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Associação Internacional de Lingüística SIL - Brasil Anápolis - GO 1977 Versão Preliminar por Velda C. Nicholson Ordem Frasal de Cláusulas na Língua Asurini

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Page 1: Assurini Ordem Frasal - sil.org 1.2. Tipos de informação. Vamos analizar diversos tipos de informação no discurso asurini para determinar como estes se combinam num sistema integrado

Associação Internacional de Lingüística SIL - Brasil

Anápolis - GO

1977 Versão Preliminar

por Velda C. Nicholson

Ordem Frasal de Cláusulas na Língua Asurini

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Índice 0. Introdução 1. Fatores a serem considerados na ordenação de frases. 1.1. Estruturas clausais. 1.2. Tipos de informação. 1.2,1. Informação nova vs informação velha. 1.2.2. Ordenação de funções semânticas. 1.2.3. Informação tem/atica. 2. Frases em posição inicial de cláusula, na presença de um elemento anterior ao predicado. 2.1. Tempo (T) 2.2. Agente (A) 2.3. Paciente (P) 2.4. Âmbito (Am), Alvo (Al) e Origem (O) 2.5. O predicado. 2.5.1. Verbos de direção. 2.5.2. Orações citacionais após citações diretas. 2.6. Beneficiário e veículo. 2.7. Informação velha. 2.7.1. Referência anafórica. 2.7.2. Informação e montagem secundárias. 3. Frases em posição inicial de cláusula, na presença de dois elementos antes do predicado. 3.1 Agente e tempo. 3.2 Agente e outras funções semânticas. 4. Frases em posição final de cláusula 4.1. Beneficiário, veículo e instrumento. 4.2. Paciente. 4.3. Âmbito e alvo. 4.4. Informação velha. 5. Frases em posição medial de cláusula, na presença de dois elementos após o predicado. 5.1. Informação nova. 5.2. Informação velha. 6. Frases em posição medial de cláusula, na presença de três elementos após o predicado. 6.1. Paciente. 6.2. Agente. Resumo Apêndice Notas Bibliografia

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0. Introdução Parece não haver ordem fixa de frases nas cláusulas da língua asurini.1 Aceita-se

igualmente qualquer ordem nas cláusulas isoladas, como se vê nos exemplos seguintes:

Akoma'e o.nopo sawara. Homem 3s-bater cachorro.

Akoma'e sawara o.nopo. Homem cachorro 3s-bater

Sawara akoma'e o.nopo. Cachorro homem 3s-bater.

O.nopo. sawara akoma'e. 3s-bater cachorro homem O homem bateu o cachorro.

Quando se estuda o discurso inteiro, porém, destaca-se uma ordem bem definida de frases

dentro das cláusulas. Aparece, via de regra, importante informação não-verbal em posição inicial na cláusula; a informação de importância secundária ocorrerem posição final de cláusula, e aquela de menor importância em posição mediai. Integram-se diversos fatores na formação de tal sistema.

1. Fatores a serem considerados na ordenação de frases.

1.1. Estruturas clausais. Antes de prosseguirmos, é essencial determinar as possibilidades estruturais de uma

cláusula e o número de funções semânticas que pode desempenhar. Aparecem a seguir as estruturas clausais mais comuns. O predicado pode ficar sozinho, precedido de uma função, ou seguido de um máximo de duas delas, com as restrições descritas no seguinte diagrama.

______ ______O ______OO O______ O______O O______OO

(A linha representa o predicado, e o O qualquer função semântica).

Podem ocorrer também outras estruturas, mas estas são menos comuns e pode dar-se apenas um número muito reduzido de funções semânticas na nova posição introduzida. Há casos em que ocorrem duas funções semânticas antes do predicado.

OO______ OO______O OO______OO

Menos comum ainda é a ocorrência de três funções semânticas após o predicado.

______OOO O______OOO

No caso da apresentação de tanta informação, é costume dividi-lá entre outras cláusulas, repetindo o mesmo verbo ou introduzindo outros. Mesmo assim, o acúmulo de frases dentro de uma só cláusula é possível, especialmente no caso de sentenças com função de título, dando-se simultaneamente muitas informações para a criação do tema e da montagem da narrativa inteira.

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1.2. Tipos de informação. Vamos analizar diversos tipos de informação no discurso asurini para determinar como

estes se combinam num sistema integrado que rege a ordem das frases dentro da cláusula.

1.2.1. Informação nova vs informação velha. Deve saber-se, desde o início, se já foi mencionado no discurso o agente, paciente,

tempo, âmbito ou outra função qualquer, ou se está sendo introduzida tal função pela primeira vez. As novas informações costumam apresentar-se em posição inicial da cláusula. Se há mais de uma função semântica da nova informação, uma das funções ocorre em posição inicial e a outra em posição final. Co-ocorrendo mais de duas funções semânticas, as posições segunda e/ou penúltima são também integradas pela nova informação.

1.2.2. Ordenação de funções semânticas. No que se refere à colocação de funções semânticas na estrutura clausal, existe uma

ordem bem definida. O elemento temporal, por exemplo, encontra-se quase sempre em posição inicial de cláusula. O agente (se constitui informação nova) se encontra em posição inicial quando falta o elemento temporal (seções 2.2. e 3.1.). Em outras palavras, o tempo é de rango superior ao agente. Dá-se um novo paciente em posição inicial de cláusula quando não ocorrem as funções de tempo e agente. Mas se estes estão presentes na cláusula, aquele costuma aparecer em posição final.

Nas seções 2-6 analisamos as diversas funções semânticas e sua ordenação.

No presente estudo as frases não-verbais são referidas segundo suas respectivas funções semânticas, apud Grimes, 75.2 As frases temporais serão tratadas separadamente das de âmbito, sendo relevante tal distinção ao presente estudo.

