parque Águas do cerrado
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TCC- ARQUITETURA E URBANISMO UFMS. PARQUE REGIONAL ÁGUAS DO CERRADOTRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
ANA PAULA PASTORELLO CRISTALDO
Campo Grande -MS
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
ANA PAULA PASTORELLO CRISTALDO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso
de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ciências
Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, como pré-requisito para obtenção do
título de Arquiteto e Urbanista.
Orientadora: Profª Dra. Eliane Guaraldo
Campo Grande - MS
2012
FOLHA DE APROVAÇÃO
Autora: Ana Paula Pastorello Cristaldo
Título: PARQUE ÁGUAS DO CERRADO
Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo defendido e aprovado em
20/02/2013, pela banca composta por:
____________________________________________________________________
Prof. Drª. Eliane Guaraldo (orientadora)
Curso de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Gutemberg dos Santos Weingartner
Curso de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
____________________________________________________________________
Jussara Basso
Arquiteta e Urbanista
__________________________________
Prof. Dr. Andrea Naguissa Yuba
Coordenador(a) do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Dedico a minha família, meus amigos e colegas de
faculdade, que com muito esforço enfrentaram
juntos esses anos de batalha.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus.
Agradeço aos meus pais e meu irmão, pelo apoio e compreensão. Sem eles nada
disso seria possível.
Agradeço a Vivi, uma amizade para ter a vida toda.
Agradeço aos meus queridos amigos Cynara, Veronica, Marlon, Nanny, Laís e
Fernando. Grandes responsáveis por tornarem essa longa caminhada mais fácil e agradável.
Agradeço, em especial, à Eliane Guaraldo pelas horas de dedicação, ajuda e
paciência, sem a qual este trabalho não estaria concluído.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ iii
RESUMO ................................................................................................................... iv
ABSTRACT ............................................................................................................... v
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1
1.2 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................................ 2
1.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 2
1.2 METODOLOGIA ....................................................................................................... 3
2 O HOMEM E A NATUREZA ................................................................................. 4
2.1 HISTÓRICO DE PARQUES ...................................................................................... 6
2.1.1 EUROPA ..................................................................................................................... 6
2.1.2 ESTADOS UNIDOS ................................................................................................... 7
2.2 PARQUES REGIONAIS ............................................................................................ 8
2.3 ESPAÇOS LIVRES ARBORIZADOS- REFERÊNCIAS PROJETUAIS ................ 10
2.3.1 JARDIM BOTÂNICO DE SÃO PAULO ................................................................. 10
2.3.2 INHOTIM .................................................................................................................. 11
2.3.3 JARDIM BOTÂNICO DE LONDRINA ................................................................... 16
2.3.4 PROJETO PARQUE ECOLÓGICO NORTE DE BRASÍLIA (PqEN) .................... 17
3 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL (APA) .......................................... 20
3.1 ORIGENS E CONTEXTUALIZAÇÃO DO CONCEITO DE APA ........................ 20
4 ASPECTOS DÁ AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BÁCIA DO
CÓRREGO CEROULA- APA DO CEROULA .................................................................. 36
4.1 CRIAÇÃO ................................................................................................................. 26
4.2 LOCALIZAÇÃO E INSERÇÃO REGIONAL ......................................................... 28
4.3 CONDICIONATES FISICAS ................................................................................... 31
4.3.1 HIDROGRAFIA ........................................................................................................ 31
4.3.2 SOLOS ....................................................................................................................... 35
4.3.3 VEGETAÇÃO ........................................................................................................... 37
5 PROJETO: PARQUE ÁGUAS DO CERRADO .................................................. 39
5.1 SOBRE A DENOMINAÇÃO DO PARQUE ............................................................ 39
5.2 ASPECTOS REFERENTES AO USO DO SOLO .................................................... 39
5.3 BREVE HISTÓRICO DO INFERNINHO ................................................................ 42
5.5 IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, SOLUÇÕES E PARTIDO ................................. 43
6 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 50
7 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO .................................................................... 51
i
LISTA DE FIGURAS
Capítulo 2
Figura 1- Planta Regents Park .................................................................................................... 7
Figura 2- Foto Regents Park Atualmente .................................................................................. 7
Figura 3- Alameda de Palmeiras ............................................................................................ 10
Figura 4- Vistas das estufas do Jardim Botânico ...................................................................... 10
Figura 5- Interior estufa Mata Atlântica ................................................................................... 10
Figura 6- Trilha Elevada ........................................................................................................... 10
Figura 7- Imagem Aérea Inhotim ............................................................................................. 12
Figura 8- Galeria Adriana Varejão ........................................................................................... 13
Figura 9- Galeria True Rouge ................................................................................................... 13
Figura 10– Galeria Miguel Rio Branco .................................................................................... 13
Figura 11 – Galeria Som da Terra ............................................................................................ 13
Figura 12 – Agrupamento de Palmeiras. .................................................................................. 13
Figura 13- Orquidário ............................................................................................................... 13
Figura 14- Obra ao ar livre ....................................................................................................... 14
Figura 15- Obra ao livre ........................................................................................................... 14
Figura 16- Terraço do Centro de Educação Ambiental ............................................................ 14
Figura 17- Espaço de descanso e contemplação descanso ....................................................... 14
Figura 18- Mapa Inhotim .......................................................................................................... 15
Figura 19- Implantação ............................................................................................................. 16
Figura 20- Arboreto e Jardins Temáticos ................................................................................. 16
Figura 21- Lagos e Administração ........................................................................................... 16
Figura 22- Estufas, Lago e Pórtico de Acesso .......................................................................... 16
Figura 23- Planta PqEN ............................................................................................................ 17
Figura 24- Espaço de descanso e contemplação descanso ....................................................... 18
Figura 25- Vegetação................................................................................................................ 19
Figura 26- Setores ..................................................................................................................... 19
Figura 27- Fases de implantação .............................................................................................. 19
Figura 28- Estufas dos ecossistemas brasileiros ....................................................................... 19
Capítulo 3
Figura 29- Carta Imagem Área de Proteção Ambiental de Petrópolis- RJ ............................... 22
Figura 30- Áreas Protegidas (UCs e Terras Indígenas) e Assentamento em MS ..................... 24
ii
Figura 31- APAs localizadas no município de Campo Grande ................................................ 25
Capítulo 4
Figura 32- APA em relação ao munícipio de Campo Grande e sua região urbana .................................... 27
Figura 33- Localização APA do Ceroula ................................................................................. 29
Figura 34- Cobertura vegetal de Mato Grosso do Sul e biomas ............................................... 30
Figura 35- Bacia do Córrego Ceroula no contexto dos municípios ........................................ 32
Figura 36- Limite APA do Ceroula e Bacia geolocalizados .................................................... 33
Figura 37- Mapa Hidrográfico APA do Ceroula ...................................................................... 34
Figura 38- Mapa tipos solo APA do Ceroula ........................................................................... 36
Figura 39- Mapa vegetações existentes APA do Ceroula ........................................................ 38
Capítulo 5
Figura 40- Uso do solo ............................................................................................................. 39
Figura 41- Gráfico mostrando a predominância de pequenas propriedades ........................... 40
Figura 42- Gráfico mostrando a predominância de áreas com pastagem plantada .................. 41
Figura 43- Vôo livre ................................................................................................................. 41
Figura 44- Produção de mussarela em minifúndio ................................................................... 41
Figura 45- Turismo rural .......................................................................................................... 42
Figura 46- Grande fazenda destinada à agropecuária ............................................................... 42
Figura 47- Mapa delimitações .................................................................................................. 42
Figura 48- Área de Intervenção ................................................................................................ 42
Figura 49- Inferninho ............................................................................................................... 43
Figura 50- Ruínas da usina ....................................................................................................... 43
iii
RESUMO
O presente trabalho é o estudo da implantação de um Parque Regional no município de
Campo Grande - MS. O local de intervenção é uma ampla área localizada fora do contexto
urbano, inserida em uma área de preservação ambiental, APA do Ceroula. Para isso fizeram-
se necessárias pesquisas de referenciais conceituais e de projeto para elaboração da proposta
arquitetônico urbanística. Os capítulos iniciais abordam aspectos referentes aos espaços livres
arborizados, sendo eles parques urbanos e parques regionais, ponderando sobre sua história,
desenvolvimento e conceito, além de ressaltar sua importância em relação à vida humana.
Também apresenta referências projetuais que foram de grande significância para elaboração
do mesmo. Em seguida expõe informações a respeito das Unidades de Conservação (UCs),
com enfoque nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e mostra dados significativos da APA
do Ceroula e da região conhecida popularmente como “Inferninho”, onde esta inserida a
proposta. Por fim, é traçada uma análise da área com a finalidade de identificar seus
problemas e as potencialidades a serem evidenciadas, assim como as diretrizes a serem
seguidas de forma a possibilitar na conclusão dessa monografia o projeto do Parque Águas do
Cerrado.
Palavras-chave: parque, APA do Ceroula , “Inferninho”, paisagem e preservação ambiental
iv
ABSTRACT
The present work is an implementation study of a regional park in the city of Campo Grande-
MS. The intervention local is an extensive area located outside the urban settings, which is
inserted in an environmentally protected area, the Ceroula’s APA. Therefore, it was necessary
to research theoretical references in order to elaborate the project. So, the initial chapter deal
with the aspects related to wooded open spaces, as parks and regional parks, discuss its
history, development and concept, and emphasizes its high value for human life. Also
presents some project references that were of great importance for its development. Then
exposes information about the Conservation Units, focusing on Environmental Protection
Areas (APAs) and about some meaningful data on Ceroula’s Environmental Protection Area
and the area usually known as "Inferninho" ( in English, Little Hell), where the proposal is
located. At last, the area is analyzed in order to identify their problems and the potential to be
evidenced, as are guidelines to be followed in order to make possible, at the end of this essay,
a park proposal named as “Águas do Cerrado.”
Key words: park, “Ceroula’s APA”, landscape, park and environmental preservation.
v
1
1. INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade com vastas preocupações nos problemas de degradação
ambiental, sejam referentes à poluição, energia, plantas e animais em extinção ou paisagens
naturais e de produção. Contudo ainda é notável uma grande propensão a “passar por cima”
do meio ambiente, inclusive onde a maior parte da população reside (na própria cidade), onde
com frequência os objetivos prevalecidos acabam sendo mais econômicos do que sociais ou
ambientais.
