pictures of the future 2012

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www.siemens.com/pof Pictures of the Future Edição Especial Rio+20 | 2012 Fórmulas para Eficiência A Economia do Futuro Compartilhando um Futuro mais Brilhante Tecnologias para redução da de- manda de energia e de recursos As mudanças na estrutura da cadeia de valores global Mais qualidade de vida para todos Caminhos para um Mundo Sustentável

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Page 1: Pictures of the Future 2012

www.siemens.com/pof

Pictures of the FutureEdição Especial Rio+20 | 2012

Fórmulas para Eficiência

A Economia do Futuro

Compartilhando umFuturo mais Brilhante

Tecnologias para redução da de-manda de energia e de recursos

As mudanças na estrutura da cadeia de valores global

Mais qualidade de vidapara todos

Caminhos para um Mundo Sustentável

Page 2: Pictures of the Future 2012

Pictures of the Future | Editorial

Barbara Kux faz parte da Diretoria

Administrativa da Siemens AG

e é a diretora de Sustentabilidade

da Empresa.

e soluções sustentáveis, empresas privadaspodem preencher a lacuna tecnológica. Con-tinuamente, a Siemens vem investindo empesquisa e desenvolvimento para oferecer osmais avançados produtos e soluções que aju-dem a reduzir emissões de CO2 e o consumode recursos. Consequentemente, a empresa écapaz de contribuir decisivamente na criaçãode um mundo mais sustentável, por exemplo,apoiando a Alemanha e outros países no al-cance de suas metas de sustentabilidade.

A pesquisa e o desenvolvimento de em-presas globais como a Siemens são funda-mentais em se tratando das ameaças am-bientais como a mudança climática. ASiemens é um excelente exemplo. Hoje, te-mos centros de pesquisa no mundo todo e osnossos inovadores produtos e ideias vêm daAlemanha, de outros países europeus, dosEUA e de países como a Índia, a China e o Bra-sil. Essa é a razão pela qual nossa capacidadetecnológica para construir um futuro maissustentável nunca foi tão forte, e a nossacompreensão em relação aos desafios tão cla-ra, como hoje.

Com isto nos confrontaremos: até 2050, apopulação mundial aumentará para cerca dedez bilhões de pessoas, forçando-nos a lidarcom os recursos de uma forma mais eficien-te. Avanços substanciais serão necessáriospara enfrentar crises de alimentos, escassezde água ou uma séria mudança climática. Aimportância de atuação é evidente. O cenáriode negócio para uma maior eficiência deenergia e de recursos é duro — é isso que te-mos que promover mais efetivamente. Umimportante fórum para isso são encontros,como a Conferência Rio+20.

Isto podemos fazer: existem inúmeras for-mas de mudança, que incluem soluções empequena escala, avanços tecnológicos, altera-ções no nosso comportamento e implemen-tação de inovações que poupam dinheiro.Muitas tecnologias já estão disponíveis. Algu-mas dessas ideias e produtos inovadores se-rão mostrados na Rio+20.

Se há uma mensagem a ser atendida, é aseguinte: nós podemos atuar agora, então te-mos que agir já! Se governos, empresas dosetor privado e organizações não governa-mentais se aliarem com sucesso para criaremum mundo sustentável, teremos um planoperfeito para o futuro.

Vamos continuar avançando juntos, se-guindo na mesma direção com o mesmo pro-pósito e empenho.

Essa conferência é uma importante opor-tunidade em relação ao que podemos alcan-çar e ao ímpeto e à inspiração que ela poderáproporcionar a todos nós. Mas, cabe a nós le-var à frente essas ideias inspiradoras e con-cretizá-las.

Capa: em junho de 2012, especialistas epolíticos presentes na Cúpula da Terra, noRio de Janeiro, debaterão como tornar omundo mais sustentável. Equipamentomédico para aldeias na bacia do Amazo-nas, no Brasil, ilustra o comprometimentoda Siemens aos princípios da Rio+20.

Vinte anos atrás, quando o mundo se reu-niu, aqui no Rio de Janeiro, durante a primei-ra Conferência das Nações Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento (UNCED), saí-mos com uma clara visão e um firme propósi-to. A Declaração do Rio de 1992 estabeleceualguns objetivos audaciosos, por exemplo, aerradicação da pobreza e a proteção do nossoplaneta por meio da eliminação de conflitosarmados e de guerras. Embora céticos argu-mentem que o progresso em alguns aspectostem sido mais lento do que muitos de nós es-perávamos, também houve avanços expressi-vos.

Atualmente, a cooperação entre os paísesno desenvolvimento e na aplicação de tecno-logias sustentáveis é mais intensa do quenunca. E algo importante mudou para me-lhor: em resposta às crises, governos e em-presas perceberam que uma nova estruturasustentável era necessária.

A Alemanha foi corajosa em sua reação aoterremoto e ao tsunami em Fukushima, noJapão. Como nenhum outro país, ela se com-prometeu em remodelar radicalmente suapolítica energética em favor da sustentabili-dade: até 2050, a Alemanha pretende reduziras emissões de CO2 em 80% abaixo dos níveisde 1990, expandir a cota de energia renová-vel no consumo bruto de energia para até60% e reduzir o consumo de energia primáriaem 50% em comparação a 2008.

Assim, há duas lições a serem aprendidas:em primeiro lugar, onde há crise também háuma oportunidade e em segundo lugar, sus-tentabilidade somente pode ser alcançadapor meio de um esforço conjunto.

Quando os governos criam condições fa-voráveis para o desenvolvimento de produtos

Uma Visão de Sustentabilidade para o Século XXI

2 Pictures of the Future | Especial Rio+20

AConferência das Nações Unidas sobre De-senvolvimento Sustentável (Rio+20)

acontece num momento crucial. As recentescrises revelaram uma carência de pensamen-to sustentável não só em relação à políticaenergética. Após agitações políticas, criseseconômicas e catástrofes ambientais, nosanos passados, os desafios parecem maioresque nunca. Algumas pessoas podem até afir-mar que, nas últimas décadas, falhamos emnossa meta de tornar este planeta mais sus-tentável. Isso é verdade?

