pedaços do caminho - uma antologia de passagens religiosas - andré bueno
TRANSCRIPT
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
1/98
1
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
2/98
2
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
3/98
3
Andr
PEDAOS DO CAMINHO
Antologia de passagens religiosas
Rio de Janeiro
Vero 2016
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
4/98
4
Andr [Andr Bueno] Pedaos do Caminho.
Rio de Janeiro, Ebook, 2016.
ISBN: 978-85-65996-35-8
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
5/98
5
ndice
Introduo, 7
Antologia, 13
Mesopotmia,15
Egito, 22
Prsia, 29
ndia, 33
China, 43
Japo, 54Tibete, 59
Gregos e Romanos, 69
Israel, 73
Cristianismo, 76
Islamismo, 83
Yorub, 87
Tupi, 87Referncias, 96
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
6/98
6
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
7/98
7
Introduo
Em chins, a palavra Dao [Tao] significa Caminho, Via, Mtodo. No
, porm, um Caminho qualquer: O Caminhopara uma viso maior e mais
ampla do mundo. Na acepo dos antigos pensadores chineses do sculo -6,
esse Dao constitua uma espcie de especulao filosfica e religiosa sobre as
coisas. dessa condio que extraio a analogia do Caminho; presente em
todos os lugares e culturas, uma via percorre o pensamento humano desde o
tempo que podemos rastrear, por meio de seus textos antigos. a via dodivino, do pensar metafsico, que contempla uma dimenso maior da vida,
tentando explicar o papel da humanidade em meio natureza e a potncias
inteligentes que, muitas vezes, esto alm de sua compreenso.
A construo dessa antologia se deu de modo espontneo, percorrendo
textos diversos para colher imagens do Caminho. No h qualquer tipo de
pretenso finalista aqui, mas to apenas, de ilustrar o sentimento humano de
angstia, dvida, crena e f em algo maior. Mas, dentro da viso imperfeita,
pois que humana, a pretenso a explicar o aspecto transcendental da
existncia acaba sempre ficando incompleta, restrita ao ngulo da qual parte.
No necessariamente equivocada, mas sempre inacabada; pois os pedaos do
Caminhovo levando ao Caminho, que cabe ao estudioso juntar. Zhuangzi
explicava isso em uma de suas parbolas:
O Prncipe Mou recostou-se na mesa e suspirou. Depoisergueu os olhos para os cus e sorrindo disse - "Nuncaouviu falar do sapo na fontezinha? O sapo disse tartarugado Mar Oriental - "Que vida boa a minha! Pulo at aribanceira que cerca a fonte e vou descansar no buraco dealguns tijolos. Nadando, flutuo sobre os sovacos, pondomeu queixo justamente fora d'gua. Mergulhando nalama, enterro meus ps at as curvas e nenhum dos
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
8/98
8
mariscos, caranguejos ou rs que vejo ao meu redor,conseguem fazer o mesmo. Alm disso, morar em talcharco sozinho e possuir o recanto da nascente - ser feliz
como ningum mais pode s-lo. Por que no vem visitar-me?"
- Ora, antes que a tartaruga do Mar Oriental tivessedescansado no cho a perna esquerda, o joelho direito jtinha se enterrado profundamente na lama e ela o retiroudepressa, recuando e pedindo desculpas. Contou depois aosapo muita coisa sobre o mar, dizendo - "Mil li [milhas]no dariam para medir sua largura. nem mil braas daropara medir-lhe a profundidade. Nos dias do Grande Yuhavia nove anos de cheia, em dez: porm isso nadaacrescentava a ele. Nos dias de Tang, havia sete anos deseca, em oito; porm isso no fazia com que suas praiasrecuassem. No ser atingido pelo perpassar do tempo enem sofrer pelo aumento ou pela diminuio d'gua - tal a grande felicidade do Mar Oriental". Ante essa narrao, osapo da fonte ficou profundamente surpreso e sentiu-semuito pequeno, como algum que se tivesse perdido.
Como simpticos sapinhos, ainda pululamos no mesmo lago em que
habitamos. Cantamos para a Lua, saudamos a chuva, abenoamos as luzes
dos vaga-lumes. Mas so as tartarugas velhas, encarquilhadas, com o rosto
marcado pelo tempo, e o casco cheio de cicatrizes que alcanaram aexperincia libertadora de conhecer o mundo. Quem, pois, embarca na
aventura da descoberta do Caminho?
Os pedaos aqui coletados so os mais diversos, e vem desde o passado
bastante remoto. No incio, temos a sabedoria das civilizaes
mesopotmicas, na Epopeia de Gilgamesh e no hino da criao, o Enuma
Elish. Provenientes, talvez, do sculo -20, nascem junto com o povo da
Sumria, dando origem a uma multido de tradies do Oriente Mdio.
Depois, dois Hinos do Egito, e um trecho de um livro de Sabedoria [As
instrues de Merikara] com destaque para o hino de Aton, do sculo -14.
Passamos aos Persas, que no sculo -9 ou -8 se deslumbraram com a
sabedoria de Zaratustra, o primeiro pensador a falar de livre-arbtrio.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
9/98
9
Os indianos nos trouxeram o Rig Veda, em algum momento do sculo -15,
cujos hinos proporcionam suas primeiras elaboraes transcendentais sobrea reencarnao. Mas um hino sobre a criao que nos interessa nele. No
seguir, a magnfica pea do Bhagavad Gita, a Cano do Senhor, no qual
Krishna conversa com Arjuna sobre a Sabedoria e a vida eterna da alma. A
ndia testemunhou tambm a vinda de Buda, no sculo -6, que nos fala da
busca ideal do Sbio. Trazemos ainda um trecho do magnfico Milinda
Panha, o famoso dilogo entre o rei grego Menandro e o sbio Budista
Nagasena um fabuloso encontro intercultural na antiguidade.
Da China, As Memrias da Cultura Liji nos explicam o Cu como
fundamento de tudo. Confcio, do sculo -6, nos fala brevemente sobre
foras espirituais; no texto do Wenzi, Laozi, contemporneo de Confcio,
nos fala da importncia de nos desprendermos e retornarmos a uma
natureza original humana. Zhuangzi [sc. -4], um de seus continuadores,
nos revela gostosamente a prtica desse desprendimento. Ademais, o
pensamento budista chins preservou e difundiu o Lankavatara sutra, um
texto fundador do Chan [em japons, Zen]. Nele, vislumbramos uma
detalhada explicao sobre o que nossa mente. Ali, bem de perto, trazemosas mximas do Xintosmo Japons, um cdigo de vida do Japo pr-bdico.
Do mesmo pas, a maravilhosa experincia do Koan, uma histria curta e
rpida, nos revela a rapidez sem barreiras da mente zen. E no se pode
esquecer o roteiro da boa morte, o Bardo Thodol, do Budismo tibetano.
Embora bastante posterior, ele est aqui, para ser lido e apreciado, posto que
inserido nessa tradio.
Gregos e romanos... No se poderia deix-los de lado. Mas essa antologia
particular. Por isso, dois trechos sobre a questo da divindade: Epicuro e
Aristteles. Sneca, invocado, nos fala brevemente sobre a constncia do
Sbio; Marco Aurlio, o imperador, medita sobre o sentido da vida, e de
como vivenci-la. Seus caminhos poderiam divergir dos outros e
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
10/98
10
paradoxalmente, mais uma razo para estarem aqui, pois todos so pedaos
do Caminho...
A cultura judaica nos brinda com o belssimo Livro da Sabedoria de Salomo
que provavelmente no foi escrito por Salomo, mas quem liga pra isso? A
sabedoria est l, e o autor, modesto, preferiu prestar tributo a um dos
maiores pensadores de sua cultura. Tempos depois, Mateus ou
provavelmente, algum em seu nome escreveu uma das mais belas pginas
da histria humana, o Sermo da Montanha. Dois comentrios sobre o
Sermo da Montanha resumem sua apreciao universal:
Um dos monges do mestre Gasan visitou a universidadeem Tokyo. Quando ele retornou, ele perguntou ao mestrese ele jamais tinha lido a Bblia Crist."No," Gasanreplicou, "Por favor leia algo dela para mim." O mongeabriu a Bblia no Sermo da Montanha em So Mateus, ecomeou a ler. Aps a leitura das palavras de Cristo sobreos lrios no campo, ele parou. Mestre Gasan ficou emsilncio por muito tempo. "Sim," ele finalmente disse,"Quem quer que proferiu estas palavras um seriluminado. O que voc leu para mim a essncia de tudo oque eu tenho estado tentando ensinar a vocs aqui." [KoanZen]
Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, es se salvasse o Sermo da Montanha, nada estariaperdido. [Mahatma Gandhi]
Embora essas duas menes possam ser apcrifas, no vi qualquer um que as
negasse a tradio de sua repetio as tornou verdades. Essa belssima
passagem completada por aforismos do Evangelho de Tom esse sim, um
texto apcrifo de fato mas que considerado por alguns como a fonte
original dos evangelhos. No estou preocupado com isso. A questo que
ele mantm a estrutura oriental de mximas curtas para a reflexo, e nos
apresenta trechos profundamente bonitos.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
11/98
11
Os deuses ficaram para trs, disse Maom [sculo +7], e s h um Deus
verdadeiro. A viso monotesta no admite no Judasmo, Cristianismo e
Islamismo a existncia de outras imagens espirituais e divindades. O Isl,pode-se dizer, conclui esse processo. Trs pequenas passagens [como os
Koan Zen], chamadas Hadiths,completam a apresentao do fragmento do
Alcoro.
Mesmo assim, muitas tradies esto vivas. Como pedaos desse
pensamento transcendente, eles se espalham, se fundem, ou apenas
sobrevivem. Da cultura Yorub, um lindo fragmento, salvo por Pierre
Verger, nos conta uma passagem sobre a criao pelos Orixs. Por fim, os
Tupis nos contam, pela boca do inestimvel antroplogo e indianista
Orlando Villas Boas [+2002], a cerimnia do Kuarup.
Em comparao com outras antologias por mim realizadas anteriormente,
muito mais cientficas e tematicamente definidas, o presente texto parece
solto, desconexo, ajuntando passagens sem um fio condutor definido. Quem
pensar isso est correto. Esse conjunto de textos uma coleo, antes de
tudo, de imagens do Caminho. No tem pretenso maior do que a de
divulgar esses textos, esse saberes. Leiam, apreciem, viagem nos pedaos, econtemplem sua beleza, sua singela sabedoria. To distintos que so, entre si,
no se pretendem indicar qualquer unidade, seno, de que so pedaos de
algo maior.