Com a grande expansão urbana uma significante parcela da sociedade passou a buscar
o contato com natureza, que muitas vezes é negado nas cidades, em refúgios naturais. No
Brasil, apenas no inicio dos anos 80 surge uma consciência ecológica, a qual reconhece a
importância dos espaços livres e arborizados. Aliando a necessidade de preservação,
conservação, lazer e contato com a natureza, surge a proposta de criação de um Parque
Regional na região conhecida popularmente como “Inferninho”, no município de Campo
Grande-MS, a qual apesar de fazer parte de uma Área de Proteção Ambiental e de possuir
paisagens cênicas e de grande importância ambiental como ecossistema, e até histórica, por
contar com a presença das ruínas da primeira e única usina hidrelétrica de Campo Grande, foi
e continua sendo grandemente desmatada em prol da agropecuária. Não obstante, também é
constante alvo de depósito de lixo por turistas e moradores da região que frequentam o local e
de acidentes devido à inexistência de qualquer estrutura de apoio que garanta a segurança às
atividades lá realizadas, como banho nas cachoeiras ou prática de esportes radicais.
Este trabalho de conclusão de curso trata de um projeto de espaço livre, que objetiva
minimizar a influência antrópica através da recuperação da área descrita, assim como uma
alternativa para lazer, educação e apropriação da paisagem à população de Campo Grande e
cidades vizinhas.
Os elementos textuais se dividem em cinco capítulos, sendo iniciados pela introdução;
o segundo capítulo trata das questões históricas e de contextualização da relação entre o
homem e a natureza com enfoque nos parques; o terceiro abrange os conceitos gerais das
Unidades de Conservação em especial, das Áreas de Preservação Ambiental- APAs; o quarto
descreve os aspectos relevantes tanto à APA onde a proposta esta inserida e por fim, o quinto
capítulo denominado Parque Águas do Cerrado trata do projeto, explicando sobre o terreno,
análises, estudos e programa realizados para sua elaboração.
2
1.1 JUSTIFICATIVA
Este trabalho justifica-se pela importância de espaços que proporcionem lazer, cultura
e a integração com natureza, tendo em vista a emergente busca por esses espaços, além de
contribuindo para o equilíbrio entre a urbanização e a proteção do meio ambiente. Faz-se
também necessário nos sentidos de minimizar a carência de atividades turísticas existentes no
munícipio de Campo Grande e no sentido de promover o reconhecimento da necessidade de
recuperação dos recursos naturais dessa área, através da ampliação do uso e da apropriação,
pois para preservar é importante “conhecer”. Nesse sentido também se valida pelos aspectos
educacionais, através da apreciação, aprendizagem e pesquisa obre a flora local, nativa e
proposta. Sendo assim, o Parque Regional, teria muito a contribuir nesses aspectos.
1.2 OBJETIVOS GERAIS
Estudar a relevância dos parques na compreensão da paisagem e seus aspectos
ambientais e sociais, visando à sua elaboração como alternativa de lazer à população sul
mato-grossense.
1.2.1 OBJETIVOSESPECÍFICOS
Analisar a influência do Parque Regional no contexto das cidades;
Estabelecer uma relação adequada entre os usos propostos de forma a promover
a conservação, recuperação e preservação do local;
Estudar o conceito de espaços livres para a atitude projetual, principalmente na
realidade brasileira e seus biomas;
Analisar as referências e suas determinantes para elaboração e compreensão do
processo de projeto da paisagem;
Estudar aspectos históricos, determinantes físicos e de plantio da região de
intervenção;
Evidenciar a identidade do local com a escolha de espécies nativas;
Melhorar a maneira como o local é percebido pela população, muitos não sabem
de sua existência ou associam o local aos antigos crimes ali cometidos no
passado;
Propor instrumentos de apoio às atividades a serem realizadas, através da
avaliação das necessidades existentes;
Evidenciar a importância da integração da natureza com o homem.
3
1.2 METODOLOGIA
A metodologia consistiu na busca de publicações e trabalhos técnicos, científicos,
de conclusão de curso, legislações e projetos referentes aos conceitos de história, evolução,
planejamento e desenho da paisagem, relacionados direta ou indiretamente ao tema Parques
Regionais. Também foram realizados levantamentos de dados a partir de outras fontes, como:
a) Documentação técnica de órgãos públicos, tais como: Instituto
Municipal de Planejamento Urbano- PLANURB e Secretária Municipal de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Urbano - SEMADUR;
b) Visitas ao local e entorno para coleta de dados: identificação do
estado de preservação e depredação dos recursos naturais e conhecer detalhes da
ocupação e entorno que inclui registro fotográfico;
a) Visitas a algumas áreas verdes similares em escala, inserção e
alcance, relevantes para referências de projeto.
4
2. O HOMEM E A NATUREZA
O solo é um dos bens mais preciosos do mundo e as questões relevantes ao seu
planejamento de uso e conservação são fundamentais.
O solo torna-se paisagem quando visto em termos descritos ou referentesàs suas
peculiaridades fisiográficas e ambientais. A paisagem muda de acordo com essas
características e influencias históricas do homem. Consequentemente, a paisagem é
um reflexo dos sistemas climáticos, naturais e sociais. (LAURIE, 1983, p. 11,
tradução da autora)
Para a sociedade, elas existem desde as antigas civilizações da China, Egito e
Oriente Médio que já possuiam um planejamento e distribuição conscientes da terra com
objetivos agrícolas e sociais. No Oriente, as plantações de arroz em terraços escalonados e
em Tebas, os primeiros jardins particulares que temos consciência são claros exemplos que
provam uma manipulação intencional da paisagem. Inevitavelmente, nosso enfoque à um uso
de solo e aos desenhos atuais acabam sendo condicionados por esses resíduos de experiência,
tradição e aprendizado, assim como nossa percepção da paisagem e a postura que temos
diante da natureza são influenciadas pelo contexto particular em que temos crescido e pela
sociedade que vivemos no momento atual.
As palavras planejamento, desenho e uso nos sugerem uma paisagem feita e
controlada pelo homem, mas sabemos que não é exatamente assim, e que existem graus de
adaptação dos sistemas naturais pelo homem. Por exemplo, os índios da Califórnia apenas
modificavam ou alteravam elementos da paisagem onde viviam, diferentemente dos impactos
causados nas metrópoles que são manifestados a todo tempo . Em ambos os casos é possível
relacionar o uso da terra pelo homem com vista ao crescimento de cultivos e aumento de
recursos. Ou seja, o ser humano gerou sua ação sobre a Terra em diferentes graus e
tecnologias mais variadas.
Para Gutkind, 1952 (apud Laurie, 1983) a relação homem-natureza se divide
em três períodos. A primeira fase se caracteriza pelo medo das forças ocultas da natureza,
junto com o desejo de segurança. Esse é o modelo mais generalizado nas sociedades
primitivas que formavam grupos autossuficientes com a moradia e a agricultura, onde o
indivíduo reconhecia a necessidade de outros indivíduos para cooperar em sua vivência. A
5
relação dessas sociedades primitivas com a paisagem em que trabalham e vivem é muito
direta.
Na segunda fase é observado um aumento da confiança em si mesmo
condizente a uma adaptação mais radical do entorno, tendo em vista necessidades diferentes.
Contudo, o homem aceita o desafio da natureza por meio da disciplina. Nessa fase as pessoas
atuam com a natureza com base na compreensão de seus processos e sabendo conhecer as
limitações do homem na hora de manipularas. A paisagem é encarada como um meio e se
sabe que a continuidade da produção da colheita anual depende da fertilização e de uma boa
organização dos campos. Exemplos físicos dessa fase são os terraços e campos de arroz da
China e Oriente a regularização de rios para irrigação de cultivos nas antigas civilizações do
Oriente Médio, as pirâmides e templos do Egito. Respondem a mesmo tipo os povos
medievais com a sua igreja, seu castelo e uma tortuosa trama viária que trabalha intimamente
as características fisiográficas do lugar.
A terceira fase se trata de uma fase de agressão e conquista. A adequação ao
entorno, característica da segunda fase, é substituída pela exploração e consumo dos recursos
naturais e simbolizada pela expansão urbana de nossos dias. Resultado de uma
despersonalização da natureza através da especialização cientifica.
Sendo assim, os valores tradicionais que moldaram a paisagem das nossas cidades
pouco contribuíram para saúde mental das mesmas. Há, portanto, a necessidade de aplicação
de um pensamento urbano preocupado com as questões energéticas, o meio ambiente, a
preservação e conservação dos recursos naturais.
Já a quarta fase se projeta no futuro e é descrita como uma época de
responsabilidade e unidade através da percepção do funcionamento da natureza, cuja
consequência seja a consciência social e uma sensível adaptação às condições ambientais.
A realidade não é (autentica) realidade sem o homem, assim como não é (somente)
realidade do homem. É realidade da natureza como totalidade absoluta, que é
independente não só da consciência do homem, mas também da sua existência, e é
realidade do homem que na natureza e como parte da natureza cria a realidade
humano-social, que ultrapassa a natureza e na historia define o próprio lugar no
universo. O homem não vive em duas esferas diferentes, não habita por uma parte de
seu ser, na historia, e pela outra, na natureza. Como homem ele está junto e
concomitantemente na natureza e na história. Como ser histórico e, portanto,
social, ele humaniza a natureza, mas também a conhece e reconhece como totalidade
absoluta, como causa sui suficiente a si mesma, como condição e pressuposto da
humanização. Em todas as variantes da posição humana diante da natureza, em
todos os progressos do domínio e do conhecimento humano dos processos naturais,
6
a natureza continua a existir como totalidade absoluta. Na indústria, na técnica, na
ciência e na cultura, a natureza existe para o homem como natureza humanizada.
(KOSIK apud MAGNOLI, 2006).
2.1 HISTÓRICO DE PARQUES
2.1.1 Europa
Nas civilizações grega e romana existiam espaços de ar livre cujas origens vinham
do antigo mercado (Ágora na Grécia e o Fórum em Roma), o ginásio para os atletas e os
lugares sagrados para o entretenimento. Cada um deles se desenhava e escolhia para uma
finalidade específica. No interior das cidades não se desfrutava de zonas de parques públicos
como os que possuímos agora, ou seja, sem função com exceção do lazer. Somente em
ocasiões especiais, quando as propriedades privadas abriam suas portas para o público, este
tinha a oportunidade de desfrutar de beleza de um jardim.
