peça de criação do parque estadual do chandless

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Governo do Estado do Acre Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - SECTMA Fundo Mundial para a Natureza - WWF SOS Amazônia Projeto Implantação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação do Estado do Acre PEÇA DE CRIAÇÃO UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL CHANDLESS – GLEBA 9 Rio Branco - Acre Dezembro - 2001

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PEÇA DE CRIAÇÃO DAUNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL CHANDLESS – GLEBA 9

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Page 1: Peça de Criação do Parque Estadual do Chandless

Governo do Estado do Acre

Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - SECTMA

Fundo Mundial para a Natureza - WWF SOS Amazônia

Projeto Implantação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação do Estado do Acre

PEÇA DE CRIAÇÃO UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE

PROTEÇÃO INTEGRAL CHANDLESS – GLEBA 9

Rio Branco - Acre Dezembro - 2001

Page 2: Peça de Criação do Parque Estadual do Chandless

Governo do Estado do Acre

Jorge Viana Governador do Estado do Acre

Edson Simões Cadaxo

Vice-governador

Gilberto do Carmo Lopes Siqueira Secretário de Estado de Planejamento e Coordenação

Presidente da Comissão Estadual do ZEE/AC

Carlos Edegard de Deus Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

Presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre Secretário Executivo do ZEE/AC

Carlos Antônio da Rocha Vicente

Secretário Executivo de Floresta e Extrativismo

Maria Janete Sousa dos Santos Coordenadora do GTS/ZEE/AC

Magaly da Fonseca Silva T. Medeiros Coordenadora do PGAI/SPRN/PPG-7

Fundo Mundial para a Natureza - WWF

Luiz C. L. Meneses Filho Coordenador de Programas para a Amazônia do WWF-Brasil

Fundação SOS Amazônia

Miguel Scarcello – Secretário Executivo

Cooperação Alemã Monika Röper – Perita Técnica

Agência Alemã de Cooperação Técnica - GTZ

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Equipe Técnica

Coordenação e Elaboração Verônica Telma Rocha Passos – Ph.D. Geografia -Consultora WWF

Vegetação e Diversidade Florística

Marcos Silveira – M.Sc. Botânica - UFAC Neuza Terezinha Boufleuer – Bióloga - Consultora WWF

Cristina Maria Batista de Lacerda – M.Sc. Ciências Florestais - Consultora WWF Douglas Daly – Ph.D. Botânica – NYBG - Colaborador

Diversidade Faunística

Keith Spalding Brown Junior – Ph.D. Ecologia - UNICAMP Jesus Rodrigues Domingos de Souza – Biólogo - Consultor ZEE-AC

Aspectos Abióticos

Nádia Waleska Pereira – Bióloga - Consultora WWF Verônica Telma Rocha Passos – Ph.D. Geografia -Consultora WWF

Sócio-econômia

Myris Maria da Silva - Acadêmica de Ciências Sociais – Consultora PGAI-AC

Identificação Botânica Raimundo Saraiva - Técnico de campo em Identificação Botânica

FUNTAC

Page 4: Peça de Criação do Parque Estadual do Chandless

Índice 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................5

1.1. Oportunidades de Conservação Contexto Federal .....................................5

1.2. Oportunidades de Conservação - Contexto Estadual .................................6

2. DESCRIÇÃO DA ÁREA ....................................................................................8

2.1. Situação fundiária......................................................................................10

3. ASPECTOS FÍSICOS .....................................................................................11

3.1. Clima .........................................................................................................11

3.2. Geologia ....................................................................................................12

3.3. Geomorfologia...........................................................................................13

3.4. Hidrografia.................................................................................................14

3.5 Paleontologia..............................................................................................15

3.6 Solos .............................................................................................................16

4. ASPECTOS BIÓTICOS...................................................................................22

4.1 Vegetação ..................................................................................................22

4.2 Fauna .........................................................................................................29

5. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS ..............................................................43

5.1 Opinião da comunidade a respeito da criação da UC ................................43

5.2 Acesso........................................................................................................46

5.3 A região de influência .................................................................................48

5.4 Aspectos Sócio-Econômicos da Gleba 9 – Chandless e Entorno ..............50

5.5 O Entorno (zona de amortecimento) da Gleba 9 – Chandless ...................52

5.6 População ..................................................................................................53

5.7 Atividades produtivas .................................................................................57

5.8 Condições de Vida da População ..............................................................58

5.9 Assentamentos populacionais do entorno..................................................60

5.10 As Aldeias Indígenas do Entorno .............................................................61

5.11 Atividades que Ameaçam a Integridade da Área .....................................65

6. CONCLUSÕES E JUSTIFICATIVAS PARA CRIAÇÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL CHANDLESS............................70

7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ......................................................................74

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1. INTRODUÇÃO 1.1. Oportunidades de Conservação Contexto Federal O Brasil possui grande riqueza biológica, abrigando cerca de um terço das florestas tropicais remanescentes do planeta. Estas florestas representam quase metade (47%) do território nacional. No entanto, em termos de proteção ambiental a Amazônia brasileira conta com menos de 4% de sua área sob proteção estrita, ou seja, em Unidades de Conservação de Uso Indireto e destes 4%, parte significativa ainda precisa ser implementada. Vários estudos têm mostrado que, o sistema atual existente não é suficiente para proteger um ambiente tão complexo e a diversidade que abriga. A estratégia é conservar a biodiversidade regional através de UCs de Uso Indireto (Proteção Integral), e de UCs de Uso Direto (Desenvolvimento Sustentável), que abrigam populações tradicionais adeptas de práticas sustentáveis de uso dos recursos florestais. Unidades de Conservação na Amazônia Brasileira

Categorias Quantidade Área em milhões de hectares %

UCs Federais 80 33,0 6.6 Uso Indireto 36 14.3 2.9 Uso Direto 44 18.7 3.7

UCs Estaduais 72 22.2 4.4

Uso Indireto 30 4.9 1.0 Uso Direto 42 17.3 3.4 Total 152 55.2 11 Indireto 66 19.2 3.8 Direto 86 35.9 7.2 Fonte: Instituto Sócio-Ambiental, 1999 Atualmente o Sistema Nacional de Conservação da Amazônia conta com um total de 80 Unidades de Conservação Federais e 72 Estaduais, representando 55 milhões de hectares, ou seja, 11% da região amazônica 1. De Uso Indireto Federal existem 14 milhões de hectares, e de Uso Indireto Estaduais cerca de 5 milhões de hectares, ou seja, as estaduais correspondem apenas à 1/3 do total. Já para Uso Direto a relação é quase de 1 para 1 (18 milhões de federais e 14 milhões de estaduais), evidenciando uma preferência dos estados em criar unidades de uso direto. As lacunas no sistema são tão evidentes, assim como a necessidade de sua expansão. A principal orientação estratégica de expansão do sistema para conservar a biodiversidade regional, é o estabelecimento de criação de UCs de Uso Indireto. O cumprimento desse compromisso brasileiro pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA, resultará na efetiva proteção de uma importante fração da biodiversidade do planeta. Os avanços na área ambiental no Brasil são significativos. O Programa de Expansão e Consolidação de um Sistema de Áreas Protegidas da Região

1 Retirando as áreas sobrepostas às terras indígenas (12 milhões e 500 mil hectares), esse percentual de 11% decresce para 7%.

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Amazônica do Brasil (PROAPAM 2) é um bom exemplo. É um projeto promovido interinstitucionalmente, no qual o Ministério do Meio Ambiente responde pela coordenação e implementação dos trabalhos em nome do Governo Brasileiro. Este projeto representa os compromissos assumidos pelo governo para proteger 10% de cada um dos 7 biomas presentes no país, a ser iniciado pela Amazônia. O processo de expansão de um sistema de áreas protegidas conta com o apoio político formal do Governo Brasileiro desde 1998. Nesta oportunidade houve o comprometimento de expandir as áreas de proteção máxima na Amazônia para, inicialmente, pelo menos 10% do bioma (41 milhões de hectares) nestes já incluídos os 12,5 milhões já existentes. A meta é criar 28,5 milhões em 10 anos. Isto representa mais da metade da meta mundial estabelecida pela “Aliança para a Floresta”, lançada em 1997 numa parceria da WWF – Fundo Mundial para Natureza com o Banco Mundial. O cumprimento desse compromisso brasileiro resultará na efetiva proteção de uma importante fração da biodiversidade do planeta. Além disso, a garantia de expansão de áreas pelo Governo do Brasil está de acordo com a campanha mundial “Forest for life” lançada em 1995, pelo WWF em parceria com o banco Mundial e endossada pela IUCN – União Internacional para Conservação da Natureza, que tem como meta a proteção de pelo menos 10% dos biomas florestais, a certificação de 10 milhões de hectares de florestas em todo o planeta, até o ano de 2000. Na atualidade essa meta já foi ultrapassada, haja vista que foram certificados 15 milhões de hectares, sendo o novo desafio alcançar a certificação de 25 milhões de hectares. Hoje o Brasil possui 700 mil hectares de florestas certificadas, ocupando o 6º lugar entre os países que mais certificam. 1.2. Oportunidades de Conservação - Contexto Estadual O Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas do Estado do Acre – SEANP é definido na Lei Estadual Florestal (1426/01) e está inserido no Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID. Este projeto visa a formulação do plano de um SEANP, criação e implantação de novas áreas protegidas e fortalecimento da região do entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor - PNSD.

2 A proposta técnica do Projeto “Expansão e Consolidação de um Sistema de Áreas Protegidas da Região Amazônica do Brasil” foi elaborado no âmbito da Assistência Preparatória instituída e viabilizada por intermédio de Termo de Cooperação específico firmado entre o Ministério do Meio ambiente e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO. Esta proposta foi avaliada pela Secretaria Executiva do MMA, e encaminhada à apreciação do Grupo de Trabalho do Comitê Assessor do Projeto, composto por representantes do MMA (Secretaria de Biodiversidade e Floresta - SBF e Secretaria de Coordenação da Amazônia - SCA), IBAMA/MMA, WWF-Brasil e Banco Mundial. Uma vez analisado pelo GT, foi submetido para deliberação do Comitê Assessor do Projeto, composto pelo MMA, IBAMA, Ministério da Fazenda, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério das Relações Exteriores, Banco Mundial, WWF-Brasil e outras instituições interessadas e relevantes (GTA, CNS, CNPT, entre outras), e em seguida encaminhado à Secretaria de Assuntos Internacionais (SEAIN) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. (FONTE: MMA, 2000).

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Unidades de Conservação do Estado do Acre Categoria Nº Área (em hectares)

Federal 05 1.349.465 Uso indireto – Proteção Integral 02 924.133 Uso direto – Uso Sustentável 03 452.332 Estadual 01 66.168 Uso Indireto - - Uso Direto 01 66.168 Total 06 1.415.633 Uso Indireto 02 924.133 Uso Direto 04 518.500 Os resultados do componente “Conservação da Biodiversidade” do ZEE/AC indicam que mais da metade da superfície do Estado do Acre é de “extrema” e “muito alta” importância para a proteção da biodiversidade. O Sistema de Unidade de Conservação proposto no Workshop da Biodiversidade do Acre (2000) viabilizará uma expansão de áreas naturais protegidase também uma complementação na formação dos corredores ecológicos locais que estarão inseridos nos grandes corredores Norte e Oeste da Amazônia, permitindo interligá-los. Estes corredores podem ser levados além das fronteiras nacionais. Como mostra a tabela acima, o Estado do Acre conta com 2 (duas) Unidades de Proteção Integral e 4 (quatro) de Uso Sustentável, que abrangem uma área de 6% e 11% do seu território, respectivamente. Embora não se constituam em UC’s, há também 28 terras indígenas abrangendo pouco mais de 14% da área Estadual. Estas abrigam cerca de 10 mil indígenas de 12 diferentes povos dos troncos lingüísticos Pano e Aruak. Todas as áreas protegidas e áreas indígenas apresentam vários conflitos no uso da terra, incluindo pendências fundiárias, exploração inadequada de seus recursos naturais (madeira, caça e pescas comerciais), ocupação e uso irregulares, inclusive das áreas de Reserva Legal e Preservação Permanente. O Estado do Acre apresenta várias oportunidades para conservação. Na Amazônia Brasileira, aonde o avanço da fronteira agropecuária vem provocando a fragmentação da floresta, o Acre ainda apresenta 90% de sua cobertura florestal preservada. Além disso, grande parte está incluído no Corredor Verde do Oeste da Amazônia, no âmbito do Projetos Corredores Ecológicos, (IBAMA/1996). Neste projeto, o corredor oeste é considerado o de maior prioridade para conservação da biodiversidade e serviços ambientais, tanto por ser provavelmente o mais rico em biodiversidade da Amazônia brasileira, como por apresentar espécies de valor especial para conservação. Outro fator extremamente positivo é o fato de que parte significativa das terras são de propriedade da união, sendo altamente favorável ao estabelecimento de mecanismos de conservação da natureza. O ainda tímido desenvolvimento econômico, sua contínua cobertura florestal, somada a baixa densidade populacional rural e ainda a existência de populações tradicionais que utilizam técnicas de baixo impacto, formam um cenário natural à implementação de formas produtivas com relações mais equilibradas com a natureza. Esse fato torna-se mais importante dada à diversidade natural do Acre e a ausência de muitas delas em UCs. Dada esta situação, o Governo do Estado vem implementando ações para a transformação do modelo de desenvolvimento e do estilo de gestão pública estadual. A elaboração do ZEE foi o primeiro passo para apontar indicativos de alternativas sustentáveis de acordo com a vocação da terra e das características

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culturais de seus habitantes. Este instrumento estratégico vem subsidiando as decisões governamentais na elaboração do Programa de Desenvolvimento Sustentável, viabilizando uma economia fundamentada na conservação da natureza. A problemática e as oportunidades demonstram não somente a necessidade, como também, uma real possibilidade de se viabilizar a proteção de áreas representativas da riqueza biológica natural do estado.

2. DESCRIÇÃO DA ÁREA

Estado do Acre Localização da Área no Estado

Localização da Gleba 9 – Chandless, no Estado do Acre

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A Região de Influência da Gleba 9 – Chandless é constituída pelos municípios de Sena Madureira, Manoel Urbano e Santa Rosa do Purus, que juntos formam a Regional do Purus, e perfazem uma área de 40.823,6 km², que corresponde a 27% da área total do Estado. Vide figura a seguir. A Gleba 9 – Chandless possui uma extensão de 670.135,6416 ha. Encontra-se localizada na Regional do Purus, abrangendo parte dos municípios de Santa Rosa do Purus (161.630,7072 ha), Manoel Urbano (445.208,2176 ha) e Sena Madureira (63.296,7168 ha).

24%

67%

9%

Santa Rosa Manuel Urbano Sena Madureira

Percentual de participação dos Municípios na Gleba 9 - Chandless

A área ocupa 24% das terras do município de Santa Rosa do Purus, 67% de Manoel Urbano e 9% de Sena Madureira. Seus limites são: ao Norte o Projeto de Assentamento Santa Rosa e a Terra Indígena Alto Rio Purus, separados pelos igarapés Canamarí, Jutaí, Acre, Maloca, Rio Chandless; ao Sul Seringal Santa Helena e Terra Indígena Mamoadate; ao Oeste República do Peru, separado pela linha limite internacional, rio Chambuiaco e Rio Purus. A parte oeste da área é banhada pelo rio Chambuiaco, cuja nascente principal está localizada na altura da coord. S 9°49’41,18” e W 70°37’15,19”, no limite internacional Brasil/Peru, e segue limitando-se com a República do Peru pela margem esquerda até a sua confluência com o Rio Purus Coord. S 9°34’10,80” e W 70°35’21,44” (O rio possui uma extensão de 43.089,20 metros) 3* Banham também a área os Igarapés: Jutaí, Acre, Cuchichá, Maloca, Azul, Chandless-chá, Puma, Pumajali, Riozinho, Chambirá, Primavera, dos Mororós, Iguapé, da Onça, Brumado, Santo Inácio, Buião, Tacama, Macote, Vista Alegre, São Luís, Papaial, São João.

3 Cálculo realizado a partir dos dados existentes no Memorial Descritivo da Área, fornecido pelo INCRA

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Vista Aérea da confluência do Rio Chandless com Igarapé Cuchichá Foto: Neuza Boufleuer

A Área possui aproximadamente 114 km de faixa de fronteira internacional com a República do Peru. 2.1. Situação fundiária A Gleba 9 – Chandless, segundo levantamento realizado junto ao INCRA, já possui a situação fundiária regularizada. São terras de propriedade da união, já arrecadadas pelo INCRA e para as quais ainda não foi dada a destinação. a) Descrição do Imóvel: Área de terras rurais, denominada Gleba 9 – Chandless é composta pelos antigos seringais fazenda I, II ou Santa Rosa, Buenos Aires e Vale do Rio Chandless, situada nos município de Santa Rosa do Purus, Manoel Urbano e Sena Madureira, no Estado do Acre. Apresenta os seguintes limites e confrontações: Norte – Gleba 7 Chandless separado pelo rio Purus e Terra Indígena alto Rio Purus, separado pelo igarapé Canamari, Jutaí, Acre, Rio Chandless e igarapé Maloca; Leste – Seringal Santa Helena; Sul – Seringal Santa Helena e Terra Indígena Mamoadate; Oeste – República do Peru, separado pela linha limite internacional, Rio Chambuiaco e Rio Purus. A área contida nos limites acima descrito, tem extensão de 728.457,9043 hectares (setecentos e vinte e oito mil, quatrocentos e cinqüenta e sete hectares, noventa ares e quarenta e três centiares), e um perímetro de 573.266,30 hectares (quinhentos e setenta e três mil, duzentos e quarenta e seis metros e trinta centímetros), resultante de trabalhos demarcatórios, respectivos cálculos e processamentos afins. O referido imóvel denominado Gleba 9 – Chandless faz parte da planta geral da Gleba Chandless, confeccionado na escala de 1:250.000. O nome, domicílio e nacionalidade do proprietário são: UNIÃO FEDERAL, conforme respeitável sentença de Fls. 1975/2038, proferidas nos autos da ação discriminatória nº 23/84 (antigo 1941) onde figuram com autor o INCRA e réus

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Pedro Aparecido Dotto e outro, em trâmite na 1ª Vara de Justiça Federal, Secção Judiciária do Estado do Acre. Esta Gleba está registrada sob matrícula nº 2112, de 29 de Maio de 1998, (livro 2-G (RG), as folhas 185/186 v; na Serventia de Registro de Imóveis de da Comarca de Sena Madureira, Acre. b) Memorial Descritivo: A área do Chandless abrange aproximadamente 695.303 ha (seiscentos e noventa e cinco mil, trezentos e três hectares), com os limites descritos a partir de plantas fornecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, com o seguinte memorial descrito: começa no ponto de coordenadas geográficas aproximadas (c.g.a.) 70º20’04” WGr e 9º25’51,71” S (ponto 01); daí, segue por linha reta até a margem esquerda do Igarapé Jutaí, no ponto de c.g.a. 70º19’53” WGr e 9º25’51,89” S (ponto 02); daí, segue pela margem direita do referido igarapé, até sua embocadura no Igarapé Acre (ponto 03); segue pela margem direita do Igarapé Acre, até sua confluência com o Igarapé Cuchichá, ponto de c.g.a. 70º06’33,61” WGr e latitude 09º32’07,75” S (ponto 04); cruza o Igarapé Cuchichá e segue por sua margem direita até a confluência com o Rio Chandless (ponto 05); cruza o Rio Chandless e segue a jusante por sua margem direita até a foz do Igarapé Maloca, ponto de c.g.a. 69º54’54” WGr e 9º18’37” S (ponto 06); segue a montante pela margem esquerda do Igarapé Maloca até o ponto de c.g.a. 69º49’18,13” WGr e 9º22’06,59” S (ponto 07); daí, segue por linha reta até o ponto de c.g.a. 69º46’11,72” WGr e 9º21’12,91” S (ponto 08); segue por longa linha reta em direção sudoeste, até o ponto de c.g.a. 70º16’28,50” WGr e 10º31’46,83” S (ponto 09); segue por linha reta até o ponto de c.g.a. 70º18’31,73” WGr e 10º34’00,08” S (ponto 10); segue por linha reta até o ponto de c.g.a. 70º21’42,86” WGr e 10º31’58,16” S, situado na margem do Igarapé Azul (ponto 11); daí, segue pela margem direita do Igarapé Azul até a confluência com o Rio Chandless-Chá (ponto 12); cruza o Rio Chandless-Chá e segue a montante pela sua margem esquerda até o ponto de c.g.a. 70º30’31,63” WGr e 10º31’40,57” S (ponto 13); daí, segue por linha reta até a margem do Igarapé Puma, no ponto de c.g.a. 70º32’12,10” WGr e 10º30’56,44” S (ponto 14); segue pela margem direita deste igarapé até sua confluência com o Igarapé Pumajali (ponto 15); cruza o Igarapé Pumajali e segue a montante pela sua margem esquerda até a fronteira com a República do Peru (ponto 16); segue pela fronteira internacional Brasil-Peru, em direção Norte, até a margem direita do Rio Chambuiaco (ponto 17); segue a jusante pela margem deste rio até o ponto de c.g.a. 70º35’35” WGr e 9º36’32” S (ponto 18); segue por linha reta até o ponto de c.g.a. 70º26’46” WGr e latitude 09º34’40” S (ponto 19); segue por linha reta até o ponto de c.g.a. 70º20’04” WGr e 9º25’51” S, ponto inicial desta descritiva, fechando o perímetro do Parque Estadual. 3. ASPECTOS FÍSICOS 3.1. Clima O clima do Estado do Acre é quente e úmido com duas estações: seca e chuvosa. A estação seca estende-se de maio a outubro e é comum ocorrer “friagens”, fenômeno efêmero, porém muito comum na região. A estação chuvosa, “inverno”, é caracterizado por chuvas constantes, que prolongam-se de

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novembro a abril. A umidade relativa apresenta-se com médias mensais em torno de 80-90% com níveis elevados durante todo o ano. Os totais pluviométricos anuais variam entre 1600 mm e 2750 mm, e tendem a aumentar no sentido Sudeste-Noroeste. As precipitações, na maior parte do Estado, são abundantes e sem uma estação seca nítida. Os meses de junho, julho e agosto são os menos chuvosos. A temperatura média anual do Estado está em torno de 24,50 C, mas a máxima pode ficar em torno de 320 C. A temperatura mínima varia de local para local em função da maior ou menor exposição aos sistemas extratropicais. Segundo a classificação bioclimática de Gaussen2 (RadamBrasil, 1977), a área estudada está situada em duas regiões: Xeroquimênica e Termoxérica. A região Xeroquimênica pertence à sub-região Subtermaxérica (de caráter transicional), onde a temperatura do mês mais frio é sempre superior a 150 C. A estação seca é muito curta, varia de 1 a 2 meses. Já a Termoxérica, representada pela Sub-região Eutermaxérica, onde a temperatura média do mês mais frio é sempre superior a 20oC. Este clima caracteriza-se por apresentar uma amplitude térmica anual muito baixa, onde os dias e as noites têm aproximadamente a mesma duração e a umidade relativa do ar está sempre acima de 85 %. A precipitação média anual da região do Chandless varia entre 1773 mm a 2086 mm e a temperatura média anual oscila entre 24.3oC a 25.1oC. 24.9oC. Para a área de entorno predominam ainda, as características climáticas segundo a classificação de Köppen e a classificação bioclimática de Gaussen, citadas anteriormente para a área do Chandless. A sudoeste, na área de entorno, ocorre um aumento no índice de precipitação média anual, que varia de 1773 mm a 2191 mm enquanto que a temperatura média anual mantem-se entre 24.3ºC a 25.1ºC. 3.2. Geologia No Estado do Acre ocorrem várias formações geológicas: a Formação Solimões, Formação Cruzeiro do Sul (ocorre a leste da cidade de mesmo nome), cinco Formações que ocorrem apenas dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor e do seu entorno (Formação Ramon, Grupo Acre (com três Formações: Divisor, Rio Azul e Moa), Complexo Xingu, Formação Formosa e Sienito República) e, os Depósitos Aluviais Holocênicos que representam ampla distribuição no Estado. A Formação Solimões estende-se por mais de 80% do Estado, sendo portanto a mais significativa. A Formação Solimões é bastante diversificada. Predominam em sua maior parte, rochas argilosas com concreções carbonáticas e gipsíferas, ocorrendo ocasionalmente com material carbonizado (turfa e linhito), concentrações esparsas de pirita e grande quantidade de fósseis de vertebrados e invertebrados. Subordinadamente, ocorrem siltitos, calcáreos sílticos-argilosos, arenitos ferruginosos e conglomerados plomíticos. Sobrepondo descordantemente à Formação Solimões, na área do Chandless e entorno encontramos os Aluviões Atuais (sedimentos das planícies fluviais).

