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PARQUES URBANOS DE GOIÂNIA-GO: PAPEL SOCIAL E POTENCIAL TURÍSTICO
Urban parks from Goiânia-GO: social role and potential
tourist
Carolina Ferreira da Costa STREGLIO 1
Ivanilton José de OLIVEIRA 2
RESUMO
Nas últimas décadas, o crescente movimento de proteção ambiental vem interferindo na configuração das cidades, conjuntura em que se destaca a criação de parques urbanos. As funções ecológicas e sociais atribuídas a essas áreas verdes as tornam objetos de estudo de grande relevância para compreender a dinâmica urbana atual, contexto em que se insere o município de Goiânia. Considerando esses atributos, bem como o caráter distintivo que os parques estabelecem na paisagem urbana, o que permite relacioná-los também ao turismo, este artigo tem como objetivo analisar o desempenho dos parques urbanos na dinâmica de Goiânia, para, com base nessa análise, verificar o seu potencial turístico. Palavras Chave: Parques Urbanos; Goiânia; Potencial turístico.
1 Bacharel em Geografia, habilitada em Análise Ambiental pelo Instituto de Estudos Socioambientais
(UFG). Mestranda, pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais (UFG). E-mail: [email protected] 2 Licenciado e Bacharel em Geografia pela UFG, Mestre e Doutor em Geografia pela USP. Professor
Adjunto do Instituto de Estudos Socioambientais (UFG) da Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: [email protected]
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ABSTRACT In recent decades, the growing environmental protection movement has been interfering in the configuration of cities, conjuncture which it detach the creation of urban parks. The ecological and social functions assigned to these green areas make them objects of study of great relevance to understand the current urban dynamics, context in which it enters the city of Goiania. Considering these attributes, as well as the distinctive feature that parks in the urban landscape, which allows them to relate also to tourism, this article has as objective to analyze the performance of urban parks in the dynamics of Goiânia for based on this analysis, to verify the their tourist potential. Keywords: Urban Parks. Goiânia. Tourist potential.
INTRODUÇÃO
A preservação dos recursos naturais e a manutenção da qualidade de
vida assumiram posições de destaque na administração pública, nas últimas
décadas, haja vista a frequência e intensidade dos casos de degradação
ambiental, a ameaça de extinção de diversos recursos naturais e o crescente
anseio da sociedade por ambientes ecologicamente saudáveis.
Partindo dessa conjuntura, uma das tendências observadas na gestão
pública de diversas cidades brasileiras tem sido a criação de parques urbanos,
tendo em vista que estes não apenas contribuem para a conservação
ambiental, ou seja, a utilização racional dos recursos naturais disponíveis, mas
também tornam mais agradável o dia-a-dia de quem reside nas grandes
cidades.
A figura dos parques comumente sugere áreas de vegetação abundante,
com lagos e animais silvestres, cenários que os tornam ambientes propícios ao
lazer, à prática esportiva ou à simples contemplação, e possibilitam uma série
de benefícios, tais como a redução da poluição e o equilíbrio do índice de
umidade do ar (este apenas quando há corpos hídricos significativos), a
proteção das nascentes e mananciais, a moderação do macro e micro clima
urbano e a manutenção da biodiversidade (NUCCI, 2001; SORENSEN, 1998).
Considerando o caráter distintivo que os parques estabelecem na
paisagem urbana, outro elemento que pode relacionar-se a esses ambientes é
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o turismo. Segundo Furegato (2005), a atividade turística em áreas verdes
urbanas pode decorrer de fatores como valorização cultural, marketing,
situação geográfica favorável, modismo, além do vínculo afetivo que se
estabelece entre os moradores e o seu meio ambiente urbano. Entretanto, a
mesma autora lembra que apesar de serem utilizados pelo turismo,
geralmente, esses parques são construídos em primeira instância, para os
habitantes locais.
Neste sentido, Yázigi (2002) acrescenta que a paisagem lato sensu –
natural e urbana – deve ser preservada, antes de qualquer coisa, devido sua
importância ao habitante local, e só depois ao turista, visto que esta paisagem
se constitui como essência cotidiana dos habitantes de uma cidade.
As diversas funções ecológicas e sociais atribuídas aos parques urbanos
tornam esses espaços objetos de estudo de grande relevância para a
compreensão da dinâmica urbana na atualidade, contexto em que se insere o
município de Goiânia.
Elaborado pelo engenheiro urbanista Armando de Godoy, em meados
dos anos de 1930, o projeto de construção de Goiânia baseou-se no modelo
das cidades-jardim inglesas, o que refletiu na criação de diversas áreas verdes
pela cidade. Essa característica, ainda hoje percebida na paisagem da cidade,
contribuiu para tornar Goiânia a cidade com a área urbana mais verde do país
(MARTINS JÚNIOR, 2007).
