palavras-chave: fiança; polícia civil; justiça. · fiança, que se arbitrada em valores altos,...
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SENSO DE JUSTIÇA NA POLÍCIA CIVIL DO RIO DE JANEIRO: FIANÇAS,
NORMAS E MORALIDADES1
MARCUS JOSÉ DA SILVA CARDINELLI (UFF/RJ)
RESUMO: Neste artigo eu pretendi descrever possíveis práticas do arbitramento da
fiança na Polícia Civil do Rio de Janeiro, partindo da observação de uma delegacia.
Almejei com isso, trazer elementos etnográficos que pudessem contribuir na
compreensão da chamada ética policial. Através de uma reflexão sobre as práticas da
Polícia Civil e das moralidades que as informam no que se refere à fiança, pude pensar
que o Direito está para além das regras positivadas e dos discursos daqueles que
atribuem a si mesmos a autoridade interpretativa quanto a ele.
PALAVRAS-CHAVE: fiança; polícia civil; justiça.
1. INTRODUÇÃO
Eu não converso nem sobre isso. Isso é um assunto que eu nem converso.
Porque acontece o seguinte, numa população que 40% dessa população está
abaixo da linha da miséria, e se você olhar a população carcerária hoje,
quem cumpre pena no Brasil é pobre. Ou eu estou enganado(a)? Ou as
estatísticas não provam isso? Você vai mandar essa população pagar
fiança? Quando você tem crimes que envolvem pessoas com alto poder
aquisitivo, as multas são altíssimas. Se a gente olhar a nossa população
carcerária que efetivamente cumpre pena aqui no Brasil, essas pessoas estão
entre a classe média baixa, a pobre, e pessoas muitas vezes abaixo da linha
da miséria. Você vai mandar essa pessoa pagar fiança? Ela não tem o que
comer. Ou ela recebe a liberdade provisória mediante compromisso... Têm
casos às vezes aqui que o delegado arbitra a fiança, a pessoa fica presa
porque ela não tinha como pagar a fiança, eu tenho que dar liberdade
provisória para ela. (juiz do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ao falar
sobre as fianças)
1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de
agosto de 2014, Natal/RN.
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Neste trabalho eu pretendi descrever possíveis práticas do arbitramento das
fianças na Polícia Civil do Rio de Janeiro, partindo da observação de uma delegacia e de
entrevistas feitas no espaço de diferentes DPs. Almejei com isso, trazer elementos
etnográficos que pudessem contribuir na compreensão da chamada ética policial. Tomei
aqui essa categoria no sentido atribuído por Roberto Kant de Lima, não no sentido
moral, mas como conjunto de princípios privados que orientam as ações sociais em
determinado grupo. Ferir essa ética é diferente de ferir a lei. A lei é pública, geral e
conhecida por todos. A ética policial é privada e particularista, como os métodos
inquisitoriais. Essa ética, contudo, é um sistema de significados a ser colocado em
descrição e interpretado a partir da etnografia. (Lima 2011b)
O método etnográfico consiste na descrição e interpretação dos fenômenos
sociais, assim como a explicitação das “categorias nativas” e a esgrima de conceitos
antropológicos que o pesquisador pode utilizar em suas análises. A tradição de nosso
saber jurídico é dogmática, normativa, formal, hierarquizada, codificada, elitista. Por
esses elementos, bastante avessa a processos de desnaturalização, de estranhamento.
(Lima 2011a). Nesse diapasão, pretendi construir um estranhamento das categorias e
discursos do Direito, especialmente aqueles solidificados na doutrina jurídica. Através
de uma reflexão sobre as práticas da Polícia Civil no que se refere à fiança, pode-se
pensar que o Direito está para além das regras positivadas e do discurso daqueles que
atribuem a si mesmos a autoridade interpretativa quanto a ele. O Direito se constrói
também a partir de normas que se estabelecem nas representações de determinados
grupos sociais. (Lima 2011c). É o caso da Polícia Civil do Rio de Janeiro que tendo em
vista sua sensibilidade jurídica, reinterpreta ou desconsidera regras presentes no texto da
lei. Faz assim quando considera que esta é ineficaz para se “fazer justiça”. Na prática,
julgam que aplicam a lei. (Lima 2011b).
Durante o trabalho de campo que venho realizando em uma Delegacia da Polícia
Civil do Rio de Janeiro, observei que a fiança, um instituto jurídico criado para
proporcionar a liberdade dos presos em flagrante (no caso de aplicação em sede
policial), era arbitrada para manter as pessoas presas. Faziam desse encarceramento, que
a doutrina jurídica diz que é apenas provisório, uma pena. As fianças costumavam ser
arbitradas em altos valores para impossibilitar o pagamento e impedir que os indivíduos
moralmente categorizados como perigosos fossem soltos. A hierarquização era
percebida nas práticas policiais, nas quais percebia uma complementariedade. Alguns,
os cidadãos, tinham seu direito garantido à fiança razoável. Sobre esses, o peso da
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presunção de periculosidade, da desconfiança, não recaia de forma tão punitiva. Quanto
aos demais, que “merecem o cárcere”, como disse certo policial, não deveriam sair
mediante fiança. Eles “têm de aprender”. Essa prática não tem previsão legal. É mais
uma norma derivada da ética policial, que pune aqueles que se comportam de forma
contrária à sua moralidade.
A prática descrita nesse trabalho é bastante comum nas Delegacias de Polícia
Civil em que fiz trabalho de campo. No entanto, apesar de acreditar que as moralidades
reproduzidas nas instituições policiais influenciam muito as práticas de seus atores, não
afirmo que o descrito aqui é uma regra pela qual, irrefletidamente, todos os policiais
irão se pautar. Nesse sentido, não pretendi reificar a polícia como se ela fosse composta
por um conjunto homogêneo de indivíduos.
Outra questão no que se refere à abordagem que aqui estou desenvolvendo é o
cuidado para não identificar meus interlocutores e as delegacias nas quais fiz trabalho
de campo. Inclusive, os nomes de delegados e de inspetores que usarei nesse texto são
fictícios. Um dos delegados com quem conversei, o único de onze a dizer que não
aderia a essa prática, me informou que não o fazia por se tratar de crime de abuso de
autoridade conforme previsto na Lei 4.898/1965, art. 4º, alínea “e”. Nesse dispositivo
legal “levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança,
permitida em lei” é uma das hipóteses de abuso de autoridade passível de sanções
administrativas, civis e penais. Disse-me o delegado que tinha notícia de uma colega
que estava sofrendo um processo por conta de ter arbitrado um alto valor da fiança
aparentemente com o objetivo de manter o preso em flagrante no cárcere. Procurei esse
caso, mas não o encontrei. O delegado não me deu maiores informações sobre o
assunto.