Page 3: Pictures of the Future 2012

Pictures of the Future | Especial Rio+20 3

Compartilhando um Futuro mais Brilhante

A Economia do Futuro

Fórmulas para Eficiência

Extras

10 Cenário 2035

Que Comecem os Jogos!

112 Tendências

Eficiência É a Chave

15 Eficiência Energética na China

Boom de Sustentabilidade

18 Entrevistas: Ativando o Sonho

Chinês

Prof. Li Junfeng, Prof. Du Xiangwan,

e Dr. Shi Zhengrong falam sobre o futuro

do abastecimento de Energia na China.

20 Fatos e Prognósticos

O Mercado Crescente das Tecnologias de

Eficiência Energética

22 A Nova Política Energética da

Alemanha

Um Quebra-Cabeça Complexo

24 Energia Eólica

Preços Baixos no Ar

27 Turbinas a Gás de Ciclo Combinado

Usina Campeã de Recordes

29 Gestão de Carga

Edifícios Inteligentes

31 Eletrólise

Hidrogênio: O Combustível mais Versátil

34 Cenário 2035

O Cliente É Rei

36 Tendências

A Nova Economia Global

39 Financiamento de Projetos

Parcerias Sólidas

40 Inovação no Brasil

Açúcar, Petróleo e Criatividade

42 Entrevista: Brito Cruz e Ozires Silva

Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil

44 Produção de Petróleo e Gás

O Chamado das Profundezas

47 Investindo na América Latina

A Todo Vapor

49 Economia de Hospitais

O Hospital Pediátrico Dell em Austin,

Texas, é um perfeito exemplo de

tecnologias eficientes.

50 Planejamento de Fábricas na Índia

A Ciência no Lugar Ideal

52 Planejamento Urbano

Cidades: Gestão Digitalizada

54 Sistemas de Tráfego

Como TI Cria Capacidades

58 Cenário 2035

Energia Chega em Casa

60 Tendências

Lidar com Novas Fontes de Energia

63 Estação de Água Limpa

Solução Móvel para um Mundo Sedento

64 Vento no Mali

Energia Faça Você Mesmo

66 WE!Hub na África

Uma Fonte de Esperança para o Lago

Vitória

68 Soluções Fotovoltaicas nas

Montanhas do México

Vidas Novas com Luz

70 Reciclagem de Lixo na Bolívia

Lixo Gera Renda

71 Médicos Ambulantes

Monitorar Doenças na Índia

73 Assistência Médica

Ninguém Fica para trás

75 Assistência Médica na Floresta

Tropical

Uma Clínica sob Palmeiras

78 Participação de Cidadãos

Vamos Fazer um Acordo!

4 Breves

Notícias de Laboratórios da Siemens

8 Desenvolvimento Sustentável | Rio+20

Reacendendo o Espírito de 1992

82 Resposta

83 Recomendação

Pictures of the Future | Índice

Page 4: Pictures of the Future 2012

A estátua é iluminada com mais eficiência graças à tecnologia dos LEDs.

À noite, de braços abertos, ele parece flutuar noalto do Rio de Janeiro. Recentemente, a luz derra-

mada sobre a cidade ficou ainda mais brilhante e colo-rida. O Cristo Redentor, com 30 m de altura e símbolodo Rio de Janeiro, é iluminado desde março de 2011com holofotes de LED fornecidos pela Osram.

A estátua foi erigida há 80 anos atrás, com 710 mde altura, no morro do Corcovado, uma das elevaçõesmais impressionantes da cidade, tal como o Pão deAçúcar. Antigamente, a iluminação do Cristo implicavaem desperdício de energia. A luz vinha de holofotesde 74 quilowatts (kW) instalados na mata circundan-te. Os 300 novos holofotes instalados pela Osram, emcooperação com sua subsidiária Traxon – sem custospara a cidade – representam um consumo máximo de17,2 kW. Cada holofote combina a luz de 27 ou 36LEDs. Além de poupar energia, a tecnologia produzmenos calor que as lâmpadas convencionais – umavantagem para a flora e a fauna do entorno.

Outra vantagem é os holofotes terem um foco lu-minoso mais preciso, com a ajuda de lentes especiais.Isto permite iluminar partes específicas da estátua,como cada uma da mãos, o coração ou a cabeça. Gra-ças aos LEDs com cores diferentes, é possível alternaras cores mais rapidamente e criar diferentes ambien-tes, o que antes era feito antepondo lâminas coloridasmanualmente sobre os focos luminosos. Isto cria no-vas possibilidades de espetáculos de luz, como explicao projetista de iluminação Peter Gasper, diretor artísti-co do novo sistema. “Antes, mudar a atmosfera da ilu-minação da estátua era uma tarefa complicada, às ve-zes impossível”, afirma. “Agora, com os holofotes,conseguimos ajustar a iluminação de forma rápida e fácil”.

Luzes Noturnas

Pictures of the Future | Breves

4 Pictures of the Future | Especial Rio+20

ASiemens e a Allgäuer Überlandwerk (AÜW), companhia de energia de Kempten,Alemanha, em cooperação com a Universidade de Aachen RWTH e a Universidade

de Ciências Aplicadas de Kempten, estão testando uma rede energética inteligente. Oprojeto “Integração de Energias Renováveis com Mobilidade Elétrica” (IRENE), que de-verá ser realizado durante 2 anos, é financiado pelo Ministério de Economia e Tecnolo-gia da Alemanha. A meta é integrar e operar de forma inteligente as várias unidadesfotovoltaicas, turbinas eólicas e instalações a biogás ligadas à rede da AÜW. Isto serápossível com o sistema auto-organizador de automação energética da Siemens. Comos aplicativos desenvolvidos pela empresa, será possível aprimorar o planejamento e acoordenação da distribuição de energia e operar a rede com mais eficiência. No proje-to, será estabelecida uma infraestrutura de recarga de veículos elétricos para usar ele-tricidade gerada de forma ecologicamente correta, como a partir de unidades fotovoltaicas. Por exemplo, as unidades fotovoltaicas da rede inteli-gente armazenarão a eletricidade excedente, que será retransmitida à rede nos picos de demanda. As empresas participantes veem o projeto comoalgo em que todos só têm a ganhar. Os consumidores irão poupar dinheiro com novos hábitos de consumo, enquanto as distribuidoras de energiapoderão ter um desempenho mais eficiente.

