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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Para recuperar a sua própria identidade e resgatar a dívida que tem para com seus cidadãos de origem africana, urge à nação brasileira mergulhar nas dimensões mais profundas desta herança civilizatória africana. Abdias Nascimento
IDENTIFICAÇÃO:
TÍTULO: A representação do negro na literatura brasileira: um diálogo com a Estética da Recepção.
Autor: Denise de Lourdes Gallo da Rocha
Disciplina: Língua Portuguesa
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual João Cavalli da Costa EFM. Rua Moisés Lupion 886, Centro, Palmital- Paraná
Município da Escola: Palmital – Pr
Núcleo Regional de Educação: Pitanga – Pr
Professor Orientador: Prof. Dra. Daniela Silva da Silva
Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual do centro Oeste – Unicentro
Relação Interdisciplinar: ----------------------------------------------------
Resumo: Este trabalho é parte integrante do PDE e será implementado numa turma de Segundo Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual João Cavalli da Costa EFM, tendo como objetivo desenvolver a leitura e o senso crítico dos alunos, suscitando uma reflexão sobre o preconceito racial na sociedade e, mais especificamente, no ambiente escolar, questionando também o papel do negro na literatura brasileira, sua importância enquanto personagem e a
presença do mito na literatura. Para tanto, foi selecionado o romance O mulato, de Aluízio de Azevedo, como principal obra de estudo, tendo outros gêneros textuais: o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, o poema Navio Negreiro, de Castro Alves e o filme Orfeu, de Cacá Diegues, como material de apoio. Este estudo é embasado na teoria da Estética da Recepção e no Método Recepcional, cujo principal objetivo é proporcionar um olhar mais amplo sobre o texto tornando possível a ruptura e a ampliação dos horizontes de expectativas do público leitor. Serão contempladas as cinco etapas da teoria, conforme preconizam Vera Teixeira Aguiar, Maria da Glória Bordini e Regina Zilberman, representantes da teoria de Jauss e Iser no Brasil;
Palavras-chave: RACISMO, LITERATURA, MITO.
Formato do Material Didático: Caderno Temático
Público Alvo: Alunos do Segundo Ano do Ensino Médio
APRESENTAÇÃO:
Democracia Racial é uma expressão usada para descrever as relações
raciais no Brasil. O termo denota a crença de que o país escapou do preconceito e
da discriminação vista em outros países, mais especificamente nos Estados Unidos.
Pesquisas comprovam que a maioria dos brasileiros não se veem pelas lentes da
discriminação. A Democracia Racial, no entanto, é desmitificada por sociólogos e
antropólogos que estudam casos de preconceito de raça e cor, e ainda, por dados
de violência motivada por diferenças raciais. O preconceito é intrínseco à sociedade
e ainda que a maioria das pessoas afirme não ser preconceituosa, afirma que
conhece alguém que o é. Portanto, a democracia racial é uma meta que ainda está
longe de ser atingida, é um mito da sociedade brasileira que tenta criar uma imagem
positiva que não coincide com a realidade.
Embora muitos séculos tenham transcorrido desde que o primeiro navio
negreiro aportou no Brasil, os afrodescendentes ainda são discriminados por
aqueles que se consideram intelectual e moralmente superiores em virtude da cor da
pele.
De acordo com Marina de Mello e Souza (2006):
Depois de uma dura travessia pelo Oceano atlântico, os negros foram obrigados a mudar sua maneira de viver, adaptando seus costumes e suas tradições ao novo ambiente. Misturando-se aos povos que aqui encontraram, esses negros deram origem à mestiçagem que amorenou nossa pele, alongou nossa silhueta, encrespou nossos cabelos e nos conferiu a originalidade de gestos macios e andar requebrado. Ao incorporarem elementos africanos ao cotidiano das lavouras, dos engenhos e das cidades, construíram uma nova identidade e nos legaram o que hoje chamamos de cultura afro-brasileira. ( SOUZA, 2006. p. 07)
Abordar este tema em sala de aula é promover a reflexão sobre a diversidade
étnica, gerar debates e suscitar comportamentos de respeito e tolerância. Sendo
assim, este trabalho tem por objetivo promover a discussão e ampliação dos
conhecimentos dos alunos acerca da presença do negro na literatura, tendo por
base o romance O mulato, de Aluízio de Azevedo. O conto Negrinha, de Monteiro
Lobato, o poema Navio negreiro, de Castro Alves, e o filme Orfeu, de Cacá Diegues,
servirão como material de apoio a este estudo partindo da problemática que a
literatura pode contribuir para uma reflexão sobre a discriminação na escola e na
sociedade. A leitura de gêneros diversos sobre o mesmo tema visa a ampliação dos
conhecimentos dos alunos, atendendo ao que propõe as DCEs (2008) é dever da
escola proporcionar ao aluno diversos tipos de textos.
Embasando-se na teoria da Estética da Recepção e no Método Recepcional,
ocorrerá a determinação do Horizonte de Expectativas da turma, a fim de prever
estratégias de ruptura e transformação deste horizonte, promovendo mudanças na
maneira como o leitor recebe o texto e o efeito que causa nele esta recepção.
Objetiva-se, portanto, suscitar a reflexão sobre o preconceito racial na sociedade e
mais especificamente no ambiente escolar e sobre o papel do negro na literatura
brasileira. Para isso, será necessário conceituar os temas literatura e discriminação.
O trabalho a ser realizado, com base nos textos literários, analisará o papel
desempenhado pelo negro na literatura e suas contribuições para a formação da
identidade brasileira, questionando se a literatura permite pensar a questão da
discriminação na sociedade e no ambiente escolar.