Vero de 2015
Em meio ao voo das mariposas
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
12/98
12
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
13/98
13
A Antologia
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
14/98
14
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
15/98
15
Mesopotmia
A angstia da Vida na
Epopia de Gilgamesh
Enquanto isso, Utnapishtim, confortavelmente instalado, observava tudo a
distncia e, dentro de seu corao, meditava: "Por que o barco navega por
aqui sem seu mastro e sem equipamento? Por que foram destrudas as
pedras sagradas, e por que o barco no conduzido por seu capito? Aquele
homem que chega no um dos meus; vejo um homem coberto com pele de
animais. Quem este que vem pela praia atrs de Urshanabi, poiscertamente que no um dos meus homens?" Utnapishtim ento olhou para
ele e disse: "Qual o teu nome, tu que chegas vestido de pele de animais,
com as bochechas famintas e o rosto abatido? Aonde vais com pressa? Por
que razo fizeste uma jornada to longa, atravessando mares cuja passagem
to difcil? Dize-me a razo de tua vinda."
Ele respondeu: "Gilgamesh meu nome. Sou de Uruk, da casa de Anu."
Utnapishtim ento disse a ele: "Se s Gilgamesh, por que tens as faces to
encovadas e o rosto to abatido? Por que trazes o desespero em teu corao,
e por que teu rosto lembra o de algum que chega de uma longa jornada?
Sim, por que tua face est queimada pelo calor e pelo frio, e por que chegas
aqui vagando pelos pastos procura do vento?"
Gilgamesh disse-lhe: "E por que meu rosto no haveria de estar encovado e
abatido? Trago o desespero em meu corao; meu rosto lembra o de algum
que chega de uma longa jornada e foi queimado pelo calor e pelo frio. Por
que no haveria de vagar pelos pastos procura do vento? Meu amigo, meuirmo mais novo, que capturou e matou o Touro do Cu e derrubou
Humbaba na floresta de cedro, meu amigo, algum que me era carssimo e
que enfrentou muitos perigos ao meu lado, Enkidu, meu irmo, a quem
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
16/98
16
tanto amava, a morte o alcanou. Chorei por ele durante sete dias e sete
noites, at os vermes tomarem-lhe o corpo. Por causa do meu irmo, tenho
medo da morte; por causa do meu irmo, vagueio pelas matas e peloscampos. Seu destino pesa sobre mim. Como posso descansar, como posso
ficar em paz? Ele virou p e tambm eu vou morrer e ser enterrado para
sempre." Gilgamesh tornou a dizer, falando a Utnapishtim: "Foi para ver
Utnapishtim, a quem chamamos o Longnquo, que fiz esta jornada. Por isso
vagueei pelo mundo, atravessei tantas cordilheiras perigosas, cruzei os mares
e me esfalfei viajando; minhas juntas doem e h muito que j no sei o que
uma doce noite de sono. Minhas roupas se esfarraparam antes de chegar
c asa de Siduri. Matei o urso e a hiena, o leo e a pantera, o veado e o cabrito
montes, o tigre e todos os tipos de caa, e tambm as pequenas criaturas dos
pastos. Comi sua carne e vesti suas peles; e foi assim que cheguei ao porto
da jovem fabricante de vinho, que fechou contra mim seu porto de piche e
betume. Mas recebi dela instrues sobre a jornada e cheguei ento at
Urshanabi, o barqueiro, com quem atravessei as guas da morte.
Oh, pai Utnapishtim, tu que te juntaste assembleia dos deuses, desejo
fazer-te algumas perguntas sobre os vivos e os mortos: como encontrar a
vida que estou buscando?"
Utnapishtim disse: "No existe permanncia. Acaso construmos uma c asa
para que fique de p para sempre, ou selamos um contrato para que valha
por toda a eternidade? Acaso os irmos que dividem uma herana esperam
mant-la eternamente, ou o perodo de cheia do rio dura para sempre?
Somente a ninfa da liblula despe-se da larva e v o sol em toda a sua glria.
Desde os dias antigos, no existe permanncia. Como so parecidos os
adormecidos e os mortos, eles so como um retrato da morte. O que existe
entre o servo e o senhor depois de ambos terem cumprido seus destinos?
Quando os Anunnaki, os juzes do mundo inferior, se renem com
Mammetum, a me dos destinos, juntos eles decidem a sorte dos homens.
Eles distribuem a vida e a morte, mas o dia da morte eles no revelam."
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
17/98
17
A criao do Mundo no
Enum a Elish
Quando no havia firmamento, nem terra, alturas, profundezas ou sequernomes,
Quando o Apsu estava sozinho,
Ele, as guas doces, o iniciador da criao, e Tiamat, as guas salgadas, e
tero do universo, quando no existiam os deuses....
Quando as guas doces e as salgadas estavam juntas, misturadas,
Os juncos no estavam tranados, ou galhos sujavam as guas,
quando os deuses no tinham nome, natureza ou futuro, ento a partir de
Apsu e Tiamat, nas guas dele e dela, foram criados os deuses, e para dentro
das guas precipitou-se a terra [lama],
Lahmu e Lahumu,
eles foram ento chamados; nem bem velhos, nem bem crescidos [eles eram]
quando Anshar e Kishar os dominou,
e as linhas do cu e da terra se expandiram para onde os horizontes se
encontram para separar o que era nuvem do que era terra.
Dias seguiram outros dias, anos seguiram outros anos,At Anu, o firmamento vazio, herdeiro e conquistador,
primognito de seu pai, imagem de sua prpria natureza,
fez nascer Nudimud-Ea,
intelecto, sabedoria, maiores do que o horizonte dos cus,
o mais forte dentre seus pares.
Discrdia rompeu entre os deuses, apesar de serem irmos, e a brigar eles
comearam na barriga de Tiamat, fazendo o cu tremer, e se mexer como
numa dana frentica, de tal forma que Apsu no pode silenciar o clamor
dos jovens deuses, fazer cessar tal mal comportamento, altaneiro e
orgulhoso.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
18/98
18
Tiamat, ainda quieta se quedava, quando Apsu, o pai de todos os deuses,
chamou por seu conselheiro:
- Caro conselheiro, vem comigo at Tiamat.Eles assim o fizeram, e em frente de Tiamat eles se sentaram, falando sobre
os jovens deuses, seus filhos primognitos, sendo que disse Apsu:
- Os modos deles me revoltam, dia e noite, sem cessar, sofremos. Minha
vontade destru-los, todos eles, para que possamos ter paz e dormir
novamente.
Quando Tiamat isto escutou, ela se sentiu atingida, e se retorceu, em
solitria desolao, o corao cheio de paixo mantida em segredo. Disse
Tiamat:
- Por que devemos destruir os filhos que fizemos? Se os modos deles so o
problema, esperemos um pouco mais.
Ento Mumu aconselhou Apsu, e ele falou com maldade:
- Pai, destrua-os todos numa rebelio de monta, e teremos paz durante odia, e noite, todos poderemos dormir.
Quando Apsu ouviu que os dados haviam sido lanados contra seus filhos e
filhas, sua face inflamou-se com o prazer do mal; mas a Mummu ele
abraou, pendurou-se ao seu pescoo, colocou-o nos seus joelhos e o beijou.
Esta deciso chegou ao conhecimento dos deuses mais jovens, filhos e filhas
de Tiamat e Apsu. Confuso instalou-se, e depois, um grande silncio, pois
eles ficaram extremamente perturbados.
O deus que a fonte da sabedoria, a inteligncia brilhante que [tudo]
percebe e planeja, Nudimmud-Ea, examinou a questo, fazendo levantar o
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
19/98
19
tumulto do caos, e contra este o artfice do universo passou a elaborar um
plano.
Ele fez um encanto para as guas, e este encanto caiu sobre o Apsu, que caiu
em sono profundo. As guas doces caram em sono profundo, Mummu foi
ento derrotado, e Apsu, agora tomado por sono eterno, no mais se mexeu.
Ea ento rasgou o manto de glria flamejante e a coroa de Apsu, apossando-
se da aurola do rei. Quando Ea prendeu Apsu, ele o matou, e Mummu, o
conselheiro traioeiro, Ea pegou pelo nariz, aprisionando-o [para sempre].
Ea derrotou seus inimigos, pisando por cima deles. Agora que seu triunfo
estava completo, completamente em paz, ele descansou, em seu palcio
sagrado, Ea adormeceu. Por sobre o abismo, distncia, ele construiu sua
casa e templo, e ali, com toda magnificncia, ele foi viver com sua esposa
Damkina.
Naquela sala, no ponto das decises onde o que deve vir a ser pr-
determinado, ele foi concebido, o mais sagaz, aquele que veio do poder mais
absoluto em ao.
No abismo profundo ele foi concebido, Marduk foi concebido no corao
do apsu, Marduk foi criado no corao do apsu sagrado. Ea seu pai e
Damkina a ele deu luz, pai e me; ele foi amamentado pelas deusas, suas
amas dotaram-no com grande poder.
O corpo de Marduk era lindo; quando erguia seus olhos, luzes dele
irradiavam, seu passo era majestoso, ele foi um lder desde seu primeiro
momento.
Quando Ea, seu pai, viu seu filho, ele se alegrou, ele ficou radiante e cheio de
felicidade, pois como era perfeito o menino! O grande artfice multiplicou os
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
20/98
20
dons divinos do menino, para ser o primeiro dentre os primeiros, dentre
todos, o de maior estatura..
Os membros de Marduk eram imaculados, mostrando um mistrio
amedrontador alm da compreenso, com olhos de viso sem limite que
valiam por quatro, com ouvidos de audio to poderosos tambm que
equivaliam a quatro, quando seus lbios se moviam, uma lngua de fogo se
projetava. Membros fortes, titnicos, de p, ele ultrapassava em altura os
outros deuses, to forte ele era, pois vestia a glria de dez [deuses], sendo
que raios se projetavam ao redor de Marduk.
- Meu filho, meu filho, filho do sol, e do sol do firmamento!
A criao do Templo no Enuma Elish
L onde todos iremos dormir uma estao do ano, no Grande Festival,
quando todos reunidos em Assemblia, iremos construir altares para ti,
iremos construir Parakku, o Santurio.
Quando Marduk escutou [tais palavras] sua face brilhou como a luz do dia:
- A Grande Torre de Babel deve ser construda de acordo com os desejos de
todos vocs, os tijolos devero ser colocados em seus moldes e chama-la-
emos de Parakku, o Santurio.
