os Ìndios na história do brasil (1)

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  • 7/24/2019 Os ndios Na Histria Do Brasil (1)

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    - Alm eida, Regina Celestino de. O lugar dos ndios na

    histria: dos bastidores ao palco . In: .

    Os ndios

    na Histria do Brasil Rio de Janeiro:

    FGV

    2010, p. 13-28;

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    C a p t u l o 1

    O l u g a r d o s n d i o s n a h i st r ia :

    d o s b a s t id o r e s a o p a l c o

    /

    N o t e m p o d o s b a s t id o r e s

    Como os nd ios t m s ido v i s tos t r ad i c iona lmen te em nossa

    his tr ia? Desde a

    Histria do Brasil

    de Franc i sco Ado l fo Var -

    nhagen (1854) a t um momento bas t an t e avanado do scu lo

    XX, os ndios ,

    grosso modo

    v i n h a m d e s e m p e n h a n d o p a p i s

    m u i t o s e c u n d r i o s , a g i n d o s e m p r e e m f u n o d o s i n t e r e s s e s

    a lhe ios . Parec iam es ta r no Bras i l d i spos io dos europeus ,

    que se se rv iam de les conforme seus in te resses . Ter iam s ido

    te i s pa ra de t e rminadas a t i v idades e i n t e i s pa ra ou t r a s , a l i a -

    dos ou in imigos , bons ou mas , sempre de acordo com os

    obje t ivos dos co lonizadores . Alm-disso , em gera l , aparec iam

    n a h i s t r i a c o m o n d i o s a p e n a s n o m o m e n t o d o c o n f r o n t o ,

    i s t o , quando pegavam em a rmas e l u t avam con t r a os i n i -

    migos . Ass im, os t amoios , os a imors , os goi tacazes e t an tos

    ou t ros e r am v i s tos como nd ios gue r r e i ros , que r e s i s t i r am

    bravamente conqu i s t a de suas t e r r a s . Foram, no en t an to ,

    de r ro t ados e pas sa ram a f aze r pa r t e da o rdem co lon ia l , na

    qua l no hav i a b r echa nenhuma pa ra a ao . Tornavam-se ,

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    F G V d e B o l s o

    en to , v t imas i nde fesas des sa o rdem. Na cond io de e sc ra -

    vos ou submet idos , acu l tu r avam-se , de ixavam de se r nd ios e

    desaparec iam de nossa h i s tr ia .

    Essas ide ias , a t mui to recentemente , embasavam o de-

    saparec imento dos ndios , em diversas reg ies do Bras i l , j

    nos pr imei ros sculos da co lonizao . Desaparec iam, porm,

    deve-se ressa l ta r , apenas da h i s tr ia escr i t a . Es tudos recentes

    tm demons t rado que , do sculo XVI ao XIX, os nd ios inse-

    r i dos no mundo co lon i a l , em d i f e r en t e s r eg ies da Amr i ca

    por tuguesa , con t inuavam mui to p re sen t e s nos se r tes , nas

    vi las , nas c idades e nas a lde ias . Inmeros documentos pro-

    duz idos pe los mais d iversos a tores soc ia i s ev idenc iam essa

    presena .

    Como se expl ica t e rem desaparec ido da h i s tr ia do Bras i l ?

    Em gra nd e pa r t e , pa rece -me , d ev ido i de ia ac ima apo n ta da e

    p redominan te , po r mui to t empo , en t r e an t rop logos e h i s to -

    r iadores . Tra ta - se da ide ia segundo a qua l os nd ios in tegra-

    dos co lonizao in ic iavam um processo de acul turao , i s to

    , de mudanas cu l tu r a i s p rogres s ivas que os conduz iam

    a s s i m i l a o e c o n s e q u e n t e m e n t e p e r d a d a i d e n t i d a d e t n i -

    ca . Ass im, as re laes de conta to com soc iedades envolventes

    e os v r ios p rocessos de mudana cu l tu r a l v ivenc i ados pe los

    g rupos i nd genas e r am cons ide rados s imples r e l aes de do-

    m inao impo s tas aos nd ios de ta l form a q u e no lhe s res tava

    nenhuma margem de manobra , a no se r a submisso pas s iva

    a um processo de mudanas cu l tura i s que os l evar ia a se rem

    ass imi l ados e confund idos com a massa da popu lao .

    Nessa pe r spec t iva a s s imi l ac ion i s t a p r edominan te , po r l on -

    go t empo , no pensamento an t ropo lg ico , o s nd ios i n t eg rados

    co lon i zao to rnavam-se i nd iv duos acu l tu r ados e pas s ivos

    q u e , j u n t o c o m a g u e r r a , p e r d i a m c u l t u r a s , i d e n t i d a d e s t -

    n icas e todas as poss ib i l idades de res i s tnc ia . Ta l concepo

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    Os n d i o s n a h i s t r i a d o B r a s i l

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    t e r i c a , h o j e b a s t a n t e q u e s t io n a d a , t i n h a a m p la a c e i t a o

    n u m t e m p o e m q u e h i s t o r i a d o r e s e a n t r o p l o g o s a n d a v a m

    a fa s t a d o s e s e u s c a m p o s d e e s tu d o e r a m n i t i d a m e n te d i s t i n -

    tos . Cu l tu ras , iden t idades tn icas , r e laes cu l tu ra i s e v r ios

    o u t ro s t e m a s r e l a c io n a d o s a o c o t id i a n o d e h o m e n s c o m u n s e

    d e p o v o s n o o c id e n ta i s e r a m a s su n to d e a n t ro p lo g o s e , e m

    gera l , e s tudados num p lano s inc rn ico , i s to , sem leva r em

    c o n ta p ro c e s so s d e m u d a n a .

