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PERSPECTIVA DE INTEGRAÇÃO DAS FERRAMENTAS DA QUALIDADE COM BASE EM UM FRAMEWORK METODOLÓGICO: ANÁLISE DA VARIABILIDADE DE PROCESSOS PRODUTIVOS EM UMA AGROINDÚSTRIA Josenildo Brito de Oliveira (UFCG) [email protected] ALMIR MARIANO DE SOUSA JUNIOR (UFERSA) [email protected] Abel Dutra de Almeida (UFERSA) [email protected] Thamiles Medeiros Silva (UFERSA) [email protected] O objetivo deste artigo é integrar e aplicar as ferramentas da qualidade a partir da proposição de um framework metodológico dedicado à análise da variabilidade nos processos produtivos em uma empresa do segmento agroindustrial. Os procedimmentos de coleta dos dados se deram a partir do desenvolvimento de um framework metodológico que serviu de base para obtenção dos resultados da pesquisa. Nesse sentido, elaborou-se uma revisão de literatura que apoiou o processo de construção do questionário. Os dados foram coletados por meio de entrevistas diretas e intensivas aplicadas com funcionários da empresa foco do estudo. Observações sistemáticas e assistemáticas foram realizadas. A sistemática proposta foi executada em um estudo de caso de natureza aplicada realizado em uma organização agroindustrial. Os dados obtidos foram qualitativos e quantitativos. Os resultados mostraram que os processos estão estáveis, sem apresentar variabilidades anormais. Todavia, considerando as exigências para o mercado espanhol, verificou-se que para o característico peso, o processo apresenta grande variabilidade. Definiu-se como causa principal a presença da bactéria Acidovorax. Portanto, o emprego integrado das ferramentas da qualidade pode potencializar o desenvolvimento de soluções mais sustentáveis para os problemas ou falhas encontradas nos processos produtivos. Palavras-chaves: Ferramentas da qualidade, framework metodológico, variabilidade, agroindústria XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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PERSPECTIVA DE INTEGRAÇÃO DAS

FERRAMENTAS DA QUALIDADE COM

BASE EM UM FRAMEWORK

METODOLÓGICO: ANÁLISE DA

VARIABILIDADE DE PROCESSOS

PRODUTIVOS EM UMA

AGROINDÚSTRIA

Josenildo Brito de Oliveira (UFCG)

[email protected]

ALMIR MARIANO DE SOUSA JUNIOR (UFERSA)

[email protected]

Abel Dutra de Almeida (UFERSA)

[email protected]

Thamiles Medeiros Silva (UFERSA)

[email protected]

O objetivo deste artigo é integrar e aplicar as ferramentas da

qualidade a partir da proposição de um framework metodológico

dedicado à análise da variabilidade nos processos produtivos em uma

empresa do segmento agroindustrial. Os procedimmentos de coleta dos

dados se deram a partir do desenvolvimento de um framework

metodológico que serviu de base para obtenção dos resultados da

pesquisa. Nesse sentido, elaborou-se uma revisão de literatura que

apoiou o processo de construção do questionário. Os dados foram

coletados por meio de entrevistas diretas e intensivas aplicadas com

funcionários da empresa foco do estudo. Observações sistemáticas e

assistemáticas foram realizadas. A sistemática proposta foi executada

em um estudo de caso de natureza aplicada realizado em uma

organização agroindustrial. Os dados obtidos foram qualitativos e

quantitativos. Os resultados mostraram que os processos estão

estáveis, sem apresentar variabilidades anormais. Todavia,

considerando as exigências para o mercado espanhol, verificou-se que

para o característico peso, o processo apresenta grande variabilidade.

Definiu-se como causa principal a presença da bactéria Acidovorax.

Portanto, o emprego integrado das ferramentas da qualidade pode

potencializar o desenvolvimento de soluções mais sustentáveis para os

problemas ou falhas encontradas nos processos produtivos.

Palavras-chaves: Ferramentas da qualidade, framework metodológico,

variabilidade, agroindústria

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

Com a globalização da economia e da concorrência do mercado, a qualidade tornou-se pré-

requisito para todos os produtos. Na agroindústria esta exigência não é muito diferente, uma

vez que as necessidades dos clientes passaram a ser atendidas em diversas partes do mundo.

O preço ou valor oferecido pelos clientes e consumidores ao lado dos critérios rigorosos de

qualidade cada vez mais exigentes, tem forçado as empresas a se adaptarem as mutações no

mercado, em atendimento às expectativas do seu mercado alvo. O Brasil é uma potência no

setor agrícola e as empresas vinculadas ao agronegócio necessitam adotar uma política de

qualidade voltada ao atendimento das exigências do mercado externo. O melão se destaca por

ser a segunda maior cultura do país em valor e em volume de exportação, concentrando a

produção principalmente no estado do Rio Grande do Norte.