1.2.3. Informação temática. O tema de um discurso asurini é colocado numa determinada posição dentro da cláusulas.

Ocorre em posição inicial quando mencionado pela primeira vez (nova informação) e posteriormente, na qualidade de velha informação, aparece em posição final de cláusula (seção 4.4). Isto significa que quando é temática uma função semântica de rango inferior, pode assumir o lugar de função superior. Um discurso, por exemplo, cujo tema trata um determinado paciente em vez de um agente, levará tal paciente em posição inicial de cláusula quando primeiro mencionado é depois em posição final. (Veja Apendice: "Peixe - Curral" por Nazaré). O tema de uma das seções de um discurso será também introduzido em posição inicial de cláusula.

2. Frases em posição inicial de cláusula na presença de um elemento anterior ao predicado. Identificaremos primeiramente as frases que podem ocorrer em posição inicial de

cláusula. Uma unidade funcional de nova informação isolada se apresenta em tal posição. Havendo mais de uma função (frase) de nova informação, as regras de ordenação entram em vigor (seção 1.2.2.). Algumas das funções (de informação nova) são então obrigadas a tomar outras posições, quais que sejam a final ou como segunda função ante do predicado (seção 3). No caso de diversas funções deste tipo numa só cláusula, a posição medial (após o predicado) levaria também uma das novas funções. Exemplo:

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A viagem a Tucuruí, por Nazaré, linha 1: Al Am V Tucuruí-pe raka sa.ha, toria-ropi, somiapapyga-pype. Tucuruí-a p.r.p.5 1pi-ir, civilizado-com, barco motor-dentro. Fomos a Tucuruí num barco-motor com civilizados.

Faltando nova informação na cláusula, o predicado assume geralmente posição inicial (seção 2.5.). O único elemento de informação velha que pode assumir tal posição é, via de regra, um agente re-introduzido (seção 2.2.). A seguir analisaremos uns poucos casos de outras funções semânticas (como, por exemplo, informação ja conhecida) que podem ocorrer em posição inicial. (seção 2.7.).

2.1. Tempo A função temporal assume normalmente posição original na cláusula. Num total de 26

discursos coligidos, este elemento aparece somente duas vezes após o predicado. Isto significa que outras funções semânticas na mesma cláusula ocupam o lugar pós-predicado. Exemplos:

O dia 7 de setembro, por Nazaré, linha 1: T Al Ma'e.apo.taw.y'ym.a-re sa.ha Tucuruí-pe. Coisa-fazer-nom-neg-nom-no 1pi-ir Tucuruí-a. No fim de semana fomos a Tucuruí. A viagem, por Petyrawa, linha 7: T Am Am Ose'iwe oro.t.a. ywyo, pee-ropi. O dia seguinte 1pe-vir-G a pé caminho-por. No dia seguinte viemos a pé, pela estrada.

A única exceção é a combinação de frase temporal com agente novo ou re-introduzido. (Veja seção 3.1.)

2.2 Agente Se não há função temporal, o agente, na qualidade de informação nova, assume posição

inicial. Exemplos:

A Masaranduba, por Nazaré, linha 1: A P-rehe Am Al Akoma'e raka a.ha soa-re ore-renone kwe-Masaranduba-pe. Homens p.r.p. 3p-ir castanha-referente a, nós-em frente lá Masaranduba-a. Os homens foram em frente de nós a Masaranduba em busca de castanha.

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Urubu, por Iogawete, linha 18: A P Serevia o.soka sawara. Serevia 3s-matar cachorro. Serevia matou o cachorro.

Há nesta posição inicial não somente um novo agente, como também com freqüência um agente re-introduzido no discurso. Tal agente volta em cena após uma ausência mais ou menos prolongada, ou depois de ficar relativamente esquecido atrás de um grupo de agentes novos em primeiro plano. Exemplos:

Urubu, por Cajuagawa, linha 31: A re-introduzido (citação) A João raka - Sawewyra mo… -i'i raka, João. João p.r.p. - arraia talvez…. -3s-dizer p.r.p João. João falou - Arraia… - João disse. Ainda na mesma narrativa, linha 59. A re-introduzido P João raka i.soka.o inamoa sowe no.

João p.r.p. 3o-matar-G pássaro só de novo. João só matou um pássaro.

As demais funções semânticas (quando constituem nova informação) podem também ocupar esta posição inicial, se não há na mesma cláusula função temporal nem agente novo nem re-introduzido.

2.3. Paciente Na ausência de elemento temporal ou agente novo, um novo paciente costuma assumir a

posição inicial da cláusula. A única função capaz de disputar-lhe este lugar é, por vezes, a de âmbito, a qual analisamos na seção 2.4. Exemplos:

A viagem de Pucuruí, por Poraké, linha 1: P Al Soa raka oro.manahag ara.ha Pucuruí-pe.

Castanha p.r.p. 1pe-cortar 1pe-(A)-ir Pucuruí-a. Fomos a Pucuruí cortar castanha. Acontecimentos.... por Nazaré, linha 3: P Am Karowara raka o.apo a.ka ne.raga-rehe.

Veneno p.r.p. 3s-fazer 3s(A)-estar sua casa-na. Ela botou veneno na sua casa.

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Só dois elementos--um paciente muito secundário (i.e., informação secundária ou esperada, ou informação implícita que agora é explícita) ou uma frase se de tipo "paciente - rehe" --não ocorrem em posição inicial quando possível. Estas duas funções aparecem de preferência em posição final de cláusula, ou numa posição ainda inferior. (Veja seções 5.2. e 6.l.). As frases "paciente rehe" consistem no paciente em questão seguido do elemento hehe/-rehe "com referência a". Estas frases são empregadas quando alguém vai buscar caça, frutas ou nozes na selva, ou vai pescar. Costumam ocorrer em companhia do verbo aha "ir". Exemplo:

P-rehe Ara.ha soa-rehe.

ipe-ir castanha-referente a. Fomos buscar castanha do Pará.

2.4. Âmbito, alvo e origem. Estes elementos ocorrem com freqüência em posição final de cláusula, mesmo como

informação nova. Quando são temáticas, porem, na ausência das funções superiores acima mencionadas (sobretudo tempo e agente), ocupam posição inicial de cláusula. O agente de um discurso pode ser expresso simplesmente pelo prefixo pronominal do verbo, como por exemplo quando um grupo geral designado 'nós' é responsável pela ação de uma narrativa. Neste caso, raramente se declara uma função de agente separada, existindo por tanto a nítida possibilidade de que uma outra função ocupe a posição inicial de cláusula.