Os deuses Anunaki pegaram suas ferramentas, e levaram um ano inteirinho
para moldar os tijolos [necessrios]; no segundo ano, eles levantaram o
Esagila, o templo da terra, o smbolo do cu infinito.
Dentro, havia quartos para Marduk e Enlil e Ea. Com toda majestade,
Marduk tomou seu lugar na presena deles todos, onde o topo do zigurate
erguia-se por sobre a base.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
21/98
21
Quando a construo do templo terminou, os Anunaki construram capelas
para si; ento todos se reuniram, e Marduk ofereceu a todos um banquete.
- Esta Babilnia, a cidade querida dos deuses, teu amado lar! Em
comprimento e amplido, ela nossa, ns a possumos, alegrem-se com ela,
pois ela sua!
Quando todos os deuses se sentaram, houve vinho, festa e risos, e depois do
banquete no lindo Esagila eles executaram a liturgia, os ritos sagrados, a
partir dos quais o universo recebe sua estrutura, onde o oculto trazido s
claras, [pois ] atravs do universo que aos deuses so atribudas as suas
estaes.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
22/98
22
Egito
Ensinamentos de Merikara
Sucedem-se as geraes humanas e o Senhor ocultou-se.
Olha o ser interno
e no despreza a mo do autor.
Honra o Senhor em seus caminhos, seja feito de pedras preciosas
ou de cobre.
Como a onda sucede onda,no h rio que se possa esconder.
A alma bavai para o seu prprio lugar.
Cuida da tua morada no Ocidente,
do teu aposento em um cemitrio, mediante a retido
e o exerccio da justia.
Nisso pode confiar o corao do homem.
A virtude do reto corao
agradvel ao Senhor,
mais do que o boi
de quem comete a injustia.
Procede segundo a vontade do Senhor, que h de proceder,
pensando em ti tambm.
Isso tem o valor de oferta solene, de abundante oferta no altar
e de inscrio que perpetua o teu nome.
O Senhor sabe quem age em seu favor. Esto bem providos os homens,
que parecem um rebanho do Senhor.
Ele fez a terra e o cu para os homens. Repetiu o monstro das guas.Fez a respirao
para que as narinas se movam. Os homens so a imagem
da pessoa do Senhor,
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
23/98
23
que por eles ergue-se no cu. Fez para eles a relva,
o gado, os pssaros, os peixes.
Matou os inimigos do homem, aniquilou os seus filhos,que desejavam rebelar-se.
Fez a luz, percorre os cus, navega nos cus para v-los.
Construiu um santurio. Se os homens choram,
o Senhor ouve-lhes o pranto.
Gerou os reis, os soberanos para a proteo dos fracos.
Deu-lhes a arma da magia,
a fim de evitarem o ataque da sorte.
Como o Senhor aniquilou os criminosos, durante a noite, durante o dia?
O Senhor castiga
como um pai castiga um filho por causa do irmo.
Sabe o Senhor o nome de cada um.
Hino de A khenaton
Irradias beleza no horizonte,
Aton, primeiro ser celeste vivo!
Levas beleza a toda parte, Quando te levantas.s belo, grande, reluzente!
Brilhas por cima de todas as naes!
Teus raios se estendem sobre todas as terras, Sobre a tua criao inteira!
Ests distante,
Mas os teus raios se estendem sobre a terra inteira!
Quando te deitas no ocidente,
A terra escurece
Como se estivesse morta
E todos repousam nas camas,
A cabea envolta em um pano.
Nenhum v o outro.
Se lhes tirassem o travesseiro, Eles no sentiriam.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
24/98
24
Todos os lees saem da caverna,
Todas as serpentes mordem,
A terra est silenciosa.Tu, seu criador, escondeste-te no horizonte.
A terra ilumina-se, quando surges na manh.
Quando brilhas, Aton,
Desaparecem as trevas.
Quando soltas os teus raios,
As Duas Terras enchem-se de alegria.
Todos erguem-se do leito,
Ficam de p,
Lavam-se, vestem-se, erguem os braos, Adoram-te.
Todos vo para o trabalho, O gado alegra-se no pasto,
As rvores, a relva, reverdecem,
Os pssaros saem dos ninhos,
Louvando-te no adejo das asas.
Pulam todos os cordeiros,
As aves, todas as criaturas de asas,
Vivem por que tu apareces no horizonte.
Ento os barcos sobem e descem o rio,Abrem-se todos os caminhos,
Saltam os peixes na gua do rio
E os teus raios descem s profundezas do mar.
Fazes nascer o fruto das entranhas da mulher.
Sustentas vivo o filho no seio materno
E, acalentando-o, para que no chore,
Tu lhe ds o esprito,
Quando ele sai do ventre materno,
No dia em que nasce.
Tu lhe abres a boca
E lhe ds o necessrio sua existncia.
Quando o pintinho pia na casca do ovo,
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
25/98
25
Tu lhe ds o ar para viver,
A fora para quebrar a casca,
De onde o pinto sai piando,A correr pelo cho.
So muitas as tuas aes!
Criaste a terra segundo o teu desejo!
Tu somente criaste a terra,
Com os homens,
Os animais grandes e pequenos,
Todos os que andam com os ps,
Todos os que voam com as asas
As Terras da Sria, da Nbia, do Egito,
Tu criaste-as todas em seu lugar,
Tudo quanto de que elas necessitam.
Todos ns recebemos o alimento
Com nossos dias contados,
Falam-se diversos idiomas
E os homens tm pele de cor diferente,
Sim, tu crias os povos diversos.
Criaste o Nilo, no mundo inferior,Fizeste-o fluir, segundo tua vontade,
Para os homens se alimentarem,
Tu, Senhor de todos ns!
Tu criaste as terras longnquas,
Colocaste um Nilo na altura
Para tambm irrigar essas terras,
Um Nilo de guas altas
Como as ondas do mar,
Para inundar os seus campos.
Senhor da Eternidade,
So timas as tuas intenes!
O Nilo na altura,
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
26/98
26
Ofereceste-o terra das montanhas,
aos animais que correm com as suas patas,
em todas as terras montanhosas.Mas, o Nilo no mundo inferior,
Ofereceste-o ao Egito.
Criaste as estaes
Para o renascimento das tuas obras,
O inverno para refresc-las,
O vero para que elas gozem de ti.
Criaste o cu distante
Para subires nele e de l veres tudo,
Tu somente,
Quando surges na forma de sol nascente,
Subindo radioso, brilhante,
Afastando-te, voltando.
Tiraste de ti mesmo milhes de formas
Cidades, aldeias, prados, estradas, e o rio,
Todos te veem como o sol de cada dia.
Ests em meu corao,
Somente eu te conheo,Eu, teu filho Akhenaton!
Tu lhe revelaste os teus desejos, a tua fora.
Tens a terra e os homens em tuas mos.
Se te levantas, eles vivem.
Se te deitas, eles morrem.
as a durao da nossa existncia
E vivemos somente por ti.
Todos Os olhos contemplam a tua beleza,
At quando te deitas.
Cessa todo trabalho, quando te deitas,
Desde que fizeste a terra,
Tu criaste os homens,
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
27/98
27
Para o teu filho nascido de ti mesmo,
Para a sua real esposa bem amada,
Que vive e reina para sempre,Eternamente.
Hino Ptah
O deus do mar
Salve a ti!
Tu s venervel, tu s antigo,
Tatenen, pai dos deuses,
deus primognito da primeira vez,
modelador dos homens, que fez os deuses,
que inaugurou a existncia como deus primordial,
que fez o cu como criao do seu corao,
que se ergueu no que sustm Chu,
que fundou a terra pela sua prpria obra,
que rodeia o mundo como Nun e o Muito Verde,
que fez a Duat e faz repousar os cadveres
e a faz circular R para que eles sejam revigorados.
Ele regente da eternidade,
vida, sade e fora,
senhor da perenidade e senhor da vida.
Ele faz respirar as gargantas,
d o ar a todos os narizes,
faz viver todo o homem pelos seus alimentos.
Duradouro de vida, Chai e Renenutet acompanham-no.
Vive-se daquilo que sai da sua boca.
Ele faz oferendas para todos os deuses
na sua manifestao de Nun, o venervel,
senhor da eternidade e da perenidade.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
28/98
28
Os sopros de vida para todos os rostos acompanham-no.
Ele o guia do rei para o seu assento venervel
no seu nome de rei das Duas Terras.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
29/98
29
Prsia
Hino Ahura M azda
Com as mos estendidas e humildemente oro ti meu Deus, que atravs do
teu Esprito Santo concede a mim toda honestidade da ao e da boa mente,
para que atravs disso eu possa trazer alegria alma da Criao.
Ahura Mazda, eu em verdade me aproximo de ti, atravs da mente pura e do
corao iluminado. , Criador, conceda-me nos dois mundos, corporal eespiritual, a recompensa que s pode ser alcanada atravs da verdade e da
justia para que todos os fiis sejam felizes superando a rivalidade dos
inimigos.
Mazda, Asha (Esprito da Verdade), Vohuman (Esprito do bom
pensamento) vou agora cantar msicas que ainda no foram ouvidas por
ningum. Espero que atravs de vs, e seguindo sempre vossa vontade,
possamos aumentar nossa f e o nosso auto-sacrficio. ,
Deus Todo-Poderoso, por favor, aceite os nossos pedidos, venha ao nosso
encontro e nos conceda a tua felicidade.
Vou levar minha alma para o cu por meio do pensamento puro, e estar
bem ciente das bnos que o Senhor Todo-Poderoso deixar cair sobre os
que praticam boas obras, vou ensinar o povo a lutar pela verdade e seguir a
justia.
O smbolo da honestidade e pureza, quando verei a ti? smbolo do bompensamento, devo ser capaz de reconhecer-lo atravs do conhecimento da
celestial verdade? Seria, eu, capaz de falar sobre o Todo- poderoso,
obedecendo a voz da conscincia? Com a proclamao dessas palavras
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
30/98
30
sagradas ns devemos fazer com que os maus se voltem amorosamente em
direo a tua vontade, meu Deus.
Meu Deus, venha a ns atravs do bom pensamento (vohuman) com o
duradouro presente do Esprito da Verdade (Asha) concedido nas tuas
palavras sublimes. Conceda Zaratustra e a todos ns Tua graciosa ajuda,
Senhor, de modo que possamos Superar o mau dos errantes.
Concedei-nos Esprito da Verdade, o fruto da Boa Mente. Conceda-me,
Esprito da Piedade, a mim e aos que nos apoiam (e a Vishtaspa), nosso
desejo para efetividade. E conceda, Mazda soberano Senhor, que ao recitar
tuas palavras sagradas de revelao eu possa fazer tua feliz mensagem ser
compreendida.
