“pedras que cantam”: o patrimÔnio geolÓgico do ... · ao meu pai luís antônio pelo suporte...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA CCT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA ProPGeo MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA SUEDIO ALVES MEIRA “PEDRAS QUE CANTAM”: O PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA, CEARÁ, BRASIL FORTALEZA CEARÁ 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA – CCT

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – ProPGeo

MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA

SUEDIO ALVES MEIRA

“PEDRAS QUE CANTAM”: O PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO

PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA, CEARÁ, BRASIL

FORTALEZA – CEARÁ

2016

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SUEDIO ALVES MEIRA

“PEDRAS QUE CANTAM”: O PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO

PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA, CEARÁ, BRASIL

Dissertação apresentada ao Curso de

Mestrado Acadêmico em Geografia do

Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará, como

requisito parcial para à obtenção do título de

mestre em Geografia.

Área de Concentração: Análise Geoambiental e Ordenação no Território nas

Regiões Semiáridas e Litorâneas.

Orientador: Prof. Dr. Jáder Onofre de

Morais.

FORTALEZA – CEARÁ

2016

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Às mulheres da minha vida, Maria José

de Sousa Alves (mãe) e Caroline Alves

Meira (irmã), a quem eu devo o que me

tornei.

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AGRADECIMENTOS

Quase dois anos do início dessa fase da minha vida. Um universo novo. Cidade nova,

universidade nova, vivências novas. Momentos de dificuldades que se transformaram

em aprendizado e alegrias devido o apoio contínuo de pessoas que estiveram comigo

durante toda minha vida e algumas que me foi dado como presente nesse momento e

são a essas pessoas que gostaria de agradecer.

À minha família materna pelo suporte mesmo com esses milhares de km de distância,

agradeço toda oração e pensamento positivo, pois eles me ajudaram a superar as

dificuldades fruto da ausência. À minha mãe, Maria José Alves, que nunca me deixou

faltar palavras de incentivo e tantas outras coisas. À minha irmã, Caroline Alves Meira,

que é o alicerce da minha vida, meu porto seguro.

Ao meu pai Luís Antônio pelo suporte e à minha família paterna por sempre ter sido um

incentivo a permanecer no estudo. Ao meu pai pelo suporte em momentos difíceis.

Agradeço aos amigos de Barreiras, Geiverson Eufrásio e Iane Porto, sei o quanto vocês

torcem pelo meu sucesso.

Agora aquelas pessoas que entraram na minha vida nesses dois anos e fizeram parte do

meu dia-a-dia. Nivando Bezerra, Isabele Azevedo, Pedro Monteiro e Gláucio Lira...

Sério, eu não sei o que seria de mim aqui sem vocês! O apoio, o suporte (e que suporte),

os momentos de alegria. Vocês sabem que não tenho como agradecer a amizade de

vocês. Gostaria de agradecer a todo o grupo de amizade que fiz aqui em Fortaleza (fica

difícil citar todos...), que mostrou que o que essa cidade tem de melhor não é esse mar

lindo de um verde incrível, mas o seu povo.

Agradeço o apoio recebido no ProPGeo pelos diversos professores com quem tive

contato nesse período. Vocês foram de suma importância para o meu crescimento

acadêmico. As disciplinas e os campos foram bons momentos de aprendizado. Aos

professores que apesar de eu não ter tido atividades acadêmicas me enriqueceram

através de conversas e ensinamentos.

Agradeço ao Professor Jader Onofre de Morais pela disponibilidade e coragem de

adentrar em um campo novo para poder me orientar nesse trabalho. Muito obrigado por

todo o auxílio.

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Agradeço ao Professor Marcos Antonio Leite do Nascimento que se dispôs em me

ajudar em diversos momentos durante esse período e foi uma ferramenta de grande

crescimento durante a disciplina que realizei com e ele e a qualificação.

Agradeço aos colegas da turma 2014.1 do mestrado pelos momentos de distração nas

lanchonetes, pelas conversas, pela companhia nos campos, por me aguentarem falando e

desabafando em alguns momentos. Em espacial agradeço à Darllan Nunes, Barbara

Alexandra e Denise Brito.

Ao pessoal do LGCO pelo carinho e auxilio, por ter aceitado esse menino com uma

temática tão diferente no meio de vocês.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq pelo

incentivo financeiro à pesquisa.

E agradeço a Deus, essa força superior, que me fez passar por todas essas experiências

em solo cearense, muitas gratificantes e algumas dolorosas, mas que me fez crescer

como pessoa.

Muito Obrigado.

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“Vamos embora de repente, vamos

embora sem demora. Vamos pra frente

que pra trás não dá mais. Pra ser feliz

num lugar, pra sorrir e cantar tanta coisa

a gente inventa, mas no dia que a poesia

se arrebenta. É que as pedras vão

cantar.”

(Raimundo Fagner)

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RESUMO

Os sinais de escassez dos elementos naturais suscitaram a partir da segunda metade do

século XX ações em prol da conservação da natureza em diferentes escalas (local,

regional, nacional e global) e atores (sociedade civil, empresas privadas, ciências e

Estado, entre outros). Porém, muito do que foi realizado priorizou a componente biótica

da natureza (biodiversidade) em detrimento da vertente abiótica (geodiversidade). Os

estudos das temáticas da Geodiversidade, Patrimônio Geológico e Geoconservação

tiveram seu início apenas na década de 1990 e no caso do Brasil as ações efetivas

passaram a ser tomadas somente em 2005. Diante disso, a presente pesquisa teve como

objetivo principal discutir o patrimônio geológico do Parque Nacional de Jericoacoara,

localizado no litoral Oeste do Estado do Ceará, segundo o caráter científico e turístico

com a finalidade de entender as suas potencialidades e vulnerabilidades. Foram

realizadas a inventariação, avaliação e valorização do patrimônio geológico do local.

Para o inventário utilizou-se os métodos Ad Hoc e o de Seleção por Características

Superlativas. Foram inventariados sete geossítios na área do Parque Nacional de

Jericoacoara e zonas adjacentes, sendo eles: Duna do Pôr do Sol; Praia da Malhada;

Cavernas; Pedra Furada; Pedra do Frade; Dunas Petrificadas; e, Duna do Funil. Cada

geossítio foi descrito de acordo suas características, potencialidades no âmbito científico

e turístico e sua vulnerabilidade ambiental. Para a avaliação quantitativa do patrimônio

geológico do Parque, foi utilizada a metodologia proposta por Pereira (2010), onde foi

possível delimitar o Valor Intrínseco (Vi), Valor Científico (Vci), Valor Turístico (Vtur)

e o Valor de Uso/Gestão (Vug) dos geossítios inventariados. Por meio da ponderação

desses valores delimitou-se parâmetros como Valor de Uso Científico (VUC), Valor de

Uso Turístico (VUT), Valor de Conservação (VC) e Relevância (R). Com as

informações geradas na avaliação quantitativa foram delimitados os geossítios

prioritários para ações de valorização. Foram instituídas três estratégias de valorização

(um folheto turístico/interpretativos dos geossítios da Ponta de Jericoacoara, um painel

interpretativo sobre o geossítio Pedra Furada e nove cartões postais que abordam

elementos da geodiversidade do Parque). O Parque Nacional de Jericoacoara constitui

um local com elevado patrimônio geológico. As feições são passíveis de utilização em

práticas de popularização de conceitos referentes as Ciências da Terra e na consolidação

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de consciência ambiental. Cabe então que os órgãos gestores incentivem práticas de

caráter geoconservacionistas para a área no intuito de salvaguardar essas feições

relevantes para explicar a história evolutiva da Terra.

Palavras-Chaves: Patrimônio Geológico. Geoconservação. Geodiversidade.

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ABSTRACT

The signs indicating natural elements scarcity evoked actions in favor nature

conservation at different levels (local, regional, national and global) and actors (civil

society, private corporations, science, State and others) starting in the sencond half of

20th century. However, much of what have been done prioritized the biotic aspects of

nature (biodiversity) against the abiotic aspects (geodiversity). The geodiversity,

Geological Heritage and Geoconservation studies began only in the 1990 decade and in

the brazilian case the effective actions started to be taken in 2005. Thus, the present

research has as the main objective to discuss the geological heritage in the Jericoacoara

National Park, located in the west coast of Ceará state in Brazil, on its scientific and

touristic character aiming to understand its potentialities and vulnerabilities. The local

geoheritage inventory, evaluation and valorization have been accomplished. For the

inventory used the Ad Hoc and Selection by Superelatives Characteristics methods.

Seven geosites in the park and neighboring zones are inventoried: Duna do Pôr do Sol;

Praia da Malhada; Cavernas; Pedra Furada; Pedra do Frade; Dunas Petrificadas; and,

Duna do Funil. Each geosite is described according to its characteristics, scientific and

touristic potentialities and environmental vulnerabilities. For the geological heritage

quantitative evaluation in the park, we used the methodology proposed by Pereira

(2010), in which it is possible to delimit the geosites Intrinsic Value (Vi), Scientific

Value (Vci) Touristic Value (Vtur) and Usage/Management Value (Vug). By weighing

these values we delimited parameters such as Scientific Use Value (VUC), Touristic

Use Value (VUT), Conservation Value (VC) and Relevance (R). The information

generated in the quantitative evaluation allowed the delimitation of priority geosites in

valorization actions. We created three valorization strategies (touristic/interpretative

folder about the geosites in the park, interpretative panel about the Pedra Furada geosite

and nine postcards about geodiversity elements in the park). The Jericoacoara National

Park constitutes a place with high geologic heritage. The landscape elements can be

used in popularization practices concerning Earth Sciences and consolidation of

environmental conscience. So, the management institutions have to encourage

geoconservacionist practices aiming to protect these elements for the Earth evolutive

history.

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Keywords: Geoheritage; Geoconservation; Geodiversity.

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

FIGURA 1 – Localização do Parque Nacional de Jericoacoara .............................. 18

FIGURA 2 – Mapa de localização dos geoparques pertencentes ao Global

Geoparks Network ........................................................................... 30

FIGURA 3 – Mapa de localização das propostas de geoparques da CPRM ............ 33

FIGURA 4 – Localização da área de estudo (Parque Nacional de Jericoacoara).... 43

FIGURA 5 – Afloramento do Grupo Barreiras nos limites do PNJ, próximo a

Vila do Preá .................................................................................... 46

FIGURA 6 – Formação e migração do campo de dunas do PNJ ............................ 47

FIGURA 7 – Geodiversidade do Parque Nacional de Jericoacoara ........................ 51

FIGURA 8 – Planície fluvio-marinha com a presença de manguezais na área de

pesquisa. Local próximo aos limites dos municípios de Jijoca de

Jericoacoara e Camocim .................................................................. 52

FIGURA 9 – Localização dos geossítios inventariados no Parque Nacional de

Jericoacoara ..................................................................................... 62

FIGURA 10 – Duna do Pôr do Sol em contato com a zona de bypass. .................... 64

FIGURA 11 – a) Blocos de rochas isoladas pertencentes a Formação São

Joaquim e concreções de deposição recente. b) Afloramento de

quartzito da Formação São Joaquim em plano inclinado .................. 66

FIGURA 12 – a) Arenitos de praia (bechrocks) dispostas na praia da malhada. b)

Estratificação do arenito de praia e presença de feições erosivas

caracterizadas por marmitas devido a ação do mar. c) Contato

entre rochas metamórficas da formação são joaquim e os arenitos

de praia de caráter sedimentar .......................................................... 68

FIGURA 13 – Feições erosivas caracterizadas por pequenas cavernas. As

mesmas se encontram seis metros acima do nível do mar atual,

sendo assim, testemunho paleoambiental do avanço do mar ............. 70

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FIGURA 14 – Arco marinho conhecido como Pedra Furada. Feição esculpida

pela ação marinha em rochas quartzíticas da Formação São

Joaquim ........................................................................................... 72

FIGURA 15 – Pilar marinho conhecido como Pedra do Frade. É possível

visualizar o intenso faturamento do quartzito ................................... 73

FIGURA 16 – a) Campo de eolianitos presente na APA de Camocim e

conhecido popularmente como Dunas Petrificadas. b e c)

Presença de raízes litificadas ............................................................ 75

FIGURA 17 – Foto panorâmica da Duna do Funil. Lagoa interdunar seca no

início do período chuvoso ................................................................ 76

FIGURA 18 – Lagoa interdunar na base da Duna do Funil após o período

chuvoso ........................................................................................... 77

FIGURA 19 – Pessoas apreciando o crepúsculo na Duna do Pôr do Sol .................. 80

FIGURA 20 – Artesanato na forma da Pedra Furada feito com rochas locais .......... 82

FIGURA 21 – Pôr do sol com vista para a Praia da Malhada................................... 83

FIGURA 22 – Igreja de Nossa Senhora de Fátima construída com rochas

quartzíticas do Serrote ..................................................................... 85

FIGURA 23 – Localização e distância entre os geossítios da Ponta de

Jericoacoara ................................................................................... 109

FIGURA 24 – Dimensões e organização do folheto turístico/interpretativo ........... 112

FIGURA 25 – Painel interpretativo do geossítio Pedra Furada .............................. 117

FIGURA 26 – Modelo de cartão postal proposto (frente e verso) .......................... 119

GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Valor de uso científico dos geossítios inventariados ......................... 97

GRÁFICO 2 – Valor de conservação dos geossítios inventariados ........................... 98

GRÁFICO 3 – Ranking de relevância dos geossítios inventariados .......................... 99

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Tipos de unidade de conservação ..................................................... 42

TABELA 2 – Valor cultural nos geossítios inventariados....................................... 81

TABELA 3 – Valor estético nos geossítios inventariados....................................... 84

TABELA 4 – Valor funcional e sua distribuição nos geossítios inventariados ........ 86

TABELA 5 – Valor científico e educativo e sua distribuição nos geossítios

inventariados ................................................................................... 87

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Nova abordagem para o Patrimônio Geológico segundo Brilha ........ 27

QUADRO 2 – Valor intrínseco dos geossítios inventariados ................................... 93

QUADRO 3 – Valor científico dos geossítios inventariados .................................... 93

QUADRO 4 – Valor turístico dos geossítios inventariados ...................................... 94

QUADRO 5 – Valor de uso/gestão dos geossítios inventariados ............................. 95

QUADRO 6 – Valor síntese dos valores de uso e relevância dos geossítios

inventariados ................................................................................... 96

QUADRO 7 – Plano interpretativo dos geossítios da Ponta de Jericoacoara .......... 108

QUADRO 8 – Caracterização do geossítio Duna do Pôr do Sol no folheto ............ 109

QUADRO 9 – Caracterização do geossítio Praia da Malhada no folheto ............... 110

QUADRO 10 – Caracterização do geossítio Cavernas no folheto ............................ 111

QUADRO 11 – Caracterização do geossítio Pedra Furada no folheto ...................... 111

QUADRO 12 – Caracterização do geossítio Pedra do Frade no folheto ................... 112

QUADRO 13 – Texto explicativo do folheto turístico/interpretativo ....................... 113

QUADRO 14 – Texto descritivo da Pedra Furada presente no painel interpretativo 115

QUADRO 15 – Texto do painel interpretativo referente aos elementos presentes

no geossítio .................................................................................... 116

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental

CONFEA Confederação Federal de Engenharia e Agronomia

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

GGN Global Geoparks Network

GGWG Global Geosites Working Group

GILGES Global Indicative List of Geological Sites

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IUGS União Internacional das Ciências Geológicas

PNJ Parque Nacional de Jericoacoara

PPPG-UEPG Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de

Ponta Grossa, Paraná

PUC Pontifícia Universidade Católica

SIGEP Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

UC Unidades de Conservação

UCPI Unidades de Proteção Integral

UCUS Unidades de Conservação de Uso Sustentável

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

ZA Zona de Amortecimento

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 17

1.1 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ........................................................... 19

2 ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GEODIVERSIDADE E

PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: PELA DIFUSÃO NA CIÊNCIA

GEOGRÁFICA BRASILEIRA ................................................................ 20

2.1 CONCEITO E HISTORICIDADE DOS ESTUDOS EM

GEODIVERSIDADE ................................................................................. .21

2.2 O CONCEITO DE PATRIMÔNIO GEOLÓGICO ...................................... 25

2.3 GEOCONSERVAÇÃO: TÉCNICAS E APLICAÇÕES EM

CONTEXTO NACIONAL E GLOBAL ...................................................... 28

2.4 GEODIVERSIDADE É GEOGRAFIA? ATRIBUIÇÕES DO

GEÓGRAFO NO ESTUDO DA TEMÁTICA ............................................ 35

3 CARACTERIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DE JERICOA-

COARA .................................................................................................... 42

3.1 GEOLOGIA REGIONAL ........................................................................... 44

3.2 GEOMORFOLOGIA REGIONAL .............................................................. 47

3.3 GEODIVERSIDADE .................................................................................. 49

3.4 CLIMA........................................................................................................ 53

3.5 HIDROGRAFIA ......................................................................................... 54

3.6 FLORA E FAUNA ...................................................................................... 55

3.7 USO E OCUPAÇÃO ................................................................................... 57

4 INVENTARIAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO

PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA....................................... 60

4.1 METODOLOGIA ADOTADA PARA A INVENTARIAÇÃO .................... 60

4.2 GEOSSÍTIOS INVENTARIADOS.............................................................. 61

4.2.1 Geossítio 1: Duna do Pôr do Sol ................................................................ 64

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4.2.2 Geossítio 2: Praia da Malhada .................................................................. 65

4.2.3 Geossítio 3: Cavernas ................................................................................ 69

4.2.4 Geossítio 4: Pedra Furada ......................................................................... 71

4.2.5 Geossítio 5: Pedra do Frade ...................................................................... 73

4.2.6 Geossítio 6: Dunas Petrificadas ................................................................. 74

4.2.7 Geossítio 7: Duna do Funil ........................................................................ 76

4.3 VALORES DA GEODIVERSIDADE NOS GEOSSÍTIOS INVENTA-

RIADOS ..................................................................................................... 77

4.3.1 Valor Intrínseco ......................................................................................... 78

4.3.2 Valor Cultural ........................................................................................... 79

4.3.3 Valor Estético............................................................................................. 81

4.3.4 Valor Econômico ....................................................................................... 83

4.3.5 Valor Funcional ......................................................................................... 85

4.3.6 Valor Científico e Educativo ..................................................................... 86

5 AVALIAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO PARQUE

NACIONAL DE JERICOACOARA .........................................................88

5.1 DESCRIÇÃO DO MÉTODO ESCOLHIDO ............................................... 90

5.2 AVALIAÇÃO DOS GEOSSÍTIOS DE ACORDO O CARÁTER

CIENTÍFICO E TURÍSTICO ...................................................................... 92

6 VALORIZAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO PATRIMÔNIO

GEOLÓGICO DO PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA..... 101

6.1 PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO DE GEOSSÍTIOS NO PARQUE

NACIONAL DE JERICOACOARA ......................................................... 102

6.1.1 Interpretação Ambiental e sua interface com a Geodiversidade........... 103

6.1.2 Folheto interpretativo/turístico dos Geossítios da Ponta de

Jericoacoara ........................................................................................... .107

6.1.3 Painel interpretativo do Geossítio Pedra Furada .................................. 113

6.1.4 Cartões Postais dos Locais de Interesse Geológico do PNJ ................... 117

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 122

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 125

APÊNDICES ............................................................................................. 135

APÊNDICE A - FICHA 1 ......................................................................... 136

APÊNDICE B - FICHA 2 ......................................................................... 139

APÊNDICE C - FICHA 3 ......................................................................... 142

APÊNDICE D - FICHA 4 ......................................................................... 145

APÊNDICE E - FICHA 5 ......................................................................... 148

APÊNDICE F - FICHA 6 .......................................................................... 151

APÊNDICE G - FICHA 7 ......................................................................... 154

APÊNDICE H - FOLHETO TURÍSTICO-INTERPRETATIVO DO

PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA ........................................ 157

APÊNDICE I - PAINEL INTERPRETATIVO DO GEOSSÍTIO PEDRA

FURADA ................................................................................................. 159

APÊNDICE J - CARTÃO POSTAL CAMPO DE DUNAS E SERROTE 160

APÊNDICE K - CARTÃO POSTAL DUNA DO FUNIL ........................ 161

APÊNDICE L - PRIMEIRO CARTÃO POSTAL DUNA DO PÔR DO

SOL ......................................................................................................... 162

APÊNDICE M - SEGUNDO CARTÃO POSTAL DUNA DO PÔR DO

SOL ......................................................................................................... 163

APÊNDICE N - CARTÃO POSTAL ESCARPA ROCHOSA .................. 164

APÊNDICE O - CARTÃO POSTAL PEDRA DO FRADE ...................... 165

APÊNDICE P - CARTÃO POSTAL PEDRA FURADA .......................... 166

APÊNDICE Q - CARTÃO POSTAL PILAR MARINHO ......................... 167

APÊNDICE R - CARTÃO POSTAL PRAIA ROCHOSA ........................ 168

APÊNDICE S - CARTÃO POSTAL TRILHA DA PEDRA FURADA ..... 169

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1 INTRODUÇÃO

Popularizar, segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, significa: tornar

popular; conhecido ou estimado do povo; propagar entre o povo; divulgar; tornar corrente;

granjear popularidade. Popularizar constitui a palavra cerne da presente pesquisa. O que se

objetiva popularizar são conceitos e práticas relativas às temáticas da Geodiversidade,

Patrimônio Geológico e Geoconservação, as quais se configuram como um campo recente e

promissor em meio as Ciências da Terra. Os estudos em tais temáticas são de suma

importância para medidas eficientes de proteção da natureza, já que abordam aos elementos

abióticos da paisagem, que são a base para toda forma de vida.

Diante disso a popularização desses conceitos foi realizada através de um estudo

de caso, tendo como foco o Parque Nacional de Jericoacoara, que se estende pelos municípios

de Jijoca de Jericoacoara e Cruz, no litoral Oeste do Estado do Ceará, e constitui uma área de

grande geodiversidade e visibilidade midiática devido o intenso uso por práticas turísticas. O

Parque foi criado no dia 4 de fevereiro de 2002 e apresenta uma área de 8.816 hectares,

estando localizado a 300 km da capital Fortaleza. O Parque Nacional de Jericoacoara (PNJ)

está inserido entre as coordenadas 02º46’27,33015’’ de latitude norte, 02º50’49,17264’’ de

latitude sul, 40º24’58,76862’’ de longitude leste e 40º35’48,12954’’ de longitude oeste

(Figura 1).

Buscou-se descrever as importâncias excepcionais de elementos abióticos

presentes na paisagem para que aqueles que passam pelo local não apenas o apreciem, mas o

entendam, ou seja, apropriem-se de atividades e ações comuns para a educação ambiental e a

popularização de temas relativos às ciências da Terra e proteção ambiental. Popularizar o

patrimônio geológico do PNJ como uma estratégia para incentivar a tomada de ações

ambientalmente responsáveis por parte dos visitantes.

Dessa forma, a presente dissertação tem como objetivo geral o levantamento e

discussão do patrimônio geológico, segundo o caráter científico e turístico, presente no

Parque Nacional de Jericoacoara na finalidade de entender as suas potencialidades e

vulnerabilidades. Debater se os elementos abióticos da paisagem do Parque adquirem

relevância na difusão de conhecimentos referentes a Ciências da Terra e na reconstrução

geológica-geomorfológica regional, e caso sim, como esses espaços (geossítios) podem ser

aproveitados para o estabelecimento de uma consciência ambiental completa que aborde todas

as componentes da natureza.

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Figura 1 – Localização do Parque Nacional de Jericoacoara

Fonte: Elaborado pelo autor.

No intuito de auxiliar o cumprimento do objetivo geral foram elencados alguns

objetivos específicos para a presente pesquisa, os quais partem da realização das etapas que

constituem o escopo das estratégias de geoconservação, sendo eles:

Inventariar o Patrimônio Geológico do Parque Nacional de Jericoacoara,

segundo o valor científico e turístico, delimitando quais os geossítios

presentes no âmbito do parque.

Avaliar quantitativamente o Patrimônio Geológico do Parque Nacional de

Jericoacoara.

Propor estratégias de valorização e divulgação dos geossítios do Parque

Nacional de Jericoacoara segundo as suas potencialidades.

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1.1 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A dissertação está dividida em cinco capítulos, os quais apresentam objetivos,

justificativas e metodologias próprias, mas que convergem para a resolução da proposta geral

da pesquisa. O primeiro capítulo é denominado “Abordagens teóricas sobre Geodiversidade e

Patrimônio Geológico: pela difusão na Ciência Geográfica Brasileira” e teve como objetivo

realizar uma discussão sobre os conceitos que orientam o presente estudo. São analisadas as

principais correntes de pensamento vigente sobre Geodiversidade, Patrimônio Geológico,

Geoconservação, Geoturismo, além de medidas práticas em âmbito nacional e internacional.

Por fim, tratou-se sobre o papel da Geografia na temática.

O segundo capítulo é denominado “Caracterização do Parque Nacional de

Jericoacoara” e constitui uma discrição sucinta dos elementos físicos e sociais da área de

pesquisa. O terceiro capítulo denominado “Inventariação do Patrimônio Geológico do

Parque Nacional de Jericoacoara” estabelece uma ruptura no texto da dissertação já que

nesse momento a mesma deixa de ser uma discussão iminentemente teórica, por meio de

dados secundários, e passa a apresenta os resultados oriundos dos trabalhos de campo. O

capítulo trata da primeira etapa das estratégias de geoconservação e apresenta a descrição dos

geossítios inventariados bem como uma avaliação qualitativa mediante a descrição dos

valores da geodiversidade presentes em cada local de interesse geológico.

No quarto capítulo, “Avaliação do Patrimônio Geológico do Parque Nacional de

Jericoacoara”, os geossítios inventariados são avaliados quantitativamente. Essa avaliação

adquire importância para medidas de planejamento do patrimônio geológico. O ultimo

capítulo referente a discussão dos resultados obtidos na pesquisa é intitulado “Valorização e

Divulgação do Patrimônio Geológico do Parque Nacional de Jericoacoara”. Nesse capítulo

são propostas três formas de valorização do patrimônio geológico e de elementos da

geodiversidade do Parque Nacional de Jericoacoara, constituindo uma aplicação prática do

estudo realizado até então.

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2 ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GEODIVERSIDADE E PATRIMÔNIO

GEOLÓGICO: PELA DIFUSÃO NA CIÊNCIA GEOGRÁFICA BRASILEIRA

A palavra conceito deriva do latim conceptus, proveniente do verbo concipere,

significando “coisa concebida” ou “formada na mente”. O conceito é a forma de pensar sobre

algo. As Ciências baseiam-se em conceitos. Todos os estudos de cunho científico, mesmo os

que se configuram como a aplicação de uma metodologia, têm como suporte conceitos

amplamente discutidos.

Alguns conceitos são alicerçados no tempo e tem no estudo da sua temática um

arcabouço infindável, porém, outros são mais recentes, ainda em processo de discussão sobre

os seus principais postulados. Os conceitos bases para a realização da presente dissertação,

compreendido por Geodiversidade, Patrimônio Geológico e Geoconservação, definitivamente,

pertencem ao segundo grupo. Constitui uma nova forma de se compreender a paisagem, em

especial a vertente abiótica.

A natureza é constituída de elementos de cunho biótico e abiótico. A paisagem é

fruto da relação indissociável desses dois aspectos, sendo que em alguns momentos um se

sobressai visualmente em relação ao outro. O homem com sua dificuldade em realizar uma

análise sistêmica da paisagem, sendo levado em muitos casos pelo sentido da visão,

historicamente favoreceu os aspectos bióticos diante os abióticos para medidas de proteção.

Atualmente temas relativos a biodiversidade são amplamente discutidos e alicerçados no meio

acadêmico e no senso comum enquanto a vertente abiótica, ou seja, a geodiversidade e demais

temáticas associadas, ainda apresenta carência de estudos.

Os esforços voltados para a proteção ambiental e sustentabilidade são recentes se

comparado a história das ciências, tendo o seu início culminado com o crescimento de

correntes ambientalistas a partir da segunda metade do século XX. O homem, ao visualizar o

caos ambiental que se instaurava, tenta retornar a hábitos de sua “natureza selvagem” e criar

uma relação de simbiose com o meio, o movimento hippie da década de 1960 é um bom

exemplo desse período. Porém nunca se falou tanto em sustentabilidade como nos últimos

anos. O marketing ambiental ganha força e o público são orientados a consumir produtos

“ecologicamente corretos”.

Em meio a esse contexto a biodiversidade sempre foi o alvo principal das ações,

porém a partir da década de 1990 estudos e medidas em prol da geoconservação passaram a

ser tomadas. Conceitos e metodologias para o estudo do tema foram criados, discutidos e

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aplicados nessas ultimas duas décadas e meia, fazendo desse um recente e promissor campo

de atuação em meio as Ciências da Terra. Diante disso torna-se válido abarcar alguns

conceitos elencados até o presente momento no meio acadêmico, tendo uma especial atenção

para a forma com que a ciência geográfica pode discutir com maior afinco essas questões. A

metodologia utilizada para a realização desse capítulo baseou-se no levantamento de

referencial teórico, em livros e periódicos acadêmicos de âmbito nacional e internacional,

atinente aos principais conceitos e temas tratados no presente estudo.

2.1 CONCEITO E HISTORICIDADE DOS ESTUDOS EM GEODIVERSIDADE

A primeira vez que o termo Geodiversidade apareceu na literatura foi na década

de 1940, em textos do geógrafo argentino Frederico Alberto Daus (MEDEIROS e

OLIVEIRA, 2011), porém a lógica abordada difere-se da principal corrente teórica atual. O

autor empregava o termo como sinônimo de diversidade geográfica, elencando como

geodiversidade a representações socioculturais e demais aspecto da paisagem.

A principal corrente de pensamento vigente desassocia a geodiversidade dos

aspectos geográficos imputando nessa um caráter mais restrito e atrelado aos elementos

abióticos da natureza, essa abordagem propicia estudos mais específicos e passíveis de

utilização em ações de planejamento territorial. Diante disso a Geodiversidade é definida,

segundo a Royal Society for Nature Conservation, do Reino Unido, como a “variedade de

ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas,

minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são suporte para a vida na terra”

(BRILHA, 2005, p. 17).

Essa nova lógica de se pensar geodiversidade teve início na década de 1990,

estando o termo aliado ao momento histórico posterior a Conferencia da Organização das

Nações Unidas de 1992, realizada no Rio de Janeiro (BORBA, 2011), tendo assim um caráter

ambientalista. A temática se configura como um ramo recente das Ciências da Terra, fazendo

que o conceito ainda não seja uno, mas esteja em pleno processo de sistematização, diante

disso autores de diferentes nacionalidades desenvolveram conceitos próprios de

Geodiversidade, sendo válido elencar alguns que apresentam maior visibilidade.

O conceito de Geodiversidade funciona como um contraponto ao de

biodiversidade sendo o equivalente a variedade de natureza abiótica, diante disso Gray (2008,

p.31, tradução nossa) define a geodiversidade como “a variedade natural (diversidade) de

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características geológicas (rochas, minerais, fósseis), geomorfológicas (relevos, processos) e

de solos”.

Traçar relações entre Geodiversidade e Biodiversidade facilita o entendimento do

grande público sobre o tema, já que muito é pesquisado e difundido sobre a biodiversidade.

Hodiernamente se entende a importância de proteger os elementos de relevância biológica.

Diversos projetos de conservação de espécies são financiados por órgãos públicos e privados,

sendo toda uma corrente ambientalista pautada em seus postulados, ou seja, o entendimento

sobre a biodiversidade perpassa as paredes da academia e chega ao público comum. A

Geodiversidade não apresenta a mesma difusão, pouco se conhece e medidas específicas de

conservação são quase inexistentes, até no meio acadêmico o tema é pouco estudado se

comparado a relevância que apresenta. Sendo assim, associar os termos configura-se como

uma estratégia de divulgação, mostrando que a natureza é constituída por essas duas vertentes,

biótica e abiótica, e que uma consciência ambiental completa e efetiva deve perpassar pelo

entendimento e conservação desses campos complementares.

Um conceito difundido na escola espanhola é formulado por Nieto (2001, p. 7,

tradução nossa), que defende que a Geodiversidade é composta pelo “número e variedade de

estruturas (sedimentares, tectônicas), materiais geológicos (minerais, rochas, fósseis e solos),

que constituem o substrato de uma região sobre a qual se assenta as atividades orgânicas,

inclusive as antrópicas”. O autor não contempla os processos de formação dos elementos

geológicos e geomorfológicos como constituinte da geodiversidade, como ocorre na definição

da Royal Society, sendo esse um conceito bastante restrito. Nota-se ainda que as ações

antrópicas são abordadas como uma atividade desenvolvida sobre a geodiversidade, não como

um fenômeno ou processo ativo que acaba por gerar novos elementos.

O papel e a relevância das ações antrópicas na formação de elementos da

geodiversidade é algo vigente nas discussões da temática. Alguns conceitos de geodiversidade

mais abrangentes do que os apresentados anteriormente, como o defendido por Serrano e

Ruiz-Flaño (2007, apud CARCAVILLA et al, 2008), englobam todos os componentes do

meio físico, como a hidrografia, e os sistemas gerados não só pela processos endógenos e

exógenos, mas também os oriundos de ações antrópicas. Segundo os autores o homem deixa

de ser um mero utilizador da geodiversidade e passa a ser agente criador de novos elementos,

sendo a Geodiversidade definida por eles como

(...) a variedade de natureza abiótica, incluindo os elementos litológicos, tectônicos,

geomorfológicos, edáficos, hidrogeológicos, topográficos e os processos físicos

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sobre a superfície terrestre, dos mares e oceanos, junto a sistemas gerados por

processos naturais endógenos, exógenos e antrópicos, que compreendem a

diversidade de partículas, elementos e lugares. (CARCAVILLA et al, 2008, p.

1300, tradução nossa)

Nos conceitos de Geodiversidade percebem-se duas linhas de pensamento,

aqueles que interpretam a paisagem como uma síntese da geodiversidade, como os

apresentados anteriormente, incluindo os elementos e processos geológicos, geomorfológicos,

hidrológicos, edáficos, climáticos e alguns a ação antrópica. A outra forma de pensar é mais

restrita e concebe a geodiversidade enquanto a diversidade geológica de uma determinada

área, essa lógica é defendida por Johanson et al (1999, apud CAÑADAS e FLAÑO, 2007, p.