Atualmente, Goiânia possui 24 parques urbanos, distribuídos por
diversas regiões da cidade. Sem embargo, é importante ressaltar que a
crescente valorização das áreas verdes, e por conseguinte, o interesse do
mercado imobiliário por esses espaços, tem promovido o favorecimento de
determinados parques em detrimento de outros.
Outro aspecto que também interfere na dinâmica desses espaços é a
atividade turística. Os parques urbanos goianienses são divulgados como
cartões postais da cidade, mas existe uma infraestrutura destinada ao suporte
da atividade turística nesses espaços? Considerando a premissa de que uma
cidade boa o suficiente para os próprios habitantes, realmente é excepcional ao
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turismo (YÁZIGI, 1996), pode-se dizer que os parques urbanos de Goiânia são
potencialmente turísticos?
Tendo em vista esses questionamentos, bem como a diversidade de
valores e atributos relacionados aos parques goianienses, este artigo tem como
objetivo a análise do desempenho dos parques na dinâmica urbana de Goiânia,
considerando essencialmente o nível de satisfação de seus usuários quanto
aos recursos oferecidos por esses espaços, ponderando ainda fatores como a
infraestrutura e a gestão dos parques, para, com base nessa análise, verificar o
potencial turístico dos parques urbanos de Goiânia.
Com relação aos métodos e procedimentos utilizados para a
operacionalização deste trabalho, a princípio, realizou-se uma revisão teórica e
conceitual, a fim de apresentar subsídios à contextualização e análise dos
parques urbanos de Goiânia. Como estudos de casos, foram selecionados três
parques – o Bosque dos Buritis, o Parque Flamboyant e o Parque da Lagoa –
onde foram executados trabalhos de campo com vistas à observação,
diagnóstico da infraestrutura e aplicação de questionários aos usuários. E, a
partir dessas informações, realizou-se a interpretação, análise e representação
gráfica e tabular dos dados gerados, o que permitiu avaliar o desempenho dos
parques na dinâmica de Goiânia, assim como o seu potencial turístico.
O QUE É UM PARQUE URBANO?
Para compreendermos a dinâmica que envolve os parques de Goiânia é
importante iniciar essa análise entendendo o que caracteriza, especificamente,
um parque urbano, tendo em vista que a palavra „parque‟ pode admitir vários
outros adjetivos, tais como aquático, infantil, de diversões etc., que designam
ambientes distintos.
Segundo Lima (1994), os parques urbanos são áreas verdes, com
função ecológica, estética e de lazer, mas com uma extensão maior que as
praças e os jardins públicos. No mesmo sentido, Kliass (1993, p. 19) os define
como “espaços públicos com dimensões significativas e predominância de
elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinado à recreação”.
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Na definição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC, há a figura do Parque Natural Municipal, unidade de
conservação criada por um município, cujo objetivo básico é
a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico (BRASIL, 2000).
Macedo; Sakata (2003, p. 14), por sua vez, consideram como parque
todo espaço de uso público destinado à recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é auto-suficiente, isto é, não é diretamente influenciada em sua configuração por nenhuma estrutura construída em seu entorno.
Entretanto os mesmos autores ressaltam que
não existe consenso a respeito da dimensão, do grau de isolamento em relação ao entorno e da quantidade de equipamentos necessários para configurar um parque [...] muitos dos atuais parques de pequeno porte não passam realmente de praças de vizinhança, sendo denominados parques em virtude da falta de consenso sobre o assunto entre os especialistas, dentro e fora do poder público. (MACEDO; SAKATA, 2003, p. 15).
Tendo em vista essas considerações, pode-se notar que os conceitos
aqui relacionados se atem basicamente a dois aspectos referentes aos parques
urbanos: sua dimensão espacial e a diversidade de funções ecológicas e
sociais que estes podem desempenhar na cidade. Como não se tratam de
parâmetros bem delimitados, neste trabalho serão apreciados como parques
aqueles assim definidos pela Agência Municipal do Meio Ambiente – AMMA,
órgão responsável pela criação, administração e proteção de parques, bosques
e demais áreas verdes de Goiânia.
GOIÂNIA E OS PARQUES URBANOS
Goiânia foi construída em um momento em que o Brasil passava por
grandes transformações políticas. Com a Revolução de 1930, ascendeu ao
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poder Getúlio Vargas. E em Goiás, com a vitória do movimento revolucionário,
Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado interventor.
