os sertões

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Os Sertões" - Trecho comentado TRECHO “A linha férrea corre no lado oposto. Aquele liame do progresso passa, porém, por ali, inútil, sem atenuar sequer o caráter genuinamente roceiro do arraial. Salta-se do trem; transpõe-se poucas centenas de metros entre casas deprimidas; e topa-se para logo, à fímbria da praça – o sertão... Está-se no ponto de tangência de duas sociedades, de todo alheias uma à outra. O vaqueiro encourado emerge da caatinga, rompe entre a casaria desgraciosa, e estaca o campião junto aos trilhos, em que passam, vertiginosamente, os patrícios do litoral, que o não conhecem.” COMENTÁRIO Nesse trecho, o narrador descreve o encontro entre duas culturas, o que ele chamaria de “raças” diferentes. O trilho do trem funciona como o corte de uma faca, o “liame do progresso” a separar duas civilizações incomunicáveis. Uma visão como essa, hoje em dia, seria certamente contestada como argumento científico. Para o autor, no entanto, essa idéia de que o sertanejo vivera completamente isolado durante muito tempo era fundamental para provar a força daquela raça, na qual se criara – com o passar dos anos – uma homogeneidade. Daí a célebre afirmação de Euclides: “O nordestino é antes de tudo um forte”. O universo literário está ligado à forma como o artista se coloca diante da realidade (seja ela histórica, política, econômica ou social) para criar suas obras. Essa forma de ver a realidade e transpô-la para o papel muitas vezes se materializa como forma de repúdio, de ruptura com moldes passadistas, e foi assim que ocorreu com os artistas que compuseram o período pré-modernista , ou seja, resolveram implantar uma literatura de cunho nacionalista, uma literatura que pudesse retratar acerca da realidade brasileira, levando em conta seus aspectos mais críticos. Esse novo posicionamento foi justamente para contrapor as ideias até então materializadas, demarcadas pelo gosto, pela adesão a tudo que era importado, haja vista que as tendências se baseavam numa cópia de tudo que se fazia presente na moda parisiense. Assim, compuseram esse cenário de “denúncia da realidade brasileira” autores de grande peso, tais como Graça Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, sendo que esse último se voltou mais acirradamente para as questões relativas à miséria campesina, buscando uma sociedade mais justa, o que podemos perceber bem na obra “Urupês”. Mediante todas as informações que estarão registradas nesta subseção, você poderá perceber que a literatura pré-modernista esteve amplamente arraigada em questões políticas, demarcadas pela aliança feita entre os cafeicultores de São Paulo e os produtores de leite de Minas Gerais, o que resultou na política do café-com- leite; em questões econômicas, haja vista que com o declínio da atividade açucareira no Nordeste, tal região se manteve totalmente ao descaso dos políticos - o que ocasionou o fluxo migratório para o centro-sul do país; e também em questões sociais, pois foi uma época de muitas revoltas, provenientes da urbanização, do

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Os Sertes" - Trecho comentadoTRECHOA linha frrea corre no lado oposto. Aquele liame do progresso passa, porm, por ali, intil, sem atenuar sequer o carter genuinamente roceiro do arraial. Salta-se do trem; transpe-se poucas centenas de metros entre casas deprimidas; e topa-se para logo, fmbria da praa o serto... Est-se no ponto de tangncia de duas sociedades, de todo alheias uma outra. O vaqueiro encourado emerge da caatinga, rompe entre a casaria desgraciosa, e estaca o campio junto aos trilhos, em que passam, vertiginosamente, os patrcios do litoral, que o no conhecem.

COMENTRIONesse trecho, o narrador descreve o encontro entre duas culturas, o que ele chamaria de raas diferentes. O trilho do trem funciona como o corte de uma faca, o liame do progresso a separar duas civilizaes incomunicveis. Uma viso como essa, hoje em dia, seria certamente contestada como argumento cientfico. Para o autor, no entanto, essa idia de que o sertanejo vivera completamente isolado durante muito tempo era fundamental para provar a fora daquela raa, na qual se criara com o passar dos anos uma homogeneidade. Da a clebre afirmao de Euclides: O nordestino antes de tudo um forte.

