ovas da gali a pr e si d nt oa · 2015. 5. 28. · da ‘ jimmmy’ a maos de segui-dores fascistas...

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nÚmero 147 15 de abril a 15 de maio de 2015 2 € periódico galego de informaçom crítica conjurando o estado 14 O zapatismo sobe a aposta e radicaliza a sua estratégia horizontalista. Para nom deixar dúvidas declarárom a mor- te do “holograma Marcos”, último pon- to de amarre para o reconhecimento de inteletuais e esquerdas brancas. aPresentam numax 22 Numha época em que cinema é sinóni- mo de grandes centros comerciais, Nu- max chegou para oferecer umha alter- nativa ao menu das grandes distribui- doras. Fai-no quando só ficam 24 salas na Galiza. Em 1990 contavam-se 97. N ovas da G ali a “Pretendemos construir um modelo energético vencelhado à própria estrutura da Galiza” PaBlO álvarEz, presidente de nosa Enerxía, sociedade Cooperativa galega Pág. 22 e 23 oPiniom QuEm nOs rOuBOu O mês dE aBril por César Caramês / 3 sadOmasO laBOral por Xurxo Borrazás / 28 suPlemento central a revista a Batalha dE CamBEdO Primeira parte aproximaçom à chamada ‘Batalha de Cambedo’, das duas ditaduras ibéricas contra guerrilheiros antifascistas O assEntamEntO suEvO na gallaECia Na capa da Revista, debruçamo-nos sobre o assentamento inicial do povo suevo na Gallaecia e sobre as consequências deste Protestos durante a jornada de inauguraçom da sede do Banco Central Europeu paralisárom a cidade de Frankfurt / PÁG.12-13 A morte de ‘Jimmy’ como arma política rePressom no desPorto A morte do seareiro deportivista Francisco Javier Romero Taboa- da ‘ Jimmmy’ a maos de segui- dores fascistas do Atlético de Madrid no passado novembro trouxo consigo consequências paradoxais: enquanto o fascis- mo continua impunemente a se exibir nas bancadas, as torcidas antifascistas estám a ser perse- guidas pola imprensa comercial e a polícia. Da Corunha a Vigo, esta caça às bruxas provocou malestar e protestos / PÁG. 24-25 Para umha outra gestom dos recursos iniciativas municiPais O debate sobre a remunicipali- zaçom dos serviços abriu-se após o concelho de Téu aprovas- se gerir diretamente o ciclo da água, questionando assi a políti- ca de concessons de serviços própria da política municipal. Também desde o local é possí- vel a tranformaçom social. O ativista Manuel Casal Lodeiro apresenta o projeto munici- pios.pospetroleo.com, umha wi- ki que pretende ser umha ferra- menta para concretizar açons a nível municipal no contexto do devalar energético. / PÁG. 20-21 Processo eleitoral do 24 de maio A festa que nom foi tal para o BCE ‘marés’ cidadÁs e o rePto de fazer um outro municiPalismo O 24 de maio está cada vez mais perto e as chamadas marés, a grande novidade destas eleiçons, já ultimá- rom as suas listas e programas. Para alguns som candidaturas de confluência cidadá, para outros frentes dirigidas por partidos. A casuística é diferen- te em cada concelho e a etiqueta genérica de ‘marés’ abrange um grupo muito heterogéneo de candidatu- ras. Todas declaram uns objetivos comuns à volta da justiça social e a participaçom popular, e todas se enfrentam a umha série de retos. Se calhar o mais importante seja artelhar um movimento realmente amplo e participativo além do 24 de maio. / PÁG. 18-19

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Page 1: ovas da Gali a pr e si d nt oa · 2015. 5. 28. · da ‘ Jimmmy’ a maos de segui-dores fascistas do Atlético de Madrid no passado novembro trouxo consigo consequências paradoxais:

nÚmero 147 15 de abril a 15 de maio de 2015 2 €

p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

conjurando o estado 14O zapatismo sobe a aposta e radicalizaa sua estratégia horizontalista. Paranom deixar dúvidas declarárom a mor-te do “holograma Marcos”, último pon-to de amarre para o reconhecimentode inteletuais e esquerdas brancas.

aPresentam numax 22Numha época em que cinema é sinóni-mo de grandes centros comerciais, Nu-max chegou para oferecer umha alter-nativa ao menu das grandes distribui-doras. Fai-no quando só ficam 24 salasna Galiza. Em 1990 contavam-se 97.

Novas da Gali a

“Pretendemos

construir um

modelo energético

vencelhado à

própria estrutura

da Galiza”

PaBlO álvarEz,presidente de nosaEnerxía, sociedadeCooperativa galegaPág. 22 e 23

oPiniom

QuEm nOs rOuBOu O mês dE aBrilpor César Caramês / 3

sadOmasO laBOralpor Xurxo Borrazás / 28

suPlemento central a revista

a Batalha dE CamBEdOPrimeira parte aproximaçom à chamada ‘Batalha de Cambedo’,das duas ditaduras ibéricas contra guerrilheiros antifascistas

O assEntamEntO suEvO na gallaECiaNa capa da Revista, debruçamo-nos sobre o assentamento inicialdo povo suevo na Gallaecia e sobre as consequências deste

Protestos durante a jornada de inauguraçom da sede do BancoCentral Europeu paralisárom a cidade de Frankfurt / PÁG.12-13

A morte de ‘Jimmy’como arma política

rePressom no desPorto

A morte do seareiro deportivistaFrancisco Javier Romero Taboa-da ‘ Jimmmy’ a maos de segui-dores fascistas do Atlético deMadrid no passado novembrotrouxo consigo consequênciasparadoxais: enquanto o fascis-

mo continua impunemente a seexibir nas bancadas, as torcidasantifascistas estám a ser perse-guidas pola imprensa comerciale a polícia. Da Corunha a Vigo,esta caça às bruxas provocoumalestar e protestos / PÁG. 24-25

Para umha outragestom dos recursos

iniciativas municiPais

O debate sobre a remunicipali-zaçom dos serviços abriu-seapós o concelho de Téu aprovas-se gerir diretamente o ciclo daágua, questionando assi a políti-ca de concessons de serviçosprópria da política municipal.Também desde o local é possí-

vel a tranformaçom social. Oativista Manuel Casal Lodeiroapresenta o projeto munici-pios.pospetroleo.com, umha wi-ki que pretende ser umha ferra-menta para concretizar açons anível municipal no contexto dodevalar energético. / PÁG. 20-21

Processo eleitoral do 24 de maio

A festa que nom foi tal para o BCE

‘marés’ cidadÁs e o rePto defazer um outro municiPalismo

O 24 de maio está cada vez mais perto e as chamadasmarés, a grande novidade destas eleiçons, já ultimá-rom as suas listas e programas. Para alguns somcandidaturas de confluência cidadá, para outrosfrentes dirigidas por partidos. A casuística é diferen-te em cada concelho e a etiqueta genérica de ‘marés’

abrange um grupo muito heterogéneo de candidatu-ras. Todas declaram uns objetivos comuns à volta dajustiça social e a participaçom popular, e todas seenfrentam a umha série de retos. Se calhar o maisimportante seja artelhar um movimento realmenteamplo e participativo além do 24 de maio. / PÁG. 18-19

Page 2: ovas da Gali a pr e si d nt oa · 2015. 5. 28. · da ‘ Jimmmy’ a maos de segui-dores fascistas do Atlético de Madrid no passado novembro trouxo consigo consequências paradoxais:

02 oPiniom Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

o Pelourinho do novas

dia das Presas Políticas

Nestas datas prévias ao 17 de abril,Dia Internacional de Apoio aos/àsPresas Políticas, o C.P.I.G. comovem sendo habitual, dirigimos anossa comunicaçom pública, valo-rizando o contexto atual que en-trentamos os prisioneiros políticosindependentistas e as perspetivasque se abrem na nossa luita coleti-va em defesa dos nossos direitos eobjetivos políticos.

Este ano veu-se umha especialsignificaçom para o movimentoindependentista e a solidariedadepolítica com os presos galegos aocumprir-se dez anos do início deumha nova jeira, praticamenteininterrompida, com prisioneirosindependentistas galegos nos cár-ceres espanhóis. Nesta década aintervençom armada sustentadapola resistência galega foi capazde gerar umha conflitividade po-lítica que trouxo consigo deten-çons e encarceramentos, disper-som e rigoroso régime carceráriojunto com um incremento da ex-cecionalidade penal aplicadaaos/às represaliadas galegas. Àpar de tudo isto, assistimos comconfiança e satisfaçom à acumu-

laçom de força da solidariedadeanti-repressiva e à assistência in-tegral ao nosso Coletivo. Deve-mos hoje, reconhecer publica-mente o enorme trabalho desen-volvido polo Organismo PopularAnti-repressivo Ceivar e pola As-sociaçom Cidadá Que Voltem pa-ra a Casa!, que com acerto e es-forço militante fortalecêrom um-has referências ineludíveis na lui-ta contra a repressom espanhola.

Desde os dous lados dos muros,socializamos a situaçom dos pre-sos independentistas, ampliamosa sensibilidade ante as vulnera-çons de direitos e a política carce-rária aplicada ao C.P.I.G. mante-mos umha dinámica de resposta emobilizaçom frente à repressom,fomentamos umha cultura mili-tante que nos garante respeito e re-ferencialidade nas cadeias. Estessom exemplos da pertinência e va-lidez da luita coletiva nos cárcerese nas ruas. Estamos convencidosde que continuaremos obtendomelhoras e avances, aproximan-do-nos aos objetivos de trasladopara a Terra e agrupamento, comopasso prévio para a liberdade.

Chegados a este ponto, nom po-demos deixar de reconhecer que apolítica penitenciária espanhola,

caracterizada pola chantagem e aseparaçom do nosso espaço sociale político, foi capaz de fazer-nosdano, provocando a derrota e clau-dicaçom de alguns presos. Nomdevemos deixar de lembrar quenesta década, a imensa maioriados irmaos/ás mantivo a dignida-de militante e a fidelidade à luita.Dezoito militantes fomos encarce-rados, dos quais só quatro rematá-rom optando por saídas individua-listas e desleais à luita coletiva.

A eleiçom individual ademaisdo que supom para a presa que en-saia essa falsa saída, reforça a po-lítica penitenciária de castigo quecontinuam sofrendo as militantesdo Coletivo e nom pode gerar maisque a firme oposiçom do C.P.I.G. edo movimento popular.

Nesta luita, necessitamos oapoio incondicional do movi-mento popular, nom há mais al-ternativas que a unidade arredordo Colectivo de Presos Indepen-

dentistas Galegos, Exigimos leal-dade e firmeza com o nosso Co-letivo, resumiremo-lo numha fra-se clarificadora " dentro do Cole-tivo todo, fora do Coletivo nada".Desde o respeito e a irmandadetudo se pode falar, propor e valo-rar, desde o individualismo nin-guém deve esperar nada da Gali-za patriota e solidária.

Nós, combatentes presos, gale-gos e orgulhosos, mantermos aunidade militante, reivindicando anossa condiçom de presos políti-cos, participando das reivindica-çons, cuidando os nossos vínculos,dispostos a defender-nos coletiva-mente ante qualquer necessidadede um/ha irmao/á. sabemos quevoltaremos à Galiza, racharemosa separaçom imposta e conquista-remos a liberdade, com a solida-riedade imprescindível do inde-pendentismo nas rúas. Hoje emDueñas, León, Ocaña e Valladolido C.P.I.G. dirige um saúdo agrade-cido e generoso aos/às solidáriasgalegas. Ánimo e adiante!

Viva Galiza Ceive!Denantes Mortas que Escravas!

Coletivo de Presos/as Independentistas Galegos/as

Aconvocatória eleitoral dasmunicipais de 24 de maiotem todas as papeletas pa-

ra marcar um fito na história dapolítica eleitoral a nível estatal, ecom certeza também em boa par-te da Galiza.

No ano em que está em boca detodo tertuliano a creba do biparti-dismo estatal que operará naseleiçons autonómicas, os resulta-dos dessa mesma noite podemtraer também importantes mu-danças nos concelhos galegos. A

irrupçom das candidaturas cida-danistas baixo os nomes de ma-rés, de em-comum ou outros, pa-rece apontar cara a entrada destesnovos agentes, com umha repre-sentatividade com certeza desi-gual, em muitas das cámaras mu-nicipais do país.

Este fenómeno, que tem maisde diferentes projetos apelando aumhas mesmas retóricas do quede espaços cortados por um mes-mo patrom, vem apostar na valo-rizaçom de categorias como ‘mu-

nicipalismo’, ‘cidadania’, ‘con-fluência’, ‘participaçom’, ‘demo-cracia’, ... Ficam desatualizadas,ou elididas algumhas outras: ‘na-çom’, ‘esquerda’, ‘povo’, ...

Oferece-se, junto com esta re-muda linguística, a renovaçom eregeneraçom dum sistema políti-co constringido pola armadilha darepresentaçom. Seja falando em‘democracia direta’, seja falandoem concelhos ‘abertos aos bair-ros’, a promessa dum outro modode gerir as instituiçons, protagó-

nico e na estea do ‘governar obe-decendo’ é a grande bandeira elei-toral da nova oferta em perto denoventa concelhos galegos. Namaioria apresentam, polo demais,propostas programáticas que en-caixam sem dúvida no que se con-sidera umha política de esquer-das, com especial atençom naspolíticas sociais que fagam frenteà crise económica e as políticasaustericidas impostas em instán-cias superiores.

O certo é, porém, que em mui-tos destes casos a natureza assem-blear parece limitar-se ao formal enom apresentar grandes diferen-ças com a habitual em frentes de

partidos a que estamos mais habi-tuadas. E também muitos nomesdos que agora enchem essas lista-gens nom som novos.

Nom sabemos ainda o que é quemudou nesses nomes e essas fren-tes. E, sem poderes de oráculo,nom nos resta mais do que a olha-da crítica para podermos distin-guir águas estancadas com logóti-po renovado de veradeiras marés,e ver como estas últimas conse-guem achegar aos edifícios do po-der o mandado de todo o que te-nhem por trás. Que, em todo caso,nunca a maré nos impida ver omar de ruas mobilizadas e a cons-truiçom popular e autónoma.

Nom tirar os olhos do mareditorial

humor latuff

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

EditOraa.C. minhO mEdia

COnsElhO dE rEdaçOmaarón lópez rivas, rubén melide, Xavier miquel, raul rios, Xoán r. sampedro, Olga romasanta, Beti vázquez, alonso vidal e ana viqueira

COOrdEnaçOm: Xoán r. sampedro

sECçOnsCronologia: iván Cuevas / Economia:raul rios / mar: afonso dieste /

media: Xoán r. sampedro e gustavo luca / além minho: Eduardo s. maragoto / Povos:José antom ‘muros’ / dito e Feito: Olga ro-masanta / a denúncia: iván garcía / despor-tos: anjo rua nova e Xermán viluba / Consu-mir menos, viver melhor: Xan duro / a Crian-ça natural: maria álvares rei / agenda: ireneCancelas / a revista: rubén melide / a gali-za natural: João aveledo língua nacional:isabel rei samartim / Criaçom: Patricia Ja-neiro / Cinema: Xurxo Chirro, iván garcíaambruñeiras e Julio vilariño

maQuEtaçOm: h. Carvalho, manuel Pintor

FOtOgraFiaarquivo ngz, sole rei, galiza independente(gzi-Foto), zélia garcia, Borja toja

administraçOm: Carlos Barros gonçales

audiOvisual: galiza Contrainfo

humOr gráFiCOsuso sanmartin, Pestinho, Xosé lois hermo,gonzalo, ruth Caramés, Pepe Carreiro, mincinho, Beto

FEChO dE EdiçOm: 24/04/2015

COrrEçOm lingÜÍstiCaXiam naia, F. Corredoira, vanessa vila verde, mário herrero, Javier garcia, iván velho, José dias Cadaveira, albano Coelho

COlaBOram nEstE nÚmErOlatuff, César Caramês, isabel vilalba,vera-Cruz montoto, Carlos C. varela,manuel Casal lodeiro, luzia álvares, Josédias Cadaveira, Xurxo Borrazás, Janmasanches, Xosé uxio diz, sabela iglesias eJosé manuel sande

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03oPiniomNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

oPiniom

Estamos em Abril e a um dá-se-lhe por lembrar a Revo-luçom Galega de 1846, que

ocupa hoje umha referência norelato soberanista muito inferiorao do tempo de pré-guerra. Desdeque a oficialidade académica doregime estabeleceu que apenasconsistira em mais um levanta-mento liberal espanhol com dosefolclórica galega, alheio às classespopulares, já quase ninguém oduvida. Porém, ao descobrir o in-dependentismo o manifesto dosartigos de Faraldo, imediatamen-te anteriores a aqueles factos, sur-gírom-me relaçons e suspeitas.1845 foi um ano fatídico para todaa populaçom galega, fulcral paraentender o resto do século. Mui-tos historiadores situam nele aapariçom real do moderno Estadoespanhol a partir da constituiçommoderada de Narváez que seaprova nesse momento.

É o ano da praga irlandesa dapataca que causou estragos emtoda a Europa. Ninguém duvidade que a proclamaçom da II Ré-publica Francesa ou a tentativa deunificaçom liberal alemá do mes-mo ano 1848 se alicerçárom nadesesperaçom popular que cau-saram as más colheitas a partirdesse terrível 1845. Se isto é as-sim para a Europa central, imagi-nemos a incidência do fungo mor-tal na Galiza, com um comércioagrícola tam fluido com Irlandanessa década que lhe chega a ex-portar milho até em quantidadesde 100.000 hl anuais. Ninguémduvida do peso deste andaço narevoluçom portuguesa de Mariada Fonte, por exemplo, tambémda primeira metade de 1846.

Para desgraça dos nossos la-bregos, nesse ano de perdas foijusto quando o Estado espanhollhes impujo um terrível novo sis-tema tributário, a famosa reformade Mon-Santillán. Suprimírom-seos impostos que lhes pagavam oscamponeses à igreja, em teoria, eimplantou-se a obrigatoriedadede pagar-lhe ao Estado em metá-lico. Quer dizer, os lavradores ga-legos iam ter que vender umhaparte das colheitas e expor-se àsflutuaçons do mercado para abo-nar-lhes os impostos a Madrid.Para mais, sem serem proprietá-rios reais das terras, só foreiros.A reforma duplicou a quantidadeque o território galego lhe ache-gava a Espanha como tributo, pa-ra escândalo também da nossa

enganida classe média.Se tínhamos que pagar o duplo

o mesmo ano da peste da pataca,por cima, a nossa representaçompolítica reduzia-se à décima parte.A reforma da lei eleitoral que abriuMarço de 1846, um mês antes doalçamento, provocava que o nú-mero de galegos com direito a votopassasse dos 79.717 de 1837 a só7531, a maior reduçom de todo oterritório espanhol. Calcula-se quea Galiza tinha milhom e meio dehabitantes nesse momento.

1845 é justo quando também seaprova a “Ley de Ayuntamientosy Diputaciones” em janeiro, queimplica mais umha ingerênciaagressiva do Estado espanhol nasinstituiçons locais e tradicionaisdo país. Com ela, Madrid reserva-va-se o direito a nomear a dedo osalcaldes das vilas capitais de bis-barra, como já vinha fazendo comos das sete cidades. O resto dosregedores estabelecia-se que se-riam investidos polo governadorespanhol sem nenhumha exce-çom. Essa lei complementou-secom outra em abril de 1845 quedescrevia a figura do “jefe políti-co”, autoridade local superior no-meada polo rei espanhol para li-dar com os nossos paisanos. Actade nascimento do cacique inter-mediário de toda a vida.

Outra sincronicidade interes-sante é a do começo da vaga mi-gratória galega do XIX, que se si-tua precisamente a partir de 1845.

O contexto local ainda se viramais desacougante para a versom“oficial” se o pomos em relaçomcom o internacional. Parece umerro pretender que qualquer ve-leidade secessionista se manifes-tasse abertamente e baixo umcorpus teórico finalizado sobre anaçom nesse momento. O própriotermo imperialismo nasceu aindanessa década. Em sociedades se-pultadas no antigo regime e sub-metidas a relaçons coloniais, nomexiste a opiniom pública moder-na, rege a política de factos con-sumados. Tam só 36 anos antes,com a península invadida por Na-poleon, o Cabido de Buenos Airesnomeara umha Junta para ajudarà luita contra os franceses e se-

guir a apoiar o rei espanhol Fer-nando VII, como figeram os ou-tros territórios de Espanha. A Re-voluçom de Maio argentina pro-duziu-se contra a invasom napo-leónica do império espanhol. Sóandando o tempo se descobririaindependentista ao recuperar opoder o monarca hispano e nega-rem-se ao submetimento os colo-niais, já prenhes de ideias repu-blicanas e liberais. A estratégia detodos os separatistas latino-ame-ricanos foi aproveitar o apelo aum movimento de âmbito espa-nhol para alicerçarem a sua sobe-rania na prática e proclamá-laabertamente depois.

Curiosamente, no caso galegode 1846, independentemente dosobjetivos estatais que moviam aosmilitares, os civis galeguistas criá-rom novos poderes constituintes,um Governo da Galiza que cen-tralizou todo o poder militar, eco-nómico e administrativo. O pri-meiro ato deste governo indepen-dente de facto consistiu em decla-rar “nulos todos los actos del Go-bierno de Madrid desde el día 2del actual”. A seguir, aboliu-se es-pecificamente a reforma tributá-ria de Mon-Santillán que tantoprejudicava as classes popularesgalegas, como buscando clara-mente o seu reconhecimento.Neste sentido, Murguia, testemu-nha directa dos factos, comparouos rebeldes com os independen-tistas polacos, que se alçaram

contra Rússia duas décadas an-tes, e assegurou que os insurgen-tes proclamavam “no queremosser más que gallegos”.

Outro paralelismo curioso comas independências latino-ameri-canas constitui-no a sombra bri-tânica que as abeirou. No nossocaso, o barco ateigado de armaspara o governo galego que zarpoude Inglaterra e que a armada es-panhola detivo na ria de Vigo. Ofilho do único Borbón revolucio-nário que a história deu, o infanteEnrique, relatou anos depois co-mo seu pai fora um dos que ache-gou fundos do exílio inglês paraos “patriotas galegos”.

O cliché colonial da oficialidadehistórica em que a parte mais “es-panhola” do alçamento, a militar, éa racional, a liberal, a política,frente às arroutadas identitárias eromânticas do provincialismo, es-boroa-se ao repararmos em Ra-món de la Sagra. Este corunhês,que enche o XIX galego, era o pa-drinho ideológico da geraçom demoços provincialistas. Foi funda-dor de El Porvenir, o periódico ga-leguista que dirigiu Faraldo, e re-presentava algo insólito no contex-to estatal da época, nom era liberalsenom socialista libertário. Foiamigo pessoal de Proudhon e che-gou a conhecer também a Marx ea Engels. Tanto é assim que, a nívelinternacional, alguns situam aque-la publicaçom como um dos pri-meiros meios libertários.

