(páginas 84 a 99) marcos silva marinho
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XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASÍLIA/DF
TEORIA E FILOSOFIA DO ESTADO
ALEXANDRE VERONESE
GILMAR ANTONIO BEDIN
MÁRCIO LUÍS DE OLIVEIRA
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Teoria e filosofia do Estado [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UnB/UCB/IDP/UDF;
Coordenadores: Alexandre Veronese, Gilmar Antonio Bedin, Márcio Luís de Oliveira – Florianópolis:
CONPEDI, 2016.
Inclui bibliografia ISBN: 978-85-5505-203-3
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: DIREITO E DESIGUALDADES: Diagnósticos e Perspectivas para um Brasil Justo.
1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Teoria do Estado. 3. Filosofia do Estado.
I. Encontro Nacional do CONPEDI (25. : 2016 : Brasília, DF).
CDU: 34
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Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
XXV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - BRASÍLIA/DF
TEORIA E FILOSOFIA DO ESTADO
Apresentação
O poder político na sociedade moderna se expressa fundamentalmente em torno da estrutura
do Estado que, derivada de uma forma absoluta, foi, aos poucos, se democratizando. Esta
transição resulta de uma grande transformação histórica, cujo processo teve início a partir da
Revolução Inglesa, ao longo do século XVII. Porém, a grande ruptura com estruturas
centralizadas de poder absoluto teve como marcas importantes as duas grandes revoluções do
século 18 (Revolução Norte-Americana e Revolução Francesa). De fato, os referidos
acontecimentos estabelecem uma nova perspectiva de análise das relações políticas (a
perspectiva ex parte populi, isto é, a partir dos indivíduos) e se afastam dos modelos
tradicionais de justificação do poder político (ex parte principis, ou seja, a partir do monarca)
e começam a estabelecer mecanismos de limitação do poder (Bobbio).
Desta forma, é possível observar que, se no Medievo e no Estado Moderno marcado pelo
Absolutismo, o poder não contou com instrumentos efetivos de controle, o Estado, a partir
das revoluções referidas, passou a ser moldado pelos elementos constitutivos de uma nova
gramática das relações políticas: a gramática do respeito às regras jurídicas do processo
político e da soberania popular. Este movimento, aliado à inversão deôntica entre deveres e
direitos, marcou a emergência do Estado Constitucional ou, na feliz na expressão de Norberto
Bobbio, da Era dos Direitos.
Neste novo contexto político, a autoridade política somente pode ser exercida de forma
legítima com o cumprimento das normas constitucionais (conjunto fundamentais de
princípios e regras jurídicas do processo político, elaboradas com a participação dos próprios
cidadãos e representativas da soberania popular), com o respeito às atribuições específicas de
cada Poder do Estado e a observação dos direitos fundamentais. Em outras palavras, é
possível dizer que a sociedade política formada a partir do século XVIII pressupõe o
deslocamento do poder político de fora para dentro da sociedade (Lefort).
Esta concepção democrática do poder político se manteve em curso nos séculos subsequentes
(séculos XIX e XX) e novos desdobramentos (principalmente sociais) foram incorporados
em sua estrutura. Mas, também é importante lembrar que este processo sempre esteve em
aberto e que muitas rupturas e retrocessos aconteceram, como a emergência, por exemplo, de
formas autoritárias ou totalitárias de exercício do poder, muito comuns durante o século XX.
Refletir sobre o referido percurso do Estado moderno e seus desafios na atualidade foi um
dos grandes objetivos do Grupo de Trabalho 29 – Teoria e Filosofia do Estado – no XXV
Encontro Nacional do Conselho de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (CONPEDI),
realizado em Brasília, de 6 a 9 de julho de 2016, e marcou o conjunto de artigos que o
compuseram. Daí, portanto, ser possível agrupar os textos apresentados em grandes eixos
teóricos.
Os principais eixos teóricos são os seguintes: a Teoria do Estado no Pensamento de Georg
Jellinek, Edmund Burke e Michel Oakeshott; Estado, Federalismo Cooperativo e Sociedade
Civil; Estado, Multiculturalismo e Identidade Nacional; Estado Cooperativo, Individualismo
e Mínimo Existencial; Estado, Controle Social e Cidadania; Estado, Cooperação
Internacional e Refugiados de Guerra.
Nesse sentido, seguem os textos dos autores que participaram do Grupo de Trabalho 29.
Ressalta-se que os artigos ora publicados poderão enriquecer as reflexões dos leitores
interessados na temática da Teoria e da Filosofia do Estado.
