os embargos a execução fiscale seu efeito suspensivo

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http://www.rafaeltonholi.com/2013/06/os-embargos-execucao-fiscal-e-seu.html June 7, 2013 OS EMBARGOS A EXECUÇÃO FISCAL E SEU EFEITO SUSPENSIVO Por Rafael Tonholi em 05/06/13. A Execução Fiscal é a ação utilizada pelos entes públicos para cobrar as dívidas públicas. A maior parte destes débitos são decorrentes do não pagamento de tributos, mas também podem ser advindos de multas, as quais nem sempre tem ligação direta com impostos, taxas e contribuições. Tal tipo de ação possui regulamentação específica, trata-se da Lei 6.830/80, também conhecida como LEF – Lei de Execução Fiscal. Sendo uma ação de “execução”, significa que possui uma finalidade distinta de uma ação de conhecimento, isto porque, como toda execução, cobra dívida constante em um título com força executiva, agindo de forma mais drástica, atingindo primeiro o patrimônio do executado, para que só depois se discuta a legitimidade ou não desta cobrança. O presente texto pretende expor a respeito desta discussão da legitimidade da cobrança, a qual é feita por meio dos Embargos a Execução Fiscal. Os Embargos do devedor é meio de defesa manuseável em um processo de execução. Ocorre que no âmbito da Execução Fiscal (e não da execução em geral) os embargos têm regras próprias, também emanadas da LEF. A regra precípua a ser levada em conta é que, para embargar uma execução fiscal, é necessária que a mesma esteja garantida, isto é, que exista um depósito em dinheiro, uma fiança bancária ou, que sejam nomeados bens a penhora. A outra regra fundamental é a de ordem temporal, qual seja o prazo de até 30 dias após a garantia para que se apresente os embargos. Este prazo é compatível com o da regra geral daquelas execuções que não são fiscais. A questão proposta é: apresentado os embargos de maneira correta, fica suspensa automaticamente a execução ou é necessária a aplicação subsidiária das regras gerais estipuladas no art. 739-A, §1º do Código de Processo Civil? As duas posições existem e são defendidas por parte da doutrina e da jurisprudência. Passemos a explanação breve de cada uma. A corrente que defende o efeito suspensivo automático compreende, ao seu modo de ver, que a LEF implicitamente prevê esta suspensão. Aos olhos deles, deve ser aplicada uma interpretação lógico-sistemática, tendo por certo que a garantia da execução é o pressuposto finalístico para pausar o prosseguimento da mesma, uma vez que exigir outros requisitos, tais como os do art. 739-A, §1º do CPC, afrontaria os princípios da razoabilidade e da ampla- defesa. Podemos dizer que tal corrente foi a predominante nos julgados do STJ entre os anos de 2011 e 2012.

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http://www.rafaeltonholi.com/2013/06/os-embargos-execucao- fiscal-e-seu.html June 7, 2013

OS EMBARGOS A EXECUÇÃO FISCAL E SEU EFEITOSUSPENSIVO

Por Rafael Tonholi em 05/06/13.

A Execução Fiscal é a ação ut ilizada pelos entes públicos paracobrar as dívidas públicas.

A maior parte destes débitos são decorrentes do nãopagamento de tributos, mas também podem ser advindos demultas, as quais nem sempre tem ligação direta com impostos,taxas e contribuições.

Tal t ipo de ação possui regulamentação específ ica, t rata-se daLei 6.830/80, também conhecida como LEF – Lei de ExecuçãoFiscal.

Sendo uma ação de “execução”, signif ica que possui uma f inalidade dist inta de uma ação deconhecimento, isto porque, como toda execução, cobra dívida constante em um t ítulo comforça execut iva, agindo de forma mais drást ica, at ingindo primeiro o patrimônio do executado,para que só depois se discuta a legit imidade ou não desta cobrança.

O presente texto pretende expor a respeito desta discussão da legit imidade da cobrança, aqual é feita por meio dos Embargos a Execução Fiscal.

Os Embargos do devedor é meio de defesa manuseável em um processo de execução. Ocorreque no âmbito da Execução Fiscal (e não da execução em geral) os embargos têm regraspróprias, também emanadas da LEF.