2. O TRABALHO DE CAMPO
Cheguei à sala do delegado titular na Delegacia de Polícia Civil na qual faço
observação direta, sentei-me e fui logo perguntado por ele sobre quais as são minhas
intenções de pesquisa. Respondi que gostaria de compreender o funcionamento das
fianças na polícia e aprender sobre a rotina de trabalho deles, e outras questões como as
prisões em flagrante e os inquéritos policiais. O delegado então me respondeu dizendo
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que a questão do valor da fiança está relacionada ao problema da periculosidade e que
esta está presente “quando existe um fato que seja mais conveniente afastar ele”. A ideia
que o delegado começou a construir é que naqueles casos em que a periculosidade
estava presente, o afiançado não poderia ser solto, deveria ser afastado da sociedade.
Nesses casos, era procedimento do Lucas arbitrar um valor alto “que não seja tão fácil
[de pagar] para não pagar tão rápido”. O exemplo que foi dado para ilustrar a questão é
o da reincidência: “Praticou furto. Se tem outros crimes nas costas tem de aplicar [a
fiança] diferente”.
Começamos a conversar sobre a “Delegacia Legal”. Ele disse que o sistema
desse modelo de Delegacia permite que se veja o histórico de incidência criminal, “que
se veja o que já respondeu”. Existe um sistema chamado ROWEB em que se insere o
nome e aparecem as informações, como se foi testemunha, vítima ou autor de algum
fato registrado em alguma Delegacia de Polícia (DP). Quando aparece como autor,
percebe que “há alguma situação pendente”. Esse sistema é bastante usado para fazer a
análise para a fiança. Quando não há presença de registros como autor, o tratamento é
um. No entanto, se houver algum registro enquanto autor, o tratamento é diferenciado.
Quando não há nenhum registro pressupõe-se que há um comprometimento com a
sociedade e com a justiça. Nesse sentido, a periculosidade estava associada a um
histórico com a polícia. Para aqueles que demonstram esse comprometimento,
arbitravam a fiança em baixo valor. Para os demais, um alto valor. O objetivo é que
“não seja tão fácil de pagar, que não pague tão rápido”.
Já naquele momento eu comecei a entender que o próprio tempo que o preso
leva para conseguir pagar a fiança é uma punição dada pela polícia. De acordo com o
delegado “essa é a vontade da sociedade: tem antecedente, é perigoso”. O delegado
disse, nesse contexto, que “se cobra fiança alta em alguns casos para ele não sair”. Foi
mencionado que o juiz não deve aplicar pena de prisão para furto simples. Assim, em
juízo, eles não costumam prender provisoriamente nesses casos. Pareceu-me, contudo,
que esse é um discurso que não é levado em consideração na Delegacia. Naquele
mesmo dia, conforme eu atestaria horas mais tarde, um furto simples manteve o seu
autor preso até que ele conseguisse pagar uma alta fiança já à noite. A ideia de uma
prisão que se configure numa punição para aqueles que “merecem” começava a ser
construída. Salientou, também, a necessidade de se aplicar o princípio do in dubio pro
societate em sede policial. Isso seria a justificativa, para em casos de dúvida, se manter
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o autor do fato preso. Nas palavras do delegado: Deve-se ad cautela se prender e,
depois, se dar a fiança.
Lucas interrompeu a conversa e disse que ia me apresentar ao delegado adjunto
com quem eu devia conversar. Chegamos à sala do João, o delegado adjunto. Fomos
apresentados e ele perguntou no que poderia me ajudar. Eu expliquei sobre a pesquisa.
Ele começou falando pouco. Dizendo que poderia responder a perguntas se eu as
tivesse. Eu disse que gostaria de aprender mais sobre a rotina de trabalho da Polícia
Civil, especialmente sobre as fianças. Muitos assuntos foram surgindo ao longo da
nossa conversa. Entre eles a crença de que se deve fazer com que as pessoas fiquem
com medo. O delegado disse que identificava se o “cara” estava provocando uma
ameaça real e qual a periculosidade dele, “se ele vai chegar em casa e bater na mulher
ou se tudo foi acidente de percurso”. Mas em seu discurso afirmava que todos são
“critérios objetivos, que não adianta subjetivismo”. No entanto, existia um caso que era
considerado como inadmissível. “O cara arrogante e prepotente você chega e coloca
uma fiança lá em cima para ele ficar preso”. “O cara bate na mulher e ainda chega
prepotente? Tem de ficar preso”. Isso demonstra que o cárcere é um meio de punir o
preso em flagrante especialmente quando ele age de forma que afronte o senso de
moralidade da polícia. Os mecanismos para se garantir essa punição são diversos. Entre
eles a definição um fato como crime, ou seja, traduzir determinado fato para uma
linguagem jurídica, enquadrando-o dentro de algumas das normas proibitivas da
legislação penal, através de um processo interpretativo. Isso garantia a legitimidade do
flagrante, que pressupunha a existência de um fato criminoso e assegurava que, no caso
da possibilidade da interpretação em que incida um crime mais grave, medidas
benéficas, como a fiança, não pudessem ser arbitradas. Além disso, usavam da própria
fiança, que se arbitrada em valores altos, atingia o objetivo de que não fosse paga e,
assim, a prisão pudesse ser mantida.
No entanto, o próprio João observou que “a fiança tem um rito; se o juiz
entender que ela não é adequada, ele vai adequar”. Na mesma ocasião, ele comentou
que, em muitos casos, prende e arbitra uma alta fiança e depois o “juiz dispensa sem
fiança”. O “cara” cometeu o crime, que coloca a sociedade em perigo, mas “o juiz vai lá
e solta”.
Em um momento, no meio de nossa primeira conversa, entrou apressadamente
um inspetor na sala do delegado adjunto. Ele jogou um papel na mesa e disse que
pagaram a fiança de R$ 3.000,00. João interrompeu assunto imediatamente. Olhou para
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o inspetor e disse que havia colocado aquele valor para o autor não conseguir pagar e
que achava o fato de ele ter pagado um absurdo. O inspetor colocou a mão na cabeça e
questionou o delegado sobre o que ele ia fazer agora. João disse que agora não podia
fazer nada. Ele não tinha como aumentar ainda mais naquele momento, pois, já tinham
ido à delegacia para efetuar o pagamento. Esse diálogo ocorreu entre o delegado sentado
e o inspetor de pé. Parecia naquele momento que tinham se esquecido de
completamente da minha presença ali.
Num dado instante, João, como que se lembrando de mim, olhou e me disse que
é aquele tipo de coisa que eu iria ver ali. O “cara” havia furtado um celular caro, já tinha
“várias passagens” e, por isso, ele devia ficar preso para proteger a sociedade: “aquele
não tinha mais jeito”. Logo após falar isso, retomou o diálogo com o inspetor
perguntando quem tinha levado esse dinheiro todo ali para pagar a fiança de alguém que
não tinha jeito. Em seguida, ele disse que estava indo resolver a questão e o inspetor
saiu da sala. O delegado se levantou, me chamou e disse: “venha ver as coisas como
são”.
