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Perfil de País Brasil 2003 Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) Perfil de País

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Perfil de País Brasil 2003

Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC)

Perfi

l de

País

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Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime 2003

Este não é um documento oficial das Nações Unidas. As designações usadas neste documento e a apresentação do material nele contido não implicam a expressão de qualquer opinião por parte do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime sobre a capacidade legal de qualquer país, território, cidade ou suas autoridades ou sobre as delimitações de suas divisas e fronteiras. Este documento não foi publicado formalmente. Ele deve ser usado para fins de discussão e não representa um documento oficial das Nações Unidas. Elaborado por: Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime C.P. 07-0285 70000-000 Brasília, DF Brasil Tel.: (55 61) 321-1377 Fax: (55 61) 323-1381 E-mail: [email protected] www.unodc.org

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ÍNDICE

Lista de tabelas..........................................................................................................................4 Lista de gráficos ........................................................................................................................4 Lista de abreviações...................................................................................................................5 PREFÁCIO ...............................................................................................................................6 Mapa da América do Sul ............................................................................................................7 RESUMO EXECUTIVO............................................................................................................8 1. HISTÓRICO E VISÃO GERAL DA SITUAÇÃO DAS DROGAS E DO CRIME..... 11 2. ESTATÍSTICAS RESUMIDAS.............................................................................. 15 2.1. Drogas .................................................................................................................. 16 2.2. Crime.................................................................................................................... 18 3. O ANO REVISTO: PRINCIPAIS EVENTOS.......................................................... 25 3.1. Importantes eventos políticos e econômicos ............................................................. 25 3.2. Drogas .................................................................................................................. 25 3.3. Crime.................................................................................................................... 27 4. CONTEXTO GERAL............................................................................................ 27 4.1. Principais características do país ............................................................................. 27 4.2. Estatísticas para o problema das drogas e do crime................................................... 29 5. SOBRE AS DROGAS ILÍCITAS............................................................................ 29 5.1. Produção e cultivo ................................................................................................. 29 5.2. Fabricação............................................................................................................. 30 5.3. Tráfico internacional.............................................................................................. 30 5.4. Desvio de drogas e precursores ............................................................................... 33 5.5. Preços das drogas................................................................................................... 33 5.6. Demanda............................................................................................................... 34 5.7. Custos e conseqüências .......................................................................................... 36 5.8. Lavagem de dinheiro.............................................................................................. 41 6. SOBRE O CRIME................................................................................................. 42 6.1. Principais características......................................................................................... 42 6.2. Questões especificamente preocupantes................................................................... 42 7. POLÍTICAS.......................................................................................................... 44 7.1. Drogas .................................................................................................................. 44 7.1.1. Estrutura nacional para o controle de drogas ............................................................ 44 7.1.1.1. Observância de convenções e legislação nacional..................................................... 44 7.1.1.2. Principais características da política nacional antidrogas........................................... 45 7.1.2. Controle de substâncias lícitas (medicamentos e precursores) ................................... 45 7.1.3. Redução da oferta .................................................................................................. 45 7.1.4. Redução da demanda.............................................................................................. 45 7.1.5. Medidas para controlar a lavagem de dinheiro ......................................................... 48 7.1.6. Cooperação internacional ....................................................................................... 48 7.1.7. Legislação (drogas)................................................................................................ 48 7.2. Crime.................................................................................................................... 49 7.2.1. Estrutura nacional para a prevenção de crimes ......................................................... 49 7.2.1.1. Observância da Convenção sobre o Crime Organizado ............................................. 51 7.2.1.2. Legislação (crime) ................................................................................................. 51 7.2.1.3. Instituições responsáveis pelo controle de crimes ..................................................... 52 7.2.1.4. Principais características da estratégia nacional para a prevenção de crimes............... 53 7.2.1.5. Acordos de extradição............................................................................................ 53 8. INFORMAÇÕES DIVERSAS IMPORTANTES...................................................... 56 8.1. Anexo I................................................................................................................. 56 8.2. Anexo II................................................................................................................ 58

Perfil de País Brasil 2003

Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC)

Lista de tabelas

§ Tabela 1 - Estatísticas resumidas gerais § Tabela 2 - Cultivo (área potencialmente cultivável após a erradicação, em hectares) § Tabela 3 - Erradicação da maconha por região (em toneladas) § Tabela 4 - Apreensões (em quilos) § Tabela 5 - Precursores apreendidos pela Polícia Federal (1997-2001) § Tabela 6 - Hidrocloreto de cocaína apreendido (em quilos) § Tabela 7 - Prevalência do abuso de drogas uma vez na vida § Tabela 8 - Mortes violentas (1999 - 2001) nas capitais e no Distrito Federal § Tabela 9 - Lesão corporal seguida de morte § Tabela 10 - Assaltos § Tabela 11 - Roubos § Tabela 12 - Roubo de veículos (1999 - 2001) § Tabela 13 - Sistema penitenciário por estado (julho de 2002) § Tabela 14 - Polícia Federal: prisões relacionadas a drogas (1997 - 2001) § Tabela 15 - Consumo de drogas por adolescentes por classe social (%) § Tabela 16 - Tráfico de drogas e violência no ambiente escolar § Tabela 17 - Evolução das principais razões para o consumo de drogas § Tabela 18 - Evolução das melhores abordagens para a prevenção do abuso de drogas § Tabela 19 - Causas de atendimentos em instalações de saúde, 1999 § Tabela 20 - Nível de segurança nas escolas § Tabela 21 - Criminalidade nos estados § Tabela 22 - Forças policiais por estado (2002) § Tabela 23 - Emprego: educação e gênero (1994 e 2000) § Tabela 24 - Percentual da população economicamente ativa (acima de 10 anos de

idade) por anos de estudo – 1999 § Tabela 25 - Taxa de analfabetismo na população brasileira de 15 anos para cima § Tabela 26 - Escolaridade dos brasileiros na faixa etária dos 5 aos 24 anos (percentual) § Tabela 27 - Matrícula nas primeiras oito séries (1996 e 2000) § Tabela 28 - Acordos bilaterais – Brasil § Tabela 29 - Acordos multilaterais – Brasil

Lista de gráficos § Números absolutos e taxa de incidência da AIDS de acordo o com ano do diagnóstico.

Brasil, de 1991 a 2000 § ESTUDOS: RESULTADOS: AJUDA 1 e 2 - CN/UFMG - 1998 e 2001 § Investimentos do Governo Brasileiro na prevenção e tratamento de DST/AIDS no

período de 1997 a 2000

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Lista de abreviações

• ABIQUIM - Associação Brasileira da Indústria Química • ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária • CAPS - Centros de Atenção Psicossocial • CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas • CICAD - Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas • CN/DST e AIDS - Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e

AIDS • CND – Comissão sobre Drogas Entorpecentes • CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação • COAF - Conselho de Controle de Atividades Financeiras • DATASUS - Departamento de Informática do SUS (Ministério da Saúde) • FATF - Força-Tarefa de Ações Financeiras sobre Lavagem de Dinheiro • FUNAD - Fundo Nacional Antidrogas • PIB - Produto Interno Bruto • RNB - Renda Nacional Bruta • IDH - Índice de Desenvolvimento Humano • HONLEA - Chefes dos Serviços Nacionais de Repressão de Drogas • IDEC - Conferência Interamericana Antidrogas • ILANUD – Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito

e Tratamento do Delinqüente • OIT - Organização Internacional do Trabalho • INCB – Organização Internacional de Controle de Entorpecentes • IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Ampliado • OEA - Organização dos Estados Americanos • PCC - Primeiro Comando da Capital • PIAPS – Plano de Prevenção da Violência Urbana • PNAD - Política Nacional Antidrogas • PNSP - Plano Nacional de Segurança Pública • PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira • SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas • SINARM - Sistema Nacional de Armas • SISNAD - Sistema Nacional Antidrogas • SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia • UNGASS - Sessão Extraordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre

Drogas

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PREFÁCIO

Este Perfil de País faz uma análise do contexto brasileiro em relação às drogas e à criminalidade e se baseia em muitas publicações e documentos de pesquisa produzidos por organismos internacionais, instituições governamentais e organizações da sociedade civil. No período eleitoral de junho a outubro de 2002, a questão da segurança pública foi enfatizada como a preocupação número um da população brasileira. Embora tenha logrado importantes avanços nessa área, o país continua enfrentando sérias restrições em seus esforços para integrar mais de 50 milhões de pessoas que sobrevivem com menos de US$2 por dia num contexto de plena economia de mercado. Principalmente em suas áreas urbanas, o Brasil tem um grande número de jovens excluídos, sem emprego e com poucas perspectivas, embora convivam lado a lado com a riqueza. Essa situação gera incerteza e violência em áreas urbanas, estimulando o recrutamento de jovens por parte de organizações criminosas. Há uma carência de serviços públicos de educação, saúde, moradia, polícia, justiça, etc. em áreas excluídas. Isso facilita o controle de partes de cidades importantes por organizações criminosas que impõem a sua vontade por meio do medo. É importante observar que milhões de moradores de favelas são pessoas trabalhadoras e honestas que não têm condições de morar em outros lugares em decorrência dos baixos salários que recebem. Entre elas, incluem-se pelo menos 200.000 policiais civis e militares. Em função de seus baixos salários, essas pessoas só podem morar com suas famílias em áreas dominadas por traficantes de drogas e gangues. Os traficantes de drogas e as organizações criminosas estão bem armados atualmente. Em alguns casos, estão mais bem armados do que as próprias forças policiais. Eles impõem o seu controle sobre diversas áreas assassinando pessoas que entram em seu território sem permissão e promovem o medo entre a população. As organizações criminosas internacionais dependem de redes locais bem estruturadas para comercializar seus produtos ilegais e traficar pessoas.

O Brasil também é um país de muitas conquistas. Uma delas, que tem atraído a atenção de todo o mundo, é o seu Programa Nacional de Prevenção do HIV/AIDS, iniciado em 1992, que foi concebido e implementado em parceria com organizações internacionais, o Governo e a sociedade civil. Uma visão polític a semelhante seria necessária agora no campo da segurança urbana, com a adoção de uma abordagem integrada envolvendo ações para prevenir crimes e reduzir o abuso de drogas, além de medidas socioeconômicas. Também são necessárias ações nos níve is federal, estadual e municipal que envolvam ativamente organizações da sociedade civil. Essas ações devem ser orientadas por resultados e ter objetivos realistas a curto, médio e longo prazos. Acima de tudo, todas as ações devem nortear-se pelas melhores práticas disponíveis e por metodologias baseadas em evidências concretas, para que possam provocar o impacto desejado sem custos desnecessários. O Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) está pronto para ajudar as autoridades brasileiras na formulação e implementação de programas de qualidade sintonizados com a preocupação dos eleitores brasileiros com a segurança pública, facilitando a participação ativa de outras organizações internacionais nesses programas.

Giovanni Quaglia Representante Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime para o Brasil e o Cone Sul

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Mapa da América do Sul

O Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime, sediado em Brasília, é responsável pelos seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

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RESUMO EXECUTIVO

DROGAS

O Brasil no contexto regional: O Brasil não produz a folha da coca e tampouco a papoula do ópio. A cocaína e alguns de seus derivados – como a pasta de coca – são produzidos em países vizinhos (Bolívia, Colômbia e Peru) e posteriormente traficados para o Brasil. Por outro lado, os países nos quais a folha da coca e a papoula do ópio são cultivadas não têm a rede de indústrias químicas que o Brasil possui. Os precursores usados em atividades legais são desviados e traficados do Brasil, da Argentina e do Chile para os países andinos. A maconha é cultivada no Brasil. No entanto, grandes quantidades dela são traficadas para o país a partir do Paraguai. O crack é produzido localmente a partir da pasta de coca ou da pasta base da cocaína. As anfetaminas são principalmente traficadas para o Brasil da Europa e da Argentina. O tráfico de heroína já começou e está crescendo lentamente no país. O Brasil continua a ser usado como um país de trânsito — principalmente para a cocaína enviada para a Europa e os Estados Unidos. Nesse processo, seu mercado interno vem se tornando cada vez mais importante para o consumo de cocaína. A maior disponibilidade dessa droga potencializa a infecção pelo HIV/AIDS daqueles que a usam na forma injetada, confirmando uma tendência já verificada em outros países.

Consumo de drogas ilícitas: Com base nos dados de prevalência anual e mensal sobre o uso de maconha, cocaína e anfetaminas pela população, o Brasil pode ser considerado um país de consumo médio. No caso dos opiáceos e do ecstasy, a prevalência é baixa neste momento, mas é importante que ela seja monitorada cuidadosamente. Nos últimos dez anos, o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) desenvolveu quatro estudos envolvendo alunos dos ensinos fundamental e médio. Entre aqueles que usam drogas seis vezes ou mais por mês (“uso freqüente”), observou-se um aumento de 100% no consumo de ansiolíticos, de 150% no uso de anfetaminas, de 325% no uso da maconha e de 700% no consumo da cocaína. No Brasil, o mercado interno das drogas ilícitas está crescendo. Esse fato é desconcertante, considerando-se a grande população do país (170 milhões de habitantes). O abuso de drogas está aumentando em grupos específicos de risco — princ ipalmente entre os jovens de todas as classes sociais.

Consumo de drogas e o HIV/AIDS: O Brasil conseguiu reduzir a incidência de casos de AIDS resultantes do uso de drogas injetáveis de 24,5% para 13% entre 1994 e 2001, segundo o Boletim Epidemiológico publicado em dezembro de 2002 pela Coordenação Nacional de DST e Aids. Em toda a população, os casos relatados de AIDS revelam que houve uma queda em sua incidência, de 14,8 casos por 100 mil habitantes em 1996 para 12,3 em 2001, de acordo com o mesmo boletim. Essa queda no número de casos de HIV/AIDS entre a população brasileira é atribuída a uma intervenção sólida e bem planejada iniciada na década de 1990. Essa intervenção foi levada a cabo pelo Governo Brasileiro em parceria com o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), o Banco Mundial, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Organização das Nações Unidas para a Ciência, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com uma participação ativa de organizações da sociedade civil.

Estudos recentemente realizados nas cidades de São Paulo, Campinas e Santos revelam um vínculo preocupante entre o uso de crack e a AIDS. Além disso, drogas psicofarmacológicas são também comumente usadas na América do Sul – principalmente no Brasil, na Argentina e no Uruguai –, sendo freqüentemente injetadas.

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Prevenção e tratamento1: Os financiamentos governamentais nos níveis federal, estadual e municipal para ações de prevenção e tratamento são limitados. No entanto, as atitudes estão mudando lenta e irreversivelmente. Observa-se um conceito emergente de que investir recursos públicos em ações de prevenção e tratamento pode ajudar a resolver problemas de saúde e de segurança pública. A longo prazo, esse conceito pode ajudar a promover o desenvolvimento de uma economia viável e sustentável. Há exemplos de boas práticas no Brasil que podem ser usados para reforçar esse conceito em relação às novas autoridades governamentais. Organizações não-governamentais vêm preenchendo o vácuo existente nesse campo há muitos anos, freqüentemente em condições precárias. No entanto, o Governo concebeu uma estrutura normativa com um aspecto operacional na forma de programas e projetos a serem desenvolvidos em 2003, com base em práticas confirmadas por meio de testes aplicados nos últimos dois a três anos.

Tendências do tráfico: Organizações internacionais de tráfico têm parceiros na rede brasileira do crime organizado — principalmente para o tráfico de drogas e armas e a lavagem de dinheiro. Drogas ilícitas estão sendo cada vez mais usadas como moeda na compra de armas contrabandeadas. A elevada taxa de homicídios registrada no país deve-se, em grande parte, à fácil disponibilidade de armas contrabandeadas.

Aplicação da lei: O Brasil dispõe de uma boa estrutura normativa alinhada com as convenções da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos Estados Americanos (OEA) e com outros instrumentos relevantes. As apreensões de drogas, principalmente de cocaína, aumentaram em 2002. No entanto, somente a Polícia Federal mantém dados adequados. Informações sobre apreensões feitas pela Polícia Civil, Polícia Militar, Alfândega etc. não são coletadas sistematicamente e consolidadas com os dados da Polícia Federal. O mesmo se aplica aos dados coletados por equipes de inteligência, cujo intercâmbio com as forças policiais brasileiras ainda não é nada satisfatório. No entanto, essa situação é comum em muitas forças policiais de todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento como em países desenvolvidos. O controle dos desvios de precursores químicos melhorou recentemente. No entanto, o número de empresas fiscalizadas é pequeno para que se observe um impacto efetivo nessa área. São necessários investimentos adicionais em mecanismos voltados para o controle de precursores, uma vez que os resultados alcançados têm um impacto não apenas nacional, mas também regional.

CRIME

Tendências gerais: A taxa geral de criminalidade apresenta tendência de crescimento. Embora o crime afete a sociedade como um todo, ele atinge as diversas classes sociais de diferentes maneiras. O crime organizado, com claras ligações regionais e internacionais, também aumentou nos últimos anos. O novo governo brasileiro precisará engendrar muitos esforços para melhorar os atuais indicadores da violência e responder às preocupações do eleitorado em relação à segurança pública.

Variações socioeconômicas: O crime não afeta todas as pessoas da mesma maneira. O risco de se tornar uma vítima é influenciado pela idade, pelo gênero, pela renda e pelo local de residência. As pessoas de renda alta e média ficam mais expostas ao risco de serem vítimas de crimes relacionados à propriedade. As de renda baixa ficam mais expostas às ações de gangues de jovens, à violência e aos homicídios. Em áreas turísticas do Rio de Janeiro (como 1 A palavra tratamento usada neste documento refere-se a uma abordagem integrada para a dependência química envolvendo cuidados médicos, orientação psicossocial, reintegração social etc.

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Copacabana e Ipanema, por exemplo), a taxa de homicídios é de quatro para cada grupo de 100.mil pessoas — semelhante à registrada nas cidades mais seguras da Europa. Nas favelas, situadas a apenas dois ou três quilômetros dessas áreas turísticas, a taxa de homicídios chega a 150 para cada 100 mil pessoas. A incidência de furtos, roubos em lojas e contravenções é maior em áreas de renda alta, como ocorre em países desenvolvidos.

Crimes violentos: As taxas de homicídio estão subindo, principalmente entre jovens do gênero masculino. O aumento da violência é atribuído à proliferação de armas de fogo ilicitamente adquiridas para o tráfico de drogas e crimes domésticos. O primeiro levantamento da vitimização realizado no Brasil foi levado a cabo em 2001. O segundo será concluído em 2004. Por meio desses levantamentos, será possível monitorar a tendência de diversos fatores relacionados a atividades criminosas.

Crime organizado: O crime organizado envolve o tráfico de drogas, armas de fogo, seres humanos, ouro e espécies ameaçadas de extinção, assim como a lavagem de dinheiro. Ele envolve também organizações criminosas locais e internacionais. Algumas medidas foram tomadas (com algum sucesso) para atacar o crime organizado por meio do desmantelamento de grupos envolvidos nessa atividade.

Corrupção: Observa-se uma preocupação crescente com a corrupção, principalmente no setor público. Estão sendo empreendidos esforços para promover uma boa governança e a transparência, mas ainda há muito a ser feito para se alcançar resultados sustentáveis.

Prevenção do Crime: As classes média e alta estão tentando prevenir o crime contratando os serviços de empresas privadas de segurança. Atualmente, essas empresas privadas empregam 1,5 milhão de agentes — três vezes o número dos agentes das forças policiais do governo. Há sinais de que a confiança da população na polícia está aumentando. No entanto, ainda é necessário tomar medidas adicionais.

