os desafios da escola pÚblica paranaense na … · evidenciar ao aluno da eja a importância do...

18
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Upload: dohuong

Post on 09-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

APLICAÇÃO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA NA ECONOMIA DOMÉSTICA

PARA EJA

Autora: Claudireni Aparecida Barbon1 Orientador: Sebastião Geraldo Barbosa2

RESUMO

Este artigo é resultado da implementação do projeto “Aplicação da Matemática Financeira na Economia Doméstica para EJA” e foi desenvolvido junto aos alunos do Ensino Médio do CEEBJA de Paranavaí, sendo um pré-requisito do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Este trabalho teve como objetivo principal propor e oferecer uma tendência metodológica diferenciada através da Modelagem Matemática capaz de inovar a prática pedagógica em relação à matemática financeira, instrumentalizando os alunos da EJA para que possam analisar criticamente e agir corretamente diante das operações financeiras que fazem uso diariamente. Para o desenvolvimento do projeto foram utilizadas problematizações e investigações sobre o tema escolhido, envolvendo situações reais vivenciadas pelos alunos. Os resultados obtidos na implementação desta proposta foram satisfatórios, evidenciando a importância dos alunos terem conhecimentos básicos de matemática financeira, para que os mesmos possam planejar e administrar seus orçamentos domésticos e de suas famílias com mais eficiência e segurança.

Palavras-chave: Matemática Financeira. Economia Doméstica. Consumismo.

Modelagem Matemática.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é resultado de um projeto que teve como propósito

evidenciar ao aluno da EJA a importância do conteúdo de matemática financeira

inserido em seu cotidiano e de sua família, sendo assim, administrar orçamentos

domésticos com mais eficiência foi o foco central deste projeto.

Esta proposta, partindo de uma das metas do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE, da Secretaria de Estado de Educação – SEED – PR, foi

1 Professora da Rede Estadual de Ensino, Núcleo Regional de Paranavaí. Licenciada em Ciências do

1o

Grau com Habilitação em Matemática, pela FAFIPA. Especialista em Didática e Metodologia do

Ensino pela UNOPAR e Educação Matemática pela FAFIPA. 2 Professor-orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Mestre em Matemática

Aplicada: Métodos Numéricos em Engenharia pela UFPR. Professor do Colegiado de Matemática da

UNESPAR, há 33 anos.

desenvolvida no CEEBJA de Paranavaí, no primeiro semestre de 2014, e teve como

objetivo geral oferecer ao aluno uma tendência metodológica diferenciada através da

Modelagem Matemática, capaz de inovar a prática pedagógica em relação à

matemática financeira, instrumentalizando a análise crítica e a ação correta diante

das operações financeiras presentes no seu cotidiano.

Na sociedade atual, a falta de planejamento econômico e o consumismo

estão se tornando uma prática comum. Pessoas de diversas classes sociais que

antes não tinham condições em adquirir cartões de créditos, hoje, com a facilidade

que o mercado dispõe, conseguem empréstimos e financiamentos oferecidos por

estabelecimentos comerciais e instituições financeiras sem muita burocracia. O uso

desse cartão sem planejamento está levando os consumidores a um gasto

desenfreado. Este projeto se propõe a instruir nossos alunos, que sem preparo e

conhecimentos financeiros adequados, caem nessas armadilhas do mercado e

adquirem dívidas, comprometendo assim, boa parte do orçamento familiar, o que

pode acarretar também outros tipos de problemas pessoais, como: doenças ligadas

a fatores emocionais, stress, desentendimentos familiares e em alguns casos, pode

ocorrer até queda na produtividade do trabalho.

Reconhecendo que a matemática financeira é de grande importância na

administração da economia doméstica, faz-se necessário que os professores

busquem novas metodologias de ensino para que as aulas de matemática tornem-se

mais dinâmicas e produtivas, fazendo com que os conteúdos estejam presentes na

realidade do aluno, contribuindo assim para a sua formação pessoal, tornando-o

capaz de exercer a sua cidadania em relação aos acontecimentos financeiros na

sociedade em que vive.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Importância da Matemática Financeira na administração da Economia

Doméstica

As pesquisas no Brasil demonstram que ao longo dos anos a matemática tem

se tornado uma disciplina que provoca grande resistência e desinteresse por parte

dos alunos, pois para muitos é algo árduo e sem prazer. Vários aspectos têm

influenciado, como o excesso de cálculos, aulas monótonas, estudos de conteúdos e

resoluções de situações-problema distantes de suas realidades. Na EJA (Educação

de Jovens e Adultos), além destes fatores, a maioria dos alunos apresenta outras

dificuldades em relação à matemática. Por estarem muito tempo afastados dos

bancos escolares, não se lembram mais de algumas teorias, conceitos matemáticos

e do processo de desenvolvimento de alguns cálculos.