As vilas europeias na idade média estavam densamente povoadas, mas suas
reduzidas dimensões tinham a vantagem que era possível acessar sem o esforço o campo
aberto e o ar livre. Embora o espaço fosse limitado, também era a necessidade de reservar
uma zona como centro de diversão. O mercado e as escadas das igrejas que davam as praças
constituíam o único espaço aberto onde as pessoas podiam reunir-se. A praça da igreja era
utilizada para apresentações simbólicas ou religiosas e o mercado era utilizado para venda e
trocas de mercadorias.
No renascimento europeu se observava como frequentemente os jardins
privados abriam suas portas ao público. Os jardins reais que ocupavam grandes extensões de
terras em Londres também eram de livre acesso ao povo e esse exemplo era também seguido
em outras capitais reais. Essas cidades generosamente dotadas de parques se distinguiam por
desfrutar de uma quantidade considerável de terrenos destinados a parques, porém sua
localização e planejamento não tinham relação com as necessidades da população. Apenas no
século XVIII esta distribuição se modificou para converter-se na paisagem que conhecemos
hoje em dia.
Segundo Lamas (apud FRANCO, 1997, pg.80) é no período clássico barroco que
se estrutura a arte do paisagismo como um campo especifico da arquitetura e do planejamento
urbano.
7
Em 1810 o Regents Park foi projeto por John Nash, propriedade da Coroa, que era
parte pública e parte privada, abordagem que aumentou o valor e o atrativo daquela zona. O
parque se ajustou as normas de estilo paisagista, com lagos e jardins que pareciam tirados de
uma propriedade particular, tanto por seu caráter como por sua escala.
Figura 1: PLANTA REGENTS PARK
Fonte: http://www.royalparks.org.uk/parks/the-
regents-park
Figura 2: FOTO REGENTS PARK ATUALMENTE
Fonte: http://www.royalparks.org.uk/parks/the-regents-
park
2.1.2 Estados Unidos
Nos Estados Unidos não existia tradição nenhuma relacionada a parques
municipais. Em algumas cidades cuja expansão se direcionou por um plano, como Filadélfia e
Savana é fácil encontrar praças onde foram plantadas árvores no estilo georgiano de Londres.
Essas praças, apesar de não serem propriamente parques públicos eram reservadas aos
moradores do entorno, significa que as áreas verdes haviam atingido às cidades.
Segundo Laurie (1983, pg. 99) no século XIX o tema de parques públicos se
solidificou com as mesmas premissas que regiam a reforma de edifícios. Quatro pontos
essenciais dominavam a questão: A saúde pública, a moral das pessoas, a trajetória do
movimento romântico e a situação econômica.
A preocupação com a saúde publica motivada a reforma de moradias e a melhora
em instalações de saneamento e despejo de águas, ao mesmo o conjunto de medidas era
somado a função dos parques de purificação do ar, fazer exercícios e descansar. A mesma
preocupação resultou na criação de moradias de pessoas no campo, levando a habitação de
inúmeras pessoas nos Estados Unidos nos subúrbios.
8
Para Franco (1997, pg. 83) O trabalho de Olmstead inspirou a criação de
numerosos parques nacionais nos Estados Unidos e em todo o mundo, além de mudar o
conceito de qualidade ambiental urbana, com a criação de vários parques em cidades como
Nova York.
Os surgimentos dos parques urbanos e da busca pelo verde acabaram inspirando a
conhecida criação de Ebnezer Howard, “A cidade Jardim” e seus conhecidos
desenvolvimentos na história do urbanismo. Finalizo assim, com algumas definições:
Para Rosa Grena Kliass (1993), “os parques são espaços públicos com dimensões
significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal,
destinados à recreação”.
Já Frederick Law Olmsted (apud SCALISE, 2002) associa os parques aos cenários
ao afirmar: "Reservo a palavra parque para lugares com amplitude e espaço suficientes e com
todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles daquilo que pode ser
encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem, no seu sentido mais antigo e radical,
naquilo que os aproxima muito de cenário”.
2.2 PARQUES REGIONAIS
Segundo Clawson (apud MAGNOLI, 2006, p. 140) O espaço livre é todo espaço
não ocupado por um volume edificado (espaço-solo, espaço-água, espaço-luz ao redor das
edificações a que as pessoas têm acesso) e divide-se nas seguintes funções:
• propiciar perspectivas e vistas do cenário urbano;
• propiciar recreação no mais lato sentido do termo, com amplo de atividades específicas;
• propiciar proteção ecológica a valores importantes, como recarga de água do subsolo,
prevenção de inundações, preservação de áreas excepcionais e similares;
• servir como dispositivo ou influencia para a morfologia urbana, de tal forma que parte de
um extenso aglomerado seja identificado de suas vizinhanças;
• preservar presentemente áreas sem utilização para usos futuros.
9
A apropriação dos espaços pelo homem para suas necessidades e atividades se dá
em âmbitos locais, setoriais, urbanos, metropolitanos, sub-regionais ou regionais em função
da proximidade espacial. A proximidade espacial demanda permeabilidade entre os espaços
por meios diversos de locomoção. Logo, a distribuição de espaços livres (sistema de parques)
para serem apropriados pelo homem fica vinculada aos acessos disponíveis em cada uma das
escalas de urbanização, e à frequência dos usuários. A apropriação dos mesmos em sentido
amplo diz respeito à duração e periodicidade de tempo gastos no local. Isso condiz, ainda que
esquematicamente, aos usos diários, semanais, de feriados, de férias curtas ou prolongadas.
Então, é pela relação entre o uso diário e a duração reduzida que é possível diferenciar
espaços que devem estar próximos da habitação, de nível local e quais os espaços de
atividades de longa duração, em que tempo de acesso não possui muita interferência,
permitindo localizações regionais.
O atendimento do usuário nas múltiplas escalas de urbanização e a diversidade de
apropriação em atividades variadas, específicas ou não, “ativas” ou “passivas”, para todos os
cidadãos, em idade, sexo, isolados ou em grupos, leva à distribuição de espaços diversificados
no interior, na periferia e no exterior da mancha urbana. Diversificados em configuração, em
acessibilidade, em desenho e em manutenção. (MAGNOLI, Miranda Martinelli. O parque no
desenho urbano. Paisagem ambiente, São Paulo, n. 21, 2006)
Falcón (2007, pg. 44) na sua publicação Espacios Verdes para una Ciudad
Sostenible, destaca a importância dos parques e bosques que se encontram situados ao redor
das grandes cidades e que, em sua maioria, consistem em espaços naturais formados por
densas áreas de vegetação e de considerável extensão. Esses parques e bosques além de
funcionarem como reservas da paisagem e dos recursos naturais constituem um ponto de
atração para os habitantes das cidades. Também podem servir como laboratórios e espaços de
aprendizagem, pois podem possuir equipamentos especiais em seu programa, que permitem o
conhecimento de diferentes comunidades de flora e fauna.
O parque regional também deve atuar como espaço de lazer, porém como nem
todas as pessoas estão interessadas em conhecer os aspectos da natureza as ofertas lúdicas se
fazem necessárias. Destacam-se as que as que permitem passar o dia ao ar livre, como: as
áreas de piquenique, áreas de jogos infantis, esportes, restaurantes, alugueis de bicicletas,
entre outros.
10
2.3 ESPAÇOS LIVRES ARBORIZADOS- REFERÊNCIAS PROJETUAIS
2.3.1 Jardim Botânico de São Paulo
O Jardim Botânico de São Paulo foi fundado em 1928 e possui em torno de 36
hectares abertos à visitação pública. Está localizado no Parque Estadual das Fontes Ipiranga,
Água Funda, uma reserva com remanescente de Mata Atlântica. No final do século XXI, sua
área, uma vasta região com mata nativa, era ocupada por sítios e chácaras. Visando a
recuperação da vegetação, a utilização dos recursos hídricos e a preservação das nascentes do
Riacho do Ipiranga, iniciou-se, em1893, uma série de desapropriações na área, por ordem do
Governo do Estado, que o toma para si em 1917.
Figura 3: ALAMEDA DE PALMEIRAS Figura 4: VISTA DAS ESTUFAS DO JARDIM
BOTÂNICO
Figura 5: INTERIOR DA ESTUFA MATA
ATLÂNTICA
Figura 6: TRILHA ELEVADA
Acervo pessoal
11
Até 1928 o local serviu para captação de águas, que abasteciam o bairro do Ipiranga.
Nesse mesmo ano, o naturalista Frederico Carlos Hoehne foi convidado para implantar um
jardim botânico na região. O local mantém hoje vários recantos que convidam as pessoas ao
relaxamento e à admiração das plantas de variadas formas de flores, frutos, caules e
folhagens.
A entrada do Jardim é composta por uma alameda de palmeiras jerivá, ladeada
por bancos e pérgolas com trepadeiras floríferas. Mais adiante se encontra o Jardim de Lineu
inspirado no Jardim de Uppsala, na Suécia, com duas estufas monumentais (uma da mata
atlântica e outra, recém-inaugurada, do cerrado) que permitem aos visitantes de todas as
faixas etárias e níveis de escolaridade o aprendizado sobre os biomas de maneira lúdica e
interativa. Mais interiormente no Jardim existe um lago com ninféas, plantas aquáticas da
família da vitória-régia.
Outras atrações existentes são os bosques temáticos de pau-brasil, de imbúias e de
palmiteiros, a Alameda Von Martius com aléias de palmeiras reais, o túnel de bambus, o
castelinho das crianças, uma coleções de espécies arbóreas nativas e exóticas, um museu de
botânica, um orquidário, um jardim sensorial, um restaurante, diversos lagos (formados pelas
nascentes do riacho) e trilhas na vegetação natural , sendo uma delas elevada por decks de
madeira a qual leva o visitante até uma das nascentes que formam o Riacho do Ipiranga.