A gestão estratégica da qualidade tem contribuído para aperfeiçoar continuamente as etapas

dos processos de produção. Isso tem representado para as organizações com foco na gestão

por processos uma vantagem competitiva frente aos concorrentes (PALADINI, 2002). Dentre

todo o arcabouço teórico e filosofias de gestão da qualidade aplicada ao ambiente produtivo,

destacam-se as ferramentas da qualidade, o ciclo PDCA e os gráficos de controle criados por

Walter Shewhart no ano de 1924 (PALADINI, 1990; OAKLAND, 1994; WERKEMA, 1995;

RAMOS, 2000; PALADINI, 2002; MONTGOMERY, 2004; CARPINETTI, 2010).

O nicho do mercado europeu consumidor das frutas produzidas no Brasil tem exigido altos

níveis de qualidade nas especificações componentes dos produtos brasileiros, especialmente

neste estudo focado na produção do melão Gália. Dessa forma, alguns cuidados específicos

são necessários durante o ciclo de produção da fruta. Esta cautela se estende em todos os

processos produtivos, desde a plantação à entrega no mercado de destino, o que acarreta um

alto custo de produção. Nesse sentido, as ferramentas da qualidade desenvolvidas por Kaoru

Ishikawa e expandidas com outros instrumentos de intervenção para a qualidade do processo,

permitem tratar os problemas de forma a eliminar as causas na sua origem, ou mesmo reduzir

o impacto potencial sobre as falhas na produção.

As ferramentas da qualidade podem ser usadas para mensurar e controlar a variabilidade nos

processos, evitando que bens ou serviços possam chegar ao consumidor/cliente fora dos seus

padrões de especificações. Para garantir que a qualidade do produto esteja sob controle, para

que não se produza índices relevantes de produtos refugados ou defeituosos, as ferramentas

apresentam potencial de tratar as falhas e indicar as causas principais, no sentido de erradicar

os desvios na origem, bloqueando as causas primárias. Algumas ferramentas são utilizadas

com sucesso no controle da qualidade, tais como os Gráficos de Pareto, Cartas de controle,

Gráfico de Pareto, Diagrama de Dispersão, entre outras. Os gráficos ou cartas de controle,

por exemplo, acusam o comportamento qualitativo da produção com suporte do Controle

Estatístico do Processo, também chamado de CEP (ROCHA, 2008).

Observa-se na prática que as ferramentas são utilizadas isoladamente sem qualquer tipo de

integração. Esses instrumentos poderiam ser aplicados sob uma perspectiva sistêmica, o que

de fato potencializaria o rendimento conjunto das ferramnetas. O uso individual de uma ou

outra ferramenta pode ocultar a identificação de problemas nos sistemas de produção, bem

como dificultar a resolução destes desvios. Nesse sentido, defende-se a aplicação integrada

das ferramentas da qualidade expandidas com outros instrumentos complementares. Esta

ação poderá acelerar o processo de resolução de problemas e promover a melhoria contínua

nos sistemas de produção.

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Portanto, o objetivo deste artigo é integrar e aplicar as ferramentas da qualidade com base na

proposição de um framework metodológico dedicado à análise da variabilidade dos processos

produtivos em uma empresa do segmento agroindustrial.

2. Abordagem teórica

Esta seção destaca os fundamentos bibliográficos usados como base para a construção do

instrumento de pesquisa. Este estudo foi aplicado em uma empresa agroindustrial que produz

melão, tanto para exportação como para o mercado interno. O Brasil é uma das potências no

agronegócio, todavia, as empresas associadas a este segmento estão sendo pressionadas a

adotarem políticas de qualidade que possam atender às exigências do mercado exterior. Neste

contexto, o melão se destaca por ser a segunda maior cultura do país em valor e a maior em

volume de exportação, concentrando a produção principalmente no estado do Rio Grande do

Norte (SECEX, 2009).

O melão é um fruto apreciado e de popularidade crescente no Brasil e no mundo, consumido

em grande escala na Europa, Japão e Estado Unidos. A vantagem brasileira no cultivo do

melão quanto à comercialização é que o auge da sua safra (setembro a janeiro) coincide com

a entressafra mundial. O melão tipo Gália pertence ao grupo dos aromáticos, com formato

arredondado, com rendilhados uniformes e grau de doçura elevado (SENAR, 2009). Os

melões do tipo Pele de Sapo, Gália e Charentais apresentam como principal oportunidade de

expansão o mercado externo, especialmente o europeu (COSTA, 2002). A maior parte do

melão exportado pelo Brasil vem do Rio Grande do Norte e Ceará. O mercado internacional

absorve cerca de 90% das exportações brasileiras de melão (ARAÚJO e VILELA, 1999).

