perdao na terapia de casal

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  • 7/26/2019 Perdao Na Terapia de Casal

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    PERDO NA TERAPIA DE CASAL

    Roberto Faustino de Paula1

    Falar sobre a importncia de se trabalhar o tema confiana na relao interpessoal. Segundo

    as pesquisas, quando se perguntou s pessoas entrevistadas o que mais elas desejavam emrelao s outras pessoas com quem se relacionavam, elas responderam sentir confiana.

    Os casais tm diante de si um desafio, nos dias atuais, de como manterem um relacionamento

    duradouro e satisfatrio entre si. Para enfrent-lo com sucesso, os casais necessitam

    desenvolver interaes mutuamente gratificantes, mas tambm saberem lidar com um

    nmero significativo de experincias negativas (falhas na comunicao, disputas pelo poder,

    desentendimentos na educao dos filhos, infidelidade conjugal , violncia domstica, etc).

    Para os terapeutas to essencial compreender como os casais lidam c/ suas experincias

    negativas, como saber como os casais superam essas experincias conflituosas, positivamente

    (fatores de resilincia).

    Apesar de muitas teorias em Psquiatria e Psicologia terem abordado extensamente a

    psicopatologia, seja a nvel individual como interpessoal, essas mesmas teorias tm omitido,

    solenemente, o conceito do perdo e seu uso nas psicoterapias. Sobre esse assunto,

    ultimamente, tm aparecido um nmero crescente de trabalhos tericos e de pesquisa, onde

    sobressaem trs problemas significativos:

    1. Os conceitos sobre o perdo no foram integrados nas teorias at agora existentes

    sobre o casamento;

    2.

    No h consenso sobre quais seriam as caractersticas primordiais acerca do processo

    do perdo (pelo contrrio, parece haver maior concordncia entre os autores sobre o

    que o perdo no);

    3. Apesar de algumas teorias descreverem os comportamentos que ocorrem durante o

    processo do perdo (de raiva, dor, mgoa, ressentimento, etc), poucas dessas teorias

    tentaram explicar porque tais comportamentos ocorrem.

    DUAS GRANDES TEORIAS SOBRE O FUNCIONAMENTO DAS RELAES CONJUGAIS

    1. Enfoque cognitivo-comportamental sobre o casamentoPrincpios bsicos:

    nfase sobre como cada cnjuge pensa e interpreta o seu comportamento narelao.

    Pesquisas sobre casais desajustados apontam:a)eles tendem a apegar-se mais s experincias negativas por eles vivenciadas no passado,

    prestando menos ateno aos diversos comportamentos positivos apresentados por cada

    um no presente;

    1Prof. Adjunto do Depto de Neuropsiquiatria, coordenador do Curso de Especializao em TerapiaFamiliar, CCS/UFPE

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    b)interpretam os seus relacionamentos de uma maneira mais negativa em comparao

    aos de outros casais mais ajustados, vivenciando situaes semelhantes.

    Aspectos cognitivos. Os sistemas de crenas de cada cnjuge abrangem valores ecrenas morais acerca de como cada cnjuge deve tratar o outro na relao. Tais

    sistemas so cruciais porque eles fornecem uma espcie de guia para como cadapessoa dever se comportar em uma dada situao. Eles tb so importantes p/entender porque as violaes a esses paradigmas, frequentemente, acarretamgrandes sofrimentos e desapontamentos no casamento. Nesses casos, ocomportamento do parceiro passa a ser encarado como indesejvel, errado ouimoral.

    Estratgias de resoluo dos conflitos na terapia de casal

    Intervenes focadas, fundamentalmente, nas relaes atuais.

    Casais so treinados a distinguirem claramente comportamentos consideradosgratificantes daqueles indesejveis. Eles so ajudados a negociarem mudanas quemaximizem a possibilidade de ocorrncia de comportamentos positivos,gratificantes, minimizando, por outro lado, a ocorrncia de comportamentosnegativos, indesejveis.

    Direcionadas p/ melhorar a comunicao do casal

    Evitar discutir o passado e o jogo de atribuir culpa e responsabilidade ao outro. Aoinvs disso, os casais so treinados a focar em suas preocupaes atuais e comoabord-las, diferentemente, no futuro.

