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PESQUISA POTENCIALIDADES LOCAIS PARA
INVESTIMENTOS INOVADORES E SUSTENTÁVEIS
DIAGNÓSTICO E CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS
RESPONSÁVEL:
Helder Gomes
EQUIPE DE APOIO:
Elda Alvarenga
Elizabeth Alvarenga
Marci Pereira Fradin
CARIACICA
2012
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Lista de Tabelas
Tabela 3.1 Representações empresariais urbanas........................................................................... 6
Tabela 3.2 Representação da produção rural.................................................................................. 7
Tabela 3.3 Representação político-institucional............................................................................. 7
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 4
2. METODOLOGIA............................................................................................................ 5
3. SOBRE OS DADOS COLETADOS.............................................................................. 6
3.1. Resultados qualitativos sobre a produção urbana de bens e serviços...................... 8
3.2. Resultados qualitativos sobre a produção agropecuária e pesqueira...................... 23
3.3. Resultados qualitativos sobre as relações político-institucionais............................. 51
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1. Introdução
Não é difícil perceber uma mudança substantiva nas perspectivas das pessoas que vivem no
Município de Cariacica. O termo autoestima passou a figurar com orgulho entre as representações
sociais que participaram das primeiras reuniões da Agenda Cariacica. Especialmente entre aquelas
lideranças populares mais experientes, cujo orgulho parece se renovar, como dizem, após décadas de
total ausência de uma ambiência política favorável à projeção de cenários e à tomada de decisão
sobre o futuro desejável. Foi nesse contexto, de retomada da possibilidade de planejamento de
intervenções sobre a realidade local, que esta pesquisa foi realizada.
O título da pesquisa procura indicar a sua delimitação metodológica. O foco de análise está na
identificação de potencialidades locais para investimentos inovadores e sustentáveis. Portanto, os
trabalhos estiveram centrados nas condições objetivas de produção de bens e serviços no município
e, também, amparados nas visões dos segmentos sociais relevantes sobre as possibilidades de
reprodução social no futuro com base nas decisões internas e externas em andamento.
Este relatório está organizado de forma a apresentar, primeiramente, os aspectos metodológicos da
pesquisa, seguido do perfil das lideranças entrevistadas e sua representatividade, finalizando com os
principais resultados alcançados na investigação.
Objetivo
Captar dos entrevistados as condições da produção local de bens e serviços, em termos da qualidade
dos processos produtivos, da capacidade de geração emprego e das relações de trabalho, assim como
avaliar as perspectivas das lideranças políticas, empresariais, laborais e dos movimentos sociais
quanto às possibilidades concretas de uma requalificação da estrutura econômica local no contexto
metropolitano e, ainda, como vêem a participação de cada segmento social nesse processo de
construção dentro das orientações da Agenda 21.
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2 Metodologia
A pesquisa qualitativa proposta constitui a elaboração e a aplicação de questionários semielaborados,
seguidas da tabulação e análise dos resultados, os quais devem refletir os objetivos de identificação
do objeto, a partir da participação de representações dos segmentos sociais entrevistados.
No caso, o público alvo da pesquisa constitui de representações dos segmentos sociais que compõem
a população em atividade produtiva, patronais e laborais, seja nos serviços públicos e privados, no
comércio, na indústria e na produção rural, mas, também, as representações de moradores e
detentores de cargos públicos nos Poderes Executivo e Legislativo. O Espectro amostral foi
selecionado segundo uma orientação estimada de sua representação do respectivo segmento,
considerando o conjunto das organizações sociais no município. A estimativa do peso de
representação de cada entrevistado no respectivo segmento de atuação terá por base informações
colhidas em fontes secundárias, tais como os dados da RAIS e do CAGED (do Ministério do
Trabalho e Emprego) e documentos disponíveis sobre a realidade econômica local. Em especial,
levou-se em consideração a pesquisa prévia realizada recentemente, a qual resultou no documento
Pressupostos da Agenda Cariacica. Também será considerado para efeito de seleção dos
entrevistados o tempo de experiência de cada representante na atividade produtiva em que atua no
Município.
Os temas a serem abordados nas entrevistas compreendem a capacidade de cada segmento produtivo
presentes no município de se qualificarem para os desafios contemporâneos da produção
competitiva, da geração de emprego na escala exigida pelo crescimento da População
Economicamente Ativa e da necessidade de preservação ambiental. Além disso, os questionários (ver
roteiros de entrevistas anexos) foram compostos por perguntas sobre as perspectivas de novos
investimentos em cada segmento produtivo e, também, as possibilidades de diversificação produtiva
local e de ampliação do parque instalado, de otimização da produção rural e de melhoria da rede de
serviços públicos e privados.
Tendo em vista o objetivo e o conteúdo requerido, optou-se por uma pesquisa exploratória, de caráter
participante, cujo principal instrumento se constitui em entrevistas semi-estruturadas, com
questionários abertos. Esta metodologia pressupõe a direção do pesquisador, mas, também, valoriza e
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permite uma dinâmica de contribuição dos grupos entrevistados, considerando relevante sua
intervenção como sujeito formulador dos resultados da pesquisa.
O foco, neste caso, é a análise dos conteúdos. Procura-se, muito mais que extrair a opinião dos
grupos entrevistados, ou muito mais que uma abordagem descritiva dos resultados, compreender e o
contexto em que esses grupos estão inseridos, tanto interna como externamente a sua atividade stritu
sensu.
Com isso, projeta-se a possibilidade de interpretar os potenciais e a capacidade de realização das
políticas públicas e as iniciativas privadas que podem advir da Agenda Cariacica, muito mais que
apenas subsidiar os trabalhos diagnósticos.
3 Sobre os dados coletados
Foram entrevistadas várias representações empresariais urbanas e rurais, das famílias camponesas e
pesqueiras/catadoras, lideranças políticas e populares, bem como ocupantes de cargos no Executivo
Municipal e na Câmara de Vereadores. Uma ilustração da composição das lideranças entrevistadas
podem ser observadas nas tabelas abaixo.
Tabela 3.1 Representações empresariais urbanas
Sede da Atividade principal Principal produto Estrutura do Capital Tempo de atividade
Nome Empresa no Município no Município Aberto Fechado no Município
Curi Carrocerias Cariacica Metalmecânica Equip. de refrigeração para carrocerias de caminhões - Familiar 10 anos
STELC Cariacica Automação industrial Import. de componentes e montagem de equip. de automação - Familiar 24 anos
MELTEX São Paulo Armazenagem Import. e distribuição de agasalhos e roupas de grife - Familiar 02 anos
Arcelor Mitall Belo Horizonte Siderurgia Material para construção e laminados S.A. - 63 anos/ 17 anos
DMI Cariacica Indústria plásitica Produção de cubas de acrílico - Familiar 10 anos
Selezione São Paulo Armazenagem Import. de tecidos e bolsas de alta qualidade - Familiar 3 anos
FIMAG Cariacica Metalmecânica Máquinas agrícolas (secadora de café) e peças industriais - Familiar 28 anos
Ducouro Cariacica Ind. de calçados e EPI Calçados para o trabalho e EPI Gestão Familiar - 39 anos
Sá Cavalcante Rio de Janeiro Shoppings shopping centers e estacionamentos - Familiar 01 ano
Marca ambiental Cariacica Serviços Ambientais Gerenciamento Integrado de Resíduos - Familiar 13 anos
Vale Rio de Janeiro Mineração, Siderurgia e Logística Produtos minerais e siderúrgicos, comércio exterior S.A. - 67 anos
Oliveira Cariacica Distribuidora Materiais de limpeza para empresas e hospitais - Familiar 19 anos
Pandova Cariacica Supermercado Varejo múltiplo - Familiar 15 anos
Aquarela Cariacica Impr. Gráfica e Representação Impr. em lona e Repres. De máquinas de impressão - Familiar 10 anos
Vitoriamar Cariacica Metalmecânica Peças para ônibus - 3 sócios 02 anos
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Tabela 3.2 Representação da produção rural
Tabela 3.3 Representação político-institucional
Condição Atividade principal Principais produtos Estrutura da produção Tempo de atividade
Social Local no Município no Município Familiar Parceria Empregador no Município
Proprietário Roda D'Água Produtor Rural Café, banana, gado bovino, carneiro, milho, feijão (consumo) x x x 32 anos
Pescadora Vila Cajueiro Pescadora Mariscos x - - 23 anos
Proprietário Alto Roda D'Água Produtor Rural Banana consorciada com café x - - mais de 55 anos
Pescador Nova Rosa da Penha Pescador Peixe e caranguejo x - - 10 anos
Proprietário Maricará Empresário Rural Banana - - x 35 anos
Proprietário Boa Vista Produtor Rural Biscoito e café x x - mais de 25 anos
Proprietário Vale do Mochuara Produtor Rural Bana e flores tropicais x - - 12 anos
Proprietário - Produtor Rural Leite, queijo x - - 20 anos
Proprietário Ibiapaba Produtor Rural Leite x - - -
Proprietário Boa Vista Produtor Rural Pepino, tomate, berinjela, jiló, limão x - - 12 anos
Empresa Maricará Agroindústria Doces de frutas - - x -
Empresa Ibiapaba Agroindústria Cachaça - - x -
Proprietária Roças Velhas Produtora Rural Leite x - x -
Técnico Agr. PMC Servidor público Serviço Público - - - -
Proprietário - Produtor Rural Banana, café, mandioca x - - -
Proprietário - Produtor Rural Acerola, cana para caldo, limão e outras frutas de época x - - 16 anos
Pescador Nova Canaã Pescador peixe, camarão, siri x - - 29 anos
Pescador Nova Canaã Pescador peixe, camarão, siri x - - 32 anos
Proprietário Vale do Mochuara Produtor Rural Carneiro, agroturismo - - x 14 anos
Tempo de atuação
Instituição Função no Município
PMC Gerente 1 ano
Cooperativa Liderança, Artesã 32 anos
FAMOC Liderança 35 anos
Ass. Produtores Liderança, Artesã mais de 30 anos
Câmara Municipal Vereador 31 anos
Pastoral do Menor Voluntária 29 anos
CEASA Dirigente da Assoc. 23 anos
Câmara Municipal Asses. parlamentar 20 anos
Ass. Pescadores Liderança 10 anos
Prog. Escola Aberta Coord. temática 18 anos
Sindicato Dirigente 10 anos
Ass. de Moradores Liderança 12 anos
Conselho Rural Liderança 12 anos
Ass. de Moradores Liderança 31 anos
Pastoral Operária Voluntária -
FAMOC Liderança 39 anos
PMC Secret. Municipal 5 anos
PMC Sub-secrt. Municipal 6 anos
PMC Coord. de Programa 8 anos
Pastoral Voluntário 31 anos
Conselho Rural Liderança 33 anos
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3.1 Resultados qualitativos sobre a produção urbana de bens e serviços
a) Natureza dos empreendimentos e principais mercados
Considerando o volume de estabelecimentos existentes, predomina em Cariacica unidades produtivas
e comerciais de natureza familiar, tanto na composição do capital social, quanto na gestão
empresarial dos negócios. Com exceção de algumas grandes empresas de capital aberto, em geral, as
empresas que participaram da pesquisa tiveram origem com a iniciativa familiar em micronegócios,
os quais foram ganhando alguma expressão com a descoberta de nichos de mercado e de processos
de inovação bastante particulares. Tal perspectiva pode ser ilustrada com algumas das respostas de
dirigentes nas entrevistas.
“É uma empresa familiar onde eu e minha filha somos sócias, onde uma detém 80% e a
outra 20% respectivamente. Capital próprio, antes trabalhava numa empresa do mesmo
ramo e quando saí pude montar minha empresa, que começou pequena e com o tempo
fomos crescendo” (Empresa 1).
“O dono da empresa era meu pai, um artesão argentino, que escolheu o município para se
estabelecer. Antes era uma marcenaria que trabalhava com acrílico, de forma artesanal”
(Empresa 4).
“É uma empresa Familiar onde os proprietários são mãe e filho. Tínhamos uma mercearia
e acabamos nos tornando uma empresa representante de material de limpeza: lixeiras,
desinfetantes hospitalares, vassouras, carrinho de lixo, esponjas e diversos artigos de
limpeza industrial” (Empresa 9).
“Nunca mudei de ramo, a empresa começou com uma mercearia que pertencia ao meu
avô e hoje somos donos eu e meu irmão” (Empresa 13).
Parte expressiva das empresas participantes da pesquisa tem origem em outros estados da federação.
Contudo, a produção em pequenos estabelecimentos que se formaram a partir da iniciativa de
residentes no próprio município também se destaca.
“Eu e minha esposa trabalhamos 20 anos numa empresa do ramo, no Rio Grande do Sul,
de onde saímos com incentivo e com ele montamos nossa empresa” (Empresa 3).
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“São 3 sócios um do Rio de Janeiro e dois do Rio Grande do Sul” (Empresa 15).
“Atuamos sempre em Cariacica” (Empresa 1).
“Começamos nossas atividades há 28 anos no Município de Cariacica, no Bairro Oriente
e hoje estamos no Contorno” (Empresa 6).
“Era um funcionário da Samarco, saí, abrí a empresa que tem 24 anos de funcionamento,
sempre no Município de Cariacica” (Empresa 12).
No que tange ao mercado dos principais produtos das empresas, nota-se que boa parte da produção
local, inclusive das pequenas empresas, se destina para fora do município, alcançando inclusive o
exterior, especialmente no caso das empresas de grande porte.
“Atendemos em todo o Brasil com as duas empresas. O mercado no Espírito Santo não é
muito grande e o que nos mantém são os grandes centros” (Empresa 1).
“O principal mercado da empresa é o Brasil de mandando cerca de 70% da produção.
Apenas 30% é exportado variando de acordo com o mercado, mas historicamente
representa esta porcentagem” (Empresa 2).
“O principal mercado da empresa é o estado vende cubas de acrílico para os principais
supermercados, hipermercados e restaurantes do estado, mas também faz vendas pela
internet para estados da Nordeste principalmente e Centro-Oeste” (Empresa 4).
“O principal mercado da empresa é o ES, atendemos cooperativas de café e produtores
rurais, no outro ramo da empresa atendemos diversas empresas na área de metal
mecânica ex: Vale, Arcelor, peças para construção civil em geral” (Empresa 6).
“O principal mercado são as empresas do estado SeiSA, FIMAG, Belgo Mineira,
Coperfil, Regina, Vale, Arcelor Mittal, Hidremeq, Coimex e Terca” (Empresa 12).
No caso das empresas de logística, destacam-se as operações de importação, cujos produtos são
destinados majoritariamente para outros estados, daí sua localização próxima às rodovias federais.
“Nossa atividade aqui no estado e só distribuir e estocar, as vendas são feitas em São
Paulo, onde se encontra a diretoria da empresa. Nosso principal mercado é o sul. No
nordeste ainda estamos muito acanhados, estamos fazendo um trabalho para aumentar
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nossas vendas para esta região. Nossos principais clientes são as grandes redes de
magazines” (Empresa 8).
“Nosso principal produto é o tecido, importado da China, da Índia e da Itália. Os nossos
produtos são para grifes de alta qualidade. O meu mercado 95% é para fora do estado.
Aqui não temos grandes grifes com trabalho no estado” (Empresa 11).
b) Principais fontes de matérias-primas, máquinas e produtos para revenda
Algumas empresas possuem uma atuação diversificada na produção e no comércio de representação
de máquinas e equipamentos, outras importam os componentes que montam sob encomenda. Essa
atividade de importação para processamento e montagem abre um leque de opções para
requalificação do parque industrial interno, na medida em que permite a diversificação produtiva, ao
contrário de favorecer uma especialização como mero entreposto comercial.
“Somos revendedores de máquinas do Japão, mas quem importa é sua filial que fica em
São Paulo. Mas importamos lonas da China” (Empresa 1).
“Represento uma empresa do Rio Grande do Sul que produz carroceria de fibra para
caminhões frigoríficos” (Empresa 3).
“No estado meus fornecedores são de material de escritório e limpeza (Cariacica),
material de costura (Gloria) e embalagens, sendo o resto de fora do estado” (Empresa 1).
“Um fornecedor de máquinas e equipamentos no passado era a Alemanha, hoje a China é
um grande fornecedor” (Empresa 2).
“Os produtos que representamos vêm prontos de fora, então não temos fornecedores
aqui. A parte de componentes eletrônicos, algumas coisas compramos aqui, outras vêm
de fora, mas pouca coisa vem daqui” (Empresa 3).
“As nossas máquinas são importadas dos Estados Unidos, são máquinas que fazem corte
a laser, são elas que permitem fazer qualquer tipo de trabalho. Nossa matéria prima vem
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de São Paulo e Rio de Janeiro, compramos de uma indústria estrangeira que tem sua
fábrica na Bahia e dela distribui para todo o país” (Empresa 4).
“Poderíamos ter em Cariacica um curtume e um frigorífico. O que encarece muito nossa
produção é falta de matéria prima aqui no estado. Temos que trazer toda nossa matéria
prima de fora de estado, principalmente de Minas Gerais (couro), Paraná (couro), São
Paulo e Rio de Janeiro. Até nossas sacolas vem de fora” (Empresa 5).
“A empresa trabalha com projetos e automatiza processos industriais mecânicos, além de
importar componentes eletrônicos, soft starters, inversores de frequência e pirômetros. O
principal pais fornecedor é a China” (Empresa 12).
“Os projetos e peças que comercializamos vêm da fabrica que fica no Rio Grande do Sul”
(empresa 15).
c) Processos de inovação, busca de conhecimento tecnológico e competitividade
A inovação em nichos de mercado acaba garantindo certo grau de competitividade, na medida em
que os pequenos empreendimentos acabam detendo um conhecimento próprio sobre o processo e/ou
produto desenvolvido. Os exemplos dessa rica experiência aponta para o grande potencial da
diversificação produtiva em pequenas e médias empresas.
“Somos os únicos que fazem impressão em tecido com maquina com tinta solvente com
tamanho ilimitado, as outras empresas limitam o tamanho. Isto foi fruto de um evento
que participei nos EUA e quando cheguei no Brasil adaptei as máquinas que tinha para
fazer impressão ilimitada com tinta solvente. Através da inovação tivemos um produto
novo que nos deu destaque no mercado” (Empresa 1).
“Os aparelhos foram montados e criados aqui na empresa. A partir de nossa experiência
desenvolvemos um aparelho de simples e prático, onde a manutenção barata e simples
atrai autônomos que trabalham com um número pequeno de veículos e pequenas
empresas. Com o trabalho de manutenção do aparelho acabamos nos tornando os mais
indicados, já que conhecemos bem o aparelho.” (Empresa 3).
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“O principal ativo da empresa é a tecnologia com que ela trabalha, máquinas e programas
de desenho computadorizados. Quando começamos a trabalhar, tínhamos que fazer
moldes em adesivo e isso era um trabalho artesanal e com o passar do tempo e com a
aquisição de novas tecnologias passamos a fabricar em escala. E para isso tivemos que
alterar o ambiente de trabalho, as máquinas que fazem corte a laser tem que trabalhar em
ambiente resfriado. Devido a nossa tecnologia e técnica empregada conseguimos
produzir um produto (Cubas de acrílico para supermercado) sobre encomenda que ainda
não conseguiram fazer com a mesma qualidade. Fazemos as cubas utilizando a técnica do
“sopramento” isto só nós fazemos” (Empresa 4).
“A empresa desenvolveu todas as maquinas agrícolas com tecnologia própria e projetos
próprios sendo alguns patenteados. O fato de termos conhecimento do produto em que as
máquinas vão operar (café) nos deu certa bagagem para elaborar um secador que tem
como diferencial sua engrenagem propulsora. Temos um padrão técnico e tecnologia
comparada os nossos concorrentes, mais recentemente adquirimos um equipamento de
corte automática que tem um dispositivo de projetos de ler projetos em 3D” (Empresa 6).
“Nossa empresa é uma das poucas que utiliza armazém vertical com empilhadeira
manual, o que nos permite utilizar o espaço de forma mais intensa, já que não precisamos
de ruas tão largas para o transito da empilhadeiras. As inovações ficam por conta de um
nosso diretor, que trabalhou muitos anos em São Paulo [numa grande empresa de
logística], onde teve contato com diversas formas de organizar o armazém e com
tecnologia para isso” (Empresa 8).
“Temos uma parceria com professores da UFES e da Escola Técnica, onde
desenvolvemos alguns projetos juntos. O pessoal do SENAI também já realizou
trabalhos junto conosco. Acredito que seriam estas instituições que deveriam ser
responsáveis pelo desenvolvimento técnico e tecnológico junto à Secretaria e ao
Ministério de Ciência e Tecnologia. Nós temos parceria com empresas de mecânica que
desenvolveu para nos peças mecânicas”. (Empresa 12).
Mutas das tecnologias da informação se difundem pelo comércio atacadista, no varejo e nas
empresas de logística.
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“Atendemos e vendemos mais por telefone, temos uma central de telemarketing, que faz
o atendimento do cliente e entregamos no local. Nossa loja é mais um mostruário, não
vendo muita coisa no varejo. Há também vendedores, que trabalham na rua atendendo os
clientes e mostrando novos produtos” (Empresa 9).
“O conhecimento tecnológico é fundamental para ganharmos agilidade. Hoje nosso
estoque é controlado por informática via códigos de barras. Ao passar por este código
meu leitor a laser me diz para qual comprador tenho que enviar, além das características
que tem o tecido (tamanho, largura, tipo e estampa). O fornecedor desses programas fica
em São Paulo. É um software especifico para tecido. Este software passa por melhorias
constantemente e nossas empresa participa do desenvolvimento desse programa. Agora
estamos começando a implantar um sistema de etiquetas inteligentes. É uma espécie de
chip orgânico. Nossa mercadoria vai ser etiquetada na China e vamos poder monitorar
todo o processo. Esta etiqueta foi desenvolvida por uma empresa capixaba” (Empresa
11).
“Hoje o comerciante tem que ser muito dinâmico. Tem que saber o que cada fornecedor
lhe oferece e a velocidade que ele te atende. Sem isso não sobrevive, então, ter
conhecimento de mercado e fazer pesquisas de internet é essencial” (Empresa 13).
Nas grandes empresas industriais os processos de inovação ganham características mais complexas,
interagindo internacionalmente na pesquisa e no desenvolvimento de produtos e processos.