A regra precípua a ser levada em conta é que, para embargar uma execução f iscal, énecessária que a mesma esteja garant ida, isto é, que exista um depósito em dinheiro, umaf iança bancária ou, que sejam nomeados bens a penhora.

A outra regra fundamental é a de ordem temporal, qual seja o prazo de até 30 dias após agarant ia para que se apresente os embargos. Este prazo é compatível com o da regra geraldaquelas execuções que não são f iscais.

A questão proposta é: apresentado os embargos de maneira correta, f ica suspensaautomat icamente a execução ou é necessária a aplicação subsidiária das regras geraisest ipuladas no art . 739-A, §1º do Código de Processo Civil?

As duas posições existem e são defendidas por parte da doutrina e da jurisprudência.Passemos a explanação breve de cada uma.

A corrente que defende o efeito suspensivo automát ico compreende, ao seu modo de ver, quea LEF implicitamente prevê esta suspensão. Aos olhos deles, deve ser aplicada umainterpretação lógico-sistemát ica, tendo por certo que a garant ia da execução é o pressupostof inalíst ico para pausar o prosseguimento da mesma, uma vez que exigir outros requisitos, taiscomo os do art . 739-A, §1º do CPC, afrontaria os princípios da razoabilidade e da ampla-defesa.

Podemos dizer que tal corrente foi a predominante nos julgados do STJ entre os anos de 2011e 2012.

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No entanto, agora no ano de 2013, o STJ demonstra ter alterado sua posição, uma vez que aPrimeira Seção (que engloba a Primeira Turma, a qual capitaneava a tese do efeito suspensivoautomát ico) proferiu acordão no Recurso Especial nº 1.272.827/PE em sent ido contrário eaf irmando expressamente que o outro posicionamento está superado.

A just if icat iva do inteiro teor se baseia em uma interpretação histórica dos disposit ivos da LEFe do CPC.

O relatório do mencionado recurso af irma que a tese de que a LEF possui, mesmo queimplicitamente, o reconhecimento do efeito suspensivo nos embargos à execução f iscal é ummito.

A base dos argumentos é o histórico de que o efeito suspensivo sempre foi exceção e nãoregra, bem como o fato de que existem disposit ivos da LEF que regram situações em que,mesmo garant ida a execução, esta prossegue.

Se apoia também no princípio da supremacia do interesse público, af irmando que a sat isfaçãodo crédito público nunca deve ser preterida em relação ao privado.

Assim, o STJ agora entende que a aplicação subsidiária do CPC é necessária para o caso depleito de suspensão do feito executório, o que reporta ao 739-A, §1º do CPC que exige averossimilhança da alegação (fumus boni juris) e o perigo de dano irreparável ou de dif ícilreparação (periculum in mora).

Não podemos negar que o referido julgamento foi bem fundamentado e seus argumentos têmforça de convencimento.

Porém, com uma outra ót ica, vislumbro neste entendimento uma pitada de conservadorismo eagarramento a preceitos já alterados pelas mudanças legislat ivas.

Coaduno da ideia de que, se a execução já está garant ida, deve esta ser suspensa até o f inalda decisão f inal nos embargos.

Muitos são os casos em que as Fazendas Públicas acabam por executarem débitos fundadosem Cert idões de Dívida At iva eivadas de vícios, às vezes de ilegalidade ouinconst itucionalidade da cobrança; às vezes de créditos t ributários at ingidos pela prescrição outantas outras casuíst icas em que a Advocacia dos contribuintes saiu vitoriosa. Eis a razão doparágrafo único do art . 204 do CTN ao af irmar que a presunção de certeza e liquidez da dívidainscrita é relat iva, podendo ser ilidida por prova inequívoca.

O contraditório e a ampla defesa são direitos e garant ias fundamentais que devem serexercidos com plenitude, de maneira que permit ir que, enquanto o contribuinte ou responsávelse defenda, tenha seu patrimônio não só convert ido como garant ia, mas que seja atéexecutado e adjudicado parece irrazoável.

Por f im, em conclusão digo que, diante das decisões pretéritas, mas ainda recentes, emsent ido contrário, é necessário que em uma situação desprovida de perigo de irreparável dano,cont inue sendo requerido o efeito suspensivo automát ico, sabendo, contudo, que a tendênciado STJ é a recusa deste pleito.