Energia para Lucro de Todos

Page 5: Pictures of the Future 2012

Pictures of the Future | Especial Rio+20 5

Aárea próxima à estação ferroviária metropolitana Royal Victoria játeve dias melhores. No século XIX, essa parte de Londres era um

dos centros comerciais mais importantes da cidade devido ao seu porto.Mercadorias como madeira, borracha, algodão e açúcar eram descarre-gadas aqui. Porém, após o fechamento das docas, a área passou por umperíodo longo de decadência. Mas, recentemente, esta antiga zona in-dustrial abandonada renasceu. Um dos centros financeiros mais proemi-nentes do mundo surgiu na outra margem do Tâmisa, em CanaryWharf. Não muito longe, está o centro de entretenimento O2, conheci-do antigamente como o Domo do Milênio. As Olimpíadas de 2012 tra-rão outros prédios novos em folha, revitalizando esta zona ainda mais.Mais importante que isso, em breve, a estação Royal Victoria, terá umfascinante vizinho novo, simbolizando o renascimento urbano e econô-mico da região – um centro de conferências, feiras e escritórios à beira-rio: o Crystal. O centro está sendo construído pela Siemens e será inau-gurado no verão de 2012. O Crystal abrigará a maior exposição sobresustentabilidade urbana do mundo, congregando os responsáveis pordecisões e o público da cidade sob o mesmo teto. Prevê-se que as áreasreservadas para escritórios utilizem apenas um terço da energia que uti-lizariam num prédio convencional. Esse alto nível de eficiência energéti-ca será o resultado de arquitetura de ponta e tecnologias inteligentes.Bombas de calor subterrâneas irão refrigerar ou aquecer o prédio nasvárias estações. Tecnologias inteligentes de gestão predial e equipa-mentos eficientes como lâmpadas de LED serão responsáveis por essaenorme economia de eletricidade. A fachada facilitará a entrada de luznatural, sendo ao mesmo tempo termicamente eficiente para conservaro calor no inverno e dispersá-lo no verão. Painéis fotovoltaicos na cober-tura ajudarão a energizar o prédio, enquanto a água da chuva irá abas-

tecer os banheiros e irrigar os jardins em torno do prédio. Além de edu-car os visitantes quanto ao desenvolvimento urbano sustentável, o pró-prio centro será uma demonstração viva de sustentabilidade. O novocentro localizar-se-á no coração do novo distrito verde de Londres, pro-jetado para atrair empresas eficientes em emissão de carbono, entre ou-tras. Essas empresas oferecem produtos e serviços com baixas emissõesde CO2 ou que ajudam a reduzi-las. Como o prefeito de Londres, BorisJohnson, explica, “Projetamos o distrito verde como uma incubadora in-ternacional que abrigará dezenas de empresas eficientes em emissõespara transformar uma das partes historicamente mais pobres da capi-tal”. Esta região, que passou pelos altos e baixos da revolução industriala carvão, abrigará, a partir de agora, espaços urbanos futurísticos. Asempresas que faturam com a conservação em vez do desperdício deenergia irão se sentir em casa nesta área.

Eficiência Máxima nas Docas

A cidade do futuro será demonstrada num prédio eficiente em termos energéticos, nas docas de Londres.

Page 6: Pictures of the Future 2012

Pictures of the Future | Breves

6 Pictures of the Future | Especial Rio+20

Um vento suave sopra nas colinas verdes e ricas que ponteiam aárea rural da pequena localidade costeira de Strangford no distrito

de Down, Irlanda do Norte. Não muito longe encontra-se o portonatural de Strangford Lough, cujas águas azuis, atualmente, correspondemao nome celta da localidade, Cuan, que significa “baía calma”. Apesardisso, ondas enormes escuras às vezes quebram no porto. Não foi coin-cidência que Strangford foi batizada de “fiorde poderoso” pelos Viquinguesque a colonizaram, no passado. A baía tem 30 quilômetros de extensãoe, com uma área de 150 km², é a maior baía no mar da Irlanda. Alémdos pitorescos barcos de pesca, a baía se caracteriza por uma torre ru-bro-negra de aço que emerge junto à costa. A torre integra a SeaGen, aprimeira usina elétrica maremotriz comercial do mundo. A unidade,inaugurada em 2008, gera 1,2 megawatt (MW) de eletricidade unicamentea partir da força das marés. Isso é suficiente para abastecer um municípiocom 1.500 residências.

Os movimentos das marés são a maior fonte não explorada deenergia limpa. A sua não utilização, até agora, se deve ao fato de a tec-nologia ainda estar em desenvolvimento, além de os custos de instalaçãoserem elevados. Mesmo assim, os potenciais são imensos. É possívelmontar usinas maremotrizes em qualquer lugar em que as marés altase baixas gerem fortes correntes. Alguns lugares com condições ideaissão a Escócia, a França, o Canadá e o Leste da Ásia.

O porto natural de Strangford Lough é um local atraente por váriosmotivos. Principalmente, por ser relativamente raso. Isto permitiuancorar a unidade a uma profundidade de 30 m, conforme esclareceKai Oliver Kölmel, responsável pelo setor de energia oceânica da divisãode energia solar e hidráulica da Siemens. “As águas rasas facilitam afixação da unidade no fundo do mar”, afirma. “Além disso, as marésaltas e baixas são mais intensas em águas rasas. Por exemplo, ascorrentes no estreito de Strangford atingem um fluxo de até 4 m/s,sendo que a geração de eletricidade na SeaGen requer um fluxo de nomínimo 1 m/s”.

Parque submarino de Produção de Energia. A usina de StrangfordLough é operada pela Marine Current Turbines, empresa britânica

adquirida pela Siemens em março de 2012. A unidade se parece comuma turbina eólica, exceto pelo fato de a propulsão ser feita pela água,e não pelo ar. Cada um dos módulos pesa 27 toneladas, sendo equipadocom um rotor de 16 metros de diâmetro.