Reforma do sistema penal: A reforma do sistema penal é considerada uma prioridade pelo novo Ministro da Justiça. Atualmente, a instauração de processos no sistema da justiça penal apresenta problemas cons ideráveis. O longo período entre a prisão e a condenação de réus mina a confiança da população no sistema judiciário.

Cooperação internacional: Em 2003, o Brasil ratificará a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional e seus dois Protocolos: um relativo ao tráfico de pessoas, principalmente de mulheres e crianças, e outro relacionado ao contrabando de migrantes.

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1. HISTÓRICO E VISÃO GERAL DA SITUAÇÃO DAS DROGAS E DO CRIME

O Brasil tem uma extensão territorial correspondente a quase a metade da área da América do Sul. Sua população é de aproximadamente 170 milhões de habitantes, com uma alta concentração de pessoas em áreas urbanas. A taxa média de urbanização no país é de 81,7%, chegando a 93% em algumas áreas (como no estado de São Paulo). O Brasil pertence ao grupo de países recém-industrializados, com infra-estrutura moderna, mercado financeiro globalizado, serviços diversos e parque industrial competitivo. Dos 81,7% que vivem em cidades, há 52 milhões de meninos e meninas abaixo de 19 anos. Estima-se que existam milhões de crianças vivendo em situação de extrema pobreza só nas áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo. É essa pobreza que força crianças a viver nas ruas para tentar sobreviver. As crianças têm diversas ocupações: engraxam sapatos, vendem cigarros, flores, jornais ou chiclete e catam lixo. Algumas delas também se envolvem no tráfico de drogas, em pequenos furtos, em assaltos e em prostituição. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam entre 50 mil e 100 mil crianças e adolescentes portadores do HIV no Brasil As crianças que vivem nas ruas são constantemente aliciadas por gangues de traficantes de drogas. O Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil, de cunho protetor, prevê que crianças abaixo de 18 anos não podem ser presas, a menos que sejam pegas no ato de cometer um crime. Assim, a impunidade das crianças faz delas "aviõezinhos" ideais para as gangues de traficantes. Infelizmente, essas crianças são freqüentemente mortas por saberem demais, roubarem demais ou se verem no meio de fogos cruzados.

A hierarquia do tráfico de drogas nas favelas é vertical. As crianças são recrutadas no nível mais baixo, principalmente para vigiarem o movimento dos pontos de venda. Com o tempo, elas progridem nessa hierarquia e passam a ser mensageiras dos traficantes nos morros. Quando são bem-sucedidas nessa estrutura, logo começam a entregar drogas aos clientes. Os sobreviventes dessas operações podem se tornar "controladores" armados (seguranças que protegem as operações e a renda das vendas de drogas). A maioria desses jovens morre sem ter saído da base dessa hierarquia. Quando um traficante no morro não gosta do trabalho de uma criança ou acha que ela pode se tornar uma testemunha perigosa, ela é simplesmente assassinada.

Para as que trabalham nas ruas de dia e retornam para a sua casa na favela à noite, a vida é dura e inclemente. Para as que vivem nas ruas tanto de dia como de noite, a vida é cruel e curta. E para a grande maioria dos meninos e meninas de rua do Brasil, a probabilidade de alguma coisa mudar é pequena. A prostituição, o uso de drogas, as infecções e o analfabetismo são problemas comuns. Ainda assim, há poucos programas governamentais para satisfazer suas muitas necessidades. Com a continuidade da pobreza, o número de meninos de rua aumenta lentamente, bem como o seu envolvimento com as drogas, a prostituição, o crime e comportamentos de alto risco.

O Brasil é um dos signatários das convenções internacionais sobre drogas de 1961, 1971 e 1988. Suas leis nacionais antidrogas são, de modo geral, consideradas adequadas. A lista oficial de drogas é atualizada regularmente de acordo com os desdobramentos do tráfico e consumo de substâncias ilícitas. O país também é signatário da Resolução do Conselho de Segurança contra o Terrorismo N°. 1373 (2001). No campo do direito penal, o Brasil recentemente tornou-se signatário do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional de 1998. Além disso, o país ratificou diversas convenções e protocolos interamericanos do MERCOSUL.

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O território brasileiro é uma importante porta de passagem para mercados mundiais de drogas ilícitas produzidas na região andina — principalmente cocaína. Suas amplas fronteiras com países produtores de drogas, bem como sua vasta infra-estrutura de transportes fluviais, aéreos e terrestres, oferecem diversas rotas para o tráfico de drogas e de precursores. Mas o governo brasileiro tomou medidas para aumentar significativamente o policiamento antidrogas em suas áreas de fronteira, em regime de estreita cooperação com governos vizinhos. O Brasil não cultiva a folha da coca ou a papoula do ópio. No entanto, uma quantidade expressiva de maconha é cultivada localmente, e a Polícia Federal desenvolve um programa rotineiro de erradicação da maconha nas regiões Nordeste e Norte do país. Adicionalmente, o mercado interno dessa droga é abastecido por plantações no Paraguai. O Brasil produz sete dos 12 precursores internacionalmente controlados necessários para a produção da cocaína. O país também participa ativamente de todas as operações internacionais para o controle de precursores – as Operações Topázio e Purple – e responde a todas as pré-notificações dentro dos prazos estipulados. A legislação brasileira para o controle de produtos químicos foi alterada (em dezembro de 2001), aumentando de 11 para 140 o número de produtos controlados em diferentes níveis. O objetivo é ampliar a capacidade de controle de todos os produtos químicos conhecidos que podem ser usados na produção da cocaína e de outras drogas sintéticas. A violência relacionada às drogas representa um desafio nacional particularmente sério. Dos quase 30.000 homicídios registrados a cada ano, uma grande proporção está relacionada ao abuso e tráfico de drogas. Esses homicídios envolvem principalmente jovens na faixa etária dos 15 aos 25 anos e sua taxa varia muito entre os diferentes estados. Essa elevada taxa de homicídios é parcialmente provocada pela incapacidade das pessoas envolvidas na venda de drogas de acertar sem violência questões relacionadas à divisão de territórios, distribuição e liderança. Em seu "Relatório Mundial sobre a Violência e a Saúde”, a Organização Mundial da Saúde estima que, para cada pessoa assassinada, 20 a 40 são feridas a ponto de precisarem ser hospitalizadas. O impacto dos homicídios e das lesões corporais sobre o público é, portanto, impressionante. O preço da cocaína que clientes ricos pagam para receber a droga em casa está gerando um nicho de mercado. A rentabilidade desse comércio é muito superior ao de qualquer outra atividade econômica, lícita ou ilícita. Por essa razão, a concorrência entre as gangues é acirrada e violenta. Estima-se que a entrega de drogas ilícitas em domicílio no Brasil gere oportunidades de emprego para aproximadamente 20 mil "aviõezinhos". Esses entregadores são, em sua maioria, adolescentes na faixa etária dos 10 aos 16 anos, cujo salário mensal varia de US$300 a US$500. Como esses menores geralmente vêm de famílias pobres, seus salários são freqüentemente mais altos que os de seus pais. Seus colegas os têm em grande estima. Os traficantes lhes oferecem uma oportunidade de se sentir importantes e respeitados na comunidade. As oportunidades de emprego no setor formal para adolescentes de baixa escolaridade, principalmente negros, são muito limitadas. Além desses 20 mil adolescentes que já trabalham como entregadores de drogas, milhares de outros estão esperando por uma oportunidade de entrar nesse negócio altamente lucrativo. Portanto, os traficantes não têm qualquer dificuldade para recrutar adolescentes para entregar drogas. De acordo com a Lei N°. 6.368, Art. 16, a aquisição, posse ou porte de drogas para uso pessoal são proibidos. A pena varia de seis meses a dois anos de prisão. Por essa razão, os clientes ricos preferem pagar preços altos e consumir suas drogas na segurança de sua casa, evitando riscos que possam prejudicar a sua reputação.

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Os adolescentes são protegidos por lei e a possibilidade de serem presos é pequena. As alternativas em termos de renda e de participação na sociedade são muito reduzidas para essas crianças. Portanto, muitos meninos e meninas pobres optam por se envolver em atividades ilegais. Em decorrência dos baixos salários pagos aos policiais estaduais, principalmente aos de graduação mais baixa, eles são forçados a morar com suas famílias em áreas de alto risco controladas por traficantes. Por exemplo, com base em estimativas da polícia do estado do Rio de Janeiro, até 50% dos policiais vivem em áreas de alto risco. As organizações criminosas envolvidas com o tráfico de drogas acham o moderno sistema financeiro existente no país atraente para a lavagem de dinheiro. Porém, o Brasil tem um sistema normativo sofisticado para combater essa atividade, participando de todos os esforços internacionais de repressão nesse sentido. O país já adotou as oito novas recomendações elaboradas pela Força-Tarefa de Ações Financeiras sobre Lavagem de Dinheiro (FATF) após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em relação ao financiamento de atividades terroristas. O sistema bancário nacional é o principal fornecedor de informações para o controle de fluxos de numerário, respondendo prontamente a todas as solicitações de informações de governos estrangeiros. Uma nova abordagem contra o problema da criminalidade está sendo testada mediante o envolvimento da Polícia Federal e das polícias estaduais numa força-tarefa estabelecida especialmente para os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Essa abordagem coordenada está começando a produzir seus primeiros resultados. No entanto, é necessário que se implemente um plano de médio a longo prazo que abranja oportunidades legais de renda. O Brasil conseguiu reduzir a incidência da AIDS resultante do uso de drogas injetáveis de 24,5% para 13% de 1994 a 2001, segundo o Boletim Epidemiológico publicado em dezembro de 2002 pela Coordenação Nacional de DST e Aids. Esse foi um dos resultados da rigorosa implementação de um programa nacional de prevenção do HIV/AIDS. O programa atraiu a atenção de todo o mundo. Como resultado, estima-se que 600.000 casos de contaminação pelo HIV tenham sido evitados nos últimos 10 anos. Isso se deve à implementação de uma política nacional clara e de um programa bem estruturado. Assim, vidas foram salvas, bem como diversos milhões de dólares economizados pelo setor de saúde. A Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), criada em 1998, estimula e coordena medidas voltadas à prevenção das drogas promovendo um diálogo estreito entre o governo federal e os governos estaduais e municipais e a sociedade civil. Essa tarefa não é fácil, considerando-se as dimensões do país e a natureza federativa de seu sistema administrativo e político. Os recursos à SENAD ainda são insuficientes. Em 2003, a Secretaria organizou um seminário para integrar as ações governamentais a nível federal voltadas para fortalecer a Política Nacional Antidrogas (PNAD). Efetivamente, o abuso de drogas no Brasil vem provocando um impacto negativo no país. Originalmente, o Brasil era usado como uma rota do tráfico, pela qual drogas eram enviadas a países desenvolvidos. Atualmente, o país tem um mercado interno de consumo de drogas ilícitas em expansão. O Brasil assinou 20 acordos bilaterais de extradição como uma ferramenta para aplicar melhor a lei e reprimir as atividades do crime organizado. Acordos de assistência jurídica mútua foram assinados bilateralmente com mais de 30 países. A cooperação no campo jurídico e o intercâmbio de informações estão se tornando uma rotina para o governo em seus esforços de combate ao tráfico de drogas. Operações conjuntas são negociadas a cada ano com países vizinhos em bases tanto bilaterais como multilaterais. O fornecimento controlado de drogas a dependentes foi incluído no sistema jurídico brasileiro.

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O primeiro relatório de vitimização foi encomendado pelo Ministério da Justiça ao Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (ILANUD). Esse relatório reflete a situação em 2001 e representa uma importante ferramenta para o desenvolvimento de políticas. O segundo relatório de vitimização está planejado para 2004, financiado pelo Ministério da Justiça. O UNODC iniciou um projeto para combater o tráfico de seres humanos em 2002. O objetivo desse projeto é melhorar os mecanismos disponíveis para enfrentar essa modalidade do crime organizado por meio de uma análise de situação, de uma maior capacidade de investigação e instauração de processos, do treinamento do pessoal das organizações envolvidas e de uma campanha de conscientização. O sistema penitenciário, com raras exceções, não consegue reabilitar e reinserir detentos na sociedade. Por essa razão, o país apresenta uma taxa elevada de reincidências (superior a 50%). Isso representa um enorme custo direto e indireto para o governo e a sociedade como um todo — além de sobrecarregar o sistema penitenciário.

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2. ESTATÍSTICAS RESUMIDAS

Tabela 1 Estatísticas resumidas gerais

Valor do Média comparativa agregada Indicador País Desenvolvimento

humano elevado Países em

desenvolvimento Classificação no Índice de Desenvolvimento Humano (2001) 69 de 162 Território Tamanho do país (km2)(2002) 8.514.215,3 Terras cultiváveis (km2)(1999) 532.000 População População (milhões) (2002) 169,7 Crescimento demográfico (%) (2001) 1,3 0,30 1,40 Expectativa de vida ao nascer (anos) (2000) 68,1 77,30 64,50 População de 15 anos ou mais (%) (2000) 71,0 80,50 66,60 População na faixa etária dos 15 aos 24 anos (%) 20,0 13,60 18,60 Parcela da população urbana (%) (2001) 81,7 (1998) 78,1 (1998) 39,0 Desenvolvimento Econômico Crescimento do PIB (%) (2001) 1,5 1,00 2,50 PIB per capita, US$ atuais (2001) 2.923 (1998) 21.770 (1998) 3.260 PIB PPC US$ 2000* 7.625 23.410,00 3.530 Comércio: Importações como percentual do PIB (%) (2001) 14,4 (1998) 21,7 (1998) 30,2 Comércio: Exportações como percentual do PIB (%) (2001) 13,4 (1998) 22,7 (1998) 31,7 Parcela da agricultura no PIB (%) (2001) 8,0 (1998) 2,5 (1998) 13,5 Dívida externa total, % da Renda Nacional Bruta ** (2001) 30,6 42,80 Pobreza e Desemprego População que sobrevive com menos de US$1 por dia (2001)* (%) 11,6 Coeficiente de distribuição de renda (20% mais ricos / 20% mais pobres) (IDH, 2002)

29,7

Taxa de desemprego (dez 2002) 10,5 7,0 (OCDE) (98) Taxa de desemprego entre os jovens n/d 12,8 (OCDE)

(98)

Saúde Gastos públicos com saúde (% do PIB) (1998)* 2,9 6,2 2,2 População com acesso a medicamentos essenciais (%) (1999) 40,0 Médicos por grupo de 100.000 pessoas (IDH, 2002) 127,0 246,0 78,0 Casos de AIDS para cada grupo de 100.000 pessoas (2000) 12,4 Educação Taxa de analfabetismo entre adultos (2002)* 85,6 98,5 72,9 Taxa combinada de matrículas (I e II Graus, ensino superior) (1999)* 80,0 91,0 61,0 Aparelhos de rádio para cada grupo de 1.000 pessoas (2000) 433,0 1.005,0 185,0 Televisores para cada grupo de 1.000 pessoas (2000) 343,0 621,0 162,0 Linhas telefônicas para cada grupo de 1.000 pessoas (2000) 182,0 524,0 58,0 Usuários de Internet para cada grupo de 1.000 pessoas (2000) 0,34 4,97 0,26 Fontes: Banco Mundial, PNUD, DESA, FAO, Ministério da Saúde/Brasil, IBGE, OMS. *Relatório do Desenvolvimento Humano 2002. **Nova terminologia para o PIB.

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2.1. Drogas

Tabela 2 Cultivo (área potencialmente cultivável após a erradicação, em hectares)

1997 1998 1999 2000 2001 2002

Papoula do Ópio * * * *

Folha da Coca * * * *

Maconha 96 112 115 123 127 Fonte: Instituto Nacional de Criminalística – INC – 2002. *N.D.

Fabricação em potencial (em quilos) – não foram relatados dados pelas autoridades brasileiras.

Tabela 3 Erradicação da maconha por região (em toneladas)

1997 1998 1999 2000 2001 Total % de

mudança Norte 16.105 0 12 618.844 1.014.658 16.117 63,9 Nordeste 2.833.436 3.370.019 3.452.136 3.080.496 2.807.320 9.655.591 -8,8 Centro-Oeste 72 427 0 309 1.542 499 399 Sudeste 2.073 659 10.006 0 321 12.738 * Sul 33.168 7 4 12 5 33.179 -58,3 Total 2.884.854 3.371.112 3.462.158 3.699.661 3.823.846 9.718.124 3,3 Fonte: Departamento de Polícia Federal - Coordenação-Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes – CGPRE, antiga Divisão de Repressão a Entorpecentes - DRE, 2002. *Impossív el de se calcular. Aproximadamente 75.000 pés são cultivados em um hectare.

Tabela 4 Apreensões (em quilos)

1997 1998 1999 2000 2001 % de

mudança 31.828 29.167 69.185 157.171 146.672 -8 Resina de maconha (kg) 13 15 34 39 44 5 Cocaína (kg) 4.008 5.844 6.834 4.720 8.344 74 Pasta de coca (kg) 2.261 256 636 697 673 -4 Crack (kg) 131 454 176 56 113 186 Merla¹ (kg) 5 7 4 3 3 1 Cloreto de etila inalante básico (frascos)

11.632 13.829 13.421 12.151 8.026 -46

Morfina (kg) * * 0 * * ** Heroína (kg) * 1 * * 27 ** Psicotrópicos (frascos) * * * * 10 ** MDMA² - ecstasy (unidades) * * * 16.796 1.909 -89 Pó de MDMA (frascos) * * 59.612 * * ** LSD (unidades) 3 1 268 2.368 * ** Psicotrópicos (unidades) 4.398 102.176 75.048 4.862 5.786 19 Fonte: Departamento de Polícia Federal - Coordenação-Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes – CGPRE, antiga Divisão de Repressão a Entorpecentes - DRE, 2002. ¹Pasta de coca produzida no Brasil. ²A abreviação MDMA foi usada neste documento para designar o ecstasy, uma vez que está é a droga anfetamínica mais comum apreendida no Brasil. * Valores não disponíveis. **Impossível de se calcular.

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Tabela 5

Precursores apreendidos pela Polícia Federal (1997-2001) 1997 1998 1999 2000 2001 Total

Acetona (l) 532 143 195 3.096 3.966 Éter etílico (l) 80 48 128 Ácido clorídrico (l) 12 1 1 69 83 Ácido sulfúrico (l) 60 85 1 22 168 Carb. de potássio (g) 1.800 1.800 Bicarbonato de sódio -gás (g)

67 200 267

Éter sulfúrico (l) 12 20 32 Bicarbonato de sódio -líquido (g) 20 5

1.800 1.825

Ácido bórico (g) 40.000 6.000 46.000 Carb. de sódio (g) 100 13.000 13.100 Amônia (l) 10 10 Cloreto de etila (g) 107.222.000 107.222.000 Ácido acético (l) 17 17 Álcool (l) 20 2 22 Éter (l) 50 518 1 569 Soda cáustica (g) 1.000 100.000 101.000 Perm. de potássio (g) 1.615 1.615 Fonte: Departamento de Polícia Federal - Coordenação-Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes - CGPRE, antiga Divisão de Repressão a Entorpecentes - DRE, 2002.

Tabela 6 Hidrocloreto de cocaína apreendido (em quilos)

Ano Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total

1997 742 59 1.665 1.084 458 4.008

1998 1.699 213 1.437 1.698 796 5.843

1999 989 85 1.780 2.050 896 5.800

2000 1.068 176 1.152 1.696 689 4.781

2001 629 204

Total 5.127 737 10.533 9.006 3.373 28.776

Fonte: Departamento de Polícia Federal - Coordenação-Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes - CGPRE, antiga Divisão de Repressão a Entorpecentes - DRE, 2002.

