painel ii – a participação na cidadania e a boa governança: década eds, sim! e depois? –...
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Luísa Schmidt (ICS-UL, Universidade de Lisboa)
Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014): Sim! E depois?
IV Conferência CIDAADS - Década EDS 2014 +Pavilhão do Conhecimento, Novembro 2014
DEDS - campos de actuação:
-Escolas e Universidades
-Investigação Científica
-Autarquias
-Empresas
-Meios de Comunicação Social
Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
2005-2014
Aspectos menos conseguidos
1. ‘Infantilização’ com preferência por pedagogias que ainda não privilegiam claramente a ciência participativa; com grupos-alvos sobretudo constituídos por crianças e menos por jovens ‘pré-adultos’
2. Dificuldade de funcionamento em rede e de articulação entre iniciativas (falta uma plataforma…)
3. ‘Insustentabilidade’ das actividades e projectos, com dificuldades de mobilização dentro e fora da escola; excessiva mobilidade e sangria do corpo docente, entre outras descontinuidades
DEDS (2005-2014) – breve balanço
Aspectos mais conseguidos – anos mais recentes
1. Maior abrangência dos projectos entre escolas e outras entidades (universidades, empresas, ONGAs, municípios) e dos temas e problemáticas (energia, cidades, rios...)
2. Alguns projectos ganharam dinâmica, autonomia e ‘marca’
3. Entusiasmo e dedicação de muitos professores (voluntarismo resistente!)
4. Proliferação de iniciativas – ‘Vamos Limpar Portugal’, novos desportos náuticos (‘surfs’); Vamos Florestar Portugal…)
5. Impactos positivos na sensibilidade, conhecimento e predisposição para acção dos jovens
DEDS (2005-2014) – breve balanço
Tendências – jovens e adesão aos Novos Valores Ecológicos
Quantomais jovens e mais escolarizados maior a adesão aos Novos Valores Ecológicos
Valor das Correlações
Fonte: Schmidt & Guerra 2012 (Dados EVS 2008/2009)
Militância e Acção Cívica (ISSP 2013)
0,60%
1,30%
4,50%
0,30%
1,70%
3,20%
12,90%
3,20%
2,80%
5,10%
1,10%
17,10%
Participar numamanifestação a favor
do ambiente nosúltimos 5 anos
Dar dinheiro a umaONGA nos últimos 5
anos
Assinar uma petição afavor do ambiente nos
últimos 5 anos
Ser membro de umaorganização de defesa
do ambiente
18-39 anos
40-59 anos
60 e + anos
Conhecimento (ISSP, 2013)
C onhec imento s obre c aus as e s oluç ões dos problemas ambientais
3,233,06 3,02
2,89
2,62
2,12
3,032,90
2,822,68
2,36
1,96
18-29 anos 30-39 anos 40-49 anos 50-59 anos 60-69 anos 70 ou mais anos
C aus as S oluç ões
Tendências – sinais expressivos entre a juventude (Inq. Observa,EB,EVS)
Em matéria ambiental os jovens (em Pt e na UE) mostram:
• Maior nível de informação / conhecimento– Índice de não resposta é invariavelmente mais baixo nos grupos
mais jovens; índice de respostas certas idem• Maior nível de consciencialização / sensibilidade
– Maior preocupação com a conservação da natureza, mar e ambiente em geral; e da relevância do papel da ciência na vida actual e futura
• Maior disponibilidade e vontade de intervir nas decisões– Maior mobilização e capacidade cívica para novas causas
‘modernas’ e processos participativos específicos (o que não quer dizer ‘militância’; antes pelo contrário, temos uma geração desvinculada da vida política – desiludida com a democracia e com os políticos…)
DEDS – e agora?