Enquanto esteve no governo, Ludovico procurou inserir Goiás na nação,
incentivando o progresso econômico do estado e integrando-o à economia do
país. Nesta conjuntura, surgiram as discussões para a mudança da capital,
com argumentos relacionados desde a questão da topografia, da dificuldade de
comunicação e acesso, até as condições de higiene e salubridade da cidade de
Goiás, a até então capital do estado.
O processo de mudança da capital teve início em 20 de dezembro de
1932, quando o interventor assinou o Decreto nº 2737/1932, nomeando uma
comissão para a escolha do local. Então, no dia 04 de março de 1933, foi
apresentado um estudo selecionando a cidade de Campinas, tendo em vista
que esta localidade encontrava-se no ponto central geográfico e demográfico
do estado, com uma topografia adequada e promissora, em uma zona com
maior desenvolvimento, com um vasto perímetro de terras produtivas e
cobertas por uma excelente mata (FERREIRA, 2003).
O primeiro projeto de Goiânia foi elaborado pelo o arquiteto-urbanista
Atílio Correa Lima, inspirado na escola francesa de urbanismo do inicio do
século XX, influencia que atribuiu funcionalidade ao traçado da capital.
Entretanto, antes de concluir o projeto, Atílio rompeu o contrato com o governo
de Goiás, sendo então substituído pelo engenheiro urbanista Armando de
Godói, que deu continuidade ao plano, mas seguindo orientação do modelo
das cidades-jardim inglesas (DAHER, 2009).
Em síntese, as cidades-jardim, criadas por Ebenezer Howard
constituíam agrupamentos equilibrados, que usufruíam das vantagens do
campo e da cidade evitando as deficiências de ambos. Assim sendo, dentre as
principais preocupações de Howard, estava a necessidade de dotar a trama
urbana de extensas áreas verdes constituídas de jardins, parques e bulevares,
com vista a salubridade da cidade e possibilitar o acesso da população
precariamente instalada nas cidades industriais então existentes à moradias de
baixo custo e alta qualidade ambiental (OTTONI, 1996).
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No plano original de Goiânia Attílio Corrêa Lima citou a criação de vários
parques e áreas verdes, tais como: o Parque dos Buritis, o Bosque dos
Bandeirantes, os Parques Lineares Capim Puba e Botafogo, o Parque Paineira,
o Parque Aquático Jaó e o Zoológico (MARTINS JÚNIOR, 1996). Mas, desde o
surgimento de Goiânia até os dias atuais, muitas transformações ocorreram no
ordenamento e na dinâmica da cidade. Mudanças que também se estenderam
aos parques encontrados hoje na capital.
Entre a década de 1930 e 1990, muitas das áreas verdes de Goiânia
foram extintas com vistas à expansão do aglomerado urbano: o Bosque dos
Bandeirantes passou a ser o Lago das Rosas; uma parte do Parque Capim
Puba foi transformada na antiga Rodoviária, outra parte em uma praça e outra
em uma subestação da Companhia Energética de Goiás (Celg); a área
ocupada pelo Parque Paineira foi transferida para empresas estatais (clubes da
Celg, Telegoiás e Saneago3); e, a área do Parque Linear Capim Puba foi
ocupada por residências, assim como ocorreu com o Parque Linear Botafogo
(Ibidem).
Essa situação é reflexo da omissão ou inoperância dos gestores
públicos. De acordo com o documento intitulado “Resgate do Berço Ecológico
de Goiânia”,
até dezembro de 1992, o órgão [encarregado da fiscalização ambiental] funcionava em duas salas acanhadas no Centro Livre de Artes do Bosque dos Buritis; não possuía a mínima estrutura para o funcionamento e cumprimento das suas competências constitucionais [...] contava com apenas três servidores no seu quadro; a linha telefônica era emprestada da Secretaria de Cultura; não existia a fiscalização ambiental com o conseqüente poder de polícia e nenhum fiscal de postura municipal jamais havia aberto um processo sequer sobre agressão ambiental em toda a história da cidade de Goiânia. Esta ausência de um órgão ambiental foi decisiva para que Goiânia tivesse o seu patrimônio ambiental violentamente dilapidado: somente no perímetro delimitado pelo Plano Original da Cidade, aprovado pelo Decreto-Lei 90-A, de 30.07.38, perderam-se 3,5 milhões de m² de áreas públicas
verdes (GOIÂNIA, 2007, p. 7).