As normas internacionais sobre padrões para o melão definidas pela Comissão Econômica

das Nações Unidas para a Europa (UN/ECE) estabelecem como requisitos mínimos que o

melão para consumo in natura deve estar: intacto, sadio, limpo, com aparência fresca, isento

de pragas e danos causados por pragas, firme, isento de umidade externa anormal, isento de

odor e/ou sabor estranho, suficientemente desenvolvido e com índice de refração da polpa

correspondente a pelo menos 9º Brix, para suportar as condições de transporte e manuseio, de

modo que chegue ao local de destino em condição satisfatória (SENAR, 2009). Para os

mercados mais exigentes o índice de refração da polpa deve corresponder a pelo menos 10º

Brix. Nesse sentido, para manter o alto grau de exigência dos mercados externos, a gestão da

qualidade aplicada aos processos produtivos é de grande relevância, no sentido de atender a

tais especificações.

De acordo com Paladini (2002), a gestão da qualidade no processo é o direcionamento de

todas as ações do processo produtivo para o pleno atendimento de consumidores e clientes. A

noção de processo combina equipamentos, insumos, métodos ou procedimentos, condições

ambientais, pessoas e informações do processo ou medidas, tendo como objetivo a fabricação

de um bem ou o fornecimento de um serviço (WERKEMA, 1995). Um dos fundamentos para

a implementação da gestão da qualidade é a aplicação das ferramentas da qualidade. Essas

ferramentas devem ser usadas para interpretar e maximizar o uso de dados OAKLAND

(1994). O objetivo é identificar os maiores problemas e através de análise adequada, buscar a

melhor solução. As ferramentas usadas nesta seção são: estratificação, folha de verificação,

gráfico de pareto, diagrama de causa e efeito (Ishikauwa), histograma, fluxograma, diagrama

de dispersão, gráficos de controle, Ciclo PDCA e Brainstorming.

A estratificação consiste na divisão de um grupo em diversos subgrupos com base em fatores

apropriados, os quais são conhecidos como fatores de estratificação. As principais causas que

atuam nos processos produtivos constituem fatores de estratificação de um conjunto de dados

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(WERKEMA, 1995). Segundo Vieira (1999), a estratificação consiste em dividir o todo

heterogêneo em subgrupos homogêneo denominado estratos. De acordo com Werkema

(1995) os fatores equipamentos, insumos, pessoas, métodos, medidas e condições ambientais

são categorias naturais para a estratificação dos dados.

A folha de verificação é usada para planejar a coleta de dados a partir de necessidades de

análise futura dos dados (CARPINETTI, 2010). Para Aguiar (2006) o objetivo da folha de

verificação é organizar, simplificar e otimizar a forma de registro das informações obtidas

por um processo de coleta de dados. De acordo com Juran (2002), a folha de verificação é,

basicamente, um quadro para lançamento do número de ocorrências de um evento. Assim, na

folha de verificação são estratificados os problemas para que se possa obter o número de

vezes que esses se repetem em uma determinada amostra ou área. As folhas de verificação

podem ser utilizadas divididas em: distribuição de um item de controle para um processo

produtivo; classificação; localização de defeitos e identificação de causas de defeitos.

Após a coleta dos dados é necessário organizá-los, por meio dos histogramas, para se obter

uma melhor noção do problema estudado. De acordo com Werkema (1995) o histograma

dispõe as informações de modo que seja possível a visualização da forma da distribuição de

um conjunto de dados e também a percepção da localização do valor central e da dispersão

dos dados em torno desde valor central. A ferramenta é de grande utilidade para acompanhar

a freqüência com que os problemas ocorrem e como se distribuem em um intervalo de tempo

(NOGUEIRA, 1996). Ainda segundo Werkema (1995) a ferramenta é um gráfico de barras

no qual o eixo horizontal, subdividido em vários pequenos intervalos, apresenta os valores

assumidos por uma variável de interesse. Para cada um destes intervalos é construída uma

barra vertical, cuja área deve ser proporcional ao número de observações na amostra, cujos

valores pertencem ao intervalo correspondente. O histograma pode ser construído tanto para

variáveis contínuas (mensuradas em escala contínua), quanto para variáveis discretas, cuja

distribuição sofre intermitência.