2 A classificação de Gaussen considera um maior número de fatores (variações periódica da temperatura, das precipitações e da umidade durante o ano).

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Encontrados nas planícies fluviais, que constituem os barrancos e praias em ambas as margens dos rios com até 5 m de espessura. Nas partes convexas dos meandros, as praias, são sedimentos predominantemente arenosos de granulação fina, cores branca, amarela e avermelhada (resultante do intemperismo). São compactos ou friáveis., apresentam, às vezes, seqüência gradacional com areias muito finas com minerais opacos. É comum encontrar depósitos recentes de vegetais em carbonização e piritizados, ossos e madeiras retrabalhadas (Mapa 08). 3.3. Geomorfologia No Estado do Acre as unidades morfoestruturais são representadas pela Depressão Amazônica (representada pela Depressão Rio Acre/Javari), o Planalto Rebaixado da Amazônia Ocidental e a Planície Amazônica. • A Depressão Amazônica (Rio Acre – Rio Javari) em geral, alcança altitudes

de no máximo 300 m, e está representada pelas extensas planícies de idade Terciária desenvolvidas sobre a Formação Solimões e pela área de altitudes mais elevadas (até 580m) denominada Complexo Fisiográfico da Serra do Divisor;

• O Planalto Rebaixado (da Amazônia Ocidental), desenvolveu-se também

sobre a Formação Solimões, em áreas de interflúvios tabulares de relevo plano com altitudes de 250 m;

• A Planície Amazônica, que é representada pelas Planícies Aluviais

margeando os rios e pelos níveis de terraços descontínuos, remanescentes de sedimentos desenvolvidos durante o Pleistoceno Superior (Quaternário) que é a superfície mais baixa (200 m).

3.3.1. Relevo do Chandless O relevo da Gleba 9 – Chandless está contido na categoria Planície Amazônica (Formas de Acumulação) e caracteriza-se por comportar extensas áreas alagadas e de inundação onde ocorrem paranás, furos, igarapés, depósitos lineares fluviais antigos e áreas de colmatagem4 recente, além de uma grande quantidade de lagos com gênese e forma diferenciada. Estes lagos são encontrados em número significativo na Bacia do Rio Purus. Os terraços fluviais encontrados na planície foram hierarquizados em três níveis. Uma rede de drenagem curta e recente corta estes terraços, bem como as planícies, perpendicularmente à drenagem principal. Nesta unidade morfoestrutural a cobertura vegetal característica é de Floresta Aberta Aluvial com Palmeiras, desenvolvendo-se sobre solos Gleissolos5. Aparecem nesta região as seguintes feições:

4 Colmatagem designa o trabalho de atulhamento ou de enchimento realizado pelos agentes naturais ou pelo homem, nas áreas mais baixas ou deprimidas. 5 A definição de Gleissolos encontra-se no item Solos e Aptidão Agroflorestal.

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• Planícies Fluviais: resultante da acumulação fluvial periódica ou permanentemente alagadas, são áreas aplainadas que geralmente comportam meandros abandonados.

• Planícies e Terraços Fluviais: são áreas aplainadas, resultantes da

acumulação fluvial, geralmente sujeita a inundações periódicas e comportando meandros abandonados; alagando eventualmente, unida com ou sem ruptura de declive, o patamar mais elevado, que também comporta meandros abandonados.

3.4. Hidrografia 3.4.1 Bacias Hidrográficas do Estado do Acre No Estado do Acre, a drenagem é feita por extensos rios de direção Sudoeste-Nordeste e, todos pertencem à rede hidrográfica do Rio Amazonas. Os rios apresentam paralelismo e mudanças de direções dos seus cursos, uma característica bastante comum resultante das falhas e fraturas geológicas. Na parte central do Estado, os principais cursos dágua são o Rio Tarauacá, o Purus com seus principais afluentes pela margem direita, o Chandless e seu tributário Iaco com seu afluente pela margem esquerda, o Rio Macauã e o Rio Acre com seu subsdiário, o Antimari. A noroeste encontramos os rios Gregrório, Tarauacá, Muru, Envira e Jurupari. A oeste do Estado estão presentes o Rio Juruá e seus principais afluentes Moa, Juruá Mirim, Paraná dos Moura, Ouro Preto, pela margem esquerda, o Valparaíso, Humaitá e Tejo, pela margem direita. As duas principais bacias se destacam no Estado, a bacia do Acre-Purus e a do Juruá. • Bacia do Acre-Purus: o Rio Purus nasce no Peru e entra no Brasil com a

direção Sudoeste-Nordeste, é o segundo maior representante da drenagem do Estado. À altura do paralelo de 09000’S, inflete de Oeste-Sul-Oeste para Leste-Norte-Leste, mantendo esta direção até receber o Rio Acre. Posterior a este ponto, retoma a direção anterior Sudoeste para Nordeste até penetrar no Estado do Amazonas. Apresenta um curso extremamente sinuoso e meândrico estendendo-se pelas extensa e contínuas faixas de planícies.

• Bacia do Juruá: O Rio Juruá drena uma área de 25.000 Km2, dentro do

Estado do Acre. Nasce no Peru com o nome de Paxiúba a 453 m de altitude, unindo-se depois com o Salambô e formando então o Juruá. Ele atravessa a parte noroeste do Estado, sentido S-N, entra no Estado do Amazonas e despeja suas águas no Rio Solimões. O Juruá é um rio de planície, com todas as caracterísitcas de correntes de pequeno declive.

3.4.2 Hidrografia da Área do Chandless A região do Chandless está localizada na Bacia do Rio Acre – Rio Purus. O principal rio que corta esta região no sentido sudoeste-noroeste é o Rio Chandless que nasce no Peru. Os principais Igarapés na margem direita do Chandless são o Pumajali, o Chambira e o Chandless-Chá. Na margem

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esquerda encontramos o Riozinho, o Santo Antônio e o Cuchichá. No sentido noroeste da área, está o Rio Chambuiaco, que é um limite natural entre o Estado do Acre e o Peru. Este tem como seu afluente na margem direita o Igarapé Primavera. Na área de entorno do Chandless, a noroeste, temos os afluentes da margem direita do Rio Purus, os Igarapés do Ceará e o Camarari. No norte, nasce o Igarapé Ipetã que via desaguar no Igarapé Pai d´égua a nordeste, na margem esquerda do Rio Chandless. Ao sul nasce o Igarapé Boladeira que deságua na margem esquerda do Rio Caeté. A sudeste, nasce o Rio Macauã que segue no sentido sudoeste-noroeste. Ao sul o Igarapé Riozinho, o Paulo Ramos e o Moa. 3.5 Paleontologia A área do Chandless é uma região onde podemos encontrar uma quantidade muito significativa de depósitos sedimentares fossilíferos. O Projeto RADAMBRASIL (BRASIL,1977), inventariou estes depósitos com a finalidade de data-las e descreve-las, visando a proteção destes fósseis segundo o Decreto Lei nº 4.146 de 04/03/1942. Em 1962, o geólogo Francisco Mota Bezerra realizou a primeira coleta de fósseis ao longo dos rios Santa Rosa, Purus, Chandless, Iaco e Acre. Durante o ano de 1975, no mês de outubro, os geólogos Luis Fernando Galvão de Almeida e Simão de Jesus Silva também coletaram fósseis nos rios Chandless e Purus (BRASIL, 1977). Epaminondas Jácome, 1926, enviou ao Museu Nacional, um fragmento de molar, coletado na Boca do Rio Chandless, triburário do Alto Rio Purus e, que em 1956, Paula Couto identificou como sendo da espécies Haplomastodon waringi (Rancy, 1981). As amostras coletadas na região do Chandless são atribuídas ao Pleistoceno e as idades mais recentes, como os moluscos coletados no Igarapé do Onça que datam do Pleistoceno, e as coletas no Rio Chandless realizadas por Epaminondas Jacomé, em 1926, datadas como as mais recentes (BRASIL, 1977). Os locais onde estes fósseis foram encontrados na região do Chandless, o tipo de fóssil e o local onde as peças estão depositadas, estão indicados no quando a seguir. Localidades Fossilíferas no Chandless (BRASIL, 1977)

# LOCALIDADES TIPO DE OCORRÊNCIA E LOCAL ONDE ESTÁ DEPOSITA

24 Pai-d’Égua (foz do igarapé Pai-d’ Égua, margem esquerda do rio Chandless)

Ílio esquerdo de um crocodilídeo (DNPM)

25 Igarapé Pai-d’Égua (a jusante da foz do igarapé Pai-d’Égua, margem direita do rio Chandless)

Restos de vegetais e fragmentos de ossos (DNPM)

29 Fazenda Manaus (margem esquerda do rio Chandless, a montante da fazenda Manaus)

Fragmentos de escamas de peixe, fragmentos de placas de tartarugas (talvez do gênero Testudo), um dente e o pós-frontal direito de um crocodilídeo, fragmentos da mandíbula esquerda, com dois molares, de um roedor (DNPM)

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# LOCALIDADES TIPO DE OCORRÊNCIA E LOCAL ONDE ESTÁ DEPOSITA

30 Igarapé Escondido (rio Chandless, próximo à foz do igarapé Escondido)

Biválvios do gênero Anodontites (DGM 4 947-I a DGM 4 949-I), fragmentos de ossos e um dente de crocodilídeo (DNPM)

32 Igarapé Botão (entre a foz do igarapé Botão e a do Ipetã, margem direita do rio Chandless)

Fragmento de tartaruga (DNPM)

35 Igarapé Cuchichá (na foz do igarapé Cuchichá (ou Cuchucha), afluente margem esquerda do rio Chandless)

Gastrópodes da família Ampullariidae e gastrópodes do gênero Aylacostoma e biválvios (DNPM)

36 Igarapé do Onça (margem esquerda do rio Chandless, a montante da foz do igarapé da Onça)

Fragmentos de biválvios, possivelmente do gênero Castalia (DNPM)

37 Seringal Vista Alegre (Seringal Vista Alegre, a jusante do Acampamento Peruano, margem direita do Rio Chandless)

Invertebrados

38 Reintegro (Seringal Reintegro, margem direita do Rio Chandless, a montante do Igarapé Santo Antonio)

Tenazes de crustáceos de água doces (DNPM)

39 Igarapé Chandless- Chá (margem direita do Rio Chandless, a montante do Igarapé Sinarichal)

Vegetais

40 Igarapé São João (margem esquerda do Rio Chandless, próximo ao seringal São João, a jusante do Igarapé São João)

Vegetais

56 São João (Seringal São João , margem direita do Rio Chandless, a jusante do Igarapé São João)

Vegetais

57 Liberdade (margem direita do Rio Chandless, próximo ao Seringal Liberdade e jusante do Igarapé São João)

Vertebrados

58 São Francisco (margem direita do Rio Chandless entre o Igarapé São João e o Pumajarli)

Vertebrados

NOTA: - DNPM – RJ (Departamento Nacional de Produção Mineral, no Rio de Janeiro); # Enumeração das localidades fossilíferas no Projeto RADAMBRASIL. 3.6 Solos 3.6.1 Distribuição dos solos na área do Chandless A descrição das classes de solos que estão presentes na área do Chandless e de seu entorno, são baseadas no Mapa Pedológico do Estado do Acre (ZEE, 2000), que teve sua origem a partir da correlação dos estudos já existentes no RADAMBRASIL 1976/1977 com o novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa Solo. 1999), resultando em diferentes denominações de classes de solos, conforme quadro a seguir.

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Relação entre as Classes de Solos RADAMBRASIL/1976, 1977 SISTEMA BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO

DE SOLOS Podzólico Vermelho Amarelo Álico Ta Alissolos Cambissolos Cambissolos Glei Húmico e Glei Pouco Húmico Gleissolos Latossolo Vermelho Amarelo, Latossolo Vermelho Escuro

Latossolos

Podzólico Vermelho Escuro Nitossolos Podzólico Vermelho Amarelo Tb, Podzólico Vermelho Amarelo plíntico Ta**

Argissolos

Podzólico Vermelho Amarelo Eutrófico Ta Luvissolo Solos Aluviais, Areias Quartzosas, Litossolos Neossolos* Brunizem avermelhado Chernossolo* Vertissolos Vertissolos* Fonte: RADAMBRASIL, 1976, 1977; ZEE – Mapa Pedológico do Acre, 2000. * Ocorrem somente como componentes secundários nas unidades de mapeamento. ** Muitos dos Podzólicos Vermelho Amarelo plíntico Ta, que deveriam ser classificados como Plintossolos (em função da argila de atividade alta), não foram por falta de dados na descrição morfológica; desta forma mantidos como Argissolos Amarelos plínticos. Na área do Chandless predomina Cambissolo Háplico Ta Eutrófico, Argissolo Amarelo Eutrófico Plíntico, como seus componentes de solo, os Gleissolos Háplico Ta Eutrófico, Neossolo Flúvico Ta Eutrófico; Argissolo Amarelo Eutrófico plíntico, Alissolo Hipocrômico argilúvico típico; Argissolo Vermelho Amarelo Alumínico, Cambissolo Háplico Ta Eutrófico. Os solos desta área desenvolveram-se sobre a Formação Solimões, datada no Plioceno Médio e Pleistoceno Superior, onde a cobertura vegetal se caracteriza pela Floresta com Palmeiras mais Floresta com Bambu, Floresta com Bambu em Área Aluvial e Floresta Densa(Tipologias # 07, 08 e 09) (ZEE, 2000). A unidade Cxve1 (Cambissolo Háplico Ta Eutrófico, Argissolo Amarelo Eutrófico Plíntico) representa a maior parte da área em questão. A vegetação que se desenvolveu sobre esta unidade foi Floresta Aberta com Bambu mais Floresta Aberta com Palmeira e Floresta Aberta com Palmeira mais Floresta Aberta com Bambu (Tipologias # 02 e 07), (BRASIL,1977). A unidade PVAa1 (Argissolo Vermelho Amarelo Alumínico, Cambissolo Háplico Ta Eutrófico) apresenta como característica marcante o horizonte B textural e a baixa atividade de argila. Sobre esta unidade desenvolveu-se Floresta Aberta com Bambu mais Floresta Aberta com Palmeira e Floresta Aberta com Palmeira mais Floresta Aberta com Bambu (Tipologias #2 e 7) (BRASIL, 1977). Ao sul, no limite com a Terra Indígena Mamoadate, encontramos a unidade Pae5 (Argissolo Amarelo Eutrófico Plíntico, Alissolo Hipocrômico Argilúvico típico). Os Argissolos caracterizam-se por apresentarem horizonte B textural e baixa atividade de argila. A vegetação que recobre esta área é Floresta Aberta com Palmeira mais Floresta Aberta com Bambu (Tipologia # 7), (BRASIL, 1977). A unidade Gxve1 (Gleissolos Háplico Ta Eutrófico, Neossolo flúvico Ta Eutrófico) ocorrem, a jusante do Rio Chandless nas duas margens, a jusante de partes do igarapé Chandless-Chá, também nas duas margens e, a jusante dar margem esquerda do Igarapé Cuchichá até certo ponto. Este tipo de solo apresentam-se predominantemente ou periodicamente saturados por água. A

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vegetação que recobre este solo ao longo do rio e Igarapé citado é de Floresta Aberta com Bambu em áreas aluviais (Tipologia # 8), (BRASIL, 1977). Para área de entorno do Chandless, o solo que também predomina é o Cxvel, com os mesmos componentes já citados anteriormente, acrescentando entretanto, o componente Alissolo Crômico Argilúvico típico, Argissolo Amarelo distrófico (AC+1), que ocorre somente na área do entorno. A unidade AC+ 1, ocorre em um pequeno trecho a noroeste do entorno com uma vegetação caracterizada por Floresta Aberta com Bambu Dominante. A unidade Gxvel, ocorre a nordeste, ao longo do Rio Chandless e, a noroeste ao longo do Rio Purus, com uma vegetação de tipologia #8. A parte sul do entorno se caracteriza por apresentar, em quase toda a sua extensão, a unidade Pae5, com vegetação de tipologia #7. A unidade PVAa1, encontra-se distribuída a noroeste, norte, nordeste e a leste, com vegetação de tipologias # 2 e 7. Solos da Área do Chandless

Classes de solo predominantes Associação de solos presentes Alissolos AC+1

- Alissolo Crômico Argilúvico típico; - Argissolo Amarelo Distrófico

Cambissolo Cxve1

- Cambissolo Háplico Ta Eutrófico; - Argissolo Amarelo Eutrófico plíntico.

Argissolo PVAa1

- Argissolo Vermelho Amarelo alumínico; - Cambissolo Háplico Ta Eutrófico

Argissolo Pae5

- Argissolo Amarelo Eutrófico plíntico; - Argissolo Amarelo Eutrófico plíntico; - Alissolo Hipocrômico argilúvico típico

Gleissolos Gxve1

- Gleissolos Háplico Ta Eutrófico; - Neossolo flúvico Ta Eutrófico

Fonte: ZEE, 2000 3.6.2 Descrição dos solos da área do Chandless Alissolos (A) Solos constituídos de material mineral, com horizonte B textural ou B nítico e argila de atividade > cmolc/kg de argila, com alto conteúdo de alumínio extraível (Al 3+ > 4 cmolc/kg de solo), e saturação por alumínio < 50% na maior parte do horizonte B e satisfazendo ainda os seguintes requisitos: • horizonte plíntico, se presente, não está acima do horizonte B e não coincide

com a parte superficial deste horizonte; • horizonte glei, se presente, tem início após 50 cm de profundidade e não

coincide com a parte superficial do horizonte B, e nem ocorre acima deste horizonte.

Subordens Registradas: ALISSOLO CRÔMICO Argilúvico típico e ALISSOLO HIPOCRÔMICO Argilúvio típico. Argissolo (A) Solos constituídos de material mineral, com argila de atividade baixa e horizonte B textural imediatamente abaixo do horizonte A ou E, e apresentando, ainda, os seguintes requisitos:

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• horizonte plíntico, se presente, não está acima e nem é coincidente com a

parte superficial do horizonte B textural; • horizonte glei, se presente, não está acima e nem coincidente com a parte

superficial do horizonte B textural. Subordens Registradas: ARGISSOLO AMARELO Eutrófico plíntico e ARGISSOLO VERMELHO amarelo alumínico. Cambissolo (C ) (perfil # 15) Solos constituídos por material mineral, que apresentam horizonte A ou hístico com espessura < 40 cm seguido de horizonte B incipiente que satisfaz os seguintes requisitos: • B incipiente não coincidente com horizonte glei dentro de 50 cm da superfície

do solo; • B incipiente não coincidente com horizonte plíntico; • B incipiente não coincidente com horizonte vértico dentro de 100 cm da

superfície do solo; e • não apresenta a conjugação de horizonte A chernozêmico e horizonte B

incipiente com alta saturação por bases e argila de atividade alta. Subordem Registrada: CAMBISSOLO HÁPLICO Ta Eutrófico Gleissolo (G) Solos constituídos por material mineral, com horizonte glei dentro dos primeiros 50 cm da superfície, ou entre 50 e 125 cm desde que esteja imediatamente abaixo do horizonte A ou E, ou ainda precedido por horizonte B incipiente, B textural ou horizonte C com presença de mosqueados abundantes com cores de redução e satisfazendo, ainda, os seguintes requisitos: • ausência de qualquer tipo de horizonte B diagnosticado acima do horizonte

glei; • ausência de horizonte vértico ou plíntico acima do horizonte glei ou

coincidente com este; • ausência de horizonte B textural com mudança textural abrupta; • ausência de horizonte hístico com 40 cm ou mais de espessura. Subordem Registrada: GLEISSOLO HÁPLICO Ta Eutrofíco Neossolo (N) Solos constituídos por material mineral ou por material orgânico com menos de 30 cm de espessura, não apresentando qualquer tipo de horizonte B diagnóstico e satisfazendo o seguintes requisistos: • ausência de horizonte glei, exceto no caso de solos com textura areia ou

areia franca, dentro de 50 cm da superfície do solo, ou entre 50 cm e 120 cm de profundidade, se os horizontes sobrejacentes apresentarem mosqueados de redução em quantidade abundante;

• ausência de horizonte vértico imediatamente abaixo de horizonte A;

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• ausência de horizonte plíntico dentro de 40 cm, ou dentro de 200 cm da superfície se imediatamente abaixo de horizontes A, E ou precedidos de horizontes de coloração pálida, variegada ou com mosqueados em quantidade abundante, com uma ou mais das seguintes cores: • matiz 2,5Y ou 5Y; • matizes 10YR a 7,5YR com cromas baixos, normalmente iguais ou

inferiores a 4, podendo atingir 6, no caso de matiz 10YR; • ausência de horizonte A chernozêmico conjugado a horizonte cálcico ou C

carbonático. Subordens Registradas:NEOSSOLOS FLÚVICOS (Solos Aluviais) e NEOSSOLOS FLÚVICOS Ta Eutrófico. 3.6.3 Descrição do Perfil # 15 na área do Chandless Com base em informações do RADAMBRASIL , 1977, foi coletado um único perfil (P15), dentro da área do Alto Chandles onde predomina Cambissolos Unidade de solo CXVe1), localizado na latitude 09º 57’ S e longitude 70º 36 WGr. Este material é originário da Formação Solimões, pliopleistoceno, coletado em área com 0 a 2% de declive, e erosão laminar ligeira, apresenta relevo plano, com drenagem moderada a imperfeita, sobre a Floresta Aberta com cipó. A1 0-5 cm; Bruno amarelado escuro (10YR 4/4); fraco-argiloso-siltoso; fraca pequena subangular; ligeiramente duro, friável, plástico e ligeiramente pegajoso; transição clara. A3 5-20 cm; Bruno amarelado (10YR 5/4); argila siltosa; fraca pequena subangular; firme; plástico e pegajosos; transição gradual. B12 20-40 cm, coloração variegada, composta de Bruno amarelado claro (10YR 6/4) e Bruno avermelhado (5YR 4/4); argila siltosa; fraca e moderada pequena subangular; duro, firme, plástico e pegajoso, transição gradual. B22 40-70 cm; coloração variegada, composta de Bruno pálido (10YR 6/3) e vermelho amarelado (5YR 5/6); argila siltosa; moderada pequena subangular; duro, firme, plástico e pegajoso; transição difusa. B31 70-110 cm; coloração variegada, composta de Bruno pálido (10YR 6/3) e vermelho amarelado (5YR 5/8); argila siltosa; moderada média subangular; duro, firme, plástico e pegajoso. B32 110-150 cm; coloração variegada, composta de Bruno amarelado (10YR 5/4) e amarelo avermelhado (5YR 6/6); argila siltosa, moderada média subangular; duro, firme, plástico e pegajoso.