82, tradução nossa) que define a Geodiversidade como “a variação de fenômenos e processos

geológicos em uma área definida”.

Torna-se válido nesse momento salientar que a presente dissertação adota uma

visão mais integradora do conceito de Geodiversidade. Diante disso a análise da

geodiversidade do Parque Nacional de Jericoacoara no intuito de definir os locais com valor

excepcional leva em consideração não só os elementos geológicos/litológicos, mas todos os

aspectos abióticos da paisagem e os processos associados.

O estudo e a conservação de elementos da geodiversidade são justificados já que

essa apresenta diversos valores associados. O público leigo facilmente concebe o valor

econômico atribuído aos elementos da geodiversidade (mineração, uso do solo, combustível,

etc.), mas esse é apenas uma das importâncias que podem ser conferidas a geodiversidade.

Gray (2004) no seu livro intitulado “Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature”

atribui outras seis categorias de valores, sendo eles o valor intrínseco, cultural, estético,

funcional, científico e didático.

O valor intrínseco é de difícil entendimento e mensuração já que se refere a

importância do elemento da geodiversidade por si só, sem imputar nesse uma finalidade de

uso pela sociedade. Diante disse o valor intrínseco é fortemente relacionado com as

perspectivas religiosas e filosóficas da cultura local (GRAY, 2004; BRILHA, 2005). Cada

povo tem uma forma de se relacionar com os elementos da natureza, diante disso, a

dificuldade mensuração.

Ao discursar sobre o valor cultural da geodiversidade Mochiutti et al (2012, p.

175) expõe que esse “revela-se nas inúmeras relações que existem entre a sociedade e o

mundo natural que a rodeia, no qual ela está inserida e ao qual ela pertence”. Muitos locais

apresentam toponímias relacionadas a aspectos geológicos e/ou geomorfológicos, como

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exemplos temos os municípios Pedra Branca (CE), Barra (BA), Morro do Chapéu (BA).

Nascimento e Santos (2013, p 16) salientam os nomes de cidades brasileiras que derivam do

tupi-guarani e começam com o prefixo “ita” que significa pedra. O uso de aspectos da

geodiversidade para cultos religiosos, em especial cavernas ou altos de morros a importância

cultural da geodiversidade.

O valor estético, assim como o intrínseco, é difícil de ser mensurado já que cada

pessoa tem uma percepção diferente do que é a beleza, ou seja, a subjetividade é inerente ao

observador. Porém, é inegável o apelo cênico que muitos elementos da geodiversidade

apresentam. Os aspectos geomorfológicos são os mais facilmente distinguidos pelo seu valor

estético e constitui como atrativos turísticos em diversos roteiros, como exemplos clássicos

temos o Pão de Açúcar (RJ), Cataratas do Iguaçu (PR), e até o próprio campo de dunas do

Parque Nacional de Jericoacoara.

O valor funcional é atribuído de acordo a capacidade que o elemento natural tem

na contribuição do bem-estar humano (MOCHIUTTI et al, 2011), ou seja, a natureza

enquanto suporte e facilitador das atividades antrópicas. Mochiutti et al (2011, p. 659) expõe

que “neste quadro a geodiversidade assume dois papéis centrais. O primeiro é em relação à

utilidade para o homem que a geodiversidade tem in situ. O segundo é em relação à função de

sustentação ecológica que o meio abiótico exerce”.

A investigação científica no campo das Ciências da Terra é dada através do acesso

e estudo dos elementos da geodiversidade (BRILHA, 2005), diante disso distinguisse o valor

científico e educativo. Apesar da temática ser recente, todos os estudos geológicos e

geográficos que abordam rochas, minerais, tipos de relevo, solo, entre outros componentes

abióticos, tem elementos da geodiversidade como objeto de trabalho, mesmo que com uma

abordagem distinta. Por meio do estudo de elementos da geodiversidade é possível remontar a

diferentes períodos da história evolutiva do Planeta Terra, sendo de fundamental importância

para o entendimento dos ciclos geológicos e climáticos, bem como para a relação homem-

natureza. Apropriar-se dos valores científico e educativo da geodiversidade em meio a

educação ambiental e de fundamental importância para a criação de uma consciência

ecológica completa, a qual entende a relevância do substrato para toda a manutenção de toda

forma vida.

O entendimento do conjunto dos valores contribui para o fortalecimento de uma

consciência ambiental que vise a preservação dos elementos abióticos da paisagem, pois esses

passam a ser tratados como relevantes em diferentes contextos (histórico, cultural, educativo,

etc.). O profissional da Geografia é capacitado a distinguir e descrever esses valores já que

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sua análise vai além os aspectos físicos da paisagem, sendo capaz de realizar a caracterização

sociocultural dos locais no entorno dos elementos da geodiversidade, isso devido o diálogo

com as Ciências Sociais que permeia a Geografia.

2.2 O CONCEITO DE PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

A palavra patrimônio tem sua origem no latim e designava, primeiramente, o

legado advindo dos pais, porém o Direito ampliou o conceito incluindo também os bens que

um indivíduo consegue acumular por conta própria durante a vida (BIESEK e CARDOZO,

2012). Atualmente, devido a corrente ambientalista que se instaurou com a evolução das

ciências e do crescimento da compreensão por parte do público leigo da relevância da

natureza para a manutenção e bem estar das sociedades a noção de patrimônio passou a ser

empregado também no campo ambiental.

A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), realizada em

Digne na França no ano de 1972 é um grande marco na discussão em torno do patrimônio

natural já que, além de trazer um conceito, mostrou o quanto os elementos naturais de

relevância excepcional estavam em ameaça de destruição, não apenas por praticas

tradicionais, “mas também pela evolução da vida social e econômica que as agrava através de

fenômenos de alteração ou de destruição ainda mais importantes”1. Segundo a convenção o

patrimônio natural é composto pelos

(...) monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por

grupos de tais formações com valor universal excepcional do ponto de vista estético

ou científico; As formações geológicas e fisiográficas e as zonas estritamente

delimitadas que constituem habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas, com

valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação; Os

locais de interesse naturais ou zonas naturais estritamente delimitadas, com valor

universal excepcional do ponto de vista a ciência, conservação ou beleza natural.2

Sendo assim, o patrimônio natural é constituído por elementos excepcionais que

integram a biodiversidade e a geodiversidade, sendo a conservação e/ou proteção necessária

para que as gerações futuras possam também usufruir de suas singularidades. Muito foi

realizado desde 1972 em prol da conservação da vertente biológica do patrimônio natural.

1 Retirado do texto da “Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural” traduzido para

português (de Portugal). Disponível na página: http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf , acesso em

fevereiro de 2016. 2 Retirado do texto da “Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural” traduzido para

português (de Portugal). Disponível na página: http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf , acesso em

fevereiro de 2016.

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Diversas leis e áreas de proteção foram criadas ao redor do mundo para proteger espécies

vegetais, animais, entre outros elementos biológicos, sendo que o equivalente abiótico,

podendo ser intitulado Patrimônio Geológico, acabou recebendo um papel secundário, sem

medidas específicas que revelassem a sua real importância.

Mediante isso o termo Patrimônio Geológico, assim como o da Geodiversidade,

deve ser difundido e popularizado em meio às ciências e o senso comum. Torna-se válido

nesse momento discutir diferentes abordagens existentes sobre o conceito de Patrimônio

Geológico.

De acordo Carcavilla et al (2008, p. 3001, tradução nossa) entende-se por

Patrimônio Geológico “o conjunto de elementos geológicos que se destacam por seu valor

científico, cultural ou educativo”, os autores distinguem o termo da ideia de geodiversidade,

já que “o estudo do patrimônio geológico é independente do estudo da geodiversidade mesmo

que ambos apresentem certa relação”. A geodiversidade compreende os elementos abióticos

como um todo enquanto o patrimônio geológico são aqueles que adquirem relevância/valor

excepcional de acordo a avaliação humana, sendo assim, os dois conceitos não são sinônimos.

Outro conceito de patrimônio geológico é formulado por Araújo (2005, p. 26), para a autora

(...) constituído por georrecursos culturais, ou seja, recursos não renováveis de

índole cultural, que contribuem para o reconhecimento e interpretação dos processos

geológicos que modelaram o nosso planeta, que podem ser caracterizados de acordo

com o seu valor (científico, didático), pela sua utilidade (científica, pedagógica, museológica, turística) e pela sua relevância (local, regional, nacional e

internacional).

Outra terminologia utilizada para designar o patrimônio geológico é o termo

Geopatrimônio, o qual surge diante a necessidade de ampliar o sentido restrito do termo

“geológico”. Sendo assim, o conceito de Geopatrimônio é de caráter mais amplo, estando

intimamente relacionado com a definição de sítios geológicos (e suas diversas subdivisões).

Torna-se válido salientar que o conceito de Patrimônio Geológico, segundo a corrente teórica

predominante, engloba toda uma diversidade de categorias (patrimônio geomorfológico,

patrimônio mineralógico, patrimônio paleontológico, etc.) funcionando como conceito

guarda-chuva, porém, pesquisadores o segmentam em diferentes campos temáticos para dar

maior visibilidade ao elemento abordado.

Por fim, é necessário discorrer sobre um conceito fundamental em meio aos

estudos de patrimônio geológico, sendo esse o de Geossítio ou Sítios Geológicos, o qual foi

definido por Brilha (2005, p. 52) como a ocorrência de “um ou mais elementos da

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geodiversidade (...), bem delimitado geograficamente e que apresente valor singular do ponto

de vista científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro”.

Brilha reformulou seu conceito de Geossítio e Patrimônio Geológico no artigo

“Inventory and Quantitative Assessment of Geosite and Geodiversity Sites: a Review”

(BRILHA, 2015). Para o autor a geodiversidade é dividida em dois grandes grupos (i) sítios

com valor científico e (ii) sítios com outros valores, ambas in situ ou ex situ (BRILHA, 2015)

(Quadro 1). A ideia de patrimônio geológico (Geoheritage) ficou atrelada apenas aos sítios

com relevância científica, já que esse se configura como o valor menos subjetivo no processo

de avaliação, devendo assim ser utilizado prioritariamente para a seleção de lugares

representativos da historia evolutiva da Terra (BRILHA, 2015). O patrimônio geológico

localizado in situ (no campo) é denominado de “geossítio” (Geosite), enquanto os localizados

ex situ (museus, exposições, centros interpretativos, etc.) passaram a ser designados como

“elementos do patrimônio geológico” (Geoheritage elements) (Quadro 1).

Quadro 1 – Nova abordagem para o Patrimônio Geológico segundo Brilha

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de BRILHA, 2015.

Os locais onde a geodiversidade apresenta demais valores (educativos, cultural,

turístico, estético, entre outros) na nova classificação de Brilha não compreendem o escopo do

patrimônio geológico, sendo designados como “sítio de geodiversidade” (Geodiversity site)

quando localizado in situ e “elementos da geodiversidade” (Geodiversity elements) quando se

apresenta ex situ (BRILHA, 2015) (Quadro 1). Torna-se válido salientar que na presente

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dissertação adota-se os conceitos anteriores de patrimônio geológico e geossítio (BRILHA,

2005), já que o autor considera que a relevância da geodiversidade não está apenas no valor

científico que o elemento apresenta, mas em todo os conjuntos de valores anteriormente

abordados. O uso da palavra “patrimônio” compreende uma estratégia de atração para novos

pesquisadores em diferentes campos da Ciência e, principalmente, da população em geral.

Geossítios de caráter educativo, cultural e turísticos são de inestimada importância para a

divulgação de conceitos relativos a Ciência da Terra. Atividades de educação ambiental e

estratégias de geoconservação têm na lógica de pertencimento exposta pelo conceito de

“patrimônio” um elo de aproximação e interesse para o público, sendo uma perda a sua

apropriação apenas em locais de relevância científica.

Diante disso o objetivo da presente dissertação é inventariar e avaliar os possíveis

geossítios (ou locais de interesse geológico) existentes no Parque Nacional de Jericoacoara de

acordo o caráter científico e turístico, para assim discutir as potencialidade e vulnerabilidades

do possível patrimônio geológico da área, pois como expõe Araújo (2005, 27) “o Património

Geológico corresponde ao conjunto de geossítios existentes numa determina região”.

2.3 GEOCONSERVAÇÃO: TÉCNICAS E APLICAÇÕES EM CONTEXTO

NACIONAL E GLOBAL

Os principais objetivos no estudo da temática do Patrimônio Geológico são a

popularização de conceitos referentes às ciências da Terra, a criação de uma consciência

ambiental completa que enxerga a natureza como uma dialética entre elementos abióticos e

bióticos e a conservação das feições excepcionais da geodiversidade. Esses fins resultam na

Geoconservação que segundo Cumbe (2007, p. 43) consiste em “atividades que têm com

finalidade a conservação e gestão do património geológico e dos processos naturais a ele

associados”.

Peixoto (2008, p. 28) traz uma definição de geoconservação alongada, porém,

com a mesma lógica da apresentada anteriormente quando expõe que essa compreende “a

preservação da diversidade natural (ou geodiversidade) de significativos aspectos e processos

geológicos (substrato), geomorfológicos (geoformas e paisagem) e de solo”, por significativo

entende-se o patrimônio geológico, “mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade)

desses aspectos e processos (...); ou seja, a geoconservação tem como objetivo preservar a

geodiversidade”. O emprego do termo preservar por Peixoto é limitante, sendo que no

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entendimento dos presentes autores o termo correto a ser utilizado seria proteger já que esse

engloba tanto ações de preservação do meio ambiente (quando a área a ser protegida não é

passível de uso) como de conservação (quando é viável o uso do local).

Brilha (2005) expõe que a geoconservação pode ser concebida tanto no sentido

amplo, sendo essa compreendida pela utilização e gestão dos elementos da geodiversidade, ou

em sentido restrito, onde os alvos das medidas de geoconservação é o Patrimônio Geológico.

Lima (2008) descreve as etapas que constituem uma estratégia de geoconservação, sendo elas

a inventariação, avaliação quantitativa, classificação (termo utilizado enquanto sinônimo de

tombamento), conservação, valorização, divulgação e monitoramento do patrimônio

geológico. A geoconservação, segundo Brilha (2005, p. 117 e 118)

[...] enquadra-se perfeitamente no paradigma da sustentabilidade; ou seja, daquelas atividades ou ações que podem ser repetidas, por um tempo indefinido, tendo em

consideração três eixos fundamentais: Ambiental; [...] Social e cultural [...];

Económico.

Medidas em prol da conservação do patrimônio geológico passaram a ser tomadas

em nível mundial a partir da década de 1990, Wimbledon et al (1999, apud Pereira 2010)

elenca algumas das principais ações. A criação da ProGEO - European Association for the

Conservation of the Geological Heritage em 1988, porém sob o auspício da “European

Working Group for Earth Science Conservation”, foi a primeira grande ação. Outros

momentos relevantes para a geoconservação são compreendidos pela instituição do GILGES

(Global Indicative List of Geological Sites) em 1989, o qual constituía um inventário mundial

de sítios geológicos, a aprovação da Carta de Digne no 1º Simpósio Internacional sobre a

Proteção do Patrimônio Geológico realizado no ano de 1991 e a Conferência de Malvern para

a Conservação Geológica e da Paisagem realizada em 1993. Por fim, o autor salienta a

Realização do 2º Simpósio Internacional sobre a Conservação do Patrimônio

Geológico, no ano de 1996, em Roma, quando foi criado o Projeto GEOSITES e

estabelecido o grupo de trabalho: GGWG – Global Geosites Working Group, da

União Internacional das Ciências Geológicas - IUGS, com o objetivo de: a) elaborar

um inventário global e informatizado dos sítios geológicos de interesse global, b) promoção de uma política de proteção e apoio às ciências geológicas em níveis

regional e nacional e c) estabelecer critérios e assessorar as iniciativas regionais e

locais para realização de inventários. (WIMBLEDON et al, 1999 apud PEREIRA,

2010, p. 24)

Porém, foi no ano de 2000 com a instituição da Rede Europeia de Geoparques que

se deu a maior ação em prol do patrimônio geológico. A união e a troca de experiências de

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quatro territórios europeus com grande geodiversidade (Reserva Geológica de Haute-

Provence, na França; a Floresta Petrificada de Lesvos, na Grécia; o Geoparque Vulkanaifel,

na Alemanha; e o Geoparque do Maestrazgo, na Espanha) foi o ponto inicial para essa

estratégia de gestão territorial. Segundo Modica (2009, p. 18) os geoparques são

[...] territórios protegidos, com limites territoriais bem definidos, que conta com um

patrimônio geológico de importância internacional, grande relevância científica,

raridade e relevância estética ou educativa, que representa, portanto, um importante

patrimônio histórico, cultural e natural. [...] Nos geoparques aplica-se uma estratégia

de desenvolvimento sustentável baseada na valorização das características

geológicas e em uma visão integral das características naturais e culturais do

território, com ações de proteção, educação e promoção do geoturismo para o desenvolvimento econômico. O patrimônio geológico, que reporta à memória da

Terra, integra-se com a riqueza histórico-cultural e natural do território.

Os geoparques europeus ganharam visibilidade devido as características

dinâmicas, por serem uma estratégia de valorização de áreas economicamente deprimidas,

interligar aspectos naturais e culturais e incentivar a prática do Geoturismo. Diante disso em

2004 a ideia foi expandida, sendo criada a Rede Global de Geoparques (RGG) com auspício

da UNESCO (a qual adota o termo em inglês Geopark para designar as regiões integrantes).

Em setembro de 2015 a rede contava com 120 Geoparques em 33 países membros (Figura 2).

Figura 2 – Mapa de Localização dos Geoparques pertencentes ao Global Geoparks

Network

Fonte: Site do Global Geoparks Network (GGN)

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Uma importante medida para o desenvolvimento de geoparques ao redor do

planeta foi tomada recentemente pela UNESCO por meio da criação de um novo campo de

atuação ligado ao tema. No dia 17 de novembro de 2015, durante a 38ª Conferência Geral da

Organização, os 195 Estados membros da UNESCO ratificaram a criação do campo

UNESCO Global Geoparks. Essa medida expressa o reconhecimento, por parte dos governos

e demais agentes de planejamento espacial-ambiental, da importância que os sítios geológicos

presentes na paisagem adquirem em meio a preservação da natureza e como é necessário alçar

medidas holísticas em sua gestão3. O programa UNESCO Global Geoparks salienta aspectos

importantes como a interdisciplinaridade, já que o mesmo não busca abordar apenas os

aspectos geológicos, mas sim, “explorar, desenvolver e criar vínculos entre o patrimônio

geológico e todos os outros aspectos dos patrimônios natural, cultural e imaterial presentes na

área” 4.

Um geoparque não se configura como um parque nos moldes do Sistema Nacional

de Unidades de Conservação (SNUC) (BACCI et al, 2009), mas sim como uma unidade de

gestão territorial, podendo essa ser de caráter governamental ou particular. Um geoparque não

é necessariamente uma área protegida legalmente, mas um espaço de promoção da

conscientização ambiental e de valorização da cultura e natureza local, fatores que acabam

por criar uma lógica conservacionista. Nascimento et al (2015) salienta que a ausência de um

enquadramento legal constitui uma as razões do sucesso, em nível global, dessa iniciativa.

O Brasil conta com um geoparque associado a Rede Global. O Geopark Araripe

localizado no extremo sul do Estado do Ceará, possuindo uma área de 3.520,52 km²,

apresenta 59 geossítios inventariados, sendo que desses nove foram selecionados para

medidas de divulgação (Colina do Horto, Cachoeira de Missão Velha, Floresta Petrificada do

Cariri, Batateiras, Pedra Cariri, Parque dos Pterossauros, Riacho do Meio, Ponte de Pedra,

Pontal da Santa Cruz). Os geossítios sofreram diferentes intervenções no período entre 2006-

2010 para viabilizar a realização de práticas ligadas ao geoturismo, educação ambiental e

investigação no âmbito das Ciências da Terra, os mesmos apresentam relevância de caráter

paleontológico, geomorfológico, estético e cultural (SILVEIRA et al, 2012). O Geopark

Araripe foi agregado a GNN no ano de 2006, sendo por sete anos o único da América Latina.

3 É possível ler mais sobre o assunto através da página de internet: http://www.unesco.org/new/en/natural-

sciences/environment/earth-sciences/unesco-global-geoparks , acesso fevereiro de 2016. 4 Tradução nossa de citação presente na página:http://www.unesco.org/new/en/natural-

sciences/environment/earth-sciences/unesco-global-geoparks/faq/is-a-unesco-global-geopark-only-about-

geology/ , acesso fevereiro de 2016.

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Apesar de recentes e ainda insuficiente, quando se leva em conta a dimensão do

território brasileiro, algumas ações em prol da geodiversidade e patrimônio geológico foram

tomadas em âmbito nacional, sendo essas abordadas por autores como Nascimento et al

(2007), Lima (2008), Nascimento (2010), Pereira (2010), Mansur et al (2013), entre outros.

Torna-se válido nesse momento elencar duas medidas que alcançaram maior visibilidade

nacional, sendo elas a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) e

o Projeto Geoparques da CPRM.

No Brasil o órgão que gerencia o patrimônio geológico é a Comissão Brasileira de

Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP). A comissão foi instituída pelo Departamento

Nacional de Produção Mineral (DNPM) no ano de 1997, tendo sua base no Grupo de

Trabalho de Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Patrimônio Mundial, da UNESCO (da

qual a DNPM já fazia parte desde o ano de 1993). A SIGEP conta com representantes das

seguintes instituições: Academia Brasileira de Ciências (Membro até 2007), Associação

Brasileira de Estudos do Quaternário, Departamento Nacional de Produção Mineral, Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos

Renováveis, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Petróleo Brasileiro SA, Sociedade Brasileira de

Espeleologia, Sociedade Brasileira de Geologia, Sociedade Brasileira de Paleontologia e

União da Geomorfologia Brasileira.

Os principais objetivos da SIGEP são o levantamento, a discrição e a

publicação/divulgação de sítios geológicos. A divulgação é realizada através da

disponibilização, pela internet, de artigos científicos bilíngues elaborados por especialistas

que trabalham na área do sítio cadastrado (alguns apresentam versão em linguagem para

leigos), assim como a confecção de livros e publicação de artigos em revistas e congressos

científicos. A SIGEP já catalogou e publicou 116 sítios geológicos, destes 58 geossítios estão

no primeiro volume do livro Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil

(SCHOBBENHAUS et al, 2002), 40 no segundo (WINGE et al, 2009) e 18 no terceiro

(WINGE et al, 2013). Os sítios propostos seguem as tipologias principais (Astroblema;

Espeleológico; Estratigráfico; Geomorfológico; Hidrogeológico; História da Geologia,

Mineração, Paleontologia; Ígneo; Marinho-submarino; Metamórfico; Metalogenético;

Mineralógico; Paleoambiental; Paleontológico; Sedimentar; Tectonoestrutural; outro) e tendo

como critérios:

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(i) sua singularidade na representação de sua tipologia ou categoria; (ii) importância

na caracterização de processos geológicos-chave regionais ou globais, períodos

geológicos e registros expressivos na história evolutiva da Terra; (iii) expressão

cênica; (iv) bom estado de conservação; (v) acesso viável; e (vi) existência de

mecanismos ou possibilidade de criação de mecanismos que lhe assegure

conservação e consequente aproveitamento. (MANSUR et al, 2013, p. 05)

O Projeto Geoparque do Serviço Geológico do Brasil – CPRM foi criado no ano

de 2006 com o intuito de ser um indutor na criação de geoparques, segundo a GNN, no Brasil.

Schobbenhaus e Silva (2010, p. 8) expõem que o projeto tem como premissa “a identificação,

levantamento, descrição, inventário, diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencial

para futuros geoparques no território nacional”, ou seja, buscasse realizar as etapas prévias a

instituição de um Geoparque sob auspício da UNESCO.

Atualmente o projeto conta com 17 propostas concluídas, ou seja, são dezessete

áreas com todo o patrimônio geológico inventariado e descrito, o que configura uma grande

ação em prol do entendimento da geodiversidade brasileira. Em 2012 foi lançado o volume

um do livro “Geoparques do Brasil: propostas” (SCHOBBENHAUS e SILVA, 2012) com a

descrição de 17 propostas. Contudo o número total de propostas é de 38 áreas, isso entre

concluídas, em processo de realização, ou recém-lançadas (Figura 3).

Figura 3 – Mapa de Localização das Propostas de Geoparques da CPRM

Fonte: Página do Projeto Geoparques no site da CPRM

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Nascimento et al (2015, p. 354) expõem o papel da CPRM como indutor do

geoparque, mas salientam a necessidade de ação e vontade política/social na instituição dessa

estratégia de valorização territorial

A ação catalisadora desenvolvida pela CPRM representa, entretanto, somente o

passo inicial para o futuro geoparque. A posterior criação de uma estrutura de gestão

do geoparque, contando com pessoal técnico especializado e outras iniciativas

complementares, é essencial e deverá ser proposta por autoridades públicas, comunidades locais e interesses privados agindo em conjunto.

A relevância do Projeto Geoparque da CPRM é engrandecida quando se percebe

que esse órgão de pesquisa, sempre muito técnico, passa a dialogar com outras áreas das

ciências, inclusive das ciências humanas. A busca não é pela mera descrição das feições

abióticas, mas também as inter-relações dessas com as questões culturais, favorecendo assim

o valor de uso turístico da paisagem (geoturismo).

A partir da década de 1980 o turismo passou a se reformular, já que a inserção de

novos “consumidores” gerou novas necessidades e afinidades. Como expõe Perinotto (2009,

p. 28) “o turismo moderno não é mais somente o turismo de destino, mas também o turismo

de experiência ou experimentação”, diante disso nasce um turismo adjetivado (turismo

ecológico, turismo cultural, turismo de aventura, etc.). Nesse contexto que se tem a gênese de

uma nova pratica turística já abordada anteriormente, o Geoturismo.

O Geoturismo é uma das atividades de geoconservação mais difundidas e eficazes

devido a seu caráter dinâmico e agregador. A primeira definição é alçada por Hose no ano de

1995 (apud NASCIMENTO et al, 2007, sp) que o define como a "provisão de serviços e

facilidades interpretativas que permitam aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento

da geologia e da geomorfologia de um determinado sítio [...] além de mera apreciação

estética”, em uma reformulação do conceito realizada em 2000 o autor aprofunda o caráter

geoconservacionistas da atividade. Um conceito muito completo é alçado por Azevedo (2007,

p. 23), segundo a autora o geoturismo

[...] pode ser entendido como um segmento da atividade turística que tem o

patrimônio geológico como seu principal atrativo e busca sua proteção por meio da conservação de seus recursos e da sensibilização do turista, utilizando para isto, a

interpretação deste patrimônio tornando-o acessível ao público leigo, além de

promover sua divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra.

Bento (2014, p. 29) salienta alguns aspectos da prática geoturística, dentre os

quais, a sua realização na interface dos demais segmentos turísticos o que proporciona aos

turistas “uma visão integrada da paisagem, dessa forma, mais enriquecedora, na qual todos os

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aspectos, bióticos e abióticos, se relacionam e merecem igual reconhecimento por parte da

sociedade” e o fato do geoturismo ter a sua busca pela sustentabilidade pautada no

entendimento dos locais visitados, sendo em muitos casos considerado uma extensão do

turismo educativo e científico.

No Brasil apesar de boa parte das áreas turísticas apresentarem relevante

patrimônio geológico pouco ainda é aproveitado pelo Geoturismo, sendo que ainda não há um

diagnóstico sobre a demanda da prática geoturística em território nacional (BENTO, 2014),

cabe então órgãos públicos incentivarem estudos nessa área de pesquisa, para a criação de

técnicas aplicáveis em diferentes áreas potenciais.

2.4 GEODIVERSIDADE É GEOGRAFIA? ATRIBUIÇÕES DO GEÓGRAFO NO

ESTUDO DA TEMÁTICA

A resolução nº 1.010 de 22 de agosto de 2005 da Confederação Federal de

Engenharia e Agronomia (CONFEA), órgão que licencia o profissional geógrafo, vem tratar

do campo de atuação profissional no âmbito da geografia (CONFEA, 2015). A atuação é

dividida quatro grandes áreas, sendo elas, tecnologia da Geografia, Antropogeografia,

Geoeconomia e por fim, Geociências e Meio Ambiente, sendo que nessa um dos subcampos é

relativo a estudos sobre Geodiversidade.

As competências do geógrafo também são definidas pela Lei nº 6.664 de junho de

1979 (BRASIL, 2015). Nesse período o termo Geodiversidade ainda não havia sido alçado,

porém diversas atribuições perpassam pelo estudo da diversidade abiótica da paisagem, como

a delimitação e caracterização de sub-regiões geográficas naturais, no aproveitamento,

desenvolvimento e preservação dos recursos naturais, zoneamento geo-humano, entre outros.

Os dois parágrafos anteriores esclarecem no contexto legal que o geógrafo é um

profissional apto a integrar grupos interdisciplinares que realizam estudos voltados a

geodiversidade e patrimônio geológico. É necessário que a academia tenha essa concepção e

aproxime essa temática do currículo dos cursos de graduação e que os programas de pós-

graduação passem a abraçar a realização de projetos de pesquisa na área. Porém, a

importância do geógrafo vai além da conjuntura legal e fica ainda mais clara quando observa

a predisposição da ciência diante o planejamento ambiental e as características da formação

profissional, a qual não é só na área física, mas também humana.

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Os trabalhos em torno das temáticas da Geodiversidade e do Patrimônio

Geológico apresentam características próprias dentro do contexto das ciências da Terra, pois

transcende a racionalidade dos números e compostos químicos, já que não se pretende apenas

descrever uma rocha ou minério para saber qual a sua capacidade de exploração ou o relevo

para saber onde é passível ou não de ocupação, pretende-se com os estudos descrever,

entender (muitas vezes utilizando de aspectos históricos e culturais) e passar esse

conhecimento de forma passível de compreensão para a academia, o público geral e os

gestores públicos, sendo assim, um contributo real para as atividades de planejamento

ambiental.

A gestão/planejamento territorial-ambiental é fundamental nos estudos do

patrimônio geológico e nas ações em prol da geoconservação. A Geografia tem,

historicamente, fortíssimas amarras com o planejamento, desde Geografia Clássica Francesa,

através dos estudos regionais, até a Geografia Teorética-Quantitativa, onde as representações

geográficas eram quantificadas e se transformavam em informações bases para ações de

planejamento. O planejamento e a gestão constituem o ápice do estudo geográfico, pois é

nesse momento que as diferentes abordagens da Geografia Humana e da Geografia Física se

integram de forma dialética.

O geógrafo tem a capacidade de interpretar os aspectos físicos em conjunto com

as atividades sociais existentes na paisagem. O “olhar geográfico” que, segundo Hissa (2002),

é composto pela interação e aperfeiçoamento do olhar físico, a forma de olhar a paisagem

como ela é, pelo olhar teórico, que advêm da ação empírica que em junção com o pensamento

resultado da crítica, é útil no estudo da temática, pois dá ao profissional a sensibilidade de

compreender o espaço por meio da interação dos diversos agentes. O olhar repousa não só nos

elementos abióticos, mas também, sobre as comunidades, tornando mais fácil o diálogo

pesquisador-sociedade.

Diante disso a categoria de análise geográfica “Paisagem” pode ser amplamente

empregada nos estudos da geodiversidade, em especial aos ligados a patrimônio geológico.

Salgueiro (2001) expõe que no início os trabalhos da paisagem pela geografia eram focados

na mera descrição das formas físicas da superfície terrestre, não havia a interação entre os

elementos naturais e antrópicos, porém, com a evolução dos estudos e o desenvolvimento de

novas correntes de pensamento, a ideia de paisagem foi modificada, passando a focar a

integração dialética entre os diversos sistemas que compõe o meio. Bertrand (2004, p. 141)

defende que

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A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em

uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto

instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente

um sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em

perpétua evolução.

Apesar dos trabalhos focarem a atenção na componente abiótica da paisagem por

meio da descrição de suas características, potencialidades e vulnerabilidades, todos os estudos

devem passar por uma análise geral dos componentes que interferiram e/ou influenciam na

configuração do elemento da geodiversidade (sendo eles de cunho físico ou antrópico). Ou

seja, é fundamental uma análise da paisagem no estudo da geodiversidade. A relação com a

paisagem fica mais forte nos estudos do patrimônio geológico devido esses apresentarem

intensa ligação com os fatores antrópicos, já que a ideia de “patrimônio” não existe sem que

haja a atribuição de importância a determinada feição pelo homem.

Oliveira (2014), em trabalho abordando o foco geográfico na gestão de

geoparques no Brasil, defende o uso do território enquanto categoria de análise do espaço

nessa estratégia de gestão. Segundo o autor na análise dos geoparque, que constitui elemento

importante no estudo da temática devido seu caráter dinâmico e apelo econômico, é

necessário entender as relações de poder expressas pelos diferentes agentes no território já que

os mesmos configuram-se como “espaços usados” e “objetos das ações humanas”, sendo uma

estratégia de gestão que vai além da utilização da paisagem para fins turísticos, o que torna

necessária uma abordagem territorial por configurar-se como uma

(...) alternativa para se ampliar o leque de proteção aos patrimônios materiais

(naturais e históricos) e imateriais (culturais) dentro de determinado limite geográfico (território) e, ao mesmo tempo, utilizar tais patrimônios na promoção de

conhecimento (geológico, ambiental, histórico etc.) e de atividades econômicas

sustentáveis. (OLIVEIRA, 2014, p. 83)

Outra categoria facilmente apropriada no estudo do patrimônio geológico é a

categoria lugar. O espaço vivido, do cotidiano, muito estudado pela Geografia da Percepção é

extremamente influenciado pela diversidade abiótica de uma região. Um dos valores

atribuídos a geodiversidade é de caráter cultural, o que relaciona a feição geológica-

geomorfológica com sentimentos de topofilia e/ou topofobia. Muitas populações apresentam

relações fortes com feições abióticas no seu dia a dia, um exemplo é a cidade de Bom Jesus da

Lapa (Bahia) onde cavernas são utilizadas como templos para cultos religiosos na segunda

maior romaria do nordeste brasileiro, as pessoas da cidade atribuem elevada importância as

feições e as enxergam como um lugar. Outro exemplo é a cidade de Pedra Caiada (Rio

Grande do Norte) que apresenta no pórtico de entrada a imagem de um monólito e a frase “A

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Pedra mais antiga da América do Sul” demonstrando a relação da população com esse

elemento da geodiversidade de caráter excepcional (NASCIMENTO, 2015)

A proximidade e, em muitos casos, a apropriação de bases conceituais e

metodológicas da ciência geográfica com diversas áreas do saber como o turismo,

antropologia, sociologia, entre outros, constitui um elemento favorável na capacitação do

profissional. Esses conhecimentos são bastante utilizados nos estudos e projetos práticos em

torno do patrimônio geológico, porém, são ausentes no currículo dos demais profissionais das

geociências, os quais apresentam uma formação mais técnica e voltada unicamente para os

elementos físicos da paisagem.