As pás conseguem se inclinar até 180 graus, gerando eletricidadedurante até 20 horas por dia, quer a maré esteja subindo ou descendo.As duas turbinas são integradas mediante módulo em cruz a uma torrede três metros de diâmetro. Dependendo das marés, a torre podeoscilar até vinte metros acima da superfície marinha. Os rotores nãosão visíveis acima da superfície da água, podendo os barcos de pequenoporte navegarem diretamente em torno da turbina, já que os rotoresestão instalados no mínimo 3 metros abaixo da superfície. “A manutençãoé simples”, afirma Kölmel, “é possível ter acesso à unidade com facilidadee fazer os módulos que sustentam as turbinas emergirem da água comum sistema elevatório hidráulico”.

Apesar de os custos elevados de instalação no investimento emparques maremotrizes serem o dobro do de parques eólicos em altomar, a eletricidade gerada oferece vantagens. Por exemplo, a densidadeenergética da água é 800 vezes maior que a do vento, ou seja, ageração elétrica é muito mais eficiente. Uma usina maremotriz de 1,2MW como a de Strangford Lough gera o mesmo volume anual de umaturbina eólica em alto mar de 2,5 MW. O cálculo do rendimentoenergético dos parques maremotrizes é mais preciso, com um planejamentomais seguro, pois o movimento das marés é afetado pela gravidade daLua e da Terra e não das condições climáticas, o que permite fazerprevisões com anos de antecedência.

A Agência Internacional de Energia estima a geração energética emparques maremotrizes anual, no mundo, em até 800 terawatts/hora.Isso é energia suficiente para abastecer 250 milhões de lares. A MarineCurrent Turbines continua investindo em tecnologias maremotrizes.Em 2013, a empresa planeja iniciar a construção de um parquemaremotriz nas proximidades da ilha de Skye, no nordeste da Escócia.Quando for inaugurada, a instalação fornecerá eletricidade pela forçadas marés para até 4 mil residências.

O Aproveitamento de Rios Invisíveis

Os movimentos das marés são a maior fonte não

explorada de energia limpa. Com densidade ener-

gética 800 vezes maior que a dos ventos, a água é

uma fonte de energia confiável e eficiente.

Page 7: Pictures of the Future 2012

Conexão Francesa

Pouco desperdício: transformador de 800 kV para transmissão HVDC aérea na China.

ASiemens está construindo estações conversoras para um sistema detransmissão de corrente contínua em alta tensão (HVDC) com capacida-

de inédita de dois mil megawatts (MW). A partir de 2013, a nova tecnologiaHVDC Plus transmitirá correntes contínuas de 2 mil MW de forma subterrâneaa uma distância de 65 km. O sistema, em parte financiado pela União Euro-peia, interligará as redes energéticas da França e da Espanha. Atualmente, asredes dos dois países estão interligadas por linhas de baixa capacidade. As re-des europeias precisam ser atualizadas para comportarem o uso de umaquantidade maior de energias renováveis. O uso de corrente alternada não éideal para transmitir grandes volumes de energia de forma subaquática ousubterrânea (em vez de aérea) a longas distâncias, pois a capacitância dos ca-bos exige uma carga e descarga com uma grande perda. Com o sistemaCCAV, as perdas de transmissão são 30% a 40% menores que nas linhas trifá-sicas de corrente alternada. A tecnologia da Siemens irá possibilitar a trans-missão com dois cabos de 1.000 MW de energia a 320 quilovolts, tensão má-xima que os cabos conseguem comportar. Em comparação com as estaçõesanteriores, esse sistema oferece uma série de vantagens. Além de maior flexi-bilidade e robustez, as novas estações são menos sujeitas a quedas.

Preparada para Carvão e Algas

É possível produzir novas levas de microculturas em poucas horas.

ASiemens está realizando testes de combustão combinadade carvão e biomassa. Em cooperação com a PetroAlgae

Inc., empresa de energias alternativas dos EUA, um combustorda Siemens foi acionado pela primeira vez com pó de carvãoe microculturas vegetais da PetroAlgae, na Universidade deUtah (EUA). As emissões de óxido de nitrogênio foram cercade 20% inferiores aos níveis gerados em operações exclusivasa carvão. Microculturas como as de alga representam com-bustível neutro em termos climáticos. Isso se deve ao fato deas plantas liberarem a mesma quantidade de CO2 atmosféricooriginalmente absorvida por elas durante o crescimento.Devido ao alto teor de carbono, as plantas geram muitaenergia em relação a sua massa, podendo oferecer uma al-ternativa ecológica à combustão direta de carvão.

A torre Taipei 101 recebeu o selo “Leadership in Energyand Environmental Design” (LEED), na categoria pla-

tina. Prédio ecológico mais alto do mundo, a torre utiliza30% menos energia que edifícios convencionais. Os siste-mas de luz e ar condicionado se desligam automaticamen-te nas salas vazias, e a refrigeração, durante o dia, é feitacom o gelo produzido de madrugada com eletricidade debaixo custo. Graças a essas e a outras iniciativas, o prédioteve suas emissões de CO2 reduzidas em cerca de 3.000toneladas métricas por ano. Na qualidade de consultoraem LEED, a Siemens teve um papel importante nessa his-tória. A empresa instalou soluções de gestão de constru-ção, segurança e iluminação no Taipei 101, em 2004.

No Topo

A torre reduziu em US$ 700 mil seus gastos anuais de energia.

Pictures of the Future | Especial Rio+20 7

Page 8: Pictures of the Future 2012

Com a Rio+20, a ONU espera reacender oespírito de 1992 e, mais uma vez, mobilizar acomunidade internacional rumo à uma maiorsustentabilidade. Um novo foco da cúpula seráo apelo por um maior apoio à “economia ver-de” capaz, por um lado, de assegurar o desen-volvimento sustentável, e por outro, gerar em-pregos, convertendo-se numa eficienteferramenta no combate à pobreza. Assimcomo há 20 anos, os governos se reunirão comespecialistas e representantes de entidades egrupos de interesse para discutir como assegu-rar o acesso sustentável à saúde, à água, àenergia, à educação e à alimentação.