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3.6.4 Limitações para o Uso da Terra Os levantamentos realizados na área do Chandless indicam terras com aptidão para culturas perenes e cultivos de espécies florestais e frutíferas em sistemas agroflorestais nos níveis tecnológicos de baixo e médio impacto. O quadro a seguir mostra os grupos de aptidões florestais de acordo com as possibilidades de uso para cada classe de solo. Grupos de Aptidão Agroflorestais

Grupos Possibilidades de Uso 1 Aptidão para a produção intensiva de grãos.

2 Aptidão para culturas perenes, espécies frutíferas e florestais em monocultivos.

3 Aptidão para exploração de culturas perenes e espécies florestais e frutíferas em sistemas agroflorestais.

4 Aptidão para pastagem com ênfase para sistemas agrosilvipastoris.

5 Sem aptidão agroflorestal, com restrições moderadas para atividades florestais e conseqüente circulação de veículos.

6 Sem aptidão agroflorestal, indicado para preservação da flora e fauna.

Fonte: ZEE, 2000. A área de entorno também apresenta o mesmo potencial, aptidão para culturas perenes e cultivos de espécies florestais e frutíferas em sistemas agroflorestais nos níveis tecnológicos de baixo e médio impacto, uma vez que, os solos e o relevo desta área de entorno são praticamente os mesmos encontrados na área do Chandless, o que justifica tal semelhança (Mapa de Pedologia e de Aptidão Agroflorestal do ZEE, 2000).

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4. ASPECTOS BIÓTICOS 4.1 Vegetação Do ponto de vista da flora, a bacia do Alto Purus é uma das regiões menos conhecidas da Amazônia. O Estado do Acre mostra no todo uma densidade de coletas botanicas de 1/100 Km2, ou a décima parte da densidade no Oriente do Equador. Até novembro de 1996, pesquisas mostravam que o Alto Purus no Acre não havia sido representada por nenhuma amostra botânica, ou seja, área totalmente desconhecida botânicamente. O grande pioneiro alemão Ernst Ule subiu o Purus em 1901, e no seu afluente o Rio Acre até o Peru, mas não fica claro se chegou até o Estado do Acre via Purus. Em 1904, o grande botânico Jacques Huber, acompanhado por André Goeldi, diretor do Museu Paraense, subiu o Purus até a boca do Antimari (ainda no Amazonas), mas o vapor no qual subiam teve problemas e acabaram subindo o Antimari no Acre mas não o Purus. Na década de 70, G T. Prance subiu o Purus somente até a boca do Ituxi (Boca do Acre). Uma excursão curta do convênio UFAC-NYBG em novembro de 1996 chegou até a boca do Chandless mas não conseguiu subir mais em nenhum dos dois rios por causa de problemas no acesso. Consequentemente, tanto o Chandless como o Alto Purus continuavam “ inéditos” para a botânica até esta excursão. O Alto Purus constitui o centro da distribuição dos chamados tabocais no sudoeste da Amazônia. Estima-se que estas florestas, tão dominadas por bambus arborescentes ao gênero Guadua que pode-se diferenciá-las em imagens de satélite cobrem aproximadamente 10.000 Km2 da região. Trata-se de um tipo de vegetação extremamente importante, mas muito pouco conhecido. Pesquisas em andamento em fase de elaboração/aprovação são dirigidas a vários aspectos deste fenômeno, inclusive as identidades das espécies envolvidas (são pelo menos duas), a periodicidade da sua floração e mortalidade, padrões de crescimento vertical e lateral, mecanismos de colonização e dominância, fatores edáficos correlacionados com sua ocorrência, e padrões de diversidade da sua flora. Em comparação com outras florestas de terra firme no Acre, a diversidade e densidade de árvores nas famílias Leguminosae sensu latu, assim como Euphorbiaceae, Sapotaceae, Myristicaceae, e Lauraceae são relativamente baixas. Em contraste, é relativamente alta a diversidade e densidade de árvores nas famílias Moraceae e Annonaceae, nesta última principalmente árvores pequenas. Famílias de ervas relativamente melhor representadas são Marantaceae, e Araceae, nesta última muitas espécies terrestres mas a maioria delas estéreis na época. Gêneros com relativamente alta diversidade para uma amostragem preliminar foram Renealmia (pelo menos 3 spp. Coletadas férteis), Ficus (4+), e Peperomia (4+). As pteridífitas também foram bastante abundantes e diversas. A castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) não ocorre nesta área assim como a seringueira (Hevea brasiliensis).

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4.1.1 Algumas espécies interessantes observadas • Minquartia guianensis Aublet (“quariquara”). Esta árvore, fonte de uma

madeira de lei e importante nas indústrias madeireiras na Amazônia Oriental, é rara no Acre, pois esta coleção constitui apenas a segunda no banco de dados, Segundo os mateiros, o fruto desta espécie é tão procurada por vários animais que raramente é encontrada com frutos.

• Dracontium sp, (“milho de cobra”). No Acre ocorrem pelo menos três espécies deste gênero de Araceae terrestre; a encontrada nesta região é a maior, pois suas inflorescências atingem 2m e as folhas 3m de altura.

• Zamia ulei Dammer. Esta cycadacea acaule e pequena é bem espalhadas nas matas de terra firme no Acre, principalmente na bacia do Purus, mas nunca foram encontrados densidades tão altas.

• Lecythis f. prancei Mori (“castanharaba”). Foram encontradas poucas de Lecythidaceae na região, mas esta espécie dominava muitos trechos de terra firme. Frutos grandes e lenhosos estavam espalhados no chão em vários lugares.

• Guadua weberbaureri (“taboca”). Os bambús arborescentes do sudoeste da Amazônia raramente são encontrados férteis, porque são monocárpicos, tem um ciclo de vida de mais de 20 anos, e as populações morrem após frutificar. Foi encontrada uma população em plena flor desta espécie, a mais comum na região.

• Cissus sp. (“cipó de aquecer leite”). A espécie coletada tem frutos grandes maiores que as uvas comerciais (da mesma família).

• Aristolochia sp. O Acre parece conter mais novidades neste gênero. Uma espécie nova. A dalyi, foi publicada em 1998. A espécie encontrada no Alto Purus tem o perianto muito carnoso, verde no centro, mas na periferia cor de vinho com grandes pUPIlas verdes.

• Caryocar sp. (“piquiarana”). A espécie encontrada não é a mais comum na região, C. glabrum.

• Inga sp. (“ingá titica”). Uma espécie de mata de baixio, com folíolos muito pequenos para o gênero; indicada pelos mateiros como uma árvore raramente encontrada com flor.

• Cedrela sp. (“cedro rosa”). Esta gênero é pouco comum. 4.1.2 Riqueza florística na Bacia do Alto Purus Nos últimos anos, o uso de bancos de dados e informações disponíveis nos rótulos de espécimes depositados em museus e herbários, tem se tornado ferramentas comuns no direcionamento de questões relacionadas à conservação da biodiversidade. Embora escassas e concentradas em poucas áreas, as informações oriundas das coleções botânicas, são úteis para estimar a riqueza de espécies em grandes áreas e identificar padrões de distribuição geográfica. Em função da existência de uma relação forte entre áreas de endemismos e áreas bem coletadas, evidências de raridade nesta escala devem ser exploradas com muita cautela, a partir das coleções botânicas. A Lista da flora do sudoeste da Amazônia (Acre e borda com Peru), ainda em construção, registra para estas região pouco mais de 4000 espécies determinadas por especialistas. Representando uma escala geográfica menor, a lista da flora do Acre congrega 16.762 registros e documenta aproximadamente

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3.500 espécies para o Estado. Como o número baixo de coleções oriundas do Purus e Chandless limitam qualquer estimativa sobre a riqueza florística na área da UPI, visando maximizar o número de espécies que pode ocorrer na área, foram filtrados do banco de dados da flora do Acre, todas as coletas efetuadas no entorno e em áreas próximas da UPI, abrangendo a região entre os rios Iaco e Envira (incluindo os rios Macauã, Caeté, Purus e Chandless). As coleções efetuadas nesta região geográfica representam 17% dos registros do banco de dados, e de 2.869 coletas registradas para esta região, 66% (1.901) está determinada até o nível específico, representando uma riqueza regional de 1.103 espécies, quase um terço da riqueza florística do estado. A relação regional entre o número de coletas e de espécies indica que a cada 2,5 coleções, um novo registro é incorporado à flora da bacia, indicando uma alta riqueza florística. 4.1.3 Distribuição geográfica Dentre as 1.103 espécies com ocorrência na região entre os rios Iaco e Envira (municípios de Sena Madureira, Manuel Urbano e Feijó), 221 foram analisadas quanto à distribuição geográfica, através de consultas on-line ao banco de dados (W3 TROPICOS) do Missouri Botanical Garden (www.mobot.org), um dos herbários com maior representatividade de coleções Amazônicas. Foram caracterizadas como tendo padrões de distribuição ampla, as espécies com ocorrencia na Amazônia, Guianas, Brazil Central e América Central. Distribuições disjuntas foram registradas entre espécies registradas apenas no Acre – Floresta Atlântica, e Acre – Caatinga. Espécies com ocorrência em toda Bacia Amazônica ou em regiões geográficas gradativamente menores no oeste da Bacia, foram incluídas entre aquelas com distribuição restritas. Foram consideradas raras ou endêmicas aquelas espécies com menos de 5 coletas no Acre e localidades contìguas da Bolívia e/ou Peru, e estritamente endêmicas aquelas com uma ou duas coletas em localidades contìguas da Bolívia ou Peru. As 221 espécies aqui analisadas representam 20% do total registradas para a Bacia do Alto Purus. As espécies com distribuição ampla representam 21% do número total analisado, 2% apresenta distribuição disjunta e quase 80% distribuição restrita. As espécies que ocorrem em toda bacia e nas Guianas representam 11% das restritas, e aquelas que ocorrem no Sudoeste da Amazônia, 12% das restritas. Especialmente do ponto de vista da conservação, as raras e endêmicas e estreitamente endêmicas representam 46% das espécies. Sabe-se que os endemismos e os padrões de distribuição na Amazônia podem ser artefatos da baixa densidade e intensidade de coletas, e da alta concentração de coletas nas beiras dos rios e determinadas localidades. A despeito deste fato, as distribuições mais restritas de uma parcela significativa das espécies que ocorrem nesta região geográfica, revelam o carater da flora da região do Alto Purus. Além de congregar espécies com distribuição geográfica restrita, pelo fato de estar localizado em uma região de transição bioclimática, o alto Purus consiste no limite de distribuição des espécies associadas com florestas semidecíduas e formações secas. Espécies que ocorrem em florestas semidecíduas no Paraguai e Bolívia, onde existe de 21 a 40 dias biológicamente

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secos, ocorrem até a região do Alto Purus, ou então seguem acompanhando as florestas secas no Peru até o Equador. Outras espécies com ampla ocorrência em áreas de alta pluviosidade na Colombia, Equador e norte do Peru, onde praticamente não existe período seco, tem seu limite de distribuição na região mais sul – ocidental da bacia Amazônica, correnpondente a região do Alto Purus e áreas limítrofes com a Bolívia e Peru. 4.1.4 Indicativos para criação da unidade de conservação A região do Alto Purus é uma região de alta diversidade florística, de transição bioclimática e provavelmente de confluência de floras. Pelo fato de incluir cabeceiras de tributários importantes de 3ª e 4ª ordem da margem direita do Rio Purus, a UPI pode proteger em seus 728 há, processos naturais relacionados com a manutenção dessadiversidade. A distância de centros urbanos, a dificuldade de navegação durante o verão e as corredeiras do rio Chandless, são barreiras naturais que limitam o acesso à área, contribuindo para uma maior defesa da UPI. A baixa densidade populacional na UPI é outro fator que contribui para a defensibilidade e garantia do atual status de conservação da área, mesmo considerando a pressão esporádica exercidas por famílias que habitam áreas próximas. A existência de outras categorias de unidades de conservação ladeando a área da UPI do Chandless, como a Estação Ecológica do Rio Acre, a Floresta Nacional do Macauã, a Reserva Extrativista Chico Mendes e as Terras Indígenas, além das intenções do Governo Peruano em criar unidades de conservação na região de fronteira no Departamento de Madre de Dios, favorecem estudos e planejamentos futuros, beneficiando a criação de corredores naturais e ampliando as possibilidades de conservação regional. Desta forma, considerando a alta riqueza florística regional, os padrões de distribuições geográfica das espécies, as características que conferem defensibilidade à área e a distribuição das unidades de conservação no Estado do Acre, a criação de uma unidade de conservação de uso indireto na UPI do Chandless é de alta importância para a conservação da diversidade regional e de processos associados com sua manutenção. 4.1.5 Caracterização e estado de conservação da vegetação Conforme o mapa de vegetação do Estado do Acre o mosaico vegetacional na Unidade de Proteção Integral do Chandless (UPI) é caracterizado pela ampla ocorrência da Floresta de Bambu e Floresta com Palmeiras, dominante ou subdominadas, e de fito-fisionomias menos representativas, com a Floresta com Palmeiras, restrita em manchas pequenas na parte nordeste da área, e a Floresta com Bambu em áreas aluviais ao longo do Rio Chandless e Igarapé Chandless-Chá. Com objetivo de caracterizar a fisionômia e a composição florística e, avaliar o estado de conservação da vegetação da UPI, seis pontos representando diferentes fito-fisionomias foram determinados no mapa de vegetação da área. A descrição fisionômica das florestas foi efetuada com base em observações na extratificação da cobertura vegetal. Através da taxonomia tradicional, utilizando o conceito de nome vulgar, foi criada uma lista de espécies observadas em cada área visitada, permitindo

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representar parcialmente, a composição florística. As árvores e palmeiras observadas em ambos os lados de varadouros e estradas de seringa (≅15 m para cada lado) durante caminhadas 2-4 horas, foram identificadas através do nome vulgar e do nome científico, quando conhecido. 6 4.1.6 Floresta com Palmeiras em áreas aluviais A Floresta com Palmeiras em áreas aluviais, ocorre em manchas pequenas sobre os terraços dissecados em ambas as margens do Chandless, na porção nordeste da UPI (parte inicial da área). As cristas são altas e apresentam dossel subosque denso, em função da dominância de Guadua sarcocarpa, um bambu arborescente comum na região. Árvores emergentes como Assacu (Hura crepitans), Samaúma (Ceiba pentandra) e Cumarú Ferro (Dypterix sp.) ultrapassam 35m de altura. A espécie mais abundante no dossel foi o Mulateiro (Calycophyllum sp.) e no subosque a Canela de veado (Rinoreocarpus sp. ). Além destas, merece citação o Aguano querose (Centrolobium sp.) em função da raridade na escala de Estado. As palmeiras são densas especialmente nas vertentes com baixa densidade de bambu, sendo observadas Jarina (Phytelephas macrocarpa), Açaí (Euterpe precatoria), Pupunha da mata (Bactris dahlgreniana), Jaci (Attalea sp.), especialmente abundante nessa porção do relevo, Paxiubão (Iriartea deltroidea) e Paxiubinha (Socratea exorrhiza), abundantes no fundo dos vales. Trinta e sete espécies arbóreas foram observadas nesta área e apesar da existência de trilhas de caça utilizadas por índios, esta fito-fisionomia não apresenta sinais de pertubações antrópicas sérias e está em bom estado de conservação. 4.1.7 Floresta com Bambu e Floresta com Palmeiras Esta formação é bem representada na área, ocorrendo predominantemente na porção norte da UPI, ao longo da margem esquerda do Chandless até a foz do Igarapé Cuchichá, estendendo-se a partir da margem esquerda até a fronteira com o Peru no oeste e a região de Santa Rosa no noroeste. Ocorrendo nos terraços altos e sobre relevo suave ondulado, esta fito-fisionomia apresenta dossel aberto e subosque fechado, devido à dominância de G. Sarcocarpa. Árvores emergentes como Samaúma barriguda (Chorisia insignis), Copaíba (Copaifera sp.) e Jatobá (Hymenaea sp.) ultrapassam 35m de altura. Ingá vermelha (Inga alba), Cedro rosa (Cedrela odorata) são espécies abundantes no dossel e João mole (Neea spp.), Orelha de burro (Pausandra sp.) e Cacauí (Theobroma sp.), abundantes do subosque. A Itaúba (Mezilaurus sp.) é uma espécie rara e foi observada apenas nesta área. Além de Jaci, Açaí, Paxiubinha e Paxiubão, outra palmeira observada nesta área foi a Bacaba (Oenocarpus sp.). A área está em bom estado de conservação, pois os varadouros utilizados na caça estão abandonados e a madeira retirada na área é utilizada apenas na

6 Os nomes vulgares foram fornecidos pelo Sr. Raimundo Saraiva, técnico da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre, profundo conhecedor da flora regional, hábil no reconhecimento de gêneros e espécies e consistente na relação nome vulgar/nome científico.

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construção de casas e UPIol. O uso do Cumaru ferro para fazer carvão é uma prática comum na região, sendo registrada nesta área. Cinquenta e quatro espécies foram identificadas nesta área. 4.1.8 Floresta com Palmeiras em áreas aluviais Esta fito-fisionomia ocorre em planície aluvial e representa uma variação da Floresta com Palmeiras em área aluvial, já que a fisionomia ocorre em terreno de depósito recente (baixio) e sofre influência de Guadua weberbaueri, a segunda espécie de bambu com ampla distribuição na área. Esta floresta apresenta subosque denso e dossel aberto, destacando-se como emergentes: Samaúma barriguda e Samaúma branca, Favela preta (Himenolobium sp.) e Apuí (Ficus sp.), que ultrapassam 35m de altura. Jaracatia (Jacaratia sp.), Cajá (Spondias morbin) e Samaúma de tabocal (Bombacaceae indeterminada) são as espécies mais abundantes no dossel e Pau pirarucu (Actinostemon sp.) são espécies de palmeiras abundantes no subosque e dossel e Marajá (Bactris sp.) no estrato herbáceo. As famílias mais especiosas nesta área foram Arecaceae (8 de 11 espécies observadas na UPI) e Moraceae (7 de 16 espécies). Louro rosa (Ouaioua sp.) e Corrimboque preto (Cariniana estrellensis) são espécies raras na região. Sessenta e duas espécies foram identificadas nesta área, que em função das limitações no uso devido as cheias periódicas, encontra-se em bom estado de conservação. 4.1.9 Floresta com Bambu dominante A floresta com Bambu dominante ocorre em relevo suave ondulado e é dominada por G. Weberbaueri. Esta espécie de bambu tem um ciclo de vida de 29-32 anos, após o qual floresce, dispersa os frutos e morre. No período de visita à área, G. Weberbaueri estava florescendo e morrendo em alguns pontos, promovendo um aumento na abertura do dossel e um adensamento de árvores finas no subosque. As emergentes são tão altas quanto as demais áreas, sendo representadas especialmente por Samaúma barriguda, Cumarú Ferro, Jatobá e Marupá roxo (Jacaranda sp.). Samaúma de tabocal, Burra leiteira (SUPIum sp.), Pama caucho (Perebea molis), Pau d’arco da casca fissurada (Tabebuia sp.) e Amarelão (Aspidosperma vargasri), são as mais abundantes do dossel e Cacauí, João mole e Castanha de cotia (Olacaceae indeterminada) comuns no subosque. Murumurú e Bacaba, são palmeiras comumente encontradas no dossel no subosque, enquanto o Marajá predomina no estrato herbáceo. Nesta área foram identificadas 74 espécies, sete de onze espécies de palmeiras, quatro de sete espécies de Bombacaceae e seis de sete espécies de Bignoniaceae registradas na UPI. Cedro branco (Cedrela fissilis), Agulheiro (Xylosma sp.) e Pereiro (Aspidosperma macrocarpon) são espécies raras, sendo encontradas apenas nesta área. 4.1.10 Floresta com Palmeiras e Floresta com Bambu Esta vegetação é uma das mais representativas da área, desenvolve-se sobre um relevo suave ondulado e nas proximidades do rio está sujeita a inundações periódicas. Na área visitada, G. Weberbaueri encontra-se

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regenerando após mortalidade recente e na porção marginal próxima ao rio, predominam Canarana (Gynerium sp.) e Marajá no estrato herbáceo, especialmente em locais pobremente drenados. Espécies emergentes como, Amarelão, Caucho, Cajá e Pau d’arco da casca lisa (Tabebuia sp.), também ultrapassam 35m de altura. Inga vermelha, Cajá, Samaúma de tabocal, Caucho, Embaúba branca (Cecropia sp.) e Maparajuba vermelha (Pouteria sp.), são espécies comuns no dossel e Cacauí, Canela de velho, João mole, Cabelo de cotia (Banara sp.) e Envira sapotinha (Quararibea sp.) são abundantes no subosque. Nesta área foram identificadas 86 espécies e registrada a metade do número total de espécieis de Moraceae (8 de 16) e a maioria das Bignoniaceae encontradas na UPI. Abiurana mole e Abiurana da folha cinzenta (Ecclinusa spp.), Apuí branco e Caxinguba de igapó (Ficus spp.), Coité de macaco (Couroupita sp.) e Sucupira preta (Diplotropis sp.) foram observadas apenas nesta área. Apesar da retirada de Jacareúba (Calophyllum sp.), uma madeira muito resistente utilizada para a construção de canoas e das alterações fisionômicas impostas pela dinâmica do rio, a área neste ponto encontra-se em bom estado de conservação. 4.1.11 Floresta com Palmeiras em áreas aluviais e transição para a Floresta com Bambu e Floresta com Palmeiras A Floresta com Palmeiras em áreas aluviais e sua transição para a Floresta com Bambu e Floresta com palmeiras ocorrem sobre relevo dissecado em cristas. G. weberbaueri ocorre em ambas, mas na primeira os efeitos do bambu sobre as características da comunidade são mais discretos. O bambu morreu há pouco tempo e plântulas originadas de sementes são observadas na área. Apesar da escassez do bambu no subosque, cipós finos, árvores pequenas e ervas escandentes como Sellaginela sp. foram emaranhados densos no subosque na meia encosta, dificultando o deslocamento. Paxiubão e Paxiubinha são duas espécies de palmeiras abundantes no dossel aberto e subosque fechado do fundo do vale. No estrato herbáceo da meia encosta e fundo do vale é comum a presença de uma Pteridófita arborescente (Cyathea sp.). Pau d’arco da casca lisa, Apuí, Pau d’arco roxo (Tabebuia ipertiginosa), Pau sangue (Pterocapus sp.) e Sapota macho (Matisia sp.), são algumas das espécies emergentes. Samaúma de tabocal, Paxiubão, Espinheiro preto (Acacia polyphylla) e Angelca (Drypetes sp.) são comuns no dossel e Orelha de burro, Envira sapotinha e Cacauí, no subosque. Além do número maior de espécies observadas (110), esta área também apresenta uma alta riqueza de palmeiras (9 de 11 espécies) Bombacaceae (6 a 7 espécies), Euphorbiaceae (7 a 10 espécies), Meliaceae (5 a 8 espécies) e Sapotaceae (7 a 10 espécies). Maparajuba da folha miúda (Pouteria sp.), Ucuuba punã (Iryanthera sp.) e Pau d’arco branco da casca grossa (Bignoniaceae indeterminada) estão entre as espécies observadas apenas nessa área. Assim como nas demais áreas, nesta também foi encontrada um varadouro utilizado para caça, mas a área encontra-se em bom estado de conservação. Embora o objetivo não tenha sido quantificar a riqueza nas áreas, registra-se um total de 207 espécies identificadas através de taxonomia tradicional.