No intuito de aprofundar a percepção sobre a importância do estudo da temática

pela Geografia o presente autor realizou entrevistas, por meio de correspondências eletrônicas

trocadas nos meses de julho e agosto de 2015, com pesquisadores da temática reconhecidos

nacionalmente e que estão atrelados a cursos de Pós-Graduação e Graduação em Geografia.

As entrevistas eram constituídas por três perguntas simples: 1 – “Em sua opinião qual o papel

da Geografia (e dos Geógrafos) no estudo das temáticas da Geodiversidade, Patrimônio

Geológico, Geoconservação e Geoturismo?”, 2 – “Em sua opinião qual a relevância da

inserção das temáticas em programas de pós-graduação e graduação em Geografia?” e, 3 –

“Em sua opinião quais são as perspectivas futuras no estudo das temáticas?”. As respostas

demonstram a relevância da Geografia na temática.

Jasmine Moreira, bacharel em Turismo, doutora em Geografia e professora do

Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná

(PPPG-UEPG) expõe que a Geografia tem a capacidade de facilitar a “visão de todo” presente

nos trabalhos por meio da apropriação de conceitos como paisagem, território, proteção do

patrimônio, entre outros (MOREIRA, 2015). Fernando Manosso, doutor em Geografia e

professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Francisco Beltrão, também

expõe a capacidade integradora da Geografia a qual é

(...) conexa e holística, seja na natureza, seja nas relações com os sistemas

socioeconômicos responsáveis pela transformação da geodiversidade ou ainda pela

sua destruição, ou pela decisão de conservação e promoção como um patrimônio ou

ainda uso adequado, como o geoturismo (MANOSSO, 2015).

Luiz Eduardo Panisset Travassos, geógrafo, doutor em Geografia e professor do

Programa de Pós-Graduação em Geografia da PUC-Minas, salienta o caráter interdisciplinar

da temática e a necessidade de inserção do geógrafo nessa discussão devido a sua capacidade

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de analisar, avaliar e sintetizar o conhecimento do meio integrando os diversos componentes

físicos e humanos (TRAVASSOS, 2015). A formação dual (componente física e humana) é

que faz do profissional em geografia tão apto para o estudo da temática (TRAVASSOS,

2015).

Acredito que estamos diante de temas interdisciplinares que requerem a integração

de vários profissionais. Entretanto, creio que o Geógrafo merece destaque por ser

aquele profissional capaz de analisar, avaliar e sintetizar o conhecimento do meio...

Quando digo geógrafo, penso naquele profissional que não se deixou cegar “pelo

canto da sereia” de uma geografia superficial e que insiste em separar as questões humanas e físicas. Costumo dizer que a Geografia como disciplina acadêmica é

caracterizada por um enfoque extremamente plural que ajuda os geógrafos a possuir

certo grau de convergência. Na minha opinião, talvez seja justamente essa a

característica essencial desta ciência que, paradoxalmente, fazem dos geógrafos

possuidores de certa coesão e identidade própria que os difere dos profissionais de

outras disciplinas. Nem melhor nem pior. Apenas diferente, sendo que trabalhamos

em uma área de integração de conhecimentos como é possível perceber com o

estudo de sua evolução histórica (TRAVASSOS, 2015).

Antônio Liccardo, doutor em Geologia e também professor do PPGG-UEPG,

atribui papel de destaque ao geógrafo quando salienta que

A Geografia como disciplina e filosofia tem o papel de conectar elementos das

ciências naturais com as análises humanísticas e sociológicas. Considero o geógrafo

o profissional com melhor potencial para fazer esta conexão entre a Geodiversidade

e as ações e interpretações humanas, como atribuir valor patrimonial, propor

diretrizes de geoconservação ou inclusive respaldar a implantação de projetos em

geoturismo. Por serem temas novos dentro das geociências, possivelmente ainda

estamos criando as bases de implantação ou funcionamento prático. Apesar de se

discutir muito esta temática em meio acadêmico atualmente, ainda não há uma

implantação efetiva na sociedade, como poderíamos esperar. É um processo um

pouco lento, mas acredito que inexorável e irreversível. Em futuro próximo os

geógrafos serão os profissionais mais necessários para realizar esta implantação no planejamento territorial no Brasil (LICCARDO, 2015).

Enquanto a inserção da temática nos cursos de Graduação e Pós-Graduação os

pesquisadores foram unanimes em salientar a sua relevância devido o caráter físico e humano

da ciência (MOREIRA, 2015; LICCARDO, 2015; MANOSSO, 2015; TRAVASSOS, 2015).

Travassos (2015) descreve bem quando expõe que a inserção da temática é “altamente

relevante e necessária para auxiliar na promoção e divulgação do conhecimento das ciências

da terra, integrado ao ser humano”. Moreira (2015) e Manosso (2015) ainda salientaram que

os estudos vêm ganhando espaço, mesmo que de forma ainda tímida, mas que o futuro é

promissor. Liccardo (2015) traz uma interessante distinção da importância exercida pelo

bacharel e licenciado em Geografia no desenvolvimento da temática

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Dentro da graduação em Geografia eu faria uma distinção entre Licenciatura e

Bacharelado. O bacharel será o profissional que pode assimilar estes conceitos e

contribuir muito para a sua inserção prática, à medida que este novo geógrafo vai

para o mercado de trabalho. Este nível de atuação tende a ser muito dinâmico e

permitirá, com certeza, a ação de profissionais mais conscientes e preparados para

interpretar novos desafios ambientais. Quanto aos licenciados, tendo a pensar que

são multiplicadores de conhecimento. A relevância de inserir estas temáticas de

maneira consistente no ensino de Licenciatura em Geografia pode mudar

rapidamente a consciência da população. Se futuros professores de geografia

conhecerem estas temáticas será um grande ganho na difusão destes conceitos. A

geografia está presente na educação de base e qualquer ação que seja efetiva neste cenário resulta em desdobramentos muito efetivos em qualidade e quantidade.

Moreira (2015) e Manosso (2015) salientaram que as perspectivas para o estudo

da temática são boas, já que cada vez mais trabalhos vêm sendo desenvolvidos no âmbito da

Geografia, fortalecendo assim a divulgação dos conceitos relativos a tema. Travassos (2015)

enxerga como perspectiva futura a utilização da temática como intermédio/ponto de diálogo

entre os órgãos públicos, universidades e sociedade civil, em especial no uso do geoturismo e

a sua relação com as comunidades tradicionais. Já o professor Liccardo (2015) aborda o

número pequenos de trabalhos na temática até então em relação as potencialidades do

território brasileiro, sendo necessário assim um grande esforço, sendo difícil resultados a

curto prazo, porém o mesmo é possível por meio do aumentos dos profissionais de múltiplas

áreas abordando e trabalhando o tema

Esta temática é bastante nova e ainda vem sendo assimilada pelos principais

pesquisadores brasileiros. Já existem trabalhos no Brasil compatíveis com os

melhores internacionais, mas considero o número ainda pequeno. Nosso território é

imenso, nossa geodiversidade também, mas temos enormes problemas estruturais,

como as falhas na educação e os contrastes culturais. Acredito que isto signifique bastante trabalho e áreas de atuação, ao mesmo tempo em que não podemos esperar

facilidades na sua implantação a curto prazo. Penso que melhores resultados virão

justamente do aumento de profissionais de múltiplas áreas atuando sobre os desafios

que temos. As soluções para o Brasil somos nós mesmos que temos que criar!

(LICCARDO, 2015).

Após todas essas explanações percebe-se a importância que a Geografia adquire no

estudo da temática, sendo capaz tanto no âmbito legal como nas atribuições que sua formação

permite de integrar equipes multidisciplinares que desenvolvam pesquisas nessa área. Cabe

então a ciência geográfica se abrir cada vez mais para esse novo campo.

Internacionalmente a ciência geográfica já se apresenta bastante ligada aos estudos das

temáticas, contanto com eixo específico no 33º Internacional Geographical Congress a ser

realizado em agosto de 2016 em Pequim (China), bem como a presença de importantes

pesquisadores de origem na geografia como Murray Gray e Paulo Pereira. No Brasil, avanços

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são visualizados como a inserção de eixos temáticos em eventos de caráter nacional como

XVI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada (Teresina-Piauí) e o XI Encontro

Nacional da ANPEGE (Presidente Prudente-São Paulo), ambos no ano de 2015, a presença de

alguns artigos científicos em revistas científicas de Geografia com qualis, ou, de circulação

voltada ao público comum como a revista “Geografia: Conhecimento Prático” 5, bem como

dissertações e teses sobre a temática em programas de pós-graduação em Geografia, porém o

número ainda é reduzido se levado em conta a importância que a temática adquire, as

potencialidades do território brasileiro e o inegável valor que é atribuído ao trabalho do

geógrafo nesse campo de atuação.

O presente autor, assim como os pesquisadores entrevistados, acredita no

crescimento da temática em âmbito nacional e enxerga na Geografia um dos principais meios

de difundir os conceitos e postulados para diversas parcelas da população brasileira.

5 Um das matérias publicadas na revista “Geografia: Conhecimento Prático” sobre a temática pode ser

visualizada no link: http://conhecimentopratico.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/50/artigo293233-1.asp,

acesso em fevereiro de 2016

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3 CARACTERIZAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA

As Unidades de Conservação (UC) integrantes do Sistema Nacional de Unidades

de Conservação (SNUC) podem ser divididas em dois grandes grupos, as de proteção integral

e as de uso sustentável (Tabela 1), sendo regidas pelos três níveis de governo (Municipal,

Estadual e Federal). Essas áreas têm como objetivo salvaguardar características naturais

relevantes do território nacional, o qual apresenta dimensões continentais com uma vasta

biodiversidade e geodiversidade.

Tabela 1 – Tipos de Unidade de Conservação

Unidades de Proteção Integral (UCPI) Unidades de Usos Sustentável (UCUS)

1 – Estação Ecológica (EE) 1 – Área de Proteção Ambiental (APA)

2 – Reserva Biológica (RB) 2 – Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie)

3 – Parque Nacional (PN) 3 – Floresta Nacional (FN)

4 – Monumento Natural (MN) 4 – Reserva Extrativista (Rex)

5 – Refúgio de Vida Silvestre (RVS) 5 – Reserva de Fauna (RF)

6 – Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS)

7 – Reserva Particular do Patrim. Nat. (RPPN)

Fonte: (ICMBio, 2011a, p.22)

A primeira UC criada no Brasil foi o Parque Nacional de Itatiaia no Estado do Rio

de Janeiro, nos anos 1930, o que demonstra que as ações em torno da proteção ambiental no

Brasil são antigas apesar de ainda incipientes, principalmente quando se leva em consideração

alguns biomas como a Caatinga e o Cerrado. O Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (ICMBio), que gere as UC’s no Brasil, suscita que o objetivo dos Parques

Nacionais é “preservar ecossistemas de grande relevância ecológica e beleza cênica,

possibilitando a realização de pesquisas científicas, atividades educacionais e de interpretação

ambiental, recreação e turismo ecológico, por meio de contato com natureza” 6.

A categoria Parque Nacional é uma das que apresenta maior limitação de uso,

pertence ao grupo das Unidades de Conservação de Proteção Integral (UCPI), as quais têm

como objetivo básico a “preservação da natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos

6 Disponível na página: http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/categorias,

acesso em fevereiro de 2016.

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seus recursos naturais”, enquanto as Unidades de Conservação de Uso Sustentável (UCUS)

buscam “a compatibilização da conservação da natureza e o uso sustentável de parcela de seus

recursos naturais” (ICMBio, 2011a, p.22), estando essas relacionadas, na maioria dos casos,

ao uso da terra por populações tradicionais.

O Parque Nacional de Jericoacoara (PNJ) está localizado no litoral oeste do estado

do Ceará (Figura 4), a aproximadamente 300 km da capital Fortaleza. A Unidade de

Conservação foi criada no dia 4 de fevereiro de 2002, com área de 8.416 hectares, sendo

ampliado pela Lei Federal n° 11.486, de 15 de julho de 2007, para 8.816 hectares. O PNJ está

inserido entre as coordenadas 02º46’27,33015’’ de latitude norte, 02º50’49,17264’’ de

latitude sul, 40º24’58,76862’’ de longitude leste e 40º35’48,12954’’ de longitude oeste.

Figura 4 – Localização da área de estudo (Parque Nacional de Jericoacoara)

Fonte: Elaborado pelo autor.

A área do Parque Nacional de Jericoacoara engloba dois municípios o de Jijoca de

Jericoacoara com 60,22% e o de Cruz com 13,81%, os 25,97% de área restante pertencem à

porção marítima do parque, sendo assim, de controle da Marinha/União (ICMBio, 2011a).

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Porém, quando se é levado em conta a Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Nacional dois

municípios passam ingressar a lista, sendo eles o município de Camocim (Oeste) e o

município de Acaraú (Leste).

Torna-se necessário nesse momento para aprofundamento da discussão a

caracterização, mesmo que de forma sucinta, dos aspectos físicos e sociais do Parque

Nacional de Jericoacoara. Para melhor entendimento os temas foram separados em

subcapítulos, porém salienta-se que esses elementos apresentam relações entre si, sendo partes

de um sistema complexo e dinâmico (geossistema).

Como recurso didático, além da utilização de fotografias da área oriundas de

trabalho de campo, foi alçado a confecção do mapa de geodiversidade por meio do programa

ArcGIS 10, tendo como dados base arquivos em shapefile (.shp) disponibilizados no site do

Serviço Geológico do Brasil - CPRM e Ministério do Meio Ambiente.

3.1 GEOLOGIA REGIONAL

A geologia do Parque Nacional de Jericoacoara é bastante diversa em tempo

geológico, sendo possível encontrar rochas aflorantes desde o pré-cambriano a sedimentos

inconsolidados holocênicos. Tomando como base o Plano de Manejo (ICMBio, 2009;

ICMBio, 2011c) e as dissertações de Arruda (2007) e Júlio (2012), distinguisse três grandes

ambientes geológicos na área, o primeiro compreendido pelo embasamento cristalino

aflorante na região do Serrote, o segundo composto por rochas sedimentares do Grupo

Barreiras e por arenitos de praia (beachrocks), e o terceiro por área de depósitos holocênicos

de característica eólica ou Fluviomarinha.

O primeiro ambiente geológico é compreendido pelo promontório de

Jericoacoara, que é composto por gnaisses e quartzitos ferríferos cataclasados e silicificados

da Formação São Joaquim (GEORGEN et al, 1985; ARRUDA, 2007; JULIO, 2012; JULIO et

al, 2013). Segundo Siqueira (2011, p. 21) a Formação São Joaquim é composta

principalmente por “quartzitos com variável composição mineralógica, incluindo minerais

como cianita, silimanita e muscovita com intercalações menores de calcissilicáticas, xistos e

metavulcânicas félsicas”.

Os afloramentos de quartzitos ocorrem principalmente na vertente norte e

nordeste do Serrote e, macroscopicamente, apresenta textura maciça, cor creme a cinza

escuro, às vezes avermelhado devido intensa impregnação e percolação de óxido de ferro nas

zonas fraturadas, e granulação fina (GEORGEN et al, 1985; ICMBio, 2009).O maciço

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encontra-se intensamente fraturado em várias direções, com sistema de fraturas principal

N60W. As fraturas geralmente encontram-se preenchidas por óxido de ferro (hematita

especular). Os dobramentos nos quartzitos evidenciam as fases de deformação do

embasamento cristalino (ICMBio, 2009; ICMBio, 2011c).

Julio (2012) e Julio et al (2013) expõem que a área do Serrote é composta por

quartzitos dobrados com intercalações de itabiritos pertencentes a Formação São Joaquim do

Grupo Martinópole, a idade dessas rochas são alvo de diversos estudos discordantes que a

classificam desde do Proterozoico Inferior ao Superior (Toniano). Sobre a deposição original

das rochas pertencentes a Formação São Joaquim a autora coloca que foram

(...) depositadas em paleoambientes que transacionaram entre fluvial e deltaico com

a sedimentação marginal do tipo flash (sequencia de camadas intercaladas de

arenitos gradacionais e folhelhos) em placas fragmentadas do supercontinente

Rodínia, cuja a idade de fragmentação data do Neoproterozoico (Período Toniano) a

cerca de 750 a 850 Ma (JULIO, 2012, p.48)

O segundo ambiente geológico é composto por rochas sedimentares do Grupo

Barreiras, que afloram em alguns poucos locais da região leste do PNJ em cortes e formas de

pequenas falésias (ARRUDA, 2007; ICMBio, 2009c) (Figura 5), e por arenitos de praia.

Georgen et al (1985) também salienta a presença do Grupo Barreiras em porções próximas ao

limite sul do parque, o mesmo é visualizado no mapa de geodiversidade que será abordado

posteriormente. O Grupo Barreiras é compreendido por “depósitos de arenitos médio a

grossos, argilosos, com intercalações de níveis conglomeráticos, argilitos e folhelhos, embora

sejam raros e que comumente apresentam-se caulinizados e laterizados no topo” (SIQUEIRA,

2011, p. 25). Nunes et al (2011, p. 10) expõe que o Grupo Barreiras constitui uma “cobertura

sedimentar terrígena continental e marinha de idade miocênica a pleistocênica inferior” que se

estende de forma quase continua do litoral do estado do Pará ao Rio de Janeiro, enquanto a

composição os autores colocam que o grupo é composto por “uma sequencia de sedimentos

detríticos, siliclásticos, (...) pouco ou não consolidado, mal selecionado, de cores variadas (...)

variando de areia fina a grossas, predominando grãos angulosos” (NUNES et al, 2011, p.13).

Georgen et al (1985) e ICMBio (2009) expõem que na porção mais próxima da

faixa de costa da Jericoacoara ocorre um conglomerado composto por seixos e calhaus de

quartzitos e cimento constituído de arenito grosso cinza-claro e material ferruginoso muito

consistente apresentando estratificação paralela erosiva sobre o quartzito de modo

concordante com a laminação deste, esse conglomerado foi identificado como uma fácies do

Grupo Barreiras pertencente a Formação Camocim.

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Figura 5 – Afloramento do Grupo Barreiras nos limites do PNJ, próximo a Vila do Preá

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os arenitos de Praia (beachrocks) ocorrem em pontos da faixa de praia que vai da

Vila de Jericoacoara (Praia da Malhada) até a formação da Pedra Furada. Segundo o Plano de

Manejo (ICMBio, 2011, p. 24) os arenitos de praia constituem uma “linha de arenitos

cimentados por material carbonático”, apresentando-se fraturados, em diaclase ou em sulcos.

Esses arenitos possuem cores cinza, crema a castanho, granulometria fina a grossa,

níveis conglomeráticos e cimento carbonático. São moderadamente selecionados,

com grãos sub-arredondados a angulosos. Macroscopicamente apresentam

mineralogia quartzosa, com subordinada quantidade de feldspato e óxido de ferro,

apresentando também fragmentos de conchas.

A terceira unidade geológica é composta por depósitos holocênicos que são

caracterizados pelos sedimentos litorâneos (depósitos de praia), depósitos eólicos e os

depósitos fluviomarinhos. Os sedimentos litorâneos são caracterizados por areias finas e

médias (grãos de quartzo subarrendados, minerais pesados e bioclastos) proveniente da

plataforma continental adjacente e das rochas distribuídas na linha de costa, apresentam

coloração entre o creme e o cinza claro (ICMBio 2009; ICMBio, 2011).

Os depósitos eólicos são a maior unidade geológica em área do PNJ, ocorrendo

em forma de cordões com direção NE-SW (Figura 6). As praias do Desterro e Preá, a leste,

são a fonte de alimentação do campo de dunas (Figura 6). No PNJ são encontradas

principalmente dunas de primeira geração (paleodunas), de segunda geração (dunas

parabólicas) e de quarta geração (dunas ativas).

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Figura 6 – Formação e migração do Campo de Dunas do PNJ

Fonte: http://www.ijericoacoara.com/dunas/, acesso em outubro de 2015.

3.2 GEOMORFOLOGIA REGIONAL

O relevo do Parque Nacional de Jericoacoara, segundo o Plano de Manejo

(ICMBio, 2011c), pode ser dividido em quatro grandes domínios, sendo eles, a Planície

Litorânea, Planície Fluviomarinha com Manguezal, Serrote da Pedra-Furada e os Tabuleiros

Pré-Litorâneo. Arruda (2007, p. 43), em dissertação sobre o zoneamento ambiental do PNJ,

definiu sete unidades geoambientais tendo como base as “condições geomorfológicas e

geológicas que individualizaram as feições morfológicas presentes nas unidades de paisagem

encontradas”. As unidades definidas pela pesquisadora foram a Faixa de Praia Atual, Dunas

Móveis, Dunas Fixas, Planície de Aspersão Eólica, Lagoas Interdunares, Planície

Fluviomarinha com Manguezal e Serrote da Pedra Furada. Será adotada a definição presente

no Plano de Manejo, porém a discussão será acrescida de colocações expostas pela autora.

A Planície litorânea, primeira unidade geomorfológica, pode ser definida como

“uma faixa de terra que bordeja o mar, com largura de 5 a 10 km, constituída de sedimentos

intensamente trabalhados pela dinâmica eólica” (SOUZA et al, 1979 apud JULIO, 2012, p.

24). De acordo o Plano de Manejo (ICMBio, 2011c) a Planície Litorânea abrange as seguintes

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feições: Dunas Fixas de Primeira Geração; Dunas Móveis de Segunda Geração; Dunas

Móveis de Terceira Geração; Planície de Aspersão Eólica; Praia Leste Fonte de Sedimentos;

Praia Oeste Receptora de Sedimentos, e; Praia Norte Rochosa.

As Dunas Fixas são as mais antigas encontradas no PNJ e encontram-se nos

limites sul, sudeste e sudoeste do parque, apesar do baixo teor de matéria orgânica no solo

apresenta vegetação de porte arbustivo-arbóreo, sendo um grande refugio de fauna e flora.

Arruda (2007, p. 50) expõe que

Essas dunas são principalmente do tipo parabólica e se dispõe transversal e

paralelamente a direção predominante dos ventos (...) evidencia que ocorreram

flutuações do nível do mar, uma vez que o volume de sedimentos não é compatível

com a dinâmica de transporte atual.

As Dunas móveis estão localizadas paralelamente a linha de costa e adentram ao

continente aproximadamente seis quilômetros, apresentando formas entre os tipos barcanas,

cadeias barcanóides, transversas e lençóis de areia (ICMBio, 2011c). Apresentam grande

mobilidade não permitindo a fixação de vegetação. Segundo Arruda (2007, p. 48)

As dunas móveis presentes no litoral de Jericoacoara exercem importante função

com reservatório de sedimentos para a manutenção de um aporte regular de areia.

Atuam de modo a evitar eventos erosivos na faixa de praia, ao contribuir com

sedimentos para a deriva litorânea (ação das ondas e marés). São ambientes

fortemente instáveis uma vez que são controlados pela incidência dos ventos de

direção preferencial de leste e nordeste.

A Planície de Aspersão Eólica, também conhecida como planície de deflação

eólica, é uma unidade diretamente relacionada a sazonalidade climática, sendo formada por

terrenos planos sobre os quais ocorrem a movimentação das dunas móveis de segunda

geração, no período chuvoso sobrevêm lagoas interdunares nessas áreas (MEIRELES e

REVENTOS, 2002; ARRUDA, 2007) .

A Praia Leste Fonte de Sedimentos vai do lado leste do promontório de

Jericoacoara até o limite leste do PNJ no município de Cruz (localidade do Preá), são 8,2 km

de praia em direção sudeste-nordeste. Essa porção recebe grande incidência de ventos

predominantemente de leste, essa característica juntamente com a disponibilidade de

sedimentos na larga zona de estirâncio faz dessa a principal fonte de sedimentos para a

formação do campo de dunas. A Praia Oeste Receptora de Sedimentos compreende a faixa

desde a Vila de Jericoacoara até a foz do rio Giriú, apresenta-se na forma de pequena enseada

com presença de dunas barcanas próximas a linha de praia (ARRUDA, 2007).

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A Praia Norte Rochosa é compreendida pela área associada ao Serrote da Pedra

Furada, indo desde a praia da Malhada a proximidades da Pedra Furada (ARRUDA, 2007).

São praias com faixa de areia bem reduzida, com exceção da praia da Malhada, ocorrendo que

na maré alta em muitos lugares as ondas chegam até o sopé do serrote.

A segunda unidade geomorfológica apresentada pelo Plano de Manejo é a

Planície Fluviomarinha com Manguezal, que está localizada na porção oeste do PNJ, próximo

as comunidades de Mangue Seco e Giriú. Essa unidade foi esculpida pelo “trabalho

hidrodinâmico do escoamento fluvial dos cursos de água de maior competência e que correm

sobre sedimentos de baixa coesão passíveis de alteração pela subida e descida das águas,

segundo o período de recarga hídrica” (ICMBio, 2011c, p. 34).

O Serrote da Pedra Furada representa a terceira unidade geomorfológica e

constitui-se como um maciço residual composto por conjunto de rochas metamórficas pré-

cambrianas aflorantes (gnaisses, migmatitos e quartzitos) da Formação São Joaquim, com

cota máxima de 98 metros. Forma uma crista com aproximadamente dois quilômetros na

direção ENE-WSW na porção norte e nordeste do PNJ (ICMBio, 2011c; ARRUDA, 2007). O

relevo nessa unidade é semidômico circular apresentando dois setores mais elevados, a

vertente voltada para a costa é abrupta e escarpada, apresentando assim uma ruptura

topográfica (promontório) oriunda da sua relação com a faixa de praia, enquanto a vertente

sul, voltada para o interior do continente, possui inclinação suave e está associada a depósitos

de origem eólicos e/ou coluviais.

Os Tabuleiros Pré-Litorâneos, quarta unidade geomorfológica, são encontrados

em pequenas porções nos limites do PNJ, em especial na zona sul e apresentam “um suave

caimento para o mar por uma linha de pequenas falésias de contorno irregular (..) apresentam

morfologia plana, com cotas altimétricas em torno de 30m” (ICMBio, 2011c, p. 34). Os

Tabuleiros são associados as rochas sedimentares do Grupo Barreiras, que acompanha boa

parte da linha de costa do Nordeste Brasileiro, geralmente como retaguarda de promontórios

ou campos dunares, porém em muitos locais chegam a linha de costa, onde ocorre feições

como as falésias.

3.3 GEODIVERSIDADE

O Serviço Geológico do Brasil (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais -

CPRM) em ação conjunta com a Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral

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do Ministério de Minas e Energia tem lançado mapas estaduais de geodiversidade, os quais

apresentam escalas compatíveis com medidas de planejamento territorial. Além do mapa é

disponibilizado arquivos em formato shapefile (.sph) o que possibilita a migração dos dados

para ambiente de Sistema de Informação Geográfica (SIG) aumentando assim os usos e

manipulações dos dados para a geração de diversas informações.

Outra novidade da ação é a disponibilização de livros sínteses sobre a

geodiversidade do Estado, os quais descrevem aspectos da paisagem e sobre as metodologias

empregadas na realização dos levantamentos, a temática em torno da Geodiversidade e a

relevância do seu estudo para o planejamento e a conservação ambiental, com destaque para o

capítulo "Geodiversidade: limitações e adequabilidades/potencialidades frente ao uso e à

ocupação". Estão disponíveis para download público os dados de vários estados da federação,

dentre eles o Ceará, porém objetiva-se a confecção para todos os estados do território

nacional.

Na área do Parque Nacional de Jericoacoara são encontradas quatro unidades de

geodiversidade (ou geológico-ambiental), sendo elas: 1 - Ambiente misto (marinho/

continental), com intercalações irregulares de sedimentos arenosos e argilosos, em geral ricos

em matéria orgânica (DC), 2 - Dunas Móveis, material arenoso inconsolidado (DCE), 3 -

Alternância irregular entre camadas de rochas sedimentares e sedimentos de composição

diversa (arenito, siltito, argilito e cascalho) (Grupo Barreiras) (DCT), e, 4 - Predomínio de

quartzitos (Formação São Joaquim) (DSVP2) (Figura 7).

As diferentes unidades de geodiversidade respondem a critérios “adotados para a

definição dos domínios e unidades geológico-ambientais do Brasil, com o objetivo de se

agrupar conjuntos estratigráficos de comportamento semelhante frente ao uso e ocupação dos

terrenos” (RAMOS et al., 2014, p. 91), ou seja, uniu-se os dados de litoestratigrafia e recursos

minerais do Banco de Dados do SGB/CPRM com informações de cunho ambiental gerando

assim novas informação sobre a paisagem.

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Figura 7 – Geodiversidade do Parque Nacional de Jericoacoara

Fonte: CPRM Autor: Elaborado pelo autor.

A unidade Ambiente Misto (marinho/continental), com intercalações irregulares

de sedimentos arenosos e argilosos, em geral ricos em matéria orgânica (Mangues), pertence

ao que foi intitulado como Domínio Geológico-Ambiental Sedimentos inconsolidados ou

pouco consolidados, depositados em meio aquoso (DC) e ocupa uma área equivalente a 4% da

porção continental do PNJ. Segundo Brandão et al (2014, p. 105) o domínio

(...) corresponde aos terrenos geologicamente mais recentes, de idade quaternária

(Pleistoceno Superior e Holoceno), situados nas áreas topograficamente mais baixas,

onde foram e continuam sendo depositados os sedimentos transportados por

processos fluviais, marinhos e mistos. Esse domínio compreende três unidades

geológico-ambientais: ambiente de planícies aluvionares recentes – DCa; ambiente

misto (marinho/continental) - DCm e ambiente marinho costeiro – DCmc que,

somadas, ocupam uma área de 4.800 km², representando 3,3% do território cearense.

A unidade geológico-ambiental presente no PNJ é caracterizada como um

ambiente misto de interação de agente de origem marinha e continental (DCm).

Geomorfologicamente essas áreas são descritas como planícies fluviomarinhas (Figura 8).

Nessas áreas de caráter estuarino se processa a mistura da água doce, proveniente de cursos

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fluviais e/ou lagos, com a água salgada do mar, sendo que o resultado dessa interação

“proporciona a formação de um meio caracterizado pela deposição de material escuro e

lamacento, com grande quantidade de matéria orgânica” (BRANDÃO et al, 2014, p. 107).

Figura 8 – Planície Fluviomarinha com a presença de manguezais na área de pesquisa.

Local próximo aos limites dos municípios de Jijoca de Jericoacoara e Camocim

Fonte: Elaborado pelo autor.

Essa unidade apresenta grande limitação de uso para obras de engenharia devido a

ocorrência de sedimentos inconsolidados, solos com baixa capacidade de suporte,

periodicidade de inundações, cota elevada do lençol freático, entre outros aspectos, o que faz

necessário estudos aprofundado na instituição de qualquer medida (BRANDÃO et al, 2014).

A unidade geológico-ambiental das Dunas Móveis, predominante no Parque

Nacional de Jericoacoara com 81% do total da área continental da UC, pertence ao que foi

classificado como Domínio Geológico-Ambiental Sedimentos cenozoicos eólicos (DCE)

(Figura 7). O domínio se estende paralelamente a linha de costa cearense quase que de forma

contínua, sendo interrompida em algumas áreas por planícies fluviais ou fluviomarinhas e por

tabuleiros costeiros (BRANDÃO et al, 2014). Composto por dunas fixas e móveis essas áreas

são caracterizadas por terrenos instáveis e vulneráveis a erosão e desmoronamentos com

grande limitação para obras de engenharia e práticas de agricultura (BRANDÃO et al, 2014).

A terceira unidade geológica-ambiental presente composta por alternância

irregular entre camadas de rochas sedimentares e sedimentos de composição diversa pertence

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ao Domínio Geológico-Ambiental Sedimentos cenozoicos pouco a moderadamente

consolidados, associados a tabuleiros (DCT), sendo a unidade menos frequente do Parque

representando apenas 1,5% da área continental (em rosa escuro no mapa de geodiversidade,

Figura 7). Essa unidade é caracterizada principalmente pelas rochas sedimentares e

sedimentos do Grupo Barreiras, sendo dispostos em relevos “tabulares de topos planos, ou

suavemente dissecados por vales alongados e de fundo chato, com cotas altimétricas baixas e

suave inclinação no sentido do mar” (BRANDÃO et al, 2014, p. 126).

A Unidade Barreiras é frequente próxima a linha de costa de quase todo o estado,

sendo em muitos locais, como na própria área de pesquisa, uma retaguarda dos sedimentos

eólicos pertencentes ao Domínio dos Sedimentos cenozoicos eólicos. Diante o planejamento

ambiental, essas áreas são estáveis e configuram-se como os locais mais propícios para o

estabelecimento de atividades antrópicas, salvo algumas feições como as falésias.

A unidade geológico-ambiental denominada São Joaquim, está agrupada ao

conjunto de rochas com predomínio de quartzitos do Domínio Geológico-Ambiental

Sequências vulcanossedimentares proterozoicas dobradas, metarmorfizadas de baixo a alto

grau (DSVP2), e corresponde a 13,5% da área continental do PNJ, sendo aflorante em duas

porções. A primeira corresponde a um promontório na porção mais norte do PNJ e a segunda,

com maior dimensão, na zona sudoeste (em magenta no mapa de geodiversidade, Figura 7).

As áreas apresentam diferenças no relevo, sendo que a norte compreende colinas

dissecadas e morros baixos, enquanto a porção sudoeste é caracterizada por superfícies

aplainadas degradadas. A principal rocha presente na Formação são Joaquim são os quartzitos

que por serem rochas extremamente resiste ao corte e à penetração acaba por dificultar a

instituição de obras de engenharia. Os solos gerados por rochas quartzíticas são rasos e com

grande influencia do material parental, o que gera solos de baixa fertilidade natural, um

limitante para algumas práticas da agricultura (BRANDÃO et al, 2014).