MATERIAL DIDÁTICO:
A implementação deste caderno será desenvolvida em cinco unidades. Cada
unidade contemplará uma das etapas da Estética da Recepção e necessitará de
aproximadamente seis aulas, com exceção da primeira e da última unidade que
demandarão uma aula a mais cada, em virtude do grau de dificuldade das mesmas,
totalizando assim as trinta e duas aulas previstas. Os alunos farão ainda algumas
atividades em casa, como a leitura do romance, e atividades em contra-turno como
ensaios para encenação e declamação, dentre outras.
UNIDADE 1
Determinação do horizonte de expectativas:
Determinar o horizonte de expectativas da turma é o primeiro passo dado pelo
professor, que a partir daí deverá prever estratégias de ruptura e transformação
desse horizonte.
Aguiar e Bordini (1993), partindo dos pressupostos da Estética da Recepção,
de Iser e Jauss, elaboraram o Método Recepcional, que é sugerido pelas Diretrizes
Curriculares para o ensino de Língua Portuguesa como norteador do ensino de
literatura:
Esse horizonte de expectativas conterá os valores prezados pelos alunos, em termos de crenças, modismos, estilos de vida, preferências, preconceitos e interesses […] As características desse horizonte podem ser constatadas pelo exame dos conhecimentos e leituras anteriores dos alunos, através de técnicas variadas como: observação direta do comportamento, reações espontâneas a leituras realizadas, expressões em debates e discussões, respostas a entrevistas e questionários, ou outras manifestações quanto a sua experiência das obras. (AGUIAR e BORDINI, 1993. p. 88)
O professor deve considerar nesta etapa não apenas os conhecimentos e
leituras anteriores dos alunos, mas, também o contexto social em que vivem, seus
interesses e preconceitos. Essa sondagem fica a critério de cada professor. As
atividades relacionadas a seguir são apenas sugestões de como determinar o
horizonte de expectativas da turma.
A primeira unidade só será iniciada após a apresentação, e a devida aprovação, do
projeto pela direção e equipe pedagógica da escola. A apresentação para a turma
consistirá em explanação sobre a produção didática, organizada em slides,
utilizando projetor multimídia. Na sequência, ocorrerá a motivação da turma para o
debate, por meio de uma sondagem referente ao que conhecem sobre o tema, e
para a realização das atividades propostas.
Questões para o debate:
1) Como vocês veem o tema afrodescendência?
2) Como esse tema chega até vocês?
3) Como a arte, a cultura e a história abordam esse tema?
- Exibição do Vídeo “Negros”. Disponível em: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/ nerea Acesso em 15/08/2013.
Obs: Exibir somente o início. Pausar. E questionar :
1) O que vocês acham que vai acontecer na sequência? ( Pedir que escrevam um parágrafo):______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
(Recolher as respostas )
- Continuar a exibição do vídeo.
-Comentários referentes ao tema abordado (explorando a oralidade):
2) Qual a impressão que se tem no início do vídeo? Por quê?
3) Essa impressão se confirma no final?
4) Será que essa impressão é comum? Por quê?
5) Você se surpreendeu com o desfecho do vídeo? Por quê? Aplicação do questionário com questões relativas ao tema Preconceito racial na
escola. (Pedir que respondam em sala e recolher as respostas para comparativos ao
final da implementação do projeto, a fim de verificar se houve mudanças de
conceitos ou não.)
QUESTIONÁRIO:
1) Na sua opinião, brancos e negros são tratados de forma igualitária na sociedade?Por quê?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2) Você conhece pessoas que têm atitudes racistas? Que atitudes?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3) O que você aprendeu na escola sobre o papel do negro na história do Brasil?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4) Na sua opinião o que teria acontecido com os negros depois da assinatura da Lei Áurea?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5) Que papel é destinado ao negro na literatura? Como ele é representado nos romances, contos e poemas?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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6) Como o negro é representado nas novelas, filmes e comerciais de TV?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7) O que você sabe sobre a Lei 10.639/2003?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
8) Qual a sua opinião sobre a cota para negros em universidades? Justifique sua resposta:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9) O mito da democracia racial é algo bem presente na cultura brasileira. Acredita- se que o Brasil não é um país racista. Você concorda com esta afirmação? Justifique:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10) Em pleno século XXI ainda faz sentido debater o tema racismo? Por quê?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Apresentação do Romance O mulato, de Aluísio de Azevedo, início da leitura (ler
com a turma o primeiro capítulo em sala) e motivação para que continuem lendo a
obra em casa. Vale ressaltar que a principal estratégia para despertar o interesse do
aluno pelo livro é a motivação. O professor pode fazer um resumo oral do enredo,
contextualizando a obra e o autor. É interessante, porém, que nessa apresentação
oral, seja ocultado o final do enredo como forma de motivar a leitura, aguçando a
curiosidade dos alunos para o desfecho do romance. Somente após esse trabalho
de aguçar a curiosidade da turma é que serão liberados os empréstimos dos livros,
já reservados pelo professor, na biblioteca da escola.
Importante: Ao levar os textos para a sala de aula, o professor deverá mostrar
o livro, a fonte de onde retirou.
O mulato
Este romance de Aluísio de Azevedo, publicado em 1881, no auge da campanha
abolicionista, causou escândalo na sociedade maranhense, não só pela crua linguagem
naturalista, mas pelo assunto que abordava: o preconceito racial.
O autor retrata a sociedade maranhense conservadora e racista, e narra a história
de Raimundo, o protagonista. Saindo criança de São Luís para Lisboa, Raimundo
viajava órfão de pai, um ex-comerciante português, e afastado da mãe, Domingas, uma
ex-escrava do pai.