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Tabela 7 Prevalência do abuso de drogas uma vez na vida

Levantamento domiciliar sobre o abuso de drogas (2001)

Tipo de droga Total % % Homens % Mulheres

Maconha 6,9 10,6 3,4 Cocaína 2,3 3,7 0,9 Crack 0,4 0,7 0,2 Merla 0,2 0,3 0,1 Opiáceos (analgésicos) 1,4 1,1 1,6 Estimulantes (anfetamínicos) 1,5 0,8 2,2 Anticolinérgicos 1,1 1,1 1,0 Alucinógenos 0,6 0,9 0,4 Heroína 0,1 0,1 0,0 Esteróides 0,3 0,6 0,1 Barbitúricos 0,5 0,3 0,6 Codeína 2,0 1,5 2,4 Orexigênicos 4,3 3,2 5,3 Benzodiazepínicos 3,3 2,2 4,3 Amostra : 8.589, idades de 18 a 65 anos. Fonte: Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Br asil. São Paulo: SENAD, CEBRID, UNIFESP, 2002.

2.2. Crime

A tabela abaixo mostra os números absolutos e as taxas de mortes violentas para cada 100.000 habitantes de 1999 a 2001 em todas as capitais dos estados brasileiros. Ocorrem 30.000 homicídios a cada ano no Brasil. Portanto, de acordo com os dados mostrados abaixo, 73% das mortes violentas ocorrem nas capitais.

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Tabela 8 Mortes violentas (1999 - 2001) nas capitais e no Distrito Federal

Números absolutos Taxa por 100.000 habitantes Capitais Estados 1999 2000 2001 1999 2000 2001

Porto Velho Rondônia 346 329 385 80,1 94,4 102 Rio Branco Acre 130 158 126 50,1 62,4 48,2 Manaus Amazonas 635 733 574 50,6 52,1 39,5 Boa Vista Roraima 182 166 131 108,9 82,8 62,8 Belém Pará 274 405 421 23,1 31,6 32,3 Macapá Amapá 168 231 120 65,6 81,5 40,6 Palmas Tocantins ... ... 57 ... ... 39,8 Total região Norte 1.735 2.022 1.814 São Luís Maranhão ... 334 388 ... 38,4 43,6 Teresina Piauí ... ... 368 ... ... 50,5 Fortaleza Ceará 699 662 676 33,3 30,9 31 Natal Rio Grande do Norte 271 208 165 39,3 29,2 22,8 João Pessoa Paraíba 198 294 288 33,9 49,2 47,4 Recife Pernambuco 808 1.075 1.205 58,6 75,5 83,8 Maceió Alagoas 425 266 281 54,1 33,3 34,4 Aracaju Sergipe 348 216 217 78,7 46,8 46,3 Salvador Bahia 988 948 994 42,9 38,8 40 Total região Nordeste 3.737 4.003 4.582 Belo Horizonte Minas Gerais 870 994 1.004 40,7 44,4 44,4 Vitória Espírito Santo 411 237 366 151,9 81,1 123,6 Rio de Janeiro Rio de Janeiro 4.089 4.053 3.988 73 69,2 67,6 São Paulo São Paulo 7.126 6.634 6.623 71,5 63,6 63,1 Total região Sudeste 12.496 11.918 11.981 Curitiba Paraná 814 822 1.033 51,4 51,8 63,8 Florianópolis Santa Catarina 40 42 96 14,2 12,3 27,2 Porto Alegre Rio Grande do Sul 608 753 656 46,3 55,3 47,8 Total região Sul 1.462 1.617 1.785 Campo Grande Mato Grosso do Sul 395 389 343 60,8 58,6 50,5 Goiânia Goiás 362 318 572 34,3 29,1 51,5 Distrito Federal Distrito Federal 1.100 1.106 913 55,8 53,9 43,5 Total região Centro-Oeste 1.857 1.813 1.828 Total Brasil 21.287 21.373 21.990 Mortes violentas: homicídios limitados às capitais de cada estado. Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública. IBGE - Censo 2000.

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Tabela 9

Lesão corporal seguida de morte Capitais Números absolutos Taxa por 100.000 habitantes

1999 2000 2001 1999 2000 2001 Porto Velho 3 13 16 1 3,9 4,7 Rio Branco ... 1 0 ... 0,4 0 Manaus 8 10 18 0,6 0,7 1,2 Boa Vista ... 10 0 ... 5 0 Belém 23 21 20 1,9 1,6 1,5 Macapá ... ... 2 ... ... 0,7 Palmas ... ... 3 ... ... 2 Total Norte 34 55 59 3,5 11,6 10,1 São Luís ... 15 23 ... 1,7 2,6 Teresina ... ... 6 ... ... 0,8 Fortaleza 28 49 15 1,3 2,3 0,7 Natal 11 5 2 1,6 0,7 0,3 João Pessoa 5 5 0 0,9 0,8 0 Recife 8 2 25 0,6 0,1 1,7 Maceió 2 ... 1 0,3 ... 0,1 Aracaju 23 ... 2 5,2 ... 0,4 Salvador 13 20 23 0,6 0,8 0,9 Total Nordeste 90 96 97 10,5 6,4 7,5 Belo Horizonte 26 7 1 1,2 0,3 0 Vitória ... 19 1 ... 6,5 0,3 Rio de Janeiro 61 71 101 1,1 1,2 1,7 São Paulo 298 202 208 3 1,9 2 Total Sudeste 385 299 311 5,3 9,9 4 Curitiba 5 12 14 0,3 0,8 0,9 Florianópolis 2 2 0 0,7 0,6 0 Porto Alegre 60 78 63 4,6 5,7 4,6 Total Sul 67 92 77 5,6 7,1 5,5 Campo Grande 13 8 6 2 1,2 0,9 Cuiabá ... ... ... ... ... ... Goiânia 14 24 12 1,3 2,2 1,1 Distrito Federal 54 83 78 2,7 4 3,7 Total Centro-Oeste 81 115 96 6 7,4 5,7 Total Brasil 657 657 640 Fatalidades: homicídio culposo, homicídio culposo no trânsito, outras formas de homicídio culposo; lesão corporal qualificada; roubo seguido de morte; morte suspeita. Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2000.

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Tabela 10 Assaltos

Números absolutos Taxa por 100.000 habitantes Capitais

1999 2000 2001 1999 2000 2001

Porto Velho 2.401 3.778 4.931 775,1 1.128,9 1.440,7 Rio Branco 765 655 685 294,8 258,8 262 Manaus 3.324 4.642 3.368 264,9 330,2 232 Boa Vista 580 237 231 346,9 118,2 110,8 Belém 8.217 10.727 11.187 692,3 837,6 857,7 Macapá 1.304 1.557 509 509,3 549,6 172 Palmas ... ... 257 ... ... 170,3 Total Norte 16.591 21.596 21.168 2.883,3 3.223,3 3.245,5

São Lu ís ... 5.613 5.909 ... 645,2 664,6 Teresina ... 2.315 3.835 ... ... 526,1 Fortaleza 1.304 1.162 1.108 62,2 54,3 50,7 Natal 4.325 6.282 4.372 627,8 881,9 605,4 João Pessoa 2.424 1.137 2.504 415 190,2 412,2 Recife 8.759 10.231 7.554 635,6 719 525,6 Maceió 150 330 300 19,1 41,4 36,7 Aracaju 2.008 ... 3.093 450,7 ... 660,5 Salvador 17.636 16.891 19.875 765,8 691,4 799,6 Total Nordeste 36.606 43.961 48.550 2.976,2 3.223,4 4.281,4

Belo Horizonte 3.065 3.980 2.603 143,3 177,8 115,2 Vitória 975 1.632 960 360,3 558,3 324,3 Rio de Janeiro 29.666 34.897 45.040 529,8 595,7 763,7 São Paulo 110.098 108.815 112.031 1.104,5 1.042,9 1.067,1 Total Sudeste 143.804 149.324 160.634 2.137,9 2.374,7 2.270,3

Curitiba 5.591 9.509 11.257 352,9 599,1 694,8 Florianópolis 645 774 960 228,8 226,1 272,4 Porto Alegre 15.019 18.162 19.526 1.143 1.334,9 1.421,8 Total Sul 21.255 28.445 31.743 1.724,7 2.160,1 2.389

Campo Grande 816 767 1.075 125,6 115,6 158,3 Cuiabá ... ... ... ... ... ... Goiânia 7.287 7.628 9.797 689,8 697,9 881,3 Distrito Federal 15.490 18.385 20.572 786,3 896,3 980,8 Total Centro-Oeste 23.593 26.780 31.444 1.601,7 1.709,8 2.020,4

Total Brasil 241.849 270.106 293.539 Fatalidades: homicídio culposo, homicídio culposo no trânsito, outras formas de homicídio culposo; lesão corporal qualificada; roubo seguido de morte; morte suspeita. Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2000.

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Tabela 11 Roubos

Números absolutos Taxa por 100.000 habitantes Capitais

1999 2000 2001 1999 2000 2001

Porto Velho 5.768 6.862 7.746 1.862,1 2.050,4 2.263,2Rio Branco 2.855 4.127 4.846 1.100 1.630,8 1.853,7Manaus 7.346 11.335 13.744 585,3 806,3 946,6Boa Vista 2.916 2.828 3.419 1.744,2 1.410 1.639,7Belém 13.019 15.264 14.374 1.096,9 1.191,9 1.102 Macapá 5.709 5.499 4.812 2.229,8 1.941 1.626,2Palmas ... ... 1.827 ... ... 1.210,9Total Norte 37.613 45.915 50.768 8.618,3 9.030,4 10.642,3

São Lu ís ... 17.810 18.956 ... 2.047,1 2.132 Teresina ... 10.221 10.503 ... 1.428,8 1.441 Fortaleza 1.015 1.264 1.318 48,4 59 60,4Natal 11.535 14.049 11.293 1.674,3 1.972,3 1.563,8João Pessoa 4.707 3.447 5.354 806 576,5 881,4Recife 10.006 10.581 7.401 726,1 743,6 515 Maceió 508 1.293 908 64,6 162,1 111,1Aracaju 5.859 ... 9.720 1.315 ... 2.075,6Salvador 25.437 30.582 35.268 1.104,6 1.251,8 1.418,8Total Nordeste 59.067 89.247 100.721 5.739 8.241,2 10.199,1

Belo Horizonte 15.412 18.333 14.916 720,5 819 660,3Vitória 2.719 4.846 3.358 1.004,7 1.657,9 1.135,4Rio de Janeiro 32.458 38.123 42.140 579,7 650,8 714,5São Paulo 111.829 107.555 115.380 1.121,8 1.030,8 1.098,9Total Sudeste 162.418 168.857 175.794 3.426,7 4.158,5 3.609,1

Curitiba 16.434 21.228 24.183 1.037,3 1.337,4 1.492,6Florianópolis 14.307 14.948 13.837 5.074,7 4.366,7 3.926,5Porto Alegre 38.838 42.852 43.383 2.955,6 3.149,5 3.159 Total Sul 69.579 79.028 81.403 9.067,6 8.853,6 8.578,1

Campo Grande 7.429 3.507 4.530 1.143,6 528,5 666,9Cuiabá ... ... ... ... ... ...Goiânia 18.297 20.428 26.101 1.732,1 1.869 2.348Distrito Federal 32.809 39.665 47.226 1.665,5 1.933,8 2.251,6Total Centro-Oeste 58.535 63.600 77.857 4.541,3 4.331,2 5.266,5

Total Brasil 387.212 446.647 486.543Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2000.

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Tabela 12 Roubo de veículos (1999 – 2001)

Números absolutos Taxa por 100.000 habitantes Capitais

1999 2000 2001 1999 2000 2001

Porto Velho 340 272 295 109,8 81,3 86,2

Rio Branco 24 81 65 9,2 32 24,9Manaus 574 448 420 45,7 31,9 28,9Boa Vista 240 83 250 143,6 41,4 119,9Belém 364 260 424 30,7 20,3 32,5Macapá ... ... 14 ... ... 4,7Palmas ... ... 90 ... ... 59,6Total Norte 1.542 1.144 1.558 339 206,9 356,7

São Lu ís ... 334 214 ... 38,4 24,1Teresina ... 317 367 ... 44,3 50,4Fortaleza 319 734 1.561 15,2 34,3 71,5Natal 746 692 674 108,3 97,1 93,3João Pessoa 125 94 264 21,4 15,7 43,5Recife 1.426 2.235 455 103,5 157,1 31,7Maceió 193 50 163 24,5 6,3 19,9Aracaju 187 ... 140 42 ... 29,9

Salvador 1.733 1.547 2.026 75,3 63,3 81,5Total Nordeste 4.729 6.003 5.864 390,2 456,5 445,8

Belo Horizonte 2.013 9.498 1.141 94,1 424,3 50,5Vitória ... ... 550 ... ... 185,8Rio de Janeiro 14.036 11.502 11.701 250,7 196,4 198,4São Paulo 59.963 60.646 56.294 601,5 581,2 536,2Total Sudeste 76.012 81.646 69.686 946,3 1.201,9 970,9

Curitiba 8.472 6.139 8.334 534,8 386,8 514,4Florianópolis 619 466 614 219,6 136,1 174,2Porto Alegre 5.315 6.038 6.796 404,5 443,8 494,9Total Sul 14.406 12.643 15.744 1.158,9 966,7 1.183,5

Campo Grande 821 1.052 927 126,4 158,5 136,5Cuiabá ... ... ... ... ... ...Goiânia 1.934 1.459 1.629 183,1 133,5 146,5Distrito Federal 5.541 6.265 6.896 281,3 305,4 328,8

Total Centro-Oeste 8.296 8.776 9.452 590,8 597,4 611,8

Total Brasil 104.985 110.212 102.304Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2000.

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O sistema penitenciário brasileiro (918 estabelecimentos) carece de número suficiente de celas, com raras exceções. A superpopulação dos presídios, freqüentemente, gera rebeliões. A Tab. 13 oferece uma visão geral do sistema penitenciário.

Tabela 13 Sistema penitenciário por estado (julho de 2002)

Distribuição de gênero Estado

Número absoluto de

detentos População

Taxa / 100.000

habitantes Masculino Feminino Total Déficit

Brasil 239.348 169.799.170 133 228.597 10.751 239.348 (58.187) Região Norte 11.871 12.900.704 143 10.817 1.054 11.871 (3.454)

Rondônia 3.052 1.379.787 221 2.722 330 3.052 (1.505) Acre 1.451 557.526 260 1.384 67 1.451 (689) Amazonas 1.901 2.812.557 68 1.364 537 1.901 (843) Roraima 393 324.397 121 370 23 393 (51) Pará 3.020 6.192.307 49 2.993 27 3.020 (15) Amapá 850 477.032 178 808 42 850 (313) Tocantins 1.204 1.157.098 104 1.176 28 1.204 (38) Região Nordeste 32.094 47.741.711 68 30.907 1.187 32.094 (12.082)

Maranhão 2.905 5.651.475 51 2.775 130 2.905 (2.090) Piauí 1.795 2.843.278 63 1.704 91 1.795 (368) Ceará 6.762 7.430.661 91 6.546 216 6.762 (1.923) Rio Grande do Norte 1.168 2.776.782 42 1.120 48 1.168 156 Paraíba 3.151 3.443.825 91 3.043 108 3.151 (1.243) Pernambuco 8.958 7.918.344 113 8.693 265 8.958 (4.613) Alagoas 852 2.822.621 30 798 54 852 (180) Sergipe 1.601 1.784.475 90 1.541 60 1.601 (943) Bahia 4.902 13.070.250 38 4.687 215 4.902 (878) Região Sudeste 147.031 72.412.411 163 140.344 6.687 147.031 (31.758)

Minas Gerais 19.723 17.891.494 110 19.396 327 19.723 (15.501) Espírito Santo 3.774 3.097.232 122 3.580 194 3.774 (1.075) Rio de Janeiro 20.726 14.391.282 144 20.064 662 20.726 40 São Paulo 102.808 37.032.403 278 97.304 5.504 102.808 (15.222) Região Sul 30.597 25.107.616 119 29.493 1.104 30.597 (4.942)

Paraná 9.956 9.563.458 104 9.531 425 9.956 (1.279) Santa Catarina 5.710 5.356.360 107 5.488 222 5.710 (2.025) Rio Grande do Sul 14.931 10.187.798 147 14.474 457 14.931 (1.638) Região Centro-Oeste 17.755 11.636.728 169 17.036 719 17.755 (5.951)

Mato Grosso do Sul 4.435 2.078.001 213 4.321 114 4.435 (2.236) Mato Grosso 2.673 2.504.353 107 2.551 122 2.673 (572) Goiás 5.608 5.003.228 112 5.356 252 5.608 (1.234) Distrito Federal 5.039 2.051.146 246 4.808 231 5.039 (1.909) Fonte: DEPEN/MJ IBGE/2000

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Tabela 14 Polícia Federal: prisões relacionadas a drogas (1997 - 2001)

Ano Art. 12* Art. 16** Total

1997 2.112 330 2.442

1998 2.148 232 2.380

1999 2.224 282 2.506

2000 2.424 275 2.699

2001 2.795 254 3.049

Total 11.703 1.373 13.076 Fonte: Departamento de Polícia Federal - Coordenação-Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes - CGPRE, antiga Divisão de Repressão a Entorpecentes - DRE, 2002. *Lei No. 6.368 (21 de outubro de 1976) Art. 12: Versa sobre o tráfico, a preparação, o cultivo, a venda ou a indução ao uso de drogas e/ou sobre substâncias que causam dependência física e psicológica. Pena: 3 a 15 anos de prisão. **Lei No. 6.368 (21 de outubro de 1976) Art . 16: Versa sobre a aquisição, posse ou porte de drogas para uso pessoal . P ena: 6 meses a 2 anos de prisão.

3. O ANO REVISTO: PRINCIPAIS EVENTOS

3.1. Importantes eventos políticos e econômicos

As eleições gerais de outubro de 2002 marcaram o fim da era de oito anos da administração do Presidente Fernando Henrique Cardoso, sustentada numa coalizão entre o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e outros partidos de centro-direita. Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), assumiu a presidência em 1º de janeiro de 2003 com uma agenda centrada em questões de segurança pública e reformas sociais. A forte desvalorização da moeda registrada a partir de agosto de 2002 (vinculada às eleições presidenciais) desestabilizou os preços internos. A inflação ganhou força no segundo semestre de 2002. O índice oficial de inflação, o IPCA, que o governo usa para definir as taxas de juros, subiu 1,31% no mês eleitoral de outubro, contra 0,72% em setembro. O IPCA acumulado em 2002 foi de 9,91% — muito mais alto do que as expectativas do mercado e acima da inflação de 6,7% anteriormente prevista pelo Governo . Por outro lado, a desvalorização da moeda teve um aspecto positivo, que pode ser observado nas estatísticas do comércio internacional. As baixas taxas de câmbio do real aumentaram substancialmente as exportações, que totalizaram US$60,3 bilhões em 2002. As contas externas apresentaram um superávit de US$13,1 bilhões no final de 2002. As reservas do Banco Central chegaram a US$37,8 bilhões no final do ano.