O delegado João saiu de sua sala e foi ao salão principal, onde um inspetor,
Rogério, em um dos cantos, estava com um rapaz negro, magro, aparentando em torno
de vinte e poucos anos, trajando calças jeans, camisa e tênis, tendo ao lado uma mulher,
aparentando quarenta e poucos anos. Pareceu-me que ela era faxineira, pois falava do
cheiro da água sanitária em suas mãos, como expressão de que acabara de sair do
trabalho. Ela era a mãe do jovem. Segui o delegado. Escutei-o dizendo coisas como:
“aquele ali é pra continuar preso pra aprender uma lição”; “ele não merece ser solto”;
“ele não merece o sacrifício que ela estava fazendo por ele”. Em resumo, ela não
deveria pagar nada e, sim, deixar ele ali pra aprender. O delegado insistentemente disse
para a mãe do rapaz que deveria desistir do pagamento para que ele continuasse preso.
Ela respondeu para o delegado que o garoto era filho dela, sabia “como ele é”, mas era
filho dela.
Naquele momento, fiquei apenas como observador da situação que ocorria a
minha frente. O delegado, contudo, olhou pra mim e disse em voz alta “ela está
entregando tudo que deve ter juntado durante a vida para deixar solto alguém que não
tem jeito; mas ela é mãe dele”. Em seguida, num tom mais de conversa, o delegado
começou a me explicar o que seria feito: um termo de fiança, no qual eles assinariam; o
dinheiro seria recolhido em uma conta bancária pública mediante uma guia de
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recolhimento (DARJ) e tudo aquilo seria registrado no livro de fiança e cópias seriam
juntadas no auto de prisão em flagrante.
Após dizer isso, ele falou com o inspetor, que estava ali preparando os
documentos, para me mostrar como funcionava o procedimento e, logo em seguida, saiu
em direção a sua sala. Eu fiquei ali apenas observando a burocracia e percebi que várias
cópias daquele documento estavam sendo assinadas e juntadas em blocos de papeis
separados. Eu perguntei o porquê daquilo e o inspetor me respondeu que se tratava de
cópias que deveriam ser juntadas no auto de prisão em flagrante, e em comunicações
que deveriam ser feitas ao Ministério Público, ao Juiz e à Defensoria Pública. Naquele
momento, ele me esclareceu também que o rapaz havia ficado durante a tarde preso, e a
comunicação de todos os atos estavam sendo preparadas naquele momento. Nesse
instante, aproveitei a oportunidade e pedi para olhar o livro de fianças, que o delegado
havia me dito. Ao começar a folheá-lo, estranhei que nesse livro não eram registradas as
descrições dos fatos pelos quais o afiançado havia sido preso, mas tão somente a
classificação jurídico-penal (artigo de lei em que o fato foi classificado dentro das
categorias criminais do Direito). Além disso, eram descritos o nome do afiançado,
endereço, valor da fiança e, para minha surpresa, “fiador”. Há um campo em que o
nome do fiador fica inscrito no livro de fianças. Enquanto eu pensava nessas questões, o
inspetor terminou de fazer com que ambos, o fiador e o afiançado, a mãe e seu filho,
assinassem todas as muitas vias. José disse para o agora afiançado que ele estava
dispensado. O antes preso, agora solto, saiu em largos passos em direção a saída, sem
olhar para trás e sem esperar pela mãe. Ela, quase deixando sua bolsa cair, foi atrás do
rapaz que, ao sair da Delegacia e do raio de visão da porta de vidro, sumiu da minha
vista. Marco ficou observando a cena sem nada dizer. Eu ainda pedi ao inspetor para ver
aquelas comunicações e o auto de prisão em flagrante. Esses documentos me foram
entregues, e comecei a ler seu conteúdo. Vi uma série de documentos como
depoimentos dos policiais que o conduziram preso, exame de corpo de delito, e uma
folha com os antecedentes do rapaz. Detive-me na leitura dessa última e descobri que
ele tinha sido processado por outro furto e por um roubo, ocasião em que tinha ficado
alguns meses no presídio. Por conta dessa informação pensei em duas questões: João
tinha dito que ele tinha “várias passagens” e Lucas, no mesmo dia, havia falou que era
determinante na aplicação da fiança o fato de haver alguma inscrição como autor no
sistema online. Percebi, assim, que basta para a polícia que exista algum tipo de
“envolvimento” com ela ou com a “justiça”, alguma suspeita de transgressão, para que
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aquele preso, já seja tomado como reincidente, como perigoso e, dessa forma, se instale
uma desconfiança sobre ele.
Fiquei alguns minutos observando a movimentação da Delegacia, até que o
delegado João me chamou novamente para sua sala. Quando entrei, ele, ainda se
mostrando indignado, me disse: “sabe o que ele vai fazer agora? Ele vai pra rua
recuperar esse dinheiro. Se eu deixasse ele preso, o juiz ainda soltava sem fiança”. E
continuou: “Para o juiz já está tudo pronto. Para a polícia é na hora que tem de
resolver”.
3. OS DISCURSOS DA LEI E DA DOUTRINA JURÍDICA SOBRE AS FIANÇAS
CRIMINAIS
A Constituição de 1988, em seu artigo 5º, LXVI, fala da fiança ao prescrever
que ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança. Aury Lopes Jr., jurista, considera que a fiança é uma
contracautela, uma garantia patrimonial, caução real. Dessa forma, é uma medida que
visa substituir uma cautelar, principalmente, através do pagamento de um valor. Por se
tratar de fiança criminal, é uma alternativa à prisão em flagrante e à prisão preventiva.
Ela deve ser prestada pelo imputado e se destina a ser um fator inibidor de fuga, além de
servir ao pagamento das despesas processuais, multa e indenização, em caso de
condenação (Lopes Jr 2012 : 892).
Na definição de um delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro com quem
conversei, “Fiança é caução para o acusado responder ao processo. É instituto injusto:
quem tem dinheiro vai embora; que não tem fica preso ou depende dos outros.”.
Tratando da hipótese de fiança arbitrada em sede policial, ela vem sendo chamada por
juristas de “libertadora”, porque se presta como contracautela à prisão em flagrante.
Existe ainda uma modalidade chamada de “restritiva”, prevista no artigo 319 do Código
de Processo Penal Brasileiro, que tem como finalidade ser uma medida substitutiva da
prisão preventiva (Araújo 2012).