Ramón de la Sagra também nosforça a relacionar o primeiro aten-tado contra um monarca espanholcom a Revoluçom Galega de 1846.O autor dos dous disparos quepassárom roçando pola carinhacheia de Isabel II de Borbom cha-mava-se Angel la Riva Berroando,advogado, compostelano e genrode Ramóm de la Sagra. Aconteceuem Maio de 1847. Havia justo umano que a coroa espanhola derro-tara a revoluçom galega de Faral-do e fuzilara em Carral os chefesmilitares que a apoiaram.

Quanto ao impacto na socieda-de galega daqueles factos, avon-dam duas citas. A testemunhacompostelana que escreve sob opseudónimo de Juan do Porto cer-tifica que se nom fosse polos er-ros estratégicos da parte militar,“Galicia era perdida para el Go-bierno”. Mais a rente do chao,também em 1846, José Farinha, oalcaide do meu concelho, Mora-nha, foi reprimido e afastado docargo a causa de “las ocurrenciaspolíticas de Abril”.

Recuperemos Abril, cumpre.

Quem nos roubou o mês de Abril?César Caramês

na revoluçom de1846, à margemdo objetivo estataldos militares, oscivís galeguistascriárom poderesconstituíntes. umgoverno da galizacom todo o podermilitar, económicoe administrativo

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NGZ / A Audiência Nacional es-panhola vem de condenar aopreso político galego Carlos Cal-vo Varela a sete anos de prisomcomo autor dum “delito de possede artefacto explosivo terroris-ta”. A sentença desbota que Car-los Calvo fosse o autor da colo-caçom dum artefacto em Vigo no10 de outubro de 2011, mas o tri-bunal de exceçom espanhol, ba-seando-se em declaraçons e re-latórios policiais, constrói um re-lato em que coloca ao preso in-dependentista como a pessoaque entregou tal artefacto explo-sivo, em momento e lugar inde-terminados, à pessoa sem identi-ficar que o teria colocado.

O advogado Benet Salellas,responsável da defesa jurídicade Carlos C. Varela, salienta ofacto de que “o tribunal absol-veu daquilo que do que foi obje-to o julgamento, mas condenoupor algo que nom estive a deba-te na vista”. Umha impressomque tem a defesa é que esta re-soluçom da Audiência Nacionaltrata-se de umha “pataleta”após a revogaçom que o Tribu-nal Supremo realizou em de-zembro de 2014 da sentençaque condenava o jornalista des-te meio a doze anos de prisom,

ficando esta reduzida a seteanos e absolvendo-o de perten-ça a organizaçom terrorista.

Cartom de conduçom Segundo as declaraçons policiais,perto do caixa em que se colocarao artefacto apareceu um troço dumcartom de conduzir, o qual se atri-buiu a Carlos e constitui a únicaprova da investigaçom. Que na-quela altura estivesse documenta-do o extravio do cartom de condu-çom de Carlos C. Varela levou aotribunal, presidido por FernandoGrande-Marlaska, ao seguinte ra-zonamento: “Nom parece possível

que o acusado o extraviasse e quecasualmente fosse a reaparecerprecisamente em maos da organi-zaçom com a que ele colabora. Se

aparece em maos de ResistênciaGalega é precisamente porque eleo facilita a esta organizaçom”. ParaBenet Salellas apresenta-se aqui

um “absurdo”, e indica que o valorprobatório “nom é o mesmo num-ha pegada digital, do que num tro-ço dum cartom, que pode chegar aum lugar por qualquer meio”. Poroutra banda, a resoluçom da ANapenas se apoia na condena jáexistente contra o preso por cola-boraçom com organizaçom terro-rista para argumentar que foi elequem realizou umha entrega, daqual nom se determina nengum ti-po de dado na sentença, do arte-facto explosivo colocado em Vigo.

Recurso ao SupremoA defesa já anunciou a apresenta-çom dum recurso ante o TribunalSupremo, polo que se espera umhanova sentença para dentro de novemeses. Salellas salienta que o factode “que se julgue por um delito e secondene por outro” vulnera as ga-rantias processuais e considera “muigrave” ver sentenças como esta.

Atualmente Carlos Calvo encon-tra-se na prisom madrilena de Es-tremera, onde está já a cumplir coma anterior condena a sete anos. Paraesta, ao igual que para a condenacontra o independentista HeitorNaia, foi imprescindível a declara-çom patuada com a Fiscalia do pre-so Xurxo Rodríguez, atualmente nopenal pontevedrês da Lama.

04 acontece Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

10.03.2015 / Três trabalhadoresde Povisa iniciam greve de fa-me contra os despedimentos.

11.03.2015 / Arrestados os gale-gos H.J.N.G e J.M.M no Portoquando o primeiro, condenadopola Audiência Nacional, tenta-va colher um aviom a Venezue-la com um passaporte falso.

12.03.2015 / Pessoal de RedeGalega de Quiosques volveocupar a sede da COGAMI emdemanda dos seus salários.

13.03.2015 / É derrubada a torrede alta tensom do castro de El-vinha (Corunha) sobre a quepesava umha ordem de derru-ba desde 1965.

14.03.2015 / Um cento de con-sumidores manifesta-se emCompostela contra o abusomassivo “dos bancos, as com-panhias de telefonia ou asgrandes eléctricas”.

16.03.2015 / Vizinhança do Cas-tinheirinho (cidade de Com-

postela) concentra-se para re-clamar as obras programadasno seu bairro desde abril doano passado.

18.03.2015 / Morre um operárioem Tordoia enquanto manipula-va umha máquina de cortarmármore.

20.03.2015 / Armadores espa-nhóis que trabalham com pavi-lhom português denunciam"ataques" dos barcos do arras-te da Corunha à frota lusa.

21.03.2015 / Coluna galega ma-nifesta-se em Madrid com asMarchas da Dignidade.

22.03.2015 / Um cento de vizi-nhos manifesta-se em Sárria,convocados por 'Molhemo-nospolo rio', contra a demoliçomda ponte de Calvo Sotelo.

23.03.2015 / Os três trabalha-dores de Povisa em greve defame desde 10 de marçoabandonam a protesta pormotivos de saúde.

24.03.2015 / Morre um trabalha-dor da Cooperativa Iris numacidente laboral em NavantiaFerrol. Em Lage, aparecem afo-gados dous marinheiros quesaíram faenar de manhá.

25.03.2015 / Concentraçom nosjulgados de Compostela pro-testa contra a privatizaçom doRegisto Civil.

26.03.2015 / Tribunal Supremodesestima recurso da RAG con-tra o decreto do plurilingüismo.

cronoloGia

Audiência Nacional condena Carlos C. Varela a mais sete anos de prisom

Para a defesa, é acusado Por um delito e condenado Por outro Polo que nom foi julGado

aconteceA Associaçom Galega pola Memória Histó-rica do 36 está a estudar vias extraordiná-rias para o derrubamento da cruz franquis-ta do monte do Castro. Um dos caminhos aexplorar seria o da baixa qualidade da sen-tença do TXSG que impediu a sua retirada.

continua luita contra cruz franquista em viGo

A prática totalidade do quadro de pes-soal das subcontratas da Telefónica nopaís secundou o paro indefinido convo-cado pola CIG desde o 14 de abril. O ob-jetivo do protesto é o combate contra acrescente precarizaçom nas empresas.

Greve nas subcontratas da telefónica

A Audiência Nacional decretou o ingresso em pri-som preventiva do independentista Heitor Naia,quem foi posto a disposiçom deste tribunal de ex-ceçom após a sua detençom no aeroporto de Sá-Carneiro, na cidade portuguesa do Porto. Após talresoluçom, Naia foi ingressado na prisom madrile-na de Valdemoro. Segundo informa o organismoanti-repressivo Ceivar, a defesa do preso já apre-sentou recurso contra este ingresso em prisom

Sobre Heitor Naia pesa umha condena de 11anos de prisom polos delitos de colaboraçom combanda armada e danos com finalidade terrorista,

ditada pola Audiência Nacional. Esta sentença estápendente de umha resoluçom do Tribunal Supre-mo devido ao recurso apresentado há meses poladefesa do independentista.

Heitor Naia foi detido no mês de março, quandotentava colher um aviom com destino a Venezuela.Após o seu arresto, o independentista foi julgadopor um tribunal português que o condenou a umano de prisom, com pena suspensa, por falsifica-çom documental. Sobre ele existia umha ordemeuropeia de detençom e entrega, polo que se efe-tuou a sua extradiçom ao Estado espanhol.

Prisom Preventiva Para o indePendentista heitor naia

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NGZ / O coletivo anti-repressivoCeivar realizou diversos atos derua no dia internacional das pre-sas e presos políticos, para denun-ciar a situaçom das e dos indepen-dentistas, dotando a esta data deumha maior referencialidade co-mo jornada de luita no ativismoanti-repressivo. Em várias cidadese localidades se pendurárom ouexibírom faixas reclamando a li-berdade das e dos independentis-tas em prisom. Na sua web, o co-letivo assinala que “o 17 de abril éum dia assinalado para os Povosdo mundo que, a causa das suasluitas populares, contam com pre-sas e presos políticas e políticosdentro das prisons do Estado queas e os reprime”.

Nos dias prévios a esta jorna-da, Ceivar encetou também um-ha campanha de solidariedadecolocando caixas em locais ecentros sociais em Compostela,Vigo, Ourense, Lugo e Burela emque as pessoas que assim o qui-gessem pudessem depositar ma-terial que será enviado às presase presos independentistas. O or-ganismo anti-repressivo reco-menda, para facilitar o seu passopolos controlos das prissons, oenvio de elementos como roupa,livros ou material para fazer tra-balhos manuais.

Comunicado do CPIGA começos de abril o Coletivo dePres@s Independentistas Ga-leg@s (CPIG) fixo público um co-municado no qual valoriza “ocontexto actual que enfrentamos@s prisioneir@s polític@s inde-pendentistas”, cumprindo-se nes-te 2015 “dez anos do início de um-ha nova xeira, praticamente inin-terrompida, com prisioneir@s in-dependentistas galeg@s nos cár-ceres espanhóis”. Assim, o CPIGassinala que “assistimos comconfiança e satisfaçom à acumu-

laçom de força da solidariedadeanti-repressiva e à assistência in-tegral ao nosso coletivo”, à parque se incrementa “a excepciona-lidade penal aplicada aos e ás re-pressaliad@s galeg@s”.

Na parte final do comunicado,que se pode ler na íntegra no Pe-lourinho deste NOVAS DA GALIzA,assinala-se que “a imensa maioriad@s irmaos e irmás mantivo a dig-nidade militante e a fidelidade àluita” e critica a postura daquelespresos que optárom “por saídasindividualistas e desleais à luita

coletiva”, algo que segundo oCPIG “reforça a política peniten-ciária de castigo que continuamsofrendo @s militantes do colecti-vo”. “Exigimos lealdade e firmezacom o nosso Colectivo, resumire-mo-lo em umha frase clarificado-ra 'dentro do Coletivo todo, forado Coletivo nada'”, expom o CPIG.

Carta de Carlos C. VarelaNo mês de março o blogue De volta

para Loureda publicou umha cartado preso Carlos Calvo Varela como título 'Algumhas aclaraçons ne-

cessárias', a qual responde à polé-mica criada polo texto do seu ad-vogado em que se solicitava a reti-rada da foto do Carlos do web AFouce e das páginas de coletivoscomo Ceivar e Que Voltem para aCasa! Neste escrito, o preso expomque aquele comunicado “incluíaopinions políticas que nom eramas minhas” polo que considerounecessário apresentar algumhasaclaraçons. No começo da carta,Carlos C. Varela reflite sobre o con-texto atual, assinalando que “entreo poder e algumha instância do in-dependentismo está-se a dar umhaparadoxal coincidência na cons-truçom deste relato, ao elevaremumha série de sabotagens contramercadorias e propriedades priva-das –nunca contra pessoas- ao ní-vel de 'terrorismo'/'luita armada'”.

No seu escrito, o preso define-se como “independentista” e maisadiante expom que nom é “nem'herói' nem 'vítima'”. “Intento pas-sar o cárcere por um caminho dig-no mas estreito, deixando a ambosos lados as pendentes escorrega-dias destes dois papeis simétri-cos”. Para o ativista galego, “o cár-cere nom é sítio para ninguém”.“A única postura aceitável 'de mí-nimos', 'de direito', é a defesa in-condicional de todos os direitos detodas as pessoas presas”.

05aconteceNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Reivindicaçom de direitos das presas e presos políticos no 17 de abril

cPiG critica a Postura dos Presos que oPtÁrom “Por saídas individualistas e desleais à luita coletiva”

27.03.2015 / Meio milhar de pes-soas manifesta-se em Viveirocontra os despedimentos nafatoria de Vestas.

28.03.2015 / Polícia portuguesaagride Patricia Marinho Rodrí-guez, concelheira do BNG emSalvaterra de Minho, num pro-testo em Monção pola situa-çom da Plisán.

29.03.2015 / Vizinhança de Mui-menta (Cospeito) celebra atofestivo para reclamar que o cen-

tro médico tenha um serviço demédicos a tempo completo.

30.03.2015 / Esculca apresentaao Valedor do Povo umha quei-ja pola actuaçom da Polícia Lo-cal da Corunha contra pessoasque recolhem comida e objetosnos coletores do lixo.

31.03.2015 / Comunidade es-colar de Rubiáns protesta nopleno de Vila Garcia de Arou-ça contra a situaçom do seupavilhom.

02.04.2015 / Descobertas milesde truitas mortas por causadumha vertedura num regueirode Robra (Outeiro de Rei).

03.04.2015 / Castelo de Mon-terrei amanhece com umhafaixa gigante com o lema“Hotel nom”

04.04.2015 / Mais de 200 pes-soas manifestam-se na Estra-da contra o projeto de insta-laçom de duas granjas devissons na comarca.

05.04.2015 / Seareiros do Celtamanifestam-se antes do parti-do contra o Barcelona em Ba-laídos para protestar contra asrequisas, multas e censurasimpostas pola LFP.

06.04.2015 / Um cento de gadei-ros concentram-se em Com-postela para denunciar os pre-ços impostos pola indústrianos contratos lácteos.

07.04.2015 / Níveis de biotoxinaprovocam o feche de 15 polígo-

nos de bateias e 13 bancos ma-risqueiros galegos.

08.04.2015 / Ciganas Feminis-tas pola Diversidade realizamato em Lugo polo dia do povocigano.

09.04.2015 / Funcionários judi-ciais de Ponte Vedra represen-tam no julgado da Parda o “en-terro” do Registo Civil.

10.04.2015 / Nova Iorque prémiao modelo urbano de Ponte Vedra.

cronoloGia

Xesús Alonso Montero vem de publicar umha biografiade Filgueira Valverde, homenageado nesta ediçom do Diadas Letras. O presidente da Real Academia Galega é as-sim o primeiro a publicar biografia sobre o que foi alcaldede Ponte Vedra durante a ditadura, homenageado no maispolémico e contestado Dia das Letras.

Presidente da raG Publica bioGrafia de filGueira

A Mesa vem de denunciar um caso de discriminaçom lin-guística protagonizado pola Polícia Nacional na cidadetrasanquesa. Segundo o organismo de defesa da língua,,no dia 12 de abril um funcionário policial negou-se a aten-der a chamada de um cidadao por este se exprimir em ga-lego para formular umha denúncia.

Polícia nacional discrimina GaleGofalantes em ferrol

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06 acontece Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

“As cuidadoras das Residências públicas de

Maiores somos as novas escravas da Junta”

fÁtima veiGa freire, trabalhadora no centro PÚblico volta do castro

ANA VIQUEIRA / “Umha sociedadeque nom cuida as pessoasmaiores nem valora a quem ascuida para que esteja numhascondiçons ótimas, tanto físi-cas como psicológicas, nomdeixa de ser umha sociedadeatrasada”, sustém Fátima Vei-ga Freire, trabalhadora no cen-tro público Residência deMaiores Volta do Castro Ela éumha de centos de emprega-das que denunciam a precari-zaçom às que a submete aJunta da Galiza e alertam dapretensom da eliminaçom doseu direito ao descanso.

A situaçom laboral começou amudar em 2012. Sim, nós regémo-nos polo V Con-vénio para Pessoal Laboral daJunta da Galiza. No ano 2012, oque figérom foi umha Lei de Me-didas para reduzir o défice públi-co nas Administraçons e suspen-der-nos determinados artigos doV Convénio ainda em vigor, já quenom se negociou outro.

Depois de três anos nesta situa-çom, ainda continuam a amea-çar com a anulaçom de mais di-reitos laborais?Sim, nos tínhamos um artigo 19,onde se nos dava o 75% das ho-ras trabalhadas em compensa-çom por trabalhar domingos efestivos. É dizer, se trabalhavasum domingo tinha compensa-çom em tempo livre, já que eco-nomicamente nunca o cobramos.Ademais, um domingo inabilita-va trabalhar domingo seguinte.A raiz desta lei que suspende esteartigo 19 na sua totalidade pode-mos trabalhar todos os domingosdo ano e todos os feriados.

Trabalho em domingos e feria-dos sem nenhum tipo de remu-neraçom especial?Exacto, grátis como vimos fazen-do desde 2012. Também tínha-mos dous dias de descanso se-manal como todas as trabalha-

doras e trabalhadores do Estadoe desde esta medida só temos umdia e meio de descanso. Aplicam-nos pura e duramente o Estatutodos Trabalhadores.

À parte, tocárom outros direitosreconhecidos em Convénio comoé a possibilidade de comer nas re-sidências depois do turno de ma-nhá e de tarde, ou seja, o jantar ea ceia respetivamente. Todo istofoi mutilado. O fundo de AçomSocial, ajudas para vivendas ouestudos da pessoa trabalhadoramais as filhas/os... nom se recebiaumha gram quantía, evidente-mente, porque a partida se repar-tia entre todas as solicitadas maisagora já nom fica nada.

Acha que a intençom que agochaa Junta da Galiza é a privatiza-

çom das residências públicas?Nom temos guindastres suficien-tes, escasseiam os cueiros e as es-ponjas desbotáveis, as sabas maisas toalhas tenhem remendos comona posguerra... nom se investe nosCentros de Maiores. Existe umhafalta de contrataçons para cobriros dias de assuntos próprios, antestínhamos 9 ao ano e ficamos emseis... umha mutilaçom mais dogoverno do PP! Tampouco contra-

tam a trabalhadoras para cobrir-nos, descontam-nos por estar debaixa médica e, se é por baixa la-boral, a Mutua encarrega-se rapi-dinho de mandar-che trabalharainda que fores vendada.

Evidentemente, a deterioraçomdos serviços públicos tem o únicoobjetivo de deixar que os serviçospúblicos sejam insustentáveis edar a gestom a umha empresa ex-terna “amiga”. O sr. Feijoo, quan-do sae na prensa, fala de nós co-mo se fossemos uns privilegiadosvisibilizándo-nos como funciona-riado frente à cidadania quando ocerto é que somos os novos escra-vos da Junta da Galiza. Desde areforma laboral já nos podem des-pedir por causas objetivas e rela-cionadas com a produtividade apesar de ter umha oposiçom e es-

tar os 365 dias do ano trabalhan-do. Isto nom é Sam Caetano, aquía gente à que atende-la sejam as5.00 da manhá ou as 10 da noite,todos os dias do ano.

É por isso que ides sair para a ruaem manifestaçom o 14 de abril?Sim, saímos a reivindicar quequeremos descansar. Nom que-remos quartos senom que preci-samos estar descansadas parapoder cuidar. Também solicita-mos que a tam manida Concilia-çom Laboral que vende os senho-res progressistas do Partido Po-pular se nos aplique porque nóstambém temos famílias, filhas efilhos com os que queremos estarum domingo e, de quando emvez, um feriado. A situaçom ésurrealista. Esta nulidade de des-canso só nos afeta a trabalhado-ras de categoria baixa porque de-pois as direçons e coordinaçonsjunto ao pessoal técnico, exceptoos DUES -Diplomadas Universi-tárias em Enfermaria-, tenhem li-vre todas as fins de semana e fes-tivos, colhem todas as pontes quehá e, ainda por cima, tenhem umplus por responsabilidade. Assimchega a fim de semana e os feria-dos e nom há um maldito respon-sável do Centro.

A precarizaçom do trabalho re-lacionada com os cuidados estárelativamente invisibilizada.Como trabalhadora dos cuida-dos e como pessoa sindicada, aque se deve isto? O trabalho de quem cuidamos es-tá pouco valorado. Poucos pro-gramas ou documentários se famde problemas de alzheimer oudemências. Profundando, e sen-do sincera, à frente das residên-cias deste país há pessoas quenom tenhem relaçom algumhacom o tipo de patologias que setratam nelas. É dizer, nom hápessoal médico senom que cos-tumam ter um amigo do partidoe a sua conceçom é a dum Hotelonde se dam cuidados.

“a nulidade de descanso só afecta

ás trabalhadoras de categoria baixa”

Umha palestra do ex-ministro franquista Rodolfo MartínVilla nas Pontes foi suspendida polo concelho, logo deconvocar Causa Galiza umha mobilizaçons de resposta.Da organizaçom independentista, assinalam que “MartínVilla tivo responsabilidades políticas na ditadura que as-sassinou por volta de 15.000 galegas e galegos”.

susPendida Palestra de martín villa nas Pontes

O passado 18 de abril foi um dia de protesto contra o Trata-do Trasatlántico de Comércio e Investimentos, que viriamudar consideravelmente as relaçons económicas entreambos os lados do oceano. As mobilizaçons contra esseprojeto decorrêrom nas sete cidades da Galiza autonómicae na comarca do Salnês, concretamente em Vila Garcia.

mobilizaçons contra o ttiP decorrêrom no 18 de abril

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07aconteceNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

NGZ / Vários coletivos do ámbitojurídico, entre os que se encon-tram Esculca, Avogados Novosou a Coordenadora Estatal paraa Prevençom e Denúncia da Tor-tura, apresentárom publicamen-te um comunicado em que de-nunciam os abusos e os maus tra-tos contra a populaçom presa emcárceres galegos. Estas organiza-çons quigérom solidarizar-se es-pecialmente com o interno JavierGuerrero, em greve de fome des-de o dia 12 de dezembro de 2014e hospitalizado desde o 5 de ja-neiro de 2015 polo seu delicadoestado de saúde.

Com o posicionamento públi-co estes coletivos desejavam“pôr em conhecimento da opi-niom pública a situaçom de vul-neraçom de Direitos Humanosno nosso ámbito profissional”.Durante a apresentaçom infor-mou-se de que em dez anosapresentárom-se mais de vintedenúncias por maus tratos nasprisons galegas, especialmentena Lama e em Teixeiro, e queapenas em umha ocasiom os

funcionários declarárom peran-te o juíz. As assinantes do comu-nicado chamárom a “fazer efeti-vo o respeito aos dereitos daspessoas privadas de liberdade” edenunciárom os entraves comque se encontram as defesas pa-ra visitar as pessoas que defen-dem ou mesmo as dificuldadesque tenhem para conseguir asgravaçons nos módulos de isola-mento, onde as agressons à po-pulaçom presa por parte de fun-cionários som mais numerosas.