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4.2 Fauna Na área estudada, até o presente projeto, não haviam estudos faunísticos realizados embora existam alguns nas áreas limites. Como a maioria das espécies possuem uma distribuição ampla, foram feitas extrapolações para a área do Chandless. Hershokovitz (1979;1990), descreveu a ocorrência de Saguinus imperator imperator e Callicebus cupreus acreanus para o município de Manoel Urbano. Fernandes (1990), descreveu também a ocorrência do gênero Saguinus e as espécies Alouatta seniculus e Aotus nigriceps. Para Terra Indígena Mamoadate, os gêneros Saguinus, Cebus, Callicebus e as espécies Cebuella pygmaea, Alouatta seniculus, Aotus nigriceps, Lagotrix logotricha e Saimiri boliviensis. Para Sena Madureira a ocorrência do gênero Saguinus e da espécie Aotus negriceps. Finalmente, para o Rio Iaco, documentou a corrência da Callimico goeldii. Peres (1990), documentos a predação da A. seniculus por Harpia harpija (gavião real) também em Sena Madureira. Alho (1990), realizou estudos no Rio Iaco, documentando a ocorrência de 31 espécies de mamíferos incluindo 2 gêneros, além de 20 espécies de aves dentre elas 8 gêneros e 3 espécies pertencentes a classe Reptilia. Hirsch et al. (1991), realizaram estudos comparativos das espécies do gênero Alouatta citando a espécie A. seniculus com ocorrência em Sena Madureira. Martins (1992), diagnosticou a caça de subsistência de extrativistas na Amazônia, no Rio Iaco, citando a ocorrência de 20 espécies pertencentes a classe Mammalia, 21 pertences a classe Aves e 3 pertencentes a classe Reptilia. Calouro (1995), também registrou para o Rio Iaco, a ocorrência de 20 espécies de mamíferos incluindo 1 gênero pertencente a ordem Primates. CTA (1998), realizou levantamentos na Floresta Nacional Macauã identificando 95 espécies de aves e 10 espécies de mamíferos dentre os quais os gêneros Callicebus Sciurus e Marmosops. Além de 71 espécies de Osteichthyes, dos quais 34 gêneros, que podem significar novas espécies. O presente diagnóstico foi realizado através das seguintes etapas: a) Elaboração de uma relação das espécies de animais que ocorrem na área de

interesse (previstas e registradas), enfatizando os principais grupos (mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes);

b) Diagnóstico do status para conservação das espécies através das listas

publicadas pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) http://www2.ibama.gov.br/fauna/index0.htm. Acesso em 15 de julho de 2001, apêndices da CITES (Convention on Internacional Trade in Endangered Species of Fauna e Flora) http:/www.cites/apendices. Acesso em 15 de julho de 2001 e IUCN (Internacional Union of Conservation of Nature), através do endereço eletrônico http://www.infonatura.org/servlet/infonatura. Acesso em 15 de julho de 2001, para as classes Mammalia e Aves. Para as demais classes foi utilizada IUCN 1996.

O trabalho foi realizado através de consulta em acervos bibliográficos, verificando-se a ocorrência e a distribuição das espécies na área de interesse (Gleba 9). Por não existirem trabalhos de campo efetuados nesta área, para a classe Mammalia foi utilizado Emmons & Feer 1987, para a classe Aves Dunning 1988, para Amphibia e Reptilia foi realizada uma consulta com o pesquisador Moisés Barbosa de Souza conhecedor das espécies que ocorrem

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no Estado, doutorando em zoologia pela Universidade Estadual de São Paulo e elaborou-se uma relação das espécies que possivelmente ocorrem na área. Também foi utilizado o acervo do Banco de Dados do Zoneamento Ecológico Econômico do Acre, para verificar quais espécies se distribuem próximo à área de interesse. A lista das espécies ameaçadas de extinção foi elaborada conforme classificação do IBAMA, CITES e IUCN. A nomenclatura utilizada para mamíferos foi baseada em Emmons & Feer 1997; para aves, Dunning 1988 e Sick 1997; para anfíbios e répteis, fornecidas pelo pesquisador Moisés B. de Souza. Também foram realizadas consultas às home pages: http://www.infonatura.org/servlet/infonatura. (Acesso em 15 de setembro de 2001), para confirmação e distribuição de espécies de mamíferos e aves e status para conservação; http://www.embl-heidelberg.de/~uetz/LivingReptiles.html e http://research.amnh.org/herpetology/amphibia/. (Acessos em 16 de setembro de 2001) para verificar a distribuição dos répteis e anfíbios previstos. Finalmente, foi realizado um levantamento rápido na área durante os dias 10 a 19 de julho de 2001, para uma avaliação preliminar da diversidade existente e confirmação das espécies previstas. Figura a seguir

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Pontos de estudos faunísticos realizados durante o levantamento rápido na UPI Chandless (Gleba 9). 4.2.1 Lista de Espécies Previstas Baseado no acervo bibliográfico consultado, foi possível elaborar um lista de espécies previstas para a área. Deve-se ressaltar que essa lista pode conter erros de ordem sistemática, visto que, em alguns casos houve modificações na nomenclatura de algumas espécies, isto é, espécies que mudaram de gênero, família, etc. Isto foi observado principalmente nas classes Aves e Reptilia. Em

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outros casos, especificamente peixes, não foi possível fazer uma previsão, devido a ausência de estudos referentes à distribuição deste grupo para a área. Um total de 823 (oitocentos e vinte e três) espécies estão previstas para área. Desse total, existem 46 gêneros que podem significar novas espécies, sendo 32 da ordem Chiroptera, 1 da ordem Carnívora, 8 da ordem Rodentia e 5 da classe Reptilia. A classe Aves foi a que apresentou o maior número de espécies com 63,1% do total. Em seguida classe Mammalia com 15%, os anfíbios com 14% e os répteis com 8% do total de espécies previstas para a área, Figura a seguir.

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N° de espécies

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Classes Espécies previstas para a UPI Chandless

4.2.2 Espécies Ameaçadas Das espécies previstas para a área 132 (cento e trinta e dois) estão ameaçadas de extinção (constam em um dos apêndices da CITES e/ou portarias do IBAMA e/ou IUCN). Desse total, 58,3% (77) pertencem ao grupo das aves, 34,1% (45) ao grupo dos mamíferos, 6,8% (9) pertencem ao grupo dos répteis e 1,5% (2) ao grupo dos anfíbios. Tabela a seguir. Espécies ameaçadas conforme IBAMA, CITES e IUCN

Espécies Nome Regional Apêndices da CITES

Portaria do IBAMA

Classificação da IUCN

Mamíferos Marsupialia (2) Caluromysiops irrupta Cuíca Não consta Não Vulnerável Monodelfhis emiliae Catita Não Consta Não Vulnerável Xenarthra (3) Myrmecophaga tridactyla Tamanduá Bandeira II Sim Vulnerável Bradypus variegatus Preguiça-bentinha II Não Não consta Priondontes maximus Tatu canastra I Sim Em perigo Chiroptera (7) Diclidurus spp. Morcego Não Consta Não Vulnerável

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Espécies Nome Regional Apêndices da CITES

Portaria do IBAMA

Classificação da IUCN

Micronycteris spp. Morcego Não Consta Não Vulnerável Tonatia spp. Morcego Não Consta Não Vulnerável Lonchophylla spp Morcego Não Consta Não Vulnerável Platyrrhynus spp. Morcego Não consta Não Vulnerável Chiroderma spp. Morcego Não Consta Não Vulnerável Myotis spp. Morcego Não Consta Não Vulnerável Primates (17) Cebuella pygmaea Leãozinho I Não Não consta Saguinus fuscicollis Soim vermelho II Não Não consta Saguinus labiatus Soim II Não Não Consta Saguinus imperator Soim bigodeiro II Sim Não consta Saguinus Mystax Soim bigodeiro II Não Não Consta Aotus nigriceps Macaco-da-noite II Não Não Consta Callimico goeldii Soim preto I sim Vulnerável Calliceus moloch Zogue-zogue II Não Não Consta Callicebus torquatus Japuça-de-coleira II Não Não Consta Saimiri sciureus Macaco-de-cheiro II Não Não Consta Cebus apella Macaco prego II Sim Não consta Cebus albifrons Macaco Cairara II Não Não conta Pithecia monachus Macaco Parauacu II Não Não consta Alouata seniculus Macaco Guariba II Não Não consta Lagotrix lagothricha Macaco Barrigudo II Sim Não consta Ateles chamek Macaco-aranha II Não Não consta Carnivora (9) Atelocynus microtis Cachorro do mato Não Consta Sim Não Consta Speothos venaticus Cachorro do mato vinagre I Sim Vulnerável Lontra longicaudis Lontra I Sim Vulnerável Pteronura brasiliensis Ariranha I Sim Em perigo Leopardus pardalis Gato-maracajá I sim Não Consta Leopardus wieidii Gato-do-mato I Sim Não Consta Herpailurus yaguarondi Gato preto I Não Não Consta Puma concolor Onça vermelha II Sim Não Consta Panthera onca Onça pintada I Sim Nt Cetacea (2) Inia geoffrensis Boto vermelho II Não Vulnerável Sotalia fluviatilis Tucuxi I Não D. Deficientes Perissodactyla (1) TUPIrus terrestris Anta II Não Nt Artiodactyla (2) Tayassu pecari Queixada II Não Não Consta Tayassu tajacu Caitetu II Não Não consta Sirenia (1) Trichechus inunguis Peixe-boi I sim Vulnerável Rodentia (1) Dinomys branickii Pacarana Não consta Não Em perigo Continuação da Tabela 1. Aves Falconiformes (29) Accipiter bicolor Gavião-bombachinha-grande II Não Não Consta Accipiter poliogaster Gavião II Sim Não consta Accipiter superciliosus Gavião-miudinho II Não Não consta Herpetotheres cachinnans Acauã II Não Não Consta Buteo branchyurus Gavião-de-cauda-curta II Não Não Consta Buteo magnirostris Gavião indaé II Não Não Consta Buteogallus urubitinga Gavião preto II Não Não Consta Daptrius ater Gavião-de-anta II Não Não Consta Falco deiroleucus Falcao-de-peito-vermelho II Sim Baixo Risco Falco rufigularis Cauré II Não Não Consta

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Espécies Nome Regional Apêndices da CITES

Portaria do IBAMA

Classificação da IUCN

Harpia harpyja Gavião-real I Sim Nt Spizaetus tyrannus Gavião-de-penacho II Não Não Consta Leucopternis albicollis Gavião-pombo-da-Amazônia II Não Não Consta Elanoides forficatus Gavião-tesoura II Não Não Consta Rostrhamus sociabilis Caramujeiro II Não Não Consta Harpagus bidentatus Ripina II Não Não Consta Ictinia plumbea Soví II Não Não Consta Busarellus nigricollis Gavião-belo II Não Não Consta Leptodon cayanensis Gavião-de-cabeça-cinza II Não Não Consta Chondrohierax uncinatus Caracoleiro II Não Não Consta Leucopternis kuhli Gavião-vaqueiro II Não Não Consta Leucopternis schistacea Gavião-azul II Não Não Consta Busarellus nigricollis Gavião-belo II Não Não Consta Spizaetur ornatus Gavião-de-penacho II Não Não Consta Micrastur mirandollei Tanatau II Não Não Consta Micrastur ruficolis Gavião-caburé II Não Não Consta Micrastur semitorquatus Gavião-relógio II Não Não Consta Daptrius americanus Gralhão II Não Não Consta Milvago chimachima Carrapateiro II Não Não Consta Ciconiiformes (1) Jabiru mycteria Jaburu I Não Não Consta Galliformes (3) Mitu mitu Mutum I Sim Ext. Natureza Crax globulosa Mutum fava III Não Vulnerável Pipile pipile Cujubim I Não Não consta Psitaciformes (18) Ara ararauna Arara canindé II Não Não consta Ara chloroptera Arara-vermelha-grande II Não Não consta Ara macao Arara canga I Não Não consta Ara severa Maracanã-gauçú II Não Não consta Aratinga leucophthalmus Periquitão-maracanã II Não Não consta Aratinga weddellii Periquito- de-cabeça-suja II Não Não consta Forpus sclateri Tuim-de-bico-escuro II Não Não consta Brotogeris cyanoptera Tuipara-de-asa-azul II Não Não consta Brotogeris sanctithomae Periquito-estrela II Não Não consta Brotogeris versicolorus Periquito-de-asa-branca II Não Não consta Pionites leucogaster Marianinha II Não Não consta Pionopsitta barrabandi Curica II Não Não consta Pionus menstruus Maitaca-de-cabeça-azul II Não Não consta Pyrrhura picta Tiriba-de-testa-azul II Não Não consta Pyrrhura rupicola Tiriba-rupestre II Não Não consta Amazona amazonica Curica II Não Não consta Amazona farinosa Papagaio-moleiro II Não Não consta Amazona ochrocephala Papagaio-campeiro II Não Não consta Strigiformes (5) Otus choliba Corujinha-do-mato II Não Não consta Glaudicium brasilianum Caburé II Não Não consta Tyto alba Suindara II Não Não Consta Otus watsonii Corujinha-orelhuda II Não Não consta Lophostrix cristata Coruja-de-carapuça II Não Não consta Apodiformes (21) Amazilia fimbriata Beija-flor II Não Não Consta Phaethornis hispidus Besourão-cinza II Não Não Consta Phaethornis philippi Rabo-branco-amarelo II Não Não Consta Phaethornis ruber Besourinho-da-mata II Não Não consta Phaethornis superciliosus Besourão-de-rabo-branco II Sim Não Consta Glaucis hirsuta Balança-rabo II Não Não Consta Anthacothorax nigricolis Beija-flor-preto II Não Não Consta

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Espécies Nome Regional Apêndices da CITES

Portaria do IBAMA

Classificação da IUCN

Chlorostilbon mellisugus Esmeralda-de-calda-azul II Não Não consta

Chrysuronia oenone Beja-flor-de-cauda-dourada II Não Não consta

Phaethornis longuemareus Rabo-branco-de-garganta-escura II Não Não consta

Campylopterus largipennis Asa-de-sabre II Não Não consta

Florisuga mellivora Beija-flor-azul-de-rabo-branco

II Não Não consta

Lophornis chalybeus Tufinho-verde II Não Não consta Popelairia langsdorffi Rabo-de-espinho II Não Não consta Chlorostilbon mellisugus Esmeralda-de-calda-azul II Não Não consta Thalurania furcata beija-flor-tesoura-verde II Não Não consta Hylocharis cyanus Beija-flor-roxo II Não Não consta Hylocharis sapphirina Beija-flor-safira II Não Não consta Heliomaster longirostris bico-reto-cinzento II Não Não consta

Heliothryx aurita Beija-flor-de-bochecha-azul II Não Não consta

Calliphlox amethystina Estrelinha II Não Não consta Répteis (9) Melanosuchus niger Jacaré-açu II Sim Não Consta Caiman crocodilus Jacaré tinga II Não Não Consta Paleosuchus palpebrosus Jacaré-paguá II Não Não Consta Paleosuchus trigonatus Jacaré-coroa II Não Não Consta Podocnemis expansa Tartaruga-da- amazônia II Não Não Consta Podocnemis sextuberculata Pitú II Não Não Consta Podocnemis unifilis Tracajá II Não Vulnerável Geochelone denticulata Jabutí II Não Não Consta Lachesis muta Pico de jaca não sim Não consta Anfíbios (2) Dendrobates vanzolini Sapo II Não Não Consta Dendrobates ventrimaculatus sapo II Não Não Consta 4.2.3 Espécies Confirmadas Durante o levantamento rápido realizado um total de 369 espécies foram registradas no local, incluindo o grupo dos mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e lepdópteros. Desse total os lepdópteros, representaram 54,5% (n=201) as aves 22,2% (n=82) e os mamíferos 15% (n=55). Figura a seguir. As espécies confirmadas para o grupo dos mamíferos (n=55) representaram 45,1% das espécies previstas para este grupo, seguido de 15,8 % (n=82) para o grupo das aves, 8,7% (n=10) para o grupo dos anfíbios e 6,1% (n=4) para o grupo dos répteis.

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mamíferos aves répteis anfíbios peixes lepdópteros

grupos

n° de espécies

Espécies previstas para a UPI Chandless e registradas durante o levantamento realizado na área. P – Prevista; R – Registrada. 4.2.4 Espécies previstas Das espécies previstas, ressaltando-se erros que possam conter em relação à distribuição das espécies na área e ao número real presente no Estado do Acre, a área do Chandless (Gleba 9) contempla um número relevante de espécies. Para aves, isto representa uma riqueza de espécies que corresponde a 69,2% do número de espécies registradas no Estado, para mamíferos 58,4%, para anfíbios 96,6%, e para répteis 70,2%. Tabela a seguir. Espécies previstas para a UPI Chandless e registradas no Estado do Acre (adaptado de Calouro 1999).

Grupo Chandless Acre Aves 520 752 Mammalia 122 209 Amphibia 115 119 Reptilia 66 94 A riqueza de espécies previstas para a área baseada em informações de distribuição das espécies é relativamente grande para as classes Aves (n=520), Mammalia (n=122), Amphibia (n=115) e Reptilia (n=66). As informações obtidas dão conta de que a riqueza de espécies para área em estudo, para os grupos acima citados, é superior a levantamentos efetuados na parte oeste do Estado (Parque Nacional da Serra do Divisor - PNSD), que é considerada de alta prioridade para a conservação (Myers 1988; Workshop 90). Tabela 3.

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Riqueza de espécies prevista para a Área de Proteção Integral Chandless e registrada na parte oeste do Estado (Parque Nacional da Serra do Divisor - PNSD).

4Classes Chandless PNSD Mammalia 122* 102 Aves 520 485 Reptilia 66 40 Amphibia 115 100

Fonte: SOS Amazônia 1988. * - Incluindo as Ordens Cetacea e Sirenia com três espécies. A comparação do resultado obtido com base na previsão das espécies existentes na área e outras localidades onde foram efetuados levantamentos, é difícil e problemática, pois não existe uma padronização dos métodos utilizados. Logicamente, espécies previstas poderão ser comprovadas em estudos futuros. Para se ter uma idéia do que a riqueza de espécies representa para a região, foi realizado uma comparação com as espécies de mamíferos terrestres registradas em outras localidades neotropicais. Este número superou a riqueza de espécies de Kartabo – Guiana com 60 espécies, Cunucunuma – Guiana com 93 espécies, Xingu – Brasil com 95 espécies, Cuzco Amazônico – Peru com 103 espécies, Barro Colorado – Panamá com 113 espécies, aproxima-se de La Selva – Costa Rica com 117 espécies, e Arataye – Guiana Francesa com 122 espécies, ficando atrás apenas de Balta – Peru com 130 espécies e Cocha Cashu – Peru com 139 espécies (Calouro, 2000). Considerando que a riqueza real de espécies oscila entre ±10% da riqueza esperada (Voss & Emmons, 1996), é possível que tenhamos em levantamentos futuros um recorde de registro de espécies para a área, sendo esta uma das áreas mais ricas do Estado.

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4.2.5 Espécies ameaçadas As espécies ameaçadas apresentadas na anteriormente, incluem as previstas e as comprovadas no levantamento rápido efetuado. Algumas merecem especial atenção por serem de distribuição restrita – as endêmicas, ou serem altamente susceptíveis à pressão antrópica e destruição do habitat. A seguir uma breve descrição de algumas das espécies mais importantes para a conservação por serem as mais ameaçadas. Ateles Chamek Está entre os maiores macacos das Américas e por esse motivo é caçado para alimento e também utilizado como iscas para outros animais (Auricchio, 1995; Peres, 1990). Ocorre do México até a Bolívia e toda a Amazônia. É basicamente frugívoro, mas come brotos, folhas, casca de árvore, flores, néctar e térmitas (cupins). Habitam copas altas e utilizam a cauda preênsil para locomoção. Necessitam em média de 100 a 200 ha.