    A c u l tu r a y d o s c h a m a d o s "p o v o s p r im i t iv o s" , v i s t a c o m o

    pura e imutve l , e ra ob je to de inves t igao dos an t rop logos

    p re o c u p a d o s e m c o m p re e n d - l a e m su a s c a r a c t e r s t i c a s o r i -

    g ina i s e au tn t icas . P rocessos h i s t r icos de mudana por e le s

    v iv id o s n o e r a m v a lo r i z a d o s p o r p e sq u i s a d o re s i n t e r e s sa d o s

    e m d e s v e n d a r a l g i ca e o f u n c i o n a m e n t o d a c u l t u r a e n t e n d i -

    da de for m a essenc ia l is ta , i s to , com o f ixa, es t vel e im ut vel .

    A l m d is so , o s c h a m a d o s p o v o s p r im i t iv o s e r a m c o n s id e r a d o s

    i so lados e sem h is t r ia . Moviam-se com base em suas t r ad i -

    es e mi tos cons ide rados tambm a -h is t r icos . Essas ide ias ,

    c o m e x c e e s e n u a n c e s q u e n o s e r o a q u i a b o rd a d a s , p r e -

    d o m i n a r a m e n t r e a s p r i n c i p a i s c o r r e n t e s d o p e n s a m e n t o a n -

    t ropo lg ico , ao longo do scu lo XX, e o r ien ta ram impor tan tes

    e e x c e l e n t e s t r a b a lh o s so b re o s p o v o s in d g e n a s d a Am r i c a e

    su a ^ c u l tu r a s , p o r m n o n u m a p e r sp e c t iv a h i s t r i c a .

    Em b o ra a lg u m a s v o ze s j a l e rt a s se m , e m m e a d o s d o s c u lo

    XX, pa ra a impor tnc ia de se cons ide ra r a t r a je t r ia h i s t r i -

    c a d o s p o v o s p a r a o m e lh o r e n t e n d im e n to d e su a s c u l tu r a s ,

    p r e d o m in o u , e n t r e o s a n t ro p lo g o s , a c o n c e p o d e q u e o s

    p ro c e s so s h i s t r i c o s p o r t a d o re s d e m u d a n a n o e r a m im -

    p o r t a n t e s p a r a a c o m p re e n s o d e s e u s o b je to s d e e s tu d o . Ao

    c o n t r r io , e r a m v i s to s c o m o p ro p u l so re s d e p e rd a s c u l tu r a i s

    su c e s s iv a s q u e l e v a v a m e x t in o d o s p o v o s e s tu d a d o s . Af i -

    nal , se a cultura era vista como algo f ixo e estvel , re laes de

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    F G V d e B o l s o

    conta to , p r inc ipa lmente com povos de t ecno log ia super io r ,

    s pode r i a m de s e nc a de a r p r oc e s s os de a c u l t u r a o que c on -

    duz i r i am necessa r i amente a pe rdas cu l tu ra i s e ex t ino t -

    n ica . As re laes de conta to eram, ento,

    grosso modo

    vi s t a s

    como re l aes de dominao / submisso , na qua l uma cu l tu ra

    se impunha sobre a ou t r a , anu lando-a . Nessa pe r spec t iva , os

    ndios in tegrados colonizao, se ja como escravos ou como

    al iados , e r am v i s tos como subm issos e acu l tu rad os , n o con s -

    t i tu indo, pois , ca tegor ia soc ia l merecedora de maiores invs- '

    t igaes.

    A pa r t i r dessa pe r spec t iva , a s i n t e rpre t aes sobre as

    re l aes de con ta to e ram pensadas com base em dua l i smos

    s impl i s tas que es tabelec iam r g idas opos ies ent re ndio

    acu l tu rado e nd io puro ; acu l tu rao e r e s i s t nc ia cu l tu ra l

    ( en tend ida es t a l t ima como negao dos novos va lo res cu l -

    tu ra i s impos tos ) ; e s t ru tu ra cu l tu ra l ( f ixa , imutve l e o r i en-

    t adora do compor tamento dos povos p r imi t ivos ) e p rocessos

    h i s t r i cos ( r e sponsve i s por in t roduz i r mudanas e conduz i r

    ext ino desses mesmos povos) . Esses dual i smos foram, em

    gr a nde pa r t e , r e s pons ve i s po r a bo r da ge ns r e du t i v i s t a s que

    conduz i ram a v i ses equ ivocadas sobre a a tuao dos nd ios

    nos processos h i s tr icos .