Quatro meses em greve de fomeO comunicado denuncia expres-samente a situaçom do internodo cárcere pontevedresa da La-ma Javier Guerrero Carvajal, queleva mais de quatro meses emgreve de fome com contínuasgreves de sede. Segundo as orga-nizaçons assinantes, as deman-das gerais de Guerrero som ocumprimento do RegulamentoPenitenciário e o respeito aos Di-reitos Humanos na prisom, alémde quatro denúncias particularesde vulneraçom de direitos na sua

pessoa. “Depois de mais de 4 me-ses de protesto a sua saúde dete-riorou-se gravemente. Nestetempo sofreu crises de hipoglu-cemia, desfalecimentos, cólicosfrequentes de riles, edemas pe-riódicos na perna esquerda aconsequência da falta de proteí-nas, lagoas de memoria. As se-quelas para a sua saúde serám di-ficilmente reversíveis, porém, Ja-vier Guerrero Carvajal mantem-se firme na sua decisom de conti-nuar em greve”.

Segundo informa a revistaAbordaxe a 23 de abril, Guerre-ro levava duas semanas sem sedeixar fazer provas e o médicoafirmava que o seu peso conti-nua baixando.

Mortes na LamaO cárcere da Lama está a acu-mular um tétrico historial. Nopassado mês de março apareciaaforcado numha cela do módu-lo de primeiro grau o presoB.M.G. Este interno participouda campanha Cárcere=Torturae, segundo apontam desde co-

letivos de apoio à populaçompresa, a boa autoestima do pre-so nom coincide com a versomoficial do suicídio. Este factoproduziu-se quase um ano de-pois da morte doutro interno daLama, E.G.S., quem tambémapereceria aforcado segundo aversom oficial e em circunstán-cias nom esclarecidas.

Os casos de ameaças e maustratos neste penal continuam. Aweb de Esculca recolhia em fe-vereiro o caso do internoR.G.G., quem recebeu ameaçasde funcionários durante a suapermanência no módulo de iso-lamento e seria expedientadoposteriormente por promoverum “motim” no módulo de pri-meiro grau, quando ele já nomestava ali. Nos primeiros dias dasua estadia em isolamento, se-gundo relata a web de Esculca,teria permanecido na cela emque apareceu morto há um anoE.G.S., sendo ameaçado polosfuncionários com frases como“Ya sabes quién estaba ahí, túverás cómo quieres acabar”.

Organismos de direitos humanosdenunciam abusos nos cárceres

em 10 anos aPresentÁrom-se mais de 20 denÚncias, a maioria na lama e teixeiro

NGZ / Nos últimos anos as reivin-dicaçons anti-taurinas estavampresentes apenas em datas cerca-nas aos festejos taurinos nas ci-dades mas cada vez procurammais espaço na agenda políticagalega e estám a contar com pre-sença nesta pré-campanha eleito-ral. A plataforma Galiza melhorsem touradas, segundo recolhemos meios de comunicaçom, levarecolhidas mais de 172.000 asi-naturas contra a feira taurina daCorunha. Esta plataforma denun-cia também que o governo muni-cipal do PP nesta cidade procurablindar a celebraçom do eventotaurino para este verám ante apossibilidade de um cámbio degoverno nas seguintes eleiçonsmunicipais. Segundo informa-çons publicadas no digital Prazapública, o concelho reuniu-secom a empresa Tauro Siglo XXI,do empresário Tomas Entero, oqual afirmou na emisora Copeque se celebrará umha feira tau-rina nos dias 1 e 2 de agosto e quemesmo se homenageará ao pin-tor Pablo Picasso.

Também em cidades como Ou-rense ou Ponte Vedra os movimen-tos anti-taurinos saírom à palestrapública, solicitando aos partidospolíticos que se mostrassem sensí-veis com a aboliçom dos espetácu-los taurinos. Na cidade do Leres, aplataforma Touradas fora de Pon-te Vedra saiu também à rua pararechaçar a presença do circo Kaosnesta localidade, o qual empregaanimais para os seus espetáculos.

Ademais, o movimento abolicio-nista promoveu também protestospola novilhada que tivo lugar a co-meços de abril em Padrom. Nestaocasiom, a plataforma Galiza me-lhor sem touradas voltou denun-ciar que este tipo de eventos nomsom possíveis sem o emprego dedinheiro público e salientou que ogoverno municipal deste concelhosuprimiu as ajudas à escolariza-çom, duns 4.000 euros, enquantomantivo as subvençons a espetá-culos taurinos, duns 12.100 euros.

reivindicaçomanti-taurinapresente na pré-campanha

O governo estatal implementou umha reforma rápida e li-mitada da lei do aborto. A principal modificaçom é a rela-tiva à necessidade do consentimento paterno para as mo-ças de entre 16 e 18 anos interromperem a gravidez. O PPintroduz este corte logo do abandono da reforma globalque iria mudar os prazos por supostos restritivos.

A solidariedade com as detidas nas operaçons ‘Pandora’ e‘Piñata’ estendeu-se polo país de maneira sustentada notempo, protagonizando as pessoas solidárias mobilizaçonsde releváncia. Cidades como Compostela, Ponte Vedra ouCorunha acolhêrom marchas, espalhando-se a denúncia eas pequenas açons por diversos pontos da nossa geografia.

solidariedade com anarquistas detidasGoverno mutila direito ao aborto Para menores

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08 acontece Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

As cifras do declive demográfi-co da Galiza nom deixam deaparecer nas capas dos jornais.Só em 2014 o país perdeu maisde 17.000 habitantes, o que re-presenta umha queda de 0,6%da populaçom total. Neste con-texto, a um mês das eleiçonsmunicipais de 24 de maio, aConselheria de Trabalho vem dedestinar umha nova partida de600.000 euros para contratarmais umha campanha publici-tária de fomento da natalidade.

NGZ / Segundo recolhe o Galicia

Confidencial, que se fixo eco doconvénio, estes 600.000 euros so-mam-se a umha partida anteriordestinada para umha campanhacom o mesmo objetivo, dotada na-quel caso com 300.000 euros. Ojornal digital cifra em 1,5 milhonsde euros o montante total que aJunta tem destinado para campa-nhas publicitárias com o mesmofim desde o ano 2013. Como nou-tros repartos similares, o meca-

nismo empregado polo executivogalego é o do convénio, isto é, semnengum tipo de convocatória emconcorrência competitiva à que sepuder apresentar qualquer meio.As estatísticas demográficas po-nhem em causa a efetividade des-te tipo de campanhas publicitá-rias. Segundo os dados do Institu-to Nacional de Estadística (INE),a 1 de janeiro de 2015 o padromcontínuo refletia que Galiza tinha2.731.406 habitantes, isto é,17.289 pessoas menos do que nomesmo dia do ano anterior. Emtermos relativos, o país perdeuseis de cada mil habitantes comos que contava no início de 2014.

Apesar destes dados, a Junta

teima em gastar mais dinheiro pú-blico em campanhas de “sensibili-zaçom” deste tipo. Esta última foiadjudicada pola Conselharia deTrabalho à companhia Imaxe In-termedia S.A. polo montante de600.000 euros, tal e como recolheo DOG de começos de abril.

Foi há dous anos, em abril de

2013, que a Junta aprovou emConselho o seu Plano de Dinami-zaçom Demográfica para mudara tendência negativa do cresci-mento vegetativo do país, comumha populaçom muito envelhe-cida e duramente golpeado polaemigraçom juvenil. Porém, a faltadoutro tipo de políticas, a princi-

pal medida posta em marcha pologoverno galego no marco desteplano é o reparto de publicidadeinstitucional nos jornais.

Desde o eido sindical critica-seque estes fundos nom sejam des-tinados para outros fins. “Umhaquantidade que pudera ser dedi-cada diretamente para a dinami-zaçom demográfica através da po-tenciaçom dos serviços sociais pú-blicos, como por exemplo as cre-ches”, indicava há uns meses aCIG-Autonómica, para quem “oúnico objetivo resulta ser a auto-promoçom do governo da Junta”.

Neste sentido, foi precissamenteo grupo parlamentar do PP o quebloqueou no Hórreo a Lei de Publi-cidade Institucional impulsada po-la Associaçom de Meios em Galegoe apoiada por todos os grupos daopossiçom. Entre outros fins, a as-sociaçom -da que fai parte o NOVAS

DA GALIzA- pretendia proibir por leieste tipo de convénios institucio-nais “pola sua evidente arbitrarie-dade” no mecanismo de reparto.

trabalho jÁ concedera outros 300.000 euros Para umha camPanha de fomento da natalidade

Junta reparte mais 600.000 euros aos jornais antes das eleiçons

media

notas de rodaPé

Diários da Galiza oferecêrom-se a parti-cipar numha campanha para melhorar

a imagem da Ditadura argentina através dainclusom de artigos positivos para os mili-tares golpistas e o seu governo.

Danilo Albin dá conta no diário digitalPúblico de documentaçom reservada

sobre aquela cadeia comercial de propa-ganda que funcionou entre 1980-82. As no-vas evidências confirmam denúncias pré-vias de vários meios, entre eles as do sema-nário Interviu (1992) ou o livro de Pepe ReiEl Periodista Canalla (2001).

Rei explicara a fundaçom por parte dogoverno de Videla da agência Beta-

press que pagava por tarifa publicitáriainserçons dirigidas a compensar as de-núncias de assassinato, sequestro, tortu-ra, violaçom e roubo de menores. Vicente

Cebrián, procedente do diário falangistaArriba, e pai do primeiro diretor do El

País, Juan Luis Cebrián, foi o responsávelpola agência com sede em Madrid. Comocorrespondente em Bos Aires figuravaJuan Martínez Herrera, derradeiro dire-tor de El Pueblo Gallego de Vigo, que tra-balhara antes em Arriba. Martínez Her-rera foi depois concelheiro de AP e PP noConcelho de Vigo.

No relato de Albin, entre 1981 e 1982 osperiódicos El Ideal Gallego e Faro de

Vigo oferecêrom as suas páginas por tarifapara exaltar os logros da Ditadura. No ca-so de Faro de Vigo, dous representantes dojornal concertárom com o cônsul argenti-no em Vigo “umha crónica ou suplementosobre diferentes aspetos da Argentina”,país irmanado com a Galiza por unha mas-siva emigraçom histórica.

Na realidade diária da Argentina nos pri-meiros 80, muitas famílias de emigran-

tes galegos conheciam as visitas no abrentede patrulhas armadas e as subsequentes einfames incorporaçons às listagens de "de-saparecidos". A média dos diários e emisso-ras Estado nom carecia de informaçom so-bre a repressom da Ditadura argentina, eos militares golpistas nom ignoravam o su-perficial da transiçom duns média que fige-ram fortunas a cambio de guardar silênciosobre a Ditadura de Franco.

Acredita este feito umha comunicaçomoptimista do embaixador argentino

Leandro Enrique Anaya por ter conseguidojuntar numha ceia "a quase totalidade dosmeios informativos locais e internacionaisacreditados em Madrid, e autoridades de or-ganismos oficiais e instituiçons de impren-sa”. Na relaçom cita a cargos de La Vanguar-

dia, ABC, Ya, Pueblo, Marca, Arriba, El País,Informaciones, EFE, Europa Press e a várioscorrespondentes estrangeiros.

Arepressom na Argentina era já um feitoimpossível de silenciar, mais aos repre-

sentante de Faro de Vigo preocupava-lhes aaplicaçom da tarifa máxima para inserir'semblanzas' de Videla. Danilo Albin cita aproposta do jornal centenário recebida polocônsul de Vigo de 136.500 pesetas com re-cargo de 30% em cor. O cônsul, numha codaautógrafa, aconselha recusar a oferta.

(Muitos anos colaborador do franquis-ta Faro, Luis Moure Mariño rompe-

ra a sua relaçom com o diário nos 60, tam-bém por umha questom de tarifas, e busca-ra deseguida um meio rival no que desfogarcom esta sentença: "trata-se dum diário tou-zinheiro com elefantíase publicitária").

Diários galegos vendiam espaços à Ditadura argentina

Enquadram numplano de há dous

anos esta publicidadeem pré-campanha

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09aconteceNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

mar

O mar declara aguerra a QuintanaAs confrarias cargam contraa conselheira polo seu des-leixo perante a crise da baixu-ra e marisqueio.

A.DIESTE / Várias campanhas ma-risqueiras perdidas pola alta mor-tandade do bivalve, um cenárioque se vai repetir neste 2015, esgo-tam a paciência do sector do marde comarcas como a da ria deArouça, onde a actividade maris-queira gera 3.100 postos de traba-lho diretos. Esta mortandade con-tinuada desde há uns anos e o es-casso interesse da administraçompara afrontar o problema ponhemas confrarias em pé de guerra.Numha juntança realizada a iníciode abril, os representantes do setordo mar anunciárom que se consi-deram “mais que legitimados” aempreender medidas de protesto“contundentes” e “difíceis de con-trolar”. José Luis Villanueva, pa-trom maior da Confraria de Carril,responsabiliza a Conselharia deMar de “arruinar” a ria e de me-nospreçar “os marinheiros”.

Ante umha situaçom que re-queria atuaçons corretoras ade-quadas e em tempo, Mar -assinalao setor- optou por “promessasque ficárom em águas de baca-lhau”. Para os representantes demariscadoras e marinheiros, estedepartamento da Junta “menos-preçou” e “nenguneou” os repre-sentantes das e dos trabalhadores

do mar e estes coletivos. A mor-tandade de ameija e berberechonom é o único problema queafronta o sector, como lembramos seus representantes: a falha decompromisso na regeneraçom eposta em valor dos bancos maris-queiros, a carência de um sanea-mento adequado da ria, as dife-rênças sobre a luita contra o fur-tivismo... som também questonssobre as que levam tempo de-mandando medidas, sem respos-ta. E a isto engadem o aumento“preocupante” de multas e san-çons a marinheiros, mariscadorasou bateeiros por diferentes te-mas: desde nom levar içada ban-deira espanhola até por ter al-gumha corda mais do que as per-mitidas na batea mexilhoeira.

Consideram que Rosa Quinta-na, conselheira do Mar, “pensamais nas eleiçons” do que no setor,dim as confrarias, ao tempo queindicam que o departamento nomé quem de dar resposta e soluçoma nengum dos problemas que so-fre o setor do mar: jeito, cerco, se-tor mexilhoeiro, marisqueiro... Deaí que estejam a baralhar iniciarumha vaga de mobilizaçons.

NGZ / Os trabalhadores do cercocumprirám a distribuiçom feitadesde Madrid sempre sejamcompensadas as desigualdadesque ainda existem entre os bar-cos. O pacto dá luz verde tem-poral à repartiçom individual,impulsada polo Governo de Es-panha, que distribui as 1.400 to-neladas de sarda extras quechegárom trás o acordo daUniom Europeia com Noruegae as Ilhas Feroe outorgandomais quantidade de peixe ásembarcaçons que tinham me-

nos permitido. O acordo só terávigência este ano 2015, tempono que a Junta de Galiza deverátrabalhar por um novo reparto.

Ainda que finalmente se che-gou a acordo, os ânimos entreos armadores nom eram favo-ráveis. A frota de Ribeira ne-gou-se a ceder parte da suaasignaçom para o fundo co-mum porque queria intercam-biar sarda por mais xurelo sementrar no 'pool'. Nesse pontocrítico, os arrantzales bascoscedêrom a Galiza 400 toneladas

que se encaminharám aos 60barcos que disponhem de me-nos atribuiçom. Deste jeito, aAssociaçom de Armadores doCerco de Galicia (Acerga)anunciou o acordo na assem-bleia de Portosim.

O sector maioritário do cer-co, de 120 a 153 barcos, anun-ciou a sua pretensom de recor-rer a ordem do Ministério polaque se estabelece o plano degestom para navios do censodo Banco do Cantábrico No-roeste espanhol.

o Pacto dÁ luz verde temPoral à rePartiçom individual

O cerco concede à Juntaumha trégua de 365 dias

NGZ / Os trabalhadores do mardenunciam a passividade dosgovernos galego e espanhol eexigem que se presente umhademanda contra Noruega ante oTribunal Europeu de DireitosHumanos (TEDH). O Parlamen-to galego deu seu visto e praz àrealizaçom deste procedimentojudicial através das iniciativasapresentadas por BNG e AGE.

O conflito entre os marinhei-ros e o estado norueguês afecta

arredor de 10 mil trabalhadoresque cotizárom durante décadasno país escandinavo. Os mari-nheiros galegos pagárom entreos anos 1952 e 1994, impostospor valor de 520 milhons de eu-ros. Ainda que cumprírom comas obrigas fiscais, Noruega nomlhes reconhece o direito a pen-som ou prestaçom polo facto deque, por estar embarcados,nom residiam no território. Ostrabalhadores galegos suste-

nhem que esta postura vulneraos convénios de Direitos Huma-nos –artigo 14 da Convençomeuropeia de 1950- ao discrimi-ná-los por nacionalidade.

Enquanto nom atopam umharesoluçom para o conflito, osmarinheiros galegos continuama pressionar ao governo galegopara que interceda entre ambosos países. De momento, já es-tám programadas 34 mobiliza-çons para este 2015.

Marinheiros solicitam que oTEDH resolva sobre o direitoàs pensons da Noruega

O setor anuncia medidas de protesto

“difíceis de controlar”

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10 aGro Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

aGro

Este 1 de de abril fechavam-se qua-se 30 anos de vigência do sistemade quotas lácteas, um período emque desaparecêrom 91% das gran-jas leiteiras galegas, passando das112.000 que havia no ano 1986, da-ta da integraçom da Galiza na da-quela Comunidade Económica Eu-ropeia, às 9.900 que fam entregasatualmente. Com a cumplicidadedas diferentes administraçons,tanto a nível galego, como estatalou europeu, consolida-se a desa-pariçom de umha política leiteiraeuropeia pública, por um sistemaem que se reforça a posiçom de do-mínio da indústria e da distribui-çom; e isso mália os abusos docu-mentados pola Comissom de Mer-cados e de Concorrência, que dê-rom lugar recentemente a umhasmultas de 88,2 milhons de euros,ou aos múltiplos expedientes aber-tos pola Agência de Informaçom eControlo Alimentares (Aica) à dis-tribuiçom pola utilizaçom do leitecomo produto reclamo com preçosmuito baixos, que logo dam comoresultado quantidades por baixode custos nas gadeiras e gadeiros.

Seguindo as máximas do neoli-beralismo, a administraçom re-núncia a atuar limitando a posiçomde domínio da distribuiçom e daindústria, e abandonando à suasorte as produtoras e produtores, ofuturo das comarcas leiteiras gale-gas ou o interesse geral. Em defini-tivo, a indústria decidirá quanto seproduz, a que preço, com que pa-rámetros de qualidade e as zonasde recolhida, o qual ameaça ummodelo de produçom social e sus-tentável de leite baseado em milha-res de granjas familiares distribuí-das por todo o meio rural galego; eorienta o setor cara a um futurocom um número reduzido de gran-jas industriais de grande tamanho,com pouco emprego, com umhaproduçom cada dia mais intensiva,com a utilizaçom massiva de anti-bióticos e agrotóxicos, e com umleite que cada dia gerará mais pro-blemas para a saúde, insustentá-veis do ponto de vista ecológico(contaminaçom por nitratos, ero-som por herbicidas...) e concentra-das em muitas poucas zonas.

A orientaçom da produçom deleite europeia à exportaçom e aosmercados internacionais precisa

de grandes quantidades de leite apreços baixos, que, segundo to-das as pessoas expertas, experi-mentarám umha grande volatili-dade, o que coloca as granjas pro-dutoras numha situaçom de gran-de vulnerabilidade respeito demúltiplos factores: incremento depreços do combustível, especula-çom nos mercados de matériasprimas, situaçom geopolítica in-ternacional, cámbio de divisas...

O pacote lácteoDurante estes últimos anos, o setorfoi assumindo a denominada ater-ragem do sistema de quotas, quesupujo o incremento progressivoda quota assignada antes da suadesapariçom definitiva, e que já le-vara no ano 2009 a momentos demuita dificuldade para o setor:com incrementos já de produçomque tinham dificuldade para serabsorvidos pola demanda existen-te e baixos preços, que motiváromimportantes mobilizaçons e figé-rom com que a Comissom Euro-peia criasse um Grupo de Expertosde Alto Nível, onde se constatou afalta de mecanismos para um fun-cionamento equilibrado da cadeiaalimentar, a feble posiçom das pro-dutoras e produtores, e a necessi-dade de dar estabilidade e melho-rar a renda do sector gadeiro.

Assim no ano 2012 publicou-sea normativa europeia denomina-da “pacote lácteo”, que regula as

relaçons contratuais no setor ou aimplantaçom de opls (organiza-çons de pessoas produtoras lác-teas), um marco com o que nomparárom de baixar os preços, comumha queda das margens de 25%das pessoas produtoras no 2014respeito do ano anterior, impor-tantes excedentes, que se víromagravados com o veto russo e a di-minuiçom da demanda em paísescomo China, ou o incremento ge-neralizado a nível internacional.

Quanto a reforçar o papel ne-gociador de produtores e produ-toras, o pacote lácteo tampoucofuncionou. Segundo um relatórioda própria Comissom Europeia,só chegou a haver negociaçonspolo preço do leite em 4 países,entre eles o Estado Espanhol. Nocaso galego, com preços maisbaixos do que a média do estado(2,3 céntimos menos em janeiro)e inferiores também à média eu-ropeia, de nada valérom as 2 opl(Ulega de Unións Agrarias eAprolac promovida por Agaca), epreços e condiçons continuárom

a ser impostos unilateralmentepolas indústrias.

Sem preços de referênciaA outra ferramenta proposta polopacote lácteo para dar estabilidadeaos preços som os contratos. O Mi-nistério publicava este mês de fe-vereiro um Real Decreto com umprazo mínimo de um ano e contra-tos obrigatórios, sem nengum sis-tema de arbitragem ou mediaçomque evite a imposiçom unilateral decondiçons abusivas por parte da in-dústria, ou um sistema de referen-ciaçom de preços em base aos cus-tos de produçom. A indústria temamosado reiteradamente o seu de-sacordo com contratos anuais, semque se fixem condiçons tambémcom a distribuiçom e se garantamas suas margens, e, na prática, estáutilizando como reféns na suaguerra contra a o Ministério os pro-dutores e produtoras, impondo-lhes preços ruinosos. Assim, o con-trato, sem uns preços mínimos dereferência, está-se a converternumha ferramenta de extorsommais em maos das indústrias.

Tampouco serviu o pacote lácteopara equilibrar a oferta e a procura,como demonstra o incremento daproduçom que se produziu em todaa UE ao longo de 2014 sem quehouvesse um aumento da procuraque o justificasse. A nível comuni-tário, prevê-se para 2015 um incre-mento meio da produçom de um

5%, que seria de um 10% nos paísesdo norte, e o desajuste entre a ofer-ta e a procura, que poderia supormais quedas de preço (alguns estu-dos falam de por volta de um 5%).