3.2. Drogas

A Política Nacional Antidrogas (PNAD) foi lançada em 2001 pela SENAD. Na formulação da PNAD, adotou-se uma metodologia participativa que envolveu o governo e a sociedade civil. A SENAD, por meio do CEBRID, publicou em 2002 os resultados do primeiro Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado em 2001. Foram coletadas informações por meio de amostras estratificadas em 107 cidades com mais de 200.000 habitantes (as favelas não foram incluídas na pesquisa). A amostra total incluiu 8.589 entrevistas com pessoas (de ambos os gêneros) com idades entre 12 e 65 anos. De acordo com a pesquisa, 19,4% dos entrevistados relataram que consumiram algum tipo de droga (exceto tabaco e álcool) pelo menos uma vez na vida. Cerca de 6,9% tinham fumado maconha; 5,8% tinham usado inalantes; 2,3% tinham usado cocaína; 1,5% tinha usado estimulantes e 3,3% tinham usado benzodiazepínicos. No que se refere ao acesso a drogas, 45,8% relataram que era fácil comprar cocaína; 15% tinham visto alguém comprando ou vendendo drogas; e traficantes haviam abordado 4% dos entrevistados. A

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pesquisa também indicou que 35% dos entrevistados não tinham o ensino fundamental completo ou eram analfabetos. A SENAD estima que existam 1.360 instituições privadas e comunidades terapêuticas que oferecem tratamentos e serviços de assistência relacionados a drogas no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), apoiada por um comitê consultivo nacional, emitiu os “Padrões Mínimos para Comunidades Terapêuticas” para essas instituições. Até meados de 2003, a estrutura dessas instituições precisará ser adaptada aos padrões mínimos. Será difícil alcançar essa meta sem o apoio financeiro dos governos federal, estaduais e municipais. O Ministério da Saúde montou 50 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em todo o país. Essa inovação na assistência é dirigida a pacientes com problemas associados à dependência de substâncias psicoativas — principalmente aos de renda média ou baixa. O Ministério da Saúde começou a fortalecer a fraca capacidade do Governo de oferecer tratamentos adequados e reintegrar dependentes de substâncias químicas à sociedade. Esses centros públicos prestam uma ampla gama de serviços focados na reintegração e inserção social do paciente e de sua família. Os serviços incluem assistência individual (médica, psicoterápica e de aconselhamento), psicoterapia em grupo, atividades de apoio social, oficinas terapêuticas, assistência domiciliar, assis tência familiar e atividades comunitárias. A meta é estabelecer 250 centros desse tipo em 2004. No entanto, observa-se a urgente necessidade de se estenderem as atividades dos CAPS para pelo menos 1.000 municípios, de modo que aproximadamente 20% de todos os municípios do Brasil possam ser atendidos até 2006.

A experiência mostra que o investimento de recursos em tratamentos, de modo que serviços de qualidade possam ser prestados, reduz a criminalidade substancialmente. A taxa de crimes que geram renda — como os roubos, os assaltos e a prostituição — cai consideravelmente. Isso contribui para melhorar a saúde e a segurança pública no nível da família, da comunidade e do país. Em outra palavras: o não-tratamento da dependência de drogas causa inúmeros prejuízos econômicos e sociais para o país.

A SENAD tem consciência da responsabilidade do Brasil em relação aos países vizinhos e da vulnerabilidade de suas vastas fronteiras. Assim, ela propôs e está liderando a implementação de um projeto para reduzir a demanda por drogas envolvendo quatro importantes pontos de suas fronteiras com a Argentina, a Bolívia, o Paraguai e o Uruguai.

Um estudo que compara pesquisas realizadas entre estudantes do ensino médio foi realizado em 10 capitais em 1987, 1989, 1993 e 1997. Ele indicou que 24,6% dos estudantes usaram drogas psicoativas em algum momento de sua vida. No Rio de Janeiro, 22% usaram drogas uma vez e 2,4% usavam drogas freqüentemente. Uma análise de tendências revelou um aumento no uso de cocaína uma vez na vida, bem como em seu uso intensivo (mais de 20 vezes por mês) em oito capitais brasileiras.

Uma força-tarefa especial foi criada para coordenar as atividades de controle de organizações criminosas e do tráfico de drogas nos três níveis de governo. A primeira atividade dessa força-tarefa foi desenvolver um plano de ação para os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, onde as atividades do crime organizado eram mais óbvias. No Rio de Janeiro, diversos traficantes de drogas foram presos. Essas prisões desbarataram as atividades das organizações criminosas, além de reduzirem a oferta de drogas. No Espírito Santo, sinais de que o crime organizado envolvia membros do Poder Legislativo forçaram a Polícia Federal a agir coordenadamente para desmantelar as organizações.

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3.3. Crime

O maior problema relacionado ao crime em 2002 foi uma série de rebeliões em penitenciárias federais. A organização criminosa conhecida como o Primeiro Comando da Capital (PCC) iniciou rebeliões nas maiores penitenciárias de São Paulo e de outros estados simultaneamente, que revela o alto grau de corrupção existente nesses estabelecimentos. Essa corrupção inclui o comércio de armas, drogas, dinheiro e celulares dentro das prisões. Os telefones celulares permitem que organizações criminosas mantenham o controle sobre suas atividades até mesmo de dentro de uma penitenciária. As rebeliões revelaram a fragilidade do sistema penitenciário brasileiro. As prisões estão superlotadas e sua qualidade, com algumas exceções, é baixa, o que estimula as rebeliões. O dinheiro usado no pagamento de subornos e no comércio ilegal de armas entre os detentos é oriundo, principalmente, do tráfico de drogas. Portanto, a situação do sistema penitenciário descrita acima pode ser considerada um fator que promove os crimes relacionados a entorpecentes. Em alguns casos, os detentos usam drogas como moeda. Organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas têm muito poder dentro das penitenciárias. Para atacar essa violência crescente, o Governo lançou, em 2000, o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP). O PNSP tem um orçamento de aproximadamente US$383 milhões2 e prevê a adoção de ações em nível federal e a cooperação dos estados e da sociedade civil. O Plano, que já foi parcialmente implementado e será mantido no futuro, enfatiza a segurança dos cidadãos, a modernização do sistema penitenciário, a assistência a vítimas e testemunhas ameaçadas e ações contra o tráfico de drogas e o crime organizado. O quadro abaixo mostra as despesas totais do PNSP no período de 2000 a 2002:

Ano Total em reais (R$) Taxa de câmbio média Total em dólares (US$)

2000 304.412.489 1,9 160.217.100

2001 412.280.012 2,3 179.252.180

2002 338.640.372 2,95 114.793.346

Total 1.055.332.873 - 454.262.626

4. CONTEXTO GERAL

4.1. Principais características do país

Indicadores econômicos e sociais3

O trabalho infantil está sendo drasticamente diminuído no Brasil. De 1995 a 1999, o número de crianças trabalhadoras com idades entre 5 e 15 anos caiu 25%: de 5,1 milhões para 3,8 milhões. A mortalidade infantil caiu de 47,8 óbitos para cada 1.000 crianças nascidas vivas em 1991 para 29,6 em 2000. O Estado, reconhecendo sua responsabilidade nas violações de direitos humanos durante a ditadura, criou uma Comissão Especial de Reconhecimento de Mortos e Desaparecidos Políticos para investigar 336 casos. Essa comissão pagou indenizações às famílias de 265 vítimas.

2 A taxa de câmbio das Nações Unidas para o Brasil em 1 de abril de 2002 era de R$ 2,35 para US$ 1,00. 3Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rio de Janeiro, 2000. Todas as estatísticas

excluem a população rural dos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. A população considerada nessas estatísticas inclui pessoas com idade superior a 10 anos, com ou sem uma renda mensal.

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Segundo o Boletim Edipemiológico publicado pelo Programa Nacional de DST e Aids em dezembro de 2002, os óbitos decorrentes da AIDS na população acima de 13 anos de idade caíram de 62,3% para 19% do total de casos registrados entre 1994 e 2001. Esse é o resultado de um amplo Programa Nacional de Prevenção do HIV/AIDS, de maciças campanhas preventivas, da distribuição gratuita de medicamentos e de uma forte parceria entre o UNODC, a UNESCO, o Banco Mundial, o PNUD e a sociedade civil. Em 2002, o salário mínimo estava 27% acima do seu nível no início da década de 1990. A proporção da população que vive abaixo da linha da pobreza caiu de 42% no período de 1990 a 1994 para os atuais 33%. Isso se traduz em nove milhões de pessoas a menos vivendo abaixo da linha de pobreza. No que se refere à reforma agrária, mais de 588 mil famílias foram assentadas entre 1995 e 2001. Nesse período, quase 20 milhões de hectares de terra foram disponibilizados a pessoas sem terra. Ainda assim, o Brasil, com seus 169,7 milhões de habitantes, é um país de enormes contrastes sociais. De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD, o Brasil tem uma das distribuições de renda mais desiguais do mundo: § Pobreza: 33,5% da população (54 milhões de habit antes) ganham menos de US$2 por dia. § Indigência: 11,6% da população (20 milhões de habitantes) ganham menos de US$1 por

dia. O PIB brasileiro cresceu apenas 0,5% ao longo da última década. A renda média per capita era de US$2.923 por ano em 2001. As disparidades econômicas entre diferentes setores da sociedade representam um dos problemas mais importantes do país. O cálculo da renda per capita é fortemente influenciado por uma parcela reduzida da população que tem uma renda consideravelmente mais alta que a da maioria. Se o cálculo excluísse a parcela mais rica da população, a renda per capita seria bem inferior.

Tensão social e crime

Marcada por enormes diferenças econômicas e sociais, a sociedade brasileira enfrenta altas taxas de violência e tensão. Mais de 30.000 homicídios são registrados a cada ano 4, principalmente em áreas urbanas de baixa renda, e envolvem, principalmente, jovens do gênero masculino. O tráfico de drogas e disputas por pontos de distribuição provocam muitos homicídios entre jovens. Nas áreas rurais, a tensão entre trabalhadores rurais sem terra e proprietários de terras gera violência e morte. A violência pode estar indiretamente relacionada à falta de oportunidades. Nos estados do Nordeste, por exemplo, o acesso a direitos e serviços básicos, como de educação e saúde, é limitado.

As disparidades socioeconômicas entre as diferentes regiões do país provocam migrações de áreas afetadas pela pobreza para áreas metropolitanas desenvolvidas, nas quais o número de assentamentos de posseiros vem aumentando. As áreas metropolitanas estão enfrentando importantes fatores macro-sociais de risco associados ao abuso e ao tráfico de drogas e à violência que geram. Sociólogos acreditam que o ciclo do tráfico e a falta de alternativas em relação à renda ilícita podem gerar violência — principalmente em áreas mais pobres ou entre populações vulneráveis, como a dos jovens.

Em 2002, rebeliões comandadas por chefes do crime organizado em prisões por todo o país desafiaram a capacidade do Governo de controlar a violência dentro do sistema penitenciário. De um modo geral, crimes violentos, como homicídios, ocorrem com freqüência e chocam o público.

4 Alguns especialistas afirmam que esse número subiu para 50.000 em 2001.

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4.2. Estatísticas das drogas e do crime

Em 2001, o país subiu cinco posições no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas (IDH). De acordo com o PNUD, o Brasil ocupa a 69a posição entre os 169 países analisados. A taxa de atividade da população é de 74,4% (esse dado inclui a economia formal e informal). Na população economicamente ativa, 85,5% são homens. As taxas mais altas de atividade são registradas no sul e as mais baixas no Norte. Entre a população que trabalha, 44,8 % são empregados, 23,2% são autônomos, 4,1% são empregadores e 9,3% não são remunerados por seu trabalho. A maioria da população (41,2%) trabalha no setor dos serviços, enquanto 24,2% trabalham na agricultura, 19,3% na indústria e 13,4% no comércio.

5. SOBRE AS DROGAS ILÍCITAS

5.1. Produção e cultivo

Produção de Cannabis sativa

A produção de maconha no Brasil é inteiramente vo ltada para o consumo interno. Ela satisfaz a demanda nas próprias áreas de produção e em regiões circundantes – as regiões Nordeste e Norte do país. Algumas organizações criminosas especializadas no tráfico de maconha satisfazem a demanda interna importando o produto principalmente do Paraguai. Após entrar no país, a droga é transportada (geralmente por via terrestre) para os mercados consumidores — principalmente para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Erradicação da maconha

A polícia destrói plantações de maconha no Brasil manualmente. A maconha é cultivada em áreas isoladas dos estados de Pernambuco, Bahia e Maranhão (região Nordeste) e nos estados do Pará e do Amazonas (região Norte). As atividades de erradicação são agrupadas em três fases: (i) inspeção prévia; (ii) destruição das plantações; e (iii) monitoramento de áreas erradicadas. A maconha produzida na região Nordeste é irrigada. Seu ciclo de produção é de 90 dias, permitindo de três a quatro colheitas anualmente. A erradicação é levada a cabo nesses períodos. Nas áreas de cultivo da região Norte (sem irrigação), o ciclo de produção é um pouco mais longo, possibilitando apenas três safras anuais. Estatísticas divulgadas em 2001 revelam que a erradicação aumentou em 3,5%, nesse ano situando-se num nível ligeiramente superior ao divulgado em 2000. Estima-se que uma área equivalente a 126 acres tenha sido erradicada em 2000, contra 123 acres em 2001. Em média, 75 mil pés são cultivados por hectare. As plantações foram consideravelmente diminuídas na região Nordeste. Portanto, houve uma diminuição proporcional no número de pés erradicados (8,86% em relação a 2000). Por outro lado, uma tendência oposta foi observada na região Norte. Nela, registrou-se um aumento no número de culturas erradicadas (63,96% em relação a 2000). Além disso, observou-se uma migração de plantações da região Nordeste para a Norte.

Produção de cocaína

O Brasil não produz a folha da coca. Descobriram-se pequenas plantações de epadu (arbusto de coca com um teor mais baixo de alcalóide) na região Norte, na fronteira com Colômbia, Peru e Venezuela. Essas plantações são quase exclusivamente destinadas ao consumo

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tradicional das folhas por comunidades indígenas e algumas seitas religiosas. O processamento do hidrocloreto de cocaína também é insignificante.

Produção de heroína

Até o presente momento, a Polícia Federal não registrou nenhum plantio da papoula da heroína ou ocorrências do processamento da droga no Brasil.

5.2. Fabricação

Produção de drogas sintéticas

Nos últimos anos, a Polícia Federal não registrou nenhum produção clandestina de drogas sintéticas no Brasil. No entanto, ela desenvolveu um sistema de vigilância permanente para identificar tendências de mercado por meio de seu serviço de inteligência e do intercâmbio internacional de informações. Entre as drogas sintéticas, o ecstasy é a que mais preocupa as autoridades brasileiras.

5.3. Tráfico internacional

O Brasil é particularmente vulnerável ao tráfico por sua proximidade dos principais países produtores de drogas da América Latina. A geografia do país oferece possibilidades de grande mobilidade para a rede do tráfico, dificultando a aplicação de medidas de controle. A infra-estrutura nacional é utilizada por organizações criminosas para suas atividades ilícitas. Geograficamente, o Brasil está estrategicamente localizado no meio de uma rede global de produção de drogas. Essas características criam condições de tráfico e um mercado consumidor atraentes para os traficantes de drogas, que usam o país como rota de exportação ou como um ponto de depósito de cocaína.

Rotas usadas no tráfico da maconha e de seus derivados

Uma importante parcela do mercado consumidor da maconha no Brasil consome a droga produzida no Paraguai. A maconha entra no Brasil por via terrestre ou aérea pelas fronteiras dos estados do Mato Grosso do Sul e do Paraná. Especificamente, a droga entra no país pelas cidades de Ciudad del Este/Foz do Iguaçu, Sal del Guayra/Guaíra, Pedro Juan Caballero/Ponta-Porã ou Fuerte Olimpo/Porto Murtinho. Posteriormente, ela é trazida para os mercados consumidores, situados nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal. Às vezes, ela chega à região Nordeste, da Bahia ao Rio Grande do Norte.

Rotas do tráfico da cocaína e de seus derivados

A cocaína que entra no Brasil para satisfazer a demanda interna geralmente vem da Bolívia, da Colômbia e do Peru. Ela chega pela via terrestre, fluvial e aérea pelas fronteiras do Paraguai, principalmente por áreas próximas da Ciudad del Este/Foz do Iguaçu, da represa de Itaipu, de Sal del Guayra/Gua íra, de Pedro Juan Caballero/Ponta-Porã e de Fuerte Olimpo/Porto Murtinho. A cocaína que vem da Bolívia entra no país principalmente pelas cidades de Puerto Suarez/Corumbá, San Mathías/Cáceres, San Joaquín/Custo Marques, Guayara Mirim/Guajará-Mirim e Cubijas/Brasiléia. A que vem do Peru entra pelas cidades de Anaparí/Assis Brasil e Cruzeiro do Sul, Iquitos/Estirão do Equador, Atalaia do Norte e Benjamin Constant. A que vem da Colômbia entra pelas cidades de Leticia/Tabatinga e pelos rios Amazonas/Solimões, Putumayo/Iça, Caqueta/Japurá, Vaupes/Vaupes, Içana/Içana, Guainia/Negro. Uma vez no Brasil, a cocaína é transportada para diversos locais, segundo a conveniência dos traficantes e a demanda do mercado.

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A cocaína que entra no Brasil para ser enviada a outros países geralmente vem da Colômbia. Ela é produzida nas regiões Sul e Sudeste daquele país e entra no Brasil transportada em pequenos aviões; depois é geralmente “reexportada” em navios para a África, Argentina, Guiana, Itália, Portugal, Países Baixos, América do Norte, Espanha, Suriname e Reino Unido. Mais comumente, a cocaína sai da Colômbia, passa pelos estados de Mato Grosso e Goiás, no Brasil, e volta para o Norte pelo Suriname. De lá, ela é principalmente enviada para os mercados europeus e, numa quantidade menor, para os Estados Unidos5.

Rotas do tráfico de heroína

Em relação ao tráfico de heroína, duas coisas devem ser observadas: (1) os casos isolados registrados em 2001 e 2002 indicam que o Brasil está sendo usado por traficantes de drogas (mulas) para transportar heroína para os mercados consumidores, (2) com apenas quatro apreensões de heroína relatadas pela Polícia Federal (1998, 2001 e 2002), não há evidências concretas de que exista uma organização criminosa brasileira envolvida no tráfico de heroína. Uma vez que a Polícia Federal não elabora relatórios sistemáticos sobre apreensões de heroína no Brasil, as rotas usadas pelos traficantes não são precisamente conhecidas. No entanto, os dois casos relatados nos últimos três anos indicam que a droga entra no Brasil por sua fronteira com a Venezuela, em Santa Elena/Pacaraima, no estado de Roraima, de onde segue para São Paulo e é enviada para o exterior, possivelmente para os Estados Unidos. Os traficantes de heroína estariam usando mulas para transportar a droga de Buenos Aires (Argentina) ou Montevidéu (Uruguai), passando por São Paulo (Brasil), para Nova Iorque (Estados Unidos) e a Europa.

Rotas do tráfico de drogas sintéticas

As drogas sintéticas, especialmente o ecstasy, vêm principalmente da Europa (especialmente dos Países Baixos). Elas geralmente entram no Brasil em pequenas quantidades, em aviões ou por meio de encomendas postais e são consumidas em cidades grandes – como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza.

Apreensões de maconha

Comparando-se as apreensões feitas em 2001 e 2000 observa-se uma queda de cerca de 7,97% nas mesmas, de aproximadamente 160 toneladas para 146 toneladas de maconha apreendida. Esses números não devem ser considerados indicadores de que o tráfico, o comércio e o consumo diminuíram. Também não devem ser interpretados como indicativos de que o controle da polícia é fraco. Não há qua lquer estudo técnico que permita chegar-se a essas conclusões. Deve-se observar que essa queda foi registrada apenas para apreensões de maconha. Na verdade, houve um ligeiro aumento nas apreensões de outras drogas. É importante enfatizar, também, que alguns traficantes importantes foram presos em 2001.

Apreensões de resina da maconha

Embora a resina da maconha não seja uma droga popular no Brasil, a Polícia Federal registrou um ligeiro aumento em suas apreensões em 2001: 4,64%. Como observado para a maconha, não há sinais de que ocorrerão mudanças importantes em seu tráfico, consumo ou apreensão no país.

