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OS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO
DE UMA CADEIA DE INOVAÇÃO EM
CÉLULAS FOTOVOLTAICAS NO
BRASIL
Luciana Pereira (UFABC )
Rubens da Silva Milare (UFABC )
O objetivo do artigo é traçar um panorama das potencialidades da
energia solar utilizando células fotovoltaicas e suas implicações para o
desenvolvimento dessa indústria no Brasil. A sua base metodloógica é
um estudo de caso construído a paartir de fontes secundárias, tais
como os relatórios dos Ministérios de Minas e Energia (MME) e
Ciência e Tecnologia (MCT), Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar do potencial, a análise dos dados nos mostrou que, quando
comparados com outros países, as iniciativas brasileiras, tanto
públicas quanto privadas, estão longe de causar algum impacto
significativo. Podemos observar tal fato tanto em termos de geração de
energia como da própria viabilidade da criação de uma base industrial
que venha fomentar o setor com inovações em dispositivos e
equipamentos ou processos.
Palavras-chaves: Indústria energética, Células fotovoltaicas,
Inovação, Brasil
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
A energia gerada pelo Sol – na forma de calor e luz – é uma das alternativas energéticas mais
promissoras uma vez que, hoje, os combustíveis fósseis – petróleo, carvão mineral e gás
natural - são os principais recursos utilizados. Esses, por sua vez, são fontes esgotáveis para a
geração de energia. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi estudar o setor de células
fotovoltaicas para que se tenha um parâmetro das tecnologias e empresas envolvidas na sua
produção a fim de comparar com as capacitações necessárias para sua implementação no país.
O desenvolvimento da tecnologia para a energia solar fotovoltaica se apoiou, inicialmente, no
setor de telecomunicações como fonte de energia para sistemas montados em locais remotos.
A necessidade de se fornecer energia para o funcionamento de satélites impulsionou o
desenvolvimento de células solares por ser esse o meio mais adequado- em termos de custo e
peso – para geração de energia no espaço. (CRESESB, 1999).
A aplicação de células fotovoltaicas no Brasil ainda ocorre por meio de sistemas isolados das
redes de distribuição convencional de eletricidade. Ou seja, os sistemas não estão conectados
às rede capazes de gerar eletricidade para abastecer cargas em regiões remotas. Ainda assim.
é possível se observar a utilização de células em telhados de edificações, que basicamente
utilizam duas fontes de energia – a fotovoltaica e o sistema convencional de distribuição –
assim, se o consumo total for menor que aquele que as células fotovoltaicas podem fornecer, o
excedente pode ser injetado na rede de distribuição (ZILLES, FERREIRA, 2002).
A barreira econômica é uma desvantagem para o setor, pois o alto custo de processamento do
silício, que é utilizado para a fabricação das células, corresponde a 45% do preço final de uma
célula solar (ABINEE, 2012). Uma vez que os custos de instalação de um sistema
fotovoltaico conectado à rede são da ordem de US$ 700/m² ao se considerar toda energia
anual fornecida por este sistema, obtêm-se custos muito mais altos que o cobrado atualmente
para um consumidor residencial.
Portanto, as demandas por inovações tecnológicas em produtos e processos são fatores
importantes para a obtenção de novas fontes alternativas de energia. Dentre essas fontes, a
célula fotovoltaica é uma solução que causa menos impacto ao meio-ambiente. Entretanto,
sua viabilidade econômica, em virtude da necessidade de um refinado processo produtivo, é
uma barreira para sua implementação e difusão.
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Este relatório está dividido em cinco seções. Na parte seguinte à introdução, tem-se uma
retomada da bibliografia existente na literatura através de uma visão panorâmica sobre a
inovação tecnológica e as células fotovoltaicas. Em seguida, será mostrada a metodologia
utilizada, com informações sobre a coleta e o processamento de dados, consequentemente,
atrelada aos resultados onde é apresentada a construção do perfil da indústria. Por fim, são
apresentadas as conclusões.
2. A energia fotovoltaica
A energia fotovoltaica é uma tecnologia de geração de energia de corrente contínua a partir de
semicondutores quando eles são iluminados por fótons. Edmond Becquerel relatou o efeito
fotogalvânico em eletrólitos líquidos em 1839, quando nos extremos de uma estrutura de
matéria semicondutora surge o aparecimento de uma diferença de potencial elétrico, devido à
incidência de luz. No processo de conversão da energia radiante em energia elétrica a célula é
a unidade principal. (NASCIMENTO, 2004)
Os elétrons são bombeados da banda de valência para a banda de condução por fótons. Assim,
os elétrons são extraídos por um contato seletivo para a banda de condução (semicondutor
dopado-n) a uma energia mais alta e entregue a uma carga externa para realizar algum
trabalho útil, e então, são devolvidas à banda de valência em uma energia mais baixa por um
contato seletivo (semicondutor tipo-p).