CITES-II IUCN-Vulnerável

Ateles chamek. Foto: Jesus Rodrigues.

Callimico goeldii O único representante da família Callimiconidae, está espécie é naturalmente rara por possuir uma distribuição restrita ao Estado do Acre e a um pequeno trecho no Rio Juruá no Estado do Amazonas (Calouro, 2000). Chamado de soim preto, é especialista de habitat de florestas de nível misto, de copa descontínua, invariavelmente próximo à bambuzais (tabocas) e arbustos, longe de terras alagadiças de grandes rios (Auricchio, 1995; Pook & Pook, 1981). CITES-I

IUCN-Vulnerável IBAMA

Callimico goeldii. Fonte: Rowe, 1896. ThePictorial Guide to the Living Primates.Pogonias Press, New York, 263 p.

Saguinus imperator O Saguinus imperator vive em diversos tipos de florestas, secas ou inundáveis. Área de vida de cerca de 30 ha. Caça preferencialmente em trepadeiras verticais procurando insetos nas folhas. Se alimenta de frutos, insetos e néctar de flores. Pesa aproximadamente 500 gramas (Auricchio, 1995; Emmons & Feer, 1997). Vivem em grupos de 2 a 10 indivíduos e podem formar grupos mistos com Saguinus fuscicolis (soim vermelho). CITES-II

IUCN-Vulnerável IBAMA

Saguinus imperator. Fonte: Rowe, 1996. The Pictorial Guide to the LivingPrimates. Pogonias Press, New York, 263 p.

Spheotos Venaticus Naturalmente rara e pouco estudada, esta espécie pode ser encontrada em pequenos grupos de 4 ou mais indivíduos e algumas vezes sozinha (Emmons & Feer, 1997). É comumente chamado de ca-chorro-do-mato-vinagre e são excelentes nadadores, sendo observados perseguindo pacas (Agouti sp.) em ambientes

Spheotos venaticus. Fonte: Emmons & Feer, 1997. TheNeotropical Rainforest Mammals, Second Edition, TheUnivesity Chicago Press, Chicago, 307 p.

CITES-I IUCN-Vulnerável IBAMA

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aquáticos. Possuem os dentes especializados para carne indicando que esta espécie é extremamente carnívora (Emmons & Feer, 1997). Panthera onca Comumente chamado de onça pintada, as maiores ameaças a esta espécie são a destruição do habitat e a pressão de caça, visto que suas principais presas também são caçados pela população humana (Emmons & Feer, 1997). Lontra longicaudis Espécie carnívora de hábito semi-aquático, que evita áreas com ocupação humana, sendo muito sensível à qualidade da água. (Fonseca et al. 1994 Apud Calouro, 2000).

CITES-I IUCN-Vulnerável IBAMA

Lontra longicaudis. Fonte: Emmons & Feer, 1997. The NeotropicalRainforest Mammals, Second Edition, The Univesity Chicago Press,Chicago, 307 p.

CITES-I IUCN-Nt IBAMA

Panthera onca. Foto: Jesus Rodrigues

Pteronura brasiliensis Extinta em várias partes do Brasil, apesar da ampla distribuição (Calouro, 2000). Sensível à qualidade da água, prefere habitat com pouca ocupação humana. Ameaçada principalmente pela caça, alteração da vegetação ribeirinha e poluição da água. (Fonseca et al. 1994 Apud Calouro, 2000). Myrmecophaga tridactyla As maiores densidades ocorrem nos Cerrados do Planalto Central, sendo seu status pouco conhecido para a Amazônia (Calouro, 2000).

CITES-I IUCN-Vulnerável IBAMA

CITES-I IUCN-Vulnerável IBAMA

Pteronura brasiliensis. Fonte: Eisenberg & Redford.1997. The Mammals of The Neotropics, The CentralNeotropics, The Univesity Chicago Press, Chicago andLondon, 609 p.

Myrmecophaga tridactyla. Fonte: Emmons & Feer, 1997. TheNeotropical Rainforest Mammals, Second Edition, The UnivesityChicago Press, Chicago, 307 p.

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CITES-I IUCN-Em perigo IBAMA

Priondontes maximus Apesar de em algumas regiões da Amazônia não ser apreciado como alimento, podendo causar algum mal ao caçador (panema), o maior dos tatus que existe na natureza está ameaçado pela caça e destruição do habitat (Calouro, 2000). Sotalia fluviatilis e Inia geofrensis Mamíferos aquáticos de água doce, freqüentemente encontrados nos rios da Amazônia. Distribuem-se apenas na América do Sul (Emmons & Feer, 1997). As ameaças a estas espécies são poluição da água e escassez de presas, retiradas principalmente para alimentação humana nos grandes centros da Amazônia. (Emmons & Feer, 1997). Inia g

Trichechis inungis Embora prevista para a área, esta espécestudos futuros. De distribuição muito pequena,rios do Equador, Norte do Peru, Rio AmazonasFeer, 1987). (CITES-I, IUCN-Vulnerável, IBAMA).

Priodontes maximus. Fonte: Eisenberg & Redford. 1997. TheMammals of The Neotropics, The Central Neotropics, The UnivesityChicago Press, Chicago and London, 609 p.

eofrensis. Foto:Edson Caetano.

ie precisa ser comprova restrita à Amazônia em , Madeira e Purus (Emm

CITES-I I IUCN-Vulnerável

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da em alguns ons &

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Harpia harpyja Encontrado desde o México até a Argentina, habitando regiões de florestas remotas ou áreas protegidas. Muito rara, prefere florestas primárias densas e de galeria. Vive solitário ou aos pares nas copas de árvores, apesar do tamanho é bastante ágil e difícil de ser visto. Embora não seja a maior das aves predadoras é tida como a mais forte. Possui bico potente e garras enormes. Alimenta-se de grandes animais como preguiças, mutuns, macacos, filhotes de veados, araras, tatus, cachorro-do-mato e serpentes (Sick, 1997).

CITES-I IUCN-Em perigo IBAMA

Harpia harpija. Fonte: Dunning, 1988. SouthAmericam Birds, Harrowood Books NewtonSquare, Pennsylvânia, 351 p.

Ara macao Ocorre do México à Amazônia até o norte do Pará, Maranhão e Bolívia. Possui face branca e grande área amarela na asa (Sick, 1997). Geralmente encontrada aos pares mantendo uma relação de fidelidade com o parceiro (Edson Guilherme, com. pess.). Melanosuchus niger Um dos representantes da família Alligatoridae, é comumente chamado de jacaré-acú. Sua distribuição é exclusiva na América do Sul, por toda a bacia amazônica e pelos países do norte do continente, incluindo a Bolívia. É o maior jacaré do Brasil, cujo avantajado tamanho pode ultrapassar os seis metros de comprimento, sendo considerado o maior predador da América do Sul. (CITES-II, IBAMA).

CITES-I

Ara macao. Foto: Edson Guilherme.

Podonemis unifilis Seus ovos são bastante procurados pelos moradores ribeirinhos e também por pessoas que moram em centros urbanos próximo às áreas de ocorrência da espécie. Atualmente o tamanho populacional está reduzido com probabilidade de extinção na natureza.

CITES-II IUCN - Vulnerável

Podonemis unifilis. Foto: Jesus Rodrigues.

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4.2.6 Espécies confirmadas Embora tenha sido dispendido pouco tempo para as observações de campo, foi possível comprovar a ocorrência de um número bastante grande de espécies previstas para a área. Notadamente, para o grupo dos mamíferos com 45,1% e aves com 15,8% representaram os maiores percentuais de comprovação das espécies existentes. Para os grupos estudados com exceção dos lepdópteros, não houve uma amostragem regular, ou seja, uso de métodos de censo adequados a esses grupos, enfatizando sua biologia e distribuição nos diversos habitats presentes na área. Especificamente para o grupo dos mamíferos terrestres, o tempo gasto com caminhadas por transectos e trilhas já existentes e a média de quilômetros percorridos, foi inferior ao citado em trabalhos similares que gira em torno 20 homem-hora por dia e cerca de 4 quilômetros por transecto (Calouro, 1999; Voss & Emmons, 1996). Neste grupo a maiorias das informações foram obtidas através de entrevistas com os moradores e barqueiros, o que pode ser questionado quanto à validação da informação. Todavia, este procedimento já foi utilizado com sucesso na Amazônia (Funtac, 1988; Calouro, 1999; Fragoso, 2000). A confirmação da existência de espécies de mamíferos através de evidências inquestionáveis (pegadas, vocalização, avistamentos, excretas, trilhas, etc), revelou que as populações de animais silvestres aparentemente estão sofrendo pouca ou nenhuma pressão antrópica, tendo em vista que foi comum o registro de espécies consideradas especiais para a conservação, como é o caso das ameaçadas de extinção, invariavelmente muito próximas às margens dos rios, evidenciando o aspecto de que as mesmas estão abundantes na área. Dentre elas, podemos citar: TUPIrus terrestris, devido ao seu grande porte é um dos ungulados preferenciais dos moradores locais que praticam a caça de subsistência. Também é alvo de caça comercial. Para Bodmer et al. (1988), é uma dos ungulados mais sensíveis á pressão de caça. Tayassu pecari, desaparece rapidamente sob pressão de caça ou destruição do habitat (Bodmer, 1995; Bodmer et al. 1988). Panthera onca e Puma concolor que são por natureza difíceis de serem observados em áreas que existem algum tipo de perturbação, salvo quando estes animais têm suas presas reduzidas em sua área de vida, por conseqüência de introdução de outras espécies, como por exemplo criação de gado por fazendeiros (Emmons & Feer, 1987). O resultado, embora relevante necessita de estudos mais detalhados com ênfase aos principais grupos e com uso de metodologias de censo adequadas. É possível que a riqueza real de espécies seja superior ao previsto, em virtude da área estar em considerável estado original, com pouca influencia antrópica, o que proporciona uma estabilidade nos ambientes e microambientes existentes, possibilitando por sua vez uma estabilidade nas populações locais e dando condições para que haja uma grande quantidade de espécies endêmicas na área.

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5. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS É uma região com baixíssimo índice de ocupação humana. No mapeamento realizado foi registrada a presença de apenas 10 localidades habitadas na área. Todas localizadas nas margens do Rio Chandless. Nas margens do Rio Chambuiaco não foi até o presente momento registrada a presença de nenhum morador. O único morador deste rio está situado à margem direita da sua Foz, na região de entorno da Área. No sobrevôo realizado na área não foi identificado qualquer vestígio de ocupação humana naquela região, estando a floresta aparentemente intacta tanto no território brasileiro quanto no peruano. Esta ausência de população é justificada pelo fato do Rio Chandless se constituir na única via de acesso à área, possível de ser utilizada durante o ano inteiro. O Rio Chambuiaco que dá acesso a parte oeste da área só é navegável durante o período das cheias e não existem estradas ou ramais que interliguem a região. A maioria dos rios e igarapés dessa região são navegáveis apenas no período de chuvas, sendo, portanto, o acesso no período seco, possível apenas por via terrestre (margeando os rios) ou em pequenas canoas. 5.1 Opinião da comunidade a respeito da criação da UC Buscando atender as exigências do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) que em seu Art. 22 § 2º e 3.º prevê que “a criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de consulta pública” e que no processo de consulta devem ser fornecidas “informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas”, foram realizadas as seguintes ações: a) Visita à sede dos municípios de Santa Rosa do Purus e Manoel Urbano

(Fotos a seguir), com o objetivo de discutir com os representantes do poder público municipal e com as principais lideranças representativas da sociedade civil local, a proposta para criação de uma Unidade de Proteção Integral na Gleba 9/Chandless.

A equipe foi composta pelo Secretário de Estado de Meio Ambiente, Carlos Edegard de Deus; o Assessor do Governo, Eduardo Vieira; o Representante do WWF no Estado, Luís Meneses e as técnicas do Projeto, Myris Silva e Neuza Boufleuer. Durante as reuniões foram realizadas exposições sobre: • A riqueza da biodiversidade existente no estado do Acre e a importância da

sua preservação; • Os resultados da 1.ª fase do ZEE/Ac e a indicação das áreas prioritárias para

criação de UCs, entre as quais está incluída a área localizada na Gleba 9 -Chandless;

• A inclusão destas áreas no Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável (BID-BR 0313), que o Governo do Estado está submetendo ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, para apoio financeiro. E dos benefícios que o projeto pode trazer para aqueles municípios.

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• O Programa Acre Sustentável desenvolvido pelo Governo do Estado, através da SECTMA e SEFE, em parceria com o WWF-Brasil e SOS Amazônia, cujo objetivo é a criação das unidades priorizadas pelo Projeto BID.

• A realização de estudos para criação de uma Unidade de Proteção Integral na Gleba 9 - Chandless.

• Os incentivos à conservação, como o Projeto da Senadora Marina Silva, que consiste no repasse de verbas para os municípios que possuam áreas destinadas a UCs.

Essa iniciativa foi muito importante para obter o apoio da sociedade local ao Projeto. Todos os participantes se mostraram favoráveis à iniciativa e assumiram o compromisso de contribuir na criação e consolidação da UC. O Prefeito de Santa Rosa do Purus, José Altamir, relatou que vem percebendo as sérias agressões ao meio ambiente que toda a região do Purus vém sofrendo nos últimos anos, o que tem, inclusive provocado “desaparecimento de alguns bichos”. E considera que “o Chandless é o lugar ideal para ser preservado“ . Afirma que ainda não tinha nenhum projeto previsto para aquela área. A qual representa um grande problema para a sua administração, dada a extensão territorial, a distância entre a sua principal via de acesso e a sede do município, as dificuldades de acesso durante o período de estiagem, e o baixo número de habitantes. A prefeitura de Santa Rosa é carente de recursos financeiros e humanos e tem encontrado dificuldades para prestar assistência até às localidades rurais mais próximas da sede. Por esse motivo não possui condições para manter um serviço de fiscalização no Chandless, o que torna a área completamente vulnerável a entrada de exploradores. O prefeito de Manoel Urbano Jorge Almeida, afirmou entender a importância da conservação do Chandless, mas externou preocupação em relação às famílias que lá residem e fica temeroso de que estas venham a ser prejudicadas com a implantação da UC. O Secretário de Meio Ambiente Carlos Edegard de Deus assegurou que serão estudadas alternativas para que aquela população possa vir a ser beneficiada.

Manoel Urbano – Prefeito Jorge Almeida, vereadores e representantes da sociedade civil local. Foto: Neuza Boufleuer

Equipe durante reunião na sede da Prefeitura de Manoel Urbano. Foto: Neuza Boufleuer

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b) Outra iniciativa que se constituiu em fator positivo para obter o apoio da

população ao Projeto, foi a presença do Prefeito José Altamir de Sá e do vereador Júlio Brandão, ambos representantes do município de Santa Rosa, durante a viagem realizada pela equipe de sócioeconomia do Chandless.

• Nas moradias foram realizadas reuniões, das quais participaram todos os membros das famílias. Na ocasião eram expostas: • Que as informações existentes sobre aquela área eram escassas, mas

que indicavam ser ela rica em biodiversidade. • Que as equipes que ali se encontravam tinham como objetivo realizar

estudos visando conhecer um pouco melhor aquela região em seus aspectos faunisticos, floristicos e sociais.

• Que existia por parte do Governo do Estado e Governo Federal a intenção de criar ali uma UC, caso o resultado dos estudos apontem que a área tem as características necessárias para tal.

• O que é uma UC, e as restrições quanto ao uso dos recursos, que a sua implantação impõe.

A participação do prefeito e do vereador nas discussões da proposta de criação da UC, realizadas junto a população local, influenciou positivamente na sua aceitação. Além de realizarem a defesa da proposta, manifestaram o apoio da Prefeitura de Santa Rosa àquela população, apresentando alternativas para a sua saída ou para a sua permanência na área. A população demonstrou apoiar a criação da UC, pois vêem nesta iniciativa a possibilidade de por fim a exploração desordenada que “pessoas de fora” vem promovendo ali, dada a falta de fiscalização. Quando consultadas sobre a possibilidade de deixarem a área, a maioria expressou o desejo de continuar residindo ali, apesar das alternativas apresentadas pelo prefeito de Santa Rosa, que ofereceu aos moradores que desejassem sair da área, a doação de um lote de terra em uma localidade com melhores condições de acesso, mais próxima da sede do município e apoio na mudança e na implantação da nova moradia. Ou até mesmo uma casa e emprego na sede do município. Os moradores do Rio Chandless demonstraram possuir um grande afeto pelo lugar. E além de permanecerem residindo ali, gostariam inclusive de ajudar na sua fiscalização. Entre os motivos que os fazem querer permanecer na área foram citados: “O lugar é muito tranqüilo”; “O lugar é sadio (a única doença que às vezes aparece é gripe); “E farto de caça”; “O solo é bom para todo tipo de cultivo” E principalmente, o fato de existirem relações de parentesco entre a maioria das famílias, o que os leva a quererem permanecer próximos. Existe ainda, por parte de algumas pessoas o medo de mudarem para cidade e virem a “passar necessidades”, pois conhecem muitas pessoas que saíram do rio para morar na cidade e hoje vivem na miséria.

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5.2 Acesso O acesso à Gleba 9 – Chandless, partindo-se da cidade de Rio Branco, é realizado através do município de Manoel Urbano ou através do Município de Santa Rosa. Em ambos os casos é necessária a utilização de diferentes modalidades de transporte, nos diversos trechos. A viagem no trecho Rio Branco/Manoel Urbano – pode ser realizada por via terrestre ou aérea. • Terrestre - Através da BR 364, que é pavimentada no trecho de 145 km que

liga Rio Branco a Sena Madureira, sendo trafegável durante todo o ano. Nos 74 km que liga Sena Madureira à Manoel Urbano a estrada não está pavimentada, o que a torna trafegável apenas durante o verão (maio a outubro), condenando a cidade ao isolamento durante todo o período do inverno (novembro a abril). A viagem de Rio Branco até Manoel Urbano dura em média 4 horas. • Aérea – Em avião bimotor, o vôo dura aproximadamente 40 minutos, até a

cidade de Manoel Urbano No trecho Rio Branco/Santa Rosa - a viagem só pode ser realizada por via aérea, porque Santa Rosa não possui ligação rodoviária com outros municípios. A viagem dura aproximadamente uma hora. Da sede do Município de Manoel Urbano, ou da Sede de Santa Rosa até a Foz do Rio Chandless, – a viagem só pode ser realizada por uma via. Fluvial - através do Rio Purus, que é o principal canal de drenagem da região. No trecho Manoel Urbano/Foz do Chambuiaco (fronteira com o Peru) possui uma extensão de 345 km A sua profundidade mínima no período das cheias (dezembro a maio) é superior a 2,10m, no período seco (junho a dezembro) pode se reduzir a 1,0m. A sua declividade é de 14,0 cm/km, e o seu curso extremamente sinuoso. (ZEE-2000).

Batelão - Rio Purus

Este trecho do rio permite a navegação de embarcações de diferentes calados e capacidades. Nas cheias, segundo os moradores da região, é possível a navegação de barcos grandes, com capacidade de até 50 toneladas. No

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período seco, em alguns trechos do rio só é possível a navegação de pequenos barcos, com capacidade de até 12 toneladas. Existem muitos troncos de árvores flutuando na correnteza, que em alguns lugares se acumulam formando algo conhecido regionalmente como balseiro o que provoca a obstrução destes trechos. É freqüente ainda, a formação de bancos de areia no meio do rio. Estes fatos tornam as viagens realizadas no período seco, demoradas e bastante perigosas. A viagem de Manoel Urbano até a Foz do Chandless, durante o verão, dura em média 6 horas, em voadeira, mas dependendo do tipo da embarcação pode durar vários dias. De Santa Rosa à foz do Chandless leva-se um dia em “voadeira”, e até uma semana em outros tipos de embarcação. No período chuvoso esses tempos são reduzidos. Da Foz do Chandless até a Gleba 9, atualmente, o único meio de transporte possível é via fluvial, através do Rio Chandless. Neste trecho as condições de navegação durante o período de estiagem são bem mais difíceis que pelo rio Purus, pois o Chandless possui menor volume de água, o que só permite a navegação de pequenas canoas com motor. Estando a navegação de “voadeiras” e “batelões” restrita ao período das cheias. O percurso entre a Foz e a moradia mais distante do Rio Chandless (Fazenda Reentregue) pode ser realizado no prazo de 3 dias a uma semana. No período das cheias é possível realizar este mesmo percurso em menos de um dia. Durante a estiagem, à medida em que se vai à montante do rio as dificuldades de navegação vão aumentando pois existem muitos balseiros e bancos de areia no seu leito, o que impede a passagem dos barcos com motor. Neste período a população realiza suas viagens com auxílio de varejão7. Outra dificuldade é a distância entre as moradias. Ficando a distância entre algumas à cerca de um dia de viagem, o que obriga o viajante a montar acampamentos nas praias para o pernoite. Existe também a possibilidade de se chegar até a Área por Via Aérea, pois em duas localidades (Fazenda Jussara e Fazenda Reentregue) existem pistas que permitem o pouso de pequenas aeronaves e helicópteros. Atualmente, estas pistas encontram-se desativadas, cobertas por mato, mas é possível reabilita-las. Vale frisar também, que estas pistas são clandestinas, pois não existe registro das mesmas junto a Infraero.

7 Longa vara, utilizada para facilitar a mobilidade da embarcação e desviar dos obstáculos.

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5.3 A região de influência A Regional do Purus possui uma população de 37.970 habitantes, que representa apenas 7% da população estadual e está equilibradamente distribuída entre as zonas rural (47%) e urbana (53%). (IBGE-2001).