No mundo todo, projetos como esses de-monstram que isso já é possível: metrôs e ôni-bus híbridos sem motoristas são usados em vá-rias cidades para reduzir congestionamentos etransportar a população com rapidez e de for-ma ecologicamente correta. Turbinas eólicas eusinas termelétricas a gás, em combinaçãocom parques de energia fotovoltaica, oferecemfontes sustentáveis de energia.

8 Pictures of the Future | Especial Rio+20

AConferência das Nações Unidas sobre oMeio Ambiente e o Desenvolvimento de

1992 foi considerada um marco importantenas políticas internacionais de desenvolvimen-to. Num contexto de aumento da poluição am-biental e do consumo intensivo de recursos na-turais, a ONU convoca os governos a reveremsua definição de crescimento. Além do desen-volvimento econômico, essa definição deve in-corporar a consciência ambiental e política dedesenvolvimento sustentável. Porém isso nãoé suficiente, já que mesmo o estilo de vida daspopulações deverá ser contemplado nos pla-nos de crescimento dos países, uma vez que,além de o consumo excessivo dos países ricospoder levar à pobreza e à poluição, caso as ini-ciativas de proteção ambiental aprovadas nãosejam implementadas, poderá haver um retro-cesso a tecnologias ultrapassadas e, portanto,ineficientes. No final da conferência anterior,os 178 países assinaram um documento co-nhecido como Agenda 21, comprometendo-sea implementar políticas de desenvolvimento

sustentáveis, proteção ambiental e crescimen-to econômico. A Agenda 21 abrange resolu-ções relacionadas ao combate à pobreza, amudanças nos padrões de consumo e condi-ções de produção, além da proteção dos ocea-nos, das florestas, dos recursos naturais e dabiodiversidade.

Porém, desde 1992, pouco desses desafiosforam superados. A quantidade de espéciesameaçadas e a proporção de florestas desma-tadas aumentaram desde então. Isso para nãofalar dos métodos poluentes de produção e mi-neração que aceleram as mudanças climáticase a escassez de recursos naturais e da continui-dade das megatendências de urbanização emudanças demográficas, que continuam re-presentando enormes desafios.

Apesar de tudo, ainda pode haver esperan-ça: O uso de energias renováveis está aumen-tando, tecnologias modernas oferecem opor-tunidades mais ecológicas e, em muitospaíses, a mentalidade do desenvolvimentosustentável vem crescendo.

De que forma podemos tornar a economia mundial mais sustentável? Políticos tentaram responder essapergunta na “Cúpula da Terra” de 1992, no Rio de Janeiro. Vinte anos mais tarde, na conferência progra-mada para a mesma cidade, países do mundo todo pretendem encontrar novas formas para gerar pros-peridade e desenvolvimento sustentável. A tecnologia pode dar uma contribuição importante.

Desenvolvimento Sustentável | Rio+20

O filtro de água SkyHydrant (à direita), o projeto foto-

voltaico WE!HUB (centro) e o equipamento médico

para aldeias (esquerda e nessa pág.), na bacia do Ama-

zonas, no Brasil (à esq.) ilustram o comprometimento

da Siemens aos princípios da Cúpula da Terra de 2012.

Reacendendo o Espírito de 1992

Page 9: Pictures of the Future 2012

Porém, mesmo em lugares onde não há re-cursos financeiros disponíveis para projetos dealto custo, é possível promover grandes mu-danças imediatas com pouco esforço, utilizan-do a tecnologia certa. As tecnologias sustentá-veis não são objetos de luxo caros, possíveisapenas para poucos países ricos, pelo contrá-rio: Com soluções simples e eficazes, é possíveltornar a vida nas regiões mais pobres muitomais confortável e ecológica sem a necessida-de de produtos caros de alta tecnologia.

Água Limpa Onde Houver Necessidade.Um exemplo disso é o abastecimento de águapotável. Em várias regiões do mundo, os habi-tantes ainda não têm acesso à água potável. AOrganização Mundial de Saúde estima que780 milhões de pessoas correm risco de adoe-cer devido ao consumo de água contaminada.Anualmente, cerca de dois milhões de pessoasmorrem, na maioria crianças e idosos, devido adoenças causadas por água contaminada. Porisso, a ONU pretende, como uma das suas Me-

tas de Desenvolvimento do Milênio, reduzir àmetade o número de pessoas sem acesso àágua potável, até 2015.

Os principais desafios técnicos e logísticosdesse objetivo são: a tecnologia utilizada deveser robusta, confiável e de baixo custo, além deser de fácil manuseio e manutenção. Uma solu-ção desse tipo é o “Hidrante Celeste” – Skyhy-drant, um sistema móvel de tratamento de águapesando apenas 16 quilos e medindo um metroe meio de altura. Ele foi desenvolvido por RhettButler, da Siemens Water Technologies, em Sid-ney, e filtra a água de rios, por exemplo, atravésde poros formados por 10.000 fibras de mem-brana, cada uma com a espessura de um fio decabelo. Sua produção diária é de, no mínimo,10.000 litros de água potável. Normalmenteele é acionado em cooperação com parceiroslocais, atualmente, em mais de 40 países, aum custo de US$ 0,30 por pessoa, por ano.

Muitas regiões carecem de fornecimentoadequado não apenas de água potável, mastambém de energia elétrica. Muitas vezes, as

Pictures of the Future | Especial Rio+20 9

populações de regiões remotas dependem degeradores a diesel, que se caracterizam pelonível elevado de emissões. O projeto“WE!HUB”, financiado pela União Europeia eimplementado conjuntamente pela FundaçãoSiemens, a Fundação Internacional Fundo daGlobal da Natureza, a empresa fabricante deprodutos de iluminação Osram e Thames Elec-tricals, uma empresa queniana, pretende levarenergia solar a regiões remotas do Quênia.