Diante desse contexto, a tendência metodológica Modelagem Matemática é

um dos caminhos para desenvolver o interesse e a vontade dos alunos para o

estudo de matemática, já que ela tem como um dos principais objetivos trabalhar

com problematizações ligadas à situações da realidade social e cultural do mundo

em que estão inseridos, oportunizando uma aprendizagem mais significativa da

disciplina.

Estão presentes neste trabalho estudos realizados por diversos autores que

oferecem contribuição e reflexões sobre a importância da Matemática Financeira na

administração da economia doméstica. Sabe-se que a matemática financeira está

muito presente no nosso cotidiano, apesar disso, muitos alunos da EJA ainda têm

grandes dificuldades em analisar criticamente notícias, propagandas, compras à

vista ou a crediário, dentre outras situações de suas vidas que envolvem operações

financeiras e também em administrar o que ganham e consomem no seu dia-a-dia.

Partindo do princípio que a aplicação da Matemática Financeira tem influência

sobre a administração do orçamento familiar, Nascimento menciona que

numa sociedade do conhecimento e no mundo atual, em que as pessoas precisam controlar seu orçamento doméstico, gerir seus negócios, discutir bases adequadas de negociação, entre outras transações econômicas, alguns conhecimentos de Matemática Financeira são, sem dúvidas, imprescindíveis. (NASCIMENTO, 2004, p. 50)

Fundamentado no autor, conclui-se que a matemática financeira torna-se uma

ferramenta importantíssima capaz de levar os alunos a adquirirem conhecimentos

necessários para refletir e ter uma postura crítica e consciente diante de situações

econômicas do seu cotidiano, proporcionando-lhes assim, uma melhor qualidade de

vida.

Nesse mesmo sentido, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná

mostram que

é importante que o aluno compreenda a matemática financeira aplicada aos diversos ramos da atividade humana e sua influência nas decisões de ordem pessoal e social. Tal importância relaciona-se o trato com dívidas, com crediários à interpretação de descontos, à compreensão dos reajustes salariais, à escolha de aplicações financeiras, entre outras situações. (PARANÁ, 2008, p. 81)

Em função disso, é importante ressaltar que o aluno apropriando esses

conhecimentos matemáticos poderá analisar os benefícios e os prejuízos que

trazem os diferentes planos de compras.

Para estudar a Matemática Financeira primeiramente é preciso conhecer o

seu principal objeto, que é o dinheiro, e que com ele pode-se fazer os mais variados

tipos de transações comerciais e financeiras.

O dinheiro pode ser definido como sendo

um meio no qual se podem converter os bens dos homens e, mesmo, as relações e, inversamente, um meio que pode ser convertido nesses bens e relações. Uma espécie de denominador comum para a atividade econômica do homem, que pode ser estendida como a atividade de adaptação da natureza às necessidades do homem. (COELHO, 1979, p. 3)

Na sociedade atual, o dinheiro está presente no dia-a-dia das pessoas e

através dele pode-se adquirir os mais variados tipos de bens e serviços. Assim, o

dinheiro não é mais visto como um meio, e sim como um fim, a grande maioria das

pessoas, inclusive os alunos, estão sendo estimuladas a consumir cada vez mais, e

não estão dando ao dinheiro o seu devido valor e, por consequência, não estão

conseguindo administrá-lo.

Essa sociedade capitalista tem como uma de suas principais características a

cultura do consumo e, para isto, basta ligar o rádio, a televisão, o computador e ter

acesso a outros meios de comunicação, que estes estão sempre estimulando as

pessoas a consumirem. Pois, as propagandas são o principal veículo de incentivo ao

consumo, sendo bem apelativas e tentadoras e, além do mais, as ofertas de créditos

são muito variadas e atrativas.