Vista aérea do Rio Purus Foto: Neuza Boufleuer

É bastante elevado o grau de concentração fundiária apresentada por esta regional. A sua área cadastrada é de 1.843.806 ha, distribuída em 1.644 imóveis rurais, sendo a maioria (91%) destes, representada por pequenas e médias propriedades8, que ocupam somente 17% da área. Estando, portanto, todo o restante destinado as grandes propriedades9, que representam apenas 8,9 % destes imóveis, mas ocupam 93% da área cadastrada. (ZEE, 2000). As terras desta regional encontram-se distribuídas em: 450.957 ha em Projetos de Colonização e Assentamento Extrativistas, 317.143 ha em Unidades de Conservação e 577.925 ha em Terras Indígenas. Os Projetos de Colonização e Assentamentos existentes são nove, destes, três encontram-se em fase de implantação, dois em consolidação e dois em fase de emancipação. Todos ainda comportam novos contingentes de famílias, pois a capacidade total de assentamento é de 4.754 famílias, mas atualmente, apenas 2.546 famílias estão assentadas, restando ainda 2.208 lotes disponíveis. Havendo, portanto, uma capacidade ociosa de cerca de 50%, decorrente da precariedade desses projetos. (Incra, 2001) As Unidades de Conservação são: a Floresta Nacional do Macauã (173.475 ha) e Floresta Estadual do Antimarí (66.168 ha), além da Estação Ecológica do Rio Acre (77.500 ha), e um Projeto de Assentamento Agroextrativista (35.896 ha) . (ZEE/2000) As Terras Indígenas existentes nesta Regional são as duas maiores do Estado: a T.I Alto Rio Purus e T.I Mamoadate, distribuídas pelos municípios de Santa Rosa do Purus, Manoel Urbano e Sena Madureira. Abrangem uma área

8 Imóveis com áreas até 1.000 ha 9 Imóveis com áreas acima de 1.000 ha

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de 576.770 ha e representam 26% do total das terras indígenas acreanas. (Iglésias, 2001). O percentual de área desmatada nesta regional pode ser considerado ainda baixo, com cerca de apenas 3,6%. A economia tem como base a produção agropecuária e o extrativismo da castanha, da borracha e da madeira. A Regional do Purus possui um rebanho bovino de 87.487 cabeças. Estando 92% deste rebanho concentrado no município de Sena Madureira, que abastece de carne o mercado local, e gera uma boa quantidade excedente, que é exportada principalmente para os mercados da capital. A maior parte deste rebanho é para corte. A produção de leite não supre a necessidade alimentícia da população. O rebanho de suínos é de 17.302 cabeças e o plantel avícola é de cerca de 155.763 aves. A agricultura praticada nesta regional é de base familiar, com baixo nível tecnológico, sem o apoio da assistência técnica e sem sementes adequadas, apresentando, uma baixa produtividade. Os principais produtos cultivados são: arroz, feijão milho e mandioca. O arroz e mandioca são os cultivos que apresentam melhor desempenho. O pequeno excedente desta produção é comercializado no próprio mercado regional. Os demais produtos são insuficientes para atender a demanda local. A maioria dos gêneros de primeira necessidade são importados da capital, Rio Branco. O abastecimento alimentar representa um grave problema, que afeta principalmente os municípios de Santa Rosa e Manoel Urbano. O que leva a população a recorrer freqüentemente às atividades de caça e pesca com objetivo de suprir suas necessidades de proteína animal. O extrativismo vegetal ainda representa uma atividade econômica bastante significativa para a região, principalmente o da borracha e o da castanha. A borracha é seu principal produto, estando 67% da produção da regional concentrada de Sena Madureira, que produz cerca de 432.316 kg/ano. As cidades e povoados desta regional se desenvolveram nas margens dos rios, que constituem nas suas principais vias de acesso. O transporte fluvial é ainda hoje, o principal meio utilizado pela maioria da população rural.

Santa Rosa do Purus Foto: Neuza Boufleuer

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O transporte é realizado em embarcações de diferentes calados e capacidades, porque embora os rios sejam em sua maioria, perenes e apresentem boas condições de navegação durante a maior parte do ano, na estiagem, alguns trechos só permitem a navegação de pequenos barcos, ficando o tráfego das grandes embarcações restrito ao período das cheias. A região necessita a implantação de infra-estrutura portuária, de serviços de conservação do leito dos rios, e de empresas que realizem o transporte regular de pessoas e cargas. Atualmente as empresas que ali atuam realizam apenas o transporte de cargas. O transporte aeroviário para estes municípios é possível apenas através de pequenas aeronaves, uma vez que não existem aeroportos, e sim pequenas pistas gramadas. A Rodovia BR-36410 permite acesso terrestre permanente entre os municípios de Sena Madureira e Rio Branco- capital do Estado (145 km de trecho pavimentado). Existe linha regular de ônibus intermunicipal. A rodovia dá acesso também à cidade de Manuel Urbano, mas este trecho (74 km), ainda encontra-se em pavimentação, só permitindo o tráfego durante o verão. Ficando as linhas de ônibus diárias, restritas a esse período. No período de chuvas (novembro a abril), os moradores deste município ficam isolados. Na área de saúde há carência de profissionais habilitados, principalmente médicos e enfermeiros. As unidades são mal aparelhadas e faltam medicamentos. A única agencia bancária existentes nesta regional está localizada no município de Sena Madureira, para onde se dirigem todos os habitantes para efetuarem suas transações bancárias. Devido a sua condição de isolamento esta é a região menos conhecida no Estado, tanto nos seus aspectos biofísicos quanto sócio-econômicos. 5.4 Aspectos Sócio-Econômicos da Gleba 9 – Chandless e Entorno A Gleba 9 – Alto-Chandless é uma das regiões menos estudadas do Estado do Acre. Até o momento não foi identificado nenhum estudo sob o ponto de vista sociológico e antropológico da população que habita aquela área. As informações existentes referem-se às viagens realizadas pelos desbravadores da região e datam do final do século XIX e início do século XX. Os estudos mais recentes estão relacionados apenas aos aspectos físicos e biológicos, que são em trabalhos realizados pelo paleontólogo Alceu Ranzi e pelo botânico Douglas Daly. As únicas informações sócio-econômicas encontradas são relativas a distribuição das localidades e ao número de habitantes, que constam nos relatórios da FUNASA, e o Memorial Descritivo da área, fruto do recente trabalho de demarcação realizado pelo INCRA. Na elaboração deste diagnóstico foram reunidas todas as informações secundárias existentes e realizadas entrevistas com técnicos da FUNAI, FUNASA e do INCRA. Foi também realizado o sobrevôo da área e visita as sedes dos municípios de Santa Rosa do Purus e Manoel Urbano, onde foram entrevistadas pessoas-

10 A BR 364 se constitui na maior e mais importante ligação rodoviária do Estado. Ligando Rio Branco ao centro do país, e interligando os municípios de Sena Madureira, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá, Rodrigues Alves, Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima.

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chave que conhecem a área. O objetivo destas entrevistas foi obter maiores informações sobre a região e a população que nela habita, realizando-se um mapeamento preliminar das moradias existentes e das condições de acesso à região, para subsidiar a viagem de campo. A viagem de campo foi realizada no período de 9 a 17 de julho de 2001. Foi visitada a Gleba 9 – Chandless, o seu entorno e a Zona de Influência Direta11, onde foram realizadas as seguintes atividades: 1. O mapeamento de todas localidades existentes nas margens dos rios

Chandless, Purus e Chambuiaco, com a utilização de aparelho GPS para identificação das coordenadas e contagem, do n.º de famílias residentes em cada localidade.

2. Coleta de dados junto aos moradores da área e do entorno, através da realização de entrevistas abertas (diálogos); entrevistas dirigidas (utilizando um questionário padrão) e observação direta, onde foram levantados os seguintes aspectos:

• Formação e composição populacional; • Tamanho e crescimento da população; • Estrutura da população; • Distribuição espacial; • Estrutura socioeconômica; • Dinâmica das atividades humanas e os impactos ambientais provenientes

das mesmas; • Condições de acesso à área As entrevistas foram dirigidas primordialmente aos chefes das famílias, mas participaram também outros moradores da casa que estiveram presentes. Nos diálogos com as pessoas de mais idade buscou-se reconstituir um pouco da história da região. Em algumas moradias, no momento de nossa passagem, não encontravam-se moradores adultos para serem entrevistados. Nestes casos buscamos obter informações sobre aquelas famílias através dos seus vizinhos e dos demais moradores do rio. As visitas realizadas aos moradores da área foram acompanhadas pelo Prefeito e um vereador do município de Santa Rosa. Na ocasião foi apresentada a proposta de criação da UC e as propostas da prefeitura para aquela comunidade. 1 - Viagem à sede do município de Santa Rosa onde foram realizadas: a) Visita a Foz do Rio Chambuiaco para verificar as condições de acesso à área

através daquela via, e da população que habita o seu entorno. b) Entrevistas com antigos moradores da região para conhecer as condições

sócio-economicas da população rural. c) Entrevista com o prefeito e com outras lideranças locais para identificar a

infra-estrutura disponível no município e os planos governamentais e de particulares para a região.

11 Neste trabalho é considerada Área de Influência Direta, a sede do município de Santa Rosa e toda a região localizada entre o entroncamento rodo-hidroviário com a BR- 364 em Manuel Urbano e a Foz do Rio Chambuiaco.

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5.5 O Entorno (zona de amortecimento) da Gleba 9 – Chandless No Entorno da Gleba 9 – Chandless vivem aproximadamente 153 famílias ocupando 17 localidades. Destas, três localizadas no Rio Chandless, oito no Rio Purus, uma na Foz do Rio Chambuiaco, duas no Rio Macauã e três no Rio Iaco, tabela a seguir.

Colocação Iracema – Rio Chandless Foto: Myris Silva

Localidades habitadas no Entorno da Gleba 9 Chandless, em 2001.

N.º Localidades Rio Munic. N.º famílias

1 Aldeia do Delegado Chandless Manoel Urbano 01 2 Aldeia Maloca Chandless Manoel Urbano 02 3 Col. Iracema Chandless Manoel Urbano 01 4 Aldeia Kulina Purus Santa Rosa 055 Aldeia (Sr. CUPItão) Purus Santa Rosa 086 Faz. Veneza Purus Santa Rosa 027 Faz. Cocal Purus Santa Rosa 018 Aldeia Laranjeira Purus Peru 089 Aldeia São Martins Purus Peru 1010 Aldeia Kulina Purus Peru 0711 Fazenda Jurimago Purus Santa Rosa 0412 Fazenda Chambuiaco Foz do Chambuiaco Santa Rosa 02 13 Seringal São Sebastião Rio Macauã Sena Madureira 1514 Seringal. Cacarauá Rio Macauã Sena Madureira 215 Seringal. Sacado Rio Iaco Sena Madureira 3116 Seringal. Baturité Rio Iaco Sena Madureira 3817 Seringal Novo São João Rio Iaco Sena Madureira 19

Fonte: Pesquisa de campo, 2001 As localidades 1, 2, 4 ,5, 8, 9 e 10 são aldeias indígenas, habitadas por grupos das etnias: Kulina, Jaminawa e Mastanawa. A sua principal atividade é a agricultura para subsistência e o artesanato.

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Aldeia São Martins – Rio Purus Foto: Myris Silva

As localidades 6, 7, 11 e 12 são fazendas, onde a principal atividade é a pecuária e a agricultura é de subsistência. A formação e composição da população do entorno, suas características culturais e condições sócioeconomicas são semelhantes a da população que reside na Gleba 9 e na sua área de influência direta. Não foi possível obter informações sobre as atividades produtivas das localidades 13, 14, 15, 16 e 17. 5.6 População A população da Gleba 9 – Chandless, é em sua maioria, formada por pessoas que nasceram naquela localidade. Os migrantes são provenientes dos seringais existentes nas margens do Rio Purus, ou em outros rios próximos, que mudaram para a Área, sozinhos ou em companhia de seus pais, na época do auge da exploração gumífera, para trabalharem na extração do caucho (Castilla ulei). São todos descendentes de imigrantes nordestinos, de peruanos e/ou de indígenas. 5.6.1 Estrutura Etária da População da Gleba 9 - Chandless O Levantamento sócio-econômico registrou a existência de apenas 12 famílias, somando-se ao todo 58 pessoas. Essa população se caracteriza por apresentar uma baixíssima densidade, de apenas 0,0086 hab./km², abaixo das densidades populacionais dos município de Santa Rosa (0,37 hab./ km².) e Manoel Urbano (0,67 hab./ km².) e muito abaixo da densidade populacional do Estado do Acre (3,65 ), que é uma das mais baixas do país.

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-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

acima de 65

60 a 64

54 a 59

50 a 54

45 a 49

40 a 44

35 a 39

30 a 34

25 a 29

20 a 24

15 a 19

10 a 14

5 a 9

0 a 4

Mulheres Homens População residente na Gleba 9 – Chandless (Pirâmide populacional), em 2001. O formato da pirâmide de estrutura populacional demonstra haver um certo equilíbrio quanto as faixas etárias e as proporções de sexo (53% homens e 47% mulheres), mas com predominância de jovens, principalmente homens na faixa etária de 25 a 29 anos, e mulheres na faixa de 10 a 19 anos. A sua base não é muito ampla, o que denota não estar havendo um crescimento rápido da população. Isso indica que mantidas as atuais taxas de natalidade e não acontecendo nenhum fluxo migratório para aquela área, não haverá num futuro próximo, uma pressão muito grande sobre o meio ambiente, pois Segundo Watt (1982) a estrutura de idade de uma população é muito importante, porque determina o impacto da população sobre o ambiente, independentemente do efeito do tamanho da população, uma vez que o impacto ambiental causado por um ser humano depende, em parte, da sua idade. 5.6.2 Distribuição espacial A população que habita a Gleba 9 – Chandless encontra-se estabelecida em 10 colocações, todas dispersas ao longo das margens do Rio Chandless, nas áreas de “terra firme” (terraços fluviais altos). Estas colocações foram sendo instaladas, em função da proximidade em relação ao rio, e pelas relações de parentesco estabelecidas ao longo das interações socioculturais entre os diversos grupos que ali se instalaram. O Rio Chandless é a única via de acesso à área, não existindo estradas ou ramais que interliguem essa região. O que torna a população dependente exclusivamente do transporte fluvial como meio de escoamento de sua produção e de locomoção até a sede dos municípios e a outras localidades. Por esse motivo as regiões mais centrais da área encontram-se completamente desabitadas.

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Localidades habitadas na Gleba 9 Chandless, em 2001.

N.º Localidade Município N.º famílias

N.º Pessoas que residem atualmente na

localidade 18 Faz. Jussara Manoel Urbano 01 0119 Col. Canamari Manoel Urbano 02 0820 Col. Mizael Manoel Urbano 01 07 21 Col. Boca do Cuchichá Manoel Urbano 01 05 22 Col. Manoel Manoel Urbano 01 08 23 Col. Jairo Manoel Urbano 02 10 24 Col. Pedro Manoel Urbano 01 01 25 Col. São João Manoel Urbano 01 09 26 Col. Francisco Nunes Manoel Urbano 01 01 27 Fazenda Reentregue) Manoel Urbano 01 08 Fonte: Pesquisa de campo, 2001 Segundo o relato de moradores antigos, o Rio Chandless já foi bastante povoado no início do século passado, período em que desfrutou de relativa prosperidade econômica, decorrente da exploração do caucho. Mas com o declínio da atividade a maioria desses moradores buscaram novas alternativas econômicas, e partiram principalmente em direção as terras localizadas nas margens do Rio Purus. Por volta dos anos 70, a região passou por novas transformações, quando instaurou-se um intenso processo de apropriação da terra por grandes grupos econômicos, levando novamente parte dos habitantes a deixarem o rio em busca de melhores condições de vida nas cidades de Manoel Urbano e Sena Madureira. Segundo os moradores, nos ultimo 10 anos a situação encontra-se estabilizada, sendo poucos os moradores que saíram da área neste período. Mas durante o levantamento de campo tivemos a oportunidade de encontrar quatro colocações abandonadas nas margens do Chandless. Em uma delas o abandono é temporário, pois seu dono está passando uma temporada em Manoel Urbano, e pretende voltar a residir no Chandless. Quanto as outras não foi possível saber o motivo da saída dos seus moradores e nem se existe possibilidade de retorno à área. O mesmo não se observa no Rio Purus, onde apenas as colocações do centros foram abandonadas. Quanto à chegada de novos moradores na área tomamos conhecimento da chegada de apenas duas pessoas novas nos últimos anos: o administrador da Fazenda Jussara que foi contratado à cerca de um ano, e um peruano que casou com a filha do Antigo dono da Colocação da Boca do Cuchichá e veio habitar na localidade à aproximadamente três anos. 5.6.3 Interação com as populações indígenas Não existe, no momento, nenhum grupo indígena habitando a área, mas é expressivo o número de aldeias existentes no seu entorno e na área de influência direta. Essa proximidade fez com que ao longo dos anos se estabelecesse uma estreita relação entre estas populações. Essa convivência resultou em muitos momentos de ”crises”, e também em muitos casamentos entre brancos e indígenas e, como conseqüência, a incorporação de muitos elementos da cultura indígena pelos brancos e vice-versa.

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Percebe-se, atualmente, muitas semelhanças no modo de viver dessas populações, tais como: o modelo de suas moradias, os hábitos de higiene, a maneira de vestir, a forma de cultivar a terra, etc. O modelo das casas12

habitadas por indígenas e por brancos é semelhante. Observando à distância, apenas uma característica as diferencia, que é o número de casas agrupadas. Nas aldeias indígenas elas somam cerca de 10 a 15 moradias, e nas localidades habitadas pela população branca são apenas uma a duas casas.

Casa típica da região Em relação à higiene, em suas habitações não existem instalações sanitárias, nem tratamento de água. Criam animais (patos, galinhas e porcos) nos quintais, em chiqueiros e galinheiros construídos ao lado ou embaixo das suas moradias. A maneira de vestir dos dois grupos é também semelhante, não sendo possível distinguir indígenas de não-indígenas através da indumentária. Pinturas e outros adereços que caracterizam as populações indígenas só são utilizados durante os seus rituais. Todos se dedicam às atividades de caça e pesca para subsistência. É freqüente a realização de festas (forrós) das quais participam brancos e indígenas. Entre a população branca, com relação à religiosidade, prevalecem os católicos, mas a proximidade com as populações indígenas levou algumas famílias a incorporarem rituais como o do ayahuasca13. A prevalência do catolicismo é explicada pela forte presença da Igreja, através do padre Paulino, da Paróquia de Sena Madureira, que realiza visitas anuais aquelas famílias, e pelas condições de acesso que tem dificultado a ação dos evangélicos na região. As famílias que fazem uso do ayahuasca (conhecido na região como daime) atribuem à bebida o poder de curar doenças. No ritual de tomar o daime não utilizam rezas, mas apenas assovios ou acompanhamento de violão. Na cura de doenças são utilizadas também diversas espécies vegetais como o picão utilizado principalmente nos casos de malária e hepatite. Embora exista uma convivência pacífica e mesmo cordial entre estes grupos alguns moradores afirmaram não gostarem de morar perto de indígenas porque esses possuem o hábito de “mexerem nos roçados alheios”. 12 Casas construídas com parede e assoalho de paxiúba/e ou açaí e cobertura de palha de várias espécies de palmeiras, são elevadas em torno de 1 metro do chão e possuem poucas ou nenhuma divisão interna. 13 Significa na língua indígena cipó dos espíritos (a bebida, utilizada em toda a Amazônia Ocidental, é feita com a mistura de um cipó da floresta, o jagube e a folha da chacrona. É também conhecido como “ Daime” .

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5.7 Atividades produtivas Os moradores do Rio Chandless, em sua maioria, exercem, como principal atividade econômica a construção de embarcações. São pequenos barcos, confeccionados de forma artesanal, utilizando-se principalmente o tronco da jacareúba, uma espécie madeireira ainda bastante abundante na região. A atividade envolve dois a três homens da família, que constróem em média 10 barcos ao ano. Os barcos são comercializados no município de Sena Madureira, e o seu preço varia de R$ 300,00 a R$ 1.000,00 dependendo do tamanho (julho de 2001). Outras atividades, como a agricultura e a pecuária são também desenvolvidas pelos habitantes, mas tem importância menos significativa na composição da renda das famílias. A área plantada com culturas anuais em cada propriedade é de aproximadamente 2 ha. Os roçados são geralmente feitos sobre capoeiras. Poucos moradores declararam terem feito derrubadas para plantar. Como os moradores não possuem hábito de medirem suas terras não foi possível calcular quantos hectares foram derrubados por cada morador. Cada colocação possui seu próprio roçado, podendo considerar como áreas de uso coletivo apenas algumas praias existentes ao longo do rio onde é plantado feijão. A agricultura praticada é de subsistência, com a utilização de praticas agrícolas ainda bastante rudimentares, à base de conhecimentos empíricos que resultam em baixa produtividade. Estes produtores nunca receberam nenhum tipo de assistência técnica. A produção agrícola caracteriza-se pelo cultivo de culturas alimentares, com destaque para a lavoura do arroz, milho, a mandioca (para farinha) e feijão. Os moradores estimam ter colhido, em média 200 kg de arroz, 150kg de milho, 150 kg de feijão e produzido 400 kg de farinha, no último ano. O produto mais importante da roça como fonte de renda é o feijão, seguido pela mandioca (para farinha). Em volta das moradias é comum o cultivo de horticulturas plantas medicinais e ornamentais. A comercialização do pequeno excedente de produção é realizado principalmente no período das cheias, época em que o acesso é facilitado permitindo que os moradores tenham como fontes de renda complementares a farinha , o arroz e o feijão. Durante a estiagem a produção é totalmente consumida pela família, pois a distância e as péssimas condições de navegabilidade dos rios durante este período dificultam o acesso aos mercados. Apenas uma família afirmou viver exclusivamente da produção agrícola, e é justamente a família que reside mais próxima ao Rio Purus e a que apresenta pior situação, financeira entre os demais moradores do rio. São criados também porcos, galinhas e patos para consumo da família e para comercialização. Cada família cria em média 20 porcos e 30 galinhas. Existe em algumas localidades, pequenas criações de gado. Cada morador cria cerca de 10 a 20 cabeças. A maior criação encontrada foi de 40 cabeças. As maioria das famílias vêem a pecuária como a melhor alternativa de desenvolvimento e expressaram seu desejo em aumentar seus rebanho. A comercialização da produção agrícola é realizada nos mercados de Manoel Urbano e Sena Madureira, para onde os produtos são transportados por via fluvial. Todas as famílias contam com barcos próprios uma vez que não existem barcos de linha que façam o trajeto Rio Chandless/Manoel Urbano e

