos lidos que favoreça a identificação do que se fala no texto em foco,
como, e porque se lê aquele texto no mundo social mais amplo.
Nosso público alvo é formado por cidadãos que, em sua maioria, foram
excluídos do contexto educacional e, consequentemente, perderam o paladar
da leitura. Inseridos nesta situação, estas pessoas não reconhecem a
proficiência leitora como útil no momento, querem apenas terminar os estudos
do nível fundamental, pois, geralmente, esta é uma exigência mínima do
mercado de trabalho. Por outro lado, para mudar o rumo dessa história, esta
unidade temática apresenta-se como resultado de um projeto de intervenção.
Em nossas ações pedagógicas, incluímos o uso de textos dos gêneros
midiáticos e dos gêneros da esfera literária, como recurso didático para
aproximar o aluno dos mais variados tipos de texto que circulam na sociedade
letrada. Intermediamos a leitura destes textos circulantes na mídia impressa e
no campo literário, dando oportunidade ao aluno de perceber a ideologia
presente em todo o discurso e ampliar o seu universo, tornando-se mais
letrado, transformando sua condição pessoal de decodificador de palavras para
alguém que interage com que está lendo. Assim, levaremos nossos alunos a
ler literatura, jornais e revistas para compreenderem e interpretarem o dito.
Estes materiais oriundos de fontes diversas não são excludentes, pelo
contrário, fazem parte do universo de um sujeito letrado.
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lV – Objetivo Geral
Desenvolver estratégias de leitura para motivar os alunos a superarem
as dificuldades e o desinteresse pela leitura, formando parcerias com
professores, alunos e comunidade escolar para adquirir materiais de
leituras (como jornais, livros, revistas e áudio visual) e extrair maior e
melhor proveito dos mesmos, otimizando seu uso.
V - Objetivos Específicos
Propiciar compromisso dos participantes com a mudança de seu pouco
hábito de leitura.
Desenvolver habilidades para que os alunos consigam ler e interpretar o
que estão lendo.
Desenvolver a prática de leitura dos participantes de maneira suave e
prazerosa, afim de que possa haver, gradativamente, no aluno a
transformação do perfil, formando-o como leitor que assume essa
prática além dos muros da escola.
Garantir a participação dos integrantes do processo de formação de
leitores sem que haja prejuízo do essencial no currículo escolar,
assegurando a organização desta ação com múltiplas finalidades, ou
seja, orientá-los a ler para estudar, para se atualizar e por prazer.
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Vl - O encaminhamento metodológico
1º Passo: Leitura em sala de aula
Para o bom andamento deste processo de intervenção pedagógica a ser
desenvolvido em uma turma do ensino fundamental na modalidade de
Educação de Jovens e Adultos, Fase II, é necessário que, desde o primeiro
momento, crie-se em sala uma relação recíproca de amizade, confiança e
abertura para que o alunado possa também assumir a postura de criticidade
diante dos textos.
(...) o desenvolvimento e o aprimoramento das competências
em leitura crítica estão condicionadas ao tipo de atmosfera que
prevalece nos contextos escolares. Caso o professor não
construa em sala de aula uma atmosfera de confiança, que
alimente a discussão e o debate, muito dificilmente aquelas
competências serão praticadas pelo coletivo dos estudantes
(SILVA, 1998, p.29).
Esse ambiente deve necessariamente ser cultivado por meio do diálogo
entre professor e alunos, lembrando de que este relacionamento é
perfeitamente possível, uma vez que na EJA não trabalhamos com turmas
numerosas e em um recinto infantilizado.
A partir da instalação deste clima favorável, reservamos um momento,
talvez de uma ou duas hora/aula semanas para a leitura. Na medida do
possível, o professor deixará todos os livros, revistas, jornais e outros tipos de
materiais de leituras, expostos em um determinado local da sala de aula, para
que os alunos já possam ir tendo contato visual com todos estes materiais e
manuseá-los. O ideal a ser prosseguido por nós é o de ter um ambiente
preparado só para este tipo de atividade, uma sala ampla e bem arejada, com
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almofadas pelo chão, com som ambiente. Tudo isso será útil para desmistificar
a rigidez das aulas de leitura e levar o aluno a sentir-se à vontade para
desenvolver esta atividade confortavelmente.
O primeiro contato deles com estes objetos de leitura deverá ser para
observar a coletânea, folhar aquilo que os interessa, sem a preocupação de se
ater em um texto específico, a ideia é deixá-los à vontade ao “explorarem”
estes materiais, por isso, não deve haver qualquer tipo de interferência pelo
professor. Importa vivenciarem que:
Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é
determinada tanto pelo fato de que precede de alguém, como
pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente
o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra
serve de expressão a um em relação ao outro (BAKHTIN,
1992, p.113).
