p.a.d.- resumo- precondições socioculturais para o aparecimento da psicologia como ciência no...
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FIGUEIREDO, Luís Cláudio Mendonça. SANTI, Luiz Roberto. Precondições socioculturais para o
aparecimento da psicologia como ciência no século XIX. In: Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão
histórica da psicologia como ciência. 2. Ed. São Paulo: EDUC. 2006. P. 18-52.
Luís Cláudio Mendonça Figueiredo possui graduação em Psicologia pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (1974), mestrado em Psicologia Experimental pela
Universidade de São Paulo (1976), doutorado em Psicologia Experimental pela Universidade
de São Paulo (1979) e Livre Docência em Psicologia pela USP (1992). Atualmente, é
professor doutor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor associado da
Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Psicologia, atuando, principalmente,
em pesquisas e orientações nos seguintes temas: teorias e práticas psicanalíticas (em especial,
Freud, Melane Klein, Bion e Winnicott), história e epistemologia da psicologia e da
psicanálise.
Luiz Ribeiro Santi é psicanalista. Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (1987), mestrado em Filosofia pela Universidade de São
Paulo (1995) e doutorado em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (2000). Atualmente, é professor titular e pesquisador do CAEPM (Centro de Altos
Estudos em Propaganda e Marketing) da Escola Superior de Propaganda e Marketing e
coordenador e professor da Especialização em Teoria Psicanalítica da COGEAE/ Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em
Intervenção Terapêutica, atuando, principalmente, nos seguintes temas: psicanálise, Freud,
modernidade, subjetividade, narcisismo e consumo.
Este estudo traz uma análise aprofundada das alterações subjetivas advindas da
modernidade e das raízes da consolidação da psicologia a partir de um viés sócio-histórico
que permite visualizar a manipulação do conceito de interioridade do sujeito, articulada a
eventos históricos e sociais à produção da subjetividade privatizada, como demanda social.
Na primeira parte, os autores analisam a experiência da subjetividade privatizada, partindo de
seu conceito, seguindo em direção aos determinantes socioculturais que auxiliaram o
surgimento da interioridade como necessidade social. De acordo com Figueiredo e Santi, a
subjetividade privatizada é a experiência pessoal, e depois coletiva, desenvolvida pela
sociedade ocidental em razão da perda de suas referências coletivas de religião, raça, povo,
família ou de uma lei confiável, que obrigou o homem a construir referências internas e o
conduziu à percepção de sua capacidade de tomar decisões próprias e de sua responsabilidade
por cada escolha.
O processo de reconstrução dessas referências, abordado na segunda parte do texto,
data da passagem do Renascimento à Idade Moderna e foi fortemente influenciado pelo
surgimento da imprensa, que proporcionou à modernidade uma das experiências mais
decisivas: a leitura silenciosa. Com a prática e difusão desta modalidade de leitura, o homem
ganhou a possibilidade de fugir do controle social e criar um diálogo interno que levou à
construção de seu próprio ponto de vista. A partir daí, o trabalho intelectual passou a ser,
progressivamente, um ato individual e até a religião se tornou uma questão íntima, dada a
ampliação no acesso aos textos sagrados, sem a necessidade da intermediação sacerdotal.
Contudo, a construção da crença de que o homem poderia atingir a verdade absoluta
através do racionalismo moderno de Descartes ou do empirismo moderno de Bacon depara-se
com a crise da Modernidade e de sua subjetividade, tratada na terceira parte do estudo,
oriunda das críticas do Iluminismo, que radicalizam a questão do conhecimento, colocando-a
em termos completamente subjetivos. Opondo-se ao Iluminismo (principalmente, à sua
vertente racionalista), surge o Romantismo, cuja ideia central é evidenciar a superioridade dos
impulsos e das forças da natureza em relação à consciência ou ao homem em sua totalidade.
Ao mesmo tempo em que representa uma crítica regular à modernidade e à nostalgia de um
estado anterior perdido, o Romantismo traz uma grande valorização da individualidade e da
intimidade por meio da experiência da existência dos diversos níveis de profundidade que o
homem possui e desconhece.
Retomando a questão do desenvolvimento da subjetividade privada, os autores
assinalam, na quarta parte da análise, a existência do sistema mercantil que, talvez por sua
carga de conflitos e transformações, aprofunda e universaliza as experiências oriundas do
desenvolvimento da subjetividade privada. A individualização é concomitante ao surgimento
do trabalhador livre, que não mais se submete à imutabilidade social legitimada pelos
impositivos da consanguinidade. Assim, a sociedade coesa e protetora cede lugar para a
individualização das trajetórias de vida, ao passo que o sujeito, ao mesmo tempo em que pode
ascender social e economicamente, com o apoio das garantias de igualdade perante a lei e
liberdade, vê-se à própria sorte diante das adversidades vindas da exploração do trabalho
assalariado.
Na última parte deste estudo, os autores refletem sobre duas formas de pensamento
que refletem muito as experiências da subjetividade privatizada na sociedade mercantil dos
séculos XVIII e XIX: a ideologia Liberal Iluminista e o Romantismo. Os liberais veem os
homens como livres e iguais; os românticos reconhecem as diferenças entre os indivíduos e
tem a liberdade como a liberdade de ser diferente, mas ambas as ideologias expressam os
problemas da subjetividade privada, dentre eles, a impressão de que todos procuram se
defender do desamparo, da solidão e da imensa carga que é ser livre. Neste ponto, aparecem
dois pontos centrais apontados como condições para o surgimento da psicologia: 1- a tomada
de consciência de que a liberdade oferecida pela sociedade de classes não é efetiva, mas
teórica e; 2- a necessidade de o Estado recorrer a práticas de previsão e controle para
padronizar o sujeito individual. Surge, assim, a demanda por uma psicologia aplicada,
principalmente, nos campos da educação e do trabalho.
Concluem os autores que tais pontos abriram caminho para a produção social,
individual e/ou institucional, de uma demanda pela psicologia científica tanto para auxiliar na
compreensão dos dissabores pessoais como para a predição/conformação dos sujeitos à nova
ordem que estava sendo construída pelos Estados.
A leitura deste texto é recomendada a todo aquele que deseja obter conhecimentos
sobre o surgimento do saber psicológico, principalmente, como necessidade social.
Palavras-chave: Subjetividade Privatizada. Constituição da Subjetividade. Crise da
Subjetividade. Individualização. Regime Disciplinar.
Resumido por: Priscila Ramos dos Santos Lima