O Código de Processo Penal Brasileiro, em seu artigo 322, que foi reformado
pela Lei 12.403/2011, prevê que a autoridade policial somente poderá conceder a
fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior
a quatro anos. Assim, cabe ao Delegado de Polícia fixar a fiança para crimes cuja pena
máxima não seja maior que quatro anos. Saliento, ainda, que se a pena privativa de
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liberdade máxima não for superior a dois anos deve ser seguido o rito dos Juizados
Especiais Criminais, previsto na Lei 9.099/1995. Nesse caso, não há prisão nem
lavratura de auto de prisão em flagrante, mas apenas de Termo Circunstanciado. Dessa
forma, acusados de crimes como furto simples e receptação simples passam a ter a
possibilidade de ter concedida a fiança em sede policial, independente de requerimento
ao juiz. Nos demais casos, que não estejam dentro do teto legal de quatro anos, a
possibilidade de se arbitrar a fiança deve ser verificada pelo juiz.
Em sede policial, a fiança pode ser aplicada em valores entre um e cem salários
mínimos. No entanto, de acordo com o artigo 325 § 1º do Código de Processo Penal
Brasileiro, ela pode ser reduzida em até 2/3 e aumentada em até mil vezes. Uma das
questões mais controvertidas na lei e na prática é a da possibilidade de dispensa do
pagamento da fiança. Isso seria aplicável nos casos em que comprovadamente –
conforme a fala dos delegados – o indivíduo não tenha condições financeiras para
efetuar o pagamento da fiança arbitrada. Há, contudo, divergência entre os juristas,
sobre se é possível que a autoridade policial possa fazer essa dispensa ou se isso é
faculdade apenas dos juízes. Ocorre que os delegados de polícia disseram que a Lei deu
apenas ao juiz a faculdade de dispensar o pagamento da fiança. Eles podiam apenas
fixa-la no valor mais baixo previsto na legislação. O Código de Processo Penal
Brasileiro trata sobre desse caso nos artigos 325 § 1º e 350.
Com referência no artigo 329 do Código de Processo Penal, a fiança pode ser
prestada pelo próprio afiançado ou por qualquer pessoa. Uma vez concedida, é feita a
lavratura do respectivo termo em livro próprio existente nas Delegacias de Polícia e nos
Juízos Criminais. Sobre o critério que deve nortear a determinação do valor da fiança, o
artigo 326 aponta como elementos a natureza da infração, as condições pessoais de
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade
e a importância provável das custas do processo.
O Delegado de Polícia Civil Tiago Araújo (2013), em seu artigo, considerou a
existência de discursos divergentes sobre o inc. IV do art. 324. Este prevê que não será
concedida a fiança nos casos em que estejam presentes os motivos que autorizam a
prisão preventiva (Código de Processo Penal, art. 313). Existem, assim, duas
interpretações da doutrina no que tange a possibilidade de aplicação desse dispositivo
pela Autoridade Policial. Na primeira, entendem que não é possível que o delegado
verifique os requisitos da preventiva e, se presentes, deixe de arbitrar a fiança. Um
desses requisitos é que a pena do crime seja superior a quatro anos (CPP, 313, I), o que
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não é o caso das infrações afiançáveis em sede policial. Do mesmo modo, manter
alguém preso com base na preventiva seria um decreto tácito da mesma, o que é vedado
por ser um ato privativo do juiz. Na segunda, entendem que é possível, pois não há
vedação expressa de a autoridade policial aplicar esse dispositivo. Além disso, arbitrar a
fiança e promover a liberdade de alguém que preenche os requisitos da preventiva
frustraria a persecução penal. Deve, assim, o preso esperar a manifestação judicial no
sentido de ser confirmada a sua segregação, com um decreto de prisão preventiva, ou de
ser solto, mediante liberdade provisória com ou sem fiança.
Dessa forma, noto que há diferentes discursos, mesmo no campo da dogmática
jurídica, se referindo à forma de aplicar os dispositivos da Lei. Isso reflete a existência
de discursos clássicos e contemporâneos coexistindo ao mesmo tempo na realidade
daquelas instituições que aplicam o Direito. A consequência disso é uma diversidade de
interpretações e de práticas, que muitas vezes não são claras nem entre os membros da
mesma instituição.
4. HIERARQUIAS E MORALIDADES NA POLÍCIA CIVIL DO RIO DE JANEIRO
Tendo em vista a descrição etnográfica a que vim apresentar nesse trabalho,
penso que as relações estabelecidas no seio da Polícia Civil do Rio de Janeiro, se
pautam por uma marcada hierarquia. Louis Dumont argumenta que a hierarquia pode
ser entendida como uma relação de englobamento do contrário (Dumont 1992 : 370). A
relação hierárquica é a que existe entre um conjunto e um elemento desse conjunto. O
elemento faz parte do conjunto: é idêntico e, ao mesmo tempo, se distingue e se opõe a
ele. No caso hierárquico a categoria superior inclui a inferior que reciprocamente a
exclui. Metaforicamente, em um retângulo dividido em duas classes, essas esgotam o
universo do discurso. Pode-se dizer que elas sejam complementares em relação a esse
universo, ou ainda contraditórias, no sentido de que uma exclui a outra e de que não
existe uma terceira possibilidade. (Dumont 1992 : 371). A relação hierárquica inclui
sempre a dimensão do valor. Mesmo os “modernos” não deixam de fazer julgamentos
de valor, de valorizar desigualmente as pessoas, coisas e situações.
A partir dessas ideias, entendo que aqueles que têm a substância moral de pessoa
digna, no sentido de Luís Roberto Cardoso de Oliveira (2004), são valorizados de forma
desigual com aqueles que não são vistos como tendo essa substância moral digna. A
categoria nativa utilizada para tratar desses que têm a substância moral digna é a
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“decência”: só os “decentes” são merecedores de fiança. Em oposição a essa categoria
estavam os “perigosos”, ou seja, aqueles que de alguma forma esbarravam com a
moralidade da polícia. Entre esses há uma complementariedade e uma diferença de
status que importa em tratamentos diversos. Todas essas oposições recaiam sobre a
fiança enquanto categoria jurídica. A confiança passava a ser o valor englobante: os
“confiáveis” são aqueles que possuem essa substância moral digna, os “decentes”. Os
não-confiáveis eram os que afrontam essa moralidade, não tinham decência, presumia-
se sua periculosidade. A alternativa para esses era conseguir pagar o valor ou se valer de
suas relações. A presença de alguém para pagar a fiança demarcava que aquele preso
em flagrante possuía uma rede de pessoas que confiavam nele. Isso, de certa forma, era
testado, inclusive se observando se o próprio “fiador” possuía a substância moral de
pessoa digna. Essa presunção é construída principalmente pelo “sarqueamento”. Dessa
forma, se estabelecia quem poderia exercer seu direito à fiança e a quem seria atribuído
“não ter direito” ao seu direito. Salienta-se que uma ideia que cresce em importância e
em status, adquire a propriedade de englobar o seu contrário (Dumont 1985 : 259). A
confiança representada pela conduta compatível com a moralidade da autoridade
policial engloba as suspeições e presunções que recaem sobre os não-decentes.