Apreensões de cocaína

O expressivo aumento nas apreensões de cocaína e de seus derivados registrado em 2001 (73,76%) não significa que tenha havido um aumento proporcional em seu tráfico e consumo. 5 Com base em dados fornecidos pela Polícia Federal.

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Não há qualquer estudo técnico que corrobore essa conclusão6. No entanto, alguns fatores podem ter influenciado o aumento das apreensões de cocaína:

a. Ações de inteligência voltadas para as atividades das principais organizações criminosas envolvidas no tráfico de cocaína;

b. Treinamento da polícia no desmantelamento do crime organizado; c. Estabelecimento de programas a serem desenvolvidos em áreas estratégicas; d. Coordenação de atividades operacionais e de inteligência, que foram executadas

com uma maior participação das unidades descentralizadas; e. Compra e uso de equipamentos tecnológicos mais adequados para as ações

policiais; f. Mais opções de rotas para os traficantes no Brasil; g. Operações conjuntas mais intensivas com países vizinhos; e h. Aumento na produção, transporte, comércio e demanda de cocaína em nível

global.

Apreensões de pasta de coca

As apreensões de pasta de coca permaneceram estáveis em relação a 2000, com um ligeiro aumento de aproximadamente 3,51%. É possível prever que essa tendência será mantida no ano que vem, já que não foram identificados laboratórios importantes de processamento de pasta de coca ou sinais de futuras instalações de laboratórios desse tipo.

Apreensões de crack

No Brasil, o nível de demanda por crack (um derivado da cocaína) varia de acordo com a área. Por exemplo, a droga é mais comercializada e consumida no estado de São Paulo, uma região altamente desenvolvida economicamente. No entanto, ela também pode ser encontrada em algumas áreas pobres. Como é barata, ela pode ser facilmente comprada pela população de baixa renda. As apreensões de crack em 2001 foram significativamente mais altas do que no ano anterior, chegando a uma diferença de 186,25%. Não há estudos técnicos ou dados confiáveis que permitam prever quais seriam as tendências de comércio e consumo dessa droga no Brasil nos próximos anos.

Apreensões de heroína

Os analistas do tráfico de heroína declaram que há uma tendência de a América do Sul ser usada como rota de trânsito da droga para a América do Norte e a Europa, pois seus traficantes estariam tentando evitar as barreiras impostas pelos países consumidores após os ataques terroristas de 2001.

6 Com base numa análise das apreensões de cocaína em 2001, observou-se que a região Centro-Oeste se tornou a

principal rota do tráfico de drogas para o Brasil. Nela, foram apreendidos 4.500kg da droga em 2001. Esse número equivale a aproximadamente 54% de todas as apreensões registradas em 2001, contra 23% em 2000. Logo depois vem a região Sudeste, com cerca de 30% das apreensões em 2001, contra 36% em 2000. A região Norte respondeu por 7,5% de todas as apreensões em 2001, contra 23% em 2000. A região Sul apresentou uma taxa de 6% em 2001, contra 14% em 2000. Na região Nordeste, as apreensões corresponderam a 2,5% do total em 2001, contra 4% em 2000. Considerando-se todas as apreensões de cocaína no país, observou-se um aumento relativo de 73,76% em relação a 2000. Isso se deve, principalmente, ao aumento das apreensões registradas na região Centro-Oeste (de aproximadamente 290%). As apreensões na região Sudeste também aumentaram muito em 2000 e 2001: 46,09%.

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Drogas sintéticas

As projeções mundiais indicam que houve um aumento na produção e consumo de drogas sintéticas, principalmente de MDMA (ecstasy). Atualmente, esses estimulantes representam um dos segmentos mais importantes e lucrativos do mercado internacional de drogas ilícitas. Segundo especialistas, a meta-anfetamina é a maior concorrente da cocaína entre consumidores de estimulantes, em muitas partes do mundo. A demanda por meta-anfetaminas e outros estimulantes sintéticos, entre os quais a MDMA, aumentou não apenas nos países industrializados, mas também em alguns países em desenvolvimento. Esses estimulantes podem ser facilmente produzidos, porque a sua produção não depende de safras, como ocorre com as drogas produzidas a partir das folhas da coca ou da papoula do ópio. Esse fato atrai pequenos produtores e importantes cartéis internacionais. Além disso, as drogas sintéticas permitem que todo o processo (da produção à distribuição e à comercialização nas ruas) seja controlado por uma única organização criminosa, garantindo, assim, lucros mais altos. A polícia brasileira não tem dados e estudos confiáveis para identificar precisamente as rotas do ecstasy. No entanto, sabe-se que a droga entra no Brasil vinda de países europeus – principalmente da Bélgica, da Alemanha e dos Países Baixos.

5.4. Desvio de drogas e precursores

De acordo com Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), o faturamento dessa indústria em todo o mundo é superior a US$ 1,59 trilhão. A exportação mundial de produtos químicos movimenta US$ 528 bilhões por ano. A indústria química brasileira situa-se entre as dez maiores do mundo na produção de produtos químicos. Para regular os precursores químicos, o Brasil está desenvolvendo um sistema flexível concebido para controlar o fluxo de precursores sem acarretar barreiras indesejáveis para a indústria e o comércio. A Polícia Federal é responsável pelo monitoramento e controle de 140 produtos químicos, entre os quais precursores químicos que podem ser usados na fabricação da cocaína e de drogas sintéticas. O Brasil produz sete dos 12 precursores químicos sujeitos a um rígido controle por parte da Polícia Federal. Esses precursores são os seguintes:7 acetona ou 2-Propanona, metil-etil-acetona ou 2-Butanona, ácido sulfúrico, cloreto de metileno (dicloreto de metileno ou diclorometano), ácido clorídrico, anidrido acético, clorofórmio, cloreto de etila, éter etílico, permanganato de potássio, sulfato de sódio e tolueno. A tabela 5 mostra os resultados das atividades de controle de precursores químicos.

5.5. Preços das drogas

As drogas ilícitas mais populares vendidas no Brasil são a maconha, a cocaína, a pasta de coca, a merla e o crack. A cocaína que entra no país é armazenada nas proximidades de áreas metropolitanas, para distribuição posterior. A maior parte da cocaína é transformada em crack localmente. O crack é a droga preferida da população de baixa renda em muitas das cidades mais importantes do Brasil (como São Paulo), menos no Rio de Janeiro. Nas áreas mais pobres desta última, o tráfico de drogas é principalmente uma atividade de varejo. Desde a década de 1980, a cocaína é o produto mais consumido e o que gera os lucros mais altos em relação a outros produtos ilegais. A cocaína é vendida em unidades chamadas papelotes, que são pequenos envelopes com um formato semelhante ao de balas confeitadas, que geralmente contêm meio grama da droga. O preço é determinado pela qualidade do produto e por condições de “mercado”, como a presença da polícia em áreas do tráfico. O 7 Fonte: Procedimentos para o Controle de Produtos Químicos, Ministério da Justiça, 1998.

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mercado também oscila de acordo com datas especiais, como o carnaval e feriados. Em Brasília, a merla (um derivado da pasta de coca) é mais comum na periferia da cidade, por ser a droga mais barata disponível. Uma lata de merla (aproximadamente 40g) custa de US$10 a US$15, aproximadamente. Antes de chegar às mãos dos consumidores, o preço da droga aumenta em proporções geométricas. Enquanto um grama de cocaína custa US$1,5 nos países produtores, o consumidor no Brasil pode pagar US$4 ou US$5 nas favelas pela mesma quantidade. A entrega de drogas em domicílio para clientes ricos é um negócio lucrativo em importantes cidades. No Rio de Janeiro, esse serviço custa US$20 por grama de cocaína. No que se refere à maconha, o estado de Pernambuco, situado na região Nordeste do Brasil (Polígono da Maconha), particularmente, chama a atenção do governo. Estima-se que um produtor possa ganhar até US$ 150 por mês (em média) plantando maconha. O preço de 1kg de maconha para o produtor é inferior a US$30. Esse mesmo quilo pode ser vendido por aproximadamente US$220 nas ruas. No que se refere à pureza da droga, não há informações disponíveis sobre esse aspecto e não se realizou qualquer pesquisa nessa área.

5.6. Demanda

O lançamento do PNSP representou um marco importante na luta contra o problema das drogas no Brasil. Ele reafirmou o compromisso do governo brasileiro com o estabelecimento de objetivos e estratégias para reduzir a demanda e a oferta de drogas perante a comunidade nacional e internacional. Essa política reforça o compromisso do governo brasileiro em observar as Convenções das Nações Unidas e os Princípios Norteadores para a Redução da Demanda por Drogas. No entanto, esse compromisso político não foi acompanhado de uma dotação orçamentária para reduzir a demanda. Portanto, na prática, a situação não melhorou. O primeiro Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado em 2001, foi concebido para coletar informações por meio de amostras estratificadas em 107 cidades com mais de 200.000 habitantes. A amostra total incluiu 8.589 entrevistas com pessoas com idades entre 12 e 65 anos de ambos os gêneros. Um outro estudo, intitulado “A Voz dos Adolescentes”, foi realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para apoiar a elaboração e definição de seu programa nacional. Ele foi desenvolvido para 5.280 adolescentes brasileiros de todas as regiões do país e envolveu diversos temas, como lazer, educação, saúde, trabalho, família, violência, drogas, entre outros. O estudo revelou grandes disparidades e dificuldades em relação aos direitos dos jovens. Os dados obtidos para o uso de drogas revelaram que 14,2% dos entrevistados (com idades entre 12 e 17 anos) usavam ou já haviam usado algum tipo de droga ilícita. Cerca de 84,4% deles disseram que nunca haviam usado nenhuma droga. A tabela abaixo mostra essas cifras discriminadas por classe social e divididas em quatro categorias, de A a D —sendo A a mais alta. Pode-se observar que o uso de drogas é mais alto entre as classes A e B e mais baixo nas classes C e D.

Tabela 15

Consumo de drogas por adolescentes por classe social (%) Classe A Classe B Classe C Classe D Não respondeu Usa ou já usou alguma vez 21,6 20,5 11,4 16,5 17,7 Nunca usou 78,4 78 86,9 83,3 80,6 Não respondeu 0 1,5 1,7 0,2 1,7

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Entre os adolescentes na faixa etária dos 12 aos 14 anos, cerca de 8,2% disseram que tinham usado algum tipo de droga ilícita uma vez. Esse percentual aumentou para 20,2% entre adolescentes com idades de 15 a 17 anos. A pesquisa relacionou nove tipos de drogas ilícitas. Observou-se que 9% afirmaram que usavam ou já haviam usado a maconha, que também parece ser a droga ilícita de uso mais freqüente. Em segundo lugar vem a cocaína, com 5% (UNICEF). Algumas abordagens foram usadas para se avaliar o consumo de drogas no país. Elas incluem estudos populacionais entre estudantes e meninos de rua, indicadores do consumo de drogas (hospitalizações por consumo de drogas, etc.) e estudos etnográficos. Todas essas abordagens indicam que o abuso de drogas é um fenômeno de importância crescente no Brasil. As comunidades mais pobres, onde as oportunidades sociais e profissionais são escassas, constituem uma fonte de mão-de-obra barata para os traficantes de drogas. É nessas comunidades que parece existir uma tendência de abuso de drogas em sua forma mais nociva — o uso de drogas injetáveis. O estudo Retrato da Escola, lançado em 2002 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), coletou dados entre 2.351 escolas públicas e privadas do país visando a melhorar a educação pública. O estudo levantou dados sobre a gestão escolar, condições de trabalho, qualidade do ensino e planejamento. Ele também ofereceu dados sobre o uso e o tráfico de drogas na escola e a violência que geram.

Tabela 16 Tráfico de drogas e violência no ambiente escolar

Consumo de drogas (percentual válido) Tráfico na escola (percentual válido) Nunca 68,0 Nunca 78,3 Ocasionalmente 27,8 Ocasionalmente 19,4 Sempre 4,2 Sempre 2,3

Consumo de drogas dentro da escola

(percentual válido) Consumo de drogas fora da escola

(percentual válido) Nunca 79,1 Nunca 59,1 Ocasionalmente 17,6 Ocasionalmente 29,7 Sempre 3,3 Sempre 11,2

Tráfico de drogas dentro da escola

(percentual válido) Tráfico de drogas fora da escola

(percentual válido) Nunca 89,8 Nunca 70,2 Ocasionalmente 8,3 Ocasionalmente 22,6 Sempre 1,9 Sempre 7,2

Esse mesmo estudo mostra dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, que solicitou a jovens que citassem as principais razões para consumir drogas. As respostas mais freqüentes dos jovens foram as seguintes:

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Tabela 17 Evolução das principais razões o consumo drogas

Abr./96 (% ) Out./ 97 (% ) Jan./99 (% )

Para fugir de problemas com a família e os pais 28 27 35 Para ser aceito por um grupo de amigos 11 18 15 Para experimentar novas sensações de prazer 11 11 9 Para sentir-se livre e menos tímido 11 7 9

Para romper as regras da sociedade 6 6 7 Para fugir de pensamentos e sentimentos ruins 9 10 6 Para se sentir à vontade em festas e programas 5 5 4 Para facilitar o estudo e a aprendizagem 4 1 3

Para fazer alguma coisa com o tempo livre 2 2 2 Para aumentar a criatividade 1 1 2 Para se conhecer melhor 2 1 2 Outras razões 2 2 1

Nenhuma dessas respostas/Outras 4 4 2

Não sabe / Não tem uma opinião formada 3 5 3

No que se refere às melhores maneiras de se abordar a prevenção do uso indevido de drogas nessa população, as respostas mais freqüentes dos jovens foram as seguintes:

Tabela 18 Evolução das melhores abordagens para a prevenção do abuso de drogas

Abr./96 (% ) Out./ 97 (% ) Jan./99 (% )

Capacitar a família para discutir o tema com os jovens 57 61 52 Campanhas pela TV e rádio dirigidas aos jovens 51 46 45 Capacitar os professores para discutir o tema com seus alunos 45 50 39 Convidar especialistas para discutir a questão na escola 43 42 33 Capacitar / dar mais informações aos pais - - 33 Distribuir materiais informativos nas ruas e locais freqüentados por jovens

43 40 31

Melhorar as ações repressivas nas escolas, nas ruas e em locais públicos

25 29 31

Instruir médicos a discutir o tema com seus pacientes jovens 19 19 20 Outras respostas 1 2 0 Não sabe / Não tem uma opinião formada 2 1 0

As respostas mostram que disponibilizar informações é essencial. Elas também revelam que as escolas têm um importante papel a desempenhar — mais importante até que o da família — como um agente de educação preventiva. A intervenção das escolas é importante para prevenir e reduzir o abuso de drogas. As condições das escolas públicas precisam ser melhoradas em termos de recursos humanos, materiais e instalações físicas. É importante salientar que condições repressivas são mencionadas com uma certa freqüência nas respostas dos jovens.

5.7. Custos e conseqüências

O uso indevido de drogas entre a população brasileira, de um modo geral, e entre seus jovens, particularmente, aumentou significativamente ao longo da última década. O consumo quatro vezes maior de cocaína entre adolescentes revela que essa tendência representa um problema

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cada vez maior. A dependência de drogas é um problema que acarreta demandas crescentes para os serviços de saúde pública e a sociedade como um todo. De acordo com o Ministério da Saúde, a perda de produtividade e os óbitos prematuros em 1996 representaram 7,9% do PIB. A relação entre o abuso de substâncias psicoativas e a prevalência do HIV/AIDS e o vínculo entre as drogas e a violência constituem os dois principais aspectos que tornam o uso indevido de drogas um problema sério no Brasil. As pesquisas sobre os custos relativos do abuso de álcool e drogas em termos de saúde pública têm-se baseado no custo do tratamento médico, na perda de produtividade de trabalhadores que são usuários de drogas e nos prejuízos sociais causados por óbitos prematuros provocados pelo uso de drogas. De acordo com uma estimativa do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), 5% da assistência especializada de saúde disponível na rede pública estão voltados para o tratamento do uso indevido de drogas (exceto álcool), representando 0,3% do PIB. Considerando os demais custos associados ao uso de drogas, o problema representa 7,9% do PIB, ou US$28 bilhões por ano. De acordo com o DATASUS, o número de hospitalizações relacionadas ao uso de drogas em hospitais públicos triplicou de 1993 a 1997. O aumento correspondente nos custos foi de US$900 mil por ano para quase US$3 milhões. Dados colhidos de 1988 a 1999 pelo Ministério da Saúde indicam que, nesse período, foram registradas 726.429 hospitalizações decorrentes do uso de drogas em hospitais públicos, nas quais o álcool foi a causa principal (90%). As hospitalizações decorrentes do abuso de outras substâncias psicotrópicas cresceram consideravelmente nesse período, passando de 4,7% em 1988 para 15% em 1999. As hospitalizações relacionadas ao uso de cocaína e de seus derivados aumentaram de 0,8% em 1988 para 4,6% em 1999. A tabela abaixo mostra as principais causas das 44.680 hospitalizações decorrentes do uso de drogas registradas em 1999:

Tabela 19 Causas de atendimento em instalações de saúde,

1999 Causas %

Álcool 84,5 Outras substâncias psicotrópicas

8,3

Cocaína 4,6 Maconha 1,3 Inalantes 0,2 Outras 1,1

Segundo um estudo realizado pela UNESCO e o UNODC, intitulado “Avaliação de ações para prevenir DST/AIDS e o consumo de drogas” em escolas de 14 capitais brasileiras, em 2001, o primeiro contato dos adolescentes com drogas lícitas ocorre aos 14 anos de idade. O primeiro contato com drogas ilícitas ocorre aos 15 anos de idade. Um outro estudo realizado em 1997 pela Associação Brasileira de Trânsito detectou traços de álcool em 61% das vítimas de acidentes de trânsito ocorridos em Salvador, Recife, Brasília e Curitiba. De acordo com a pesquisa realizada em Recife, 10% das vítimas (motoristas, passageiros e/ou pedestres) tinham usado maconha. Dois aspectos principais tornam o abuso de drogas um problema sério no Brasil, multiplicando os riscos e aumentando os custos sociais e econômicos para a sociedade: (1) a crescente interface entre as drogas e a violência; e (2) a relação entre o uso de substâncias psicoativas e a prevalência da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis. Alguns

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sociólogos acreditam que o ciclo do tráfico e a falta de alternativas podem ser catalisadores da violência — principalmente em áreas mais pobres ou entre populações vulneráveis, como a dos jovens.

Drogas e violência

O documento “Violência nas Escolas”, publicado pela UNESCO em 2002, é um estudo analítico do fenômeno da violência nas escolas e das diferentes maneiras pelas quais a violência se expressa e é percebida pelos indivíduos envolvidos. Ele revela que a violência tornou-se uma questão social e enfatiza que as escolas e suas imediações deixaram de ser áreas protegidas e preservadas. Elas foram incorporadas ao cotidiano de violência das cidades. A violência afeta a vida e a integridade física, emocional e psicológica de estudantes, professores e pais. A tabela abaixo mostra níveis de segurança no ambiente escolar. Ao todo, 340 escolas foram pesquisadas. Ela leva em consideração a disponibilidade de portões, muros ou cercas, guardas de cancela, controle de entrada, policiais na parte externa, etc. Os percentuais mostram que mais de 50% das escolas apresentam um ambiente inseguro e revelam, também, uma importante diferença entre as escolas particulares (53%) e as públicas (65%).