Dentro dessa realidade, em relação ao consumismo, Silva e Mello destacam

que

o consumismo pode ser considerado prejudicial porque não vivemos numa sociedade onde existe o equilíbrio entre o que se produz e o que se consome; [...]. No Geral, não se tem a educação para o consumo [...]. Se tivéssemos essa educação, não seríamos submetidos a um sistema que chega a ser perverso, pois induz as compras, mas não facilita o pagamento das prestações, o que leva as pessoas, principalmente as de baixa renda, ao não pagamento de suas dívidas por várias razões, entre elas o desemprego. A falta de educação para o consumo, levando ao consumismo ilimitado, só privilegia uma minoria da sociedade, ou seja, aqueles que têm domínio sobre o capital. Esses, pois, lucram cada vez mais com a atual situação que caracteriza as sociedades capitalistas, especialmente a brasileira. (SILVA; MELLO, 2009, p. 235)

O consumismo pode ser entendido como uma prática de consumir bens

desnecessários ou também para se obter um prazer imediato, descartando logo em

seguida. Em relação ao consumismo pode-se notar ainda que as pessoas

ultimamente estão sendo influenciadas pelas mídias, através das propagandas, e

levadas a comprar e adquirir cada vez mais, confundindo as reais necessidades de

consumo com o consumismo. Esse excesso de consumismo ilimitado pode ser

ocasionado por diversos fatores, como a falta de conhecimento financeiro adequado

e também por problemas emocionais e psicológicos.

Segundo pesquisas recentes em diversos meios de comunicações, a maioria

dos brasileiros compra por impulso, sem fazer um planejamento prévio do que pode

gastar e, também, não faz controle do seu orçamento, gastando mais do que ganha.

Especialistas financeiros advertem que se deve fazer um planejamento das contas

para o ano inteiro e não mês a mês.

Em decorrência desses fatos é necessário ter em nossas vidas uma

educação financeira, saber fazer um planejamento financeiro doméstico e mudar

algumas atitudes em relação às finanças pessoais para viver com dignidade e um

pouco de conforto.

Em se tratando de Economia Doméstica o seu principal objetivo, Garavello

(1996) relata que o seu principal objetivo “é a preocupação com a família, a solução

racional dos seus problemas e a preocupação com a educação do indivíduo para

uma vida melhor, além de melhorar as comunidades e, consequentemente a

evolução da sociedade”.

Valem ressaltar que apesar da economia doméstica fazer parte do cotidiano

das famílias, poucas têm conhecimento e controle sobre como administrar suas

finanças domésticas, e um dos componentes principais desta administração é o

orçamento dos recursos que a família possui, ou seja, o controle de receitas e

despesas. Através do orçamento doméstico é possível fazer um planejamento

financeiro do que está sendo gasto no presente para os dias futuros, acompanhar as

despesas de um modo em geral, para que no final do mês não lhe falte dinheiro, ou

se houver sobras fazer investimentos.

Com base nisso, Cerbasi relata que

a organização das finanças pessoais está diretamente ligada a características individuais de organização, persistência e dedicação individual. Para muitos esse se torna um dos pontos mais difíceis do planejamento juntamente com a necessidade de precisar lidar com o monitoramento constante das receitas e despesas, o que inevitavelmente leva a construção de uma planilha eletrônica ou um caderno de anotações, e para muitos é justamente neste ponto que surge um dos maiores obstáculos, e a explicação deste fenômeno decorre da dificuldade individual em lidar com números, tabelas e conceitos básicos de matemática, tendo sua origem nos bancos escolares que ainda não tem por tradição o ensino da educação financeira. (CERBASI, 2004, s/p)

Nesse aspecto, é necessário, reforçar a importância de trabalhar a

matemática financeira como um instrumento facilitador para a Educação Financeira

de nossos alunos. E isto deve ocorrer desde a infância, para que eles possam desde

cedo ir se familiarizando com o planejamento e o gerenciamento financeiro, tanto

familiar (doméstico) como profissional, para se obter um futuro melhor.

Outro aspecto a ser considerado é a articulação entre a Matemática

Financeira e as outras áreas do conhecimento, sendo de suma importância para o

processo de ensino-aprendizagem, pois contribui não só para o enriquecimento do

conhecimento, mas garante uma visão mais ampla dos conteúdos diante dos

fenômenos atuais, permitindo que o aluno tenha assim uma leitura crítica diante das

diversas informações presentes em seu cotidiano.