A ti, Deus, de acordo com o Espirito da Verdade (Asha) peo para mim,
para Frashoshta (amigo e discpulo de Zaratustra) e para todos os que
buscam o bem o dom da Boa Mente.
E abenoados com essas generosidades, ns que temos sempre oferecido
canes de louvor a Ti, no queremos magoa-lo, Mazda, ou mesmo vocs Asha (o Esprito da verdade) e o Esprito da Melhor Mente. Vocs,
que so os mais prestativos em promover o Domnio da Bem-aventurana.
Aqueles que tu conheces como totalmente dignos por causa de sua
Honestidade e da Boa Mente, para estes, Tu faz cumprir a realizao de seus
desejo, Ahura Mazda, Pois eu sei bem que as palavras destas oraes se
direcionadas aos corretos fins, tero seus felizes efeitos.
A doutrina de Ahura M azda
Hei de cantar as bondades de Ahura Mazda, falarei com gosto da Boa Mente
e com reverncia sobre a vida dos retos. E, assim fazendo, mencionarei os
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
31/98
31
dois conceitos que preocupam os sbios.
Oua com seus ouvidos aos melhores conselhos reflita sobre eles comjulgamento iluminado, deixe que cada um possa escolher seus credos. Com a
mesma liberdade de escolha que todos devem ter em grandes eventos,
voc, acorde para estes meus anunciamentos.
No comeo havia dois princpios gmeos espontaneamente ativos. Esses
eram Spenta Maynu(o Bem) e Angra Maynu (o mal) em pensamento, em
palavra e ao. Entre esses dois, deixe Mazda escolher o correto. Seja bom,
no neutro!
E quando estas duas mentalidades Gmeas vieram juntas elas primeiramente
estabeleceram a Vida e a Recusa da Vida; assim deve ser at o mundo durar.
A m-aventurana a consequncia de seguir o mal, e o estado da Melhor
Conscincia a recompensa dos justos.
Desses Espritos Gmeos (em pensamento, palavra e ao), Angra Maynu
escolhe fazer o pior, e o Esprito da Bondade (Spenta Maynu), se veste dos
cus eternos, escolhendo a Verdade e a Justia. E ento, qual destes iriamagradar Ahura Mazda com boas aes, realizadas com f na Verdade?
Entre esses dois Espritos os adoradores das falsas divindades no conseguem
discernir o certo, eles a enganao veio na hora da deciso, e eles assim
escolheram a Pior Mente, o medo e o dio, que a causa de todas as
maldades, de modo a destruir a vida mental das pessoas.
Aquele que for dotado de fora espiritual, bom pensamento, verdade e
pureza, Dever receber firmeza e estabilidade de corpo de Armaiti (Amor,
F, Serenidade). Essa pessoa ser, sem dvida, bem sucedida no caminho da
vida, e deve ser considerada, meu Senhor, como bom teu servo.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
32/98
32
Quando os pecadores recebem penas de seus pecados, Ahura Mazda, ento
eles vo perceber Teu poder atravs da Boa mente (Vohuman). Eles vo
aprender esta verdade a respeito de como eles devem se esforar para jogarfora a falsidade e a mentira, ajudando, assim a vitria da verdade e da
pureza.
Que sejamos servos sinceros Ti como aqueles que fazem o mundo
renovado , Senhor da Vida e da Criao. Que possamos desfrutar de tua
ajuda atravs da Verdade (ou Asha), de modo que sempre que renunciemos
nossas dvidas, nossos coraes e pensamentos possam estar apontados para
ti.
A prtica do bem de acordo com a Verdade mesmo quando esta traz
sofrimento para o praticante. A prtica do mal destrutiva mesmo ao
produzir um proveito aparente. Prosperidade e alegria radiante so fruto de
se entender isso.
Se vs puderem perceber e compreender as leis da felicidade e da dor
ordenado por Mazda, e se vocs aprenderem que os mentirosos e mpios
tero uma punio longa, mas os piedosos e justos gozaro de duradouraprosperidade espiritual, ento vocs devem atingir a satisfao da real
salvao, graas este princpio.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
33/98
33
ndia
A Cano da Criao no
Rig Veda
Ento no existia o no-existente, nem o existente - no havia
reino do ar, nem cu alm dele.
o que encobria, e onde? E o que dava abrigo? Existia gua
ali, urra profundidade insondvel de gua?
No existia ento a morte, nem coisa alguma imortal - nohavia sinal, o divisor do dia e da noite.
Aquela coisa nica, sem alento, respirou por sua prpria natureza
- a no ser ela, no existia coisa alguma.
Existia treva; de comeo oculto na treva, esse Tudo era caos
indiscriminado.
E tudo quanto existia ento era vazio e sem forma - pelo
grande poder do calor nasceu aquela unidade.
Da em diante surgiu o desejo no incio, Desejo, a semente e
germes primevos do esprito.
Sbios que buscavam com o pensamento e seus coraes
descobriram o parentesco do existente no no-existente.
Transversalmente sua linha de separao se estendeu - o que
estava acima, ento, e abaixo?
Existiam reprodutores, foras poderosas,
ao livre aqui e energia acima, alm.
Quem realmente sabe e quem pode declarar, de onde nasceu
e de onde veio essa criao?
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
34/98
34
Os deuses vieram depois da produo deste mundo. Quem sabe,
portanto, de onde ele veio pela primeira vez?
Ele, a primeira origem desta criao, tenha formado a mesma
toda ou no a tenha formado,
Cujo olho controla este mundo no cu mais alto, ele realmente
sabe, ou talvez no saiba.
No Nos Devemos Lamentar Pelo Imperecvel noBhagavad Gita
O Senhor Bendito disse:
Tu lamentas aqueles que no deverias lamentar, e no entanto
dizes palavras sobre a sabedoria. Os homens sbios no se lamentam
pelos mortos ou pelos vivos.
Nunca houve uma poca em que eu no existisse, ou tu, ou esses
senhores dos homens, nem tampouco vir uma poca no futuro em que
deixaremos de existir.
Assim como a alma vem ter a este corpo atravs da infncia, mocidade e
madureza, do mesmo modo ela toma outro corpo. O sbio
no fica perplexo com isso.Os contatos com seus objetos, filho de Kunti, do origem ao
calor e frio, prazer e dor.
Eles vm e vo e no duram para sempre, aprendem a resistir,
Arjuna.
homem que no se perturba com isso, Chefe de homens, que
continua o mesmo na dor e no prazer e sbio, torna se capacitado
para a vida eterna.
Do no-existente no h vir-a-ser; do existente no h deixar de ser.
A concluso para os dois casos j foi percebida pelos que buscam
a verdade.
Sabes tu que aquilo pelo qual tudo se acha impregnado
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
35/98
35
indestrutvel. Desse ser imutvel ningum pode causar a destruio.
Diz-se que esses corpos da alma eterna que indestrutvel e
incompreensvel chegam a um fim. Por isso, luta, Arjuna.Aquele que pensa que isto mata, e aquilo morto, deixa de
perceber a verdade, pois nem se mata nem se morto.
Ele nunca nasce, nem tampouco morre em qualquer ocasio, nem
ainda tendo passado a ser uma vez, cessa de ser. Ele no nasce,
eterno, permanente e primevo. Ele no morto quando o corpo
abatido.
Quem sabe ser ele indestrutvel e eterno, incriado e imutvel, como
poder abater algum, Arjuna, ou fazer algum abater outrem?
Assim como uma pessoa deita fora roupas usadas e pe outras
novas, a alma deita fora corpos usados e toma outros que so novos.
As armas no ferem esse eu, o fogo no o queima, as guas no
o molham, nem o vento o faz secar.
Ele indivisvel, Ele no pode ser queimado, nem tampouco molhado ou
secado. Ele eterno, presente em tudo, imutvel e imvel.
Ele o mesmo para sempre.
Diz-se que imanifesto, inimaginvel e imutvel. Portanto, conhecendo-o
como tal, tu no deves lamentar.
No Nos Devemo s Lamentar Pelo Perecvel no
Bhagavad Gita
Mesmo que tu penses que o eu nasce e morre perpetuamente, ainda assim,
Poderoso, no deves lamentar.
Pois para quem nasce, a morte certa e certo o nascimento para
quem morreu. Pelo que inevitvel, portanto, no te deves lamentar.
Os seres so imanifestos em seus incios, manifestos no meio e
novamente imanifestos em seus fins. Arjuna, que existe nisto para
lamentar?
H quem O veja como uma maravilha, outro fala d'Ele como uma
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
36/98
36
maravilha, outro ouve falar d'Ele como uma maravilha, e mesmo depois de
ouvir, ningum O conheceu.
O morador no corpo de todos, Arjuna, eterno e jamais podeser morto; portanto, no te deves lamentar por criatura alguma.
As Caractersticas do Sbio Perfeito noBha gavad Gita
Disse Arjuna:
Qual a descrio do homem que possui essa sabedoria firmemente
fundada, cujo ser firme em esprito, Krishna? Como fala
o homem de inteligncia estabelecida, como se senta, como anda?
O Senhor Bendito disse:
Quando um homem pe de lado todos os desejos de sua mente,
Arjuna, e quando seu esprito est contente em si prprio, ento se chama
estvel em inteligncia.
Aquele cuja mente no se perturba em meio s tristezas e est
livre do desejo ansioso entre prazeres, aquele de quem a paixo, medo
e raiva se afastaram, a este se chama um sbio de inteligncia estabelecida.
Aquele que no tem afeio em qualquer lado, que no se rejubila ou detesta
ao ter o bem ou o mal, tem uma inteligncia firmemente estabelecida nasabedoria.
Aquele que retira os sentidos dos objetos do sentido em todos os
lados, assim como uma tartaruga recolhe seus membros ao casco, tem
uma inteligncia firmemente estabelecida na sabedoria.
Os objetos do sentido se afastam da alma corporificada que se
abstm de alimentar-se deles, mas o gosto por eles continua. At
mesmo o gosto se afasta quando o Supremo visto.
Embora um homem possa esforar-se pela perfeio e mostrar-se
dono de discernimento, Filho de Kunti, seus sentidos impetuosos
arrastaro sua mente fora.
Tendo posto todos os sentidos sob controle, ele deve permanecer
firme no intento Yoga em Mim, pois aquele cujos sentidos se acham
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
37/98
37
sob controle teia uma inteligncia firmemente estabelecida.