    Explorar novas alternativas de compreenso acerca de como um cnjuge secomporta numa dada situao (aspectos cognitivos).

    Aplicaes do enfoque cognitivo-comportamental na infidelidade conjugal

    O perdo no passvel de ser trabalhado em todo tipo de comportamento negativo

    apresentado pelos cnjuges. O perdo uma opo e no uma obrigao. Dar nfase

    ao trabalho a ser feito pelo cnjuge que traiu e deseja ser perdoado.

    Situaes particularmente relevantes para se trabalhar o perdo: quando os cnjuges

    se comportam de modo a violar premissas ou valores bsicos, comumente acordados

    de serem respeitados no casamento (ex: uso de violncia, trair a confiana do outro).

    Presentes grandes distores na forma de ver o outro cnjuge, responsabilizando, ao

    trair, o outro cnjuge, ou assumindo erros que no so seus (pea teatral de Nelson

    Rodrigues Perdoe-me por me teres trado).

    Limitaes do enfoquecognitivo-comportamental na infidelidade conjugal

    Situaes em que um dos cnjuges foi muito magoado ou ferido pelo o outro, no

    favorecem o desenvolvimento de estratgias de resoluo do conflito voltadas para o

    futuro. Nesses casos, as feridas do passado precisam ser tratadas e curadas, antes do

    casal mover-se em direo ao trabalho teraputico de como evitar tais situaes nofuturo.

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    Ausncia de proposies sobre quando e como ajudar os casais a processarem seus

    traumas passados, de algum modo associados infidelidade conjugal , integrando-os

    em procedimentos voltados para o presente e o futuro da vida do casal.

    Pelo contrrio, como veremos, o enfoque psicodinmico (direcionado para o

    insight ) que focaliza a compreenso do passado, utilizando tal compreenso para

    promover mudanas futuras.

    2. Enfoques direcionados para o insight no casamento

    Princpios bsicos:

    Focaliza os padres de relacionamento maladaptados e recorrentes oriundos de

    experincias interpessoais negativas do passado remoto de cada cnjuge(infncia,

    adolescncia ou na fase de adulto jovem) ocorridas seja na famlia de origem como em

    relacionamentos significativos fora dela. Reconhece a difcil convivncia entre aspectosde individualidade e conjugalidade no casamento.

    Pressuposto bsico: os padres de relacionamento mal adaptados tendem a persistir

    enquanto eles no forem devidamente explorados e compreendidos no contexto do

    desenvolvimento pessoal e do ciclo de vida familiar.

    Padres de interao maladaptados e persistentes entre os cnjuges representam

    estratgias de defesa para minimizar a dor experimentada em decorrncia de

    relacionamentos traumticos do passado.

    Estratgias teraputicas:

    Favorecem que cada cnjuge possa:

    1. rever as ofensas sofridas em suas relaes anteriores

    2.

    experimentar o luto das perdas e necessidades no atendidas

    3. expressar sentimentos contraditrios ou mesmo raiva, por ventura existentes, em

    relao a experincias negativas c/ pessoas significativas em sua vida, num ambiente

    teraputico em que se sinta seguro para explor-las.

    4.

    adquirir habilidade crescente em diferenciar os relacionamentos anteriores do atual

    Vantagens dessas estratgias:

    relaxar, sentir alvio em relao ansiedade experimentada em suas relaes

    interpessoais atuais, medida que for se dissipando a confuso acerca do

    porque eles possam estar altamente reativos, emocionalmente falando,

    durante seus conflitos conjugais

    restabelecer a esperana em poder se gratificar mais emocionalmente em

    seus relacionamentos, ao curar mgoas ou ressentimentos de seus

    relacionamentos anteriores, e ajudando a desenvolver novos padres de

    relacionamento.

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    oportunidade do casal desenvolver empatia um pelo outro, medida que

    cada cnjuge observa os esforos de seu parceiro de clarificar e compreender

    a origem dos padres de relacionamento maladaptativos experimentados no

    passado. Freqentemente, tal fato leva-o a compreender os comportamentos

    de seu parceiro(a) de um modo mais benigno ou emptico

    criar novas estratgias de ao, no violentas, no relacionamento interpessoal

    que produzam resoluo mais eficaz para os conflitos atuais do casal

    Aplicao do enfoque insight dirigido na infidelidade conjugal

    Implicaes:

    1.

