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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: RISCOS E PREVENÇÃO
Elenice de Fátima Farias(1)
Prof.ª Drª Rosângela Fernandes Garcia(2)
RESUMO
Com a antecipação da atividade sexual na vida dos adolescentes, e o despreparo em utilizar métodos
contraceptivos, a gravidez na adolescência se tornou um problema social e a cada ano que passa
vem aumentando. Esse agravamento dos casos de gravidez na adolescência tem preocupado as
instituições das áreas de saúde e educação, pois os adolescentes não têm estrutura emocional,
psicológica e nem financeira para lidar com esse tipo de situação. Este tema deve ser apresentado na
escola com uma postura ética e com muita clareza, informando-os sobre os riscos e prevenção da
gravidez nesta faixa etária. O presente artigo é requisito parcial do Programa de Desenvolvimento
Educacional, e tem por objetivo apresentar a Secretária da Educação do Estado do Paraná, os
resultados das atividades realizadas com os alunos do 8º ano do Colégio Estadual Jardim
Universitário – Ensino Fundamental e Médio de Sarandi - PR, NRE de Maringá, no ano de 2015. Para
a realização deste trabalho foram aplicados vários métodos, tais como: questionário diagnóstico,
discussões, leitura, vídeos, letras de músicas, pesquisas, filmes e dinâmicas diversas. Observou-se
que as trocas de diálogo entre os adolescentes são importantes para a construção do conhecimento,
tornando-os conscientes e responsáveis com sua vida sexual e o respeito ao próximo. Os resultados
apresentados revelam que adolescentes bem orientados adquirem atitudes e comportamentos de
cuidados e proteção com mais facilidade e correm menos riscos de uma gravidez nesta fase.
DESCRITORES: gravidez na adolescência; sexualidade; risco; prevenção.
______________________
(1)Professora da Rede Estadual do Paraná – Área PDE Ciências, NRE Maringá.
(2)Professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade Estadual de
Maringá-Paraná, Doutora em Ciências Biológicas.
INTRODUÇÃO
Trabalhar o tema sexualidade com os adolescentes é verdadeiramente um
grande desafio, ao longo de anos trabalhando em sala de aula pude constatar que a
fase da adolescência é linda, porém chega a todo ser humano com muitas dúvidas,
medos, curiosidades, tabus, desejos, sentimentos e a busca da verdadeira
identidade. A fase da puberdade, que antecede a adolescência, vem munida de
muitas transformações, muitas vezes não estão preparados psicologicamente para
as mudanças físicas e emocionais que irão passar.
Por experiência própria, posso afirmar que muitos não recebem as devidas
orientações da família, os motivos são os mais variados. Com esta realidade os pais
delegam esta responsabilidade para a escola, para informar e orientar seus filhos
sobre todas as questões pertinentes a sexualidade, além do conhecimento científico
de outras disciplinas.
Os adolescentes têm o desejo de aprender sobre as mudanças que estão
acorrendo com seu corpo, estas curiosidades estimulam à aprendizagem e a
construção do conhecimento. Compete a nós professores, ensiná-los de forma
qualitativa, promovendo um ensino de qualidade que atenda as necessidades do
educando.
Percebe-se também que a grande maioria dos pais destes adolescentes não
foi preparada para dialogar sobre sexualidade, para eles falar de sexo é proibido,
são inseguros em dialogar com seus filhos. Na realidade a orientação e educação
sexual é um direito de todos os adolescentes, e também, uma forma preventiva,
possibilitando esclarecimentos, através de informações corretas e reflexivas,
contribuindo para que os adolescentes construam novos conceitos e passem a
adquirir novas atitudes e hábitos, a fim de evitar a gravidez nesta fase. Um
adolescente bem informado e orientado passa viver sua sexualidade de forma a
respeitar a individualidade e o corpo do outro.