3 Telecomunicações de Goiás S.A. (Telegoiás) e Saneamento de Goiás S.A. (Saneago).
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Este relato, redigido por Osmar Pires Martins Júnior, então Secretário
Municipal do Meio Ambiente, remete à situação encontrada pelo mesmo no
início do mandato de Darci Accorci como prefeito de Goiânia, em 1993. Nesta
gestão o poder público municipal utilizou-se do título concedido a Goiânia, que
a considerou uma das cidades que mais investiu na qualidade de vida de sua
população, para orientar seus discursos no sentido de afirmar o epíteto de
“cidade ecologicamente correta”, que se transformou em símbolo dessa
administração (ARRAIS, 2001).
Neste período, um dos principais programas desenvolvidos pela
Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SEMMA foi o resgate das áreas
verdes de Goiânia. Projeto em que foram contemplados os Parques Areião e
Botafogo, bem como o Jardim Botânico e os Parques Liberdade, Carmo
Bernardes e Vaca Brava, que não faziam parte do Plano Original da cidade
(GOIÂNIA, 2007).
Na administração seguinte, iniciada em janeiro de 1997, Nion Albernaz
deu seguimento a causa ecológica, mas agora considerando Goiânia como a
“cidade das flores”. Neste contexto, a prefeitura procurou exaltar a qualidade de
vida da cidade e promover a idéia de que Goiânia revestia-se de flores, mesmo
que na verdade esta realidade se restringisse a poucas regiões da cidade,
especialmente as centrais (ARRAIS, 2001).
Até janeiro de 2005, dos seis parques totalmente implantados em
Goiânia, apenas um se localizava fora das regiões sul e central da cidade, o
Parque Gentil Meireles. Foi quando Iris Rezende tornou-se prefeito da capital, e
iniciou a implantação de diversos parques e bosques, atingindo em seu
segundo mandato um total de 22, além daqueles que ainda se encontravam em
fase de implantação.Até o início de 2011, já sob a gestão de Paulo Garcia,
Goiânia passou a conter parques distribuídos por várias regiões da cidade,
como é possível observar na figura 1.
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Figura 1 – Mapa dos parques urbanos de Goiânia. PARQUES URBANOS DE GOIÂNIA: INFRAESTRUTURA, GESTÃO E
DESEMPENHO NO COTIDIANO DA POPULAÇÃO LOCAL
A criação de parques em diversas regiões de Goiânia tem possibilitado
que mais áreas verdes da cidade sejam preservadas e um maior número de
habitantes desfrute dos benefícios promovidos pela implantação dos parques.
Entretanto, para que essas áreas verdes cumpram as diversas funções que lhe
são atribuídas, a conservação e manutenção de todos os elementos que
compõem uma praça ou um parque devem merecer atenção continuada dos
órgãos públicos que gerenciam essas áreas e da população que as utilizam.
Pois o uso público de uma área verde está intimamente ligado à manutenção,
conservação e segurança que esta área recebe (GUZZO, 1998).
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Tendo em vista essa condição, Guzzo (1998) complementa que a
segurança de uma área verde na cidade advém de seu uso constante pela
população e de uma Guarda Municipal que seja mais educativa que punitiva.
Sendo que esse uso ocorrerá se a área estiver dotada de iluminação eficiente,
equipamentos funcionando, gramados podados, árvores de copas altas e
muitos outros itens relacionados à conservação e manutenção dos elementos
existentes nesse espaço, ou seja, sua infraestrutura.
De acordo Zmitrowicz e De Angelis Neto (1997), a infraestrutura urbana
pode ser conceituada como um sistema técnico de equipamentos e serviços
necessários ao desenvolvimento das funções urbanas, que podem ser vistas
sob os aspectos sociais, econômicos e institucionais. Embora possam ser
admitidas algumas variações, definidas conforme especificidades locais, esse
mesmo conceito também pode ser aplicado aos parques urbanos,
considerando-se que eles devem apresentar uma infraestrutura básica
necessária ao desenvolvimento das funções sociais e ambientais que lhe são
inerentes, como, por exemplo, iluminação, assentos, lixeiras, equipamentos
diversos destinados a atividades de lazer, dentre outros.
Além da infraestrutura, outro aspecto importante na configuração dos
parques refere-se à forma de administração dessas áreas. Conforme Loboda;
De Angelis (2005), os espaços públicos quando banalizados ou relegados ao
esquecimento se transformam em áreas de crescimento natural de mato,
cedem lugar a estacionamentos, além de se tornarem território de
“desocupados”. Assim sendo, percebe-se que os benefícios sucedidos da
implantação dos parques urbanos acabam condicionados ao estabelecimento
de infraestrutura e manutenção adequadas, o que depende da gestão pública.
Tendo em vista essas considerações, a seguir, serão analisados o
Bosque dos Buritis, o Parque Flamboyant e o Parque da Lagoa, identificando,
sempre que possível, correlações entre sua localização, a infraestrutura
implantada e o modo como estes espaços estão sendo geridos, a fim de
verificar seu desempenho junto à população local, bem como o potencial
turístico desses parques.