    A percepo de que os ndios em conta to com sociedades

    envolventes caminhavam inevi tavelmente para a ass imi lao

    pre do m ino u a t quas e os nossos d ias, m esmo ent re os mais d e-

    dicados defensores das causas e dos direi tos indgenas. Entre

    esses , vale ci tar Florestan Fernandes. O autor procurou des-

    mis t if icar a lgum as vises equ ivoca das da h is tor iograf ia q u an to

    ao com por tam ento pass ivo dos nd iosface colonizao. E nfa-

    t izou a res i s tncia indgena , buscando entend- la a par t i r das

    caracter s t icas da organizao social dos tupis , desconstruindo

    a ideia do baixo nvel c ivi l izatr io dos ndios. Apresentou-os

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    O s n d i o s n a h i s t r i a d o B r a s i l

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    como b ravos in imigos dos por tugueses que lu t a ram a rdorosa -

    men te , mas que , uma vez venc idos , t o rna ram-se acu l tu rados ,

    submissos e e sc rav izados . Ao pe rde rem a cu l tu ra "au tn t i ca" ,

    passa ra m a faze r pa r t e de u m ou t ro s is t ema , no qu a l e r am de r -

    ro tad os e n o t inh am poss ib i l idades de e sco lha . Foram bravos ,

    mas pe rde ram e " . . . o seu he ro smo e a sua co ragem no mo-

    v imen ta ram a h i s t r i a , pe rdendo-se i r r emed iave lmen te com a

    des t ru i o do mundo em que v iv iam" (Fe rnandes , 1976 :72) ,

    como des t acou o au to r . Sem desm erece r o im po r t an te t r a ba lho

    de Fe rnandes , r e sponsve l em desve la r , a inda que com l imi -

    t e s , a l g ica de func ionamento da soc iedade tup inamb , cabe

    reconhece r que sua abordagem re fo rava a concepo de Var -

    nhagen segundo a qua l pa ra os " . . . povos na in fnc ia no h

    his tr ia : h s e tnograf ia" (Varnhagen, s /d:42, v . 1) .

    Essa f r a se de Varnhagen ev idenc ia c l a ramen te o pape l r e -

    s e r v a d o a o s n d i o s t a m b m p e l o s h i s t o r i a d o r e s . A i n d a q u e

    d i s t a n t e s d o s a n tr o p l o g o s q u a n t o s t e m t i c a s a n a l is a d a s e s

    fo rmas de abord - l a s , comungavam com e le s quan to s ide i a s

    ass imi lac ionis tas a respe i to dos ndios . Para e les , os ndios

    t ambm e ram povos p r imi t ivos , e spc ie s de fsse i s v ivos da

    h u m a n i d a d e , p o r t a d o r e s d e c u l t u r a s a u t n t i c a s e p u r a s q u e

    d e v i a m s e r e s t u d a d o s p o r e t n g r a f o s , a n t e s q u e d e s a p a r e -

    cessem. O Ins t i tu to His tr ico e Geogrf ico Bras i le i ro ( IHGB) ,

    f u n d a d o e m 1 8 3 8 c o m a i n t e n o d e c r i a r u m a h i s t r i a d o

    Bras i l que un i f i cas se a popu lao do novo e s t ado em to rno de

    uma memr ia h i s t r i ca comum e he r ica , i r i a r e se rva r aos n -

    d ios um lu ga r imut^espe l r^5 isc lo . N essa h is tr ia , os n -

    d i o s a p a r e c i a m n a T i o r a d l f n f r n t o , c o m o i n i m i g o s a s e r e m

    c o m b a t i d o s o u c o m o h e r i s q u e a u x i l i a v a m o s p o r t u g u e s e s .

    Os nd ios v ivos e p re sen te s no t e r r i t r io nac iona l , no scu lo

    XIX, no e ram inc lu dos . Para e les , d i r ig iam-se as pol t icas de

    ass imi l ao que , desde meados do scu lo XVII I , t i nham o ob-

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    F G V d e B o l so

    je t ivo de in tegr- los acabando com as d is t ines en tre e les e

    os no nd ios , p r imeiro na condio de sdi tos do Rei , depois

    como cidados do Impr io .

    . Essas form as de com preen so sobre os n d i os i r iam se

    manter a t mui to avanado o sculo XX e eram respaldadas e

    incent ivadas pelas po l t icas ind igenis tas . A pol t ica ass imila-

    c ionis ta para os nd ios , in ic iada com as reformas pombal inas

    em meados do scu lo XVII I , t eve con t inu idade no Impr io

    / b ras i le i ro e tam b m n a R epb l ica . Ain da q u e d ife ren tes le- '

    \g i s laes garan t i s sem as te r r as co le t ivas e a lguns ou t ros cu i -

    \dados especia is pa ra os nd io s en qu an to e les n o fossem con -

    Is iderados c iv i l izados , a proposta de promover a in tegrao

    * /e ex t ingui- los como grupos d i ferenciados i r ia se manter a t

    a Consti tuio de 1988. Essa foi a pr imeira lei do Brasi l que

    "garantiu aos nd i os o d i re i to d i ferena , m ar ca nd o um a v ir a-

    da s ignif icat iva na legislao brasi leira . A nova lei , em gran-

    de par te in f luenc iada pe los mov imen tos soc ia i s e ind genas

    do sculo XX, veio , na verdade, a sancionar uma s i tuao de

    fa to : os nd ios , nos anos 1980, contrar iando as prev ises aca-

    dmicas , davam s inais c laros de que no i r iam desaparecer .