2.2 Modelagem Matemática: Proposta metodológica de Matemática Financeira

aos alunos da Eja

Como foi abordado anteriormente, são várias as dificuldades encontradas

pelos nossos alunos em relação à matemática, diante disso faz-se necessário os

professores buscarem novas metodologias de ensino para que as aulas de

matemática tornem-se mais dinâmicas e produtivas, fazendo com que os conteúdos

se tornem mais próximos da realidade do aluno, tanto no contexto social, econômico

ou cultural, contribuindo assim para que ele possa tomar atitudes coerentes, ser um

indivíduo autônomo e de espírito crítico em relação aos acontecimentos que surgem

em seu dia-a-dia.

De acordo com o que foi exposto, para implementação do projeto de

Economia Doméstica, foi utilizada a tendência metodológica Modelagem

Matemática.

Dentre muitos autores (BASSANEZI, BIEMBENGUT, HIEN e BURAK) que

compartilham das ideias e estudos sobre Modelagem Matemática, apesar de cada

um ter suas concepções, todos defendem a ideia central de aplicar esta metodologia

através de situações-problema com referência na realidade, e sua resolução através

da aplicabilidade de conceitos matemáticos.

A partir de leituras e estudos sobre Modelagem Matemática, destaca-se a

concepção do Prof. Jonei Cerqueira Barbosa da Faculdade de Jorge Amado (Bahia),

especialista nesta área, para o desenvolvimento do presente projeto.

Barbosa (2001, p. 6) define Modelagem como “um ambiente de aprendizagem

no qual os alunos são convidados a indagar e/ou investigar, por meio da

matemática, situações oriundas de outras áreas da realidade”.

O autor esclarece ainda que

o ambiente de Modelagem Matemática está associado à problematização e investigação. O primeiro refere-se ao ato de criar perguntas e/ou problemas enquanto que o segundo, à busca, seleção, organização e manipulação de informações e reflexão sobre elas. Ambas atividades não estão separadas, mas articuladas no processo de envolvimento dos alunos para abordar a atividade proposta. Nela podem-se levantar questões e realizar investigações que atingem o âmbito do conhecimento reflexivo. (BARBOSA, 2004, p. 2)

Conforme o autor, o tema escolhido para estudo deve estar inserido no

cotidiano do aluno, que através de um problema proposto chegará à resolução

somente por meio de formulação de questões, levantamento e organização de

dados (investigações), usando teorias e conceitos matemáticos. Nesse caso,

valoriza-se a construção do conhecimento reflexivo feito pelo aluno e a sua interação

com o seu contexto social. Para isto, deverão ocorrer mudanças nas ações

pedagógicas do professor na sala de aula, pois, para Barbosa (2001),

o ambiente de aprendizagem de Modelagem, baseado na indagação e investigação, se diferencia da forma que o ensino tradicional – visivelmente hegemônico nas escolas - busca estabelecer relações com outras áreas e o dia-a-dia. Este último procura trazer situações idealizadas que podem ser diretamente abordadas por ideias e algoritmos sugeridos pela exposição anterior do professor. Os alunos, portanto, já sabem como proceder e o que utilizar na abordagem das situações. Existe uma relativa distância entre a maneira que o ensino tradicional enfoca problemas de outras áreas e a Modelagem. São atividades de natureza diferente, o que nos leva a pensar que a transição em relação à Modelagem não é algo tão simples. Envolve o abandono de posturas e conhecimentos oferecidos pela socialização docente e discente e a adoção de outros. (BARBOSA, 2001, p. 8)

Nessa perspectiva, o professor não pode mais ser aquele que repassa o

conhecimento e sim aquele que permite que os alunos se envolvam no processo de

ensino aprendizagem, que não é algo fácil, mas desafiador.

Partindo desse princípio, Barbosa (2003, p.10) relata que não há um caminho

certo e determinado. Há experiências de Modelagem que variam quanto à extensão

e às tarefas que cabem ao professor e aluno. Por isso ele classificou-as de acordo

com o ponto de vista teórico, em regiões de possibilidades, chamando-as

simplesmente de “casos”, que são enumerados de 1 a 3.

No caso 1, o professor apresenta um problema, devidamente relatado, com

dados qualitativos e quantitativos, cabendo aos alunos a investigação.

Já no caso 2, os alunos deparam-se apenas com o problema para investigar,

mas têm que sair da sala de aula para coletar dados. Ao professor, cabe apenas a

tarefa de formular o problema inicial com referência na realidade do aluno. Nesse

tipo de caso, os alunos são mais responsabilizados pela condução das tarefas.