O universo literrio est ligado forma como o artista se coloca diante da realidade (seja ela histrica, poltica, econmica ou social) para criar suas obras. Essa forma de ver a realidade e transp-la para o papel muitas vezes se materializa como forma de repdio, de ruptura com moldes passadistas, e foi assim que ocorreu com os artistas que compuseram operodo pr-modernista, ou seja, resolveram implantar uma literatura de cunho nacionalista, uma literatura que pudesse retratar acerca da realidade brasileira, levando em conta seus aspectos mais crticos. Esse novo posicionamento foi justamente para contrapor as ideias at ento materializadas, demarcadas pelo gosto, pela adeso a tudo que era importado, haja vista que as tendncias se baseavam numa cpia de tudo que se fazia presente na moda parisiense. Assim, compuseram esse cenrio de denncia da realidade brasileira autores de grande peso, tais como Graa Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, sendo que esse ltimo se voltou mais acirradamente para as questes relativas misria campesina, buscando uma sociedade mais justa, o que podemos perceber bem na obra Urups.Mediante todas as informaes que estaro registradas nesta subseo, voc poder perceber que a literatura pr-modernista esteve amplamente arraigada em questes polticas, demarcadas pela aliana feita entre os cafeicultores de So Paulo e os produtores de leite de Minas Gerais, o que resultou na poltica do caf-com-leite; em questes econmicas, haja vista que com o declnio da atividade aucareira no Nordeste, tal regio se manteve totalmente ao descaso dos polticos - o que ocasionou o fluxo migratrio para o centro-sul do pas; e tambm em questes sociais, pois foi uma poca de muitas revoltas, provenientes da urbanizao, do crescimento da classe operria e da marginalizao dos escravos recm-libertados.Dessa forma, no de desacreditar que as percepes advindas desse meio social eram materializadas por meio da arte, registrada no grande acervo cultural de que podemos usufruir, pois singulares foram os representantes da poca alvo de nossos estudos. Assim, ao se interagir melhor com todas as informaes atribudas a tudo que se deu no pr-modernismo, far importantes descobertas. Por essa razo no deixe de imergir nesse universo da literatura, em que a palavra tem sua vez e voz, que aqui, somente aqui, encontra-se demarcado para voc, alvo principal de todos os intentos a que nos propomos.

