percepção sonora de harmônicos
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(2003) realizou um estudo de reviso e anlise histrico-
-filosfica a respeito da construo da diferena sexual
na medicina do sculo XIX. A autora baseou-se nas
produes acadmicas da rea no perodo e no estudo
das teorias da cincia do sculo XVIII que, com a influn-
cia newtoniana e as transformaes econmicas e pol-
ticas, passou a trabalhar com um modelo no qual exis-
tiam dois sexos radicalmente distintos, diferentemente
da herana grega que a influenciava at ento. Segundo
Rohden (2003), tais produes esto repletas do que
chamou de naturalizao de diferenas, tais como
vulnerabilidade fsica, moral e intelectual, e argumen-
taes sobre sua imutabilidade independentemente das
influncias externas, no sentido de defender certa
fragilidade permanente nos sujeitos do sexo feminino.
Na rea de psicologia, diversos trabalhos tratam
das diferenas perceptuais entre homens e mulheres
(Becker, 1993; Beech & Beauvois, 2005; Breedlove, 1993;
Hampson & Kimura, 1993; Jongman, Sereno & Wang,
2001; Leontiev, 1960; Nater, Abbruzzese, Krebs & Ehlert,
2006; Sanders & Wenmoth, 1998; Sluming & Manning,
2000). Alguns destes atribuem mais valor s variveis
biolgicas, como os efeitos hormonais (Becker, 1993;
Beech & Beauvois, 2005; Breedlove, 1993; Sanders &
Wenmoth, 1998; Sluming & Manning, 2000); outros, s
variveis ambientais, como a socializao e a aprendiza-
gem (Jogman et al., 2001; Leontiev, 1960). Eagly e Wood
(1999) apresentam duas teorias divergentes sobre a
origem das diferenas sexuais no comportamento
humano, dentro das quais parecem estar presentes os
trabalhos citados. A primeira envolve disposies biol-
gicas e baseia-se em uma psicologia evolucionria
segundo a qual adaptaes evolutivas, por meio de
processos que envolvem mecanismos especficos,
causaram diferenas psicolgicas e sexuais. Assim, seria
devido a tal distino que homens e mulheres diferem
psicologicamente e ocupam diferentes posies sociais.
A segunda busca respostas nas estruturas sociais, e
representada pela psicologia social. De acordo com os
autores citados, essa teoria defende que o fato de
homens e mulheres ocuparem diferentes posies
sociais torna-os psicologicamente diferentes, de modo
a se ajustarem a essas posies.
Pesquisas mostram que, de fato, homens e mu-
lheres apresentam diferentes desempenhos em tarefas
que requerem habilidades distintas (Flores-Mendoza,
2000; Gil-Verora et al., 2003; Rosa e Silva & S, 2006). Assim,
alm das diferenas anatmicas externas e dos caracte-
res sexuais primrios e secundrios, sabe-se que existem
vrias outras diferenas de desempenho em funes
como a linguagem (Flores-Mendoza, 2000; Hampson &
Kimura, 1993) o processamento das informaes, as
emoes, as sensaes (Gil-Verora et al., 2003; Hampson
& Kimura, 1993), a cognio em geral e o humor (Rosa e
Silva & S, 2006). Ou seja, de acordo com tais autores, as
diferenas esto nas maneiras pelas quais os crebros
dos homens e das mulheres funcionam, e como isto se
reflete no comportamento e na cognio, embora
muitas destas diferenas sejam sutis.
Segundo Hampson e Kimura (1993), em resulta-
dos de testes padronizados de QI no h diferena no
desempenho geral entre os sexos, mas sim, no desem-
penho em habilidades especficas. No caso, os homens
teriam desempenho melhor em atividades que reque-
rem habilidades espaciais, quantitativas e de fora, e as
mulheres em atividades que requisitam habilidades
verbais, de velocidade perceptual e acurcia, bem como
coordenao motora fina. Segundo os autores, tais
diferenas manifestam-se desde alguns meses aps o
nascimento, o que sugere um determinante biolgico,
uma vez que o contato com a cultura e a possibilidade
de aprendizagem ainda no foram muito extensos nesta
fase.