Quando, em sua mente, um homem presta ateno aos objetos do
sentido, produz-se sua ligao aos mesmos.Dessa ligao surge o desejo, e do desejo vem a raiva.
Da raiva nasce a confuso, e desta a perda de memria; dessa
perda de memria vem a destruio da inteligncia e desta ele perece.
Um homem de mente disciplinada, no entanto, que se move entre
os objetos de sentido com os sentidos sob controle e livre de ligao
e averso, atinge a pureza de esprito.
E nessa pureza de esprito produz-se para ele um fim de toda
tristeza; a inteligncia de um homem de esprito puro assim logo se
estabelece na paz do eu.
No existe inteligncia para os incontrolados, nem tampouco para
os incontrolados existe o poder de concentrao, enquanto para aquele
que no tem concentrao no h paz, e como pode haver felicidade
para quem no tem paz?
Quando a mente persegue os sentidos nmades, leva consigo a
compreenso, assim como o vento impele um navio sobre as guas.
Aquele cujos sentidos estejam retirados de seus objetos, portanto,
Poderoso, tem sua inteligncia firmemente estabelecida.
O que noite para todos os seres o momento de despertar para
a alma disciplinada, e o que momento de despertar para todos os
seres a noite para o sbio que v.
Aquele em quem todos os desejos entram como guas no mar e
que, embora sendo sempre enchido, est sempre em movimento, atinge a
paz e no Aquele que se abraa a seus desejos.
Aquele que abandona todos os desejos e age livremente da saudade ou
desejo, sem qualquer sentido de propriedade egosta ou egosmo, atinge a
paz.
Esse o estado divino, Arjuna, onde tendo chegado no h
mais confuso e fixo nesse estado, na hora da morte, pode-se alcanar a
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
38/98
38
ventura de Deus.
A busca ideal no Budismo Indiano no
M ojjhima N ikaya
Quando estais reunidos, monges, de duas coisas uma podeis fazer: seja
falar do dhamma, ou guardar o silncio nobre. Estas, monges, so as duas
buscas: a busca nobre e a busca no-nobre. Em que consiste a busca no-
nobre? Tomai o caso de um homem que, sujeito ao nascimento, devido ao
eu, busca o que igualmente sujeito ao nascimento: uma mulher e filhos,
escravos de ambos os sexos, ovelhas, cabras, galos e porcos, elefantes, gado,
cavalos e gua, ouro e prata; e que, sujeito velhice, ao declnio, morte,
dor, impureza, sempre devido ao eu, busca o que est igualmente sujeito a
estes estados [enumerao como esta acima, exceto o ouro e a prata que so
omitidos dos casos de declnio, de morte, e de dor]. Eis a a busca no-
nobre. E qual, , ento, a busca nobre? Neste caso um homem sujeito ao
nascimento devido ao eu, mas tendo percebido o perigo no que igualmente
sujeito ao nascimento, busca o no-nascido, a mais absoluta segurana
contra a escravido, o nirvana. Um homem, sujeito velhice devido ao
eu...busca o que no envelhece, a mais absoluta segurana contra a
escravido, o nirvana. Um homem sujeito, dor devido ao eu... busca o queno conhece a dor, a mais absoluta segurana contra a escravido, o nirvana.
Um homem sujeito impureza devido ao eu, tendo visto o perigo no que
igualmente sujeito impureza, busca imaculado, a mais absoluta
segurana contra a escravido, o nirvana. Eis a a busca nobre.
Eu tambm, monges, antes do meu total despertar, quando era ainda
bodhisatta, no totalmente desperto, e pelo fato de que estava sujeito ao
nascimento, devido ao eu, buscava o que estava igualmente sujeito ao
nascimento, etc. Veio-me esta ideia: Por que, sujeito ao nascimento devido
ao eu, busco o que igualmente sujeito ao nascimento?.. etc. Se [sendo]
sujeito ao nascimento devido ao eu, tendo percebido o perigo no que
igualmente sujeito ao nascimento, buscasse o no nascido, a segurana
absoluta contra a escravido, o nirvana; E se, sujeito velhice, morte,
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
39/98
39
dor, impureza devido ao eu, tendo percebido o perigo no que est
igualmente sujeito a estes estados, eu buscasse o que sem velhice, sem
morte, sem dor, sem mcula, a segurana absoluta contra a escravido, onirvana?
Ento abandonei meu lar para viver sem lar, em busca do que bom,
buscando a incomparvel vereda da paz. Eu me dirigi primeiro para junto de
Alra Klma, depois para Uddaka Rmaputta; mas do dhamma e da
disciplina destes dois [mestres] compreendi o seguinte: este dhamma no
conduz indiferena, impassibilidade, cessao, tranquilidade, ao
conhecimento superior, ao despertar, ao nirvana, mas somente com Alra,
at o plano de aniquilamento do eu; com Uddaka, at o plano de nem
percepo nem no percepo. Ento, buscando o que bom, buscando a
incomparvel vereda da paz, e percorrendo a p o Magadha, terminei por
chegar a Uruvel, a Povoao do Campo. Ali eu vi uma deliciosa extenso de
terreno plano, um bosque encantador, um rio que corria com guas bem
claras; no muito longe havia uma aldeia onde era possvel viver. Pensei: a
um jovem que est resolvido a fazer esforos, que mais necessitaria para seus
esforos? Sentei-me, pois, ali, achando o local conveniente para meus
esforos. Ento, monges, sujeito ao nascimento devido ao eu, tendopercebido o perigo no que est igualmente sujeito ao nascimento, e
procurando o no-nascido, a segurana absoluta contra a escravido, o
nirvana, encontrei meu caminho at o no nascido, at a segurana absoluta
contra a escravido, o nirvana... procurando o que no envelhece... o que
no morre... o que sem dor... encontrei meu caminho at o que no
conhece nem velhice, nem morte, nem dor. Ento sujeito impureza devido
ao eu, tenho percebido o perigo no que est igualmente sujeito impureza,
buscando o imaculado, a segurana absoluta contra a escravido, o nirvana,
consegui o imaculado, a segurana absoluta contra a escravido, o nirvana.
Conhecimento e viso surgiram em mim: inabalvel minha liberdade, este
meu ltimo nascimento, no mais existe novo porvir.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
40/98
40
Com o atingir a iluminao
, no M ojjhima N ikaya
Prncipe, existem cinco fatores de esforo. Quais so? Eis um religioso de fno Despertar do Descobridor da Verdade; ele pensa: "Em verdade, este
senhor um Perfeito, um totalmente Desperto, dotado de saber e da boa
conduta, caminhando no bem, conhecendo os mundos, incomparvel,
condutor dos homens que devem ser domados, mestre dos devas e dos
homens, o Desperto, o Senhor". O religioso sem doenas, sem
indisposies; dotado de uma boa digesto que no fria nem muito
aquecida, mas mdia, favorvel aos esforos. Ele no nem velhaco nem
enganador, mostra-se tal como verdadeiramente a seu mestre ou a um
companheiro inteligente no caminhar com Brahma. Segue seu caminho
empregando energia para afastar os maus estados e para estabelecer bons;
fiel, poderoso no esforo, perseverante na busca dos estados que so bons.
Chega a ser sbio, dotado de uma sabedoria que nobre, do discernimento
no que concerne origem e ao trmino, e isto leva destruio completa de
todo o mal. Tais so, prncipe, os cinco fatores do esforo. Dotado destes
cinco fatores do esforo, o religioso que toma o Descobridor da Verdade por
guia, que compreendeu pelo seu saber superior este fim supremo do
Caminhar com Brahma, para o qual os jovens tm razo de abandonar o lare de se tomarem sem lar, este religioso, afirmo, pode caminhar para o seu
objetivo.
A Sabedoria noM ilinda Panha
Nagasena, quais so as caractersticas da sabedoria?
A ciso, qual j me referi, e a iluminao.
Como?
A sabedoria dissipa as trevas da ignorncia, produz a clareza da cincia,
faz brilhar a luz do conhecimento, revela as santas verdades. Por ela o asceta
adquire o perfeito entendimento da impermanncia, da dor e da
impersonalidade.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
41/98
41
D uma comparao.
Se entrarmos em uma casa com uma luz acesa, a luz dissipando as trevas
produz a claridade no interior da casa, de forma que se mostram as coisasque esto l. Assim procede a sabedoria.
[...]
Nagasena, esses estados de alma diversos produzem um mesmo
resultado? Sim, todos tm por objetivo destruir as paixes.
Como assim? D um exemplo.
Assim como os diversos elementos de um exrcito concorrem para um sresultado, a derrota do inimigo, do mesmo modo os diferentes estados de
alma tm um nico objetivo: a destruio das paixes.
[...]
Nagasena, quem renasce? A mesma pessoa ou outra?
Nem a mesma pessoa, nem outra. D-me uma comparao.
Quando criana frgil, eras como hoje, que ests grande?
No, Venervel. Eu era outra pessoa.
Sendo assim, no tens nem pai, nem me, nem preceptor. No pudeste
aprender as artes, adquirir virtudes, sabedoria! Haver pois uma me para
cada fase do embrio, uma me para a criana, outra para o homem feito.
Quem se instrui uma pessoa, quem se instrui outra. Um o autor do
crime, outro o indivduo a quem se cortam as mos e os ps.
De modo nenhum, Venervel. E tu que dizes?
J fui criana e agora sou homem, eu mesmo.
O ser humano, em suas diversas fases, tem sua unidade no corpo.
D uma comparao.
Quando se acende um facho, este pode queimar a noite inteira?
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
42/98
42
De certo.
E a chama da ltima noite a mesma da segunda, esta a mesma da
primeira?No.
H ento um facho diferente em cada noite?
No, o mesmo facho queimou a noite inteira.
Assim, Maharaj, o encadeamento dos Kharmas contnuo. Um surge,
quando o outro desaparece. De algum modo, no h nem antecedente, nem
consequente. Portanto, no o mesmo, nem o outro, que acusa o ltimo ato
de conscincia.
D outro exemplo.Quando o leite transforma-se em coalhada, manteiga fresca, depois
manteiga refinada, pode-se dizer que o leite fresco o mesmo que a
manteiga ou a manteiga refinada?
No, mas todos procedem do mesmo leite.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
43/98
43
China
O Cu como fundam ento de tudo
Mem rias da Cultura Liji)
Portanto a li baseia-se no Cu, padroniza-se na Terra, trata do culto aos
espritos e estende-se aos rituais e cerimnias fnebres, sacrifcios em honra
aos ancestrais, arco e flecha, conduo de veculos, investidura, npcias, e
audincias na corte ou troca de visitas diplomticas. Por isto o Sbio
apresenta ao povo o princpio de uma ordem social racionalizada e atravs
dele todas as coisas vo bem no seio da famlia, na cidade e no mundo. [...]