Referências à 'Base de Operações', i.e., a aldeia asurini, mesmo como nova informação, ocorrem em posição final de cláusula. Isto se explica pelo fato de ser a aldeia deles, o lugar a que normalmente se volta depois de qualquer viagem, constituindo portanto informação já esperada. Não é o tema da narrativa, senão a conclusão da mesma. Exemplo:

A viagem…, por Petyrawa, linha 11: Al Oro.wahem.a Tokará-pe. 1pe-chegar-G Trocará-a. Chegamos em Trocará.

Num discurso que descreve uma viagem a um certo lugar, ou eventos ocorridos durante a estadia num determinado local (além da 'Base de Operações') o lugar em questão costuma constituir tema central do discurso inteiro.

Exemplo: A viagem a Tucuruí, por Nazaré. Este discurso se divide em duas seções principais, baseadas na localização da narrativa. As linhas 1-14 tratam de uma viagem a Tucuruí. A linha 1 explica.

Al Am V Tucurui-pe raka sa.ha, toria-ropi, somiapapyga-somiapapyga-pype.

Tucurui-a p.r.p. 1pi-ir, civilizado-com, barco-motor-dentro. Fomos a Tucurui num barco-motor, com civilizados.

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A linha 14 fecha a seção com: Al Kwe raka sere.ha, sere.hem.a Tucurui-pe.

Depois, p.r.p. 1pi-ir ipi-sair-G Tucurui-a. Então fomos e encostamos em Tucurui.

As linhas 15-39 tratam dos eventos ocorridos na Vila de Tucurui. A linha 15 começa:

Am P Dona Aída-pyri raka sa.ha. i'o ma'ae'aa.

Dona Aída-a p.r.p. 1pi-ir 3o-comer carne. À casa de Dona Aída fomos comer.

É interessante notar que outros Al e Am novos ocorrem em posição final de cláusula e descrevem apenas a localização provisória e secundária do agente. Por exemplo, na linha 2:

Al Sere.ha sere.hema Tawa-pe.

1pi-ir 1pi-sair-G Tawa-a. Fomos e encostamos em Tawa. Na linha 5: P B Am O.pen.a raka somiapapyga seneope ypyteri-pe.

3s-quebrar-G p.r.p. barco-motor para nós meio-na. O barco motor encrencou no meio (do rio). Em A viagem do Rio Pacajá, por Poraké, a sentença titular (linha l) declara: O Pacajá-hi raka a.san.

Pacajá-de p.r.p. 1s-vir. Vim do Rio Pacajá.

O texto descreve a mudança de um grupo de índios asurini, sob comando de Poraké, do Rio Pacajá até o posto indígena de Trocará após vários anos de ausência. Poraké voltou sozinho a Trocará e combinou a transferência posterior do grupo inteiro por barco. O tema do texto é, portanto, a mudança do Rio Pacajá. Aí se vê o caso bastante raro de uma nova origem que assume posição inicial na primeira linha de um discurso. Interessante notar a posição desta mesma função em linhas subsqüentes (Veja abaixo e o comentário temático na seção 4.4.).

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Linha 2-5: 2. Am O Al Ywyo raka a.san Pacajá-hi, Trokara-pe.

Por terra p.r.p. 1s-vir Pacajá-do Trocará-a. Eu vim do Rio Pacajá a Trocará por terra (polo mato). 3. Am O A.ke-a.ken raka oet.ot.a pee-ropi, Pacajá-hi.

1s-dormir-dormir p.r.p. 1s-vir-A caminho-por, Pacajá-do. Passei muitos dias vindo do Rio Pacajá até Trocará. 4. Am Oe.ata.o raka oet.ot.a Tykwawyterahoa-ropi.

1s-andar-G p.r.p, 1s-vir-A Tywawytera-por. Vim pelo Rio Tykwawytera. 5. Al A'e ramo raka a.wahem oet.ot.a Cajuagawa-pype.

Então p.r.p. 1s-chegar 1s-vir-A Cajuagawa-dentro. Então cheguei ao Cajuagawa (o Capitão).

O âmbito, "por terra" (linha 2), constitui a informação primordial das linhas 2-5, pois o meio de condução e transporte mais óbvio teria sido pelo rio mesmo. Poraké veio sozinho por terra na primeira viagem, e nas linhas 2-5 ele descreve sua travessia da selva. Na linha 2, Tokará-pe "a Trocará" (Al) assume posição final por constituir informação esperada, ou seja, à "Base de Operações". (Na linha 5 fica em posição final um novo alvo, referindo-se este também à Base de Operações). Em contraste ao novo âmbito da linha 2, o da linha 4, assume posição final por ser apenas um detalhe menor da narrativa e não o tema da seção.

Como já se disse na seção 2.3., há casos em que o paciente ocupa posição inicial, levando precedência sobre o âmbito, e vice versa. Há discursos que descrevem a estadia num certo local, com o propósito de cortar arroz, colher castanha do Pará, etc. Nestes casos, determinado paciente desempenha papel igualmente importante ou do âmbito.

Comparem-se as sentenças titulares (primeiras linhas) dos textos Arroz, de Nazaré, e Urubu, de Karoa:

P A Am A Komanaisi'ia wyge o.manahag a.ka Urubu-pe, aoseoho.

Arroz pessoal 3-p-cortar 3p(A)-estar Urubu-em, todos. Todo o mundo estava cortando arroz em Urubu.

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Am Urubu-pe ara.ka raka i.manahak.a Komanaisi'ia.

Urubu-em iper-estar p.r.p 3o-cortar-G arroz. Estávamos em Urubu, cortando arroz.

O primeiro dos dois discursos conserva sempre o paciente 'arroz' como tema, embora mude duas vezes o local da ação no transcurso da narrativa.

O segundo discurso versa sobre a colheita do arroz, mas inclui também outras facetas da vida em Urubu.