E finalmente, no caso 3, trata-se de projetos desenvolvidos a partir de temas

„não matemáticos‟, que podem ser escolhidos pelo professor ou pelos alunos. Os

temas dos projetos não têm relação com a matemática. Nesse caso, o professor

pode apresentar um tema ou convidar os alunos já divididos em grupos para propor

um assunto (delimitado) que querem investigar, oriundo de situações reais.

De acordo com os três casos, a modelagem matemática pode ser trabalhada

em vários momentos do ensino-aprendizagem, desde problemáticas simples até

complexas.

Para aplicação do projeto sobre Economia Doméstica foi dada mais ênfase no

caso 1. Um dos motivos para esta escolha é em virtude dos alunos da EJA serem,

na maioria, trabalhadores e não terem tempo de fazer pesquisas e investigações

fora da sala de aula.

3 METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida com alunos jovens e adultos do CEEBJA de

Paranavaí que possuem características singulares, com história de vida repleta de

experiências diversificadas. E como bem afirmam as Diretrizes Curriculares

Estaduais da EJA,

os educandos da EJA trazem consigo um legado cultural – conhecimentos construídos a partir do senso comum e um saber popular, não-científico, constituído no cotidiano, em suas relações com o outro e com o meio – os quais devem ser considerados na dialogicidade das práticas educativas. Portanto, o trabalho dos educadores da EJA é buscar de modo contínuo o conhecimento que dialogue com o singular e o universal, o mediato e o imediato, de forma dinâmica e histórica. (DCEs-EJA, 2006, p. 38)

Partindo desse pressuposto, o professor passa a ter um grande desafio em

oferecer uma educação adequada que atenda ao seu alunado.

Para o desenvolvimento das atividades do projeto “Aplicação da Matemática

Financeira na Economia Doméstica para EJA” foi utilizada como tendência

metodológica, a Modelagem Matemática, articulando o conteúdo de Matemática

Financeira com a Educação Financeira, através de problematizações e

investigações sobre o tema escolhido, envolvendo situações vivenciadas pelos

alunos. As atividades foram divididas em dez tarefas com recursos metodológicos

conforme relato a seguir: (i) leitura e discussões de textos; (ii) vídeos educacionais;

(iii) produções escritas; (iv) pesquisas na internet; (v) construção de cartazes; (vi)

análises e resolução de problemas do cotidiano; (vii) construção de planilhas de

orçamento doméstico; (viii) produção de um folheto orientando aos leitores como

fazer um planejamento e ao mesmo tempo a socialização desse conhecimento com

a comunidade escolar.

3.1 Tarefa 1: Conhecendo o tema: Matemática Financeira X Economia

Doméstica

Nesse primeiro momento realizou-se uma exposição de figuras relacionadas

ao consumismo, facilidades de créditos, compras à vista ou a prazo e planejamento

financeiro. Mediante questionamentos e discussões foi feita uma investigação para

averiguar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema Economia Doméstica

e a sua relação com a Matemática Financeira. Nessa atividade a maioria dos alunos

não sabia o significado e qual a importância da Economia Doméstica para suas

vidas. Grande parte dos alunos relatou que não tinham o costume de fazer um

planejamento financeiro minucioso de todas as despesas mensais, controlando

apenas os gastos maiores e alguns se encontravam endividados.

3.2 Tarefa 2: Um pouco de história de dois conceitos fundamentais da

Matemática Financeira

Foram realizadas pesquisas em grupo na internet para aprofundamento de

alguns temas, como: Educação Financeira, Economia Doméstica, Consumismo e

Histórico da Origem do Dinheiro e Juros. Após a pesquisa, os alunos construíram

cartazes relacionados aos conceitos pesquisados e fizeram uma exposição aos

demais alunos da sala. Logo após a apresentação, os cartazes ficaram expostos no

mural da escola para que os outros alunos da comunidade escolar tomassem

conhecimento sobre o trabalho desenvolvido e refletissem sobre suas atitudes em

relação ao seu planejamento financeiro e ao consumismo. No decorrer dessa

atividade houve grande interação e envolvimento dos alunos. Para finalizar esta

atividade foi apresentado o vídeo a “História do Dinheiro”.