Perspectivas futuras
1. Descontinuidade das políticas oficiais – área do ambiente em quebra ;
2. Desinvestimento no sistema educativo formal – dentro das escolas, EA/EDS perderam força (professores em ‘retirada’; desapareceram Áreas de Projecto e Formação Cívica obrigatória - síndrome do ‘zigue-zague’ e desnorte…)
3. Desvalorização do tema Ambiente, sobretudo no discurso político e (reflexamente) mediático; ONGA com protagonismo em ‘stand by’
4. “Deseducação” extra-escolar por via do consumismo e seus estilos de vida (jovens mais preocupados com o ambiente, mas são tb os mais consumistas; por outro lado sem perspectivas de trabalho e sem ‘espaços de respiração’)
5. “Deseducação” ambiental das elites e dos decisores – promovendo projectos ambientalmente ruinosos (ex. algumas obras públicas em rios e paisagens) e dando cobertura ‘cúmplice’ a grandes projectos privados (ex.: PIN’s; ‘golden visa’ – vistos dourados)
Contexto actual adverso
PERSPECTIVAS FUTURAS
Contexto actual adverso - a crise?!!…
• Os problemas de curto prazo e de escala doméstica imediata sobrepõem-se às preocupações com o bem-comum (‘efeito-túnel’), passando a haver:
- menor disponibilidade para a intervenção/participação cívica que tende a diminuir (incluindo os corpos docentes nas escolas)
- menor disponibilidade para compreender a complexidade dos problemas a escalas mais vastas
• Um país ressentido, que não consegue organizar-se civicamente, pode até ‘vingar-se' no espaço público e/ou menosprezar os bens-comuns
Perspectivas – ‘antídotos’ para as adversidades contextuais e reverso da crise
• Os problemas de escala imediata também podem criar novas partilhas e solidariedades (familiares, de vizinhança, comunitárias)
• A ‘falta de comparência’ do Estado pode levar a encontrar outros recursos e responsabilização dos agentes sociais e económicos locais (ex: escolas mais pró-activas recorrem aos diversos agentes locais – associativismo e apoios)
• A retracção do hiperconsumismo pode gerar uma atenção acrescida aos valores de qualidade ambiental e dos espaços públicos – valores comuns ganham uma importância compensatória (ex: jardins urbanos, paisagens, parques naturais, praias… - valores naturais de uso grátis)
1) Conhecimento interdisciplinar – escolas, universidades, ciência
• O conhecimento é decisivo para o ambiente e conservação da natureza, e deve alcançar o conjunto diversificado de públicos, usando novas formas e fórmulas de divulgação
Mas…
- É a Cultura que capacita as pessoas para compreender e metabolizar a informação, transformando o ensino em educação
- Ensino formal – estimular a transversalidade disciplinar do ambiente (história, literatura, filosofia…)
- Explicar a ‘vida organizacional’ do planeta (acordos internacionais e comunitários; convenções; instituições q os regem; directivas EU; direitos e deveres…)
- O quadro de conhecimento sobre Ambiente é fundamental para provocar mudança (IPCC – problemas e soluções; Economia do Futuro, etc.)
DEDS – Perspectivas Futuras
2) Escolas como infra-estruturas no terreno »» ‘Laboratórios de Sustentabilidade’ – o processo são os projectos:
- na sua logística quotidiana – ambiente, energia, alimentação, espaço público;
- nos tópicos disciplinares;
- na promoção da ‘ciência participativa’: envolver os alunos no processo científico mobiliza-os para saber mais e intervir melhor
- das escolas para fora: Ed Amb / Ed para o Desenvolvimento Sustentável na agenda política local (desde as Juntas de Freguesia às Universidades e Empresas)
- as autarquias, enquanto poderes de proximidade desempenham um papel crescente de estabilização das escolas
DEDS – Perspectivas Futuras
3) ‘Glocalismo’ e proximidade
• Várias mudanças estão a emergir em escalas de proximidade estimuladas por grupos inovadores locais da sociedade civil e autarquias – é mais fácil recuperar o valor do que é comum a uma escala próxima e depois passar para outras escalas
- Envolvimento cívico das comunidades (incluindo as empresas locais) em programas de requalificação do espaço público, revalorização dos quadros residenciais de proximidade (criar uma nova ‘cultura de território’ e seus valores - da vida natural, à gastronomia, ao recreio, aos desportos radicais, à música… e à intervenção na vida política)
- Os mais novos - são ‘correias de transmissão’ ímpares para levar a educação ambiental à gerações que não a receberam
DEDS - PERSPECTIVAS FUTURAS
4) Comunicação e redes
• Plataforma ‘CPLP’ - articular o local ao local e também ao global, levando e trazendo conhecimento e experiências (criando sinergias várias sem perder a dimensão de terreno)
• Redes sociais – criar ‘comunidades de curiosidade’; ‘difusão viral’ dos Projectos de Educação Ambiental e para o bem comum na agenda pública (com novas tácticas e técnicas de comunicação mais assertivas – velhos e sobretudo novos media)
• Liderança de bons exemplos mobilizadores – divulgação ( e envolvimento em) de movimentos portadores de dinâmicas com dimensão cívica dentro e fora das escolas: Projectos-âncora com autonomia crescente – Eco-Escolas, Projecto Rios, Ciência Viva, Serralves, Plantar uma Árvore, Agenda 21 Escolar, ETC… - como ‘antídotos’ para a ‘deseducação informal’ (a educação ambiental é um ingrediente fabuloso porque incentiva o civismo, a responsabilização, a curiosidade… )
DEDS - PERSPECTIVAS FUTURAS
«São os actos (…) que admiramos que definem a qualidade de uma cultura, bem como as nossas reacções a quem é responsável por esses actos (…). Sem recompensas adequadas (reconhecimento do mérito) a probabilidade dos comportamentos admiráveis serem imitados diminui (…) e a esperança numa sociedade saudável reduz-se.»
António Damásio