Tabela 20 Nível de segurança nas escolas

Escolas públicas (%)

Escolas particulares (%)

Total (%)

Ambiente seguro 35 47 39

Ambiente inseguro 65 53 61

O estudo mostra também que 55% dos estudantes sabem onde e de quem podem comprar armas. Ele considera também até que ponto é fácil obter armas nas cercanias imediatas da escola. Cerca de 51% dos entrevistados declararam que seus pais ou parentes têm ou já tiveram uma arma. Em 2002, a OIT lançou um estudo sobre a exploração de crianças e adolescentes por traficantes de drogas na cidade do Rio de Janeiro. O estudo indicou que “a cidade do Rio de Janeiro está testemunhando um processo que tem aumentado a violência praticada por crianças e adultos jovens na cidade". Foram registrados 3.318 delitos praticados por crianças e adolescentes abaixo de 18 anos em 1996. Em 1997, esse número havia subido 50%, totalizando 5.011 casos. A situação atingiu seu nível mais alto em 1998, quando 6.004 casos foram registrados, caindo em quase 10% em 1999. Em 2000, o número subiu ligeiramente, para 5.898 casos. Dados importantes foram obtidos da Vara da Infância do Rio de Janeiro (componente do sistema judiciário), responsável por processos envolvendo crianças abaixo de 18 anos de idade. Entre 1996 e 2000, uma unidade desse sistema cuidou de processos envolvendo 25.488 crianças e adolescentes: 2.612 (11,07%) do gênero feminino e 22.876 (88,93%) do gênero masculino. Em 2000, 59,5% das crianças eram réus primários; 19,11% tinham um antecedente criminal; e 9,33% tinham dois antecedentes. Aproximadamente 10% haviam cometido três ou mais delitos anteriormente. Como os dados revelam, o envolvimento com narcóticos corresponde a 35,5% dos delitos registrados. Desse total, 22,1% são definidos como venda de drogas e 13,4% como abuso de drogas.

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As drogas e a AIDS

O Brasil conseguiu reduzir a incidência da Aids, inclusive da Aids resultante do uso de drogas injetáveis. Segundo o Boletim Epidemiológico publicado em dezembro de 2002 pela Coordenação Nacional de DST e Aids, os casos da doença resultantes do uso de drogas caiu de 24,5% para 13% do total, entre 1994 e 2001. Isso prova a eficácia das medidas tomadas no país para controlar a epidemia. Esse resultado foi logrado por meio da rigorosa implementação de um programa nacional de prevenção do HIV/Aids, que atraiu a atenção de todo o mundo. O Banco Mundial previu que até 2000 o Brasil teria 1,2 milhão de pessoas infectadas pelo HIV. No entanto, o controle da epidemia no Brasil nos últimos 10 anos ultrapassou todas as expectativas. Na verdade, o Brasil começou o século XXI com 597 mil pessoas infectadas com o HIV. Em decorrência da implementação de uma clara política nacional e de um programa bem estruturado, estima-se que aproximadamente 600 mil novas infecções tenham sido evitadas — salvando vidas humanas e economizando muitos bilhões de dólares no setor de saúde. Uma missão de avaliação externa independente, apoiada financeiramente pela UNAIDS, esteve no Brasil em agosto de 2002 para avaliar a contribuição do UNODC para a resposta brasileira ao HIV/AIDS. O relatório da avaliação declarou que “o Brasil é um bom exemplo de como a questão do HIV/AIDS entre usuários de drogas injetáveis poderia ser atacada. O UNDCP (Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas8) tomou a iniciativa de estabelecer estreitas relações de trabalho entre setores de controle e o setor de saúde pública e de ajudar a desenvolver políticas abrangentes e intervenções concretas. O sistema das Nações Unidas também conseguiu mobilizar um amplo envolvimento de organizações da sociedade civil e ajudar a estabelecer redes entre essas organizações. Ao que parece, o impacto de todas essas intervenções estabilizou a taxa de prevalência da doença entre usuários de drogas injetáveis no Brasil”. O relatório salientou também que “os projetos desenvolvidos no Brasil não são apenas um exemplo geral de boas práticas, pois alguns de seus elementos são realmente impressionantes”. Além disso, a avaliação enfatizou que “as intervenções no Brasil estão muito próximas do que o sistema das Nações Unidas considera ser uma abordagem abrangente. Uma rede de rotas de transmissão responde pelos mais de 500 mil casos de infecções pelo HIV estimados no Brasil. A transmissão por homens que fazem sexo com homens (MSM) e usuários de drogas injetáveis tem predominado até o presente momento. No entanto, a epidemia está crescendo, aumentada pela trans missão heterossexual. Em áreas urbanas, a prevalência do HIV em gestantes situa-se na faixa de 1% a 5%. Em nível nacional, 36% dos casos registrados de Aids em crianças estão relacionados ao uso de drogas injetáveis por suas mães ou parceiros. A prevalência entre trabalhadoras sexuais é de aproximadamente 5%. Entre os usuários de drogas injetáveis, ela varia de 6,4% a 64,3%, em decorrência das grandes diferenças regionais observadas no país. De um modo geral, a fase atual da epidemia caracteriza-se por cinco tendências diferentes: (1) uma maior disseminação heterossexual; (2) faixas etárias mais jovens; (3) maior paridade sexual; (4) baixo nível educacional; e (5) maior disseminação em áreas rurais. O vínculo entre o uso de drogas injetáveis e a transmissão heterossexual baseia-se numa análise dos parceiros de pessoas que vivem com Aids. Entre as pessoas diagnosticadas como tendo sido infectadas por meio de relações heterossexuais, 19% dos homens e 38% (2001) das mulheres tinham um parceiro que usava drogas injetáveis. De acordo com o Ministério da Saúde, 25% (2000) dos casos registrados de Aids estão relacionados ao uso de drogas injetáveis e 9,4% (2001) são especificamente provocados pelo compartilhamento de seringas.

8Ao final de 2002, o UNDCP foi renomeado como UNODC.

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ESTUDOS

•RESULTADOS: AJUDE 1 e 2 - CN/UFMG - 1998 e 2001

ESTUDOS

•RESULTADOS: AJUDE 1 e 2 - CN/UFMG - 1998 e 2001

52 41.5

1998 2001

64,7

42,1

7 0

41,3

uso constante de preservativoseringas compartilhadas

SOROPREVALÊNCIA DO HIV %

COMPORTAMENTO

1998 2001

N= 287 869

CIDADES= 05 07

6046,2

1998 2001

SOROPREVALÊNCIA DO HIV %

* 1998 * 2001

A epidemia entre usuários de drogas injetáveis no Brasil segue as principais rotas de transporte da cocaína. Embora exista alguma preocupação com a transmissão do HIV pelo uso da cocaína por via intravenosa, ela parece estar diminuindo no Brasil, segundo uma análise retrospectiva realizada por um centro de tratamento de dependentes situado no Rio de Janeiro9. Embora uma análise recente revele uma desaceleração na disseminação do HIV entre usuários de drogas injetáveis, outros estudos recentes desenvolvidos nas cidades de São Paulo, Campinas e Santos revelam uma preocupante relação entre o uso de crack e a Aids. Além disso, drogas psicofarmacológicas também são comumente usadas na América do Sul — principalmente no Brasil, na Argentina e no Uruguai. Essas drogas são freqüentemente injetadas. Devido à freqüência da necessidade documentada de compartilhar seringas nas amostras brasileiras, o risco de exposição ao HIV pelo sangue persiste. Esse fato é confirmado pelos elevados níveis de hepatite C registrados entre amostras de usuários de drogas injetáveis do Rio de Janeiro e de Santos (duas cidades portuárias da região sudeste). Além de injeções inseguras, as práticas sexuais dos usuários de drogas injetáveis influenciam a disseminação do HIV, inclusive para os filhos que geram. Os fatores de risco para a disseminação do HIV/AIDS incluem o uso de drogas injetáveis, o sexo sem proteção e o sexo comercial. A combinação desses fatores de risco implica riscos significativamente mais altos para as mulheres do que para os homens. Por meio de intervenções de redução de riscos e preventivas, algumas populações de alto risco (como a dos usuários de drogas injetáveis) foram influenciadas a adotar comportamentos sexuais mais seguros. Isso foi confirmado por um estudo intitulado “Ajude o Brasil I e II” como indicado abaixo:

9 Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas – NEPAD/UERJ.

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O quadro apresentado abaixo mostra os investimentos do governo brasileiro (em dólares) no combate ao HIV/Aids e a doenças sexualmente transmissíveis:

5.8. Lavagem de dinheiro

A Lei 9.613, de 3 de março de 1998, criou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Atuando sob a jurisdição do Ministério da Fazenda, o COAF combate o crime da lavagem de dinheiro ou a ocultação de ativos, direitos e objetos de valor. Ele tem as seguintes funções:

a. Coordenar e emitir sugestões para a adoção de sistemas de cooperação e intercâmbio de informações concebidos para oferecer um resposta rápida e eficiente à prática da ocultação de ativos, direitos e objetos de valor;

b. Ser informado a respeito, examinar e identificar quaisquer atividades que levantem a suspeita de que um ato ilegal previsto na lei federal mencionada acima estaria ocorrendo e receber todas as informações pertinentes, respeitando a autoridade de outros órgãos e organismos;

c. Executar e aplicar sanções administrativas; e d. Notificar as autoridades competentes sempre que encontrar evidências concretas da

existência de qualquer dos crimes definidos nessa lei, de modo a permitir que elas tomem medidas adequadas.

O COAF recebeu aproximadamente 134 solicitações de informações sobre transações suspeitas e encaminhou 133 solicitações de informações a outros países. Também recebeu cerca de 16 mil pistas sobre transações suspeitas, 11 mil das quais do setor bancário. Não há dados disponíveis sobre condenações ou apreensões de ativos como resultado dos processos judiciais. Uma ação mais forte do Governo para alcançar resultados concretos em termos de prisões e recuperação de ativos seria altamente desejável, para que o Brasil não perdesse credibilidade em nível nacional e internacional nessa área.

Fonte: Ministério da Saúde, 2001. Obs.:Aproximadamente 13 % dos custos totais estão relacionados a medidas preventivas, 35 % a ações de diagnóstico e tratamento, 46 % a medicamentos e 6 % ao fortalecimento institucional.

Investimentos de Recursos Financeiros em DST/AIDS do Governo Brasileiro

(1997 - 2000)

295

44,6

394

41

430,6

41,9

412,7

64,6

0

100

200

300

400

500

1997 1998 1999 2000

BIRD

Nacional

AnoAno

(US$) Milhões(US$) Milhões

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6. SOBRE O CRIME

6.1. Principais características

A questão da segurança pública tem suscitado uma crescente preocupação no Brasil. Ela é enfocada numa série de ações governamentais previstas no Plano Nacional de Segurança Pública, lançado em junho de 2000 para reduzir a criminalidade e a violênc ia. O Governo do Brasil está implementando projetos específicos para melhorar a segurança pública. O Programa de Reestruturação do Sistema Penitenciário, concebido para melhorar o sistema penitenciário nacional e treinar seu pessoal, está sendo implementado a um custo estimado em US$60 milhões. O Ministério da Justiça está implementando o Programa de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, a um custo estimado em US$4,5 milhões. Ele desenvolverá uma estrutura para a proteção de testemunhas que permitirá a elas testemunhar contra traficantes de drogas e membros do crime organizado. Em 2001, esse programa foi reforçado com uma alocação adicional de US$4,5 milhões.

Há três outros projetos importantes relacionados à luta contra o tráfico de drogas e o crime organizado. O Programa de Modernização da Polícia Federal recebeu US$65milhões, até o momento para atividades destinadas a melhorar a capacidade da Polícia Federal. Com essa finalidade em vista, 21 novas delegacias plenamente equipadas foram criadas em todo o país e mil veículos foram comprados recentemente. No que se refere à redução da demanda, as ações do Governo Federal têm um orçamento limitado. Para realmente produzir um impacto na redução do abuso de drogas, investimentos anuais de cerca de US$100 milhões seriam necessários. A menos que o governo invista mais na redução da demanda por drogas, a situação continuará a se agravar. O orçamento tem sido o mesmo nos últimos dez anos, provocando problemas em termos de saúde e segurança públicas — além de não atender as prioridades do público, como evidenciado recentemente, nas eleições. Em 2002, os governos do Brasil e de Portugal lançaram as bases para a implementação de um projeto contra o tráfico de seres humanos mediante a melhoria de mecanismos existentes.

A região amazônica, que tem uma das maiores florestas tropicais do mundo, está sendo afetada por uma ampla gama de problemas. Entre outros, a mineração ilegal de ouro, desmatamentos a uma taxa de mais de 2.000.000 hectares por ano, o tráfico de drogas, atividades de contrabando e conflitos em torno do uso da terra entre populações indígenas da Amazônia e colonos mais recentes. Para melhor atacar esses problemas, o governo está implementando um ambicioso Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) -composto de uma ampla gama de sensores — envolvendo desde radares fixos a satélites e monitores geofísicos — para colher diversos tipos de dados. Essas informações serão usadas pelo governo para proteger o frágil meio ambiente da Amazônia. O sistema também será usado: para melhorar a segurança aérea; para aumentar a precisão da previsão do tempo; para ajudar na detecção, prevenção e controle de epidemias; para ajudar a administrar a ocupação e o uso da terra; e (acima de tudo) para garantir a efetiva aplicação da lei e o controle das fronteiras.

A despeito dos esforços do governo para conter a criminalidade e de todos os projetos que estão sendo implementados, as taxas de criminalidade aumentaram muito nos últimos dois anos. Os crimes relacionados a drogas, o contrabando de armas, o crime organizado, seqüestros, o tráfico de seres humanos — todos os quais estão associados a uma execução ineficaz da lei e à falta de instalações penitenciárias adequadas — são áreas-chave nas quais ações adicionais do governo são urgentemente necessárias.

6.2. Questões especificamente preocupantes

O aumento do tráfico de drogas no Brasil tem um impacto em potencial sobre a segurança pública, porque promove crimes relacionados a drogas. O Brasil não é um produtor

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importante de drogas ilícitas, mas um país de trânsito para drogas produzidas em países vizinhos e um significativo mercado consumidor dessas substâncias. As autoridades brasileiras e os órgãos de repressão às drogas estão preocupados com as conseqüências do Plano Colômbia. Acredita-se que a luta contra organizações envolvidas no tráfico de drogas na Colômbia, sem destruir completamente a sua infra-estrutura, pode empurrar essas organizações para dentro da região amazônica brasileira. Por essa razão, o governo está fortalecendo suas fronteiras ao Norte com a Colômbia e intensificando operações da polícia e das forças armadas na região. O SIVAM, ainda em fase de desenvolvimento, pode oferecer um meio para garantir um controle mais eficaz da aplicação da lei na região.

Sistema penitenciário nacional

A população carcerária aumentou muito em 2001, produzindo uma taxa de 150 detentos para cada grupo de 100 mil pessoas. As penitenciárias brasileiras não têm capacidade para acomodar todos os detentos. Faltam celas para cerca de 60 mil deles. Uma boa parte desses condenados é mantida em delegacias em condições adversas. Cerca de 90% dos detentos pertencem à população de baixa renda.

Indicadores da criminalidade – análise

A tabela apresentada abaixo fo i elaborada pela Universidade de São Paulo para avaliar o Plano de Prevenção da Violência Urbana (PIAPS). A universidade desenvolveu um banco de dados que inclui informações sobre crimes, informações demográficas e dados socioeconômicos de 78 municípios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco. Esses estados são considerados os mais violentos do Brasil em termos de homicídios. Os municípios foram agregados em três grupos – de alta, média e baixa criminalidade – com base nas taxas de homicídios, assaltos, roubos e de assaltos e roubos de veículos.

Tabela 21 Criminalidade nos estados

Baixa criminalidade

Média criminalidade Alta criminalidade

Bancos por 10.000 habitantes 0,36 0,73 1,04

Micro, pequenas e médias empresas por 10.000 habitantes 32,40 47,03 71,20

População analfabeta (%) 11,7 0,9 0,7

Ruas pavimentadas (%) 46 57 66

Pessoas matriculadas em escolas públicas (de 7 a 14 anos de idade) 1,09 1,17 1,16

Fonte: ILANUD, Das Políticas de Segurança Pública às Políticas Públicas de Segurança, 2002.

A primeira conclusão dessa avaliação foi a de que os municípios mais ricos do estado de São Paulo apresentam as taxas de criminalidade mais elevadas. A tabela 21 mostra também que os municípios com as taxas de criminalidade mais elevadas são os mais ricos e os que oferecem a melhor qualidade de vida. Após uma análise de regressão, a conclusão a que se chegou é a de que os municípios com os melhores indicadores educacionais – taxas de analfabetismo baixas e mais matrículas nas escolas por habitantes – são os que apresentam as taxas de criminalidade mais altas.

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Os municípios que oferecem a melhor qualidade de vida – medida em termos de educação, saúde e infra-estrutura urbana – são os que apresentam as taxas de criminalidade mais altas (principalmente em termos de crimes contra a propriedade). Com base na análise de estudos de vitimização realizados em diversos países, pode-se concluir que, de modo geral, os crimes violentos contra pessoas são “motivados pela pobreza” e diminuem com a redução da pobreza. Os crimes contra a propriedade são, em grande medida, “motivados pela oportunidade” e aumentam à medida que os indicadores de desenvolvimento melhoram (Van Dijk, 1998). Na situação específica de grandes áreas metropolitanas do Brasil, a causa das altas taxas de homicídios entre jovens na faixa etária dos 15 aos 25 anos é, principalmente, a guerra entre gangues. Essas guerras são travadas em torno do controle do lucrativo mercado das drogas. Choques com a polícia também contribuem para a ocorrência de homicídios. É importante observar, nesse contexto, que os “soldados” das gangues representam uma minoria em relação aos milhões de pessoas que moram em favelas e trabalham dura e honestamente.

7. POLÍTICAS

7.1. Drogas

7.1.1. Estrutura nacional para o controle de drogas

No Brasil, a Polícia Federal é responsável por reduzir a oferta de drogas, enquanto a SENAD é responsável pela redução da demanda. O Fundo Nacional Antidrogas (FUNAD) é administrado pela SENAD e financia as atividades dos órgãos coordenadores centrais do Sistema Nacional Antidrogas (SISNAD) para reduzir a oferta e a demanda de drogas. É difícil quantificar os recursos orçamentários totais que são alocados anualmente pelos governos federal, estaduais e municipais para reduzir a oferta e a demanda de drogas no Brasil, em decorrência do grande número de estados e municípios que desfrutam de autonomia política e administrativa e têm, portanto, liberdade para estabelecer e administrar seus próprios orçamentos. Além disso, muitas ações antidrogas são levadas a cabo no âmbito de programas governamentais setoriais nas áreas de saúde, educação, cultura, esporte, trabalho e segurança, sem que se especifique o volume de recursos alocados a atividades classificadas como antidrogas. No Brasil, não existe qualquer sistema integrado para dados estatísticos da Polícia Federal e das polícias estaduais. Portanto, os resultados apresentados pela Polícia Federal em relação à redução da oferta são usados como referência. É importante enfatizar que esses resultados não ilustram a efetiva situação do tráfico e uso indevido de drogas no Brasil. Eles se referem às atividades correlatas desempenhadas pela Polícia Federal e excluem os resultados alcançados pelas polícias civil e militar dos estados. As atividades da Polícia Federal na luta contra o tráfico e o abuso de drogas em 2000 foram comparadas com as levadas a cabo em 2001. Com base nessa comparação, observou-se um aumento de aproximadamente 9% na abertura de processos investigativos. Observou-se, também, um aumento de 10,4% no número de pessoas presas no decorrer do mesmo período.

7.1.1.1. Observância de convenções e legislação nacional

As três convenções internacionais em vigor sobre o controle de drogas (a Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, a Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971 e a Convenção das Nações Unidas sobre o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de 1988) foram assinadas e ratificadas pelo Brasil.

