outubro 2010

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, OUTUBRO/2010 - ANO XIII - N o 165 O ESTAFETA Reprodução Dados recentes do IBGE apontam que o Brasil está envelhecendo. O crescente aumento da população de idosos nas últimas décadas tem-se tornado uma das questões mais rele- vantes em estudos contemporâneos nas diversas áreas do conhecimento. O envelhecimento, antes consi- derado um fenômeno, hoje faz parte da realidade da maioria das sociedades: O mundo está envelhecendo e nosso país também. Estima-se que existam, atual- mente, no Brasil, cerca de 17,6 milhões de idosos. Os brasileiros ativos com mais de 60 anos representam 10% de nossa população. Estudos recentes mostram que serão 30% até 2050. Além de motivo de orgulho, é também uma preocupação, pois essa evolução requer a criação de condições para que essas pessoas envelheçam de forma saudável. No âmbito sócio-político, observa- se o aumento dos serviços prestados aos idosos e a garantia de direitos adquiridos. As cidades estão crescendo em consequência do acelerado processo de urbanização e industrialização, e a população idosa vem encontrando dificuldades em adaptar-se. Grande parte não tem acesso aos espaços de lazer, desconhecendo a importância e os benefícios por eles oferecidos. Ações concretas são imprescindíveis para que a população idosa sinta os benefícios do lazer. Portanto, criar possibilidades de acesso ao lazer é fundamental. Assim, é importante reconhecer o trabalho executado pelo Clube de Convivência de Piquete - Cidade Paisagem, que, recentemente, reinaugurou, em 1 o de outubro, Dia Internacional do Idoso, a sede ocupada pela entidade, no antigo prédio do Grêmio General Carneiro. Construção da década de 1940, patri- mônio de valor histórico do município, o prédio faz parte do conjunto arqui- tetônico construído pela FPV na Praça Duque de Caxias. Havia muito o prédio necessitava de reformas e a entidade, organizada, por meio de apoios e parce- rias devolveu à cidade esse espaço de convivência, lazer e entretenimento. É cada vez maior o reconhecimento da importância do idoso para a popu- lação. Experiência de vida e qualificação para oferecer à sociedade eles têm de sobra. É preciso valorizá-los. Os 135 milhões de eleitores de 5.565 municípios do país escolherão, por meio do voto, no próximo dia 31 de outubro, quem, nos próximos quatro anos, estará à frente da Presidência da República. Deixando de lado interesses pessoais e ideológicos, o segundo turno das eleições presidenciais foi a melhor coisa que poderia acontecer para o Brasil, pois seria a oportunidade para confrontar as idéias dos dois candidatos mais votados no primeiro turno – Dilma Roussef e José Serra. Este seria o momento para o eleitor escolher quem realmente está mais preparado, possui compromissos claros, tem melhores propostas e consegue mostrar como irá implementá-las. Deve- ríamos poder identificar princípios, compro- missos assumidos, políticas públicas e como seria o processo de gestão para que viessem a ser executadas. Não basta dizer que vai fazer isso ou aquilo. Seria preciso que os candidatos deixassem claro quando e como pretendem fazer as reformas tão necessárias ao país – política, fiscal, tributária, previdenciária, trabalhista, agrária etc. Quais delas cada candidato julga prioritárias? Que estratégia política pretende utilizar para tê-las apro- vadas no Congresso Nacional? Sem isso não conseguiremos evoluir à velocidade em que o país e sua população necessitam. No entanto, quem esperou que esses temas fossem debatidos acabou se frustrando. A propaganda política dos candidatos ao Palácio do Planalto, Dilma e Serra, deixou a desejar. Faltou clareza para as poucas propostas. Perdeu-se tempo com assuntos de menor importância. Apesar da falta de respeito dos políticos para com os eleitores, estes souberam, no primeiro turno, vetar a lógica plebicitária e maniqueísta, levando a eleição para o segundo turno. A partir desse ponto-de- vista, a sociedade amadureceu: votou com seriedade e espírito cívico. A poucos dias do segundo turno, é preciso que o eleitor não se esqueça de que é o protagonista em qualquer eleição. O voto iguala a todos; daí sua importância e significado para a história do país. As propagandas fazem parte do proces- so eleitoral. As discussões temperam o clima e despertam consciência. Tudo é válido e importante. O essencial, porém, é respeitar a convicção do eleitor. Naquele momento, sozinho diante da urna eletrônica, o eleitor é o senhor da situação e pode teclar o número que quiser e decidir quem ele quer eleger. Por isso, as eleições são tão comen- tadas, discutidas e mexem com tanta gente. A vontade do eleitor é soberana. Dilma ou Serra. Vença quem vencer, quem sairá fortalecida é a sociedade. Que o novo Presidente tenha capacidade de liderança e de execução. Isso sim irá garantir que as políticas mais importantes saiam do papel, do campo das idéias, e sejam colocadas em prática. Dilma ou Serra Dilma ou Serra. Vença quem vencer, quem sairá fortalecida é a sociedade. Que o novo Presidente tenha capacidade de liderança e de execução. Isso garantirá que as políticas mais importantes saiam do papel, do campo das idéias, e sejam colocadas em prática.

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ANO XIII - No.165

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Page 1: OUTUBRO 2010

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, OUTUBRO/2010 - ANO XIII - No 165

O ESTAFETAReprodução

Dados recentes do IBGE apontamque o Brasil está envelhecendo. Ocrescente aumento da população deidosos nas últimas décadas tem-setornado uma das questões mais rele-vantes em estudos contemporâneosnas diversas áreas do conhecimento.

O envelhecimento, antes consi-derado um fenômeno, hoje faz parte darealidade da maioria das sociedades: Omundo está envelhecendo e nosso paístambém. Estima-se que existam, atual-mente, no Brasil, cerca de 17,6 milhõesde idosos. Os brasileiros ativos commais de 60 anos representam 10% denossa população. Estudos recentesmostram que serão 30% até 2050. Alémde motivo de orgulho, é também umapreocupação, pois essa evolução requera criação de condições para que essaspessoas envelheçam de forma saudável.