Este discurso podia bem levar como título, "O que aconteceu em Urubu", pois o local da narrativa inteira é precisamente este. O desenrolar dos acontecimentos apresenta várias viagens de caça, e diversas pessoas se manifestam desertoras ao grupo dos trabalhadores; o paciente "arroz", portanto, não é tema de toda seção do discursa. É por isso que, na primeira linha da narrativa, o âmbito Urubu-re "em Urubu" ocupa posição inicial.

Para análise de combinações de paciente, âmbito e alvo, com agente novo ou re-introduzido (Veja seção 3.2.)

2.5. O Predicado. Quando as funções acima referidas não ocorrem como informação nova numa cláusula, o

predicado assume normalmente posição inicial. Exemplos:

Urubu, por Karoa, linha 31: P Oro.manaa.pam ara.ha aose-sowe komanaisi'ia.

1pe-cortar-terminar 1pe-ir logo arroz. Acabamos logo de cortar o arroz. A viagem a Tucurui, por Nazaré, linha 5: P B Am O.pen.a raka somiapapyga seneope ypyteri-pe.

3s quebrar-G p.r.p. barco-motor para nós meio-rio. O barco-motor encrencou no meio (do rio).

O predicado tem precedência sobre as funções origem, alvo, âmbito, veículo e beneficiário, a menos que uma destas seja temática.

2.5.1 Verbos de direção. Um grupo de verbos tem categoria ainda superior à dos acima referidos. São os verbos de

direção, usados para trazer os agentes em cena ou transferi-los a um novo campo de ação.

O principal verbo assim usado é on "vir", e aparece também aha "ir" na mesma função. Estes dois verbos costumam ocorrer, neste contexto, na sua forma não-iniciadora. O simples ato de aparecer em cena, ou de deslocar-se de determinado local e voltar para casa, não merece uso de verbo iniciador. (Veja manuscrito: Nicholson, 75 - 3.2 Conclusões a seções). Exemplos:

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A vaca, por Karoa, linha 26: A O.t.a, Sakamirame no.

3s-vir-G Sakamirame de novo. Sakamirame veio (de novo). A Masaranduba, por Nazaré, linha 8: A P P A.ha.o raka Iogawete h.eraha a Velda peagawahoa t.o.esa.

3s-ir-G p.r.p, Iogawete 3o-levar a Velda estrada propósito-3s-ver. Iogawete levou a Velda para ver a estrada.

Vê-se, destes exemplos, que tal verbo pode tomar precedência até sobre um novo agente no sentido de ocupar a posição inicial. Tais agentes nunca são o sujeito principal da narrativa inteira, mas mesmo assim podem desempenhar papel importante no enredo. Neste caso não são apenas os agentes menores que são deslocados da sua posição inicial. (Veja discussão de participantes principais e secundários: Nicholson, 75 seção 1.2., pág. 10).

2.5.2 Orações citacionais após citações diretas. No caso de uma oração citacional após citação direta, observa-se que, se um novo agente

é mencionado, este ocorre depois do verbo. Se há oração citacional após uma citação direta, o verbo i'i "ele disse", assume posição inicial na sentença. Qualquer agente mencionado é referido depois do verbo. Exemplo:

Urubu, por Karoa, linha 12: -Citação- B A A -Komanaisi'ia… - i'i raka isope Cajuagawa, Capitão.

-Arroz… -3s-dizer p.r.p. a ele Cajuagawa Capitão. -Citação- Cajuagawa, o capitão, disse a ele.

O agente neste caso pode ser informação velha ou nova informação secundária, isto é, ele não desempenha função relativa à linha narrativa ou ao tema. Ele profere apenas algum comentário passageiro que aumenta o interresse da história.

No caso de citação direta, um novo agente principal seria introduzido por uma oração citacional inicial. Veja Nicholson, 75 - seção 1.2.:

Verbos iniciadores e não-iniciadores, por Veja Nicholson

"Há duas maneiras de iniciar uma seção principal: ou com oração citacional inicial de citação direta, ou com sentença iniciadora."

"Quando um novo participante principal entra em cena e fala logo, ele é introduzido por seu nome numa pequena oração citacional de citação direta antes da conversa mesma. Este uso fica em contraste com a colocação normal de orações citacionais em asurini, as quais costumam vir após a citação direta."

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2.6. Beneficiário e veículo. Os elementos beneficiário e veículo, sejam informação velha ou nova, costumam ocorrer

em posição final de cláusula. (Veja abaixo, seção 4.1.) Há apenas um par de exceções. Exemplos:

À estrada, por Nazaré, linha 14: Calbia-pe raka a.se'eg-

Calbi-ao p.r.p. 1s-falar- citação Falei ao Calbi- citação.

O novo participante é beneficiário, ocorrendo em posição inicial. Deve notar-se, porém, que o caso é de uma oração citacional inicial. O participante está incluído no grupo geral designado 'nós' na linha 1 da narrativa, e agora é chamado especificamente por um outro participante, neste caso a narradora mesma. (Veja citação de Nicholson, 75, na seção 2.5.2. do presente trabalho).

Um novo veículo assume por vezes posição inicial, se falta outra informação nova na cláusula. Exemplos:

O Pari (Curral para peixe), por Nazaré, linha 2: Y P Yhara-pype sa.ha h.esak.a ipira-rokasa.

Canoa-dentro 1pi-ir 3o-ver-G peixe-curral. Nós fomos na canoa para ver o curral para pegar peixe.

Este trecho constitui apenas uma repetição da linha 1, mais a informação adicional "numa canoa". Tal expansão, sendo o único elemento novo, ocupa posição inicial na cláusula.

A vaca, por Nazaré, linha 14: V Kwe vhara-pype i.ha.i, h.akwapetym.a no... Depois canoa-dentro 3s-ir-Ind.II 3o-fechar-G de novo. Fomos na canoa para fechar…

Aqui, a canoa é enfocada, sendo o meio de transporte usado para chegar até um novo setor da selva, onde começa a nova seção narrativa relacionada com a matança da vaca.

2.7. Informação velha. Existem uns poucos casos interessantes, além do do agente re-introduzido, em que uma

função semântica já conhecida no texto assume posição inicial.