    Fatores originrios de experincias de relacionamentos vivenciadas em etapas

    precoces do desenvolvimento podem contribuir para que o sujeito decidaenvolver-se numa relao extraconjugal. Tais fatores devem estar relacionados

    a importantes questes intrapessoais dos quais ele(ela) pode no estar

    plenamente consciente. Da o risco da pessoa repetir comportamentos

    destrutivos no seu relacionamento conjugal atual.

    2.

    Presume-se que as respostas de ambos os cnjuges infidelidade refletem

    repercusses importantes de ofensas ou desapontamentos sofridos em

    relacionamentos prvios. Surgem, ento, mecanismos de defesa exagerados a

    fim de evitar a dor sofrida.

    3.

    Mecanismos exacerbados de defesa impedem:

    a) a compreenso das origens e conseqncias da traio; e

    b) a resoluo emocional satisfatria p/ os danos causados na relao.

    Limitaes do enfoque direcionado p/ o insight em casos de infidelidade

    Freqentemente no promove estratgias de resoluo de conflito p/ questes atuais,

    altamente conflituosas no casamento. Ou seja, no costumam desencadear, a curto

    prazo, as mudanas de comportamento observadas na terapia cognitivo-comportamental c/ casais: melhora na comunicao, eliminando a violncia como

    forma aceitvel de resoluo dos conflitos, e restruturao cognitiva (formas mais

    satisfatrias de compreenso dos conflitos conjugais). Tais mudanas do mais

    segurana ao casal para abordarem seus conflitos mais urgentes, no presente.

    Perodo imediatamente aps a descoberta da traio costuma ser altamente tenso e

    catico p/ os casais, ocasio em que a relao poder sofrer maiores danos devido ao

    deflagrar de interaes negativas incontrolveis. Porisso que o estabelecimento de

    regras claras de comportamento e negociao recproca pode prevenir novos danos no

    casamento.

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    Enquanto a terapia cognitivo-comportamental tende a dar pouca importncia ao

    passado ou mesmo ignor-lo totalmente, a terapia direcionada ao insight c/ casais,

    de enfoque mais ortodoxo ou tradicional, tende a focar to intensamente no passado,

    a ponto de dar pouca importncia ao presente e ao futuro. E, como vimos acima,

    questes urgentes relativas aos padres atuais de interao e comportamento, s

    vezes, necessitam de rpido encaminhamento e resoluo (ex: violncia conjugal

    associada crise familiar e ao sofrimento dos filhos, durante uma separao abrupta

    dos pais).

    Modelo de se trabalhar o perdo na terapia de casal em trs etapas

    Princpios bsicos

    Maioria dos autores concordam que o perdo consiste num processo que leva tempo para se

    completar, e que a etapa final desse processo possui trs caractersticas comuns, mediadas por

    mudanas cognitivas e afetivas na pessoa que perdoa:

    a) aquisio de uma viso mais equilibrada sobre o agressor e sobre as circunstncias em

    que o evento se deu;

    b) diminuio do sentimento negativo em relao ao agressor; e

    c) desistncia do direito de vingar-se ou punir o agressor.

    Em casos de infidelidade conjugal, essencial compreender os tipos de situaes negativas,

    onde as crenas bsicas do cnjuge trado, acerca do casamento, foram abaladas (de que o

    parceiro seria confivel, de que o relacionamento seria sempre seguro). Quando essas crenas

    bsicas so violadas, ento a pessoa trada experimenta uma perda de controle sobre sua vida,

    acompanhada por ansiedade e depresso, muitas vezes. Enquanto o cnjuge trado no tiver

    um claro entendimento sobre porque a traio ocorreu, ele(ela) no ter mais confiana no

    outro parceiro, de que tal fato no se repetir no futuro.