No âmbito sócio-político, observa-se o aumento dos serviços prestadosaos idosos e a garantia de direitosadquiridos. As cidades estão crescendoem consequência do acelerado processode urbanização e industrialização, e apopulação idosa vem encontrandodificuldades em adaptar-se. Grande partenão tem acesso aos espaços de lazer,desconhecendo a importância e osbenefícios por eles oferecidos. Açõesconcretas são imprescindíveis para quea população idosa sinta os benefíciosdo lazer. Portanto, criar possibilidadesde acesso ao lazer é fundamental. Assim,é importante reconhecer o trabalhoexecutado pelo Clube de Convivênciade Piquete - Cidade Paisagem, que,recentemente, reinaugurou, em 1o deoutubro, Dia Internacional do Idoso, asede ocupada pela entidade, no antigoprédio do Grêmio General Carneiro.Construção da década de 1940, patri-mônio de valor histórico do município,o prédio faz parte do conjunto arqui-tetônico construído pela FPV na PraçaDuque de Caxias. Havia muito o prédionecessitava de reformas e a entidade,organizada, por meio de apoios e parce-rias devolveu à cidade esse espaço deconvivência, lazer e entretenimento.

É cada vez maior o reconhecimentoda importância do idoso para a popu-lação. Experiência de vida e qualificaçãopara oferecer à sociedade eles têm desobra. É preciso valorizá-los.

Os 135 milhões de eleitores de 5.565municípios do país escolherão, por meio dovoto, no próximo dia 31 de outubro, quem,nos próximos quatro anos, estará à frenteda Presidência da República. Deixando delado interesses pessoais e ideológicos, osegundo turno das eleições presidenciaisfoi a melhor coisa que poderia acontecer parao Brasil, pois seria a oportunidade paraconfrontar as idéias dos dois candidatosmais votados no primeiro turno – DilmaRoussef e José Serra. Este seria o momentopara o eleitor escolher quem realmente estámais preparado, possui compromissosclaros, tem melhores propostas e conseguemostrar como irá implementá-las. Deve-ríamos poder identificar princípios, compro-missos assumidos, políticas públicas e comoseria o processo de gestão para que viessema ser executadas.

Não basta dizer que vai fazer isso ouaquilo. Seria preciso que os candidatosdeixassem claro quando e como pretendemfazer as reformas tão necessárias ao país –política, fiscal, tributária, previdenciária,trabalhista, agrária etc. Quais delas cadacandidato julga prioritárias? Que estratégiapolítica pretende utilizar para tê-las apro-vadas no Congresso Nacional? Sem isso nãoconseguiremos evoluir à velocidade em queo país e sua população necessitam. Noentanto, quem esperou que esses temasfossem debatidos acabou se frustrando. Apropaganda política dos candidatos ao

Palácio do Planalto, Dilma e Serra, deixou adesejar. Faltou clareza para as poucaspropostas. Perdeu-se tempo com assuntosde menor importância.

Apesar da falta de respeito dos políticospara com os eleitores, estes souberam, noprimeiro turno, vetar a lógica plebicitária emaniqueísta, levando a eleição para osegundo turno. A partir desse ponto-de-vista, a sociedade amadureceu: votou comseriedade e espírito cívico.

A poucos dias do segundo turno, épreciso que o eleitor não se esqueça de queé o protagonista em qualquer eleição. O votoiguala a todos; daí sua importância esignificado para a história do país.

As propagandas fazem parte do proces-so eleitoral. As discussões temperam o climae despertam consciência. Tudo é válido eimportante. O essencial, porém, é respeitara convicção do eleitor. Naquele momento,sozinho diante da urna eletrônica, o eleitoré o senhor da situação e pode teclar onúmero que quiser e decidir quem ele quereleger. Por isso, as eleições são tão comen-tadas, discutidas e mexem com tanta gente.A vontade do eleitor é soberana.

Dilma ou Serra. Vença quem vencer,quem sairá fortalecida é a sociedade. Queo novo Presidente tenha capacidade deliderança e de execução. Isso sim irágarantir que as políticas mais importantessaiam do papel, do campo das idéias, esejam colocadas em prática.

Dilma ou Serra

Dilma ou Serra. Vença quem vencer, quem sairá fortalecida é a sociedade. Que o novo Presidente tenhacapacidade de liderança e de execução. Isso garantirá que as políticas mais importantes saiam do papel,do campo das idéias, e sejam colocadas em prática.

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O ESTAFETAPágina 2 Piquete, outubro de 2010

Imagem - Memória

Quando, em 1891, ocorreu a emancipaçãopolitico-administrativo de Piquete, nãohavia um padre residente no novo municípiopara administrar a Paróquia de São Miguel.Para a celebração da missa solene de posseda 1a Intendência da Vila Vieira do Piquete,em 15 de junho, foi preciso buscar no Embaúo padre Castro.

Logo após a criação, em 1888, da Paró-quia de São Miguel, foi nomeado seuprimeiro padre o italiano Francisco Fillipo.Esse religioso ficou, porém, por pouco tempoem Piquete. Assim, a Matriz ficava anexadaora à Estola de Lorena, ora à do Embaú. Vezou outra, um religioso vinha a Piquetecelebrar missa. Por mais de quatro décadasesta foi a situação da igreja de São Miguel.Somente a partir de fevereiro de 1934,quando o padre João Guimarães foi no-meado pelo Bispo Diocesano de Taubaté,Dom Epaminondas Nunes D’Avila, paraadministrar a Paróquia, é que a populaçãopassou a contar diariamente com um padre.

Mesmo ao longo do período em que ficousem vigário, a comunidade católica pique-tense manteve-se fiel à Igreja. Contribuírampara isso as ações evangelizadoras dasSantas Missões, ocasião em que vinham aPiquete padres que traziam o desejo, o ardore a alegria de comunicar o Evangelho deCristo. A presença desses religiosos atraíaa população, ansiosa por escutá-los.Visitavam a zona rural, onde abençoavamos frutos da terra, aproximavam-se das

famílias criando uma relação afetiva com osmoradores. Muitos deles, caridosos, despo-jados e dotados de excelente oratória,marcaram com seus exemplos a vida demuitas pessoas.

As visitas missionárias constituíam ummomento privilegiado de contato do padrecom a comunidade, reavivando a comunhãoe aproximando a população da Igreja. Haviapreocupação não apenas com os quefrequentavam a Igreja, mas também com oscatólicos que não a frequentavam; e aindacom outros, pois era viva a idéia de que aIgreja tem como missão levar o Evangelho atodos. Por isso, esses padres ficavam diasem Piquete, fortalecendo o espírito cristão.Reforçavam, ainda, aos pais a necessidadedo batismo, a importância de educar seusfilhos sob os preceitos da fé e a necessidadede manter a regularidade da presença naigreja.