Na conversa que tive com o delegado João, por exemplo, após o caso do
pagamento da fiança que presenciei, o mesmo observou que a “fiança foi feita para
pessoas decentes”. A polícia entendia que só aqueles representados como “decentes”
eram merecedoras de fianças. Assim, é perceptível que a ideia de “decência”, de
“merecimento”, estava relacionada com o agir conforme a moralidade do delegado de
polícia que estava presidindo o ato. Essa moralidade é construída a partir de suas redes
de sociabilidade, principalmente aquelas do meio policial.
Luis Roberto Cardoso de Oliveira argumenta que apenas aquelas pessoas nas
quais conseguimos identificar a substância moral característica das pessoas dignas
mereceriam reconhecimento pleno e (quase) automático dos direitos de cidadania.
(Cardoso de Oliveira 2004 : 83). A polícia nesse sentido, só conferia direitos de
cidadania àqueles em que observava essa substância moral de pessoas dignas. A
categoria nativa para isso é a “decência”: a fiança existe para libertar pessoas decentes,
como me disse João. A classificação do interlocutor no plano moral tem precedência,
condicionando o respeito a direitos. O direito de ser arbitrada uma fiança razoável que
proporcione a liberdade perdida por conta da prisão em flagrante sucumbia quando o
indivíduo era classificado de forma negativa no plano moral. Quando isso ocorria, altos
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valores eram arbitrados para que ele ficasse no cárcere e, assim, fosse punido. O
professor, ainda sugere que
essa precedência da vida cotidiana da noção de consideração à pessoa
(singularizável) sobre a ideia de respeito aos direitos dos indivíduo
(genérico), assim como o caráter excessivamente seletivo da manifestação de
consideração ao interlocutor, seriam os principais responsáveis pela
incidência de discriminação cívica no Brasil (Cardoso de Oliveira 2004 :
83).
Há uma discriminação cívica contra os atores que têm sua dignidade negada no
plano moral (Cardoso de Oliveira 2004 : 84). A discriminação sofrida por aqueles que
são portadores de uma identidade estigmatizada ou que não possuem, em um primeiro
momento, uma classificação favorável de identidade presumida, podia ser verificada
empiricamente na presunção que recaía sobre o preso em flagrante que fosse apontado
como suposto autor em um registro qualquer de ocorrência. Esse não possuía o mesmo
direito de exercer seus direitos que os demais. Na representação da polícia, mereciam o
cárcere e, nesse sentido, não mereciam uma fiança que os beneficiasse. Oliveira
considera, nesse diapasão, que
ainda que os direitos básicos de cidadania estejam constitucionalmente
garantidos no Brasil, eles não são, de fato, acessíveis a contingentes
expressivos da população da vida cotidiana. Aqui, não estou me referindo
apenas àqueles aspectos das condições de vida da população carente em
dissintonia com as garantias constitucionais (e.g. direito à moradia) devido
às limitações orçamentárias do Estado, a políticas sociais ineficazes
implementadas pelo governo, ou às crise econômica em sentido amplo, mas a
atos de discriminação cívica que negam direitos em princípios acessíveis,
agravando substancialmente as iniquidades vigentes” (Cardoso de Oliveira
2004 : 84).
A polícia atribui diferentes graus de cidadania a diferentes segmentos da
população, embora a Constituição atribua direitos iguais a todos. Cabe a ela a tarefa de
selecionar quem tem direito aos seus direitos, enquanto cidadãos, e quem não os têm.
(Lima 2011b). A representação dos policiais era que “a fiança foi feita para gente
decente”. Temos assim, uma oposição entre o “perigo ambulante”, outra categoria
nativa, e o “decente”. Entre aquele que ofende a moralidade do policial e aquele que age
em conformidade com ela. Noto a complementariedade em mais esse aspecto, entre os
decentes e os não-decentes (perigos ambulantes). A estrutura hierárquica da polícia,
dessa forma, se demonstra reiteradamente através da etnografia.
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No atual sistema de fianças criminais do Brasil, especialmente no momento
policial, sai do “cárcere” quem tem dinheiro para pagar ou relações suficientes para que
alguém pague em seu lugar. Dessa forma ou se paga ou se evoca a rede de relações para
efetuar o pagamento. Os que não podem pagar ou não têm relações suficientes ficam
presos. Como dito por certo delegado: “A fiança geralmente fica sem pagar. Geralmente
quem comete crime é morador de favela, morador de rua, não tem onde cair morto, não
tem emprego, não tem dinheiro”. Os demais conquistam a liberdade. Os moradores de
rua, que não possuem nem dinheiro nem relações, ficam em regra presos. Para alguns,
ainda, se coloca um valor suficientemente alto para que não seja pago. Fazem isso para
que não haja recursos financeiros para o pagamento, seja com o próprio dinheiro, seja
com aquele obtido através das relações. No entanto, esse é um desejo que sucumbe
quando o pagamento é feito pelo afiançado ou pelo “fiador”. Nesse caso, tenta-se
dissuadir o fiador. É como um teste de sua convicção daquele intento de devolver a
liberdade ao preso e da força da relação envolvida. É um teste de fides, de fidelidade, de
confiança. Observo, ainda, que aqueles que, na representação da Polícia Civil do Rio de
Janeiro, deveriam continuar presos estão associados a vários tipos: O mais mencionado
é o daquele que possui histórico criminal, verificado pela presença de investigação ou
condenação criminal no Portal da Segurança e no SARQ-Polinter, ou até mesmo pelo
mero registro como possível “autor” de um fato em investigação, no ROWEB.
Em certo dia, com o livro de fianças nas mãos, fui falar com o Elias, o inspetor
chefe da Delegacia onde fiz a observação direta, sobre as fianças. Ele observou que
“tem muita gente que não tem direito à fiança porque chega com monte de crime nas
costas. Aí se coloca o valor lá em cima para não pagar.”. Informou-me também que o
recolhimento do valor se dá mediante o DARJ (Documento de Arrecadação do Rio de
Janeiro) e é feito pelo SESOP (Setor de Suporte Operacional). O mais comum, no
entanto era que as fianças não fossem pagas. Os “mendigos de rua” são aqueles para os
quais se arbitrava a maior parte das fianças. No entanto, não conseguiam pagar e
ficavam sempre presos. No sentido de compreender a figura do fiador no livro de fiança,
perguntei ao Elias o que era fiador. Ele disse que era quem pagava a fiança: “Mete o
fiador pra identificar quem está pagando. O cara duro, sem dinheiro. Tem de identificar
quem está pagando. Aparece um bom coração pra pagar...”.