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7.1.1.2. Principais características da Política Nacional Antidrogas

As ações de prevenção da Política Nacional Antidrogas priorizam a participação dos estados e municípios por meio dos Conselhos Antidrogas. Essa estratégia é financiada com recursos federais, estaduais e municipais. As ações repressivas de âmbito nacional são coordenadas pela Polícia Federal. Nos estados, atuam a Polícia Civil e a Polícia Militar.

7.1.2. Controle de substâncias lícitas (medicamentos e precursores)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é responsável pelo controle de produtos farmacêuticos. A legislação brasileira prevê sanções criminais civis e administrativas para o desvio desses produtos. A ANVISA carece de recursos humanos e tecnológicos. Precisa desenvolver um sistema integrado para o compartilhamento de informações, registros e avaliações. Com o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, a ANVISA é responsável pelo monitoramento de substâncias químicas controladas.

7.1.3. Redução da oferta

A estratégia brasileira para reduzir a oferta de drogas baseia-se na Política Nacional Antidrogas, que enfoca, principalmente, a erradicação e interdição de culturas ilícitas. A Polícia Federal é responsável pela implementação de políticas nessa área, de modo geral, e tem o seguinte mandato:

a. Melhorar a segurança dos cidadãos reduzindo a taxa de crimes relacionados às drogas e à violência;

b. Reduzir a oferta de drogas ilícitas erradicando e apreendendo as produzidas no país e fechando as fronteiras para as vindas do exterior;

c. Coordenar as ações do governo nos níveis federal, estadual e municipal; e d. Apoiar todos os órgãos governamentais envolvidos com a aplicação da legislação

relativa às drogas. Essas tarefas são levadas a cabo pelas forças policiais brasileiras em coordenação com autoridades nacionais e estaduais e também com outros países.

7.1.4. Redução da demanda

A SENAD é a organização que articula as atividades de prevenção em nível federal. O Brasil desenvolveu uma estratégia nacional para reduzir a demanda por drogas que envolve diversos órgãos dos setores público e privado. A sociedade brasileira tem sido alvo de diversas campanhas de mobilização coordenadas pela SENAD e implementadas por meio de parcerias com os setores público e privado. Desde 1998, o número de cursos de treinamento profissional em áreas específicas relacionadas à redução da demanda aumentou. Os cursos são oferecidos por organizações governamentais e não-governamentais e são ministrados por profissionais e especialistas nacionais no abuso de drogas e na sua prevenção e tratamento. Existem três organizações voltadas para o tratamento de dependentes de drogas no Brasil:

a. A Secretaria Nacional Antidrogas, que é um órgão da Presidência da República. Na área de tratamento, a SENAD coordena esforços com o Ministério da Saúde para treinar pessoal e melhorar a assistência prestada a usuários de drogas.

b. O Ministério da Saúde, por meio de seu Setor para Álcool e Drogas, enfoca a necessidade de se ampliar o número de unidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Atualmente, existem 50 CAPS no país. O Ministério da Saúde também está trabalhando no sentido de ampliar os serviços hospitalares com pessoal treinado.

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c. A ANVISA estabeleceu requisitos mínimos para comunidades terapêuticas. d. O Ministério da Saúde, por meio da Coordenação Nacional de Doenças

Sexualmente Transmissíveis e Aids (CN/DST e Aids). Entre outras intervenções voltadas para grupos vulneráveis, a atenção e a assistência prestadas a usuários de drogas injetáveis são enfatizadas. Estratégias para reduzir os danos causados pelas drogas foram incluídas na política de saúde pública.

SENAD

Na área de tratamento, algumas das prioridades da SENAD são as seguintes: a. Estimular a sociedade brasileira a assumir a sua cota de responsabilidade, apoiada

por órgãos governamentais em todos os níveis. b. Classificar o tratamento e a recuperação como um processo que consiste em fases e

estágios. Esse processo exige um esforço contínuo e permanente, que deve ser disponibilizado a usuários de drogas que desejam se recuperar.

c. Vincular as iniciativas de tratamento e recuperação a pesquisas científicas – divulgando, multiplicando e advogando somente as experiências que produzem os melhores resultados.

d. Enfatizar, no estágio de recuperação, a reabilitação social e ocupacional. A reabilitação pode romper o círculo vicioso do consumo de drogas/tratamento para muitos dos envolvidos.

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Secretário

Secretário-Adjunto Grupo Assessor e de Apoio

Fundo Nacional Antidrogas (FUNAD)

Diretoria para Litígios e Gestão

Diretoria para Políticas e Estratégias Antidrogas

Diretoria para Tratamento e

Prevenção

Coordenação-Geral para

Tratamentos

Coordenação-Geral para Prevenção

Coordenação-Geral para Litígios do

FUNAD

Coordenação- Geral para Gestão do

FUNAD

Coordenação-Geral de

Planejamento

Coordenação- Geral de Avaliação

Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD)

Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde regula o trabalho dos Centros de Atenção Psicossocial. Essas unidades foram estabelecidas para satisfazer a necessidade da sociedade civil de uma solução baseada na comunidade para o tratamento do abuso de drogas. Elas são usadas em lugar do método tradicional de internação em hospitais psiquiátricos. Além de oferecer assistência e tratamento, essas unidades promovem a reabilitação social de usuários de drogas. A epidemia do HIV relacionada a usuários de drogas representa enormes desafios para a saúde pública e a sociedade como um todo. Ela representa um tema de absoluta prioridade para o governo brasileiro, por meio do Ministério da Saúde, em termos de formulação e implementação de políticas, estratégias e ações para: reduzir a incidência do HIV/AIDS e de outras DSTs; ampliar o acesso aos serviços de saúde e melhorar a qualidade do diagnóstico, aconselhamento, tratamento e assistência médica nas áreas das DSTs, do HIV e da AIDS; e fortalecer as instituições públicas e privadas responsáveis pela prevenção e controle das DSTs, do HIV e da AIDS. Em áreas nas quais um percentual importante de casos de infecção pelo HIV pode ser atribuído ao uso de drogas injetáveis e ao compartilhamento de seringas, programas intensivos de educação sexual e saúde reprodutiva voltados para usuários de drogas e suas redes sociais são enfatizados. Desde 1994, o governo do Brasil vem trabalhando em parceria com o UNODC para prevenir e reduzir o abuso de drogas e a incidência do HIV/AIDS. A meta principal da Coordenação Nacional de DST/AIDS e do UNODC é implementar ações em áreas como a da prevenção em escolas de ensino fundamental, do tratamento do abuso de substâncias, da assistência a órgãos estaduais e municipais e da assistência a pessoas que não têm acesso a serviços adequados,

48

cursos de treinamento e pesquisas. As principais estratégias são as seguintes: promover parcerias institucionais; assistir populações vulneráveis; tornar serviços mais acessíveis a usuários de drogas e pessoas que vivem com Aids; desenvolver a capacidade de organizações estaduais e municipais; identificar lições aprendidas e melhores práticas; divulgar resultados e cooperar com outros países.

7.1.5. Medidas para controlar a lavagem de dinheiro

Após os eventos de 11 de setembro de 2001, o governo adotou todas as oito recomendações complementares aprovadas pela Força-Tarefa de Ações Financeiras sobre Lavagem de Dinheiro (FATF) para impedir atividades relacionadas à essa atividade para fins terroristas.

7.1.6. Cooperação internacional

O Brasil coopera bilateralmente com outros países e participa das comissões do UNODC e da Organização dos Estados Americanos/Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas (OEA/CICAD). O país assinou diversos acordos de cooperação para o controle de drogas com seus vizinhos sul-americanos, os Estados Unidos, o Canadá, diversos países europeus e a África do Sul10. A cooperação da Polícia Federal com outros países foi intensificada, principalmente no âmbito da CICAD, Chefes dos Serviços Nacionais de Repressão de Drogas (HONLEA) e Conferência Interamericana Antidrogas (IDEC). A cooperação operacional do Brasil ao longo de suas fronteiras e a troca de experiências com agentes da polícia de outros países, tanto dentro do Brasil como no exterior, são atividades importantes. Algumas iniciativas de parcerias envolvem países do MERCOSUL (Argentina, Paraguai e Uruguai). Outras iniciativas para operações conjuntas incluem também a Bolívia, a Colômbia e o Peru. O Brasil também participa do Grupo Andino de Inteligência, do qual se tornou membro em 1998.

7.1.7. Legislação (drogas)

Projetos de lei aprovados na última década: - Lei 10.357, de 27 de dezembro de 2001. Estabelece as normas para o controle de produtos químicos que podem, direta ou indiretamente, ser usados na produção de entorpecentes e substâncias psicotrópicas ou gerar dependência física ou química. - Lei 9.804, de 30 de junho de 1999. Altera o Art. 34 da Lei 6.368, de 21 de outubro de 1976, que regula medidas de prevenção e de aplicação da lei contra o tráfico e o uso indevido de entorpecentes ou de substâncias que provocam dependência física ou psicológica. - Lei 9.017, de 30 de março de 1995. Estabelece normas para o controle de produtos químicos e matérias-primas que podem ser usados na produção da cocaína em suas diferentes formas e de outras substâncias entorpecentes que geram dependência física ou psicológica. Ela altera a Lei 7.102, de 20 de junho de 1983, que regula a segurança de empreendimentos financeiros. A Lei 9.017 também estabelece normas para a constituição e o funcionamento de empresas privadas de segurança que oferecem serviços de vigilância e de transporte de bens valiosos. - Lei 8.764, de 21 de dezembro de 1993, que criou a Secretaria Nacional de Entorpecentes. - Lei 7.560, de 19 de dezembro de 1986, que regula a criação do Fundo Nacional Antidrogas (FUNAD) e dispõe sobre bens apreendidos e comprados com recursos oriundos do tráfico de drogas ou de atividades relacionadas a ele.

10 O Anexo II apresenta uma lista desses acordos.

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7.2. Crime

7.2.1. Estrutura nacional para a prevenção de crimes

Instituições para o controle de crimes

Devido à natureza federativa da república brasileira, o país tem diversas forças policiais diferentes. Elas incluem a Polícia Federal, em nível federal; as polícias civil e militar, em nível estadual; e a força policial municipal, em nível municipal. Em alguns municípios, também foi criada uma guarda municipal. A Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça. A Polícia Militar é subordinada, assim como a Polícia Civil, aos governos estadua is _inclusive o do Distrito Federal.

Polícia Federal

A Polícia Federal desempenha um papel importante na luta contra o uso ilegal de entorpecentes e o tráfico de drogas. Além de combater esse último, também investiga infrações penais contra o interesse nacional. Essas infrações incluem crimes contra o sistema previdenciário, "contos do vigário", crimes relacionados a operações de crédito, fraudes (falsificação de documentos, diplomas e cartões da previdência social) e crimes contra bens e serviços nacionais. A Polícia Federal também é responsável por controlar os portos marítimos, lacustres e fluviais do país, bem como seus aeroportos e amplas fronteiras. Ela é responsável ainda pela emissão de passaportes e pelo controle de estrangeiros que entram ou saem do país. Por último, atua como polícia judiciária exclusiva da federação para impedir e punir infrações penais federais e abrir processos relacionados a essas infrações. No âmbito de um acordo com outros países, a Polícia Internacional (Interpol) é responsável por atender a solicitações e fornecer informações sobre ações de prevenção de crimes e execução da lei. Ela também é responsável pela prisão de criminosos procurados em outros países.

Polícia Civil

A Polícia Civil, chefiada por policiais de carreira, é responsável por desempenhar a função de polícia judiciária estadual e pela investigação de infrações penais. Ela desempenha funções administrativas e judiciais. Manter a ordem pública e prevenir crimes constituem a sua atividade administrativa. Investigar crimes, encontrar os que os cometem e fornecer provas para a sua condenação constituem a sua atividade judiciária. Ela assiste o poder judiciário.

Polícia Militar

A Polícia Militar é responsável pelo patrulhamento e manutenção da ordem pública. Ela atua como uma força policial preventiva e também apóia operações especiais mediante solicitação.

Polícia Municipal

De acordo com a legislação (parágrafo 8, Art. 144 da Constituição Federal), os municípios podem estabelecer forças policiais municipais para proteger seus bens, serviços e instalações.

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Tabela 22 Forças policiais por estado (2002)

Organizações policiais no Brasil

Estado Polícia militar

Polícia civil

Polícia rodoviária

federal

Polícia federal

Força policial

total

Policiais por 100.000 hab.

Habitantes por policial

Brasil 361.034 102.554 8.014 7.012 478.614 282,3 354 Norte 30.802 7.306 705 617 39.430 305,2 328 Rondônia 3.476 1.088 215 116 4.895 355,3 281 Acre 2.042 880 ... 49 2.971 533,1 188 Amazonas 6.145 860 60 109 7.174 252,5 396 Roraima 1.212 639 19 41 1.911 589,5 170 Pará 12.487 2.363 277 211 15.338 247,8 403 Amapá 2.385 912 31 33 3.361 706,3 142 Tocantins 3.055 564 103 58 3.780 327,2 306 Nordeste 93.602 18.371 2.516 1.616 116.105 243,5 411 Maranhão 6.298 1.523 240 173 8.234 146 685 Piauí 5.935 1.267 237 111 7.550 265,8 376 Ceará 10.829 2.129 380 289 13.627 183,7 544 Rio Grande do Norte 7.103 886 196 159 8.344 301,1 332 Paraíba 7.105 2.230 224 177 9.736 283,3 353 Pernambuco 17.336 4.202 439 251 22.228 281 356 Alagoas 7.552 1.237 163 104 9.056 321,4 311 Sergipe 5.107 460 122 93 5.782 324,9 308 Bahia 26.337 4.437 515 259 31.548 241,4 414 Sudeste 151.389 53.753 2.172 2.276 209.590 290 345 Minas Gerais 36.580 9.016 721 356 46.673 261,7 382 Espírito Santo 7.854 1.707 209 167 9.937 321,3 311 Rio de Janeiro 33.301 9.312 729 904 44.246 308 325 São Paulo 73.654 33.718 513 849 108.734 294,1 340 Sul 48.361 12.155 1.520 1.184 63.220 252,2 397 Paraná 15.501 3.830 443 427 20.201 211,3 473 Santa Catarina 11.250 2.920 400 238 14.808 277,7 360 Rio Grande do Sul 21.610 5.405 677 519 28.211 277,1 361 Centro-Oeste 36.880 10.969 1.101 1.319 50.269 432,9 231 Mato Grosso do Sul 4.601 1.469 361 211 6.642 320,1 312 Mato Grosso 4.529 1.581 325 117 6.552 262,3 381 Goiás 12.799 3.078 337 224 16.438 329,1 304 Distrito Federal 14.951 4.841 78 767 20.637 1.010 99

Fonte: Pesquisa sobre o Perfil da Polícia/Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, MJ/SENASP/DECASP.

Processos judiciais

A Constituição do Brasil aprovada em 1988 prevê o estabelecimento de um serviço nacional de promotoria (o Ministério Público da União - MPU), cujo mandato está definido na Lei Complementar No. 75, datada de 20 de maio de 1993. O Presidente nomeia o chefe – o Procurador-Geral da República - do MPU e a maioria absoluta do Senado confirma a sua nomeação. Sua função principal é defender a ordem judicial, o regime democrático e interesses sociais e individuais. Ele faz vigorar as medidas necessárias para garantir o respeito ao Poder Público e

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a todos os serviços públicos prestados pelo Estado, garantindo os direitos fundamentais previstos na Constituição. O MPU tem também um órgão externo que controla todas as atividades da polícia.

Os Tribunais

O Supremo Tribunal Federal equivale a um tribunal constitucional. Ele julga casos que lhe são encaminhados pelos Tribunais Superiores federais. Onze ministros compõem esse tribunal, sendo um deles mulher. Em 2002, o tribunal recebeu 160.453 casos. Cerca de 87.313 foram avaliados pelos ministros e 83.097 foram julgados. O Superior Tribunal de Justiça recebe casos dos tribunais inferiores em todo o país e elabora recursos para encaminhamento ao Supremo Tribunal Federal. O tribunal é composto por 33 juízes (três mulheres). Em 2002, os casos a ele encaminhados somaram 184.478 e ele julgou 198.613 (alguns casos eram pendências de anos anteriores).

Estabelecimentos correcionais

Em julho de 2002, as 922 prisões do país (projetadas para alojar 186.500 pessoas) mantinham 239.348 detentos (ou seja, um déficit de 58.187 vagas). Do total de detentos, 228.597 são do sexo masculino e 10.751 são do sexo feminino. A superpopulação das prisões é um problema importante. Ela mina os esforços empreendidos no âmbito de programas de reabilitação e favorece a disseminação do HIV/Aids entre os detentos, que dificulta a garantia dos direitos humanos dos mesmos. O aumento registrado no número total de detentos decorre da morosidade da justiça. O sistema da justiça criminal no Brasil (de origem latina) permite diversas formas de recursos para todos os tipos de casos.

7.2.1.1. Observância da Convenção sobre o Crime Organizado

Em 12 de dezembro de 2000, o Brasil se tornou um signatário da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional. O Protocolo para a Prevenção, Supressão e Punição do Tráfico de Pessoas, Especialmente de Mulheres e Crianças, e o Protocolo contra a Introdução Clandestina de Migrantes por Terra, Ar e Mar também foram assinados naquela data. Em 11 de julho de 2001, o Brasil assinou o Protocolo contra a Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, suas Peças e Componentes e Munições. Todos esses instrumentos dependem da ratificação do Congresso Nacional.

7.2.1.2. Legislação (crime)

- Lei 10.217, de 11 de abril de 2001. Altera os Arts. 1 e 2 da Lei 9.034, de 3 de maio de 1995, que regula o uso de meios operacionais na prevenção e aplicação da lei contra as atividades de organizações criminosas. - Lei 9.303, de 5 de setembro de 1996. Altera o Art. 8 da Lei 9.034, de 3 de maio de 1995, que regula o uso de meios operacionais na prevenção e aplicação da lei contra as atividades de organizações criminosas. - Lei 9.034, de 3 de maio de 1995. Regula o uso de meios operacionais na prevenção e aplicação da lei contra as atividades de organizações criminosas. - Lei 9.437, de 20 de fevereiro de 1997. Cria o Sistema Nacional de Armas (SINARM), define as condições para o registro de armas de fogo e emissão de licenças de porte, define crimes e introduz outras disposições. - Lei 9.614, de 5 de março de 1998. Altera a Lei 7.565, de 19 de dezembro de 1986, para incluir a hipótese de destruição de aeronave.

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7.2.1.3. Instituições responsáveis pelo controle de crimes

Polícia Federal

Diretor-Geral

Corregedoria (CED)

Conselho Superior de

Polícia (CSP)

Diretoria de Polícia

Judiciária (DPJ)

Diretor- Adjunto

Inspetoria- Geral da

Polícia Federal(COGER)

Academia Nacional de

Polícia (ANP)

Instituto Nacional de Criminalístic

a (INC)

Instituto Nacional de Identificação

(DIP)

Diretoria de Inteligência da Polícia Federal

Coordenação-Geral de Prevenção e Repressão a Entorpecentes (CGPRE)

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Secretário

Conselhos

Diretoria de Acompanhamento do Plano Nacional

de Segurança Pública

Departamento de Ações Integradas

da Polícia

Departamento de Cooperação de

Ações de Segurança

Pública

Gabinete

Coordenação-Geral de

Acompanhamento de Ações Antidrogas

Coordenação-Geral de

Operações Especiais

Coordenação-Geral do Subsistema de

Inteligência

Coordenação-Geral de Informações e Estatísticas e

Acompanhamento da Polícia

Coordenação-Geral de Interface para Ações de

Segurança e Garantias de Direitos Humanos

Coordenação da Gestão e

Modernização da Polícia

Coordenação da Gestão do

Fundo Nacional de Segurança

Pública

Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP)

7.2.1.4. Principais características da estratégia nacional para a prevenção de crimes

A estrutura nacional para a prevenção de crimes faz parte do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP). O PNSP tem por objetivo melhorar o sistema público de segurança integrando ações sociais voltadas para a diminuição da violência e a prevenção do crime. O governo federal lançou o PNSP em junho de 2000. Ele abrange 15 compromissos do governo na área da segurança pública. Esses compromissos geraram 124 ações a serem implementadas pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do governo federal e também pela sociedade civil, agências multilaterais de desenvolvimento e organismos internacionais. Uma lei nacional assinada em julho de 1999 faz vigorar o Programa Federal de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas. Portanto, novos procedimentos foram adotados para aumentar a proteção de vítimas e testemunhas, bem como de seus familiares.