Figura 2.1 Representação de uma célula solar
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Fonte: NASCIMENTO, 2004
A luz solar é um espectro de fótons distribuídos em uma faixa de energia. Os fótons, cuja
energia é maior que a energia limiar, pode excitar os elétrons para a banda de condução onde
existe o dispositivo e gera energia elétrica que atravessa a célula solar e é absorvida na parte
de trás na forma de calor. (HEGEDUS, 2003)
De acordo com o relatório do CRESESB (1999), um sistema solar fotovoltaico é composto
pelo agrupamento de módulos em painéis e de uma combinação de outros equipamentos
convencionais, que transformam ou armazenam a energia elétrica. Normalmente o sistema é
composto por três partes básicas:
i) Disposição dos módulos – onde se encontra as células solares responsáveis pela
conversão de energia solar em energia elétrica,
ii) Subsistema de condicionamento de potência, o qual transforma a saída do arranjo em
potência útil,
iii) Baterias, que têm o papel de armazenar a energia elétrica.
Na tabela 2.1 listamos algumas vantagens e desvantagens da energia fotovoltaica – abordando
questões técnicas e não-técnicas – que, geralmente, são opostas às usinas convencionais de
combustíveis fósseis. (HEGEDUS, 2003)
Tabela 2.1. Vantagens e desvantagens da energia fotovoltaica
Vantagens Desvantagens
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Fonte de combustível imensa e essencialmente infinita Fonte de combustível difusa (a luz solar é uma energia
relativamente de baixa densidade)
Sem emissões, sem combustão ou combustível
radioativo para eliminação
Baixo custo de operação (sem combustível) Alto custo de instalação
Sem partes móveis, sem desgaste
Operação em temperatura ambiente (sem corrosão de
alta temperatura)
Alta confiança nos módulos (maior que 20 anos) Baixa confiança dos elementos auxiliares, incluindo
armazenamento
Pequenos ou grandes incrementos modulares
Instalação rápida
Podem ser instalados em edifícios novos ou já
existentes
Podem ser instalados em qualquer ponto de uso Falta de integração dos sistemas comerciais disponíveis
Pico de produção diária pode corresponder à demanda
local Carência de armazenamento econômico e eficiente de energia
Fonte: HEGEDUS, 2003
2.1 A célula fotovoltaica O elemento transformador para que haja a conversão de energia solar em energia elétrica é a
utilização de um material semicondutor. Por certo, os materiais mais apropriados são aqueles
que originam o maior produto corrente-tensão para a luz visível, uma vez que grande parcela
da energia fornecida pelos raios solares se encontra na faixa visível do espectro.
De um modo geral, o semicondutor deve passar por um processo de purificação e uma etapa
de dopagem – introdução exata de impurezas. De fato, os principais tipos de células
fotovoltaicas são de silício monocristalino, silício multicristalino, filmes finos, silício amorfo
e células concentradas. (CRESESB, 1999).
2.2 Mitos da energia fotovoltaica
Apesar de todos os benefícios dessa fonte energética há alguns mitos sobre a energia
fotovoltaica, referentes à produção e difusão como fonte alternativa de energia.
Segundo os estudos de Eduardo Lorenzo (2003), ao considerar um valor médio de
por dia – valor considerado conservador – e um típico painel solar fotovoltaico
com eficiência aproximada de 10% para converter a luz solar em eletricidade, tem-se
para substituir o equivalente a .
Em um país industrializado, tem-se a média de por ano. Desde que uma
pessoa passe um terço do dia em casa, tem-se por ano, dividindo por 365
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dias, obtém-se por dia, ou então, , em uma família com quatro
pessoas. Assim, será preciso de módulos solares para prover a energia
elétrica necessária, ou seja, uma área retangular de 10m por 5m.
Comparativamente, uma usina nuclear ou a carvão, operando 24h por dia, para produzir os
mesmos , seriam necessários ou seja, ,
aproximadamente um quadrado com 8 km de lado, para produção da mesma quantidade de
eletricidade em mineração superficial de carvão, ou três vezes a área de uma usina nuclear
com sua respectiva área de mineração. (MERIDIAN, 1989).