Revendo o livro do Tombo da Matrizde São Miguel, evidencia-se que a primeiradas Santas Missões em Piquete ocorreu em1915. De Aparecida vieram os padresredentoristas Antônio Lisboa e JoséAfonso, que permaneceram quinze diascelebrando na matriz de São Miguel e nosbairros rurais. Os registros mostram queforam incansáveis no atendimento a todose que a visita rendeu excelentes frutos.Foram realizados casamentos de pessoasamasiadas ou casadas apenas no civil,confissões, batizados etc.

Em 25 de abril de 1942 chegaram àParóquia, em missão, os capuchinhos FreiNiceto e Frei Lino, franciscanos menores.Representantes da comunidade e de associa-ções religiosas foram recebê-los na EstaçãoFerroviária Rodrigues Alves. Grande orador,Frei Niceto sensibilizava a todos com suasprédicas. Os dias que aqui permaneceramforam de muito trabalho missionário. FreiNiceto pregava todos os dias na Matriz deSão Miguel, enquanto Frei Lino evange-lizava na Igreja de São José. Visitaram ascapelas rurais e muitas famílias. A missãofoi encerrada no dia 1o de maio, com atradicional Páscoa dos Operários. Osnúmeros são surpreendentes: 1500 confis-sões, 28 casamentos legitimados e inúmeraspregações. O prefeito José Monteiro de BritoJúnior doou um Cruzeiro, benzido solene-mente na Praça 15 de Junho, em frente àPrefeitura, evento que contou com apresença de autoridades locais e de grandenúmero de fiéis de Piquete e da Vila São José.Da porta do Paço Municipal, Frei Nicetofalou “com entusiasmo e vibração”. Depois,em vultosa procissão, o Cruzeiro foicarregado pelas ruas da cidade, cortejoabrilhantado pela banda da FPV, queterminou em frente à Matriz, onde, entrecantos e vivas e novamente as palavrasenvolventes do Frei Niceto, foi implantadocomo lembrança desses dias de evange-lização.

As Santas Missões

Fotos arquivo Pro-Memória

Na Estação Ferroviária Rodrigues Alves, representantes da comunidade católica recebem os frades capuchinhos em sua chegada a Piquete para pregar asSantas Missões, em 25 de abril de 1942. Na foto, (E/D), Zequinha Meirelles, ?, José Vieira, ?, Venino Vieira, Jeferson, Frei Niceto, João Vieira, Frei Lino,Luiz Vieira, Paulo Lodi e Joaquim Augusto.

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, outubro de 2010

Terezinha Maduro

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

A maioria dos professores que conhecinasceu para ensinar. Cumpriam seu devercomo mestres, cientes da importância de seuofício e felizes por vislumbrar o futuro deseus alunos.

Piquete foi privilegiado na área deEducação. Por meio da Fábrica PresidenteVargas, dispôs de docentes de qualidadeindiscutível e pioneiros métodos de ensino.Uma das professoras beneficiadas por esseprivilégio foi Terezinha Maduro.

Filha mais velha do casal Joaquim PereiraMaduro e Zulmira dos Santos Maduro,Maria Terezinha Maduro dos Santos é a maisvelha entre dez irmãos. Nasceu em Itajubáem 16 de fevereiro de 1934.

Em 1944, quando contava dez anos e jáhavendo cursado dois anos do primário, opai veio para Piquete trabalhar na Fábrica etrouxe a família, ainda com seis filhos. Nacidade paulista, vieram residir em uma casaà rua São Benedito, onde nasceram osoutros quatro filhos do casal e onde suamãe permaneceu por toda a vida.

Terezinha foi matriculada, então, noGrupo Escolar Antônio João, de onde citaas professoras D. Palmira Ferrari e D. AliceLuz e o diretor Benedito Edson de FrançaGuimarães. Após concluir o primário, prestouo “Exame Admissional”. Aprovada, ingres-sou no Ginásio da FPV. Em seguida, cursoua Escola Normal Livre Duque de Caxias. Emambos, “fomos a primeira turma... Essasescolas foram ‘feitas para mim’”, brinca,orgulhosa. Dessa época, cita os amigosChico Máximo e Olga Ecklund: “Eram os maischegados...” reforça.

Em 1952, aos 18 anos, formada profes-sora, Terezinha foi lecionar no curso noturnoda Escola Darwin Felix, na alfabetização deadultos. Em seguida, assumiu sala no cursopré-primário na Escola da FPV, sob a direçãodo professor Leopoldo Marcondes deMoura Netto. Em 1954, após ser aprovadaem concurso do Estado, tornou-se efetivana Escola Mista da Paineira de Cima, na zonarural de Cunha, “a uns 15km do centro deCunha... Vinha para cá uma vez por mês ouem ocasiões especiais... Era muito difícil:ônibus até Guaratinguetá, depois Cunha...Lá, era somente com carona, caminhão demoradores...”. Não demorou muito emCunha: cerca de um ano e meio e já retornavaa Piquete, de volta ao Darwin Félix, ondeficou por cerca de nove anos. Foi, então,para São Paulo, tendo ficado na

capital do Estado por três anos. Retornou,comis-sionada, para o Departamento Educa-cional da FPV, lecionando na “Escola doprofessor Leopoldo”... Removi-da, passouos últimos anos da carreira no GuimarãesRosa, onde se aposentou em 1982.

Dona Terezinha diz que “Sempre gostoude ser professora... Na minha época,tínhamos o apoio dos pais das crianças.Com isso, tínhamos autoridade sobre osalunos e também o respeito deles”. Afirmaque o gosto pelo magistério foi-lhe passadopelos excelentes professores que teve.

Em 11 de janeiro de 1957, Terezinhatornou-se esposa de Jorge Pereira dosSantos. Têm dois filhos, seis netos e umabisneta.

Desde que se aposentou, Terezinhapassou a se dedicar aos netos, inclusive coma educação. Em casa, era a responsável pelacobrança das tarefas, por tomar-lhes atabuada, complementar-lhes as liçõesrecebidas na escola. Faz questão de citar,também, o zelo pelos pais, dos quais cuidouaté que “partissem”. Sua herança e dosirmãos foi a educação, exigência do pai: asseis irmãs são professores; dos homens, umtambém é do Magistério e outros militares.