Pr-Modernismo e Algumas de suas ObrassobreLiteraturaporAlgo [email protected] 1 2 3 4 5Avaliao:3.5/5(16votos)O Pr-Modernismo no pode ser considerado um escola literria, mas sim um perodo literrio de transio do Realismo/Naturalismo para o Modernismo. De carter inovador, a maioria de seus membros no se enquadra como Modernistas por no terem sobrevivido o suficiente para participar ou terem criticado o movimento. Outro pr-modernista, que se encontra em pgina separada foiLima Barreto.Euclides da CunhaEuclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu a 20 de janeiro de 1866 e morreu envolvido num grande escndalo familiar, assassinado em duelo pelo amante da esposa, a 15 de agosto de 1909. Se formou engenheiro militar em 1892, exerceu a funo de engenheiro civil. Foi membro da ABL, do Instituto Histrico e catedrtico em Lgica pelo Colgio Dom Pedro II. Viajou muito e escreveuOs Sertespela experincia prpria de ter testemunhado a Guerra de Canudos como correspondente jornalstico do Estado de So Paulo.Positivista, por alguns autores considerado um naturalista, mas seu estilo pessoal e inconformismo caracterizam-no como um pr-modernista. As passagens a seguir provm deOs Sertes, sendo cada uma de uma parte da obra."Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaa-o na trama espinescente e no o atrai; repulsa-o com folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanas; e desdobra-se lhe na frente lguas e lguas, imutvel no aspecto desolado: rvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espao ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante..."Os Sertes- A Terra"Porque no no-los separa um mar, separam-no-los trs sculos..."Os Sertes- O Homem"E volvendo de improviso s trincheiras, volvendo em corridas para os pontos abrigados, agachados em todos os anteparos [...] os triunfadores, aqueles triunfadores memorados pela Histria, compreenderam que naquele andar acabaria por devor-los, um a um, o ltimo reduto combatido. No lhes bastavam seis mil Mannlichers e seis mil sabres; e o golpear de doze mil braos [...] ; e os degolamentos, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de canhoneio contnuo; e o esmagamento das runas; e o quadro indefinvel dos templos derrocados; e por fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares abatidos, dos santos em pedaos - sob a impassibilidade dos cus tranquilos e claros - a queda de um ideal ardente, a extino absoluta de uma crena consoladora e forte..."Os Sertes- A LutaMonteiro LobatoJos Bento Monteiro Lobato nasceu em 18/04/1882 como Jos Renato Monteiro Lobato e mudou seu nome mais tarde para poder usar a bengala com as iniciais JBML do pai. Bacharel em Direito contra a vontade, dizia sempre o que pensava e defendia a verdade. Escreveu livros para crianas e iniciou o movimento editorial brasileiro. Meteu-se em encrenca ao afirmar que o Brasil tinha petrleo (e estava certo). Editou livros para adultos e, desgostoso, voltou a literatura infantil. Morreu a 04/07/48. EmUrupsaparece pela primeira vez a figura de Jeca Tatu. Seu outro livro de contos muito famoso, que se junta a sua bibliografia de 30 obras Cidades Mortas. Uma caracterstica nica de Monteiro Lobato sua linguagem, simplificada, mais at do que a atual gramtica oficial."Como se fosse de natural engraado, vivera at ali da veia cmica, e com ela amanhara casa, mesa, vesturio e o mais. Sua moeda corrente era micagens, pilhrias, anedotas de ingls e tudo quanto bole com os msculos faciais do animal que ri, vulgo homem, repuxando risos ou matrecolejando gargalhadas."Urups"Pobre Jeca Tatu! Como s bonito no romance e feio na realidade!"Urups"A quem em nossa terra percorre tais e tais zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de incansvel caquexia, uma verdade, que um desconsolo, ressurte e tantas runas: nosso progresso nmade e sujeito a paralisias sbitas. Radica-se mal. Conjugado a um grupo de fatores sempre os mesmos, reflui com eles duma regio para outra. No emite peo. Progresso de cigano, vive acampado. Emigra, deixando para trs de si um rastilho de taperas."Cidades MortasOs seguintes so resumos de obras literrias que se enquadram no perodo do Pr-Modernismo. O Pr-Modernismo foi um perodo literrio caracterizado por inovaes como o uso de linguagem mais prxima da falada e a focalizao nos problemas reais do