2.3.2 INHOTIM
O instituo Inhotim localiza-se na cidade de Brumadinho-MG e fica à
aproximadamente 60 km de Belo Horizonte. Esta inserido dentro do domínio da mata
atlântica, mas com partes de cerrado nos topos das serras. Sua área total é de 786 ha, sendo
440,16 ha área de preservação ambiental (compreendidos entre fragmentos de mata e incluem
a Reserva Particular do Patrimônio Natural- RPPN, que possui 145,37 ha). Sua área de
visitação compreende jardins, galerias, edificações e fragmentos de mata, possuindo
atualmente uma extensão de 96,87 ha. Possui ainda cinco lagos ornamentais com
aproximadamente 3,5 hectares de lâmina d'água.
12
Figura 7: IMAGEM AÉREA INHOTIM
Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=centro-educativo-burle-marx-–-inhotim
Foi concebido pelo empresário Bernardo Paz em meados da década de 1980. Em
1984, o local recebeu a visita do paisagista Roberto Burle Marx, que apresentou algumas
sugestões e colaborações para os jardins. Desde então, o projeto paisagístico cresceu e passou
por várias modificações.
O local foi se transformando com o tempo. Um grande espaço cultural começou a
nascer, com a construção das primeiras edificações destinadas a receber obras de arte
contemporânea.
Atualmente conta com 10 galerias espalhadas por seu parque ambiental, como:
Fonte, Praça, True Rouge, Mata, Cildo Meireles, Adriana Varejão, Doris Salcedo, Lago,
Marcenaria. Pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações de renomados
artistas brasileiros e internacionais são exibidos nas mesmas.
Nenhuma das galerias é igual à outra, porém todas tem em comum a integração da
obra com seu entorno, quase como fizessem parte da própria paisagem natural se adaptando
ao espaço. As galerias, no geral, são compostas por linhas retas e exibem formas geométricas
com fachadas cegas ou cobertas por vidros. Outra característica marcante é a presença de
grandes áreas em balanço.
13
Figura 8: GALERIA ADRIANA VAREJÃO Figura 9: GALERIA TRUE ROUGE
Figura 10: MIGUEL RIO BRANCO Figura 11: GALERIA SOM DA TERRA
Acervo pessoal
Além disso, possui um grande acervo botânico, consolidado a partir de 2005 com
o resgate e a introdução de coleções botânicas de diferentes partes do Brasil e com foco nas
espécies nativas. O trabalho de composição das paisagens em Inhotim obedece a critérios
como adaptabilidade e funcionalidade. É hoje, no Brasil, um dos mais importantes parques
tropicais em termos de diversidade e quantidade de coleções botânicas. Ainda que o
paisagismo no Inhotim não possa ser enquadrado em um estilo único, alguns princípios
podem ser observados. A preferência pelo uso de grandes maciços ou manchas de espécies é
um dos princípios, que tira vantagem do efeito causado pelo agrupamento.
Figura 12: AGRUPAMENTO DE PALMEIRAS Figura 13: ORQUIDÁRIO
Acervo pessoal
14
Também são muito utilizadas curvas, passagens e descontinuidades que,
subitamente, exibem novas perspectivas. Ao caminhar pelas diversas alamedas e passagens, o
visitante se surpreende constantemente com os ambientes que se criam e se descortinam
sucessivamente, alternando espaços de passagem e contemplação.
Figura 14: OBRA AO AR LIVRE Figura 15: OBRA AO AR LIVRE
Figura 16: TERRAÇO DO CENTRO DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Figura 17: ESPAÇO DE DESCANÇO E
CONTEMPLAÇÃO DESCANÇO Acervo pessoal
No aspecto de educação, possui um Viveiro Educador que abrange uma área de
aproximadamente 25.000 m², voltada para a manutenção do acervo botânico, pesquisa
científica, conservação e educação ambiental. Hoje esse acervo conta com mais de 4.800
espécies, distribuídas em 167 famílias botânicas, dentre as quais se destacam arecaceae
(família das palmeiras), araceae (imbés, antúrios, copo-de-leite) e orchidaceae (orquídeas).
15
Figura 18: MAPA INHOTIM
Fonte:http://www.inhotim.org.br/index.php/p/v/209-341
16
2.3.3 JARDIM BOTÂNICO DE LONDRINA
O projeto conta com uma área de 971.300 m² e localiza-se na região sul de
Londrina- PR. Seu programa abrange uma série de jardins temáticos que representam as
formas, cores, estruturas de vegetação exóticas pertencentes a diversos países e etnias, além
de aliar a pesquisa, a conservação e a preservação da natureza com coleções de plantas vivas e
cientificamente reconhecidas. Também propõe um insetário, lagos, edifícios administrativos,
estufas, restaurante, loja, praças, passarelas e fontes interativas. No total serão cerca de 11 km
de pistas pavimentadas para caminhada e passeio, inclusive para portadores de necessidades
especiais e 5 km de ciclovias. O projeto foi elaborado pelo escritório de arquitetura Slomp e
Busarelo e buscou fazer uso das características próprias do terreno, intensificando algumas
situações já existes, como a presença do lago.
O mesmo foi executado parcialmente e há pouco retornou as obras.
Figura 19: IMPLANTAÇÃO Figura 20: ARBORETO E JARDINS TEMÁTICOS
Figura 21: LAGO E ADMINISTRAÇÃO Figura 22: ESTUFAS, LAGO E PÓRTICO DE
ACESSO Fonte: http://www.slompbusarello.com.br/
17
2.3.4 PROJETO PARA O PARQUE ECOLÓGICO NORTE DE BRASÍLIA (PqEN)
O Projeto para o Parque Ecológico Norte de Brasília situa-se na Asa Norte do seu
plano piloto e possui cerca de 180 ha. O projeto foi vencedor do concurso nacional de estudos
preliminares para a área citada, promovido pela Secretária de Meio Ambiente e Tecnologia-
Sematec e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil- IAB em 1991.
O PqEN, compõe junto ao outro grande parque de Brasília, o Parque da
Cidade,uma longa faixa destinada à áreas verdes que acompanha o desenvolvimento norte-
sul, linear, conforme desenvolvido pelo original plano piloto de Lucio Costa.
Figura 23: PLANTA PqEN
Fonte: FRANCO, 1997
A denominação de parque ecológico diferencia-se da de um parque urbano,
enquanto aquele é destinado essencialmente a várias formas de lazer ao ar livre, este é voltado
essencialmente à educação ambiental, por formas de lazer informativas e formativas. No
parque ecológico a natureza prevalece sobre as demais coisas.
18
Figura 24: PLANO DE MASSAS PqEN
Fonte: FRANCO, 1997
A ordenação do parque é dividida em 3 partes:
1- Cumeada Sul (Área administrativa Institucional)
Ocupa áreas degradadas de fácil acesso ao Eixo Monumental. Nesta área se localizam as
atividades administrativas e institucionais, com suas áreas de apoio, onde serão introduzidas
espécies vegetais exóticas de grande porte e crescimento rápido, provedoras de
sombreamento.
2- Depressão Central (Área de Educação Ambiental)
Ocupa áreas alteradas de cerrado originale interliga a malha urbana no entorno com as
diversas áreas do PqEN. Neste setor haverá: um pólo central de atração aos usuários do
parque, chamado de Ala dos Estados, também se encontrarão aqui os grandes lagos e as
estufas piramidais. Nesse setor serão recuperadas as manchas de cerrado alteradas pela ação
do homem.
3- Pendente Noroeste (Área de Preservação).
Este setor corresponde à área de preservação máxima, onde se localizam os locais de pesquisa
e estudo, sendo de acesso restrito ao público.
A vegetação é caracterizada em:
1- Cerrado inalterado;
2- Cerrado alterado;
3- Áreas degradas; e
4- Perímetro da área de preservação.
19
Figura 25: VEGETAÇÃO
Fonte: FRANCO, 1997
Figura 26: SETORES
Fonte: FRANCO, 1997
O projeto também divide as fases de implantação em quatro etapas, são elas:
Fase 1- Construção da sede de administração do Parque, as estruturas de apoio, controle e
acesso à área do PqEN, assim como as vias de acesso principais. Nessa fase inicia-se a criação
de viveiros de plantas para repovoamento da vegetação nativa e para multiplicação de plantas
exóticas a serem empregadas na arborização e futura composição paisagística do Parque.
Fase 2- Captação das águas para execução do lago e modelagem do solo. As terras retiradas
para o lago serão utilizadas no parque na criação de dunas e em locais dispostos à ação de
erosão do solo.
Fase 3- Implantação das bases de estudo.
Fase 4- Implantação de estufas referentes aos ecossistemas brasileiros (Amazônia, Caatinga,
Cerrado, Mata Atlântica e Mata Temperada), além da implantação do museu e de instalações
de uso público.
Figura 27: FASES IMPLANTAÇÃO
Fonte: FRANCO, 1997
Figura 28: ESTUFAS ECOSSISTEMAS BRASILEIROS
Fonte: FRANCO, 1997
20
3. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL (APA)
3.1 ORIGENS E CONTEXTUALIZAÇÃO DO CONCEITO DE APA
A proteção de sítios geográficos se mostra como importante elemento das
sociedades humanas desde a antiguidade. Segundo Gonçalves (2002, p.8 apud MILLER,
1997, p.4) “Uma das mais antigas referências documentadas vem da Ásia, onde o Imperador
Ashokam da Índia, em 525 a.C., ordenou a proteção de certos animais e áreas florestadas.”
O conceito de unidade de conservação de maneira similar ao que conhecemos
hoje teria surgido em 1872 nos Estados Unidos com a criação do “Yellowstone Nacional
Park”. Na época, em Yellowstone, foi proibida qualquer exploração que alterasse as
características naturais da área que passava a destinar-se à preservação, lazer e benefício das
gerações futuras (Miller, op. cit.).
Para Gonçalves (2002, p. 216) a primeira proposta para a criação de Parques
Nacionais no Brasil surgiu em 1876 (quatro anos após o estabelecimento de Yellowstone),
ainda na época do Império, quando o engenheiro e político André Rebouças sugeriu a criação
do Parque Nacional na Ilha do Bananal e outro em Sete Quedas. Porém, legalmente, apenas
em 1981 surgiu no então território do Acre, através do Decreto nº 8.843, uma Reserva
Florestal que, todavia, não chegou a ser implantada.
A partir daí a criação de parques prosseguiu por vários outros países, como
Canadá (1885), Nova Zelândia (1894), Austrália, África do Sul e México (1898), Argentina
(1903), Chile (1926), Equador (1934), Venezuela e Brasil (1937).