    At os anos 1970 do sculo XX, no en tan to , a perspect i -

    va pess imis ta do inev i tve l desaparec imen to dos nd ios p re -

    dominava en tre os in te lec tuais bras i le i ros , inc lu indo os mais

    ded icados defensores de seus d i r e i to s . A inda que denunc ian -

    do v io lncias e lu tando por leg is laes favorveis aos nd ios ,

    in te lec tua is , ind igen is tas e miss ionr ios buscavam,

    grosso

    modo apenas r e ta rdar um processo v i s to po r e les como i r r e -

    vers vel . Os nd ios , no res ta dvida , i r iam desaparecer .

    C o n q u i s t a n d o u m l u g a r n o p a l co ...

    Su r p r een d en temen te , a s p r ev i s es n o s e cu mp r i r am. O s

    povos ind genas no desapareceram. Ao invs d isso , crescem

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    O s n d i o s n a h i s t r i a d o B r a s i l

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    e mu l t ip l i cam-se , como demons t ram os l t imos censos . To r -

    nam-se cada vez mais p resen tes na a rena po l t i ca b ras i l e i r a ,

    a o m e sm o t e m p o e m q u e d e sp e r t a m o i n t e r e s se d o s h i s t o r i a -

    do res e l en tamen te comeam a ocupar lugar mais des tacado

    no pa lco da h i s t r i a . A que se deve esse mov imen to? O cha-

    n m d ^ p p c e s so d e a c u l t u r a o c o n t i n u a e m c u r so e , d e v e - se

    conv i r , cada vez mais in tenso nesses t empos de g loba l i zao .

    Porm ao invs de levar ex t ino das d i ferenas tn icas ,

    p a r e c e q u e j g m x a n t r i b m d p p a r a r e f o r - l a s .

    O rec en te ep i sd io en vo lve nd o os con f l i to s e o ju lg am en to

    sobre as te r ras da Reserva Raposa Serra do So l , em Roraima,

    s ign i f ica t ivo a es te respei to . Em dezembro de 2008 , c inco

    p o v o s i n d g e n a s ( m a c u x i , w a p i x a n a , i n g a r i c , p a t a m o n a e

    tau repang) , h 30 anos em d i spu ta pe la demarcao de suas

    te r ras nessa r ese rva , t ive ram seus d i re i to s de fend idos pe la

    advogada ind gena Jon ia Ba t i s t a de Carva lho . nd ia wap i -

    x a n a , J o n i a f o r a ^ r i m ^ r a i n d g e n a a d e f e n d e r u m a c a u s a

    n o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l . A c o n t e c i m e n t o h i s t r i c o , n a s

    pa lav ras da p rp r ia Jon ia , que nos conv ida a r e f l e t i r sob re

    a h is t r ia dos nd ios em nosso pas . Sem en t rar no mr i to da

    ques to , cabe ass ina la r a a tuao de Jon ia que , fo rmada em

    di re i to , a tuou como defenso ra de seu p rp r io g rupo . Pa r t i c i -

    po u d o r i tua l do ju lg am en to com a toga q ue a fu n o ex ige e

    com o ro s to p in tado con fo rme as t r ad ies de seu povo . Com

    coragem e de te rm inao , d e f en de u os d i re i to s dos nd ios , q u e

    a c a b a r a m g a n h a n d o a c a u sa .

    Algum duv ida que e la se ja nd ia? Com cer teza , s im . En -

    t r e o s a r g u m e n t o s c o n t r r i o s d e m a r c a o c o n t n u a d a q u e l a s

    te r ras , inc lu i - se o a rgumen to de que mu i to s dos g rupos a l i

    envolv idos h mui to de ixaram de ser nd ios . Percebe-se , po is ,

    q ue as d i s pu tas po l t icas po r esses d i re i to s envo lvem d i s pu tas

    sobre suas c lass i f icaes tn icas . Ser ou no ser nd io impl ica

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    2 0 F G V d e B o l s o

    ganhar ou pe rde r d i re i tos e i s so no acon tece apenas em nos -

    sos d ias . D esde mead os d o sculo XVHI, d isp ut as po l i t icas em

    torno de c lass i f icaes tn icas para assegurar ou no di re i tos

    ind ge na s co nce did os pe la legislao j oco rr iam .

    P or o ra , pa ra o a rgume n to e m que s t o , impor t a r e c onhe -

    ce r que os movimentos ind genas da a tua l idade ev idenc iam

    que fa la r por tugus , pa r t i c ipa r de d i scusses po l t i cas , r e i -

    v ind ica r d i re i tos a t ravs do s i s tema jud ic i r io , enf im, pa r t i -

    c ipa r in tensamente da soc iedade dos b rancos e aprender seus

    1

    mecanismos de func ionamento no s ign i f i ca de ixa r de se r n -

    dio e s im a poss ib i l idade de agi r , sobreviver e defender seus

    d i re itos . So o sp r p r i os nd ios de ho je qu e no nos p e rm i tem

    ma i s pe ns a r e m d i s t i n e s r g ida s e n t r e nd i s l iH t r dos e

    nd io s p u ro s . " -. ___

    Cabe aqu i re tomar a ques to sobre a s mudanas nos ins -

    t rumentos de an l i se dos an t rop logos e h i s to r iadores e reco-

    nhece r que , em grande pa r te , e s sas mudanas fo ram e con-

    t inuam sendo in f luenc iadas pe los movimentos ind genas da

    a tua l idade . Afina l , se os ndios dever iam desaparecer , con-

    forme as teorias do sculo XIX e de boa parte do XX, mas, ao

    invs d isso , c rescem e mul t ip l icam-se , hora de repensar os

    ins t rumentos de an l ise . E o que tem s ido fe i to , nas l t imas

    dcadas , por h is tor iadores e ant roplogos que cada vez mais

    se aprox imam e re formulam a lguns conce i tos e t eor ia s funda-

    menta is para pensar sobre as re laes ent re os povos .