A fase da adolescência é de fato complicada para muitos, devido a todas as
mudanças que ocorrem, a busca pela verdadeira identidade, mudanças físicas e
emocionais, incertezas e inseguranças, medos e tabus, a definição do corpo e junto
a conclamação para assumir as responsabilidades. Diante de tudo isto a escola
passa a ser para o adolescente um lugar onde ele possa ter um atendimento
adequado e receber orientações corretas e seguras. Na disciplina de ciências eles
têm a possibilidade de esclarecer dúvidas com seus professores, pois deveriam
estar aptos a ensinar além do conteúdo científico, conscientizá-los dos riscos de
uma gravidez não planejada e preparar adolescentes mais responsáveis e seguros
nas suas atitudes, para que os mesmos estejam aptos nas suas escolhas com
segurança, responsabilidade e respeito. Assim a escola estará cumprindo com o seu
papel educacional e social.
Pelo fato da comunidade escolar ter a necessidade deste aprendizado, e por
pertencer a um bairro carente da cidade, onde muitos adolescentes são desprovidos
de oportunidades, famílias ausentes e casos de gravidez precoce na escola, entre
outros fatores é que minha decisão foi de trabalhar com o tema sexualidade,
abordando “Gravidez na Adolescência: riscos e prevenção”.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O aumento nos casos da gravidez na adolescência tem preocupado as
instituições das áreas de saúde e educação, pois os adolescentes não têm
maturidade, estrutura emocional, psicológica, e nem financeira para enfrentar essa
mudança em sua vida.
O‘Sullivan, McCrudden & Tolman (2006, apud GUIMARÃES; WITTER, 2007)
destacam que a sexualidade nada mais é do que um comportamento psicológico,
capaz de influenciar pensamentos, ações, relações interpessoais e sentimentos.
A aprendizagem envolvendo a sexualidade se torna complexa uma vez que
crianças e adolescentes precisam aprender que liberdade sexual possui limites, e
que isso envolve regras sociais, responsabilidade pessoal e social, e padrões éticos
(GUIMARÃES; WITTER, 2007).
Ficar grávida na adolescência apressa a passagem de uma etapa que muitas
vezes é confusa no desenvolvimento do ser humano, ser mãe e ao mesmo tempo
perdendo toda a infância e adolescência, momento em que se está descobrindo o
amor e o desejo sexual.
Pode-se então denominar como gravidez na adolescência, segundo Moraes
(2007), uma gestação ocorrida em jovens de até 21 anos que se encontra em pleno
desenvolvimento, sendo um tipo de gravidez, em sua maioria, não planejada ou
desejada, acontecendo normalmente em relacionamentos instáveis.
Podemos dizer que são vários os fatores que levam as adolescentes a
iniciarem sua sexualidade precocemente, tais como: desequilíbrio familiar,
convivência conturbada com madrasta e padrasto, influência de amigos entre outros.
Outras características podem ser citadas como o abuso de álcool e drogas, a falta de
conhecimento a respeito da sexualidade e o uso inadequado da contracepção
(RODRIGUES, 2010).
Em sua pesquisa, Mazzini (2003), observou que a construção da identidade
feminina é iniciada no meio familiar. A ausência ou fraqueza de vínculos afetivos na
família. Segundo Guimarães e Witter (2007), aumenta a dependência afetiva da
adolescente com o parceiro, expondo-a aos riscos da gravidez, ficando exposta
inclusive a doenças pela falta de conhecimento e utilização dos métodos
contraceptivos.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o
número de adolescentes grávidas está crescendo no país. No período de 2011 e
2012, entre as mães que tinham de 15 a 19 anos os números quase dobraram: de
4.500 para 8.300. O mais alarmante é que nessa faixa etária 18% dessas mulheres
já engravidaram ao menos uma vez (CARLOS, 2013).
As adolescentes nesta faixa etária estão sendo consideradas como um grupo
de risco, devido à facilidade de ocorrência de problemas de saúde consegue e em
seus conceptos, uma vez que a gravidez prejudica o físico da adolescente e também
seu desenvolvimento normal.
Na gravidez a menina ainda fica sujeita a riscos de ter eclampsia (convulsões
decorridas na gestação), anemia, trabalho de parto prematuro, o bebê pode nascer
com baixo peso ou subnutrido, complicações no parto que podem levar a uma
cesárea, infecções urinárias entre outros. Os maiores riscos são em relação há
possível má formação do bebê, aumento do risco de depressão pós-parto e ainda a
rejeição ao bebê (COATES; SANTANNA, 2001).