“O conhecimento fica a cargo do centro de pesquisa do grupo que fica na Europa, lá
desenvolvemos a maioria das pesquisas para melhorar a otimização da fábrica. Mas
contamos também com pessoas na Argentina, onde também temos pessoas responsáveis
por inovar. Contamos também com um corpo de engenheiros aqui, que ficam a cargo
disso” (Empresa 2).
d) Potencial para difusão de inovações em nível local
Para parte das pessoas que gerenciam seus pequenos negócios chega a ser imperceptível o potencial
da difusão de conhecimentos de técnicas de produção.
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“O conhecimento adquirido na organização da empresa na pratica constante de tentar
empreender pode ser usado de diferentes formas, mas o nosso conhecimento técnico e
nossa tecnologia é muito especifico não dá para usar em outras atividades” (Empresa 1).
“Somos um ramo muito especifico, mas o que nossas costureiras aprendem aqui pode ser
aplicado em outras fabricas de roupa, o aprendizado no laboratório de análise de matéria-
prima também pode ser utilizado em outras atividades” (Empresa 5).
“O conhecimento e a tecnologia são de suma importância para a empresa, considerada
com um grande diferencial para o negócio. Prova disso são as inúmeras premiações que
a empresa recebeu devido à iniciativa em fomentar o ensino, a pesquisa científica,
inovação e, sobretudo a melhoria contínua nas ações que envolve seus colaboradores”
(Empresa 7).
Contudo, nas maiores empresas com atividades no município existe uma concepção diferenciada da
difusão de inovações a partir de seus investimentos e isso é inclusive muito valorizado como
propaganda.
“A tecnologia utilizada hoje pode ser utilizada em todas as outras atividades, tanto
administração pública como empresas na área de comunicação e outros setores. Aqui
utilizamos tecnologia de comunicação que poderia ser utilizada por qualquer outro
setor”. A empresa foi uma das incentivadoras de um programa chamado Portifor, que é
um programa que incentiva a qualificação dos fornecedores na área de gestão.
Realizamos um seminário por ano para os fornecedores para levar a eles informação das
inovações do mercado para que estes se qualifiquem e melhorem seus serviços e
mercadorias” (Empresa 2).
“Por se tratar da área de serviços e varejo, o conhecimento do nosso negócio é
eminentemente voltado à iniciativa privada. A ordenação do comércio no interior do
shopping, o atendimento às normas internas de funcionamento e a qualidade das lojas
que vem para o empreendimento, desenvolvem naturalmente uma vontade de formar mão
de obra qualificada a ser empregada. A criação de mais de 3.000 postos de trabalho no
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empreendimento exigirá treinamento e aprendizado contínuo, que instituições como as
Escolas Técnicas, SEBRAE e o SESI-SENAC deverão apoiar” (Empresa 10).
e) Apoio comercial e institucional
Muitas das unidades produtivas instaladas no município colocam o crédito e os incentivos fiscais
como a principal forma de apoio institucional para seus investimentos, mas a grande maioria reclama
da dificuldade de acesso, seja por falta de conhecimento ou por não disporem dos requisitos exigidos
pelas agências oficiais, especialmente no que tange à regularidade fiscal, documentação regular da
propriedade, garantias reais, entre outras.
“O único apoio que contamos foi da [fornecedora das máquinas] através de treinamento
para vendedores e capacitação de um técnico nosso. Tivemos treinamento também do
Senai e Sebrae, mas estes foram treinamentos em administração e na área de confecção”
(Empresa 1).
“O único apoio que tivemos foi da montadora. Não contamos com financiamentos”
(Empresa 15).
“Por parte das instituições estaduais e municipais não temos apoio nem técnico nem de
planejamento, o que temos é apoio da empresa que fornece os programas de computares
eles nos convidam para feiras, a fim de conhecermos as atualizações. O Estado deveria
incentivar o comércio local, pois este tem maior capacidade de empregar que algumas
empresas de comercio exterior” (Empresa 13).
Mas, existem aquelas que se articulam bem com as fontes de financiamento e com os incentivos
fiscais.
“Contamos com financiamento do Proger, utilizando a agencia do Banco da Brasil”
(Empresa 4).
“Viemos para o estado atraídos pelo Fundap, o Invest e o Compete” (Empresa 8).
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“Contamos com apoio de instituições de ensino, federal e estadual e privada, do
SEBRAE, da ANPROTEC, da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, dentre
outros. Contamos ainda com financiamento pelo Banco Real, leasing pelo Banestes e
empréstimo bancário pelo Mercantil do Brasil” (empresa 7).
“As instituições repensáveis pelo desenvolvimento tecnológico em minha opinião
deveria ser o Sebrae, as prefeituras junto com o governo estadual e municipal. As
universidades estão muito distantes da realidade de nossas empresas teriam que fazer um
trabalho de aproximá-las” (Empresa 1).
f) Conhecimento gerais sobre o município e sobre as condições para futuros investimentos
É comum entre as empresas pesquisadas a reclamação quanto aos baixos “atrativos” para a
localização de seus investimentos.
“Não vejo vantagem competitiva no Município de Cariacica, falta estrutura para
trabalharmos, nós só ficamos aqui devido à clientela, mas se não fosse tão complicado já
teria mudado para a Serra, fiquei com medo de perde-la” (Empresa 1).
“A falta de planejamento do município de Cariacica impede a atração de investimentos”
(Empresa 14).
“Os governos municipais e estaduais fizeram a escolha de apostar em segmentos que já
vêm dando certo, mas eles deveriam partir para uma diversificação e não uma
especialização. Chama a atenção as poucas indústrias de base que há no estado e isso se
reflete no volume de empregos que é baixo” (Empresa 15).
Muitos dos entrevistados consideram graves problemas estruturais no caminho para o
desenvolvimento do município. A precária condições da qualificação da força de trabalho local e as
dificuldades de divulgação da marca Cariacica estão entre os obstáculos mais citados.
“Para Cariacica se desenvolver tem que resolver a falta de mão-de-obra e qualificação da
juventude sem isso a mão-de-obra terá que vir de fora ou as empresas optaram por outro
lugar. Gostaria que se desenvolvesse mais a área de comunicação, marketing e comércio,
assim teríamos um mercado local mais seguro” (Empresa 1).
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Pode-se perceber certo grau de desconfiança quanto aos grandes investimentos já anunciados para o
município nos próximos anos, mesmo que haja uma certa manifestação de interesse de que os
mesmos se realizem e tenha efeitos multiplicadores sobre seus próprios negócios.
“As noticias que tenho sobre os investimentos são de Jornais e mídia local, não tenho
conhecimento da origem da decisão e do capital, acredito que parte vem do governo
federal” (Empresa 2).
“Fundamentais, uma vez que a forte vocação para a logística obrigará o crescimento
contínuo do sistema viário e da infraestrutura urbana. Já podem ser sentidos impactos
dos novos investimentos em curso, representado pelo aumento do valor do m² dos
terrenos.” (Empresa 10).
“Acredito que para o próximo ano as empresas terão que se associar às empresas
estrangeiras e para isso acontecer basta a primeira ir que todas as outras vão ser
obrigadas a acompanhar para conseguirem competir” (Empresa 11).
“Gostaria que a PMC criasse um boletim de informação para informar para as pessoas
das obras e dos investimentos que estariam para vim para cá, temos pouco informação
sobre isso. As informações que temos são de jornal e se falam em Shopping, ferrovia e
estradas. Mas temos poucas informações concretas o que sei, é o que sai em jornal e o
que as pessoas falam, mas a maioria é boato. Tem-se investido muito em logística, mas
esta atividade deixa muito pouco. A indústria teria um potencial de gerar mais
crescimento econômico, mas não temos estrutura. Toda indústria que quer vir para cá
quer ficar nas margens da rodovia e estes espaços já estão ocupados e o preços dos
terrenos e de locação são muito altos e isso dificulta a vinda delas para Cariacica”
(Empresa 12).
“Com os investimentos em logística podemos esperar por vias adequadas para o
transporte de mercadoria. Somos um estado com bons aspectos para ser explorados
nestes ramos. Temos portos e próximos a grandes centros consumidores São Paulo, Rio
de Janeiro e Belo Horizonte” (Empresa 13).
“Estas obras trouxeram muitas empresas para a região da rodovia do contorno isso é
bom, mas insuficiente já que a maioria destas empresas tem sedes fora do estado fazendo
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seus serviços principais lá, no nosso caso os serviços que fazemos para as empresas de
transporte são apenas manutenção, ficando os serviços de montagem para os estados
onde eles tem sede. Eles não adquirem nada aqui”. (Empresa 3).
Mesmo com algumas preocupações, a logística é apontada como uma mola propulsora para
alavancagem de outros investimentos, como na área de transportes.
“A principal vantagem seria aqui por ser uma cidade portuária ou próxima a portos, o
que facilita a escoação dos produtos para o resto do país” (Empresa 2).
“A vantagem de estarmos no município é a localização, perto dos principais municípios
da Grande Vitória” (Empresa 3).
“Cariacica é um ponto estratégico em se falando em logística, está no eixo de
distribuição do estado” (Empresa 14).
“O meu conhecimento dos investimentos são o que saem da mídia, como o novo
shopping, Estrada Leste-Oeste e a duplicação do Contorno”. Estes investimentos podem
gerar algum desenvolvimento no futuro, mas a Administração deveria se preocupar com
as empresas que estão em Cariacica no presente, pois estas estão de lado e esquecidas e
sem estrutura elas podem sair daqui e ir para outro lugar ou falirem” (Empresa 1).
Mas, há também quem aposte na produção tradicional como forma de promover demanda para
produção específica de seu interesse.
“A indústria de alimentos poderia trazer um bom retorno para Cariacica e traria também
retorno para a minha atividade. Acreditamos que podemos expandir porque a legislação
sanitária sobre o transporte de alimentos está se apertando e exigindo cada vez mais
cuidados com os alimentos. Assim os transportadores tem que cada vez mais adquirirem
novas formas de transportar alimentos e o baú refrigerado vem ganhando mercado”
(Empresa 3).
g) As relações de trabalho e possibilidades de aprimoramento
Uma dificuldade sempre presente têm sido a separação entre as atividades do chão da fábrica e
aquelas vinculadas ao planejamento e geração de inovações
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“As pessoas que trabalham com a gente adquiriram conhecimentos de suas áreas de
atuação, mas de forma especializada, não compreende o todo ainda, este conhecimento
está restrito aos sócios” (Empresa 1).
A preparação do pessoal empregado nunca é tranquila para boa parte das unidades produtivas de
nível local.
“Nossa maior exigência é para a área de vendas, exigimos um profissional com o mínimo
de treinamento e conhecimento, mas temos muitas dificuldades de encontrar. Para a área
de confecção também temos dificuldades de encontrar costureiras com treinamento.
Temos 6 pessoas com curso superior, sendo duas com pós-graduação, mas não é uma
exigência. Temos contratada 24 pessoas sendo 8 na área de vendas e este é o de maior
carência” (Empresa 1).
“Estávamos com muitos terceirizados, cerca de 90% dos empregados (operação) eram
terceiros, mas vamos ter que empregar a maioria deles por conta da ISO. Se não
contratarmos perdemos este certificado. A nossa exigência é segundo grau completo. Os
nossos empregados na maioria das vezes já trabalhavam [em outras empresas de
logística], estes empregados já possuem um conhecimento que podemos utilizá-lo aqui”
(Empresa 8).
“As grandes redes varejistas treinam sua própria mão de obra, e os pequenos lojistas
independentes procuram suporte em treinamento nas instituições governamentais e
privadas” (Empresa 10).
“Nossa exigência é apenas experiência na atividade, não temos muita demanda por mão
de obra qualificada, contamos apenas com 1 profissional com nível superior” (Empresa
13).
“Aqui o jovem tem dificuldade de se adequar a uma disciplina de trabalho mais rígida e
dificilmente teremos um funcionário comprometido com a empresa, ele está aqui de
passagem fica pouco tempo, logo passa num concurso publico e vai embora” (Empresa
1).
Mas, existem as unidades que afirmam a importância em formação e treinamento de seu pessoal.
Algumas inclusive dizem promover viagens de intercâmbio e de capacitação dos empregados.
20
“Temos cursos na área de segurança SIPA, mas temos um projeto de abrir um curso de
leitura de desenho técnico. Nossa exigência para chão de fabrica é segundo grau, os
empregos de nível superior representam 8%, os técnicos 28% e o restante é chão de
fábrica” (Empresa 6).
“A empresa oferece diversas capacitações ao seu pessoal, inclusive bolsa de estudos e
incentivo financeiro a participação em congressos e outros eventos” (Empresa 7).
“Quanto ao nível de escolaridade do pessoal empregado, temos 26 % de nível superior,
35% de nível médio e 39% de nível fundamental” (Empresa 7).
“Aqui nós investimos muito em treinamento, temos funcionários que vão para São Paulo
na sede da empresa, chegam a ficar 1 mês fazendo treinamento na Renner. A maioria do
nosso treinamento é em gerência e em práticas de convívio com as pessoas da empresa”
(Empresa 8).
“A empresa tem 15 empregados: 2 engenheiros, 1 programador, 1 projetista e técnicos
em montagem de painel. As pessoas que trabalham aqui fazem treinamento em São Paulo
e no Sul, pois pessoas formadas na área de automação aqui não tem” (Empresa 12).
“Damos muita importância à forma como os funcionários recebem os clientes e
acreditamos que os funcionários sejam o principal ativo da empresa” (Empresa 3).
h) Principais desafios estruturais de nível local
À lista de reclamações quanto à ausência de condições infraestruturais, bastante longa por si,
adicionam-se as dificuldades estruturais dos próprios empreendedores. A lógica da maximização de
lucros, leva as empresas a fugirem de investimentos em treinamento de pessoal. Elas preferem
apostar nos circuitos de seleção, públicos e privados, para encontrar nos mercados de trabalho
profissionais já capacitados e de preferência especializados para atender ocupações específicas. E
apontam as carências em cursos especializados como um dos problemas.
“O maior problema de Cariacica e do Espírito Santo é a falta de mão-de-obra treinada.
Até mesmo para os serviços mais básicos é difícil de encontrar. Mão de obra para
desenvolvimento tecnológico estamos distantes” (Empresa 1).
21
“Temos muita dificuldade em formar profissionais, aqui não tem um curso que é
oferecido em outros estados na área de materiais e mesmo em outros estados este curso as
vezes não oferece um módulo de ensino no material que precisamos” (Empresa 4).
“O maior desafio para avançarmos é o da formação de mão-de-obra para atuar na
indústria, a maioria da consultoria contratada por nós é de fora, apesar de termos nossos
pesquisadores que estão sempre inovando. A falta de pessoas qualificadas também
atrapalham na inovação tecnológica na minha opinião é o principal entrave” (Empresa
2).
“A escola técnica não forma para a fabrica ela forma para o escritório já perdeu a
condição de forma para o chão da fabrica” (Empresa 6).
As carências em termos de infraestrutura física, financeira, de comunicação e de caráter social
também têm sido bastante lembradas.
“Cariacica tem que ter uma área para atividade industrial, aqui no município não tem
espaço nem planejamento para receber empresas. Para nós falta tudo: não tem espaço,
falta segurança e infra-estrutura. Antes não havia estrada para escoar a mercadoria isto já
melhorou um pouco, mas ainda falta muita coisa. Falta internet no Contorno e telefone.
A subida daqui (do contorno até a oficina), nós [e uma oficina ao lado] que fazemos a
manutenção e isso não deveria ser um trabalho nosso. Outro impacto que podemos notar
é o crescimento de bairros sem nenhuma infraestrutura e planejamento. Isto amanhã ou
depois vai ser problema grande” (Empresa 3).
“O motivo de termos vindo para cá é devido a menor concorrência. Mas o município não
oferece nenhuma vantagem competitiva. Aqui falta infra-estrutura, tivemos que construir
rede de esgoto para se instalar, aqui não tem internet de banda larga, logo não temos
máquinas de cartões rápidos e isto tudo atrapalha” (Empresa 13).
“não temos hotel, a própria estrutura da Rodovia do Contorno não é adequada, não tinha
ponto de ônibus, falta ônibus e também segurança. Queremos começar um turno de
trabalho noturno, mas falta segurança, não havia iluminação e foi uma reunião das
empresas da rodovia do contorno com a PMC que resolveu parte das nossas dificuldades.
Para esta reunião chamamos também moradores dos bairros mais próximos. Outra coisa
22
que também falta aqui são postos médicos. Se precisarmos de médico temos que perder o
dia para fazer uma consulta. Gostaria que aqui se estabelecesse um Senac. As pessoas
que temos que treinar temos que mandar, ou para o Senac de Vila Velha ou de Vitória, e
isto para a pessoa é ruim, já que é cansativo trabalhar em Cariacica e ter que se deslocar
até um desses dois locais para fazer cursos à noite. Acaba que o curso feito não é
aproveitado como deveria” (Empresa 8).
“O município de Cariacica está começando a acordar para o mercado, mas não conseguiu
atrair grandes investimentos. Um exemplo é a falta de condomínios para área industrial e
comercial. O empresário não constrói armazéns isolados devido a falta de segurança”
(Empresa 11).
“Falta incentivo e reconhecimento, apesar de termos desenvolvido um produto temos
dificuldades de apresentar ele a outras pessoas. A Feira de Negócios é cara para nós, pois
temos que pagar um valor difícil de resgatar no próprio evento” (Empresa 3).
“falta um linha de credito para o micro empresário, os prazos para nós deveriam ser
maiores” (Empresa 3).
“A FINDES deveria está buscando resolver as necessidades tecnológicas das empresas,
mas isso não ocorre, pois estão preocupados com outras coisas e poderiam estar levando
nossas necessidades junto a escolas e universidades (Empresa 6).
“Temos muita dificuldade para encontrar prestadores de serviço em Cariacica. Os que
temos oferecem serviço de baixa qualidade e a grande maioria ainda não tem nota fiscal.
Assim, quase todos meus fornecedores e prestadores de serviços são de fora daqui”
(Empresa 13).
i) Compatibilidade entre crescimento econômico e preservação ecológica
As contradições no discurso sobre a questão ambiental são frequentes e, na maioria dos casos, o
discursos estão sempre vinculado a interesses específicos.
23
“Tem 10 anos que a indústria trabalha usando gás natural fornecido pela Petrobrás, foi
uma forma encontrada para poluirmos menos, uma exigência dos órgãos ambientais”
(Empresa 2).
“Gostaria de iniciar um projeto ambiental para obter selo de qualidade, mas falta
incentivo da Prefeitura” (Empresa 15).
“Falta siderurgia no estado, mas os órgãos ambientais travam a vinda de algumas para
cá” (Empresa 6).
“Um desafio é o licenciamento ambiental, pois o fato de ser feito pelo Estado e não pelo
Município falta agilidade” (empresa 7).
3.2 Resultados qualitativos sobre a produção agropecuária e pesqueira
a) Perfil das propriedades rurais
Predomina em Cariacica a produção agropecuária em pequenas glebas e poucas propriedades de
tamanho maior, de uso empresarial, muitas delas com problemas de regularização fundiária.
“Hoje temos 3 propriedades, uma de 2,8 hectares, registrada; outra de 2 hectares e outra
de 1,5 hectares, estas no recibo” (Proprietário 8).
“Trabalhamos em 8,5 hectares da família e mais 1 alqueire próprio” (Proprietário 2).
“A propriedade total possui 2 alqueires, mas está em condomínio. A nossa parte tem 4
ha. As propriedades vizinhas são um pouco menores” (Proprietário 4).
“A propriedade tem 9 hectares e aqui na redondeza tem mais 6 famílias de trabalhadores
e suas propriedades são mais ou menos do mesmo tamanho da nossa, alguns com mais
um pouquinho outros com menos” (Proprietário 12).
“A propriedade tem 91 hectares e tenho mais 48 hectares que não está em meu nome”
(Proprietário 1).
“Tenho propriedades em Maricará (14 ha arrendado e 48 ha próprio) e Santa Leopoldina”
(Proprietário 3).
24
“A propriedade possui cerca de 84 hectares. Encontro problemas porque a terra é uma
herança, que não possui legalidade. Tem uma geração anterior que saiu daqui, com o
êxodo rural, não deu continuidade aos processos de legalização das terras, os inventários
não foram feitos. Eu e outros vários proprietários atualmente somos posseiros das terras,
trabalhando praticamente na informalidade” (Proprietário 5).
“Sou proprietário deste terreno de 32 hectares desde de 2001, mas sou produtor rural em
Cariacica desde 1990. Vim de Santa Teresa onde também era produtor rural”
(Proprietário 6).
Em boa parte do território há uma abundância de terra fértil e muita água.
“A terra é boa, de excelente qualidade e não falta água” (Proprietário 1).
“A água é suficiente. De 10 em 10 anos dá uma seca grande, mas normalmente há
abundância de água” (Proprietário 7).
Muitos dos atuais proprietários rurais têm uma trajetória produtiva recente (últimas décadas) no
município. Muitos membros da família atuam inclusive em atividades urbanas.
“Trabalho como produtor rural no município desde 79. Meus dois filhos estudam curso
superior (administração e comércio exterior) e trabalham na Prefeitura” (Proprietário 1).
“Meu filho mais velho tem curso técnico agrícola, mas não exerce, fez outros cursos e
trabalha na CST. O outro fez administração e trabalha na Garoto e a filha é professora
universitária” (Proprietário 2).
“Estou em Cariacica desde 2005. Sou empresário rural e estou nesta atividade há 35
anos. Tenho 3 filhos e todos trabalham comigo. Minha filha mais velha foi a única que
estudou, fez contabilidade” (Proprietário 3).
“Aqui na região de Boa Vista somente 30% é produtor rural, os outros tem a propriedade,
mas não vivem dela. Agora na região do seu Duquinha todo mundo é produtor, vive da
terra mesmo” (Proprietário 4).
“Moro em Cariacica desde 1998 e comprei a propriedade em 2004. Antes trabalhava de
meeiro. Vim de Santa Teresa e sou filho de produtor rural. Tenho o 2º Grau completo e
sou técnico em Administração de Empresa. Aqui todos são produtores, mas o que
25
acontece é que um fica na propriedade e os outros vão trabalhar na cidade” (Proprietário
8).
“Tenho 53 anos, nasci no Município de Cariacica, fiquei um tempo fora, estudando,
depois voltei. Mexo com agroturismo há 14 anos, trabalhamos eu, minha mulher
(professora-pedagoga) e meu filho (veterinário). Começamos aqui alugando cavalos”
(Proprietário 14).
As famílias pescadoras possuem uma relação de propriedade mesclada entre perfis urbanos e rurais.
