padrões de cultura

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UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina CFH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Dept. de Antropologia ANT7202: Introdução à Etnografia Semestre: 2011/1 Professor: Vânia Z. Cardoso - [email protected] Acadêmico: Jefferson Virgílio - [email protected] Créditos: 4 30 de junho, 2011 Resenha: A ciência do costume; A diversidade das culturas in: Padrões de Cultura Ruth Benedict No primeiro capítulo de Padrões de Cultura, de Ruth Benedict (2000), a autora advoga por uma nova abordagem para o estudo do outro, defende um maior estudo do costume visando compreender em como o costume molda a formação de cada indíviduo. Sugere que ignorar tal característica é um erro, antigo e que persiste de forma resistente até os dias de hoje. Benedict critica a antropologia que se concentra na utilização de técnicas comparativistas como modal de trabalho, sendo apenas uma extensão de antigas ciências. A autora sugere que a situação foi ainda pior quando todos os estudos comparativistas (i.e. todos os estudos realizados) utilizavam a natureza pessoal do autor, do homem, ou da cultura de seu local de nascimento, como limiar de comparação, objeto fim e destino-futuro da humanidade. Foi necessário romper com o etnocentrismo tão presente durante a formação da antropologia para a mesma adquirir melhor compreensão de seu objeto de estudo. Tal compreensão não é plena, a autora disserta sobre a possibilidade de melhorar esta compreensão por uma utilização ampla do estudo do costume, dentro da antropologia. Benedict sugere uma cegueira na humanidade quanto a capacidade de percepção (e identificação correta) de essência humana em outras sociedades, há “confusão” entre o que é essência natural e o que é apenas costume imposto. Exemplifica tal confusão utilizando a religião sendo vista e definida por crentes monoteístas, pagãos e descrentes. A autora critica severamente a incapacidade de ocidentais compreenderem diferenças culturais (dentro e fora de seu grupo social) e como tal comportamento provoca e dá margem a sustentação de preconceitos desnecessários e que residem como impecilho no desenvolvimento de relacionamento com outros povos, outras culturas, outras sociedades. Benedict ainda critica o purista racial, demonstrando respostas reservadas ao mesmo pela antropologia: A cultura não é formada por um conjunto de valores armazenados e transportados

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Resenha simples sobre os capítulos I e II do livro Padrões de Cultura, de Ruth Benedict.

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Page 1: Padrões de cultura

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina CFH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Dept. de Antropologia ANT7202: Introdução à Etnografia Semestre: 2011/1 Professor: Vânia Z. Cardoso - [email protected] Acadêmico: Jefferson Virgílio - [email protected]

Créditos: 4 30 de junho, 2011

Resenha: A ciência do costume; A diversidade das culturas

in: Padrões de Cultura

Ruth Benedict

No primeiro capítulo de Padrões de Cultura, de Ruth Benedict (2000), a autora advoga por

uma nova abordagem para o estudo do outro, defende um maior estudo do costume visando

compreender em como o costume molda a formação de cada indíviduo. Sugere que ignorar tal

característica é um erro, antigo e que persiste de forma resistente até os dias de hoje.

Benedict critica a antropologia que se concentra na utilização de técnicas comparativistas

como modal de trabalho, sendo apenas uma extensão de antigas ciências. A autora sugere que a

situação foi ainda pior quando todos os estudos comparativistas (i.e. todos os estudos realizados)

utilizavam a natureza pessoal do autor, do homem, ou da cultura de seu local de nascimento, como

limiar de comparação, objeto fim e destino-futuro da humanidade. Foi necessário romper com o

etnocentrismo tão presente durante a formação da antropologia para a mesma adquirir melhor

compreensão de seu objeto de estudo. Tal compreensão não é plena, a autora disserta sobre a

possibilidade de melhorar esta compreensão por uma utilização ampla do estudo do costume, dentro

da antropologia.

Benedict sugere uma cegueira na humanidade quanto a capacidade de percepção (e

identificação correta) de essência humana em outras sociedades, há “confusão” entre o que é

essência natural e o que é apenas costume imposto. Exemplifica tal confusão utilizando a religião

sendo vista e definida por crentes monoteístas, pagãos e descrentes.

A autora critica severamente a incapacidade de ocidentais compreenderem diferenças

culturais (dentro e fora de seu grupo social) e como tal comportamento provoca e dá margem a

sustentação de preconceitos desnecessários e que residem como impecilho no desenvolvimento de

relacionamento com outros povos, outras culturas, outras sociedades.

Benedict ainda critica o purista racial, demonstrando respostas reservadas ao mesmo pela

antropologia: A cultura não é formada por um conjunto de valores armazenados e transportados

Page 2: Padrões de cultura

geneticamente (como ocorre com abelhas e formigas em sua complexa organização social por

exemplo). Fatores geográficos, temporais, costumes de criação e culturas de encontro é que são

responsáveis pela formação cultural. Não existe hereditariedade cultural no campo biológico.

No segundo capítulo de Padrões de Cultura (Benedict, 2000) a autora utiliza o folclore

indígena dos Digger como exemplificação de perda cultural, e a concepção indígena desta perda. É

identificável o reconhecimento, por parte do indígena citado, de outras formas culturais, e o pesar

pela deteriorização de sua formação cultural.

Benedict considera que é utilizado alguma forma de seleção (que pode ser arbitrária, por

identificação ou por imposição) de valores culturais, os selecionados são considerados válidos e

importantes em uma sociedade, com tendência à tentativa de serem transmitidos e repassados a

próxima geração. Faz uma comparação ao extenso número de pronúncias de sons possíveis de serem

executadas pelo sistema de fala humano e o limitado recorte utilizado pelos mais diversos idiomas.

Recorda ainda que algumas sociedades podem dar, inclusive, maior importância ou ênfase

diferenciada a determinado valor cultural que outras, podendo até ser um valor cultural inexistente,

pouco considerado ou disforme em outras sociedades. A autora apresenta guerra e puberdade como

exemplificações, porém o conceito é expansível a praticamente qualquer valor cultural.

Por fim, a autora (assim como diversos outros autores, a citar: Durkheim, Freud, Lévi-

Strauss e Malinowski) defende a idéia (inocente, simplista e com tendência ao erro) de que alguns

valores culturais, no caso citado e mais conhecido: incesto, são presentes a toda e qualquer formação

social e/ou cultural humana. É um levantamento bastante desnecessário pois vai de encontro direto a

um argumento apresentado: Analisar o objeto de estudo desconsiderando valores pessoais próprios.

REFERÊNCIA BENEDICT, Ruth. A ciência do costume; A diversidade das culturas. in: BENEDICT, Ruth. Padrões de cultura. Trad. Alberto Candeias. Lisboa: Livros do Brasil, 2000. pp 13-57. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES DURKHEIM, Émile. Introduction à la sociologie de la famille, in: DURKHEIM, Émile. Fonctions sociales et institutions. Paris: Les Éditions de Minuit, 1975. FREUD, Sigmund. Obras Completas: totem y tabu. España: Nueva, 1993. LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes. 1976. MALINOWSKI, Bronislaw. Sexo e Repressão na Sociedade Selvagem. Petrópolis:Vozes. 2000.