Prof. Dr. Alexandre Veronese (UNB)
Prof. Dr. Gilmar Antonio Bedin (UNIJUÍ)
Prof. Dr. Márcio Luís de Oliveira (UFMG)
1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Direito e Inovação da Universidade Federal de Juiz de Fora.1
EM BUSCA DO VALOR POLÍTICO DO FEDERALISMO COOPERATIVO
IN SEARCH OF THE POLITICAL VALUE OF THE FEDERALISM COOPERATIVE
Marcos Silva Marinho 1
Resumo
O presente artigo visa analisar a afirmação constitucional do federalismo cooperativo
enquanto modelo organizacional do Estado brasileiro, a fim de compreender as dificuldades
de sua implementação. Valeu-se, para tanto, das teorias pós-positivistas do Direito, que
defendem a imprescindibilidade dos valores morais para a legitimação das práticas
institucionais, e de algumas teorias sociológicas que, ao analisarem a consolidação do Estado-
Nação enquanto arquétipo de organização social da modernidade, foram capazes de
distinguir as categorias “Estado” e “Nação” como elementos não necessariamente
complementares. Por meio dessa distinção, o artigo tentou debater a relação entre essas duas
categorias na construção do tecido social brasileiro.
Palavras-chave: Federalismo cooperativo, Estado, Nação
Abstract/Resumen/Résumé
This article aims to analyze the constitutional affirmation of cooperative federalism as an
organizational model of the Brazilian state and the difficulties of its implementation. To do
so, were used the post- positivist theories, that defend the indispensability of moral values for
the legitimation of institutional practices, and some sociological theories that, analyzing the
consolidation of the nation-state as the archetype of social organization of modernity, were
able to distinguish the categories "state" and "nation" as not necessarily complementary
elements. Through this distinction, the article tried to discuss the relationship among these
categories in the construction of Brazil's social fabric.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Cooperative federalism, State, Nation
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Introdução
Parece razoável concebermos a inviabilidade da determinação legal pormenorizada de
regras de cooperação entre as entidades federativas. A crença nessa possibilidade remete o
intérprete do Direito ao pensamento positivista, ainda bastante presente na interpretação e
aplicação do Direito no Brasil (CAMARGO, 2003). Em contraposição a essa corrente do
pensamento jusfilosófico moderno, o pós-positivismo tem se apresentado enquanto alternativa
hermenêutica para a materialização dos valores políticos constitucionalmente tutelados.
Nesse trabalho, foram adotados os pressupostos metodológicos presentes na maioria
das teorias pós-positivistas do Direito. Primeiro porque elas consideram que o Direito não
deve estar alheio aos princípios morais presentes na comunidade política a que se dirige
(DWORKIN, 2010); e, segundo, porque elas entendem que o Direito não se restringe ao
conteúdo de normas cogentes, como propõe o pensamento positivista mais conhecido no
Brasil, atribuindo, portanto, normatividade aos princípios de direito (BOBBIO, 2007).
A princípio, importa ressaltar que não seria possível propor qualquer espécie de
federalismo cooperativo enquanto alternativa à organização do Estado se não se partisse de
um pressuposto identificado com as teorias pós-positivistas. O Federalismo cooperativo está
relacionado com a construção de arranjos flexíveis de governo e, no caso do Estado brasileiro,
se mostra relevante na busca por um maior equilíbrio do arranjo político e social determinado
pela Constituição Federal vigente.
No entanto, a identificação social de uma comunidade política com o seu respectivo
modelo federativo se mostra necessária à concretização das propostas de cooperação. Isso
porque a ideia de cooperação entre os cidadãos está relacionada à integração do tecido social
em torno de um arquétipo específico de sociedade, o qual foi historicamente identificado com
o binômio Estado-Nação (WEBER, 2004).
Nesse sentido, é preciso investigar o real conteúdo do modelo federativo brasileiro, a
fim de compreender em que medida ele traduz a adesão dos cidadãos representados pelos
municípios, estados federados e União, ao ideal político do Estado nacional, mediado pela
cooperação entre as entidades da Federação, conforme estatuiu a Constituição brasileira em
seus artigos 23 e 241 acerca de sua organização (BRASIL, 1988).
1 Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...]; Art. 24: Art.
24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...]. (BRASIL, 1988).