7.2.1.5. Acordos de extradição

No Brasil, a extradição é regulada por tratados bilaterais, pela Lei 6.815/80 (título IX, Arts.76 a 94) e pelo Ato do Executivo 8.6715/81 (parágrafo único), que só se aplica a estrangeiros. O procedimento para a extradição está previsto no Art. 20 do Decreto 394 (28 de abril de 1938). Uma solicitação de extradição deve ser encaminhada ao Ministério da Justiça para avaliação. Se considerada pertinente, essa solicitação pode ser enviada ao Ministério das Relações Exteriores para ser formalizada. Ela precisa ser acompanhada por textos da legislação

54

brasileira relacionados ao crime, por uma descrição da pena aplicável, com uma indicação de sua prescrição, e por dados ou informações de esclarecimento. O Ministério da Justiça pode determinar a prisão preventiva relacionada. A solicitação de extradição fica sujeita: (a) à existência de um processo jurídico criminal resultante em condenação por um período de mais de um ano; (b) à emissão de um mandato pelo tribunal pertinente; (c) ao fato de o motivo ser considerado um crime no país solicitante também; (d) à não-prescrição da ação criminal ou à possibilidade de a punição ir além dos prazos prescricionais previstos na legislação do Brasil ou do país solicitante; (e) ao fato de a pessoa em questão não ter sido julgada ou condenada ou absolvida pelo mesmo crime em consideração; (f) ao fato de o crime não ser de natureza política; e (g) à exigência de a pessoa não ser julgada, no país solicitante, por um tribunal de exceção. A solicitação de governo a governo, por meio do Ministério das Relações Exteriores, é fundamental para a formalização do processo de extradição. A Constituição Federal (Art. 5, cláusula LI) determina que "nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei". Essas exceções permitem a extradição de um brasileiro naturalizado, independentemente de o processo administrativo para o ato da naturalização ser declarado nulo. A extradição de um brasileiro naturalizado está sujeita à declaração de compromisso específico de reciprocidade pelo país solicitante. Existindo um tratado de extradição, a solicitação deve vir acompanhada dos documentos previstos nesse tratado.

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BIBLIOGRAFIA OEDT. Relatório Anual sobre a Evolução do Fenômeno da Droga na União Européia e na

Noruega. Luxemburgo: Serviços das Publicações Oficiais das Comunidades Européias,

2002.

UNICEF. A Voz dos Adolescentes. Brasília, UNICEF, 2002.

UNESCO. Violência nas Escolas. Brasília: UNESCO, Coordenação DST/Aids, Ministério da

Saúde, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, CNPq, Instituto

Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME,

2002.

SENAD. Homogeneização de Conhecimentos para Conselheiros Estaduais e Municipais

Antidrogas. SENAD, 2002.

SENAD. I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil. São

Paulo: SENAD, CEBRID, UNIFESP, 2002.

UNFPA. United Nations Population Fund Proposed Projects and Programmes. UNFPA,

2002.

UNFPA. Second Country Cooperation Framework for Brazil (2002-2006). UNFPA, 2001.

CIB - Cuestionario para los informes bienales. Nações Unidas, 2002.

Violência na Escola ou Violência da Escola? Drogas Ilegais e Violência na Escola. CNTE -

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, 2001.

Mecanismo de Evaluación Multilateral – Cuestionario – Segunda Ronda de Evaluación.

Comisión Interamericana para el Control del Abuso de Drogas – CICAD, 2002.

Relatórios do Banco Central do Brasil.

Relatórios do IPEA.

Relatórios da OIT.

Índice de Desenvolvimento Humano, PNUD.

Relatórios do Departamento de Polícia Federal.

Relatórios do Ministério da Justiça (SENASP e DEPEN).

Relatórios do COAF.

Relatórios da CICAD/OEA.

Perfil de País para a África do Sul, Myanmar.

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8. INFORMAÇÕES DIVERSAS IMPORTANTES

8.1. Anexo I

Tabela 23 Emprego: educação e gênero (1994 e 2000)

1994 2000 Educação Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total

Analfabetos 510.522 225.262 735.784 350.269 127.024 477.293 4ª série incompleta 1.812.784 532.653 2.345.437 1.437.108 427.564 1.864.672 4ª série completa 2.794.118 941.794 3.735.912 2.068.059 746.807 2.814.866 8ª série incompleta 2.597.311 1.028.280 3.625.591 2.462.300 977.111 3.439.411 8ª série completa 2.415.637 1.227.091 3.642.728 2.986.747 1.469.955 4.456.702 2º Grau incompleto 1.067.264 701.705 1.768.969 1.402.332 841.826 2.244.158 2º Grau completo 2.046.018 2.384.483 4.430.501 3.105.813 3.227.589 6.333.402 Superior incompleto 403.991 364.619 768.610 485.470 510.427 995.897 Superior completo 1.244.222 1.309.321 2.553.543 1.393.268 1.732.268 3.125.536 Total 14.891.867 8.715.208 23.607.075 15.691.366 10.060.571 25.751.937

Fonte: MTE – RAIS 2000 (Ministério do Trabalho e Emprego, dados de 31 de dezembro de cada ano). Estatísticas gerais (relevantes para o problema das drogas/criminalidade)

Trabalho

Tabela 24 Percentual da população economicamente ativa (acima de 10 anos de idade)

por anos de estudo – 1999 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 anos ou mais

Norte* 28,9 28,2 16,3 26 Nordeste 49,7 24,6 9 16,3 Sudeste 19,1 31,9 17,9 30,7 Sul 18,5 38,5 16,8 24,9 Centro-oeste 25,5 33,5 15,8 24,7 Total Brasil** 28,7 30,9 14,9 24,9 Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 1999 * Excluindo a população rural. ** Excluindo a população rural dos estados de Rondônia, Acre, Amazônia, Roraima, Pará e Amapá.

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Escolaridade

Tabela 25

Taxa de analfabetismo entre a população brasileira 15 anos de idade ou mais

Percentual de

homens Percentual de

mulheres Total

% Norte* 11,7 11,5 11,6 Nordeste 28,7 24,6 26,6 Sudeste 6,8 8,7 7,8 Sul 7,1 8,4 7,8 Centro-Oeste 10,5 11,0 10,8 Total Brasil** 13,3 13,3 13,3 Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. – 1999. * Excluindo-se a população rural. ** Excluindo-se a população rural dos estados de Rondônia, Acre, Amazônia, Roraima, Pará e Amapá.

Tabela 26 Escolaridade dos brasileiros na faixa etária dos 5 aos 24 anos

(percentual) Região 5 a 6 anos 7 a 14 anos 15 a 17 anos 18 e 19 anos 20 a 24 anos

Norte 71,3 95,5 79,6 59,7 31,4 Nordeste 76,9 94,1 76,7 52,8 26,3 Sudeste 71,1 96,7 81,0 53,0 24,9 Sul 60,8 96,5 75,2 44,3 23,7 Centro-Oeste 66,1 96,0 77,8 50,9 25,1 Total Brasil 70,9 95,7 78,50 51,9 25,5 Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2000.

Tabela 27

Matrícula nas primeiras oito séries (1996 e 2000) 1996 2000 Variação (%)

1ª. à 4ª séries 19.817.575 20.024.414 1 5ª à 8ª séries 12.906.795 15.295.853 19 Total de matrículas 32.726.366 35.322.267 8 Total de séries 444.628 614.069 38 Fonte: MEC/Censo Escolar (Ministério da Educação).

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8.2. Anexo II

Tabela 28

Acordos bilaterais - Brasil

País/Tema Título Data de

assinatura Entrada

em vigor

Assistência Judiciária em Matéria Civil e Penal 1 Alemanha Acordo de Garantia de Reciprocidade na Transmissão de

Informações do Registro Penal 15/05/57 15/05/57

2 Argentina Convenção sobre Assistência Judiciária Gratuita 15/11/61 11/07/68 3 Argentina Acordo sobre Cooperação Judiciária em Matéria Civil,

Comercial, Trabalhista e Administrativa 20/08/91 18/07/95

4 Argentina Tratado sobre Transferência de Presos 11/09/98 25/06/01 5 Bélgica Convenção sobre Assistência Judiciária Gratuita 10/01/55 29/07/57 6 Canadá Tratado sobre Transferência de Presos 15/07/92 14/04/98 7 Chile Tratado sobre Transferência de Presos Condenados 29/04/98 26/03/99 8 Colômbia Acordo de Cooperação Judiciária e Assistência Mútua em

Matéria Penal 07/11/97 23/08/01

9 Espanha Convênio de Cooperação Judiciária em Matéria Civil 13/04/89 02/07/91 10 Espanha Tratado sobre Transferência de Presos 07/11/96 30/04/98 11 Estados Unidos da

América Acordo sobre Assistência Judiciária em Matéria Penal 14/10/97 02/05/01

12 França Acordo sobre Cooperação Judiciária em Matéria Civil 28/05/96 12/09/00 13 França Acordo sobre Cooperação Judiciária em Matéria Penal 28/05/96 30/12/99 14 ILANUD Acordo sobre Cooperação na Prevenção de Crimes e no

Tratamento de Criminosos 30/11/89 19/03/97

15 Itália Tratado Relativo à Cooperação Judiciária e ao Reconhecimento e Execução de Sentenças em Matéria Civil

17/10/89 02/05/95

16 Itália Tratado de Cooperação Judiciária em Matéria Penal 17/10/89 09/07/93 17 Japão Acordo sobre Assistência Judiciária 23/09/40 01/11/40 18 Países Baixos Convenção sobre Assistência Judiciária Gratuita 16/03/59 20/05/64 19 Países Baixos Acordo sobre a Extensão ao Suriname e às Antilhas

Neerlandesas da Convenção sobre Assistência Judiciária Gratuita de 1959

16/11/64 16/11/64

20 Peru Acordo sobre Assistência Judiciária em Matéria Penal 21/07/99 29/08/01 21 Portugal Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta 22/04/00 19/09/01 22 Portugal Tratado de Assistência Mútua em Matéria Penal 07/05/91 30/11/94 23 Portugal Tratado de Extradição 05/07/91 02/12/94 24 Reino Unido Acordo sobre Transferência de Presos 20/08/98 28/01/02 25 Uruguai Acordo sobre Cooperação Judiciária em Matéria Civil,

Comercial, Trabalhista e Administrativa 28/12/92 10/04/96

Direito Penal, Contrabando e Entorpecentes 26 Argentina Acordo sobre Cooperação para a Prevenção do Uso Indevido e

Combate ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

26/05/93 09/10/95

27 Bolívia Convênio de Assistência Recíproca para a Repressão do Tráfico Ilícito de Drogas que Causam Dependência

17/08/77 28/04/78

28 Chile Acordo sobre Cooperação para a Redução da Demanda, Prevenção do Uso Indevido e Combate à Produção e ao Tráfico Ilícitos de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

26/07/90 08/06/92

29 Colômbia Acordo de Assistência Recíproca para a Prevenção do Uso e Tráfico Ilícitos de Substâncias Estupefacientes Entorpecentes e Psicotrópicas.

12/03/81 11/05/81

30 Colômbia Ajuste sobre Cooperação Judiciária Complementar ao Acordo de Assistência Recíproca para a Prevenção do Uso e Tráfico Ilícito de Substâncias Estupefacientes e Psicotrópicas.

09/03/91 09/03/91

31 Colômbia Acordo de Cooperação para Impedir o Uso Ilegal de Precursores e 07/11/97 09/09/99

59

Substâncias Químicas Essenciais para o Processamento de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

32 Cuba Acordo de Cooperação para Redução da Demanda Prevenção do Uso Indevido e Combate à Produção e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

29/08/94 26/04/96

33 Estados Unidos da América

Memorando de Entendimento Relativo ao Controle de Entorpecentes

02/09/92 02/09/92

34 Estados Unidos da América

Memorando de Entendimento Relativo ao Controle de Entorpecentes

20/08/93 20/08/93

35 Estados Unidos da América

Memorando de Entendimento Relativo ao Controle de Entorpecentes

02/09/94 02/09/94

36 Estados Unidos da América

Acordo sobre Cooperação Mútua para Redução da Demanda, Prevenção do Uso Indevido e Combate à Produção e ao Tráfico Ilícitos de Entorpecentes

12/04/95 28/04/97

37 Estados Unidos da América

Memorando de Entendimento Relativo ao Controle de Entorpecentes - Exercício Fiscal de 1997

25/09/97 25/09/97

38 Estados Unidos da América

Memorando de Entendimento Relativo ao Controle de Entorpecentes - Exercício Fiscal de 1999

24/09/99 24/09/99

39 Estados Unidos da América

Memorando de Entendimento Relativo ao Controle de Entorpecentes e Repressão Legal - Exercício Fiscal de 2001

20/09/01 20/09/01

40 Fundo das Nações Unidas para o Controle do Abuso de Drogas

Memorando de Entendimento Relativo ao Controle do Abuso e Tráfico de Drogas

09/03/87 09/03/87

41 Fundo das Nações Unidas para o Controle do Abuso de Drogas

Acordo sobre o Controle do Abuso de Drogas 05/11/87 05/11/87

42 Guiana Acordo sobre Prevenção, Controle, Fiscalização e Repressão ao Uso Indevido e ao Tráfico de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas

16/09/88 27/11/90

43 Itália Acordo de Cooperação na Luta Contra o Crime Organizado e o Tráfico de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

12/02/97 15/05/98

44 México Acordo de Cooperação para o Combate ao Narcotráfico e à Farmacodependência

18/11/96 25/11/97

45 Panamá Memorando de Entendimento entre o COAF e UAF Concernente à Cooperação na Troca de Informações Financeiras Relativas ao Combate à Lavagem de Dinheiro

21/08/01 21/08/01

46 Paraguai Acordo sobre Prevenção, Controle, Fiscalização e Repressão ao Uso Indevido e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas

29/03/88 14/01/92

47 Paraguai Acordo, por Troca de Notas Reversais, sobre Tráfico Ilícito de Veículos

28/07/88 26/01/89

48 Paraguai Acordo para Restituição de Veículos Automotores Roubados ou Furtados

01/09/94 18/11/96

49 Paraguai Acordo sobre Cooperação para o Combate ao Tráfico Ilícito de Madeira

01/09/94 29/04/96

50 Peru Convênio de Assistência Recíproca para a Repressão do Tráfico Ilícito de Drogas que Produzem Dependência

05/11/76 15/01/79

51 Portugal Acordo de Cooperação para a Redução da Demanda, Combate à Produção e Repressão ao Tráfico Ilícito de Drogas e Substâncias Psicotrópicas

05/11/87 05/11/87

52 Reino Unido Acordo sobre Entorpecentes, 1988 08/11/88 08/11/88 53 República da África do

Sul Acordo sobre Cooperação e Assistência Mútua na Área do Combate à Produção e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas e Assuntos Correlatos

26/11/96 21/07/99

54 Romênia Acordo sobre Cooperação na Área do Combate à Produção e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, ao Uso Indevido e à Farmacodependência

22/10/99 10/07/01

55 Rússia Acordo de Cooperação para a Prevenção ao Uso e Combate à Produção e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

11/10/94 29/02/96

56 Suriname Acordo para a Prevenção, Controle e Repressão da Produção, Tráfico e Consumo Ilícitos de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

03/03/89 07/08/90

60

57 Uruguai Acordo de Cooperação para a Redução da Demanda, Prevenção do Uso Indevido e Combate à Produção e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas e seus Precursores e Produtos Químicos Imediatos

16/09/91 07/06/95

58 Venezuela Acordo sobre Prevenção, Controle, Fiscalização e Repressão ao Uso Indevido e ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas

03/06/87 01/11/90

Extradição 59 Argentina Tratado de Extradição 15/11/61 07/06/68 60 Austrália Tratado de Extradição 22/08/94 01/09/96 61 Bélgica Tratado de Extradição 06/05/53 14/07/57 62 Bélgica Acordo para Regular a Aplicação do Tratado de Extradição de 06

de Maio de 1953 12/11/56 12/11/56

63 Bélgica Acordo Complementar estendendo a aplicação do Tratado de Extradição de 06 de Maio de 1953 ao Tráfico Ilícito de Drogas

08/05/58 08/07/58

64 Bolívia Tratado de Extradição 25/02/38 26/07/42 65 Chile Tratado de Extradição 08/09/35 08/09/37 66 Colômbia Tratado de Extradição 28/12/38 02/10/40 67 Coréia do Sul Tratado de Extradição 01/09/95 01/02/02 68 Equador Tratado de Extradição 04/03/37 03/06/38 69 Espanha Tratado de Extradição 02/02/88 30/06/90 70 Estados Unidos da

América Tratado de Extradição 13/01/61 17/12/64

71 Estados Unidos da América

Protocolo Adicional ao Tratado de Extradição 18/06/62 17/12/64

72 Itália Tratado de Extradição 17/10/89 01/08/93 73 Lituânia Tratado de Extradição 28/09/37 10/06/39 74 México Tratado de Extradição 28/12/33 23/03/38 75 México Protocolo Adicional ao Tratado de Extradição 18/09/35 23/03/38 76 Paraguai Tratado de Extradição 24/02/22 22/05/25 77 Peru Tratado de Extradição 13/02/19 22/05/22 78 Portugal Tratado de Extradição 07/05/91 01/12/94 79 Reino Unido Tratado de Extradição 18/06/95 13/08/97 80 Reino Unido Ajuste Complementar, por Troca de Notas, ao Tratado de

Extradição de 18/07/1995, para Extensão de sua Aplicação à Ilha de Man

01/08/01 08/01/01

81 Suíça Tratado de Extradição 23/07/32 24/02/34 82 Uruguai Tratado de Extradição 27/12/16 21/01/19 83 Uruguai Protocolo Adicional ao Tratado de Extradição de Criminosos 07/12/21 20/11/26 84 Venezuela Tratado de Extradição 07/12/38 14/03/40

61

Tabela 29 Acordos multilaterais - Brasil

ü Convenção Referente às Infrações e Certos Outros Atos Cometidos a Bordo de Aeronaves

ü Convenção para a Repressão da Captura Ilícita de Aeronaves

ü Convenção para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em Delitos contra as Pessoas e a Extorsão Conexa quando tiverem eles Transcendência Internacional

ü Convenção para a Repressão de Atos Ilícitos contra a Segurança da Aviação Civil

ü Convenção sobre a Prevenção e Punição de Crimes contra Pessoas que Gozam de Proteção Internacional, inclusive Agentes Diplomáticos

ü Convenção Internacional contra a Tomada de Reféns

ü Convenção sobre a Proteção Física do Material Nuclear

ü Protocolo para a Repressão de Atos de Violência nos Aeroportos que Prestem Serviços à Aviação Civil Internacional

ü Convenção sobre a Marcação de Explosivos Plásticos para Fins de Detecção

ü Convenção Interamericana contra a Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, Munições, Explosivos e Outros Materiais Correlatos

ü Convenção Internacional para a Supressão de Atentados Terroristas

ü Resolução 1.373 do Conselho de Segurança