1. A energia fotovoltaica pode atender toda a demanda mundial apenas aprovando
leis que rejeitem as usinas fósseis e nucleares.
Além das dificuldades na esfera política, o primeiro problema técnico seria a natureza
intermitente da radiação solar, disponível apenas durante o dia e bem reduzida em dias
nublados. No entanto, com redes elétricas bem desenvolvidas e gerenciadas podem se aceitar
grandes quantidades de eletricidade vinda da energia solar, desligando algumas usinas
convencionais de energia elétrica. (KELLY, 1993)
2. A energia fotovoltaica polui assim como todas as outras indústrias de alta
tecnologia apenas com diferentes emissões tóxicas.
Uma das mais valiosas características da energia fotovoltaica é a bem merecida imagem dada
à tecnologia ambientalmente correta. Essa imagem saudável resulta em uma produção limpa
de eletricidade comparada à produção pela queima de combustíveis fósseis.
A indústria fotovoltaica é consciente desse valor e concentra-se em pesquisa e
desenvolvimento para estabilizar e manter o alto padrão de responsabilidade ambiental.
(MAYCOCK, 2000).
Procedimentos seguros de manuseio de alguns dosmateriais e processosestão
bemestabelecidos a partirde um circuito integrado entre asindústriasde revestimentode vidro.
Por certo, a absorção humanaacidental de algum material tóxico não é provável, como já
estudado, emcaso deum incêndio em casa, os módulosfotovoltaicosnão
liberammateriaispotencialmenteperigosos. (MOSKOWITZ, 1990).
3. Os módulos fotovoltaicos nunca recuperam toda energia necessária para fazê-
los e, assim, representam uma perda líquida de energia.
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O foco dos módulos fotovoltaicos é gerar energia elétrica. Calcula-se que a energia solar tem
um papel cada vez maior na produção de eletricidade com a consciência de que os módulos
produzam muito mais energia do que o necessário para construir todo o sistema fotovoltaico.
Caso contrário, seria uma perda de energia líquida e não uma fonte de energia líquida.
3. Arcabouço metodológico
Este artigo apresenta um estudo setorial da inovação em células fotovoltaicas. A coleta de
dados visou à construção do perfil da indústria a partir do levantamento e busca de
informações e análise crítica do ema. A amostra estudada é formada pelo Brasil e a China.
Para a coleta e análise de dados foram utilizadas fontes secundárias, tais como os relatórios
dos ministérios de Minas e Energia (MME) e Ciência e Tecnologia (MCT), Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, incluem-se dados do
Banco Central do Brasil ea Agência Internacional de Energia que permitirá uma visão da
questão energética no mundo.
4. Análise do desenvolvimento de células fotovoltaicas
Para a análise do desenvolvimento de um setor foram feitas análise sobre: 1) dimensões
geográficas; 2) composição da indústria fotovoltaica brasileira; 3) concepção do produto e as
novas tecnologias envolvidas.
4.1. Dimensões geográficas
A fim de justificar o desenvolvimento e implantação de células fotovoltaicas, buscaram-se
dados sobre a radiação solar no Brasil, através do Atlas Solarimétrico do Brasil elaborado em
2000. Por certo, as regiões desérticas são as melhores em recurso solar, assim é feita uma
comparação da radiação solar de certas localidades brasileiras com outras localidades do
mundo. (TIBA, 2000).
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Tabela 4.1 Dados de radiação solar diária, média anual para diversas localidades do mundo
Localidade
Rad. Solar
Máxima
Rad. Solar
Mínima
Rad. Solar
Anual
Rad. Máxima/
Rad. Mínima
Dongola - Sudão 27,7(Mai) 19,1(Dez) 23,8 1,4
Dagget – USA 31,3(Jun) 7,8(Dez) 20,9 4,0
Belém – PA 19,9(Ago) 14,2(Fev) 17,5 1,4
Floriano – PI 22,5(Set) 17,0(Fev) 19,7 1,3
Petrolina – PE 22,7(Out) 16,2(Jun) 19,7 1,4
B. J. da Lapa -BA 21,1(Out) 15,9(Jun) 19,7 1,3
Cuiabá - MT 20,2(Out) 14,7(Jun) 18,0 1,4
B. Horizonte - MG 18,6(Out) 13,8(Jun) 16,4 1,3
Curitiba – PR 19,4(Jan) 9,7(Jun) 14,2 2,0
P. Alegre – RS 19,4(Jan) 8,3(Jun) 15,0 2,7
Fonte: TIBA, 2000
A tabela 4.1 mostra algumas localidades do Brasil comparadas à região da cidade de Dongola,
localizada no Deserto Arábico, no Sudão, e a região de Dagget, no Deserto de Mojave,
Califórnia, Estados Unidos, exemplos de radiação solar excelente.