Brasil da poca, mas com caractersticas conservadoras que provinham do Realismo e do Naturalismo. Alm destes resumos tambm so dignos de nota os doscontos de Lima Barreto.Triste Fim de Policarpo QuaresmaAutor: Lima BarretoO livro conta a histria do Major (ele no era, apenas o chamavam, mas vem a se tornar mais tarde) Policarpo Quaresma, um nacionalista exaltado e ufanista que romantiza todo o Brasil. Na primeira parte da histria tenta fazer um a revoluo social de costumes, considerado louco e internado. Na segunda torna-se fazendeiro e planeja reformas nacionais tendo como base a agricultura. Na terceira se envolve nas Segunda Revolta da Armada, no lado governista e planeja mudanas polticas. Ao defender alguns prisioneiros, passado a revolta, preso e supostamente fuzilado no final. Toda a histria apresenta os funcionrios corruptos, ineficientes e bajuladores, a preguia, a incompetncia, a falsidade e a traio no cenrio poltico-social brasileiro. Vrias histrias passam-se no pano de fundo, notavelmente as de Ismnia e Olga, duas jovens muito distintas que encaram de modo diferente o casamento.Recordaes do Escrivo Isaas CaminhaAutor: Lima BarretoEste foi o primeiro livro publicado do autor e tem ntidos tons autobiogrficos. O jovem mulato Isaas, filho de uma negra e um padre, vai ao Rio de Janeiro estudar e trabalhar. Aps penar com o preconceito vrias vezes consegue um emprego de contnuo (algo como um office-boy) no jornal oposicionista "O Globo". Dirigido por Loberant (um anagrama para Beltrano), O Globo povoado pelos crticos literrios estpidos, jornalistas desonestos e gramticos puristas exagerados do tempo. Em meio s falcatruas do Quarto Poder Isaas testemunha os absurdos de sua poca. Quando Floc (o crtico literrio) se mata, Isaas torna-se reprter aps testemunhar uma orgia de Loberant ao avis-lo do acontecimento. Isaas vai assim integrando-se ao sistema e v os rostos mudarem: o estrangeiro combativo que lhe introduziu ao Globo sai aps o jornal passar para o governo (conseguiu Loberant o favor que queria) e o gramtico enlouquece com os constantes erros do falar de todos que o cercam.Clara dos AnjosAutor: Lima BarretoPassado no subrbio do Rio de Janeiro,Clara dos Anjosconta sobre a jovem e ingnua mulata Clara, filha do carteiro Joaquim dos Anjos, que seduzida pelo malandro Cassi Jones. Cassi um jovem branco, ignorante e torpe, que usa este sobrenome porque, supostamente, descende de um nobre ingls. Seu pai no fala mais com ele aps suas diversas aventuras que desonraram vrias donzelas e acabaram com vrios casamentos (a me de uma das vtimas se suicidou; o marido que ela arranjou depois distribui anonimamente um dossi sobre Cassi pelo RJ). Cassi toma Clara como seu prximo alvo e vai tentando se aproximar dela. Comea pela festa de aniversrio desta e vai seguindo, apesar dos pais dela no deixarem e do padrinho dela e tantos outros falarem sobre ele. Clara no acredita e continua curiosa sobre Cassi. Cassi passa a usar um velho, "dentista", que tratava de Clara; ele manda as cartas de um e outro. Depois de um tempo Cassi parte para So Paulo para um possvel emprego; Clara est grvida. Aps pensar em aborto, Clara revela a verdade me, que vai falar famlia de Cassi. L ela tratada como s "mais uma mulatinha" e percebe a verdade total. Pontilhado com referncias sobre o preconceito racial (um dos personagens poeta Leonardo Flores; mulato e talentoso, fica pobre pois foi explorado), este foi o primeiro romance de Lima Barreto mais um dos ltimos a ser publicado. Todos os personagens so tipicamente suburbanos e o vocabulrio j transpira a coloquialidade como caracterstico ao autor.Vida e Morte de M. J. Gonzaga de SAutor: Lima BarretoO ttulo desta obra enganador: pouco se v da vida ou da morte de Manuel Joaquim Gonzaga de S. O que se v so conversas entre o sexagenrio Gonzaga de S e seu jovem amigo Augusto Machado (mulato, um dos muitos alter-egos do autor), onde o que transpira uma conversa do autor consigo prprio, denunciando sempre os absurdos: burocrata da Secretaria de Cultos, Gonzaga de S critica sempre a mania estpida de aristocracia (logo ele, que descendente de Salvador de S) e a burocracia ineficiente, arcaica, mesquinha e intil. Existem ainda mais umas pitadas dos temas eternos de Lima Barreto: uma crtica ao preconceito, ao governo, a sociedade; a