As distribuições de frequências ilustradas no histograma podem ser hierarquizadas por meio

do diagrama de pareto. De acordo com Werkema (1995) o princípio de Pareto estabelece que

um problema pode ser atribuído a um pequeno número de causas. Identificando-se as poucas

causas vitais dos poucos problemas vitais enfrentados pela a empresa, será possível eliminar

quase todas as perdas por meio de um pequeno número de ações. A intenção é priorizar os

problemas de acordo com sua importância. Para Werkema (1995) o gráfico de Pareto dispõe a

informação de forma a permitir a concentração dos esforços para melhoria nas áreas onde os

maiores ganhos podem ser obtidos. O princípio de Pareto foi traduzido para a área da

qualidade por Juran, sob a forma de que alguns elementos são vitais, enquanto muitos, apenas

triviais (PALADINI, 1997). Portanto, sendo as causas dos defeitos vitais identificadas, pode-

se eliminar grande parte dos problemas, concentrando os esforços nas causas particulares e

deixando os outros muitos defeitos triviais para serem atacados posteriormente.

Os problemas mais importantes hierarquizados pelo gráfico de pareto podem ser investigados

através do diagrama de causa e efeito desenvolvido por Kaoru Ishikawa. Segundo Paladini

(1997), a construção do diagrama causa e efeito começa com a identificação do efeito que se

pretende considerar, colocando-o no lado direito do diagrama. Conforme Carpinetti (2010), o

diagrama de causa e efeito foi desenvolvido para representar as relações existentes entre um

problema ou um efeito indesejável do resultado de um processo e todas as possíveis causas

desse problema, atuando como um guia para a identificação de sua causa fundamental e para a

determinação das medidas corretivas que deverão ser adotadas.

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Para melhorar as chances de se descobrir efetivamente as causas de um problema ou de uma

variável em análise pode-se recorrer ao diagrama de dispersão, que correlaciona uma causa e

seu efeito, uma causa e outra causa ou mesmo a relação entre dois efeitos (VIEIRA, 1999). Na

verdade a base da ferramenta é a visualização do tipo de relacionamento existente entre duas

variáveis (AGUIAR, 2006; CAPINETTI, 2010). Para Werkema (1995) é uma ferramenta

utilizada para apresentar a relação existente entre um resultado de um processo (efeito) e os

fatores (causas) do processo que, por razões técnicas, possam afetar o resultado considerado.

Outra ferramenta bastante importante é o fluxograma. Trata-se de um instrumento útil no

desenvolvimento da definição do processo e em sua compreensão. Um fluxograma é uma

sequência cronológica dos passos do processo ou do fluxo do trabalho (MONTGOMERY,

2004; ROCHA, 2008). O fluxograma é usado para dispor e documentar o funcionamento do

processo relacionado ao problema a ser analisado, com o objetivo de facilitar a compreensão

da sua operação (AGUIAR, 2006). Basicamente a simbologia usada no gráfico representa a

operação; transporte; inspeção; documento; estoque; espera e decisão.

Para verificar o comportamento de um processo quanto ao característico de qualidade em

análise aplicam-se os gráficos de controle. A melhoria da qualidade, segundo Montgomery

(2004) se dá pela redução da variabilidade nos processos e produtos. Esses gráficos foram

desenvolvidos por Walter Shewhart em 1924 e são montadas a partir de amostras colhidas

aleatoriamente junto a lotes inspecionados. Para Paladini (1990) os gráficos trabalham com

flutuações observadas ao longo do processo colhidas ao longo do tempo. Observando-as e

relacionando-as com limites estabelecidos no próprio gráfico, verifica-se se o processo se

comporta de forma satisfatória ou não. Os gráficos de controle são usados para garantir que a

qualidade do produto ou processo esteja sob controle, acusando o comportamento qualitativo

da produção com o suporte da estatística.

Para facilitar a aplicação das ferramentas mencionadas são formadas equipes envolvidas na

resolução dos problemas de qualidade. Esse encontro de pessoas é a base para a utilização da

ferramenta Brainstorming. Um brainstorming bem sucedido permite às pessoas a maior

criatividade possível e não restringe suas idéias em nenhum modo. Pode resultar em soluções

originais (WERKEMA, 1995). O objetivo desta ferramenta é coletar idéias dos participantes,

sem críticas ou julgamentos por meio de uma sequência de eventos, quais sejam: análise do

tema ou problema; definição de um tempo para todos refletirem sobre o assunto; convite a

todos opinarem sobre o tema e anotação de todas as ideias em um flipchart.

As ferramentas descritas podem ser integradas ao ciclo PDCA, ferramenta criada por Walter

Shewhart e divulgada por Deming. O ciclo PDCA é um instrumento de melhoria contínua.