    As trs principais etapas para se trabalhar o perdo na terapia de casal so:

    1. absorvendo e experimentando o impacto de haver sofrido a traio;

    2.

    procurando o significado sobre porque a traio ocorreu, incluindo as implicaes para

    esse novo entendimento; e

    3.

    tocando a vida p/ frente, j dentro do contexto de um novo sistema de crenas acerca

    do relacionamento do casal.

    Para que a primeira etapa seja iniciada, a pessoa precisa acreditar que seu parceiro violou

    preceitos bsicos do relacionamento. Nessa ocasio, fortes emoes so mobilizadas, como

    medo, dor ou raiva, alternando-se c/ momentos de indiferena ou descrena. comum as

    pessoas tradas elevarem barreiras p/ se protegerem de outras pessoas que tentarem se

    aproximar, afetivamente falando.

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    Ainda nessa primeira etapa do processo do perdo, o cnjuge trado costuma apresentar

    diversas respostas do ponto de vista cognitivo, emocional e comportamental a essa situao.

    So elas: forte necessidade em saber exatamente o que aconteceu e porque, significativo

    descontrole emocional resultante do abalo de confiana no parceiro e na relao c/ o mesmo,

    aparecimento de padres de comportamento atpicos em virtude do sentimento de confuso

    e da necessidade de auto-proteo (ex: isolamento social, baixa auto-estima, auto-punio,

    etc).

    O objetivo da segunda etapa explorar mais profundamente c/ o casal por que a traio

    ocorreu, situando-a num contexto mais compreensvel. Nesse sentido, seria til que o casal

    considerasse uma srie de fatores (internos e externos relao), e como eles contriburam

    para o contexto em que a traio se deu. Porm, o importante que o cnjuge envolvido

    numa relao extraconjugal assuma a responsabilidade por haver tomado tal deciso, e que

    ambos os cnjuges compreendam os fatores preponderantes que levaram o referido cnjuge a

    tomar tal deciso. Nesse trabalho de conscientizao, frequentemente, o casal se beneficia da

    compreenso desses fatores recentes ou passados, medida que os cnjuges tentam

    compreender porque um deles passou a agir num sentido contrrio ao bem estar do casal e

    aos seus mtuos compromissos. Ou seja, ambos buscam dar um significado infidelidade

    ocorrida. O fato que, sem compreender devidamente o porque a traio ocorreu,

    impossvel prever se tal situao ir ou no se repetir no futuro.

    Na terceira etapa do processo do perdo na terapia de casal, presume-se que o cnjuge

    agredido superou o seu trauma, no mais permitindo que a dor sofrida controle sua vida. O

    perdo faria, ento, com que o cnjuge trado seguisse adiante, em paz na sua vida,

    impedindo, assim, que emoes negativas, como a raiva excessiva, assumissem o controle dos

    seus pensamentos e comportamentos. Desse modo, ele poderia optar em desistir do direito de

    punir o parceiro que o traiu. Vale ressaltar que o processo do perdo pode no concluir com a

    reconciliao do casal, assim como o perdo no requer que a raiva desaparea

    completamente no cnjuge trado.

    Ao final dessa terceira etapa do processo teraputico, o cnjuge trado necessitaria atingir trs

    objetivos:

    1. desenvolver uma viso realista e equilibrada da relao (posso ou no voltar a confiar

    nele ou nela?);

    2.

    sentir o alvio de no mais ser controlado por sentimentos negativos em relao ao

    outro cnjuge ofensor (isto no requer, obrigatoriamente, sentir emoes positivas

    em relao ao mesmo); e

    3. renunciar volutariamente ao direito de punir o agressor (compaixo em relao a ele

    pode estar presente).

    Estratgias teraputicas

    Terapia est baseada no modelo sobre o processo do perdo em trs etapas, acima proposto.

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    Durante a etapa inicial. Nas primeiras sesses, o enfoque utilizado tipicamente

    cognitivo-comportamental, com o objetivo de ajudar o casal a:

    1. estabelecer limites apropriados para si mesmos, enquanto indivduos e enquanto

    casal, harmonizando aspectos da individualidade e da conjugalidade no casamento;

    2. aprender a lidar com as emoes (geralmente negativas);

    3.

    expressar e identificar as reaes do cnjuge trado diante da descoberta da

    infidelidade conjugal ( possvel ocorrer, decorridos alguns intervalos de tempo aps o

    fato, reaes emocionais intensas ou flashbacks, a exemplo do que ocorre no

    estresse ps-traumtico).