“Tenho 45 anos de idade e moro em Cariacica há 35 anos. Trabalho na pesca desde 1988,
mas já trabalhei como meeira, criando galinha e cuidando de horta. O terreno que moro
foi uma doação do meu filho, que é porteiro numa escola, mas antes ele trabalhava na
pesca. Tenho uma roça que é para consumo próprio” (Pescadora 1).
“Sou pescador artesanal, tem 10 anos que atuo nessa atividade em Nova Rosa da Penha.
Tenho ensino médio completo (supletivo)” (Pescador 2).
“Moro há 40 anos em Cariacica e sou pescador desde1981. Estudei até a 2ª série”
(Pescador 3).
Tem 35 anos que moro em Cariacica. Comecei a pescar em 1978 e cursei até a 3ª série”
(Pescador 4).
b) Monocultura e diversificação produtiva
A opinião técnica aponta o problema da especialização produtiva na zona rural. As dificuldades de
diversificação têm diversas natureza, desde a cultura local atá a entrada do agronegócio.
“Outro problema é a falta da diversificação. Em Cariacica fala-se muito em plantar
banana, banana, banana. Nós temos que diversificar, nós temos terreno que a gente pode
plantar de tudo. Já fomos grandes produtores de quiabo, a Ceasa está aqui dentro do
nosso município, nós temos que ter a diversificação, até mesmo pra suprir a merenda
escolar, a agromerenda, o Projeto PAA. Tem que ter uma diversidade e isso só se faz
com técnica” (Técnico 1).
As propriedades maiores operam em regime de monocultura empresarial.
26
“Minha produção é especifica, só produzo banana, vendo para os supermercados da
grande Vitória e para os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais” (Proprietário 3).
“Principal atividade é gado de leite (110 l/dia), faço queijo e vendo ao comércio local.
Planto milho, capim e cana para tratar do gado. Já fui plantador de verdura. Tenho
criação de porco para consumo” (Proprietário 6).
“Minha produção é exclusivamente gado de leite” (Proprietário 7).
“Só produzo cana para a cachaça e tenho uma criação de gado, mas estes crescem
largados aí. Só dou vacina, depois vendo para matar” (Proprietário 9).
“Vendemos tanto o animal (carneiro), quanto a tecnologia. O carneiro custa 6 vezes mais
do que o boi pra corte. E pequena propriedade tem tudo a ver com pequeno animal.
Produzimos a cana pra eles, produzimos o capim, compramos uma máquina de ração e de
insumo. A minha ração já está quase virando uma marca, porque o pessoal está pedindo
ela” (Proprietário 14).
Mas, a maioria das propriedades trabalham com várias culturas, inclusive a cultura de subsistência
que é própria da pequena propriedade que opera em regime familiar.
“Produzimos café, banana, gado (leite e corte), carneiro, milho em maior quantidade,
feijão só para o gasto e, ultimamente, estamos querendo partir para hortaliças (quiabo,
inhame), aproveitando incentivos” (Proprietário 1)
“Cultivamos banana consorciada com café. Já produzi muito café, mas passei por
problemas de saúde e não pude cuidar. Agora estou voltando à atividade e renovando a
lavoura. Feijão só pra consumo. Temos um pequeno plantio de limão, criamos galinha
caipira e estamos começando o plantio de aipim para consumo próprio e da criação e
vender o excedente” (Proprietário 2).
“Nessa propriedade aqui só produzimos o biscoito e o café, tem uma outra que planta
banana e entrega via PAA. Para consumo próprio plantamos coentro, salsa, cebolinha,
alface e mandioca” (Proprietário 4).
“Produzo banana, que é uma cultura tradicional, e flores tropicais, além de alguma
cultura de subsistência” (Proprietário 5).
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“Planto pepino o ano todo. Faço umas 3 a 4 roças por ano, usando uma área de 3
hectares. Mas não temos assistência técnica. Quem faz as recomendações são eu e meu
pai. Faço uma horta de tomate por ano, faço também uma roça de berinjela, de jiló e
temos uma roça de limão Taiti com 480 pés aproximadamente. Estou esperando o projeto
de peixe da PMC para começar a criar também. Para o consumo temos porco, horta
caseira, mas não planto feijão nem arroz” (Propriedade 8).
“Aqui plantamos acerola, cana para caldo e limão. Vendemos na feira e para a Ceasa.
Ainda não fazemos polpa, mas estamos buscando meios para fazer. E temos as frutas de
época: jabuticaba, manga, jaca, jambo, que também são vendidas. Não faço horta porque
na época do verão não conseguimos produção, o clima não ajuda. A acerola é a que mais
me segura na roça. Para feira, fiz umas lavouras de pequeno porte, milho verde, quiabo,
mas começou a dar muita mão de obra e estávamos começando e não estava dando muito
dinheiro, então paramos com as lavouras pequenas” (Proprietário 12).
A produção artesanal da pesca vive o dilema da escassez de pescado e dos mariscos, mas, ainda há
uma alguma diversificação.
“A pesca é para a venda, pois hoje a quantidade de peixe diminuiu muito, então quase
não sobra para a alimentação da família. O marisco se pega muito pouco e quando tem já
está encomendado. O sururu resiste mais na época de chuva do que o marisco. O
caranguejo para a gente apanhar é muito longe, tem que andar uma área muito grande
dentro do mangue, então eu estou mexendo mais com o marisco mesmo, hás uns 3, 4
anos” (Pescadora 1).
c) Técnicas de produção
O uso de algumas técnicas agrícolas, de fertilizantes químicos e de agrotóxicos são bastante comuns,
especialmente nas propriedades maiores.
“Usamos trator, arado, irrigação no café, com problema de furto de peças. Secamos e
torramos café. Compramos adubo. Tentamos fazer orgânico, mas não temos condição de
fazer totalmente, pois pegamos resíduo de poda da Prefeitura para tentar fazer adubo mas
precisa de máquina para triturar. Fazemos também análise do solo para fertilização e
utilizamos defensivos, infelizmente, o Roundup, mesmo sabendo que o uso prejudica.
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Fazemos calagem, compramos calcário em Castelo com atravessadores. Mas não é
100%” (Proprietário 1).
“Aprendi a produzir dessa forma porque sou muito curioso e ouvi falar do Projeto Jaíba
em MG, onde me falaram que a produção de frutos era com tecnologia de ponta. Fui até
lá e fiquei uma semana nas propriedades aprendendo a mexer. Quando vim, trouxe um
agrônomo de lá comigo e comecei a fazer os investimentos necessários. Hoje na minha
propriedade temos tudo que tem numa propriedade que produz com alta tecnologia:
cabos aéreos, galpão de processamento, e para plantar faço tudo que o técnico me manda
fazer. Faço todas as adubações, tenho irrigação por aspersão e faço pulverizações
preventivas contra sigatoca. Faço também beneficiamento pós colheita, onde uso sulfato
de alumínio e detergente neutro. Dou um banho nas bananas para proteção e evitar
fungos. Transporto em um caminhão climatizado próprio. As mudas eu tiro do meu
bananal, escolho as melhores plantas e delas tiro as mudas. A adubação é feita com
NPK, nitrato de potássio, sulfato de potássio, cloreto, calcinite e ureia. Os fungicidas
usados para prevenção são TioTio e Escore. Uma vez por ano uso Nativa” (Proprietário
3).
“Possuo bomba e material para irrigação (canhão), trator de porte médio e nogueira para
cortar ração para o gado. Nas plantações de cana e milho utilizo adubo químico (NPK),
além de fazer calagem” (Proprietário 6).
“Na nossa produção de leite o gado fica no pasto e no inverno damos cana e concentrado,
ou seja, temos a produção de leite a pasto com suplementação no inverno. Nós
compramos o concentrado da cooperativa de Santa Maria, a produção é deles. Para o
plantio de cana usamos adubo químico e calcário. Temos irrigação por canhão.
Compramos o adubo na Casa do Adubo. O calcário vem de Cachoeiro” (Proprietário 10).
“nós temos o laboratório, alta-genética, que é vinculado à USP. É um programa de
melhoria genética de ovinos no Brasil. São 7 criadores no Brasil, eu sou um deles. As
atividades desenvolvidas são: a produção de carneiro, onde se faz a simulação e
transferência de embrião, que é a tecnologia mais moderna hoje. O agricultor tem que ir
experimentando e tem gente comprando a nossa ração, mesmo que agente não tenha a
29
ideia de vender, mas isso prova que a nossa ração tem um certo diferencial. O insumo é
comprado na Cooperativa de COPEAVE e na CONAB. O adubo é orgânico e só usa
calcário pra acertar o PH. Tem uma irrigação pequena, modesta, de mangueira, para
poder mudar de lugar. A água é suficiente porque estão preservando a nascente, meu
irmão preservou a parte dele e nós estamos fazendo o outro vizinho se preocupar também
com a água. Tem esse rio que é um afluente do rio Bubu, mas teve época que aqui ficou
muito seco e hoje ele tem um nível de água muito maior do que era” (Proprietário 14).
Nas pequenas propriedades o uso de técnicas produtivas mais avançadas fica mais restringida. Há
inclusive grande dificuldade de acesso aos conhecimentos sobre novas tecnologias menos agressivas.
“Não temos irrigação, usamos adubos químico e orgânico na banana, mas pretendemos
usar só orgânico. Compramos adubo na Casa do Adubo por ter menor preço e alguma
orientação. A assistência técnica é precária devido até ao relaxo da gente. Ficamos
aborrecidos por não ter muita atenção dos técnicos e também não damos muita atenção
ao que falam. Compramos adubo orgânico com um menino de Santa Leopoldina, que é
produtor também. Já usei veneno, mas não uso mais e aconselho que ninguém use. Uso
uma roçadeira, que é a melhor coisa que ganhei na vida” (Proprietário 2).
“Nós temos hoje propriedades que são tocadas por empresários que moram na cidade e
injetam dinheiro aqui, e que eu até questiono se isso tem algum tipo de retorno. E nós
temos aquele produtor antigo, tradicional que continua carregando a banana nas costas,
que continua jogando o café no terreiro sem uma lona, ou seja, essas técnicas que não
agregam valor ao produto” (Proprietário 5).
“Aprendi a produzir através da agroecologia fazendo cursos no Incaper, patrocinados
pela Prefeitura. Na verdade eu nunca trabalhei com veneno, com Roundup. Agora vai
fazer uns dois anos que eu adquiri uma roçadeira para manter roçado o capim. Eu já usei
o adubo químico na cana há uns anos atrás, hoje é muito pouco” (Proprietário 12).
No artesanato pesqueiro as condições técnicas são ainda mais precárias, quando se pensa em escala
de produção para o mercado, mas faz parte da cultura local o uso as técnicas tradicionais de base
popular.
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“Para vender o sururu tem que cozinhar bem, lavar na água doce, antes de abrir, porque
tem que ferver ele antes pra abrir, tirar todas as areias que ficam, porque o sururu vai da
sacola direto para a panela. Segundo a informação que a gente tem é que eles vendem o
sururu a R$ 7,00 o quilo. No caso meu, porque enquanto eles conseguem limpar 10
quilos por dia, eu consigo limpar 5, o meu processo de limpar é mais demorado do que o
deles, eu to vendendo a R$ 12,00, mas só que infelizmente é pouco.
“A pesca é feita com rede, tarrafa e anzol. Não há fiscalização em Cariacica e isso é
muito ruim” (Pescador 3).
d) Relações de trabalho e Associativismo
As maiores propriedades atuam no estilo empresarial, inclusive com contatação formal e uso
diversificado de relações de de trabalho.
“Temos um total de 94 empregados e todos tem carteira assinada”
“Em média são 3 ou 4 empregados com carteira assinada e normalmente umas 20 a 25
pessoas na colheita do café. Alguns meeiros: um mora dentro da propriedade, os outros
desistiram, acham que o café não compensa” (Proprietário 1).
“Empregamos, na área dos animais, mais ou menos 5 pessoas. Na parte do agroturismo
trabalham mais ou menos 23 pessoas, diretamente, e indiretamente mais umas 50”
(Proprietário 14).
O problema do trabalho rural tem sido a atração da cidade, pois a proximidade com o urbano da
Região Metropolitana coloca sempre alternativas diversificadas de formação para o trabalho fora do
campo e mesmo de trabalho na construção civil e outras ocupações que não exigem tanta
qualificação.
“Aqui temos dificuldade para encontrar mão-de-obra, a maioria das pessoas tem emprego
fora da zona rural e não querem mais trabalhar na roça” (Proprietário 8).
“Já plantei café, mas aqui é ruim de mão-de-obra, corremos o risco de na hora de colher,
a construção civil está em alta, e não encontrarmos ninguém para pegar o café. Assim
ninguém fica na atividade” (Proprietário 9).
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No passado os produtores rurais de Cariacica constituíram várias associações que foram sendo
desarticuladas ao longo do tempo. Isso faz com que parte dos proprietários, especialmente os
empresários, se filiem a cooperativas de outros municípios.
“Participo de uma cooperativa em Santa Maria do Jetibá” (Proprietário 3)
“Dificuldade é a falta de uma associação de produtores de leite aqui, porque vender leite
para a Cooperativa Selita é complicado. Tinha que ter uma associação de produtores para
melhorar o preço, caso contrário você cai na mão de uma Nestlé, da Parmalat e da Selita,
que querem vender para fazer promoção no Supermercado” (Proprietário 7).
“Tento formar uma associação dos produtores de cachaça desde 1998, mas não consigo e
atribuo isso ao fato do povo ser desorganizado” (Proprietário 9).
A experiência recente pra a maioria dos produtores tem sido a retomada das atividades associativas,
mesmo com todas as dificuldades de convencimento para as parcerias e o precário conhecimento das
possibilidades de organização e das várias modalidades de trabalho cooperado. As experiências mais
exitosas servem de exemplo para a difusão da solidadriedade entre as famílias produtoras.
“Na propriedade dele só trabalham ele e a mulher e na colheita ele coloca uma mão de
obra, que é contratada a dia. Não há cooperação entre as famílias, cada um trabalha na
sua propriedade” (Proprietário 12).
“No contrato, trabalhamos eu e mais uma pessoa e tem umas empreitadas de vez em
quando, que a gente dá para o pessoal fazer. Fazemos troca de serviço com um irmão.
Até agora não entrou dinheiro só o serviço. Tem uma Associação dos Produtores Rurais
de Boa Vista e região chamada APROVITA. No momento a Associação está parada,
começando a trabalhar novamente. Estamos levantando uma sede e envolvidos com a
Agromerenda e com o PAA. A associação ajudaria muito. A Prefeitura deveria ajudar de
uma certa forma para sair essa cooperativa, com pessoas capacitadas, para orientar como
é que a gente faz, qual é o melhor caminho” (Proprietário 4).
“Às vezes empresto máquinas aos vizinhos. Cometamos sobre trocar dias de trabalho
entre nós mas isso não deu certo ainda” (Proprietário 1).
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“Existe aqui a APRODER – Associação de Produtores Rurais e Região, com
aproximadamente 36 associados. Esperamos que programas como o PAA e a
Agromerenda façam com que as associações se fortaleçam, pois facilitaria a venda dos
produtos. Começou com associação de produtores e moradores, porém com o
crescimento urbano começaram a haver divergências nas ações da associação, que ficou
atendendo a interesses urbanos dos moradores que não desenvolviam atividades
agrícolas. Então chegamos a conclusão que seria melhor desmembrar a associação”
(Proprietário 1).
“Acredito que o sul do país seja forte por causa do sistema de cooperativa que é forte.
Quando querem impor alguma coisa eles se impõem. Com cooperativas podemos
comprar mais barato por comprar em maior quantidade. A curto prazo não haverá criação
de empregos com o sistema de cooperativas, mas a longo prazo pode, pois teremos que
delegar as pessoas para cuidar das coisas da cooperativa e estas terão que ser
remuneradas” (Proprietário 2).
“Nós da Associação queremos organizar a compra conjunta dos produtores. Juntar as
associações de Roda D’água e Cachoeirinha e fazer uma compra grande, para
conseguirmos comprar mais barato” (Proprietário 8).
“Para segurar os jovens na roça, tem que ter as associações, fazer com que a produção
seja uma forma de renda. Nós temos algumas agroindústrias, mas pode fortalecer muito
mais. Produzir o que vai para a merenda e o que sobrar vai para as agroindústrias. A
associação tem que fortalecer as ideias dos caras de que dão certo sim. Hoje o Governo
do Estado libera R$ 200mil para cada associação, município pra comprar máquinas, fazer
o que eles acharem que convém. O ano que vem vai ser R$ 500mil e se não tiver uma
associação organizada vai pros municípios. Então, nós temos que fomentar essa questão
de associações de produtores rurais” (Técnico 1).
“As cooperativas são uma boa alternativa, mas as pessoas precisam amadurecer para
estes tipos de iniciativas, teríamos que ter cursos palestras para as pessoas saberem o que
é cooperativismo” (Proprietário 11).
33
No caso da produção pesqueira, as relações de trabalho são ainda mais complicadas, pois não se trata
mais de uma farta produção de subsistência, mas do acúmulo de desafios para viver de uma atividade
em franco risco de extinção.
“A pesca teria condições de empregar mais do que as empresas, se ela fosse preservada.
Quando as pessoas ficam desempregadas elas buscam na maré o sustento para a família.
Mesmo o cara que está empregado vai à maré para completar a sua alimentação”
(Pescador 3)
“Na Associação de Pescadores de Nova Canaã, vivem da pesca 75 pessoas, destas 43 são
credenciadas, com carteira e documentação. A cooperativa ajuda sim, se for tudo
organizado, para levar o peixe limpo para as casas. Nós temos que ter um lugar para
beneficiar também, fiscalizado pelo Ministério da Saúde. E quem tem que fazer isso é a
Prefeitura. Por exemplo, para entregar nas escolas tem que ter um peixe desse modo e
sem espinho também. Existem já os conteineres de beneficiamento, mas eu acho que a
Prefeitura de Cariacica ainda não conhece. Eu queria que a Prefeitura copiasse o modelo
de pesca da Serra” (Pescador 4).
e) Comercialização dos produtos rurais e pesqueiros
O papel do intermediário (atravessador) é uma das bases da comercialização do produto rural em
Cariacica. É interessante notar que o produto mais importante em termos de volume e área plantada,
a banana, não é colocado diretamente pelo produtor na Ceasa, devido à dificuldades na relação
comercial/institucional. Alternativamente, a produção de menor escala é comercializada diretamente.
“Leite, vendemos para pessoa individual, entre 40 a 50 litros, para fazer queijo. Café,
vendemos para exportador e torrefação. Banana, para atravessador que comercializa na
Ceasa e feira. Coco e limão, tem gente que vem pegar aqui. Entregamos também via
PAA” (Proprietário 1).
“Vendemos banana e café para atravessador, pois não vendemos mais na Ceasa. Estamos
começando a vender ovos para amigos. Estamos melhorando a raça das galinhas e
comprando mais. Pretendemos participar do programa da merenda ano que vem,
vendendo ovos caipira” (Proprietário 2).
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“Fui plantador de verdura, mas o comércio desse artigo não ajuda, já que tenho que ir à
CEASA vender e muita das vezes os compradores não pagam o preço da cotação do dia e
para conseguir vender por um bom preço tenho que ficar o dia todo no local, perdendo
tempo e deixando de cuidar da roça. Por isso deixei de plantar verdura. Mesmo nós que
estamos perto da CEASA temos que vender para atravessador, e eles pagam o preço que
querem. Fizemos contrato com as lojas e vendíamos direto para eles, mas na hora de
colher se a loja não quisesse o produto eu tinha que vender para atravessador”
(Proprietário 6).
Porém, há ainda uma série de dificuldades a serem superadas, para melhorar os circuitos de
comercialização da produção do campo e, inclusive as relações que envolvem os produtores com os
processos de compras governamentais.
“A utilização dos produtos produzidos pelos produtores e pelas agroindústrias do
município na merenda escolar já ajudaria, mas eles tem que desburocratizar esta compra
esta chamada que fizeram não tem quase nada lá que contempla a gente e o volume de
coisa que vão comprar da gente é pouco. Tinha jeito de ter mais coisas e o volume ser
maior” (Proprietário 10).
“Para podermos comercializar nossos produtos fora do município, teríamos que ter o selo
de inspeção municipal, mas Cariacica ainda não tem esse selo. Está em fase de
implantação, mas ainda não sabemos o que temos que fazer para ter. Nossa maior
dificuldade para comercializar os produtos é o meio de transporte, estamos correndo atrás
para comprar um carro para vender diretamente ao consumidor final e conseguir
melhorar o preço de venda” (Proprietário 11).
“Estou inscrito na Agromerenda, mas eles falaram que eu tenho que entrar com a polpa.
Eu não consigo vender a fruta. Ontem mesmo eu fui à Prefeitura para ver esse negócio.
Eu terei que adquirir um financiamento, que eu nunca fiz, pois tenho um pouco de medo,
mas eu vou ter que adquirir para eu comprar os maquinários” (Proprietário 12).
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Contudo, empresas rurais de maior porte possuem um estilo próprio de comercialização, pois
participam como proprietários de vários elos da cadeia produtiva e de comercialização.
“Além da produção tenho uma loja na CEASA, onde vendo meus produtos para vários
estados” (Proprietário 3).
“Produzo leite para a Selita” (Proprietário 7).
“Os produtos do laticínio são vendidos para Vitória, Cariacica e Vila Velha. Entregamos
em padarias, supermercados e mercearias o transporte é feito em carro próprio.
Vendemos também para PMC, mas está ficando difícil, estamos achando que
terceirizaram a compra da merenda. Temos como atender, mas a PMC tem que
demonstrar maior interesse” (Proprietário 10).
“Eu vendo mais para a região Sudeste e um pouco no sul da Bahia” (Proprietário 14).
Pequenas agroindústrias também atuam com estilo próprio.
“Faço a feira de agroecologia em Campo Grande, no Bairro Parque Infantil. E o meu
irmão também entrega alguns produtos lá em baixo, por que ele trabalha lá em Vitória,
faz umas encomendas e leva os biscoitos” (Proprietário 4).
“Tenho impostos atrasados, por isso não tenho selo e sem selo não posso vender em
supermercados ou levar para Vitória. Entrego em veículos próprios nos comércios de
Cariacica” (Proprietário 9).
“Os produtos são entregues no estado, para supermercados e lojas menores. Também
enviamos para o sul da Bahia” (Fabricante 1).
A produção artesanal da pesca possui suas especificidades na colocação dos produtos no mercado.