Somente em 1986 foi criado o primeiro parque estadual brasileiro com fins de
preservaç, conhecido como Parque da Cidade, em São Paulo. Já o primeiro parque nacional
foi implantado apenas em 1937, conhecido como Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de
Janeiro. Em seguida foram criados os parques de Iguaçu, no Paraná e o da Serra dos Órgãos,
também no Rio de Janeiro (ambos em 1939).
A falta de critérios e padrões para seleção e manejo de áreas visando à criação
de unidades de conservação se tornou objeto de discussões internacionais e em 1940 a cidade
21
de Washington realizou uma Convenção sobre a Proteção da Natureza e Preservação da Fauna
e Flora, estabelecendo definições para Parque Nacional, Monumento Natura e Reserva
Silvestre.
Até meados da década de 70 no Brasil,as unidades de conservação eram criadas
em sua maioria por suas belezas cênicas e oportunismo político, ao invés de critérios técnicos
e científicos.
No início da década de 80 foram implantadas no Brasil nas estâncias federal,
estadual e municipal a Política Nacional de Meio Ambiente. Essa política questionava três
importantes aspectos daquele momento: o primeiro era o começo do pensamento quanto aos
impactos ambientais resultantes das grandes obras executadas num momento prévio
(hidrelétricas, rodovias, poluição industrial entre outros); o segundo era que o país começava
a abertura política e havia a necessidade da criação de meios para a participação da população
nas decisões do governo; e por fim, a pressão exigida por órgãos financeiros internacionais
que demandava dos países em desenvolvimento a avaliação da dimensão ambiental na
solicitação de recursos para futuros programas e projetos a serem desenvolvidos.
A política ambiental define então seus objetivos na Lei Federal nº 6.902, de 27 de
abril de 1981, que em seu Art. 8º estabelece:
"Havendo relevante interesse público, os poderes executivos Federal, Estadual ou
Municipal poderão declarar determinadas áreas dos seus territórios de interesse para
a proteção ambiental, a fim de assegurar o bem-estar das populações humanas, a
proteção, a recuperação e a conservação dos recursos naturais”.
Também é criado o CONAMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente- o qual
define pela Resolução nº 10, de 14 de dezembro de 1988, no Art. 1º o que são APAs:
“As Áreas de Proteção Ambiental – APAs são unidades de conservação,
destinadas a proteger e a conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais ali
existentes, visando à melhoria da qualidade de vida da população local e também
objetivando a proteção dos ecossistemas regionais”.
A primeira APA criada pelo Governo Federal foi a APA de Petrópolis, no Estado
do Rio de Janeiro (decreto nº 87.561/1982).
22
Figura 29: CARTA IMAGEM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE PETRÓPOLIS – RJ 2006
Fonte: IBAMA.
As APAs são também compreendidas como locais de planejamento e gestão
ambiental de extensas áreas que possuem ecossistemas de importância regional, englobando
um ou mais atributos ambientais. Necessitam de um ordenamento territorial orientado para o
uso mais sustentável dos recursos naturais, elaborado por meio de processos participativos.
A APA destaca-se das demais unidades de preservação por ter como
objetivo a experimentação de formas concretas de desenvolvimento sócio-
econômico, em harmonia com os preceitos ecológicos e as normas de
preservação ambiental. Em suma, o processo de gestão direcionado pela criação de
um espaço ideal para as práticas de Desenvolvimento Sustentável. FRANCO (1997,
p. 110, grifo da autora)
Logo, as APAs foram criadas visando conservar a diversidade de ambientes, a
proteção da vida silvestre, à manutenção de bancos genéticos e espécies raras da biota
regional, bem como dos demais recursos naturais, através da adequação e orientação das
atividades humanas na área, o que requer ordenação e disciplina de atividades que estejam de
acordo com as potencialidades e obstáculos do meio físico- ambiental no local.
O valor das unidades de conservação ganhou um novo apoio ao constar na
Constituição Federal de 1988 como responsabilidade do Poder Público em todas as unidades
da Federação, a definição de espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, podendo altera-los ou cancela-los somente através de lei (§ 1º Art. 225
Constituição Federal). Mesmo assim,a instituição do Sistema Nacional de Unidades de
23
Conservação da Natureza- SNUC ocorreu só após 12 anos, com a aprovação da Lei n° 9.985,
de 18 de julho de 2000, regulamentada pelo Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002.
O SNUC divide as Unidades de Conservação-UCs em diferentes objetivos de
manejo, com 12 categorias distintas que são agrupadas em dois grupos:
a) Unidades de Proteção Integral: tem como objetivo preservar a natureza, sendo
admitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais. Composto por cinco
categorias, entre elas o Parque Nacional.
b) Unidades de Uso Sustentável: tem como objetivo compatibilizar a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. Composto por
sete categorias, uma das quais a Área de Proteção Ambiental - APA.
TABELA 1- Número e área total das diferentes categorias de unidades de conservação estaduais
e federais no Brasil (fevereiro de 2005) UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO
FEDERAIS
Nº ÁREA
(HECTARES)
UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO
ESTADUAIS
Nº ÁREA
(HECTARES)
PROTEÇÃO INTEGRAL PROTEÇÃO INTEGRAL
Parque nacional 54 17.493.010 Parque estadual 180 7.697.662
Reserva biológica 26 3.453.528 Reserva biológica 46 217.453
Estação ecológica 30 7.170.601 Estação ecológica 136 724.127
Refúgio de vida silvestre 1 128.521 Refúgio da vida silvestre 3 102.543
Monumento natural 0 0 Monumento natural 2 32.192
Subtotal 111 28.245.729 Subtotal 367 8.773.977
USO SUSTENTÁVEL USO SUSTENTÁVEL
Floresta nacionala 58 14.471.924 Floresta estadual 58 2.515.950
RDS 0 0 RDS 9 8.277.032
Reserva extrativista 36 8.012.977 Reserva extrativistab 28 2.880.921
APA c 29 7.666.689 APA 181 30.711.192
ARIEd 18 43.394 ARIE 19 12.612
Subtotal 141 30.194.984 Subtotal 295 44.397.707
TOTAL 252 58.440.704 662 53.171.684 aReserva de Desenvolvimento Sustentável
b Inclui três florestas extrativistas em Rondônia, totalizando 1.438.907 ha
cÁrea de Proteção Ambiental
dÁrea de Relevante Interesse Ecológico
Fonte: Brandon, Katrina; Rylands, Antony. Unidades de conservação brasileiras. MEGADIVERSIDADE, Belo
Horizonte, MG, v.1, n. 1, p. 32, Jul. 2005.
Em Mato Grosso do Sul, segundo o Zoneamento Ecológico Econômico ,
existem cerca de 190.497 ha de Parques Estaduais, 32.348 ha de APAs estaduais e 6.703 ha
de RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural).
24
Figura 30: Áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) e assentamentos em Mato
Grosso do Sul.
Fonte: Zoneamento Ecológico Econômico do Mato Grosso do Sul, v. 1, p. 108.
Segundo dados obtidos no Perfil Socioeconômico de Campo Grande de 2011, no
âmbito municipal existem três Unidades de Conservação da Natureza instituídas legalmente
pelo Poder Público Municipal, são elas: Área de Proteção Ambiental dos Mananciais do
Córrego Lajeado- APA do Lajeado; Área de Proteção dos Mananciais do Córrego Guariroba-
APA do Guariroba; e Área de Proteção Ambiental da Bacia do Córrego Ceroula –APA do
Ceroula e ocupam uma área de aproximadamente 106. 037,00 ha, destes 66.954,00 ha
correspondentes a APA do Ceroula.
25
Figura 31: APAs localizadas no munícipio de Campo Grande
Fonte: Secretária Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Campo Grande – SEMADUR,
2012
26
4. ASPECTOS DA AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BÁCIA DO CÓRREGO
CEROULA- APA DO CEROULA
4.1 CRIAÇÃO
A primeira ideia de converter a bacia do córrego Ceroula em uma Unidade de
Conservação surgiu registrada em um projeto que integra uma carta-consulta, de novembro de
1994, feita pela Prefeitura Municipal de Campo Grande e encaminhada ao Ministério do Meio
Ambiente e da Amazônia Legal,chamado “Implantação da Unidade de Conservação da Sub-
Bacia do Córrego Ceroula e da Bacia do Alto Paraguai”. O projeto possuía uma intenção de
transformar parte da “(...) Bacia do Ceroula, com uma área de 33.760 hectares, local de rara
beleza, numa Unidade de Conservação Pública, tendo em vista a facilidade da mesma do
ponto de vista ecológico, social e econômico, para o município de Campo Grande”. Não
obstante não foram encontrados registros dos desenvolvimentos dessa intenção.
Em 2000 o então Diretor de Meio Ambiente do PLANURB realizou uma
apresentação a respeito do conceito de APA e as decorrências do ajuste da região nessa
categoria. Foi organizada uma proposta de projeto denominado “Área de Proteção Ambiental-
APA Furnas do Ceroula”. A proposta apresentava como justificativa os aspectos:
potencial para pecuária, produção de hortifrutigranjeiros e exploração
mineral( basalto);
potencial para exploração do lazer e esportes associados ao ecoturismo,
tais como pesque-pagues, trilhas, ciclismo, rapel, etc. ;
a existência, em Campo Grande, de uma classe média ávida por este tipo
de alternativas de lazer, dentre outras tais como os hotéis fazenda e as
pousadas rurais (SPAs) para combate ao “stress” urbano, associados a
disponibilidade de produtos “orgânicos ou agroecológicos”.
Explicava-se a denominação de “Furnas do Ceroula” devido ao córrego Ceroula
possuir uma região de relevo acidentado, constituído por vales íngremes, com afloramentos
rochosos e presença de cachoeiras, furnas e solos férteis, além de constituir-se na única área
da Bacia do Paraguai- BAP em Campo Grande.
27
Outro fator relevante era a preocupação quanto ao futuro da região, afirmando
que:
A transformação da microbaciado CEROULA em uma APA, prende-se ao fato que
todo esse potencial encontra-se hoje sob processos de degradação e desperdício dos
recursos ambientais devido a dispersão e desintegração das intervenções de
ocupação e uso. É urgente a necessidade de uma ação de ordenamento estratégico e
integrado que contemple efetiva parceria entre o poder público, os proprietários e
moradores da região, dentre outros segmentos (universidades) para reversão do atual
quadro negativo. O processo de discussão e transformação da microbacia em uma
APA surge como a solução mais interessante.