A carreira e a vida de Terezinha Madurosão exemplos do modelo de professorescuja vocação e amor pela profissão vêmse tornando raros em nossos dias. Aolecionar com amor, aplicava os métodosdisponíveis, mas também os recursos quevislumbrava para transmitir às criançasos ensinamentos necessários. A dedica-ção e a responsabilidade aumentavamfrente às dificuldades de transporte, defalta de recursos e da separação dosfamiliares por que muitos passaram. Noentanto, o resultado é o orgulhodemonstrado no brilho do olhar quandoconta ser “uma de suas maioresalegrias” ter ensinado duas gerações:pai e filho foram por ela alfabetizados.E, ainda hoje, quando recebe convitesde formatura, casamento de ex-alunos: “É sinal de que fui importantepara eles. E isso nos traz alegria!”,conclui emocionada.

Notas da Cidade

Festa de São BeneditoA Paróquia de Santo Antônio de Pádua

e a Irmandade de São Benedito promo-veram, entre os dias 20 e 23 de outubro, afesta em homenagem a este tradicionalsanto católico. Todas as noites foi realizadaa reza do terço, seguida de missa. No dia23, sábado, às 18h30min, aconteceu asolene procissão pelas ruas próximas àcapela, na Vila Barão. Houve, ainda,apresentação do Grupo de Moçambique,de Lorena. Todas as noites, uma quermesseanimou os fiéis.

Festa no Bairro dos MarinsAconteceu entre os dias 21 e 24 de

outubro, no Bairro dos Marins, a tradicionalFesta de Nossa Senhora Aparecida,padroeira daquele bairro piquetense. Aprogramação constou de missas comapresentações de corais, forró pé-de-serra,leilão, barracas com salgados e doces,corrida rústica de 12 km, caminhadaecológica, palestra sobre ecoturismo eapresentação de filmes.

No dia da festa, houve grande queimade fogos em louvor a Nossa SenhoraAparecida e carreata com carros-de-boi, queconduziram a imagem de Nossa SenhoraAparecida até a Capela.

A FCR parabeniza os organizadores.

Jongo de Piquete em Vassouras/RJNo dia 23 de outubro, o Jongo de

Piquete participou da Noite de Jongo, emVassouras/RJ. O evento foi promovido pelaUniversidade Federal Fluminense, quemantém o Pontão de Cultura “Jongo –Caxambu”. As rodas de Jongo contaramcom grupos de Valença, Vassouras, Angrados Reis, Arrozal, Piraí, Barra do Piraí,Miracema, Pinheiral, Porciúncula, SantoAntônio de Pádua, Serrinha e Rio de Janeiro.Piquete, Guaratinguetá, Campinas, São Josédos Campos foram os representantes doestado de São Paulo. Do Espírito Santo,esteve presente o grupo de São Mateus. Afesta aconteceu na Praça Barão do CampoBelo e varou a madrugada.

Alunos da Escola Normal Livre Duque de Caxias - 1952

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O ESTAFETA Piquete, outubro de 2010Página 4

O Pórtico emblemático da “FábricaPresidente Vargas” é uma concepçãodestacável do gênio artístico de AntônioCésar Dória.

Na forma generalizada do mo-numento, os baixos-relevos remetem-se aos referentes históricos quederam origem e fundamento à Fábricae ao seu papel na indústria voltadapara as questões da defesa.

No alto, no capitel central, o íconedas armas nacionais e da bandeirapermanentemente hasteada anunciama entrada para a zona militar, segundoa demarcação tradicional contida nomunicípio piquetense. Da base aotopo do capitel são vinte metros.

Dois medalhões laterais às Armascorrespondem às efígies de Fran-cisco de Paula Rodrigues Alves,Presidente da República entre 1902-1906, e seu Ministro da Guerra,Marechal Francisco de Paula Argollo.Trata-se de importantes significantesda concepção da Fábrica que, termi-nada sua construção em 1907, tevesua inauguração a 15 de março de1909, cujo primeiro centenário come-moramos no ano passado. Para completaresse conjunto homenageante, lateralmentesão vistos D. Pedro no ato da Inde-pendência e Deodoro da Fonseca no atoda proclamação da República, além deCaxias no emblemático gesto de Pacifi-cador. Em imagens entrevistas a esseconjunto sobressai de forma alegórica aação das Forças Armadas, inclusive daAviação que, em 1906, iniciava sua trajetóriacom o evento do voo inaugural em Parisdo 14-Bis de Alberto Santos Dumont. Oprogresso anunciado pelos positivistasconcretizava-se em 1906 pelo governo deRodrigues Alves e o andamento da cons-trução da Fábrica de Pólvora Sem Fumaça,“A nossa Fábrica”.

Por isso, nas Armas Nacionais, na faixaonde se inscreve República dos Estados

Unidos do Brasil, denominação oficial daépoca, aparece simbolicamente a data de 15de março de 1909 – a data da inauguraçãoda Fábrica.

Estes ícones estão na face frontal domonumento para os que, circulando noterritório municipal, adentram a citada ZonaMilitar, segundo os desígnios estratégicosque marcaram o período pré-Imbel. Hoje, oforo das ações urbanas aí está condicio-nado ao território municipal plenamenteadministrado pela Prefeitura.

Para vislumbrar os citados ícones éinteressante salientar os painéis alegóricosdescritos pelo Capitão Jacy Eleotério daCosta, na obra Piquete, o pequeno mundode um artista – 1978, referente ao escultorAntônio César Dória.

Diz o autor Jacy Eleotério da Costa quea alegoria à Pátria Brasileira (painel 1) exibea representação de uma “cândida mulhervestida de peplo (capa comprida dasmatronas romanas, de rico tecido, comfiguras de deuses e heróis, tendo à cabeçao barrete frígio)”. Este barrete é simbólicodas idéias republicanas que já vicejavam naRoma antiga. Nas mãos da figura feminina,a bandeira brasileira, e no entorno dela,soldados e marinheiros com as espadasdesembainhadas a sugerir luta pela defesa.Corneteiros acionando seus instrumentose o povo formado de homens, mulheres ecrianças completam o quadro.

A descrição do autor para o painel denúmero 2 refere-se à representação dos

O Pórtico da FPVpatronos do Exército, o Duque de Caxias, eda Armada, o Almirante Tamandaré. Paracompletar, Santos Dumont como Pai daAviação. Simbolicamente conjuga-se o

conjunto alegórico por “um dragãoda Independência em sua montada”e três oficiais das diferentes forçascom as espadas abatidas em conti-nência militar.

Na face oposta do arco, doismedalhões encimando o frontão dopórtico voltado para a FPV, sãorepresentadas as medalhas recebidaspelo Estabelecimento em exposiçõesinternacionais (Torino e Rio deJaneiro).