Becker (1993) afirma que possvel que o efeito
de hormnios esteroides no crebro seja um fator
importante nos comportamentos motores e sensrio-
-perceptuais. Sabe-se que a exposio pr-natal aos
hormnios desencadeia efeitos organizacionais perma-
nentes, enquanto flutuaes hormonais peridicas no
adulto produzem efeitos de ativao no crebro e no
comportamento (Sanders & Wenmoth, 1998). A primeira
a chamada ao organizadora e ocorre na vida
intrauterina; a segunda a ao ativacional e ocorre navida adulta (Breedlove, 1993). Nesse mesmo sentido,
Sluming e Manning (2000) afirmam que o nvel de testos-
terona ao qual o feto exposto no perodo pr-natal
leva a uma lateralizao do sistema dopaminrgico, o
que facilita o desenvolvimento do hemisfrio direito,
realando habilidades como matemtica, espacial e
musical. No caso, a exposio do feto testosterona
teria uma ao organizadora para a aptido a tais
habilidades.
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Atendo-se a esta questo, Sluming e Manning
(2000) afirmam que a msica humana seria explicvel
em termos de seleo sexual. Desta forma, homens e
mulheres que tenham sido expostos a um maior nvel
de testosterona durante a gestao tenderiam a ter
realadas habilidades musicais. No entanto, isto no
significa que necessariamente tais habilidades sejam
mais acuradas em homens, j que o julgamento da boa
msica, em particular, seria crucial em qualquer situao
de corte; assim, seria mais apurado quando a mulher
est em seu perodo frtil e, neste caso, a ao hormonal
teria um efeito ativacional. O desempenho de escuta
das mulheres parece depender da fase do ciclo mens-
trual, isto porque uma mudana na interpretao
musical do hemisfrio esquerdo para o hemisfrio direito
parece ser favorvel quando o nvel de estrognio est
baixo, o que possvel na ovulao, que associada
baixa concentrao de estrognio - e esta se correlacionacom o realce da apreciao musical.
Porm, para Sanders e Wenmoth (1998) o que
ocorre justamente o contrrio. Embora tambm aqui
os efeitos ativacionais dos hormnios na assimetria
cerebral e na cognio sejam discutidos em relao s
diferenas sexuais, os autores relatam que o desempenho
auditivo das mulheres, em um teste de identificao de
vozes consonantes e em outro de reconhecimento de
coro musical, modifica-se em diferentes fases do ciclo
menstrual. O que ocorre uma diminuio no desem-
penho do ouvido esquerdo (hemisfrio direito) e
aumento do desempenho do ouvido direito (hemisfrio
esquerdo) durante o perodo frtil. Deste modo,
pode-se notar que h, na literatura especializada,
discordncias em relao s habilidades perceptuais
no que tange aos desempenhos de homens e de
mulheres, e na ao hormonal correlata.
Por outro lado, representantes do que Eagly e
Wood (1999) chamaram de teoria de origem baseadana psicologia social tambm realizaram estudos a
respeito da percepo sonora, embora poucos tenham
sido encontrados. Um deles um estudo clssico de
Leontiev (1960), no qual foram realizados experimentos
visando demonstrar que diferenas existentes na
percepo de sons (tons) ocorrem de acordo com a
experincia vivida por cada indivduo em relao a eles,
seja por diferenas culturais (como em idiomas tonais),
ou de atividade ocupacional em relao ao som. Outro
exemplo, mais atual, a pesquisa de Jongman et al.
(2001), na qual os autores compararam a escuta de
chineses e americanos de tons mandarins, verificando
que nos chineses havia uma vantagem do ouvido
direito (hemisfrio esquerdo) sobre o esquerdo (hemis-
frio direito), enquanto nos americanos (sem experincia
com linguagem tonal) tal vantagem no existiu. Segun-
do tais estudos, a aprendizagem no apenas interfere
na percepo sonora, como tem um papel fundamental
nela.
Enquanto alguns pesquisadores focam suas
pesquisas e anlises na questo biolgica, procurando
verificar a influncia hormonal no desempenho de
atividades realizadas por homens e mulheres, outros
buscam explicaes no ambiente e no papel da apren-
dizagem, embora no tenham realizado pesquisas em
relao s diferenas entre homens e mulheres, mas
entre pessoas de pases e etnias diferentes. Dentre os
primeiros, no que tange habilidade de percepo
musical, h ainda controvrsias; por exemplo, sobre o
efeito ativacional dos hormnios em mulheres durante
a ovulao para uma melhora em tal percepo e sobre
o efeito organizacional na vida intrauterina que definiria
uma habilidade perceptual mais acurada. J os segundos
esto em concordncia sobre a funo essencial exer-
cida pela aprendizagem no desempenho em atividades
que requerem tais habilidades. Tendo em vista a diver-
gncia de dados na literatura a respeito da discrimi-
nao sonora, o objetivo desta pesquisa foi estudar se
existem diferenas no desempenho de uma tarefa de
discriminao de sons harmnicos, entre homens e
mulheres, com e sem histria prvia de aprendizagem
no contato com instrumentos musicais.