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1- O modelo federativo brasileiro
O primeiro objetivo desse item é revelar que o discurso presente nas normas jurídicas
não traduz, necessariamente, a compreensão dos indivíduos que integram determinado espaço
territorial acerca da organização política de uma comunidade. Diante disso, é possível
considerar que até mesmo a noção de comunidade pode ser questionada enquanto perspectiva
consentida de um determinado grupo social.
Conforme afirma Chauí e Santos (2013), o processo de colonização das Américas
impediu a autodeterminação dos povos da América Latina. Dessa forma, não foi possível aos
povos reunidos no Brasil desenvolver a sua própria história de forma autônoma e livre, isto é,
decidir qual seria o melhor modelo de vida a ser perseguido. Observar esse fato, por mais
tautológico que isso possa parecer, é importante para que ocorra a desnaturalização da
compreensão do Estado enquanto destino último e inevitável de qualquer sociedade, bem
como para revelar a historicidade das desigualdades presentes entre as diversas regiões do
país (BONAVIDES, 2004).
Historicamente, a organização do Estado brasileiro foi marcada pela alternância entre
períodos de maior ou menor autoritarismo e centralização do poder. A existência de um poder
moderador na Carta Constitucional de 1824 e do regime antidemocrático regulamentado pela
ordem jurídica de 1969 comprovam, por um lado, essa assertiva. Em sentido oposto, as
promulgações das Constituições de 1946 e de 1988 representaram marcos decisivos para o
desenvolvimento da democracia brasileira que, desde então, tem requerido constante
resguardo ao texto constitucional, a fim de que sejam protegidos e promovidos os direitos e
garantias nele reconhecidos (BONAVIDES e ANDRADE, 1991)
Nesse sentido, é importante reconhecer que a forma atual do federalismo brasileiro é
fruto de um processo político que, ao mesmo tempo em que prezou pela democracia do
Estado de Direito e pela autonomia dos entes federados, estruturou a Constituição de maneira
a permitir um alto grau de centralização na organização do Estado brasileiro (SILVA, 2008).
A designação, pela Constituição vigente, de várias de competências à União, a inclusão dos
Municípios na condição de entes federados e a determinação de competências residuais aos
estados-membros torna as relações intergovernamentais entre as três esferas de governo muito
complexas no Brasil.
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Assim, é correto compreender o federalismo enquanto forma de democratização do
Estado e de contenção de seu poder, que, ao menos em tese, decorreria da multiplicidade de
centros decisórios que o caracteriza. Um Estado será tanto mais democrático quanto maior for
a participação do povo nas decisões governamentais que, ao invés de obter fundamento no uso
da força e da autoridade, dessa forma adquirem legitimidade na comunicação
democraticamente constituída (HABERMAS, 1984).
A esfera pública brasileira está organizada, portanto, pelo federalismo, estabelecido no
artigo 1ª da Constituição Federal, e requer a participação dos cidadãos no maior número
possível de espaços institucionais públicos, principalmente nos subníveis de governo. No
entanto, a mera confirmação do republicanismo e do federalismo enquanto valores políticos
do Estado brasileiro, por si só, não é condição suficiente para a garantia da democracia. Para
Tavares (2009, p. 18), a participação dos cidadãos nas decisões:
[...] nem sempre acontece naturalmente, havendo necessidade de incentivos e
de aprendizado. Os principais problemas para o envolvimento dos cidadãos
nas decisões governamentais são, em primeiro lugar, o fato das elites locais
ainda manterem o poder de controlar a implementação de políticas de seu
interesse, restringindo a participação de grupos menos influentes; em
segundo, as desigualdades socioeconômicas tendem a dificultar a
participação de grupos menos favorecidos; e, por último, a existência da
assimetria da informação, ou seja, o governo detém o controle da informação
e dos recursos, o que permite que a participação seja manipulada por
membros do próprio governo.
Como se percebe, a organização do Estado não depende exclusivamente de sua
determinação abstrata no texto constitucional. Isso porque ela não exaure as possibilidades de
realização dos arranjos políticos necessários para o desenvolvimento das políticas públicas,
isto é, das atividades estatais. Além disso, a organização do Estado necessita ser confirmada
na prática das instituições democráticas, as quais se materializam por meio das ações dos
agentes públicos que as integram.
É correto perceber que esses agentes, a despeito de quaisquer convicções políticas que
possuam, estão subordinados ao conteúdo das normas constitucionais no exercício de suas
funções. Ao contrário do que se pode depreender da leitura de parte significativa dos escritos
da doutrina jurídica pátria, é tarefa de todo agente público reconhecer a normatividade da
Constituição, o que, no caso do federalismo cooperativo, impõe aos entes federados o dever
de colaboração e solidariedade.