Em 30 de Julho de 2001, o Executivo Municipal publicou o decreto n° 8.264,
de 27 de Julho de 2001 (anexo 1), que cria a Área de Proteção Ambiental- APA do Ceroula,
localizado ao norte de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, ocupando uma área com cerca de
66.954 ha.
Figura 32: APA em relação ao munícipio de Campo Grande e sua região urbana
Fonte: SEMADUR, 2012, modificado pela autora.
28
Seu artigo 1º menciona as quatro finalidades que devem servir de base ao
processo de implantação e consolidação da APA do Ceroula. Sendo:
I- recuperar, proteger e conservar os cursos d’água que compõe a bacia
do Córrego Ceroula;
II- proteger os ecossistemas locais, suas paisagens notáveis, o solo e
demais atributos naturais que possam ser considerados relevantes;
III- resguardar e valorizar aspectos culturais históricos associados às
comunidades locais e à região;
IV- promover programas, projetos e ações de gestão e manejo da área
que contribuam com a sustentabilidade econômica e social de
atividades e empreendimentos compatíveis com as finalidades
constantes nos incisos anteriores.
Já seu artigo 2º, define medidas a serem tomadas para sua implantação e
funcionamento, dando destaque a elaboração de um plano de manejo que contenha um
zoneamento definindo quais atividades deverão ser incentivadas, toleradas, restringidas e
proibidas. É importante lembrar que até o momento nenhum plano de manejo foi elaborado
pelo Poder Público Municipal.
O artigo 3º proíbe ou restringe alguns empreendimentos ou atividades, como: a
implantação de empreendimentos ou atividades industriais ou equivalentes que possam ser
poluidoras e assim degradar os mananciais de água; o parcelamento urbano; a realização de
obras de terraplanagem e abertura de canais, se esses causarem sensíveis alterações ecológicas
locais; atividades capazes de provocar erosões ou assoreamentos; e, atividades que ameacem
extinguir as espécies raras da biota regional.
4.2 LOCALIZAÇÃO E INSERÇÃO REGIONAL
A APA do Ceroula esta situada na região norte do município.
Em 1977, o Estado de Mato Grosso do Sul foi criado, pela Lei Complementar
nº 31, de 11 de outubro de 1977, e em 1979, instalado seu primeiro governo.
Antes constituía a parte meridional do estado do Mato Grosso, do qual foi
desmembrado, porém a história e a colonização da região, onde hoje se localiza a unidade
federativa, é bastante antiga.
29
Segundo o Zoneamento ecológico- econômico de Mato Grosso do Sul – ZEE MS
o povoado mais antigo aqui registrado é Santiago de Xerez, ainda como território espanhol.
Figura 33: LOCALIZAÇÃO APA DO CEROULA.
Fonte: Elaborado pela autora,com base em imagens retiradas da enciclopédia eletrônica WIKIPÉDIA.
O estado é uma das 27 unidades federativas do Brasil e está localizado ao sul da
região Centro-Oeste. Tem como limites os estados de Goiás (nordeste), Minas Gerais
(leste), Mato Grosso (norte), Paraná (sul) e São Paulo (sudeste), além daBolívia (oeste) e
o Paraguai (oeste e sul).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ocupa uma
superfície de 357.145,836 km², sendo 22,2% da superfície da Região Centro-Oeste do Brasil e
4,2% da área territorial brasileira (de 8 514 876,6 km²), sendo pouco maior que a Alemanha.
Possui 78 municípios, 165 distritos e com uma densidade demográfica de 6,86 hab/km². A
população é de 2.449.024 habitantes, conforme Censo Demográfico de 2011(IBGE, 2011).
Em relação aos biomas nacionais os cerrados recobrem a maior parte do
estado, também possui a maior parcela brasileira do Pantanal e ainda há a presença de
Pampas e Mata Atlântica.
O Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo em
biodiversidade com a presença de diversos ecossistemas, riquíssima flora e fauna, porém
30
segundo a página eletrônica do IBAMA é um dos mais ameaçados do mundo e tem somente
0,85% de sua área em unidade de conservação.
Figura 34: Cobertura Vegetal de Mato Grosso do Sul e Biomas.
Fonte: Governo do Mato Grosso do Sul, 2008, v. 3, p. 17.
Em 1980 o Governo do Estado criou uma comissão para realizar o
Macrozoneamento Industrial de Mato Grosso do Sul. De acordo com a sua publicação a bacia
do Córrego Ceroula, enquadra-se como “bacia a ser preservada” para atender futura demanda
de abastecimento público da sede municipal.
Campo Grande, no âmbito municipal, com 8.092,97km² e uma área urbana de
35.302 ha, ocupando 2,16% da área do Estado. Tem como divisa os municípios de Jaraguari,
Rochedo, Nova Alvorada do Sul, Ribas do Rio Pardo, Sidrolândia, e Terenos.
A sede do munícipio esta localizada nas imediações do divisor de águas das
bacias do Rio Paraná e Paraguai. Teve sua ocupação norteada pela presença de água, nas
confluências dos Córregos Prosa e Segredo, propagando a atividade agrícola e pecuária.
Em 1899 passa a constituir a Vila de Campo Grande, enquadrada na categoria de
município (Campo Grande, 2011).
31
Dois distritos fazem parte do município, são eles:
Anhanduí (distante da APA do Ceroula, situada na direção Sul da Sede); e
Rochedinho (com a maioria de seus limites inseridos na APA do Ceroula).
Campo Grande além das três Unidades de Conservação (APA do Lajeado, APA
do Guariroba e APA do Ceroula) abriga outras áreas verdes distribuídas nas regiões urbanas
do munícipio.
Na região Central se encontra o Parque Florestal Antônio Albuquerque,
comumente conhecido como Horto Florestal; na região do Prosa estão o Parque das Nações
Indígenas, o Parque Estadual do Prosa e os Parques Municipais: Consul Assaf Trad e Parque
do Sóter; na Região do Segredo está o Parque Estadual das Matas do Segredo e o Parque
Municipal Água Limpa; na Região do Anhanduizinho está o Parque Ecológico Anhanduí e a
Reserva Particular do Patrimônio Natural da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS) e; na Região do Bandeira se localiza a Estação Ecológica do Dahma e o Parque da
Lagoa Itatiaia.
A partir do ano 2000 os Parques Lineares começaram a ser implantados na
cidade, são eles: do Segredo, do Lagoa, do Cabaça, do Bandeira, do Lagoa e do Imbirussu.
Tais áreas verdes não se enquadram entre as categorias de Unidade de
Conservação do SNUC, porém são muito importantes para a conservação ambiental da
cidade.
4.3 CONDICIONANTES FÍSICAS
4.3.1 HIDROGRAFIA
A APA do Ceroula é composta pela maior parcela de rede de drenagem da
Bacia do Córrego Ceroula. Suas águas também drenam parte dos municípios vizinhos de
Jaraguari, Terenos e Rochedo
. O Córrego Ceroula possui dois grandes afluentes. O primeiro é o Córrego
Piraputanga, que nasce na área da APA, atravessa a divisa municipal de Terenos e deságua na
margem esquerda do Ceroula alguns quilômetros antes da foz do Córrego Angico, que é o
32
segundo maior afluente, situado na margem direita e formado pelos córregos Mateira e
Campo Alegre. Também podemos citar os seguintes afluentes:
Pela margem direita: córrego Inferninho, córrego Limpo e córrego Seco.
Pela margem esquerda: córrego Estiva e córrego Vertente Comprida.
Figura 35: Bacia do córrego Ceroula no contexto dos municípios.
Fonte: QUEVEDO, R.; STEFANES, M.; FILHO, A.; COPATTI, A. 1985 -2007.
Os córregos que possuem nascentes dentro da APA são: córrego Inferninho,
córrego Limpo, córrego Seco e córrego Piraputanga. O córrego Angico é o único que constitui
divisa municipal e também é limite da APA. Já os córregos Estiva e Vertente comprida estão
fora do município e fora da APA.
33
Figura 36: Limite APA do Ceroula e Bacia, geolocalizados.
Fonte: elaborado pela mestranda Camila Mioto, curso de geografia UFMS, 2012.
Quanto à qualidade das águas os córregos Ceroula e Piraputanga foram
enquadrados como pertencentes à Classe especial pelo CECA (Conselho Estadual de Controle
Ambiental), significa que suas águas devem destinar-se à preservação do equilíbrio natural
das comunidades aquáticas, e quando destinadas ao abastecimento doméstico, não precisam
de prévia desinfecção, ou quando necessário apenas uma simples desinfecção.
34
Figura 37: Mapa Hidrográfico APA do Ceroula (sem escala)
Fonte: SEMADUR,2012.
35
4.3.2 SOLOS
Segundo Gonçalves (2002, p. 61) existem cinco classes de solo na APA do
Ceroula, são elas:
Latossolo Vermelho- Escuro álico: significa que possui saturação por
alumínio, ou seja, grande potencial para utilização intensiva, normalmente as
áreas ocupadas por esses solos encontram- se desprovidas da vegetação original
(cerrado) e são utilizadas para lavouras de soja, milho e etc.
Latossolo Roxo distrófico: Possui variação quanto a saturação por bases,
normalmente possuem um potencial nutricional mais elevado que os demais
Latossolos, favorencendo atividades pastoris.
Glei Pouco Húmico distrófico: costumam ocorrem nas planícies marginais de
cursos d’água. Na APA do Ceroula surge ao longo do Córrego Ceroula( da foz
até à montante, próximos dos afluentes: córrego Angico e Piraputanga).
Areais Quartzosasálicas: constituídas predominantemente por grãos de areia,
ou seja, baixa capacidade de retenção de umidade e elevada susceptibilidade à
erosão.
Solos Litólicoseutróficos: costumam ocupar áreas dissecadas de relevo com
mais rugosidade e nas bordas do planalto, limítrofes com a depressão
pantaneira. Apresenta uma série de limitações naturais, como a topografia
desfavorável, por isso é recomendado que tais solos sejam destinados a
preservação da fauna e da flora.