tudo, enfim, que de podre afligia ento e aflige hoje a humanidade. Existe ainda umcontorelacionado:Trs Gnios de Secretaria.Os BruzundangasAutor: Lima BarretoStira. Bruzundanga um pas fictcio, parecidssimo com o Brasil do comeo do sculo e o de hoje, cheio de elites incultas dominando um povo, com racismo (javaneses l, mulatos como o autor c), pobreza, obsesso com ttulos e riquezas e uma literatura de enfeite, sem sentido e desatualizada. O livro um dirio de viagem de um brasileiro que morou tempos na Bruzundanga, conheceu sua literatura, a escola samoieda (falsa, montona e afastada da cultura, com autores fteis e aconchavados com a classe dominante); sua economia confusa que exauri a riqueza do pas, sendo dominada pelos cafeeiros da provncia de Kaphet. Mostra tambm a obsesso por ttulos como os de nobreza e os de doutor, mesmo quando seus possuidores no so nobres e so pouco letrados. A seguir critica a legislao (a Constituio, baseada na de um pas visitado por Gulliver, tem uma lei que diz que se a lei no for conveniente a situao ela no vlida), a poltica (os presidentes, chamados Mandachuvas, assim como os ministros, os heris e os deputados, so estpidos e vazios), o processo democrtico (to corrupto quanto era na Repblica Velha), a cincia, o resto da cultura (quase nula, por vezes perto do negativo), o exrcito e a poltica internacional. Repleto de caricaturas de personagens da vida poltica da poca, como Venceslau Brs e o Baro de Rio Branco, o livro uma crtica ferina a sociedade brasileira, sua literaturasorriso da sociedadee sua organizao poltico-econmica.Cidades MortasAutor: Monteiro LobatoEmCidades Mortasa lngua ferina de Monteiro Lobato ataca o marasmo poltico-econmico-literrio de seu tempo. Nos contos "Cidades Mortas" e "Caf! Caf", assim como parcialmente em outros, critica a queda do caf e seus efeitos na populao que sobrevivia dele. Em outras histrias insere a crticas a literatura tediosa e fraca de seu tempo (citandoAlberto de OliveiraeBernardo Guimarespor nome), ao desprezo pela honestidade, ao absurdo e ridculo das cidades do interior paulista (principalmente a fictcia Itaoca, mas cidades cujo nome comea com "Ita" aparecem em vrios contos para mostrar cidades pequenas com habitantes com egos inflados), crueldade e estupidez humanas, ao exagero de nacionalismo com a participao na Primeira Guerra (no conto "O espio alemo"), ao abuso feito por aproveitadores com os que trabalharam duro e vrias pequenas histrias onde todos esses temas so tocados.UrupsAutor: Monteiro LobatoUrups no contm uma nica histria, mas vrios contos e um artigo, quase todos passados na cidadezinha de Itaoca, no interior de SP, com vrias histrias, geralmente de final trgico e algum elemento cmico. O ltimo conto,Urups, apresenta a figura de Jeca Tatu, o caboclo tpico e preguioso, no seu comportamento tpico. No mais, as histrias contam de pessoas tpicas da regio, suas venturas e desventuras, com seu linguajar e costumes.EuAutor: Augusto dos AnjosEu, nica obra de Augusto dos Anjos, rene sua obra potica. De linguagem cientificista (a minha edio tem "s" 373 notas de fim), o poeta mostra uma obsesso com a morte simultnea a sua averso a ela. Fala de si mesmo, da doena que o vitimou (tuberculose), da humanidade, dos sentimentos, do banal; tudo pessimismo, linguagem e tcnica impecvel. O vocabulrio e as imagens poticas, que incluem expresses como "escarra esta boca que te beija", levaram os crticos da poca a consider-lo um poeta de mau gosto; no verdade. Augusto dos Anjos emEudemonstra uma viso de mundo como a deMachadoque no se manifesta do mesmo modo sutil, mas igualmente poderosa. Parnasiano na forma e simbolista nas imagens, Augusto dos Anjos um pr-modernista e mostra nesta obra por seu estilo nico e inconfundvel.Contos GauchescosAutor: Simes Lopes NetoOsContos Gauchescosso uma coleo de contos que tem como ambientao no pampa gacho. Contado pelo envelhecido vaqueano Blau Nunes, as histrias contam de aventuras de pees e soldados. Ora protagonizadas, ora testemunhadas por Blau, as histrias narram sempre sobre o gacho, guerreiro, trabalhador, rstico. Nelas a linguagem sempre um dialeto caracterstico do interior do Rio Grande do Sul e existe um enorme respeito pelos elementos deste estilo de vida: os animais, os instrumentos, a paisagem. Existe tambm uma grande exaltao do esprito