Além de problemas relacionados com a saúde, constituem-se como fatores
decorrentes da gravidez na adolescência o abandono escolar, quando não do
abandono o baixo nível de escolaridade da adolescente, ausência de companheiro e
família, a ausência de planos futuros e a repetição de modelo familiar (mãe também
adolescente) (OLIVEIRA, 1998).
A internet é um caminho por onde muitos adolescentes buscam informações
sobre sexo, mas as informações sobre os meios preventivos nem sempre são bem
assimiladas. A gravidez torna-se um grande problema para os adolescentes de todos
os níveis sociais, porém a classe mais baixa sofre maiores consequências.
Baseado neste contexto é que realizamos um projeto de intervenção
pedagógica a fim de levar informação e conhecimento sobre os aspectos
morfofisiológicos da reprodução humana, os riscos e a prevenção de uma gravidez
na adolescência.
MÉTODO
O Projeto de Intervenção Pedagógica, sobre sexualidade ”Gravidez na
Adolescência: riscos e prevenção” foram desenvolvidos no Colégio Estadual Jardim
Universitário – Ensino Fundamental e Médio, no município de Sarandi – PR, Núcleo
Regional de Maringá. Sua aplicação ocorreu no período de julho a outubro de 2015,
junto a 15 alunos matriculados no 8º ano do ensino fundamental, sendo 09 do sexo
masculino e 06 do sexo feminino, entre 13 e 14 anos. O projeto foi desenvolvido no
contra turno, período vespertino. Foi utilizada como método do ensino, a socialização
através de várias técnicas como: pesquisa, leituras, analise de imagens, vídeos,
filmes, letras de músicas, discussões, confecções de cartazes, entre outros, todos
com o objetivo de socializar e estimular a troca de experiências entre os educandos,
permitindo uma melhor compreensão do conteúdo proposto e também do sistema
reprodutor masculino e feminino, a fim de promover a construção do conhecimento.
Todos os materiais apresentados foram desenvolvidos através de pesquisas
bibliográficas previamente com vários autores, sobre sexualidade, gravidez na
adolescência, métodos contraceptivos, DSTs, etc., sites governamentais, sites
educacionais e artigos, e trabalhando em uma linguagem acessível ao aluno.
Antes de iniciar o projeto foi feito o convite para todos os alunos matriculados
em todas as turmas dos 8º anos do período matutino, a se inscreverem, para
participarem do projeto no contra turno, dois dias da semana das 14h às 17h20min
horas. Foi realizado o período de inscrição. No primeiro dia de aula, devido à
ansiedade e curiosidade dos adolescentes com relação à sexualidade, foi necessário
deixar uma aula livre, onde eles tiveram a oportunidade de realizar perguntas
pertinentes e esclarecer as dúvidas relacionadas. Após, foi explicado para todos
detalhadamente, como seria desenvolvido o projeto, aproveitamos, para fazer um
acordo verbal, com regras definidas, para propiciar confiabilidade, respeito, sigilo
entre eles, com o intuito de evitar aborrecimentos, constrangimentos, angústia e
principalmente o respeito à individualidade sexual de cada um.
No início das atividades foi aplicado um questionário com 10 perguntas para
avaliar o conhecimento prévio dos adolescentes, como um pré-teste e no final da
aplicação do projeto, foi construída a árvore do conhecimento com o resultado e
evolução da aprendizagem.
Também foram utilizados para a análise investigativa da proposta do projeto
de intervenção pedagógica, os depoimentos dos professores cursistas do GTR 2015,
Grupo de Trabalho em Rede, oferecido pela SEED, na modalidade a distância aos
professores da Educação Básica do Estado do Paraná.