2.7.1. Referência anafórica. Ocorre comumente com expressão: a'e "aquele/aquela", a'e-hi daquele/daquela", ou a'e-

ropi "ao longo daquele/daquela", etc. Constitui informação velha no sentido de referir-se a um agente, paciente ou âmbito previamente identificado. Eomi "aqueles/aquelas" funciona de maneira semelhante. Estas frases se apresentam em posição inicial. Exemplo:

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A estrada, por Nazaré, linha 40 (Veja também linhas 5, 36, 37). 39. Tokará-re o.apo h.ereka. yaragawa-rape, h.opit.a. Trocará-no 3s-fazer 3o-ter carro- 3o-carregar-G. Eles estavam construindo uma ponte sobre o Rio Trocará. 40. P A'e raka sa.enom.

Aquele p.r.p. 1pi-ouvir. Ouvimos aquele.

Há inclusive um exemplo de tal frase ante novo agente, A estrada, por Nazaré, linha 36: P A B Am A'e raka Naterona o.eraha toria-hi ywyri i.moi.na.

Aquela p.r.p. Naterona 3s-levar civilizado-de beira 3o-deixar-G. Naterona levou aquela dos civilizados e deixou na beira.

O exemplo citado, e outros muitos casos de a'e, são resultados de informação secundária dada na linha anterior do texto. É interrompido o fio normal de eventos para referência a algum acontecimento passado (i.e., no tempo mais-que-perfeito do verbo). O a'e "aquele/aquela" portanto, refere-se freqüentemente àquele evento, usando-se a modo de resumo do fio narrativo. Exemplos:

A estrada, por Nazaré, linhas 1-5: 1. Peagawahoa-ropi raka sa.ha, Iogawete-pyri. Estrada-por p.r.p, 1pi-ir Iogawete-ao. Fomos ao Iogawete, (que estava) na estrada. 2. Toria-pyri h.eka.i Iogawete. Civilizados-com 3s-estar-Ind.II Iogawete. Iogawete estava com os civilizados. 3. Ma'ea'aa o.soka a.ka isope, h.erot.a. toria-pe.

Carne 3s-matar 3s-estar para eles, 3o-trazer-G civilizados-aos. Ele estava caçando por eles, e trazendo carne para eles. 4. Tamotaré toria o.mon a.ka isope, ma'ea'aa-re.

Dinheiro civilizados 3p-dar 3p(A)-estar para ele, carne-por. Eles davam dinheiro a ele pela carne. 5. A'e raka sa.esa sere.ha. Aquele p.r.p. 1pi-ver 1pi(A) -ir. Foi aquele que vimos, indo lá.

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2.7.2 Informação e montagem secundárias. Há uns poucos casos em que um paciente (na qualidade de informação velha) ocorre em

posição inicial em trechos que referem informação e montagem secundárias. Aqui o paciente é enfocado na cláusula, a qual fica fora do fio de eventos principais. Nas ocasiões em que o paciente assume posição inicial, faltando na cláusula outras funções superiores ou informação digna de ser enfocada. Exemplo:

Dia de Natal, por Poraké, linha 20: P Pee h.owahap.a.

Caminho 3o-atravessar-G. Atravessava o caminho. Também na linha 24: P A Am Saosia sehe Manuel o.akapekan i.nogi.a pee.ropi.

Jabuti p.r.n. Manuel 3s-prender 3o-deixar-G caminho-por. Manuel tinha prendido o jabuti e deixado no caminho.

3. Frases em posição inicial de cláusula, na presença de dois elementos ante do predicado.

3.1 Agente e tempo. Já se disse que a função temporal ocupa a posição inicial na cláusula (seção 2.1). Quando

ambas as funções acima enumeradas co-ocorrem na mesma cláusula, porém, utiliza-se a estrutura clausal OO _____ ± O ± O, aparecendo as duas funções antes do evento principal (seção 1.1.). Raramente ocorre um agente novo ou re-introduzido após o evento. Parece que tal estrutura é empregada para manter enfocadas ambas as referidas funções.

Aparecem as combinações tempo-agente_______, e agente-tempo_______. A posição inicial é assumida pela função considerada mais temática. Exemplos:

O Dia de Natal, por Poraké, linha 1: A T Am Velda raka Dia-de-Natal-rehe i.amonam a.ha Manuel-pyri,

Velda p.r.p. Dia de Natal-no 3s-passear 3s-ir Manuel-ao

Am kwe ka'a-pe.

lá mato-no. Velda foi passeando no Dia de Natal para (visitar) Manuel, lá no mato.

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07 de setembro por Nazaré T A Ose'iwe Domingo i.mana-mana-i.

No dia seguinte o Sr. Domingo 3s-dar-dar-Ind.II. O Sr. Domingo o vendeu no dia seguinte.

3.2 Agente e outras funções semânticas. Se ocorre um agente novo ou re-introduzido com um novo paciente, âmbito ou alvo,

sendo estes temáticos, emprega-se novamente a estrutura clausal OO_____ ± O ± O para conservar o agente e a outra função anterior ao predicado.

Um novo paciente, etc., iria ocorrer normalmente em posição final de cláusula, estando presente na mesma cláusula um novo agente (seções 2.3.-2.4., 4.2., 4.3.). O tema (sujeito) do discurso é introduzido, porém, em posição inicial de cláusula. A estrutura acima referida aparece, portanto, quando um paciente, etc., constitui o tema discursivo e é introduzido na mesma cláusula que um agente novo. Exemplos:

A Viagem de Pucuruí..., por Petyrawa, linha 1: A P Al Ore raka soa oro.manahag ara.ha kwe Pucuruíohoa-rowai.

Nós p.r.p. castanha 1pe-cortar 1pe(A)-ir lá Pucuruí-do lado de lá. Nós fomos além de Pucuruí para cortar castanha. Arroz, por Nazaré, linha 1: P A Am A Komanaisi'ia wyge o.manahag a.ka Urubu-pe, aoseoho.

Arroz pessoal 3s-cortar 3s-estar Urubu-em todos. Todo o mundo estava cortando arroz em Urubu.