Para Werkema (1995) a ferramenta consiste em uma sequência de procedimentos lógicos,

baseada em fatos e dados, que objetiva localizar a causa fundamental de um problema para

posteriormente eliminá-la. Na fase de planejamento (Plan) o problema é identificado, ocasião

em que é observado. Nesta etapa é estabelecido um plano de ação com suas respectivas metas

de execução. Na etapa de execução (Do) o plano de ação é executado. Após a execução do

plano parte-se para a etapa de verificação (Check), ou seja, verificar se as metas estabelecidas

foram atingidas. Por fim a etapa de ação (Action), que atua corretivamente caso as metas não

tenham sido atingidas e padroniza o novo método de trabalho. Nesta fase elabora-se a parte

das considerações finais e retorna ao ataque dos problemas remanescentes.

3. Procedimentos metodológicos

Este artigo foi desenvolvido com base em um estudo de caso aplicado na Agrícola Famosa

Ltda em sua filial localizada na Fazenda Formosa (Sítio Gravier) entre as cidades de Icapuí

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(CE) e Mossoró (RN). A Agrícola Famosa projetou-se como a maior produtora e exportadora

de frutas in natura do Brasil. Na safra de 2007/08, exportou mais de 73 mil toneladas de

frutas, concentrando-se principalmente nos mercados britânico, holandês, italiano, português

e espanhol e 15 mil toneladas destinaram-se ao mercado interno. O melão Gália, objeto do

estudo, pertence ao grupo dos aromáticos, é considerado um fruto nobre e sensível, de grande

aceitação no mercado europeu, necessitando de cuidados específicos em todo o seu ciclo

produtivo, incluindo o resfriamento, manuseio e transporte. A partir da revisão de literatura

mencionada na seção 2, bem como a pesquisa bibliográfica, procedeu-se à elaboração do

instrumento de pesquisa (questionário).

A natureza dos dados apresentados nessa pesquisa é quantitativa e qualitativa. Os dados

foram levantados através da aplicação de um questionário com a Engenheira Agrônoma

responsável pelo setor de qualidade. Além da profissional, foram entrevistados colaboradores

e outros engenheiros responsáveis pelo processo de produção. Outro entrevistado foi o

professor Doutor da Universidade Federal do Semi-árido (UFERSA), Rui Sales Júnior,

pesquisador agrônomo.

Observações sistemáticas, assistemáticas, diretas e intensivas também foram utilizadas. Essa

pesquisa é aplicada, pois objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à

solução de problemas específicos (SILVA e MENEZES, 2001). Quanto ao ponto de vista dos

objetivos, essa pesquisa é exploratória, pois tem por fim tornar explícito aos pesquisadores

como o processo em análise se comportou quanto à variabilidade utilizando os gráficos de

controle. Este trabalho é descritivo, pois visa mencionar características particulares a partir

da sistematização dos dados em informações pertinentes. O estudo foi realizado em junho de

2009 e a pesquisa de campo durou dois meses (junho e julho). Escolheu-se como objeto de

estudo os processos relativos ao cultivo do melão do tipo Gália. A variedade Medallon é

plantada na área R8, que mede 6 (seis) hectares. Os dados foram coletados somente na casa

de empacotamento (packing house), local onde se concentra o controle da qualidade. Assim,

a empresa mantém o packing house para atender aos requisitos exigidos pela certificação

Eurepgap, indispensável na qualificação para exportação ao mercado europeu. Na próxima

seção os resultados obtidos são descritos e analisados.

Construiu-se um framework metodológico que orientou a busca pelos resultados esperados,

conforme figura 1.

Mapear o fluxo de produção

Definir pontos de controle da

qualidade

Escolher os característicos e

os padrões de qualidade Critérios

Levantar falhas no processo

Aplicar as ferramentas da

qualidade e Ciclo PDCA

Analisar os resultados obtidos

b

a

c

d

e

f

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Fonte: Elaboração própria (2009)

Figura 1 – Framework metodológico

De acordo com o framework metodológico, na etapa (a) procede-se ao estudo do processo por

meio de um mapeamento utilizando-se do fluxograma como ferramenta da qualidade. Já na

etapa (b) com o processo mapeado, identifica-se os pontos de controle da qualidade ao longo

do processo produtivo. Nesta etapa foi entrevistado o responsável pelo setor de qualidade na

empresa pesquisada. Na etapa (c) foram escolhidos os característicos da qualidade usados no

controle do processo. Esses característicos são requisitos elementares imprescindíveis para o

funcionamento adequado de um produto (WERKEMA, 1995).

A escolha desses característicos obedeceu a critérios específicos para o processo produtivo em

análise. Assim, foram avaliadas as exigências do mercado, a variabilidade do característico no

produto/processo e a revisão de literatura na área do estudo. Na etapa (d) foram realizados

levantamentos das falhas no processo associados aos problemas de qualidade encontrados.