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As dificuldades apontadas para a implementação do federalismo cooperativo nos
termos estabelecidos pelos artigos 23 e 24 da Constituição Federal por meio da fixação das
“competências comuns” e “concorrentes” advêm da indeterminação taxativa do que seria
cabível para os entes federados no exercício de suas tarefas políticas, sobretudo quando se
nota a concentração dos recursos econômicos do Estado na figura da União, em detrimento
das demais entidades da federação (ABRUCIO, 2002).
Diante dos desequilíbrios orçamentários existentes entre as 5598 (cinco mil quinhentas
e noventa e oito) entidades da federação existentes no país2 (estão incluídos neste cálculo
todos os estados-membros e municípios, a União e o Distrito Federal), a implementação de
um federalismo cooperativo no Brasil depende, antes de mais nada, da desconcentração dos
recursos, principalmente no plano horizontal, onde ocorrem muitos conflitos fiscais entre os
estados federados.
Assim, é possível compreender que se por um lado a estrutura federativa brasileira
delimita uma excessiva competência arrecadatória à União e, com isso, provoca um
desequilíbrio orçamentário com repercussões graves na distribuição desigual desses recursos,
afetando, pois, a autonomia dos demais entes federados, por outro, a própria Constituição
reconheceu a importância da descentralização das atividades estatais, principalmente no que
se refere à realização de políticas sociais, das quais são exemplos os serviços prestados pelo
Sistema Único de Saúde – SUS – e a existência do Fundo de Valorização do Ensino
Fundamental – FUNDEF –, criado pela emenda constitucional 14/96 para, dentre outras
medidas, instituir quais são as responsabilidades dos estados e municípios na oferta do ensino
fundamental em seus territórios.
Segundo Tavares (2009, p. 43), “a análise de sistemas descentralizados mostra que o
desempenho dos governos locais é, em grande parte, resultado do desenho institucional dos
sistemas nacionais”. Nesse sentido, é possível confirmar a hipótese desse artigo de que não
existe, nem tampouco existirá, federalismo cooperativo no Brasil enquanto não forem
superadas a centralização dos recursos econômicos e o servilismo por ela gerado em todo o
sistema político brasileiro.
Entre as mais importantes finalidades do federalismo cooperativo está o
estabelecimento de relações intergovernamentais solidárias, justas e democráticas. No
2 Dados consultados no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 30/03/2016.
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entanto, mesmo com a defesa expressa da Constituição em favor do modelo federativo
cooperativo, o Estado brasileiro ainda não foi capaz de efetivá-lo. Nas palavras de Schultze
(2001, p. 41):
[...] é possível dizer que se formaram dois tipos de jogos na
redemocratização. Na relação entre os estados e a União, no que tange
principalmente à questão financeira, predomina um jogo predatório praticado
pelas unidades estaduais; na relação dos estados entre si vigora uma
competição não cooperativa.
Tendo essa realidade em vista, é preciso investigar algumas características da evolução
política da sociedade brasileira, com o objetivo de analisar histórica e sociologicamente os
fenômenos da centralização dos recursos econômicos e das desigualdades de tratamento entre
as diversas entidades da federação no Brasil.
2- Estado, Nação e Federalismo
Ao realizar uma comparação entre os modelos federativos do Estado alemão e do
Estado brasileiro, Schultze (2009) constatou que ambos os países vivenciam, em intensidades
diferentes, a existência de uma oposição política entre federalismo de cooperação e
federalismo de competição. Para ele, esse fato não é acidental e revela não apenas o caráter
hegemônico da economia capitalista neoliberal, mas também a influência dos elementos
culturais para a construção dos marcos institucionais de uma comunidade política.
O federalismo de competição se caracteriza pela assimetria dos poderes e
competências entre as entidades da federação. Assim como o Brasil, a Alemanha, país
mundialmente conhecido pelo sucesso de suas políticas econômicas e sociais, também
vivencia esse tipo de assimetria e desequilíbrio. Os efeitos dessas desigualdades, no entanto,
não são os mesmos nos dois países. Isso porque existem alguns elementos intrínsecos aos
processos políticos que instauraram os seus pactos federativos.