Foram tutoreados 20 professores de diversos núcleos do Paraná, sendo que
18 concluíram e 02 desistiram ao longo do curso. As contribuições foram bastante
significativas, houve muitas contribuições positivas e críticas construtivas em relação
ao projeto e a produção didática, muitas serviram para enriquecer o desenvolvimento
da aplicação do projeto com os adolescentes e tiveram ainda alguns relatos de
experiências, porém todas as contribuições e troca de experiências, contribuíram e
serviram para o enriquecimento da prática pedagógica em discussão. Segundo a
maioria dos participantes do GTR 2015, o projeto de intervenção pedagógica e
produção didática, teve como ponto positivo o atendimento às necessidades de suas
escolas, mesmo fazendo algumas adaptações necessárias devido à realidade de
cada uma, e que o mesmo deveria ser aplicado em todas as escolas do Paraná.
RESULTADOS/DISCUSSAO
Na realidade os adolescentes têm vontade e necessidade de falar sobre
sexualidade, porém sentem vergonha em falar abertamente na sala de aula,
principalmente as meninas. Portanto a participação, discussão e a reflexão grupal ou
individual é uma forma de garantir que os adolescentes possam se expressar com
liberdade expondo suas ideias e curiosidades, interagindo com os demais colegas,
respeitando as diversidades e construindo o seu próprio conhecimento. Este foi o
suporte para iniciar a aplicação e desenvolvimento do projeto de intervenção
pedagógica na escola com a aplicação do ”questionário diagnóstico” para os 15
alunos e foram respondidas várias questões pertinentes ao tema (tabela 01).
Os resultados foram surpreendentes! Entre as questões respondidas a
maioria mora com seus pais, não conversam e sentem vergonha de falar sobre
sexualidade, entretanto apenas a metade acha importante ter este diálogo aberto
com os pais. As meninas conversam com as mães ou amigas, os meninos acham
mais fácil falar com o pai ou amigos, porém, dizem que os pais acham este assunto
complicado e chato para abordarem, sendo melhor a escola informá-los durante as
aulas. Normalmente buscam informações em revistas, internet, amigos e livros e
outros nem buscam informações, espera pela escola. Percebeu-se que, para eles,
ser adolescente é ser livre, não ter responsabilidades, poder sair final de semana
sem ter horário para retornar, ficar sem a supervisão dos pais, ou seja, ter liberdade
para ficar na internet, assistir televisão, ver revistas pornográficas, etc. Um terço dos
adolescentes (5) relatou já ter experiência sexual e 03 usaram preservativos.
No momento da discussão e questionamentos eles consideraram importante
o uso da camisinha em uma relação sexual e que a camisinha e a pílula
anticoncepcional, são os métodos contraceptivos mais seguros e eficientes para
evitar a gravidez, as DSTs e a AIDS. Afirmaram que é responsabilidade do menino e
da menina usar os métodos contraceptivos, que sabem como uma mulher engravida,
e que podem engravidar na primeira relação sexual inclusive. Eles querem mais
informações e orientações sobre o tema sexualidade e dizem não estar preparados
para a paternidade e maternidade.
Tabela 1 - Resultado do questionário diagnóstico (n=15)
Nº Questões/respostas
01 Você é do sexo? (09) masculino (06) feminino
02 Você mora com seus pais? (14) sim (01) não
03 Seus pais conversam sobre sexo com você? (05) sim (10) não
04 Você tem vergonha de falar sobre sexo? (04) sim (11) não
05 Você acha importante ter um diálogo aberto com seus pais? (08) sim (07) não
06 Com quem você tem mais afinidade de falar sobre sexo? (09) pai (06) mãe
07 O tema sexualidade deve ser discutido na escola? (15) sim (00) não
08 Você se informa sobre sexo com seus colegas? (12) sim (03) não
09 Você já teve ou tem relações sexuais? (05) sim (10) não
10 Você usou algum tipo de contraceptivo na relação sexual? (03) sim (02) não
Este questionário diagnóstico possibilitou uma aproximação entre os alunos,
permitindo conhecê-los melhor e saber a realidade de cada um, para ajudá-los, com
a melhor orientação. Com esta atividade observou-se a importância de uma
discussão sobre cada questão, pois foram evidentes as incertezas, curiosidades,
dúvidas, medos, indecisões, falta de maturidade, carências afetivas e a relação
familiar, que muitas vezes deixa a desejar, levando o adolescente a iniciar a sua vida
sexual, sem conhecimento e responsabilidade para assumir as consequências
oriundas deste ato. Percebeu-se também, que por mais informações que eles
busquem, sempre imaginam que só vai acontecer com o colega, esta atitude
contribuí para aumentar os casos de gravidez não planejada nesta fase.