Elias estava indo fazer o “SARQ” para identificar uma mulher que estava apenas
com a carteira de trabalho, mas tinha perdido os documentos. Aproveitei a oportunidade
para entender melhor o “SARQ”. Ele era um conjunto de sistemas de informação que a
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Polícia Civil tem acesso. Na categoria nativa, aquele verificado no “SARQ”, está sendo
“sarqueado”. Esse conjunto de sistemas consistia no Portal da Segurança, no qual se
verificava os dados civis e o cadastro como autor em fatos criminosos: O ROWEB, que
tinha o registro de toda a movimentação na Polícia Civil, seja como autor de crime,
vítima ou testemunha; o SARQ-Polinter que possuía o banco de dados dos mandados de
prisão do Rio de Janeiro; o INFOSEG, que era nacional, administrado pela SENASP
(Secretaria Nacional de Segurança Pública), passava muito tempo fora do ar, mas
possuía dados sobre veículos, armas, Interpol, Receita Federal, indivíduo. Nesse último
item se buscava mandados de prisão de todo o Brasil que tivessem sido registrados no
sistema.
5. AS PRÁTICAS DO ARBITRAMENTO DAS FIANÇAS NA POLÍCIA CIVIL DO
RIO DE JANEIRO
a gente faz também uma fiança alta, em razão da periculosidade do autor, do
agente, pela situação que ele foi preso, porque com a fiança alta ele acaba
não tendo dinheiro para pagar, então ele fica preso. Então houve uma
abrangência maior em relação a isso porque houve maior critério de
discricionariedade do delegado em relação a isso, a possibilidade do
delegado ter que fazer justiça, não cabe ao delegado fazer justiça, cabe à
justiça fazer justiça, mas eu entendo que como o caso vem primeiro na nossa
mão, há sim de que dento da lei fazer justiça. (delegado de polícia do Rio de
Janeiro)
A fiança, na representação da doutrina jurídica, tem a finalidade de promover a
liberdade, sendo uma modalidade de liberdade provisória. Contudo, isso só ocorre
quando arbitrado em seu valor ponderado. Acaba se tornando, contudo, um instituto
para impedir a liberdade quando colocado em alto valor. Saliento que a dificuldade de
identificar no cidadão a substância moral das pessoas dignas promove o desrespeito a
direitos formalmente estabelecidos (Cardoso de Oliveira, 2011 : 42) como é o caso de
ter uma fiança arbitrada em valor razoável. Na reforma ocorrida através da Lei
12.403/11, outros crimes se tornaram passíveis de fiança por razão de política criminal:
de acordo com os policiais, o Estado queria diminuir a população carcerária antecipando
a liberdade de criminosos mediante a aplicação de medidas alternativas à prisão.
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A própria lei positiva (Código de Processo Penal Brasileiro) usa a expressão
“circunstâncias indicativas de sua periculosidade” como um elemento que deve ser
levado em consideração na determinação do valor da fiança. Essa expressão por ser
muito aberta, indeterminada, dá a autoridade policial uma margem muito grande de
discricionariedade na classificação desses indivíduos perigosos. O que se percebe é que
a própria lei, com seu espírito de igualdade, abre a margem para que as desigualdades
inerentes à sociedade e a seus sistemas de classificação possam se reproduzir. Além
disso, e com o objetivo de “fazer justiça”, os delegados de polícia reinterpretam esse
dispositivo legal. Cunham, assim, uma nova norma que não apenas leva em conta a
periculosidade, mas faz dos indivíduos que se encontram nessa categoria um caso
especial. São merecedores de um tratamento mais repressor pela polícia.
Nos casos em que a fiança acaba sendo paga, mesmo tendo o delegado de polícia
arbitrado alto valor, observo a caracterização de um insulto moral, no sentido atribuído
por Cardoso de Oliveira (2004). O insulto moral ocorre nas situações em que a
observação dos direitos é acompanhada por certo desprezo, ou simplesmente quando
aquele que respeita o direito não é capaz de transmitir a convicção de que assim o faz
porque reconhece sua dignidade ou a adequação normativa dos direitos àquela
circunstância (Cardoso de Oliveira 2004 : 85). Pude observar que há diversos casos, em
que o indivíduo não é identificado como possuidor de uma substância moral digna,
como por exemplo, um agressor da própria mãe que o delegado acabou sendo obrigado
a soltar. No começo desse trabalho, narrei o dia em que o delegado tentou convencer a
mãe do preso em flagrante a não pagar sua fiança. O agente policial, nesses casos,
coloca o indivíduo em liberdade a contragosto porque este, em sua representação,
merece o cárcere.
Tive conhecimento de alguns casos em que a moralidade policial informava
diferentes aplicações da fiança e da prisão. Mateus, um dos delegados com quem
conversei, disse que nos casos em que não é possível deixar de arbitrar a fiança e aplicar
a prisão preventiva, arbitrava uma fiança alta para o “cara” não pagar: Aquele que furta
um Iphone de uma pessoa de idade merece ficar preso. Além disso, quem tem
“passagem” como autor no ROWEB, mas não possui nenhuma condenação ou inquérito
concluído, deveria ficar preso também. Casos de violência doméstica também eram
merecedores desse tratamento. Para ilustrar isso, o delegado me contou a história de um
homem que já tinha batido na mulher e, em certo momento, começou a ameaçá-la de
morte. A Polícia Militar foi chamada e o homem foi preso em flagrante. O delegado
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deixou de arbitrar a fiança e representou pela prisão, alegando que estavam presentes os
requisitos da preventiva no que se refere à ofensa da ordem pública. Usou como
fundamentação jurídica o inciso III do art. 313 do CPP, que trata de contextos de
violência doméstica. Em outro caso, disse que colocou a fiança no mínimo. Uma mulher
chamou a polícia dizendo que tinha sido surrada pelo marido. Ela apareceu na delegacia
com marcas nos braços. O homem, no entanto, chegou lá todo arranhado. Ele estava
ferido “até no saco”. Nessa ocorrência, entendeu que cabia uma fiança baixa e a colocou
no mínimo. Era injusto que o preso em flagrante pagasse uma fiança alta, se a mulher
bateu nele. O autor do fato já havia sido punido pelo fato de ter apanhado da mulher.
Em outra hipótese, observou que “às vezes uma fiança alta, mesmo que ele possa pagar,
coíbe de praticar de novo”. É a lei que dá a discricionariedade ao delegado para arbitrar
o valor conforme a conveniência. Nesse sentido, Paulo, um dos delegados com quem
conversei, disse que “pessoas com dinheiro, arbitro alto para punir”. Contou, nessa
esteira, uma passagem, em que atuou, no qual o filho agrediu a mãe por motivo de
dinheiro. No entanto, o agressor tinha uma situação econômica “bastante confortável”.