Depois de anos na Europa, Raimundo volta formado para o Brasil e decide
regressar a São Luís para rever seu tutor e tio, Manuel Pescada. Bem recebido pela
família do tio, Raimundo desperta logo as atenções de sua prima Ana Rosa que, em
dado momento, declara-lhe seu amor. Essa paixão correspondida encontra, todavia, três
obstáculos: o do pai, que queria a filha casada com um dos caixeiros da loja; o da avó
Maria Bárbara, mulher extremamente racista, que despreza Raimundo por ser mulato e
o do Cônego Diogo, frequentador da casa de Manuel e adversário natural de Raimundo.
Todos eles conheciam as origens de Raimundo. Mas, o Cônego Diogo era o mais
empenhado em impedir a ligação, uma vez que fora responsável pela morte do pai do
jovem. Depois que Raimundo nasceu, seu pai, José Pedro da Silva, casou-se com
Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca. Suspeitando da atenção
particular que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas,
Quitéria ordena que açoitem a negra e lhe queimem as partes genitais. Desesperado,
José Pedro carrega o filho e leva-o para a casa do irmão, em São Luís. De volta à
fazenda, imaginando Quitéria ainda refugiada na casa da mãe, José Pedro ouve vozes
em seu quarto. Invadindo o local, o fazendeiro surpreende Quitéria e o então Padre
Diogo em pleno adultério.
Desonrado, o pai de Raimundo mata Quitéria, tendo Diogo como única
testemunha. Graças à culpa do adultério e à culpa do homicídio, forma-se um pacto de
cumplicidade entre ambos. Diante de mais essa desgraça, José Pedro abandona a
fazenda, retira-se para a casa do irmão e adoece.
Algum tempo depois, já restabelecido, José Pedro resolve voltar à fazenda, mas,
no meio do caminho, é tocaiado e morto. Por outro lado, aos poucos, o Padre Diogo
começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada.
Raimundo desconhece essa parte da história, e, em São Luís, já adulto, sua
preocupação básica é a de desvendar suas origens e, por isso, insiste com o tio em
visitar a fazenda onde nascera. Durante o percurso a São Brás, Raimundo começa a
descobrir os primeiros dados sobre suas origens e insiste com o tio para que lhe
conceda a mão de Ana Rosa. Depois de várias recusas, Raimundo fica sabendo que o
motivo da proibição devia-se à cor de sua pele. Apesar das proibições, Ana Rosa e ele
planejam fugir juntos e comunicam-se por cartas. No entanto, a carta principal fora
interceptada por um cúmplice do Cônego Diogo, o caixeiro Dias, empregado de Manuel
Pescada e forte pretendente, sempre repelido, à mão de Ana Rosa.
Na hora da fuga, os namorados são surpreendidos. Arma-se o escândalo, do qual
o cônego é o grande regente. Raimundo retira-se desolado e, ao abrir a porta de casa,
um tiro acerta-o pelas costas. Com uma arma que lhe emprestara o Cônego Diogo, o
caixeiro Dias assassina o rival. Ana Rosa, abalada, perde o filho de Raimundo. Seis
anos se passam e, ela sai de uma recepção oficial, de braço com o Sr. Dias e
preocupada com os "três filhinhos que ficaram em casa, a dormir".
(Aluísio Azevedo)
Fonte: O mulato. Aluísio Azevedo. Ed. Martins. São Paulo, 1974.
Nesta etapa o professor irá propor aos alunos a criação de uma página no Facebook
para postagem de comentários sobre as atividades realizadas e os textos lidos,
principalmente o romance que deverão ler em casa e comentar nessa página,
inclusive, respondendo as questões elaboradas pela professora em um fórum de
discussão. Uma vez que as produções dos alunos precisam ser expandidas para
além dos muros da escola, o aluno precisa sentir que seus textos têm função social.
Esta atividade de acesso à página, postagem de comentários e respostas às
questões é parte integrante da avaliação final do projeto.
UNIDADE 2
Atendimento do Horizonte de Expectativas:
Esta etapa consiste em proporcionar à classe experiências com gêneros
textuais que satisfaçam as suas necessidades, em dois sentidos, conforme orienta
a teoria de Aguiar e Bordini:
[…] primeiro em relação ao objeto, uma vez que os textos escolhidos para o trabalho em sala de aula serão aqueles que correspondem ao esperado. Segundo quanto às estratégias de ensino, que deverão ser organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado. O professor precisa perceber os elementos temáticos ou estruturais que atraem a atenção e o prazer dos alunos, buscando similares para os mesmos nas obras literárias de que dispõe, podendo trazer para a sala de aula: filmes, músicas, vídeo clipes e outros gêneros atrativos à turma e que abordem o tema estudado nos livros.( Aguiar e Bordini, 1993. p. 89)
Considerando o que propõem as autoras, foi selecionado para esta etapa o
filme Orfeu, gênero textual que servirá de material de apoio ao aprofundamento do
tema em estudo. Ao iniciar o trabalho de apresentação de fragmentos do filme o
professor deverá elaborar previamente questionamentos sobre o que os alunos
conhecem em relação ao mito do Orfeu grego e o que sabem sobre mitologia, o
objetivo desta atividade é desenvolver a oralidade, portanto, não há necessidade de
produção escrita dos alunos. Na sequência conceituar mito e como esse mito
demonstra um pensamento universal. No momento da conceituação, primeiramente,
o professor conta oralmente, depois os alunos leem os textos, cuja cópia deverão
colar no caderno. É importante enfatizar que o filme em questão é uma versão
criada para o cinema e que possui intertextualidade (criação de um texto a partir de
outro já existente) com a mitologia grega.