Assim, os pontos de controles da qualidade foram confrontados com as falhas detectadas no

processo. Realizada essa associação, iniciou-se a etapa (e), ou seja aplicação das ferramentas

da qualidade, embora parte delas já tenham sido aplicadas em etapas anteriores. Por fim, na

etapa (f) os dados obtidos acerca dos problemas mapeados foram analisados com base no

ciclo PDCA.

4. Apresentação e discussão dos resultados

Aplicando-se a etapa (a) obteve-se uma representação gráfica do processo de produção do

melão Gália a partir da configuração de um fluxograma desenhado com o auxílio do software

SmartDraw, conforme figura 2.

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Fonte: Elaboração própria (2009)

Figura 2 – Fluxograma do processo produtivo

Na segunda etapa (b) do framework metodológico os pontos de controle da qualidade foram

mapeados, descritos no fluxograma como pontos de decisão (). Dessa forma, esses pontos

de decisão representam as partes do processo pelas quais a empresa acompanha de forma mais

precisa o desempenho dos característicos de qualidade.

Na etapa (c) procedeu-se ao levantamento dos principais característicos e dos padrões de

qualidade presentes no processo de produção. Dos característicos exigidos pela Comissão

Econômica das Nações Unidas para a Europa (UN/ECE), destacam-se, em termos de controle

de qualidade na produção, o peso, o Brix, a aparência externa, a coloração e a textura. As suas

especificações variam de acordo o mercado consumidor.

O quadro 1 mostra os característicos escolhidos, seus padrões de especificações, observações

pertinentes e a classificação dos característicos.

Característico Padrão Observações Classificação

Brix (°) > 10° Bx Grau de doçura da fruta medido com

refratômetro

Variáveis Peso (kg) 1,20 ≤ kg ≤ 1,60

A especificação de peso varia de acordo com

o mercado

Firmeza (N) 25 ≤ N ≤ 30 Suave ao toque e medida com o penetômetro.

Coloração Amarelo Fruto tendendo para o amarelo.

Atributos Aparência externa Homogênea

As ranhuras da casca devem ser homogêneas

sem queimaduras, manchas ou estrias abertas.

Quadro 3 – Característicos de Qualidade do Melão

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Assim, de acordo com o quadro 3 foram escolhidos o grau de Brix e peso. A escolha foi com

base nos critérios de maior variabilidade destes característicos e o atendimento às exigências

do mercado externo. Os outros característicos (coloração, firmeza e aparência externa) não

foram avaliados pelo controle de qualidade, pois não apresentam variabilidades expressivas

neste tipo de cultura. Para verificar se o processo está sob controle foram usados exigências

e parâmetros especificadas pelo mercado espanhol no quadro 3, considerado um dos mais

exigentes do mundo.

A partir da consecução da etapa (c), partiu-se para a execução da etapa (d). Dessa forma,

foram levantadas as falhas nos processos por meio de uma folha de verificação usada pela

empresa e elaborada pelo setor de qualidade, conforme figura 3.

Fonte: Agrícola Famosa (2009)

Figura 3 – Folha de verificação para as falhas

A folha de verificação foi considerada adequada, pois ela fornece os dados da área e data de

aplicação, estratificando de forma bastante contundente os principais defeitos dos frutos.

Por outro lado, a utilização da ferramenta restringiu-se à fase do packing house, não sendo

empregada durante a colheita dos frutos. O primeiro grande problema encontrado no

processo foi a ausência de controle na fase da colheita, local onde acontece a maior parte dos

refugos e onde seria possível uma maior intervenção do setor de controle de qualidade para

minimizar as perdas do processo produtivo. A partir da folha de verificação, a estratificação

foi empregada nos tipos incidentes de defeitos encontrados nos melões: bactérias, murcho,

miúdo, broca/lagarto, destalado, rachado, liso ou estria aberta. A bactéria mais comum do

melão Gália é a Acidovorax. Após a estratificação foram utilizados histogramas para realizar

a distribuição dos defeitos, conforme figura 4, e a distribuição de frequência para o Brix, de

acordo com a figura 5.

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Gráfico de Pareto para Defeitos

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

Bacté

rias

Mur

cho

Miú

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Broca

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arta

Destal

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Rachado

Out

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Defei

tos

Estria

Abe

rta

Tipos de Defeitos

Qu

an

tid

ad

e d

e D

efe

ito

s

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Perc

en

tag

em

Acu

mu

lad

a73,77

Fonte: Pesquisa de Campo (2009)

Figura 4 – Distribuição de frequência dos defeitos

Fonte: Pesquisa de Campo (2009)

Figura 5 – Distribuição de frequência do Brix

Após a aplicação da estratificação, folhas de verificação e histogramas, foram identificados

os principais defeitos do lote retirado da área R8: bactérias (35,38%), murcho (19,87%),

miúdo (18,52%), broca/lagarto (7,12%), destalado (5,47%), rachado (5,02%), liso ou estria

aberta (3,82%) e outros (3,82%).