Mtodo
Participantes
Participaram do estudo 34 pessoas; 17 eram ho-
mens (mdia de idade (M) 20,53, desvio-padro - dp=3,37)
e 17 eram mulheres (M=20,00, dp=2,40).
Instrumentos
Para a realizao da pesquisa foram utilizados:
um questionrio, um CD-ROM contendo os estmulos
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do teste, um discman (Kenwood portable compact
disc player, dpc-171), um fone de ouvido (Sontec
CD-128 - frequncia: 20-18,000HZ, impedncia: 32ohm,
potncia mxima de entrada: 100mw), folha de respostas
desenvolvida para o teste, rgua e caneta.
O questionrio continha as seguintes questes:
nome, sexo, idade, data de nascimento, escolaridade,
profisso, com que frequncia ouve msica, qual o tipo
de msica preferido, se toca algum instrumento (com
que frequncia e se profissionalmente ou no), se
realizou algum curso de msica, se faz uso de algum
medicamento ou droga ou o fez nos ltimos trs meses,
se destro ou canhoto, se possui ciclo menstrual regular
(no caso das mulheres), qual a data da ltima mens-
truao (no caso das mulheres).
O CD-ROM tinha 23 faixas. A primeira continha
as instrues a respeito do teste propriamente dito,
exatamente como segue: Cada faixa deste compostapor cinco sons diferentes e cinco sons iguais que esto
entre um som diferente e outro. O primeiro som o
modelo; voc deve optar por um dos quatro sons dife-
rentes subsequentes, podendo escolher at dois sons
em caso de dvida. No h resposta errada. Voc deve
marcar sua opo na folha de respostas assinalando
qual o som escolhido e depois entreg-la ao experi-
mentador.
As duas faixas seguintes consistiram em tenta-
tivas para o participante verificar se havia entendido asinstrues, e as vinte seguintes consistiam no teste pro-
priamente dito. Cada faixa do CD-ROM, a partir da
segunda, continha um estmulo modelo, em seguida
um estmulo que foi chamado de som branco (expli-
cado a seguir); aps o som branco, o primeiro estmulo-
-resposta e, em seguida, outro som branco similar ao
primeiro; foram quatro estmulos de comparao
(estmulos-respostas) em cada faixa intercalados com o
som branco, conforme exemplo na Figura 1.
Os estmulos-modelo foram teras e quintasharmnicas de notas musicais retiradas das duas oitavas
centrais do piano: do-mi, do-sol, re-fa#, re-la, mi-sol#, mi-
si, fa-la, fa-do, sol-si, sol-re, la-do, la-mi, si-r#, si-f#, do-mi,
do-sol, re-fa#, re-la, mi-sol#, mi-si, fa-la, sol-si.
Os estmulos de comparao foram: um est-
mulo igual ao modelo, a tera (ou quinta) do modelo
apresentado mais sua oitava, a primeira nota do estmulo
apresentado mais sua oitava e as notas do estmulo-
modelo invertidas (na sua ordem). Cada estmulo foi
intercalado com o som branco, que equivale s notas
das duas oitavas centrais do piano (de d a d) tocadas
temporalmente juntas, a fim de evitar que o estmulo
anterior interferisse na percepo do posterior. A ordem
das faixas foi aleatorizada, bem como a ordem de
apresentao dos estmulos de comparao.
As folhas de respostas continham as tentativas
(faixas), e em cada tentativa quatro alternativas (A, B, C e
D). Um exemplo da folha de respostas pode ser
observado na Figura 2.
Figura 1. Exemplo de uma faixa do CD-ROM contendo: umestmulo modelo seguido de um som branco, doprimeiro estmulo de comparao, outro som branco,do segundo estmulo de comparao, outro sombranco, do terceiro estmulo de comparao, outro
som branco, do quarto estmulo de comparao, outro
som branco e fim da faixa.
Figura 2. Folha de respostas com as tentativas e, em cada tentativa,
quatro alternativas. Universidade Estadual Paulista Jlio
de Mesquita Filho, campus Bauru (SP), 2003.