    \ Nessa apro xim ao , os ant ro plo gos pass am a in te ressar-

    i se pe los p rocessos de mudana soc ia l , pe rcebendo que seus

    obje tos de es tudo no so imutveis e es t t icos , e os h is to-

    ( r i adores passam a va lo r iza r compor tamentos , c renas e co t i -

    \ d ianos dos ho m ens comuns , t rad ic iona lm ente con s ide ra dos

    i r re levantes , bem como a in te ressar-se por es tudos de povos

    n o oc ide n t a i s qu e t i ve ra m im por t nc i a fun da m e n ta l e m nos -

    sa his tria , ta is como os ndios e os negros .

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    O s n d i o s n a h i s t r i a d o B r a s i l

    2 1

    A n o o d e c u l t u r a n o s e n t i d o a n t r o p o l g i c o , i n c l u i n d o

    t o d o s o s p r o d u t o s m a t e r i a i s , e s p i r i t u a i s e c o m p o r t a m e n t a i s

    d a v i d a h u m a n a , b e m c o m o a s d i m e n s e s s i m b l i c a s d a v i d a

    s o c i a l t m s i d o a m p l a m e n t e a d o t a d a s p e l o s h i s t o r i a d o r e s .

    Em suas an l i se s , va lo r i zam os d i f e ren te s s ign i f i cados das

    a e s h u m a n a s p a r a e n t e n d e r o s p r o c e s s o s h i s t r i c o s . O s

    an t rop logos , po r sua vez , va lo r i zam os p rocessos h i s t r i cos

    d e m u d a n a c o m o e l e m e n t o s e x p l i c a t i v o s e t r a n s f o r m a d o r e s

    d a s c u l t u r a s d o s p o v o s p o r e l e s e s t u d a d o s , n a m e d i d a e r a

    que abandonam a an t iga ide ia de cu l tu ra f ixa e imutve l .

    R e c o n h e c e m q u e a s t r a j e t r i a s h i s t r i c a s v i v i d a s p e l o s p o -

    v o s s o i m p o r t a n t e s p a r a u m a c o m p r e e n s o m a i s a m p l a d e

    s u a s c u l t u r a s .

    C a b e d e s t a c a r a c o n t r i b u i o f u n d a m e n t a l d o h i s t o r i a d o r

    E.P T h o m p s o m q u e e n f a t i z o u a i m p o r t n c i a d e s e c o n s i d e r a r

    a h is tor ic idade da cu l tura . De acordo com e le , a cu l tura um

    produto h is tr ico , d inmico e f lex ve l que deve ser apreendi -

    do como um processo no qua l homens e mulhe res v ivem suas

    e x p e r i n c i a s . O a n t r o p l o g o S i d n e y M i n t z , c o m u n g a n d o t a is

    pe rcepes , des t acou a impor t nc ia de se pe rcebe r que um

    s i s t ema cu l tu ra l ap resen ta va r i ab i l idade no que se r e fe re s

    in t enes , consequnc ia s e s ign i f i cados dos a tos e sco lh idos

    pe los ind iv duos . Pessoas s i tuadas em pos ies soc ia lmen te

    di fe rentes podem a t ag i r da mesma forma, mas essas aes

    mui to p rovave lmen te no t e r o pa ra e l a s o mesmo sen t ido ,

    n e m t a m p o u c o a s m e s m a s c o n s e q u n c i a s . O s h o m e n s a g e m e

    se re lac ionam, conforme seus lugares soc ia i s e seus obje t ivos .

    Da a im po r t nc ia de se e s t abe lece r o en t rosa m en to d inm ico

    en t r e soc iedade e cu l tu ra . As e s t ru tu ras cu l tu ra i s o r i en tam o

    c o m p o r t a m e n t o d o s h o m e n s , m a s n o p o d e m s e r v i s t a s c o m o

    malhas de fe r ro que no lhes poss ib i l i t em agi r fora de las .

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    2

    F G V d e B o l s o

    Dessa fo rma, p rocessos h i s t r icos e es t ru tu ras cu l tu ra i s in -

    fluenciam-se m utu am en te e am bo s so im po r ta n te s pa ra um a

    compreenso mais ampla sobre os homens , suas cu l tu ras , h i s -

    r ias e sociedades .

    A par t i r dessas novas concepes ter icas , ant roplogos e

    his tor iadores tm anal isado s i tuaes de contato , repensando

    e ampliando alguns concei tos bs icos sobre o tema. A compre-

    enso da cultura como produto histrico, dinmico e f lexvel ,

    o rmado pe la a r t i cu lao con t nua en t re t rad ies e novas ex-

    per inc ias dos homens que a v ivenc iam, permi te perceber a

    m udan a cu l tu ra l n o apenas en qu an to per da ou esvaz iam ento

    de uma cul tura d i ta autnt ica , mas em termos do seu d inamis-

    o , mesmo em s i tuaes de contato extremamente v io lentas

    com o foi o caso dos ndios e dos colon izadore s.