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Bosque dos Buritis O Bosque dos Buritis, localizado no Setor Central de Goiânia, possui
cerca de 124.800m² e foi instituído pelo Decreto-Lei nº 90A, de 30 de julho de
1938, que o designou como um espaço livre, inalienável, dedicado ao lazer e à
preservação ambiental (GOIÂNIA, 2007).
Apesar dessa designação, nas décadas seguintes à sua criação, o
bosque passou por um intenso processo de dilapidação de sua área verde, que
resultou em uma redução de aproximadamente 70% em relação a sua área
original. Diante desse cenário de degradação, a partir da década de 1990
foram realizadas diversas reformas e intervenções visando recuperar o espaço
do parque, o que permitiu transformá-lo, hoje, em um dos cartões postais de
Goiânia (Ibidem).
Atualmente, o Bosque dos Buritis é composto por três lagos, um
orquidário, um espaço para eventos, uma pista de caminhada, um parque
infantil, uma estação de ginástica, quiosques, um mirante e caminhos internos,
além de uma exuberante vegetação que se destaca na paisagem da capital
(figura 2).
Figura 2: Bosque dos Buritis – pista de caminhada (a), lago (b), parque infantil (c), e quiosque (d). Fonte: Carolina Ferreira da Costa, 2009.
(a)
(c) (d)
(b)
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Além disso, outro elemento importante são as placas indicativas instaladas por todo o ambiente, visto que possibilitam a orientação, e, portanto o maior conhecimento e aproveitamento da infraestrutura do bosque (figura 3).
Figura 3: placas que auxiliam na orientação pelo Bosque dos Buritis. Fonte: Carolina Ferreira da Costa, 2009.
Outro aspecto que facilita o acesso da população a esta área verde
refere-se à sua localização no Setor Central da cidade. Por meio de
questionários aplicados aos visitantes do bosque, verificou-se que 60% das
pessoas pesquisadas não residiam nas proximidades do parque. E, dentre
essas, cerca de 50% se deslocaram de seus bairros motivados pela beleza
daquela paisagem.
Quando questionados sobre a qualidade da infraestrutura do Bosque
dos Buritis, 80% dos visitantes a consideraram boa ou ótima; 50% dos quais
disseram, ainda, não haver nada o que melhorar no espaço do parque, o que
indica um alto nível de satisfação por parte dos usuários.
A manutenção do Bosque dos Buritis é realizada por uma gerência
própria, subordinada a AMMA. Essa equipe, composta por doze funcionários,
executa serviços como o plantio de mudas, a poda da grama e a limpeza do
lago, bem como de todo o parque. Segundo esses servidores, o principal
problema enfrentado refere-se ao comportamento de alguns visitantes, que
lançam lixo em local inadequado e praticam atos de vandalismo, quebrando
equipamentos. Nesse contexto, insere-se o trabalho da Guarda Municipal, que
auxilia na manutenção do bosque, identificando condutas indevidas e
orientando os usuários.
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Parque Flamboyant Inaugurado em 15 de setembro de 2007, o Parque Flamboyant localiza-
se na região sudeste de Goiânia, em uma área de aproximadamente 125.570
m², que no passado pertenceu a Fazenda Botafogo e foi tombada através do
Decreto nº 158, de 24 de janeiro de 2000 (HAMU, 2008). Neste espaço, onde
se encontram diversas nascentes, dentre elas a do Córrego Sumidouro,
afluente do Córrego Botafogo, foram instalados dois lagos, pontes de madeira,
mirante, parque infantil, ciclovia, pista de cooper, estação de ginástica,
caminhos internos, além de um jardim japonês (figura 4).
Figura 4: Parque Flamboyant – parque infantil (a), belvedere (b), estação de ginástica (c) e jardim japonês (d). Fonte: Carolina Ferreira da Costa, 2009.
Estabelecido no Jardim Goiás, bairro que já constituía “um dos centros
mais importantes de desenvolvimento econômico da capital” (Ibidem), esse
parque reuniu de forma admirável os elementos arquitetônico, paisagístico e
ecológico, tornando a região bastante visada pelo mercado imobiliário, que vem
(c) (d)
(b) (a)
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construindo diversos edifícios nas suas imediações. Essa tendência promete
ao futuro morador aliar a qualidade de vida, representada pelo parque, à
residências de alto padrão.
Tendo em vista a beleza dessa área verde, verificou-se, por meio da
aplicação de questionários, que 87,5% dos entrevistados se deslocaram de
outras regiões de Goiânia, e inclusive de outras cidades, para visitar o parque.