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Procedimentos
Todos os participantes responderam individual-
mente ao questionrio inicial. Aps esta fase cada um,
em separado, ouviu as instrues contidas na primeira
faixa do CD e os estmulos em uma nica sesso e teste,
marcando na folha de respostas qual alternativa identi-
ficou como correta. A rgua foi utilizada para ajudar oparticipante a seguir as alternativas na folha de respostas.
A tarefa de cada participante foi discriminar/
identificar qual dos estmulos de comparao equivalia
ao estmulo-modelo. Ao participante era permitido
modificar o volume do aparelho quando achasse
necessrio, porm no era permitido que voltasse
qualquer uma das faixas. Foram considerados acertos
as escolhas iguais ao modelo. Havendo duas escolhas
feitas, se uma das escolhas fosse igual ao modelo, a
resposta era considerada correta.
Os dados foram tabulados em planilhas de dados
conforme as informaes demogrficas coletadas nos
questionrios, sexo e experincia com instrumentos
musicais. Para o primeiro grupo de dados (demogr-
ficos), foram feitas correlaes (Coeficiente de Correlao
de Spearman) de forma a obter possveis indcios de
variao dos dados de forma harmnica entre si. Para
as variveis sexo e experincia com instrumentos
musicais, a anlise foi feita estatisticamente por meio
de uma anlise de varincia para ambas as variveis
simultaneamente (ANOVA de duas vias), de forma a
tentar identificar se os grupos diferiam entre si em
relao a cada uma destas variveis (homens versus
mulheres; pessoas com experincia versus pessoas sem
experincia) e em sua interao (mulheres com expe-
rincia versus mulheres sem experincia; homens com
experincia versus homens sem experincia). Os
resultados foram considerados significativos quando
apresentaram uma probabilidade menor que 0,05
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9,00. As mulheres que relataram ter uma histria prvia
de aprendizagem musical obtiveram uma mdia de
15,23, e os homens, de 15,56, de uma total de vinte
pontos.
Nesta mesma figura pode-se perceber a diferena
da mdia de acertos entre as mulheres com e sem apren-
dizagem e entre os homens, tambm com e sem
aprendizagem. As outras variveis coletadas por meiodo questionrio, tais como idade, escolaridade, profisso,
frequncia com que ouvia msica, tipo de msica
preferido, uso de medicamento ou droga, se destro ou
canhoto e, no caso das mulheres, perodo menstrual,
quando comparadas estatisticamente com o resultado
do teste, no apresentaram significncia.
Discusso
Na introduo deste artigo foram apresentadostrabalhos que divergem em relao origem das dife-
renas perceptuais, se estritamente de fundo biolgico
ou social. Os resultados apresentados neste trabalho
revelam que, no grupo que foi estudado, as mulheres
apresentaram, de modo geral, um desempenho melhor
em relao ao desempenho dos homens na tarefa de
discriminao sonora de harmnicos proposta neste
experimento, embora tal diferena no seja considerada
estatisticamente significativa. A hiptese de que a
percepo sonora dos homens mais apurada do que
a das mulheres devido ao hormonal organizacional,
e que a percepo das mulheres sofre flutuaes de
acordo com o perodo do ciclo menstrual, como
afirmado por Sluming e Manning (2000), ou mesmo por
Sanders e Wenmoth (1998), embora em direes opostas,
parece no ter encontrado corres-pondncia nos dados
apresentados.
Talvez tal flutuao seja muito sutil para influen-
ciar os resultados do teste aplicado, ou o tipo de tarefa
proposto no experimento em questo dilua tal diferena.
Isso no necessariamente significa que no haja influn-
cias de mbito biolgico na percepo de sons conso-
nantes; a percepo um processo complexo que inclui
tanto a base do aparato biolgico quanto a aprendi-
zagem. De acordo com Forgus (1971), por percepo
entendem-se os processos realizados pelo organismo,
integrando em um nico processo as informaes do
ambiente obtidas por meio dos rgos sensoriais; deste
modo, as percepes so a integrao das sensaes.