Para que os adolescentes percebam a importância do diálogo, orientação
sexual, sexo seguro e sem preconceito, foi realizada a leitura do texto “Aprendendo
Sobre Sexualidade”, em seguida, aberto para discussões e questionamentos. Foram
respondidas algumas questões pertinentes, após fizeram a atividade, reciclando os
sentimentos, onde desenharam a sua mão em uma folha de sulfite A4, e escreveram
dentro de cada dedo uma palavra, expressando o verdadeiro sentimento referente à
sexualidade. Após as discussões realizadas com cada palavra escrita, puderam
perceber que o sentimento, respeito e a responsabilidade, prevalecem dentro da
relação sexual. Este é um tema para ser trabalhada, constantemente ao longo do
ano, com os adolescentes, família e sociedade.
Dando continuidade ao projeto, após a explicação dos sistemas reprodutores
masculinos e femininos, através de slides-show, para que os alunos entendessem a
diferença entre os gêneros, foi aplicada a atividade “Por que tanta diferença”, com o
objetivo de perceberem os papéis sexuais entre os homens e as mulheres na
sociedade. Realizada em grupos de meninos, meninas e mistos, onde cada um teria
que apontar quais a vantagens e desvantagens de ser homem ou mulher e após,
algumas questões foram apresentadas para reflexão. Os alunos focaram como
desvantagens de ser mulher, ficar grávida, carregar a barriga por nove meses, sentir
a dor do parto, o cuidado com a criança, e a perda da juventude; como vantagem é
que ficam em casa para cuidar da família. Em relação às desvantagens de ser
homem é que precisam ter profissão, levantar cedo para trabalhar a fim de trazer o
sustento para a família; como vantagem é que não engravidam.
Dando sequência as atividades, fizeram uma pesquisa no material de apoio e
em uma folha de cartolina branca, os meninos construíram o sistema reprodutor
masculino e as meninas o feminino, especificando cada órgão que compõe e seus
respectivos nomes. Após cada grupo apresentar a sua construção, foi aberto um
debate com questionamentos para esclarecer as dúvidas existentes, e respondido
questões de reflexão sobre o tema. Percebeu-se com esta dinâmica, o envolvimento
e participação coletiva dos adolescentes que demonstraram respeito com o corpo da
mulher. Eles compreenderam os órgãos que compõem os sistemas reprodutores
masculinos e femininos e sua morfofisiologia.
Com o conhecimento dos sistemas reprodutores e suas funções foi hora de
conhecer como acontece o período da menstruação, ou menarca, para isto foi
apresentado a letra da música “Cor de Rosa Choque” da cantora Rita Lee. A letra da
música proporciona uma análise crítica da sexualidade e contribui para afastar os
preconceitos e medos existentes. Cada adolescente recebeu cópia da letra da
música e após leitura e análise, abriu-se uma ampla discussão, com questões
reflexivas e sem constranger as alunas, também ouve perguntas e curiosidade em
saber a idade da primeira menstruação das mulheres da família, alguns souberam
responder, de ouvir comentários. Das seis adolescentes meninas, duas menstruaram
com 12 anos, três com 11 anos, uma com 10 anos, elas disseram não gostar deste
acontecimento, pois, ficam preocupadas com o dia de menstruar pelo fato de não
terem seu período menstrual regular e também o uso do absorvente as incomodam.
Questões como higiene pessoal, como utilizar o absorvente, como se comportar no
período menstrual foram abordadas. Para os meninos terem este conhecimento foi
novidade, pois as informações que tinham a este respeito eram apenas pelos
colegas, livros, revistas, internet e televisão. Disseram que as mulheres sofrem
muito, por ter que sangrar todos os meses até chegar à menopausa, quando o
processo termina.
Para entender sobre os métodos contraceptivos, foi realizada pesquisa na
internet sobre: métodos naturais, de barreira, hormonais e cirúrgicos. Após a
pesquisa, abriu-se uma ampla discussão para cada grupo apresentar a sua pesquisa.