Além disso, a proximidade dos bairros de Cariacica (onde está localizada boa parte das associações
das famílias pescadoras e catadoras) com o Município da Serra parece influir nos fluxos de
comercialização dos produtos da pesca.
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“Eu vendo em casa o marisco, porque é pouco né. Os fregueses vêm comprar aqui, eu
vendo para as pessoas que passam aqui e compram. Agora o caranguejo a gente vende
nas feiras, lá para Laranjeiras, para Serra” (Pescadora 1).
“O meu produto é vendido nas feiras livres de Campo Grande e Laranjeiras” (Pescadora
2).
“Vendemos os pescados na rua, em Campo Grande e na feira da Serra (no sábado).
Vendemos peixe, camarão, robalo e siri. Caranguejo vendia quando tinha, tainha, robalo,
mas acabou tudo” (Pescador 3).
f) Abastecimento interno
As fontes de insumos e produtos de consumo geral passam por diversas relações de compra em nível
local e regional.
“No supermercado, compramos arroz, sal, óleo e batata. Não costumamos comprar frutas
e verduras” (Proprietário 1).
“Para tratar do gado plantamos cana e sorgo” (Proprietário 10).
“Boa parte da matéria prima é adquirida aqui no Espírito Santo, como caixas de papelão e
frutas. Compramos frutas da CEASA, FRUCAP e de produtores locais, que entregam
direto aqui na fábrica. Algumas frutas não encontramos no estado, como pêssego e
fígado, então, temos que trazer de fora” (Fabricante 1).
“Só temos uma vaca, que dá uns 10 litros de leite por dia, usado para fazer queijo para o
café da manhã dos hóspedes. Compro do vizinho, queijo, manteiga, iogurte, flores (para
ornamentação de alguma festa). Também compramos nas redondezas artesanato de barro
e de bambu” (Proprietário 14).
g) Apoio comercial e institucional
Muitos produtores acessam as linhas de financiamento das agências federais (Banco do Brasil,
Pronaf etc.). Como no caso da produção urbana, o leque de reclamações neste quesito é enorme,
especialmente em relação ao acesso contínuo ao crédito, que acaba sendo privilégio para os maiores
empreendedores. Pelas respostas apuradas, a grande lacuna municipal, sempre destacada, tem sido a
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ausência de assistência técnica especializada, em número e em qualidade, bem como o apoio
infraestrutural.
“Tem crédito para produtor e sempre teve, para custeio e investimento. Pequeno e grande
produtor tem mais vantagens. Médio produtor tem poucas vantagens. O Banco do Brasil
tem flexibilizado pra fazer financiamento através do recibo e documentos pessoais para
plantio de hortaliças” (Proprietário 1)
“Já tive financiamento do Banestes e do Banco do Brasil para comprar máquinas e
tratores. A PMC nunca ajudou com nada e acho ruim a infraestrutura que a mesma dá aos
produtores” (Proprietário 3) .
“Programas da Prefeitura só o PAA, mas é federal, ela só administra. Assistência técnica
é falha. Existem dois técnicos dentro da Prefeitura, porém o atendimento é deficiente.
Devia ter projeto de orientação da Prefeitura para a produção (estudos para aumentar a
produtividade/qualidade). Conseguimos com um técnico do Incaper, emprestado à
Prefeitura, ir à Marilândia, ver a poda do café. Que foi bom. Falta na Prefeitura um
projeto ou programa relacionado diretamente ao meio rural, para o técnico vir e sugerir o
que pode ser feito na propriedade” (Proprietário 1).
“Sempre tive livre acesso com o pessoal da Prefeitura, mas eles não ajudam o necessário.
Já tive financiamento com o Banco do Brasil de 1980 a 90. Estou feliz com a abertura de
órgãos federais dentro da Prefeitura. Hoje sabemos que existem recursos do estado e da
área federal. Tudo isso ficava entre eles e não sabíamos o que era feito. Hoje se está por
dentro da situação depois que fizeram a Internet não é possível mais esconder”
(Proprietário 2).
“Nunca tivemos ajuda financeira de ninguém. A Prefeitura de Cariacica não ajuda, se
quisesse ajudar faria muita coisa. Tem um caminhão que passa na Serra, Vitória, Vila
Velha e Cariacica e que a Prefeitura deveria ajudar” (Pescador 4)
“Nas outras Prefeituras, quando tem alguma reunião dos pescadores, eles dão o carro
para levar o pessoal. A Prefeitura de Cariacica não dá” (Pescador 3).
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“A produção dos biscoitos começou com minha esposa trabalhando com a mãe e já tem 8
anos. Mas estava ficando muito apertado. Tive numa reunião de produtores em Cariacica
e lá o Gerente do Banco do Brasil apresentou o PRONAF. Fiz o projeto de agroindústria,
apresentei ao banco, foi aprovado, comprei as máquinas e estou produzindo, através do
PRONAF Investimento. Isso faz um ano. Pra levar os produtos para a feira precisava de
um carro, por isso voltei ao Banco, fez um novo projeto e consegui o financiamento,
novamente pelo PRONAF Investimento. São três anos de carência. Não tive ajuda da
Prefeitura pra financiar nada. O que a Prefeitura ajudou um tempo, há quatro anos atrás,
foi com o calcário, mas a gente que tinha que arrumar o frete pra ir lá buscar, mas isso
acabou. A patrulha e a retroescavadeira que a Prefeitura comprou, e ajudava na
propriedade, a gente tinha que pagar só o óleo. No começo tava bom, mas agora tá dando
uma briga danada, já mudou de secretário uma duas vezes, está dando um rolo danado.”
(Proprietário 4).
“Já fiz um Pronaf máquinas agrícolas, mas tive que fazer em Santa Leopoldina. A agora
vou dar entrada em outro para comprar um caminhão para levar as verduras para as áreas
de venda” (Proprietário 8).
“A historia da fábrica começou no fundo da casa da família com os pais e através do
FINAME compramos o local e as primeiras máquinas. O processo foi se incrementando
com a participação de membros da família em feiras em SP (FESPAL) de produtos
alimentícios, e foi de lá que conhecemos os novos processos produtivos e as novas
máquinas, que foram trazidas de lá também, já que aqui no estado não se encontrava.
Outro órgão que apoiou a produção foi a FINDES, que através de cursos sobre produção
ajudou a aumentar a capacidade da fábrica. O BANDES e o BNDES também já apoiaram
com financiamentos” (Fabricante 1).
Em alguns casos são destacadas as parcerias institucionais públicas, privadas e com ONGs.
“Nossa produção é toda voltada para o leite, mas trabalhamos com uma parceria com a
UVV e por isso temos outras atividades como: melhoramento genético do rebanho,
alugamos o espaço para aula onde eles tem criações de suínos, cabra e ovelhas. O
laticínio que temos recebe visitas também dos alunos de veterinária” (Proprietário 10).
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“Já participei de cursos sobre agricultura orgânica, chamado Sementes, promovido pelo
governo estadual, onde ensinavam além de adubação orgânica tratos culturais da banana.
Mas a maioria dos produtores aprendeu com os pais” (Proprietário 11).
“A associação tem 10 anos e só agora estamos conseguindo alguma coisa. A fundação
Otacílio Coser vem nos ajudando, elaborou para nós um projeto para concorrer ao edital.
O Incaper nos ajudou com uns barcos. A empresa que nos ajudou foi a TEGMA através
da fundação. ” (Pescador 2).
“Temos uma associação que se chama ASCAPENHA ela vem recebendo alimentos
orgânicos do PAA, ela é responsável por receber e distribuir para mais três associações
que é a de Nova Canaã, a de Porto Santana e de Nova Cajueiro. Esses alimentos vem de
Santa Maria do Jetibá. Fomos contemplados com um curso de informática para jovens de
14 a 29 anos de idade e são 60 vagas e estamos reunidos com as empresas para ver a
possibilidade desse jovem já sair empregado. Tem também uma conversa com a Marca
Ambiental que faz tijolo ecológico para empregar 14 pessoas na fábrica de tijolo, e é
emprego de carteira assinada” (Pescador 2).
“O Instituto Marlim Azul funciona através de filmagem, de palestra, é uma mostra
documentária, que mostra como é a pesca e mostra também a área que está sendo
devastada” (Pescador 3)
h) Produção e proteção ambiental
É interessante notar o vínculo direto estabelecido pelos produtores entre a projeção sobre o futuro e a
necessidade de consciência ecológica no meio rural e na defesa dos manguezais. Em muitos casos,
essa consciência aparece na defesa de algum interesse particular, mas a grande maioria dos
entrevistados aponta a necessidade de preservação ambiental. Fazem inúmeras denúncias de
degradação da natureza, em especial aquela que pode ser provocada pela expansão dos investimentos
infraestruturais e que ainda pode ser evitada, apontando os casos já experimentados de ocupação e
uso predatórios do solo.
40
“O projeto da ferrovia vai passar por cima de muitas nascentes e isso vai ser ruim, esses
projetos já trazem muita poluição e quanto mais projetos, menor vai ficando a área rural”
(Proprietário 3).
'Tivemos problemas com IBAMA, pois fizemos uma barragem no rio (3 sacos de areia
para irrigar café), mas desmanchamos para não ser autuado. A burocracia impede de
fazer projeto correto” (Proprietário 1).
“Comprei a reserva para não ver ela acabar. O problema mais grave é o rio que nós
temos, pois alguém está despejando esgoto e temos grande medo de ser usado como
acontece em outras regiões. Tem muitas famílias vindo morar aqui, que não exercem
atividade agrícola e não têm como impedir. Eles querem introduzir os hábitos das áreas
urbanas. Não tem zelo com nada, jogam lixo em qualquer lugar, despejam resto no rio. E
se não houver um trabalho de conscientização, futuramente isso vai acontecer. Acha que
a prefeitura poderia fazer lei pra não desmembrar a propriedade. Para garantir o uso
agrícola do solo, pois as pessoas vendem pedaços de terra pequenos para pessoas
construírem uma casinha e essas pessoas não querem saber se estão em encosta, margem
de rio...” (Proprietário 2).
“Eu já ouvi falar de uma rodovia que ia sair do Contorno e iria passar por aqui, mas tenho
pouca informação se isso vai acontecer mesmo. Desenvolvimento a gente precisa, mas eu
não gostaria que passasse por aqui, porque a poluição é a primeira que chega. Estão
dizendo também que a linha de ferro vai passar por aqui e se ela passar eu vou ter que
vender isso aqui e ir embora. A ferrovia só vai trazer poluição, eu não vejo o que mais ela
pode trazer de emprego para o jovem de Cariacica” (Proprietário 6).
“Fizeram o projeto da ferrovia lá em Belo Horizonte e neste projeto a via passava dentro
desta mata aí em frente. Tivemos que lutar muito para trocá-la de lugar, participamos das
audiências públicas. Ela também destruiria o sítio histórico que tem ali. O gasoduto já
destruiu muita coisa. Eles passaram dentro de um sítio histórico sem ao menos fazerem
um levantamento da importância desse sítio” (Proprietário 10).
“A Petrobrás também passou aqui em frente a nossa casa, colocando um gasoduto. E pra
falar a verdade essa obra trouxe foi prejuízo, porque em 2 mil, quase 3 mil metros de
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terra a Petrobrás pagou R$ 11mil. Estragou um pedação de terra nossa, estragou mesmo.
Por que a terra nossa era mais ou menos em nível. Eles pegaram 20 metros de terra, para
frente pegou 2 mil/3 mil metros de terra, tem que deixar os 20 metros livre, tem barreira
com mais de 8 metros de altura. Essa parte num serve mais para nada, capim não sai, não
dá mais nada, você não pode plantar mais nada, ali perdeu tudo” (Proprietário 4).
“Nós temos também que desenvolver os produtos agroecológicos, o Estado hoje tem R$
1,6milhão pra investir em sete municípios e um deles é Cariacica. Se Cariacica não se
abrir pra isso vai perder, são mais ou menos R$ 300mil para trabalhar com certificação,
preparar o produtor” (Técnico 1).
Segundo os manguezais estão sob gave risco de degradação definitiva, pois também são bastante
afetados pela poluição ambiental.
“As empresas que vêm para a beira do manguezal poluem, jogam seu esgoto dentro do
mangue e nada acontece, com o esgoto vai muita química e quando pescamos
encontramos peixe e caranguejo mortos. As empresas vêm para cá, falam que vão dar
emprego para um monte de gente, isso é bom, mas eles destroem tudo. Antes deles
chegarem tinha muito pescado e muito caranguejo, hoje não tem mais nada, com essa
poluição apareceu essa doença letárgica e ninguém tira de nossa cabeça que foi todo esse
esgoto e óleo que causou essa doença. As empresas acabaram com a área verde e a
prefeitura só tem dois fiscais e não tem condição de impedir que estas empresas se
instalem” (Pescador 2).
“Com as construções feitas na Rodovia do Contorno, no Valão dos Escravos, ele já foi
agredido, se ele for tampado vai acabar com os peixes todos, porque jogando as coisas lá
dentro vai para dentro do mar e vai acabar com as ostras, sururu, igual aqui” (Pescador
4).
i) Conhecimento sobre o município e principais desafios estruturais
A visão de quem atua no apoio à agropecuária em Cariacica parece ser um bom parâmetro para seus
grandes desafios.
“A principal dificuldade encontrada pelos produtores rurais de Cariacica e questionada
por todos são as estradas, mas eu não acho que seja isso, eu acho que o que falta aqui em
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Cariacica é um corpo técnico, de técnicos agrícolas da Prefeitura. Criar um corpo técnico
para elevar a qualidade da produção, para você ter um bom produto e poder vender com
um preço acessível ao mercado. Por que se você não tem uma assistência técnica
compatível, você vai ter um produto que não vai ser compatível no mercado. […] O
agricultor familiar de Cariacica é muito desinformado. Ele tem muito menos informações
do que o que mora lá em Laranja da Terra, Brejetuba, lá em Afonso Cláudio, com relação
a crédito, com relação ao financiamento da casa própria. […] Nós temos nove
associações, e só uma tem CNPJ, é legalizada. Então, falta incentivo mesmo e aí a
Prefeitura não é responsável pra criar associação, são os próprios produtores. Eu acho
que a consciência do agricultor de Cariacica, está começando agora” (Técnico 1).
Tal perspectiva se reflete na fala dos próprios produtores.
“Temos muitas dificuldades em obter informações para se conseguir algumas coisas
como: documentos para termos acesso a financiamentos, licenças ambientais, registro de
atividades a fim de legalizá-las e obter financiamento e ajuda do SEBRAE. Então, eu
acho que a PMC deveria facilitar nestas coisas para a gente conseguir desenvolver.
Através das escolas que temos não se difunde conhecimentos para o jovem, que o ajude a
permanecer no campo. Nós temos como viver bem aqui, mas precisamos de uma escola
que ensine o jovem a viver no campo, precisamos de uma escola técnica agropecuária.
Assim o jovem vai ter condição de aprender, ter uma profissão e permanecer no campo”
(Proprietário 11).
Mesmo as grandes empresas rurais observam algumas limitações para quem depende de
infraestrutura técnica oficial. As reclamações se multiplicam entre os vários produtores entrevistados,
que apontam também várias alternativas, não apenas aquelas vinculadas aos programas
governamentais, mas, também de iniciativa própria.
“As propriedades vizinhas têm o mesmo potencial, mas falta investimento, o Estado não
dá incentivo ao produtor rural de Cariacica, aqui não tem máquina para alugar para os
pequenos produtores. Outro problema é a falta de assistência técnica, qualquer prefeitura
de interior dá mais incentivo à agricultura que a PMC, quem quiser ter assistência técnica
43
aqui tem que pagar e isso para o pequeno é caro e sem assistência vão permanecer no
atraso” (Proprietário 3)
“Uma outra tarefa que a gente tem muito grande é o abastecimento de água. Se a
Prefeitura financiasse uns projetos de poço artesiano, uma irrigação pra gente espalhar...
Técnicas agrícolas também é uma grande necessidade, um técnico agrícola pra ver o que
a gente faz” (Proprietário 4).
“No segmento do leite, tem municípios do Rio de Janeiro e do Espírito Santo que a
prefeitura tem um acompanhamento com veterinário, técnico agrônomo e de inseminação
e eu acho que a Prefeitura deveria investir no melhoramento genético do gado, isso seria
um programa que deveria ser desenvolvido para o município, ele se responsabilizar
disso” (Proprietário 7)
“A principal dificuldade, que não deixa a atividade agrícola crescer, é a mão de obra.
Desde março que eu estou buscando um caseiro, que eu ofereci casa, alimentação, tudo
de uma forma gratuita e ainda ofereci pra ele uma parceria no bananal, pagando um
salário a ele e à esposa e mesmo assim ele não aparece, não vem” (Proprietário 5).
“Falta costume de fazer financiamento e dificuldade em arranjar documentos. Não temos
escritura do terreno. O programa de financiamento é bom, mas o que atrapalha é a
exigência de documentação” (Proprietário 1).
“Esta administração da PMC vem fazendo algumas coisas para divulgar nossos produtos,
recebemos convites para participar de feiras como: Feira do Meio Ambiente, Feira dos
negócios, mas para participar dessas feiras a economia solidária exige que estejamos
legalizados. Nós sabemos que há recursos para ajudar associação de produtores rurais,
mas eles falam que primeiro temos que estar legalizados e não há orientação para isso”
(Proprietário 11).
Boa arte dos desafios estruturais está vinculada ao avanço da urbanização na área rural, segundo
alguns entrevistados.
“A urbanização trouxe o problema do furto dos registros e canos da irrigação. Produzo
porque sou persistente, mas não temos sossego. Desmembramento ilegal de área rural,
que não é fiscalizado. Urbaniza a área rural desordenadamente, sem destinação adequada
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de esgoto, ocupação do solo (margens de rios). Se vai ter problema ou se vai causar
problemas...” (Proprietário 1).
“Os investimentos que estão vindo podem trazer empregos para os jovens, mas podem
também trazer muitos problemas sociais. Aqui em Cariacica já temos muitos loteamentos
irregulares e sem fiscalização, eles vão aumentar. Este tipo de investimento já traz muito
prejuízo para a agricultura, já que aumenta os roubos e ai perdemos a tranquilidade para
trabalhar. Um dos problemas que tem a agricultura em Cariacica é a falta de informação,
se fala de todos esses investimentos, mas não temos certeza de nada e assim fica difícil
planejar” (Proprietário 3).
“A urbanização (perda do sossego) do local é inevitável, pois estamos a 20 km da capital.
Eles pensam que perto da capital só pode viver o urbano e nós conservamos como rural e
temos que brigar mesmo para não perder a privacidade. Isso depende de cada um dos
moradores e, como se diz na gíria, é uma briga de foice” (Proprietário 2)
“Cariacica tem um potencial muito bom para agricultura, já que a maioria de suas terras é
plana podendo desenvolver agricultura com alta tecnologia. Mas isso também atrai outros
investimentos como fábricas e galpões” (Proprietário 3).
“Os produtores tem dificuldade de chegar até a fábrica. Antes as estradas eram piores e
ninguém conseguia chegar aqui com chuva, Isso encarecia muito o produto final e para
sair era a mesma guerra. Tem também a falta de segurança. Éramos constantemente
roubados e atribuo isso aos loteamentos irregulares” (Fabricante 1).
“São importantes os investimentos da Prefeitura, mas todo o progresso tem um preço e o
progresso tem que ser planejado se não pode engolir a pessoa. Deve haver um
desenvolvimento sustentável e não o que é feito. Não vejo investimento no campo. Os
governantes estão voltados para o desenvolvimento das cidades. O que faz com que inche
as cidades. E isso é em todo o brasil” (Proprietário 2).
“Essas obras vão trazer um grande desequilíbrio. Vão ter pessoas vindo para cá comprar
terra só para passar o fim de semana. Vai elevar demais o preço da terra e isso em
Cariacica tem acontecido demais. Aqui tinha que ter uma lei para só vender terra acima
de 10.000 m². Seria uma forma de evitar isso” (Proprietário 8).
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“Esses investimentos do setor privado serão e estão sendo muito bons para o
desenvolvimento de Cariacica, que começou a mudar neste Governo Municipal, com a
ajuda do Estadual também, e eu espero que ela mude radicalmente daqui para frente, uma
mudança drástica. Mas, lembrando sempre tem que olhar para o homem do campo, se
não o campo vai virar um deserto e todo mundo não vai caber na cidade. A capital já está
muito cheia e quanto mais gente morar no grande centro, mais problema social traz. As
escolas têm que ser feitas no interior, dando preferência de vagas pro pessoal que mora
no município. Foi combinado com o Governo do Estado, com a Secretaria da Justiça de
fazer um presídio aqui em baixo, só que em compensação eles iam dar um terreno pra
fazer uma escola agrícola, só que isso não está sendo cumprido pelo Governo, pela
Secretaria de Justiça. Isso foi combinado lá no Gabinete do Prefeito, que ia utilizar o
resto do terreno pra fazer uma escola rural, um horto municipal, só que isso não está
sendo cumprido.” (Proprietário 14).
Quanto às estradas rurais, esse parecer mesmo um problema estrutural de grande dimensão e de
difícil solução se a base continuar sendo os procedimentos tradicionais, segundo os entrevistados.
“Nós aprovamos, em 2006, no Orçamento Participativo, um maquinário patrulha rural
mecanizada. Nós adquirimos uma patrola, duas retroescavadeira, um trator, duas
caçambas e um rolo compactador. Aí veio um recurso do Município, com mais 50% do
Estado. O maquinário não atendeu às expectativas, tem um ano e meio que está tudo
parado, botaram uns operadores que quebraram as máquinas, que estão sucateadas. Hoje
um trabalho que seria de parceria, se tornou particular, nós estamos pagando R$80,00.
Nós conseguimos agora, uma outra retroescavadeira, do Governo do Estado, novinha. A
Prefeitura, não conseguiu colocar pra funcionar ainda. Então, agora no Orçamento
Participativo, nós temos R$ 950 mil de recurso para o ano que vem, para a região 13, a
gente vai ver se consegue pegar esse dinheiro e contratar uma empresa terceirizada para
fazer esse serviço, porque os carros estão abandonados. Os carros ficam 3, 4 meses
parados por causa de um pneu furado” (Proprietário 12).
