os três domínios na obra de michel foucault 1
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FOUCAULT E EDUCAÇÃO
Karla Saraiva
O QUE ESTAMOS FAZENDO DE NÓS
MESMOS?
SITUANDO FOUCAULT• Poitiers, 1926 – Paris, 1984• Filho de médico e dona de casa• Dificuldades de relacionamento com o pai e com
colegas• Estudou filosofia na École Normale Supérieure (anos 50)
e também psicologia• Lecionou na Argélia, na Polônia e na Universidade de
Vincennes• Membro do Collège de France (1970)• É um dos nomes mais representativos da filosofia
contemporânea• Não focou pesquisas no campo educacional, mas
sendo-lhe infielmente fiéis podemos pensar de outro modo a Educação.
IMPLICAÇÕES NA PESQUISA• Pós-metafísica e construcionismo social• Ênfase nas práticas• Obra fragmentária: teoria/teorizações• Caixa de ferramenta: serve para muitas coisas, mas não
para tudo• Sua obra deveria ser como fogos de artifício• Forte caráter historicista: história do presente (os
acontecimentos, os aprioris históricos, tornam possível que algo venha a surgir, mas não determinam) – condições de emergência
• Não leva a “soluções”, mas principalmente a produzir problemas.
• Usar Foucault para problematizar as práticas: pensar o que estamos fazendo de nós
• Nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso – hipercrítica
OS TRÊS DOMÍNIOS DE FOUCAULT1º Foucault 2º Foucault 3º FoucaultArqueologia Genealogia (Ética)
Ser-saber sujeito de
conhecimento
Ser-poder sujeito de ação sobre
os outros
Ser-consigo sujeito de ação
sobre si
Que posso saber?
Que posso fazer? Quem sou eu? Quem posso ser?
Como? Problematiza a formação de
conhecimento
Por que? Problematiza o
surgimento de algo (relaciona saber e
poder)
Como nos tornamos o que
somos?Problematiza a subjetividade
SUJEITO
• “[Meu objetivo] não foi analisar o fenômeno do poder [...] foi criar uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos tornaram-se sujeitos”.
• Sujeitos de práticas: dos outros sobre si (dominação, sujeição) e de si sobre si mesmo (subjetivação).
• Tornamo-nos aquilo que somos por meio da combinação de práticas de sujeição e subjetivação, atravessadas por saberes e apoiadas em poder.
• O que estamos fazendo de nós mesmos?• Subjetividade: uma, mas em permanente transformação
(identidades, valores, representações) – aquilo que se é.
OS LIVROS FOUCAULT
1º Foucault 2º Foucault 3º Foucault
Nascimento da Clínica (63)
As Palavras e as Coisas (66)
Arqueologia do Saber (69)
Vigiar e Punir (75)
HS I – o uso dos prazeres (76)
HS II – a vontade de saber (84)
HS III – o cuidado de si (84)
História da Loucura (61)
OS CURSOS NO COLLÈGE DE FRANCE2º Foucault 3º Foucault
* Ordem do discurso (2/12/1970)* A vontade de saber (1971)Teorias e instituições penais (1972)A sociedade punitiva (1973)* O poder psiquiátrico (1974)* Os anormais (1975)* Em defesa da sociedade (1976)* Segurança, território, população (1978)* Nascimento da biopolítica (1979)
? Do governo dos vivos (1980)Subjetividade e verdade (1981)*A hermenêutica do sujeito (1982)* O governo dos vivos (1983)* A coragem da verdade (1984)
FOUCAULT E O PODER• Noção original de poder: diferente daquela da maioria
das correntes filosóficas e do senso comum• Poder: ação sobre ações dos outros• Seu funcionamento não privilegia as interdições, mas as
incitações (a um determinado comportamento ou ação)• Não é algo que se possui, mas que se exerce: são
práticas• Não existe relação entre indivíduos sem poder• Diferença entre violência e poder não é de grau, mas
qualitativa• Quanto menos visível, mais poderoso (quanto mais
sedução e menos coação)• Temáticas de poder em Foucault: disciplina, biopoder
governamento/governamentalidade
• Impossível localizar o poder em uma instituição ou, mesmo, no Estado;
• Poder não é propriedade, mas estratégia (microfísica do poder);
• É positivo, produz (ao contrário da violência);• Racionalidade do poder, irracionalidade da
violência.
