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SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA DEFESA E CIDADANIAPOLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE RONDÔNIA
DIRETORIA DE ENSINOCADOF DE SAÚDE
PALESTRA DO DIA
TEMA: Saúde e Segurança no Trabalho
REFERÊNCIAS: BLEY, J. Z. Comportamento Seguro: a psicologia da segurança no trabalho e a educação para a prevenção de doenças e acidentes de trabalho. Curitiba: Editora Sol, 2006.BORGES, Alberto Alves. Polícia e Saúde: entrevista com o Diretor Geral de Saúde da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. BUREAU INTERNACIONAL DO TRABALHO. Introdução à Saúde e Segurança no Trabalho. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon /pdf/pub_modulos2.pdf>. Acesso em 19 de junho de 2015.COSTA, Marcos; et al. Estresse: diagnóstico dos policiais militares em uma cidade brasileira. Ver. Panam Salud Publica, v. 21, n. 4, Washington, apr/2007.MINAYO, Marília Cecília de Souza; ASSIS, Simone Gonçalves; OLIVEIRA, Raquel Vasconcelos Carvalhaes. Impacto das atividades profissionais na saúde física e mental dos policiais civis e militares do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 4, p. 2199-2209, 2011.
SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO
Na profissão policial militar, questões como exposição continuada ao perigo e a
situações estressantes, violência e riscos iminentes, escalas noturnas, horários
irregulares para alimentação, exposição constante ao sol, chuva e vento, períodos longos
em posição ortostática, torna o trabalho do policial militar extremamente desgastante, o
que pode acarretar uma sobrecarga física e emocional a este profissional, refletindo em
sua vida familiar, em sua qualidade de vida, nas relações sociais que estabelece e na sua
saúde (BORGES, 2013). Acrescenta-se a esses fatores a perda de um colega de trabalho,
locais insalubres, contato com pessoas sangrando, abordagem em pessoas com afecções
de pele, administração de recursos insuficientes ante às demandas, entre outros.
A saúde e segurança no trabalho é uma área bastante vasta que tem como
objetivos:
A promoção e a manutenção dos mais elevados níveis de bem-estar
físico, mental e social dos trabalhadores de todos os setores de atividade;
A prevenção para os trabalhadores de efeitos adversos para a saúde
decorrentes das suas condições de trabalho;
A proteção dos trabalhadores no seu emprego perante os riscos
resultantes de condições prejudiciais à saúde;
A colocação e a manutenção de trabalhadores num ambiente de trabalho
ajustado às suas necessidades físicas e mentais;
A adaptação do trabalho ao homem.
O policial militar seja em atendimento a ocorrências, seja nos demais setores,
torna-se um receptáculo das angústias alheias, em alguns casos, o policial precisa
resolver um conflito entre partes quando na verdade, ele mesmo está passando por
algum conflito interno. Tem-se que levar em consideração que o ser humano é único em
sua subjetividade e também no seu sistema fisiológico, a mesma situação será
vivenciada de forma diferente para cada membro, dependerá dos significados que ele
atribui e a forma como o corpo dele reage.
A segurança no trabalho tem recebido maior atenção em detrimento da saúde no
contexto laboral. No entanto, quando se trabalha a temática da saúde, aborda-se
conjuntamente o da segurança, uma vez que um ambiente saudável é, por definição, um
local de trabalho seguro.
Minayo; Assis e Oliveira (2011) realizou um estudo sobre o impacto das
atividades profissionais na saúde física e mental de policiais civis e militares com os
policiais do Rio de Janeiro. Em relação aos impactos na saúde física, os militares
demonstraram que 60% estavam acima de seu peso ideal; 26% já haviam sido alertados
por médicos por terem níveis de colesterol elevados. Os problemas de saúde mais
comum foram dores no pescoço ou coluna, déficit visual, dores de cabeça frequente e
problemas gastrointestinais; 16,2% tinham alguma deformidade permanente nos
membros, sendo que a maioria das lesões foram atribuídas a atividade policial; em
2004, no Rio de Janeiro, 3.450 praças e 211 oficiais foram considerados com
incapacidade física permanente ou temporária.
Já em relação aos impactos na saúde mental dos policiais militares, o estudo
demonstrou que 33,6% relataram algum tipo de sofrimento psíquico como sintomas
psicossomáticos, depressivos e de ansiedade. Cabe aqui afirmar que manifestações de
sintomas mentais podem ser somatizados, manifestando-se através de sintomas físicos.