Com base nas frequências aplicou-se o diagrama de pareto para priorizar os defeitos a serem

atacados, como mostra a figura 6.

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Fonte: Pesquisa de Campo (2009)

Figura 6 – Diagrama de Pareto

O gráfico de Pareto priorizou 03 defeitos, representando 73,77% do total, sendo: Bactérias,

Murcho e Miúdo. A bactéria desponta como o defeito mais viável a ser estudado e combatido,

visto que é possível intervir no processo para minimizá-lo. Para os defeitos murcho e miúdo

faz-se necessário uma pesquisa aprofundada e de longo prazo para se estabelecer parâmetros

de controle da incidência dos mesmos, visto que muitas vezes acontece naturalmente, mesmo

sem falhas no processo. Outro aspecto é que o melão miúdo nem sempre será descartado,

visto que, havendo mercado, ele se destinará a comercialização, já que seu grau de brix não

será necessariamente afetado. Assim, buscou-se associar os pontos de controle do processo

aos característicos da qualidade afetados, conforme quadro 2.

Problema Ponto de controle no processo Característico afetado

Bactéria Seleção das mudas, colheita e pós-colheita Brix, firmeza, coloração e aparência

Murcho Colheita e pós-colheita Firmeza e peso

Miúdo Colheita, pós-colheita, seleção do mercado consumidor Peso

Broca/larga Colheita e pós-colheita Brix, coloração e aparência externa

Destalado Pré-colheita, colheita e pós-colheita Coloração e firmeza

Rachado Colheita e pós-colheita Firmeza e aparência externa

Estria aberta Colheita e pós-colheita Firmeza, Brix e aparência externa

Liso Seleção do mercado consumidor Aparência externa

Fonte: Pesquisa de Campo (2009)

Quadro 2 – Pontos de controle e característicos afetados

Na etapa (e) procedeu-se à aplicação de ferramentas da qualidade para avaliar a variabilidade

do processo no sentido de detectar possíveis causas especiais de comportamentos anormais

do processo. Em virtude do grau de exigência dos característicos de qualidade do melão para

o mercado externo, decidiu-se aplicar os gráficos de controle para o Brix e o peso. Assim, os

limites de controle foram calculados para o Brix e para o peso do melão. As amostras foram

coletadas uniformemente com quatro medidas cada amostra. Ao todo foram colhidas 25

amostras para ambos os característicos. Os gráficos de controle plotados foram apenas para a

média da amostragem.

Na configuração dos gráficos, os limites alvo definidos para o mercado espanhol também

foram plotados, com o objetivo de comparar com os limites de controle calculados, conforme

figuras 7 e 8.

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GRÁFICO DE CONTROLE - MERCADO EXTERNO

(PESO DO MELÃO GÁLIA)

0,30

0,50

0,70

0,90

1,10

1,30

1,50

1,70

1,90

2,10

Pe

so

s

LM

LSC

LIC

LIE

LSE

GRÁFICO DE CONTROLE - MERCADO EXTERNO

(BRIX DO MELÃO GÁLIA)

7,0

8,0

9,0

10,0

11,0

12,0

13,0

14,0

Gra

us

de

Bri

x

LSC

LIE

LM

LIC

Fonte: Pesquisa de Campo (2009)

Figura 7 – Gráfico de controle X-Barra do Brix

Fonte: Pesquisa de Campo (2009)

Figura 8 – Gráfico de controle X-Barra para o Peso

Em ambos os gráficos, verifica-se que os característicos (Brix e Peso) encontram-se sob

controle, pois todos os pontos encontram-se entre os limites controle (superior e inferior). No

gráfico de controle para o Brix, considerando o limite mínimo de especificação do mercado

espanhol, pode-se observar que três pontos não alcançaram o limite mínimo, 10° Bx. Neste

caso, as amostras de número 7, 14 e 20 devem ser investigadas, no sentido de conhecer as

causas da variabilidade do processo. No gráfico de controle do peso a maior parte dos pontos

encontra-se fora dos limites de especificação para este mercado. Verifica-se então que parte

deste melão foi destinada ao mercado interno, menos exigente. Neste caso, o processo

encontra-se com alta variabilidade, ou seja, não está sob controle estatístico, necessitando

buscar as causas que alteraram as condições normais de funcionamento do processo.