guerreiro do gacho, especialmente nas narrativas de guerra, ambientadas na maioria das vezes na Revoluo Farroupilha.Lendas do SulAutor: Simes Lopes NetoEste livro reconta vrias das lendas ancestrais do Rio Grande do Sul, passadas de boca a boca principalmente pelo interior. Apesar de vrias lendas menores recontadas terem razes tambm pelo resto do pas, as trs mais importantes so gachas: Boitat, Salamanca do Jarau e Negrinho do Pastoreio. A Boitat a famosa cobra de fogo que assim ficou por comer os olhos dos animais. O Negrinho do Pastoreio o escravo afilhado de Nossa Senhora que agora acha as coisas para aqueles que as perderam. A Salamanca do Jarau sobre a princesa moura e a fortuna que guardava. Esta lenda, que inspirourico Verssimoa escrever partes deO Tempo e O Vento - O Continente, tem a participao de Blau Nunes, o vaqueano criado por Simes Lopes Neto paraContos Gauchescos.Casos do RomualdoAutor: Simes Lopes NetoCompletando as histrias de Simes Lopes Neto sobre o RS, este livro conta os vrios casos de Romualdo, gacho do interior, contidos em suas memrias, que fariam corar o Baro de Munchausen. Entre outras coisas, v-se o parto de 87 ao mesmo tempo e da mesma me, a caa de onas a vela, o desenroscamento de tatus (no perguntem) e vrias outras histrias hilrias de caa, viagem e outros assuntos relacionadas ao RS, contadas no estilo de fala do estado.CanaAutor: Graa AranhaCana conta a histria de Milkau e Lentz, dois jovens imigrantes alemes que se estabelecem em Porto do Cachoeiro, ES. Amigos e antagnicos ao mesmo tempo, Milkau a integrao e a paz, admirando o Novo Mundo, Lentz a conquista e a guerra, pensando no dia que a Alemanha invadir e conquistar aquela terra. Ainda assim, ambos se unem e trabalham juntos na terra e prosperam. Mais tarde aparece Maria, filha de imigrantes pobres, que abandonada ao lu quando morre seu protetor e lhe abandona o amante, que pensava ser seu futuro marido. Vagando, tomada como louca e prostituta, rejeitada at na igreja antes de ser salva por Milkau, quem conheceu uma vez em uma festa e vai morar numa fazenda. L continua a ser maltratada at que um dia seu filho morto por porcos e ela acusada de infanticdio. Na cadeia Milkau passa a visit-la enquanto ela repudiada pela cidade inteira. Por fim a salva com uma fuga no meio da noite. A histria em si apenas pano de fundo para as discusses ideolgicas entre Milkau e Lentz, somando-se a isto retratos da imigrao alem e da corrupta administrao brasileira da poca (notavelmente no captulo VI).Os SertesAutor: Euclides da CunhaEste livro dividido em trs partes:A Terra,O HomemeA Luta. A Terra uma descrio detalhada feita pelo cientista Euclides da Cunha, mostrando todas as caractersticas do lugar, o clima, as secas, a terra, enfim. O Homem uma descrio feita pelo socilogo e antroplogo Euclides da Cunha, que mostra o habitante do lugar, sua relao com o meio, sua gnese etnolgica, seu comportamento, crena e costume; mas depois se fixa na figura de Antnio Conselheiro, o lder de Canudos. Apresenta se carter, seu passado e relatos de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes capturados. Estas duas partes so essencialmente descritivas, pois na verdade "armam o palco" e "introduzem os personagens" para a verdadeira histria, a Guerra de Canudos, relatada na terceira parte,A Luta. A Luta uma descrio feita pelo jornalista e ser humano Euclides da Cunha, relatando as quatro expedies a Canudos, criando o retrato real s possvel pela testemunha ocular da fome, da peste, da misria, da violncia e da insanidade da guerra. Retratando minuciosamente movimento de tropas, o autor constantemente se prende individualidade das aes e mostra casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo de um massacre que comeou por um motivo tolo - Antnio Conselheiro reclamando um estoque de madeira no entregue - escalou para um conflito onde havia parania nacional pois suspeitava-se que os "monarquistas" de Canudos, liderados pelo "famigerado e brbaro Bom Jesus Conselheiro" tinham apoio externo. No final, foi apenas um massacre violento onde estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu at o fim com seus derradeiros defensores - um velho, dois adultos e uma criana.Contos GauchescossobreResumos LiterariosporAlgo [email protected] 1 2 3 4 5Avaliao:2.7/5(19votos)[Simes Lopes Neto]