Conforme foi mencionado anteriormente, a história brasileira está marcada pela
alternância entre períodos de elevada concentração e descontração do poder político. Nesse
sentido, é interessante analisar a descrição de Alessandra Tavares (2009) acerca da “política
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dos governadores”, estratégia utilizada pelas oligarquias brasileiras logo após a adoção da
federação no Brasil pelo Decreto nº 1, de 15 de novembro de 18893. Segunda a autora:
As desigualdades econômicas regionais existentes contribuíram para a
desunião entre as províncias, o que impediu a construção de um projeto de
reforma tributária comum. Como resultado, o projeto vitorioso beneficiou
basicamente os estado exportadores em detrimento dos demais, dando
origem à denominada “política dos governadores”, cujos principais aspectos
foram os seguintes: os governadores de estado eram os atores mais
importantes do sistema político, tanto no âmbito nacional, quanto no
estadual; a constituição do poder nacional, na definição do Presidente da
República, passava por um acordo entre os principais estados da federação,
São Paulo e Minas gerais, na chamada política “café com leite”; os
governadores controlavam a eleição dos parlamentares que iriam constituir o
Legislativo federal; o Presidente da República garantia a supremacia das
oligarquias estaduais no Congresso Nacional, por meio da diplomação dos
deputados eleitos; a inexistência de partidos nacionais e o unipartidarismo
estadual; o controle dos governadores sobre prefeitos e lideranças locais,
pois os municípios gozavam de pouca ou nenhuma autonomia político-
financeira (TAVARES, 2009, p. 26).
Diante dessa realidade, se torna claro o fato de que a cultura política relativa às
práticas institucionais brasileiras possui nuances próprias e, por isso, não se verifica, nos
termos em que foi concebida, nos processos políticos de outros países, sobretudo, os países da
Europa. Dito de outra forma, o que se pretende é chamar a atenção para a necessidade de que
as comparações acerca do desempenho político dos modelos federativos de diferentes países
levem em conta as singularidades ou especificidades de suas trajetórias históricas.
Um aspecto predominante na construção da sociedade brasileira é a elevada
heterogeneidade de sua população. Ao contrário do que se viu nos processos de colonização
dos demais povos latino-americanos, no Brasil não se buscou eliminar completamente a
diversidade de povos, da qual decorreu o intercâmbio cultural promovido pela presença
forçada da população negra trazida do continente africano, bem como da presença dos povos
europeus, na condição de exploradores, e dos povos indígenas que já habitavam o território
brasileiro. Trata-se, portanto, da construção de um modelo de sociedade voltado
majoritariamente ao provimento dos interesses dos sujeitos históricos detentores do poder: os
colonizadores europeus, que mediaram as relações políticas e sociais desde o Brasil colonial
através do uso da força contra os demais povos, explorados de modo desumano (FAORO,
1975).
3 Art. 1º - A Nação Brasileira adota como forma de governo, sob regime representativo, a República federativa a
15 de novembro de 1889, e constitui-se por união perpétua e indissolúvel de suas antigas províncias, em Estados
Unidos do Brasil. (BRASIL, 1988).
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Como se percebe, falar em solidariedade e colaboração na trajetória histórica brasileira
não é tarefa fácil. Apesar de que, para muitos sociólogos4, os conflitos históricos permanecem
velados no país, parecem verdadeiras as assertivas desses e outros estudiosos acerca da
persistência de tais conflitos na realidade brasileira. As desigualdades sociais existentes no
Brasil não foram exclusivamente forjadas em virtude de problemas atuais nos arranjos
políticos. No entanto, os arranjos políticos atuais precisam atualizar os seus propósitos,
outrora voltados à promoção e proteção dos interesses de uma classe de indivíduos em
detrimento dos demais.
No caso da Alemanha, ao contrário, o modelo federativo foi constituído em virtude da
convergência de demandas e identidades entre as diversas regiões do país. O propósito de
uniformização das condições de vida foi pactuado pelos governadores alemães tendo em vista
a construção de um projeto de nação a ser viabilizado por meio da cooperação entre os
estados federados. Segundo Schultze (2001, p. 15):
[...] ao configurar o federalismo, os constituintes não visaram a autonomia
dos estados nem a competição entre estados como a melhor solução, mas
sim, a influência dos estados. Concretamente, tratava-se da influência dos
governos estaduais sobre a política federal. Constituíram uma “República
dos Governadores”, preocupados, evidentemente, com a política de seus
respectivos estados mas, principalmente, com a participação na configuração
da uniformidade das condições de vida em toda a República.
Por esse motivo, a comparação entre o desempenho do federalismo cooperativo na
Alemanha e no Brasil – mesmo diante da crise desse modelo apresentada por Schultze em
ambos os países – precisa ser ponderada. Uma importante distinção a ser feita acerca do
conteúdo dos pactos federativos mencionados está na noção de Estado neles adotada.