Há uns poucos exemplos do uso desta estrutura para manutenção das funções de nova informação e agente (mesmo de informação velha) em posição anterior ao predicado. Exemplo:

O Pari, por Nazaré, linha 9: Al A P O Arawasa-pype Iogawete h.enoe.i aka ipira, ipira-rokssa-hi.

Paneiro-dentro Iogawete 3s-tirar-Ind.II 3s(A)estar peixe peixe-curral-de. Iogawete estava tirando peixe do pari, (e botando) no paneiro.

4. Frases em posição final de cláusula Quando, devido à presença de uma função de categoria superior, uma nova função não

pode atingir posição inicial, ela recorrerá, se possível, à posição final.

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4.1 Beneficiário, veículo e instrumento Há algumas funções semânticas, como já se disse, que ocorrem infrequentemente em

posição inicial. Um novo beneficiário, veículo ou instrumento, por exemplo, costuma ocupar posição final. Exemplos:

Urubu, por Cajuagawa, linha 3: P B Oporemiapoa raka iro'y seope.

Oporemiapoa p.r.p. febre para mim. Oporemiapoa estava com febre para mim. A Ilha, por Nazaré, linha 14: A P V Deliu o.eron a.ha yhara, amote-pype.

Deliu 3s-trazer 3s-ir canoa, outra-dentro. Deliu foi numa outra canoa para trazer a canoa. Seraga Oapo (Construindo minha casa), por Nazaré, linha 2: (também linha 7): P I A Velda-raga i.apo i-po.

A Velda-casa 3o-fazer ele-com. Ele fêz a casa de Velda com isso.

4.2 Paciente Se o paciente (na qualidade de informação nova) não pode atingir posição inicial, assume

geralmente posição final. Exemplo:

Dia 7 de setembro, por Nazaré, linha 11: A P Amynahoa o.mo.akyn komana'ia.

Chuva-muita 3s-causativo-molhar feijão. Muita chuva molhou o feijão. Urubu, por Iogawete, linha 18: A P Serevia o.soka sawara.

Serevia 3s.matar cachorro. Serevia matou o cachorro.

4.3. Âmbito e alvo. Os elementos âmbito e alvo (na qualidade de nova informação) ocupam posição final a

menos que estejam especificamente enfocados, assumindo o lugar inicial. (Veja seção 2.4). Mesmo sem a presença da função temporal ou de um novo agente ou paciente, costumam ocupar a posição final em vez da inicial. Exemplos:

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A Ilha, por Nazaré, linha 4: Al Oro.wahem yhara-pe.

1pe-chegar canoa-à. Chegamos à canoa. A Viagem de Pucuruí, por Poraké, linha 4: Am A'e raka oro.ken peagawa-rasei.

Então p.r.p. 1pe-dormir estrada-meio. Então dormimos no meio da estrada. Tucuruí, por Karoa, linha 1: T Al Sábado raka sa.ha Tucurui-pe.

Sábado p.r.p. 1pi-ir Tucuruí-a. Sábado fomos a Tucuruí.

4.4. Informação velha. Se não há informação nova a assumir a posição final, a informação velha ocupa tal

espaço.

Existe uma forte tendência de deslocar-se o agente ou paciente temático do discurso até a posição final da cláusula após sua menção inicial. Outras funções da velha informação presentes na mesma cláusula assumem posição medial. Vê-se, portanto, que aquilo que é enfocado no discurso total tem precedência sobre outras funções com relação à informação velha.

Exemplo: Curral de Peixe, por Nazaré (Veja apêndice). Na linha 1 ipira-rokasa "peixe-curral" fica em posição inicial. Nas 20 linhas subseqüentes,

o elemento "peixe-curral" aparece 8 vezes, das quais 7 em posição final de cláusula. ( A oitava referência não nomeia o elemento, chamando-o simplesmente a'e-pype "naquele", na linha 8. Neste caso, fica em posição inicial. As linhas 6-7 constituem um relance retrospectivo de como se fêz o curral inicial. A linha 8 traz a história de novo até o fio de eventos principais. (Veja acima, seção 2.7.1.)

A vaca, de Karoa, e A vaca, de Nazaré, são dois relatos da matança ilegal da vaca de estimação de um vizinho. Ambos colocam a referência especifica ao substantivo vaca em posição final de cláusula, após menção inicial do mesmo. A única exceção a esta tendência é a ocorrência de um beneficiário em posição final de cláusula.

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A vaca, por Nazaré, linha 12: A B O.sekys.y.ym kowei, sawawasahoa isope.

3s-morrer-neg logo, vaca para ele. A vaca não morreu de repente para ele.

Assim, à parte os elementos beneficiários, veículo e instrumento, que preferem a posição final de cláusula (Veja seção 4.1.) as outras funções (quando constituem informação velha) costumam submeter-se à função temática no referido discurso. (Veja seção 5.2 para posição destes elementos na cláusula).

5. Frases em posição medial de cláusula, na presença de dois elementos após o predicado.

5.1 Informação nova. O que acontece se duas funções de informação nova concorrem para posição final? É

mais difícil aqui que na posição inicial distinguir um sistema de ordenação competente, devido em parte à menor freqüência de mais de uma função nesta posição.

Exemplos de discursos incluem os seguintes padrões: A _____ P V _____ P V

Como acima se observa, os elementos beneficiário, veículo e instrumento costumam assumir posição final. Aqui vemos um paciente e um âmbito cedendo lugar a um veículo e ocupando portanto posição medial.

Um paciente secundário (Veja seção 2.3) também assume inferior à categoria das outras funções de paciente. Exemplos:

A Ilha, por Nazaré, linha 10: P O I.pykwoi'ak.a ya, yhara-hi.

3o tirar-G água, canoa-de. Tiramos água da canoa. O Pari (Curral de peixe), por Nazaré, linha 7: A P Am O.kairon Iogawete, ipira y-pe.

3s-cercar Iogawete, peixe água-na. Iogawete cercou peixe na água.