Trata-se de regiões onde não há grandesusinas nem redes de distribuição caras parafornecer eletricidade a sua população. Com ainstalação de células fotovoltaicas nos telha-dos, os habitantes conseguem agora gerar ele-tricidade ecológica a baixo custo. Usando bate-rias recarregáveis e lâmpadas economizadoras,os habitantes podem iluminar as suas casas,carregar celulares ou se abastecer de água po-tável, por exemplo, com bombas ou equipa-mentos de tratamento como o SkyHydrant,melhorando, assim, a qualidade de vida dosmoradores de forma sustentável (p 66).

A energia eólica é outra forma de fornecereletricidade às regiões remotas. Piet WillemChevalier, um engenheiro belga da Siemens,reconheceu este fato em 2009 e, juntamentecom a entidade local Rondom Baba, promove afabricação de turbinas eólicas no Mali a partirde materiais simples reciclados. Isto teve comoconsequência a fabricação local das turbinaseólicas e o treinamento de alguns habitantesdo local para que pudessem construir e realizara manutenção daquelas instalações, a fim degarantir a operação posterior ou ainda cons-truir turbinas eólicas mais possantes.

As Pessoas Tornam Isso Possível. Sob olema “Tecnologia em Ação”, a Siemens apre-sentará, no Rio de Janeiro, em parceria com asONGs participantes e a Fundação Siemens, es-tes e outros exemplos de integração sustentá-vel de tecnologia e desenvolvimento. Tambémestarão presentes representantes do Grupo deDesenvolvimento de Impacto Comunitário,uma rede de empreendedores sociais, organi-

zada em parceria pela Fundação Siemens epela Ashoka, uma das maiores organizaçõesinternacionais de apoio a empreendedores so-ciais. A iniciativa apoia com equipamento téc-nico projetos na África e na América Latina emdiversas áreas, como gestão de resíduos, utili-zação ecológica dos recursos naturais, desen-volvimento de tecnologias de comunicação oufornecimento de infraestrutura sanitária.

O “Hidrante Celeste”, WE! HUB e outrosexemplos ilustram que já há soluções disponí-veis que permitem melhorar as condições devida das pessoas com medidas relativamentesimples e com um impacto mínimo sobre omeio ambiente. Mas para isso, são especial-mente os jovens, que irão fazer o mundo deamanhã, que devem estar engajados. Por isso,junto com os seus parceiros, a Siemens reunirájovens do mundo todo, no Rio de Janeiro, paracolaborarem com as suas ideias na plataformade sustentabilidade.

Conhecidos como “estudantes para a sus-tentabilidade”, grupos da África do Sul, do Bra-

sil, da Alemanha, do Reino Unido e da Chinaapresentarão suas soluções sustentáveis paraos desafios locais e colaborarão com especia-listas na busca de formas, pelas quais as dife-rentes regiões poderão se beneficiar com seusmétodos. Paralelamente, a Fundação Siemensestá lançando um concurso internacional desoluções de baixa tecnologia. Inventores ama-dores ou profissionais. Comunicamos que re-ceberemos, até o final de 2012, invenções quepossam contribuir para melhorar as condiçõesde vida no desenvolvimento de países emer-gentes. As invenções premiadas serão apre-sentadas em meados de 2013.

A sustentabilidade do planeta depende emgrande parte de soluções aparentemente sim-ples. Entretanto, não são poucos os desafiosque nos aguardam mesmo após a Rio+20. Po-rém, sob condições adequadas e com as tecno-logias certas, a próxima rodada de problemasserá encarada, bem no espírito do lema da Sie-mens para a Rio+20: “Agora é hora de agir!”

Andreas Wenleder

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10 Pictures of the Future | Especial Rio+20

Destaques12 Menos é Mais Seja no nosso confronto com os desa-

fios das mudanças climáticas ou emface da crescente escassez de maté-ria-prima como, por exemplo, com-bustíveis de carbono e outros metais,tecnologias que aumentam a eficiên-cia nunca foram tão importantes.

15 Sustentabilidade na China As principais prioridades da China in-

cluem aumentar a eficiência, reduziras emissões e criar cidades ambien-talmente sustentáveis.

22 Virada Energética na Alemanha A nova política energética da Alema-

nha inclui muito mais do que a re-núncia progressiva à energia nuclearaté 2022. Ela exige uma ampla gamade medidas que se encaixem perfei-tamente como partes de um quebra-cabeça.

24 Preços Baixos no Ar Engenheiros da Siemens estão de-

senvolvendo tecnologias que pode-riam aumentar radicalmente a com-petitividade da energia eólica.

27 Usina Recorde A mais nova usina de ciclo combina-

do da Siemens converte mais de60,75% da energia contida no gásnatural em eletricidade, um recordemundial.

31 O Combustível mais Versátil Quando se trata de armazenar o

excesso gerado de energia eólica ousolar, nada consegue competir com o hidrogênio.

2035Uma versão moderna de Pompeia está pres-

tes a abrir suas portas. Patrocinada por inves-

tidores privados e instituições culturais, a

nova cidade oferecerá apartamentos e man-

sões para milhares de pessoas. Será um labo-

ratório vivo, com oportunidades de pesquisa

para cientistas e estudantes, pois associa a

eficiência de antigos planos urbanos com as

mais avançadas tecnologias economizadoras

de energia.

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Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012 11

2035.Olá! Meu nome é AlmuntasirBen Zeyyad. Sou o idealiza-

dor chefe e arquiteto de algo completamentenovo, embora milenar: Nova Pompeia, uma ci-dade inovadora baseada no seu epônimo ro-mano; um lugar que combina o conhecimentomoderno sobre eficiência energética com a ca-pacidade de povos antigos de viver em harmo-nia com o meio ambiente e um com os outros.E já estamos quase chegando lá!

Há alguns anos, nesse lugar não havia nadaalém de uma base naval abandonada, uma lin-

Extravagante, emocional e autoconfiante, o “idealizador chefe”da versão moderna de Pompeia explica por que a antiga cidaderomana serve de modelo para um novo futuro.