Observou-se que a maioria dos adolescentes só tinha conhecimento da utilidade da
camisinha e pílula como método contraceptivo, alguns já tinham ouvido falar que
existiam outros métodos, porém, nunca haviam estudado sobre o assunto. Em um
segundo momento foi realizado a atividade “As Cores da Prevenção” e apresentado
o kit de anticoncepção para visualizarem e tocarem no mesmo, após construíram um
cartaz, classificando os métodos contraceptivos, utilizando adesivos nas cores verde,
vermelho e amarelo, sendo que: adesivo verde significava livre uso para o
adolescente; cor vermelha significava não recomendável e a cor amarela possui
algumas restrições, considerando que o método a ser utilizado deve ser monitorado
por um profissional do Serviço de Saúde. Questões de reflexão também foram
apresentadas, tais como:
Quem deve usar métodos contraceptivos?
O que significa planejamento familiar?
Em uma relação sexual, de quem é a responsabilidade em usar os métodos
contraceptivos?
Observou-se que os adolescentes têm muitas dúvidas com relação aos
métodos contraceptivos, medo de ser repreendido e sentem vergonha de pedir
orientação para os pais, afirmaram buscar estas orientações principalmente com os
amigos e depois na internet e que a escola deveria trabalhar mais estas informações
com os alunos.
No momento que trabalhamos este assunto, houve o relato de uma aluna da
escola que engravidou este ano. Ela começou a namorar um rapaz de outra cidade e
aos finais de semana se encontravam, revezando ora na casa da menina ora do
menino, isso com o consentimento das famílias. Ele com 18 e ela com 14 anos, ela
afirmou que em alguns momentos usavam a camisinha e em outros não, porém não
acreditava que poderia engravidar. Num certo final de semana ela foi para cidade do
rapaz e passou mal, foi ao médico no pronto atendimento, o médico disse que os
sintomas eram de gravidez, solicitando exame de sangue que veio a confirmar a
gravidez, uma ultrassonografia mostrou que já estava de três meses. Segundo a
adolescente foi um grande susto para eles e as famílias, não estavam preparados,
ela sentiu medo de ter que parar de estudar, disse gostar e que não quer abandonar
os estudos. No momento cada adolescente mora com suas respectivas famílias e
após o nascimento do bebê pretendem se casar. Porém disse ter se arrependido de
não fazer o uso correto dos métodos contraceptivos para evitar esta gravidez,
também relatou que sua mãe nunca sentou com ela para conversar sobre
sexualidade e o que sabia havia aprendido com as amigas e escola, embora se
sentisse feliz com a chegada do bebê.
Com o conhecimento sobre os métodos contraceptivos, foram trabalhadas as
doenças sexualmente transmissíveis e a AIDS, através de slides-show e após os
adolescentes assistiram o vídeo “Rap da Prevenção”, ficaram atentos pelo fato do
vídeo apresentar o conteúdo de uma forma diferente e empolgante. Observou-se que
os adolescentes têm medo de pegar AIDS, consideram uma doença que leva a morte
e tira totalmente a liberdade sexual, pelo fato de poder transmitir para outras pessoas
e acham que as pessoas com AIDS não deveriam ter relação sexual com ninguém
mesmo usando os métodos preventivos.
Dando continuidade à aplicação das atividades sobre sexualidade, trabalhou-
se o conteúdo sobre os riscos de uma gravidez na adolescência, através de slides
show. Durante a aplicação houveram muitos questionamentos relacionados aos
riscos que as adolescentes e os bebês podem ter com uma gravidez nesta faixa
etária. Foi um momento de muita reflexão, pois eles nunca ouviram falar sobre tais
complicações, doenças e riscos. Após, foi realizada a atividade “Nada vai acontecer
comigo”, observou-se que todos os adolescentes perceberam que é possível
acontecer com eles também, se tiverem uma vida sexual ativa e não usar os
métodos contraceptivos corretamente. Outro momento bastante significativo foi
quando realizaram uma atividade simulando uma adolescente grávida, os demais
tiveram que dar motivos para ela ter ou não o bebê, foi um momento de muita
tensão, pois foi conclamada a responsabilidade e no final a maioria deu motivos para
que a adolescente grávida tivesse a criança e que era dela a decisão de ter ou não,
porém, na opinião deles ela deveria assumir o filho e as consequências por entender
que na legislação e lei brasileira o aborto é crime.