Assim, nota-se que as áreas localizadas no Nordeste do Brasil têm radiação solar diária e
média anual comparada às melhores regiões do mundo nesse quesito. Para uma análise
mais profunda sobre o potencial solar brasileiro foi preciso analisar dois tipos de mapas de
grande importância; a constar, o mapa de isolinhas de radiação solar, e o mapa de isolinhas de
insolação.
É importante ressaltar que as isolinhas de insolação diária têm um caráter totalmente diferente
das isolinhas de radiação solar. Ou seja, os mapas de distribuição espacial de radiação solar
diária, média mensal concebem somente uma primeira aproximação da energia solar
disponível à superfície. Para situações locais é preciso recorrer às médias numéricas das
estações solarimétricas. (TIBA, 2000).
A obra analisada com a síntese das pesquisas, estudos e levantamentos é realizada pelo IBGE
e demais órgãos que compõem o Sistema Estatístico Nacional, com as principais observações
meteorológicas de diversos municípios, contendo dados de insolação total mensal. (IBGE,
1994)
Figura 4.1. Carta anual de radiação solar global diária, média anual em
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Fonte: TIBA, 2000
A partir dos resultados obtidos foi possível analisar e evidenciar que a radiação solar no Brasil
varia entre 8 e 22 onde a tendência mínima evidencia-se no sul do estado do Rio
Grande do Sul e valores de tendência máxima em uma relativa extensa região do Nordeste
brasileiro.
Pode-se notar, também, que o nordeste brasileiro apresenta um menor índice de nebulosidade,
ou seja, um maior índice de radiação Solar que se concentra na parte central da região.
4.2 Composição da Indústria
Como ainda não há indústrias brasileiras que produzem sistemas fotovoltaicos
comercialmente, discute-se a viabilidade do estabelecimento de indústrias de células e
módulos fotovoltaicos. Países como Índia e México já possuem fábricas de células e/ou
módulos fotovoltaicos. Por sua vez, a China através do estabelecimento dessas indústrias, se
inseriu no mercado mundial com a empresa Suntech, maior produtora mundial.
Figura 1.2 Produção mundial de módulos fotovoltaicos (1999-2010)
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Fonte: Photon International, 3, 2011; Cell production survey 2010. Março 2011
Segundo a figura 4.2, de 2009 a 2010 houve um crescimento de 118% na produção de
módulos fotovoltaicos em todo mundo, justificando o crescimento acentuado desse setor.
Considerando que o Brasil possui uma das maiores reservas de quartzo para produção de
silício grau solar e grau eletrônico – matéria prima para as células –a proposta de estabelecer
indústrias voltadas para esse ramo, coloca em pauta a possibilidade de exportação de células
solares uma vez que há um crescimento acelerado do mercado internacional, garantindo um
índice de nacionalização, gerando empregos e riqueza. (CGEE, 2010)
4.3 Concepção do produto
Este tópico descreve os sistemas fotovoltaicos segundo o Manual de Engenharia para
Sistemas Fotovoltaicos (1999). Considerando que o produto seja o sistema fotovoltaico como
um todo, a análise dele se faz através da elaboração de um projeto. De fato, o critério para o
dimensionamento pode ser: o custo da energia gerada, confiabilidade, eficiência ou uma
combinação desses fatores.
A concepção do sistema pode ser dividida em geração fotovoltaica, armazenamento de
energia e unidades de controle e condicionamento de potência ilustrados no diagrama abaixo.
Figura 2.3 Diagrama de blocos de um sistema fotovoltaico
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Fonte: Manual de Sistemas fotovoltaicos (1999)
Os dados de radiação solar exemplificados na figura 4.3 podem ser relacionados com o valor
acumulado de energia solar ao longo de um dia através do número de horas de Sol Pleno. Esta
grandeza mostra o número de horas em que a radiação solar deve ser constante e igual a
de modo que a energia resultante seja igual à energia acumulada para o dia e lugar
específico.