Ambiciono levá-los a se envolverem, de forma pessoal, gradativa e
prazerosa com os mais variados gêneros discursivos, a ler por prazer.
A leitura é uma questão pessoal, que só pode estar sujeita a si
mesma. Neste caso, o leitor poderá reler um parágrafo ou
mesmo um livro inteiro tantas vezes quanto for necessário;
poderá saltear capítulos e voltar a eles mais tarde; o que
importa, quando se trata deste objetivo, é a experiência
emocional desencadeada pela leitura. É fundamental que o
leitor possa ir elaborando critérios próprios para selecionar os
textos que lê, assim como para avaliá-los e criticá-los. (SOLÉ,
1998, p.96).
O mais importante é estar em contato com este mundo da leitura viva,
realizada em ambientes mais letrados. A pergunta é qual é o objetivo que
pretendo atingir com estes alunos? A resposta é: quero-os como cidadãos
críticos e autônomos, que consigam perceber no texto as informações
explícitas e implícitas, aquilo que Silva (1998, p.34) classifica como, ler as
linhas, o ler nas entrelinhas e o ler para além das entrelinhas. Segundo este
mesmo autor ir além, significa adentrar um texto com o objetivo de refletir sobre
os aspectos da situação social que esse texto remete e chegar ao cerne do
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projeto de escrita do autor. Pretendo que estas leituras os levem a transformar
as informações lidas em conhecimentos, que sejam mais reflexivos,
desenvolvam raciocínios analíticos e críticos, capazes de gerenciar suas
próprias vidas e tomadas de decisão. Para tanto, desenvolver o perfil de leitor é
essencial e isso se faz lendo muito e não apenas decodificando.
2º Passo: A escolha das obras literárias e sua apreciação
Num segundo momento, serão oportunizados aos alunos, a opção
individual por alguns exemplares literários abaixo discriminados e constantes
na biblioteca da escola de implantação do projeto. Aqui é importante ressaltar
que não se trata de uma leitura anárquica, onde cada um lê o que convier, mas
sim um momento em que aos leitores serão possibilitados a escolha de
algumas obras que, em sua maioria, é infanto-juvenil, mas que perfeitamente
se adequa as suas realidades, e estes não tiveram a oportunidade de lê-las
nos anos apropriados, obras essas como: Marca de uma lágrima (Pedro
Bandeira), Em busca de mim (Isabel Vieira), Pássaro contra a vidraça (Giselda
Laporta Nicolelis), Irmão Negro (Walcir Carrasco), O mistério da fábrica de
livros (Pedro Bandeira), Canção para Débora (Luci Guimaraes Watanabe),
Sozinha no mundo (Marcos Rey), O vampiro que descobriu o Brasil (Ivan Jaf),
entre outras.
O papel docente é o de ir partilhando com o grupo de alunos a leitura de
cada obra, ora este professor expõe as impressões emanadas do texto ora
cada aluno toma a palavra e, ao final, promoveremos uma discussão coletiva
em torno da análise dos sentidos imanentes do texto, tentando extrair de forma
oral e/ou escrita algumas marcas, como o tema, o enredo, o comportamento
das personagens, assim como as pistas que evidenciam o gênero, a análise do
comportamento das personagens, a escolha do vocabulário e dados sobre o
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contexto social, observando também aquilo que está implícito nas entrelinhas.
Enfim, instigá-los a adotar um olhar mais crítico, reflexivo e menos passivo
diante da obra e, consequentemente, da vida.
3º Passo: A leitura on line de textos midiáticos
A execução desta unidade temática em sala terá duração de um
bimestre; contará com aproximadamente, trinta e duas horas de execução e,
estas serão distribuídas em conformidade com o horário disponível do
laboratório de informática do colégio em questão. Por meio da inclusão digital,
irei colocá-los em contato com jornais on line disponíveis para o acesso.
Não resta dúvida de que a internet é ainda um grande desafio para as
escolas, principalmente as públicas que nem sempre estão adequadas às
demandas e necessidades de nossos alunos. Por isso o papel de toda a
instituição de ensino é de oferecer condições favoráveis para que todos os
discentes possam ter acesso a um computador, principalmente aqueles mais
carentes que estão fora deste universo.
Numa democracia com justiça social, espera-se que todos os
indivíduos sejam devidamente preparados para a compreensão
e o manejo de todas as linguagens que servem para dinamizar
ou fazer circular a cultura. O problema é que, num país tão
desigual como o Brasil, aqueles oceanos informacionais da
internet vão sofrendo restrições cada vez maiores em termos
de presença e de utilização na vida concreta das pessoas
(SILVA, 2003, p.14).
Nesta prática interatividade virtual, ateremo-nos aos gêneros notícia e
editorial, por eles serem gêneros característicos da esfera jornalística.