Um dado importante do estudo de Costa et al (2007) sobre o ocorrência e fase de
estresse com 264 policiais militares de Natal – RN, demonstrou a presença de estresse
em todos os postos hierárquicos, em particular entre os oficiais superiores e
intermediários (55,6%) e os cabos e soldados (49,5%), com predominância na fase de
resistência. Nessa fase, se o estressor é eliminado, ou se técnicas de controle do estresse
são utilizadas, o organismo se restabelece e o processo do estresse termina. Caso
contrário, se a tensão se prolongar e não houver uma adaptação do organismo, o sistema
imunológico é comprometido, podendo ocorrer doenças ou mesmo a morte (COSTA et
al, 2007 apud GREENBERG, 2002)
Embora a profissão policial seja reconhecidamente uma profissão de risco, os
policiais militares, principalmente os mais jovens, são apaixonados pela profissão e
encontram nela uma fonte de prazer e de satisfação através da adrenalina gerada nas
situações de enfrentamento. Até o estresse é citado de forma positiva como fonte de
excitação para a realização do trabalho (MINAYO; ASSIS; OLIVEIRA, 2011). No
entanto, isso se torna preocupante a medida que estes policiais passam a negligenciar os
cuidados com sua segurança ou a de outrem ou ainda agir com imprudência. Cita-se
aqui os casos em que os policiais militares avançam de “peito aberto” ante a um tiroteio,
sem se abrigar, expondo suas vidas e a de seus companheiros.
Muitos dos acidentes de trabalho são cometidos por negligência, imprudência ou
imperícia.
A negligência é quando alguém deixa de tomar uma atitude ou apresentar a
conduta esperada para a situação. Age com descuido, indiferença ou desatenção, não
tomando as devidas precauções. Isso se estende à negligência com a saúde física e
mental, com a alimentação, com a observância dos equipamentos e armamentos, etc.
A Imprudência pressupõe uma ação precipitada e sem cautela. A pessoa não
deixa de fazer algo, não é uma conduta omissiva como a negligência. Na imprudência,
ela age, mas toma uma atitude diversa da esperada, muitas vezes caracterizada pela
impulsividade.
A imperícia, por sua vez, é constatada através da inaptidão, ignorância, falta de
qualificação técnica, teórica ou prática, ou ausência de conhecimentos elementares e
básicos da profissão. É o caso de policiais militares que dirigem viaturas sem estarem
habilitados tecnicamente para isso ou utilizam armamentos sabendo de sua inaptidão
para tal.
A instituição deve criar um ambiente que estimule atitudes seguras não só por
parte dos indivíduos, mas também dos pequenos grupos, das lideranças e da cúpula da
organização.
As atitudes seguras é a tendência a comportar-se de forma a prevenir doenças e
acidentes. Assim, desenvolver atitudes seguras significa criar condições para que as
pessoas conheçam os riscos, aos quais estão expostas e as formas de evitar lesões e
perdas; sintam-se identificadas com e motivadas pela ideia de que “prevenir é realmente
melhor do que remediar” e ajam de acordo com este fim. Ter atitudes seguras significa
ainda pensar, sentir e agir com segurança sempre que o indivíduo se encontrar numa
situação de risco. A segurança é responsabilidade de todos, desde o soldado mais
moderno ao mais alto escalão.
Uma vez que um policial não esteja gozando de boa saúde mental não prezará
pela própria segurança ou a de outrem e isso refletirá no seu comprometimento com o
trabalho, na sua qualidade de vida e nos serviços prestados à sociedade.
Tanto a promoção de saúde quanto a prevenção de doenças e acidentes no
contexto laboral podem ser estimulados através de: educação para a prevenção que
privilegie a obediências às regras e a autonomia para que o indivíduo, dentro das regras
estabelecidas, tenha liberdade para tomar as atitudes mais convenientes à situação;
treinamento que simule situações mais próximas do real, após o levantamento de
necessidades e que alie teoria à prática; orientação dos trabalhadores para a construção
de uma consciência crítica que proporcione ao trabalhador uma maior capacidade de
compreender, criticar e intervir sobre a sua realidade de trabalho, transformando-a. E,
acrescento, estimular os policiais a cuidarem de sua saúde física e mental de forma
preventiva.
São considerados educadores no contexto do trabalho todo aquele que se dedicar
a favorecer o desenvolvimento pessoal e profissional daqueles que estão a ele
interligados, influenciando e sendo por eles influenciado. São os indivíduos envolvidos
no processo, as melhores pessoas para apontarem as necessidades a serem trabalhadas.
A profissão policial militar é uma profissão de risco iminente. Por mais que
hajam treinamentos, o momento de atuação do policial em ocorrência demandará além
de suas habilidades técnicas, controle emocional e criatividade.
O militarismo e as adversidades encontradas na profissão nos tornam, por vezes
imunes a emoções, mas não podemos perder jamais a capacidade de nos colocar no
lugar do outro, para compreender melhor suas dificuldades.
Porto Velho-RO, 22 de Junho de 2015
MARCIA FRACNISCA DA COSTA DO NASCIMENTO
AL OF PM 06