Quanto à qualidade da infraestrutura, todos os visitantes consideraram-na boa
ou ótima; e metade dos entrevistados disse que não havia o que melhorar no
espaço do parque.
Assim como no Bosque dos Buritis, a manutenção do Parque
Flamboyant é realizada por uma gerência própria. Para essa equipe, composta
por seis funcionários, o principal problema se refere à má conduta dos próprios
usuários. Segundo o relato de funcionários, devido à proximidade com o
Estádio Serra Dourada, em dias de jogo o parque é tomado por torcedores, que
quebram placas e realizam pichações. Segundo relatos dos funcionários do
parque, nestas situações nem mesmo a Guarda Municipal é suficiente, sendo
necessário também o apoio da Polícia Militar para conter os depredadores.
Parque da Lagoa
O Parque da Lagoa ou Parque João Carlos Fernandes de Oliveira,
assim denominado em homenagem a uma conhecida liderança comunitária do
Parque Industrial João Braz, foi inaugurado em 26 de junho de 2008, em uma
área de aproximadamente 37.250 m², localizada numa área periférica da região
oeste da capital (COSTA, 2008).
Segundo a Prefeitura, durante os anos de 1980 o manancial existente
nessa área abrigava uma rica fauna aquática e ajudava a elevar a qualidade de
vida da população da região. Entretanto, em função de intervenções de
impacto negativo, o local foi aterrado na década de 1990, transformando-se em
um grande matagal que passou a abrigar um depósito de lixo.
Tendo em vista essa situação, em 2007 a AMMA iniciou um processo de
recuperação desse espaço, executando a limpeza completa do terreno,
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demarcação da área da lagoa e perfuração da mina que dava origem ao
manancial, bem como o projeto de recuperação florística da área (Ibidem).
Hoje, como podemos observar na figura 5, o parque abriga uma lagoa, um
parque infantil, uma pista de caminhada, uma estação de ginástica, um campo
de futebol, uma pista de skate e uma quadra poliesportiva.
Figura 5: Parque da Lagoa – estação de ginástica (a), parque infantil (b), quadra poliesportiva (c) e a lagoa (d). Fonte: Carolina Ferreira da Costa, 2009.
Comparando o Parque da Lagoa ao demais (Bosque dos Buritis e
Parque Flamboyant), observa-se que, além de abranger uma área bem menor,
o parque também se distingue com relação à sua cobertura vegetal.
Atualmente, a área verde é composta principalmente por vegetação rasteira,
pois as árvores plantadas no projeto de recuperação florística ainda estão em
fase de desenvolvimento. Estes aspectos tornam o espaço, considerado pela
AMMA como parque municipal, bem semelhante a uma praça.
Apesar disso, uma parcela significativa dos usuários, que responderam
ao questionário desta pesquisa, mostrou-se satisfeita com o Parque da Lagoa.
Referente à sua infraestrutura, por exemplo, 60% consideraram boa ou ótima.
Quanto às eventuais melhorias, 40% dos entrevistados consideraram
desnecessária qualquer mudança, e 60% sugeriram a intensificação do
(b) (a)
(d) (c)
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policiamento – e, destes, aproximadamente 65% também citaram o acréscimo
de iluminação.
Referente à sua gestão, o Parque da Lagoa também se distingue dos
demais parques analisados, visto que não possui uma administração própria.
Sua manutenção é realizada diretamente pela AMMA, que disponibiliza três
equipes para percorrerem os parques de menor porte, executando os serviços
necessários.
PARQUES URBANOS DE GOIÂNIA: POTENCIAL TURÍSTICO
Como se propôs no início deste artigo, a análise referente ao potencial
turístico dos parques urbanos goianienses considerará, essencialmente, o
pressuposto de que uma cidade boa o suficiente para os próprios habitantes,
realmente é excepcional ao turismo (YÁZIGI, 1996). Entretanto, é importante
ressaltar que
Cualquier espacio geográfico es un potencial espacio turístico y tiene la capacidad de ofrecer ciertos bienes y servicios turísticos; sin embargo, no todos tienen la infraestructura necesaria, ni albergan al volumen suficiente de turistas como para poder ser considerado tales (ALVAREZ, 1999, p. 25).
Observando, ainda, que
o que diferencia o lugar turístico da atualidade de outros lugares (inclusive aqueles considerados potencialmente turísticos), é a presença do turista e não, simplesmente, a existência de infraestruturas típicas de um uso turístico, como meios de hospedagem e infraestrutura de lazer (CRUZ, 2003, p. 8).