O que é mito?
Mito, de acordo com o dicionário Aurélio (2004) é uma narrativa utilizada
pelos povos gregos antigos para explicar fatos da realidade e fenômenos da
natureza, as origens do mundo e do homem, que não eram compreendidos por
eles. Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses
e heróis. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características
humanas e pessoas que realmente existiram. Um dos objetivos do mito era
transmitir conhecimentos e explicar fatos que a ciência ainda não havia explicado,
através de rituais em cerimônias, danças, sacrifícios e orações.
Fonte: Dicionário Aurélio, 2004. p. 896.
Quem é Orfeu?
Orfeu nasceu nas vizinhanças do Olimpo, frequentado pelas musas. Ele era
excelente poeta, cantor e músico, sendo considerado o inventor da cítara. Passava
o dia cantando ao som de sua lira, a qual aumentou de sete para nove cordas. Seu
canto era tão melodioso que, ao ouvi-lo, os homens mais brutais ficavam
sensibilizados, as feras mais ferozes vinham repousar a seus pés mansamente, os
pássaros pousavam nas árvores, os rios suspendiam seu curso e as árvores
formavam coros de dança. Devido à sua fraqueza física, Orfeu participou da
expedição dos Argonautas, apenas marcando a cadência dos remadores. Durante
as tormentas ele abrandava as vagas e tranquilizava a tripulação com seu canto. E,
quando as sereias começavam a cantar, Orfeu entoava cantos mais agradáveis que
o delas, livrando os remadores do fascínio. Orfeu era apaixonado por Eurídice, filha
de Apolo. No dia de seu casamento, Eurídice, sua noiva, caminhava pelas margens
do rio, quando apareceu Aristeu, que tentou violentá-la. No desespero de se livrar
do atacante, ela pisou numa serpente escondida na vegetação e morreu depois de
ser picada. Orfeu julgou que devia procurá-la, mesmo entre os mortos. Tomou sua
lira e desceu ao inferno para resgatar sua amada. No inferno, Orfeu encanta com
sua música todos os seres sombrios e monstruosos que lá habitam. O herói
sensibilizou também os reis do inferno, o deus Hades e sua esposa Perséfone, e
conseguiu permissão para levar Eurídice de volta ao mundo da luz. Apenas uma
condição é estabelecida por Hades e Perséfone: Orfeu só poderia olhar para sua
amada depois de terem saído do inferno. O casal dirige-se ao mundo dos vivos,
sendo Orfeu seguido a certa distância por Eurídice. Contudo, no momento em que
já estão completando o percurso, Orfeu, para certificar-se de que a amada estava
por perto, olha para trás e vê Eurídice perder-se para sempre nos abismos do
inferno.Fonte: Dicionário de mitologia grega e romana. Mário da Gama Kury. 8 ed. Rio de Janeiro: Zahar,
2008. p. 251.
A presença dos mitos da ancestralidade africana é muito marcante na cultura
brasileira, mais especificamente no estado da Bahia, onde mesmo sofrendo todo tipo
de repressão conseguem resistir e perduram, até hoje nos rituais sagrados, como o
candomblé, e ainda na capoeira, nas rodas de samba, no carnaval e em outras
festividades.
- Exibição do fragmento do filme Orfeu, cena em que o protagonista resgata o corpo da amada.
Diponível em: www.ipeafro.org.br acesso em: 10/08/2013. Disponível em: www.cineclick.com.br acesso em 12/08/2013
- Discussão acerca do tema e reflexão referente ao mito presente no filme:
Em dupla, os alunos deverão responder as questões:
1) Qual a representatividade do Orfeu negro do filme em contraste com o Orfeu
grego da mitologia?
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2) Quem é Eurídice na mitologia grega e no filme?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3) No contexto do filme, qual a importância do carnaval?______________________________________________________________________________________________________________________________________
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4) Como é representada a religiosidade?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5) Como se dão os rituais de celebração no filme?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6) Quais os mitos da cultura negra apresentados no filme e qual a influência desses mitos na sociedade brasileira?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7) Pedir que elaborem mais duas questões sobre o filme:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
8) Propor que, em grupo, produzam paródias a partir do filme, como um Rap, por exemplo._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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Sinopse do filme:
Baseado na peça de Vinícius de Morais, o filme conta a história do jovem
líder de Escola de Samba, principal poeta e compositor, Orfeu (Toni Garrido) que se
apaixona pela bela Eurídice (Patrícia França), recém-chegada de uma pequena
cidade na floresta amazônica. Assim, ele divide sua atenção: entre os quatro dias
de carnaval e Eurídice, até que esta é vítima de traficantes de drogas que dominam
a área em que mora. O exemplo de Orfeu, de sua arte e de sua paixão, serve de
instrumento de vitória na luta de sua comunidade contra a violência cotidiana. Mira,
ex-namorada de Orfeu, inconformada com o amor dele por Eurídice transpassa-o
com uma lança no momento em que ele chega à favela após ter resgatado o corpo
da amada de um precipício onde fora atirada por seu assassino. Orfeu cai, morto,
sobre o corpo de sua amada, diante dos olhares dos amigos, familiares e curiosos
que se aglomeram na rua e choram sua morte.
Ficha técnica:
Título: Orfeu
Gênero: Drama
Direção: Cacá Diegues
Duração: 111 min.