5.2. Informação velha. Na seção 4.4 se declarou que, no caso de co-existirem numa cláusula duas funções de

informação velha, aquela que for tema do discurso ocupará a posição final de cláusula. À parte os elementos beneficiário, veículo e instrumento, as funções não-temática de informação velha

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são obrigadas, portanto, a assumirem a posição medial, após o evento e comumente em penúltima posição.

A estrutura clausal resultante é:

_____ OO O _____ OO

As funções de velha informação encontradas nesta posição medial são agente, paciente, âmbito, alvo, origem, e por vezes beneficiário. Exemplo:

Fizemos minha casa, por Nazaré, linha 4: T P A Ymawe i.pe.i ahawa, Aipyawe.

Ontem 3s-tecer-Ind.II folhas, Apohi. Ontem Apohi teceu as folhas. A vaca, por Nazaré, linha 12: A B O.sekys.y'ym kowei, sawawasahoa isope.

3s-morrer-neg. logo vaca para ele. A vaca não morreu de repente para ele.

6. Frases em posição medial de cláusula, na presença de três elementos após o predicado. A outra estrutura clausal mais evidente apresenta três funções depois do verbo:

_____ OOO O _____ OOO

Tal posição antepenúltima é infreqüente e poucas são as funções que se encontram ali. As cláusulas normais não contêm número de funções suficiente a justificar o uso desta posição.

6.1. Paciente. As frases inferiores P-rehe e os pacientes menores (Veja seção 2.3.) na qualidade de nova

informação, podem assumir a referida posição, após serem deslocados de outras posições por elementos superiores de informação nova. Exemplos:

A vaca, por Nazaré, linha 23: P A V Kwe h.erot.a.ho Sawawasahoa-namia. Sakamirame o.paa-pe.

Então 3o-trazer-G-Intensivo vaca-orelha Sakamirame 3s-mão-na. Sakamirame trouxe a orelha da vaca na mão dele.

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A Masaranduba, por Nazaré, linha 1: A P-rehe Am Al Akoma'e raka a.ha soa-re, ore.renone, kwe

Homens p.r.p. 3p-ir castanha-referente a 1pe-em frente de, lá

Masaranduba-pe.

Masaranduba-a. Os homens foram em frente de nos para buscar castanha em Masaranduba .

6.2. Agente. Pode encontrar-se nesta posição um agente na qualidade de velha informação. Os

elementos âmbito e paciente, como informação nova ou velha, têm precedência sobre o agente neste caso. Exemplos:

O Pari, por Nazaré, linha 7: A P Am O.kairon Iogawete, ipira y-pe.

3s-cercar Iogawete, peixe água-na. Iogawete cercou peixe na água. Urubu, por Karoa, linha 36: A A'e ramo raka oro.nopo ara.ha oro.o'om.a ore,

Então p.r.p. 1pe-bater 1pe(A)-ir 1pe-em pé-G nós,

Am P Capitão-rehe, komanaisi'ia.

Capitão-com, arroz. Então nós ficamos em pé batendo o arroz com o capitão.

Resumo Como já se observou, a nova informação num discurso mostra sua proeminência por

meio da sua posição clausal. A posição inicial é ocupada quase sempre por informação nova ou pelo verbo. A posição final é ocupada por nova informação se duas ou mais funções co-ocorrem na mesma cláusula. Uma vez traçadas as distinções entre informação nova e velha, há que considerar-se a ordenação das funções semânticas se co-existem duas ou mais funções (de informação inteiramente nova, ou totalmente velha). Esta última regra pode ser infringida se é temática a informação de categoria inferior.

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APÊNDICE

IPIRA-ROKASA Peixe-curral (O Pari)

por Nazaré Asurini, 10 de fevereiro de 1975.

1. P Ipira-rokasa sa-esa sere.ha.

Peixe-curral 1pi-ver 1pi(A)-ir. Nós fomos ver o pari. 2. V P Yhara-pype sa.ha hesak.a ipira-rokasa.

Canoa-dentro 1pi-ir 3o-ver-G peixe-curral. Fomos na canoa para ver o pari. 3. P Am Ore.'oga ere.sira yhara-pype.

Nossa-imagem 2s-tirar canoa-dentro. Você tirou nosso retrato na canoa. 4. P Am Calbia 'oga we ere.sira yhara-pype.

Calbi imagem também 2s-tirar canoa-dentro. Você tirou também o retrato de Calbi na canoa. 5. Am V P Sere.ha sere.pia yhara-pype h.esak.a ipira-ryroa,

1pi-ir 1pi-em outro caminho canoa-dentro 3o-ver-G peixe-pano, /recipiente,

P ipira-rokasa.

peixe-curral. Fomos num outro caminho para ver o pari. 6. A P Al Iogawete o.pe marasa'ywa i.masarak.a ipira-ryro-ramo.

Iogawete 3s-amarrar pau 3o-rachar-G peixe-pano-torna-se. /recipiente Iogawete tinha rachado e amarrado paus para fazer o pari.

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7. A P Am O.kairon Iogawete ipira y-pe.

3s-cercar/fazer curral Iogawete peixe água-na. Iogawete tinha feito curral (para pegar) peixes na água. 8. Al A A'e-pype ipira i.ke-ke.i.

Aquele-dentro peixe 3p-entrar-entrar-Ind.II. Os peixes entravam naquela. 9. Al A P Arawasa-pype Iogawete h.enoe.i a.ka ipira,

Paneiro-dentro Iogawete 3o-tirar-Ind.II 3s (A)-estar peixe,

O ipira-rokasa-hi.

peixe-curral-de. Iogawete estava tirando peixes do pari e (botando) no paneiro. 10. P Am Ipira 'oga ere.sira, ipira-rokasa-pype.

Peixe imagem 2s-tirar, peixe-curral-dentro. Você tirou retrato dos peixes no pari. 11. O Kwe sere.ha.o ipira-rokasa-hi, hesaka.

La/Depois 1pi-ir-G peixe-curral-de, 3o-ver-G. Depois saimos do pari, que tínhamos visto. 12. P P Nakawa'e-raga ere.sa e.ha, kopisa we.