Como mencionado no item anterior, os três parques analisados (Bosque
dos Buritis, Parque Flamboyant e Parque da Lagoa), de modo geral, foram bem
avaliados pelos seus usuários. E quando questionados se os parques
constituíam atrativos turísticos, a maioria dos visitantes admitiu a referida
atratividade.
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De acordo com os usuários do Bosque dos Buritis, o atributo turístico
relacionado a essa área verde, decorre da beleza do ambiente, dos diversos
recursos naturais ali reunidos, da história concernente àquele espaço e do
interesse de “pessoas de fora” em conhecer o parque. No Parque Flamboyant,
além da beleza e tranqüilidade, os visitantes também indicaram a falta de
outros atrativos turísticos na capital para justificar o interesse turístico suscitado
pelas áreas verdes goianienses. Já no Parque da Lagoa, também houve
aqueles que destacaram sua beleza, mas a maioria das respostas relacionou a
atratividade turística ao fato de pessoas se deslocarem de outros bairros para
visitar o referido parque.
Os itens anteriormente mencionados realmente distinguem esses
ambientes do todo urbano, o que os tornam potencialmente turísticos, pois o
reconhecimento da população local quanto a esses atributos indica que esses
espaços já possuem um valor distinto, relevante no seu cotidiano. Trata-se do
primeiro passo para despertar o interesse dos visitantes e agregar valor
turístico a essas áreas, porém, não é o suficiente para o estabelecimento da
atividade turística.
A princípio, o instrumento fundamental na determinação e seleção das
prioridades para a evolução harmoniosa do turismo é o planejamento
(RUSCHMANN, 1997), atividade a qual se deve somar “uma gestão integrada
dos aspectos físico-territoriais, ambientais, político-administrativos, econômicos
e sociais” (ALMEIDA, 2004).
Em Goiânia, essas atribuições competem a Secretaria Municipal do
Turismo – SEMTUR, mas, considerando o turismo relacionado às áreas verdes
da capital, percebe-se que as atividades desse órgão ainda se mostram
incipientes.
Segundo seus próprios funcionários, na SEMTUR não há qualquer
projeto específico de promoção dos parques urbanos goianienses. Existem
apenas algumas ações de publicidade, que, além de divulgar os parques como
atrativos turísticos, destacam a condição de capital brasileira com melhor
qualidade de vida e o título de área urbana mais verde do país.
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Dentre todos os parques da capital, somente o Bosque dos Buritis foi
contemplado com a construção de um Centro de Atendimento ao Turista –
CAT, porém, trata-se de um local com pouco destaque no parque, situando-se
em uma área afastada das principais vias de circulação dos visitantes, e seu
funcionamento não abarca os fins de semana.
No CAT do Bosque dos Buritis são disponibilizados aos turistas o guia
Curta Mais, que resulta de uma produção terceirizada que apresenta os
principais eventos, opções de lazer, compras, hospedagem e alimentação,
dentre outros elementos de interesse ao turista; e um mapa elaborado pela
SEMTUR, no qual são destacados os principais centros comerciais, os hotéis,
os museus, os teatros, a arquitetura Art Déco e os parques urbanos, com
exceção daqueles inaugurados após junho de 2008, como é o caso do Parque
da Lagoa.
Se por um lado, espaços como o Bosque dos Buritis e o Parque
Flamboyant ainda necessitam de alguns ajustes para possuírem a
consideração de local turístico e atenderem bem ao turista, outras áreas verdes
como o Parque da Lagoa servem apenas para incrementar as estatísticas que
promovem Goiânia como capital ambiental. A infraestrutura e a gestão dos
parques de bairros periféricos mostram-se nitidamente inferiores àqueles que
se localizam em setores nobres, assim sendo, a possibilidade de se
estabelecer atividade turística nessas áreas é significativamente menor.
Tendo em vista que
os espaços são diferentemente valorizados pelas sociedades, em função das possibilidades técnicas que determinam sua utilização, de fatores políticos, econômicos e, também culturais, todo espaço do planeta pode ser considerado espaço do turismo (CRUZ, 2003, p. 12)
Entretanto, a consolidação da atividade turística depende da presença
de diversos fatores que, reunidos, devem possibilitar uma “ambiência digna” ao
turista, espelhando o modo como se devem atender as demandas da
comunidade local.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os parques urbanos de Goiânia abarcam uma diversidade de valores e
atributos, o que permite organizar uma série de reflexões acerca do
desempenho desses espaços na dinâmica local.
Considerando os aspectos ambientais, a princípio, nota-se que os
parques urbanos de Goiânia foram concebidos em áreas de nascentes e às
margens de cursos d‟água, o que implicaria não apenas na preservação da
vegetação, uma das justificativas para a existência de parques urbanos, mas
também dos recursos hídricos – algo que é pouco destacado.