Por sua vez, a simbolização embusto do químico francês, PauloVieille, inventor da pólvora semfumaça, tem sobre a cabeça umaáguia, e ao seu lado, uma retorta eum grau representando a ciência.Imagens da tecnologia mais recenteassociam-se a uma torre que lançacentelhas, (raios elétricos e forçamotriz) como referência à engenhariae às comunicações. Então, visuali-zamos um canhão moderno, um

tanque de guerra e um cogumelo atômico.Lateralmente às representações citadas,

a alegoria à indústria bélica (lado esquerdo)e um Titã abrindo montanha, referência àdinamite (lado direito). Completando oquadro, os destaques para o ensino e aeducação, (o lado social), trabalho – o malho,a bigorna e a oficina, o progresso, e a ciência.Uma bandeira da Fábrica em representaçãoicônica soleniza essas referências e as tornatópicas na vida da cidade. O Pórtico foiinaugurado a 15 de novembro de 1955, datapróxima da comemoração do primeirocinqüentenário da FPV (1959). O diretor geralera o Cel. Edgard de Abreu e Lima (15-11-1953 – 15-3-1956). O Pórtico é um dos nossosprincipais monumentos.

Dóli de Castro Ferreira

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O ESTAFETA Página 5Piquete, outubro de 2010

França 1885... Émille Zola lança Germinal,romance que conta a exploração dos traba-lhadores de minas de carvão na região deMontsou. Baixos salários, exaustivasjornadas e péssimas condições de trabalhosão alguns dos pontos apresentados naobra. Com os ânimos se acirrando, osmineiros tomam consciência de que a formade vida que levavam não era algo natural,que enquanto penavam por pão e água aofim do dia, os “burgueses” comiam carnes ebiscoitos. Em certo momento, uma súbitaredução dos salários, já baixíssimos, detonauma sangrenta greve.

Para escrever Germinal, Zola passoudois meses trabalhando como mineiro naextração de carvão. Viveu com os eles,comeu e bebeu nas mesmas tavernas. Sentiuna carne o trabalho sacrificado e insano, ocalor e a umidade dentro da mina, a promis-cuidade das moradias e a fome. Além do mais,acompanhou de perto uma greve.

Viajemos no tempo...França 2010: greve geral paralisa o país:

meios de transportes parados, violência nasperiferias, passeatas.

Brasil 2010: greve de bancários prejudicaa população; pagamentos atrasados, multasinvoluntárias.

Chile 2010: mais de um bilhão depessoas assistem ao difícil resgate dos 33mineiros presos numa mina de ouro noChile. Comoção e emoção foram a tônica.Políticos presentes. Após 68 dias presos,os mineiros foram libertados, um a um, pormeio da já mítica capsula “Fênix” – nomemais providencial seria difícil...

Não por coincidência, os francesesdemonstram que não se curvarão facilmenteàs reformas propostas pelo atual presidente.Não por coincidência, brasileiros e chilenosmantêm-se passivos ante às mazelas dopaís. Por quê?

Vislumbrei uma conexão entre os mo-mentos relatados acima e fiquei imaginando:por que épocas separadas por mais de umséculo apresentam tantos pontos em comume, ao mesmo tempo, situações contem-porâneas são encaradas de forma tão

distinta? No Chile, os mineiros tornaram-seheróis nacionais, vão lançar livro, dãoentrevistas diariamente. Foram raros, porém,os momentos em que ouvi questionamentossobre as condições de segurança da minaque desabara. Num trabalho de marketingdo governo, os trinta e três deixaram a minacom melhor aparência do que haviamentrado... Espetacular a forma como atrasoe modernidade ficaram lado a lado. Oprimeiro fica claro nas inquestionáveiscondições insalubres e inseguras de traba-lho dos mineiros; a segunda demonstrou-se na tecnologia que permitiu encontrar oponto em que os homens se encontravampresos, mantê-los vivos e efetivar o resgatede forma cinematográfica quase dois mesesantes do previsto... No Brasil, a greve dosbancários é o único momento de protestofrente a tantos desmandos econômicos,sociais e políticos; é aplacada, porém, pelaparcialidade da adesão e pelos resultadospífios conseguidos junto aos banqueiros.

Vivemos numa sociedade repleta deinformações. Contraditoriamente, a massaoperária já não constitui uma classe comoantes e condições sub-humanas de tra-balho continuam a existir. A insegurança, oconsumismo, a individualidade vêm nosalienando. No Brasil, os perigos querondam nossos mineiros e tantas outrasfunções são deixados de lado para sediscutir a opinião sobre o aborto ou oarremesso de um rolo de fita crepe...

Os mineiros chilenos de 2010 me fizeramlembrar Van Gogh (outra estória...) e Zola:a passividade de brasileiros e chilenoscontemporâneos me entristece; já a bravurademonstrada pelos mineiros oitocentistasme fez constatar que precisamos de líderese de vergonha na cara.

No último dia deste outubro, elegeremoso novo presidente da república. Seja quemfor o eleito, não dependerá deles o futurodo Brasil. Dependerá dos Etiennes eRasseneurs que existem dentro de nós.Descubram-nos e seremos muito maisrealizados e felizes!

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Émille Zola, chilenos e brasileiros...

Rep

rodu

ção

Outubro é o mês de mobilização inter-nacional pela detecção precoce do Câncerde Mama. Para divulgar este movimentofoi adotada uma cor que distingue o mês:o rosa. O Instituto Nacional de Câncer(Inca), órgão auxiliar do Ministério daSaúde no desenvolvimento e coorde-nação das ações integradas para aprevenção e controle desta doença,participa da mobilização com diversasações no Brasil.

O câncer de mama atinge por volta decinquenta mil mulheres, todo ano, deacordo com o Inca. Mas esse quadro podeser mudado. Algumas medidas simples noseu dia-a-dia podem ajudar a prevenir essadoença que tanto preocupa o universofeminino.

Recentemente, uma lei federal passoua garantir a toda mulher acima de 40 anos arealização da mamografia no Sistema Únicode Saúde (SUS). É preciso que as mulheresse conscientizem da importância desseexame e exijam o seu direito. Esse exame éa melhor forma para detecção precocedeste tipo de câncer.