Do Sindicato Labrego Galego ea Coordenadora Europeia da ViaCampesina, defendemos umha po-lítica leiteira pública que gere e re-gule a oferta de leite e o mercado,que garanta uns preços que nuncabaixem do limiar dos custes deproduçom e gerem rendas dignaspara as pessoas produtoras; ade-mais de garantir a permanência daproduçom em todo o território,com um modelo social, económicae ambientalmente sustentável. De-ve frenar-se a dinámica de concen-traçom da produçom numhas pou-cas zonas e países (França, Alema-nha, Holanda...) e em exploraçonsindustriais, como jeito de mantermilhares de postos de trabalho e apopulaçom num meio rural vivo,fomentar a autonomia das explo-raçons, com atuaçons para prote-ger a terra agrária e facilitar a pro-duçom de forragens, e apoiar pro-cessos de transformaçom que ge-rem valor engadido e melhorem arenda da parte produtora, mudan-do a estratégia curtopracista deumha indústria que se limita a en-vasar leite líquido ou elaborar leiteem pó a preços baixos.

Isabel Vilalba é secretária geral do Sin-

dicato Labrego Galego (SLG)

“Maos arriba, isto é um contrato lácteo”em 30 anos desaPareceu 91 Por cento das Granjas leiteiras GaleGas

a desapariçom das quotas reforça o domínioda indústria e da distribuiçom

isabel vilalba

O contrato sem preços mínimos é

umha ferramenta deextorsom da indústria

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11economiaNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

economia

RAUL RIOS / Som muitos os mo-vimentos sociais que nos últi-mos tempos deixárom de limi-tar-se à simples reivindica-çom verbal e incluírom nassuas estratégias a constru-çom de alternativas reais. Di-zer mas também fazer. NosaEnerxía fai parte desta filoso-fia. Com um modelo totalmen-te baseado nas fontes renová-veis, a cooperativa energéticacomeçou a comercializar emfinais do verao de 2014. Polode agora já contam com 110sócios e sócias e assinárom36 contratos com clientes.Agora mesmo, as suas tarifassom similares às de qualqueroutra companhia. Os mesesde maio e junho marcarám umponto e a parte para o projeto:finalizará oficialmente a suafase de provas e obterám a al-ta como empresa comerciali-zadora. Desde aí, esperam se-guir incrementando o númerode sócias e clientes. “A partirde 1.000 sócias já teriamosumha massa crítica par o pro-jeto se assentar”, explica Pa-blo Álvarez, presidente de No-sa Enerxía S.C.G.

O sistema elétrico está compostopor três tipos de empresas: as pro-dutoras, as distribuidoras e as co-mercializadoras de energia. NosaEnerxía opera neste último cam-po, em que consiste a sua funçom?Como cooperativa energética co-meçámos a trabalhar no ámbitoda comercializaçom. Dentro dastrês partes que mencionaches po-demos aceder por lei -porque nomestám reguladas- à parte de co-mercializaçom e mais adiante a deproduçom, o que já é mais com-plicado. Agora estamos a traba-lhar a comercializaçom, isto é,ofertar a subministraçom de ele-tricidade, de fontes renováveis,como o que tem todo o mundocom qualquer companhia.

Que diferenças existem entreNosa Enerxía e as grandes em-presas comercializadoras?Som duas filosofias totalmente di-ferentes. Por exemplo, o modelo

de empresa. Numha grande elétri-ca um grupo minoritário de acio-nistas controla a maior parte dasaçons; enquanto Nosa Enerxía éum modelo de copropriedade desócios, um modelo cooperativo.

Umha outra diferença é que No-sa Enerxía aposta num modelosustentável e de economia social,enquanto as grandes empresaspromovem o consumo, que se con-suma mais energia para ter lucros.O de Nosa Enerxía é um modeloque se pode definir como susten-tável, baseado nas renováveis, emque o sócio é soberano e pode par-ticipar das decissons democráticasque se tomem entorno à energia,enquanto nas grandes empresas osócio nom existe, é um consumi-dor. Nom tem nem voz nem voto.

A grandes traços, o modelo deNosa Enerxía, a nível da Galiza,quer propiciar um empoderamen-to social e criar umhas bases quedeam presença à sociedade galegana presente ou futura revoluçomenergética que já estám a ser as re-nováveis. Geralmente, sempre es-tamos perdendo os comboios demudança económica e tecnológicano mundo. A ideia é possibilitar-mos umha oportunidade que nosbenefície a cada umha de nós e atodas como sociedade. Pretende-mos construír um modelo que es-teja vencelhado à própria estrutu-ra da Galiza, ser a energética detodas as galegas. No entanto, asgrandes energéticas como GasNatural Fenosa pertencem a capi-

tal foráneo e nom tenhem o centrode decissons na terra, apesar decontrolarem muitas barragens epontos de geraçom elétrica.

A cooperativa conta com um mo-delo democrático de toma de de-cissons, em que cada sócia temum voto, independentemente docapital investido. Porqué acha-des importante o poder de decis-som das sócias?O capital a investir som 100 eurospor sócia consumidora e 200 eurospor sócia nom consumidora. Aideia disto é que cada indivíduo se-ja igual. Imagina que Fenosa qui-ser meter-se na cooperativa... sommecanismos de bloqueio para queo espírito democrático e assem-blear se mantenha sempre vivo.

Qual a importáncia de que cadasócia poda decidir? A nível indivi-dual, é a importáncia do termopróprio de liberdade. A dia de hojeum pode ter soberania alimentar:tem umha horta que cultiva, temos seus tomates, os seus repolos...se trabalha pode dizer que podeproduzir os seus próprios alimen-tos. A nível energético nom, até o

dia de hoje. Eramos clientes dasgrandes companhias, era um te-ma muito grande para o indivíduo.Nas tertúlias ou nos bares a gentefala de futebol, da horta, dos vi-nhos... mas de temas energéticoso único que fala é, se calhar, da fa-tura da luz ou de como lhe afetouumha política da Fenosa. Masnunca se fala “vamos pôr uns pa-neis fotovoltáicos”... A nível indi-vidual, ter voto dá-lhe também es-sa dimensom: ser também sobe-rano na parte energética.

A nível coletivo é umha mostrade empoderamento social. Galizatem umha crise económica, social,identitária... precisamos de proje-tos que nos ajudem a reafirmar edizer que aqui ainda fica gente,que ainda ficam cousas que fazer.Entre todos os que temos essa vis-som conjunta podemos unir-nos epodemos ser fortes para levar acabo um projeto como este.

Afirmades que as fontes de ener-gia nom-renovável nom vam po-der cubrir as necessidades ener-géticas básicas das pessoas, poloque apostades numha evoluçomcara à eficiência energética e asrenováveis. Julgades que asenergias renováveis vam funcio-nar como substitutas das nom-re-nováveis, permitindo que semantenha o atual ritmo de con-sumo energético; ou julgadesque também é necessário que aspessoas aprendam a viver consu-mindo menos energia, na linha

das teses decrescentistas?É umha mestura de todo. De NosaEnerxía falamos muitas vezes denom apostar num capitalismo ver-de. Agora na Galiza temos o manádos moinhos eólicos. É o mesmocaso que o tijolo, que havia que le-vantar vivendas porque havia de-manda. Na nossa opiniom, quan-do chegar o momento de produzir,haverá que produzir o que neces-sitem as sócias consumidoras. So-bre a questom que comentavas, oprimeiro que costumamos dizer éque a melhor energia é a que nomse consome. A ideia é que a sóciapoda poupar e nom consumirenergia em exceso.

A nível de produçom energéti-ca, digamos que a Galiza é comoumha Kuwait de energia renová-vel. Nom temos petróleo mas te-mos vento, sol, energia geotérmi-ca, ondas do mar, moinhos, etc.Galiza, hoje em dia, poderia serautosuficiente energeticamenteapenas com renováveis. De facto,Galiza é excedentária em renová-veis mas exporta essa energia pa-ra outros pontos de Espanha co-mo Madrid.

Um dos grandes problemas atuaisé a pobreça energética, gente quenom pode ligar o aquecementono inverno ou à que lhe cortam aluz por nom poder pagar. Comoenfrentades esta situaçom?Muitas sócias da cooperativa es-tám preocupadas com este temae é umha das propostas que es-tamos a trabalhar. Devemos fa-zer todo o possível para evitá-lo.Umha das propostas que esta-mos a comentar é fazer um fun-do intrasolidário, em que os quemais tenham deixem umha pe-quena quantidade da sua achegacada mês e criar um fundo paraajudar as sócias que tenham umproblema de pobreza energética.Com esse fundo poderia-se evi-tar cortar a luz a ninguém. Estasmedidas já funcionam noutrospaíses. Mas falar de pobrezaenergética quando temos muitatecnologia e recursos para quese poda ter energia é como falarde fome em países tam ricos co-mo a Argentina ou o Brasil.

“Galiza poderia ser autosuficienteapenas com energias renováveis”

entrevista a Pablo Álvarez, Presidente de nosa enerxía sociedade cooPerativa GaleGa

“Costumamos dizerque a melhor

energia é a quenom se consome”

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12 internacional Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

a terra treme

VERA-CRUZ MONTOTO / O passado 18 de Março o BancoCentral Europeu (BCE) abriu sua nova sede emFrankfurt, um edifício com duas torres de 185 me-tros de altura, rodeado por uma cerca e um fosso.Em plena crise social europeia, esta fortaleza doCapitalismo costou 1,3 bilhões de euros. 400 mi-lhões mais do previsto, já agora. A fastuosa gala de

abertura -com vários líderes de Estado europeus ea oligarquia financeira europeia presente- foi anun-ciada para 18 de Março, justo no 114º aniversário daComuna de Paris. Com um certo sabor às mobiliza-ções antiglobalizaçom de finais do século XX eprincípios do XXI, sob a palavra de ordem "Vamostomar conta da festa!", os protestos contra a nova

sede do BCE forom convocados para 17 e 18 demarco pela rede internacional Blockupy(https://blockupy.org/), autodefinidos como "acti-vistas de movimentos sociais, altermundialistas,migrantes, desempregadas, trabalhadoras precari-zadas e industriais, membros partidários e sindica-listas e muito mais de diferentes países europeus".

[frankfurt 18.03] ações transnacionais contra a Gala de abertura do bce

Vamos tomar conta da festa!

Nova sede do Banco Central Europeu en FrankfurtDenominada "Eurotorre", o dia da suainauguração luzia galas de arame farpado e densos cordoes policiais. Esta arquitetura capitalista de poder intimidatório, da qual temos abondososexemplos em tudo o mundo, simboliza à perfeção a distância entre as elites política e financeira e os povos.

Manifestantes do Bloco Rosa atravessando cordom policialVários blocos de manifestantes, com distintos objetivos, forom distribuídos pela cidade.Duas pessoas mesmo conseguiram pendurar de um dos edifícios no distrito financeiro deFrankfurt uma faixa onde se lia "Capitalism Kills", "O Capitalismo mata". As identificações eregisto de pessoas en várias partes da cidade começáram já o día anterior às mobilizações.

Na repressão não há cortesO BCE tem um papel fundamental na Troika, responsável por cortes severos, desemprego crescente,e a quebra do sistema de saúde e educaçao em vários países da UE. Ao lado da Comisão Europeia eo Conselho Europeu, o BCE tem forçado a austeridade, privatização e precariedade, co cumplicidadede governos eleitos dispostos a fazer cumprir seus ataques aos direitos sociais e humanos. Iso sim,de cortes em métodos repressivos ainda nom tivémos notícia...

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13internacionalNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Concentração na Praza RömerSendo Alemanha uma das maiores forças motoras do austericídio europeu, esta mobilização no coração da besta do regime da crise europeia levava-se preparando já desde2014, e foi precedida de mobilizações da rede Blockupy em 2013 e 2014. Mas a limitação de direitos sociais, a crescente precarização e a pobreza também existem na Alemanha,sendo muitas as pessoas que estão a lutar por recuperar os direitos sociais e humanos nesse país e na Europa, pelo que o 18 de março se significou como a ocasião perfeita paramandar um claro sinal de solidariedade junto com activistas doutros países. De facto, aproximadamente 7.000 das 10.000 pessoas contabilizadas nos protestos eram alemãs. Antes da grande manifestação convocada para as 17.00hrs., tivo lugar na Praça Römer um ato político que contou com a intervenção da activista e politóloga Naomi Klein.

500 pessoas detidasGases lacrimógenos, canhos de auga, centos de polícias, cargas, feridas e muitas câmaras para gravarmanifestantes. De Blockupy informaram nos días seguintes de que, a diferênça das convocatórias de2013 e 2014, desta volta a polícia procurara aplicar detenções selectivas. O bloco italiano, que umas semanas antes bloquera a sede do Banco de Itália em Venécia, foi um dos mais retaliados. Quase umasemana mais tarde, ao menos um dos manifestantes italianos continuava detido em Alemanha.

O fetichismo da mercadoriaMais uma vez, a queima de carros -incluídas viaturas policiais-, as barricadas e os desperfeitosno mobiliário urbano voltaram a ser empregados pela classe político-financeira para tentar desvirtuar os protestos a través dos médios de comunicação sistémicos. Qué se pode aguardarde quem reconhece violência num carro queimado mas nom em milheiros de famílias despejadas?

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Sim, o Estado existe nas sociedades

primitivas, mesmo no mais pequeno

grupo de caçadores nómadas. Existe,

mas é conjurado sem cessar, constante-

mente se impede a sua realização.

Pierre Clastres

CARLOS C. VARELA / No passado 25de maio o zapatismo voltava a su-bir a aposta. Num comunicadoque Raúl zibechi definiu como“um golpe à soberba revolucioná-ria”, o movimiento chiapanecoanunciou a radicalização da suaestratégia horizontalista: “Dovanguardismo revolucionário aomandar obedecendo; da tomadado Poder de Cima à criação do po-der de baixo; da política profissio-nal à política quotidiana; dos líde-res, aos povos”. Para que não fi-cassem dúvidas proclamaram amorte do “holograma Marcos”,dando passo a uma nova direçãoindígena. O Subcomandante Mar-cos, o último ponto de enganchepara o reconhecimento de intele-tuais e esquerdas brancas, desa-parecia no meio do comunicadomais potente dos últimos anos,reivindicando-se –eis a retrancazapatista– como uma grande jo-gada da guerrilha da comunica-ção. A revolução destelevisa-se.

A obriga de autodeterminaçãoPara Marx, quando as forças pró-prias se reconhecem e organizamem forças sociais, sem separá-lasde si sob a forma de força política,a emancipação humana culmina;para as zapatistas, no entanto, co-meça. A não separação da forçapolítica da própria comunidade éo seu ponto de partida, polo quemais do que um movimento socialsão uma sociedade em movimen-to. Ao rejeitar o vanguardismo e aforma-Estado, o zapatismo apostana aprendizagem coletiva e no in-cremento de potencia (poder-fa-zer) como forma de libertação naqual dependem de si próprias.Uma obriga de autodeterminaçãoque se concretiza na construçãode relações de liberdade e cuida-dos mútuos; um soberanismo sus-tentável que conjura igualmente

o Estado e a política especulativado eleitoralismo, atingindo umaautoestima revolucionária que es-tá nos antípodes dos ciclos eufóri-co-depressivos típicos da mono-cultura eleitoral: “Agora temosque exercer os nossos direitos nósmesmos. Não necessitamos per-missão de ninguém” (Comandan-ta Esther); “O mal governo nãonos faz caso. Aí que se quede comas suas pendejadas. Já sabemosformar os nossos municípios au-tónomos” (Rosalinda de Oventic);“Não importa –a limitante Lei deDireitos e Cultura Indígenas–. Anossa autonomia não necessitapermissão do governo, já existe”(Celerina de Morelia). Como a po-lítica não se desliga do quotidia-no, feminiza-se, e os âmbitos paraa transformação social multipli-cam-se: “O canastro de matambasim o temos ainda na mão porqueserve-nos para resistir ao que é deplástico. Também usamos as te-lhas para resistir e não comprarlâminas (uralitas), explicava Ni-codemo do caracol La Realidaddurante a 1ª Escuelita zapatista.

Conjurar o EstadoUma série de técnicas sociais, al-gumas herdadas das culturas in-dígenas e outras novas, conjuramconstantemente no seio das co-munidades zapatistas a apariçãode elites e divisões entre dirigen-tes e dirigidas. Até a infraestrutu-ra gramatical de línguas como atojolabal é posta à disposição des-te igualitarismo zelosamenteguardado. As comunidades auto-governam-se com sistemas co-muns à democracia tradicionalgalega: com cargos rotativos enão remunerados que se exercemobedecendo e aprendendo, paraque todo o mundo esteja capaci-tado. Gostam de dizer que o fimestá nos meios, e nem sequeraceitam a metafísica acidentalque separa objetos/sujeitos.

É um lugar-comum apresentaro EzLN como uma auto-organi-zação além do Estado que emergenuma sorte de vazio político, maso EzLN não só nasce e cresce en-

tre um complexo ecossistema –ou mercado – político, senão quea sua trajetória não se entendesem um posicionamento-chave: asua negativa a ser recuperado po-la forma-Estado dos partidos. Empalavras da comandante Horten-sia: “há 20 anos deitamos no lixotodos os partidos políticos”. Nestesentido o ano 2006 foi fulcral: An-drés Manuel López Obrador, ocandidato do Partido da Revolu-ção Democrática (PRD) irrompianas sondagens eleitorais comvantagem sobre o PAN e o PRI.Entre a esquerda mexicana au-menta a ilusão de uma vitória elei-toral, e López Obrador oferece aoEzLN uma “resistência por ci-ma”, uma cooperação eleitoralque o EzLN recusa entre umagrande polémica. Argumentamque nenhuma vitória eleitoral da-rá numa mudança substancial, eveem em López Obrador um líder

mediático sem base.Entretanto lançam ‘La otra cam-

paña’, que percorre o país inver-tendo a lógica dos comícios eleito-rais: a gente fala, os líderes zapa-tistas escutam e tomam nota. A di-ferença com os partidos evidencia-se ainda mais quando váriossindicalistas agrários são encarce-rados. Enquanto ‘La otra campa-ña’ se centra na ajuda solidária, oPRD teme que “o relacionem” eperda votos polo que continuacom os comícios apelando ao “Es-tado de Direito”. A solidariedadecom “terroristas” não tem valor de

troca eleitoral. Contudo, a pressãoao EzLN, acusado de “fazer o jo-go” ao PRI e PAN, não diminui.Numa das juntanças da ‘La otracampaña’ uma mulher faz-se ecodo sentimento maioritário entre aesquerda, que não entende que oEzLN não apoie o PRD, quandonão há grandes diferenças ideoló-gicas. “A diferença – diz-lhe Mar-cos – é que López Obrador querser o seu Presidente, e eu tão só oseu companheiro”.

Se a sedução eleitoral é a cenou-ra, a contrainsurgência é o pau.Mas esta também tem as suas ce-nouras. O Estado mexicano desti-na dinheiro a subsídios, terras, ca-sas, maquinaria e outros bens àsfamílias que se apartem dos cara-cóis zapatistas, criando uma mi-niatura de Estado de Bem-Estarcontrainsurgente que gere divi-sões e paralise o crescimento dotecido social autónomo. Ainda, or-ganizações outrora independen-tes, como a Central Independentede Operários Agrícolas e Campo-neses Histórica (CIOAC-H), de-vêm paramilitares polas ingerên-cias do Estado. A CIOAAC-H as-sassinou em maio o mestre zapa-tista Galegano, no marco de umaofensiva do Estado por recuperarpoder: ataques às Autodefesas deMichoacán e a Polícia Comunitá-ria de Guerrero (ver Novas da Ga-liza nº 138), assassinatos em mas-sa de estudantes, etc.

E o exército?Qual é o papel da estrutura arma-da numa comunidade em movi-mento que conjura constante-mente o Estado? Apenas há ache-gamentos ao zapatismo que abor-daram diretamente esta questão;mesmo se tem dito que é um mo-vimento armado “por estética”mais do que por outra cousa. Ocomunicado de despedida deMarcos trata amplamente o apa-rentemente paradoxal caráter an-ti-militarista do EzLN, mas afir-mava: “Não enganamos ninguémde baixo. Não escondemos quesomos um exército, com a sua es-trutura piramidal, o seu centro decomando, as suas decisões de ci-ma para baixo. Não por congra-çar-nos com libertários ou pormoda negamos o que somos”. Sebem o EzLN não “suplanta ou im-põe”, recorda que: “Nada do quefizemos, para bem ou para mal,tivera sido possível se um exércitoarmado, o zapatista de LibertaçãoNacional, não se tivera alçadocontra o mal governo exercendoo direito à violência legítima. Aviolência do de baixo frente à vio-lência do de cima”.

14 internacional Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

“não escondemosque somos um

exército, com a suaestrutura piramidal”

“dos líderes, aos Povos”, declarava o zaPatismo no seu Último comunicado

EZLN: duas décadas conjurando o estado

a terra treme

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15dito e feitoNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

OLGA ROMASANTA / A palabra“gentrificaçom” nom apareceainda nos dicionários, mas co-meça a ser um dos termos maisempregados nos movimentossociais das cidades galegas.Falar de gentrificaçom é falarde exclusom, de especulaçom,de consumo, de como umhaspoucas pessoas (do poder pú-blico e do privado) tiram rendi-mento económico às vivendas,às ruas e às vidas de muitas.Em Gentrificaçom Vigo (‘xentri-ficacionvigo.blogspot.com’) vi-rom cedo como através desseconceito podiam explicar atransformaçom do casco velhoe as estratégias económicasque agocha. E, depois de me-ses de trabalho, apresentáromnos dias 6, 7, 13 e 14 de marçoas jornadas “Gentrificaçom eexclusom social na zona velhade Vigo”, para continuar cons-truindo um discurso que permi-ta perceber e combater estarealidade. Ángel López, um dosseus membros, fala-nos destarealidade viguesa que nom sainos meios oficiais.

O conceito “gentrificaçom” ou-ve-se cada vez mais nos núcleosurbanos. Mas, que é exatamente?Entendemos por gentrificaçom oprocesso que provoca a expul-som de colectivos sociais de clas-ses baixas dum bairro para subs-titui-lo por outro de maior poderadquisitivo. As vivendas revalori-zam-se através de políticas inter-vencionistas, ainda que este é umjogo em que estám vinculados opúblico e o privado. Ponhem “emvalor” um bairro através do mar-keting urbano, gerando deman-da de pessoas que queiram viverai, e provocando assim tambémum aumento da oferta. Este pro-cesso leva-se a cabo a partir denovas construçons e reabilita-çons, mas procurando gerarmaisvalia apartir dumha zonaque estava abandonada. A gen-trificaçom é, por dizê-lo doutrojeito, a consequência direta daaplicaçom das políticas neolibe-rais numha cidade, e provoca ex-clusom no acceso às vivendas emesmo aos espaços públicos.