3.4 CLIMA

A geodiversidade é fruto da interação dos elementos abióticos com os processos

de origem endógena (tectônica, vulcanismo) e exógena (clima, atividades fitoecológicas).

Diante disso é atribuído elevado valor ao clima na delimitação de categorias de

geodiversidade, já que uma mesma rocha pode adquirir diferentes geoformas de acordo aos

índices pluviométricos, de insolação, ventos, entre outros, predominante na área.

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Segundo definição de Koppen o clima da região do Parque Nacional de

Jericoacoara é caracterizado como quente e úmido, do tipo AW, com verões chuvosos (de

dezembro a maio) e invernos menos chuvosos (ICMBio, 2011b). A média pluviométrica dos

municípios que compõe o PNJ e sua zona de amortecimento (ZA) é de 1.034mm, porém o

município de Jijoca de Jericoacoara, que concentra mais de 60% da área do parque apresenta

índices mais baixos, com média em torno de 827mm, o que reflete em um ambiente mais

seco.

O principal fator que atua no regime de chuvas e no clima da região Nordeste

brasileira é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). A ZCIT pode ser definida uma

“banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre” (FERREIRA e MELO,

2005, p. 18) oriunda da confluência dos ventos alísios dos hemisférios norte e sul em áreas de

baixa pressão atmosférica e altas temperaturas de superfície do mar, resultando assim em

intensa atividade convectiva e precipitação (FERREIRA e MELO, 2005; ARRUDA, 2007).

A posição da ZCIT varia durante o ano, estando mais ao norte entre os meses de

junho e dezembro, fazendo com que nesse período ocorra menos precipitação na área de

pesquisa, e entre os meses de janeiro e maio a zona encontra-se localizada mais ao sul, nos

meses de março e abril é atingido o seu máximo meridional.

O regime de ventos é de fundamental importância no contexto natural do Parque

Nacional de Jericoacoara, já que o mesmo é formado em sua maioria por um extenso campo

de dunas móveis. Segundo o relatório do Plano de Manejo (ICMBio, 2011b, p. 6) os ventos

são alísios controlados pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)

(...) com constantes correntes vindas do sudeste com velocidade entre 5,6 e 8,0km.

No início da estação chuvosa, com a chegada da Zona de Convergência

Intertropical, registram-se mudanças na direção dos ventos, passando a predominar

os de nordeste.

3.5 HIDROGRAFIA

O regime fluvial no estado do Ceará é caracterizado, principalmente, por rios de

caráter intermitente. Essa característica ocorre devido diversos fatores, porém dois são de

mais relevantes, o clima e a geologia. O clima predominante no Ceará é o semiárido com

índices pluviométricos inferiores a 1000mm e altas taxas de evapotranspiração, as chuvas são

concentradas durante um curto período do ano, fazendo que essas ocorram de forma torrencial

favorecendo assim o processo de escoamento e não de infiltração. Já a geologia do Ceará é

composta por 74% de rochas ígneas ou metamórficas pertencentes ao escudo cristalino

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(CAVALCANTI e CAVALCANTE, 2014), as quais apresentam baixa capacidade de

armazenamento de água subterrânea (baixa porosidade), estando a presença de aquíferos

nessas áreas restrita a zonas de fraturamento. Essas duas características extremas resultam em

rios com baixa vazão e sazonais.

O Plano de Manejo do Parque Nacional de Jericoacoara (ICMBio, 2011b) aponta

que três bacias hidrográficas compõem os municípios que integram o PJN e sua zona de

amortecimento, sendo elas a bacia do rio Acaraú, Aracatiaçu e Coreaú. Porém, dessas bacias a

única que integra a área do parque, sendo a mais representativa, é a bacia do rio Coreaú. A

bacia hidrográfica do rio Coreaú abrange uma área de 10.633,67Km², correspondendo a

7,19% do território cearense e a totalidade do município de Jijoca de Jericoacoara, o curso

principal do rio apresenta 167,5km da nascente até a foz (TORREZ e SOBRINHO, 2014).

As drenagens regionais mais significativas são compreendidas pelos Córregos

Paraguai e do Mourão, bem como os Riachos Giriú e Doce e as Lagoas do Jijoca, Pedras e

Grande. Segundo Arruda (2007) a hidrologia da área de pesquisa está vinculada à agua

subterrânea, sendo encontrados dois tipos de aquíferos, o cristalino e o sedimentar. O aquífero

cristalino apresenta caráter fissural e ocorre nas fraturas das rochas metamórficas do Serrote e

aflora em ressurgência da base (ARRUDA, 2007; ICMBio, 2011b). O aquífero sedimentar

ocorre nas rochas sedimentares e nos sedimentos do Grupo Barreiras, os quais em boa parte

do PNJ são recobertos por um campo de dunas móveis, no qual é presente lagoas interdunares

que são o afloramento do lençol freático.

3.6 FLORA E FAUNA

O Parque Nacional de Jericoacoara segundo o relatório de plano de manejo está

inserido no Bioma Zona Costeira e Marinha, o qual abrange além da zona costeira a

plataforma continental. Na área se desenvolve ecossistemas costeiro-marinho caracterizados

por restingas, mangues e dunas, os quais são de extrema fragilidade e reafirmam a

necessidade de uma unidade de conservação na área.

Por meio de levantamento florístico Matias e Nunes (2001) identificaram 87

diferentes espécies na área do Parque Nacional de Jericoacoara, sendo predominante a

ocorrência de formações pioneiras herbáceas (espécies psamófilas reptantes). O tipo de

vegetação é influenciado pelo relevo e solo regional, diante disso é possível diferenciar

microambientes.

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Na região de influência marinha, zona de restinga, a vegetações atua como fixador

do extrato arenoso na zona de pós-praia e do campo de dunas, adquirindo assim uma função

estabilizadora e contribuindo para o processo de formação do solo, por meio do aporte de

matéria orgânica e da retenção de umidade. Nas lagoas interdunares, que ocorrem durante o

período chuvoso, encontram-se algumas ciperáceas e outras macrófitas aquáticas como o

Aguapé-da-flor-miúda (Nymphoides indica) e a Taboa (Typha domingensis) (MATIAS e

NUNES, 2001). Em regiões interdunares de melhor condição edáfica assentasse uma

vegetação de porte arbustivo, sob forma de moitas abertas ou fechadas, caracterizada

especialmente pelo Murici (Byrsonima spp.), Guariju (Chrysobalanus icaco), jeriquiti (Abrus

precatorius) e Cajueiro (Anacardium occidentale) (MATIAS e NUNES, 2001).

Na zona norte do Parque Nacional de Jericoacoara encontra-se vegetação de porte

arbóreo-arbustivo com espécies que variam de 2-4 metros, o desenvolvimento dessas é

possível devido estarem a sotavento do Serrote, o qual chega a cota de 90 metros, ou seja, em

uma zona protegida das ações diretas dos ventos (MATIAS e NUNES, 2001).

O Plano de Manejo do PNJ (ICMBio, 2011c) conta com um levantamento de

fauna, os pesquisadores salientam em alguns momentos do texto que o período de observação

foi relativamente curto, acompanhando apenas uma estação do ano, o que faz possível a

existência de maior número de espécies, em especial, na avifauna. Foram identificadas 21

espécies para herpetofauna, sendo 10 anfíbios e 11 repteis, os ambientes com maior

concentração de espécie estão nas lagoas dispersas no parque, enquanto o de menor foi

caracterizado pelo mangue (ICMBio, 2011c).

Foram registradas 131 espécies de aves no PNJ durante o levantamento de campo,

sendo que dessas cinco são endêmicas, sendo quatro consideradas endêmicas para a caatinga

(Choca Barrada - Thamnophilus capistratus; Golinho - Sporophila albogularis; Cardeal do

Nordeste - Paroaria dominicana; Corrupião - Icterus jamacaii) e uma para o cerrado (Bico de

Pimenta - Saltatricula atricollis) (ICMBio, 2011c). Foram catalogadas três espécies

ameaçadas de extinção (ou em processo) nos limites do parque, sendo elas o Pica-pau-anão-

da-caatinga (Picumnus limae), Aracuã-de-sombrancelhas (Ortalis cf. superciliaris) e a

Cigarra-do-campo (Neothraupis fasciata) (ICMBio, 2011c). A existência de espécies

endêmicas e/ou em processo de extinção aprofunda a relevância da criação de uma unidade de

conservação do tipo parque.

Por fim, foram registradas 24 espécies de mamíferos silvestres e oito espécies

domesticas na área do PNJ (ICMBio, 2011c). O grupo de pequenos mamíferos (roedores,

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morcegos e marsupiais) correspondem a 60% da mastofauna silvestre. As principais espécies

de porte médio ou grande no parque são o Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e o Tatu-

peba (Euphractus sexcinctus), sendo o sagui (Callithrix jacchus) e o guaxinim (Procyon

cancrivorus) também representativos (ICMBio, 2011c). Dentre os animais domésticos o mais

abundante é o jegue (Equus asinus) (ICMBio, 2011c).

3.7 USO E OCUPAÇÃO

Apesar do Parque Nacional de Jericoacoara abarcar diversas localidades nesse

momento pretende-se descrever o uso e ocupação da Vila de Jericoacoara, por essa ser o palco

das atividades econômicas na área de pesquisa. A história da Vila de Jericoacoara pode ser

dividida de forma ampla em três períodos, tendo como base a principal atividade econômica

atual, o turismo: o período pré-turismo, o prototurismo e o período turístico.

A história da Vila de Jericoacoara é muito rica com relatos que datam o século

XVII como local de resistência dos portugueses a invasões de corsários franceses, além de

especulações sobre ali ser o local exato onde o navegador Vicente Yáñez Pinzón, em sua rota

de descobrimento, tenha desembarcado em 26 de janeiro de 1499 (ICMBio, 2009). Porém, de

fato, a fixação de população começou no fim do século XIX com cinco famílias que fugindo

da seca encontrou no local um ótimo reduto pesqueiro, e tendo como base essa atividade

econômica a Vila de Jericoacoara permaneceu até os anos de 1980 (ICMBio, 2009).

A atividade pesqueira representou a vida econômica do local, por muito tempo as

relações comerciais eram feitas na base de troca. Fonteles (2004, apud ICMBio, 2009) aponta

que o auge da pesca deu-se entre 1965 e 1973, porém com a morte do principal comerciante

local, Olavo Vasconcelos, a pesca começou a decair e a vila sofreu um esvaziamento

populacional. O período pré-turístico foi caracterizado por tempos lentos, onde os meios de

produção do espaço eram rudimentares e vigorava uma relação de proximidade como o meio.

No fim da década de 1970 começaram a surgir os primeiros visitantes na Vila de

Jericoacoara, eram caracterizados por pessoas que buscavam uma relação maior com a

natureza e com a comunidade, eram conhecidos como “alternativos”, “hippies” ou

“mochileiros”, e enfrentavam toda a dificuldade de acesso para chegar a Vila e se

hospedavam na casa dos nativos. Esse período pode ser caracterizado como um prototurismo,

já que foi o inicio da atividade, com um contingente baixo de turista e pouco ou nenhum

incentivo do Estado e dos grandes meios de produção turística.

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Porém esse período durou pouco, a grande beleza do local e a “mística” entorno

da sua localização e preservação fez com que no início da década de 1980 o jornal norte-

americano The Washington Post a elegesse como uma das 10 mais belas praias do mundo,

trazendo uma grande visibilidade em âmbito nacional e internacional. A partir desse momento

o turismo começou a se estruturar de forma efetiva na Vila de Jericoacoara.

Já na segunda metade da década de 1980 crescia o contingente de turistas e a

prática turística começa a se estruturar através dos moradores locais e em especial de

estrangeiros e pessoas de outros estados que passaram a morar na Vila de Jericoacoara.

Porém, na década de 1990 o Estado entra em cena com maior afetividade por meio do Plano

de Desenvolvimento Sustentável do Ceará de 1995 que coloca o turismo em termo de

igualdade da indústria quando expõe o

Turismo (...) uma atividade econômica estruturadora, situando-se, em termos de

potencialidade, no mesmo nível de prioridade governamental conferida à indústria convencional; atividade de grande efeito multiplicador na economia estadual,

justificando plenamente a alocação de recursos públicos para investimento, em uma

postura de governo pioneira e indutora. (GOVERNO DE ESTADO DO CEARÁ,

1995 apud ARAÚJO, 2013, p.28).

Sendo assim, iniciasse a fase turística de Jericoacoara tendo como base o

incentivo do Governo, assentado sobre o marketing de “paraíso protegido” devido o local

pertencer a uma Área de Proteção Ambiental (APA) criada em parceria com órgãos privados

ainda no ano de 1984. O índice populacional da Vila de Jericoacoara que decaia até a metade

da década de 1980 volta a crescer, fazendo que uma população de pouco mais de 500

habitantes em 1984 passasse a ser de 3.100 no ano de 2009, mas com um púbico flutuante de

mais 130.000 pessoas ao ano (ICMBio, 2009), concentrados, principalmente, nos meses de

alta estação (verão) e feriados.

Estabelece-se na Vila de Jericoacoara todo um aparato turístico, com pousadas,

hotéis, restaurante, docerias, lojas e mercados para todos os públicos. Ainda é possível

hospedar-se na casa de locais, porém há a opções de um quarto de hotel com piscina particular

voltada para praia e a Duna do Pôr do Sol, o que reflete um turismo muito bem estruturado e

que se distância em muito de sua origem no fim da década de 1970.

O uso excessivo do espaço pelo turismo tem ocasionado impactos ambientais no

contexto da Vila de Jericoacoara e entorno, como a própria Duna do Pôr do Sol que perdeu

uma grande parcela de sedimentos em um período muito curto, as diversas trilhas criadas em

meio ao campo de dunas por bugueiros, carros particulares e jardineiras que dão acesso a Vila

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que resultam em compactação do solo, mudança no regime de transporte das areias e perda de

biodiversidade (quando as mesmas são em zonas interdunares) e o crescimento desordenado

da Vila de Jericoacoara, sendo os habitantes locais “empurrados” para zonas próximas ao

limite do polígono urbano devido a elevada especulação imobiliária.

É certo que a instituição do Parque Nacional ajudou na diminuição dos danos,

porém cabe o inventivo de práticas turísticas de caráter ecológico para amenizar o turismo de

sol e praia já instaurado (que se apresenta como um turismo de massa e com grande

concentração de visitantes em um curto período do ano, gerando problemas de lotação do

espaço turístico, lixo, alta nos preços, entre outros) e incentivado pelo Ministério do Turismo

que escolheu Jericoacoara como destino referência para esse tipo de prática entre os mais de

8.000km do litoral brasileiro (BRASIL, 2010).

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4 INVENTARIAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO PARQUE

NACIONAL DE JERICOACOARA

A palavra inventariar significa listar e descrever minunciosamente. Nos estudos

de patrimônio geológico o ato de inventariar constitui a primeira etapa nas estratégias de

geoconservação (BRILHA, 2005; LIMA, 2008). Borba et al (2013, p. 276) aborda que o

processo de inventariação de geossítios, juntamente com a avalição quali-quantitativa,

constitui a ‘geoconservação básica’, ou seja, os “procedimentos mais fundamentais e que irão

embasar subsequentes estratégias de proteção e valorização dos lugares de interesse

geológico”.

Seguindo a máxima expressa pela frase “conhecer para preservar” a etapa de

inventariação visa o levantamento sistematizado dos geossítios após o reconhecimento prévio

da área de estudo, o qual pode ser realizado por levantamento bibliográfico e/ou saídas de

campo. Ribeiro et al (2013) salienta que durante essa etapa apenas o locais com características

geológicas superlativas são abarcados, ou seja, a intenção não é elencar e descrever os

elementos da geodiversidade, mas sim, o patrimônio geológico. O conhecimento prévio da

área é necessário para definir as tipologias de geossítios a serem inventariados.

Durante essa etapa os locais selecionados como de interesse geológico devem ser

mapeados, fotografados e caracterizados, para tal é indicado a utilização de uma ficha

adaptada aos objetivos específicos da inventariação e as características da geodiversidade da

região (BRILHA, 2005; LOPES et al, 2013; RIBEIRO et al, 2013). Diante do exposto faz-se

necessário a realização da etapa de inventariação para entender as potencialidades e

vulnerabilidades do patrimônio geológico do Parque Nacional de Jericoacoara.

4.1 METODOLOGIA ADOTADA PARA A INVENTARIAÇÃO

Para o levantamento do patrimônio geológico do Parque Nacional de Jericoacoara

foram combinados dois métodos de inventariação, sendo eles o método Ad Hoc e o de seleção

por características superlativas. O método Ad Hoc segundo Pereira (2010, p. 122) consiste na

“identificação e escolha aleatória de geossítios que são selecionados de maneira isolada e com

enfoque local” e apresenta como desvantagem o fato dos geossítios serem avaliados

isoladamente, ou seja, fora do contexto da geodiversidade regional. Salienta-se que o método

foi utilizado levando em consideração as características geológicas/geomorfológicas do PNJ.

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O método de seleção por características superlativas “dispensa pesquisas

sistemáticas, contemplando locais de interesse geológico dotados de características

superlativas, ignorando o enquadramento ou a contextualização do mesmo” (RIBEIRO et al,

2013, p. 6, grifo do autor), sendo uma de suas desvantagens a possibilidade de selecionar

feições que não são realmente representativas em contexto local.

Com a junção dos dois métodos foi possível realizar uma inventariação que uniu o

conhecimento bibliográfico existente da área (dando importância as feições anteriormente

descritas e salientadas como relevante por outros autores), com os dados, informações e

percepções oriundas das saídas de campo. Sendo assim, realizou-se o que Sharples (2009,

apud PEREIRA, 2010) chama de “inventário de reconhecimento”, no qual se identifica

feições ou locais significativos, a partir de uma revisão bibliográfica, consulta a especialistas e

algum trabalho de campo.

Como elemento de auxílio na etapa de inventariação foi confeccionada uma ficha

de caracterização dos locais de interesse geológico (possíveis geossítios), sendo esta uma

adaptação das propostas por Pereira (2006) e Pinto (2011). A ficha (Apêndice A ao G) conta

com a localização dos locais de interesse geológico, o tipo do local, descrição geológica

sucinta, breve análise de parâmetros de uso e gestão do território e avaliação preliminar das

potencialidades e vulnerabilidades. Alguns parâmetros foram totalmente preenchidos ainda

durante o trabalho de campo, enquanto outras necessitaram de pesquisa bibliográfica para

complementar as percepções empíricas.

Em campo foram coletadas, com auxílio de aparelho com recepção de dados GPS

(Global Positioning System), as coordenadas geográficas de cada local de interesse geológico,

o datum adotado foi o WGS 84. Em laboratório, para melhor contextualização espacial, foram

confeccionados mapas de localização dos locais de interesse geológico, classificados como

geossítio. Foi utilizado o programa ArcGIS 10 para tratamento das informação

georreferenciadas e confecção dos layouts. Os elementos visuais foram completados por

fotografias tiradas em campo.

4.2 GEOSSÍTIOS INVENTARIADOS

Foram inventariados sete geossítios na área do Parque Nacional de Jericoacoara e

zonas adjacentes (Figura 9), sendo eles: G.1 – Duna do Pôr do Sol; G.2 – Praia da Malhada;

G.3 – Cavernas; G.4 – Pedra Furada; G.5 – Pedra do Frade; G.6 – Dunas Petrificadas; G.7 –

Duna do Funil.

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Figura 9 – Localização dos geossítios inventariados no Parque Nacional de Jericoacoara

Fonte: Elaborado pelo autor.

Mesmo com a homogeneidade de feições existente no contexto do parque, com

predomínio do campo de dunas, foram abordadas diferentes categorias temáticas da

geodiversidade. Os geossítios apresentaram caráter metamórfico, sedimentar, costeiro e/ou

cárstico (pseudocárstico), além do caráter eólico. A área conhecida por Ponta de Jericoacoara,

onde ocorre o afloramento de rochas quartzíticas da Formação São Joaquim (Serrote) e a

interação dessa com rochas sedimentares e sedimentos inconsolidados, concentra o maior

número de geossítios, sendo cinco no total (do G.1 ao G. 5).

Tendo como base a tipologia de classificação de geossítio proposta por Gutiérrez

e Martinéz (2010; 2012) é possível assinalar que dos sete locais inventariados cinco

constituem geossítios “pontuais” (Duna do Pôr do Sol, Cavernas, Pedra Furada, Pedra do

Frade e Duna do Funil), ou seja, locais de pequenas dimensões e de caráter isolado onde o

elemento da geodiversidade se diferencia do seu entorno ou que devido a alguma

característica é salientado. Gutiérrez e Martinéz (2010) expõe que os geossítios pontuais

apresentam dimensões em torno de um hectare e exibem como característica a elevada

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vulnerabilidade ambiental devido à dimensão reduzida, mesmo que os elementos do

patrimônio geológico presentes não apresente fragilidade natural.

Os outros dois geossítios são do tipo “área” (Praia da Malhada e Dunas

Petrificadas), o qual ocorre quando as feições de interesse se repetem em meio a uma

extensão territorial maior. Gutiérrez e Martinéz (2010) expõem que os geossítios áreas

apresentam vulnerabilidade reduzida devido a dimensão, porém, no caso do Parque Nacional

de Jericoacoara, o Geossítio Dunas Petrificadas é um dos que apresenta maiores

vulnerabilidade ambiental devido características dos elementos da geodiversidade presente,

sendo um depósito eólico. Não foi inventariado nenhum geossítio das tipologias “seção”,

“panorâmico” ou “áreas complexas” (GUTIERREZ e MARTINÉZ, 2010).

Os geossítios apresentam como potencialidade a facilidade de acesso. Os

geossítios Duna do Pôr do Sol e Praia da Malhada são interligados a Vila de Jericoacoara o

que facilita a visitação. Os geossítios Pedra Furada e Pedra do Frade são acessáveis por

diversas trilhas (de aproximadamente três km), as quais podem ser realizadas inteiramente a

pé pela faixa de praia durante a maré baixa ou pelo Serrote, ou ainda, com auxílio de

transporte (carroças ou veículos motorizados) durante uma etapa do percurso sobre o Serrote.

Os geossítios Dunas Petrificadas e Duna do Funil integram o roteiro turístico, realizado com

bugues, que visita a Vila de Tatajuba, no litoral oeste do Parque Nacional de Jericoacoara. O

único geossítio que apresenta relativa dificuldade de acesso é o Cavernas, o qual é acessível

apenas durante a maré baixa e requer caminhada sobre blocos rochosos, porém ainda é

passível de visitação por grande parcela do público.

O fato de a área ser uma unidade de conservação do tipo parque limita as

atividades econômicas realizadas sobre e no entorno dos geossítios inventariados, sendo

assim, uma potencialidade para a conservação dos locais (no caso dos geossítios Dunas

Petrificadas e Duna do Funil a existência da Área de Proteção Ambiental de Tatajuba, as

margens do PNJ). Porém, a ausência de controle de visitação e do transito de veículos, a

inexistência de equipamentos de suporte ao turista (como trilhas específicas e guiadas) e o

incentivo por parte do Governo Federal na instituição de um turismo de Sol e Praia em

detrimento de atividades de cunho ecoturísticas constituem elementos que geram

vulnerabilidade socioambiental no contexto do Parque Nacional de Jericoacoara.

Atualmente todos os geossítios inventariados já são utilizados por práticas

turísticas em menor ou maior grau, apresentando diferentes valores (científico, ecológico,

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cultural e estético) e potencialidades de uso, mediante aos diferentes níveis de vulnerabilidade

visualizados. Cabe então a caracterização de forma pormenorizada de cada geossítio.

4.2.1 Geossítio 1: Duna do Pôr do Sol

O geossítio Duna do Pôr do Sol está localizado na continuação oeste da praia

principal da Vila de Jericoacoara (Apêndice A – Ficha 1), sob as coordenadas geográficas

02º48’03.5”S e 40º31’14,2”W. É um geossítio pontual de grande relevância cultural já que

constitui um ambiente de grande uso turístico e de identidade para os locais. Pertence a

categoria dos geossítios de caráter eólico, sendo a única duna inventariada em contato direto

com a faixa de praia. A localização privilegiada e o grande fluxo turístico da Duna do Pôr-do-

Sol (Figura 10) a torna um local propício para alçar medidas de educação ambiental, temas

relativos a gênese e configuração do campo de dunas de Jericoacoara, a ação do vento e a

fragilidade desses ambientes são facilmente passíveis de abordagem nesse geossítio.

Figura 10 – Duna do Pôr do Sol em contato com a zona de bypass.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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A Duna do Pôr do Sol é uma duna móvel do tipo barcana com migração de leste

para oeste. Meireles (2011) aponta a formação do campo de dunas de Jericoacoara em

períodos de nível de mar mais rebaixado, já que a dinâmica sedimentar atual não tem

capacidade de originar dunas nessa dimensão. Com o nível do mar em cotas mais baixas

tinha-se uma maior zona de estirâncio o que permitia o retrabalhamento dos sedimentos pela

ação eólica.

Por meio da realização da evolução espacial da Duna do Pôr do Sol entre os anos

de 1975 e 2010 foi constatada uma diminuição de área, em 18.500m², e a tendência de

deslocamento devido principalmente a migração contínua para a faixa de praia (setor de

bypassing, atingindo essa zona a partir da década de 1990) (Figura 10), déficit de sedimentos

e as mudanças ocasionadas pelo fator antrópico devido a proximidade com a Vila de

Jericoacoara (MEIRELES, 2011). A diminuição da duna revela o dinamismo das feições

eólicas, bem como a alta vulnerabilidade ambiental que esses ambientes apresentam diante a

utilização por práticas turísticas.

4.2.2 Geossítio 2: Praia da Malhada

O geossítio Praia da Malhada é do tipo área e está conectado a Vila de

Jericoacoara em sua porção nordeste (Apêndice B – Ficha 2), sob a coordenada 2°47'26,9"S e

40°21'00,4"W. Apresenta grande diversidade de elementos da geodiversidade. Na porção

mais a noroeste (ponta do promontório de Jericoacoara) é possível visualizar blocos isolados

de rochas da Formação São Joaquim bastante fraturados e intemperizado, oriundo da ação das

marés e do clima (Figura 11a).

Segundo Julio (2012, p. 39) a Formação São Joaquim é composta por itabirito,

que “são rochas compostas essencialmente de bandas de quartzo intercaladas com bandas de

óxidos de ferro, que variam de milímetros a centímetros de espessura” é possível visualizar

esse tipo de rocha na Figura 11a. Outra rocha que compõem a Formação São Joaquim são os

quartzitos. Segundo Siqueira (2011, p. 21) a Formação São Joaquim é composta

principalmente por quartzitos os quais apresentam “variável composição mineralógica,

incluindo minerais como cianita, silimanita e muscovita com intercalações menores de

calcissilicáticas, xistos e metavulcânicas félsicas”. No mesmo local, só que em cota mais

baixa, aflora os quartzitos. O afloramento revela o plano de orientação inclinado da rocha

(Figura 11b).

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Figura 11 – a) Blocos de rochas isoladas pertencentes a Formação São Joaquim e

concreções de deposição recente. b) Afloramento de quartzito da Formação São

Joaquim em plano inclinado

Fonte: Elaborado pelo autor.

No mesmo local só que em cota mais elevada que os dois elementos

anteriormente descritos são encontradas lateritas “frutos da oxidação/hidratação dos quartzitos

e itabiritos, formando crostas lateríticas com espessura métrica, ricas em manganês e ferro

com estrutura botrioidal, fortemente cimentadas e porosas” (JULIO, 2012, p. 45). A formação

desses mantos lateríticos é influenciada pelos baixos índices pluviométricos, baixa amplitude

térmica anual, altas temperaturas e taxas de evapotranspiração juntamente com a posição

topográfica elevada (JULIO, 2012).

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Na faixa norte da Praia da Malhada ocorre a presença de beachrocks ou arenitos

de praia (Figura 12 a e b) e o seu contato com rochas quartzíticas da Formação São Joaquim

(Figura 12c). Os arenitos de praia se distribuem em outras zonas mais a leste, porém é na

Praia da Malhada que é possível visualizar melhor suas feições. Os arenitos de praia são

rochas consolidadas “rapidamente pela precipitação de carbonatos na zona de variação do

nível d’agua subterrâneo, zona esta também relacionada com a subida da maré e com o

máximo grau de alternância de clima seco e úmido” (JULIO, 2012, p.63).

Irion et al (2012, 254) abordam a importância dos longos ciclos de mares que

permitem que o sedimentos permaneçam por longo período sem cobertura de lâmina d’agua e

a presença do clima árido na formação dos arenitos de praia presente no Estado do Ceará, os

autores ainda apontam a extraordinária dureza dos arenitos de praia de Jericoacoara os quais

“(...) it does not break along the grain borders as one would expect for asediment rock of

recent diagenesis, but breaks right through the quartzgrains. This may explains its resistance

to erosion and the persistence of its plates”. Julio (2012, p. 58) a tratar dos arenitos de praia

do Ceará expõe que

(...) possuem matriz com teores de grãos sub-angulosos a sub-arredondados de

quartzo de 45% a 57% com granulometria entre 0,05 e 2,2 mm, de silte (sil) a

cascalho (gravel). Fragmentos biodetríticos, feldspato e fragmentos de rochas

perfazem o restante do total (arcabouço). No caso de Jericoacoara são comuns os

arenitos de praia conglomeráticos com blocos e calhaus (cobbles) quartzíticos bem arredondados em função do ambiente de praia ser de alta energia.

Meireles e Reventos (2002) expõem que os arenitos de praia estão dispostas em

três níveis topográficos diferentes na planície costeira de Jericoacoara, sendo um indicador

paleoclimático de variação do nível do mar, tendo a sua deposição ocorrida em ambientes

marinho rasos em eras de transgressão marinha, enquanto que no período de regressivo até

atingir a cota atual houve intensa erosão devido o trabalho das ondas.

Os arenitos de praia, melhor visualizadas durante a maré baixa, estão dispostos em

faixas descontinuas de até 20 metros de largura e mergulham suavemente em direção ao mar,

apresentam-se em formato de placas (Figura 12 a e b) devido a estruturas de dissolução

marinhas basais (JULIO, 2012). Na cota mais elevada a ação da variação da maré gerou

formações erosivas em formato de marmitas (Figura 12 a, b, c). O contato entre os arenitos de

praia e os quartzitos da Formação São Joaquim é bastante claro e didático (Figura 12c), sendo

possível a sua utilização em explanações sobre diferentes ambientes e processos na formação

de rochas, oferecendo assim valor científico e didático elevado.

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Figura 12 – a) Arenitos de Praia (bechrocks) dispostas na Praia da Malhada. b)

Estratificação do Arenito de Praia e presença de feições erosivas caracterizadas por

marmitas devido a ação do mar. c) Contato entre rochas metamórficas da Formação São

Joaquim e os Arenitos de Praia de caráter sedimentar

Fonte: Elaborado pelo autor.

Meireles e Raventos (2002) salientam que esse contato (Figura 12c) demonstra

estabilidade tectônica durante o Holoceno, período de formação dos arenitos de praia, já que o

quartzito, rocha base, encontra-se bastante fraturado e o mesmo não ocorre com os arenitos de

praia, afirmando que as fraturas originaram anteriormente a deposição dos arenitos de praia.

Na Praia da Malhada ainda é possível visualizar pequenas dunas frontais. Os sedimentos que

as compõem são oriundos do campo de dunas do interior de Jericoacoara e conseguiram

“saltar” a barreira orográfica constituída pelo Serrote.

Dos geossítios inventariados a Praia da Malhada é o que apresenta a maior

variedade de elementos da geodiversidade, podendo ser abordado temas relativos a rochas

metamórficas, sedimentares e diferentes processos de erosão marinha, isso revela um enorme

potencial educativo/científico da área. O local apresenta-se bastante estável, sendo pouco

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susceptível a alteração por atividades antrópicas e sua vulnerabilidade estando ligada ao

cunho ambiental devido a ação das ondas sobre as feições.

4.2.3 Geossítio 3: Cavernas

A face norte-nordeste do litoral de Jericoacoara é caracterizada pelo contato

abrupto de rochas metamórficas da Formação São Joaquim (Serrote) com a linha de costa. Em

meio a escarpa rochosa desenvolvem-se feições erosivas oriundas do trabalho marinho e do

clima. Nesse contexto que está inserido o geossítio Cavernas (Figura 13), o qual está sob a

coordenada 2°47'19,6"S e 40°20'45,2"W e constitui um geossítio de caráter pontual, mas com

mais de uma distribuição na área (Apêndice C – Ficha 3). As cavernas são acessíveis pela

zona de praia durante a maré baixa, estando distribuídas entre a Praia da Malhada e a Pedra

Furada.

As cavernas encontram-se a aproximadamente seis metros acima do nível do mar

atual (Figura 13), sendo testemunho de períodos onde esse apresentava contas mais elevadas.

Meireles e Raventos (2002) delimitam cinco estágios de variação do nível do mar que

influenciaram a configuração atual da planície costeira de Jericoacoara (duas etapas de

transgressão, duas etapas de regressão e processos na cota atual).

As cavernas tiveram a sua origem durante o penúltimo período de transgressão no

Pleistoceno “quando o nível do mar atingiu cotas superiores a 6,0m acima da cota de maré

máxima atual (evidenciado pelos diferentes níveis de abrasão marinha definidos na plataforma

de abrasão)” e a “Ponta de Jericoacoara foi submetida a um complexo processo erosivo, o

qual originou arcos e pilares marinhos, bem como níveis escalonados de plataforma de

abrasão” (MEIRELES e RAVENTOS, 2002, p. 89). Julio et al (2013) salientam que esse

período ocorreu a aproximadamente 120.000 anos A.P.

Irion et al (2012) entram em concordância com os autores citados acima quando

apontam que os entalhes presentes nos quartzitos entre 2-6 metros acima do nível do mar atual

são evidências paleoambientais de nível de mar mais elevado. Segundo os autores esses

entalhes, muitos presentes nas entradas das cavernas, são de idade Sangamoniana (IRION,

2012).