Para tanto, faz-se necessário analisar o conceito de Estado relacionando-o ao conceito
de Nação. Isso porque a ideia do Estado-Nação, difundida enquanto paradigma das sociedades
modernas, advém da convergência dessas categorias que, como será demonstrado adiante, não
estão necessariamente relacionadas.
O Estado é um modelo de organização da sociedade que integra o processo
civilizatório em curso no Ocidente (ELIAS, 1990). Para o filósofo idealista alemão Hegel
(1992), um de seus maiores defensores, o Estado seria o fim último do desenvolvimento
4 É o caso de autores respeitados no campo das ciências sociais, como Roberto DaMatta (1997) e Sérgio Buarque
de Holanda (1969).
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humano, isto é, a referência institucional de onde derivaria o progresso gerado pelo acúmulo
de racionalidade, técnica e poder articulado pelo homem.
Nesse mesmo sentido concluíram as conhecidas teses iluministas de filósofos como
John Locke, Montesquieu e Voltaire acerca das origens, objetivos e métodos organizacionais
do Estado (BOBBIO, 2010). Tais teses culminaram na construção da vertente jus-filosófica
positivista, a qual pode ser considerada uma das mais importantes matrizes teóricas que
marcaram a transformação do Estado moderno absolutista em Estado de Direito.
Desde a derrocada do Estado Absolutista francês, as sociedades passaram a professar
sua fé na racionalidade do Direito que, em contraposição aos arbítrios e desígnios autoritários
do poder soberano, subordinaria os governantes ao regime das condutas autorizadas pelo
Direito, isto é, ao conteúdo das normas jurídicas legitimamente estabelecidas por meio de
assembléias políticas democráticas.
Ainda hoje, por óbvio, a organização do Estado ocupa o cerne das controvérsias
políticas, de modo que o positivismo jurídico permanece influenciando as sociedades que se
organizam por meio do Estado de Direito. Entretanto, o combate ao arbítrio estatal sustentado
pelo método positivista de interpretação/aplicação do Direito mostrou-se insuficientemente
justo, uma vez que, como bem pontua a crítica de Dworkin (2011, p. XIV):
O positivismo jurídico rejeita a ideia de que os direitos jurídicos possam
preexistir a qualquer forma da legislação; em outras palavras, rejeita a ideia
de que indivíduos ou grupos possam ter, em um processo judicial, outros
direitos além daqueles expressamente determinados pela coleção de regras
explícitas que formam a totalidade do direito de uma comunidade.
Ao defender tão somente a observância de procedimentos de legitimação formal do
Direito, o Positivismo jurídico possibilitou aos intérpretes/aplicadores da lei a exclusão de
qualquer reflexividade entre o conteúdo posto do Direito positivo e os valores morais
reconhecidos como justos por uma comunidade política. Nesse sentido expôs o filósofo
positivista Hans Kelsen:
A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito
positivo geral, não de uma ordem jurídica especial. [...] Contudo, fornece
uma teoria da interpretação. Como teoria, quer única e exclusivamente
conhecer o seu próprio objeto. Procura responder a esta questão: o que é e
como é o Direito? Não importa a questão de saber como deve ser o Direito,
ou como deve ele ser feito. É ciência jurídica e não política do Direito.
Quando a si própria se designa como “pura” teoria do Direito, isto significa
que ela se propõe garantir um conhecimento apenas dirigido ao Direito e
excluir desde conhecimento tudo quanto não pertença ao seu objeto, tudo
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quanto se não possa, rigorosamente, determinar como Direito. Quer isto
dizer que ela pretende libertar a ciência jurídica de todos os elementos que
lhe são estranhos. Esse é o seu princípio metodológico fundamental.
(KELSEN, 1996, p. 17).
Ao pensar o Direito enquanto ciência pura e objetiva, o positivismo jurídico ensejou
uma compreensão meramente formal do Direito e do Estado, destituindo-os, pois, de sua
relação com as categorias axiológicas (e, portanto, culturais) que constituem, desde a
Modernidade, o lócus político do Estado-Nação (WEBER, 2004).
Para o cientista político estadunidense Benedict Anderson (2008), o Estado-Nação é
uma construção fundamental para as práticas políticas contemporâneas. Isso porque por meio
dele foi possível a expansão de um modelo de sociedade baseado em certas convenções
institucionais e políticas. A invenção da nacionalidade seria, segundo Anderson, o elemento
integrador de certas comunidades que, a despeito das diferenças entre os seus membros, se
constituíram mediante o uso dos valores nacionais, forjados através de “recuos no tempo do
presente para o passado” (ANDERSON, 2008, p. 279).