Como sabemos que esse processoestá começando num bairro?Quais som os sinais?Bom, cada lugar tem o seu próprioprocesso, mas todos partilham amesma lógica de compra. Em geralcomeça com um aumento do preçoda vivenda e dos alugueiros, e achegada de novos emprendedorescom umha visom de negócio “tren-ding”. Vai-se criando umha novaimagem, aparecem novos coloniza-dores, e aumenta o controlo social.Em ocasions isto vai aparelhado àchegada de turistas, que se procuramediante a criaçom de museus oulojas específicas para eles, como nocaso de Compostela. Noutros luga-res é a nível mais artístico, ou mes-mo relacionada com umha identi-dade sexual, como no caso deChueca, em Madrid ou o Gaixam-ple em Barcelona. As zonas velhassom espaços especialmente sensí-veis a estes processos, dada a suacentralidade, e o estado de abando-no em que se atopam amiúde.

O turismo, como comentas, podeser um factor que acelere estesprocessos de gentrificaçom. Quepapel joga no caso vigués?Em Vigo, como noutros lugares,impulsou-se a chegada dos turis-tas através de lojas, restaurantes eespaços comerciais. A pegada émuito perceptível no casco velhobaixo muito ligado ao sector hota-leiro (Praça Princesa, Praça daConstituiçom, Rua Real, a Pedra eo Berbés), ainda que na Ferraria, a

zona de prostituiçom da cidade, oprocesso se inclinou mais cara aocomércio alternativo, especializa-do, buscando atrair um perfil mui-to determinado de habitantes econsumidores.

Gentrificaçom e especulaçomsom conceitos que adoitam ir pa-relhos… É assim no caso viguês?Totalmente. Em Vigo contamoscom o Consórcio Casco Velho, um-ha entidade 90% da Junta e 10%da cámara municipal, que impul-sou os primeiros passos do proces-so de reabilitaçom dos espaços.Mercárom vivenda abandonada elocais, um total de 70 inmóveis,com a intençom de atrair o investi-mento privado. O que há detrás éum interesse económico: mercas,vendes, para seguir mercando. Ainstituiçom está a jogar no jogo daespeculaçom. Aliás, as vivendasdo Consórcio som de proteçomautonómica de regime concertadoe de promoçom privada; isto é, asmais caras que pode oferecer umorganismo público. Para acceder aum destes apartamentos tes queter trabalho, solvência económica,e entre 25 e 35 anos, polo que es-

tabelecem já um filtro muito im-portante em base ao perfil quequerem criar no bairro. Figérommesmo um acordo com Abancapara facilitar a adquisiçom destetipo de moradias e locais comer-ciais. É muito salientavel que das91 vivendas reabilitadas até agora,74 fôrom destinadas a compra e só12 a aluguer. Para além disto, es-tám-se reabilitando edifícios desti-nados a usos institucionais e deserviços para dar umha nova ima-gem ao bairro.

Como está a afectar esta situaçomàs pessoas sem lar da cidade?Estám bem incomodados…. O Lo-cal Sereos, antes situado no cascovelho, e que dava atençom a dro-godependentes e pessoas sem tei-to, fechou dum dia para outro nomes de agosto de 2013. No seu lu-gar, mandou-se umha unidademovel à zona de Beiramar, entrefábricas abandonadas, para quetoda essa gente ficasse fora da vis-ta. Está perto do albergue munici-pal, mas nele a gente só pode ficarpor periodos transitório e a umhahora e media caminhando do ou-tro serviço social semelhante, queestá em Teis, e depende da igreja.Vá, que o que figérom foi abrir ain-da mais a fenda social, através dainvisibilizaçom e do asobalhamen-to por parte da polícia, que incre-mentou muito o controlo social nazona. O coletivo cigano é outro dosafetados, já que antes havia fami-lias que viviam na Ferraria, e os

seus edifícios fôrom mercados po-lo Consórcio. E o que é mais, com-prou também os prostíbulos da zo-na, expulsando as trabalhadorasdo sexo a outras partes da cidadeou nengures. As que ficam na zonatrabalham agora com mais preca-riedade ainda. É curioso o hipocri-sia que envolve estes processos…por exemplo agora há umha expo-siçom na rua Abeleira Menendez,feita polos novos comerciantes daFerraria, de fotos de gente da cida-de sorrindo, mas a realidade nobairro é bem outra.

Muitas vezes ouve-se isso de que“o bairro está muito mais bonito”desde que começam estas tácti-cas gentrificadoras. Cres que estáassumido socialmente que isto éum problema?Em absoluto; o de “está ficando bo-nito”ouve-se por toda a parte. A to-das nos agradam as cousas bonitase os bairros acondicionados, mas oque se há que perguntar é quaissom as consequências sociais des-sas estratégias, e porque nom sereabilita tendo em conta os coleti-vos sociais e incluindo a gente dazona. Nom há gente de primeira ede segunda, assim que tambémnom deveria haver bairros de pri-meira e de segunda. Mas é dificilcombater essa outra visom, porqueé a visom do capitalismo.

Acabades de celebrar umhas jor-nadas sobre gentrificaçom. Co-mo foi a experiência, e a que con-clusons chegastes?Foi mui positiva! Tratámos de pôrem comum todo o trabalho de cria-çom de discurso do ano passado, econseguimos implicar algumhagente do bairro, que tem a mesmaperceçom da pegada de setorescomo o turístico. Foi interessanteque estivesse a gente de La Corra-la, introduzindo-nos no tema dacidade capitalista, e da geraçomde maisvalias. O seu discurso é to-talmente aplicável a Vigo. Aliás, fi-gémos um atelier de mapeo, ondeas pessoas participantes identifi-cámos as problemáticas de que sefalou ao longo das jornadas, deba-têmos sobre elas, e situamo-lasnum mapa que estará disponívelno nosso blogue proximamente.

“as zonas velhassom especialmente sensíveis a este tipo

de processos”

entrevista a ÁnGel lóPez, membro de ‘Gentrificaçom viGo’

“A gentrificaçom é neoliberalismo aplicado aos grandes núcleos urbanos”

dito e feito

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16 a fundo Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Partilham umha série de categorias recorrentes, como ‘cidadania’ ou ‘unidade’; e algumhas ausências, como 'soberania' ou 'esquerda'a fundo

os Partidos mais consolidados Ponhem em dÚvida a oriGem cidadÁ das candidaturas de confluência

As ‘marés’ ante o repto de construir um municipalismo de base popularO próximo 24 de maio marca-rá o fim dum longo períodosem convocatórias eleitorais.Salvo a exceçom das eleiçonsao Parlamento Europeu, quejá constatarom o desgaste doPP e o PSOE, a cidadania ga-lega leva sem ser convocadaàs urnas desde outubro de2012, momento no que tivé-rom lugar as autonómicasnas quais o partido de Feijóoperdeu mais de 100.000 votose ganhou três deputados.Dous anos e meio depois,após um ciclo político marca-do polos cortes sociais, o au-mento do desemprego e aproliferaçom de casos de cor-rupçom; a cidadania está cha-mada de novo a votar numhaseleiçons municipais que ser-virám de limiar do próximo ci-clo eleitoral. É neste contextoque surgem as marés: candi-daturas municipais que seapresentam como cidadás eentre cujos objetivos declara-dos estám a defesa dos servi-ços públicos, a participaçompopular e a luita contra a cor-rupçom ou os despejos. Ummodelo que se pretende novoe que tem os desafios de de-monstrar o que trai consigorealmente diferente e de ma-terializar as propostas para oempoderamento cidadao paraalém das eleiçons.

RAUL RIOS / 22 de julho de 2014.Cerca de 300 pessoas se reúnemna Ribeira do Cómaro, ao pé do es-tádio de Riazor. Tinha lugar aapresentaçom pública da MareaAtlántica, o primeiro dos chama-dos processos de confluência cida-dá nascido na Galiza e um dos pri-meiros do Estado, no ronsel doGuanyem Barcelona de Ada Co-lau. O seu manifesto fundacionaljá conseguira apanhar 1.000 assi-nantes após umha semana circu-lando polas ruas e pola Internet. Otexto fazia referência a um sistema“que nom deixa de criar injustiça edesigualdade”, aos “cortes nos ser-viços públicos, desenhados porumha minoria ao ditado do podereconómico” ou à multiplicaçom da“emigraçom, o desemprego e a po-

breza”. “Chegou a hora de mudaras cousas dumha vez”.

Pronto começariam a surgir ini-ciativas similares noutros pontosdo país. Primeiro em cidades co-mo Vigo ou Ourense, mais tardeem vilas e aldeias, sobre todo dascontornas urbanas e no eixo atlán-tico. Finalmente, haverá 86 conce-lhos no país que contem com um-ha – ou mesmo duas ou três – pa-peletas de candidaturas cidadás;isso sem contar aqueles em queAnova ou EU apresentam listas emsolitário. Apesar das especificida-des próprias de cada maré e dassuas diferentes e heterogéneas

procedências, todas as iniciativasque foram aparecendo partilhamno seu discurso umha série de ob-jetivos gerais comuns, como a de-fensa dos serviços públicos, a luitacontra a pobreza, os despejos e acorrupçom. Também umha sériede categorias e adjectivos mui re-correntes –municipalismo, cidada-nia, unidade ou confluência– e al-gumhas ausências que podem re-sultar rechamantes –soberania,naçom ou mesmo esquerda–.

Assembleias cidadás ou frentes de partidos?A novidade que apresentam asmarés nom está tanto nos seus ob-jetivos programáticos, identificá-veis com os postulados das esquer-das, como na linguagem e nas fór-mulas de participaçom propostaspara a consecuçom dos mesmos.E é que as marés nom se apresen-tam como candidaturas de con-fluência de partidos, senom comocandidaturas de confluência cida-dá. Assim, sobre o papel, qualquerpessoa que assuma os princípiosbásicos de cada iniciativa podeparticipar da assembleia e todastenhem voz e voto. Tanto tem mili-tar num partido como nom fazê-lo.

É precisamente esta suposta ori-gem à margem dos partidos a quetem centrado o debate em tornoàs marés. Num tempo de crise ins-titucional em que o eleitorado cas-tiga qualquer força política comcerta tradiçom e no que se recla-ma umha maior participaçom dacidadania nom militante em parti-dos, a novidade e as novas fórmu-las organizativas parecem ter me-lhor percepçom social. Assim, en-quanto os impulsores destas ini-ciativas se esforçavam em deixarclara a sua independência comrespeito de organizaçons políticasconcretas; partidos já consolida-dos, desde o PP até o BNG, cen-trárom boa parte das suas críticas

na suposta subordinaçom das ma-rés a formaçons como Anova e Es-querda Unida. Xavier Vence, por-tavoz nacional do BNG, afirmouneste sentido que “a maioria demovimentos cidadaos som grupospolíticos concretos”. Desde o ou-tro extremo do espectro ideológi-co, Miguel Tellado, portavoz doPPdeG, assinalou que as marés“nom som novos atores políticos”e que estám “controladas” polos“aparatos” de EU e Anova. Na suaopiniom, expressada numha en-trevista na Radio Galega, as marés“som velhos atores que mudaromde nome para ver se nessa confu-som conseguem um apoio cidadaoque acham que estám a perder”.

a novidade nom estátanto nos objetivos

programáticos, identificáveis com os

postulados das esquerdas, senom nalinguagem e fórmulas

de participaçom que se proponhem

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As 'marés' e 'em-comúms' po-lo país tenhem passado porgestaçons divergentes. Paran-do apenas nas cidades comomostra, e com as limitaçonsdumha mera observaçom ex-terna, configuram-se modelosmui distintos. Umha diversida-de que responde ao complexodas relaçons entre grupospromotores de pessoas inde-pendentes e organizaçonspartidárias, e também à diver-sa realidade das correlaçonsde forças entre estes agentesem cada cidade. Estes fatorestambém fam com que, à mar-gem de como se definirem, al-gumhas destas candidaturas'cidadás' exibam à contraluzumha forma marcada de coli-gaçom de partidos, enquantonoutras os marcos parecemter-se dissolvido melhor na di-námica assembleária.

X. R. S. / Exemplos do último supos-to atopamos na Marea Atlánticacorunhesa ou Ourense em Co-mum, que fôrom também as duasprimeiras propostas municipalis-tas a se apresentar –em finais dejulho umha, e no 1 de setembro aoutra–. Ambas registárom, ade-mais, importantes cifras de partici-paçom na eleiçom de candidatas ecandidatos. Mais de setecentaspessoas participárom nas primá-rias da Marea Atlántica, em que sereferendou a candidatura de XúlioFerreiro, única apresentada paraencabeçar a lista. No primeiro tra-mo da lista, após umha votaçomponderada, ficam na maioria pes-soas que figérom parte do grupopromotor, nom adscritas a parti-dos. Sete dos onze primeiros pos-tos som ocupados pola listagemconstruída por volta deste grupopromotor, e três (entre eles o quar-

to posto) pola apresentada por Es-querda Unida e Anova. A lista con-ta também com representantes delistas apresentadas por Compromi-so por Galicia, Equo ou Podemos, ea cordialidade com que se apresen-tou o consenso arredor do candida-to à alcaldia parece continuar a sera tónica dominante. Por palavrasdo candidato Xulio Ferreiro, “quan-do se lançou esse processo foi des-de a cidadania, e acho que isso foichave. Nom fôrom forças políticasas que tentárom chamar à cidada-nia, foi ao revés”, e valoriza estaquestom como “importante paraque se visualizasse que isto nomera um pacto entre partidos”.

Carretagem em primáriasMuita menos sintonia estivo pre-sente em Ourense em Comum. Es-te processo de confluência, quecontou num princípio com o apoio–entre outras– de Anova, Pode-mos, Compromiso por Galicia eIniciativa por Ourense, ficou final-mente sem o apoio de nengumhadessas organizaçons. Umhas pri-márias abertas com participaçommassiva, de mais de 1500 votosemitidos, fôrom neste caso sinto-ma dum funcionamento poucolimpo e a isca que fixo estoupar acandidatura. Xosé Mosquera eAna Bande, de Compromiso porGalicia, fôrom eleitos para os dousprimeiros postos da lista eleitoral,enquanto já no próprio dia de vo-taçom se escuitavam acusaçonsde 'carretagem'. As e os ativistasque lançaram estas acusaçonssentírom que ficavam referenda-das mui visualmente com o exem-plo do alcalde da Peroxa polo Par-tido Popular, que declarou em im-prensa ter participado logo de serchamado a votar pola candidaturade Compromiso. A assembleia deOurense em Comum optou de jei-

to mui maioritário por anular esseresultado e convocar umhas novasprimárias, fechadas a quem de-monstrar ter umha 'vinculaçom di-reta' com Ourense –na primeiravotaçom tinham-se detetado des-locamentos massivos de pessoaspara votar desde outros concelhosgovernados por Compromiso oupolo PP–. 146 pessoas participá-rom desta nova votaçom, enquan-to os partidos antes citados iamabandonando a iniciativa, quemantém o apoio de Esquerda Uni-da. A assembleia assinalava no co-municado em que se anulavam asprimeiras primárias que estavam“dispostas a desbotar quase umano de incansável trabalho emprol da coerência com os princí-pios e valores em que assenta estaferramenta de transformaçom so-cial”, ao mesmo tempo que quali-ficavam a carretagem de votos de“legal mas nom legítima”.

Martiño Noriega salta de Teu a CompostelaA estratégia cidadanista recebeuem Compostela o nome de Com-postela Aberta. Apresentada poloscomeços de outubro, mostrava-secomo participada por umha plura-lidade de atores, partidários e nompartidários. O processo nom pare-ceu conseguir, porém, umha visibi-lidade mediática e umha imagemde participaçom cidadá análoga àdos casos da Corunha e Ourense.Só recentemente, com a aberturado processo de primárias, Com-

postela Aberta pareceu gerar cer-tas expectativas mediáticas. E fi-xo-o à custa de apostar num perfilde liderado 'estelar' e marcada-mente partidário, com a única can-didatura para o primeiro posto dalista do porta-voz nacional de Ano-va, Martiño Noriega –alcalde deTeu desde 2007–. Encabeçou umhacandidatura pactuada por Anova,Esquerda Unida, Espazo Ecosocia-lista, e algumhas pessoas indepen-dentes, que ocupam as onze pri-meiras vagas da lista eleitoral –àexcepçom da sexta, ocupada tam-bém por um militante de Anova–.A alta participaçom, de mais de milvotantes, também estava neste ca-so aberta a qualquer umha pessoa,sem demonstrar ser residente ourelacionada com o concelho.

Confluências que nom confluemAlgumhas vozes falárom direta-mente dum 'reparto' de lideradosentre os dous principais partidosde AGE, pois o primeiro posto deNoriega em Compostela teria acontraparte no análogo na Mareade Vigo de Rubén Pérez, coorde-nador local de Esquerda Unida ecandidato à alcaldia por esta for-maçom nas municipais de 2011.A candidatura, com o apoio deEU e Anova, conta com umha al-tíssima representaçom de qua-dros destes partidos, e foi eleitacom umha participaçom por voltadas 270 pessoas.

Em concorrência para disputara titularidade da 'confluência' nacidade olívica se situou Vigo emComum, promovida polo ex-coor-denador local de Anova Fran Ri-veiro, que finalmente apresentaráumha candidatura com o partidoPiratas de Galicia e com o Equo.E mais umha outra, GanhemosVigo, promovida por Lois PérezLeira e com participaçom de

membros de Podemos ainda quesem o apoio deste partido. Apósmeses de pugna, nengum dosprojetos cidadanistas conseguiusomar o apoio do partido de Pa-blo Iglesias, apresentado pola im-prensa como o grande pretendidopolos processos de confluência.

Ferrol vai ver, por sua parte, aapresentaçom de duas candida-turas 'cidadás', logo que de MareaÁrtabra –primeiro espaço 'de con-fluência' na cidade, ao apresen-tar-se em setembro passado– ter-minaram por sair Anova e Es-querda Unida. A estes vinhérom-se somar militantes de Podemospara conformarem Ferrol em Co-mum, encabeçada por Jorge Suá-rez (de Esquerda Unida). Logo deque numha reviravolta esta can-didatura, convidasse à Marea Ár-tabra a se incorporar, e após a ne-gativa desta, serám ambas listaseleitorais a competirem polo es-paço 'cidadao'.

Acordos em Lugo e Ponte VedraEm Lugo, a dupla de 'processosde confluência' resultou final-mente na candidatura Lugonovo.Ganhemos Lugo, participada porAnova, Esquerda Unida e Pode-mos, e mais Lugo em Comum,que contava com presença deCompromiso por Galicia, decidí-rom polo final de janeiro agru-par-se nesta lista cidadá. Encabe-ça Santiago Fernández Rocha, deCompromiso por Galicia, eleitonumhas primárias que superá-rom as trezentas pessoas partici-pantes. Esquerda Unida rompeufinalmente nesta cidade a suaunidade de açom com Anova, pa-ra abandonar o processo de uni-ficaçom e apresentar candidatu-ra sob a denominaçom Alternati-va Cidadá de Esquerdas.

O escritor Luís Rei Núñez enca-beça, por sua parte, a Marea dePonte Vedra. Está acompanhadona lista por representantes deAnova, Esquerda Unida, Podemose membros de coletivos sociais.

17a fundoNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Em vigo ou Ferrol vários processos

de confluência competem entre eles

Águas claras e águas toldadas

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18 a fundo Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Boa parte da razom de ser dasmarés está na pretensom deconstituir vias de participa-çom popular directa nos go-vernos municipais. Som as as-sembleias das diferentes ini-ciativas as que estám chama-das a marcar as linhas mes-tras a seguir polos seusrepresentantes eleitos no con-celho, quer no governo querna oposiçom. Mais alá do nú-mero de votos colheidos no24-M, o melhor indicador dosucesso ou fracasso das ma-rés será precisamente a capa-cidade que demonstrar paraexpandir e manter esta partici-paçom de base, o que nom pa-rece umha tarefa simples.

RAUL RIOS / Sirva como exemplo aMarea Atlántica da Corunha, ainiciativa de confluência pioneirana Galiza e possivelmente tam-bém a mais consolidada. Na fer-ramenta web disponibilizada pa-ra a elaboraçom do seu progra-ma participativo, onde qualquerpessoa podia propor ideias e de-bati-las, a proposta mais valora-da –por acaso, contra o maltratoanimal– contou com 111 votos.Nas primárias abertas que con-firmárom o apoio a Xúlio Ferrei-ro como aspirante a alcaldia vo-tárom mais de 700 pessoas, o queconverteu a Marea no processomais participativo de quantoscompetem polo concelho coru-nhês, o que foi percebido comoum importante sucesso. Porém,numha cidade de 250.000 habi-tantes, é evidente que ainda ficamuito caminho por andar no queà participaçom popular se refere.

“Acho que este é um processoque leva o seu tempo, nom con-siste em abrir umha página web ede súbito ter milhares de pessoasparticipando; senom que tambémhá que criar umhas dinámicas eaos poucos ir enganchando gen-te”, som palavras de Xúlio Ferrei-

ro, professor de Direito na Uni-versidade da Corunha e cabeça delista da Marea Atlántica. Se bemjulga que há que ir somando cadavez mais participaçom, Ferreiromostra-se satisfeito com o cami-nho percorrido até agora e, per-guntado por como conseguir essamaior implicaçom popular, refletesobre os “distinto níveis de parti-cipaçom”: “Há gente que querparticipar mais ativamente e em-prega todos os cauces que se lhedam, a outras pessoas que polasua situaçom pessoal ou o seu in-teresse tenhem umha participa-çom mais descontínua”. “No casoda Marea”, explica, “há umha sé-rie de pessoas participando dire-tamente na candidatura, chega omomento de fazer o programa eparticipam mais, há umha assem-bleia e venhem mais, há umhasprimárias e participam mais toda-

via... e seguindo o processo parti-cipam muitas mais. Do que se tra-ta é de que a participaçom sejaflexível e dê lugar a diferentesgraus de implicaçom”.

O que parece evidente é que onível de implicaçom cidadá guar-da umha relaçom directamenteproporcional às expetativas deobter resultados ou, em palavrasde Ferreiro, que “a gente participana medida em que pensa que asua participaçom serve para algo,que nom fica numha simples de-claraçom de intençons”. Neste

sentido, seguramente será muitomais singelo expandir essa inci-piente participaçom se as marésganharem o bastom de mandomunicipal e os vizinhos som con-vocados, por exemplo, para con-fecionar uns orçamentos partici-pativos no seu bairro ou distrito.Ferreiro pom o exemplo de Do-nosti, “um entre muitos”, onde sefoi conseguindo “que cada vezmais vizinhos e vizinhas se impli-cassem na gestom pública”.

Por outra parte, na história re-cente sobram exemplos de movi-mentos de origem popular e as-sembleária que, diante da dificul-dade de conjugar os vertiginososritmos da política institucionalcom o pausado processo de tomade decisons coletiva, acabaromesmorecendo ou assimilando-seao modelo de partido tradicional(sirva como exemplo o caso dos

verdes alemáns de Die Grünen,NGz 141). O candidato corunhêsacredita em que, apesar da difi-culdade para tomar as decisonsdo dia a dia deste jeito, sim queexistem fórmulas para que asgrandes linhas se decidam atra-vés de um sistema participativo.Enumera algumhas, como a cria-çom de juntas de distrito, a cria-çom dum ponto de intervençomvizinhal nos plenos municipaisou o estabelecimento do princí-pio de daçom de contas por partedos representantes.