Nessa concepção, foram idealizadas grandes áreas de mata e parques
lineares, que contribuiriam para a salubridade de Goiânia ao mesmo tempo em
que permitiriam a preservação da fauna e flora presentes nesses ambientes.
Porém, com o processo de expansão do aglomerado urbano, muitas dessas
áreas foram ocupadas e destinadas para outros fins, o que suscitou a redução
da área dos parques, a fragmentação desses habitats, e, consequentemente, a
redução da biodiversidade.
Além do desmatamento, outro fator que colaborou para a redução da
diversidade biológica foi à introdução de espécies exóticas, que ocorreu nas
primeiras décadas após a criação de Goiânia, pois, nesse período, a vegetação
nativa não era valorizada. Hoje, considerando as falhas cometidas no passado,
diversas intervenções urbanísticas buscam recompor os parques com espécies
originárias, além dos projetos que procuram estabelecer conectividade entre as
áreas verdes.
Além dos atributos físicos, outro elemento que merece destaque é a
atuação dos parques na construção de espaços de valorização imobiliária.
Tendo em vista que o processo de urbanização geralmente suscita outros
processos como o aumento da densidade populacional, o crescimento do
número de construções, a impermeabilização do solo e a redução dos espaços
livres, observa-se que as áreas verdes tornam-se, cada vez mais, elementos
exóticos na paisagem urbana. Esse aspecto, associado à crescente demanda
por lazer e por melhor qualidade de vida, torna os parques urbanos espaços
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bastante valorizados na cidade, o que incita o interesse do setor imobiliário e
da construção civil em edificar imóveis próximos a essas áreas, no sentido de
agregar valor a seus empreendimentos.
Haja vista que esse processo exclui determinada parcela da sociedade,
que possui menor poder aquisitivo, o poder público promoveu a criação de
parques em diferentes regiões da cidade, inclusive em bairros periféricos. Mas,
comparando o Bosque dos Buritis e o Parque Flamboyant ao Parque da Lagoa,
foi possível notar que os parques de bairros de periféricos não recebem a
mesma infraestrutura e tratamento daqueles situados em setores nobres.
A infraestrutura visivelmente superior, instalada nos parques urbanos de
bairros nobres, associada à demanda por áreas aprazíveis de lazer, ainda
escassas na maior parte de Goiânia, incitam as pessoas a se deslocarem de
várias regiões de cidade para visitar parques como o Bosque dos Buritis e o
Parque Flamboyant. No entanto a SEMTUR não vê isso como um problema,
pois, segundo a secretaria, esse tipo de deslocamento promoveria o chamado
turismo doméstico.
O Plano Municipal de Turismo de Goiânia 2009/2012, lançado no dia 04
de setembro de 2009, apresenta dentre seus programas o Projeto de
Incremento do Turismo Doméstico, cujo principal objetivo é incentivar a prática
do turismo entre os próprios moradores de Goiânia, para que também
conheçam e desfrutem dos atrativos que o município oferece, permitindo,
durante a baixa temporada, fomentar a cadeia produtiva do setor. O plano
supracitado também apresenta um Projeto de Adequação e Criação de
Espaços Turísticos, cujas estratégias incluem a adequação da infraestrutura
dos parques urbanos, visando a sua utilização pelos turistas e pela
comunidade local.
Considerando a opinião da população local expressa através da
aplicação dos questionários, percebe-se que os parques urbanos
desempenham um papel de grande relevância na dinâmica de Goiânia. No
entanto, analisando comparativamente a infraestrutura e a forma de gestão dos
parques, nota-se também a necessidade de implementação de políticas
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públicas eficientes que promovam o acesso equitativo ao lazer e a melhor
qualidade de vida a toda a população goianiense.
Para o desenvolvimento do potencial turístico relacionado aos parques
urbanos de Goiânia, ainda são necessárias inúmeras medidas que promovam
e possibilitem a consolidação dessa atividade, nas quais devem se envolver
diversas formas de solidariedade e de organização espacial, tais como a
cooperação intermunicipal, a participação da comunidade e a parceria entre o
público e o privado (ALMEIDA, 2004), com vistas à efetivação do Plano
Municipal de Turismo, recentemente lançado.
Evidenciando a distinção nas obras e serviços realizados pelo poder
público, que parecem variar de acordo com o poder aquisitivo da população
beneficiada, espera-se não apenas contribuir para futuras pesquisas
acadêmicas, mas principalmente fornecer subsídios para um melhor
planejamento e execução de políticas públicas em Goiânia.
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