Os quartzitos da Formação São Joaquim apresentam-se bastante fraturado devido

as várias fases de “deformações desencadeadas em diferentes níveis crustais e temperaturas,

desde o Neoproterozoico até o Cretáceo Inferior”, apresentando um primeira fase de

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deformação de caráter dúctil que possibilitou a presença de dobras e uma segunda fase de

caráter rúptil, em mais de uma etapa, que resultou nas falhas e no intenso fraturamento da

rocha (JULIO, 2012, p. 40).

Figura 13 – Feições erosivas caracterizadas por pequenas cavernas. As mesmas se

encontram seis metros acima do nível do mar atual, sendo assim, testemunho

paleoambiental do avanço do mar

Fonte: Elaborado pelo autor.

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As fraturas presentes no quartzito contribuíram para o processo de entalhamento

das cavernas, já que os processos erosivos e abrasivos das ondas se concentraram nessas

zonas de menor resistência. É válido ressaltar que o quartzito é uma das rochas mais

resistentes a processos erosivos, mas devido a características locais (presença de fraturas) foi

possível a evolução da feição. As cavernas não são oriundas de processo de dissolução da

rocha como ocorre em complexos carbonáticos, mas de junção de intemperismo químico e a

remoção pelo intemperismo físico.

As cavernas não apresentam elevada vulnerabilidade diante a utilização antrópica

devido a dureza da rocha sobre as qual está esculpida, porém, é visível a presença de lixo e

pichações nas paredes o que acaba por interferir na dinâmica e beleza própria desses locais,

sendo válido a instituição de conscientização ambiental. A maior vulnerabilidade desse

geossítio é de cunho natural por meio da ação da chuva e das ondas durante eventos de marés

altas excepcionais.

4.2.4 Geossítio 4: Pedra Furada

O geossítio Pedra Furada (Apêndice D – Ficha 4) é de caráter pontual, localizada

na coordenada geográfica 2°47'07,2"S e 40°30'05,4"W, sendo um dos principais pontos de

visitação no PNJ, o acesso é feito por diversas trilhas com diferentes níveis de dificuldade. A

Pedra Furada é um excelente exemplar de arco marinho (arco natural) formado por processos

erosivos oriundos das ações do mar. Julio (2012) expõe alguns critérios necessários para

designar uma feição como arco natural, sendo eles o fato dos mesmos serem formado rocha, a

qual deve estar exposta e rodeada de ar, o buraco deve ser como origem a remoção seletiva da

rocha natural e apresentar uma estrutura relativamente intacta na rocha que circunda o buraco.

A Pedra Furada (Figura 14) é composta pelo quartzito bastante fraturado da

Formação São Joaquim. Um arco marinho é caracterizado por “uma abertura em uma encosta

rochosa erodida por processos marinhos”, sendo as ondas o principal agente erosivo atuante

(JULIO, 2012, p.58). Devido a erosão marinha as rochas se encontram bem polidas, Julio

(2012, p. 59) salienta que “esse processo tem sido incrementado pelos sais presentes na água

marinha e no vapor d’água que entra nas fraturas e poros da rocha. Ao cristalizarem-se os sais

forma a desintegração rochosa” e resulta na superfície rochosa polida e cantos arredondados.

Ao redor da Pedra Furada é possível visualizar outras feições erosivas, como

pequenos pilares marinhos (stack) e “tocos” marinho (stump). As fraturas na rocha são muito

visíveis, sendo passível de abordagem no local sobre a fase rúptil que a rocha passou durante

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sua formação. Outros elementos da geomorfologia costeira são facilmente abordados no local

devido o fato de após esse ponto se desenvolver uma faixa de praia mais alargada em contato

com a vertente íngreme do Serrote.

Figura 14 – Arco Marinho conhecido como Pedra Furada. Feição esculpida pela ação

marinha em rochas quartzíticas da Formação São Joaquim

Fonte: Elaborado pelo autor.

Julio et al (2012) abordam que a formação da Pedra Furada ocorreu na penúltima

transgressão marinha, a aproximadamente 120.000 A.P, período em que o mar ficou 6 metros

acima da cota atual. Portanto, sendo concomitante a formação das cavernas. Meireles e

Raventos (2002) complementam que a atual configuração da Pedra Furada é fruto do evento

de regressão do mar mais atual, antes da cota dos dias presente, segundo Julio et al (2013)

esse evento teria ocorrido a aproximadamente 5.300 anos A.P., ou seja, a arco marinho da

Pedra Furada levou mais de 110.000 anos para se formar em meio a períodos de variação do

nível do mar.

O geossítio da Pedra Furada é um dos principais pontos turísticos do PNJ, mas

mesmo com o grande número de visitante apresenta-se em ótimo estado de conservação, não é

encontrada nenhuma pichação ou desgaste na rocha causada por atividade antrópica bem

como lixo no seu entorno. A população local tem um grande apego com esse monumento

natural de forma que os guias orientam os turistas a ter uma atitude consciente. Assim como

os demais geossítios localizados norte-nordeste da Ponta de Jericoacoara a principal

vulnerabilidade é de cunho ambiental devido a ação continua das ondas e demais episódios de

caráter marinho.

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4.2.5 Geossítio 5: Pedra do Frade

O geossítio Pedra do Frade é de caráter pontual estando localizado na coordenada

2°47'09,8"S e 40°29'41"W, a aproximadamente 1 km da Pedra Furada (Apêndice E – Ficha

5), é possível chegar até ele por meio da zona de praia. A Pedra do Frade (Figura 15) constitui

o melhor exemplar de pilar marinho na Ponta de Jericoacoara. O pilar marinho constitui uma

feição erosiva (abrasão marinha) característica na área, porém nenhuma apresenta dimensão e

facilidade de visualização dos elementos como a Pedra do Frade.

Figura 15 – Pilar marinho conhecido como Pedra do Frade. É possível visualizar o

intenso faturamento do quartzito

Fonte: Elaborado pelo autor.

Pilares marinhos são porções mais resistentes de rocha que permanecem como

testemunho mesmo após a ação erosiva das ondas. Durante a maré alta a água atinge a base da

Pedra do Frade (Figura 15), sendo possível notar um entalhamento maior nessa região. É

possível visualizar fraturas que remetem ao período rúptil de formação da rocha, sendo

composto por juntas distensionais e direção principal de orientação no sentido NW-SE.

A disposição dos geossítios Cavernas, Pedra Furada e Pedra do Frade é

interessante já que os três remetem a processos de abrasão marinha, sendo um a possível

evolução do outro, sendo o pilar marinho um dos últimos estágios, Julio (2012, p. 62) resume

bem quando expõe que

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Se uma caverna é formada no promontório ela pode eventualmente se quebrar até o

outro lado, formando um arco marinho natural (natural sea arch). O Arco

gradualmente se alargará até que não se possa mais o seu topo ou lintel. Quando o

colapso acontece permanece um pilar marinho (stach). Esse pilar pode ser

adicionalmente desbastados e formar um stump, palavra inglesa que significa “toco”.

4.2.6 Geossítio 6: Dunas Petrificadas

O geossítio Dunas Petrificadas (Apêndice F – Ficha 6) recebe esse nome já que é

assim que o local é conhecido pelos nativos, porém tratasse de um campo de eolianitos (dunas

calcificadas) (Figura 16a), está localizada na coordenada 2°51'14,2"S e 40°42'36,5"W. É um

geossítio área localizado no município de Camocim, nas proximidades da Vila de Tatajuba,

não estando dentro dos limites do Parque Nacional de Jericoacoara, mas a margem da zona de

amortecimento, pertencendo a Área de Proteção Ambiental de Tatajuba, a inserção desse

geossítio pelo autor dá-se pela proximidade e o fato dele está integrado aos roteiros turísticos

do PNJ.

Santos (2002) descreve os eolianitos como dunas arenosas cimentadas por

carbonato de cálcio, estando a sua ocorrência documentada em zonas áridas e semiáridas de

diversas regiões do mundo, em especial em zonas costeira com grande acumulações de areias

biogênicas. Para o Estado do Ceará os eolianitos foram definidos como

(...) depósitos eólicos cimentados por carbonato de cálcio, segundo um processo que

(...) envolveu a dissolução de carbonatos presentes em fragmentos e carapaças

biogênicas marinhas, transferidas da plataforma continental adjacente, onde elas

ocorrem em abundância (...), para a zona costeira, durante período de baixo nível do

mar e/ou de mar em descensão; tal contexto teria permitido a migração e posterior

estabilização dos depósitos eólicos. Em seguida, ocorreu saturação por água

meteórica e cimentação, a partir da precipitação dos carbonatos solubilizados.

(CARVALHO et al, 2009, p. 1)

Carvalho et al (2009) aponta, em descrição do geossítio “Eolianitos de

Flecheira/Mundaú, Costa Noroeste do Estado do Ceará, Brasil” cadastrado na SIGEP, que os

eolianitos ocorrem de forma descontinua em quase toda a costa noroeste do Ceará, entre as

localidade do Pecém e Acaraú, nessas áreas as feições se apresentam variado grau de

litificação indo do friável a fortemente litificado. O geossítios Dunas petrificadas não se

encontra no perímetro definido pelos autores, estando localizado mais a noroeste. O campo de

eolianito se apresenta grau de litificação baixo, sendo bastante friável (Figura 16).

Assim como os eolianitos de Flecheiras/Mundaú o da área de pesquisa apresenta

estruturas sedimentares internas caracterizadas principalmente por estratificações plano-

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paralelas, porém as camadas não são facilmente visualizadas. Outra semelhança é a presença

de raízes litificadas (Figura 16b,c), isso ocorre devido a substituição parcial da matéria

orgânica por carbonato de cálcio e indicam que em algum momento as dunas foram fixadas

por vegetação costeira antes do processo de calcificação acontecer (CARVALHO et al, 2009).

Figura 16 – a) Campo de eolianitos presente na APA de Camocim e conhecido

popularmente como Dunas Petrificadas. b e c) Presença de raízes litificadas

Fonte: Elaborado pelo autor.

Tendo como base um ciclo evolutivo quaternário Carvalho et al (2009) elenca as

etapas necessárias para a remoção, acumulação e cimentação dos eolianitos: 1 – Em ambiente

marinho raso e litorâneo, durante nível do mar mais elevado, ocorre a acumulação de

carbonato biogênico; 2 – Ocorre a exposição do material sedimentar rico em carbonatos

biogênicos da plataforma marinha durante um período de regressão do mar, esses materiais

ficam sujeitos a ação dos ventos; 3 – Os ventos transportaram os sedimentos com carbonatos

biogênicos para a plataforma continental descoberta, onde eles, misturados com demais

sedimentos formaram as dunas; 4 – Com o novo aumento do nível do mar cessou a

acumulação de sedimentos, ficando as dunas estabilizadas sujeitas as ações da chuva. As

aguas pluviais dissolvem os fragmentos de concha e demais elementos biogênicos existentes

nos sedimentos, diante disso infiltrou-se na duna agua rica em carbonato de cálcio dissolvido;

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5 – “Próximo da superfície, a temperatura mais elevada do ar promoveu evaporação da água,

que ascendeu por capilaridade” diante disso os “carbonatos dissolvidos na água, que não são

voláteis, cristalizaram-se nos poros das areias, endurecendo os materiais que formavam as

dunas” (CARVALHO et al, 2009, p. 8). Os carbonatos funcionaram como cimento na

solidificação dos sedimentos da duna; 6 – “Uma vez cimentados os pacotes eólicos, o vento,

agente natural incansável, começou a erodi-los, fato que se processa até hoje” (CARVALHO

et al, 2009, p. 8).

O campo de eolianitos do Parque Nacional de Jericoacoara não apresentam as

dimensões e a representatividade científica como os de Flecheiras/Mundaú, porém constitui

um ponto de interesse por ser único na área de pesquisa e por ser um ambiente bastante frágil

e que necessita de medidas próprias de utilização, preservação e de incentivo ao estudo.

Em meio ao campo de eolianitos passa a trilha que leva até a Duna do Funil e a

Lagoa da Torta. A trilha, utilizada por carros, motos e bugues, é bem sinalizada o que diminui

o impacto sobre a feição. A vulnerabilidade desse local diante ação antrópica é muito elevada

o que gera a necessidade de medidas de conscientização de sua relevância.

4.2.7 Geossítio 7: Duna do Funil

Assim como o anteriormente descrito o geossítio Duna do Funil (Apêndice G –

Ficha 7) está localizado as margem da zona de amortecimento, pertencendo a Área de

Proteção Ambiental de Tatajuba, nas coordenadas 2°51'52,1"S e 40°43'45,3"W, a inserção

desse geossítio segue a lógica do Geossítio Dunas Petrificadas. O local constitui um geossítio

isolado pertencente a categoria temática eólica (Figura 17).

Figura 17 – Duna do Funil. Lagoa interdunar seca no início do período chuvoso

Fonte: Elaborado pelo autor.

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A Duna do Funil é conhecida como a maior duna pertencente ao Parque Nacional

de Jericoacoara, segundo os nativos apresenta mais de 30 metros de altura e constitui parada

obrigatória nos passeios realizados para oeste da Vila de Jericoacoara. A Duna do Funil é uma

duna barcana com a presença de lagoa interdunar em seu sopé, durante o segundo trabalho de

campo foi realizado no começo do período chuvoso a lagoa estava seca, sendo possível

apenas visualizar a sua forma (Figura 17), já na terceira ida ao campo após o período chuvoso

a lagoa contava com acumulo de água, mesmo que com baixa quantidade devido as chuvas

não terem sido abaixo da média (Figura 18).

Figura 18 – Lagoa interdunar na base da Duna do Funil após o período chuvoso

Fonte: Elaborado pelo autor.

Do alto da Duna do Funil é possível ter visão panorâmica do campo de dunas a

oeste do limite do Parque Nacional de Jericoacoara, da linha de costa, de áreas de planície

fluviomarinha com manguezal e da Lagoa da Torta. A escolha da Duna do Funil como

geossítio deu-se principalmente devido a sua dimensão e representatividade diante das

atividades turísticas. Porém, o local apresenta potencialidades educativas devido a facilidade

de visualização dos elementos da geodiversidade e por ser bastante frequentado por turistas,

os quais geralmente chegam a esse ponto com a presença de guias, o que tornaria relevante a

capacitação desses para explicar os processos de formação de uma duna barcana e a

relevância dos sedimentos para a dinâmica costeira. A Duna do Funil apresenta alta

vulnerabilidade ambiental por ser um elemento bastante mutável, o que torna necessário a

instituição de trilhas prioritárias ao trafico de veículos.

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4.3 VALORES DA GEODIVERSIDADE NOS GEOSSÍTIOS INVENTARIADOS

Uma das dificuldades na difusão de conceitos e conhecimentos do campo das

Ciências da Terra é a linguagem utilizada pelo meio acadêmico para a explicação das feições

e dos fenômenos. A forma de falar dos profissionais da área, apelidada de “geologuês”, com

seus neologismos e equações é tão complexa que torna praticamente impossível a

compreensão por uma pessoa de fora desse meio acadêmico.

Ao tentar aproximar os demais pesquisadores e o público leigo das Ciências da

Terra os trabalhos das temáticas da Geodiversidade e do Patrimônio Geológico apresentam

uma linguagem acessível a grande parcela da população, tentando, em suma, relacionar

conhecimentos a priori do leitor com a necessidade de estudo, entendimento e proteção da

vertente abiótica da natureza. Sendo uma técnica bastante válida a descrição dos valores

inerentes a geodiversidade de um determinado local.

Como citado anteriormente, no capítulo dois, a geodiversidade apresenta uma

enorme gama de valores. Gray (2004) atribui sete categorias de valores a geodiversidade,

sendo elas: intrínseco, cultural, estético, econômico, funcional, científico e didático (sendo

esses campos subdivididos 32 valores). Diante da metodologia apresentada por Gray (2004)

pretende-se descrever os valores da geodiversidade presente nos sete geossítios inventariados

no Parque Nacional de Jericoacoara, configurando uma etapa de avaliação qualitativa dos

mesmos, buscando aproximar a linguagem acadêmica com a do senso comum.

4.3.1 Valor Intrínseco

Segundo o dicionário Michaelis a palavra “intrínseco” significa: 1- O que está no

interior das coisas e lhe é próprio ou essencial; 2- Diz-se do valor que os objetos possuem

independente de qualquer convenção; 3- Íntimo, inerente. O valor intrínseco da

geodiversidade é aquele que cada elemento detém independente da sua relevância econômica,

cientifica, didática, cultural, ou seja, é livre da avaliação prévia por parte da sociedade devido

sua capacidade de uso, sendo então, impossível a sua mensuração.

Todos os elementos da geodiversidade apresentam valor intrínseco semelhante já

que a sua existência por si só é relevante para o contexto ambiental. Sendo assim todos os

geossítios inventariados apresentam valor intrínseco.

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4.3.2 Valor Cultural

O valor cultural é oriundo da forma com que a sociedade se relaciona com os

elementos da geodiversidade no seu dia-a-dia, por meio de ritos, lendas, religião, toponímia,

entre outros. Nascimento e Santos (2013, p. 16) expõe que “o valor cultural é originário da

forte interdependência entre o desenvolvimento social, cultura e/ou religioso e o meio

circundante”, para exemplificar os autores citam diversos nomes de cidades que são

relacionadas com elementos geológicos, como Serra Caiada (RN) e Pedra Grande (MT e RN),

além de pontuar a relevância da arqueologia e dos monumentos geológicos enquanto “marca”

de uma localidade.

Descrever a relevância cultural de um determinado local é uma tarefa complicada,

em especial da interação dessa com os elementos da geodiversidade, já que muito não é

escrito e sim passado oralmente de geração em geração, ficando restrita as pessoas do local.

Durante os trabalhos de campo o autor buscou ter conversas com os moradores locais no

intuito de descobrir sobre lendas ou demais aspectos culturais que envolvessem os geossítios

inventariados.

O geossítio Duna do Pôr do Sol é um dos que apresentam maior relevância

cultural no âmbito do PNJ (Tabela 2). A proximidade com a Vila de Jericoacoara faz com que

seja o local mais visitado pelos moradores e turistas, subir a duna durante o pôr do sol é uma

tradição que todos que visitam realizam ao menos uma vez, devido esse fato o local se

configura como um representativo da natureza (representação local e etnogeomorfologia). É

possível ver durante o crepúsculo pessoas tirando foto, andando a cavalo, contemplando a

paisagem e também meditando (Figura 19).

A Duna do Pôr do Sol também serve como ponto de referência e localização para

os pescadores. Diversos espaços litorâneos do Ceará têm a sua duna do pôr do sol, a ligação

com esse evento diário é muito forte e contemplá-lo do alto de uma duna constitui um hábito,

tanto que o autor chegou a escutar de um morador local que a duna localizada atrás da atual

duna do pôr do sol será a próxima a receber esse evento, já que a duna está “se desfazendo”, a

ligação cultural com a duna é tão dinâmica como o seu processo eólico de evolução.

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Figura 19 – Pessoas apreciando o crepúsculo na Duna do Pôr do Sol

Fonte: Elaborado pelo autor.

Não foi encontrada nenhuma relação cultural com os geossítios Praia da Malhada

e Dunas Petrificadas. O geossítio Cavernas apresenta valor cultural atrelado ao campo da

espiritualidade, já que algumas pessoas utilizam para práticas de meditação (Tabela 2). O

mesmo ocorre com o geossítio Pedra Furada, o qual também é palco de diversas lendas que

tentam explicar a origem do arco marinho, muitas histórias atribuem o caráter mágico ao local

(Tabela 2). A excepcionalidade da feição da Pedra Furada faz dela representativo local

associado com o Serrote, sem contar a própria toponímia ligada a feição do arco marinho.

O geossítio Pedra do Frade apresenta diversas lendas para explicar a sua

toponímia, uma remete a forma do pilar marinho que de um ângulo se assemelha a um frade

ajoelhado orando, enquanto outra estória conta que a pedra recebe o nome já que ali foi

encontrado um frade em momento de oração. O geossítio Duna do Funil enquadra-se como

uma representação local por ser conhecida como a maior duna presente no Parque Nacional

de Jericoacoara (Tabela 2).

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Tabela 2 – Valor cultural nos geossítios inventariados

Geossítio Categoria Subdivisão dos

Valores

Relação P

ôr

do S

ol

Val

or

Cult

ura

l

Folclórico A Duna do Pôr do Sol é um das principais representações

locais. Desde muito tempo é um ponto de referência para os barcos e população local.

Espiritual Local de meditação, em especial durante o crepúsculo.

Senso de Local Etnogeomorfologia; A principal feição geomorfológica na

área são as dunas e a Duna do Pôr do Sol é a mais próxima

culturalmente dos locais e visitantes.

Cav

ernas

Espiritual As cavernas enquanto local de meditação e contato com a natureza

Ped

ra F

ura

da Folclórico

A uma grande diversidade de lendas para o local. Uma conta que um português foi o primeiro a atravessar o arco, já que o

mesmo era encantado e com muitos quilômetros, e que no

fundo ele encontrou riquezas e o local deixou de ter o

encantamento.

Espiritual Local de meditação.

Senso de Local Etonogeografia; Local de referência assim com a Duna do Pôr

do Sol, porém ligado ao Serrote

Ped

ra d

o

Fra

de

Folclórico Diversas lendas.

Senso de Local Toponímia.

Du

na

do

Fu

nil

Senso de Local Maior duna do Parque Nacional de Jericoacoara.

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptação da tabela de Mochiutti et al (2011).

4.3.3 Valor Estético

O valor estético é de difícil mensuração já que cada pessoa tem a própria

concepção do que é beleza, diante disso muitas metodologias de avaliação quantitativa do

patrimônio geológico aferem o potencial estético de acordo a sua associação com publicações

de caráter turístico (BRILHA, 2005). Boa parte dos destinos turísticos tem como principais

potencialidades aspectos da geodiversidade, sendo esse o caso do PNJ com as suas praias,

lagoas, campo de dunas e o Serrote.

Todos os geossítios inventariados apresentam potenciais atrelados ao seu aspecto

estético em menor ou em maior grau. O geossítio Duna do Pôr do Sol apresenta um grande

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conjunto de atrativos por ser um ótimo mirante da linha de costa, da Vila de Jericoacoara e do

Serrote, além de ser local propício a caminhadas e dispor de passeio a cavalos para os

visitantes (Tabela 3). O local ainda é citado em músicas locais e serve como paisagem para

quadros e fotografias. O geossítio Pedra Furada é apontado como o mais belo ponto turístico

do parque (Tabela 3), sendo alvo de programas de televisão, guias turísticos, campanhas de

marketing turístico, inspiração para músicas, quadros e artesanato local (Figura 20).

Figura 20 – Artesanato na forma da Pedra Furada feito com rochas locais

Fonte: Elaborado pelo autor.

O geossítio Praia da Malhada apresenta-se como um ótimo lugar para práticas

ligadas a esportes náuticos como surf e o kitesurf, além de ser propício para o banho de mar.

Sua posição privilegiada faz dela um ótimo mirante para o Serrote, além de ser palco de um

belo pôr do sol (Figura 21), pouco frequentado devido a prioridade atribuída pelos visitantes

de desfrutar desse evento na Duna do Pôr do Sol. No geossítio Cavernas é possível realizar

pequenas escaladas e do seu interior é possível ter uma bela vista da praia, onde o pórtico de

entrada remete a uma moldura da paisagem.

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Figura 21 – Pôr do Sol com vista para a Praia da Malhada

Fonte: Elaborado pelo autor.

Mais distante da Vila de Jericoacoara os geossítios Dunas Petrificadas e Duna do

Funil são ideais para trilhas de carro e moto, desde que os condutores sigam as trilhas já pré-

estabelecidas, além de serem mirantes para o campo de dunas, lagoas interdunares e a faixa de

praia (Tabela 3). Na Duna do Funil ainda é possível praticar o “esquibunda”, que se constitui

na descida da duna sentado (ou em pé) em uma prancha adaptada, durante o período das

chuvas a duna conta com uma lagoa em sua base até onde os praticantes chegam.

Por fim, tem-se o geossítio Pedra do Frade que constitui um local para caminhas

de médias distâncias divido sua localização em relação a Vila de Jericoacoara. No local

também é possível ter um vista da porção escarpada do Serrote que vai em direção ao mar. A

Pedra do Frade, assim como outros locais do parque serve como inspiração para quadros e

fotografias de artistas locais.

4.3.4 Valor Econômico

Inseridos no âmbito de Unidades de Conservação os geossítios apresentam uso

econômico bastante limitado, restrito a visitação com objetivo turístico e/ou de estudos, bem

como atividades de baixos impactos regidos pelo plano de manejo e autorizado pelo órgão

gestor do parque (ICMBio) e da APA de Camocim.

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Tabela 3 – Valor estético nos geossítios inventariados

Geossítio Categoria Subdivisão dos

Valores

Relação P

ôr

do S

ol

Val

or

Est

étic

o

Paisagens Locais

A Duna do Pôr do Sol é um dos principais mirantes do

parque; principal representativo da feição mais comum no parque, as dunas.

Atividade de Lazer Passeio a cavalo; caminhada.

Apreciação a

Distância

Publicada em diversas revistas de turismo, textos

acadêmicos, guias e manuais.

Inspiração Artística Presente em músicas locais; quadros; fotografias.

Pra

ia d

a

Mal

had

a

Paisagens Locais Vista do Serrote.

Atividade de Lazer Banho de mar; surf; kitesurf; esportes aquáticos.

Inspiração Artística Fotografias e Quadros.

Cav

ernas

Paisagens Locais Bela vista da praia e blocos de rochas.

Atividade de Lazer Pequenas escaladas.

Ped

ra F

ura

da

Paisagens Locais Principal representação turística do PNJ.

Atividade de Lazer Caminhadas; trilhas.

Apreciação a

Distância

Programas de televisão; presente em diversos manuais e

guias turísticos, textos acadêmicos; cartões postais;

campanhas de marketing turístico.

Inspiração Artística Presente em músicas locais; quadros; fotografias.

Ped

ra d

o F

rade

Paisagens Locais Vista da praia e da escarpa do Serrote.

Atividade de Lazer Caminhadas; trilhas.

Inspiração Artística Fotografias; quadros.

Du

nas

pet

rifi

cadas

Paisagens Locais Mirante da praia e do campo de dunas.

Atividade de Lazer Trilhas de carro e moto.

Duna

do

Funil

Paisagens Locais Maior duna do PNJ. Mirante para o campo de dunas e

Lagoa da Torta.

Atividade de Lazer Caminhadas; “esquibunda”; trilhas de carro e moto

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptação da tabela de Mochiutti et al (2011).

Apesar das limitações de uso os elementos da geodiversidade apresentam algumas

potencialidades intrínsecas. Os geossítios de caráter eólicos (Duna do Pôr do Sol, Dunas

Petrificadas e Duna do Funil) são locais de recarga de águas subterrâneas que funcionam

como fonte de abastecimento das comunidades locais (uso doméstico). As rochas quartzíticas

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oriundas do Serrote onde estão esculpidos os geossítios Cavernas, Pedra Furada e Pedra do

Frade eram amplamente utilizadas pela construção civil na Vila de Jericoacoara sendo

possível visualizar na sua extensão antigas áreas de extração, como exemplos têm-se a Igreja

Católica de Nossa Senhora de Fátima (Figura 22), além de diversas residências e pousadas.

Figura 22 – Igreja de Nossa Senhora de Fátima construída com rochas quartzíticas do

Serrote

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.3.5 Valor Funcional

De acordo Gray (2004) o valor funcional da geodiversidade pode ser analisado

sob duas perspectivas, a primeira, enquanto utilitário para o homem e a manutenção do seu

bem-estar e a segunda enquanto substrato para a sustentação dos sistemas físicos e ecológicos

do planeta. Os geossítios inventariados apresentam funções de caráter geossistêmica,

ecossistêmico e de estocagem/reciclagem (Tabela 4). As funções geossistêmica perpassam

pela dinâmica e processos eólicos nos geossítios caracterizados por dunas (G.1-Duna do Pôr

do Sol, G.6-Dunas Petrificadas e G.7-Duna do Funil) e processos costeiros e de erosão

costeira nos geossítios sobre influência das marés na Ponta de Jericoacoara (G.1-Duna do Pôr

do Sol, G.2-Praia da Malhada, G.3-Cavernas, G.4-Pedra Furada e G.5-Pedra do Frade).

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Tabela 4 – Valor funcional e sua distribuição nos geossítios inventariados

Categoria Subdivisão dos

Valores

Relação/Característica Geossítio(s) Detentor(es) da

Característica

Val

or

Funci

onal

Estocagem e

Reciclagem

- Ciclo Hidrológico.

- G.1; G.6; e, G.7

Funções

Geossistêmicas

- Dinâmica/Processos Eólicos.

- Processos Costeiros.

- Processos de Erosão Costeira

- G.1; G.6; e G.7.

- G.1; G.2; G.3; G.4; e, G.5.

- G.1; G.2; G.3; G.4; e, G.5.

Funções Ecossistêmicas

- Pequenos animais água

salgada (algas, crustáceos, etc.)

- Morcegos

- Pequenos animas e vegetação

(água doce)

- G.2; e, G.4

- G.3.

- G.7

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptação da tabela de Mochiutti et al (2011).

A função ecossistêmica é representada pela presença de pequenos animais (em

especial crustáceos) e vegetação de agua salgada nas rochas e blocos rochosos dos geossítios

Praia da Malhada e Pedra Furada. No geossítio Cavernas foi possível visualizar morcegos, já

na Duna do Funil durante o período de chuvas quando o nível do lençol freático está elevado

se estabelece na base da duna uma lagoa interdunar que possibilita a sobrevivência de

algumas espécies vegetais e animais. Por fim, os geossítios que apresentam elementos de

caráter eólico são importantes para reciclagem ambiental através do ciclo hidrológico por

permitir a infiltração da água e o acumulo no lençol freático (G.1; G.6; e G.7).

4.3.6 Valor Científico e Educativo

O valor científico e educativo da geodiversidade parte do seu uso enquanto

elemento de estudo da Ciência da Terra, ou seja, o quanto a feição é citada no meio

acadêmico e constitui um bom exemplo didático para o ensino e popularização de conceitos

pertinentes a Ciência. A valoração qualitativa desse caráter deve apresentar também um

campo da potencialidade, já que muito locais detêm elevado valor científico e didático,

porém, nunca foram estudados e isso ocorre muito no Brasil devido a sua dimensão territorial

continental e a concentração de estudos geológicos em determinadas regiões do país.

A área de estudo devido a grande visibilidade proporcionada pelas práticas

turística e paisagens espetaculares apresenta trabalhos publicados sobre o meio físico de

forma que seis geossítios são citados em artigos científicos (MEIRELES e RAVENTOS,

2002; MEIRELES, 2011; CARVALHO et al, 2012; JULIO et al, 2013) e quatro são descritos

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em dissertações (ARRUDA, 2007; JULIO, 2012). Por remontar diversos processos costeiros,

eólicos, e pela dinâmica social presente o PNJ configura-se como destino comum em saídas

de campo de Universidades cearenses (e mais amplamente, nordestinas), sendo que os

geossítios da Duna do Pôr do Sol, Praia da Malhada e Pedra Furada são os mais visitados

devido a facilidade de acesso e abordagem de conteúdos (Tabela 5).

Os geossítios inventariados sãos indicadores paleoambientais de variação do nível

do mar (Tabela 5). A dimensão do campo de dunas de Jericoacoara só pode ser explicada por

um período onde o nível do mar se encontrava mais baixo o que proporcionava uma maior

zona de berma e carga de sedimentos no sistema. Enquanto as cavernas (Geossítio Cavernas),

que são oriundas de erosão marinha, estão localizadas em altitudes não atingidas pela maré

atualmente, ou seja, foram formadas em momentos de nível do mar mais elevado. Esses

elementos em conjunto remontam um grande capítulo da história ambiental recente do planeta

e explicar tais eventos de forma entendível ao público leigo é de grande relevância.

Tabela 5 – Valor Científico e Educativo e sua distribuição nos geossítios inventariados

Categoria Subdivisão dos

Valores

Relação/Característica Geossítio(s) Detentor(es) da

Característica

Val

or

Cie

ntí

fico

e E

du

cati

vo

Descoberta

Científica

- Dissertações.

- Artigos.

- G.1; G.3; G.4; e, G.5

- G.1; G.2; G.3; G.4; G.5; e G.6

História da Terra

- Evolução Recente/Dinâmica

Eólica.

- Contato Formação São

Joaquim com Beach Rocks.

- Arco/Pilar Marinho (erosão)

- Cavernas (erosão diferencial)

- G.1; G.6; e G.7.

- G.2.

- G.4; e, G.5

- G.3.

Monitoramento do meio ambiente

- Indicativo de evento

paleoclimático/mudança do

nível relativo do mar,

- G.1; G.2; G.3;G.4; G.6; e, G.7

Educação e

Treinamento.

- Campo de universidades

cearenses e nordestinas.

- G.1; G.2; e, G.4.

Fonte Elaborado pelo autor, adaptação da tabela de Mochiutti et al (2011).

Por fim, os geossítios são registros da história da Terra por meio dos

diversificados ambientes/processos que vão desde contato de duas rochas de idades diferentes

na Praia da Malhada, remontando a formação de rochas metamórficas e sedimentares, a

eventos de erosão marinha sobre as rochas do Serrote e a configuração de cavernas, arcos e

pilares marinhos, sem esquecer-se do campo de dunas oriundo de eventos eólicos recentes.

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5 AVALIAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO PARQUE NACIONAL

DE JERICOACOARA

Avaliação é definida como o ato de averiguar, verificar, comparar determinado

objeto para conferir determinado valor. No estudo do patrimônio geológico a etapa de

avaliação é realizada após a inventariação e adquire importância já que é por meio dela que é

possível obter uma melhor interpretação dos elementos abióticos, dos seus diversos graus de

valores e de quais os geossítios passíveis a instituição de medidas de conservação, valorização

e/ou divulgação.

A avaliação pode ser de caráter qualitativo, onde é realizada a descrição dos

potenciais e vulnerabilidade de forma cursiva e sem uma padronização, ou de caráter

quantitativo, onde são definidos parâmetros e valores numéricos pelos quais todos os locais de

interesse geológico devem ser analisados. A avaliação qualitativa foi realizada no capítulo

anterior por meio da descrição dos diversos valores dos locais inventariados de acordo

metodologia de Gray (2004). Diante disso esse capítulo pretende abordar o caráter

quantitativo da avaliação em patrimônio geológico.