O autoexame deve ser feito sempre, demaneira que a mulher conheça o seupróprio corpo e procure um médico senotar algo estranho – caroços, alteraçõesno formato ou feridas ao redor dos mamilos.É importante lembrar que o exame de toqueou autoexame não substitui a mamografia.Pelo contrário, é somente na mamografiaque o câncer pode ser descoberto noinício, aumentando as chances de cura.Hoje, a grande maioria dos casos de câncertem cura. Mas, para o sucesso é muitoimportante o diagnóstico precoce dadoença.

Muitas mulheres atrasam o tratamentoalegando dificuldade no atendimentomedico. O artigo 5º da Constituiçãodetermina a universalidade dos atendi-mentos, isto é, todo cidadão tem direito aoatendimento gratuito. Por isso, o Minis-tério da Saúde garante o atendimentointegral a qualquer portador de doençagrave, por meio do SUS. É importantesaber, ainda, que as medidas que dãosuporte à cirurgia de retirada do tumor, nocaso de câncer de mama, como quimio-terapia, radioterapia e medicamentosantitumorais também são asseguradas pelaLei no setor público. Medicamentos de altocusto são padronizados pelo Ministério daSaúde para o tratamento de determinadasdoenças, inclusive o câncer de mama.

Depois de fazer todos os procedi-mentos, exames, consultas e de esclarecidaa doença na unidade de saúde de refe-rência, o usuário será cadastrado noprograma de medicamentos excepcionaisna Gerência de Insumos do SUS e entrarána agenda de recebimentos.

Câncer de mama: aprevenção é o melhor

remédio

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O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, outubro de 2010

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroVida triangular

Cavalo mecânico

Em momentos de grande reflexão, essa

minha cabeça de peneira furada consegue,

às vezes, chegar a caminhos que me abalam.Fixava, firme, uma tripeça. Aqueles três

pontos de apoio trouxeram-me logo à mente

a Santíssima Trindade. O grande mistério!Saí do lado místico e comecei a proces-

sar uma ligação cotidiana baseada em três

pontos. A primeira que me veio foi saber doque se necessita para ser assaltado: o

bandido, a arma e o interesse. Pelo menos

estas três coisas básicas: o bandido e a armanão oferecem dúvidas; mas qual a razão do

interesse? Fica claro... Se você é um pé-

rapado, nem ladrão pé-de-chinelo vai seinteressar. Entretanto, se você é assaltável,

pode ficar duro... Nos dois sentidos...

Nós, fumantes, vamos encontrar o maço,os cigarros e o fogo. Compra-se uma carteira

por dinheiro; abre-se, retira-se do seu

interior um cigarro e o acende-se. O quartofato é a culminância da burrice: paga-se para

queimar dinheiro e aspirar um fumacê cheio

de droga e de malefícios.Uma outra visão se me apresenta: o

ônibus, o motorista e o ponto. O motorista

toca o ônibus por determinada linha ondeestão localizados os pontos. Se você não

estiver no ponto, dança. Dependendo do

motorista, se ele desconfiar que só temaposentado, só carteirinha gratuita, os

coitados podem correr de ponto em ponto,

que ele não para mesmo...

Hora da boia: o feijão, a panela, o fogo.

Evidente que se há de pôr o feijão na panela,com pressão, de preferência, e fogo, para

cozinhar. Esperar amolecer, temperar e comer.

O problema é o tutu para comprar o feijão,que, por vingança, a gente joga farinha no

bicho pra virar tutu no duro...

A vaca, a cria, o leite... Para produzir avaca tem que parir. E o leite, que deveria ser

só do bezerrinho, tem a sua maior parte

retirada pelo criador, que adiciona água proleite não ficar muito com cor de leite. Para

chegar ao mercado, vai, antes, ser pasteu-

rizado. E do leite, um dos mais ricosalimentos, criança pobre não sabe nem a cor...

Um outro jogo tríplice: o emprego, a

produção e a remuneração. O primeiro, quemtem tá com tudo e não tá prosa... Já o

segundo, empaca no empacado... O terceiro

item nunca é correspondente à realidade...Um fato que vai começar a pegar fogo: o

candidato, o voto e o eleito. Candidato, a

gente sabe, empata com número de elei-tores... O voto é único e secreto. Logo, o

eleito, pela incerteza em saber quem o

sufragou, sente a desobrigatoriedade decumprir a promessa feita.

Uma página... Um espaço... Uma

asneira...Azar seu pelo tempo perdido!

***************

Um homem guiava seu carro por uma

estrada rural quando, de repente, o veículo

começou a engasgar. Parou para ver o queestava acontecendo. Puxou a alavanca, sob

o painel, para soltar o capô do motor. Ao

colocar os pés no chão, ouviu uma voz:– É o cabo da vela.

O homem olhou ao seu redor e não viu

ninguém. No pasto, do outro lado da estrada,atrás duma cerca de arame farpado, um

cavalo pastava sossegadamente. Aí o

homem pensou: “Não é possível! Ouvi comnitidez uma voz me dizendo que era o cabo

da vela... Ah! É bobagem minha; devo estar

birutando... Deixa pra lá!”.Quando abriu o capô, enquanto olhava

atento para o motor, outra vez ouviu a voz:

– É o cabo da vela.Novamente olhou ao seu redor e não

havia uma única alma viva a não ser o cavalo

do outro lado da cerca, que, agora, coçavao pescoço no mourão.

Já que o problema do carro supostamente

estava no cabo da vela, procurou averiguar.Foi feliz. Havia, de fato, um cabo solto e um

se soltando. Ficou mais apreensivo ainda,

ajustou os cabos, subiu no carro, deu partidae se mandou. Mais à frente, adentrou um

vilarejo e parou numa vendinha, onde

muitos jovens bebericavam e jogavamconversa fora. Foi direto ao balcão e pediu

água.

Um dos jovens notou que o homemestava nervoso e pálido... Perguntou:

– Moço, tá tudo bem?

– Está sim. Mas vou lhe contar umacoisa... Estava vindo por essa estrada de

chão batido e cheia de costelas de vaca...

Talvez por isso os cabos das velas do motorcomeçaram a se soltar, o carro começou a

engasgar, parecia que estava faltando

combustível. Aí parei e ouvi, por duas vezes,uma voz dizendo que era o cabo da vela...

Não havia ninguém por perto, a não ser um

cavalo pastando do outro lado da cerca. Pior,meu amigo, que a voz acertou em cheio o

defeito...

– Moço, você sabe de que cor era aquelecavalo?

– Sei, sim. Era um cavalo branco... por

sinal muito bonito.– É! Deu muita sorte... Porque, se fosse

o cavalo pampa, você estava quebrado por

lá ainda; ele não é bom mecânico.Aí que o homem empalideceu de vez...