    Nesse sen t ido , o conce i to de acu l tu rao tambm se a l te ra

    e ao invs d e se opor res i stnc ia passa a ca m inh ar ju n to com

    ela . Desde os anos 1970 , esse conce i to vem sendo prob lema-

    izado e v i s to como processo de mo dup la , no qua l todos se

    rans formam. Em nossos d ias , as ide ias de apropr iao e res -

    s ignif icao cul tural tm s ido mais u t i l izadas e realmente so

    a is adequadas ao es tudo de s i tuaes nas qua is se l eva em

    onta os in te resses e mot ivaes dos p rpr ios nd ios nos p ro-

    essos de mudana . Ao invs de v t imas pass ivas de impos i -

    es cu l tu ra i s qu e s lhes t raze m pre ju zos , os nd io s passam

    entos da cu l tu r a oc iden ta l , da nd o a e les s ign i f icad os p r -

    u t i l i zando -os para a ob ten o de poss ve i s ga nh os nas

    O conce i to de t r ad i o t ambm t em s ido r epensado , p re -

    endo , ho je , o p res supo s to de qu e ela sem pre se m odi f ica

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    Os n d i o s n a h i s t r ia do B r a s i l

    2 3

    mais a ap ropr i ao dogue a t r ansmis so . No caso da h i s t r i a

    nHTgena , t r a ta^sFde des locar oToc da an l i se dos co loniza-

    dores pa ra os nd ios , p rocurando iden t i f i ca r suas fo rmas de

    compreenso e s eus p rpr ios ob j e t i vos nas v r i a s s i t uaes

    de conta to por e les v iv idas .

    Essa t em s ido a t endnc ia dos t raba lhos das l t imas dca-

    das , a t r avs dos qua i s podemos pe rcebe r que a s a t i t udes dos

    nd ios em r e l ao aos co lon i zadores no se r eduz i r am, abso-

    l u t a m e n t e , res i s tnc ia a rm ad a , fu ga e sub m isso pas s iva .

    Houve d ive r sa s fo rmas do que S t eve S t e rn chamou de r e s i s -

    t nc i a adap ta t i va , a t r avs das qua i s os nd ios encon t r avam

    formas de sobrev ive r e ga ran t i r me lhores cond ies de v ida

    na nova s i t uao em que se encon t r avam. Co labora ram com

    os eu ropeus , i n t eg ra r am-se co lon i zao , ap rende ram novas

    pr t icas cu l tura i s e pol t i cas e souberam ut i l i z - las para a ob-

    t en o das poss ve is van t agen s que a no va con d io pe rm i t i a .

    Pe rde ram mui to , no r e s t a dv ida , mas nem por i s so de ixa -

    ram de agir .

    A ide ia de que os grupos indgenas e suas cu l turas , longe

    de e s t a r em conge l ados , t r ans fo rmam-se a t r avs da d inmi -

    ca de suas re laes socia is , em processos his tr icos que no

    n e c e s s a r i a m e n t e o s c o n d u z e m a o d e s a p a r e c i m e n t o , p e r m i t e

    r epensa r a t r a j e t r i a h i s t r i ca de i nmeros povos que , po r

    m u i t o t e m p o f o r a m c o n s i d e r a d o s m i s t u r a d o s e e x t i n t o s . N o

    o caso de descons iderar a v io lnc ia do processo de conquis -

    ta e co lonizao . A mor ta l idade fo i a l t s s ima, inmeras e tn ias

    fo ram ex t in t a s e os g rupos e i nd iv duos que se i n t eg ra r am

    colnia ocuparam os es t ra tos soc ia i s mais infe r iores , sof rendo

    preconce i tos , d i sc r iminaes e p r e ju zos i nca l cu l ve i s . Ape -

    sa r d i s so , no en t an to , encon t r a r am poss ib i l i dades de sobrev i -

    vnc i a e soube ram aprove i t - l a s .

    Co m o l e m b r o u J o n a t h a n H i l l , o s g r u p o s s o c i a i s h u m a -

    nos , mesmo r eduz idos e sc r av ido e s p io re s cond ies ,

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    F G V d e B o l s o

    c a p a z e s d e r e c o n s t i t u i r s i g n i f ic a d o s , c u l t u r a s , h i s t r i a s e

    n t i d a d e s . O s n d i o s i n t e g r a d o s m i s t u r a r a m - s e m u i to , n o

    Sobre i s so , cabe a inda uma breve re f l exo sobre o conce i -

    o c o n t r r i o , e n t e n d i d a t a m b m c o m o c o n s t r u o h i s t r i c a

    t ud os a t ua i s sob re e t n i c i da de j no cons i de r am ~ cu l t u -

    uenciado pe las ideia s do pr im ei ro , en fat iz av a q u e as d is t in -

    u l t u r a o . O au t o r va l o r i zava t am b m a ao po l ti ca , o

    Ass im, se os povos ind genas fo ram capazes de ree laborar ,

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    O s n d i o s n a h i s t r i a d o B r a s il

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    s u a s i d e n t i d a d e s . O s i n m e r o s e d i f e r e n c i a d o s g r u p o s t n i c o s

    q u e h a b i t a v a m a A m r i c a t o r n a r a m - s e t o d o s n d i o s n a c l a s s i -

    ficao dos eu rop eu s . Id en t id ad e gen r i ca e im po s ta , p o r m

    e m m u i t o s c a s o s a s s u m i d a p e l o s n d i o s c o m o c o n d i o q u e

    l h e s g a r a n t i a a l g u n s d i r e it o s j u r d i c o s . E s t u d o s r e a l i z a d o s e m

    d i f e r e n t e s r e g i e s t m r e v e l a d o a s i n m e r a s p o s s i b i l i d a d e s d e

    r e c o n s t r u o i d e n t i t r i a p o r p a r t e d o s n d i o s .