3.3 Tarefa 3: A influência da propaganda na relação de consumo

Para discutir a influência da propaganda na relação de consumo foi exibido o

vídeo “Consumo X Consumismo: o necessário e o supérfluo” e a leitura do texto

“Como se tornar um consumidor consciente? Isso é possível?”. Em seguida, foram

feitos alguns questionamentos a respeito do que foi assistido e lido: (i) Hoje em dia

as mídias têm influência em relação ao consumismo? (ii) Você sabe diferenciar

necessidade de consumo? (iii) Você se considera um consumidor consciente ou um

consumista? (iv) Você já se perguntou ao fazer uma compra por impulso, se o

negócio valeu a pena?

Com base no relato e participação dos alunos, pode-se concluir que, hoje em

dia, a propaganda tem uma forte influência em relação ao consumismo exagerado

por parte das pessoas, assim, os produtos passaram a ser não apenas necessários

e desejáveis, mas indispensáveis. Os investimentos em mídias também são muito

grandes, através das publicidades bem criativas, vendem sonhos, controlam as

pessoas, ditando o que precisa para comer, vestir, e outros, e até mesmo a ilusão de

satisfação pessoal e felicidade. Além disso, observa-se que o poder de consumo e

ter na cultura atual passaram a dar uma sensação de status e superioridade social.

E que nos dias atuais é difícil não ser consumista e controlar as compras por

impulso, pois a oferta é muito grande.

3.4 Tarefa 4: Compras à vista ou a prazo

Para introdução, realizou-se uma exposição oral sobre compras à vista e a

prazo e algumas investigações para saber qual dessas opções eles preferem na

hora de realizar suas compras.

Em seguida, foram apresentados alguns vídeos educacionais do site

http://www.tvedfinanceira.com.br sobre planejamento financeiro pessoal e familiar,

compras à vista e a prazo, sanando algumas dúvidas sobre dificuldades em fazer a

escolha correta na hora de fechar alguma transação comercial ou financeira.

Após a apresentação dos vídeos foram propostos alguns questionamentos:

Você tem o costume de fazer um planejamento antes de efetuar uma compra ou só

verifica se a prestação cabe no seu bolso? Você compara o valor do preço à vista

com o preço a prazo que irá pagar? Com base no que foi assistido nos vídeos,

escreva algumas dicas importantes para se fazer uma boa compra.

Após os questionamentos muitos relataram que não fazem pesquisas de

preços antes de comprar e não têm o costume de fazer um planejamento antes de

efetuar uma compra, verificando apenas se a prestação cabe no bolso. E ao

comprar algum produto, a maioria não sabia fazer comparações, qual a opção mais

vantajosa, comprar à vista ou a prazo. E também apresentaram dificuldades em

calcular descontos e acréscimos simples nos preços das mercadorias, tanto na

compra à vista como a prazo.

3.5 Tarefa 5 : Juros Simples e Juros Compostos

Ao introduzir esta tarefa, foram analisadas situações em que utilizam os

regimes de juros simples e outras que fazem uso dos juros compostos. A seguir,

foram resolvidas situações-problema relacionadas ao dia-a-dia dos alunos

envolvendo os conceitos de juros simples e juros compostos. No desenvolvimento

dessa tarefa constatou-se que alguns alunos apresentaram dificuldades em

interpretar os dados que os problemas ofereciam e fazer os respectivos cálculos do

que estava pedindo, necessitando da intervenção da professora. Mas, as

dificuldades foram trabalhadas individualmente, conforme a necessidade de cada

um.

3.6 Tarefa 6: Cartão de crédito e limite de cheque especial

Para explicar quanto uma pessoa paga de juros quando opta pelo pagamento

mínimo da fatura do cartão de crédito foram estabelecidas algumas simulações de

cálculos do rotativo do cartão. Em seguida, realizou-se uma demonstração de como

se calcula os juros do limite do cheque especial quando uma pessoa faz uso dele.

Logo após, os alunos foram questionados sobre quais as vantagens e

desvantagens ao utilizar o cartão de crédito e o limite do cheque especial. Para

concluir o assunto foi apresentado um quadro em que se constataram situações em

que o cartão de crédito e o cheque especial têm suas vantagens e desvantagens ao

serem utilizados.

Essa atividade foi a que mais chamou a atenção dos alunos, pois não tinham

o conhecimento e a ideia de como os juros são altos quando uma pessoa faz a

opção de pagar somente o mínimo ou parcelar a dívida. O interessante nessa

atividade foi tornar possível comparar a fatura de cartões de crédito de diversas

instituições financeiras, observando que cada uma tem suas taxas de juros e

encargos financeiros diferentes e além do mais algumas taxas aplicadas são mais

altas em relação às outras.