Assistiram ao filme “Juno” e após abriu-se uma grande discussão sobre a
responsabilidade que teriam, caso a gravidez precoce acontecesse com eles, mas
compreenderam que o melhor é a prevenção, fazer o uso corretamente dos métodos
contraceptivos e evitar a todo custo a gravidez na adolescência, pois entenderam
que terão sua juventude interrompida, muitas vezes deixando de estudar para
trabalharem mais cedo.
Na sequência foi aplicada a atividade de estudos de caso “A Estória de
Camila” onde tiveram a oportunidade de discutir e se posicionar frente a uma
gravidez e a importância de se planejar para ter uma relação sexual segura, durante
a atividade, mergulharam na estória e parecia que estavam vivendo a situação, foi
um momento bastante importante para eles, observou-se que os adolescentes tem
medo de enfrentar uma situação como a de Camila e da personagem do Filme Juno,
não estão preparados, e se auto avaliaram diante dos fatos estudados, concluíram
com a seguinte frase: “precisamos é estudar mais e esperar esta coisa de fazer
sexo”.
Na sequência aplicamos a atividade dos mitos, pois existem muitos mitos
dentro do tema sexualidade, foi um momento de muita aprendizagem. Além dos
questionamentos e esclarecimentos durante a aplicação deste trabalho, os
adolescentes produziram materiais relacionados ao conteúdo que aprenderam
durante o curso e construíram a árvore do conhecimento como produto final,
apresentando a evolução que alcançaram na aprendizagem. Considerando como
procedimento normal, ouve quatro desistências/transferências no decorrer da
implementação do projeto, finalizando com 11 adolescentes, sendo 06 meninos e 05
meninas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, com o tema
sexualidade e título “Gravidez na Adolescência: riscos e prevenção”, com alunos do
8º ano do ensino fundamental, mostrou o crescimento no conhecimento,
responsabilidade com relação à sexualidade, respeito com a individualidade sexual.
Demonstraram muito interesse no desenvolvimento dos trabalhos, envolveram-se
nas atividades propostas com muito entusiasmo e sem preconceitos, considerando
satisfatórios os resultados deste processo de implementação. Enquanto educadora,
considero importante o professor ter um relacionamento de afetividade com os
alunos, a fim de despertar o interesse na aquisição do conhecimento para prepará-
los a enfrentar situações adversas em seu cotidiano.
REFERÊNCIAS
CARLOS, R. Cresce o número de adolescentes grávidas no Brasil [online]. Disponível em: <http://robertocarlosc.wordpress.com/2013/01/18/cresce-o-numero-de-adoles- centes-gravidas-no-brasil/>. Acesso em: julho de 2014.
COATES, V; SANT'ANNA, M.J.C. Gravidez na Adolescência. FRANÇOSO LA, GEJER D, REATO LFN. Sexualidade e Saúde Reprodutiva na Adolescência. São Paulo, Editora Atheneu, 2001, pp. 71-84.
GUIMARÃES, E.A; WITTER, G.P. Gravidez na adolescência: conhecimentos e prevenção entre jovens. Boletim Academia Paulista de Psicologia, v.27, n.2, p. 167-180, 2007. MAZZINI, M.L.H. (2003). A construção da identidade materna na adolescente grávida. Mestrado, Universidade de São Paulo: Ribeirão. MORAES, R.R.A. Gravidez na adolescência, 2007. Disponível em: http://www.infoescola.com/sexualidade/gravidez-na-adolescencia. Acesso em 24 de abril de 2014. OLIVEIRA, M.W. Gravidez na adolescência: Dimensões do problema. Cadernos
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RODRIGUES, R.M. Gravidez na Adolescência. Nascer e Crescer [online]. v.19, n.3, pp. 201-201, 2010.