    D o e x p o s t o , p e r c e b e - s e q u e o s m o v i m e n t o s i n d g e n a s d a

    a t u a ^ d a d e s o m a d o s a o s n o v o s p r e s s u p o s t o s t e r i c o s d a h i s -

    t r i a e d a a n t r o p o l o g i a c o n d u z e m a o a b a n d o n o d e a n t i g a s

    c o n c e p e s q u e c o n t r i b u r a m p a r a e x c l u i r o s n d i o s d e n o s -

    s a h i s t r i a . O s d u a l i s m o s e n t r e n d i o a c u l t u r a d o / n d i o p u r o ,

    t r a d i o / a c u l t u r a o , e s t r u t u r a s c u l t u r a i s / p r o c e s s o s h i s t r i -

    c o s v o s e n d o s u p e r a d o s , o q u e p e r m i t e u m o u t r o o l h a r s o -

    b r e p o p u l a e s i n d g e n a s i n s e r i d a s n a s s o c i e d a d e s c o l o n i a i s

    e ps-colonia i s .

    E q u e m d i ria ? ) a a o d o s n d i o s t a m b m m o v e a h i s t r ia ...

    A par t i r dessas novas abordagens in t e rd i sc ip l ina res ,

    a lguns pon tos pac f i cos da h i s t r i a do Bras i l t m s ido des -

    m o n t a d o s e d a d o l u g a r a i n t e r p r e t a e s n a s q u a i s o s n d i o s

    su rgem como agen tes dos p rocessos de mudana por e l e s

    v i v i d o s . F o n t e s h i s t r i c a s , a l g u m a s j b a s t a n t e t r a b a l h a d a s ,

    q u a n d o l i d a s d e o u t r a f o r m a r e v e l a m r e a l i d a d e s d i s t i n t a s d a s

    t r a d i c i o n a l m e n t e a p r e s e n t a d a s .

    De in c io , convm ressa l ta r que as re laes de conta to

    e s t a b e l e c i d a s n a A m r i c a e n t r e e u r o p e u s e g r u p o s i n d g e -

    n a s n o d e v e m s e r v i s t a s s i m p l e s m e n t e c o m o r e l a e s e n t r e

    b rancos e nd ios . Essa abordagem gene ra l i za e s impl i f i ca uma

    q u e s t o q u e e x t r e m a m e n t e c o m p l e x a . A f i n a l , o s g r u p o s i n -

    d genas no Bras i l e r am mui tos e com cu l tu ra s e o rgan izaes

    soc ia i s d ive r sas , que os l evavam a compor ta r - se de d i f e ren te s

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    F G V d e B o l s o

    en tos , p re se n te s e , i nc lus iv e , m ulheres , no o fizeram po r

    ge nu i da de ou t o li ce. A ab e r t u r a ao con t a t o com o ou t ro

    os e e spec i a l m en t e dos t up i s . O u t ro s g rupo s , no en t an t o ,

    n te a r re d io s e hos t i s aos es t rang ei ros , com o os a imors , os

    u ras , o s gu a i c u ru s e m u i t o s ou t ro s .

    Po r ou t ro l ado , o s eu ropeus t am bm no devem se r v i s t o s

    Al m d i s so , no se pode e squece r a con t nua t r ans fo rm a-

    l . N as l t im as dcad as , es tu do s espec f i cos t m se de se n-

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    O s n d i o s n a h i s t r ia d o B r a s il

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    r am as t r a j e t r i a s h i s t r i c as e a s r e l aes dos d i ve r s o s g ru p os

    e i n d i v d u o s i n d g e n a s e m d i f e r e n t e s r e g i e s e t e m p o r a l i d a -

    des . A pa r t i r des s es e s t udos r eg i ona i s , no en t an t o , a l gumas

    genera l i zaes s o pos s ve i s e a t neces s r i a s , p r i nc i p a l m en t e

    num l i v ro de s n t e s e como es t e .