36
Figura 38: TIPOS SOLOS APA DO CEROULA (sem escala)
Fonte: GONÇALVES, 2002
37
4.3.3 VEGETAÇÃO
O Cerrado é um tipo de vegetação que constitui a fitogeografia brasileira, já
ocupou 25% do território brasileiro, fato que lhe dá a classe de segunda maior cobertura
vegetal do país, excedida apenas pela floresta Amazônica. Porém, com o passar dos anos o
Cerrado diminuiu drasticamente, esse que já ocupou uma área de dois milhões de km2, hoje
ocupa aproximadamente 800 mil km2. Essa expressiva diminuição se deve à intervenção
humana no ecossistema.
De acordo com os mapas encontrados, foram identificadas as seguintes formações:
Floresta Estacional Semi-decidual
o Sub-classe aluvial (conhecida como Mata e Mata ciliar)
Savana (Cerrado)
o Sub-classe arborizada (conhecida como Campo Cerrado, Cerrado ou
Cerrado Aberto)
o Sub-classe florestada (conhecida como Cerradão)
o Sub-classe arborizada e florestada
Encrave
o Savana/ Floresta Estacional Decidual (conhecida como Mata)
Sistema Secundário (pastagens cultivadas, áreas agrícolas e reflorestamentos)
o Áreas onde a vegetação nativa foi substituída por agropecuária.
38
Figura 39: VEGETAÇÕES EXISTENTES APA CEROULA (sem escala)
Fonte: GONÇALVES, 2002
39
5 PROJETO: PARQUE ÁGUAS DO CERRADO
5.1 SOBRE A DENOMINAÇÃO DO PARQUE
Através do desenvolvimento do trabalho foram recolhidas diversas informações a
respeito da área de intervenção que foram apresentadas ao longo dessa monografia. Mais
alguns fatos se destacaram dos demais, como por exemplo: a região estar situada nas escarpas
de Maracaju, sendo divisor de água das bacias do Rio Paraná e Paraguai, definida como
Bacia do Alto Paraguai-BAP. Assim como, a presença predominante do bioma Cerrado, em
especial, da formação vegetal Cerradão, fatores esses que inspiraram a escolha do nome para
o parque proposto.
5.2 ASPECTOS REFERENTES AO USO DO SOLO
Figura 40: USO DO SOLO (sem escala)
Fonte: Gonçalves, 2002, adaptado pela autora.
40
O entorno da APA é marcado pela cidade de Campo Grande. No extremo
Oeste da sede esta situado o Núcleo Industrial, próximo à estação ferroviária INDUBRASIL.
Junto à estação cresceu a chamada Vila Entroncamento.
Outro aglomerado próximo é a Vila Rochedinho, sede do Distrito de
Rochedinho.
A zona rural do entorno é formada basicamente pela ocupação e uso voltados à
agropecuária.
Um aspecto relevante a ser mencionado é que parte da área urbana da capital
esta sobreposta à APA do Ceroula. Uma parcela pequena do noroeste da cidade encontra-se
dentro do limite Sul da APA. Sendo esta parcela parte das Regiões Urbanas do Segredo e do
Imbirussu.
Possuindo algo entorno de 238 propriedades rurais, além dessas propriedades
foram identificadas a existência de loteamentos rurais na APA: Chácara Agrícola Rizolândia ,
Loteamento da Conquista (assentamento rural com 65 lotes, com cerca de 17 ha cada,
ocupando uma área de 1.557,8916 ha) e Loteamentos Santa Cruz do Pontal 1 e 2 (tendência
para chácaras de lazer, com 111 lotes de aproximadamente 20 ha cada, ocupando uma área de
272,3525 ha).
Essas 238 propriedades foram agrupadas nas seguintes categorias:
Minifúndio: área inferior a 15 ha,
Pequena Propriedade: ≥ 15 e ≤ 60 ha;
Média Propriedade: ≥ 60 e ≤ 225 ha;
Grande Propriedade: >225 ha;
Fig. 41: Gráfico mostrando a predominância da pequena propriedade.
Fonte: GONÇALVES, 2002.
Minifúndio21%
Pequena Propriedade
61%
Média Propriedade
6%
Grande Propriedade
12%
Participação das propriedades por Categoria na região da APA do Ceroula
41
Ainda referente às 238 propriedades, verifica-se que ocupam uma área total de
56.528,9 ha, desses 41.427,55 ha, ou seja, 73,29% são constituídos por pastagem plantada. As
áreas de “reserva florestal” aparecem com 11.711,4 ha, 20,72% do total analisado.
Fig. 42: Gráfico mostrando a predominância das áreas ocupadas por pastagem plantada
Fonte: GONÇALVES, 2002.
As grandes propriedades possuem como principal atividade econômica a
pecuária de corte. Em muitas é comum a exploração de atividades de lazer, tais como: aluguel
para realização de festas; clubes; turismo rural e voo livre.
Por fim, a existência de áreas com grande beleza natural tem inspirado alguns dos
proprietários locais, que começaram a notar a importância da conservação de tais sítios,
vislumbrando o seu aproveitamento econômico através de atividades de lazer e turismo.
Fig. 43: VOO LIVRE
Fonte: GONÇALVES, 2002
Fig. 44: PRODUÇÃO DE MUSSARELA EM
MINIFÚNDIO
0
50000
Área
em he
ctares
Tipos de ocupação e uso
Composição dos diferentes tipos de ocupação e uso das propriedades na região
42
Fig. 45: TURISMO RURAL
Fonte: GONÇALVES, 2002
Fig. 46: GRANDE FAZENDA DEDICADA Á
AGROPECUÁRIA
Sendo assim, o parque funcionaria trazendo a opção de lazer e educação para os de
pequenos proprietários, prevenindo futuros desmatamento advindos da agropecuária, além de
reforçar as atividades já existentes do setor turístico.
5.3 DELIMITAÇÃO DA ÁREA
A delimitação da área (cor vermelha) levou em consideração os seguintes
aspectos: os dois pontos de interesse, a cachoeira do inferninho (ponto vermelho da parte
superior) e as ruínas da antiga usina (ponto vermelho da parte inferior), os limites que foram
encontrados das propriedades existentes (quatro estâncias, na cor cinza escuro), somados à
mata nativa (verde claro).
Figura 47: Mapa delimitações
Fonte: elaborado pela autora
Figura 48: ÁREA DE INTERVENÇÃO
Fonte: elaborado pela autora
43
Para reafirmar essa situação MacHarg (apud Tardin, 2008) diz que:
Os elementos cênicos dão caráter a um lugar. Permitem abarcar sua
conformação física e destacar seus atributos mais significativos (as
formas singulares do relevo, da hidrografia e da vegetação). Estes
elementos funcionam como referentes e como marco do lugar,
constituindo parte de sua identidade territorial e do potencial visual de
sua paisagem.
Assim como os espaços remanescentes de ocupação costumam ser testemunhas da
história e representativos de valores, os quais que merecem ser identificados e avaliados.
A área totaliza 570 ha, dos quais 410 ha são de matas nativas a preservar.
Permanecem 160 ha, os quais foram separados em áreas a serem recuperadas e áreas a serem
projetadas.
Figura 49: CACHOEIRA
INFERNINHO
Figura 50: RUÍNAS DA USINA
5.4 BREVE HISTÓRICO INFERNINHO
Este é um local de grande beleza paisagística originada por processo
de modelamento de escarpas da Serra de Maracaju, fruto de erosão
natural fluvial, formando então vales e cachoeiras profundas”.
PEREIRA (1995, pg. 19)
Em 1995 essa área foi citada no Plano Diretor de Campo Grande como área de
interesse ambiental pela lei complementar nº 05 de 22 de Novembro de 1995 , que diz:
44
Área compreendida pelas matas ciliares dentro da faixa de (cem)
metros de cada lado do leito do Córrego, desde sua nascente 500
(quinhentos) metros após a cachoeira do local denominado Inferninho.
Existem diferentes versões a respeito do surgimento do nome “Inferninho”.
Muitos acreditam que é assim denominado devido ao grande número de cadáveres que eram
jogados na região no passado.
Segundo Machado (apud Pereira, 1995), o local recebe esse nome porque as
pessoas da região viam o Vale como um buraco profundo e feio, passando a chama-lo de
Inferninho. Algumas histórias eram contadas a respeito da região.
Uma delas era sobre dois irmãos que eram donos de uma fazenda nas
proximidades do vale aonde nasce o Córrego Inferninho e que um dos irmãos queria ficar com
toda a terra para ele, matando então o outro irmão dentro da própria fazenda.
Outra lenda se refere ao “Bicho do Inferninho” ou “Bicho da Furna”, que aparecia
algumas vezes na região e quem o visse, morria logo em seguida. Então, sempre que
apareciam pessoas ou animais mortos, sem um motivo aparente, a causa era dominada ao tal
“Bicho do Inferninho”. (Pereira, 1995, p. 21-22)
Com o passar dos anos os donos das fazendas foram mudando, assim como as
pessoas que ali moravam, as matas foram sendo substituídas por pastagens e plantações e da
mesma maneira as lendas foram sendo esquecidas.
5.5 IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, SOLUÇÕES E PARTIDO
A solução encontrada para a proposta do parque foi uma parceira público-privada,
pois não seria viável a desapropriação de tamanha área. A prefeitura funcionaria como
parceira no auxílio da manutenção e manejo da área de preservação, o proprietário cobraria o
ingresso para fins lucrativos e de manutenção do parque, assim como com os equipamentos
que seriam instalados (restaurantes, galerias, lanchonetes, entre outros) e as universidades
teriam um centro de pesquisa para monitoramento da área. A ideia é que mesmo sendo
cobrada a entrada existisse, pelo menos, em um dia da semana a entrada gratuita a fim de
permitir que todos possam utilizar o parque, assim como preços diferenciados para os
moradores da região abrangente.
45
O projeto procurou atender aos conceitos, precedentes e termos de referência
estudada, explorando potencialidades existentes e criando ambientes de interesse através do
plantio e programa.
Busca refletir a paisagem local, Cerrado, em suas fitosionomias típicas (Campo
limpo, Campo Sujo, Veredas, Cerrado Ralo, Cerrado Denso, Matas Secas e Cerradão) sem
abrir mão do caráter atrativo da vegetação e da integração com o bioma que o cerca.