Que Comecem os Jogos!Fórmulas para Eficiência | Cenário 2035

da vista do mar e uma idéia. Em poucos meses,porém, teremos pessoas comprando cópias deprodutos romanos antigos, em estilo artesa-nal, e bebendo sucos frescos de romã em ta-vernas situadas nas partes cobertas e decora-das com afrescos dos edifícios de arcadas;réplicas exatas dos originais. Turistas e residen-tes da cidade passearão pelas suas ruas cor deocre, desfrutarão de suas termas e assistirão àslutas no novo Coliseu, torcendo pelos seus gla-diadores favoritos. Estudantes e eruditos exa-minarão os mosaicos, os afrescos, as técnicas

Page 12: Pictures of the Future 2012

12 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

Uma plataforma de transformadores no par-

que eólico offshore de Lillgrund, Suécia, reduz

a voltagem da eletricidade gerada a partir do

vento e, então, alimenta a rede.

Hoje em dia, prêmios e reconhecimentos,mesmo na área de tecnologia, são muito

comuns. Mas o Prêmio de Inovação da Indús-tria Alemã, distribuído anualmente desde1980, consegue manter seu status não só por-que é um dos mais antigos desse gênero nomundo.

A inspiração que levou à criação do prêmiofoi a consciência de que a crescente escassezde matéria-prima demanda investimentosconstantes em pesquisa e inovação a fim demanter a competitividade no mercado global.Além de tecnologia computacional e engenha-ria médica – dois dos tópicos mais comuns en-

romanas de engenharia e a história local, emduplicações detalhadas das construções ma-jestosas da cidade. Vários restaurantes serãoabertos. Muitos deles venderão pratos simila-res aos da antiga Pompeia. Milhares de pes-soas habitarão versões modernas de aparta-mentos e vilas romanas, com consumo deenergia zero. Nossos livros de encomendas jáestão cheios!

Claro que demorará um pouco para as pes-soas se adaptarem à nova cidade. Quem pro-curar lava-carros abertos 24 horas, postos degasolina cheios de motoristas agressivos e es-tacionamentos calorentos e de luz ofuscante,terá que ir a outro lugar! Quem sentir falta deruas não limpas devido ao excesso de veículos,motonetas atropelando pessoas idosas na cal-çada, caminhões obstruindo ruas residenciaisno meio da noite, sinais que nunca dão vez aopedestre, bem como outros desconfortos cau-sados pelos automóveis, deve passar para olargo de Pompeii Novum!

Ao contrário da maioria das cidades, esta seinspirou na ideia da eficiência. Primeiro, NovaPompeia será autossuficiente energeticamen-te. Um pouco além do Fórum, em direção aomar, construímos um parque eólico. Suas pásgiram em sincronia perfeita, minimizando asperturbadoras correntes cruzadas de ar. Cadainstalação produz uma grande quantidade deeletricidade.

Para abastecermos uma série de equipa-mentos automatizados, iniciamos com a insta-lação dos parques eólicos e partes do sistemade distribuição e armazenamento de energia.A energia produzida pelos aerogeradores éusada para dessalinizar a água marinha, en-cher reservatórios de água potável e abastecereletrolisadores subterrâneos. Ali está um, per-to do sistema de túneis subterrâneos de váriosníveis, com um andar para o trânsito de auto-móveis elétricos automatizados e outro para osveículos de entrega de mercadorias. Com o ex-cedente de eletricidade gerada pelo parque eó-lico e por um gigantesco sistema solar no de-serto, os eletrolisadores produzem hidrogênio.Este gás é convertido em células de combustí-vel ou reage com o dióxido de carbono da at-mosfera, produzindo metano, que pode serutilizado como combustível para automóveisou para o aquecimento.

Esta foi uma breve explicação sobre gera-ção e armazenamento de energia. E como va-mos gerenciar seu consumo? Vou falar entãodo Centro de Planejamento e Simulação daNova Pompeia. Construímos uma maquete di-gital da antiga cidade romana, adaptando-a aesse local e depois, otimizamos as edificaçõese os bairros em termos das necessidades indi-viduais e coletivas de energia e da dinâmica deinfraestrutura. Um programa de computadorpercorreu a maquete inteira, a fim de encon-

trar os melhores lugares para instalar sensoresde movimento, temperatura e dióxido de car-bono, proxies para a detecção de ocupação, ouseja, para evitar o desperdício de calefação, re-frigeração e iluminação em espaços não ocu-pados. Os sensores estão equipados com mi-crochips, que por meio de um software sãoatualizados. Eles foram instalados por robôs-artesãos que fornecem um feedback contínuo.

Quando a cidade for habitada, estes siste-mas ajustarão automaticamente os níveis detemperatura, umidade do ar e iluminação dosprédios públicos e comerciais, de acordo com aquantidade de pessoas presentes em um deter-minado local. O mesmo ocorrerá em residên-cias particulares, dando prioridade às deman-das específicas e aos hábitos dos moradores.Em dias quentes, estes sensores permitirãoque o ar frio seja aspirado de cisternas comágua de chuva. Assegurando assim, uma venti-lação natural.

Para incentivar a economia de energia, opreço da eletricidade variará de hora em hora,conforme a oferta e demanda. Através de umprotocolo padronizado, os lares e as empresasreceberão, interpretarão e ajustarão os sinaisde preço dados pela companhia de energiaelétrica. As pessoas poderão ajustar individual-mente os termostatos. Indivíduos competindocom seus familiares, lares competindo dentrode seus bairros e departamentos, dentro desuas empresas. Os prêmios serão horas adicio-nais nas termas ou entradas gratuitas para es-petáculos no Coliseu. Os detalhes serão forne-cidos através de mensagens no smartphonesobre as lutas romanas clássicas ou assinaturasde concertos de cítara, caso eles consigammanter seu consumo de energia abaixo de cer-tos níveis determinados.

Nas unidades de produção, nas divisões demanutenção urbana, nos centros de prepara-ção de alimentos e em outras operações dealto consumo energético, muitas totalmenteautomatizadas, grupos de software inteligen-tes organizarão os processos, de acordo com opreço momentâneo da eletricidade, mantendoos preços dos produtos competitivos. Além dis-so, o município exigirá que todos os aparelhoselétricos, públicos e privados, cumpram comos últimos requerimentos de auto-diagnósticoenergético e manutenção associada.