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nenhum morador da área tem acesso por via terrestre. O gado é comercializado apenas durante o inverno pois o seu transporte é realizado em grandes barcos. A pesca comercial também poderia se constituir em uma alternativa econômica, dada a grande abundância do produto na região, mas não é desenvolvida pelos moradores, pela dificuldade de transporte até os centros de comercialização, uma vez que estes não dispõe de equipamentos para conservação dos produtos A caça para fins comerciais, durante o inverno e também atividade desenvolvida pelos moradores, para complementar sua renda, embora nenhum deles tenha admitido, durante as entrevistas. O que é perfeitamente justificável, uma vez que a equipe era composta por técnicos do Instituto de Meio Ambiente do Acre - Imac. Porém em conversa com moradores de Manoel Urbano, estes afirmaram que os moradores do Chandless costumam levar carne de caça (veados, pacas, cutias, jabutis) para vender sempre que vem à cidade. A carne de caça é muito apreciada em Manoel Urbano e também em Santa Rosa, onde é comum servirem carne de animais silvestres nos restaurantes. No Chandless não existe extrativismo de borracha e nem de castanha, pois nesta região não existem seringueiras (Hevea brasiliensis) e nem castanheiras (Bertholletia excelsa). Os extrativistas que habitaram a região trabalhavam apenas com a exploração do caucho. Ao todo foram listados nove produtos como fonte de renda importantes para os habitantes da Gleba 9, 07 produtos são cultivados e apenas dois são produtos do extrativismo vegetal e animal. O principal ponto de estrangulamento das atividades de produção no Chandless parece ser as péssimas condições de acesso durante o período do verão, o que impede a comercialização da produção dos seus moradores. Nesse sentido, o incentivo a construção de embarcações com a adoção de equipamentos e novas técnicas de manufatura nem como a implantação de serviços de transporte da produção agrícola durante o inverno, a assistência técnica e a garantia de armazenamento e comercialização da produção agrícola consistem em medidas necessárias no sentido de agregar valor aos produtos existentes no local. 5.8 Condições de Vida da População A população que habita a Gleba 9 está concentrada nas margens do Rio Chandless. Esta região encontra-se sob responsabilidade da Prefeitura de Manoel Urbano a qual entretanto, não oferece os serviços básicos que a população necessita. As famílias que habitam as localidades mais próximas a Foz do Rio Chandless, como a Fazenda Jussara, Colocação Canamary e a Colocação do Mizael, possuem melhores condições de vida, uma vez que encontram-se mais próximas da sede do município de Manoel Urbano, e as condições de navegabilidade neste trecho do rio também são melhores. Essas famílias podem dispor dos mesmos serviços oferecidos à população do Rio Purus, tais como: as visitas das equipes de saúde da FUNASA e da Prefeitura de Manoel Urbano durante as campanhas de vacinação. Nestas localidades também ainda é comum a visita dos regatões ou marreteiros que abastecem os moradores dos gêneros de primeira necessidade como sal, açúcar, óleo, trigo, macarrão, etc.. Os produtos são adquiridos a dinheiro ou trocados por produtos agrícolas e animais de criação como galinhas

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e patos. Esses comerciantes chegam a vender uma lota de óleo ao preço de R$ 4,00 (quatro reais), um quilo de açúcar a R$ 3,00 (três reais) ou a trocar dois quilos de sal por uma galinha. As famílias que residem à partir da Foz do Ig Cuchichá são as mais penalizadas, pois quanto mais à montante do rio, piores se tornam as condições de acesso e maior o abandono vivido. Estas famílias encontram-se abandonadas à própria sorte, não dispondo de serviços de saúde, educação, de apoio à produção ou escoamento dos seus produtos. Quanto à assistência de saúde pública, nem mesmo durante as campanhas de vacinação recebem a visita de profissionais de saúde. A única assistência recebida é através do Padre Paulino, da Paróquia de Sena Madureira que, nas visitas anuais que faz aos moradores do rio, realiza consultas e distribui medicamentos. Em relação à educação a situação é de total abandono, com alta a taxa de analfabetismo entre os habitantes. Os poucos que sabem ler e escrever em sua maioria nunca freqüentaram uma escola, aprendendo a ler com os parentes ou vizinhos. Apesar de existir um significativo número de crianças em idade escolar não existem escolas na Área. Só nas localidades próximas à colocação São João existem 20 pessoas entre crianças e jovens em idade de freqüentar escolas. Os administradores políticos alegam que o reduzido número de habitantes, e a distância entre as localidades não justifica o investimento na implantação de uma escola ou de um posto de saúde. Esses habitantes do Chandless não encontram-se organizados como produtores. Estão presos a um comportamento espontâneo que os coloca longe da capacidade de enfrentar a concorrência do mundo capitalista. Não existe ali, nem nas proximidades, uma única associação de produtores. A condição de sazonalidade do rio condena os moradores ao total isolamento, durante o verão. Ficando as viagens neste período restritas a situações de urgência, como em casos de doenças, ou para os aposentados receberem seus salários. As viagens para passeios ou para compras, ficam restritas ao período do inverno. Os moradores do Chandless costumam ir a cidade de duas a 3 vezes ao ano, e ali permanecendo por cerca de um mês. Sempre que possível estas viagens são realizadas com toda a família. Eles passam meses se preparando para realiza-las, período em que organizam toda a produção que vão levar para comercializar (canoas, produção agrícola, galinhas, porcos). É também durante estas viagens que são adquiridos todos os mantimentos para o próximo semestre. Estas viagens geralmente ocorrem período do inverno. Os gêneros de primeira necessidade como sal, açúcar, óleo, trigo, macarrão, são adquiridos diretamente nas cidades de Manoel Urbano e Sena Madureira, uma vez que não recebem mais a visita dos regatões. 14

Os entrevistados afirmaram que gostariam de poder visitar a cidade com mais freqüência, mas essas viagens são muito dispendiosa, da colocação mais distante e Reentregue gasta-se em torno de 120 a 150 litros de gasolina em cada viagem. Quando não possuem gasolina descem o rio de “borbulho” da Colocação São João, até a Sede de Sena Madureira (onde costumam vender sua produção e se abastecer) chegam a gastar cerca de 12 dias viajando. Para retornarem gastam cerca de 60 litros de gasolina (com motor suzuky).

14 Pequenos navios do comércio varejista, que navegam e negociam ao longo dos rios e cidades ribeirinhas, como supermercados. (In: Ximenes, Teresa.....)

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A maioria das famílias possuem embarcações com motor. Apenas uma família entrevistada disse não possuir motor próprio, utilizando barcos emprestados dos vizinhos para realizar o transporte de sua produção. A comunicação e o transporte entre as colocações ou até a sede do município é feito principalmente através do rio, utilizando canoas a remo ou barcos motorizados. Mas entre as colocações mais próximas são construídas varadouros15, por onde é possível caminhar à pé ou com animais de carga. O rádio (AM) à pilha é o principal meio de comunicação e entretenimento. Ele está presente em todas as casas visitadas. Os programas de maior audiência são os de mensagens e os noticiários da Rádio Difusora Acreana e da Difusora de Sena Madureira. O horário preferido pelos ouvintes é o começo da manhã. A comunicação entre os parentes e amigos que residem nas proximidades é realizada através do envio de recados orais ou escritos, pelas pessoas que circulam pelos rios. Muitos moradores afirmaram que encontram-se abandonados e revelam sentir saudades da época da extração do caucho quando a região era muito movimentada, e seus moradores eram regularmente abastecidos pelos regatões e pelos barracões dos patrões. Atualmente essas famílias dificilmente recebem visitas. As únicas pessoas que entram na área são os caçadores e pescadores. Entre as principais reivindicações desses moradores estão: a implantação de escola; de um posto de saúde, ou a visita regular de uma equipe de saúde; instalação de equipamentos de rádio amador em alguns lugares estratégicos, e de peladeiras de arroz. E principalmente a presença de fiscais do IBAMA que proíbam a entrada de “estranhos” para caçar, pescar e tirar madeira. 5.9 Assentamentos populacionais do entorno Foram registradas 66 localidades no trecho entre Manoel Urbano e a Foz do Rio Chambuiaco, habitadas por aproximadamente 310 famílias distribuídas nos seringais e fazendas existentes ao longo do Rio Purus. Os seringais existentes nas margens do Rio Purus já foram grandes produtores de borracha, onde se destacaram os Seringais Triunfo, Cruzeiro, Santa Helena e Mamuriá. O Mamuriá já foi o maior produtor de borracha da região, chegando a produzir 40 ton./ano. Nos últimos anos o extrativismo da borracha foi abandonado pela maioria das famílias, principalmente por causa dos baixos preços o produto obtém no mercado. O pequeno número de pessoas que ainda tem se dedicado à atividade se uniu e criou em 1995, a Associação Extrativista dos Pequeno Produtores e Produtoras da margem do Rio Purus, município de Santa Rosa. A associação atualmente possui cerca de 20 sócios. A sua sede está localizada na Colocação Marinho (Seringal Cruzeiro) e agrega os produtores dos seringais Cruzeiro, Mamuriá, Santa Helena e Triunfo. São produzidas em torno de 3 toneladas de borracha anuais. Segundo os entrevistados só existem seringueiras a partir do Seringal Santa Helena para baixo. Nas localidades situadas mais à montante do Rio não existe castanha, nem seringa. A população que habita as margens do Purus dedica-se principalmente a agricultura, cultivando principalmente cereais como arroz, milho e feijão. Os moradores do Rio, em sua maioria possuem embarcações próprias e realizam o transporte de sua produção até os mercados consumidores. A produção agrícola

15 caminhos pelo interior da mata

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é comercializada em Manoel Urbano e Santa Rosa e a produção de seringa na Cooperativa de Sena Madureira. Onde também são adquiridos os gêneros alimentícios, vestimentas, gasolina etc. que abastecem suas famílias. Na maioria das localidades existem escolas próximas, que distam no máximo cerca de duas horas das moradias. As localidades situadas em território pertencente ao município de Manoel Urbano recebem atendimento de saúde realizado regularmente pela equipe da Prefeitura. Nestas visitas são realizadas consultas, vacinações e distribuição de medicamentos. Os moradores da região afirmam que ali quase não ocorrem doenças. Sendo as mais freqüentes, gripes e dores de estômago. O número de óbitos é também muito baixo. Os moradores destas localidades afirmam ser a região ainda muito rica em caça e pesca. As caças encontradas com mais freqüência são a queixada o veado e a paca. As caçadas são realizadas principalmente com espingarda (à ponto), mas às vezes realizam espera ou constróem armadilhas. Os peixes mais freqüentes são: mandim, branquinha e sardinha. A pesca geralmente é realizada com anzol ou tarrafa. 5.10 As Aldeias Indígenas do Entorno Foram identificadas durante a viagem pelo Rio Purus, vinte e sete aldeias indígenas situadas em suas margens, destas vinte duas estão localizadas na TI Alto Purus e são habitadas por grupos das etnias kulina e Kaxinawá. As demais pertencem a grupos das etnias Kulina e Mastanawa, estão localizadas no entorno de Puerto Esperanza, no Peru. Neste trecho do Rio Purus é freqüente o transfronteiriço dos grupos indígenas, principalmente Kaxinawá. Muitas das famílias que hoje habitam a TI Alto Purus são originários de aldeias peruanas. (Aquino e Iglesias) A população indígena de Santa Rosa, encontra-se politicamente representada, através de 3 vereadores (Antônio Gilberto, Roberto e Manoel Sampaio) e do vice-prefeito (Francisco), todos pertencentes a etnia Kaxinawá.

Aldeia Indígena – Rio Purus Foto: Altamir

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A TI Mamoadate é habitada por uma população de 459 indígenas da etnia Manchineri e 117 Jaminawa. (ZEE-2000) A principal fonte de renda da população indígena que habita esta região é a agricultura e o artesanato. População habitante das margens do Rio Purus na região localizada entre o entroncamento rodo-hidroviário com a BR 364, em Manoel Urbano e a Foz do Rio Chambuiaco. 2001 Trecho: Manoel Urbano/ Foz do Rio Chandless

N.º Localidade N.º casas Margem direita

1d S. Paissandu 15 2d S. Porto Romeu 26 3d C. Cumaru 3 4d S. São João 16 5d C. Aracauã 03 6d S. Itatinga 38 7d S. Santa Cruz 25 8d S. Livre-nos Deus 10 9d S. Espírito Santo 01 10d S. Aracajú

Margem esquerda 1e S. Liberdade 10 2e Faz. Santa Cecília 5 3e S. Samauma Nova 14 4e S. Sumaúma Velha 01 5e S. Novo Porto 21 6e S. Mamoeiro 10 7e S. Escondido 08 8e S. Nova Olinda 14 9e Faz. São Brás 2 10e S. Aracaju 7 11e S. Terra Nova 6

Trecho: Foz do Rio Chandless/Santa Rosa do Purus N.º Localidade Indígena/Et

nia N.º casas Coordenadas

Margem direita 11d S .Boca do Chandless Kulina 10 12d Aldeia Ipiranga Kulina 10 S 09º 07. 570 W 069º 49. 521 13d Aldeia Palmari Kulina 03 S 09º 07. 017 W 069º 51. 946 14d Aldeia Nova Aliança 1 Kaxinawá 01 S 09º 05. 941 W 069º 55. 220 15d Aldeia Nova Aliança 2 Kaxinawá 21 S 09º 05. 602 W 069º 55. 363 16d Aldeia Morada Nova Kaxinawá 12 S 09º 04. 826 W 069º 55. 360 17d Aldeia Recreio Kaxinawá 21 S 09º 05. 002 W 069º 56. 573 18d Aldeia Baixa da Égua Kaxinawá 04 S 09º 06. 236 W 069º 58. 591 19d Aldeia Fronteira Kaxinawá 20 S 09º 05. 177 W 069º 59. 054 20d Aldeia Fronteira Kaxinawá 04 S 09º 05. 027 W 069º 59. 804 21d Aldeia Novo Lugar Kaxinawá 14 S 09º 05. 967 W 070º 02. 686 22d Aldeia Moema¹ Kaxinawá 02 S 09º 06. 412 W 070º 04. 258 23d Aldeia Moema² Kaxinawá 08 S 09º 06. 052 W 070º 04. 561 24d Aldeia Novo Marinho Kaxinawá 12 S 09º 06. 831 W 070º 06. 117 25d Aldeia Dois Irmãos Kaxinawá 16 S 09º 07. 483 W 070º 08. 105

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26d Aldeia Tucandeira Kulina 06 S 09º 08. 653 W 070º 10. 877 27d Aldeia Porto Rico Kaxinawá 04 S 09º 10. 936 W 070º 15. 067 28d Aldeia São Vicente¹ 04 S 09º 10. 936 W 070º 15. 067 29d Aldeia São Vicente² 03 S 09º 12. 393 W 070º 15. 851 30d Aldeia Sacado Kulina S 09º 13. 519 W 070º 17. 316 31d Aldeia Sobral 08 S 09º 14. 894 W 070º 19. 203 32d Aldeia Canamari Kulina 15 S 09º 21. 160 W 070º 24. 781 33d C. Buenos Aires 01 S 09º 21. 846 W 070º 26. 791 34d C. União 01 S 09º 21. 894 W 070º 27. 753 35d C. Nova Vida 01 S 09º 21. 717 W 070º 28. 962 36d C. Bem Vindo 01 S 09º 22. 183 W 070º 28. 976 37d Faz. Vista Ermosa 01 S 09º 22. 907 W 070º 28. 554 38d Faz.. (s/ nome) 01 S 09º 26. 433 W 070º 28. 716 39d Faz. São Luís 01 S 09º 25. 813 W 070º 29. 083 40d Sede do Município de Santa

Rosa S 09º 26. 046 W 070º 29. 611

Margem esquerda 12e C. do Sr. João Peres 02 S 09º 08. 417 W 069º 49. 690 13e Aldeia Novo Ipiranga 04 S 09º 06. 747 W 069º 50. 618 14e S. Extrema¹ 01 S 09º 06. 007 W 069º 50. 535 15e S. Extrema² 04 S 09º 05. 576 W 069º 50. 726 16e S. Extrema³ 02 S 09º 05. 476 W 069º 51. 300 17e S. Refúgio 01 S 09º 05. 303 W 069º 54. 613 18e C. Balbino¹ 05 S 09º 04. 831 W 069º 54. 931 19e C. Balbino² 02 S 09º 04. 514 W 069º 54. 928 20e C. Balbino (Escola) 01 S 09º 04. 326 W 069º 55. 078 21e C. Morada .Alta 01 S 09º 05. 292 W 069º 57. 838 22e S.. Mamuriá 02 S 09º 05. 260 W 069º 58. 994 23e Sede. S. Triunfo 03 S 09º 04. 883 W 070º 00. 680 24e C. Altamira 03 S 09º 05. 333 W 070º 02. 094 25e S. Santo Antônio 01 S 09º 05. 917 W 070º 03. 611 26e C. do Moacir 02 S 09º 05. 173 W 070º 04. 922 27e S. Cruzeiro 04 S 09º 06. 312 W 070º 06. 397 28e C.Marinho (S.Cruzeiro) 02 S 09º 07. 536 W 070º 05. 524 29e C.Lago Novo (S. Santa

Helena) 01 S 09º 07. 326 W 070º 07. 829

30e C.s/ nome (S. Santa Helena) 01 S 09º 07. 523 W 070º 09. 088 31e C. s/ nome (S. Santa Helena) 02 S 09º 07. 171 W 070º 09. 010 32e Sede do S. Santa Helena 05 S 09º 07. 782 W 070º 10. 458 33e C. Boca do Furo (S. Santa

Helena) 03 S 09º 08. 799 W 070º 12. 248

34e C. Furo (S. Santa Helena) 01 S 09º 08. 960 W 070º 12. 459 35e C. Porvir¹ 04 S 09º 10. 526 W 070º 12. 698 36e C. Porvir² 01 S 09º 10. 261 W 070º 13. 116 37e C. Porvir³ 01 S 09º 09. 565 W 070º 13. 312 38e C. Marinho 01 S 09º 09. 255 W 070º 14. 937 39e S. Sobral 21 40e Aldeia Maronal 15 S 09º 16. 602 W 070º 20. 520 41e Aldeia Vista Alegre¹ 03 S 09º 18. 467 W 070º 21. 619 42e Aldeia Vista Alegre² 01 S 09º 19. 747 W 070º 22. 150 43e Aldeia Nazaré¹ 05 S 09º 19. 253 W 070º 23. 345 44e Aldeia Nazaré² 12 S 09º 18. 921 W 070º 23. 353 45e Faz. Varação 01 S 09º 20. 394 W 070º 25. 458 46e C. do Sr. Sebastião 01 S 09º 20. 835 W 070º 25. 483 47e Faz. Ingazeira 01 S 09º 21. 067 W 070º 26. 766

Trecho: Santa Rosa do Purus/Foz do Rio Chambuiaco

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N.º Localidade Indígena/Et

nia N.º casas Coordenadas

Margem direita 42d C. Minas Gerais 1 01 S 09º 26. 679 W 070º 30. 385 43d C. Minas Gerais 2 03 S 09º 27. 276 W 070º 30. 426 44d C. Minas Gerais 3 02 S 09º 27. 665 W 070º 30. 187 45d Moradia do Sr. José Auanari 01 S 09º 27. 886 W 070º 30. 526

Margem esquerda (Território Peruano) 49e Povoado Palestina 800 S 09º 26. 679 W 070º 30. 385

Fonte: Pesquisa de campo, 2001 5.10.1 Os Índios Isolados Estudos realizados por Aquino e Iglesias (2000) indicam ser a região mais próxima às cabeceiras do rio Chandless, uma área de “perambulação” de índios isolados conhecidos como Maskos. Estes índios habitam a margem direita do Purus peruano e perambulam pelas cabeceiras do rio Chandless e Iaco, penetrando na TI Mamoadate. Existe, inclusive, o registro de alguns enfrentamentos ocorridos com os Manchineri que ali moram e, no verão sobem o rio à procura de ovos de tracajá. O estudo sita as rotas de perambulação e território de caça tradicionais dos Maskos nos formadores do Purus, compreendendo as cabeceiras do Rio Iaco e do Igarapé Abismo que foram mapeados pelo sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Jr. (1984), em relatório, no qual também faz referências a conflitos ocorridos com os índios Jaminawa e Manchineri que moram nas proximidades da TI Mamoadate: ” Nas cabeceiras dos rios Iaco, Chandless, Purus, Tauhamanu, segundo os índios Jaminawa mais velhos, existem bandos de índios brabos e nômades, por eles denominados de Masko. Encontros esporádicos entre os Jamináwa e os Masko tem acontecido, sempre com morte de ambos os lados. Há cerca de sete ou oito anos atrás (final dos anos 70), alguns Jamináwa mataram a tiros de arma de fogo alguns Masko, dentro do Igarapé Moa na T.I. Mamoadate. Eu mesmo encontrei acampamentos desses índios brabos nas cabeceiras do Iaco, do Ig. Abismo para cima. Este igarapé e suas redondezas constituem o grande supermercado dos Jaminawa e Manchineri da TI Mamoadate que freqüentemente sobem o rio Iaco para se abastecerem de caça e pesca, abundante na área deste igarapé até o limite oeste da reserva do Mamoadate, coincidindo com o limite Brasil Peru.” Em entrevista com o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Jr, realizada em maio de 2001, este confirmou as declarações acima citadas, e fez o seguinte relato: “Na região do Chandless, entre as TI. Alto Rio Purus e Mamoadate, foi detectada a presença de grupos de índios isolados denominados MASKO, que habitam e perambulam pelas margens dos rios daquela região. Estes índios durante alguns meses do ano estabelecem-se em território peruano, nas nascentes dos rios Curanja, Purus, Envira, Piedade, Tahuamanu, Los Amigos, Las Piedras, Iaco, Madre de Dios e igarapé Abismo e no verão

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caminham (praiando) seguindo os cursos dos rios Chandless, Igarapés Chandless-chá, Cuchichá, Chambirá. “O período de perambulação em terras brasileiras ocorre geralmente entre os meses de maio a agosto (período seco). No inverno eles não atravessam os rios. Estes índios andam em grandes grupos, de cerca de 200 a 300 pessoas, e quando encontram outros grupos indígenas ou a população branca, costumam ataca utilizando-se apenas de arcos e flechas, o que torna possível deduzir que sejam ainda bastante primitivos e desconheçam as armas de fogo. Estes índios durante as suas caminhadas ao perceberem vestígios da civilização branca ou de outros grupos indígenas, costumam afastar-se do local. Nas entrevistas realizadas com os moradores da região, diversas pessoas afirmaram já terem encontrado vestígios desses índios nas praias existentes nas margens do Chandless. Um entrevistado afirmou já haver tentado estabelecer contato com o grupo deixando alguns objetos no lugar onde estava montado o acampamento dos Masko, mas segundo ele, ao retornar no dia seguinte, os indígenas já haviam abandonado o local não levando os presentes por ele deixado. Um outro morador afirmou já haver encontrado um acampamento montado pelos maskos e chegou e descrever o modelo de suas ocas e o formato de suas flechas. Existe entre a população do Chandless várias lendas sobre os Maskos, uma delas é de que este grupo é composto por pessoas altas e louras, e que provavelmente seriam os sobreviventes de um navio europeu que afundou em território peruano, no final do século XIX ou início do século XX. 5.11 Atividades que Ameaçam a Integridade da Área A região onde está localizada a Gleba 9 – Chandless constitui-se numa das mais antigas áreas de exploração extrativista do Estado. Embora a área atualmente apresente grandes extensões de floresta, aparentemente intacta, esta deve ser constituida de uma floresta que se recompôs, uma vez os relatos existentes nos livros de História Acreana, afirmam que a Região do Chandless já foi bastante povoada, tendo seu processo de ocupação ocorrido a partir do final do século XIX, com a penetração da frente extrativista itinerante formada por brasileiros e principalmente peruanos, que visavam a exploração do caucho (Castilloa elástica). Essa frente além de promover exploração predatória dos seus recursos florestais, promoveu também o massacre e até o extermínio das populações indígenas que tradicionalmente habitavam os rios e florestas desta região. 5.11.1 A Exploração do Caucho A exploração do caucho, segundo a literatura, constituiu-se em uma atividade altamente predatória (de árvores e de homens) pois: Aquino, citando Euclides da Cunha: definiu o caucheiro como “um exterminador de aborígenes sul-americanos”, ou como “um nômade caçador de árvores”, demonstrando que esse nomadismo advém da fragilidade da própria exploração da árvore do caucho (Castilloa elástica).