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Oportunizaremos a leitura de textos virtuais oriundos de distintos veículos de
comunicação. Os alunos deverão perceber e expor de forma oral e/ou escrita a
intencionalidade presente por trás da informação, e compreender as marcas
ideológicas intrínsecas do texto. Irei provocá-los a se posicionarem de forma
clara e consciente diante daquilo que estão lendo.
Embora a prática de leitura em sala de aula costuma ser caracterizada
como metódica, consideramos que o encaminhamento metodológico previsto
para esta unidade temática tenha por objetivo fomentar este momento de
interação entre professor e aluno para fazer da leitura um ato dialógico que
possibilite ao aluno transpor a barreira do ledor para o leitor (GONÇALVES,
2004). Para tanto, usaremos todos os meios e recursos disponíveis, tanto os
impressos como também os que são de domínio virtual.
Vll - Cronograma das atividades de leitura
O projeto será executado em trinta e duas horas, dividido em onze
encontros, realizados no 1º semestre de 2014.
1ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Apresentação do projeto de intervenção
pedagógica aos alunos da EJA
Apresentação das obras literárias a serem lidas e, outros materiais de leitura
Folhear as obras e outros materiais
2ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Escolha das obras literárias para leitura
Conversação dirigida a respeito das expectativas
de leitura
Início da leitura das obras literárias
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3ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Visita ao laboratório de informática: noções
básicas de navegação na internet
Noções básicas de navegação na internet no
sistema línox
Navegação na internet por diversos sites de notícias
4ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Leitura em sala de aula das obras literárias pré-
selecionadas
Leitura em sala de aula das obras literárias pré-
selecionadas
Folhear revistas, jornais e outros textos pertinentes
5ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Leitura em sala de aula das obras literárias pré-
selecionadas
Leitura em sala de aula das obras literárias pré-
selecionadas
Visita ao laboratório de informática: leitura de
textos do gênero notícia
6ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Fomentação para os primeiros relatos orais das impressões extraídas do
texto: personagem, espaços, narrador, tema
enredo
Continuidade dos relatos orais pelos leitores acerca
das marcas explícitas e implícitas dos textos
Exploração de materiais variados para a leitura:
jornais e outros materiais de leitura
7ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Leitura midiática de textos jornalísticos de cunho
editorial
Continuidade da leitura midiática de textos
jornalísticos de cunho editorial
Leitura em sala de aula das obras literárias pré-
selecionadas
8ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Relatos orais e/ ou escritos da
intencionalidade presente por trás da informação dos textos mediáticos
Continuidade dos relatos orais e/ ou escritos da
intencionalidade presente por trás da informação dos textos mediáticos
Leitura livre de revistas, jornais e outros materiais trazidos pelo professor e
pelos alunos
9ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Leitura em sala de aula das obras literárias pré-
selecionadas
Finalização das leituras das obras literárias pré-
estabelecidas
Roda de conversa dirigida das impressões e
características das obras quanto ao gênero e as marcas intrínsecas nos
textos lidos
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10ª Semana
1ª aula 2ª aula 3ª aula
Continuidade dos relatos orais e/ ou escritos da
intencionalidade e ideologias presentes nos
dos textos lidos
Contação das histórias dos livros lidos pelos
alunos
Continuidade da Contação das histórias à turma
referente aos livros lidos pelos alunos
11ª Semana
1ª aula 2ª aula
Considerações finais sobre o resultado da
implementação do projeto e sua contribuição para
configurar o comportamento de leitor
Análise das impressões por parte dos alunos das
contribuições que a unidade temática os
proporcionou, se houve uma leitura prazerosa
Vlll - Contribuições esperadas
Na elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica sempre tive como
alvo o despertar de nossos alunos para o mundo da leitura. Neste sentido,
busco levá-los a transitar tranquilamente pelo mundo das letras, sem qualquer
perigo de interferência rígida, como estamos acostumados a fazer em nossas
tradicionais aulas de leitura. Desta forma, a unidade temática objeto de minha
constatação (enquanto professor da Educação de Jovens e Adultos - Fase II)
persegue a proposta inicial de favorecer momentos de leitura em sala de aula,
sem a imediata cobrança dos caracteres próprios dos gêneros textuais, pois,
longe de negar a validade desses conteúdos, prioritariamente, objetivamos
influir no perfil de sujeitos que não possuem nem o hábito nem o gosto pela
leitura e transformá-los em leitores.
E após captar o interesse do leitor ao longo da leitura que será possível
a interferência do professor como mediador, de forma gradativa, na
compreensão e interpretação do lido, para que este aluno seja capaz de
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formular algo a respeito do que leu, ampliando seu horizonte de
conhecimentos. “Leitor maduro é aquele que consegue ir se refazendo acerca
de tudo que foi adquirindo daquilo que se apropriou ao longo da leitura e
consequentemente tornando a sua compreensão dos livros, do mundo muito
mais densa” (LAJOLO, 1993).