Lançamento: Brasil, 1999
Estúdio: Rio Vermelho Filmes/ Globo Filmes
Levar os alunos ao laboratório de informática e auxiliá-los (se necessário) a acessar
a página do Facebook para postar as atividades já realizadas e interagir com os
colegas por meio do fórum elaborado previamente pelo professor. Uma vez
encaminhada esta etapa, os alunos deverão acessar regularmente a página e
realizar as atividades propostas.
UNIDADE 3
Ruptura do Horizonte de Expectativas:
É prevista para esta etapa a introdução de textos e atividades que abalem as
certezas e costumes dos alunos, seja em termos de literatura ou de vivências
culturais.
Essa introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas: o tema, o tratamento, a estrutura ou a linguagem. Entretanto, os demais recursos compositivos devem ser diferenciados de modo que o aluno ao mesmo tempo perceba estar ingressando num campo desconhecido, mas, também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência. O importante é que os gêneros trabalhados nesta etapa apresentem maiores exigências do aluno, quer seja por discutirem a realidade, quer seja por utilizarem técnicas compositivas mais complexas. ( AGUIAR e BORDINI, 1993.p. 90)
É importante cuidar para que as atividades e leituras propostas não se tornem
repetitivas, mas, que despertem o senso crítico, exigindo participação ativa e
representando um desafio para a turma. A temática trabalhada é a mesma, contudo,
o professor apresenta outros gêneros textuais.
Para que haja uma compreensão dos textos literários selecionados para o
desenvolvimento deste projeto, é mister que, primeiramente, o aluno saiba o que é
literatura. Assim sendo, será necessário que o professor apresente uma
conceituação do termo.
De acordo com as Diretrizes Curriculares para o ensino de Língua Portuguesa
( 2008) a Literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida
social e o entendimento do que seja o produto literário está sujeito a modificações
históricas. Ou seja, o entendimento que o aluno fará do texto literário não dependerá
apenas de sua constituição, mas das relações dialógicas com outros textos e com o
contexto de produção, a linguagem, a cultura, dentre outros.
Para Peixoto (1940.p.132) “a Literatura é uma forma de expressão da
sociedade. Logo, os autores utilizam suas obras para refletir seu estado de espírito
ou situações pelas quais passa a sociedade.” Por sua vez, Afrânio Coutinho (1988.
p.99) conceitua Literatura como: “[...] uma transfiguração do real, é a realidade
recriada, através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as
formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade”.
Enquanto que, para Candido (1972. p. 508), “a literatura é vista como arte que
transforma e humaniza o homem e a sociedade.” O autor atribui à literatura três
funções: a psicológica, a formadora e a social. Essas três funções são descritas nas
DCEs (2008):
A primeira, função psicológica, permite ao homem a fuga da realidade, mergulhando num mundo de fantasias, o que lhe possibilita momentos de reflexão, identificação e catarse. Na segunda, função formadora, o autor afirma que a literatura, por si só, faz parte da formação do sujeito, atuando como instrumento de educação, ao retratar realidades não reveladas pela ideologia dominante. A função social, por sua vez, é a forma como a literatura retrata os diversos segmentos da sociedade, é a representação social e humana. Candido cita o regionalismo para exemplificar essa função. ( DCEs, 2008, p.57 )
Vale ressaltar que esta conceituação de Literatura não é única, além dela
existem outras, de diversos autores, que poderão ser utilizadas em outros
momentos, a critério de cada professor. Após essa conceituação, e, tendo verificado
que os alunos compreenderam, será possível a leitura e análise dos gêneros
textuais elencados. Na sequência, o professor poderá conceituar discriminação e
preconceito racial, abordando a Lei 10.639 e a obrigatoriedade do ensino da Cultura
Afro-brasileira e Africana na Educação Básica:
Artigo 26-A da LDB:
A Lei 10.639/2003 de 10 de janeiro de 2003, em seu artigo 26-A, altera a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação e, inclui no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade do ensino da Cultura Afro-brasileira e africana na Educação Básica,
conforme os incisos 1º e 2º:
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o
estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura
negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à
História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e à Cultura Afro-Brasileira serão
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
Disponível em www.seed.pr.gov.br Acesso em: 27/08/2013. Texto transcrito conforme o original.
O que é discriminação e preconceito racial?
Preconceito racial é um juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude
discriminatória, perante pessoas de cor ou raça que difere do padrão, colocando-as
em situação de inferioridade por causa da cor da pele ou etnia. O preconceito pode
ficar apenas no pensamento do indivíduo, ou, ser manifestado por meio de ações
discriminatórias como: piadas ou expressões de mau-gosto, hostilidades ou até
agressões verbais ou físicas. Em outras palavras, preconceito é aquilo que o
indivíduo pensa; discriminação é quando ele transforma seu pensamento em
ações discriminatórias.
Fonte: www. scielo.br/ pdf ( acesso em 01/10/2013)
Com a leitura e discussão do conceito de discriminação e do texto da Lei 10.
639/ 2003, pretende-se também desconstruir equívocos históricos, tais como o mito
da democracia racial, que vem ao longo do tempo prestando-se para legitimar a
desigualdade racial e social no Brasil, focalizando o processo de naturalização do
preconceito e do estereótipo que torna o indivíduo, voluntária ou involuntariamente,
cúmplice de sua perpetuação.