O livro composto por dezenove contos e neles percebemos as qualidades do narrador e paralelamente, os seus limites. Dois traos tornam-se ntidos:

a fixao do mundo gauchesco;

a oralidade e o regionalismo da linguagem.

Para isso, muito vale a estratagema do escritor, cedendo a palavra ao vaqueano Blau Nunes.

Blau Nunes contar os seus casos, recolhidos no 'trotar sobre tantssimos rumos'. E a sua fala - por ser teoricamente a de um gaudrio, a de um peo sem trabalho fixo - se esquivar, por vezes, da exaltao dos pampas e da condio gacha, que no fundo, foi sempre uma auto-exaltao dos oligarcas sulinos.

H no tom narrativo de Blau certa neutralidade, destruda aqui e ali pela saudade dos antigos tempos e por certo moralismo de origem crist. Porm a sua nostalgia vincula-se a uma poca na qual o gado ainda xucro era campeado - conforme o relato Correr eguada - e os pees tinham direito a sua tropilha nova, fato que no se repetiria numa sociedade cada vez mais dividida entre fazendeiros e trabalhadores.

Por outro lado, a significao moral das histrias exige-se sobre um sentimento de relativo desconforto no narrador com a violncia imperante no territrio gacho: a destruio do boi em serventia [ O boi velho ], a carnificina guerreira [ O anjo da vitria ], etc.

Ainda que esforo documental presida a obra, o registro dos costumes nunca gratuito. Liga-se ao dos contos e a psicologia simples dos indivduos. Em trs ou quatro narrativas, contudo, o valor do documento superado por uma legtima sensibilidade artstica: Trezentas onas, O contrabandista e O boi velho transcendem condio de espelho da regio, atingindo a chamada universalidade das grandes produes literrias.

Se muitos contos permanecem apenas como registro de costumes ou como anedotas bem contadas [eis o limite do autor pelotense], a linguagem em todos eles viva e cheia de dialetismos, o que, em parte, dificulta a leitura. O linguajar gauchesco reproduzido pelo escritor. Mas a utilizao que Simes Lopes Neto faz do regionalismo lingustico no visa o pitoresco, como acontece na maioria das manifestaes artsticas dita regionais. Nele, a expresso tpica uma decorrncia dos contedos trabalhados, e, por isso mesmo, somos capazes de superar as dificuldades de seu vocabulrio.

Como disse Augusto Meyer, h em sua obra 'o cuidado de reconstruir o timbre familiar das vozes'. E isso forneceria a mesma um efeito surpreendente de oralidade, encanto e frescor.

Trezentas Onas

O narrador Blau Nunes conta que, certa vez, viajando sozinho a cavalo, acompanhado apenas de seu cachorro, levava na guaiaca trezentas onas de ouro, destinadas a pagar um gado que compraria para seu patro. Um certo ponto da viagem, pra para sestear num passo, onde, depois de uma boa soneca, vai refrescar-se com alguns mergulhos na gua fresca.

Tornando a vestir-se e a encilhar o zaino, parte em direo estncia da Coronilha, onde devia pousar. Logo que sai a trotar pela estrada, o gacho nota que seu cachorro estava inquieto, latindo muito e voltando sobre o rastro, como se quisesse chamar seu dono para o pasto outra vez. Mas Blau Nunes segue seu caminho at chegar estncia da Coronilha. L chegando, ao apear do cavalo e cumprimentar o dono da casa, nota que no estava com sua guaiaca. Anuncia que perdera trezentas onas do patro e, preocupadssimo, monta o cavalo outra vez para voltar ao lugar onde teria deixado a guaiaca.

Depois de nova cavalgada, sempre acompanhado do fiel cozinho, Blau Nunes chega ao passo, j de noite, e no mais encontra a guaiaca no lugar onde tinha certeza de que havia colocado quando se despira para o banho. Desespera-se tanto por imaginar que seu patro o consideraria um desonesto, que pensa em suicidar-se. Chega a engatinhar o revlver e coloc-lo no ouvido, mas o cusco lambendo-lhe as mos, o relincho de seu cavalo, o brilho das Trs Marias, o canto de um grilo, tudo lhe invoca a presena e a fora divina, que o demove daquele ato transloucado.

Assim, o gacho reequilibra-se e decide que vender todos os seus bens e dar um jeito de pagar ao patro o prejuzo da perda das trezentas onas. E volta para a pousada na estncia da Coronilha. ento que tem uma feliz surpresa: sobre a mesa da sala do estanceiro, ao lado da chaleira com que se servia a gua do mate, estava a sua guaiaca 'empanzinada de onas de ouro'. Uma comitiva de tropeiros, que chegava estncia no momento em que ele voltava ao passo de sesteada, havia encontrado a guaiaca e a trouxera intacta. E esta foi a saudao que ele recebeu quando entrou na sala:

'-Louvado seja Jesus Cristo, patrcio! Boa noite! Entonces, que tal le foi de susto?'

Conto narrado em 1 pessoa, com muita descrio de paisagem.

No Manantial

Narrao em 3 pessoa. Na tapera do Mariano h um manantial. Bem no meio dele, uma roseira, plantada por um defunto, e gente vivente no apanha flores por ser mau agouro.