3.7 Tarefa 7: Cálculo de prestações fixas de financiamento

Para realização dessa tarefa solicitou-se uma pesquisa prévia na intenção de

buscar informações sobre taxas de juros cobradas no financiamento de imóveis,

carros, motos e empréstimos pessoais, levantadas em estabelecimentos comerciais

e instituições financeiras da própria cidade.

Com os dados coletados, foram realizadas simulações calculando o valor

presente (preço a vista) de um valor financiado através do crediário ou de redes

bancárias, assim como números de meses (prestações) e taxa de juros, utilizando o

item de financiamentos com prestações fixas através da “Calculadora Cidadão”

disponível no site www.bcb.gov.br/?calculadora.

Na realização dessa atividade não houve dificuldade por parte dos alunos,

pois o programa utilizado era de fácil manuseio e entendimento.

3.8 Tarefa 8: Construção de planilhas de orçamentos domésticos ou familiar

Antes da construção da planilha de orçamento doméstico os alunos listaram

no caderno todos os créditos relacionados aos membros da família (renda familiar

mensal) e relacionaram todas as despesas que tiveram durante o mês.

Em seguida foi utilizado o laboratório de informática para construção de uma

planilha de orçamento doméstico (BrOffice Calc ou Excel), com as despesas fixas

e/ou as eventuais de cada aluno.

Na realização dessa tarefa foi preciso a mediação da professora, pois os

alunos possuíam pouco conhecimento para construir a planilha utilizando o

computador.

3.9 Tarefa 9: Elaboração e um folheto informativo

Concluiu-se o trabalho com a produção de um folheto informativo com

algumas dicas de como fazer um orçamento doméstico e planejamento financeiro e,

em seguida foi feita a socialização desse conhecimento com a comunidade escolar.

No decorrer desta atividade houve grande envolvimento dos alunos. Na

socialização com os demais alunos da escola houve uma grande receptividade,

interação e participação por parte deles, havendo discussões sobre os pontos

principais contemplados no folheto.

3.10 Tarefa 10: Resolução de problemas

Para encerrar as atividades do projeto resolveram-se problemas envolvendo

situações práticas de compras à vista e a prazo, juros simples e compostos como

uma forma de avaliação para diagnosticar se houve aprendizagem do conteúdo

ministrado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi fundamentada em leituras realizadas por diversos autores

que oferecem contribuição e reflexões sobre a importância da Matemática

Financeira na Administração da Economia Doméstica.

As ações pedagógicas aqui desenvolvidas contribuíram para que se

realizasse de forma efetiva a articulação entre os conteúdos de Matemática

Financeira e a Educação Financeira, através da utilização da tendência

metodológica Modelagem Matemática, a partir de investigações e problematizações

inseridas no meio cultural, econômico e social dos alunos.

Percebeu-se que essa articulação favoreceu para despertar neles o interesse,

a motivação, o envolvimento e o prazer ao realizar as atividades propostas. Mas é

importante salientar que não houve dificuldades quanto à realização das atividades,

porém, durante a prática, observou-se uma grande deficiência por parte deles no

domínio de conteúdos básicos para a aprendizagem e aplicação da Matemática

Financeira em questões ligadas ao seu dia a dia. Todas as atividades sugeridas

foram realizadas e os resultados obtidos durante a implementação foram

satisfatórios, atendendo às expectativas previstas.

No decorrer da implementação houve a oportunidade de ser tutora do GTR

(Grupo de Trabalho em Rede), previsto pelo PDE, permitindo a socialização dos

avanços e desafios enfrentados durante a aplicabilidade das ações. Foram

momentos de riquíssimas trocas de ideias, experiências, contribuições e

conhecimentos por parte dos cursistas em relação ao tema sugerido neste projeto.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Jonei Cerqueira. Modelagem na Educação Matemática: contribuições para o debate teórico. In REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 24, 2001, Caxambu. Anais. Rio Janeiro: ANPED, 2001. 1 CD-ROM. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/MATEMATICA/Artigo_Barbosa.pdf>. Acesso em: 20/04/2013.

______. Modelagem Matemática na sala de aula. Perspectiva, Erechim (RS), v. 27, n. 98, p. 65-74, junho/2003. Disponível em: <http://www.uefs.br/nupemm/perspectiva.pdf>. Acesso em: 14/04/2013.