De acordo com Góes ( 2006):
A escravidão era uma atividade organizada, sancionada pela lei e pelo costume, desde 1.600, na costa oriental africana. Quando havia luta entre tribos, os derrotados eram vendidos como escravos. […]Já no Brasil, quando eram alforriados, muitos negros conseguiam poupar um bom dinheiro ganho com o trabalho livre, porém, apesar de livres e ricos não se tornavam senhores ou senhoras da elite, continuavam carregando o estigma da cor, portanto continuavam sendo discriminados. (GÓES, 2006. p.52)
É importante, neste ponto, abordar a temática da legitimação da escravidão
no Brasil, em que o tráfico de escravos era legalizado pelo Estado que,
posteriormente, foi responsável pela implementação da política de branqueamento
da população brasileira e pela não criação de um política de inclusão do negro no
mercado de trabalho logo após a abolição, deixando-os sem alternativas de
sobrevivência digna. Portanto, a origem da desigualdade social no Brasil está
atrelada à questão racial, visto que, o imigrante absorveu as melhores oportunidades
de emprego, sobrando para o ex-escravo as tarefas mais árduas e mal-
remuneradas.
A apresentação dos principais artigos, com informações básicas da Lei, será
realizada por meio da projeção de slides. A seguir cada aluno receberá uma cópia
da alteração ocorrida na LDB, com o texto na íntegra, para leitura complementar e
colagem no caderno. Uma vez realizadas as atividades acima e certificando-se de
que todos os alunos conseguem acompanhar e compreender as informações que
recebem, acontecerá a leitura do poema “Navio Negreiro “, de Castro Alves:
NAVIO NEGREIRO
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade,
Tanto Horror perante os céus?!
Ó mar por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?
[...]
Astros! Noites! Tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares tufão!
[…]
( Castro Alves)Fonte: Os melhores poemas de Castro Alves, 1983. p. 76 e 77.
- Discussão dirigida sobre o tema: é possível promover um debate, dividindo a turma em dois grupos;
- Interpretação oral, enfatizando o tema abordado, as condições sub-humanas em
que os negros eram transportados nos navios negreiros e o apelo do eu-lírico
para que Deus afundasse o navio e acabasse com tamanho sofrimento;
- Ilustração de fragmentos do poema;
- Leitura dramatizada e motivação para declamação;
- Ensaios para a declamação.
UNIDADE 4
Questionamento do Horizonte de Expectativas:
Esta etapa é decorrente da comparação entre as três anteriores. Com base
no material literário já trabalhado, será realizada uma análise do tema abordado,
identificando os níveis de dificuldades encontrados, de descobertas realizadas e de
níveis de satisfação atingidos.
Executada a análise comparativa das experiências de leitura, a turma debaterá sobre seu próprio comportamento em relação aos textos lidos, detectando os desafios encontrados , processos de superação dos obstáculos relativos à composição ou sentido dos mesmos. Desse trabalho surgirão perspectivas sobre aspectos que ainda oferecem dificuldades, definições de preferência e transposições dos conhecimentos adquiridos para a vida real. Esta etapa implica em retomada das leituras, questionamentos, discussões, anotações e produções individuais ou coletivas realizadas nas etapas anteriores. ( AGUIAR e BORDINI, 1993. p. 90-91)
Este é o momento de verificar que conhecimentos adquiridos ou vivências
pessoais proporcionaram maior facilidade de entendimento dos textos lidos e do
tema abordado.
Leitura individual e silenciosa do conto de Monteiro Lobato. Esse primeiro contato do
aluno com o conto é para conhecer a obra.
Negrinha
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha
escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Os seus primeiros anos vivera pelos
cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre
escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos
padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas
as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia
as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa
senhora, em suma, “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da
moral”, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança.
Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da
carne de sua carne, e por isso, não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal
vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno?
A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para
os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero:
— Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou
frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer... Assim cresceu
Negrinha, magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro
anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia
dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo
ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas
quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando
as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.
— Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos
[...]
( Monteiro Lobato)Fonte: Negrinha e outros contos. Monteiro Lobato. Brasiliense. São Paulo, 1994 p. 34 e 35.
Após a leitura silenciosa e questionamentos acerca da compreensão do texto, será
realizada a leitura coletiva, com a orientação da professora. Esta estratégia permite
ao aluno ouvir e participar. Na sequência, haverá uma discussão dirigida acerca do
gênero textual em questão, bem como do tema abordado, com interpretação oral e
escrita, lembrando que neste momento o objetivo não é explorar a questão
gramatical e sim a leitura (gênero e composição textual).
QUESTÕES:
1) Qual o enredo do conto?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2) É possível afirmar que o narrador do conto faz uso da ironia? ( figura de linguagem que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa)? Exemplifique com uma frase do texto:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3) Em que condições reais vive a menina?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4) Como o autor descreve fisicamente a menina? E psicologicamente?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5) Qual era o pretexto da “boa senhora” para manter a menina na sala, “ao pé de si?”_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6) Que sentimentos a leitura provocou em você? Produza um texto
(aproximadamente 15 linhas), expressando sua opinião e seus sentimentos em
relação ao conto (os textos serão recolhidos pela professora para posterior correção
e exposição).
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UNIDADE 5:
Ampliação do Horizonte de Expectativas:
Nesta etapa os alunos tomam consciência das alterações ocorridas em
relação ao conhecimento que tinham do tema abordado e da ampliação desse
conhecimento, como resultado das leituras, pesquisas e debates realizados.
Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais, verificam que suas exigências tornaram-se maiores, bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada. Essa tomada
de consciência é uma atitude individual e grupal dos próprios alunos. Deve-se salientar que sua verbalização acontece por iniciativa dos mesmos, sem intervenção direta do professor. O papel do mestre, neste momento, é o de provocar seus alunos e criar condições para que avaliem o que foi alcançado e o que resta a fazer. Desse estágio em diante partem em busca de novos textos que atendam suas expectativas já ampliadas em torno de temas e composições mais complexas. Reiniciando assim todo o processo do método, que evolui em espiral, contudo, agora a etapa inicial já conta com a participação e motivação bem mais elevada da turma. Com o aprimoramento da leitura, numa percepção estética e ideológica mais apurada, e com visão crítica, o aluno torna-se agente da própria aprendizagem, determinando a continuidade do processo, num constante enriquecimento cultural e social. (AGUIAR e BORDINI, 1993. p. 91)
Assim sendo, cabe ao professor a tarefa de selecionar textos referentes à
realidade do aluno, mas, que ao mesmo tempo sejam capazes de romper com essa
realidade, desenvolvendo sua capacidade de refletir e interpretar os textos lidos.
Segundo Iser (1996) é tarefa do leitor/aluno o preenchimento dos vazios do texto,
auxiliado, sempre que necessário, pelo professor. Regina Zilberman (1989) por sua
vez, enfatiza que: a literatura age sobre o leitor, mudando seu jeito de ver o mundo.
Como atividades a serem desenvolvidas nesta etapa estão previstas:
- Pesquisa on-line (no laboratório de informática), e bibliográfica (na biblioteca da
escola) sobre personalidades negras no Brasil e no mundo e sua contribuição para a
história e cultura de seus países.
- Produção de textos poéticos, informativos e/ou dissertativos sobre o tema em
estudo. Cada aluno escolhe o tipo de texto que quer escrever. Caberá ao professor
auxiliá-los depois na correção e reescrita, para exposição dos mesmos ao final do
projeto.
- Exibição do Vídeo-clipe com fragmentos da música “Racismo é burrice”, de Gabriel
o pensador (projetar o clipe utilizando o projetor multimídia, aliando som e imagens).
Antes de apresentar a música, conversar com os alunos sobre o autor: quem é,
como pensa, os temas abordados em suas músicas, sua filosofia de vida e postura
crítica diante de fatos polêmicos.
Racismo é burrice
Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado do oceano
O Atlântico é pequeno pra nos separar, porque o sangue é mais forte que a água do
mar.
Racismo, preconceito e discriminação em geral;
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal, que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes?
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
[…]
(Gabriel, o pensador)Disponível em: http://letras.mus.br/gabriel-pensador/137000. (acesso em: 30/08/2013)
Atividade de interpretação: Com base na letra na música, marque V para verdadeiro ou F para falso:
( ) A letra da música é uma crítica à hipocrisía do brasileiro que se diz não racista. ( ) De acordo com a música o preconceito é transmitido de pai para filho. ( ) No Brasil somente a elite é racista. ( ) O autor da música afirma que não há razão para preconceito, uma vez que no
Brasil não há uma raça pura. ( ) Alguns tipos de preconceito são justificáveis. ( ) Negros, mestiços e nordestinos são os que mais sofrem discriminação. ( ) O brasileiro precisa valorizar suas origens. ( ) O racismo no Brasil não é resultado de uma herança cultural. ( ) Fazer uma lavagem cerebral significa cada um se auto-avaliar e mudar seus conceitos. ( ) O maior ignorante é aquele que acredita que o racismo no Brasil não existe.
- Trabalho em grupo: elaboração de um novo vídeo, com imagens escolhidas pelo
grupo, utilizando a mesma música.
- Confecção de móbiles com os desenhos e produções de textos diversos sobre o
tema abordando diferentes gêneros e tipologias; (frases, poemas, textos
informativos, dissertativos etc) bem como material coletado durante a
implementação do projeto: reportagens, imagens, etc).
- Retomada do questionário respondido no inicio do projeto, discussão referente às
respostas e aos conhecimentos adquiridos sobre o tema: o que mudou e o que
permaneceu em relação aos conceitos que tinham no início do projeto, no intuito de
verificar se houve ou não mudanças de conceitos.
- Comparação entre as respostas dadas no inicio e as respostas dadas ao final do
projeto, verificando se a implementação do projeto agregou conhecimento e
transformou conceitos.
- Questionamento oral acerca dos gêneros textuais trabalhados. Os alunos deverão
observar os seguintes aspectos:
1) Como o tema é abordado em cada uma das obras estudadas?
2) Qual a relação entre o conto e o romance?
3) Qual a relação entre o poema e o filme?
4) Atividade de encerramento do projeto:Como socialização do projeto para a comunidade escolar haverá a montagem de
uma sala com as produções dos alunos, já revisadas pelo professor, e, informações
pertinentes como desenhos, fotos, fatos, textos diversos e notícias de jornais e
revistas. Como suporte para exposição dos trabalhos optou-se pelos móbiles
( utilizando papel cartão e linha de anzol suspensos a partir do teto da sala). A sala
ficará disponível para visitação das turmas e da comunidade escolar. Seguindo um
cronograma de visitas, previamente organizado, os visitantes receberão explicações
referentes ao trabalho realizado e assistirão à declamação encenada do poema
Navio Negreiro e à apresentação das paródias e de um dos clipes produzidos pelos
alunos e selecionado pela turma.
AVALIAÇÃO:
Será avaliada a participação dos alunos em todas as atividades propostas,
tanto individuais como coletivas, bem como na produção escrita, oralidade, e ainda,
acessos e postagens na página do Facebook.
Após a realização de todas as atividades, espera-se que os alunos sejam
capazes de utilizar a oralidade e a escrita como expressão do pensamento. Espera-
se ainda que, ao receberem diferentes tipos de textos, de variados gêneros textuais,
percebam as diferenças e particularidades de cada um, como linguagem, estilo e
características, diferenciando textos literários de não-literários.