“Nom é abrir umha ‘web’ e de súbito ter milhares de pessoas participando”

a marea é o processomais participativo dequantos concorrem àalcaldia da Corunha

o rePto ParticiPativo mais alÁ do 24-m

“a gente participa namedida em que pensa que isso

serve para algo”

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19a fundoNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

R.R. / Se umha escassa participa-çom cidadá poderia ser o limitedas marés por debaixo, por dizê-lo de algumha maneira, os limitespor cima serám –caso venham agovernar– os próprios limites decompetências da administraçomlocal. Uns limites ainda mais es-treitos após a reforma da lei debases do regime local (Lei27/2013), que outorga mais com-petências às deputaçons em de-trimento dos concelhos, e da re-forma do artigo 135 da Constitui-çom espanhola, que obriga às ad-ministraçons locais a nom incor-rer em deficit orçamentário sobameaça, em última instância, de“dissoluçom” forçosa da corpora-çom local saída das urnas.

Apesar de as marés se centra-rem no municipal e defenderem oaproveitamento das margens deatuaçom política que há no espa-ço municipal, procuram nalgunscasos ultrapassar as barreiras dascompetências. Nesse sentido, par-te do debate dos últimos meses gi-rou em torno à conveniência dedar o salto também às deputaçonse à melhor maneira de consegui-lo. Anova colocara em cima damesa a proposta de constituir um-ha “coligaçom instrumental” de

partidos com esse fim, pois se-gundo argumentam desde o par-tido de Xosé Manuel Beiras essafórmula permitiria dar a batalhanos entes provinciais sem condi-cionar as dinámicas próprias decada concelho. Finalmente, a pro-posta calhou em 24 candidaturascom participaçom de Anova ouEsquerda Unida, que levarám amarca conjunta SON, tambémempregada por mais onze candi-daturas de Esquerda Unida e oitode Anova. Por outra parte, as can-didaturas surgidas ao abrigo domanifesto Somos Maioria con-correrám sob o partido instru-mental Participación Democráti-ca Directa de Galiza (PDDdeG)em 11 municípios. Outras candi-daturas como a Marea Atlánticajá desbotaram a opçom dum pac-to pré-eleitoral diante da impos-sibilidade de chegar a acordoscom outras opçons semelhantes

do mesmo partido judicial, o quenom fecharia as portas a futurosentendimentos nas deputaçons.

Mas que há dos âmbitos de go-verno autonómico ou estatal? Se-ria possível ensaiar umha fórmulasimilar à das marés? “Eu acho quese saem bem os processos de con-fluência cidadá a nível municipalvam ser um exemplo para outrosprocessos eleitorais e vam permitira acumulaçom de forças noutrosámbitos”, julga Xulio Ferreiro.Sem entrar em nomes ou fórmulasconcretas, evitando pôr o carro àfrente dos bois, o candidato coru-nhês mostra-se convencido de quenom basta com conquistar o poderlocal para construir umha nova ci-dade: “Este é um processo múlti-plo, que se tem que dar nos dife-rentes níveis de governo”, explica.“É um ciclo político que está emmarcha e, se todos continuarmosempurrando, vai conseguir o seuresultado aos diferentes níveis”.

O que é claro é que desde o diaa seguir às eleiçons municipaistodos os olhos vam estar postosnas eleiçons ao Congresso dosDeputados e ao Senado de finaisdeste ano, com as autonómicasde 2016 no segundo plano da fo-tografia. Se as diferentes candi-

daturas de unidade popular con-seguem um resultado conjuntocom relativo êxito nos concelhos,nom seria difícil imaginar um ce-nário no que quanto menos ospartidos políticos apoiantes dasmarés tentarem explorar possí-veis vias de confluência.

Nessa situaçom, a grandíssimainterrogante seria o Podemos ga-lego. Anova tem reiterado em nu-merosas ocasions a sua aposta nas“frentes amplas” com aquelas for-ças da “esquerda rupturista” quereconhecerem o direito de autode-terminaçom do povo galego. Es-querda Unida, polo seu lado e,apesar de algumhas reticências in-ternas a respeito de certos pactos,já tem facilitado umha confluênciacom Anova para umhas eleiçonsde circunscriçom estatal, as euro-peias de 2014 nas que Lidia Senraconseguiu sentar no ParlamentoEuropeu. Outra cousa seria enten-

der-se com Podemos, o seu princi-pal rival eleitoral no estado.

Cumpriria ver também onde es-tám os limites da ambiguidade quePodemos mostra ao redor da auto-determinaçom dos povos. A coe-xistência de discursos de minus-valoraçom das diferencias nacio-nais no Estado espanhol com ou-tros de respeito formal do direito adecidir, está a ser marca da casa.Parece difícil manter esse multi-discurso num programa e numámbito eleitoral em que dificil-mente se pode apresentar este co-mo um 'tema secundário'.

Ademais, o partido de PabloIglesias continua mostrando-se re-ticente às alianças com outras for-ças políticas, embora estejamapoiando ou fazendo parte de al-gumhas candidaturas de con-fluência tanto na Galiza como noresto do estado. De dar-se um ce-nário proclive à confluência, osmilitantes galegos de Podemos es-tariam obrigados a decantar-sepor umha das duas opçons: oubem ldam continuidade às alian-ças iniciadas nas marés, ou bemse somam à que previsivelmenteserá a tática estatal, ir sós e com amarca Podemos.

Seja como for, todas estas ques-tons terám que se ir despejandonos próximos meses, num cicloeleitoral que se revela inédito nahistória recente tanto da Galizacomo do Estado espanhol.

Marés para além do local?até 43 candidaturasparticipadas por Eu

ou anova partilharáma marca “sOn”

seria possível umhafórmula similar às

marés para o âmbito autonómico ou estatal?

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20 a exame Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

a exame

Um dos temas mais opacos napolítica municipal, e tambémum que fai fluir milhons e mi-lhons de euros para o ámbitoprivado, som as concessons aentidades empresarias da ges-tom de serviços. Assim, nagrande maioria dos concelhoso abastecimento e saneamen-to da água, a limpeza viária,parques e jardins ou a gestomde edifícios construídos comdinheiro público som foco denegócio para as grandes em-presas espanholas. Perante aiminência dumhas eleiçonsmunicipais, cabe salientar aproblemática da privatizaçomgradual dos serviços de res-ponsabilidade municipal paraumha análise completa da rea-lidade dos concelhos do País.

A.L. / O debate sobre a remunicipa-lizaçom de serviços públicos hojenas maos de empresas concessio-nárias está presente nas jornadasprévias às eleiçons municipais de24 de maio. Em finais de março, opleno do Concelho de Téu aprovoua gestom direta do saneamento eabastecimento de água, pondo as-sim termo a duas décadas de ges-tom privada, atribuída à empresaAquagest (que atualmente operacom o nome de Viaqua). Precisa-mente, em toda a Europa, a reivin-dicaçom de umha gestom públicadeste bem comum está a estender-se, contrariando a conceçom pró-pria do neoliberalismo que exploraa água como se se tratasse de maisum recurso económico, ignorandoo direito da gente ao acesso à água.

Mas nom é apenas a gestom daágua que está a transvasar dinhei-ro das arcas municipais para o ám-bito privado. Também serviço co-mo os transportes, a gestom de re-síduos urbanos ou os serviços so-ciais estám cada vez mais passan-do às maos de filiais de grandesmultinacionais espanholas. Naépoca prévia à campanha eleitorale após a decisom do Concelho deTeu, o BNG-Assembleias Abertastornou público um posicionamen-to em favor do resgate dos serviçosprivatizados nos concelhos. Nanota de imprensa em que anun-ciou a proposta, esta formaçom

avalia o conjunto dos serviços mu-nicipais sob gestom privada em3.000 milhons de euros, ou seja,“6% do PIB do País, 350 euros porcada galega/o. Isto tem duas con-sequências: 'colonizam' 50% do or-çamento dos concelhos (…) e [asprivatizaçons] tenhem-se reveladoumha fonte de corruçom”.

Necessidade de auditoriasDefinindo esta proposta, XoséManuel Carril, cabeça de lista doBNG-AA na cidade da Corunha,evoca a necessidade de se realiza-rem de auditorias, tanto às empre-sas concessionárias como as enti-dades municipais de gestom. Se-gundo explicou Carril ao NOVAS DA

GALIzA, a realizaçom destas audi-torias seria um passo importantepara o resgate público dos servi-ços, pois seria através delas quese detetariam eventuais incumpri-mentos dos cadernos de condi-çons administrativas ou mesmocondiçons abusivas com que este-ja a operar a concessionária.

Porém, o Concelho da Corunhamantém umha gestom pública daságuas através da empresa munici-pal Emalcsa, a qual gere o ciclo in-tegral da água (abastecimento, sa-neamento e depuraçom) da cida-de e da sua área metropolitana, oque representa umha populaçomde mais de 300.000 pessoas. Masque a gestom das águas esteja namaos do concelho nom basta paragarantir uma gestom deste bem

comum afastada de conceçonsmais próprias dum negócio do quedum serviço público. É por issoque o nacionalista Xosé ManuelCarril considera também necessá-rias as auditorias neste tipo de en-tidades e mesmo a revisom deacordos, como os relativos às tari-fas. Deste jeito, denuncia que“com os rendimentos da gestomda água [se] estám a financiarcousas que nom tenhem nada aver”. Isto é assim, sobretodo desde2012, quando a equipa de governode Carlos Negreira subiu as tari-fas, encarecendo a fatura da águapara a grande maioria da popula-çom corunhesa.

Remunicipalizaçom em TéuA luita pola remunicipalizaçom doserviço de águas no concelhocompostelano de Téu começoucom a chegada da equipa de go-verno liderada por Martiño Norie-ga em 2007, daquela ainda mili-tante do BNG. Umhas semanasantes da mudança de governo, naaltura chefiado polo ArmandoBlanco (PP), oito concelheiros

desse partido e um de INTEOaprovavam umha prorrogaçom de20 anos para o contrato subscritoentre o Concelho e a Aquagest em1989. Até esse momento os perío-dos de prorrogaçom estavam es-tabelecidos em cinco anos e diver-sos relatórios manifestavam queesta modificaçom violava a regu-lamentaçom legal. Depois de umaprimeira tentativa de iniciar a re-visom do acordo de 2007, que nomprosperou devido à abstençom doPSOE, é em 2013, ano em que aAquagest pretende subir as tarifas(o que exigiria umha nova modifi-caçom contratual), que se retomao processo de revisom da prorro-gaçom. Em junho de 2014, e jácom os relatórios favoráveis doConselho Consultivo, o pleno doConcelho declara nulo o acordode 2007. A seguir, foi constituídaumha comissom técnica e emmarço deste ano era aprovada agestom direta de água potável, sa-neamento e depuraçom.

Rafael Sisto, concelheiro de ur-banismo e militante da Anova, as-sinala que este processo “veu de-terminado por umha prorrogaçomilegal”, em referência ao acordo de2007 polo que atualmente se en-contram processados judicialmen-te o ex-alcalde Armando Blanco eo ex-tenente de alcalde, o indepen-dente Manuel Parajó. Por outrabanda, umha das questons que secolocárom com a remunicipaliza-çom foi o que é que acontecerá

com o pessoal laboral atual, ao es-tar em causa a possibilidade de su-brogaçom, por tratar-se agoradum serviço gerido pola adminis-traçom pública. Após solicitar re-latórios jurídicos, Sisto explicaque, na perspetiva dumha recla-maçom judicial de carater laboral,“realizaremos umha açom preven-tiva: faremos umha convocatóriade 11 vagas, mas como medidacautelar até as decisons judiciais,continuarám as 8 atuais e saca-ram-se as vagas restantes”.

No relativo às tarifas da água,Sisto assegura que as taxas semanterám mas que a diferençairá notar-se no preço de subscri-çom do serviço e dos trabalhos deobra, “que estavam mesmo 40%acima dos preços do mercado.Assim, o concelheiro de Teu julgaque esta há de ser umha boa me-dida para combater o défice, poiscalcula-se que serám poupados240.000 euros anuais.

Relaçom com o rural“Somos umha paróquia mui rurale os custos de levar o saneamentoàs aldeias é mui alto”, explica Sis-to, quem é ciente de que no seuconcelho umha ampla percenta-gem é servida através de sistemasvicinais de abastecimento de águaou fossas sépticas. Perguntadopor como pode estabelecer-se um-ha relaçom entre a rede pública deáguas e os aproveitamentos vici-nais, Sisto expóm umha série deproblemáticas e paradoxos: “doponto de vista do abastecimento,as redes de abastecimento vicinaisconformam umha problemática,pois nom há controlo sanitário.Existem focos de contaminaçompolo emprego de fertilizantes quí-micos e recentemente houvo queampliar com urgência a rede.Quanto ao saneamento, há postu-ras que apostam por concentrar adepuraçom nas EDAR, mas issoprovoca problemas de derramesnos rios, e há outras que apostampor umha depuraçom personali-zada, cujo controlo sanitário é di-fícil de assegurar... A nós, comoConcelho, corresponde-nos ofere-cer a possibilidade de ligaçom àrede e manter o controlo dos pro-cessos de depuraçom”.

Com a gestom diretaem teu, calcula-se

umha poupança anualde 240.000 euros

a reivindicaçom dunha Gestom PÚblica da ÁGua estÁ a medrar a nível euroPeu

Remunicipalizaçom da água em Téu reabredebate sobre concessons nos concelhos

multinacionais espanholas lucram com a gestom de serviços

Deposito do Rial do Mato, noconcelho de TeU / CONCELHO DE TEU

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21tribunaNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

tribuna

Líamos com interesse no nº145 do NOVAS DA GALIzA umartigo de Xan Duro com o

título de “Umhas eleiçons munici-pais diferentes” em que o membrode Espaço Ecosocialista e cocoor-denador do recente livro Ecoloxía

Política – Olladas desde Galicia,lançava algumhas ideias sobre co-mo atuar desde o nível local emprol da “sustentabilidade”. Aindaque a sua defesa dumha outra“gestom dos resíduos” com basena sua “reduçom e reutilizaçom”,da “diminuçom do consumo” ener-gético nos equipamentos munici-pais, da “produçom energética dis-tribuída” de renováveis baixo for-matos de “economia social”, e emfavor dumha “compra pública res-ponsável” que prime o produto lo-cal, sejam todas propostas mui vá-lidas e sem dúvida necessárias,som demasiado curtas e escassaspara o que é preciso fazer nestemomento histórico a partir dosconcelhos. Porque, certamente,que som, como di Duro, umhaseleiçons mui diferentes estas do 24de maio, mas nom principalmenteporque se conformárom, comoaponta ele, “iniciativas cidadás (…) com possibilidades reais de triun-fo em muitos lugares”, mas porqueprovavelmente sejam as derradei-ras eleiçons antes de um profundoagravamento das consequênciassociais e económicas do inexorá-vel devalar energético. E os gover-nos delas saírem ham ter a enormeresponsabilidade de lhes fazerfronte em primeira linha.

No manifesto “Derradeira Cha-

mada”, assinado já por mais de se-te mil pessoas em todo o Estado es-panhol e disponível em www.ulti-

mallamada.org, diz-se que poderestar apenas um lustro para atuar-mos face às consequências maisgraves do colapso civilizatório aque nos arrastam o Peak Oil e ou-tras crises ligadas e simultáneas.Tal é a gravidade da situaçom atualque alguns pesquisadores de pri-meiro nível, como Dennis Mea-dows, alertam de que essa susten-tabilidade de que continuam a falarDuro e muitos mais no ambienta-lismo e na esquerda, já nom é pos-sível: já é tarde para a atingir, e oritmo do devalar energético e derecursos situa-nos perante a inevi-tabilidade dum colapso como civi-lizaçom que já só deixa margempara a procura da máxima resiliên-cia possível para sobrevivermos aoimpacto. Os cálculos que unem adiminuiçom dos fluxos de combus-tíveis fósseis que nutrem cada anoa Megamáquina da sociedade in-dustrial mundial, com a queda nasua taxa de retorno energético

apontam a que em tam só 15 anoscontados a partir deste 2015 dispo-remos apenas de 15% da energiaque hoje nos fornece o petróleo, es-teio insubstituível deste complexomodelo de civilizaçom.

Diante dessa perspetiva, as pró-ximas eleiçons municipais apre-sentam-se como a derradeira opor-tunidade de agir antes que desapa-reçam muitas das opçons aindahoje disponíveis para se gerir essecolapso na procura de umha maiorresiliência local. Por isso, com basenas medidas que já fôramos publi-cando na associaçom Véspera deNada por umha Galiza sem Petró-leo, nasceu há alguns meses o wikiMunicipios.PosPetroleo.com. Esta

ferramenta colaborativa e multi-lingüe apresenta umha bateria demedidas de emergência para osmunicípios agirem com a urgên-cia, profundidade e transversalida-de necessárias, com umha série depropostas genéricas aplicáveis àmaioria dos municípios, sejam ci-dades ou vilas grandes ou peque-nas, e que posteriormente algunscoletivos locais fomos concretizan-do e adaptando aos nossos ámbi-tos. Assim, a dia de hoje já som se-te as localidades que contam compropostas específicas: quatro gale-gas (Corunha, Ames, Lousame eMinho), umha catalá (Argelaguer),umha basca (zarautz) e umha ma-drilena (Móstoles), e estamos pro-movendo que se estenda para ou-tras localidades de todo o Estado.Estas medidas costumam apresen-tar-se articuladas à volta de várioseixos (economia e governo local,urbanismo, transporte, fiscalidadee conscienciaçom cidadá), soman-do, nos programas mais detalha-dos, mais de cem açons para pre-parar desde um governo municipal

umha urgente transiçom cara aumha vida sem petróleo. A inten-çom do wiki é servir de referência-doadamente replicável em qual-quer concelho pola mao de coleti-vos ecossociais locais- para todasas candidaturas e os futuros gover-nos que tenham a responsabilida-de de dirigir as políticas locais nes-te momento histórico sem prece-dentes. O wiki irá refletindo quecandidaturas se comprometem apôr em marcha cada umha das me-didas em cada lugar, assim como oseu processo de desenvolvimento,as referências bibliográficas e asmedidas análogas que se estejama adotar noutros lugares. Entre asdiversas medidas propostas, somde salientar as que defendem amáxima produçom local de ali-mentos e bens de primeira neces-sidade, a relocalizaçom económicae social (impulsada mediante a au-togestom e as moedas locais, porexemplo) e a produçom local deenergia a partir de fontes renová-veis para satisfazer um consumoem planificada reduçom (quer di-zer, Decrescimento), nomeada-mente nos terrenos onde mais de-pendemos da energia fóssil (trans-porte, distribuiçom de alimentos, amaioria das indústrias, etc.): emdefinitivo, soberania local noscampos alimentar, económico eenergético, como única via para re-cuperar resiliência nas nossas co-munidades transformando-as pro-fundamente atempadamente paranom sucumbirmos ao fim da civili-zaçom do petróleo.

Manuel Casal Lodeiro é ativista de

Véspera de Nada e coordenador da re-

vista 15/15\15 (www.15-15-15.org)

defende-se a máximaproduçom local ou

a relocalizaçom através da autogestom

alGuns Pesquisadores alertam de que a sustentabilidade jÁ nom é Possível

Municipios.PosPetroleo.com: ferramenta colaborativa para programa de emergência

as eleiçons de 24 de maio seguramente sejam as derradeirasantes dum agravamento das consequências do devalar energético

manuel Casal lodeiro

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22 Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015cultura

cultura

“A Numax não tem a obrigação de compensaras eivas da Xunta com o cinema galego”

Fala-me dos inícios. Ouvi que aNumax começou em um e-mail...Num e-mail? Bom, sim [risos]Agora qualquer coisa começanum correio. Foi um e-mail doRamiro [Ledo] depois de falarcom sua tia, Margarita [Ledo An-dión]. Em agosto de 2013, disse-nos da possibilidade de montaralgo que não estava muito defini-do ainda, mas que visava cons-truir um ponto de encontro liga-do ao cinema. Era o projeto quesempre sonhamos. Vimos queera muito difícil... mas já nos ti-nha picado a curiosidade e traba-lhamos até encontrar a maneira.

Qual é que foi essa maneira? É muito importante a forma jurí-dica, de cooperativa de trabalhoassociado e sem fins lucrativos. Is-so do lucro sempre gosto de escla-recê-lo, porque parece que não co-bramos e não é verdade. Nós te-mos o nosso salário, mas a rendaextra vai para reinvestir na pró-pria cooperativa.

Depois, o problema era obter ocrédito. Não sei em que momentodemos com Coop57 mas sem elesnão estaríamos abertos porque amaioria de nós estávamos desem-pregados e um banco não teria con-cedido um crédito ou reclamariaseis vezes mais do que pedíamos.

Imagino que antes procurastessaber de outras experiências.Funciona algo semelhante a ní-vel nacional ou estadual? Porexemplo, em Barcelona, a sala...[interrompe]Sim! zumzeig! Mas eles começa-ram em novembro de 2013 e nósjá tínhamos tudo isto em cima.Que abrisse uma outra sala dessetipo dá muita energia [sorri] Masos modelos que nós tínhamos nacabeça eram estrangeiros. Tam-bém é verdade que desde que co-meçamos com a Numax até agorasurgiram muitas alianças com oobjetivo comum de distribuir fil-mes de outra forma, expandir um

catálogo que não chega às gran-des salas. É uma exigência que es-tava aí e não sabíamos.

A precariedade da rede de cine-mas na Galiza fará fácil dar comfilmes, mesmo muito conhecidos,que possais projetar mas... idesdar prioridade ao cinema galego?Prioridade vamos dar... às coisasque desejamos. Evidentemente,existe uma sensibilidade já desdeo início e sim queremos dar um es-paço a uma grande parte do cine-ma que está a ser feito aqui, o quetêm visto em Moscou, por exem-plo, mas aqui não podemos ver. Oscineastas galegos terão mais umapantalha onde projetar seus filmese que o seu trabalho não fique re-duzido a festivais ou ao CGAI. Mui-

tos desses filmes foram feitos comajudas públicas e depois o públiconão tem como vê-los. Por exemplo,Costa da Morte, que já projetamose que cá na Galiza só tivera umpasse no Cineuropa, embora an-dasse em festivais de todo o mun-do. Mas é claro também que nósnão temos a obrigação de compen-sar as eivas da administração.

Além de cinema, biblioteca eprodutora de desenho gráficotambém distribuem filmes. Co-mo vai a negociação dos direi-tos de autoria?Começamos com um, além deoutros dois, um que fiz eu e ou-tro que fez o Ramiro e que já in-cluímos no pacote porque nãotemos que negociar direitos [ri-sos] Começamos com Los Hon-gos, do Óscar Ruiz Navia, um ci-neasta colombiano. É uma linhaque abrimos quase por acidente.Pedimos para projetar cá o fil-me, mas como não tinha a distri-buição em Espanha encontra-mos um problema. A empresa deprodução disse-nos "se vocêsquerem fazê-lo..." O processo emque o filme passa pelos festivais

antes de ser estreado em salascomerciais demora um ano. De-pois seremos nós quem decidaquando é que se estreia e, já quetemos a sala... [risos] podere-mos vê-lo cá também.