Uma das primeiras metodologias de avaliação foi elaborada por Cendrero (1996,

apud PEREIRA, 2006) e propõe três categorias avaliativas para o patrimônio geológico,

sendo elas: A – critérios de valor intrínsecos; B – critérios relacionados com potencialidades

de uso; C – critérios relacionados com a necessidade de proteção. Os parâmetros são

avaliados tendo a variação de 1 a 5, porém o autor não apresentou em sua metodologia forma

de cálculo de valor.

Os aspectos geomorfológicos foram alvos da metodologia desenvolvida por Rivas

et al (1997, apud PEREIRA, 2010). Segundo Pereira (2010, p. 187) a metodologia tinha como

objetivo “definir índices e indicadores, que poderiam ser utilizados na avaliação de impactos

ambientais (AIA) sobre algumas geoformas”, sendo desenvolvido “uma série de índices

numéricos, no intuito de tornar o processo de avaliação de impactos ambientais sobre

geomorfossítios mais objetivo e quantitativo”. Com isso é perceptível a relação entre o

processo de avaliação do patrimônio geológico e medidas de gestão/planejamento ambiental.

Os valores científicos, educacionais e recreativos são avaliados na metodologia de Rivas et al

(1997), que compreende onze parâmetros avaliativos onde o valor final do geossítio é dado

por meio da relação do Estado de Conservação (C), com a Qualidade do Local de Interesse

Geomorfológico (Q) e Uso Potencial (P).

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O método de Brilha (2005), amplamente difundido em pesquisas realizadas em

países de língua portuguesa, é uma adaptação da metodologia proposta por Cendrero (1996).

O autor retirou alguns parâmetros, dentre os quais, a idade geológica, a extensão superficial

(m²) e a proximidade de populações, bem como realizou alterações em outros critérios. Brilha

(2005) alçou da quantificação do valor final do geossítio, a qual pode ser fruto de uma média

aritmética ou ponderada dos três grupos de critérios existentes. Em sua tese sobre patrimônio

geomorfológico Pereira (2006, p. 82) expõe que

(...) o maior contributo deste método recai na determinação da relevância dos locais

(internacional, nacional, regional e local). O autor propôs que os geossítios de âmbito internacional ou nacional devem ser aqueles que possuem pontuações acima

de determinados valores em alguns critérios. Da mesma forma, nesses locais os

critérios A (critérios de valor intrínsecos) e C (critérios de necessidade de

proteção) são sobrevalorizados em relação aos critérios B (critérios de

potencialidade de uso), o mesmo não acontecendo para os locais com relevância

regional ou local. (grifos do autor).

José Brilha reformula a sua metodologia no artigo “Inventory and Quantitative

Assessment of Geosite and Geodiversity Sites: a Review” (BRILHA, 2015). Como exposto

anteriormente (Capítulo 2) o autor prioriza o aspecto científico da geodiversidade, atribuído a

designação “geossítio/patrimônio geológico” apenas para os elementos com elevado valor

científico. O autor apresenta metodologias de avaliação quantitativa distintas para os

geossítios de valor científico e para os “sítios de geodiversidade” com valor educativo e

turístico, bem como uma avaliação de risco de degradação comum, a qual deve ser balizada

com os resultados obtidos (BRILHA, 2015).

O valor científico é definido por sete critérios com diferentes valores de

ponderação, onde a representatividade do local, ou seja, a capacidade do geossítio de ilustrar

elementos e processos geológicos é o mais relevante. O valor educativo é definido por meio

de doze critérios e o valor turístico por treze, os dois valores apresentam 10 critérios em

comum, mas ponderações diferentes em muitos desses. O potencial educativo é o principal

item na definição do valor educativo, enquanto a beleza cênica do elemento da geodiversidade

adquire esse status no valor turístico. A avaliação de risco de degradação é definida por cinco

critérios, sendo a deterioração do elemento geológico, oriundo de sua fragilidade intrínseca ou

mediante a instituição de ações antrópicas, o principal valor.

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5.1 DESCRIÇÃO DO MÉTODO ESCOLHIDO

Diferentemente das metodologias descritas anteriormente, formuladas por autores

e realidade europeia, a metodologia adotada para avaliar o patrimônio geológico do Parque

Nacional de Jericoacoara é de autoria do brasileiro Ricardo Pereira e responde a problemas de

escala, infraestrutura e legislação próprias do nosso país.

Pereira (2010) desenvolveu uma metodologia em sua tese sobre o valor científico

e turístico do patrimônio geológico da Chapada Diamantina (Bahia) por entender que as

metodologias internacionais não compreendiam a realidade da sua área de pesquisa e a

brasileira como um todo. Diante disso, ao analisar algumas metodologias existentes

(CENDRERO, 1996; RIVAS, 1997; BRILHA, 2005; BRILHA, 2015) percebeu-se que a de

Pereira (2010) era a que melhor se encaixava para distinguir os valores científicos e turístico

do patrimônio geológico do PNJ. A metodologia de Pereira (2010) é composta por 20

parâmetros divididos em quatro categorias de valores, sendo elas:

Valor Intrínseco (Vi): Composta pelos parâmetros de vulnerabilidade associada

a processos naturais, abundância/raridade, integridade da feição e a variedade de elementos da

Geodiversidade. Essa categoria pretende, independente do eventual uso ou funcionalidade do

local, avaliar os aspectos inerentes ao geossítio.

Valor Científico (Vci): Categoria que objetiva avaliar o potencial científico dos

geossítios, sendo composta pelos parâmetros da relevância didática, diversidade de

interesses/temáticas, representatividade de materiais e processos geológicos, e, por fim, o grau

de conhecimento científico sobre o local.

Valor Turístico (Vtur): Por meio da avaliação de seus parâmetros é possível

obter um panorama da atual utilização turística do geossítio. Engloba cinco categorias

relativas ao aspecto estético, acessibilidade, presença de infraestrutura, existência de

utilização em curso e de mecanismo de controle de visitantes. A categoria de aspecto estético

tem um caráter bastante subjetivo, já que a noção de beleza difere de pessoa para pessoa.

Valor de Uso/Gestão (Vug): “Esse conjunto de critérios é indicativo dos

impactos sociais e viabilidade de utilização futura do geossítio, bem como a exequibilidade de

aplicação de investimento para a valorização do local” (PEREIRA, 2010, p. 204). Os

parâmetros são diversos, sendo eles, relevância cultural, relevância econômica, nível oficial

de proteção, passível de utilização econômica, vulnerabilidade associada ao uso antrópico,

população e condições socioeconômicas dos núcleos urbanos mais próximos.

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Os valores finais (Intrínseco; Científico; Turístico; Uso e Gestão) são dados pela

somatória das variáveis divididos pelo numero das mesmas, sendo assim, todos os parâmetros

apresentam a mesma relevância. Calculadas cada categoria de valor é possível avaliar, por

meio de ponderações, parâmetros como o Valor de Uso Científico (VUC), Valor de Uso

Turístico (VUT), Valor de Conservação (VC) e a Relevância (R) de cada geossítio. Por

apresentar de forma clara o nível de relevância/influência (local, regional, nacional,

internacional) de cada geossítio a metodologia de Pereira (2010) torna-se relevante para

medidas de planejamento ambiental. Sendo assim, torna-se válido descrever como cada

parâmetro é concebido.

Valor de Uso Científico (VUC): Calculado a partir da média ponderada dos

valores intrínseco (Vi) e científico (Vci), sendo atribuído maior valor a Vci. Segundo Pereira

(2010, p. 207), “esse conjunto de parâmetros acaba por expressar o potencial científico já

consagrado (Vci), ou ainda inexplorado (Vi), do geossítio”. O cálculo do VUC é realizado

pela seguinte equação: VUC= (2*Vi + 3*Vci)/5

Valor de Uso Turístico (VUT): Tendo como objetivo expressar o potencial de

utilização do geossítio para práticas turísticas é calculado a partir da média ponderada dos

valores turístico (Vtur) e de uso/gestão (Vug), onde foi dada maior importância ao Vtur. O

calculo do VUT é realizado por meio da equação: VUT= (3*Vtur + 2*Vug)/5

Valor de Conservação (VC): Expressa a importância do geossítio para fins de

conservação dos elementos da geodiversidade, sendo calculado a partir da média ponderada

dos valores intrínseco (Vi), científico (Vci) e de uso/gestão (Vug), onde foi atribuído maior

peso ao Vi. O cálculo é dado por: VC= (3*Vi + Vci + Vug)/5

Relevância (R): Obtida através dos índices de Valor de Uso Turístico (VUT) e

Valor de Uso Científico (VUC), sendo atribuído maior valor ao VUC na ponderação. Para a

realização do cálculo, os valores “foram divididos por 20, que representa o número total de

parâmetros adotados na avaliação dos geossítios, sendo posteriormente multiplicados pelo

número 100, com o intuito de normatizar estes resultados” (PEREIRA, 2010, p. 208).

R= {2*[(VUC/20)*100] + [(VUT/20)*100]}/3

De acordo o resultado é possível classificar os diferentes graus de relevância dos

geossítios avaliados:

- Geossítios de relevância local: locais onde R =< 10.

- Geossítios de relevância regional: locais onde 10 < R < o valor médio obtido

para a relevância do conjunto de geossítios avaliados.

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- Geossítios de relevância nacional: locais onde R > o valor médio obtido para a

relevância do conjunto de geossítios avaliados.

- Geossítios de relevância internacional: locais onde R > o valor médio obtido

para a relevância do conjunto de geossítios avaliados e onde, simultaneamente, os parâmetros

A-02 e A-03 são maiores ou iguais a três e os parâmetros B-01, B-02, C-02 e C-03 maiores ou

iguais a dois.

5.2 AVALIAÇÃO DOS GEOSSÍTIOS DE ACORDO O CARÁTER CIENTÍFICO E

TURÍSTICO

Os sete geossítios inventariados no capítulo anterior passaram pelo processo de

avaliação segundo metodologia de Pereira (2010). A etapa mostrou-se válida e revelou

particularidades do patrimônio geológico do PNJ, como os geossítios prioritários para ações

de divulgação e aqueles que representam menor relevância científica e turística. Cabe então

nesse momento uma discrição dos resultados obtidos.

O Valor Intrínseco (Vi), que quantifica parâmetros inerentes ao patrimônio

geológico e o contexto geológico regional em que está inserido, apresentou uma grande

variação (3 pontos), com valor mínimo de 0,5 para o geossítio Duna do Funil e o valor

máximo, 3,50 para o geossítio Pedra Furada (Quadro 2). O parâmetro A-2 de

abundância/raridade foi relevante já que os geossítios de caráter eólico, caracterizados por

dunas, apresentaram valores mínimos devido a constância da feição na área de pesquisa. A

baixa variedade de elementos da geodiversidade (A-4) abordados em alguns geossítios

também contribuiu para o decréscimo do resultado. A média do Valor Intrínseco foi de 2,18,

sendo que quatro geossítios apresentaram valores superiores, sendo eles em ordem crescente,

os geossítios Pedra do Frade, Cavernas, Praia da Malhada e Pedra Furada.

O Valor Científico (Vci), que revela a potencialidade científica do geossít io por

meio das interações das diferentes temáticas passíveis de abordagem, bem como se esse já foi

alvo de estudos anteriores no âmbito das Ciências da Terra, apresentou variação de dois

pontos, sendo o menor valor atribuído 1,50 a Duna do Funil e o maior, 3,50, a Pedra Furada

(Quadro 3). O parâmetro B.01 foi relevante para o resultado final, já que os geossítios

localizados na Ponta de Jericoacoara (com exceção da Pedra do Frade) são citados em

diferentes estudos (ARRUDA, 2007; MEIRELES, 2011; JULIO, 2012; JULIO et al, 2013),

recebendo assim, o valor máximo. No geral os geossítios não alcançaram elevada pontuação

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no parâmetro B-03 (Diversidade de interesses/ temáticas associadas), o que revela o caráter

eminentemente geológico/geomorfológico dos locais inventariados.

Quadro 2 – Valor Intrínseco dos Geossítios Inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quadro 3 – Valor Científico dos Geossítios Inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Valor Turístico (Vtur), que descreve o atual uso turístico do geossítio e as

potencialidades que esse apresenta na implementação de futuras atividades, apresentou pouca

variação. O geossítio Duna do Pôr do Sol dispôs do maior valor, 2,60, enquanto o geossítio

Dunas Petrificadas o menor atingindo apenas 1,20 (Quadro 4). Apesar dos geossítios

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apresentarem um elevado apelo cênico eles não são dotados de estrutura de suporte ao turista,

sendo acessível apenas por trilhas (salvo a Duna do Pôr do Sol e a Praia da Malhada que são

conectados a Vila de Jericoacoara), além de não apresentarem um controle sistemático de

visitantes. O conjunto de fatores não permitiu que a pontuação do Vtur fosse elevada, porém

são esses mesmo elementos que torna o turismo no PNJ diferenciado, a ideia de contato com a

natureza como ela é, da Vila isolada, das longas caminhadas a pé, do paraíso “natural” é o que

cativa o turista. A média do Valor Turístico foi de 1,86, estando os geossítios Duna do Pôr do

Sol, Praia da Malhada, Pedra Furada e Duna do Funil acima da média.

Quadro 4 – Valor Turístico dos Geossítios Inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Valor de Uso/Gestão (Vug), que demonstra os impactos sociais vigentes e a

viabilidade de utilização futura do geossítio, apresenta particularidades devido os geossítios

inventariados estarem presente no âmbito de unidades de conservação do tipo Parque

Nacional ou Área de Proteção Ambiental, de forma que todos os geossítios inventariados

receberam importâncias iguais em diversos parâmetros (Quadro 5). No parâmetro “D.02 –

Relevância Econômica” foi atribuído valor máximo pelo fato dos geossítios não serem

passíveis de exploração econômica devido as restrições existentes em um Parque Nacional, no

item “D.03 – Nível oficial de proteção” todos os geossítios também obtiveram valor máximo

por se localizar em meio a uma UC (os geossítios G. 1 ao G.5 a área do Parque Nacional de

Jericoacoara e os geossítios G.6 e G.7 a Área de Proteção Ambiental de Tatajuba nas margens

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do parque) , já no item “D.04 – Passíveis de utilização econômica” foi atribuído o valor “2”

para todos os geossítios (Quadro 5).

Quadro 5 – Valor de Uso/Gestão dos Geossítios Inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os municípios que compõem o PNJ apesar de não serem grandes polos

populacionais detêm pequeno território de modo que um raio de 25km abarca quase que a

totalidade dos mesmo de forma que no parâmetro “D.06 – População do núcleo urbano mais

próximo” foi atribuído o valor máximo, já que transcende 20.000 habitantes (Quadro 5).

No item “D.7 – Condições socioeconômicas dos núcleos urbanos mais próximos”

foi realizada a média do Índice de Desenvolvimento Humana (IDH), tendo como base o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), dos três municípios que

compõem o Parque Nacional de Jericoacoara (Cruz, Camocim e Jijoca de Jericoacoara), em

relação ao IDH do estado Ceará e do Brasil. A média dos municípios é 0,635, enquanto a

média do Estado do Ceará é 0,682 e a brasileira 0,699, o que resultou na atribuição do valor

“2” para todos os geossítios (Quadro 5) .

Diante do exposto o valor de Uso/Gestão dos geossítios apresentou pouca

mudança devido a pontuação semelhante em muitos parâmetros, estando todos a menos de 0,5

pontos da média. Apenas os parâmetros D.1 e D.4, que tratam dos aspectos culturais e da

vulnerabilidade frente ao uso antrópico, respectivamente, apresentaram variações.

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Por meio da ponderação dos valores anteriormente descritos foi possível chegar a

definição dos Valores de Uso Científico (VUC), de Uso Turístico (VUT), de Conservação

(VUC) e o valor de Relevância (R). Essas informações trazem um contributo mais prático e

aplicável ao planejamento do patrimônio geológico do PNJ. Dois geossítios se destacam

apresentando todos os valores finais acima da média da categoria, sendo eles os geossítios

Pedra Furada e Praia da Malhada (valores salientados no Quadro 6), outro geossítio com bom

desempenho foi o Cavernas, com pontuação abaixo da média apenas no VUT (Quadro 6). Os

geossítios localizados na Ponta de Jericoacoara (G.1 ao G.5) apresentam as melhores

colocações no Ranking de Relevância, demonstrando que a área é prioritária para medidas de

valorização e divulgação (Quadro 6).

Quadro 6 – Valor Síntese dos Valores de Uso e Relevância dos Geossítios Inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Valor de Uso Científico (VUC) demonstrou que os principais geossítios de

aporte a pesquisa no âmbito das Ciências da Terra são os Pedra Furada (3,50), Praia da

Malhada (2,85) e Cavernas (2,75). Todos os geossítios estão localizados na Ponta de

Jericoacoara sobre rochas metamórficas pertencentes a Formação São Joaquim, sendo que na

Praia da Malhada ainda é possível explanar sobre formação sedimentares já que há a presença

de arenitos de praia. São geossítios que remontam diferentes processos erosivos e de abrasão

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marinha, além de testemunhar diferentes níveis relativos do mar, apresentando assim

importância paleoclimática. Em contrapartida, os geossítios caracterizados por feições

dunares apresentam os menores valores, Dunas Petrificadas (1,75), Duna do Funil (1,70) e

Duna do Por do Sol (1,50), a constância das feições no âmbito do PNJ e do litoral cearense, a

baixa diversidade de elementos passiveis de abordagem em conjunto com alta vulnerabilidade

mediante o uso são as principais causas para os baixos índices alcançados (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Valor de Uso Científico dos geossítios inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Valor de Uso Turístico (VUT) apresentou pouca variação entre os geossítios

inventariados, sendo essa influenciada pelo Valor Turístico (Vtur) já que o Valor de Uso e

Gestão manteve-se semelhante em todos os locais. A ausência de infraestrutura de suporte ao

turista e as distâncias foram os grandes empecilhos para um melhor resultado. O geossítio

Duna do Pôr do Sol devido a sua proximidade da Vila de Jericoacoara, lendas e identificação

cultural, elementos de suporte ao turista, mesmo que de forma incipiente através da

possibilidade de “subir” a duna a cavalo, apresentou o maior valor (2,73), seguido da Pedra

Furada (2,63), os quais constituem os principais e mais visitados pontos turísticos do PNJ.

Esses dois locais, juntamente com a Praia da Malhada, podem ser amplamente

utilizados para práticas de conscientização ambiental em meio aos turistas que frequentam o

PNJ devido o grande número de visitante e boa visibilidade dos elementos da geodiversidade.

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A Duna do Pôr do Sol apesar de não apresentar grande relevância científica, pode ser

apropriada mediante as lendas e a mística por trás do pôr do sol que todos os turistas vão

assistir quando visitam Jericoacoara.

O Valor de Conservação (VC) que “expressa a relevância do geossítio para fins de

conservação dos elementos da geodiversidade” devendo-se considerar que a “conservação do

patrimônio natural deve ser encarada como uma atividade que tenha um impacto social

positivo e que, para além disto, tenha em consideração a relevância científica do local”

(PEREIRA, 2010, p. 208), apresentou uma elevada variação na área de pesquisa, 2,06 pontos,

muito por haver no PNJ dois grandes grupos de geossítios, o primeiro de características

eólicas/dunares com alta vulnerabilidade ambiental, baixa raridade e valor científico e o

segundo caracterizado por geossítios oriundos de processos erosivos sobre rochas

metamórficas e/ou sedimentares com menor grau de vulnerabilidade e maior número de

elementos associados (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Valor de Conservação dos geossítios inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

O ranking de Relevância resultou geossítios de importância local, regional e

nacional no PNJ (Gráfico 3). Foram dois geossítios de relevância local: Dunas Petrificadas,

com valor de 8,75, geossítio área correspondente a um campo de eolianitos; e a Duna do

Funil, que apresenta o menor valor de relevância com 8,71 pontos, o geossítio compreende a

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maior duna no âmbito do PNJ e adjacências. A Duna do Funil apresenta o valor mais baixo no

parâmetro de Valor de Uso Científico, enquanto as Dunas Petrificadas assume essa posição no

Valor de Uso Turístico.

Dois geossítios enquadram-se como de relevância regional, sendo eles: Duna do

Por do Sol, que atingiu valor 10,27, que apesar do baixo valor cientifico foi o principal

expoente da área de pesquisa no Valor de Uso Turístico; e a Pedra do Frade, com valor de

10,09, corresponde ao melhor exemplar de pilar marinho encontrado na Ponta de

Jericoacoara, apresentando relevância cultural devido lendas que remetem a sua toponímia, o

geossítio de caráter isolado não se destacou em nenhum dos critérios abordados, estando

sempre muito próximo ao valor médio.

Gráfico 3 – Ranking de Relevância dos geossítios inventariados

Fonte: Elaborado pelo autor.

Por fim, três dos geossítios atingiram relevância nacional, sendo eles: Pedra

Furada com a maior pontuação, 16,06 valores. O geossítio se destaca por ser um arco marinho

bem preservado e com alta taxa de visitação, sendo um dos principais cartões postais do

Parque Nacional de Jericoacoara; o geossítio Praia da Malhada apresentou o valor de 13,60.

Conectada a Vila de Jericoacoara a nordeste a praia é bastante visitada por praticantes de

esportes náuticos como surf e kitesurf, apresenta rochas sedimentares e metamórficas, além de

uma diversidade de feições geomorfológicas que remontam a diferentes períodos

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paleoambientais; e o geossítio Cavernas, com pontuação de 12,47, caracterizado por pequenas

cavernas esculpidas na vertente do Serrote voltada para costa em diferentes cotas altimétrica,

sendo um local propício para explanações sobre variações do nível do mar e erosão marinha.

Algo que deve ser salientado sobre os geossítios que apresentaram relevância

nacional é que os mesmos não detiveram relevância internacional por não alcançarem valor

suficiente em apenas um campo, sendo ele o “C-03: Presença de Infraestrutura”, já que todos

apresentaram valor “zero” enquanto a metodologia requer valor mínimo de “dois”. Porém,

como foi salientado anteriormente, os geossítios e demais locais turísticos (com exceção das

lagoas do Paraíso, Azul e Torta) no Parque Nacional de Jericoacoara e adjacências não

apresentam infraestrutura em muito para perdurar a ideia “paraíso natural/preservado”

vendidos nos pacotes turísticos, sendo o rústico um atrativo e não um elemento de repulsa pra

o turista. A metodologia base para a etapa da avaliação foi construída para uma realidade

distinta da encontrada no PNJ, sendo que o fato ocorrido constitui um problema

metodológico, porém como não foi objetivo da presente dissertação elaborar uma nova

metodologia ou realizar uma adaptação da mesma adotaram-se os valores resultantes.

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6 VALORIZAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO

PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA

O homem, como um ser social, encontra na natureza a base para a evolução das

técnicas e o subsídio para o seu desenvolvimento enquanto grupo. Porém, a forma de enxergar

e de interagir do homem com a natureza foi múltipla no decorrer da história. Santos (1992, p.

97) aborda que os primeiros grupos mantinham uma relação “amigável” com a natureza, já

que a organização de produção, da vida social e do espaço respondia as necessidades e

desejos reais, porém, com o tempo as necessidades de comércio entre coletividades

introduziram “nexos novos e também novos desejos e necessidades e a organização da

sociedade e do espaço tinha de se fazer segundo parâmetros estranhos às necessidades íntimas

ao grupo”.

Atualmente, as necessidades irreais, criadas pelo modelo capitalista e sua lógica

de consumo desacerbada, faz com que o homem tenha uma relação muito instável com a

natureza, já que pela primeira vez na história os elementos naturais dão sinais de extremo

desgaste. A insuficiência de matéria-prima durante o momento em que os “I”7 chegam a uma

nova faixa de consumidores nos países em desenvolvimento, no momento em que as “fast

fashion”, como Zara e HeM, expandem seu mercado, gera uma nova forma de conceber a

natureza, a sustentabilidade.

A lógica capitalista, que comanda os meios de produção de boa parte da sociedade

global, é pautada na comercialização de produtos, em muitos casos no primeiro momento,

esses não são físicos, mas permanecem no mundo das ideias ou são a própria ideia. A lógica

ambiental segue esse caminho, antes da “sustentabilidade” e/ou “desenvolvimento

sustentável” virar um produto que acompanha diversas marcas e artigos foi necessário vender

a ideia da “consciência ambiental”, de que precisamos voltar a estar em simbiose com o

planeta, de que as nossas ações são agressivas e que se não mudássemos a nossa forma de ser

e passássemos a consumir produtos “ecologicamente corretos” o Planeta não iria conseguir

suprir as nossas “necessidades capitalistas”. Diante disso o marketing ambiental ganha força e

o público são orientados a consumir as marcas “ecologicamente corretas”.

Porém, é correto afirmar que nessa busca a natureza foi segmentada, muito é

abordado sobre os elementos bióticos, ou biodiversidade, e pouco se é difundido sobre a

7 Uso do “I” como referência aos produtos da Apple (Iphone, Imac, Ipod), símbolos do desejo de consumo de

elevada parcela da população.

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relevância dos elementos abióticos enquanto substrato para toda forma de vida. O marketing

ambiental priorizou aquilo que é mais fácil de compreender, priorizou o verde das matas, os

movimentos dos animais, o que apresenta uma escala temporal mais próxima a humana. As

pessoas entendem e se mobilizam para defender espécies da flora e fauna que estão em

processo de extinção, mas não concebem a importância de uma determinada feição

geomorfológica, geológica ou do solo para a configuração do habitat dessas mesmas espécies,

sendo que em muitas casos são características particulares de um desses elementos abióticos

que proporcionam o endemismo ou a manutenção da espécie.

Em meio ao atraso a etapa de valorização e divulgação do patrimônio geológico

adquire elevada relevância nos estudos da temática, já que é nesse momento que são traçadas

medidas efetivas de aproximação do público com conceitos relativos às Ciências da Terra e

que se “vende” a ideia de que a geodiversidade é um componente do meio ambiente tão

importante quanto a biodiversidade e merece ser estudado, entendido e conservado.

Muitos trabalhos da temática realizam apenas a inventariação e/ou a avaliação do

patrimônio geológico não propondo medidas de divulgação, isso é devido às inúmeras

dificuldades que acompanham essa etapa, as quais partem principalmente do

desconhecimento do público sobre a temática e a ausência de uma linguagem acessível para

se explicar as feições e os processos. Porém, pretende-se nesse capítulo traçar práticas de

valorização de alguns geossítios inventariados no Parque Nacional de Jericoacoara, no intuito

de dar uma resposta a gestão do Parque e a sociedade por meio desse estudo.

6.1 PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO DE GEOSSÍTIOS NO PARQUE NACIONAL DE

JERICOACOARA

Como citado em capítulos anteriores os geossítios inventariados no PNJ

apresentam inegável valor científico e são todos utilizados, em maior ou menor grau, por

práticas turísticas. Apesar de grande parte dos visitantes apresentarem uma relação mais

saudável com o meio ambiente e buscarem uma interação com esse e com a comunidade, o

turismo presente na área é caracterizado pelo Turismo de Sol e Praia.

Torna-se claro que a prática turística em Jericoacoara apresenta um escopo

estabelecido, não sendo viável propor uma nova forma de “fazer turismo” focado nos

elementos do patrimônio geológico (geoturismo), porém isso não impede que seja incentivado

a instituição de medidas de aproximação do turista com conceitos e temas relativos às

Ciências da Terra por meio do uso dos geossítios.

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Diante disso pretende-se propor três estratégias de valorização e divulgação no

patrimônio geológico do PNJ, uma por meio de um folheto que aborda as potencialidades dos

geossítios presentes na Ponta de Jericoacoara (G.1 ao G.5), outra por meio de um painel

explicativo sobre a Pedra Furada e, por fim, cartões postais com os locais de interesse

geológico do PNJ. As medidas apresentam linguagens simplificadas e atrativas, por

compreender que o turista não foi ao local para realizar geoturismo, sendo necessário cativá-

lo para que o mesmo não apenas contemple a paisagem, mas a entenda.

É válido salientar que atualmente o Parque Nacional de Jericoacoara apresenta

trilhas prioritárias estabelecidas, num passado recente isso não ocorria, o transito de pessoas e

automóveis eram realizados por diversos caminhos pelos campos de dunas e área do Serrote,

o que ocasionava em aumento da fragilidade diante os processos erosivos e perda de

biodiversidade. Apesar da existência as trilhas não são equipadas com elementos

interpretativos de apoio ao turista, o que se configura como uma perda diante as

potencialidades científicas e educativas do local. Diante disso torna-se ainda mais necessário

o incentivo de ações em prol da valorização e interpretação do patrimônio natural do PNJ.

As placas existentes no âmbito do parque até abril de 2015, data da segunda saída

de campo, configuravam-se como alerta sobre proibições ou delimitações de atividades

permitidas, em agosto de 2015, período da realização de outra ida ao campo, o Parque contava

com novas placas, sendo que algumas apresentavam textos interpretativos, mesmo que de

forma muito sucinta.

Para a realização dessa etapa buscou-se referencial teórico sobre conceitos e

técnicas de interpretação ambiental, com foco especial no patrimônio geológico, confecção de

painéis interpretativos e folhetos turísticos (PROJETO DOCES MATAS, 2002;

MARGLIANO, 2010; MOREIRA, 2012; BENTO, 2014; PACHECO e BRILHA, 2014).

Posteriormente, por meio de pesquisa de amostras na internet e papel impresso, foram

definidos os modelos gráficos a serem seguidos para a confecção do painel interpretativo, do

folheto turístico, cartões postais e do texto presente em cada elemento interpretativo. Buscou-

se um layout moderno e que remetesse a Jericoacoara no intuito de chamar a atenção do

turista.

6.1.1 Interpretação Ambiental e sua interface com a Geodiversidade

Traduzir a natureza de forma acessível ao grande público, como abordado

anteriormente, é uma das maiores dificuldades das Ciências da Terra. Diante disso os

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pesquisadores têm lançado mão de técnicas de Interpretação Ambiental que segundo Moreira

(2012, p. 87 e 88) constitui uma “parte da Educação Ambiental, sendo (...) atividades de uma

comunicação realizada para melhor compreensão do ambiente natural em áreas protegidas,

museus, centro de interpretação da natureza, entre outros” tendo como objetivo aprofundar o

“conhecimento e a apreciação da natureza, pois é uma tradução da linguagem da natureza para

a linguagem comum das pessoas, traduz uma linguagem técnica, para os termos e ideias do

público em geral, que não são científicos”.

A interpretação ambiental é realizada a séculos, porém a sua sistematização

enquanto disciplina deu-se a partir do ano de 1957 com o lançamento do livro “Interpreting

our Heritage” do americano Freeman Tilden, o qual definia a interpretação ambiental como

“uma atividade educativa, que se propõe revelar significados e inter-relações por meio do uso

de objetos originais, do contato direto com o recurso e de meios ilustrativos, em vez de

simplesmente comunicar informação literal” (PROJETO DOCES MATAS, 2002, p.11),

sendo que para a interpretação consista em uma experiência positiva é necessário que ela seja

significativa, provocante, diferenciada, temática, organizada e prazerosa.

A interpretação ambiental (ou patrimonial) tem como objetivo final a mudança de

atitude diante a conservação do patrimônio natural/cultural, mas para chegar até essa etapa é

necessário conhecimento da temática abordada e uma interação emocional com elemento,

diante disso Maragliano (2010, p. 18, tradução nossa) expõe os três objetivos fundamentais da

intepretação os quais ocorrem em diferentes níveis

Em primeiro lugar os objetivos de conhecimento, aquilo que se que dá a conhecer ao

público. No segundo nível, mais profundo, os objetivos emocionais, a saber, que

sentimentos deveriam surgir nas pessoas a partir do conhecimento, para então chegar

aos objetivos atitudinais, os de comportamento, quais atitudes ou reações novas se

pretende do visitante a partir dos sentimentos criados pelo novo conhecimento.

O contato/interação do público e os elementos a serem interpretados é de suma

importâncias nas atividades de interpretação ambiental e transpassa o caráter físico, sendo

também de percepções emocionais e sentimentais, isso é compreendido nas palavras de Tilden

que expõe que “qualquer interpretação que de alguma forma não relaciona o que se mostra ou

descreve com algo que se encontra na personalidade ou na experiência do visitante, será

estéril” (TILDEN, 2006 apud MARGLIANO, 2010, p. 18, tradução nossa), por isso a

necessidade de relacionar público-temática e de transcender a linguagem científica para uma

forma de falar que abarque o cotidiano sem perder a capacidade informativa.

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As ações de interpretação ambiental são compostas por temas interpretativos, e

por mensagens relacionadas a uma ideia de caráter geral, o tópico (PROJETO DOCES

MATAS, 2002). O tópico é de caráter amplo e pode conter diferentes temas interpretativos.

Tendo como exemplo o presente trabalho o tópico geral seria o Patrimônio Geológico do

Parque Nacional de Jericoacoara e a relevância de sua proteção, enquanto os temas alçam

desde os elementos que compõem o patrimônio geológico, como as rochas metamórficas,

dunas, rochas sedimentares, entre outros (sendo que esses podem apresentar subtemas), a

processos ativos e pretéritos expostos na área (processos erosivos, formação das dunas,

ambientes estuarinos, entre outros).

A interpretação ambiental pode ser classificada, de forma ampla, em atividades

guiadas (personalizadas) quando há um interprete para interagir com os visitantes, ou,

autoguiadas (não-personalizadas) quando não há um mediador direto, mas sim instrumentos

como mapas, folhetos, placas, roteiros, etc. (PROJETO DOCES MATAS, 2002; MOREIRA,

2012). A proposta de valorização do patrimônio geológico do PNJ apresentada a seguir entra

no grupo das autoguiadas. Entres os aspectos positivos dessa prática está o fato de permitir os

visitantes seguir o próprio ritmo, agregar pessoas que não gostam de participar de atividades

em grupo, a não necessidade de guias, abarcar um maior número de pessoas, entre outros.

Dentre os aspectos negativos estão os fatos de não responder dúvidas que possa surgir durante

o trajeto, ser suscetível a vandalismo, não ser suscetível a adaptações, o custo de manutenção

que pode ser alto, a dificuldade de gerar um material que abarque todos os públicos, entre

outros.