A criatura humana produto das foras do cu e da terra, da unio dos
princpios yin e yang, encarnao da substncia e da essncia dos cinco
elementos (metal, madeira, gua, fogo e terra). Por isso a criatura humana
o centro do universo resultante mxima dos cinco elementos, criada para
fruir alimento, cor e som. [...]
O culto ao Cu tem por fim reconhecer os supremos desgnios celestes. O
culto ao deus terrestre tem por fim demonstrar a produtividade da terra. O
culto no templo ancestral tem por fim patentear a linhagem do homem. O
culto s montanhas e aos rios tem por fim atender aos diferentes espritos.
Os cinco sacrifcios tm por fim celebrar as atividades humanas. Para isto h
Sacerdotes no templo. Trs Altos Ministros na corte, trs Superiores no
colgio. O arauto coloca-se em p adiante do rei, o historiador oficial em p
atrs do rei, ao passo que o sacerdote incumbido dos orculos e o mestre de
msica e seus assistentes colocam-se sua direita e sua esquerda; o
soberano fica ao centro, sentado, com o corao tranquilo - guardio (ousmbolo) da suprema perfeio de todas as coisas.
Quando se observa Li [princpios culturais] no culto ao Cu, os vrios
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
44/98
44
deuses atendem s respectivas atribuies. Quando se observa Li no culto a
Terra, os bens terrenos crescem e se multiplicam. Quando se observa Li no
templo ancestral, a afeio e a piedade filiais prevalecem. Quando se observaLi nos cinco sacrifcios, as medidas padres so estabelecidas. Portanto o
culto ao Cu, Terra, aos antepassados, s montanhas e aos rios, e os cinco
sacrifcios, visam preservar as condies da existncia humana e constituem
a configurao de Li.
Li tem sua origem na Taiyi (Unidade Primeira), que se dividiu em Cu e
Terra, transformando-se em yin e yang, atuando atravs das estaes do ano
e tomando forma segundo os diferentes espritos. A vontade dos deuses
manifesta-se como destino, sob controle do Cu.
Assim deve Li ter o Cu por fundamento, exerce na Terra a sua ao e
aplica-se s diferentes atividades humanas, mudando de acordo com as
estaes do ano e os vrios ofcios. No ser humano, Li surge como princpio
vital e manifesta-se no trabalho, no comrcio, no convvio social, no comer e
no beber, na cerimnia da "investidura" do que atinge maioridade, no
casamento, nos funerais e nos sacrifcios aos mortos, na carreira das armas,
na conduo de veculos, e nas audincias em palcio.
Os ditames de Li constituem, portanto, os princpios fundamentais da vida
humana, servindo para promover a confiana mtua e a harmonia social,
fortalecendo as ligaes sociais e os laos de amizade; constituem os
princpios fundamentais do culto aos espritos, da subsistncia dos vivos e
das oferendas aos mortos. Li um vasto canal atravs do qual seguimos os
desgnios do Cu e conduzimos ao bem as expresses do corao humano.
Por isto, somente o Sbio reconhece que Li indispensvel. Para destruir um
reino, arruinar uma famlia ou perder um homem - o que tendes a fazer em
primeiro lugar extirpar-lhes o senso de Li.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
45/98
45
O poder das foras espirituais
A Justa Medida Zhong Yong)
Confcio observou - "O poder das foras espirituais no Universo - como sefaz sentir por toda a parte! invisvel aos olhos, e impalpvel aos sentidos,
inerente a todas as coisas e nada escapa sua influncia".
fato que existem essas foras que fazem com que os homens de todos os
pases jejuem e se purifiquem e com solenidade de roupas instituam servios
de sacrifcio e de adorao religiosa. Tal como o mpeto das guas poderosas,
a presena dos Poderes invisveis se faz sentir; algumas vezes sobre ns,
outras ao redor de ns.
Diz o "Livro dos Cnticos":
"A presena do Esprito: No pode ser imaginada sem fundamento, como
ento pode ser ignorada!"
Tal a evidncia das coisas invisveis que impossvel duvidar da natureza
espiritual do homem.
A busca da natureza essencial no
Wen zi
Laozi disse:
Quando as pessoas perdem sua natureza essencial por seguir desejos, as suas
aes nunca so corretas. Governar uma nao dessa maneira resulta em
caos; governar a si mesmo deste modo resulta em decadncia.
Portanto aqueles que no ouvem o Caminho no tm meios de retornar
sua natureza essencial. Aqueles que no compreendem as coisas no podem
ser claros e calmos.
A natureza essencial do ser humano original no tem perverso ou
degenerao, mas depois de uma longa imerso em coisas ela muda
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
46/98
46
facilmente; assim ns esquecemos nossas razes e nos adaptamos natureza
aparente.
A natureza essencial da gua gosta de claridade, mas o cascalho a polui. A
natureza essencial da humanidade gosta de paz, mas os desejos habituais a
danificam. S os sbios podem deixar as coisas e voltar ao ser interior.
Portanto os sbios no usam o conhecimento para explorar as coisas e no
deixam os desejos romperem a harmonia. Quando esto felizes no ficam
eufricos, e quando sofrem no ficam irremediavelmente abalados. Assim,
eles no esto em perigo mesmo quando em posies elevadas; esto seguros
e estveis.
Desse modo o planejamento imediato ao ouvir boas palavras algo que
mesmo o ignorante sabe o suficiente para admirar; a ao elevada de acordo
com as virtudes dos sbios algo que mesmo aquele que no digno
conhece o suficiente para olhar com satisfao.
Mas enquanto aqueles que admiram isso so muitos, os que o aplicam so
poucos; e enquanto aqueles que olham isso com satisfao so numerosos,
os que o pem em prtica so raros. A razo disso que eles se agarram scoisas e esto atados ao que mundano.
Por isso se diz: Quando eu no planifico nada, as pessoas evoluem por si.
Quando eu no me esforo por nada, as pessoas prosperam por si. Quando
eu gozo de tranquilidade, as pessoas corrigem a si mesmas. Quando no
tenho desejos, as pessoas so naturalmente sinceras.
A clara serenidade a realizao da virtude. A tolerncia flexvel a funo
do Caminho. A calma vazia o ancestral de todos os seres. Quando esses trs
so postos em prtica, voc entra na condio do que no tem forma. A
condio do que no tem forma significa unidade; unidade significa unir-se
com o mundo sem preocupaes.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
47/98
47
Aprendendo a viver no
Zhuan gzi
Zixi, de Nanpo, estava viajando pela colina de Shang quando viu umaenorme rvore que muito o surpreendeu. Mil carros com quatro animais
atrelados poderiam abrigar-se sob sua sombra.
- "Que rvore essa?" Exclamou Zixi. "Certamente h de ser de finssima
madeira". Em seguida olhando para cima, viu que seus galhos eram tortos
demais para fazer vigas; e olhando para baixo verificou que a madeira era
muito cheia de ns, o que a tornava imprestvel para fazer atade. Provou
uma das folhas e pensou que lhe tinham arrancado a pele dos lbios; e o
odor era to forte que bastaria para intoxicar um homem durante trs dias
seguidos.
- "Ah!" Disse Zixi, "essa rvore realmente no serve para nada e foi por isso
que chegou at essa idade. Um homem de esprito bem pode seguir seu
exemplo de inutilidade".
Desprendiment no
Zhuan gzi
Uma vez, Zhuang zi pescava no rio Pu, quando o prncipe Chu mandou dois
altos funcionrios convid-lo para assumir um cargo de administrador do
estado Chu. Zhuang zi continuou pescando, e sem virar a cabea disse: ouvi
falar que h uma tartaruga sagrada que morreu h mais de trs mil anos, e
que o monarca a guarda cuidadosamente num cofre no altar de seus
ancestrais. Para essa tartaruga seria melhor estar morta e ver seu restos
venerados ou estar viva e arrastar a cauda na lama? seria melhor estar viva e
arrastando sua cauda na lama, responderam os dois. Ento, gritou Zhuang
zi: saiam! Eu tambm irei arrastar minha cauda na lama..
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
48/98
48
O que a mente?
Lankavatara sutra Bu dismo Chins)
Ento Mahamati disse ao Santificado:Abenoado suplicamos te que nos digas: o que se entende por mente
(citta)?
O Santificado respondeu:
Todas as coisas deste mundo, sejam elas aparentemente boas ou ruins,
defeituosas ou sem defeito, produtoras de efeito ou no produtoras de efeito,
receptivas ou no receptivas, podem ser divididas em duas classes: as ms
emanaes e as boas no emanaes. Os cinco elementos do apego que
compem os agregados da personalidade, denominados, forma, sensao,
percepo, discriminao, e conscincia, e que se imagina ser bom ou ruim,
tm o seu aparecimento na energia do hbito do sistema mental, so as ms
emanaes da vida. As realizaes espirituais e as alegrias dos Samadhis e a
frutificao dos Samapatis inerente ao sbio, atravs da sua auto realizao
da Sabedoria Nobre e que culmina no seu regresso e participao nas
relaes do mundo triplo, so chamadas as boas no emanaes.
O sistema mental que a fonte das ms emanaes, consiste nos rgos dos
cinco sentidos e da sua acompanhante, a mente dos sentidos (Vijnanas),sendo todos eles unificados na mente discriminativa (manovijnana). H
uma sucesso interminvel de conceitos sensoriais que fluem nesta
discriminao ou mente pensante, que os combinam, os separam e os
julgam pela sua bondade ou maldade. Ento segue-se a averso ou o desejo
deles, para o apego e a ao; e assim os movimentos do sistema completo,
movem-se contnua e firmemente unidos. Mas fracassa em ver e entender,
que o que v, discrimina e se apega s uma manifestao da sua prpria
atividade e que no tm qualquer fundamento, e assim a mente vai
percebendo erradamente, separando diferenas de formas e qualidades, sem
permanecer calma e uniforme durante um minuto.
No sistema mental distinguem-se trs modelos de atividade: as mentes
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
49/98
49
sensoriais que funcionam enquanto permanecem na sua natureza original,
as mentes sensoriais como produtoras de efeitos, e as mentes sensoriais
como desenvolvimento.