Tenho que perguntar para os preços... Fizemos um cálculo sobre quantonos custa a nós cada bilhete e fi-xamos os preços, no mínimo, um1,30 euros mais baixos do que te-mos que pagar. É caro se o com-pararmos com uma filmoteca oucom um espaço público, que sãosubsidiados pelo governo. Masnós somos uma sala comercial. Éalgo que é esquecido porque es-tamos aqui e não há uma multi-nacional pantalha, como no Cine-sa, por exemplo. Mas não somosum cineclube nem uma filmote-ca. O preço do bilhete reduzido,em 4,80 euros, é um esforço im-portante para nós.

E quanto às legendas. Serão to-das em galego?Não. Nós dependemos do siste-ma de distribuição espanholporque a realidade é... a que é.Todos os filmes nos chegam do-

brados ou legendados em espa-nhol. Não projetamos filmes do-brados assim que, das cópiasoriginais, temos um acordo comPolítica Linguística para esteano 2015 que permitirá a legen-dar em galego cinco filmes. Le-gendar é um processo muitocustoso que nós não podemosassumir sem uma assistênciadeste tipo. E já legendamos doistítulos: Nuvens passageiras ePasolini. Ficam três.

Quantas pessoas deveriam vir acada sessão para a Numax serum projeto viável? Pois devêramos ter uma média de13-14 pessoas. A verdade é que es-tamos acima do duplo, 32-33 pes-soas. Vem pouca gente no meio dasemana, mas aos sábados e aosdomingos temos muita e às 20h, asessão mais forte, houve várioscheios já . Isso ajuda a compensarnúmeros mais baixos [sorri]

Não vi pipocas no bufete... Não [risos] Temos um monte decoisas! Não, não vai haver pipocas.Mas pode-se entrar com cerveja ouqualquer tipo de bebida. Isso sim.

BETI VÁZQUEZ / Projetaram ‘Nuvens Passageiras’ e veio vê-la seu realizador, o AkiKaurismäki. Projetaram ‘Numax apresenta’ e a María Antonia Madroñero quiscompartilhar com o público duas sessões duma história filmada pelo seu com-panheiro, Joaquim Jordà. Eram tantas as surpresas na nova sala de Compostelaque ao anunciarem a projeção de ‘Pasolini’ houve quem brincou mesmo com aideia de que o escritor e cineasta, assassinado em 1975, apareceria em qualquer

uma das sessões. Surpresa foi também a sua abertura. Numa época em que ci-nema é sinônimo de centros comerciais, Numax chegou para oferecer uma al-ternativa ao menu das grandes distribuidoras. Projeções diárias de terça a do-mingo e uma programação que combina os mais recentes lançamentos com tí-tulos clássicos e o trabalho de cineastas menos conhecidas. Conversamoscom o Pablo Cayuela, um das cinco sócias-trabalhadoras da cooperativa.

“O acordo comPolítica linguística

para 2015 permitiráa legendagem de

cinco filmes”

Pablo Cayuela, Ramiro Ledo, Antonio Doñate, Margarita Ledo, Xosé CarlosHidalgo e Irma Amado na Numax ainda em obras, antes da inauguraçom

Pablo cayuela é sócio trabalhador da cooPerativa numax

TAMARA DE LA FUENTE

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23culturaNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Radiografia dum país sem cinemas

BETI VÁZQUEZ / Foi em começos dos'90 quando se considerou que onúmero de ecrãs no nosso país to-cara fundo, quando os edifíciosconsagrados à sétima arte come-çaram a desaparecer ante um em-purre imobiliário que se apoderoudos seus privilegiados enclaves nocentro das cidades. Mesmo assim,em 1990 e segundo a mesma fon-te, os 315 concelhos galegos aindapodiam desfrutar dos filmes nosgrandes ecrãs de 97 salas.

Três salas pequenas resistem em Leiro, Ginzo e A RuaNaquelas datas funcionavam, porexemplo, dois cinemas no Carva-lhinho. O Alameda, com 544 buta-cas e inaugurado em 1948, desli-gou o projetor em 1993; o Paradi-so, que iniciou a sua atividade emsetembro de 1990, fechou as suasportas para sempre doze anos de-pois, após dois passes do filme Ou-

tra terapia perigosa e deixou a co-marca sem salas de cinema comer-cial. Hoje só funciona um pequenocinema em Leiro, o Novocine.

Além disso, ficam cinemas naRua, que projeta filmes no CentroCultural Avenida, que tenhemuma sala; os cinemas Gesma deGinzo com mais uma sala; e, nacidade de Ourense, os multicinesPontevella. Os títulos alternativosprojetam-se só em cineclubes. Pe-la contorna funcionam o Cineclu-be Carvalhinho, o Padre Feijóo emOurense ou o Groucho Marx noBarco de Valdeorras.

Continuando polo interior, carao norte, atopamos os multicinesHollywood, em Monforte. E conti-nuando até a cidade de Lugo, osmulticines As Termas, no centrocomercial do mesmo nome, somjá a única opçom. Varreram até asoito salas dos multicines Yelmo eas três dos Cristal, abertas nosanos noventa e que já causaram adesapariçom de todas as salas pe-quenas e veteranas da cidade.

Ortegal e a Marinha, sem ecrãsSe viajamos pela costa cantábricanão encontraremos cinema atéchegar a Ribadeu. Nem em Cedei-ra, nem em Ortigueira, nem emViveiro, nem em Burela e tambémnão em Foz se podem encontrarjá salas de cinema, salvo cineclu-bes ou aquelas que, de maneirapontual, se habilitem para festi-vais ou atividades de concelhos eassociações.

Em Ribadeu os ecrãs grandesque ficam são as do Cinelandia,

um multicine inaugurado no ano2002 e que oferece de menu as es-treias mais apetitosas para asgrandes revendedoras.

Os cinemas de Ponte Vedra,ocupados por bancos e InditexVamos agora até Pontevedra, aúnica capital galega e a primeiraem todo o Estado espanhol em fi-car sem nenhuma sala de cinema.Nem pequena nem grande. Nadadepois do fechamento do CineboxVialia em junho de 2013. Foi a cimado declive numa cidade que che-gou a ter seis cinemas e 16 ecrãs.As causas desta perda poderiamextrapolar-se a outros na Galiza.

Como já dissemos, o ocaso co-meçou em meados dos 90 quandofechava o Teatro Malvar, inaugu-rado em 1948. Parte dele recon-verteu-se num escritório de Nova-caixagalicia. O resto do imóvel foiadquirido em 2005 por uma pro-motora viguesa para a construçãode um novo edifício de vivendas.

A pressão urbanística também le-vou por diante o Teatro Cinema Vi-tória. A sua abertura em 1943 foi to-do um acontecimento social na épo-ca. Emitia o seu último filme 59 anosdepois. Foi desde os seus iníciosuma das salas de referência da cida-de. Hoje o seu local ocupa-o, entreoutras coisas, uma loja de H&M euma agência imobiliária. Um ano

antes fechou o Cinema Gónviz, umoutro histórico, este inaugurado em1970. No que fora o vestíbulo e orés-do-chão há agora uma loja daInditex, um zara Home.

Mas não só estas grandes salasde cinema foram fechando pelacrise do setor. Também as salas demulticines que abriram nos anos80. Os Multicines ABC ofertavamtrês salas de cinema com as últi-mas inovações tecnológicas. Fe-charam em 2006 depois de vinteanos de atividade e desde então olocal que ocupavam está vazio.Anos antes tinham fechado tam-bém os Filcine, situados enfrente;O seu espaço foi alugado por umaloja de têxtil e calçado chinês.

Vigo ainda é cidade para o cinema independenteNa cidade olívica funciona um ci-neclube, o Lumière, e cinco espa-ços dedicados à sétima arte. En-quanto três deles são multisalas

ao dispor das grandes revendedo-ras (Elmo, Praça Elíptica e GrandeVia), e um quarto (Cinema Sale-sianos) está consagrado ao cine-ma de temática religiosa, o quintoespaço que contínua aberto em Vi-go, os Multicines Norte, contacom cinco salas de projeção e umcartaz alternativo na que se in-cluem títulos como E agora? Lem-

bra-me, um documentário sobre asida rodada pelo português Joa-quim Pinto; ou Pasolini, o dramabiográfico do génio italiano dirigi-do por Abel Ferrara.

Ao redor das Rias Baixas funcio-nam também os projetores dos Mi-nicines Central, com duas salas naEstrada; da Avenida, com outrasduas salas em Caldas de Reis; assete salas dos multicines GrandeArousa, em Vila Garcia; e, final-mente, dois pequenos cinemas queseguem ainda em ativo: o Seixo deMarín e o Imperial de Nigrán.

Corunha perdeu quatro cinemas em quatro anosDesde 2002 fecharam quatro cine-mas dos de toda a vida. Nesse mes-mo ano fecharam o Vale Inclán edois anos depois o Colón deixavade emitir filmes para dedicar-se emexclusiva a atividades teatrais. Em2005 desligou-se o projetor dosChaplin e em 2006 da Equitativa.Igual que acontece no resto das ci-

dades galegas, com exceção de Vi-go e Compostela, as salas que so-brevivem estão longe do centro,em grandes áreas comerciais co-mo Marineda ou Los Rosales.

Compostela e Ferrol apresentamum panorama diferente. Enquantona cidade trasanquesa continuamabertas as duas salas do CinemaDuplex, Compostela esteve semsalas no centro durante quase dousanos, desde o fechamento do his-tóricos Valle Inclán em junho de2013 até a abertura de Numax emmarço de 2015. Além desta peque-na sala independente, o menu dasgrandes revendedoras degusta-setambém na capital galega, nosmulticines Cinesa As Cancelas.

Noutras terras da província daCorunha, ainda restam as cinco sa-las dos multicines Bergantiños, emCarvalho; as três do cinema Xun-queira em Cee; as doze dos multici-nes Odeón em Narom; e as três dosmulticines Barbanza, em Ribeira.

BETI VÁZQUEZ / A mês de abril de 2015, na Galiza só ficam 24 cinemas. Deles sóseis são salas pequenas. Dizem-no os dados do anuário de estatísticas cultu-

rais do Ministério de Cultura, cifra à que somámos a compostelana sala Numax.O tijolo e um IVE de 21% apagaram já a maioria dos projetores.

na Galiza aPenas sobrevivem seis Pequenas salas de cinema

Os multicines ligados a centros

comerciais tenhemconcentrado boa

parte do mercado

Ponte vedra foi aprimeira cidade galega em ficarsem nengumha sala de cinema

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24 desPortos Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Assasinato fascista de ‘Jimmy’ é utilizadopara banir antifascistas dos estádiosR. MELIDE / No passado 30 de no-vembro morria assassinado emMadrid Francisco Javier RomeroTaboada, Jimmy, seareiro do De-portivo da Corunha e membro dogrupo Riazor Blues. O caso, paraalém de permanecer por longotempo na primeira plana dos mé-dia espanhóis, levantou umhagrande controvérsia, derivada dosinterrogantes em que estava en-volvido. A versom oficial, espalha-da até a saciedade pola imprensacomercial, insistia em que torce-dores do Atlético de Madrid e doDeportivo tinham combinado coma intençom de pelejarem entreeles. No entanto, a passagem dosmeses foi esclarecendo a situa-çom, e mesmo meios como a TVEtivérom que retificar a sua versominicial e admitir -com a boca pe-quena e sem demasiado entusias-mo, isso sim- que os factos obede-ciam a umha emboscada tendidapor elementos fascistas aos inte-grantes da claque galega. O escla-recimento das circunstáncias nomfoi impedimento, porém, para queo grupo antifascista fosse objetodumha intensa perseguiçom me-diático-policial, em que colaboroumesmo a diretiva do clube corun-hês presidida por Tino Fernández.

Campanha de difamaçonsA autópsia efetuada ao corpo doseareiro corunhês concluiu que asua morte fora ocasionada por"um traumatismo cranioencefáli-co com hemorragia interna e aoarrebentamento do baço, prova-velmente devido ao impacto dum-ha barra de ferro", determinando-se assim que a causa da morte tin-ham sido os golpes na cabeça e nocorpo que lhe foram impingidospor membros do Frente Atléticoantes de o atirarem para o rioManzanares. Num vídeo publica-do polo jornal El País-o qual tinhaacusado reiteradamente os Blues

de serem culpáveis do aconteci-do- pode-se ver como vários ele-mentos fascistas lançam o corpode Jimmy para o rio perante o ol-har dum polícia local. Por pala-vras de vários testemunhos dos

factos, várias pessoas pedíromaos policiais que socorressem oseareiro, opondo-se estes arguin-do que estavam a esperar refor-ços. Meia hora depois, os bombei-ros de Madrid retiravam da águao corpo de Romero Taboada comum quadro de hipotermia e umhaparada cardiorrespiratória.

Pouco tempo após os aconteci-mentos, começava a aparecer orelato dos mesmos na imprensa.A narrativa dos media empresa-riais da capital do reino remetiaexclusivamente para a versompolicial. Aliás, vítimas e agresso-res eram equiparados, ao tempoque a carga ideológica e políticados acontecimentos era minimi-zada, falando-se em termos de"peleja de bandas". Como colo-fom, determinados media asse-guravam que ambos os grupos setinham dado cita através de redessociais e sistemas de comunica-çom como o whatsapp. Se con-fiarmos nos depoimentos que sedesprendem das primeiras inves-tigaçons, "nom existiriam ele-mentos objetivos que permitis-sem prever acontecimentos comoos que se produzírom". Isto con-

tradiria a versom oficial oferecidanos primeiros momentos pola po-lícia e amplificada pola imprensamadrilena. Nos telemóveis apre-endidos aos detidos nom fôromencontradas mensagens que rati-ficassem a versom da polícia. Po-rém, fica meridianamente clara aposta em circulaçom dumhamensagem entre os membros doFrente Atlético no dia antes doassassinato. O seu conteúdo se-ria: "hemos quedado a las siete enel lugar habitual. Sed puntuales.Prietas las filas. Atleti o muerte".

Umha outra hipótese muito es-tendida nos primeiros momentosconsiste no aluguer por parte dosBlues de dous autocarros na pro-víncia de Lugo. A finalidade da mu-dança de província seria evitar ocontrolo policial para chegar a Ma-

drid sem serem incercetados. Po-rém, segundo alguns meios, noambiente futebolístico corunhês éconhecida a negativa dalgumhasempresas da contorna da cidade aalugarem autocarros para osBlues. Segundo o testemunho docondutor do autocarro em que aclaque viajou a Madrid na vésperado fatídico dia recolhido na Copeda Corunha, "Os meios estám amentir. Eu nom vim por nenhumabarra de ferro, armas brancas nemnada polo estilo", e acrescenta:"Nom é a primeira vez que viajocom eles e nunca tivemos proble-mas, som gente educada com oscondutores". O autocarro nom iaacompanhado de nengum disposi-tivo policial, como costuma acon-tecer nos jogos de alto risco, razompola qual aparece umha disjuntiva:ou a polícia errou na previsom dosacontecimentos violentos antes dese produzirem, ou posteriormentementiu ao respeito.

Na sequência do antedito, é desalientar que quando já no dia dojogo os dous autocarros dos Ria-zor Blues chegárom a Madrid,nom havia nengum tipo de opera-tivo policial especial a aguardar

por eles. O clube madrileno asse-gurou no seu momento que no sá-bado à tarde a polícia tinha adver-tido que duzentos membros doFrente Atlético combinaram paraalmoçar no domingo de manhá àvolta do estádio. A polícia confir-mou isto, mas negou conhecer achegada dos seareiros galegos, ra-tificando-se assim bem a impostu-ra, bem a incompetência policial.A CRTVG refletiu o testemunhodum seareiro deportivista a des-mentir que existisse previamenteum encontro para pelejar: "Depoisde chegarmos, aparecêrom uns200 membros do Frente Atlético aatacárom-nos. Estes assassinosquase nos matam. Há muitos feri-dos, estamos muito afetados. Fo-mos a andar a um bar e aos cincominutos aparecêrom com barrasde ferro e facas. A polícia demo-rou muito a aparecer. Os que caí-am polo caminho eram espanca-dos. Alguns traziam duas facas. Oque estava mais grave foi atiradopara o rio. Se nom chegamos a co-rrer, matam mais de um". Por suabanda, outro seareiro, desta voltaem declaraçons à Cadena SER,afirmou que entre os ultras do

meios como a tvE tivérom que retificar

a sua primeira versom dos factos

d desP

orto

scamPanha Pola colta do 'déPor' feminino

A triatleta lucense Aída Valiño regres-sou à competiçom, com um triunfo notriatlo de meia distância de Elx. Fechaum processo de recuperaçom de dezmeses, desde que sofrera um acidenteem junho passado, quando adestravana bicicleta em Oia

reGresso triunfal de aida valiÑo

Mais de 10.000 assinaturas para que oDeportivo recupere a equipa feminina.Essa cantidade reuniu-se numha cam-panha numha plataforma online. Solici-tam ao conselho de administraçom quecumpram a promessa realizada polo pre-sidente durante a campanha eleitoral.

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25desPortosNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

Atlético de Madrid havia vários in-divíduos procedentes da Europado leste que reptavam os antifas-cistas galegos mostrando os pun-hos a jeito de boxeador e berran-do-lhes "fight, fight!"

Militares, guardas civis e aspiran-tes entre supostos assassinosEntre os fascistas detidos após amorte de Jimmy está José Luiszarzoso Perea, de 26 anos e mem-bro do Frente Atlético Sección Le-

vante (FASL). zarzoso está acusa-do de ser o autor material do tor-cedor deportivista. Trata-se de umafeiçoado ao vale-tudo e ao muay-

thai que se estava a preparar parao ingresso na Legiom Estrangeirafrancesa. Num foro de temáticamilitar, o acusado do assassinatoafirmava que "eu tenho a LegiomEstrangeira sempre na mente e vi-vo a esperar que chegue o meumomento. Um amigo meu dixo-me umhas quarenta vezes que opense muito bem. A mim motiva-me saber que é realmente duro,mas pergunto-me se estarám umano e tal a meter canha psicológi-

ca para ver quem é realmente du-ro e quem nom ou se irá ser sem-pre assim".

Aliás, na sequência dos factostambém fôrom detidos um mem-bro da Unidad Militar de Emer-gencias (UME) e um guarda civil,este último destinado na localida-de de Rivas Vaciamadrid.

Acosso mediático e policialNum triste paradoxo, o coletivodeportivista que sofreu a brutalagressom que derivou na mortedum dos seus membros tivo tam-bém que fazer frente a umha ulte-rior perseguiçom por parte da po-lícia, dos media empresariais emesmo da diretiva do clube queapoiam. O presidente do Deporti-vo, Tino Fernández, mesmo oschegou a riscar de "marca maldi-ta", numha evidente tentativa porsatisfazer os poderes que preten-dem eliminar as expressons anti-fascistas e de esquerda dos está-dios de futebol. Enquanto os Ria-zor Blues eram estigmatizados eperseguidos, o grupo dos assassi-nos pouco tardou em voltar ao es-

tádio Vicente Calderón com totalnormalidade.

Até a data, a última expressompública dos Blues produziu-se nopassado domingo 22 de março emforma de comunicado de impren-sa. No mesmo, assinalam que apolícia retirou as suas faixas antesdo jogo contra o Espanyol de Bar-celona. Da mesma maneira, ele-mentos policiais rodeárom searei-ros que pretendiam aceder ao es-

tádio com faixas que rezavam"Riazor Blues" e "Jimmy Vive", cir-cunstáncia que acabou por moti-var a saída do estádio de todos osBlues em sinal de protesto. No co-municado, o coletivo acusou a di-retiva do clube de conivência coma polícia e realizou umha compa-raçom entre o caso de Riazor e ode Anoeta, onde Aitor zabaleta -também assassinado em Madridpor fascistas do Atlético- foi recor-dado constantemente duranteanos sem o impedimento do clu-be. O grupo antifascista corunhêsdeclara que "nom nos podem proi-bir honrar a memória do nossoamigo assassinado no lugar queconsideramos a nossa casa, ondea maior parte de nós o conhece-mos e onde partilhamos muitosmomentos juntos. O nosso delitoé lembrá-lo e tê-lo presente nanossa memória, o nosso delito énom esquecê-lo, querer que senom esqueça e exigir justiça. Nomo vamos atraiçoar, nom o vamosdeixar tirado por ver um jogo defutebol enquanto se pisam os nos-sos direitos. Nós nom somos uns

lambecus de "Madrid", temos dig-nidade, orgulho e uns valores quenom vamos obviar".

O fastio estende-se ao celtismoO mal-estar derivado da proibiçomda simbologia dos grupos de ani-maçom chegou também a Vigo. Énesse contexto, que umha série degrupos celtistas (Celtarras, Irman-dinhos, Carcamáns, Colectivo Nós,Comando Celta, Centolos Celestes,Arribada Celeste, Merlegos, Siarei-ros Dezaos, Preferencia Celeste eLe-chuzas) acaba de assinar um do-cumento conjunto contra a proibi-çom dos seus símbolos no estádiode Balaídos. Aliás, antes do partidocontra o Barcelona umha manifes-taçom celtista percorreu as ruas dacidade contra a criminalizaçom datorcida, os horários dos jogos e opresidente da LFP, Javier Tebas.

Convocadas através das redessociais, pessoas integrantes dos di-versos grupos celtistas reuniam-seàs 18h30 horas na viguesa Praça deAmérica para, descendo pola Ave-nida de Fragoso, prosseguirem pa-ra Balaídos cortando o tránsito. Oscoletivos celtistas empregáromsimbologia própria, agora proibidano estádio, entre a qual destacavaumha grande faixa que rezava"Stop repressom, Tebas vai-te já".

grupos celtistas protestárom contra a

proibiçom dos seussímbolos em Balaídos

“a las siete en ellugar habitual. sed

puntuales. Prietas lasfilas. atleti o muerte”

acusado de assassinato: “tenho a

legiom estrangeirasempre na mente”

Polícias rodeáromseareiros com faixas

de ‘riazor Blues’ ou ‘Jimmy vive’

Gaizka Garitano, treinador do Eibar, abandonou umhaconferência de imprensa em Almeria logo de que váriosjornalistas o increpassem em duas ocasions por respostarem êuscaro perguntas nessa língua. Depois de que a si-tuaçom se repetisse, Garitano optou por erguer-se e aban-donar a conferência em resposta à falta de respeito.

increPam treinador do eibar Por falar em euskara

A atleta canguesa Solange Pereira repetiu como campeoade Espanha da milha e acadou o cuarto título consecutivo.É a única atleta con máis dum título nesta modalidade,tanto em categoria masculina como feminina. O ourensa-no Alejandro Fernández, cun tempo de 30:01, proclamou-se campeom de Espanha de 10 quilómetros em rota

dous camPeonatos de esPanha Para a Galiza

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26 temPos livres Novas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

JOSÉ DIAS CADAVEIRA /É um pra-zer encontrar umha banda dese-nhada na nossa língua desta quali-dade, obra dum desenhador e ar-gumentista que fai um trabalho ri-goroso sobre um facto decisivo nahistória do país irmao. O álbumconta com a maior fidelidade a ba-talha de Aljubarrota, enfrentamen-to vitorioso com Castela numhadas guerras de sucessom que Por-tugal mantivo ao longo da sua his-tória para preservar a sua indepen-dência de Castela-Espanha.