Carreteiros que ali perto acamparam viram duas almas: uma chorava, suspirando; outra, soltava barbaridades. O lugar ficou mal-assombrado.

Com Mariano morava a filha Maria Altina, duas velhas, a av da menina e a tia-av, e a negra Tansia.

Tudo em paz e harmonia.

Certa vez foram a um tero na casa do brigadeiro Machado. Maria Altina encontrou o furriel Andr, e os dois se apaixonaram [conchavo entre o pai e o brigadeiro]. Andr lhe deu uma rosa vermelha. Em casa, ela plantou o cabo da rosa e a roseira cresceu e floresceu. Surgiu o trato do casamento...o enxoval...

Chico, filho de Chico Triste, andava enrabichado pela Maria Altina, que no se interessava por ele e tinha-lhe medo.

Na casa de Chico Triste houve um batizado. O pai e a tia-av foram ajudar. Chico aproveitou-se, foi casa do Mariano, matou a av e quis pegar fora Maria Altina.

Esta, vendo a av morta, pegou o cavalo e saiu s disparadas, entrando no manantial. Chico atrs. Ela some e s fica a rosa do chapu boiando.

Me Tansia, que se escondera e vira tudo, vai procura de Mariano.

Nesse meio-tempo chegaram a casa os campeiros para comer. Viram a velha morta. Uns ficaram, e outros foram avisar Mariano e procurar Maria Altina....

Mariano apavorou-se, pensando que a filha fugira com o Chico. Nisso chegou a me Tansia e conta o sucedido. Todos vo ao manantial e encontram Chico atolado, boiando. Mariano atira e acerta Chico. O padre que ali est, coloca a cruz na boca da arma e pede que no atire mais. Mariano entra no lamaal, luta com Chico e os dois afundam e morrem.

A av foi enterrada tambm na encosta do manantial. Uma cruz foi benzida e cravada no solo pelos quatro defuntos.

Me Tansia e a tia-av foram por caridade, morar na casa do brigadeiro Machado.

E como lembrana do macabro acontecimento, ficou, sobre o lodo, ali no manantial, uma roseira baguala, roseira que nasceu do talo da rosa que ficou boiando no lodaal no dia daquele cardume de estropcios.

O Contrabandista

Narrao em 1 pessoa. Informaes histricas.

O contrabandista Jango Jorge. Mo aberta e por isso sem dinheiro. Foi chefe de contrabandistas. Conhecia muito bem lugares [pelo cheiro, pelo ouvido, pelo gosto].

Fora antes soldado do Gen. Jos Abreu.

Estava pelos noventa anos, afamilhado com mulher mocetona, filhos e uma filha bela, prendada, etc.

O narrador pousa na casa dele, era vspera do casamento da filha.

Tudo preparado, Jango Jorge parte para comprar o vestido e os outros complementos de contrabando. atacado, na volta, pelo guarda que pega o contrabando, mas ele no solta o pacote contendo o vestido e, por isso, morto. Os amigos levaram o cadver para casa, contaram como ocorreu e a alegria da festa vira tristeza geral.

Obs.: no meio do conto contada a histria do contrabando na regio, do comrcio entre os lugares, os mascates...

Jogo de Osso

Narrao em 1 pessoa, bastante descritivo.

Comea, dizendo que j viu jogar mulher num jogo.

Depois descreve a vendola do Arranho [um pouco para fora da vila, de propriedade de um meio-gringo, meio-castelhano, que tem faro para negcios: bebida, corrida, jogos, etc.].

Certo dia choveu e atrapalhou a jogatina. Cessada a chuvarada, resolvem jogar o osso. [Explica como se desenvolve a jogatina.]

Os jogadores eram Osoro [mulherengo, compositor] e Chico Ruivo [domador e agregado num rinco da Estncia das Palmas; vivia com Lalica.

Chico s perde e acaba apostando Lalica. Esta com raiva de Ter sido includa na aposta, comea a danar com Osoro [o ganhador] provocando Chico Ruivo, que no aguentando mais, vara os dois ao mesmo tempo com um faco.

O povo volta grita para que peguem Chico Ruivo, mas ele foge no cavalo de Osoro.

'-Pois , jogaram, criaram confuso, mas nenhum pagou a comisso...Que trastes!...' [falou o meio-gringo do bolicho].