Nossa proposta de intervenção pedagógica está pautada na realidade
vivida por grande parte de nossos alunos, e com mais ênfase os
frequentadores da EJA, eles não sentem nenhum prazer em ler um livro, ou
qualquer outro suporte textual. São jovens oriundos de classes determinadas
como produtivas e inferiores sem nenhum acesso à leitura, que estão
retornando à escola com objetivos definidos e limitados, querem apenas o
certificado de conclusão de curso, pois são frutos de uma sociedade capitalista
onde as condições sociais de acesso à leitura são diferenciadas.
Discriminam-se as camadas populares pelo reforço de sua
concepção pragmática da leitura, a que se atribui apenas um
“valor de produtividade”, enquanto, para as classes
dominantes, ler é a proposta de lazer e prazer, de
enriquecimento cultural e ampliação de horizontes;
supervaloriza-se um discurso escrito que legitima a ideologia
das classes dominantes, expropriando as classes dominadas
de seu próprio discurso; (...) sobre a leitura na verdade, as
relações de produção, de distribuição e de consumo da leitura
como bem cultural repetem as condições discriminativas de
produção, distribuição e consumo dos bens materiais
(SOARES, 2001, p.25).
É neste contexto social e econômico que, sem demagogia e falsas
esperanças eu atuo e quero por meio do meu trabalho fazer parte da ampliação
de expectativas e contribuir para que cada aluno tire “carta de cidadania no
mundo da cultura escrita”, como nos convida (LERNER, 2002). Afinal, o
educador pode inferir no nível de leitura de seus alunos como atesta
(GERALDI, 2006) e ainda segundo este linguista o fato de materiais de leitura
circularem entre os alunos, cria no microcosmo da sala de aula um ambiente
favorável à formação de leitores, desde que esses materiais sejam utilizados
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segundo a concepção interacionista de linguagem. Esta é a proposta, sou
consciente das dificuldades que irei enfrentar, uma vez que temos pouco tempo
para a execução desta unidade, porém há esperança e esta está alicerçada no
desejo de mudança de atitude do professor, o que já é um grande passo para o
sucesso deste projeto de leitura.
lX - Bibliografia
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da Prática Escolar. Campinas: Papirus, 1995. 130 p (Série Prática Pedagógica).
BAKHTIN, Mikhail. A análise dialógica dos gêneros do discurso e os estudos de letramento: Ana Paula Kuczmynda da Silveira, 1ªed.
Florianópolis, 2012. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei nº 9394/94. FARIAS Maria Alice. Parâmetros Curriculares e Literatura: As personagens de que os alunos realmente gostam. São Paulo, Contexto, 1999. GERALDI, João Vanderley. (org.) José de Almeida: O texto na sala de aula. 4º ed. São Paulo, 2006, Ática. GONÇALVES, Lidia Maria. Do ledor ao leitor: um estudo de caso sobre as insuficiências na utilização do jornal em sala de aula no ensino de Língua Portuguesa em turmas do último ano do ensino fundamental. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Porto Alegre, 2004.
LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Tradução Ernani Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. LAJOLO, Marisa. Do Mundo da leitura para a leitura de mundo. Ática, 1993.
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18
SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de ler: fundamentos psicológicos para
uma nova pedagogia de leitura. 9ª ed. São Paulo, Cortez, 2002. SILVA, Ezequiel Theodoro da.(coord.). A leitura nos oceanos da internet. São Paulo, Cortez, 2003. SOARES, Magda Becker. As condições sociais da leitura: uma reflexão em contraponto. IN: Leitura – Perspectivas Interdisciplinares. ZIBERMAN, Regina e Silva, Ezequiel Theodoro da (org.). São Paulo, Ática, 2001. SOLÉ, Izabel. Estratégias de leitura. Tradução, Cláudia Schilling. 6ª ed. Porto
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Disponível em: <http://www.marilandiadosul.pr.gov.br>. Acesso em: 15 maio 2013.
X - Fontes do “corpus” de pesquisa
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BANDEIRA, Pedro. O mistério da fábrica de livros. 1º ed. São Paulo, 1994,
Rosari. CARRASCO, Walcir. Irmão negro. 5º ed. São Paulo, 2006, Moderna. GUIMARÃES, Luci Watanabe. Canção para Débora. São Paulo, 1994, FTD S.A
19
LAF, Ivan. O vampiro que descobriu o Brasil. 1º ed. São Paulo, 2003, Ática. LAPORTA, Giselda Nicolelis. Pássaro contra a vidraça. 3º ed. São Paulo, 1992, Moderna. REY, Marcos. Sozinha no mundo. São Paulo, 1984, Ática.
VIEIRA, Isabel. Em busca de mim. 14º ed. São Paulo, FTD S.A.