Com o intuito de buscar as causas e as formas de combate/controle da infecção dos frutos por

bactéria foi aplicada a técnica brainstorming. O propósito desta ferramenta é o trabalho em

grupo para identificar as causas de um problema e encontrar, através de uma intervenção

participativa, a melhor decisão. A ideia é desenvolver um plano de ação que possa eliminar o

problema. Com a ajuda da Engenheira Agrônoma e do professor Rui Sales Júnior (UFERSA)

foi possível identificar as principais causas dos defeitos e levantar alternativas de bloqueio das

causas. Isso foi conseguido com a ajuda do diagrama de causa e efeito.

Como causa raiz dos principais problemas a bactéria Acidovorax. O primeiro grande problema

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encontrado no processo foi a ausência de controle na fase da colheita, local onde acontece a

maior parte dos refugos e onde seria possível uma maior intervenção do setor de controle de

qualidade para minimizar as perdas do processo produtivo. A análise desses resultados, na

etapa (f) fundamentou a construção de um de plano de ação fundamentado no ciclo PDCA.

Na fase de planejamento definiu-se como meta reduzir a quantidade de frutos infectados por

bactérias por meio dos seguintes métodos: cuidados no campo (aumento dos espaçamentos

entre as linhas; evitar plantação no período chuvoso; uso de produtos bactericidas eficientes e

em quantidade adequada; cuidados na adubação) e cuidados no transporte e packing house

(retirada imediata do fruto infectado para evitar transmissão; sanitização com cloro antes de

iniciar o processo; evitar ao máximo que um fruto infectado prossiga no processo); na fase de

execução, a qual não foi implantada, apenas prevista, previu-se a execução dos procedimentos

de acordo com a fase de planejamento, bem como a supervisão e controle de todas as etapas

do sistema de produção e por fim o treinamento e informação dos trabalhadores acerca das

adequações necessárias. Na fase de verificação sugere-se atentar para checar se os cuidados

no campo estão sendo cumpridos corretamente, bem como verificar os controles dos frutos na

chegada ao packing house e a eficácia na seleção após a sanitização e secagem para evitar

prolongamento do ciclo do fruto defeituoso. Por fim, na fase de atuação, caso não sejam

identificados desvios, realizar checagens para evitar o reaparecimento do problema, buscando

a melhoria contínua do processo e normatizar as regras que estão funcionando. Outra ação é

reavaliar o processo e buscar melhorias incrementais, caso seja verificado que a meta e/ou os

métodos não estão sendo cumpridos.

5. Considerações finais

Este artigo tratou da integração e aplicação das ferramentas da qualidade tomando-se como

base a proposição de um framework metodológico dedicada à análise da variabilidade dos

processos produtivos em uma empresa do segmento agroindustrial. Os resultados mostraram

através dos gráficos de controle que os processos de produção do melão Gália, para os

característicos de qualidade analisados, estão estáveis ou sob controle estatístico. Entretanto,

considerando as especificações delineadas pelos clientes do mercado espanhol, constatou-se

que os processos apresentam uma grande variabilidade. Isso sugere a adoção de medidas

investigativas e corretivas para eliminar as causas e reavaliar a estabilidade do processo.

Os resultados obtidos demonstraram que o emprego integrado das ferramentas da qualidade

pode potencializar o desenvolvimento de soluções mais sustentáveis para os problemas ou

falhas encontradas nos processos produtivos. Como causa principal das falhas dos produtos,

ou mesmo reaproveitamento do melão para o mercado interno, verificou-se a incidência da

bactéria Acidovorax. Para remediar esse problema, sugeriu-se alternativas, por exemplo, a

gestão adequada no manejo da cultivar. No decorrer da análise foram observadas falhas no

processo, tais como, a falta de coleta de dados para controle das perdas no processo durante a

colheita. Nesta etapa ocorre o maior número de refugos. O controle de qualidade visa apenas

cumprir as especificações do cliente e não é voltado para melhorar o processo, nem mesmo

focado na redução das perdas, consideradas comuns pelo setor de qualidade da empresa.

Este trabalho contribui para a Engenharia de Produção na medida em que expande a aplicação

das ferramentas da qualidade, diferentemente do que se observa em práticas voltadas para o

uso individual destes instrumentos. A contribuição deste artigo está na proposição de uma

sistemática que relaciona de maneira lógica o uso racional das ferramentas da qualidade, no

sentido de reduzir o número de falhas nos problemas relacionados aos refugos e pela falta de

conformidade do produto analisado. Portanto, o emprego conjunto das ferramentas mostrou-

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se adequado para tratar a questão das falhas nos processos produtivos

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