    Segunda etapa. Enfoque teraputico mais utilizado o direcionado para o insight, c/

    os seguintes objetivos:

    1.

    Explorar, num contexto teraputico onde ambos os cnjuges se sintam apoiados, asnecessidades e motivaes geralmente inconscientes da histria familiar de cada um,

    que estariam repercutindo nos seus comportamentos, nas atuais circunstncias;

    2. Na medida do possvel, desenvolver empatia e compreenso em relao a cada

    cnjuge; e

    3. Tentar alterar quaisquer questes vistas como negativas ou problemticas claramente

    apontadas na vida do casal, como fatores contribuintes ou justificativas para a tomada

    de deciso do cnjuge envolver-se num relacionamento extraconjugal.

    Terceira e ltima etapa. Novamente, o foco volta ser o presente e o futuro do casal

    (estratgias voltam a ser mais cognitivo-comportamentais). medida em que aumenta

    a compreenso dos cnjuges sobre o porque a relao extraconjugal ocorreu, surge a

    necessidade de avaliar a viabilidade da relao se manter, seu potencial de mudana e

    as possveis conseqncias caso as esperadas mudanas na relao venham ou no

    ocorrer. O foco de interveno passa a ser o processo do perdo. Nesse ponto, so

    desfeitos entendimentos equivocados e as resistncias quanto a se trabalhar o perdo

    na relao, respeitando-se a deciso final de cada um.

    Objetivos:

    1.

    Tomada de deciso consciente acerca do futuro da relao;

    2. Dependendo da deciso do casal, eles sero apoiados na reconstruo do

    relacionamento, ou na orientao para as providncias necessrias p/ o trmino da

    relao; e

    3. Esforos para manter a compreenso e, se possvel, a disposio de perdoar a dor

    causada pelo o outro, frente traio, em prol de uma melhor qualidade de vida,

    notadamente para quem perdoa.

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    Observao: - Nem todos os casais iro evoluir na terapia de modo idntico, reservando-se

    espaos para as variaes, caso a caso. Espera-se, contudo, que o modelo aqui proposto sirva

    de guia til para intervir, terapeuticamente, em eventos traumticos na vida do casal, em

    geral, e no apenas em casos de infidelidade conjugal.

    CONCLUSES

    Importa deixar claro para o cnjuge lesado que o perdo no implica necessariamente em

    reconciliao. Esta pessoa poder vir a perdoar seu respectivo cnjuge, sem que isso signifique

    retornar a conviver numa relao insegura.

    O processo do perdo, quando trabalhado adequadamente do ponto de vista teraputico,

    permite uma expresso apropriada da raiva, alm de sentimentos negativos diversos, ou seja,tal processo permite pessoa ofendida adquirir uma viso realista do parceiro como possuidor

    de caractersticas positivas e negativas. Portanto, o perdo, dentro desse prisma, no deve ser

    considerado como sinal de fraqueza, mas como algo saudvel e mesmo necessrio, quando o

    perdo for possvel, para que o relacionamento do casal venha a ser mais satisfatrio no

    presente e no futuro.

    medida que o perdo for mais claramente definido e aceito pelas partes interessadas,

    maiores evidncias podero se apresentar nas pesquisas cientficas para demonstrar que o

    processo do perdo, uma vez completado com xito, possa trazer mais sade e paz s pessoas,

    em diversos contextos do relacionamento humano. Se tal expectativa se confirmar, ento aresistncia dos terapeutas de empregar o perdo na prtica clnica tender a diminuir. Eis a

    um desafio para o sculo XXI!

    Referncia bibliogrfica

    Gordon, K.C., Baucom, D.H. & Snyder, D.K. The use of forgiveness in marital therapy. In Michael

    E. McCullough, Kenneth I. Pargament & Carl E. Thoresen (eds.): Forgiveness: theory, researchand practice, New York, The Guilford Press, p.203-227,2000.