A açom transcorre nas doze etal horas desde que o exército an-glo-português ocupa posiçons noplanalto de Sam Jorge até a que-da do sol. Quase todo este caloro-

so dia foi empregado polos caste-lhanos em contornar a posiçomportuguesa por achar-se esta noalto dumha encosta, e polos por-tugueses em fazer um desloca-mento muito mais curto para ocu-par umha outra posiçom previstano extremo sul do planalto, commenos encosta, mas com acessomais estreito para neutralizar ain-da mais a superioridade do exér-cito franco-castelhano. O comba-te começou a partir das 18h00 ho-ra solar, o que impediu a perse-guiçom dos vencidos após o co-lapso da hoste castelhana, que foiderrotada sem chegar a combatertodo o contingente. Nos dias a se-guir os fugitivos tivérom tantas

baixas como na batalha em cila-das de populares e contingenteslocais portugueses.

Para um maior conhecimentoda batalha e o seu contexto his-tórico temos o magnífico “Alju-barrota 1385. A Batalha Real”,do João Gouveia Monteiro, dasérie Batalhas de Portugal, naeditorial Tribuna. Profusamenteilustrado, situa-nos nesta autên-tica guerra civil portuguesa, emque havia até irmaos enfrenta-dos, como o irmao do Condestá-vel Nuno Alvares Pereira, quemorreu na batalha do lado cas-telhano enquanto o herói portu-guês mandava o exército de JoãoI. Também contem descriçonsdoutras batalhas contemporá-neas para nos ajudar a percebera tática portuguesa que procura-

va seguir as vitórias inglesas doinício da guerra dos 100 anos.

O Pedro Massano é tambémautor dumha outra banda dese-nhada histórica “A conquista deLisboa”, projetada em três tomos,o primeiro, aparecido nos anos90, quase impossível de conse-guir; o segundo, que tem um errohistórico que dará nas vistas daspessoas galegas; e o terceiro, ain-da em preparaçom.

Em resumo, banda desenhadade qualidade, recriaçom históricade luxo, desenho clássico, e nanossa língua. Mágoa que em Por-tugal nom estejam traduzidos al-guns autores da BD franco-belgaque sim o estám em espanhol.

temPos livres

O que a primavera faz com as ginjeiras

entrelinhas a batalha, 14 de aGosto de 1385. Gradiva, lisboa 2014

Gastronomia

LUZIA ÁLVARES / Um equinócio,uma super lua, um eclipse e umaniversário. Ante tal aconteci-mento (g)astronómico algumamente, pervertida por uma ver-são do Vítor Coiote, a Rita Bragae um cavaquinho, lançou à pales-tra a ideia de irmos num Seat Ibi-

za à cidade da luz. Seis horas,um banho e um chá de limão de-pois estávamos respondendo apergunta 'com ou sem?' nas por-tas da Ginjinha Espinheira per-tinho da praça do Rossio. Foi to-da uma surpresa, saber pelos defora, que aquela droga doce evermelha fora levada lá por umcompatriota. Um tal FranciscoEspinheira que, evidentemente,com a ajuda divina dum frade daigreja de Santo António, decidiumisturar-lhe canela, açúcar eaguardente junto com as cerejasbravas lá pelo 1840. Decidimos,por maioria absoluta, converteraquela tasquinha paragem im-prescindível nos dias que nos fi-cavam de férias. Inventamosbons augúrios por cada brinde(fruta sim, fruta não) e deixamosque o licor nos ajudasse a subir edescer as encostas de Lisboa.

Rua arriba, rua abaixo demoscom o que seria o segundo namo-ramento mais importante depoisda Ginjinha: A Mouraria. Com oconto de ser cozinheira na cidadede Compostela não faltou quemme recomendara mercar lá o mel-hor caril de Portugal trazido re-

centemente das, ainda bem, ex-colónias. Ao perguntar num barde guiris e muffins por aquelas lo-jas onde os migrantes se abaste-ciam... um SILÊNCIO e uma carade póker. A camareira case faloude navalhas, roubos, morte. ORaval, Vite, Covadonga, nós sóqueríamos ação. E ação social erao que lá havia, um espaço multi-cultural onde se juntavam o fado,as tabernas sem nome geridas

por idosos desdentados descen-dentes de galegos, uma batucadadançando uma ciranda, os baza-res de chineses, uma discotecahiper-chique e o restaurante decomida cabo-verdiana em quepartilhamos a Cachupa Rica (apobre troca a carne pelo peixe)preparada pela mãe dum cozin-heiro passado de cocaína. A ca-chupa é um estufado que levaquantos legumes encontres na re-

donda (feijão, milho, grau de bi-co), carne ou peixe, e um molhode pimentos adoecidos em queconfiadas molhamos pão e cho-ramos, depois, como se não hou-ver amanhã. Ainda nom sabemosse aquela chicha era gato, frangoou coelho, mas estava bem boa.

Depois de ver Édipo na salaChapitô foi bem fixe servir-lhe deapoio a um pobre gajo de Vila doConde numa luta entre Sagres e

Super-bock. As do norte sabemosque Super-bock tomba a um ca-valo. Aquela última noite derru-bou várias éguas.

Será que a Amália Rodriguesquando cantava aquilo de: en-

quanto os bairros cantarem, en-

quanto houver Santo António sereferia à ginjinha do Francisco?

Se calhar Lisboa não é a cidadeperfeita, como dizem os Deolinda.O amor nunca o é.

ASS. RENOVAR A MOURARIA

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27temPos livresNovas da GaliZa 15 de abril a 15 de maio de 2015

que fazer

16 e 17.04.2015 / JORNADAS‘CONHECE A GALIPEDIA’ /17:00 na Faculdade de Infor-mática da UDC (Campus deElvinha). CORUNHAInclui ‘wikimaratón’ e forma-çom para trabalhar com bots.

17.04.2015 / JORNADAS FE-MINISTAS / 18:00 no C.S. Es-cárnio e Maldizer (Rua Algá-lia de Arriba, 11). COMPOSTELAJornada sobre “Gordofobia”,com umha projeçom, ateliê, de-bate e concerto.

17.04.2015 / APRESENTAÇOMDE NOSA ENERXÍA SOCIE-DADE COOPERATIVA GALE-GA / 18:30 no Salóm de Ple-nos do Concelho (Rua Xoxar-do, s/n). ORDESOrganiza Xeira Consultora.

17.04.2015 / TORNEIO DE XA-DREZ ‘XAQUE AO REI’ / 21:00no C.S.A. O Fresco (Bairro daPonte, 9). PONTE AREIASInscriçom no local ou enviandomensagem ao Facebook da as-sociaçom. Haverá prémios paraas pessoas ganhadoras.

17.04.2015 / CONCERTO DETHE GARAGE PLAYERS EKINGCABRA / À noite no C.S.Distrito 09 (Rua Figueirido,89 - Coia). VIGO

18.04.2015 / CURSO ‘COMODESENVOLVER O PROJETOFOTOGRÁFICO. A INDEPEN-DÊNCIA DO OLHO PERANTEA CÁMARA’ / 16:00 no Centrode Ensino Beloso (Rúa C, 38). LALIMResponsável Silvia Mella, orga-niza a Agrupaçom FotográficaChíscalle. Mais informaçom emhttp://chiscalle.com/.

18.04.2015 / CURSO INTENSI-VO DE CABARET / 17:30 noCentro Benestar (Rua Vene-zuela, 46, entrecham). VIGOOrganiza Guindastre Poético;imparte Iria Pinheiro.

18.04.2015 / CONCERTO DECAXADE / 21:00 na Casa-Mu-seu Manuel María (Rua F, 2).OUTEIRO DE REIA entrada é de balde, mas reco-mendam reservar no 698 177621 ou em [email protected].

18.04.2015 / CONCERTO DEALBA MARÍA / 21:00 no Mul-tiúsos da Junqueira (Passeioda Junqueira, s/n). REDONDELACiclo ‘Rede de músicas soltas’.

18.04.2015 / FESTA DE DES-PEDIDA DAS JORNADAS FE-MINISTAS: DESPATRIARCAN-DO O RAP / À noite no C.S.Escárnio e Maldizer (Rua Al-gália de Arriba, 11). COMPOSTELA

Concertos, ateliê de rap, graffi-ti e breack dance.

18.04.2015 / CONCERTO DEVISCERAL EYES E THE VOG /À noite no C.S. Distrito 09(Rua Figueirido, 89 - Coia).VIGO

18.04.2015 / CABARET POÉ-TICO ‘NOITE DAS LETRASGALLETAS!’ / 00:00 no Mo-gambo (Rua Churruca, 12).VIGOOrganiza Colectivo Perverso,participam Aldaolado, Dandy-lady, Aurora Boreal, Juanmaons Rosenberg e La TronkaJazz Quartet.

19.04.2015 / ROTEIRO POLOSOBREIRAL DO ARNEGO

(GOLADA) / 09:00 frente àFaculdade de Formaçom doProfessorado (Avenida Ra-món Ferreiro). LUGOOrganiza Adega-Lugo. Há quereservar em [email protected] ou ligando para o 982240 299.

19.04.2015 / NOITE DE CINE-MA / 21:00 no C.S.A. do Sar(Rua Curros Enriquez, 28).COMPOSTELATodos os domingos.

21.04.2015 / MERCADO EN-TRE LUSCO E FUSCO / 17:00no parque de Belvis. COMPOSTELAFeira de produtos locais, bioló-gicos e de comércio justo. To-das as terças-feiras.

22.04.2015 / PROJEÇOM DEDORME, DORME, MEUAMOR, DE FRANCISCO RE-GUEIRO / 21:30 no C.S. O Pi-chel (Rua Santa Clara, 21).COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VO. Apresentaçom dolivro Me enveneno de cine:Amor y destrucción en la obrade Francisco Regueiro, com Jo-sé Luis Castro de Paz.

25 e 26.04.2015 / CURSO DEAPICULTURA BIOLÓGICA /10:00 no Centro Cultural deParanhos. COVELOOrganiza Abella Lupa SAT. In-clui visita ao Centro de inter-pretaçom da ceraria Favum.Mais informaçom emhttp://abellalupa.com/.

25 e 26.04.2015 / 1 CONVÍVIOMÚSICA E DANZA / 10:00 naResidencia de Tempo Livre(Zona do Parque, s/n). CARVALHINHOFormaçom, foliada e debate,com cursos de canto, gaita, téc-nica vocal ou técnicas de baile.Mais informaçom em [email protected].

25 e 26.04.2015 / FESTA DASEMENTEIRA DO MILHO /16:00 no Moinho da Regueira(Matamá). VIGOComeça com as Olimpiadas doCampo e umha noite de con-certos. No domingo há um jan-tar e a sementeira do milho.

29.04.2015 / PROJEÇOM DEO HOMEM DE VIME, DE RO-BIN HARDY / 21:30 no C.S. OPichel (Rua Santa Clara, 21).COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VOSG.

02.05.2015 / ATIVIDADES CO-MUNITÁRIAS / 12:00 na Eirada Xoana (Ramil). GOLADATrabalhos organizativos e demantemento. Inclui um jantarde convívio e entretementos.

02.05.2015 / VIII FESTA TRE-ZECATORZE / Toda a jornadano torreiro da igreja de SantaMaria. SALZEDA DE CASELASAtuam, entre outros grupos, AsMarveltons. Inclui jantar, jogose concertos.

02.05.2015 / DEMOSTRAÇOMDE CESTARIA / 21:30 no C.S.A Cova dos Ratos (Rua Ro-mil, 3). VIGO

07.05.2015 / ENCONTRO VE-GANO / 18:00 no C.S.A. doSar (Rua Curros Enriquez,28). COMPOSTELATodas as primeiras quintas-fei-ras de mês.

09.05.2015 / JANTAR POPU-LAR A PROL DE ‘AS GHATASSALVAXES’ / 14:30 no C.S. ACova dos Ratos (Rua Romil,3). VIGO

09.05.2015 / FESTA DOSMAIOS / 11:00 nas muralhas. SALVATERRA DE MINHOOrganiza SCD Condado. Infor-maçom e programa emhttp://www.scdcondado.org.

09.05.2015 / FESTIVAL LE-TRAS GALEGAS 2015 / 18:30no Auditório dos Calzados.CAPELAOrganiza Airiños da Capela.Atua a Coral de Barrol, Silbar-da, as pandereiteiras e a coralde Airiños da Capela, e mais.

dous festivais de cinema e um curso devideocriaçom enchem a agenda de abrilas artes visuais protagonizam omês de abril. O primeiro encontroé do 16 ao 18 de abril em Carval-ho, onde é realizado o segundo'Festival de Contidos dixitais Car-ballo interplay'. O programa ofere-ce projeçons, colóquios, aulas, enoites de concerto. Pode-se con-sultar nesta web: http://www.car-

ballointerplay.com/.

tui acolhe, do 22 ao 26 de abril,o Xi Festival internacional de do-cumentais Play-doc. inclui um se-minário para críticos em colabora-çom com A Cuarta Parede. Entreoutros trabalhos, vam ser apresen-tados filmes de talena sanders,soon-mi Yoo, maureen Fazendeiroe amanda rose Wilder. a progra-maçom e horários estám nesta li-

gaçom: http://www.play-doc.com/.E, para completar seçom de for-

maçom, amarante, verdegaia e aXuntanza promovem, em compos-tela, um curso de videocriaçom dedenúncia social. Colabora illa Bu-farda, que imparte a formaçom.Para informar-se ou solicitar a ins-criçom pode-se escrever [email protected].

Encontro anarquista do livroO fim-de-semana do 24 ao 26de abril realiza-se na guarda, en-tre a Praça de sam Bieito e oCentro social Fuscalho, o iii En-contro anarquista do livro.

inclui palestras, apresenta-çons, recitais, exposiçons, teatroe concertos. a abertura será na

tarde da sexta-feira, dedicado àtemática anticarcerária. no sá-bado há um almorço e as apre-sentaçons de Contrahistoria,Mapa e Arredismo e Anarquia,entre outras atividades. Ence-rram com um curso de rádio livree teatro de marionetas.

Chíscalle, a agrupaçom foto-gráfica de lalim, organiza um-ha saída aos ancares nos dias8, 9 e 10 de maio. O objectivoé fazer vários roteiros que pos-sibilitem a toma de fotografiasda montanha desde diferentesperspectivas, incluíndo a tomade imagens noturnas.

a reserva de vagas pode serefectuada no endereço de co-rreio [email protected] preço é de 140 euros e incluialojamento e comidas.

saídafotográficaaos ancares

chíscalle

carvalho, tui e comPostela

na Guarda

ENVIA CONVOCATÓRIAS aocorreio [email protected] do dia 12 de cada mês.

Anuncia os teus atosno NOVAS DA GALIZA.

Page 28: ovas da Gali a pr e si d nt oa · 2015. 5. 28. · da ‘ Jimmmy’ a maos de segui-dores fascistas do Atlético de Madrid no passado novembro trouxo consigo consequências paradoxais:

Novas da Gali a apartado 39 (15701) COmPOstEla [email protected]

há semanas lia no jornal acarta dum advogado labo-ralista que se titulava

mais ou menos: “Qué fazer quan-do não che pagam no trabalho”. aprimeira impressão foi: “Ja é o cú-mulo! mais um apóstolo do libera-lismo a justificar a exploração nasempresas, que nojo!”. não era tal.O autor era um homem que, deboa fé, pretendia ajudar os explo-rados no que podia, e convenceu-me de que frente à exploração ca-bem duas posturas: negarmo-nosa falar dela para não naturalizá-lae legitimá-la, ou assumir que exis-te e que algumas pessoas apro-fundem mais nela por não sabe-rem como gerir-se sob esse jugo.

não sei qual é a melhor postura,mas a carta era estarrecedora por-que falava de situações limite, su-postos de autêntico pesadelo quehoje som comuns para bom núme-ro de homens e mulheres nas em-presas, especialmente se a empre-sa experimenta qualquer problemade viabilidade ou se a pessoa é no-va, já não digamos se por cima émulher. O autor revisava os casoscom minuciosidade e naturalidade,com a atitude de um cirurgião aoperar um doente, reconhecendoque os empresários fazem falca-truadas sem taxa, mas que em mui-tos casos a lei está da sua parte.

O estarrecedor da carta é quetodos conhecemos gente que tra-balha sem receber um salário emtroca: porque a empresa entra emconcurso, ou em pré-concurso, ouporque antecipa perdas, ou por-que o trabalhador ou trabalhadoraestá em práticas, ou em formação,ou porque as quarenta horas, oucinquenta, contam como vinte, ouporque não há contrato e a ver sea semana que vem, ou o mês quevem. nos jornais aparecem anún-cios de empresários que oferecemescravatura sem vergonha. nãosó isso: aparecem anúncios depessoas que se oferecem publica-mente como escravas, sem vergo-nha ou com ela, mas oferecem-se,pela comida e a dormida. E os go-vernos não olham para o outro la-do, ao contrário: legislam para quea norma se adapte a esta nova tra-ta de pessoas, para que não seproduzam vazios legais. acabare-mos pagando por trabalhar, e seisto vos parece ficção científica, jásabeis o da lei de murphy: O quepode acontecer, acontece. Juntai-no com o refrám inglês: se há von-tade, há jeito. um exemplo: aopessoal do novo hospital de vigojá lhe dim que vai pagar polo es-

tacionamento, coisinhas assim.

Xurxo Borrazás

sadomaso laboral

Como nasceu e que gente confor-ma este Comando Esbardalle?Isto surgiu alá por novembro de2012 de um espetáculo de varieda-des na Casa do Vento (Compostela)e a okupa da Palavea (Corunha)que se chamava Arte na cova, aíparticipamos com a nossa poesia(daquela estávamos Aurora Boreal,Luix Kaf e Saul Pushkin) e desdeentom já nom paramos quietas.Depois da Gira Mundial 2013, porcentros sociais e terraças do nortepeninsular, pugemos nome ao gru-po. Organizamo-nos em assem-bleias horizontais nas quais podeparticipar qualquer pessoa que par-ticipasse de algumha “Timba Poé-tika” e gerimos um bote de resis-tência com a venda de poemáriosou o caché das atuaçons. Agoramesmo o comando itinerante estáformado por vários seres humanos(kamaraidens) com diferentes pro-cedências, estilos e graus de impli-caçom, mas todas com um objetivocomum: dominar o mundo. Hásubcomandos estáveis na Corun-ha, Compostela e proximamenteOurense (primicia!).

Que som as timbas poéticas?Som recitais abertos, onde racha-

mos com a barreira ator-espeta-dor, invitando à participaçom,bem recitando, bem tocando mú-sica, enredando nalgum jogo oufazendo o que che pete. Procura-se a espontaneidade e a inter-açom com a gente, recuperarmosa dimensom oral e pública da po-esia face ao caráter escrito e pri-vado. Nas timbas podem fazer atode presença diferentes artes (pin-tura, teatro, regueifa...) e a conco-rrência surpreende-se de nom en-contrar o tradicional recital de po-esia que imaginam mas depois desuperarem o shock inicial dizqueo passam bem. O comando abrecaminho e toda a horda presentefai a invasom.

Qual é o nível de presença da lín-gua galega nas vossas atuaçons?Algumhas de nós escrevemossempre em galego, outras tiramosmais polo castelhano mas tradu-zimos quando é necessário. Valo-ramos a expressom livre e nomponhemos limite ao jeito de trans-mitir de cada quem, mas enten-demos que há que inclinar a ba-lança cara o uso da nossa língua,de facto temos celebrado recitaisexclusivamente em galego.

Está presente umha linguagemnom sexista nem discriminatórianas vossas expressons poéticas?É um tema que nos preocupa etentamos ter em conta nas repre-sentaçons e nas obras. Nom o ba-nalizamos apesar de que por ve-zes seja bom usá-lo com ironiapara esse trabalho de destruiçomde que tanto gostamos. O feminis-mo é o tema principal em muitospoemas e timbas de Esbardalle.

Ademais das representaçons pú-blicas, tem Esbardalle algum ou-tro tipo de atividade?Com certeza! Gostamos das pe-quenas açons disruptoras da quo-tidianidade, como o teatro de rua,recitar num autocarro ou no Cor-te Inglés... Também impartimosobradoiros de criaçom e estamosa fazer incursons trapalheiras nomundo da auto-ediçom de poe-mários. E temos o primeiro an-droide expendedor de poemas,Poematrix-2000, muito conhecidonas festas do bairro compostela-no de Sam Pedro.

Seica estades imersas na ediçomdum livro-CD. Em que momentose encontra o projeto e que sur-

presas deparará?Certo. Agora mesmo estamos apreparar um livro-cedê de poe-mas musicados e com ilustra-çons. É um projeto grupal, cadaumha aporta umha composi-çom e ajuda nas demais, já hátemas gravados de Pedriño Ca-saio, Pumukylla Langstrumpf,Carlos da Aira, Luix Kaf e SaulPushkin. Contamos com a cola-boraçom de músicos e ilustra-doras que conhecemos de cola-borarem nas timbas. Há umhasurpresa curiosa, algo assim co-mo pôr um poema coletivo so-bre umha sessom musical ondeparticipem os músicos...

Algo ouvim doutra 'Turné Mundial'.Sim, sim, as tuas fontes estámbem informadas. O 23 de abrilarrincamos a gira por Ourense,e a continuar por Astúrias (Saca-vera Sound Festival), depois pi-saremos Madrid e Andaluzia(Sevilha e Granada). A ver senom temos que roubar muitascarteiras para financiar estabanda de delinquentes... Destavolta levamos camisetas, cedês,poemários, licor café de contra-bando e umha gorra.

entrevista ao “comando esbardalle” (GruPo de intervençom Poética)

“Procuramos recuperar a dimensom oral epública da poesia frente à escrita e privada”AARÓN L. RIVAS / Nos últimos anos um grupo de gente anda apromover Timbas Poétikas por centros sociais e locais dediferentes partes do pais. Havia notícia de que algumha des-sa gente era do norte, da Corunha, e que estavam a espalhara sua atividade polo país adiante. A gente que acodia àssuas timbas voltava rindo e nom com o gesto sério e pensa-tivo de quem vem dum recital poético, pois vinham de fazerteatro, de jogar, de escuitar e fazer poesia em coletivo. Este

grupo heterogéneo de criadoras decidiu converter-se emComando, e batizou-se com o eloquente nome de 'Esbarda-lle'. Movem-se no escuro e por isso NOVAS DA GALIZA precisoude umha pessoa intermediária para encetar a comunicaçome dar-lhes a oportunidade de se apresentar. Quem quiserconhecê-las algo melhor pode visitar as páginas‘facebook.com/Esbardalle’ e ‘esbardalle.wordpress.com’ ouestar atenta à cartelaria nas ruas da sua cidade.

PUMUKYLLA