passou anos a deriva

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Passou anos a deriva... Aquela pequeno barco navegava com o vento, enfrentava de tudo e nunca se abalava: tempestades, tufões, redemoinhos infernais. Por favor, Netuno, deve estar de brincadeira! Ria de tudo isso, a aventura era algo tão forte nele que não tinha medo de naufragar, não se lembrava e nem queria saber o que era um porto seguro, seguro mesmo era admirar o pôr-do-sol dali, ver golfinhos zombando da vida, respirar ar puro e sempre ir onde o vento o levava. O mar proporciona tudo que você precisa, basta saber como procurar. A solidão só se apoderou quando encalhou, era tarde pra desviar, seu barco tombou diante a uma rocha pontiaguda, foi espetado, transpassado, melhor seria ter afundado, teve de ficar ali. Pra completar seu azar, o maré secou e revelou que na verdade aquela pequena rocha era uma montana, quando deu por si, estava a metros do chão. CHÃO!!! O horror que essa simples palavra o causava... Se sentiu uma princesa presa a um castelo. Era impossível descer seu barco dali, a única alternativa era esperar pelo mar pois seu barco já estava consertado, iria morrer, era seu destino, resolveu esperar dali mesmo. Havia romantismo naquilo, aos pouco viu vida por ali, flores, pequenos mamíferos e alguns pássaros que cantavam. Encontrou paz, e sentiu fome! Pescar dali era inútil, ao contrário do mar, não chovia muito por ali, sedento delirava e avistou uma ilha... Para sua maldição, ela era real!

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Crônica sobre uma pessoa conflita consigo mesmo.

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Page 1: Passou Anos a Deriva

Passou anos a deriva...

Aquela pequeno barco navegava com o vento, enfrentava de tudo e nunca se abalava: tempestades, tufões, redemoinhos infernais. Por favor, Netuno, deve estar de brincadeira!

Ria de tudo isso, a aventura era algo tão forte nele que  não tinha medo de naufragar, não se lembrava e nem queria saber o que era um porto seguro, seguro mesmo era admirar o pôr-do-sol dali, ver golfinhos zombando da vida, respirar ar puro e sempre ir onde o vento o levava. O mar proporciona tudo que você precisa, basta saber como procurar.

A solidão só se apoderou quando encalhou, era tarde pra desviar, seu barco tombou diante a uma rocha pontiaguda,  foi espetado, transpassado, melhor seria ter afundado, teve de ficar ali. Pra completar seu azar, o maré secou e revelou que na verdade aquela pequena rocha era uma montana, quando deu por si, estava a metros do chão. CHÃO!!! O horror que essa simples palavra o causava...Se sentiu uma princesa presa a um castelo. Era impossível descer seu barco dali, a única alternativa era esperar pelo mar pois seu barco já estava consertado, iria morrer, era seu destino, resolveu esperar dali mesmo.

Havia romantismo naquilo, aos pouco viu vida por ali, flores, pequenos mamíferos e alguns pássaros que cantavam. Encontrou paz,  e sentiu fome! Pescar dali era inútil, ao contrário do mar, não chovia muito por ali, sedento delirava e avistou uma ilha... Para sua maldição, ela era real!

Teria de viver assim, beber agua de coco, matar animais e enterrar sua carne. Envelheceu anos em poucos meses. Sentiu saudades e voltou para o barco.

Alguém o tinha destruído, mas aquilo era impossível, ele mesmo demorou horas para escalar a montanha e isso fez lhe render boa parte de suas energias, como seria possível que seu barco se estilhaçasse tanto? Encontrou um ovo enorme, escarlate, seu barco era o seu ninho. Passou dias sem que a mãe o visitasse, tinha medo, mas fez do ovo seu companheiro. Era estranho como ele o chamava, o queria pra si, algo dizia para destruí-lo, era encantador e confortante o observar, sentir o seu calor, algo pulsava de dentro dele. Algo minúsculo e assustador. Naquela noite ele não dormiu, apenas observou o ovo, até o frio o tomou, a panela já fervia e não pode pensar duas vezes: comeu o ovo!