Nakawa'e-casa 2s-ver 2s(A)-ir, roça também. Você foi ver a casa de Nakawa'e, e a roça. 13. O Am Ara.ha neohi yewegohoa-pype.

1pe-ir você-de lago-dentro. Deixamos você, e fomos no lago. 14. P Ywe h.erot.a.

Fruta 3o-trazer-G. Trouxemos o bacuri.

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15. T Ipyton-imo oro.n.

Noite-de 1pe-vir. Viemos de noite. 16. P H.erot.a ywa.

3o-trazer-G fruta. Trouxemos bacuri. 17. Al P Kosoetoa-pe a.mana-mana ywa.

Mulherada-à 1s-dar-dar fruta. Dei à mulherada. 18. P Asorohoa oro.esa.

Papagaio(s) 1pe-ver. Vimos uns papagaios. 19. Am A P Pe heta asorohoa, ywa o'o. Perto muitos papagaios, fruta 3p-comer. Perto de nós houve muitos papagaios que comiam bacuri. 20. O.ro.t.a oro.sewyt.a. 3pe-vir-G 3pe-voltar-G. Voltamos. 21. A V Ise sowe a.san yhara-pype.

Eu só 1s-vir canoa-dentro. Só eu vim na canoa. 22. A P Am Iogawete o.pyta, ipira h.enoe.o, ipira-rokasa-pype.

Iogawete 3s-ficar, peixe 3o-tirar-G, peixe-curral-dentro. Iogawete ficou para tirar peixes dentro do pari.

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NOTAS 1. O Asurini é uma língua da família Tupi-Guarani, falada por umas cem pessoas. Os indígenas Asurini moram no Estado do Pará, a 3½ graus ao sul do Equador, no Posto Indígena de Trocará, na margem esquerda do Rio Tocantins e a uns 15 quilômetros abaixo do município de Tucuruí. Houve um grupo desses no Rio Pacajá, Pará, que voltou ao grupo principal em Trocará em 1974.

O presente trabalho está baseado nos dados coletados no Posto Indígena de Trocará nos anos 1973, 1975 e 1976, e na aldeia dos Asurini no Rio Pacaja de novembro de 1973 a janeiro de 1974.

Meus sinceros agradecimentos ao Museu Nacional do Rio de Janeiro e a Fundação do Índio por permitirem a realização do estudo.

O auxílio do Sr. Sothero Ramos, encarregado da FUNAI, possibilitou o sucesso dos estudos realizados no Posto Indígena de Trocará. Pelo auxílio na elaboração desta descrição sou muito agradecida ao Dr. Carl Harrison, Eunice Burgess, e a Dra. Joan Richards, que dirigiram o 'workshop' lingüístico em Belém, PA, de fevereiro a abril, 1977, ocasião em que se realizou o presente estudo.

2. Funções semânticas. Baseadas no estúdo de Joe Grimes, "Thread of Discourse," 1975.

A Agente - Identifica o responsável por uma ação. Costuma ser animado mas pode ser inanimado. Ocorre com estado, movimento ou posição (função de processo ou orientação).

P Paciente - Identifica a coisa que sofre um processo gradativo ou abrupto. Identifica também a coisa que muda de estado, ou que conserva estado estável.

Am Âmbito- Identifica o caminho ou área atravessado, numa locução de movimento. Com posição indica localização estática.

O Origem - Ponto inicial de movimento ou processo. Identifica o limite original de um evento.

Al Alvo - Ponto de chegada de movimento ou processo. Identifica o limite final de um evento.

V Veículo - Refere-se a alguma coisa que carrega o objeto e se movimenta junto com ele.

I Instrumento - Refere-se a alguma coisa usada inanimadamente na realização de uma ação.

B Beneficiário - Refere-se a alguém ou a alguma coisa sobre que a ação tem efeito secundário, seja este benéfico ou maléfico.

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3. Os substantivos em língua asurini são marcados por um -a final. Nos exemplos dados,

este morfema não é separado do seu substantivo.

4. Os símbolos fonêmicos usados refletem geralmente as características do fonema representado, com as seguintes exceções:

y - Vogal alta, fechada, central, não-arredondada: /ɨ/ e - Vogal média, aberta, frontal, não-arredondada: /ε/ g - Consoante velar nasal: /ŋ/ i - Oclusiva glótica: /?/ r - Flape alveolar: /ř/ s - Fonema com 2 alofones: africada alveopalatal surda: [tš] e fricativa alveopalatal surda côncava: [š]

5. Abreviaturas usadas nos exemplos e texto:

p.r.p. passado recente presenciado. p.r.n. passado recente não-presenciado. nom. normalizado. neg. negativo. G sufixo de gerúndio. Ind.II sufixo de Indicativo II (A) prefixo de Auxiliar. O informação nova. 1s prefixo da primeira pessoa do singular, do sujeito. 2s prefixo da segunda pessoa do singular, do sujeito. 3s prefixo da terceira pessoa do singular, do sujeito. 1pe prefixo da primeira pessoa do plural, exclusivo, do sujeito. 1pi prefixo da primeira pessoa do plural, inclusivo, do sujeito. 2p prefixo da segunda pessoa do plural, do sujeito. 3p prefixo da terceira pessoa do plural, do sujeito. 3o prefixo da terceira pessoa, do objeto.

6. Verbos iniciadores e não-iniciadores em Asurini.

Os verbos iniciadores costumam apresentar-se em sentenças titulares, no início de uma seção principal, para enfocar um elemento em primeiro plano, em relances retrospectivos (i.e., o tempo verbal mais-que-perfeito) e na fala direta.

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O uso principal dos verbos não-iniciadores é para relegar um elemento a segunado plano nas conclusões de seções narrativas, para indicar propósito e nas cláusulas descritivas dependentes.

Vê estudo de Velda Nicholson, "Initiating and Non-initiating Verbs in Asurini", Outubro, 1975.

BIBLIOGRAFIA Grimes, Joseph E. - -The Thread of Discourse, Haia, Mouton, 1975.

Nicholson, Velda C. --"Initiating and Non-initiating Verbs in Asurini", inédita, 1975.