“nós temos mirantes, altitudes, clima de montanhas e tudo mais. Para alguém que tem
dinheiro, seja de Cariacica, seja de fora, possa ver esses atrativos, precisa conseguir
chegar nesse lugar, e hoje (em 2010) ainda não se consegue chegar numa propriedade
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como a minha, que poderia estar gerando no mínimo cinquenta empregos. Agora é muito
mais fácil, do lado de uma BR, ocupar uma área, asfaltar aquele pedacinho e construir um
galpão, isso gera recursos mais rápido, então é a política do imediatismo” (Proprietário 5)
“o agroturismo tem crescido mais pro lado de cá, que pega Ibiapaba, Maricará,
Cachoeirinha, Sabão. Tem que ter boas estradas, boa sinalização e menos obstáculos.
Você vai passar ali em Itacibá, tem um obstáculo, que é um engarrafamento que atrapalha
tudo. Então é isso que eu acho que tem que ser mudado” (Proprietário 14).
“Em Santa Leopoldina, onde se tem muito mais estradas rurais, a prefeitura está sempre
dando manutenção e aqui em Cariacica, onde se tem um número menor de estrada, não
tem manutenção” (Proprietário 3).
“Então não só o ir do produto para os centros comerciais é melhor, mas também o vir de
turistas para as nossas áreas. No entanto, nós temos o problema com a estrada que não
favorece” (Proprietário 5).
“Não concordo com a estrada asfaltada na área rural, eu acho que vai trazer mais
aquecimento e destruição ambiental, eu acho que essas estradas têm que ser conservada.
Outra coisa importante é a preservação das águas, reter as águas, por que nós não
aproveitamos” (Técnico 1).
As alternativas para resolver o problema da escassez de pescado são apresentadas por diversos
produtores.
“Nós queríamos um espaço para criar peixe e camarão no mangue, mas eles falam que é
poluído e não da para criar estas coisas lá. Nós sabemos que é poluído, mas só temos
aquilo ali para viver. Eles prometem uma fábrica de artesanato, mas esta promessa tem
mais de dez anos e não sai. Os barcos vão ajudar, mas barco sem peixe não adianta nada,
queríamos um lugar no mangue ou um local para criar peixe” (Pescador 2).
“Aqui em Cariacica tem água com qualidade para criar camarão, mas as pessoas que
estão na área parecem que não tem conhecimento, não sabem do potencial da terra que
têm. Mas as coisas aqui na PMC são muito demoradas para o produtor rural, para se
conseguir uma liberação para usar a água é uma burocracia muito grande” (Proprietário
47
6).
“Estamos precisando de um local para guardar os barcos, mas o IEMA não libera e a
gente não entende. Eles liberam para que estas empresas se instalem aqui, aterrarão o
manguezal quase que todo e nós não podemos fazer uma barraca pequena para
guardamos os barcos. Os empresários podem, mas os pescadores não podem. Não
entendo isso” (pescador 2).
No caso da atividades pesqueiras e da cata de mariscos, existem novas dificuldades associadas à
ocupação de empreendimentos nas áreas próximas aos manguezais e o avanço na ocupação
empresarial trazem dificuldades de acesso das famílias pescadoras ao local de trabalho.
“A gente ouve falar numa cabine que vem para cá, mas a gente só ouve falar, porque
certeza mesmo a gente não tem de nada. Quem tem são eles que estão lá, o pessoal do
Meio Ambiente, do IBAMA. No município não, eu não me inteiro muito dessas coisas.
A gente sempre vê alguma área sendo aterrada na beirada no mangue, mas a gente nunca
sabe o que está vindo por aí. Igual aquelas construções que estão sendo feitas ali
naquelas beiradas daquela BR, perto daquela ponte. A gente vê aterro, construção, mas se
é particular, se é do governo... A gente nunca sabe o que está tendo de retorno para o
pessoal da pesca, porque fazer tudo dentro do mangue todo mundo quer fazer, agora
mandar um retorno, uma contrapartida com essas coisas que eles vêm fazendo em volta
do mangue ninguém se propõe. Ninguém procura o órgão, vai ter uma contrapartida para
quem? Não é para a Prefeitura, para o Governador, para o Estado não, tinha que ser para
o pescador, porque quem sobrevive do mangue é o pescador, naquelas áreas ali. Então,
qualquer coisa que atinge o nosso manguezal, a nossa água por aí, a contrapartida tinha
que ser para o pescador. Ninguém nunca chega para a gente e abre o jogo” (Pescadora 1).
“Para pescar temos que passar no quintal dos outros, pois tem cerca para todos os lados.
Quando cheguei ali era tudo aberto, há mais ou menos 25 anos que está fechado”
(Pescador 3).
48
“Agora tem mais dificuldade ainda, porque eles estão fechando as entradas que
usávamos. Então, tem que ficar esperando a resposta da justiça. Muitos pescadores
deixaram de passar por aqui, dificultando a vida. Eu como moro por aqui passo por
qualquer canto, mas eu tenho medo de entrar. Quem fecha as entradas é o pessoal que
compra as áreas. Quem compra eu não sei, mas a nossa entrada principal está fechada e
na justiça para resolver. Então, tem muitos pescadores que tem medo de passar naquela
barreira, tem que andar muito mais. O pessoal de Cariacica, Flechal, nova Canaã, Nova
Rosa da Penha que passava aqui, agora tem que andar muito mais” (Pescadora 1).
Em meio às reclamações também aparecem o reconhecimento do trabalho que vem sendo
desenvolvido em nível municipal, mesmo frente a várias dificuldades.
“A nossa orla hoje está destruída por um projeto público do Governo Estadual, ali é uma
estupidez o que estão fazendo com a nossa orla, isso daí é uma das coisas. Ainda vem a
questão do lixo, vem essa questão do esgoto a céu aberto, tudo são coisas que além de
estar fazendo com que a cidade fique mais feia, vem também a questão das doenças.
Então, tem muita coisa para ser consertada em Cariacica mais muita mesmo, a gente já
consertou algumas coisas, mas falta muito ainda. A construção das estradas estão
trazendo muitos, muitos impactos mesmo. Essa BR que está sendo construída aqui na
direção de Vila Velha, ta sendo entupindo nascentes, brejos e isso tudo causa impacto
ambiental muito forte. Mesmo manilha e lugar de botar calçada, mas aterra muitos
córregos, então os impactos são enormes aqui pra baixo. E isso é tudo legal, perante o
desenvolvimento. A gente tem a facilidade de falar sobre isso, por que tem participado
do Conselho de Meio Ambiente, Conselho de Agricultura e o Conselho de Turismo,
então todos estão ligados a essa questão. Se você for pra dentro dos outros Conselhos
você vai perceber que o impacto é no município todo” (Técnico 1).
“Nós reclamamos muito da falta de médico para o meio rural, as escolas melhoraram
muito, tem transporte, as escolas têm todas as aulas” (Proprietário 8).
“A PMC começou a fazer a estrada e isso já foi uma ajuda, também tem ajudado na
divulgação do turismo rural eles trazem as escolas para a propriedade, compra produtos
49
para a merenda escolar, estão trabalhando também na divulgação do Circuito de Turismo
Rural” (Proprietário 10).
As relações políticas também preocupam e a ausência de participação nas instâncias de decisão são
colocadas como problema estrutural de grave repercussão do tecido social.
“Nascido e criado em Cariacica, vejo que há grande desinteresse na política. Os políticos
são descarados porque os eleitores são piores ainda. Não sabem em quem votou e ficam
reclamando da rua com buraco, rio poluído, mas não quer perder tempo de discutir e
procurar uma ação a ser tomada, esse é o entrave que nós temos” (Proprietário 2).
“Quem se envolve com a Prefeitura aqui sou eu. Acompanho o pessoal direto lá, em
reuniões, alguns eventos eu, existe a feira agroecológica, eu faço parte da comissão que
organiza a feira. E aqui eu sou liderança comunitária, porque aqui tem a Associação de
Moradores, está meio parada, o pessoal abandonou um pouco. O mandato de presidente
até já acabou, mas a gente não consegue fazer outra eleição, aí a gente fica um pouco
como referência de liderança. Eu entendo que quando as pessoas participam do
município, se envolve em movimento comunitário, liderança, orçamento participativo,
isso aí tudo eu vou, e gosto. Agora, os outros aí estão todos isolados, você convida,
chama para as reuniões, mas não se envolvem em nada” (Proprietário 12).
“Tem uma quantidade grande de pessoas que tem a terra, mas que não moram aqui, o que
dificulta uma articulação política, uma maior pressão dentro do setor público pra uma
maior atenção” (Proprietário 5).
As contradições se explicitam no diagnóstico e na busca de soluções.
“Para a população urbana é bom, aumenta empregos, que aumenta a qualidade de vida,
diminui criminalidade, tudo isso. Para a área rural tira mão de obra. O problema da área
rural é o ônibus toda hora, pois faz com que tire a mão de obra, reduzindo a produção
rural e incentivando a ocupação desordenada da área urbana, degradando o meio
ambiente, pois os loteadores não tem documentos para serem repreendidos. Deveria ter
poucos ônibus em horários específicos” (Proprietário 1).
“Eu acho que isso é peculiar de área rural de região metropolitana. No caso de Cariacica,
a gente tem uma diferença na geografia, a população urbana não conseguiu entrar na área
50
rural por essa dificuldade geográfica. Tem a área rural de Serra, Vila Velha, Viana que
tem uma possibilidade geográfica de mobilidade urbana maior, agora Cariacica não tem,
por isso nós temos um abandono cada vez maior, dificuldade de conseguir pessoas pra
trabalhar. Não somos visitados, não somos conhecidos e ao mesmo tempo as políticas
públicas incentivam que o homem da roça continue indo para a cidade, colocando
Transcol, fechando as escolas, muitas vezes ainda criticando o homem do campo que se
aprimora” (Proprietário 5).
“Os loteamentos estão ficando cada vez mais próximos e com o ônibus as pessoas vão
todas trabalhar na cidade ficando difícil encontra mão-de-obra para trabalhar aqui. Este
desenvolvimento que prioriza a logística pode até trazer desenvolvimento, mas vai ter
muito impacto, vão aparecer muitos bairros sem infra-estrutura e isso vai levar a
problemas sociais, eu também não acho que temos infra-estrutura para desenvolver estas
atividades” (Proprietário 10).
Pensando o futuro...
“Temos sentido um aumento de preço dos terrenos. Se alguém comprar fará um
condomínio ou atividade de agroturismo, que é uma atividade complicada e precisa de
jogo de cintura, mas precisa de orientação, infraestrutura, gerenciamento para
desenvolver o agroturismo. O agroturismo é excelente negócio (menos trabalho braçal,
mais gerencial e maior retorno financeiro). Tem grande fluxo de pessoas no final de
semana que ajudaria o agroturismo” (Proprietário 1).
“Tenho conhecimento da construção da Agenda da AEC (Associação dos Empresários de
Cariacica), junto com o Grupo da Águia Branca e outras empresas que estão mais
“assentadas” em Cariacica. Tenho visto que uma grande preocupação é com a
especialização da logística, na parte de asfalto. A agricultura de Cariacica está sendo
muito engessada. Estão pensando num condomínio rural de casas, não é loteamento não é
condomínio, coisa de luxo. Isso vai trazer mais gente para a roça? Vai dar emprego? Vai
botar gente de volta para a roça?” (Proprietário 14).
“Faço parte do grupo de turismo e estou vendo nascer uma coisa nova. Não sabemos em
que vai dar, mas queremos ver acontecer. Quanto ao bem estar, à segurança e à educação,
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elas vão acontecer com o tempo, a própria geração que vai ditando essas normas, porque
as pessoas que mandam no município (tem muita gente da época do atraso... Se eu não
faço e você faz eu acho ruim...). E não é assim, a tendencia é ficar melhor e quero
participar desse processo” (Proprietário 2).
3.3 Resultados qualitativos sobre as relações político-institucionais
a) Projeções gerais sobre o futuro de Cariacica
A empolgação com a retomada da perspectiva de crescimento econômico e as possibilidades destes
repercutirem positivamente na criação de um lócus privilegiado para investimentos de qualidade
parece refletir o contexto geral da forma de pensar o município por parte de quem milita
politicamente em nível local.
Mesmo reconhecendo os limites estruturais, acumulados após décadas de desleixo político dos
tomadores de decisão, o otimismo também é uma referência marcante nos dias atuais em Cariacica.
E as projeções sobre o futuro parecem ter por base essa sensação de que agora as coisas podem andar
de forma diferente.
“Quando olhamos para o Espírito Santo e vislumbramos os futuros investimentos e sua
dinâmica econômica, Cariacica desempenhará papel na logística e prevê investimentos
ainda tímidos nas áreas de infraestrutura e políticas de atração de grandes projetos
industriais. Sendo assim as micros e pequenas empresas são os pilares da geração de
emprego no município” (Assessor Parlamentar).
“O crescimento só está trazendo contribuições para nossa área, o que a gente tem que
fazer é profissionalizar mais. A gente tem diversos projetos pra executar, só que as
pessoas estão um pouco ainda com o pé atrás, ainda falta o profissionalismo. Você chega
aos lugares e vê lugares lindos, bem cuidados e as pessoas têm dificuldade para receber.
A nossa função no poder público é orientar e apoiar essas iniciativas. O Turismo, até
pouco tempo, era uma pasta dentro da secretaria de desenvolvimento econômico e
turismo e estava andando um pouco devagar. Há um ano o secretário sentiu a
necessidade de investir mais no turismo, principalmente no agro-turismo que é o forte de
Cariacica. O município tem um grande potencial e o que falta é a qualificação, isso a
52
gente já está apoiando. Temos um convênio com o SEBRAE, que já está desenvolvendo
projetos. Temos é que seguir em frente, ter a continuidade” (PMC 1).
“Hoje a população reconhece o respeito pelos cariaciquenses. As pessoas se identificam
como moradoras da cidade. Hás uns quinze anos atrás os bebês nasciam em Vitória,
agora nascem aqui. Se nasciam em Vitória não eram cariaciquenses. Hoje não, temos
maternidade com boas condições com o convênio que a prefeitura fez. Eu acho que
melhorou bastante e acredito no avanço que Cariacica dará com os investimentos que
estão sendo feitos” (Liderança Comunitária 1).
“Cariacica era vista de forma preconceituosa pelos próprios moradores. Ultimamente as
pessoas tem mais prazer em morar em Cariacica. Eles acreditam mais pois estão vendo o
desenvolvimento acontecer. O município está mais bonito, está melhorando. Na
educação mudou muito, agora alguns alunos da rede particular vão para a rede pública
por acreditar em nosso trabalho, então eu acho que tem que acreditar mesmo pois
Cariacica tem potencial” (Liderança Escola Aberta).
“O Shopping será um dos maiores aqui no Estado, vai gerar com certeza empregos e
qualidade de vida para as pessoas que moram aqui” (Liderança Sindical).
“resido no município há muitos anos eu percebia que não havia um planejamento em
Cariacica com relação ao futuro. De alguns anos para cá eu vejo que o município tem se
preocupado com isso. Me lembro que foi feito um projeto pela Vale do Rio Doce,
projetando Cariacica para o século 21. Na época a sociedade debateu, discutiu, acho que
isso foi o primeiro passo. Hoje penso que a administração do município tem focado
muito no incentivo às pequenas e médias empresas. Nesse caso eu acredito que a
prefeitura está no caminho certo, apoiando principalmente as pequenas e médias
empresas, através de um órgão específico da prefeitura, onde a abertura de empresa é
considerada uma das mais rápidas do país” (Agente Pastoral 3).
53
A partir dessa visão estimuladora nascem também as preocupações quanto à necessidade de
planejamento, de ordenamento ou reordenamento das ocupações, cuidado com as políticas de
promoção da infraestrutura social e com a regulação dos investimentos privados.
“O que tenho percebido é a educação, que tem crescido muito e é um grande passo. A
educação possibilita acesso, dignifica, possibilita mais ainda precisa melhorar muito. […]
Aí vem uma outra questão: se há trinta anos Cariacica era um município pacífico, rico,
produtivo, por que hoje está nesta situação? A gente está falando na questão de trinta
anos. Uma geração ou duas no máximo, ou seja, o governo do Estado acaba sendo
favorável a Capital, desestimula a agricultura no interior, começa a chamar a população
para construir CST, CIVIT, e vai morar onde? Daí aparece Nova Rosa da Penha, isso
desde antigamente quando a fazenda Guaiamum era em Porto de Santana. Era um
território da capital. Quando aquilo virou um problema urbano a capital dá de presente
para Cariacica, sem recompensa nenhuma. Então, não é pedir coisas, mas a gente precisa
mudar essa concepção de cidade, dentro de uma metrópole, porque é isso que acontece,
gera uma periferia melindrada e gera recursos para quem melindra, é uma situação
complicada” (Representante Cons. Rural).
“o que tem que ser trabalhado com muita urgência é a questão da mobilidade, a cidade
está crescendo, o fluxo de pessoas e veículo, tudo está crescendo muito e a cidade está
ficando com condições de vida péssima. Tem lugar que você não consegue sobreviver
nesse município” (Liderança Comunitária 3).
“Cariacica está crescendo muito rápido em alguns pontos, especialmente Jardim
América, Itacibá e Campo Grande. Tem três a quatro polos que estão crescendo
desordenadamente. É preciso arrumar outras maneiras para crescer, em outras regiões e
ordenadamente. Inclusive essa pista 447 que está sendo construída não vai atender a nós,
estamos isolados. Tem que crescer de forma ordenada, pois já não se consegue caminhar
mais. Tem que fazer estratégicas, construindo rodovias de acesso as BRs, para desafogar
o trânsito. Precisa fazer um planejamento urgente do campo para a cidade, e
principalmente dentro de Campo Grande” (Vereador).
54
“Criar mais empresas, para gerar mais empregos, gerar consumo, só que junto precisaria
ter segurança também. Topograficamente Cariacica não oferece grandes coisas dentro da
área. Temos que valorizar ainda mais o que se tem, tem que melhorar o serviço público,
criar hospitais” (Dirigente Comercial).
b) Efeitos multiplicadores de investimentos específicos
Vislumbrando novos tempos para o município, muitas lideranças apontam os efeitos dos novos
investimentos na ampliação das oportunidades de expansão dos pequenos negócios, a geração de
mais e melhores empregos, a melhoria nas condições de moradia e de sociabilidade, o que resultaria
na alteração do perfil municipal no contexto da região metropolitana.
“Novo trevo do Ceasa, Estádio Estadual, Construção do Faça Fácil, Leste-Oeste, Corpo
de Bombeiros, Sede do IFES Cariacica, Duplicação do Contorno, Shopping Cariacica.
Estes investimentos demandam e irão demandar (para os que ainda não iniciaram) de
mão de obra na área de construção civil, engenharia e fornecimento de materiais, e após
conclusão irão estimular a economia local, gerando valorização de imóveis, empregos no
comércio, serviços e indústria aumentando a oferta de emprego, bem como a elevação
salarial e de qualidade de vida da População. O consumo interno (local) da população irá
aumentar, ajudando assim a evolução de arrecadação de impostos e decerto associado
com políticas públicas de incentivo, irão também ajudar a formalização de negócios que
estão na informalidade. A construção do IFES irá ampliar as vagas de ensino técnico, que
associado com as outras instituições irão gradativamente aumentar o volume de mão-de-
obra qualificada para o mercado de trabalho. Todos esses fatores contribuirão para que
Cariacica continue num ritmo acelerado de crescimento se destacando na Região
Metropolitana, consolidando sua nova identidade como cidade de oportunidades ao invés
de cidade dormitório marcada apenas por fatores negativos e degradantes” (PMC 2).
“O município está crescendo. As rodovias estão sendo construídas, o P.A. de Itacibá e
outras atividades como indústrias. Em todas as áreas tem esse efeito multiplicador. As
indústrias, gerando emprego e renda, as casas populares e dessas casas vem o comércio,
padaria, supermercados, vários comércios que irão se instalar nessas regiões” (Vereador).
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“Antes Cariacica era dormitório e os moradores trabalhavam em outros municípios. Hoje
já é diferente, muitas pessoas trabalham aqui no município” (Agente Pastoral).
“Tenho visto a construção da 447. Para nós é um grande desenvolvimento para Cariacica,
vai desafogar Campo Grande, São Torquarto e a segunda ponte facilitando a ligação com
Vila-Velha, quem vem do Rio, BH, vai ser um grande atalho. Com certeza cada
investimento que é feito gera trabalho. Com certeza será bom. A maior parte dos
moradores de Cariacica é migratória, ou seja, trabalham fora e à noite vêm dormir. Eu
acho importante a ideia de construir um shopping e as grandes empresas, mesmo que seja
longe, pois temos muitos espaços” (Liderança Comunitária 2).
“Acredito que esses investimentos têm uma repercussão no trabalho, uma coisa puxa a
outra. Qualquer investimento gera oportunidades de empregos. Se você criar um hospital
novo, um serviço de saúde pública, quantos empregos serão gerados? Se criar mobilidade
as empresas irão crescer, as lojas vão crescer, todos vão querer investir mais é tudo um
ciclo que uma coisa puxa a outra” (Liderança Comunitária 3).
c) Especialização ou diversificação produtiva
Contudo, o debate ganha maiores proporções quando se fala nas chamadas “vocações naturais” do
município e nas projeções sobre a trajetória que o território vai ganhando na medida em que os novos
investimentos vão se consolidando.
“Cariacica deve ter uma especialização e o forte dela é o agro-turismo, o turismo rural e
o eco-turismo. Trata-se muito Cariacica como se fosse a Grande Vitória, mas Vitória é
um outro turismo, o turismo natural, as praias... Vila Velha também. Aqui a gente tem o
agro-turismo, que é muito forte. É a especialização que já existe. Se ficar dando vários
tiros para todos os lados e não se especializar em nenhum... Apostaria mais no turismo de
aventura. A gente tem uma rampa, que é a Rampa do Cigano, onde tem um mirante
belíssimo. Apostaria mais em trazer campeonatos para cá. Em Minas tem campeonatos
que já está em ranking nacional. É um município pequeno e com a estrutura bem menor
que Cariacica tem. A agente tem que pegar os atrativos naturais para que os olhos sejam
voltados para Cariacica. Com certeza falta divulgação do município, a gente vê que as
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pessoas que moram aqui, elas chegam para a gente e falam: não conhecia tal mirante, não
conhecia tal lugar... E muitos saem daqui e vão para Pedra Azul, para Domingos Martins,
para as 'Montanhas', e não conhecem as montanhas que a gente tem aqui mesmo” (PMC
1).