O professor,com sua lente deaumentoestá sempre buscandoencontrar a verdade.

É como o sol,diariamente pontual,a espalhar seuesplendor,sua claridade.

Que importalhe fechem do dia todasas portaspara a manhã nãoentrar.

Ele sempre construirá oamanhãcom as próprias mãos,até sangrar.

O ProfessorQue importalhe ponham no sorrisoa mordaça do desalento.Ele sempre trará umrouxinolna gargantae asas no pensamento.

Que importalhe amarrem o olharcom a venda dadesesperançae lhe roubem a estrela dailusão.Ele trará sempre acesaa tocha azul do porvirna alma e no coração.Além de tudo,o porvir jamais deixaráde ter sole um rouxinola cantar.

Myrthes Mazza Masiero

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O ESTAFETAPiquete, outubro de 2010 Página 7

Criado com o objetivo de garantir adignidade ao idoso, o Estatuto do Idosofoi aprovado em setembro de 2003, apóssete anos tramitando no CongressoNacional, e sancionado pelo Presidenteda República em 1o de outubro, data emque se comemora o Dia Internacional doIdoso. Foi recebido com festas, mastambém com “os pés no chão” pelaentidades de classe dos idosos, queesperam a aplicabilidade da lei.

Vivemos num país onde o idoso nãoé respeitado, é tratado como cidadão desegunda classe, marginalizado e fragran-temente desrespeitado em razão do declíniode seu vigor físico, próprio da idade. Otratamento degradante não parte apenas dasociedade, mas do próprio Estado, quediscute formas de fazê-lo contribuir, mesmoaposentado, para a Previdência Social,impõe aposentadoria ínfima, presta umprecário serviço de saúde e não se preocupacom a adoção de políticas públicas que osbeneficiem. Diante de todos esses maus-tratos, surgiu o paliativo, o Estatuto doIdoso, justamente quando a urgência em

reduzir o déficit da previdência força aproposta de redução nos benefícios, jáminúsculos para a maioria da população.

A Constituição Federal, em seu Artigo230, já era o suficiente para garantir aproteção ao idoso porque assegura “a suaparticipação na comunidade, defendendosua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. O dever de assegurara participação comunitária, a defesa dadignidade, o bem-estar e o direito à vidapertence à família, à sociedade e ao

O Estatuto do IdosoEstado; é, portanto, dever de todos.Sempre que precisamos de leis paraefetivar direitos constitucionais é sinalque não os respeitamos e, por con-seguinte, estamos um passo atrás doespírito constitucional.

Nossa sociedade ainda não evoluiuo suficiente no sentido de valorizar osidosos e cumprir o compromisso socialde lhes propiciar digno envelhecimento.Esse compromisso lhes é devido porqueeles formaram a sociedade em que vive-mos, estabeleceram os atuais padrões

sociais, construíram o conhecimento quehoje ampliamos e, especialmente, porque,sendo sua extensão genética, somos partedeles.

Dignidade é o grau de respeitabilidadeque um ser humano merece. É diferente decaridade, solidariedade e assistência, quetrazem um conteúdo pejorativo de hipos-suficiência, impossibilidade de sobrevi-vência independente. Precisamos lutar paraque os idosos sejam tratados dignamentepor todos; afinal, também chegaremos lá.

No mês em que comemoramos o Dia doProfessor, não podemos deixar de home-nagear todos os que se dedicaram àformação de gerações de piquetenses,dedicando grande parte de suas vidas àeducação. Foram muitos os que se voltaramcom carinho ao mister de ensinar criançasnas escolas de Piquete, fazendo dessamissão um verdadeiro apostolado.

Tivemos em nossa cidade um exemplode cidadã que, se estivesse viva, teriacompletado, no último 14 de julho, cem anosde idade. Mesmo idosa, essa professora,continuou labutando no magistério primá-rio, com as crianças do Jardim da Infânciado Grupo Escolar Antônio João. Amada e

respeitada por todos seus colegas, a maioriaprofessores desse mesmo estabelecimento,que haviam sido seus discípulos, com suameiguice e bondade, para todos tinha umapalavra amiga, um gesto de ternura e deincentivo. Foi referência na formação demuitas gerações.

Filha do capitão José Monteiro de Britoe de dona Honorina Brito, desde meninaMaria de Lourdes Brito Vilar – Milita –demonstrava pendores para a educação eas artes. Os pais incentivavam os filhos parao magistério. Seus irmãos, Durvalina, Dario,Conceição, Elza, além do cunhado, JoãoCardoso do Nascimento, casado com suairmã Tita, também foram professores. Todos

lecionaram no Grupo de Piquete.Formada Normalista na Escola Normal

de Guaratinguetá, D. Milita retornou para oantigo Grupo em que estudara, comoprofessora. A partir de 1940, com a desativa-ção dessa escola e a inauguração do GrupoEscolar Antônio João, passou a lecionar naentão nova unidade de ensino. Musicista,tocava piano, acordeão e violão. Usava essedom na educação, sensibilizando as crian-ças para as artes. Seus ex-alunos ainda serecordam de seus dedos percorrendo asteclas do piano na sala de música do Antô-nio João. Todos admiravam a delicadezacom que dedilhava o instrumento. Suafisionomia compenetrada a fazia respeitada.Os alunos silenciavam para ouvi-la.

Casada com Alcides Vilar, foi mãe denumerosa prole. Foi infatigável semeadorade conhecimento. Sua vida foi um aposto-lado de honradez. Sua personalidade mar-cante, inconfundível, e seus ensinamentosedificantes, fecundos e vivificadores pude-ram ser testemunhados com os professoresque, com ela, trabalharam em prol daEducação no Grupo Antônio João comoLeonor Guimarães, Conceição Godoy, Mariado Carmo Pascoal, Maria Vicentina Cipoli,Maria Aparecida Dalécio, Marizinha Peixoto,Mariinha Mota, Ruth Brasil, Yolanda Luz,Eneida Dionísio Ferreira, Olga Eklund,Dorothéa, Mirthes Chaves, Eunice Fer-nandes, Vanda Mota e tantas outras...

Aos professores de Piquete...

Rep

rodu

ção

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O ESTAFETA Piquete, outubro de 2010Página 8

Tenho fixação por roda-d’água. O meu cérebro con-cluiu que, no momento em queo homem pôs a primeira roda-d’água em funcionamento,virou o ponteiro da história –o homem manda, a máquinaobedece.