NOTAS SOBRE O PODER
“Não há relação de poder sem a constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder”
Vigiar e Punir, p.27
RELAÇÃO SABER-PODER
• Antigo regime (medieval)• Todo criminoso: um pequeno regicida;• Punição: vingança, reparação;• Visibilidade do corpo do rei e dos que
sofrem a ação de seu poder;• Punições: expostas ao povo;• Muito escapava ao poder soberano• Custoso• Formação das cidades modernas:
dificuldade• Obediência negativa (não deve)
PODER SOBERANO
• Na sua forma laica, constitui-se lentamente a partir do final do século XVII;
• Gradativamente, a ênfase passa do poder soberano para o poder disciplinar;
• Invenção do Homem: cogito cartesiano e regulamentos;
• Ordem• Mais econômico (efeitos mais duradouros,
menos revoltas)• Obediência positiva (regulamentos)• Ao agir sobre o corpo, visava atingir a alma.
PODER DISCIPLINAR
“Não se deveria dizer que a alma é uma ilusão, ou um efeito ideológico, mas afirmar que ela existe, que tem uma realidade, que é produzida permanentemente, em torno, na superfície, no interior do corpo pelo funcionamento de um poder que se exerce sobre os que são [...] vigiados”
Vigiar e Punir, p.28
“A ALMA PRISÃO DO CORPO”Vigiar e Punir, p.29
PODER DISCIPLINAR• Alvo: corpo individual• Objetivo: produzir corpos
dóceis e úteis• Estratégias: fixar corpos
no espaço quadriculado, cortando a comunicação e controlando rigidamente o uso do tempo
• Recursos: vigilância hierárquica (panoptismo), exame, sanção normalizadora
• Instituições de sequestro: prisões, fábricas, escolas, quartéis, hospitais
PANÓPTICO
• Efeito negativo: evita o perigo das massas;• Efeito positivo: induz um estado de visibilidade
permanente:– Dissocia ver e ser visto– Induz os efeitos desejáveis sem uso de força– Sujeitos retomam limitações por conta própria (o rei está em
cada um)– Pastor e ovelha de si mesmo
• Diagrama ideal do poder disciplinar;• Aperfeiçoa exercício do poder
– Economia: poucos exercem poder sobre muitos– Intervenções preventivas– Exercício espontâneo– Por meio do corpo, atinge a alma
PANÓPTICO
Poder soberano Poder disciplinarQuebra as forças do corpo Maximiza a força de trabalho
e minimiza a força políticaObediência negativa Obediência positivaDestrói ProduzExtrai bens e riquezas Extrai tempo e trabalhoLuz sobre o corpo do rei Luz sobre os sujeitos infamesPunição: vingança Punição: corretivo
BIOPODER• Alvo: corpo-espécie
(população)• Objetivo: fazer viver, deixar
morrer (tecnologia de segurança)
• Não substitui, mas combina-se com disciplina
• Estratégias para reduzir riscos: biopolíticas
• Recursos: conhecimentos científicos, com ênfase na estatística
• O biopoder produz os riscos e as maneiras de reduzi-los
BIOPODER
• Dispositivos de segurança• Intervenções sobre o meio• Regulações• Não prioriza obediência (pode)
Poder Soberano Poder Disciplinar Biopoder
Alvo Território Corpo individual População
Objetivo Extrair riqueza Extrair produção Vida – população
Estratégia Justiça Norma disciplinar Norma de segurança
Tecnologia Lei Regulamentação Regulação
Foco da visibilidade Soberano Indivíduo População
Instrumento de visibilidade Rituais Vigilância
hierárquica Estatística