“Cientificamente sabemos que a diversificação das atividades é melhor que a
especialização, a fim de se evitar que a receita municipal e a sustentação socioeconômica
(empregos/oportunidades) da população fiquem reféns de eventos econômicos que
venham a prejudicar determinados setores. Por isso, se há possibilidade de diversificação
essa possibilidade deve ser levada em conta nos projetos de atração de novos
investimentos para o desenvolvimento e também a aplicação e implementação de
políticas de fortalecimento e fomento das microempresas e empresas de pequeno porte
que são as maiores geradoras de emprego e distribuição de renda. Tais políticas já são
realidade em Cariacica” (PMC 2).
“Eu creio que o município, pela sua localização estratégica, tem uma vocação muito
grande para investimento na área de logística. Cariacica está próxima do porto de Vitória
e de Vila-Velha, dos grandes centros consumidores. Por isso que eu acredito que a
vocação principal é para se tornar um polo de logística, pela localização estratégica do
município, por ser cortado por duas grandes vias a BR 262 e a BR 101, que interliga a
capital com outros estados” (Agente Pastoral).
“Quando agente fala de micro e pequena empresa, Cariacica deu um salto muito grande.
A gente tem virado referência da cidade da logística da região metropolitana, isso porque
a 101 passa pela 262 e chega aqui. A gente está no entorno de Serra, Vitória e Vila
Velha. Temos a capacidade de receber, além da via terrestre, pela via férrea, uma
quantidade de produtos muito grande. Isso dá, de fato, uma possibilidade de logística
muito grande. De entrada e saída. É claro que isso repercute na economia. Essa é uma
vocação de Cariacica que veio nessa nova administração. Não quero ser muito prepotente
em dizer que Cariacica tem uma vocação que está acordando. Vamos dizer que é a
vocação rural. Nós temos aqui, dentro um mercado consumidor muito grande, estamos
dentro da Grande Vitória, aproximadamente um milhão e meio de pessoas. Só em
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Cariacica temos trezentas mil pessoas e essa nossa proximidade permite a capacidade de
explorar para o campo de forma que chegue no mercado consumidor muito grande, com
pouco custo. Além de ter a CEASA dentro da nossa própria cidade, também pega uma
carona forte no agroturismo” (Representante Cons. Rural 2).
“não só em Cariacica, mas no Brasil, que tem uma diversidade grande, se tiver uma coisa
só, a camada de excluídos será bem maior. Pois se tiver um polo aqui e outro ali, não
atende a população e não é nossa realidade hoje” (Liderança Artesã 1).
“A zona rural tem possibilidade de trabalhar com outros produtos. Acredito que
diversificação na produção é mais interessante” (Liderança Artesã 2).
“Eu penso que Cariacica tem de tudo um pouco, temos a zona rural, o urbano. Se o
município ficar só em uma coisa... Penso que o polo industrial é promissor, mas, é
preciso ter cuidado para não ter poluição e também para explorar o turismo de Cariacica
e a zona rural, que dá bastante oportunidade de trabalho para as pessoas” (Agente
Pastoral).
“Cariacica necessita de uma política clara de atração de investimentos formatando com
maior clareza, sua estratégia e sistematizando um núcleo de critérios de adesão. Parece-
me que para a manutenção do crescimento econômico precisamos agregar valor em
nossos produtos de exportação e para isso requer investir em inovação e diversificação.
Dessa forma, Cariacica pode ampliar sua vocação para prestação de serviços, logística,
agricultura, centros de tecnologia, cultura e lazer, polos industriais, comercial de
confecções e móveis. Atrair também projetos habitacionais” (Assessor Parlamentar).
“Tem o polo moveleiro, que produz muito móveis. Existem pessoas que trabalham com
confecção e não são poucas, inclusive, já existiu até umas conversas de criar um polo de
confecção em Cariacica. É um município que tem uma área rural muito grande, produz
muito a partir da bananeira e, como tem bastante terra, deve ter também hortaliças. E as
pessoas poderiam trazer isso para a feira. Cariacica é um município que tem um potencial
muito grande e que não dá para ficar em uma coisa só. E aí vai se desenvolvendo cada
58
espaço, por exemplo, em Roda D’água começou o projeto com artesanato e é tão
interessante...” (Liderança Escola Aberta).
“Cariacica tem investido pouco nisso, mas, acredito que é bom ter diversidade sim, pois
Cariacica é um município rico e acredito ser necessário investimento na área de turismo,
acho que tem que diversificar sim” (Liderança Sindical).
“Sobre a vocação tem se falado muito em logística, com isso a mecanização acaba
perdendo espaço. Acredito que uma forte tendência é a prestação de serviços, pois temos
em Campo Grande o maior mercado a céu aberto do Estado e o foco, acredito, deve ser
na diversificação dos serviços” (Representante Cons. Rural).
“Eu participei de um debate sobre a questão dos portos. Dentro da discussão de portos no
Espírito Santo, Cariacica entrou como retro-porto, porque Vitória tem porto, mas não tem
o retro-porto. Vila Velha está crescendo e já foi criado em Cariacica um espaço para isso.
Fala-se muito da logística, em que se dá Cariacica como uma cidade dos entre-portos.
Nós temos aqui grandes empresas de transportes, a CEASA, um grande entreposto de
mercadoria e nós poderíamos talvez investir com urgência em alguns polos industriais.
Ninguém tem vocação, você que faz a vocação do lugar e se você abre aqui um shopping
vai atrair outras empresas satélites. Se você abre uma empresa de grande porte ela vai
puxar outras de prestação de serviços. Cariacica tem que discutir, tem que incentivar e
parar de ser o depósito de lixo. Nós temos muitas áreas disponíveis e que podem servir
tanto do interior para cá como do mar para cá. Cariacica está no meio, tem espaço para
atender as duas demandas. Dá para trabalhar tanto na diversidade como na especialização
de produtos. A diversidade é o que vai fortalecer, pois se entrar em crise uma atividade
as outras não entram. Se por acaso cair a exportação, tem a produção de outras atividades
que podem manter a demanda de trabalho no município. Quanto mais rica a diversidade
mais rico fica o município” (Liderança Comunitária 3).
d) Impactos sócio-ambientais dos novos investimentos
A experiência tem demonstrado em todo o mundo o risco de um “apagão ambiental” de grandes
proporções, devido ao aquecimento global. Isso parece ganhar expressão também na consciência de
59
quem milita politicamente em Cariacica. O problema é acumular conhecimentos suficientes e ganhar
capacidade de convencimento sobre a gravidade de se projetar o futuro do desenvolvimento local,
sem a devida atenção a todas as questões relativas à degradação ambiental. Muitas das entrevistas
revelaram essas dificuldades em se avançar para além do discurso sobre a sustentabilidade e de se
encarar os problemas mais de frente e de forma participativa.
“Em Roças Velhas a gente tem um problema de lixão, que está ali há anos. Agora a
própria população e os empreendedores turísticos já estão exigindo da Prefeitura uma
movimentação maior no sentindo de cuidado daquela região, de educar a população
também. Já estão cientes que estão fazendo errado. Nas escolas temos projetos
pedagógicos, temos o turismo pedagógico e já instrui as crianças, quando são feitos os
passeios, a preservar o meio-ambiente: não jogar lixo, reciclar, separar os resíduos. Essas
crianças nos ajudam a educar os pais. Hoje a gente tem um trabalho da economia
solidária do reaproveitamento do óleo, pois é transformado em sabão. Essas crianças já
fazem a conscientização da mãe para não jogar no meio-ambiente” (PMC 1).
“Você tocou em um assunto complicado, pois o desenvolvimento do município depende
do meio-ambiente. Não estamos tendo uma política ambiental séria. Hoje nós estamos
vendo as empresas degradando, a comunidade degradando, o lixo na rua e tem muita
coisa errada no meio-ambiente. Porque é uma política viciada, são pessoas que estão lá,
que recebem propina para receber isso e aquilo e a gente vê isso de errado acontecendo
em Cariacica. […] Nós temos na área rural, como fazer um trabalho sustentável e
ambiental, desde que seja feito com profissionais, se deixar o produtor fazer do jeito que
ele quiser fazer vai continuar fazendo errado. Ainda tem uma solução que possa fazer
mais rápido, pois a área rural está bem preservada em Cariacica, explorando com respeito
a natureza, existe essa possibilidade” (PMC 3).
“Quando eu mudei para cá conseguia pescar dentro do rio, hoje se a criança cair dentro
tem que desinfetar, pois está poluído. O Rio Formate é um exemplo disso. As pessoas
tomavam banho e pescavam, hoje está difícil. Aqui tem enchentes muito grandes, chega
a entrar nas casas das pessoas quando chove. É desastroso o inchaço populacional na
periferia. Os mangues existem, mas a gente quase não vê. Os rios que antigamente
faziam as navegações, antes era a única estrada. Hoje o rio acabou” (Liderança Artesã 1).
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“Existem pessoas que não têm consciência e dizem que vão derrubar as árvores para
sobreviver. A gente vê pessoas que têm consciência e outras não. Meu marido trabalha
aqui e preserva a natureza, deixa tudo limpo. Outro impacto preocupante é que o volume
de água diminuiu. Sentimos a diferença na produção, tem pouca umidade. Agora não tem
mais, tinha uma época que tinha mau cheiro, parecia cheiro de mangue e agora
melhorou” (Liderança Artesã 2).
“Temos impactos sim, com certeza, a nossa região mesmo é afetada pelas enchentes,
temos muitas encostas. Até hoje não conseguimos ter muitos avanços nessa área. É claro
que precisa ter um projeto junto com o governo federal e governo do estado, mais é
preciso se preocupar realmente, pois os bairros ficam alagados a prefeitura tenta ajudar
no momento crítico, mas não tem continuidade porque não tem recursos. A mobilidade
que quem mora aqui é afetada. De outro lado, é preciso que o empresário saiba que, se a
empresa dele está poluindo, ele tem que fazer investimento em cima dela e ter aparelhos
que reduzam a poluição. Se não for possível isso, é preferível que não venha. Não
adianta vir uma empresa para cá e daqui a vinte anos os moradores peguem tuberculose,
fiquem cheios de doenças. O ideal é trazer mais qualidade de vida. O poder público é
responsável por manter essa qualidade de vida, pois precisa se preocupar com a área da
saúde. Quando se previne a saúde, gasta menos dinheiro com a doença. Quando eles
falam que o dinheiro da saúde é gasto com acidente de moto... Mas eles fazem o trabalho
de prevenção? Não fazem e isso vai acontecer com o meio-ambiente, se não tomar
providência o mais rápido possível, vamos ver o povo morrendo, pois as pessoas acabam
perdendo sua vida” (Vereador).
“Às vezes estão focados só na geração de renda e o nosso objetivo não é somente a
geração de renda. Precisamos pensar em outras atividades, que preservem o meio
ambiente, que preservem as pessoas, ter tempo para a família, não ficar só produzindo
como nas grandes fábricas, agregando valor ao produto e melhorando a geração de renda.
Quem compra o nosso produto não está comprando um presentinho, produz melhoria de
vida para todos, tendo qualidade de vida e meio-ambiente. Eu vejo que precisaria de ter
mais pessoas, trabalhando em grupo de família, focadas em agroecologia” (Liderança
Artesã 1).
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“Está faltando aqui é uma coleta de lixo mais qualificada e do aproveitamento do que
pode ser aproveitado ou não. Em termos de poluição sonora, é um pouco forte. Em
relação à poluição do ar, aqui mesmo perto de casa passam caminhões e carros grandes e
pesados e não é via de tráfico de carros pesados. As nossas casas ficam sempre cheias de
poeira. Isso a gente costuma dizer que faz parte da nossa cota para o desenvolvimento.
Todo desenvolvimento tem um preço e esse é um preço que nós pagamos” (Liderança
Comunitária 1).
“Quem cresceu mais em favela foi Cariacica, com esse monte de favela. Campo Grande
que é a menina dos olhos de Cariacica, mas, basta uma chuva e fica tudo alagado como
aquela paralela a Expedito Garcia. Ela fica alagada, o próprio trânsito fica parado.
Campo grande ficou uma complicação para andar, não temos estacionamento, com a
calçada cidadã ainda tomou mais espaço dos carros” (Dirigente Comercial).
“Onde tem árvore eles vão derrubar para colocar empresa. Quando a associação quer um
pedaço de terra para trabalhar não tem. Vai ser difícil para as crianças no futuro
conhecerem o manguezal. Antigamente a gente via os caranguejos, daqui há cinco ou
seis anos eles não vão ver isso não. O pior é que as empresas estão entrando dentro do
manguezal. Elas estão cortando tudo e acabando com os manguezais. Quase não temos
mais caranguejo por aqui” (Liderança Ass. Pesca).
“As pessoas trabalham com artesanato, mas elas têm uma formação em todos os sentidos
e trabalham a questão do meio-ambiente. Estão produzindo muita coisa com folha de
bananeira dentro desta produção tem aquela conscientização para que as pessoas usem
bem a área, preservando as matas, por exemplo, para que a a bio-diversidade continue”
(Liderança Escola Aberta).
“56% do município é rural e é desconhecido do planejamento urbano. O Não
planejamento da área rural pode criar um desordenamento. O prejuízo maior será na
natureza e preservações. O primeiro impacto são as grandes propriedades que trabalham
com a monocultura, drenando os rios. […] Quando a gente vai em reuniões de
associações na região é uma coisa curiosa. Você só vê pessoas idosas, porque os filhos já
foram embora faz tempo. Quando os jovens vêm é para visitar a Vovó. Como eu vou
62
trazer esse sujeito de volta? Quando ele também perceber que ele pode faturar seus mil
reais aqui. Quando perceber que ele pode vir com seu computador, conectar uma
internet, ou mesmo que possa vir com seu carro e sua moto e não ter que ser rebocado.
Acho que essa é a solução: estimular essa área rural para se transformar no polo agrícola,
polo pecuário.” (Representante Cons. Rural).
“Já se houve muita movimentação de terra, mas todas com acompanhamento e licenças
devidas. Para uma Cidade que ficou parada no tempo, é normal que haja mudanças
consideráveis em algumas paisagens urbanas. Problemas de alagamento em algumas
áreas são antigos e os impactos existem porque uma parcela da população, por ser de
baixa renda, invadiu áreas inapropriadas. Todos estes problemas estão em processo de
solução pelo poder público” (PMC 2).
“O município carece muito, no que diz respeito a saneamento básico. Temos uma
carência de tratar o esgoto. Hoje tem sido feito um investimento nessa área, pois não se
pode pensar em desenvolvimento sem respeitar o meio-ambiente. Como você vai
respeitar o meio-ambiente se não onde jogar o esgoto, produzido nas casas. Os resíduos
dos domicílios têm que ter um destino para que nós não continuemos matando os nossos
rios. Eu me lembro muito bem do tempo em que o Rio Marinho navegável, que é uma
referência para Vila Velha e para Cariacica, que divide dois municípios. Naquele rio
tinha várias espécies de peixes. Hoje quando eu passo ali e vejo o Rio Marinho morto me
dá uma tristeza muito grande” (Agente Pastoral 3)
e) Singularidades locais e seu melhor aproveitamento
A marca fundamental de Cariacica, quando se pensa em singularidades a serem aproveitadas
economicamente, no contexto da região metropolitana, é sempre referenciada na área rural, nos
manguezais, no seu entorno mais próximo, na cultura e no trabalho das pessoas do campo. É quase
uma unanimidade, mesmo quando se enfatiza os limites para seu melhor aproveitamento.
“A gente tem uma mão-de-obra bem criativa, eles fazem um artesanato belíssimo com a
folha da bananeira que é o forte da região. Acho que a gente tem que apoiar e qualificar
mais para elas se profissionalizarem, por que hoje elas não estão profissionalizadas. Elas
têm meio de trabalho. Fazem trabalhos belíssimos, mas é aquela coisa muito solta ainda,
63
elas fazem um trabalho sem consciência da capacidade de que elas produzem e ir para
além daquilo que desenvolvem” (PMC 1).
“Uma das grandes potencialidades que temos em Cariacica é ser próximo do rural. A
beleza desse lugar e o turismo na base comunitária seria uma mão na roda para a gente,
mas como que as pessoas vão chegar com o carro? É longe e as estradas foram feitas no
passado e não teve investimento nos últimos trinta anos. Daqui para frente que a gente
está vendo algumas possibilidades de realizar algumas melhorias principalmente na
construção de estradas. A princípio era para nós usarmos o papel comprado na papelaria
e a gente resolveu buscar nos matos, nos arredores de nossa casa, e hoje já temos outros
grupos trabalhando também com as folhas de bananeiras e entendendo que é possível.
Então acho que deve ter um pouco mais de sensibilidade para perceber essa grande
potencialidade que tem aqui. Na questão do agroturismo, tem os rios, nascentes e não
podem ocupar tudo com casas. Os móveis de Cariacica são tão lindos e mais chiques do
estado ou do Brasil. Durante muito tempo Cariacica não acreditava, os próprios
empresários não acreditam muito” (Liderança Artesã 1).
“Na área Rural essa questão do agroturismo tem como incentivar, pois a gente tem uma
região belíssima e pode ser feito algo sim. Também precisamos valorizar a cultura.
Acredito que o que poderia ser feito é reativar o espaço cultural, abrir uma biblioteca
pública, pois Cariacica tem um bom acervo. Cariacica tem muita gente vivendo da renda
do artesanato e não tem um espaço aberto para o artesanato, para mostrar a produção.
Tem que se olhar mais pra isso, sentar junto, conversar, vê o que é papel do poder
público, do cidadão e tentar caminhar juntos para poder resolver essas coisas” (Liderança
Escola Aberta).
“O Turismo de Cariacica está em processo de estruturação e já existem projetos em
andamento. Na região rural do município há várias oportunidades, mas que carecem de
investimentos consideráveis para que haja infraestrutura mínima de acesso, segurança e
lazer. Existem hoje algumas propriedades que conseguiram consolidar-se na região do
monte Moxuara e tiveram suas atividades potencializadas com o projeto caminhos do
campo, que levou pavimento às estradas de acesso. Porém, há outras oportunidades,
64
como rampa de voo livre, parques, hotéis ou chalés que podem ser instalados na região,
mas que dependem do interesse de investidores e investimentos públicos que
gradativamente, dentro da capacidade orçamentária, serão disponibilizados” (PMC 2).
“Deveriam dar apoio aos pescadores para fazer Turismo no município. Em Porto de
Santana, em Mangue Seco, existem várias áreas para o Turismo, que eles iam fazer,
mais, até agora nada. Tem bastante área bonita na maré, mas, é difícil acontecer alguma
coisa. Para fazer Turismo, dependemos do poder público e isso é difícil” (Liderança Ass.
Pesca).
“Eu costumo dizer sempre que hoje a veia mais grossa do turismo é a parte rural, mas eu
sei que não vai ser assim para sempre. Nesse momento, é como a coisa está desenhada.
Nós lançamos o circuito do agroturismo recentemente. São dois circuitos: o Monte
Moxuara e das terras altas. Cariacica tem também, mesmo desconhecido, parte de seu
território nas montanhas. Quando a gente enche o peito para falar que o Espírito Snato
tem o melhor clima do mundo, Cariacica tem parte disso. A minha propriedade, por
exemplo, está a quinhentos metros de altitude e no inverno a temperatura pode alcançar 4
a 5 graus de temperatura, que é muito frio para um verão de 37, 38 graus na região.
Nesse ponto natural, a gente precisa explorar um pouco mais o nosso município.
Sabemos que nem todos os lugares têm essas mudanças climáticas, mas é uma coisa que
a gente busca numa cidade vizinha. Além da questão climática, temos uma floresta com
uma preservação bastante interessante, através da zona de proteção. Também temos a
Reserva de Duas Bocas. É uma referência não só em nível municipal, mas também
estadual. É uma reserva biológica” (Representante Cons. Rural 2).
f) Apoio à produção local
As controvérsias se acirram quando o assunto é o apoio institucional na promoção da produção em
nível local. De um lado são enfatizadas as realizações dos últimos anos, confrontando-se com que os
entrevistados qualificam como o abandono do passado. De outro lado são explicitadas as limitações
para se avançar na requalificação do município do contexto regional.
65
“Já existem as seguintes ações: compras governamentais, cuja média atualmente em
todas as modalidades de compra subiu de 14% em 2007 para 54% em 2009; a Feira de
Negócios, cujo evento se consolidou definitivamente no calendário de atividades do
município (na feira de 2010, foram 127 expositores, mais de 21.000 visitantes e 26
milhões de negócios realizados); o Encontro de Negócios, realizado durante a feira de
negócios (na Feira deste ano, foram mais de 150 reuniões e 6 milhões de negócios
realizados); o apoio aos grupos de economia solidária para participação de feiras e
eventos; a Feira Agroecológica; o Programa de Aquisição direta ao produtor rural; os
projetos de fortalecimento do setor de confecções; o projeto em andamento para
viabilização de polo para a indústria moveleira; a desburocratização de processos para
formalização de empresas a exemplo do CIAMPE (Centro Integrado de Apoio à Micro e
Pequena Empresa); o projeto Fique Legal e Comércio Total, para formalização dos
empreendedores Individuais e para levar palestras orientativas durante uma semana em
um bairro ou região do município” (PMC 2).
“Uma das coisas que estou discutindo com o Estado e com o Ministério do Turismo é a
questão da orla de Cariacica. Nós temos uma região muito bonita que está sendo
destruída nesse momento com obras mal feitas, invasões. A gente está elaborando um
projeto junto com a Secretaria de Turismo para levantar uma grana e melhorar esse
projeto turístico dentro de Cariacica” (PMC 3).
“A gente tem algumas feiras. Na verdade a gente atua na área de divulgação, trabalha
como apoiador na divulgação do trabalho deles. Mas eles ainda não têm aquela noção,
não tem aquele profissionalismo ainda. Eles ainda têm certas dificuldades que a gente,
como poder público, está ajudando nesse sentido. Mas, hoje, basicamente estamos
ajudando mais na divulgação nas feiras que temos fora do Estado, que a gente procura
sempre levar os produtos de Cariacica. A gente dá oportunidade para eles irem junto para
divulgar os produtos, mas ainda é pouco” (PMC 1).