Diante o exposto percebe-se que a interpretação ambiental entra em concordância

com os objetivos do estudo da temática da geodiversidade e patrimônio geológico, já que

busca a consolidação de uma atitude de respeito ao ambiente por meio da integração com o

mesmo e da busca de conhecimento dos seus aspectos.

Algumas dificuldades são presentes nas ações de interpretação ambiental. Bento

(2014) aborda que em relação ao patrimônio geológico os principais desafios ficam

relacionados ao público-alvo e a mensagem. Torna-se necessário conhecer o perfil do público,

já que o mesmo é, geralmente, muito heterogêneo (idade, formação, anseios, etc.) e requer

uma “interpretação contextualizada e, ao mesmo tempo, interessante e com significado”

(BENTO, 2014, p.128). Enquanto a mensagem deve ser apresentada de forma persuasiva,

provocativa e clara, sendo essa uma grande dificuldade para os pesquisadores da Ciência da

Terra devido a linguagem extremamente técnica utilizada. Moreira (2012, p. 88) expõe que

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muitas “pesquisas científicas são feitas, mas o resultado dessas pesquisas não são traduzidas

para uma linguagem acessível ao público visitante”. As ações de divulgação do patrimônio

geológico devem se preocupar com a mensagem, pois, infelizmente, os temas não são comuns

a maioria dos visitantes, sendo necessário uma linguagem clara onde o uso de analogias com

elementos do cotidiano são de suma importância.

Pacheco e Brilha (2014) também tratam a linguagem, mas principalmente, a

comunicação entre cientista e público como uma dificuldade na divulgação do patrimônio

geológico. Os autores apontam fatores que dificultam a comunicação entre geocientistas e

público não especializado as quais partiriam principalmente de questões como

- aparente irrelevância da geologia para a sociedade; - falta de interesse em aprender

devido à existência de uma grande parcela da população com parcos conhecimentos

científicos; - dificuldade em apreender conceitos específicos como tempo geológico,

escala de ordenação sequencial dos processos e/ou materiais geológicos, em função

da sua idade relativa e/ou absoluta; - difícil equilíbrio entre divulgar informação que,

de tão simplificada, pouco ou nada de relevante é passado ao público e transmitir uma mensagem complexa que não é compreendida pela generalidade do público; -

dificuldades que os cidadãos, em geral, e os media, em particular, têm em

compreender a terminologia própria da comunicação entre investigadores; (...) -

dificuldade em perceber o que motiva o público a participar num dado evento ou a

visitar um determinado local onde o tema central é a geologia (PACHECO e

BRILHA, 2014, p.103).

Uma ótima estratégia de interação entre ações de interpretação ambiental e a

geodiversidade é o Geoturismo. Nascimento, Ruchkys e Mantesso-Neto (2008) salientam a

importância da interpretação ambiental na prática do geoturismo, já que essa sensibiliza o

público da importância do patrimônio e desperta a vontade de contribuir para a proteção dos

elementos.

O geoturismo é uma atividade recente e que começa a ser difundida no Mundo,

diante disso ainda não há um consenso na sua definição, sendo que alguns conceitos são mais

abrangentes como a definição de Manosso (2007, p. 48) onde a prática seria “qualquer visita

turística de uma pessoa ou um grupo a um lugar onde o objetivo é apreciar, entender ou se

interar com a paisagem”. Outra definição abrangente é defendida pela Nacional Geography

Society, a qual atribui um caráter geográfico ao geoturismo (MANOSSO, 2007). Outros

conceitos, como o apresentado por Silva e Perinotto (2007), são mais específicos e relacionam

a atividade com os elementos geológicos da paisagem, diante disso o geoturismo seria

(...) a atividade do turismo com conotação geológica, ou seja, a visita organizada e

orientada a locais onde ocorrem recursos do meio físico geológico que testemunham

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uma fase do passado ou da história da origem e evolução do planeta Terra. Também

se inclui, nesse contexto, o conhecimento científico sobre a gênese da paisagem, os

processos envolvidos e os testemunhos registrados em rochas, solos e relevos

(SILVA e PERINOTTO, 2007, não paginado).

O autor da presente dissertação adota a visão menos abrangente do geoturismo

considerando essa uma vertente turística “desenvolvida sobre e enfocando a geodiversidade,

preocupada com essa e com a implantação de uma consciência ambiental que gere ações

geoconservacionistas por parte de seus praticantes” (MEIRA et al, 2010, p. 212).

6.1.2 Folheto interpretativo/turístico dos Geossítios da Ponta de Jericoacoara

Antes de esboçar o folheto interpretativo/turístico dos geossítios presentes na

Ponta de Jericoacoara (Apêndice H) torna-se necessário apresentar os objetivos, a justificativa

e o plano interpretativo para a área (Quadro 7). O objetivo maior do folheto

interpretativo/turístico é informar ao visitante a existência e a importância do patrimônio

geológico da Ponta de Jericoacoara e como esses locais remontam a história evolutiva da

região no intuito de fortalecer ações de conservação e a consciência ambiental.

A escolha dos geossítios presentes na Ponta de Jericoacoara foi pautada nos

resultados obtidos na avaliação quantitativa realizada anteriormente (Capítulo 5), onde esses

locais receberam os maiores valores de relevância. A proximidade entre os locais e a

possibilidade da realização de uma trilha a pé interligando os pontos foi outro elemento

favorável na escolha do local para a realização dessa estratégia e valorização (Figura 23). A

trilha apresenta aproximadamente 4,2 km de extensão total.

O folheto interpretativo foi uma técnica escolhida já que se configura como um

“instrumento interpretativo para visitantes que não tem tempo ou não optarem pela compra de

outros meios (como o guia de bolso, por exemplo), e que mesmo assim desejam levar

informações sobre a UC” (MOREIRA, 2012, p. 93), por ser uma estratégia de baixo custo

monetário, fácil aplicação, por servir como material de divulgação da UC, conter mais

informações do que painéis interpretativos (MOREIRA, 2012), baixo risco de vandalismo,

não interferir com o valor estético dos geossítios (VASQUEZ, 2010), por ser transportado

pelo visitante e ajuda-los na organização da visita (PACHECO e BRILHA, 2014).

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Quadro 7 – Plano interpretativo dos Geossítios da Ponta de Jericoacoara E

tap

a

Pon

to

Inte

rp

reta

tivo

Duna do Pôr do

Sol

Praia da

Malhada

Cavernas

Pedra Furada Pedra do Frade

O que

interpretar?

(Escolha do

tema principal)

Principais

agentes e

processos na

formação da

duna.

O contato entre

diferentes

formações

geológicas

Processo de

erosivo

ocasionado por

variações do

nível do mar.

Processo erosivo

devido ação

marinha.

Prolongamento

da anterior.

Características

intrínsecas da

rocha (falhas,

fraturas,

inclinação, etc.)

Por que?

(Objetivos)

1 – O que se

pretende que

eles conheçam?

Que o vento é

um dos

principais agente

na formação do

campo de dunas.

Processos atuais.

Que os dois

principais tipos

de rocha

apresentam

idades e

processos de

formação

diferenciados.

Que o mar já

teve diferentes

níveis durante o

pleistoceno e

que isso

influenciou no

processo

erosivo.

Que a ação

marinha é o

principal agente

erosivo sobre as

rochas.

Complementar a

discussão sobre

os diferentes

níveis do mar.

Que as rochas

metamórficas da

Formação São

Joaquim

apresentam

falhas e fraturas

o que permite

maior processo

erosivo.

2 – O que se

pretende que

eles sintam?

- Curiosidade em relação aos aspectos abióticos do Parque Nacional de Jericoacoara, suas

características e processos de evolução. - Concebam que as rochas e o relevo são elementos

importantes no contexto ambiental e que, apesar de parecer o contrário, são multáveis e

necessitam de proteção.- Vontade de conservar os elementos da geodiversidade.

Quem?

(Público alvo)

- O público alvo é caracterizado pelo turista tradicional que visita o Parque Nacional de

Jericoacoara. A maioria em busca de Turismo de Sol e Praia de forma que as informações devem

ser passadas de forma didática e interessante, já que o turismo didático/científico não é o intuito

inicial do passeio. Devido a características da trilha (com trechos com certa dificuldade para

crianças) o texto será voltado para o público adolescente e adulto (a partir dos 13 anos).

Fonte: Elaborado pelo autor. Adaptado de Bento (2014, p. 124) para a área de pesquisa.

Para o layout do folheto foi utilizado o programa Adobe Illustrator CS6. As fotos

utilizadas foram tratadas no programa Lightroon 5.6. O texto presente no folheto foi corrigido

e supervisionado por uma profissional da área de Publicidade e Propaganda, sendo de suma

importância, já que com os apontamentos resultaram em um texto mais dinâmico e atrativo ao

grande público. Para o folheto interpretativo cumprir o seu papel informativo é necessário que

o mesmo seja claro e conciso mediante o fato do turista não ter como tirar dúvidas que venha

a surgir durante sua utilização. A ajuda desse profissional externo permitiu essa clareza e

reafirmou o caráter interdisciplinar da temática do Patrimônio Geológico e Geoconservação.

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Figura 23 – Localização e distância entre os geossítios da Ponta de Jericoacoara

Fonte: Elaborado pelo autor.

O percurso proposto tem como ponto de partida o geossítio Duna do Pôr do Sol.

No único geossítio de caráter eólico elencado para o roteiro da Ponta de Jericoacoara foi

abordado o vento como principal agente de formação, o fato de a duna ser do tipo barcana e o

caráter dinâmico e frágil de ambientes eólicos, o que faz necessário alçar medidas de

conservação, já que a ação antrópica já tem influenciado na sua dinâmica (Quadro 8).

Quadro 8 – Caracterização do Geossítio Duna do Pôr do Sol no Folheto

Duna do Pôr do Sol

Devido o seu formato de lua crescente e declive suave para o lado do vento é definida cientificamente como uma DUNA BARCANA. Ponto de orientação para os pescadores, é destino consagrado dos finais de tarde dos

moradores e visitantes. Assim como as demais dunas de Jericoacoara, apresenta migração de leste para oeste, já

que é esse o sentido predominante dos VENTOS, seu principal agente de formação. As dunas são um ambiente

dinâmico e frágil. Estudos mostram que a Duna do Pôr do Sol tem diminuído de tamanho e volume de forma

acelerada nas últimas décadas, devido influências de cunho natural, por estar em contato com o mar, e de cunho

antrópico, já que o homem tem modificado o ambiente ao seu redor. É preciso adotar medidas de conservação,

que preservem esse local tão especial.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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110

O segundo geossítio do folheto interpretativo/turístico é a Praia da Malhada o qual

fica a aproximadamente 1.470 metros da Duna do Pôr do Sol, o roteiro propõe uma

caminhada pela zona de costa, passando assim pela principal praia da Vila de Jericoacoara. O

geossítio Praia da Malhada é de caráter área e se estende desde a curva do promontório da

Ponta de Jericoacoara até o início da escarpa rochosa do Serrote, aproximadamente 600

metros de extensão, porém os elementos abordados no folheto são mais bem visualizados no

ponto médio da praia. Como citado no capítulo 4 e 5 o geossítio Praia da Malhada é o que

apresenta a maior diversidade de elementos da geodiversidade passiveis de abordagem, porém

foram selecionados dois principais: 1- O contato das diferentes litologias, dando ênfase a

diferença de idade das mesmas. Sendo o turista incentivado no texto a distinguir as rochas

(Quadro 9). 2- As feições erosivas oriundas do trabalho das ondas (marmitas).

Quadro 9 – Caracterização do Geossítio Praia da Malhada no Folheto

Praia da Malhada

Entre os inúmeros atrativos, está o encontro das rochas quartzíticas da Formação São Joaquim (750 milhões de

anos), com arenitos de praia, rochas com geração recente (milhares de anos). Você pode distinguir essas

rochas, sabe como? O QUARTZITO é uma rocha lisa de cor amarelada/avermelhada, enquanto os

ARENITOS DE PRAIA são rugosos, de cor acinzentada, composta pela acumulação de pequenas outras

rochas e conchas, e por serem mais novos sobrepõem o quartzito. Na Praia da Malhada ainda é possível

CONTEMPLAR feições erosivas conhecidas como “marmitas”, oriundas do trabalho continuo das ondas nas

rochas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O geossítio Cavernas é a terceira parada proposta. As cavernas estão distribuídas

em três pontos da escarpa rochosa nordeste do Serrote. É possível chegar nelas pela zona de

praias durante o período da maré baixa e o caminho é de aproximadamente 2.060 metros do

inicio da trilha. A caverna elencada no mapa (Figura 13 – Capítulo 4) é a primeira que

aparece durante a trilha. Dos geossítios esse é o que apresenta o conteúdo mais complexo e de

difícil compreensão, mas tentou-se tratar de assuntos como a deformação de rochas

metamórfica por processos de tectonismo, fraturas e falhas, erosão marinha e variações do

nível do mar da forma mais simples possível e alçando de comparações (Quadro 10). Foi dada

atenção especial a idade do processo de formação no intuito enfatizar a relevância da feição

(Quadro 10) .

A Pedra Furada é o quarto geossítio abordado no folheto interpretativo/turístico.

Diferente das trilhas convencionais propostas pelas agências de turismo a chegada a Pedra

Furada não é realizada pelo Serrote, mas sim pela zona de praia, estando 3.490 metros do

ponto de partida (Figura 23). O caminho proposto entre o geossítio Praia da Malhada e o

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geossítio Pedra Furada, passando pelo geossítio Cavernas, só pode ser realizado durante a

maré baixa e é repleto de pilares marinhos, piscinas naturais e grande beleza cênica.

Quadro 10 – Caracterização do Geossítio Cavernas no Folheto

Cavernas

As rochas da Formação São Joaquim são muito antigas e passaram por diversas fases de compressão, gerando

zonas de FRATURAS e FALHAS. Sim! Apesar de rígidas as rochas podem ser comprimidas e isso ocorre

devido a uma enorme pressão oriunda de processos tectônicos e/ou de muito peso sobre elas. Essas zonas são

como cicatrizes e constituem áreas de maior fragilidade diante os processos erosivos. Nelas, foram geradas

através da ação das ondas e do clima, pequenas CAVERNAS no paredão rochoso. Atualmente as cavernas

encontram-se acima do nível do mar, já no passado as ondas quebravam sobre o paredão rochoso ocasionando

a sua EROSÃO. Estudos apontam que a formação das cavernas deu-se durante um período geológico conhecido como Pleistoceno, a mais de 120 mil anos atrás!

Fonte: Elaborado pelo autor.

No geossítio da Pedra Furada foi abordado sobre a ação marinha (em especial das

ondas) como principal agente erosivo na instituição do arco marinho (Quadro 11). São

tratados temas semelhantes ao do geossítio Cavernas o que vem fortalecer o aprendizado

sobre processos erosivos. A idade da feição também foi salientada no intuito de criar uma

consciência ambiental e respeito diante um elemento que transcende mais de uma centena de

milhares de anos (Quadro 11).

Quadro 11 – Caracterização do Geossítio Pedra Furada no Folheto

Pedra Furada

ARCO MARINHO, é como é denominado cientificamente o principal cartão postal de Jericoacoara. Por quê?

Simples, por mostrar uma abertura em um paredão rochoso erodido por processos marinhos, principalmente

pela ação das ondas. O ditado popular “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” faz todo o sentido

quando se conhece a história desse lugar. As rochas que compõem a Pedra Furada são também quartzitos da

Formação São Joaquim. Segundo estudos, para sua constituição, foi preciso passar por 110 mil anos de

variação do nível do mar, onde o trabalho das ondas esculpiram a rocha. Deve-se ter todo o respeito com a Pedra Furada. Afinal, se protegemos árvores centenárias, por reconhecer sua importância, como tratar um

monumento que demorou mil vezes essa idade para se formar?

Fonte: Elaborado pelo autor.

O ultimo ponto do percurso é compreendido pelo geossítio Pedra do Frade, o qual

está localizado a aproximadamente 720 metros da Pedra Furada. É abordado o fato de a feição

ser o maior exemplar de pilar marinho da Ponta de Jericoacoara, sendo assim um testemunho

do processo erosivo (Quadro 12). O fato das fraturas e falhas presentes nas rochas da

Formação São Joaquim também é salientado no texto, o autor remeteu a temática ao texto

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anteriormente discutido e o uso de comparações com elementos do cotidiano também foi

utilizado para uma melhor abordagem (Quadro 12).

Quadro 12 – Caracterização do Geossítio Pedra do Frade no Folheto

Pedra do Frade

O mais belo e grandioso PILAR MARINHO de Jericoacoara. Composto de porções mais resistentes de rocha

que permanecem como TESTEMUNHO do antigo relevo do local, mesmo após a ação erosiva das ondas. Na

Pedra do Frade, a rocha se mostra “fatiada” e “riscada”, essas linhas são as fraturas que orientam a erosão.

Segundo a lenda a origem do nome, se deu devido a semelhança do pilar marinho, visto de um determinado

ângulo, com um frade ajoelhado orando. Conseguiu ver o frade?

Fonte: Elaborado pelo autor.

O folheto foi confeccionado para o tamanho de folha A4 (210mm por 297mm),

sendo dobrado em três, o que gerou seis partes dispostas como exposto no Figura 24. A frente

apresenta o título do folheto “Esse Folder é para você que não quer apenas VISITAR, mas

CONHECER JERICOACOARA”, a frase foi composta no intuito de gerar impacto e palavras

chaves aparecem em maiúsculo para reafirmar o objetivo do folheto que é auxiliar o turista a

conhecer verdadeiramente o PNJ (Apêndice H – Folheto Turístico).

Figura 24 – Dimensões e organização do Folheto Turístico/Interpretativo

Fonte: Elaborado pelo autor.

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A página interna apresenta um pequeno texto explicativo sobre os aspectos da

geodiversidade do PNJ, sendo nesse momento que são apresentados os conceitos de

Geodiversidade, Geossítio e Patrimônio Geológico (Quadro 13). A abordagem dos conceitos

foi realizada de forma simples e acompanhada de sua explicação no fim da página. Nesse

momento que também é exposto o objetivo do folheto turístico (um trilha por alguns dos

geossítios presentes no PNJ) (Apêndice H).

A parte interna do folheto é composta pela trilha proposta e os textos

interpretativos de cada geossítio (descritos nos Quadros 8, 9, 10, 11 e 12). É utilizado um

mapa turístico sem informação de coordenadas geográficas e escala gráfica, mas com a

legenda dos elementos ilustrativos utilizados para delinear a trilha (Apêndice H). O fundo do

folheto conta com texto, informação relativa a distância total da trilha, sendo separado um

espaço para logotipos dos institutos realizadores e nome de patrocinadores, no intuito de que o

folheto sirva com modelo para aplicação e circulação futura. É possível visualizar o layout

final do folheto turístico/interpretativo no Apêndice H.

Quadro 13 – Texto explicativo do Folheto Turístico/Interpretativo

Página Interna

O Parque Nacional de Jericoacoara é um mosaico natural de rara beleza. Serrote, campos de dunas, praias,

pilares e arcos marinhos. Uma GEODIVERSIDADE* rica e diversa constitui os principais destinos

paisagísticos do Parque. Muitos desses locais são de valor excepcional no âmbito cultural e/ou cientifico,

sendo denominados de GEOSSÍTIOS**, e o seu conjunto compõe o PATRIMÔNIO GEOLÓGICO*** de

Jericoacoara. Devido a sua importância, torna-se necessário proteger e aprofundar o conhecimento sobre esses

elementos da natureza que nos explicam importantes períodos da história evolutiva da Terra.

Agora que você já conhece os conceitos, que tal uma trilha por alguns geossítios do Parque Nacional de

Jericoacoara?

Conheça verdadeiramente JERICOACOARA e a sua história de 750 milhões de anos. Desfrute das belezas e

do conhecimento que esse paraíso natural te proporciona.

*Geodiversidade: Conjunto de elementos abióticos da paisagem.

** Geossítios: Um ou mais elementos da geodiversidade, bem delimitado geograficamente e que apresente

valor singular do ponto de vista científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro.

**Patrimônio Geológico: Conjunto de geossítios de um determinado local.

Fonte: Elaborado pelo autor.

6.1.3 Painel interpretativo do Geossítio Pedra Furada

Os painéis interpretativos configuram-se como uma das principais estratégias de

interpretação ambiental empregada nas unidades de conservação nacional. As vantagens do

uso de painéis interpretativos parte do fato de poder ser usado por muitos visitantes ao mesmo

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momento, baixa manutenção, serem fácil de usar, por combinar o uso de imagem com o de

texto, ajudar os visitantes a se localizaram, o fato de dispensar supervisão (uso de guias), entre

outros (VASQUEZ, 2010; PACHECO e BRILHA, 2014). Porém essa prática também

apresenta desvantagens como a exposição a atos de vandalismo, o fato de poder causar

impacto visual negativo e degradação do ambiente ao seu entorno caso colocado em local não

apropriado (VASQUEZ, 2010; PACHECO e BRILHA, 2014).

Algumas estratégias de valorização do patrimônio geológico por meio do uso de

painéis interpretativos já são realidade no Brasil, sendo que dois adquirem maior destaque. O

primeiro é o Projeto Sítios Geológicos e Paleontológicos do Paraná o qual foi desenvolvido

pelo Serviço Geológico do Paraná (Mineropar) em conjunto com a Universidade Estadual do

Paraná, Universidade Federal do Paraná e outras entidades parceiras, contando no ano de

2006 com 26 painéis espalhados por locais de interesse geológico do estado (MOREIRA,

2012). O outro é o Projeto Caminhos Geológicos do Rio de Janeiro, desenvolvido pelo órgão

de mineração estadual, o qual teve início no ano de 2001 e resultou na inventariação de mais

de 300 geossítios que remontam a história evolutiva do território fluminense (MORAES et al,

2012) e na implantação de 93 painéis até setembro de 2010 (MANSUR, 2010).

A escolha do geossítio Pedra Furada para a instituição do painel interpretativo

(Apêndice I) foi devido esse ser o geossítio com maior valor de relevância (16,06), apresentar

diversidade de temas passíveis de abordagem, o bom estado de conservação e baixa

vulnerabilidade diante ação antrópica, boa visibilidade das feições, ser um dos principais

cartões postais do PNJ e um local bastante visitado por turistas.

O painel interpretativo teve como objetivo principal falar sobre a gênese da Pedra

Furada (Quadro 14) e como objetivo secundário abordar os elementos que compõem a feição

e área do entorno (Quadro 15), isso por meio da descrição de feições (pilar marinho, fraturas,

abertura do arco marinho, toco marinho) tendo como auxílio a fotografia que integra a parte

central do painel (Apêndice I).

O painel proposto é retangular com 80cm de largura por 120cm de comprimento.

A disposição do mesmo é em mesa, já que se entende essa a maneira mais didática e interativa

para a área, além de proporcionar menos interferência na paisagem. A localização sugerida é

nas proximidades de onde atualmente se encontra a placa do PNJ, já que é uma zona entre a

praia e a escarpa rochosa, longe da ação direta do mar, além de ser o local que marca o final

da trilha mais comumente utilizada para chegar a Pedra Furada.

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Quadro 14 – Texto descritivo da Pedra Furada presente no Painel interpretativo

Descrição da Pedra Furada

A Pedra Furada é um relevo residual, ou seja, é um bloco rochoso remanescente na paisagem. No passado a

Pedra Furada era uma parte integrante do morro que fica atrás de você, porém a ação erosiva das ondas e das

marés combinada com a chuva e o vento foi desgastando e esculpindo a paisagem, fazendo com que o morro

recuasse. A rocha que compõe a Pedra Furada é mais resistente a ação erosiva, por isso permanece como um

testemunho de que no passado todo essa área, que hoje é praia, estava coberto por rochas. Estudos estimam

que o processo de formação da Pedra Furada teve início a mais de 120 mil anos atrás! Isso quer dizer que ela é

esculpida desde o período geológico conhecido como Pleistoceno, o qual é marcado por ciclos de variação do

nível do mar. Sim! É difícil conceber, mas a linha de costa nem sempre foi como nos dias atuais. Houve

épocas que as praias estavam localizadas a centenas de metros para dentro do mar atual, já em outros períodos

o local onde fica esse painel estaria debaixo d’água e foi num momento como esse que se iniciou a formação

do mais belo cartão postal de Jericoacoara. Acredite, o mar estava a seis metros acima do nível atual! As idas

e vinda do nível do mar ocorreram ao menos quatro vezes nesses últimos 120 mil anos, sendo um dos principais fatores para esculpir a Pedra Furada.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A base proposta para o painel pode ser confeccionada com dois materiais

distintos, com rochas da região (podendo ser utilizados blocos rochosos soltos da área ou

rochas extraídas fora do limite do parque) o que apresentaria uma boa resistência a agentes

intempéricos, ou por madeira, que apesar de mais frágil também apresenta uma boa

resistência e constitui um material com preço acessível. Enquanto ao painel propõe-se a

utilização de acrílico ou policarbonato. Esses materiais que são resistentes as altas

temperaturas e a impacto viriam a envolver a impressão do painel tornando-o mais durável.

Salienta-se que essas indicações, bem como o layout do painel, foram realizadas com base em

diferentes guias de elaboração de painel interpretativo disponíveis em meio digital8.

O título do painel é “Água mole em pedra dura tanto bate até que... faz nascer a

Pedra Furada!”, fazendo uma alusão ao ditado popular “Água mole em pedra dura tanto bate

até que fura”, sendo a intenção do título atrair a atenção dos visitantes. A tipografia usada foi

a Lithos Pro, em 72pt, seguindo determinações dos manuais consultados. O subtítulo do

painel é “Entenda como se formou e o que compõem o mais belo cartão postal de

Jericoacoara” e tem como objetivo informar ao visitante o que ele vai aprender com a leitura

do painel. A tipografia utilizada também foi a Lithos Pro, porém em tamanho 55pt.

8 “Producing Interpretive Panels” disponível em:

http://www.pathsforall.org.uk/component/option,com_docman/Itemid,69/gid,150/tasl,doc_download, acesso em

novembro de 2015.

“Outdoor interpretative signage: Your guide to connecting people and places” disponível em:

http://tourismns.ca/sites/default/files/page_documents/interpretive_guide_0.pdf, acesso em novembro de 2015.

“Wayside Exhibits: A guide to developing outdoor interpretive exhibits” disponível em:

http://www.nps.gov/hfc/pdf/waysides/Wayside-Guide-First-Edition.pdf, acesso em novembro de 2015.

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116

Quadro 15 – Texto do Painel interpretativo referente aos elementos presentes no

Geossítio

Elementos presentes na área da Pedra Furada

Pilar Marinho: Feição conhecida como PILAR MARINHO. São porções de rocha mais resistentes que não

foram erodidas pela ação das ondas e das marés. Recebe esse nome por serem pontos elevados numa área plana,

sendo assim “pilares” naturais.

Fraturas: A rocha quartzítica que forma a Pedra Furada é muito antiga. Mais de 750 milhões de anos! Durante

esse tempo ela foi comprimida diversas vezes por ações tectônicas, isso gerou FRATURAS. Essas fraturas são

cicatrizes presentes na rocha, é como se a rocha estivesse “trincada”.

Abertura do Arco Marinho: A Pedra Furada é uma abertura em uma encosta rochosa erodida por ações das

ondas e das marés, o nome dado pela ciência é ARCO MARINHO. O desgaste da rocha ocorre de forma

diferencial. O arco foi esculpido em um local que apresenta maior fragilidade diante os processos erosivos.

Toco Marinho: Feição conhecida como TOCO MARINHO. É o estágio seguinte de um pilar marinho, ou seja,

após um período maior de exposição a ação erosiva ocorre a perda de volume o que resulta em pequenos blocos

rochosos dispersos na paisagem.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O texto explicativo sobre a origem da Pedra Furada se encontra na parte interior

do painel e pode ser visualizado no Quadro 14. Foi utilizada a tipografia Myriad Pro, 45pt. O

texto que aborda as feições presentes no geossítio (Quadro 15) encontrasse na parte superior

do painel em caixas com cores diferenciadas, linhas indicam na foto presente qual feição está

sendo descrita (Figura 25), a tipografia utilizada foi a Myriad Pro, 40pt. É esperado que o

visitante consiga identificar na paisagem a feição abordada na fotografia, principalmente pelo

fato da mesma apresentar o mesmo ângulo da localização proposta para o painel.

6.1.4 Cartões Postais dos Locais de Interesse Geológico do PNJ

Quando se digita no Google Imagens, principal mecanismo de busca de imagens

da internet, o termo “Cartão Postal de Jericoacoara” das vinte primeiras referências (excluindo

aquelas que, sabidamente pelo autor, não pertencem a área) 17 remetem a Pedra Furada, duas

a dunas (sendo uma a Duna do Pôr do Sol) e uma a Árvore da Preguiça, ponto turístico

localizado na praia oeste do parque. Essa simples experiência, que num primeiro momento

parece tola, esconde uma verdade absoluta sobre o Parque Nacional de Jericoacoara. E essa

verdade é: Os principais atrativos turísticos do PNJ são de caráter geológico-geomorfológico.

Fotos da Pedra Furada, do campo de dunas, de lagoas interdunares, pilares

marinhos, entre outros elementos da geodiversidade do parque percorrem o mundo por meio

de cartões postais e levam consigo apenas a imagem. Um postal estático, capaz de despertar

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em quem recebe a vontade de visitar o local devido o apelo cênico, mas incapaz de traduzir o

que aquela feição realmente é, o que ela representa, como se formou, entre outros aspectos.

Figura 25 – Painel Interpretativo do Geossítio Pedra Furada

Fonte: Elaborado pelo autor.

Diante disso pretende-se nesse momento propor nove cartões postais referentes a

geodiversidade do Parque Nacional de Jericoacoara. Optou-se por abordar a geodiversidade

no contexto mais amplo já que há elementos que não adquirem status de patrimônio

geológico, mas são de grande apelo cênico e relevância para o entendimento da configuração

física do PNJ. Dos geossítios elencados quatro foram agraciados por essa estratégia de

divulgação, sendo eles, Duna do Pôr do Sol, Pedra Furada, Pedra do Frade e Duna do Funil. O

uso de cartões postais como estratégia de interpretação e valorização é muito válida já que

essa apresenta baixo custo e é elemento comum e difundido em locais turísticos, Moreira

(2012, p. 93 e 94) salienta que

Os cartões postais geralmente são lembranças populares e que agradam os visitantes.

Muitas vezes utilizam fotos de paisagens dominadas por elementos significativos do

Patrimônio Geológico, e não incluem nem mesmo uma frase sobre a paisagem,

somente o nome do atrativo. Neste caso os elementos de geodiversidade também

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podem ser mais aproveitados, pois no verso dos cartões podem ser inseridas frases

sobre tais aspectos. Parcerias com empresas, organizações e instituições de ensino

são recomendadas para viabilizar o oferecimento gratuito dos cartões, em troca da

colocação de logomarcas no verso. E a comunidade pode ser estimulada a participar

através de um concurso de fotos para escolher as imagens a integrarem determinada

tiragem.

As fotografias utilizadas nos cartões postais foram tratadas no software Ligntroon

5.6. Foram corrigidos parâmetros relativos às cores e intensidade de luz no intuito de tornar as

imagens mais agradáveis e salientar os elementos da geodiversidade abordado. Os layouts dos

cartões postais foram realizados no programa Adobe Ilustrator CS6.

Todos os cartões postais propostos seguem a mesma identidade visual com

tipografia simples e moderna (Figura 26), buscou utilizar na capa um título único (“Parque

Nacional de Jericoacoara”) para os postais no intuito desses comporem uma série padronizada

sobre a geodiversidade do parque e não cartões isolados. Para o título do cartão e frase de

impacto localizada no verso (“Para ver e conhecer a Geodiversidade de Jericoacoara”) foi

utilizada a tipografia Eras Light ITC (22pt e 12pt, respectivamente), já para o texto

interpretativo foi utilizada a tipografia Centaur (12pt para o título, 10pt para a localização, 9pt

para o corpo do texto e 8pt para o autor da foto).

O tamanho proposto para os cartões postais é 10x15cm (10 centímetros de altura

por 15 de comprimento). O texto interpretativo, localizado no verso do cartão postal é curto,

já que o mesmo tem o principal objetivo ser um meio de instigar o leitor, e se encontra

localizado no canto esquerdo logo abaixo do nome do local/feição (Figura 26). No lado

direito, como nos postais clássicos, o espaço é reservado para o selo, escrita com linhas e

código postal. A parte central é um vazio destinado a escrita livre.

Os nove cartões postais confeccionados são descritos a seguir:

- Cartão Postal “Campo de Dunas e Serrote”: O campo de dunas de Jericoacoara é

composto por dunas fixas e dunas móveis de migração leste-oeste, seguindo a direção

preferencial dos ventos. O Serrote é um relevo residual, com altitude máxima de 98 metros,

composto por ROCHAS METAMÓRFICAS (principalmente quartzito) da Formação São

Joaquim. O Serrote atua como uma barreira natural a formação de dunas onde hoje está

instalada a Vila de Jericoacoara. Esse é um exemplo clássico de como as atividades humanas

são influenciadas pelos elementos da geodiversidade (Cartão Postal disponível nos apêndices

como “Apêndice J”).

- Cartão Postal “Duna do Funil”: Conhecida como a maior duna do Parque

Nacional de Jericoacoara está localizada na zona de amortecimento da unidade de

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conservação. É uma duna de grande porte e durante o período chuvoso instala-se na sua base

uma LAGOA INTERDUNAR fruto do aumento do nível do lençol freático e acumulo das

águas provenientes da chuva. Constitui um mirante para as praias da zona oeste do parque, a

planície fluviomarinha com manguezal e para a Lagoa da Torta (Cartão Postal disponível nos

apêndices como “Apêndice K”).

Figura 26 – Modelo de cartão postal proposto (Frente e Verso)

Fonte: Elaborado pelo autor.

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- Cartão Postal “Duna do Pôr do Sol”: É conhecida cientificamente como uma

DUNA BARCANA (forma de lua crescente e declive suave para o lado do vento). Assim

como as demais dunas de Jericoacoara dispõe de migração de leste para oeste, já que é esse o

sentido predominante dos ventos, o qual se configura como o principal agente de formação.

As dunas são um ambiente frágil e dinâmico com alta vulnerabilidade ambiental o que torna

necessário a instituição de medidas de proteção para a manutenção do aporte de sedimentos

(Esse Cartão Postal apresenta duas versões de fotografias estando disponíveis nos apêndice

como “Apêndice L” e “Apêndice M”).