Pretende-se que, ao final da implementação, tenham sido atingidos os
objetivos propostos, e que por meio dos textos selecionados a literatura tenha
contribuído para que o aluno aprenda a ver e entender as questões sociais. Pois,
segundo Antonio Candido ( 1972): a literatura tem a função de humanização do ser.
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS:
Para a implementação é fundamental que o professor, primeiramente,
conheça os gêneros textuais utilizados em cada uma das unidades propostas, e,
tenha conhecimento da teoria que fundamenta este trabalho, lendo as obras e
acessando os links, previamente.
A utilização do laboratório de informática e a criação da página no Facebook
requerem agendamento prévio e auxílio do funcionário responsável, se necessário.
As orientações metodológicas detalhadas estão contempladas no item
anterior, retomando os textos teóricos de Zilberman e Aguiar e Bordini acerca da
Estética da Recepção e Método Recepcional, relacionando teoria e prática em sala
de aula. Esse embasamento faz-se necessário, uma vez que, o que vai despertar a
prática é o conhecimento teórico. Contudo, essas informações são essenciais para o
professor, não para o aluno.
Sendo assim, durante a implementação, o detalhamento de cada etapa da
Estética da Recepção será suprimido do material impresso para os alunos. O
material será então composto apenas das atividades a serem realizadas, e dos
conceitos necessários sobre literatura, mito e discriminação, bem como dos gêneros
textuais em estudo. Obviamente, ao apresentar as obras aos alunos o professor
deverá ocultar o final, instigando assim a curiosidade pela leitura das mesmas.
Vale ressaltar que, as atividades elencadas são apenas sugestões, cada
professor poderá, a seu critério, elaborar e utilizar outras atividades que considerar
pertinentes à realidade de suas turmas.
As curiosidades, relacionadas ao final deste material, são informações
complementares, que poderão ser utilizadas ou não, dependo do interesse ou do
tempo disponível.
Espera-se que, ao final desta fase do processo, os alunos participantes do
projeto tomem consciência das alterações e aquisições de conhecimento, obtidos
por meio da experiência com a literatura.
CURIOSIDADES:
- A 1ª Constituição (1891) só dava direito a voto aos alfabetizados, ou seja, homens e brancos. (isso já excluía as mulheres e os negros)
- A abolição só aconteceu graças às pressões externas, ou seja, não foi por bondade da Princesa Isabel.
- O Brasil tem uma dívida para com os grupos marginalizados socialmente, especialmente os negros.
- Conforme pesquisa realizada pelo Fantástico, em setembro de 2013: do total de meninos que vivem nas ruas, atualmente, 76% são negros ou pardos.
- Ter escravos não era considerado errado: tratava-se de um costume tido como correto pela lei e pela tradição. Era uma atividade organizada.
- O movimento abolicionista teve início no Brasil em 1880 e contou com a participação de vários setores da sociedade brasileira, à excessão dos grandes proprietários de terra, como os cafeicultores paulistas, que certamente tinham muito a perder com o fim da mão-de-obra escrava.
Fonte: História e cultura Afro-brasileira. Revista Histedbr on-line. 2009. p. 194-206.
Fonte: www.globo.com/fantastico2013 . Acesso em 21/10/2013.
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ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção e apresentação Ledo Ivo. São Paulo: Global, 1983.
AZEVEDO, Aluísio. O mulato. São Paulo: Martins, 1974.
BRASIL, Lei de diretrizes e bases da educação. Lei Nº 9394/96. Rio de Janeiro, 1996.
BRASIL. Lei 10.639 - 09 de janeiro de 2003. Brasília: Ministério da Educação, 2003.
CÂNDIDO, Antônio. A literatura e a formação do homem. Ciência e cultura. São Paulo, vol.4, 1972.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil . 2. ed. Rio de Janeiro: Sul Americana, 1988.
FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
GÓES, José Roberto Pinto de. Negros: uma história reparada. Revista Insight Inteligência, número: 34, julho-setembro de 2006.
KURY, Mário da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. 8 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
LOBATO, Monteiro. Negrinha e outros contos. São Paulo. Brasiliense, 1994.
MARTINS, Marcos Francisco. História e cultura Afro-brasileira. Revista On-line. Campinas Nº 33, 2009.
NASCIMENTO, Abdias. Drama para negros e prólogo para brancos. Rio de Janeiro, Teatro experimental do negro, 1961. Disponível em http://www.ipeafro.org.br/home/br/acervodigital/45/54/817/dramasparanegroseprologoparabrancos acesso em: 25/04/ 2013.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica. Curitiba. SEED, 2008.
PEIXOTO, Afrânio. Panorama da literatura brasileira. São Paulo. Companhia Editora Nacional, 1940.
SOUZA, Marina de Mello. África e Brasil africano. São Paulo. Ática, 2006.
ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo. Ática, 1989.
Orfeu. Direção: Kaká Diegues. Gênero: Drama. Produção: Globo Filmes. Rio de Janeiro, 1999. Disponível em www.yootube.com/Watch?v=8ewWKVRO ( acesso em 26/04/20 13).
Outros sites consultados:
www.cineclick.com.br (acesso em: 12/08/2013})
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/ nerea (acesso em: 15/08/2013)
www.globo.com/fantastico201 3 (acesso em: 21/10/ 2013)
www.ipeafro.org.br (acesso em: 10/08/2013)
www.letras.mus.br/gabriel-pensador/137000 (acesso em: 30/08/2013)
www.scielo.br.pdf (acesso em: 01/10/2013)
www.significados.com.br (acesso em 12/05/2013)