No seu normal funcionamento, as mentes sensoriais apegam-se aos
elementos apropriados do seu mundo externo, pelo qual, a sensao e a
percepo surgem imediatamente e por extenso, em todos os rgos e em
todas as mentes sensoriais, nos poros da pele, e at mesmo nos tomos que
compem o corpo; pelo qual o campo inteiro apreendido como um
espelho que reflete objetos, e no percebendo que o prprio mundo externo
s uma manifestao de mente.
O segundo modelo de atividade, produz efeitos pelos quais estas sensaes
reagem na mente discriminativa, produzindo percepes, atraes, averses,
apegos, aes e hbitos.
O terceiro modelo de atividade, tem que ver com o crescimento,
desenvolvimento e transcurso do sistema mental, quer dizer, o sistema
mental est sujeito sua prpria energia do hbito acumulada desde o
tempo sem princpio, como por exemplo: o "olhar" no olhar que predispeao apego e que se prende a mltiplas formas e aparncias. Deste modo as
atividades do sistema mental evoluindo por causa da sua energia do hbito
incita as ondas da objetividade, diante da Mente Universal, o qual uma aps
outra, condicionam as atividades e o desenvolvimento do sistema mental.
Aparncia, percepo, atrao, apego, ao, hbito, reao, condicionam-se
uns aos outros incessantemente, e assim o funcionamento das mentes
sensoriais, a mente discriminativa e a Mente Universal, so desta forma
entrelaadas. Assim, por causa desta discriminao que por natureza como
Maya, a falsa imaginao irreal e o raciocnio errneo acontecem, a ao
progride e a sua energia do hbito acumula-se, poluindo atravs disso a face
pura da Mente Universal, e como consequncia o sistema mental entra em
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
50/98
50
funcionamento e o corpo fsico tem a sua gnese. Mas a mente
discriminativa no pensa que pelas suas discriminaes e apegos est
condicionando todo o corpo e assim as mentes sensoriais e a mentediscriminativa vo-se mutuamente relacionando e mutuamente
condicionam-se de uma forma cada vez mais ntima e construindo um
mundo de relaes fora das atividades da sua prpria imaginao. Como um
espelho que reflete as formas, os sentidos da percepo, percebem as
aparncias que a mente discriminativa conjuntamente recolhe, e procede
discriminao, nomeando as (dando-lhes nomes) e pegando-se a elas. Entre
estas duas funes no h nenhum espao, no obstante, elas surgem
mutuamente condicionantes.
Os sentidos da percepo apegam-se ao que eles tm afinidade, e h uma
transformao que tem lugar na sua estrutura pelo qual a mente tem como
resultado; combinar, discriminar, notificar, e atuar; ento prosseguir na sua
energia do hbito institucionalizando a mente e a sua continuidade.
A mina de onde extrada a discriminao, devido sua capacidade para
discriminar, julgar, selecionar e argumentar sobre, tambm chamada a
mente pensante, ou a mente intelectual.
H trs divises da sua atividade mental: o pensamento que funciona em
relao ao apego a objetos e ideias, o pensamento que funciona em relao a
ideias gerais, e o pensamento que examina a validade destas ideias gerais.
O pensamento que funciona em relao ao apego, a objetos e ideias
derivadas da discriminao, separa a mente dos seus processos mentais e
aceita as suas ideias como sendo reais e apega-se a elas. Chega-se assim a
uma variedade de falsos julgamentos sobre multiplicidade, individualidade,
valor, etc., e um forte apego toma lugar, o qual perpetuado pela energia do
hbito e assim a discriminao vai-se afirmando a ela mesma.
Estes processos mentais, do origem a concepes gerais de calor, fluidez,
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
51/98
51
mobilidade e solidez, como caracterizando os objetos de discriminao,
enquanto a tenaz sustentao para estas ideias gerais, d origem
proposio, razo, definio e ilustrao, todos os quais conduzem safirmaes de conhecimento relativo e ao estabelecimento da confiana no
nascimento, natureza prpria, e um eu alma.
Por pensamento como uma funo examinadora, significa o ato intelectual
de examinar essas concluses gerais sobre a sua validade, significao, e
veracidade. Esta a faculdade que conduz ao entendimento, conhecimento
correto e aponta o caminho auto realizao.
O sistema mental no
Lankavatara sutra Budismo Chins)
Ento Mahamati disse ao Santificado:
Abenoado imploramos-te que nos fales sobre a Mente Universal e a sua
relao com o sistema mental inferior.
O Santificado respondeu:
As mentes sensoriais e a sua mente discriminativa, esto relacionadas com o
mundo externo, que uma manifestao de si mesmo e dado a perceber,discriminar, e apegar-se s suas aparncias, da mesma forma que Maya. A
Mente Universal (Alaya Vijnana) transcende toda a individualizao e
limites. A Mente Universal completamente pura na sua natureza essencial,
conservando-se inalterada e livre de faltas de impermanncia, imperturbvel
pelo egosmo, livre de emoes, agitaes ou tenses nervosas, distines,
desejos ou averses.
A Mente Universal como um grande oceano, a sua superfcie agitada por
ondas e pelo aumento repentino destas, mas as suas profundezas
permanecem sempre impassveis. Em si mesma destituda de
personalidade e de tudo aquilo que a esta pertence, mas por causa da
constante poluio, a sua face como um ator que representa uma variedade
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
52/98
52
de papeis entre os quais, uma mutua funo toma lugar e o sistema mental
nasce. O princpio do pensamento torna-se dividido e as funes mentais da
mente, as ms emanaes da mente, assumem a individualidade. Os setepassos graduais da mente aparecem: isto , auto realizao intuitiva,
pensamento desejo discriminativo, vista, ouvido, gosto, cheiro, tacto, e todas
as suas interaes e reaes levam ao seu aumento.
A mente discriminativa a causa das mentes sensoriais e quem as mantm,
quem com elas preserva o seu funcionamento como descrito e torna-se presa
ao mundo dos objetos, e por onde atravs da sua energia do hbito a Mente
Universal se conspurca. Assim a Mente Universal torna-se o armazm e o
rgo centralizador de todos os produtos acumulados do processo do
pensamento e da ao desde o tempo sem principio.
Entre a Mente Universal e a mente discriminativa individual est a mente
intuitiva (manas) que dependente da Mente Universal para as sua causas e
manuteno, e na relao com ambas. Participa da universalidade da Mente
Universal, compartilha a sua pureza, e como ela, est alm da forma e dos
momentos fugazes. pela mente intuitiva que a m emanao emerge,
manifestado e percebido.
Afortunadamente essa intuio no momentnea, porque se o
esclarecimento que vem da intuio fosse momentneo, o sbio perderia a
sua "sabedoria", coisa que no acontece. Mas a mente intuitiva entra em
relaes com o sistema mental, compartilha as suas experincias e reflete-se
nas suas atividades.
A mente intuitiva una com a Mente Universal por causa da sua
participao na Inteligncia Transcendental (Arya jnana), e una com o
sistema mental pela sua compreenso do conhecimento diferenciado
(Vijnana). A mente intuitiva no tem corpo prprio, nem qualquer sinal
pela qual possa ser diferenciada. A Mente Universal a sua causa e suporte,
mas ela evolu juntamente com a noo de um eu e o que a ele pertence, ao
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
53/98
53
qual se agarra e no qual se reflete. Pela mente intuitiva, pela faculdade de
intuio, que um entrosamento de identidade e percepo, a inconcebvel
sabedoria da Mente Universal revelada e realizvel.Como a Mente Universal ela no pode ser a fonte do erro.
A mente discriminativa uma danarina e um mgico com a atualidade do
mundo objetivo. A menteintuitiva a sbia boba da corte que viaja com o
mgico e reflete a sua vacuidade e fugacidade. A Mente Universal mantm o
registro e sabe o que deve e o que pode ser. por causa das atividades da
mente discriminativa que o erro surge e o mundo objetivo evolui e o reino
de um ego alma estabelecido. Quando a mente discriminativa poder
adquirir liberdade, todo o sistema mental deixar de funcionar e a Mente
Universal permanecer s. A aquisio de liberdade por parte da mente
discriminativa, remover a causa de todo o erro.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
54/98
54
Japo
Aforismos do Xintosmo
1. A harmonia para ser prezada, e deve-se honrar toda absteno de
oposio agressiva.
2. Todos os homens so influenciados pelo preconceito de classe, e s uns
poucos so inteligentes.
3. Quando os de cima esto em harmonia com os debaixo e h concrdia na
discusso dos negcios, concesso amigos, seguem-se opinies acertadas.4. Poucos so os homens extremamente maus.
5. Quando receberes as ordens imperiais, no deixes e obedec-las
escrupulosamente.
6. O Cu o senhor, e a Terra o vassalo. O Cu sustm e a Terra sustenta. Se
a Terra tentasse superar e difundir-se, o Cu simplesmente cairia em runas.
7. Os ministros e funcionrios devem fazer da conduta decorosa o seu
princpio normativo. Se os superiores no se comportam com decoro, os
inferiores agiro desordenadamente, e s os inferiores agem
desordenadamente, logo surgem os agravos.
8. Queixas do povo h milhares num s dia. Se h tantas num s dia,
quantas no havero no decurso de vrios anos?
9. Se o juiz faz do ganho o seu escopo, e julga causas visando receber peitas,
as queixas dos pobres se assemelharo a gua cada sobre uma pedra.
10. Castigar os maus e estimular os bons: eis uma excelente regra da
antiguidade.
11. No escondas as boas qualidades dos demais, e no deixes de corrigir o
que achares errado.12. Os bajuladores e os impostores so armas aguadas que solapam a
Nao, e espadas voltadas contra o povo.
13. Os bajuladores gostam de delatar aos seus superiores os erros de seus
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
55/98
55
inferiores, e aos seus inferiores criticam as falhas de seus superiores. desses
que nasce uma guerra civil.
14. Quando aos sbios se confiam cargos ouve-se o rumor dos louvores.15. Neste mundo poucos so os que nascem com conhecimento: a sabedoria
produto da ardente meditao.
16. Para todas as coisas, grandes ou pequenas, cumpre descobrir o homem
certo, e elas sero bem administradas.
17. Os sbios soberanos da antiguidade buscavam homens para ocupar os
cargos, e no cargos para atender os homens.
18. Os negcios do Estado no admitem lassido, e o dia todo mal basta para
lev-los a cabo.
19. A boa f o fundamento dos justos.
20. Se o senhor e o vassalo agem de boa f entre si, que podero conseguir
ambos?
21. Cessemos com o rancor e evitemos olhares maliciosos.
22. No te ressintas se algum discorda de ti.
23. Todos os homens tm coraes, e cada corao tem sua prpria
inclinao.