Na representação do policial, “o garoto só podia ser usuário de drogas pra bater na
mãe”. A disputa entre eles era por R$ 5.000,00. Dessa forma, arbitrou uma fiança mais
alta que isso “para doer no bolso e punir ele”. No final do processo, o juiz determinou o
levantamento da fiança. Contudo, o fato de ele perder o dinheiro naquele momento
funcionou como uma punição. O valor podia não ser alto o suficiente para manter a
prisão, no caso do preso em flagrante ter poder econômico ou possuir relações
suficientes que garantam o pagamento. Nessas ocasiões, o próprio prejuízo econômico
já saciava, mesmo que moderadamente, o objetivo punitivo da polícia. A representação
estava, no entanto, presente: punir aqueles que afrontam as normas constituídas no
senso de moralidade da policial. Esse era o sentido de justiça da Polícia Civil, para
aqueles que se comportam de forma incompatível com a sua moralidade.
Mateus me disse que havendo histórico criminal pela prática de violência
doméstica, existindo ameaças ou agressões pretéritas, deixava de arbitrar a fiança.
Quando isso acontecia verificava se estavam presentes os requisitos da preventiva (o
que, nessas hipóteses, estava sempre configurado de acordo com o entendimento do
delegado) e deixava de arbitrar a fiança. Além desse caso, comentou que em crimes
geradores de alguma repercussão, ele fazia a mesma coisa. Entendia, contudo, que essa
prática era uma faculdade conferida à autoridade policial pela lei. Nesse sentido, quando
percebia a periculosidade do agente, ele buscava a presença dos requisitos da prisão
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preventiva para manter o indivíduo preso. Se não fosse possível, arbitrava uma fiança
alta para que o autor do fato não conseguisse pagar. O delegado entendia que há
periculosidade nos casos em que o indivíduo pudesse vir a causar um dano maior. Na
mesma direção, deu outro exemplo: embriaguez ao volante. No caso de a pessoa ser
presa por estar completamente bêbada, arbitrava fianças de até 10 salários mínimos para
que o pagamento não fosse possível ou, pelo menos, fosse dificultado. O fato de alguém
estar bêbado podia provocar um acidente com a morte ou lesão de alguém. Penso que
aqui está presente uma punição para o indivíduo que poderia ter feito algo e, também,
para todos aqueles que de uma forma ou de outra são vistos como perigosos. A punição
se dá através do impedimento da liberdade e da manutenção da prisão oriunda do
flagrante: a prisão processual se transforma numa pena antecipada. Como disse o
delegado: “Não deveria ser prisão pena, mas o flagrante se torna a pena em alguns
casos.”.
6. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU PENA?
A cela, o cárcere da Delegacia, era um espaço que suscitava comentários por
parte dos delegados e dos inspetores com quem mantive interlocução. Ele era um espaço
simbólico. Significava poder e justiça. Mas, também, nojo e repulsa. Os policiais
falavam de doença, de contaminação. Um inspetor, Elias, me disse em uma conversa
que não gostava de chegar perto de lá porque tinha nojo, era um lugar sujo, um lugar de
doenças, um lugar podre. As pessoas que ali eram presas faziam daquele lugar imundo.
Ponderou que tinha medo de se contaminar quando ali estava. Dentro dessa ideia de
poder, está o “fazer justiça”. Episódios como o do homem que ficou preso durante
horas, antes de se fazer qualquer registro, ou do delegado verificar se era realmente
flagrante ou crime de fato, são ilustrativas dessa realidade. Nesse, como em outros
casos, o delegado me chamou para ir com ele “no cárcere” e ver a inquirição que seria
feita com o preso em flagrante.
Certa vez, quando estava fazendo meu trabalho de campo, Mateus me chamou.
Queria me mostrar um flagrante que estava sendo lavrado na Delegacia e que era
possivelmente um caso de fiança. O fato narrado era de um homem que havia feito
ameaças a sua ex-mulher. No entanto, ao sarqueá-lo, se verificou que já tinha dois
registros por violência doméstica (Código Penal, art. 129 § 9º). O delegado estava
classificando ele como tendo praticado o delito previsto no artigo 147 do Código Penal
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n/f (na forma) da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha, como é conhecida). Mateus me
disse que o preso morava em Nova Iguaçu e vinha até o centro da cidade do Rio para
ameaçar a ex-mulher. O autor do fato havia feito essas ameaças, inclusive, na frente do
policial militar que foi chamado por ela. Explicou-me que por conta da Lei Maria da
Penha não era cabível a aplicação das medidas da Lei 9.099/95. Havia vedação
expressa. Dessa forma, pelo crime de ameaça ser apenado em até um ano, seria um caso
de fiança em tese. Enquanto conversávamos os dois policiais militares que o
conduziram a delegacia estavam prestando depoimento. O preso estava na cela. O
delegado me informou que o autor do fato ainda estava portando uma trouxinha de
cocaína, o que demonstrava se tratar de alguém “problemático”. Por isso, pretendia dar
uma fiança alta para que ele não conseguisse sair. Ele me chamou para presenciar a
conversa entre ele e o preso através da porta da cela. Percebi naquele momento que o
preso era o mesmo que estava ali sentado do lado de fora ao longo de toda a tarde, desde
que cheguei à delegacia. O inspetor, que estava conosco na ocasião, ainda me disse:
deixei esse aí esperando porque tinha certeza que o delegado ia considerar isso um
flagrante. Isso me esclareceu que ele ficou preso ali sem sequer haver a formalização de
uma prisão em flagrante. Essa certeza de que a prisão em flagrante seria decretada
formalmente se deu porque na representação do inspetor, aquele indivíduo se
comportava em desacordo com a moralidade da polícia. O mesmo delegado, ao sair do
“interrogatório” feito ao preso, comentou que primeiro ele verificava se merecia o
cárcere para depois decidir sobre a classificação jurídica. Usava, também, a prisão em
flagrante como uma pena, impedindo que o preso saísse, mesmo quando o caso fosse
afiançável. Para isso, fazia uso de altos valores ou construía uma fundamentação de que
era cabível a prisão preventiva, não havendo direito, assim, à fiança.
“Fazer justiça” é uma representação. É aquilo que eles acreditam que estão
fazendo e o porquê deles tomarem certas decisões. Essa é uma categoria que tem um
significado específico para os policiais. É um conjunto de valores que informam uma
prática. O direito legal é usado, interpretado e desconsiderado para se “fazer justiça”.
Nas palavras de um interlocutor: “Tento fazer justiça no primeiro momento. Primeiro
verifico se merece o cárcere. Depois olho pro fato jurídico”. O fato ganha contornos de
fato jurídico após uma adequação dele às regras previstas em dispositivos legais. Esses
são escolhidos e interpretados no sentido que melhor cumprir a função de “fazer
justiça”. Nesses casos era muito comum a expressão: “ele tem de ficar preso pra
aprender”. A categoria “pra aprender” estava presente nos discursos dos delegados e dos
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inspetores. Entendo-a como significando uma punição, uma pena em seu sentido de
castigo. Associo essa ideia a da fala do delegado, já mencionada, que dizia que primeiro
tinha de verificar se “merece o cárcere”.