Figura 4.4. Perfis de radiação solar diária com valores equivalentes
Fonte: Manual de Sistemas fotovoltaicos (1999)
Considerando agora que o produto em questão seja as células, é importante considerar a
geometria das células uma vez que elas devem ocupar a maior área possível do módulo. O
formato quadrado garante que ocupem um espaço melhor, porém, as células de formato
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redondo apresentam a vantagem de não perder material devido à forma cilíndrica do silício
monocristalino.
4.4 Principais processos de produção
Tomando como parâmetro as empresas de fabricação de células solares de tecnologia chinesa
tais como: Hanwha SolarOne, Yingli Green Energy e Suntech, é possível analisar os
processos de fabricação de células monocristalinas e policristalinas.
Porém, há uma divisão histórica quanto aos tipos de painéis solares existentes. Assim, os
módulos podem ser separados em três gerações. A primeira, são os módulos de silício
policristalinos e monocristalinos amplamente comercializados. Em seguida, os painéis de
filme finos, como CIS e CdTe. E, por fim, os módulos orgânicos.
Figura 4.5 Módulos Fotovoltaicos mais comuns
Fonte: ABINEE, 2012
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A figura 4.4 apresenta os módulos mais produzidos pelas empresas selecionadas para a coleta
de dados. Em seguida é feita uma comparação entre os diversos produtores e processos de
produção.
a. Hanwha SolarOne
A produção de células solares da Hanwha SolarOne envolve testes que agrupam as células em
24 classes de desempenho com precisão rigorosa de 1% permitindo maior confiabilidade e
eficiência através da metodologia 5S Lean.
Ambas as células mono e policristalinas apresentam certificados de gestão da qualidade ISO
9001 e gestão do ciclo de vida ambiental 14001;entretanto, as células monocristalinas têm a
superfície alcalina enquanto que as células policristalinas possuem a superfície ácida, ambas
uniformes e com texturização superficial.
Os módulos por sua vez, são construídos em liga de alumínio e tratados com revestimentos de
oxidação resistentes à corrosão, além de serem revestidos com Etileno-vinil-acetato (EVA)
para encapsular as células dentro dos módulos.
Cada módulo também passa por testes adicionais através de um simulador solar calibrado para
garantir um mínimo de energia precisa, tensão e corrente nominal.(SOLARONE, 2012).
b. Yingli Green Energy
A produção dos sistemas fotovoltaicos da Yingli passa desde o silício policristalino, lingotes,
pastilhas, células solares, e módulos, de forma automática; evitando custos ambientais de
transporte, quebra e embalagem – a produção vertical integralizada.
Os painéis monocristalinos usam silício dopante n ao contrário do habitual na indústria, o tipo
p. A série PANDA tem eficiência média de 19% voltadas para projetos comerciais e
residenciais.
Os módulos policristalinos apresentam eficiência média de 14,5% e possuem um controle de
potência pela TÜV Rheinland, porém, disponíveis apenas na Europa e na Ásia no momento –
trata-se de uma tecnologia que elimina a verificação externa custosa de potência da placa de
identificação. De fato, a estrutura de alumínio dos módulos, resistentes à corrosão, suportam
carga de pressão de até 5400 Pa. (SOLAR, 2012).
c. Suntech
A empresa Suntech oferece módulos de eficiência média de até 15,7%. Além dos produtos
mono e policristalinos, apresenta células de filmes finos. Os vidros que revestem os módulos
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são equipados com uma camada especial que permite uma limpeza mais rápida, equivalente
ao efeito lótus.
As células passam por um processo químico de tratamento da superfície com microtexturas
que aumentam a capacidade de captar luz. Para tanto, os módulos apresentam características
elétricas de modo a diminuir as perdas de eficiência, e contam com paredes laminadas contra
a corrosão, com certificados de gestão da qualidade ISO 9001 e gestão do ciclo de vida
ambiental 14001.
Por certo, a produção apresenta um controle de qualidade com 52 ensaios e verificações em
toda a célula e nos processos de fabricação de módulos, onde são produzidos, localizados na
China, Japão e Estados Unidos. (SUNTECH, 2012).
4.5 Novas tecnologias
As tecnologias utilizadas para produção de células em laboratórios empregam processos
complexos e, primeiramente, difíceis de serem reproduzidos em larga escala a um custo
razoável para produção comercial.