A nação seria, portanto, o elemento cultural do Estado, e adicionaria a ele a ideia
ficcional da existência de senso e pertencimento a uma consciência moral nacional, mediada
pela consolidação das representações ideológicas do Estado, tais como museus, mapas,
memória, idioma comum, inimigos e, até mesmo, a própria crença na racionalidade.
Diante disso, é possível compreender a indiferença da concepção positivista do Direito
acerca desse tipo de interpretação do Estado enquanto continuidade política consensual e
imaginada de um projeto de Nação, uma vez que basta ao positivismo jurídico identificar ou
não a legalidade estrita de um ato.
Decerto a leitura positivista é insuficiente para a análise da organização dos Estados
pós-modernos. Ao estatuir as relações institucionais entre os governos, as Constituições
sempre atuaram no sentido de viabilizar algum projeto político-nacional de Estado, isto é, elas
jamais foram neutras. Diante disso, o surgimento das teorias pós-positivistas do Direito tornou
possível a exigência de compatibilidade entre as práticas institucionais do Estado com os
valores políticos presentes no projeto de Nação apresentado pelas Cartas Constitucionais
(STRECK, 2010).
Insta observar, contudo, que para as teorias pós-positivistas ou constitucionalistas do
Direito, esse projeto deve ser compatível ao reconhecimento de valores mínimos e universais
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que fundamentam a própria existência do Direito. Valores como igualdade e liberdade são
basilares na construção não só das normas jurídicas, mas do próprio modelo político que deve
ser adotado. Disso decorre uma correlação necessária entre Estado de Direito e Democracia
que está pautada em larga medida pelas teorias pós-positivistas (ou democráticas) do Direito
(RAWLS, 2000).
Dessa forma, é válido admitir que a relação entre Direito e democracia delimita a
organização do Estado de Direito num sentido favorável ao federalismo cooperativo. Primeiro
porque os valores solidariedade e cooperação foram, em larga medida, estatuídos por muitas
Constituições contemporâneas enquanto princípios de direito, o que, por si só – uma vez
reconhecida a normatividade dos princípios constitucionais – requer das instituições estatais a
sua observância. Segundo porque ao reconhecer a importância dos interesses de cada entidade
da federação, o federalismo cooperativo se funda na descentralização das competências
estatais, concedendo, portanto, autonomia e liberdade para todos os entes.
Em regimes democráticos, o federalismo cooperativo necessita ser considerado
enquanto expressão do projeto de Nação celebrado pelas Constituições. A opção
constitucional pelo federalismo cooperativo deve manifestar, para o êxito das relações
intergovernamentais, o reconhecimento cultural mútuo entre todas as entidades.
A despeito da descrição de Schultze (2001) acerca da crise do federalismo cooperativo
na Alemanha, é importante salientar que o federalismo alemão representou, durante a maior
parte de sua história, o reconhecimento cultural e político entre os povos que integraram a
Federação. A colaboração entre os estados federados foi, segundo Schultze, por muito tempo,
o reflexo da identificação do povo alemão entre si, isto é, uma consequência de sua coesão
social.
Com a queda do Muro de Berlim, dentre outros fatores econômicos e geopolíticos,
como a globalização, as crises migratórias etc., entretanto, surgiram conflitos culturais que
desestabilizaram a eficácia do federalismo cooperativo alemão. Basta pensar que a mera
existência de um muro, que separou por vinte e oito anos os povos da Alemanha oriental
(República Democrática Alemã, socialista) e da Alemanha ocidental (República Federal
Alemã, capitalista), foi capaz de alterar significativamente a complexidade do tecido social
desses países que, desde então, enfrentam problemas de desigualdades regionais, assim como
ocorre no Brasil.
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3- Conclusões
Certamente as desigualdades regionais na Alemanha não se equiparam com as
desigualdades presentes na sociedade brasileira. No entanto, isso não significa que o povo
brasileiro seja mais desunido que o alemão ou que, em última instância, sejamos os brasileiros
mais egoístas ou antidemocráticos.
Seria possível defender que a complexidade dos conflitos sociais presentes no Brasil é
muito elevada. No entanto, o mesmo também pode-se afirmar acerca da Alemanha. Ao
fazermos uma ligeira e superficial análise de sua história, é possível perceber que a Alemanha
protagonizou duas guerras catastróficas e abrigou o muro de Berlim, o que simbolizou a
separação do povo alemão por quase três décadas.