Segundo Kandel, Schwartz e Jessell (1995), estas ltimas
consistem na recepo e transduo de eventos fsicos
do ambiente por meio de sistemas especializados para
as diferentes modalidades sensoriais, capazes de filtrar
propriedades relevantes dos estmulos, gerando dados
para o sistema nervoso central. Na percepo, essas
informaes so transformadas em representaes
experienciadas pelo indivduo como qualitativamente
diversas (objetos, gostos, eventos, sons, figuras) e isso
pode ocorrer de maneira simples ou exigir apren-
dizagem. Ou seja, o aparato perceptivo encontra-se pr-
-formado ao nascimento, mas , em grande parte,
influenciado posteriormente pela aprendizagem ao
longo da histria de vida (Forgus, 1971), que modela
fatores como sensibilidade, preferncia e discriminao
de estmulos. Esta ltima, por sua vez, encontra-se entre
os tipos de processos perceptuais mais complexos que
envolvem aprendizagem (Forgus 1971; Roth & Frisby,
1986). Segundo Matos (1981), ela ocorre quando um
sujeito age de forma diferente diante de informaes
distintas do ambiente (estmulos).
No caso desse experimento, so diversos os
estmulos que caracterizam um som complexo, como
a fala (Fitch, Miller & Tallal, 1997) e a msica (Shamma,
1999), e influenciam diretamente sua percepo. So
eles o tom, o timbre, a modulao, os intervalos e o
Figura 3. Pontuao dos participantes, divididos nos grupos
mulheres e homens, sem e com aprendizagem. Univer-
sidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, campus
Bauru (SP), 2003.
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volume (Shamma, 1999). Considera-se que os seres
humanos so capazes de perceber coerentemente os
atributos de cada fonte sonora que chega aos seus
ouvidos, bem como julg-los. Esta capacidade de anali-
sar o som est baseada em um processo complexo
descrito por Shamma (1999), no qual o som primeira-
mente analisado em termos de algumas variveis per-
ceptualmente significantes e, em um nvel mais avan-
ado, tais variveis so organizadas e agrupadas de
acordo com regras especficas.
interessante verificar, porm, como a varivel
experincia prvia com instrumentos musicais ou
simplesmente aprendizagem sobressaiu em relao
s variveis diferena sexual e perodo do ciclo
menstrual, no caso das mulheres. Deste modo, a ques-
to sobre a qual a anlise deve pairar refere-se aos dados
revelados pelo grupo dos sujeitos que relataram ter uma
experincia prvia em relao aos instrumentos
musicais, experincia esta que exige diretamente o
desenvolvimento da percepo de sons harmnicos.
Tal percepo, embora tenha um componente de base
biolgica, parece ter sido desenvolvida no decorrer da
histria de vida dos participantes. Esses sujeitos apre-
sentaram um desempenho efetivamente superior
queles que no tinham experincia em relao aos
instrumentos musicais e manipulao dos sons, inde-
pendentemente se do sexo feminino ou masculino.
Assim como revelado por Leontiev (1960) e por
Jongman et al. (2001), o fator cultural e a aprendizagem
so os aspectos que mais influenciaram as habilidades
que envolvem percepo sonora nesta tarefa. Ou seja,
parece que, independentemente dos fatores referentes
lateralizao e s flutuaes hormonais, a aprendiza-
gem foi o fator determinante para um desempenho
superior. Assim, mesmo que existam diferenas garanti-
das pelo aparato biolgico, favorecendo de imediato o
desempenho de um sexo ou de outro, como algumas
das pesquisas citadas na introduo afirmam, os dados
apresentados permitem inferir que a aprendizagem o
fator determinante para o desempenho das habilidades
de discriminao sonora de harmnicos, tal como foi
realizada neste trabalho.
Resta, no entanto, questionar a dicotomia esta-
belecida entre as teorias explicitadas por Eagly e Wood
(1999). Haveria, de fato, necessidade de opor variveis
biolgicas e sociais? Tal oposio, tomada de um modo
sectrio, confere legitimidade crtica de que cada uma
contm em si um contedo ideolgico influenciado
pela prpria histria da cincia, tal como indicam as
anlises de Rohden (2003) no mbito da construo das
diferenas sexuais na medicina. Se o gnero humano
participa, em seu desenvolvimento, de trs nveis de
seleo - filogentico, ontogentico e cultural -, re-
conhecer isso nos dados encontrados nos diversos
experimentos cientficos, de modo a tornar explcitas
inclusive as contradies porventura encontradas,
talvez traga mais legitimidade prpria cincia. No
obstante, mais trabalhos nesta direo parecem ser
ainda necessrios.
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Recebido em: 24/4/2007Verso final reapresentada em: 10/12/2007Aprovado em: 17/1/2008