Tabela 4.2 Desenvolvimento de Células Solares de Silício em Laboratório
Tecnologia Desenvolvimento Eficiência
Célula Negra 1974 – 1983 17,0%
Célula MIS (Metal Insulator Semicondutor) 1983 – 1984 18,0%
Célula PESC (PassivatedEmitter Solar Cell) 1984 – 1986 20,0%
Célula de Contato Pontual 1987 – 1988 21,6%
Célula PERL (Passivated Emitter and Rear Locally Difused) 1989 – 1993 22,3%
Célula PERF (Passivated Emitter and Rear Floating Junction) A partir de 1994 24,0%
Fonte: WENHAM, 1996
A evolução da eficiência baseado na inovação do processo de fabricação de células tem
aumentado. Porém um desafio paralelo para a indústria fotovoltaica é o desenvolvimento de
acessórios e equipamentos complementares para os sistemas fotovoltaicos, com qualidade e
vida útil, comparáveis às dos módulos. De fato, os sistemas de armazenamento e de
condicionamento de potência se aperfeiçoaram e reduziram os custos. (CRESESB, 1999).
Assim, as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento devem se concentrar em aperfeiçoar a
eficiência e fabricação de equipamentos e sistemas fotovoltaicos, ou seja, tanto a fabricação
de células solares de multi – ou mono – silício cristalino quanto de origem orgânica como os
polímeros. (IEA, 2007).
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5 Conclusão
Embora o Brasil apresente grandes entraves, como a infraestrutura precária, o déficit de
recursos humanos especializados, trata-se de um potencial mercado produtor e consumidor.
Com a alta radiação solar no nordeste e centro do país, ascendente eficiência dos painéis e a
diminuição dos preços, juntamente com a disponibilidade de matéria-prima – reservas de
quartzo – em abundância e a contração do mercado na Europa, o Brasil tem uma capacidade
de energia solar duas vezes maior que a Europa, uma vez que a oferta de energia solar entre
1990 e 2005 cresceu 5,6% e superou a oferta da energia hidrelétrica.
Para tanto, os custos das células solares que ainda se mostravam como um entrave para a
difusão de sistemas fotovoltaicos estão cada vez mais competitivos, já que os custos se
reduzem à medida que novas tecnologias são implementadas. De fato, a produção de módulos
fotovoltaicos cresceu vertiginosamente, com claro potencial para o estabelecimento de
indústrias de células e módulos fotovoltaicos.
As empresas apresentaram módulos com qualidade que comprovam a eficiência prometida,
porém as novas tecnologias juntamente com os setores produtivos e de Pesquisa e
Desenvolvimento buscam chegar a um sistema de custo razoável para a produção comercial.
Considerando que todas as barreiras existentes possam ser superadas, o potencial realizável de
geração solar para o Brasil até 2020 corresponde a quinta parte do potencial dos Estados
Unidos e é quatro vezes maior do que o potencial realizável pelo Canadá.
Há um grande esforço público para a nacionalização da tecnologia e o desenvolvimento de
toda a cadeia como incentivos fiscais para um menor custo de produção local e até 80% de
redução em algumas tarifas sobre empreendimentos até 30 MW, além de fomentar o acesso a
micro e mini geração distribuídas juntamente com a compensação de energia uma vez que um
dos maiores consumidores de energia é o próprio governo.
Portanto, é preciso diversificar a matriz energética existente e incentivar toda a cadeia de
fornecedores de valor agregado elevado, como também criar um ambiente regulatório e
comercial favoráveis ao desenvolvimento sustentável; consequentemente promovendo a
inovação tecnológica para a produção nacional a fim de tornar o país competitivo
internacionalmente.
REFERÊNCIAS
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ABINEE, Grupo Setorial de Sistemas Fotovoltaicos. Propostas para Inserção da Energia
Solar Fotovoltaica na Matriz Elétrica Brasileira. São Paulo: Associação Brasileira da
Indústria Elétrica e Eletrônica, 2012.
ANEEL. Resolução Normativa Nº 482. Agência Nacional de Energia Elétrica . Disponível
em: <http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf>. Acessoem: 14 ago. 2012.
CARVALHO, E. F. A.; CALVETE, M. J. F. Energia Solar: Um passado, um presente… um
futuro auspicioso. Revista Virtual de Química, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p.192-203, 5 dez.
2010. Bimestral.
CGEE. Energia solar fotovoltaica no Brasil: subsídios para tomada de decisão - Série
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