Com o episódio dos mi-neiros chilenos, parece que aroldana que movimentava acápsula que resgatou ostrinta e três (33) homens vaisobrepor-se à roda-d’água.Pode ser um processo hipnó-tico: fiquei horas olhando aroldana movimentar-se. Averdade é que a bendita rol-daninha continua rodando naminha cabeça.

Roldana vai, roldana vem, o meu cérebrofoi bater em um grande mestre do GrupoEscolar de Piquete: o professor JoãoCardoso.

Poliglota, ensinou francês aos seusalunos. Costumava levar estrangeiros à salade aula e os entrevistava diante da classe.

Os alunos retiveram na memória umasenhora francesa muito agitada e umagricultor chileno, dono da fazenda BelaVista.

O chileno tornou-se amigo dos alunose ia frequentemente à escola para estimularos estudos.

No ano de 1925, cursavam o quarto (4º)ano do Grupo Escolar de Piquete minhamãe, Emília Marques de Almeida (onze (11)anos); meu pai, José Marques da Silva (doze(12) anos) e meu tio Ismael Marques deAlmeida (treze (13) anos).

Meu tio Ismael trabalhava no armazémde seu padrinho, o português ManuelRibeiro. O armazém ficava na rua Cel. Luiz

Um chileno em Piquete

Relvas, bem perto da escola.Por esta época, minha família já residia

aqui – Major Pedro, 176.Minha mãe, quando se dirigia à escola,

levava uma camisa limpa e a merenda domeu tio Ismael. Do armazém, os dois irmãosseguiam juntos para o Grupo Escolar dePiquete.

Meu tio Ismael era excelente aluno. Nofinal do ano de 1925, classificou-se emprimeiro (1º) lugar.

Como prêmio, recebeu do fazendeirochileno uma Caderneta da Caixa Econômica.

Todos os meses, minha avó Adelaide iano trenzinho piqueteiro, em companhia deminha mãe, até a agência em Lorena,depositar as economias do adolescenteIsmael.

Isto durou até o meu tio chegar àmaioridade.

Depois, o português Manuel Ribeirovoltou para Portugal e o fazendeiro chilenodespediu-se de Piquete.

O professor João Cardo-so permaneceu muito nítidona memória de todos osalunos. Primeiro, pela suavocação indiscutível para omagistério, o que reverteuem lucro intelectual para osdiscípulos, que lhe foramgratos durante toda a vida.

Em segundo lugar, poruma doação que fez à antigaMatriz de São Miguel. Oprofessor João Cardoso eracasado com D. Tita Car-doso, filha do Capitão Joséde Brito. Em homenagem àesposa doou todos os ban-cos da igreja. Em cada umdeles havia uma plaquinhaoval em que se lia: Lem-

brança de Tita Cardoso.Quando alguém se sentava no banco

pela primeira vez, logo perguntava: “Quemé Tita Cardoso?”. E a resposta vinha rápida:foi a esposa do professor João Cardoso.

A roldana dos mineiros chilenos metransportou à infância dos meus pais e tio.

Que os filhos e netos dos chilenosresgatados tenham bons mestres como oprofessor João Cardoso e bons amigoscomo o patrício da fazenda Bela Vista.

Agora, é esperar que o meu cérebrorealize a opção – a permanência da roda-d’água ou a substituição pela roldanachilena. Abigayl Lea da Silva

Foto da formatura da turma, em 1925. Empé (E/D): prof. João Cardoso, José R. Fernandes,Braz P. de Olivas, João Marques da Silva, IsmaelMarques de Almeida, Oton Simas, José N. deMacedo, João V. Soares, João V. Leal; Sentados:da E/D, Emília Marques de Almeida, Maria A. deAndrade, prof. Silveirinha, Nair Galvão, GeneEcklund, diretor Luiz de Castro Pinto.

No mês de outubro a Igreja Católicacelebra o Mês Missionário. O anúncio doevangelho de Jesus Cristo é um dos maisimportantes compromissos da Igreja. Oevangelho não é uma mera doutrinatransmitida como conceitos intelectuais,antes de tudo é um jeito de viver, de serelacionar com o mundo e com as pessoas.O amor, a benevolência e a justiça sãomarcas fundamentais desta maneira deexistir.

Confesso que não gosto muito doconceito da palavra missão, embora sejaum termo que tenha fincado raízes nahistória do cristianismo, talvez não seja omais adequado para traduzir o desejocristão de anunciar à humanidade ocaminho indicado por Jesus aos seusdiscípulos. Missão vem do verbo gregomissos, que significa ódio, aversão. É umtermo ligado às campanhas militarese, provavelmente, tenha se tornado tãousual no cristianismo devido ao fato de que

A missão da Igrejaa partir da “conversão” do Império Romano,no século IV, não tenham faltado ocasiõesem que a religião cristã se expandiu militar-mente, muitas vezes a Cruz que salva foilevada junto com a espada que mata.

O anúncio da Palavra de Deus e seusvalores não pode ser motivado pelo desejode expandir combativamente a fé, aosmoldes das antigas cruzadas, como se oobjetivo de tal empreitada fosse alargar asfronteiras da influência da fé católica. Certavez, em um congresso de teologia, WalterAltmann, pastor e presidente da IgrejaEvangélica de Confissão Luterana no Brasil,disse que sua Igreja não faz missão, atraipelo testemunho da comunidade. Acheifantástica esta postura, num mundo de tantadisputa por fiéis. O Papa Bento XVI, namissa de abertura da V CELAM em Apare-cida disse em sua homilia algo parecido: “AIgreja não faz proselitismo. Ela cresce muitomais por atração, como Cristo atrai todosa si com a força do seu amor.”

A Igreja tem organizado visitas mis-sionárias, levadas adiante principal-mente por leigos. Essas visitas de casaem casa são importantes, porém o teste-munho concreto do evangelho vividopelas comunidades que perseveram noprojeto de Jesus, sobretudo através doserviço amoroso às pessoas, de maneiraespecial aos excluídos, aflitos, sedentosde justiça e misericórdia, é que realiza overdadeiro e mais eficaz anúncio doevangelho.

Em João 10,10 Jesus disse a que veio:“Eu vim trazer vida e vida em abun-dância.” Eis a missão de Jesus, eis amissão de todo cristão. Isto não se fazapenas com visitas missionárias epregações, mas principalmente comatitudes concretas de serviço às pes-soas, à sociedade, à manutenção da terrae da vida.

Pe. Fabrício Beckmann