“O Nosso crédito tem um valor para repassar para os empreendedores, mas nós
dependemos que essa pessoa venha buscar. Nós temos milhões para emprestar, desde que
o empreendedor se enquadre no perfil. Nós vamos atender também a zona rural. Vai ser
66
contratado um ou dois consultores independentes e também a parte de comércio que vai
aumentar o nosso valor de financiamento. Se tudo isso der certo, de acordo com o
planejado, a gente vai poder atender a um grande número de pessoas. Quanto à facilidade
para as pessoas terem acesso fácil ao Nosso Crédito, penso que levando em consideração
os critérios bancários estamos atendendo ao nosso objetivo. Nós temos um giro muito
pequeno, temos que evitar especulação. Temos pessoas que são agiotas e vêm até nosso
credito. Isso é um agravante. Muitos consideram que temos muita burocracia, mas não
tem tanta burocracia. Se você olhar de uma outra forma, os juros são atraentes e as
pessoas vem para pagar contas ou porque um filho ou um neto quer um financiamento e
aqui não é para essa finalidade. A finalidade é investir na produção. Exigimos
documentos comuns. Ela precisa ter simples anotações, se ela tiver planilhas de
computador, ela pode fazer anotações no papel do pão, tem que provar e preencher o
formulário, participar de uma entrevista, elaborar um pequeno projeto e aí nós temos a
certeza que aquele pequeno negócio existe ou não. Para todos os créditos é realizada uma
visita técnica no local” (PMC 4).
“Nós, como projeto social, não temos recursos para investir em pesquisas. Acho que nas
políticas públicas seria um apoio, a gente está fazendo uma pequena parte. Deveria ter
pessoas que estudassem a viabilidade de realizar melhor o negócio, o que a gente está
fazendo na intuição. Não temos a assessoria que deveríamos. A folha de bananeira é
chique, as peças são lindas, está faltando alguma coisa no meio do caminho que não
consigo saber. Tenho muitos sonhos que estou vendo acontecer, mas a gente não
consegue sozinho” (Liderança Artesã 1).
“Tem muitas formas da população ampliar sua renda vendendo coisas, tiveram acesso a
carrinhos para vender pipocas, churrasquinho, enfim, a Expedito Garcia está cheia disso
aí. De alguma forma a população tem aproveitado esse espaço que o governo municipal e
estadual tem dado, de poder fazer empréstimo para poder aplicar, empréstimos pequenos
para comprar algum tipo de beneficio, que possa aumentar a renda familiar” (Liderança
Comunitária 1)
67
“Um dos estímulos é a legalização de terra. O outro é o incentivo do poder público,
principalmente acompanhamento técnico. A legalização às vezes é verbal. As pessoas se
acomodaram também diante das dificuldades do processo de legalização. O poder
público deveria ter uma forma de interagir com o proprietário para minimizar as
dificuldades. Acredito que o incentivo é mais voltado para as pessoas que vão para o
urbano, devido à dificuldade de ter os benefícios e a regularização. Falta de um plano
gestor rural. O crescimento está todo na área urbana. Cariacica foca muito nas empresas e
o crescimento da área urbana, até mesmo a quantidade de alunos que a prefeitura
consegue colocar dentro do urbano. Até a escola do meio rural obedece ao modelo do
meio urbano. Muitos dos alunos da zona rural vão para o urbano.” (Liderança Artesã 2).
“Uma das preocupações que atrapalha a qualidade de vida na zona rural é a falta de
comunicação, chegando a ser um grande entrave. Não temos acesso a telefone físico,
nem orelhão, só celular. Também não temos acesso à internet” (Liderança Artesã 2).
“No banco comunitário a gente está atendendo por meio do convênio feito com a
Prefeitura (Secretaria de Desenvolvimento Econômico), que dá condição ao morador que
não tinha nenhuma fonte de renda de vir aqui e pegar o empréstimo. Ele tinha o nome
negativado pelo SERASA e sonhava também em ser um pequeno micro-empresário,
depois ele já pagou a conta, está lá no Nosso Crédito, pegando a quantia maior para
investir mais. Então, precisa virar política pública. Existe o projeto da lei geral da micro-
empresa. Os empresários também podem vir aqui pegar, atende também aqueles que nem
sonharam ainda. Às vezes chegam aqui para falar uma outra coisa e a gente mostra outras
possibilidades e vão embora com o olho brilhante. Saem daqui e falam para o outro e
outros vêm para ver o município com outro olhar” (Liderança Artesã 1).
“Cariacica precisaria ter um grande mercado de exposição de economia solidária para
divulgar os pequenos produtores. Mas a gente tem os produtos, mas não temos onde
vender. Cariacica tem que ter um local dentro dela para vender os produtos de Cariacica.
Local onde os produtores devem vender. A economia solidária, para desenvolver um
local de venda dentro da própria Cariacica, para explorar mais o nosso potencial”
(Agente Pastoral).
68
“É preciso ter uma feira, um local onde à gente pudesse vender os produtos. As pessoas
de Cariacica, não sabem o que nós produzimos, por isso, muitas vezes, compram de
produtores de outros municípios. É preciso um intercâmbio entre os produtores e isso a
prefeitura teria que ajudar. Um local para exposição e venda ajudaria muito nisso”
(Liderança Artesã 2).
“Os investimentos no setor turístico no município ainda são ínfimos. O ecoturismo seria
uma boa alternativa. Porém precisa-se investir em cultura, teatro, cinema, espaços
adequados para sediar eventos, praças públicas com infraestrutura para esportes...”
(Assessor Parlamentar).
“Poderia ter cursos para os pescadores. Seria um ponto positivo se não fosse aproveitado
na pesca. Aproveitaria em outro lugar. Mas é difícil, pois não acontece. Se realmente
tivesse curso seria positivo, não só aqui, nas redondezas também, mas a gente não vê
nada acontecendo aqui, a tendência é piorar na área da pesca” (Liderança Ass. Pesca).
“Eu participei também da lei do incentivo à cultura. As pessoas precisam escrever o
projeto cultural e alguns são selecionados. Isso é um investimento, é dinheiro de
impostos que as empresas deveriam pagar para o município e entregam direto em forma
de bônus para o artista. Algumas pessoas, não sei se por falta de costume não
conseguiram. Os que conseguem desenvolveram projetos tais como livros, CDs, peças
teatrais. Os próprios artistas e outras pessoas estão ligadas ao incentivo e à valorização
artística e cultural e colocam outras pessoas nesse circuito, contribuindo assim para o
desenvolvimento local” (Liderança Escola Aberta).
“A prefeitura tem feito algo interessante que é criação de polos. A através dos polos você
acaba criando notoriedade, pois a notoriedade é um instrumento essencial para a
divulgação, propagando e tudo mais. Eu acho que esse é o caminho mesmo, criando
esses polos de confecções, de moda, circuito de agroturismo que é uma outra leitura de
polo. Criar também o polo de logística... De modo que você possa ter uma cartela de
opções para o consumidor, para o turista, para o visitante. Uma outra forma que eu acho
que é de extrema importância, que ainda falta no município, é a criação de uma casa,
69
espaço, local, onde todos esses polos possam ser divulgados. Seria uma casa do
artesanato, a casa de Cariacica, não no foco de assistência, mas no foco de ser um espaço
para negócio, espaço para divulgação e geração de negócios” (Representante Cons.
Rural).
“Precisa investir mais na divulgação do que a gente tem para oferecer para as pessoas.
Ainda é tímida a divulgação do agroturismo, temos bons locais, tais como o vale do
Moxuara, que tem potencial grande para turismo, no nosso município. Muitas pessoas
vão para Domingos Martins e outros lugares e aqui temos locais maravilhosos que
poderiam ser maior investidos. A feira agrocólogica deveria está bem divulgada, por que
as pessoas tem que conhecer o próprio município, a divulgação dos artesanatos, deve
ajudar bastante” (Agente Pastoral 2).
“Existe uma lei que institui todo repasse financeiro que o governo federal manda para os
municípios para que seja feita a compra da alimentação escolar. 30% deve ser comprado
do produtor rural local. Isso hoje para a gente tem um significado muito grande.
Cariacica gasta por mês mais de quatro milhões de reais com alimentação escolar por ano
e 30% disso gira em torno de setecentos mil reais. Se eu pensar e, sendo até otimista,
acredito que pode ser maior se a gente conseguisse injetar um milhão e meio anualmente
na zona rural de Cariacica. Através desse projeto nós teríamos uma mudança substancial
na nossa zona rural e também alimentação escolar que muda muito a qualidade da
alimentação devido à diversificação que é possível. Esse projeto é um projeto super
interessante” (Representante Cons. Rural 2).
g) Apoio ao associativismo
As autoridades municipais em geral têm uma visão favorável à expansão das atividades de
cooperação popular na produção. Foi criada uma estrutura específica para atender essas atividades na
Administração e que têm recebido reconhecimento por sua atuação. Mas, as dificuldades também são
bastante lembradas.
“Hoje nós temos várias associações de produtores do município de Cariacica. Algumas
são formalizadas outras não. A gente está buscando unir esse pessoal. Semana passada
70
me procuraram para fazer uma cooperativa. A cooperativa é criada da necessidade, não
adianta formar uma cooperativa sem objetivos. Cariacica está bem nessa área, apesar da
falta de produção pois o povo de Santa Leopoldina, Marechal Floriano vem alimentar o
povo de Cariacica. Poderíamos nós mesmo alimentar, falta mais organização, mais
informação e mais técnica a associação de produtores” (PMC 3).
“É necessário aprimorar mais, ainda está meio devagar, porque quando você faz o
trabalho de economia solidária na periferia é preciso investir bastante onde estão
concentradas as famílias de baixa renda, levar para a periferia e conscientizar eles para
abrir uma cooperativa. Onde vão adquirir seus produtos mais baratos, vão ter os espaços
para ter os produtos fabricados. A nota fiscal é o fator principal, se queremos ver o
município crescer. Temos que incentivar o morador a contribuir com seus impostos.
Claro que é preciso rever os impostos também que são muito caros. Se tivesse condições
de reduzir para poder ter condições de trabalhar legal e emitindo nota fiscal, produzir e
comercializar” (Vereador).
“Eles estão se movimentando, estão buscando as oportunidades. Tem as associações dos
pescadores e você vê eles se movimentando com que a gente está buscando para eles. Foi
aprovada a compra de barcos para a associação de pescadores, a gente já está
desenvolvendo projeto em cima disso para explorar o turismo e dar condições de vida
para eles no período do defeso, para que eles tenham fonte de trabalho nesses períodos,
para que não fiquem ociosos. Então a gente vê que estão se movimentando” (PMC 1).
No caso do Nosso Crédito, a maior barreira está na natureza do incentivo financeiro, que está mais
voltado para o financiamento individual.
“Nós encontramos algumas barreiras, um exemplo é a economia solidária, a gente não
consegue atender esse público, é difícil. A gente tenta de todas as formas, mas a gente
não consegue. Mas aí gostaria de atender muito mais temos condições para isso” (PMC
71
4).
“Penso que precisa melhorar o acesso aos recursos públicos da economia solidária, por
exemplo. Precisamos de lei, de fundos, para investir em pequenas estruturas de economia
solidária ou de outros projetos sociais, porque não tem como o poder público assumir um
paternalismo com os pobres, mas tem como o poder público assumir incubação dos
projetos dos pobres que querem sair da condição de pobreza” (Liderança Artesã 1).
“Ideal é participar de cursos, palestras e conhecer outras experiências que deram certo.
Conhecemos a Associação de mulheres, que começou com as mulheres que trabalhavam
em Santa Leopoldina para o Incaper. Começamos a costurar, foi dando certo. Os
instrutores de fora vieram dar o curso. A gente não trabalha mais na associação por falta
de iniciativa própria, tem gente que pode participar e não participa. Temos também esse
grupo que trabalha com a banana. [No passado, a Prefeitura] trouxe o curso e nos ajudou
muito. Nós fizemos e depois nós começamos a trabalhar, a fazer mariola e os pedidos
foram aumentando. Depois o prefeito mudou e acabou. A economia doméstica na época
ficou prejudicada. [Recentemente, pensamos,] é hora da gente começar de novo. Esse aí
vai ajudar, e aí começamos. Compramos os equipamentos, pegamos empréstimo. Fomos
aumentando e agora que entrou o gerente de economia solidária, arrumou um dinheiro,
ele veio aqui e fez o projeto” (Liderança Artesã 2).
“Têm vários grupos se organizando, essa é a esperança para os pequenos sobreviverem.
Mas o que está matando a gente é quando a gente faz os produtos e, com a situação, o
grupo não consegue sobreviver. O governo federal tem um projeto que vai melhorar isso.
O imposto é muito caro e o produtor sobreviver é muito difícil. Tem uma rede dentária
ali do shopping que está em toda Grande Vitória e a primeira coisa que ela virou e disse:
eu preciso de uma nota fiscal. Como vamos arrumar essa nota? Para tirar a nota avulsa é
muito caro, a gente precisa arrumar uma nota acessível. Tem um grupo em Cariacica,
dentro da secretaria que está lutando para ter os direitos. O que está barrando a gente é a
nota fiscal, os nossos produtos seriam bem mais divulgados. Ainda tem uma barreira
muito grande em relação ao Estado, pois a economia solidária é muito recente” (Agente
Pastoral).
72
“Quanto à questão da cooperativa é um sonho ainda, é muito pequeno o trabalho que a
gente desenvolve. Ainda é muito difícil a construção de cooperativas dentro de uma visão
coletiva, do consciente, da responsabilidade. É preciso pensar quais alternativas são
possíveis e não esperar somente pelo Estado” (Liderança Comunitária 1).
“A nossa cooperativa é uma associação, ela foi criada porque para o governo do Estado,
o logista, é considerado um intermediário. A CEASA sempre foi abandonada pelo
Governo do Estado, da mesma forma, a prefeitura de Cariacica nunca olhou para o
CEASA, que é uma coisa boa que traz gente de todos os municípios do Estado. A
circulação aqui dentro deu um impulso no comércio de Campo grande. A maioria das
pessoas que vem para o CEASA vai consumir em Campo Grande” (Dirigente
Comercial).
“A prefeitura fala muito, mas tem pouco apoio para os pescadores. São muitas reuniões,
conversas, mas não resolvem nada. Os pescadores não querem ir em reuniões para
ouvirem sempre as mesmas coisas e não resolver nada. Eles marcam reunião hoje,
voltam para a secretaria e daqui a cinco seis meses vem outra pessoa querendo fazer o
mesmo trabalho. Assim não vai para frente. Por isso eu digo que eles estão usando os
pescadores. Empurram com a barriga e acham que todos somos otários. A Associação é
muito importante, não por interesse próprio, mas pelo futuro das crianças. A associação
deve ser organizada, estamos tentando organizar as coisas, mas, é difícil a gente vê
alguma coisa, talvez os nossos filhos vejam. Temos a ideia de criar o peixe e depois
passar ele para a associação, mas ainda não fazemos isso. Com isso, o processo de
comercialização é individual, cada um vende o seu, na feira, na rua” (Liderança Ass.
Pesca).
“Cariacica é diferente de outros municípios, a associação de moradores realmente
funciona, a participação de eleição funciona, mas está faltando projetos voltados para
economia solidária. O ideal é que a economia solidária vá para a comunidade para que
ela possa gerar mais recursos e benefícios. Está faltando apoio para dar seguimento a
essa situação. No que se refere ao apoio, específico, o apoio financeiro e o técnico.
73
Vários recursos do governo federal voltam por Cariacica não apresentar seus projetos,
não investe se investir iremos receber mais benefícios” (Liderança Sindical)
Algumas alternativas aos custos sociais da formalidade são propostas, no sentido de fomentar e
interagir atividades artesanais com feirantes, ambulantes, sem as amarras próprias da obrigatoriedade
tributária.
“Existia um trabalho e não conseguimos levar para frente. A feirinha comunitária seria
um espaço para as pessoas da comunidade irem lá e exporem seus produtos. Todo tipo de
produtos e comercializar, mas acaba se esbarrando na burocracia e as pessoas acabam
desanimando. Acho que é um lado que tinha que está sendo incentivando hoje no Brasil.
O que acaba com a gente é o papel, é muita complicação. Temos que simplificar um
pouco isso e incentivar essas feirinhas comunitárias. Temos algumas aqui no município,
teve algumas que começaram e não caminharam mais porque esbarrou na burocracia e
até na falta de montagem no atendimento” (Vereador).
Os programas assistenciais via associações acabam minimizando as precárias condições de vida de
quem sofre com as consequências mais dramáticas do desemprego estrutural e do subemprego.
“Toda semana a gente distribui verduras orgânicas, já distribuímos para várias
associações. Toda sexta a gente descarrega o carro e quarta distribui. Nós temos reunião
de quinze e quinze dias ou mensalmente com a diretoria para discutir o projeto para Nova
Rosa da Penha. Para ajudar a comunidade, discutir sobre os investimentos e como vai
ser. Quando tem novidade à gente marca reunião para divulgar para todos. A associação
é composta por sessenta e duas famílias. Nós recebemos o PAA pelo governo federal. A
nossa relação com o pessoal PAA. é muito boa. Muitas pessoas não podiam comer
verduras e agora estão comendo, ajuda toda a comunidade. Se a gente fosse comprar isso
por mês daria mais de duzentos reais. Tem muitas verduras boas para as crianças,
bastante folha verde” (Liderança Ass. Pesca).
h) A estrutura administrativa local, suas iniciativas e desafios
74
O drama da realidade municipal é bastante reconhecido pelas lideranças entrevistadas, que fazem
também um diagnóstico interessante sobre as causas históricas da deficiência administrativa em
Cariacica. Mas, muitas dessas lideranças também apontam caminhos para a superação de tais
dificuldades.
“Como são regiões de agro-turismo a gente tem a dificuldade do acesso, são regiões
lindas, mas quando chove dificulta o acesso, principalmente de ônibus. Estão trabalhando
no orçamento participativo a questão do acesso, mas não é tão fácil assim. A questão é
mais complexa de resolver. No caso do asfalto não vale a pena por descaracterizar o
lugar. A gente já vê a mobilização da Prefeitura, os caminhões trabalhando. Também tem
dificuldade de mão-de-obra, a máquina está lá, mas não se acha mão-de-obra que consiga
operar, a coisa é mais complexa do que se imagina” (PMC 1).
“Hoje a mão-de-obra está em falta. Com esses empreendimentos, a prefeitura vai ter que
se preocupar com a preparação dos nossos moradores de Cariacica para ocuparem essas
vagas. Através da Secretaria de Trabalho e Renda já está sendo discutido projetos para
formar dezenove mil jovens até dois mil e treze para ocuparem essas vagas no
município. Hoje nós temos 13% de pessoas desempregadas mais está faltando 20% de
mão-de-obra. Nós temos as pessoas despreparadas para aquela atividade, por isso a
gente vai trabalhar juntamente coma Secretaria de Geração de Emprego e Renda, com o
SINE, a SETADES, com outras secretarias do Estado, trazendo essas informações
através do SEBRAE, SENAC, SENAI para a formação de pessoas para colocar na mão-
de-obra de Cariacica. São números muito bons para investir nos próximos dez anos”
(PMC 3).
“Uma coisa que eu acho que deveria ser mudada é a Secretaria de Esporte, Cultura e
Lazer. Acho que aqui deveria ter algo regionalizado, levar para as regiões a cultura, o
esporte e o lazer, pois nem todos têm acesso. A gente cobra a participação. Nós sabemos
também que eles têm o direito ao esporte, ao lazer. Se nós não trazemos para cá a pessoa
não vai participar lá. A divulgação também está um pouco devagar. É preciso divulgar o
município para o povo ficar realmente sabendo das atividades, nós não temos boas áreas
de lazer, os investimentos foram poucos” (Vereador).
75
“Cariacica avançou em áreas significativas, porém mantém fragilidades que exigem um
plano de ação contundente. Existe uma maquina pública bem estruturada no município,
mas as intervenções políticas no interior da mesma a fragiliza, pois alguns setores são
improdutivos. Um dos motivos é o despreparo do profissional público (comissionados).
Sendo assim é preciso realizar no município concurso público e romper com o viciado
processo seletivo. A máquina pública do município tem que atuar como um centro
irradiador de projetos e de políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento
econômico, social e ambiental na cidade e no campo” (Assessor Parlamentar).
“Sei que o nosso município arrecada muito pouco para poder funcionar as escolas a
contento e, além disso, criar faculdades nas periferias para os nossos jovens poderem
estudar. Do jeito que está hoje, alguns não vão passar nem nas calçadas delas, mesmo já
com a inclusão social ela está muito longe do que a gente realmente precisa. A gente
precisa de muito mais e todos sabem disso. Eu não sei como faz, mas sei que se tiverem
profissionais, convênios e vontade política as coisas podem acontecer. Eu moro aqui há
30 anos e posso dizer que está bom. Eu sou da época que a única política pública
realizada era sobre a orientação das mulheres para não ter filhos. Já vejo muito avanço,
só que com a falta de recurso muita coisa fica ainda esperando para outro plano”
(Liderança Artesã 1).
“Existe uma Gerência de Economia Solidária dentro da Secretaria de Desenvolvimento
Econômico. Em alguns lugares estão ligados às secretarias de Assistência Social.
Inclusive essas secretarias estão interligadas, hoje mesmo eu estou aqui com vocês e não
fui na reunião com as secretarias de Assistência Social, de Desenvolvimento Urbano e
Desenvolvimento Econômico, o CRAS daqui. Eles estão planejando a construção de
casas com parceria de outro projeto desenvolvido em Vitória. Existe hoje uma vontade de
ajudar os pequenos empreendimentos e quando procuramos somos recebidos. Mas o que
a gente precisa é da lei, e que esse trabalho que está começando se torne uma política de
Município. Se essa administração nos apoia e é apaixonada por esse trabalho também...
Mas se vier uma outra que não gosta, que não sabe o que é, tudo isso que foi feito irá por
76
água abaixo. O que vamos fazer sem parceria? Por isso que precisa de lei para facilitar o
crescimento dos pequenos empreendimentos” (Liderança Artesã 1).
“Eu já participei e não só eu, o movimento tem avaliado que essas feiras que acontecem
uma vez por ano são muito boas. Se fosse mensalmente seria melhor. Se a
comercialização fosse fixa em um lugar onde todos os turistas pudessem ir ver os nossos
produtos expostos, talvez isso resolvesse melhor a questão da renda. Se você tem um
grupo fixo sabendo onde estão os produtos, você se anima para vender fazendo assim
grandes vendas. Temos a política pública da economia solidária, mas pegam essas
pessoas que produzem bem, mas não sabem vender e colocam lá na feira. Não
conseguem se comunicar bem para o público e não vendem. Acabam voltando ao
empreendimento com toda a produção, aí aquele grande investimento que você fez para o
evento não atinge o objetivo. Outro ponto para repensar é a divulgação” (Liderança
Artesã 1).