O fato é que em toda a história brasileira e a alemã poderíamos identificar agressões,
divisões, exclusões brutais e negações de alguns grupos sociais perante outros. Mesmo assim,
concluímos esse artigo em defesa da singularidade histórica da experiência federativa
brasileira.
Isso porque percebe-se que, no Brasil, a criação do Estado não foi, de modo algum,
um fenômeno voluntário, consentido pelas entidades da federação. O Estado brasileiro,
conforme indicam muitas análises políticas da história do país como, por exemplo, a realizada
pelo historiador paulista Caio Prado Júnior (2000), foi forjado segundo os interesses
econômicos de uma classe dominante em detrimento das demais.
Desde análises realizadas a partir de um ponto de vista puramente econômico da
história social do país, como a de Caio Prado (2000), até a compreensão da constituição
cultural do Estado brasileiro, como a que sustenta Holanda (1969), nota-se que os limites da
política brasileira advém de sua própria origem.
A configuração da política brasileira sempre esteve pautada na concentração do poder
o que, em última análise, afeta as tentativas de equiparação das desigualdades históricas entre
as diversas regiões do país.
Assim apontou o antropólogo mineiro Darcy Ribeiro, ao analisar que o projeto de
nação brasileiro jamais foi democrático. Ao invés disso, ele foi constituído pelos interesses e
julgamentos discriminatórios e violentos das elites brasileiras que, nas palavras de Darcy
(1995, p. 106), construíram verdadeiros “moinhos de gastar gente” no país.
95
A diversidade cultural do Brasil não foi reconhecida como elemento integrador do
projeto de nação brasileiro. Ao invés disso, o que se verifica na sociedade brasileira é a
existência de projetos culturais centralizados e excludentes. A caracterização da cultura do
Brasil segundo o Estado, nesse sentido, deu origem a um simulacro de nação, amalgamado
por meio da construção vertical e caricata de uma suposta identidade nacional.
Na Alemanha, conforme afirma Schultze (2001), as diferenças culturais e econômicas
foram negociadas através do pacto federativo. No Brasil, ao contrário, não houve
possibilidade de negociação acerca dos valores nacionais, afinal, não seria razoável
cogitarmos, por exemplo, que, em algum momento de nossa história, os negros ou os índios
puderam decidir sobre sua própria liberdade ou sobre sua importância cultural para a
configuração da sociedade brasileira.
A influência do colonialismo na política federativa se reflete com clareza nas
diferenças entre as culturas políticas desses dois países. Por um lado, nota-se que a construção
de um inimigo comum ou a rejeição das identidades exógenas serviu de justificativa para a
consolidação de projetos nacionais das sociedades européias. Por outro, em muitos países
colonizados, é possível defender que, durante toda a Era Moderna, ocorreram diversos
processos de desestruturação dos povos não-europeus em favorecimento dos interesses
econômicos e das identidades nacionais metropolitanos (QUIJANO, 1993).
Nesse sentido, o real valor do federalismo cooperativo advém de seu potencial político
para a reconstrução de um projeto efetivamente democrático de nação que necessite ser
constantemente reafirmado e reformulado, uma vez que as sociedades contemporâneas a cada
dia se tornam mais complexas.
É preciso repensar a relação entre as categorias “Estado” e “Nação” não só no Brasil,
mas em todo o mundo, uma vez que o Estado Democrático de Direito não deve permanecer
existindo enquanto ficção eternizada. Ao desvelar o conteúdo político e ideológico (nacional)
dos Estados Modernos, as análises críticas de Weber (2004), Anderson (2008) e outros
estudiosos nos levam a refletir sobre a importância do pluralismo político na ordem
internacional.
A autodeterminação dos povos não deve permanecer restrita à linguagem
“estadocêntrica” da Modernidade. Ao invés disso, ela parece requerer a construção de
alternativas políticas autônomas e legitimadas pelos desejos e necessidades do povo, que
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precisa estar livre para decidir, até mesmo, pelo fenecimento do Estado enquanto forma de
organização social (SANTOS, 2014).
O federalismo cooperativo merece ser compreendido enquanto uma dentre muitas
possibilidades de organização social. Num tempo em que as sociedades se tornam cada vez
mais complexas e, contraditoriamente, cada vez mais rígidas, pensá-lo em sua essência
implica em rearticular no Estado a obrigatoriedade da relação entre poder e bem-viver.
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