- Cartão Postal “Escarpa Rochosa”: O grande maciço residual conhecido como

Serrote é composto por rochas metamórficas da Formação São Joaquim (principalmente

quartzito). Essas rochas chegam a linha de costa na porção nordeste do Parque Nacional de

Jericoacoara o que origina praias com escarpas (paredões) rochosos e blocos isolados. A

escarpa rochosa foi formada pela força erosiva do mar e do clima durante milhares de anos

(Cartão Postal disponível nos apêndices como “Apêndice N”).

- Cartão Postal “Pedra do Frade”: A Pedra do Frade é formada por uma porção

mais resistente das rochas metamórficas quartzíticas que permanece como testemunho após a

ação erosiva das ondas. Esse tipo de feição natural e denominada como PILAR MARINHO,

sendo, a Pedra do Frade, o maior exemplar presente no parque. O local recebe esse nome já

que de um determinado ângulo se assemelha a um frade ajoelhado em momento de oração

(Cartão Postal disponível nos apêndices como “Apêndice O”).

- Cartão Postal “Pedra Furada”: Constitui um monumento natural denominado

ARCO MARINHO. É formada pela erosão das ondas que acontece de forma diferencial, já

que a rocha metamórfica – quartzito – da Formação São Joaquim, que constitui o paredão

rochoso, apresenta pontos de fraturas e falhas mais susceptíveis ao processo erosivo. A Pedra

Furada é esculpida a mais de 120 mil anos durante fases de avanço e regressão do nível do

mar, em meio a um período geológico conhecido como Pleistoceno. Com essa idade é certo

dizer que todo respeito é pouco diante da Pedra Furada (Cartão Postal disponível nos

apêndices como “Apêndice P”).

- Cartão Postal “Pilar Marinho”: Devido a presença de uma escarpa rochosa as

praias localizadas a nordeste do parque não dispõem de extensas faixas de areia, mas sim de

grande número de blocos de rocha. O vai e vem das ondas constitui um importante agente

erosivo. Porções mais resistentes de rocha permanecem como testemunho mesmo após a ação

erosiva. Esses grandes blocos rochosos são denominados de PILARES MARINHOS, muitos

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remetem a formas do nosso cotidiano, como acontece com a Pedra do Frade (Cartão Postal

disponível nos apêndices como “Apêndice Q”).

- Cartão Postal “Praia Rochosa”: O grande maciço residual conhecido como

Serrote é composto por rochas metamórficas da Formação São Joaquim, principalmente

quartzito. Essas rochas chegam a costa na porção nordeste do Parque o que origina praias

rochosas com presença de paredões e blocos isolados. Os paredões rochosos foram formados

pela força erosiva do mar e do clima durante milhares de anos. A natureza gera formas

curiosas como o bloco rochoso da foto que parede ter sido colocado, mas é fruto de erosão

diferencial (Cartão Postal disponível nos apêndices como “Apêndice R”).

- Cartão Postal “Trilha da Pedra Furada”: O Serrote é um relevo residual com as

altitudes mais elevadas do Parque Nacional de Jericoacoara e funciona como uma barreira

natural na formação de dunas onde hoje está instalada a Vila de Jericoacoara e como suporte

para a maior parte das espécies da BIODIVERSIDADE local. Esse fato demonstra como os

elementos da geodiversidade são importantes para a disposição e manutenção da vida. (Cartão

Postal disponível nos apêndices como “Apêndice S”).

Com o emprego desses cartões postais pretende-se valorizar as belezas naturais do

Parque Nacional de Jericoacoara e acima de tudo gerar, mesmo que de forma primária, a

noção da relevância dos aspectos da geodiversidade presente. A frase utilizada no verso dos

cartões postais “Para ver e conhecer a Geodiversidade de Jericoacoara” reflete bem o intuito

dessa estratégia, é proposta a visualização do elemento acompanhado da sua explicação, a

foto acompanhada do conhecimento o que enriquece a experiência.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As temáticas de Geodiversidade, Patrimônio Geológico e Geoconservação se

estrutura como um campo de estudo promissor em meio as Ciências da Terra e na instituição

de medidas que promovam a preservação ambiental. A Geografia deve se aproximar dessa

temática por meio do incentivo no desenvolvimento de pesquisas em diferentes estágios (da

graduação a pós-graduação) já que o caráter de síntese da ciência geográfica é fundamental na

elaboração de projetos da área. Por ser uma ciência consolidada, com muitos cursos de

graduação e pós-graduação no Brasil e por constituir componente curricular da educação

básica ao ensino médio a Geografia pode ser usada como meio de promover os conceitos

dessas temáticas, já que, dentre as ciências que as abordam, a Geografia constitui-se como a

mais difundida.

Diante a importância que adquirem os estudos devem ser incentivados em todo o

país. A realização do inventário, avaliação e promoção do patrimônio geológico presente em

unidades de conservação, como o realizado no presente trabalho, constituem uma boa

estratégia de divulgação, já que um dos objetivos dessas áreas é propagar ações que gerem

consciência ambiental em seus visitantes.

O trabalho concretizado entra em concordância com trabalhos anteriormente

realizados como o de Arruda (2007), Julio (2012) e Julio et al (2013) reafirmando a riqueza

da geodiversidade presente no Parque Nacional de Jericoacoara. Ao promover a

inventariação, avaliação e promoção dos locais excepcionais da geodiversidade do PNJ o

trabalho adentra em uma nova abordagem não realizada anteriormente na área, oferecendo

respostas concretas e passiveis de utilização em ações de planejamento ambiental pelo órgão

gestor da Unidade de Conservação.

Os sete geossítios inventariados no Parque Nacional de Jericoacoara

compreendem diferentes categorias temática da geodiversidade (eólico, metamórfico,

sedimentar, costeiro, entre outros) e apresentam inegável valor cultural, estético, científico e

educacional. Todos os geossítios inventariados já são utilizados em menor ou maior grau por

práticas turísticas o que torna válido a apropriação dos locais por práticas de educação

ambiental.

O geossítio Duna do Pôr do Sol, caracterizado por uma duna barcana em zona de

bypass, apresentou relevância de caráter regional (10,27 pontos), estando 1,15 pontos abaixo

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da média. O baixo valor intrínseco da feição foi a principal causa do resultado. O geossítio

Praia da Malhada apresentou maior diversidade de elementos da geodiversidade (com feição

de caráter metamórfico, sedimentar, eólico, costeiro) e deteve grau de relevância nacional

(13,60) com resultados acima da média em todos os valores de uso.

O geossítio Cavernas, caracterizado por cavidades na escarpa rochosa do Serrote,

apresentou elevado valor científico (2,75) e intrínseco (2,75), porém devido a dificuldade de

acesso o valor turístico foi reduzido (1,40). A relevância do geossítio cavernas é de caráter

nacional, apresentando o terceiro maior valor na área (13,60). O geossítio Pedra Furada que é

um arco marinho e um dos principais pontos turístico do parque obteve o maior valor de

relevância (16,06), sendo dessa forma de caráter nacional. Assim como o geossítio Praia da

Malhada apresentou resultados acima da média em todos os critérios de valores de uso, os

altos valores intrínseco (3,50), científico (3,50) e de uso/gestão (3,29) foram os responsáveis.

O geossítio Pedra do Frade, um dos maiores pilares marinhos da Ponta de

Jericoacoara, apresentou relevância regional (10,09) os valores obtidos foram próximo as

médias do parâmetro, com exceção do baixo valor turístico (1,40). O geossítio Dunas

Petrificadas, caracterizado por um campo de eolianitos, apresentou relevância local (8,75),

juntamente como o geossítio Duna do Funil (8,71), conhecida como a maior duna da região,

os baixos valores obtidos no caráter intrínseco e científico influenciaram no panorama final

dos dois geossítios.

Por meio da descrição qualitativa e da avaliação quantitativa dos geossítios

inventariados foi possível traçar quais os locais prioritários na instituição de medidas de

valorização. Percebeu-se que os geossítios localizados na Ponta de Jericoacoara se destacaram

devido a variedade de elementos da geodiversidade passíveis de abordagem, a relevância

cultural-turística e a localização privilegiada nas proximidades da Vila de Jericoacoara.

As ações de valorização propostas partiram de um Folheto Turístico/Interpretativo

dos geossítios da Ponta de Jericoacoara, um painel interpretativo sobre o geossítio Pedra

Furada e a confecção de uma série de cartões postais sobre a geodiversidade do parque. As

medidas são passíveis de concretização pelo Órgão Gestor ou entidades atuantes no parque

devido apresentar linguagem simples e entendível por grande parcela do público visitante, ser

de medidas de baixo custo monetário e por configurar atividades autoguiadas que não

requerem tempo para treinamento e capacitação de pessoal.

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As medidas de valorização propostas reafirmaram a potencialidade científica,

educativa e turística do patrimônio geológico do Parque Nacional de Jericoacoara.

Demonstram que os locais elencados são registros importantes da história evolutiva da Terra e

merecem ser entendido e salvaguardado pela atual geração para que as futuras possam

também possam usufruir.

Espera-se que esse trabalho possa ajudar a difundir a temática da Geodiversidade,

Patrimônio Geológico e Geoconservação em meio a Geografia do Ceará, que se configura

como um estado com grandes potencialidades de estudo, e também em âmbito nacional.

Almeja-se também que esse trabalho auxilie o Órgão Gestor do Parque Nacional de

Jericoacoara em atividades de planejamento territorial e educação ambiental ao elencar os

espaços e os temas passíveis de abordagem, sendo, não um fim, mas um meio de promover a

difusão do conhecimento geológico e geomorfológico da área, bem como de incentivar

trabalhos futuros.

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BORN, M.; SALUM FILHO, W.; QUEIROZ, E.T. (Edts.) Sítios Geológicos e

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Entrevistas e Palestras

LICCARDO, A. A importância da Geografia no estudo da temática da Geodiversidade e

Patrimônio Geológico. Entrevista por email concedida a Suedio Alves Meira, Fortaleza –

CE, 17 de Julho de 2015.

MANOSSO, F. A importância da Geografia no estudo da temática da Geodiversidade e

Patrimônio Geológico. Entrevista por email concedida a Suedio Alves Meira, Fortaleza –

CE, 20 de julho de 2015.

MOREIRA, J. C. A importância da Geografia no estudo da temática da Geodiversidade e

Patrimônio Geológico. Entrevista por email concedida a Suedio Alves Meira, Fortaleza –

CE, 19 de julho de 2015.

NASCIMENTO, M. A. L.. Afinal, o que é Geodiversidade?. Palestra proferida no Programa

de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza – CE, em 07

de julho de 2015.

TRAVASSOS, L. E. P.. A importância da Geografia no estudo da temática da

Geodiversidade e Patrimônio Geológico. Entrevista por email concedida a Suedio Alves

Meira, Fortaleza – CE, 07 de agosto de 2015.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Ficha 1

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DOS POSSÍVEIS LOCAIS DE INTERESSE

GEOLÓGICO AUTOR: _Suedio Alves Meira_____________________________ Data: 19/03/2015

LOCAL: __Duna do Pôr do Sol________________________________ Referência: 01___

Tipo de Local: ( X ) Isolado ( ) Área ( ) Panorâmico

Categoria Temática: ( ) Tectônico ( X ) Eólico ( ) Metamórfico

( ) Sedimentar ( ) Cárstico ( ) Outro: _____________________

Localização: Lat. __02º48’03.5”S________________ Long. ____40º31’14,2”W

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

A. Valores

Científico: ( ) Baixo ( X ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Ecológico: ( ) Nulo ( X ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Cultural: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( X ) Muito Alto

Estético: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( X ) Muito Alto

B. Potencialidade de Uso

Acessibilidade: ( ) Muito Difícil ( ) Difícil ( ) Moderada ( ) Fácil ( X ) Muito Fácil

Visibilidade: ( ) Muito Fraca ( ) Fraca ( ) Moderada ( ) Boa ( X ) Muito Boa

Uso Atual: ( ) Sem Uso ( X ) Com uso Qual: Uso Turístico____________

C. Necessidade de Proteção

Deterioração: ( ) Fraca ( ) Moderada ( X ) Avançada

Proteção: ( ) Adequada ( X ) Moderada ( X ) Insuficiente

DESCRIÇÃO GEOLÓGICA

Descrição Sumária:

Duna localizada na margem ocidental da principal praia da Vila de Jericoacoara

Litologias:

Sedimentos Inconsolidados. Duna móvel.

Geomorfologia e Evolução Geológica (Processos):

Geomorfologia Dunar clássica. Porém com erosão através das marés, já que essa se encontra em

contato com a zona de praia. Processo de formação, evolução e renovação do campo dunar. O

interessante é que a duna em questão apresenta vestígios e estudos do seu decréscimo nas últimas

décadas, devido a fatores naturais, mas também a influência antrópica.

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

INTERESSE PATRIMÔNIAL (CULTURAL E NATURAL)

Tipos de Valor:

Valor científico por remeter ao principal elemento da geodiversidade dentro do PNJ e por

contar de forma didática processos eólicos. Valor turístico por ser um dos principais cartões

postais do PNJ e alvo de “migração” dos turistas nos fins de tarde. Valor Cultural por se

configurar como uma paisagem cultural para os habitantes da Vila.

Grau de Importância:

Valor turístico por ser considerado por muito o mais belo pôr do sol do PNJ.

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APÊNDICE B – Ficha 2

USO E GESTÃO

Acessibilidade:

Muito fácil já que a Duna fica localizada no fim da principal praia da Vila.

Visibilidade:

Muito boa. Configura-se como uma área de vista panorâmica. A feição pode ser bem

visualizada a partir da praia principal ou a pouca distância.

Estado de Conservação:

Duna em processo de “remissão”. Tem perdido volume, comprimento e altura nas últimas

décadas.

Vulnerabilidade:

Sedimentos Inconsolidados de caráter muito friável.

Povoações e Uso Atual:

População da Vila de Jericoacoara e seu uso como Zona Recreativa/turística.

Intervenção Necessária e/ou Possível:

Como os demais geossítios está dentro da Zona do PNJ, contanto com Plano de Manejo. No

local é visualizado placas referentes a proibição de tráfego de veículos.

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APÊNDICE B – Ficha 2

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DOS POSSÍVEIS LOCAIS DE INTERESSE

GEOLÓGICO AUTOR: _Suedio Alves Meira_____________________________ Data: 19/03/2015

LOCAL: Praia da Malhada________________________________ Referência: 02___

Tipo de Local: ( ) Isolado ( X ) Área ( ) Panorâmico

Categoria Temática: ( ) Tectônico ( ) Eólico ( X ) Metamórfico

( X ) Sedimentar ( ) Cárstico ( ) Outro: _____________________

Localização: Lat. __2°47'19,6" ________________ Long. ___40°20'45,2"

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

A. Valores

Científico: ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

Ecológico: ( ) Nulo ( ) Baixo ( X ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Cultural: ( ) Nulo ( X ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Estético: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

B. Potencialidade de Uso

Acessibilidade: ( ) Muito Difícil ( ) Difícil ( ) Moderada ( ) Fácil ( X ) Muito Fácil

Visibilidade: ( ) Muito Fraca ( ) Fraca ( ) Moderada ( ) Boa ( X ) Muito Boa

Uso Atual: ( ) Sem Uso ( X ) Com uso Qual: Uso Turístico, prática de esportes ______

C. Necessidade de Proteção

Deterioração: ( X ) Fraca ( ) Moderada ( ) Avançada

Proteção: ( X ) Adequada ( ) Moderada ( ) Insuficiente

DESCRIÇÃO GEOLÓGICA

Descrição Sumária:

Praia localizada no lado Oeste da Vila de Jericoacoara (Promontório).

Litologias:

Presença de diversas litologias. Beach Rocks, quartzitos da do Grupo Granja e a presença de blocos

referentes a transporte coluvial.

Geomorfologia e Evolução Geológica (Processos):

Geomorfologia costeira básica. Tendo como extremos dois pontais.

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

INTERESSE PATRIMÔNIAL (CULTURAL E NATURAL)

Tipos de Valor:

Valor científico pela diversidade de elementos geológicos e geomorfológicos. Por ser o

melhor local para visualizar as beach rocks e a o contato dessa com rochas da Formação São

Joaquim. Valor turístico devido a sua apropriação como área de recreação e de prática de

esporte como kitesurf e surf.

. Grau de Importância:

Melhor local para visualizar o contato entre as litologias e para práticas de alguns esportes

radicais.

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APÊNDICE C – Ficha 3

USO E GESTÃO

Acessibilidade:

Muito fácil já que a praia fica conectada a Vila de Jericoacoara.

Visibilidade:

Muito boa já que durante a maré baixa é possível visualizar na zona de estirâncio o contato entre as

beach rocks e as rochas metamórficas da Formação São Joaquim, sendo que durante a maré alta

algumas beach rocks ainda ficam expostas. As feições são de fáceis interpretações.

. Estado de Conservação:

As feições estão bem preservadas.

Vulnerabilidade:

Rochas sedimentares de natureza mais friável.

Povoações e Uso Atual:

População da Vila de Jericoacoara e seu uso como Zona Recreativa e de prática de esportes

náuticos/radicais, como citado anteriormente.

.

Intervenção Necessária e/ou Possível:

Como os demais geossítios está dentro da Zona do PNJ, contanto com Plano de Manejo. No

local é visualizado placas referentes ao zoneamento das práticas de esporte.

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APÊNDICE C – Ficha 3

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DOS POSSÍVEIS LOCAIS DE INTERESSE

GEOLÓGICO AUTOR: _Suedio Alves Meira_____________________________ Data: 19/03/2015

LOCAL: Cavernas______________________________________ Referência: 03___

Tipo de Local: ( X ) Isolado ( ) Área ( ) Panorâmico

Categoria Temática: ( ) Tectônico ( ) Eólico ( X ) Metamórfico

( ) Sedimentar ( X ) Cárstico ( ) Outro: _____________________

Localização: Lat. _ S 02º47’19,6”/ 02º47’16,0”___Long. _ W 40º20’45,1”/ 40º20’32,4”_____

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

A. Valores

Científico: ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

Ecológico: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

Cultural: ( X ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Estético: ( ) Nulo ( X ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

B. Potencialidade de Uso

Acessibilidade: ( ) Muito Difícil ( ) Difícil ( X ) Moderada ( ) Fácil ( ) Muito Fácil

Visibilidade: ( ) Muito Fraca ( ) Fraca ( ) Moderada ( ) Boa ( X ) Muito Boa

Uso Atual: ( ) Sem Uso ( X ) Com uso Qual: Uso Turístico, ______

C. Necessidade de Proteção

Deterioração: ( ) Fraca ( X ) Moderada ( ) Avançada

Proteção: ( X ) Adequada ( ) Moderada ( ) Insuficiente

DESCRIÇÃO GEOLÓGICA

Descrição Sumária:

Pequenas cavidades localizadas na escarpa do Serrote em meio a rochas metamórficas da Formação

São Joaquim. São diversas cavidades, sendo que duas de maiores dimensões foram georreferenciadas

e descritas

Litologias:

Rochas quartzíticas da Formação São Joaquim.

Geomorfologia e Evolução Geológica (Processos):

As cavernas representam zonas de maior processo erosivo. Devido a características

intrínsecas da rocha (fraturas e falhas) há maior potencial erosivo nessas áreas, ocasionando

essas feições que remetem a pequenas cavernas.

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

INTERESSE PATRIMÔNIAL (CULTURAL E NATURAL)

Tipos de Valor:

Valor científico por remeter aos processos erosivos marinhos e a diferentes níveis do mar. As

cavernas testemunham níveis de cota do mar mais elevados.

. Grau de Importância:

Cientificamente elevado por ser um dos principais registros na área.

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USO E GESTÃO

Acessibilidade:

Moderada. O acesso é feito pela praia da malhada durante a maré baixa. Esse caminho é uma

conhecida trilha que leva até a Pedra Furada, porém para chegar até a abertura das cavernas é

necessário subir em algumas rochas, o que gera dificuldades.

Visibilidade:

Boa. É possível visualizar o trabalho erosivo. Porém é limitado a um período do dia (maré

baixa)

Estado de Conservação:

Bom estado, porém apresenta algumas pichações em uma das cavernas. A vulnerabilidade

do local é de cunho natural.

Vulnerabilidade:

Vulnerabilidade de cunho natural. Feição caracterizada por processos erosivos

Povoações e Uso Atual:

População da Vila de Jericoacoara e seu uso atual é de caráter turístico, mas muito

insipiente, sendo visitado apenas por turistas mais “curiosos”.

.

Intervenção Necessária e/ou Possível:

Como os demais geossítios está dentro da Zona do PNJ, contanto com Plano de Manejo. No

local é visualizado placas referentes a proibição de tráfego de veículos.

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APÊNDICE D – Ficha 4

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DOS POSSÍVEIS LOCAIS DE INTERESSE

GEOLÓGICO AUTOR: _Suedio Alves Meira_____________________________ Data: 19/03/2015

LOCAL: Pedra Furada______________________________________ Referência: 04___

Tipo de Local: ( X ) Isolado ( ) Área ( ) Panorâmico

Categoria Temática: ( ) Tectônico ( ) Eólico ( X ) Metamórfico

( ) Sedimentar ( ) Cárstico ( ) Outro: _____________________

Localização: Lat. _ S 02º47’05,6”___ Long. _ W 40º20’03,5 _____

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

A. Valores

Científico: ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

Ecológico: ( ) Nulo ( X ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Cultural: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

Estético: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( X ) Muito Alto

B. Potencialidade de Uso

Acessibilidade: ( ) Muito Difícil ( ) Difícil ( X ) Moderada ( ) Fácil ( ) Muito Fácil

Visibilidade: ( ) Muito Fraca ( ) Fraca ( ) Moderada ( ) Boa ( X ) Muito Boa

Uso Atual: ( ) Sem Uso ( X ) Com uso Qual: Uso Turístico, ______

C. Necessidade de Proteção

Deterioração: ( X ) Fraca ( ) Moderada ( ) Avançada

Proteção: ( X ) Adequada ( ) Moderada ( ) Insuficiente

DESCRIÇÃO GEOLÓGICA

Descrição Sumária:

Arco marinho em rochas da Formação São Joaquim. Bastante fraturado apresenta blocos caídos ao

redor. De grande apelo cênico é um dos principais pontos de visitação turística do parque.

Litologias:

Rochas quartzíticas da Formação São Joaquim.

Geomorfologia e Evolução Geológica (Processos):

Arco marinho. Porção litológica mais resistente aos processos erosivos, permanecendo assim

na paisagem. Possível visualizar no local demais aspectos relativos a geomorfologia costeira

(zona de praia, estirâncio, etc.).

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

INTERESSE PATRIMÔNIAL (CULTURAL E NATURAL)

Tipos de Valor:

Valor científico por remeter aos processos erosivos marinhos e a diferentes níveis do mar.

Valor turístico já que é um dos principais cartões postais do PNJ.

Grau de Importância:

Cientificamente elevado por ser o único registro na área, remeter a mudanças no nível do

mar. Local de destino de diversas trilhas.

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147

USO E GESTÃO

Acessibilidade:

Moderada. O acesso é feito por diversas trilhas. Pela faixa de praia é o mais longo, com

aproximadamente 3 km de caminhada. O pelo Serrote são aproximadamente 2 km. Indo de

transporte (bugre ou charrete) a caminhada se reduz a 900 metros.

Visibilidade:

Boa. É possível visualizar o trabalho erosivo e demais características da formação rochosa

com facilidade.

Estado de Conservação:

Bom estado, apesar do alto índice de visitação não há degradações de cunho antrópico

aparente.

Vulnerabilidade:

Vulnerabilidade de cunho natural. Feição caracterizada por processos erosivos.

Povoações e Uso Atual:

Geossítio dotado de elevado apelo cênico, sendo visitado por centenas ou milhares de

turistas diariamente.

.

Intervenção Necessária e/ou Possível:

Como os demais geossítios está dentro da Zona do PNJ, contanto com Plano de Manejo. No

local é visualizado um placa falando sobre a proibição de subir na Pedra Furada.

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APÊNDICE E – Ficha 5

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DOS POSSÍVEIS LOCAIS DE INTERESSE

GEOLÓGICO AUTOR: _Suedio Alves Meira_____________________________ Data: 19/03/2015

LOCAL: Pedra do Frade______________________________________ Referência: 05___

Tipo de Local: ( X ) Isolado ( ) Área ( ) Panorâmico

Categoria Temática: ( ) Tectônico ( ) Eólico ( X ) Metamórfico

( ) Sedimentar ( ) Cárstico ( ) Outro: _____________________

Localização: Lat. _ S 02º47’09,8”___ Long. _ W 40º29’41,0” _____

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

A. Valores

Científico: ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

Ecológico: ( ) Nulo ( X ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Cultural: ( ) Nulo ( ) Baixo ( X ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Estético: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

B. Potencialidade de Uso

Acessibilidade: ( ) Muito Difícil ( ) Difícil ( X ) Moderada ( ) Fácil ( ) Muito Fácil

Visibilidade: ( ) Muito Fraca ( ) Fraca ( ) Moderada ( ) Boa ( X ) Muito Boa

Uso Atual: ( ) Sem Uso ( X ) Com uso Qual: Uso Turístico, ______

C. Necessidade de Proteção

Deterioração: ( X ) Fraca ( ) Moderada ( ) Avançada

Proteção: ( X ) Adequada ( ) Moderada ( ) Insuficiente

DESCRIÇÃO GEOLÓGICA

Descrição Sumária:

Pilar marinho em rochas da Formação São Joaquim. Bastante fraturado apresenta blocos

caídos ao redor. De grande apelo cênico, fica próximo a Pedra Furada.

Litologias:

Rochas quartzíticas da Formação São Joaquim.

Geomorfologia e Evolução Geológica (Processos):

Pilar marinho. Porção litológica mais resistente aos processos erosivos, permanecendo assim

na paisagem. Possível visualizar no local demais aspectos relativos a geomorfologia costeira

(zona de praia, estirâncio, etc.).

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

INTERESSE PATRIMÔNIAL (CULTURAL E NATURAL)

Tipos de Valor:

Valor científico por remeter aos processos erosivos marinhos, diferença de resistência das

rochas e a variações do nível do mar.

Grau de Importância:

Melhor exemplar de pilar marinho presente na área, devido a sua dimensão e isolamento.

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USO E GESTÃO

Acessibilidade:

Moderada. O acesso é feito por diversas trilhas. Pela faixa de praia é o mais longo, com

aproximadamente 3 km de caminhada. O pelo Serrote são aproximadamente 2 km. Indo de

transporte (bugre ou charrete) a caminhada se reduz a 900 metros.

Visibilidade:

Boa. É possível visualizar o trabalho erosivo e demais características da formação rochosa

com facilidade.

Estado de Conservação:

Bom estado.

Vulnerabilidade:

Vulnerabilidade de cunho natural. Feição caracterizada por processos erosivos.

Povoações e Uso Atual:

Geossítio dotado de apelo cênico, sendo visitado por turistas mais curiosos ou

acompanhados de guias locais.

.

Intervenção Necessária e/ou Possível:

Como os demais geossítios está dentro da Zona do PNJ, contanto com Plano de Manejo.

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APÊNDICE F – Ficha 6

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DOS POSSÍVEIS LOCAIS DE INTERESSE

GEOLÓGICO AUTOR: _Suedio Alves Meira_____________________________ Data: 20/03/2015

LOCAL: Dunas Petrificadas____________________________________ Referência: 06___

Tipo de Local: ( ) Isolado ( X ) Área ( ) Panorâmico

Categoria Temática: ( ) Tectônico ( X ) Eólico ( ) Metamórfico

( ) Sedimentar ( ) Cárstico ( ) Outro: _____________________

Localização: Lat. _ S 02º51’14,2”___ Long. _ W40º42’36,5” _____

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

A. Valores

Científico: ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

Ecológico: ( ) Nulo ( ) Baixo ( X ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Cultural: ( X ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Estético: ( ) Nulo ( X ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

B. Potencialidade de Uso

Acessibilidade: ( ) Muito Difícil ( X ) Difícil ( ) Moderada ( ) Fácil ( ) Muito Fácil

Visibilidade: ( ) Muito Fraca ( ) Fraca ( ) Moderada ( X ) Boa ( ) Muito Boa

Uso Atual: ( ) Sem Uso ( X ) Com uso Qual: Uso Turístico, ______

C. Necessidade de Proteção

Deterioração: ( ) Fraca ( X ) Moderada ( ) Avançada

Proteção: ( ) Adequada ( X ) Moderada ( ) Insuficiente

DESCRIÇÃO GEOLÓGICA

Descrição Sumária: Conjunto de depósitos eólicos cimentados por carbonato de cálcio conhecido localmente como dunas petrificadas

(eolianitos), localizadas próximo ao povoado de Tatajuba – Camocim, na área de amortecimento da PNJ. O

processo de calcificação, pelo visualizado, se encontra em curso.

Litologias:

Sedimentos Inconsolidados. Sedimentos consolidados por cimento carbonático.

Geomorfologia e Evolução Geológica (Processos):

Geomorfologia Dunar. Processo de evolução sedimentar. De sedimentos Inconsolidados para

uma “rocha de duna”.

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

INTERESSE PATRIMÔNIAL (CULTURAL E NATURAL)

Tipos de Valor:

Valor científico por remeter ao processo sedimentar (formação de rocha sedimentar) e

variação do nível do mar.

Grau de Importância:

Relevante por ser a única ocorrência na área de pesquisa, apesar de haver exemplares mais

didáticos em outras porções do litoral cearense.

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USO E GESTÃO

Acessibilidade:

Difícil já que o campo de dunas só é acessado via carro com tração nas quaro rodas, ou

longas caminhas pelo campo dunar.

Visibilidade:

Boa. As feições são visíveis, porém de difícil interpretação.

Estado de Conservação:

Estado de conservação aceitável, mas a vulnerabilidade natural do local é alta e o transito de

veículos em trilhas não autorizadas pode descaracterizar o geossítio.

Vulnerabilidade:

Sedimentos Inconsolidados e semiconsolidados de caráter friável, grande vulnerabilidade

natural.

Povoações e Uso Atual:

População da Vila de Tatajuba e seu uso turístico como ponto de fotografias.

.

Intervenção Necessária e/ou Possível:

Como os demais geossítios está dentro de uma unidade de conservação (APA de Camocim).

No local é visualizado placas referentes a proibição de tráfego de veículos. É instituída uma

trilha principal de tráfego dos veículos.

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APÊNDICE G – Ficha 7

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DOS POSSÍVEIS LOCAIS DE INTERESSE

GEOLÓGICO AUTOR: _Suedio Alves Meira_____________________________ Data: 20/03/2015

LOCAL: Duna do Funil____________________________________ Referência: 07___

Tipo de Local: ( X ) Isolado ( ) Área ( ) Panorâmico

Categoria Temática: ( ) Tectônico ( X ) Eólico ( ) Metamórfico

( ) Sedimentar ( ) Cárstico ( ) Outro: _____________________

Localização: Lat. _ S 02º51’52.1”___ Long. _ W 40º43’45,3” _____

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

A. Valores

Científico: ( ) Baixo ( X ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Ecológico: ( ) Nulo ( ) Baixo ( X ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Cultural: ( ) Nulo ( X ) Baixo ( ) Médio ( ) Alto ( ) Muito Alto

Estético: ( ) Nulo ( ) Baixo ( ) Médio ( X ) Alto ( ) Muito Alto

B. Potencialidade de Uso

Acessibilidade: ( ) Muito Difícil ( X ) Difícil ( ) Moderada ( ) Fácil ( ) Muito Fácil

Visibilidade: ( ) Muito Fraca ( ) Fraca ( ) Moderada ( ) Boa ( X ) Muito Boa

Uso Atual: ( ) Sem Uso ( X ) Com uso Qual: Uso Turístico, ______

C. Necessidade de Proteção

Deterioração: ( ) Fraca ( X ) Moderada ( ) Avançada

Proteção: ( ) Adequada ( X ) Moderada ( ) Insuficiente

DESCRIÇÃO GEOLÓGICA

Descrição Sumária:

Maior duna localizada no PNJ. Localizada próxima a comunidade de Tatajuba. Utilizada como ponto

turístico devido a sua beleza. Conta com uma lagoa interdunar durante o período de chuvas.

Litologias:

Sedimentos Inconsolidados.

Geomorfologia e Evolução Geológica (Processos):

Geomorfologia Dunar. Processo de formação, evolução e renovação do campo dunar.

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REGISTRO FOTOGRÁFICO

INTERESSE PATRIMÔNIAL (CULTURAL E NATURAL)

Tipos de Valor:

Valor científico por remete ao maior duna presente no PNJ. Sendo uma feição alvo de

estudos.

Grau de Importância:

Valor turístico devido o seu uso para contemplação e prática de atividades recreativas.

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USO E GESTÃO

Acessibilidade:

Difícil já que o campo de dunas só é acessado via carro com tração nas quaro rodas, ou

longas caminhas pelo campo dunar.

Visibilidade:

Muito boa. Configura-se como uma área de vista panorâmica.

Estado de Conservação:

Duna em processo de “remissão”. Tem perdido volume, comprimento e altura nas últimas

décadas.

Vulnerabilidade:

Sedimentos Inconsolidados de caráter muito friável.

Povoações e Uso Atual:

População da Vila de Tatajuba e seu uso turístico como ponto de contemplação e recreativo.

.

Intervenção Necessária e/ou Possível:

Como os demais geossítios está dentro e uma unidade de conservação, nesse caso a APA de

Camocim.

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APÊNDICE H – Folheto turístico-interpretativo do Parque Nacional de Jericoacoara

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE I - Painel interpretativo do geossítio Pedra Furada

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE J - Cartão postal Campo de Dunas e Serrote

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE K - Cartão postal Duna do Funil

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE L – Primeiro cartão postal Duna do Pôr do Sol

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE M – Segundo cartão postal Duna do Pôr do Sol

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE N - Cartão postal Escarpa Rochosa

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE O - Cartão postal Pedra do Frade

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE P - Cartão postal Pedra Furada

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE Q - Cartão postal Pilar Marinho

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE R - Cartão postal Praia Rochosa

Fonte: Elaborado pelo autor.

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APÊNDICE S - Cartão postal Trilha da Pedra Furada

Fonte: Elaborado pelo autor.