O desenho busca adaptar e harmonizar as configurações da paisagem com a
ocupação humana, como prevê a definição de Parques Regionais.
O projeto se divide em 4 zonas:
Preservação: Áreas de vegetação nativa e capacidade de suporte ao uso relativa;
Recomposição: recuperação natural e induzida de áreas que sofreram alteração;
Uso restrito: viveiro, centro de pesquisa, caminhos de serviço e trilhas;
Uso intensivo: demais áreas do parque.
Qual o objetivo?
O objetivo é deter a degradação dos recursos naturais em evolução, manter a
vegetação nativa remanescente e recompor áreas já degradadas. As demais áreas do parque
buscam o respeito mútuo entre a natureza e o homem através de uma intervenção positiva,
pois nem sempre a ação do homem é deformadora.
Através de levantamentos anteriormente realizados, respectivamente por Pereira
(1995) e Gonçalves (2002) foi possível identificar alguns aspectos relevantes à vegetação
existentes no local.
A mata ciliar ao Inferninho é composta por vegetação secundária e apresenta
características de formação de Cerradão, com extratos: arbóreo, sub- arbustivo e herbáceo.
Ainda com a presença de muitas árvores jovens.
As espécies sugeridas para recomposição do parque foram escolhidas através de
um estudo de recomposição da Embrapa Cerrados, juntamente com informações dos livros
Árvores brasileiras (Lorenzi, 2008; Lorenzi, 2009) , são elas: pindaíva (Duguetia lanceolata),
pimenta-de-macaco (Xylopia aromática); peroba (Aspidosperma polyneuron), cambará-do-
46
mato (Gochnatia polymorpha), jacaratiá (Jacaratia spinosa), piquiá (Caryocar brasiliense),
canafístula (Cassia ferrugínea), sucupira branco( Acosmium subelegans), sucupira preto
(Bowdichia virgilioides), sapuvussu (Dalbergia miscolobium), mulungu (Erythrina
dominguezii), guianã (Lonchocarpus muehlbergianus), canjica (Sweetia fruticosa), pacará
(Enterolobium contortisiliquum), amarelinho (Plathymenia reticulata), monjoleiro (Senegalia
polyphylla), tarumã (Vitex montevidensis), paineira rosa (Ceiba speciosa), veludo (Tachigali
rubiginosa), morcegueiro (Andira inermis), ingá-macaco (Inga sessilis), canela (Nectandra
cissifolia), açoita-cavalo (Luehea paniculata), gambirobeira (Campomanesia eugeníoides),
folha-de-serra (Ouratea spectabilis), novateiro-preto (Triplaris Gardneriana), lobeira
(Solanum lycocarpum), farinha-seca (Ouratea castaneifolia), pau-formiga ( Triplaris
americana), lixa (Aloysia virgata) e melambo ( Drymys brasiliensis).
Para todo o parque, não só na área de reflorestamento, foram usados os
seguintes critérios na escolha de espécies: uso indicado para reflorestamento ou característico
do cerrado, valor ornamental (pela forma ou floração) e se possuem frutos, pois as aves
constituem importantes agentes na recomposição vegetal.
Ao longo do parque é possível observar plantios rígidos, enfatizando a
presença do homem como modificador da paisagem e plantios mais livres, assim como na
natureza.
A proposta de plantio é complementada por maciços arbóreos, nativos ou não, que
servem como ponto de referência ao usuário ou como facilitador educativo, no caso dos
maciços perenes ou caducifólios.
Para recomposição do plantio é sugerido um viveiro, o qual foi locado e pré-
dimensionado. Com o seguinte programa:
Área de produção 1: 450 m²
Área de produção 2: 300 m²
Canteiro de rustificação e produção: 740 m²
Galpão de depósitos: 600 m²
Área de pátio expedição: 300 m²
47
Além da produção o viveiro possui a utilidade de capacitar e ensinar técnicas de
produção aos pequenos moradores da região do entorno e após a recomposição e manutenção
do parque também poderá servir como fonte de renda através da venda de mudas.
O dimensionamento do seguinte viveiro produz cerca de 1 milhão de mudas por
ano e foi realizado tendo como base no viveiro municipal de Campo Grande.
Também é proposta uma base de pesquisas do Cerrado, pré -dimensionada para a
seguinte estrutura: alojamentos (com capacidade para 40 pessoas), refeitório, despensa,
lavanderia, casa de máquinas com gerador de energia, laboratórios, salas de aula e biblioteca.
A qual necessita cerca de 1.200 m². O referido dimensionamento levou em consideração a
base de estudos do bioma do pantanal, existente em Paço do Lontra- MS.
A estratégia de circulação é divida em vias principais e secundárias, a via
principal busca passar pelos principais atrativos do programa projetadas para o usuário com
disponibilidade e intenções de permanecer mais tempo no parque, enquanto as vias
secundárias são caminhos mais rápidos aos usuários que buscam locais específicos, como de
eventos.
Os caminhos principais possuem 10m de largura, podendo ser percorridos a pé, de
bicicleta ou por pequenos carros elétricos alugados (como em Inhotim) ou gratuitos para
portadores de necessidades especiais, que facilitariam o acesso aos locais mais distantes. Já os
caminhos secundários possuem dimensões reduzidas, 5m, e se restringem apenas a circulação
de pedestres.
Todos os percursos se adaptam a topografia existente, pois estão dentro do limite
de acessibilidade de 8,33%, como mostram as pranchas. Exceto as trilhas, pois ambas se
direcionam para regiões de fundo de vale, e a região da cachoeira do Inferninho, onde se
localiza uma proposta de mirante. As trilhas tem trajeto já definido e permitem que o usuário
conheça os espaços de vegetação nativa e recomposta.
Espaços com água em forma de espelho d’agua ou lagos permeiam o percurso,
hora com função de espelhos para contemplação e hora para interatividade. Quanto aos lagos
a ideia é que a água seja bombeada do córrego e depois retorne ao mesmo por gravidade.
O programa leva em consideração a diversidade de usos que a população venha
buscar, apresentando espaços que possam ser apropriados e adaptados a diversas funções e
48
diversos usuários, com equipamentos de uso mais “dinâmicos” e de usos mais silenciosos e
reservados. Muitas das atividades reforçam a população a importância do parque para o bem
estar humano e para preservação.
O parque se divide em três setores: cultural, educação e atividades de lazer com
caráter mais esportivo. Embora esses setores estejam separados por uma barreira física
(vegetação nativa) são elementos complementares e conectados. Os setores serviriam como
facilitadores caso fosse necessária a implantação do projeto em diferentes etapas.
Cada setor possui acesso, estacionamento e ponto de ônibus, sendo que em um
dos casos a distância entre um acesso e outro é maior que os 250 m adotados como
convenção. Os acessos são todos pelo macro anel, vindo pela MS-080 e são marcados por um
pórtico que funciona como marco visual aos transeuntes que circulam pela estrada, reforçando
as entradas do parque. A vegetação ao longo da estrada buscou fechar visuais (em contraponto
as propriedades vizinhas que são abertas) e abrir alguns pontos de paisagens interessantes de
dentro do parque ao usuário do lado de fora, chamando-o a visitar o ambiente.
Programa dos setores:
Setor Cultural - 56 ha:
Caminho das cores, grandes percurso rigidamente marcado por forrações de
cores diversas (floração ou folhas) e coberto por um alto pergolado
minimizando os efeitos do sol, pois não possui sombras advindas de
arborização;
Labirintos vegetais com diferentes alturas e dimensões;
Espaço livre para exposições e feiras;
Arena para apresentações ou cinema ao ar livre no período noturno;
Área para piqueniques;
Área com árvores frutíferas em que os usuários pudessem colhê-las;
Caminho dos contrastes: maciços arbóreos alterando espécies altas, baixas e
com diferentes tipos de copas;
Lagos;
Caminho das águas, o qual o usuário passa por cima do lago para chegar ao
segundo setor;
49
Trilha usina.
Setor Educacional - 10,2 ha (escolhido para apresentação de projeto mais aprofundado para
apresentação do TFG):
Caminho conhecimento do cerrado: ao longo do percurso é possível percorrer e
conhecer os diversos tipos de cerrado (foi elaborado levando em consideração
as espécies mais frequentes de cada uma das fitofisionomias e também sua
abrangência de cobertura arbórea, segundo estudo da Embrapa Cerrados);
Jardim sensorial;
Estufas com fins educativos representando outros dois importantes biomas
brasileiros: Mata Atlântica e Pantanal;
Borboletário.
Setor esportivo - 23 ha:
Trajeto arborismo;
Pista de bicicross com arquibancada;
Parede de escalada;
Redário;
Playground;
Espaços desníveis ou “cupinzeiro” frequentemente visto nos cerrados o
espaço remete à um local de permanência com desenho inusitado;
Mirante para cachoeira do Inferninho.
O mobiliário projetado se divide em três tipos de bancos, postes de iluminação
alta e baixa e placas informativas. Os bancos são locados nos caminhos em áreas sombreadas
para descanso e também nas áreas de permanência.
50
6 CONCLUSÃO
De acordo com as informações analisadas e refletidas sobre a atual situação da
ocupação do local e seus efeitos na transformação da paisagem, pode-se compreender a
importância do reconhecimento dos elementos naturais existentes na área de intervenção, que
são precariamente valorizados, como também a necessidade de requalificação de tais áreas
degradadas.
No Brasil mais de 80% da população vive e trabalha em meios urbanos, contudo,
nem sempre esses locais possuem as melhores condições, principalmente no que se refere ao
meio-ambiente. Apesar do reconhecimento da importância das áreas verdes urbanas, existe
uma tendência a se “economizar” nos espaços de lazer, especialmente nas regiões mais pobres
e, como consequência há a diminuição da qualidade de vida dos habitantes.
Sendo assim, a criação de um parque na região de intervenção é de grande
importância, tanto para aumento do bem estar humano da população, como para manter a
qualidade da área de preservação, auxiliando no seu manejo e gestão.
Resgatando, por fim, o pensamento de Patrick Gueddes que diz que o urbanismo
não é a arte de fazer, no imaginário, um lugar possível onde tudo esteja bem (utopia), mas de
fazer o melhor e maior para todos os lugares, especialmente onde vivemos.
51
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