Especialmente na circunstância de haver algum registro criminal anterior à
prisão em flagrante, se transmudava a presunção de inocência, presente no discurso
legal, em presunção de periculosidade, de culpabilidade. Juízos morais eram feitos
durante todo o tempo. O uso de drogas, por exemplo, era representado como sendo feito
por um indivíduo desviante e que, enquanto tal, também era capaz de produzir algum
dano no futuro. Era um “perigoso”, um “perigo ambulante”. Tratava-se de um
julgamento moral. Quem tinha anotação era perigoso. Presumiam sua periculosidade.
Sua relação que deveria ser baseada na presunção de inocência, na prática se
transformava em presunção de culpabilidade. Uma culpa de quem “não tem mais jeito”
e que, dessa forma, era merecedor de uma punição. No caso, a punição era representada
pelo cerceamento de liberdade promovido pelo flagrante. Como me disse Mateus, um
dos delegados com que mantive interlocução: a prisão em flagrante não deveria ser uma
pena, mas é isso na verdade.
A presunção de inocência é um discurso presente na lei brasileira. É um
princípio do Direito, fundamentado no artigo 5º da Constituição de 1988 e em Tratados
Internacionais de Direitos Humanos. No entanto, a polícia, detentora de uma
sensibilidade jurídica própria, reinterpretava as legislações em nome da representação
de que deveriam “fazer justiça”. Enquanto a lei, em seu modelo racional, observa duas
modalidades de prisão (pena e processual), a norma originada a partir da sensibilidade
jurídica da Polícia Civil representava, de forma diferente, a prisão em flagrante como
pena. O Direito positivo (Código Penal, Código de Processo Penal, Lei de Execuções
Penais) apresenta a prisão-pena apenas quando há o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória. Em outros termos, quando o processo não é mais passível de
recurso. As demais modalidades são as prisões provisórias (incluindo a prisão em
flagrante, malgrado o novo sistema exija que seja brevemente convertida em
preventiva). A prisão-pena é apontada no discurso jurídico como tendo as funções
preventiva e retributiva. Já a polícia tomava a prisão em flagrante também como pena.
Usavam a cela, o cárcere, para que o indivíduo pudesse “aprender uma lição”. Por mais
que, como disse Mateus, ele soubesse que isso não era muito certo, a prisão em
flagrante era usada como uma pena. Para se verificar se essa pena deveria ser aplicada,
em um juízo moral, verificavam se o suposto autor de um fato criminoso “merecia o
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cárcere”. Depois se procedia à adequação jurídica. No discurso da Polícia Civil essa
prática tinha como objetivo “fazer justiça”. Por mais que observassem que o discurso da
lei não diz que eles devem fazê-la, desenvolviam uma representação que ganhava status
de norma, na qual cabia a polícia “fazer justiça”. Saliento que essa prisão não possuía
mero caráter pedagógico, mas retributivo e preventivo. Ao mesmo tempo em que era
uma “resposta” para aqueles que a merecem, era uma maneira de tirar da sociedade os
indivíduos que são moralmente visto como “os perigosos”, os que não têm “decência”.
O papel da fiança aqui é também uma releitura do previsto na legislação. Aplicavam um
valor que impedisse a liberdade do sujeito e, assim, se mantivesse o encarceramento da
prisão em flagrante. Combinado com isso, o delegado de polícia, muitas vezes
representava pela prisão preventiva, usando uma fundamentação jurídica que adequasse
certa verdade sobre o fato numa linguagem que permitisse o flagrante pudesse ser
convertido em prisão preventiva: comprovavam os requisitos da lei, especialmente
fazendo uso da figura da “garantia da ordem pública”. Dessa forma, a presunção de
inocência era mais um direito que não era exercido por todos: presumidos inocentes
eram os que tinham uma substância moral aparentemente digna. Os demais eram
presumidos culpados.
7. CONCLUSÃO
Nas palavras de João, um dos meus principais interlocutores, o delegado possui
um grande poder: o de decidir quem vai ser preso e quem vai ficar em liberdade. O
castigo, assim, é um ato de demonstração do poder, é uma ação eficaz que ilustra o que
é realmente o poder. As ações policiais são pautadas em uma racionalidade econômica.
Dessa forma, apresenta uma análise de risco, uma racionalidade, uma escolha, uma
determinação de alvos que leva em considerações a finalidade que se pretende ser
atingida e o custo para se chegar a essa finalidade.
David Garland (1999, p. 72) ao tratar da gestão do crime e da prisão na
Inglaterra, descreve que o governo de lá costuma proferir discursos no sentido da crença
que a prisão funciona para vários propósitos. Entre eles, que pondo os delinquentes fora
de circulação, ela os impede de cometer novos delitos. Além disso, a prisão protege a
população dos criminosos perigosos. Finalmente, a prisão – e a ameaça do
encarceramento – funcionam como elemento de dissuasão para criminosos potenciais.
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Comparativamente, observo que as justificativas policiais para buscar a manutenção das
prisões em flagrante seguem objetivos semelhantes. No entanto, aqui a ideia de um
castigo aparece ao lado das demais, propondo-se, assim, que o indivíduo seja punido e
aprenda uma lição, num sentido moralizador.
A questão da desigualdade jurídica é demonstrada em diversos trabalhos. Aqui
se apresenta nas práticas e no sistema do Código de Processo Penal. Malgrado o
discurso constitucional de que todos são iguais perante a Lei, o próprio sistema
desiguala. Situações como a do preso especial são simbólicas de uma estrutura jurídica
de desigualdade. Tomado por esse espírito, a própria interpretação da lei é feita levando
em conta que não deve ser a mesma para todos. As normas são aplicadas de forma
diferente. Como considera Kant de Lima, à polícia cabe a tarefa de selecionar quem tem
direito aos seus direitos, enquanto cidadãos, e quem não os têm. (Lima 2011b).
As pessoas moralmente categorizadas como perigosas eram vistas como
potenciais causadoras de dano num futuro indeterminado. É no mesmo espírito de
infrações penais já revogadas como a vadiagem: não se punia os fatos, mas um
indivíduo por algo que ainda não aconteceu, levando-se em consideração o perigo
potencial que certos suspeitos trazem a sociedade. Nesse sentido, a hierarquização está
presente. A liberdade se tornava uma mercadoria que era obtida através do pagamento
de fianças. Mas não era uma mercadoria acessível a todos. Ela só podia ser adquirida
por aqueles que tivessem poder econômico para pagar, uma rede de relações que
empenhe seu dinheiro no pagamento dessas fianças (rede de confiança) e por aqueles
que não estivessem sob a suspeição da polícia (os que se comportam em conformidade
com seus valores). Esse é o sentido de justiça da Polícia Civil do Rio de Janeiro: punir
os que em suas representações não são portadores de uma substância moral
característica das pessoas dignas.
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