______. Modelagem Matemática: O que é? Por que? Como? Veriati, n. 4, p 73-80, 2004. Disponível em: <www.projetos.unijui.edu.br/matematica/.../jonei_barbosa2%20.doc>. Acesso em: 15/04/2013.

______. Uma perspectiva de Modelagem Matemática. In Conferência Nacional sobre Modelagem e Educação Matemática, 3, 2003, Piracicaba. Anais... Piracicaba: UNIMEP, 2003. 1 CD-ROM. Disponível em: <http://www.uefs.br/nupemm/cnmem2003.pdf>. Acesso em: 25/04/2013.

BASSANEZI, Rodney Carlos. Ensino-aprendizagem com Modelagem Matemática. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2004.

BIEMBENGUT, Maria Salett. HEIN, Nelson. Modelagem Matemática no Ensino. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2005.

BURAK, Dionísio. Modelagem Matemática, Matemática para a Vida. Disponível em:<http://dionisioburak.com.br/MODELAGEM.html>. Acesso em: 14/042013.

CALCULADORA Cidadão. Financiamento com prestações fixas. Banco Central do Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?calculadora>. Acesso em: 12/09/2013.

CARTILHA Educativa Cartão a dica é saber usar. Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços. ABECS. p. 13. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdc/link/cartao-a-dica-e-saber-usar>. Acesso em: 13/09/2013.

CARTILHA Educação Financeira. Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania e Fundação PROCON. 4.ed.São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br/pdf/acs_cartilha_educacao_financeira_2012_site.pdf>. Acesso em: 18/09/2013.

CERBASI, Gustavo. Casais inteligentes enriquecem juntos. 1. ed. São Paulo: Gente, 2004.

COELHO, Silvio Teixeira. Matemática Financeira e Análise de Investimentos. 1. ed. São Paulo: Nacional, 1979, p.3.

CONSUMO x Consumismo: O necessário e o supérfluo. 2:14 min. 03/06/2012 - Vídeo enviado por Yasmin Stelle – Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Nh_FjDwYEJk>. Acesso em 10/10/2013.

GARAVELLO, Maria Elisa de Paula. Economia Doméstica: novas bases conceituais e identidade profissional. 1. ed. Minas Gerais: Universitária, 1996. HISTÓRIA do Dinheiro – Episódio 10. Programa TV Financeira – 1a Temporada.11:23 min. Programa exibido em 08/08/2009. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/iniciativas/tv-educacao-financeira.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em 08/10/2013.

NASCIMENTO, Pedro Lopes do. A Formação do Aluno e a Visão do Professor do Ensino Médio em Relação à Matemática Financeira, 2004, 187 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – PUC São Paulo, 2004, p. 50.

PAGAMENTO a prazo – Episódio 90. Programa TV Financeira – 1a Temporada. 12:00 min. Programa exibido em 03/10/2009. Disponível em:

<http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/iniciativas/tv-educacao-financeira.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em 08/10/2013.

PAGAMENTO à Vista – Episódio 80. Programa TV Financeira – 1a Temporada. 12:07 min. Programa exibido em 26/09/2009. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/iniciativas/tv-educacao-financeira.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em 08/10/2013.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação – SEED. Diretrizes Curriculares da Rede Pública Educação Básica do Estado do Paraná (DCE): Matemática, Curitiba, 2008, p. 81.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação – SEED – Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba, 2006, p. 38. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_eja.pdf>. Acesso em 19/09/2014.

PLANEJAMENTO Financeiro: orçamento pessoal e familiar - Episódio 40. Programa TV Financeira – 1a Temporada. 11:43 min. Programa exibido em 03/10/2009. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/iniciativas/tv-educacao-financeira.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em 08/10/2013.

ROMÃO, Enio Willian da Silva. Juros mais baixos + Crédito mais acessível = Mais pessoas endividadas, 2012. Disponível em: <http://investirecrescer.wordpress.com/2012/08/11/juros-mais-baixos-credito-mais-acessivel-mais-pessoas-endividadas/ >. Acesso em 13/09/2103.

SALLES, Sueli de Britto. Como se tornar um consumidor consciente? Isso é possível? Fev 2013. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/como-se-tornar-um-consumidor-consciente-isso-e-possivel.jhtm>. Acesso em 2/09/2013.

SILVA, Edimar Araújo; MELLO, José Wagner de. Educação de Jovens e Adultos 9º ano: história. 2. ed. São Paulo: IBEP, 2009, p. 235.