“Já participamos da feira de negócios, cafés da manhã preparados pela economia
solidária. São interessantes e importantes, para mostrar o nosso trabalho” (Liderança
Artesã 2).
“O nosso município é muito carente, a arrecadação é pouca para poder investir. O
investimento na saúde é pouco, mais ainda assim melhorou e vai dar um bom retorno
para a população. Em relação ao comércio, eu me surpreendo. Eu já morei em Itacibá, e
aquela região cresceu muito em todos os níveis: banco, comércio, moveis, é um bairro
auto-sustentável. A Expedito Garcia tem aquele gargalo lá que eu não sei como resolver”
(Liderança Comunitária 1).
“Ainda falta um pouco mais de incentivo para o próprio morador de Cariacica a consumir
seus próprios produtos. Muitos de nós acaba consumindo fora do município, gerando
renda para outro município, então está gerando economia lá no outro município. Tem
uma ideia que já funciona em outros municípios na área de agricultura. É um tipo de
compra diretamente do produtor. O funcionário público recebe um vale compras e
compra diretamente do produtor” (Liderança Artesã 2).
77
“Quanto ao poder público, Cariacica não foge a regra. Tem dificuldade de fazer projetos.
Muitas vezes o projeto passa meses na mesa. É lamentável quando acontece a devolução
de recursos, pois no tempo hábil não foi feito o projeto. Temos carência de técnicos mais
preparados para assumir a gestão pública. Isso é decorrência de toda uma situação de
falta de prestígio nessa área técnica”(Liderança Comunitária 1).
“Na secretaria da agricultura existe uma verba para ajudar, não pessoas, mas os grupos.
Um exemplo foi o grupo de pescadores, mas para isso precisa está legalizada. Isso é
complicado, pois, muitas vezes, as pessoas não têm dinheiro e às vezes elas não sabem
como se legalizar” (Liderança Artesã 2).
Um outro problema é o transporte, até mesmo para a entrega de materiais. A
comunicação também é um entrave, para entrar em contato com as pessoas, passar preço,
divulgar os produtos desenvolvermos” (Liderança Artesã 2).
“Apesar dos avanços, ainda falta muitas coisas para a preservação da qualidade de vida
em Cariacica, hoje nós temos a deficiência do Estado e do município a segurança
pública, a saúde, a educação ainda falta muita coisa. A secretaria do meio-ambiente que
não está desenvolvendo os projetos a contento. É preciso fazer um projeto bem grande
para cuidar do meio-ambiente no município. A nossa habitação temos um problema
sério, os loteamentos irregulares, mas é preciso regularizar muitos ainda” (Vereador).
“Nós temos uma parceria com o SEBRAE, com relação à formação para pessoas que
trabalham com artesanato e agro-turismo. Já executamos alguns projetos e vamos
executar mais. Teve o lançamento do circuito turístico, que já melhorou alguma coisa,
mas falta muita coisa ainda na área rural. Nós precisamos de qualificação técnica, temos
que ter técnicos agrícolas que possam acompanhar esse turismo rural” (PMC 3).
“Existem duas feiras produzidas pelo município anualmente, uma é a feira ambiental, que
é voltada para o meio ambiente que infelizmente está tomando o rumo que não é tão
legal. Tem que valorizar a participação dos pequenos mesmos, das ONG’s. A gente vê
muitas empresas e essas são as mais poluidoras. Acredito que tem gente fazendo coisa
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legal, o município tem que fazer uma forma dessas pessoas participarem, E, eu não sei
como. O município tem que ver para mostrar o potencial do município. Campo Grande,
por exemplo, é um shopping aberto, é um comércio muito grande, tem quase tudo: banco,
loja, tem um potencial muito grande o Centro de Campo Grande. Talvez usar esse centro
para trazer essas informações, talvez até o site da prefeitura deveria ter espaço para a
divulgação. Uma divulgação maior, a secretaria de comunicação fazer um trabalho para
mostrar Cariacica bem, não só os atos do governo, mas mostrar de forma geral”
(Liderança Escola Aberta).
“Eu dou um exemplo muito interessante, nós temos uma localidade chamada Nova Val
Verde, é considerado um bairro carente, temos ali um grupo de dança chamado Balé Afro
Brasil. Esse grupo é de uma excelência! Uma qualidade muito boa! É um grupo que
valoriza a dança original da África, de raiz. Não é a dança de senzala, mas ela cultiva a
origem. Esse grupo foi convidado para uma turnê em 27 países na abertura na copa do
mundo de 2010, mais tenho quase certeza que o vizinho dessa artista não sabe disso”
(Representante Cons. Rural).
“O transtorno é visível na Expedito Garcia. Você não consegue estacionar, não consegue
andar, graças ao crescimento desordenado. Felizmente estamos crescendo, devemos tudo
isso a nossa gestão, não vamos ser hipócrita, mas precisa ter um planejamento de fato
para as grandes cidades e o meio rural. O que tem causado transtorno são umas obras
inadequadas onde se beneficia um e atrapalham outros, temos muitas obras, mas com
pouca qualidade. Quanto ao SINDLIMP, a prefeitura tem uma dificuldade imensa, eles
não têm cumprindo minimamente o que a convenção diz. A prefeitura tem aberto
licitações, mesmo sabendo que as empresas não tem cumprido a convenção” (Liderança
Sindical).
i) Desafios nas políticas sociais
No tocante às políticas de promoção de melhores condições de vida da população, os desafios são
gritantes e muitas barreiras parecem imediatamente intransponíveis, exigindo um esforço redobrado
para sua superação.
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“Temos bairros que não comportam mais os seus moradores. Se Campo Grande, daqui há
trina anos, pegar mais 30%, vai ficar inviável entrar dentro de Campo Grande. A infra-
estrutura não suporta mais do jeito que está. Temos Jardim América também, se
aumentar a população fica desigual” (PMC 3).
“Melhorou a educação das crianças, espero que melhore a qualificação dos professores
ainda mais, uma das coisas que eu acho que precisa ter equipe interdisciplinar para ajudar
nossos professores pois as crianças estão sem pai e mãe, são os filhos da avó hoje, que
estrutura terão esses jovens? Para mim eles estarão pior do que hoje, pois as mães estão
no mercado de trabalho informal ou subempregos, os pais também. Eles saem muito cedo
e chegam muito tarde, os professores tem que se virar em pai e mãe, analista e tudo, cada
dia terá mais alunos violentos, pois estão sendo violentados” (Liderança Artesã 1).
“Conseguimos com um projeto no bairro dois terrenos numa permuta com a Águia
Branca. Estamos há três anos sem poder fazer nada porque não temos o recurso. Temos o
convênio com o prazo de cinco anos, se não tivermos o prédio para realizar o projeto,
perderemos isso para a Águia Branca. O projeto está assentado na perspectiva de criar
biblioteca para a juventude com cursos de qualificação na área de informática e outras
necessidades que a própria população vai propondo. A gente não teve capacidade de
elaborar projeto, temos o titulo de utilidade pública, mas estamos deixando a desejar por
não conseguir fazer projetos, falta clareza da atual diretoria e a própria prefeitura ficou de
nos orientar” (Liderança Comunitária 1).
“Quando precisamos ir para a luta, a gente vai para poder ter conscientização para ter
melhor andamento e conscientização, para poder ter uma vida mais digna pois a mulher
não é objeto, é cidadã. A gente não quer ser melhor que os homens, mas queremos
igualdade, lado a lado, juntos no trabalho, na luta, no lazer, no prazer, nós estamos
tomando conta do que é nosso, pois a gente não sabia que era. A gente está lutando para
políticas públicas para mulheres. Até na secretaria colocaram uma mulher que não pensa
muito nas mulheres, pois não está lutando pelas mulheres. Colocaram mulher que tem
visão de homem. Nós temos um objetivo de lutar pelos direitos das mulheres. Queríamos
que Cariacica abra mais as portas para as mulheres. Desejamos que as mulheres
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cheguem ao posto e tenham sua saúde garantida com preventivos, exame de mama. Que
possa ter mais respaldo com a violência contra a mulher. Que tivéssemos todos os
direitos. A gente quer mais retorno, mais retorno de políticas públicas para a nossa
família, isso que a gente esperava mais dele, mas a gente vai chegar lá” (Agente
Pastoral).
“Aqui agente precisa de conectividade, ter acesso a internet para interagir melhor com a
comunidade e outros projetos de economia solidária. A própria estrutura administrativa.
Às vezes a gente perde de mandar um documento, pois tem que pegar ônibus, ainda é
muito ruim essa questão da comunicação” (Liderança Artesã 1).
“Uma das ações que poderiam melhorar é o social. É bem fraco aqui. O prefeito fala
muito para ajudar as mães solteiras, acabar com a violência, mas isso é blá, blá, blá. É
conversa fiada, pois a violência está cada vez pior. Nova Rosa da Penha é o bairro onde
tem mais policial, alguns bairros tem muito, outros tem pouco, mas a violência continua.
Em Cariacica tem muito emprego, não só em Cariacica, mas ao redor, o que falta é
qualidade profissional. Eles não aceitam pessoas que têm pouco estudo. Tem que ter
muita experiência, mas não dão chance para a pessoa trabalhar” (Liderança Ass. Pesca).
“Para resolver a situação, primeiramente pensar uma forma que as pessoas possam
participar das reuniões do orçamento participativo. Porque as pessoas também trabalham
e marcam as reuniões para as seis horas da tarde. Quem trabalha não vai chegar. O
primeiro passo é o acesso à qualidade de vida para as pessoas. Acesso para as pessoas
andarem, poderem ir e vir. Têm pessoas doentes que não podem andar, tem pessoas que
andam de muleta, tem pessoas que não enxergam direito, pois as ruas de Nova Rosa da
Penha, e dos bairros ao redor, são todas emborcadas. Também precisamos de um hospital
para atender as crianças, pois tem bastantes crianças doentes e vai lá para fora e não são
atendidas. A saúde e o direito de ir e vir é muito importante e é um bom começo”
(Liderança Ass. Pesca).
As sessenta e duas famílias da associação não conseguem viver da pesca. Elas têm que se
virar, tem uns que são pedreiros, carpinteiros, apanham café, uns abrem bar para
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sobreviver. Agora mesmo se tiver três na maré é muito. Hoje eu não fui para a maré por
ter marcado essa conversa, mas não estou pegando nada, é cinco, seis dúzias por semana
no máximo. A pesca abrange a grande de Vitória todinha, eu não pesco no mar, só nos
manguezais. Está difícil: o caranguejo, o robalo. As pessoas vendem nas feiras, não tem
forma de comercialização. Os barcos da prefeitura já foram feitos e comprados no mês
passado. São muitas reuniões. Teve uma na semana passada, teve outra hoje. Eu parei de
ir, pois tem vários cursos e os pescadores precisam de cursos. Mas também precisam
trabalhar. O nosso foco é geração de renda e os barcos já eram para serem entregues, mas
têm tantas pessoas querendo aparecer que podem aproveitar dos barcos. Duas pessoas
fizeram o projeto do barco e já foram mais de dez e quinze pessoas nas reuniões. Essas
reuniões são feitas entre o município e o governo do estado. Tem pessoas do Incaper, da
economia solidária, do meio-ambiente, da educação, da pesca. É um grupo de pessoas
para desenvolver a pesca em Cariacica. Mas são muitas reuniões, a gente que tem
família, não pode estar o tempo todo em reunião. Os barcos não podem ficar onde estão,
pois podem ser roubados, mas se compraram, porque não verificaram o local? Era para
ser feito o projeto e ter um local para guardar o barco. Eles fazem o projeto e jogam na
nossa mão e a gente tem que pegar e depois falam que a gente que não está querendo.
Nessas reuniões são muitos assuntos e para isso acontecer precisaria de entender de
computação e ter um lap top e marcar tudo ali e chegar em casa olhar de novo, pois toda
semana é reunião. Um fala de cá, outro fala de lá e quando você vai falar eles não dão
muito assunto para você não” (Liderança Ass. Pesca).
“A saúde é voltada para a área urbana e não para o rural. Os problemas de saúde do
homem do campo são diferentes. Quando frequenta a unidade de saúde e é atendido por
um profissional que não tem a visão do rural, isso dificulta o atendimento dos usuários.
Essas políticas só surgem quando o gestor passa a viver no campo. A própria educação
não tem uma visão do campo, uma escola foi fechada, pois os alunos foram estudar na
cidade, gerando evasão” (Liderança Cons. Rural).
“Hoje a saúde tem grande importância para os gestores pelo que se vê, temos que investir
muito na saúde pois temos várias demandas, não só aquelas das doenças de todo dia, mas
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as novas doenças que estão surgindo. Temos a dependência química, as demandas
psicológicas, pois essa nossa sociedade tem trazido novas doenças, novas demandas de
saúde pública e isso não está sendo contemplado no município ainda. […] Não existe
uma praça pública digna em Cariacica. Tem que criar esses espaços públicos porque o
povo não tem como se divertir. A criançada brinca no meio da rua” (Liderança
Comunitária 3).
“como a prefeitura vai tirar essas famílias e montar uma galeria? A loteadora fez o lote
na margem do rio, existem algumas coisas de acessibilidade aqui que é difícil de infra-
estrutura básica, que não tem como a prefeitura fazer mudanças” (Liderança Artesã 1).
E algumas soluções parecem exigir esforços muito além do próprio município.
“Acredito que a região metropolitana deveria deixar de ser essa coisa só do papel, para se
tornar uma realidade. Enquanto o município ficar pensando sozinho em resolver seus
problemas eu acredito que estaremos no caminho errado. Penso eu que um dos caminhos
que temos para o desenvolvimento é valorizar a importância de se ter uma região
metropolitana, onde os investimentos em saúde, educação, segurança, transporte público
e o próprio saneamento deveriam ser discutidos de forma unificada pelos os municípios
em participação com o governo do Estado” (Agente Pastoral 3).
i) A participação nas decisões de nível local
A metodologia do Orçamento Participativo, como em todas as edições onde esta se realiza, é
confrontada com uma série de limites estruturais da própria administração pública. Mas, Cariacica
tem uma ampla experiência participativa, desde os tempos das Comunidades Eclesiais de Base e da
formação das primeiras associações de moradores.
“A Agenda Cariacica está aí para isso. Para escutar o que a população deseja e levar para
o poder público. Também serve para a iniciativa privada. Enquanto poder público e
iniciativa privada vemos uma necessidade e está claro aquilo que é o prioritário no
momento. Você vai ouvir das associações, mas para eles aquilo não é prioritário. Eu acho
que tem que ter mesmo essa conversa, essa negociação, por esse lado que estão sendo
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feitas essas reuniões do Orçamento Participativo. Saber o que é prioritário para a
população, para orientar nosso trabalho” (PMC 1).
“A Câmara dos Vereadores poderia ser um espaço mais usado pela população para
acompanhar as seções, os projetos, saber quais vereadores votam a favor ou contra pois é
um espaço que não é do vereador, é o espaço do povo, mais o povo, infelizmente, por
falta de tempo, acaba não comparecendo à Câmara. Nós tínhamos um grupo muito
importante em Cariacica que era o grupo do GAL que acompanhava o Legislativo. Ele
acabou” (Vereador).
“Algumas coisas estão sendo feitas pelo poder público. O orçamento participativo, por
exemplo, da forma como está sendo feito, ouvindo as necessidades das pessoas, da
comunidade, atende mais a coletividade. Anteriormente tinha aquelas trocas de favores.
Esse já é um bom começo, essa coisa de resgate da auto-estima, descobrir o que as
pessoas têm de melhor. Da forma como foi feito o inchaço populacional, não contava
com o povo pensando, apenas com o povo votando e agora o povo é ouvido, eu acredito
que o futuro será muito melhor, a minha neta de cinco anos já sabe o que é orçamento
participativo, ela sabe que do mesmo jeito que temos que ir ao supermercado para
comprar algo, saber que temos que ir às reuniões de orçamento participativo” (Liderança
Artesã).
“A gente tem conseguido, enquanto entidades comunitárias, participar efetivamente no
orçamento participativo. Falta ainda politização entre as lideranças, não apenas para fazer
parte de uma votação importante no sentindo de manutenção da conquista que tiveram.
Tem uma questão das entidades que trabalham só a questão do bairro. Discute-se pouco
sobre a questão das políticas publicas que deveriam ter um alcance maior é uma
deficiência nossa enquanto liderança. Muitas vezes, a gente tem proposto esse debate e
estamos recebendo proposta de debate com a CESAN, por exemplo. Estamos debatendo
a qualidade da água, o melhoramento do transporte com a Ceturb, à questão da
mobilidade urbana. Nessa reunião que a gente promove, a gente reúne cinquenta, cem, no
máximo duzentas pessoas. É muito complicado reunir as pessoas tanto na associação
quanto na Federação.” (Liderança Comunitária 1).
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“O movimento de direitos humanos em Cariacica atua no acompanhamento das políticas
públicas (saúde, segurança, juventude, negros, mulheres, pessoas com deficiência e
idosos) e nas relações sociais diversas. Trabalha no fomento de consciência cidadã e de
uma cultura dos direitos humanos na elaboração de um projeto de futuro da sociedade.
Infelizmente a secretaria que aglutina os diversos segmentos de luta social e de direitos
humanos, não é prioridade da administração e está abandonado” (Assessor Parlamentar).
“A reunião do orçamento participativo é muito fraca. Eu sou contra. Eu fui o delegado na
última aqui. Fui para que as ruas fossem feitas. Eu não acho positivo, pelo contrário, é
tudo negativo. Porque um bairro que tem mais de duzentas mil ruas para fazer, só
conseguimos fazer duas ou três ruas no ano e depois precisamos esperar dois, três anos
para fazer mais três ruas. No geral é discutido sobre as ruas. Pracinhas também são
planejadas, porém, ninguém deixa seus filhos em praças devido à violência. Lazer e
esporte não temos. Um bairro deste tamanho não ter um ou dois ginásios para atender a
toda a comunidade, pois o bairro é muito grande. Aqui tem bastante escola, mas ela não
atinge todo mundo. Tem pessoas que estudam longe. As escolas são pequenas, não
cabem todos. Ou seja, escola tem mais não atende. Não temos creches, o bairro está
crescendo. Mesmo assim, relacionando a qualidade de vida do pescador está melhor
devido aos ônibus também. Temos ruas de vinte anos, existem desde quando começou o
bairro e estão do mesmo jeito” (Liderança Ass. Pesca).
“Eu acho que nós temos que trabalhar como parcerias, fico triste com empresas como a
Vale que usufrui boa parte de Cariacica e não investe onde realmente é preciso. Os
investimentos deveriam ser rateados, discutido como orçamento participativo, pois não é
o prefeito que irá decidir o que será feito, nem o secretário, mas quem decide é a
comunidade. Vamos movimentar a associação que tiver organizada. Essas organizações
vão realmente conquistar os benefícios que a comunidade está almejando, não o que o
prefeito quer ou as empresas querem. Eu me sinto feliz por ter participado da Agenda
Cariacica. Sei que Cariacica vai crescer e espero que todo esse planejamento seja
colocado em prática” (Liderança Sindical).
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“Nós temos uma luta danada com esse posto de saúde daqui, manter médicos, aqui, a
gente bate de frente, também sobre a iluminação pública. Quando eles vão à assembleia,
pedem e aí a gente faz os ofícios. E as coisas vão acontecendo. Conseguimos algo
inédito, com o asfaltamento da Rua 1º de Maio, drenagem e pavimentação embaixo; o
colégio, que foi uma luta de 06 anos, já municipalizou. Bbrigamos com o prefeito, no
outro dia nós tínhamos uma reportagem na TV. Ele foi lá e comprou o terreno, para o
Estado construir. Apesar de toda dificuldade, a gente procura assim lutar pelos direitos
dos moradores, mas saímos dali ficamos somos amigos, não guardamos rivalidade”
(Liderança Comunitária 2).
“O Conselho de desenvolvimento urbano, se eu não me engano, esse conselho deveria
ser mais consultado, propositivo, mais briguento. Porque vem para cá o governo do
Estado com o projeto de fazer a rodovia leste/oeste. Eles estão fazendo um inferno na
vida do povo daquela região, próximo de Vila Isabel e por aí a fora. Se tivesse marcado
para essa discussão seria discutido qual o impacto da região. Como ninguém discutiu,
chamam depois as associações para discutir atrasado. O próprio técnico do IEMA
denunciou que as obras estavam sendo feitas sem EIA-RIMA. Foi aí que levantamos
toda a discussão para fazer uma nova discussão em cima disso. Existem outros
investimentos que estão sendo aplicados por ai, por exemplo, a Rodovia do Contorno.
Quem é que e está discutindo sobre a Rodovia do Contorno, passando dentro de um
perímetro urbano? Passarela, iluminação, esgotamento sanitário. Nada disso está sendo
discutido com ninguém, simplesmente é contratada uma empresa qualquer e cumprem o
projeto. A gente só vai ver o resultado depois que tudo estiver pronto, sem ter nenhuma
interferência. Tanto é que está aqui a 262. Quando estavam asfaltando a 262, a FAMOC
chegou a ir no DENIT para tentar fazer uma discussão da BR e disseram que as
definições vêm de Brasília e não tem como mexer. Mas sabemos que poderiam. Tanto é
que alguma coisa foi feita porque mobilizou a impressa. A gente teria que ter um espaço
para discutir essas questões. A 262 você não tem uma pista de acesso para os bairros e
assim está sendo feito o contorno” (Liderança Comunitária 3).
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“O bairro tem uma associação de moradores que já existe há vários anos e essa
associação tem incentivado a população a participar do orçamento participativo, mas
deveria ter uma atenção maior em relação às reivindicações da comunidade. Mesmo se
uma obra passa no orçamento participativo isso fica anos, pois tem anos que estamos
esperando algumas obras que considero que deveria ter sido feitas nos bairros e não
foram feitas. Por exemplo, a questão do saneamento que é o maior desafio que temos”
(Agente Pastoral 3).
“O Conselho é uma instância de discussão, ele reúne os três setores: a sociedade
organizada, o produtor rural e a secretarias públicas municipais. Esses setores sentam
com seus representantes, discutem alguns projetos de abrangência rurais e até mesmo
algumas possibilidades para poderem reivindicar frente a frente. Eu gostaria de ver na
Agenda uma Cariacica que agrade aos cariaciquense para que os próximos
administradores colocarem em prática o que os munícipes desenharam para o futuro”
(Representante Cons. Rural 2).