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“O cauchero é forçosamente um nômade votado ao combate, à destruição de uma vida errante ou tumultuária, porque a Castilloa elástica que lhe fornece a borracha apetecida, não permite, como as héveas brasileiras, uma exploração estável, pelo renovar periodicamente o suco vital que lhe retiram. É excepcionalmente sensível. Desde que a golpeiam, morre, ou definha durante largo tempo inútil. Assim o extrator a derruba de uma vez para aproveitá-la toda (...) esgota-se em pouco tempo o cauchal mais exuberante; e como as castiloas não se distribuem regularmente pelas matas, vivendo em grupos por vezes bastante separados, os exploradores deslocam-se a outros rumos, reeditando quase sem variante todas as peripécias daquela vida aleatória de caçadores de árvores (...) Os seus primeiros instrumentos de trabalho são a carabina Winchester – o rifle curto adrede disposto aos recontros no traçado das ramarias- o “machete” cortante que lhes destrama os cipoais, e a bússola portátil, norteando-os no embaralhado das veredas. Tomam-nos e lançam-se a uma revista cautelosa das cercanias... Mauro Almeida, também citado por Aquino, realiza a distinção entre seringueiros e caucheiros. “Os caucheiros eram extratores nômades que cobriam uma determinada área em busca da árvore Castilloa elástica, que eles derrubavam afim de obter 40 a 50 quilos de caucho, produzindo deste modo um rendimento entre duas a quatro toneladas por estação... O látex do caucho e o látex da seringa não devem ser confundidos. O caucheiro era considerado o predador da árvore, um aventureiro, nômade a principio cuja coleta do látex quase sempre significava a destruição das árvores. Já o seringueiro era um trabalhador estável, organizado em sítios permanentes de exploração...” (Almeida, 1992: 16) Indícios dessa ocupação estão ainda presentes em localidades como a sede da Fazenda Reentregue, onde existiu por volta de 1911 uma pequena vila, fundada pelo peruano Frederico Janes, que ficou conhecida como Acampamento Peruano. A vila foi construída para abrigar os trabalhadores do Sr. Frederico, e funcionava também como entreposto comercial que abastecia os caucheros habitantes do Rio Chandless. Existiram ali, além das moradias dos trabalhadores, construções em alvenaria de uma Igreja, uma destilaria de cachaça, uma padaria e um armazém. 5.11.2 A Exploração das Peles de Onça e Fantasia

A falência da economia gumífera levou os moradores do rio a buscarem novas alternativas. Impulsionados pelos significativos lucros oferecidos pelo comercio internacional de peles, os caçadores das redondezas, embrenharem-se nas matas em busca de onças e gatos maracajás.

Pele de animal

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5.11.3 A Extração Madeireira Com a proibição do comércio de peles os seus exploradores buscaram novas alternativas econômicas, e o foco passou a ser a exploração madeireira. Esta atividade ocorreu de forma bastante intensa durante as décadas de 80 e 90, o que levou ao desaparecimento de espécies nobres como o mogno. Nas áreas mais próximas às margens já não existem árvores dessa espécie, atualmente só é possível encontrá-las nas regiões centrais e nas cabeceiras dos rios. As principais responsáveis por essa exploração foram as Madeireiras de Sena Madureira e Rio Branco. Na Fazenda Reentregue que abrigou, durante os anos oitenta, vários empregados, contratados para trabalharem na exploração madeireira ainda hoje se encontram os equipamentos que foram utilizados na extração das madeiras. Segundo os moradores a atividade só foi paralisada após as denuncias ao IBAMA, realizadas pelos moradores do Rio. 5.11.4 A Atual Exploração dos Recursos Esta é uma região que se encontra completamente vulnerável a ação de depredadores. Pois além de apresentar grandes atrativos, dada a sua riqueza em produtos florestais, não existe uma fiscalização sistemática por parte dos órgãos ambientais. A Área encontra-se muita próxima das sedes do município de Santa Rosa e de Manoel l Urbano, e principalmente das localidades situadas nas margens do Rio Purus, o que permite seja facilmente explorada pela população que ali reside. Essa população que habita o seu entorno e área de influencia direta tem na caça e na pesca as suas únicas fontes de proteína animal. E vê como importantes fontes de renda diversos outros recursos que a floresta oferece. Vale lembrar que as próprias sedes dos dois municípios enfrentam sérios problemas de abastecimentos alimentar, principalmente no que se refere à oferta de carne bovina. A região segundo o relato de seus próprios moradores é extremamente rica em fauna e outros recursos. E isso foi facilmente observado durante o trabalho de campo, pois na viagem através do Rio Chandless foi possível visualizar uma grande quantidades de animais em suas margens como veados, pacas, antas, jacarés e muitos ninhos de tracajás em diversas praias. Foram também avistados muitos bandos de macacos de diversas espécies e de aves, como as araras. É comum a reclamação dos moradores quanto à presença de pessoas “estranhas” que freqüentemente entram na área para pescar, caçar, tirar madeiras, etc. geralmente com fins comerciais. Durante a viagem foram avistados diversos acampamentos de indígenas que freqüentemente entram na área para caçar e pescar. Os indígenas habitam a Terra indígena Alto Purus, localizada na margem direita do Rio Purus, entre a cidade de Santa Rosa e a foz do Rio Chandless. Essa presença vem aborrecendo os moradores, uma vez que não gera lucro para as famílias que ali habitam e vem provocando a escassez desses recursos. Estas pessoas reclamam a inexistência de fiscais na área e a impossibilidade de realizarem

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denúncias junto aos órgãos ambientais responsáveis, devido à dificuldade de comunicação. 5.11.5 Considerações sobre a Situação Sócioeconômica e a Criação da UC Os resultados obtidos através do levantamento sócioeconomico e das consultas realizadas junto à população local, e às autoridades dos municípios na qual ela está localizada, indicam que a Gleba 9 – Chandless, do ponto de vista social, apresenta uma situação bastante favorável à criação de uma Unidade de Proteção Integral. Onde, entre os aspectos positivos podemos destacar: a) Situação fundiária regularizada. Terras arrecadadas pela União para as quais

ainda não foi dada desatinação; b) Inexistência de planos ou projetos para a área por parte das prefeituras dos

municípios de Santa Rosa e Manoel Urbano; Os prefeitos alegaram escassez de recurso financeiros e humanos que possibilite e oferecer assistência à população, ou realizar fiscalização da área, dada a sua distancia das sedes dos municípios e a dificuldade de acesso durante o verão.

c) Aceitação por parte dos prefeitos e das lideranças dos dois municípios quanto à proposta de criação da UC, e o seu compromisso em apoiar a sua implantação e consolidação.

d) Os municípios ainda dispõem de muita terra disponível para o assentamento de famílias. Os projetos de assentamento já implantados ainda dispõe de mais de 50% de sua capacidade de assentamento ociosa.

e) Dificuldades de acesso durante o período da estiagem. f) Parte desta região se constitui em área de perambulação dos índios isolados

Masko. Apenas um aspecto pode ser considerado negativo, que é a existência de pessoas residindo na área. Entretanto, é importante lembrar são apenas 10 localidades habitadas, e todas concentradas apenas nas margens dos rio, estando o centro da área completamente desabitado. Existem também, em relação à população, outros aspectos que devem ser considerados: a) As atividades produtivas que desenvolvem são de baixo impacto ambiental. b) A analise dos dados demográficos indica existir um certo equilíbrio quanto às

faixas etárias, e que não está havendo um crescimento rápida população. O que permite afirmar que não acontecendo nenhum fluxo migratório para aquela área, não haverá num futuro próximo, uma pressão muito grande sobre o meio ambiente.

c) A maioria dos moradores afirmaram desejar continuar residindo ali, mas se mostraram favoráveis à criação da UC e até manifestaram o desejo em ajudar a fiscalizar e proteger a área contra os “invasores” que entram para explorar os seus recursos. O que torna possível elaborar uma estratégia em que os moradores venham a se constituir nos fiscais daquela área, pois como afirma o antropólogo Mauro Almeida: “as populações tradicionais podem desempenhar um papel fundamental na conservação” Uma vez que segundo ele, Essas “populações tradicionais tem interesse na conservação e tem se manifestado em muitos casos em favor de estratégias de conservação. Isso porque a conservação de seus recursos naturais é diretamente importante

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para a sua sobrevivência, e indiretamente importante como base de sua legitimidade face à nação”.

Outros argumentos utilizados por Almeida, que também julgamos interessantes referem-se: a) A necessidade do estado intervir, seja através do pagamento direto pelos

serviços de conservação, através do “estabelecimento de uma renda mínima ambiental” que sirva de estimulo para que a população se abstenha de “degradar o ambiente natural e assim participe da produção de biodiversidade”. Ou através do pagamento indireto “fornecendo serviços básicos que eqüivalem ao aumento da renda, e também investindo no desenvolvimento de produtos para novos mercados, bem como na formação de pessoal qualificado para as tarefas de autogoverno local”.

b) Permitir a permanência dos moradores na área constitui-se numa questão de justiça, uma vez que “Essas populações vivem nesses territórios, e possuem direitos a terra e aos seus recursos”.

c) O custo financeiro desse serviço, uma vez que “. Economicamente, é mais viável e também politicamente mais prudente reconhecer populações tradicionais como guardiões de ambientes, em lugar de pagar fiscais de floresta.”

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6. CONCLUSÕES E JUSTIFICATIVAS PARA CRIAÇÃO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL CHANDLESS A área do Chandless – Gleba 9 é de extrema importância para conservação – além da indicação pelo Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre (ZEE/AC, 2000), é também considerada como de alta prioridade por outras organizações e programas relacionados a natureza: no PROAPAM – Programa Nacional de Expansão e Consolidação de Áreas Protegidas e também é considerada região de alta prioridade na análise realizada pela WWF – Fundo Mundial para a Natureza, para a Ecorregião do Sudoeste da Amazônia. A Unidade de Conservação (UC) proposta ocupa a chamada Gleba Chandless 9. Possui grande extensão territorial (cerca de 695.303 hectares), tamanho adequado para proteger grandes populações de animais e plantas. Sua situação fundiária (terras da união) é favorável à criação de uma Unidade de Conservação, simplificando em muito o processo, seja em termos de custo ou possíveis conflitos com ocupantes. Outro fator positivo é a inexistência de outras demandas sociais para a área em questão. Também não existem planos estaduais para o uso da área, a não ser conservação como documentado no ZEE/AC. Nenhum outro uso foi indicado neste documento. Em relação à presença de ocupantes, a área também apresenta uma situação favorável, pois existem apenas 12 (doze) famílias, a maioria com laços de parentesco entre si. O fato de existirem tão poucas famílias na área pode ser explicado pelo isolamento, falta dos principais produtos extrativistas (seringa e castanha), a inexistência de qualquer serviço público como escolas ou um posto de saúde. O acesso à área é extremamente difícil, e as famílias “descem” até a cidade apenas 1 (uma) a 2 (duas) vezes ao ano, particularmente nos meses secos. Nas porções mais distantes da Gleba, mais próximas a fronteira com Peru, a área é também conhecida (e temida) por ser visitada “anualmente nos meses mais secos (maio a outubro), por grupos indígenas nômades provenientes do Peru”, considerados pelos moradores da região como agressivos. A própria vegetação do local é inóspita: a presença de floresta de alta concentração de bambu com espinhos torna muito difícil a caminhada pela mata. O valor biológico para conservação é extremamente alto, devido aos seguintes fatores: Corredor Ecológico: a criação de uma UC na Gleba do Chandless 9 irá propiciar a conexão de um excelente corredor ecológico regional – a área está totalmente situada dentro dos limites do corredor verde do oeste da Amazônia, um dos cinco para a região Amazônica estabelecido pelo IBAMA. Está também adjacente às áreas protegidas e terras indígenas no lado peruano, onde recentemente espécies raras e endêmicas foram identificadas. Seu potencial para atuar como corredor ecológico é otimizado pelo fato de se configurar também como corredor ecológico local, pois permite concentrar 2 (duas) Terras Indígenas (TI Rio Purus e TI Mamoadate) e a Estação Ecológica do Rio Acre.

Representatividade: nesta área, ocorrem Unidades de Paisagens Biofísicas ainda não formalmente protegidas em nenhuma Unidade de Conservação no Estado do Acre e nem na Ecoregião Sudeste da Amazônia. A criação de uma UC de Proteção Integral irá aumentar significantemente o nível

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de representatividade dos ambientes presentes na Amazônia, aumentando a eficiência do Sistema Nacional de Unidades de Conservação em termos dos ecossistemas protegidos.

Integridade Física e biológica: a área é bem preservada, sem evidência de desmatamentos recentes nem queimadas. Observa-se a ação antrópica apenas nos pequenos roçados de menos de 1ha (um) utilizados para subsistência das poucas famílias que lá vivem (12). A maioria de suas culturas (melancia, amendoim) são cultivadas nas praias do Rio Chandless durante a estação seca. A principal atividade econômica das famílias é a construção de pequenas canoas de madeira branca. Segundo os moradores entrevistados esta produção é artesanal e nunca excede 10 canoas por ano. O presença de grande quantidade de animais silvestres nas margens dos rios é outra evidência do bom estado de conservação da área. Por exemplo, é comum a presença de macaco-aranha, um dos primeiros a desaparecer com a pressão antrópica.

Defencibilidade: apresenta uma situação favorável, pois o acesso é bem difícil e existe basicamente uma única “porta de entrada” - Rio Chandless.

Potencial para o Ecoturismo: quando se cria uma UC de Proteção Integral, um fator importante é a possibilidade de criação de emprego e aumento de renda para a população local. O Ecoturismo pode contribuir neste aspecto. A região é bonita, apresentando na seca barrancos de 15 metros de altura, com afloramentos rochosos, nítidos perfis de solos, pequenas corredeiras e bonitas praias de areia. Nestas margens do rio é possível facilmente se avistar muitos animais infrequentes na maioria das outras áreas como antas, capivaras, jacarés, veados, enormes bandos de araras vermelhas e azuis, garças e muitos outros. Nas praias é também comum serem encontrados ovos de tracajá, que é um animal ameaçado de extinção.

Riqueza Faunística: esta é uma área muito especial. Os estudos realizados para a construção desta Peça de Defesa estimaram que existem pelo menos cerca de 800 espécies de aves (incluindo espécies migratórias), pelo menos 200 espécies de mamíferos (considerando também espécies de pequeno porte como roedores e morcegos), 80 espécies de répteis e 120 espécies de anfíbios. Foram identificadas cerca de 100 espécies de Lepdópteros (mariposas e borboletas). Em relação à Ictiofauna estima-se que, a maioria das espécies registradas para o Acre também ocorrem na área, numero que oscila em torno de 200 espécies.

Presença de Espécies Importantes para a Conservação: entre os mamíferos destacam-se a presença do macaco-aranha (Atele chamek), o traboqueiro (Calllimico goeldii) de distribuição restrita, o cachorro do mato vinagre (Spheotos venaticus) espécie naturalmente rara e pouco estudada e considerada vulnerável, e a onça (Pantera onça). No grupo da avifauna destacam-se o gavião real (Harpia harpyja), arara vermelha (Ara macao) e o mitu-mitu. Na herpetofauna, destacam-se as espécies jacaré Açu (Melanosuchus niger), tracajá (Podocnemis unifilis) e jabuti (Geochelone denticulate), ambos ameaçados de extinção. Considerando que os levantamentos de campo foram de natureza exploratória, foi escolhido um grupo bioindicador – os artrópodes. Para este grupo taxonômico foram observados vários animais especiais para conservação, como duas espécies de libélulas (Odonata), do gênero Mecistogaster, especiais porque são bem menores do que o normal para este gênero: à M. Jocaster, assim como também uma espécie nova ocorrente em Floresta Aberta de Bambu.

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Em relação à borboletas (Lepdopteras), outro grande indicador de biodiversidade e estado de conservação da área, foi encontrada uma nova espécie de borboleta (ainda por ser identificada), uma nova subespécie de Antirrhea taygetina (Satyridae), e Napeogenis, duas de Ithomiidae, e muitas espécies novas interessantes nessas duas subfamílias, incluindo uma nova espécie de pseudodebis, duas de amphidecta, rareuptychia clio, e várias raras neste gênero. Quatro espécies de Ithomiinae (espécies indicadoras de ambientes muito pouco perturbados) foram facilmente capturadas na zona de transição, fato este que indica o bom estado de conservação da área.

Os resultados encontrados para este grupo taxonômico, usado como bioindicador sugere que a área é muito interessante para conservação. A área tem ausência surpreendente de espécies pequenas e de vários outros grupos muito diversificados que são muito comuns em outras partes do Estado, especialmente na bacia do Juruá. A impressão geral para Lepidóptera é que embora não muito diversificada o seu grau de endemismo é muito alto, provavelmente abrigando várias espécies únicas e endêmicas. A área mostra um contraste muito marcante com outras áreas do Estado particularmente pela presença de várias espécies raras globalmente. Do ponto de vista da flora, a bacia do Alto Purus é uma das regiões menos conhecida da Amazônia. O Estado do Acre em todo mostra uma densidade de coletas botânicas menos de 1/100 km², o que equivale a décima parte da densidade no Oriente do Equador. Até novembro de 1996, data da primeira coleta botânica, o Alto Purus no Acre, não foi representado por nem uma amostra botânica, ou seja, estando totalmente desconhecida botanicamente. O Alto Purus constitui o centro da distribuição dos chamados tabocais no Sudeste da Amazônia. Estima-se que estas florestas, são dominadas por bambus arborescentes do gênero Guadua que pode ser reconhecida em imagens de satélite, cobrem aproximadamente 180.000 km² na região. Trata-se de um tipo de vegetação extremamente importante, porém muito pouco conhecida. Apesar do pouco conhecimento da flora regional, alguns fatos indicam que, a área floristicamente falando não é típica – o que a torna ainda mais importante para conservação. Outra característica interessante da flora da área do Chandless é que em comparação com outras florestas de terra firme no Acre, a diversidade e densidade de árvores nas famílias Leguminoseae sensu lato, assim como Euphorbiaceae, Sapotaceae, Myristicaceae, e Lauraceae são relativamente baixas. Em contraste, é relativamente alta a diversidade e densidade de árvores nas famílias Moraceae e Annonaceae, nesta ultima principalmente árvores pequenas. Famílias de ervas relativamente melhor representadas são Marantaceae, Commelinaceae, e Araceae, nesta última muitas espécies terrestres, mas a grande maioria delas estéreis na época. Gêneros com relativamente alta diversidade para uma amostragem preliminar foram Renealmia ( pelo menos 3 spp. Coletadas férteis) Fícus (4+), e Peperomia (4+). As Pteridófitas também foram bastante abundantes e diversas. A castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) não ocorre nesta área assim como a seringueira (Hevea brasiliensis). Além das características que tornam a área muito especial em termos gerais em relação à sua vegetação, várias espécies interessantes foram observadas, com por exemplo:

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• Minquartia guianensis Aublet (“quariquara”), Uma madeira de lei, importante nas indústrias madeireiras na Amazônia Oriental, muito rara no Acre. Sendo apenas duas vezes registradas no Estado.

• Dracontium sp.(“milho de cobra”). No Acre ocorre pelo menos três espécies deste gênero de Araceae terrestre, no entanto a encontrada na região do Chandless é a maior, pois suas inflorecências atingem 2m e as folhas 3m de comprimento.

• Zamia ulei Dammer. Esta Cycadaceae é pequena embora bastante comum nas florestas de terra firme no Acre, principalmente na bacia do Purus, nunca tinham sido registradas em densidades tão altas.

• Lecythis cf. prancei Mori (“castanharana”). Foram encontradas poucas espécies de Lecythidaceae na região, mas estas espécies dominavam muitos trechos de terra firme.

• Guadua weberbaueri (“taboca”). Os bambus arborescentes do sudoeste da Amazônia raramente são encontrados férteis, porque são monocárpicos, tem um ciclo de vida de mais de 20 anos e as populações morrem após frutificar. Foi encontrada uma população em plena flor destas espécies, a mais comum na região.

• Cissus sp. (“cipó de aquecer leite”). A espécie coletada tem frutos grandes, maiores que as uvas comerciais (da mesma família).

• Aristolochia sp. O Acre parece conter mais novidades nesse gênero. Uma espécie nova, A. dalyi, foi publicada em 1998. A espécie encontrada no Alto Purus tem o perianto muito carnoso, verde no centro, mais na periferia cor de vinho com grandes pUPIlas verdes.

• Caryocar sp. (“piquiarana”). A espécie encontrada não é a mais comum na região, C. glabrum.

• Ingá sp.(“ingá tipica”). Uma espécie de mata de baixo, com folíolos muito pequenos para o gênero. Indicada pelos mateiros como uma árvore raramente encontrada com flor.

• Cedrela sp. (“cedro rosa”). Este gênero é pouco comum no Acre, e esta espécie parece ser realmente rara.

Pelos fatos expostos conclui-se que a Gleba 9 Chandless possui os atributos

ideias para criação de uma Unidade de Conservação na categoria Proteção Integral (UPI). Assim, pela Lei Federal 9985 de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), conforme o seu artigo 8o, esta área pode enquadrar-se como, Estação Ecológica, Reserva Biológica ou Parque.

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