    O u t r a s c o n t r i b u i e s t e r i c a s i m p o r t a n t e s p a r a o e s t u d o

    s obre os nd i os e s uas r e l aes pa r t em das r ev i s es h i s t o r i o -

    g r f i cas no m bi t o da h i s t r i a po l t ica e da h i s t r i a eco n m i ca

    da Amr i ca e do Bras i l . Des de a dcada de 1970 , a s i n t e rp re -

    t aes h i s t r i cas que pa r t i am das me t rpo l es pa ra exp l i ca r a

    f o r m a o e o d e s e n v o l v i m e n t o d a s c o l n i a s v m s e n d o q u e s -

    t i o n a d a s . A s p e s q u i s a s a t u a i s p r i o r i z a m o s a s p e c t o s i n t e r n o s

    d a s s o c i e d a d e s a m e r i c a n a s p a r a a c o m p r e e n s o d e s u a s h i s t -

    r i a s . Enfa t i zam a i mpor t nc i a de s e l eva r em con t a os agen-

    t e s , a s i n s t i t u i es e a s d i nmi cas l oca i s s em des cons i de ra r

    as neces s r i a s a r t i cu l aes com as me t rpo l es . Nes s e s en t i do ,

    e s t udos r eg i ona i s de ca r t e r po l t i co e econmi co t m s e mul -

    t i p l ic a d o e e v i d e n c i a d o a s i n m e r a s e n e c e s s r i a s a d a p t a e s

    de normas , l e i s e p ro j e t os me t ropo l i t anos nas co l n i as , con-

    fo rme as pecu l i a r i dades l oca i s .

    En t re e s s as pecu l i a r i dades , i nc l uem-s e , cada vez ma i s ,

    a s aes dos povos i nd genas que de ram l i mi t e s e pos s i b i l i -

    d a d e s a o s p r o j e t o s c o l o n i a i s d e s e n v o l v i d o s n a A m r i c a . U m

    exce l en t e exempl o a r e s pe i t o d i s s o s o a s cap i t an i a s he red i -

    t r i as do Bras i l . Cr iadas em 1534, a maior ia de las f racassou ,

    e m g r a n d e p a r t e , p e l o s a t a q u e s d e g r u p o s i n d g e n a s . A s d u a s

    c a p i t a n ia s q u e m a i s p r o s p e r a r a m , S o V i c e n t e e P e r n a m b u c o ,

    f o r a m a q u e l a s c u j o s d o n a t r i o s p u d e r a m c o n t a r c o m o a p o i o

    i nes t i mve l de l i de ranas i nd genas com as qua i s e s t abe l e -

    ce ram es t r e i t os l aos de a l i ana . O p ro j e t o de ca t eques e da

    C o m p a n h i a d e J e s u s c o n s t i t u i o u t r o e x e m p l o i n t e r e s s a n t e , n a

    m e d i d a e m q u e p a s s o u p o r i n m e r o s a j u s t e s n a P r o v n c i a d o

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    F G V d e B o l s o

    l p a r a f aze r f r e n t e s d i f i cu ld ad e s lo ca i s, co m o r e s sa l t o u

    Do pon to de v i s ta da h i s t r ia po l t i ca , cabe a inda des tacar

    re os l t imos anu l an do suas poss ib i l idades de ao j n o

    lei

    I sso n o s r eme te a o u t r a q u es t o im p o r t a n -

    os e suas r espe c t ivas capac idades de f azer va le r seu s

    ae s dos m eno s favorec idos , e fo i nessas b re cha s q u e os

    O s d o cu men to s an a l i s ad o s co m b ase n es sa s n o v as ab o r -

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    C a p t u l o 2

    O s n d io s n a A m r i c a p o r t u g u e s a

    T u p is e t a p u i a s e m t e m p o s d e m u d a n a

    N o c a b e a q u i a b o r d a r a c o n t r o v e r t i d a q u e s t o s o b r e o

    n m e r o d e n d i o s h a b i t a n t e s d o B r a s i l n o m o m e n t o d a c h e -

    g a d a d o s p o r t u g u e s e s . A s e s t i m a t i v a s , d e a c o r d o c o m J o h n

    M o n t e i r o , p o d e m v a r i a r e n t r e 2 e 4 m i l h e s d e h a b i t a n t e s .

    I m p o r t a , n o e n t a n t o , a d m i t i r q u e e r a m m u i t o s , s o b r e t u d o

    s e c o m p a r a d o s r e d u z i d a p o p u l a o p o r t u g u e s a c a l c u l a d a

    e m c e rc a d e 1 .5 0 0 .0 0 0 h a b i t a n t e s n o s c u lo XVI . Im p o r t a

    t a m b m a s s i n a l a r q u e e r a u m a p o p u l a o e x t r e m a m e n t e d i -

    v e r s i f i c a d a , c o m e s t i m a t i v a s , s e g u n d o A r y o n R o d r i g u e s , d e

    m a i s d e 1 .0 0 0 e tn i a s n o t e m p o d a c o n q u i s t a . Em 1 9 9 4 , s e -

    g u n d o d a d o s d o C e d i / I n s t i t u t o S o c i o a m b i e n t a l ( I S A ) , h a v i a

    2 7 0 .0 0 0 n d io s e 2 0 6 e tn i a s . No c e n so d e 2 0 0 1 , e s s e s d a d o s

    s u b i r a m p a r a 7 0 1 m i l n d i o s, e v i d e n c i a n d o o c r e s c i m e n t o a n -

    t e r i o r m e n t e a p o n t a d o . A s i n c e r t e z a s d e s s e s n m e r o s n o n o s

    i m p e d e m d e c o n s t a t a r o i m p a c t o v i o l e n t o d a c o n q u i s t a e d a

    c o l o n i z a o s o b r e o s n d i o s , q u e r e s u l t o u e m m o r t a l i d a d e a l -

    t s s im a e e x t in o d e c e n te n a s d e e tn i a s .