24. Ns no somos incontestvelmente sbios; eles no so
incontestvelmente tolos.25. Como se pode estabelecer uma norma para distinguir o certo do errado?
26. . Embora apenas ns estejamos com a razo, acompanhemos a maioria e
procedamos como ela.
27. Fazei clara apreciao do mrito e demrito, e ministrai a cada um sua
exata recompensa ou punio.
28. No pode haver dois soberanos num mesmo pas; no se pode pedir ao
povo que sirva a dois senhores.
29. Se ns invejamos outros, eles por sua vez nos invejaro: o mal da inveja
no conhece limites.
30. No com prazer que vemos outros nos superarem em inteligncia.
31. No seno aps um lapso de quinhentos anos que deparamos com um
homem sbio, e depois de mil anos que conseguimos um gnio.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
56/98
56
32. Volver as costas para o que particular e o rosto para o que pblico, eis
o dever de um ministro.
33. Decises sobre assuntos importantes no devem ser tomadas por umapessoa somente.
34. O cu e o inferno provm de nosso prprio corao.
35. Se em nosso corao h uma serpente, ento no convertemos numa
serpente.
36. Todos os homens so irmos; todos recebem as bnos do mesmo cu.
37. Liberta-te da dvida e ters tua vida vivificada pela bondade de Deus.
38. Com Deus no h dia nem noite, distante nem perto.
39. A sinceridade a testemunha da Verdade.
40. Com a sinceridade no se conhece fracasso.
41. F equivale obedincia filial aos pais.
42. Se a orao falha em ajudar-te a realizar teu propsito, que algo est
faltando em tua sinceridade.
43. No atraias sofrimento sobre ti, sendo indulgente no egosmo.
44. No professes amor com os lbios enquanto que em teu corao abrigas
dio,
45. No se deve ser sensvel ao sofrimento em sua prpria vida, e negligente
ao sofrimento na vida dos outros.46. Teu corpo no para teu bel- prazer.
47. Nada em todo o mundo atrai tanta gratido como a sinceridade.
48. Feliz o homem que cultiva as coisas ocultas e deixa que as visveis
cuidem de si mesmas.
49. Quando o corao de Amaterasu-Omi-Kami e os nossos coraes
estiverem unificados, ento no haver coisa tal como morte.
50. Em todo o mundo no existe coisa tal como estrangeiro.
Koans do B udismo Japons
Tanzan e Ekido certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma
pesada chuva ainda caa, dificultando a caminhada. Chegando a uma curva,
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
57/98
57
eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono de seda e cinta,
incapaz de cruzar a intercesso.
"Venha, menina," disse Tanzan de imediato. Erguendo-a em seus braos, elea carregou atravessando o lamaal.
Ekido no falou nada at aquela noite quando eles atingiram o alojamento
do Templo. Ento ele no mais se conteve e disse:
"Ns monges no nos aproximamos de mulheres," ele disse a Tanzan,
"especialmente as jovens e belas. Isto perigoso. Por que fez aquilo?"
"Eu deixei a garota l," disse Tanzan. "Voc ainda a est carregando?"
Yamaoka Teshu, quando um jovem estudante Zen, visitou um mestre aps
outro. Ele ento foi at Dokuon de Shokoku. Desejando mostrar o quanto j
sabia, ele disse, vaidoso: "A mente, Buddha, e os seres sencientes, alm de
tudo, no existem. A verdadeira natureza dos fenmenos vazia. No h
realizao, nenhuma deluso, nenhum sbio, nenhuma mediocridade. No
h o Dar e tampouco nada a receber!" Dokuon, que estava fumando
pacientemente, nada disse. Subitamente ele acertou Yamaoka na cabea com
seu longo cachimbo de bambu. Isto fez o jovem ficar muito irritado,
gritando xingamentos. "Se nada existe," perguntou, calmo, Dokuon, "de
onde veio toda esta sua raiva?"
Um orgulhoso guerreiro chamado Nobushige foi at Hakuin, e perguntou-
lhe: "Se existe um paraso e um inferno, onde esto?""Quem voc?"
perguntou Hakuin."Eu sou um samurai!" o guerreiro exclamou."Voc, um
guerreiro!" riu-se Hakuin. "Que espcie de governante teria tal
guarda? Sua aparncia a de um mendigo!".
Nobushige ficou to raivoso que comeou a desembainhar sua espada, mas
Hakuin continuou: "Ento voc tem uma espada! Sua arma provavelmente
est to cega que no cortar minha cabea..."
O samurai retirou a espada num gesto rpido e avanou pronto para matar,
gritando de dio.
Neste momento Hakuin gritou:
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
58/98
58
"Acabaram de se abrir os Portais do Inferno!"
Ao ouvir estas palavras, e percebendo a sabedoria do mestre, o samurai
embainhou sua espada e fez-lhe uma profunda reverncia."Acabaram de se abrir os Portais do Paraso," disse suavemente Hakuin.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
59/98
59
Tibete
A V iagem n o alm, no Bardo Todol
Recebeste o ensino de um sbio guru, iniciado no ministrio do Bardo?
Se recebeste, no o esqueas e nem te distraias com outros pensamentos.
Se for o mestre espiritual do moribundo ou do morto, deve dizer:
Eu te transmiti o profundo ensinamento que recebi do meu mestre e, porseu intermdio, da longa linhagem dos gurus iniciados.
No esqueas, no te deixes distrair por outros pensamentos. Conserva
firmemente o esprito lcido.
Se estiveres sofrendo, no te deixes absorver na sensao do teu sofrimento.
Se ests sentindo um torpor repousante, no te engolfes em uma calma
obscuridade, um enleio tranquilizante, No te entregues a isso. Permanece
alerta.
As conscincias conhecidas como (aqui o oficiante pronuncia o nome do
moribundo), tendem a se dissipar. Mantm-nas unidas pela fora do Yid kyi
nam - parshespa.
Tuas conscincias separam-se do teu corpo, vo entrar no Bardo.
Dirige um apelo tua energia, para v-las passarem pelo umbral com teu
pleno conhecimento.
Vai aparecer e envolver-te o claro fulgurante da Luz incolor e vazia, mais
veloz do que o relmpago.
No tenhas medo, no recues, no desmaies.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
60/98
60
Mergulha nessa luz.
Rejeitando a crena em um ego, qualquer apego tua ilusria personalidade,dissolve o No-Ser no Ser e l iberta-te.
So poucos aqueles que, incapazes de atingir a Libertao, no decurso da sua
existncia, alcanam-na neste momento, to fugaz que se pode dizer "sem
durao". Os demais, pelo efeito do temor sentido como choque mortal,
desmaiam.
No momento em que o moribundo exala o ltimo suspiro, se o lama que o
assiste j est habituado e dispe do necessrio poder, dir trs vezes Hick e
depois uma s vez Phet.
E continua (pronunciando o nome do moribundo)
Ests despertando como se tivesses estado dormindo.
Deixaste o corpo que animavas. Olha: ele jaz inerte.
No deves sentir saudade. No deves sentir apego.
No te demores ao lado daqueles que foram teus parentes e amigos.
No insistas em lhes falar.
Tua voz no tem sonoridade. Eles no te ouvem.
No te demores em andar pelos campos, em mirar os objetos que te
pertenceram. No podes mov-los. No podes lev-los contigo.
Tu deixaste-os. Eles te deixaram.
No insistas em renovar os teus laos. Abandona-os.
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
61/98
61
Estiveste sonhando com formas inconsistentes. Como no pudeste agarrar a
Liberdade, no momento em que surgiu a Luz Realidade, continuars com os
sonhos agradveis ou penosos. Mas no faltaro' as ocasies de adquirires oconhecimento.
S vigilante, alerta.
Agora, compreende: cada uma das conscincias que, reunidas, formam a tua
pessoa, com base' no corpo fsico, que vai dissolver-se, continuar sua
atividade prpria, at esgotar-se a energia engendrada pelos atos passados,
que a mantm ativa.
mediante essa atividade, que passa do teu corpo material ao teu mental,
que surgem as vises em torno de ti. Pelos teus olhos, vem a conscincia das
formas e das cores. Por isso, vs formas e cores. Pelos teus ouvidos, vem a
conscincia dos sons e portanto ouves os sons. Pelo teu nariz, vem a
conscincia dos odores e por isso tu sentes os cheiros. Por tua lngua, possuis
a conscincia dos sabores e assim tu sentes os gostos. Por teu corpo, veio
conscincia das sensaes e por isso possuis o tato. O teu esprito elaborou
ideias, oriundas dessas conscincias, por isso tens ideias.
Fica sabendo que se trata de alucinaes. Nenhum desses objetos real. So
produtos das atividades das tuas conscincias anteriores.
No te atemorizes. No te apegues.
Olha-as, indiferente, sem averso, sem desejo. Se em tua existncia passada
predominaram a pacincia, os pensamentos e atos caritativos, os esforos na
prtica do. Bem, a tranquilidade de esprito; se no momento da tua morte
formulaste votos de felicidade para todas as criaturas; se tuas aspiraes se
dirigiram aos Budas e Bodisatvas, desejando te aproximares deles e
participar da sua ao benfica; ento os Budas e Bodisatvas te aparecero,
radiantes, em uma atmosfera azul claro, infinitamente luminosa.
Apesar da brandura e do poder, eles te intimidaro. Isso, talvez, porque
-
7/25/2019 Pedaos Do Caminho - Uma Antologia de Passagens Religiosas - Andr Bueno
62/98
62
apesar dos teus pensamentos e atividades virtuosas, tu no te assemelhaste
substncia dos Budas e dos Bodisatvas.
No cedas ao medo que sentires. No te desvies.
No penses em fugir.
Contempla calmo a viso que se apresenta. Acalma o teu medo.
No cedas ao desejo.
Confia em Vairochana, aquele que ilumina. Confia no imortal Dodji
Semspa. Pela virtude da sua essncia, podes obter agora a Libertao.
Mas tua atividade mental e material tambm manifestou-se por
pensamentos de dio, de inveja, por atos de m vontade, de maldade,
causadores de dor s criaturas.
Alimentaste o desejo dos prazeres bestiais da luxria, aos quais tu te
entregaste. Tu te afastaste do conhecimento. Tu te sentiste satisfeito na
torpeza e na ignorncia. Agora ests rodeado das conscincias ativas nessas
esferas. Tu no as reconheces nas formas em que elas te aparecem e que tu
mesmo lhes ds. Sentes ento enorme terror.
Eis as formas das divindades irritadas dos guardies do Umbral. Os seus
inmero