Meu Deus, está ficando tarde! Os investido-res e patrocinadores estão tão entusiasmadoscom a aceitação do nosso projeto, que já estãopensando em planejar outras cidades, comoAlexandria, Léptis Magna e Herculano. Gran-des cadeias de hotéis, diretores de organiza-ções para idosos, associações de saúde e clu-bes de esporte se comprometeram em investirnas nossas ideias. Eles exclamam eufóricos:“Que comecem os jogos!”

Arthur F. Pease

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Seja no combate dos problemas causados pelas mudanças climáti-cas ou daqueles resultantes da crescente escassez de matéria-pri-ma, como combustíveis fósseis e metais, tecnologias que aprimo-ram a eficiência nunca foram tão importantes como hoje em dia.

Eficiência É a ChaveFórmulas para Eficiência | Tendências

Muitas das tecnologias necessárias paraessa finalidade já estão disponíveis hoje, in-cluindo automação inteligente de instalações esistemas de gerenciamento de energia (vejapág. 29). Em uma entrevista à Pictures of theFuture, o professor Ernest J. Moniz, especialis-ta em energia no Massachusetts Institute ofTechnology (MIT) e membro do Conselho deConsultores de Ciência e Tecnologia (PCAST)do presidente Barack Obama, explicou a eco-nomia que pode ser feita: “Em 2008, a Acade-mia Nacional de Ciências publicou um estudomostrando que apenas a modernização de to-dos os imóveis americanos existentes, reduzi-ria o consumo total de energia nos EstadosUnidos em um quinto, até 2020.” No futuro, osprédios não só usarão menos energia, mastambém deverãoaliviar a tensão na rede elétri-ca. Softwares regularão a demanda de energiaem milhares de prédios em resposta a varia-ções nos preços da eletricidade, reduzindo ademanda coletiva em tempo real. Isso contri-buirá na redução dos picos de demanda, ummeio econômico de estabilizar a rede de distri-buição de energia.

De acordo com Bettenhausen, mais pesqui-sas são necessárias para tornar os países sejammais sustentáveis. “Penso primeiramente emáreas como armazenamento de energia, bemcomo de captura, sequestro e aproveitamentode CO2 como matéria-prima”, diz. A reutiliza-ção do dióxido de carbono interessaria bastan-te à indústria. A Siemens, por exemplo, estápesquisando o uso de algas para converter CO2

em biomassa gerando, assim, matéria-primapara biocombustíveis, bioplásticos ou raçãoanimal. Além disso, ela também está investi-gando formas de usar o CO2 em processos quí-micos (veja pág. 31).

Em outras empresas, iniciativas de P&D es-tão focando maneiras de aumentar a eficiênciaenergética. Motores elétricos oferecem, delonge, o maior potencial de economia, umavez que são responsáveis por cerca de 60% daenergia elétrica consumida pela indústria euro-

A usina de ideias da Global Footprint Net-work estima que já utilizemos os recursos na-turais a um nível 50% maior do que eles po-dem se regenerar. Se essa tendência continuar,precisaríamos de duas a três Terras para nosatender, até 2050. Em outras palavras, maioreficiência, reciclagem, uma economia circulare um consumo que leve a conservar recursossão necessários hoje mais do que nunca.

A boa notícia é que oportunidades para am-pliar a eficiência estão ao alcance de todos,praticamente em todos os lugares. Além disso,tais soluções são extremamente atraentes paratodos os envolvidos. Quem consegue reduzirseu uso de recursos naturais em casa ou numambiente industrial sem reduzir o desempe-nho ou a produção, não apenas ajuda a preser-var o ambiente, mas também é agraciado naforma de gastos menores e maior nível decompetitividade.

Já há algum tempo, a tecnologia ambienta-labandonou a sua imagem de cara e desneces-sária. No ano fiscal de 2011, a Siemens obteveuma receita de 30 bilhões de euros da vendade produtos extremamente eficientes de seuPortfólio Ambiental. Esse mercado tem um po-tencial ainda bem maior. De fato, o ConselhoMundial de Negócios para o DesenvolvimentoSustentável (WBCS) estima que oportunidadesde negócios no setor ambiental alcançarão 3trilhões de euros por ano, até 2050.

Tornando os Edifícios mais Eficientes.Grande parte desse esperado volume de negó-cios será gerado em melhorias feitas na efi-ciência energética de edifícios, que atualmentesão responsáveis por 40% de toda a energiagasta mundialmente e, por conseguinte, por20% da emissão de gases de efeito estufa. “Amelhor maneira de economizar energia é nãousá-la. E uma das melhores maneiras de fazerisso é desenvolver edifícios que sejam eficien-tes nesse aspecto”, afirma Kurt Bettenhausen,diretor do Siemens Corporate Technology (CT)Research Center em Princeton, Nova Jersey.

tre os ganhadores de prêmios a cada ano – ou-tros temas recorrentes oferecem soluções paraeficiência energética e uso inteligente de ma-téria-prima.

A necessidade da eficiência tecnológicanunca foi tão crítica como hoje. Junto com fon-tes renováveis de energia (pág. 24), principalarma na manutenção das mudanças climáticasa níveis gerenciáveis, está a maior eficiência nageração, transmissão e consumo de energia.Ao mesmo tempo, o aumento da população eo crescente poder aquisitivo em muitos paísesameaçam uma redução na disponibilidade dematérias-primas.

Page 14: Pictures of the Future 2012

per capita é quase o dobro da Europa, há esfor-ços crescentes para aumentar a eficiência. OPrograma de Tecnologias Industriais do gover-no, por exemplo, oferece às empresas incenti-vos financeiros para a instalação de tecnologiaenergeticamente mais eficiente. Ao mesmotempo, o país está convertendo todas as usinasa carvão em plantas a gás, que podem ser usa-das de forma mais eficiente como usinas deenergia a ciclo combinado. “Ainda nessa déca-da, as usinas que produzem entre 60.000 e90.000 megawatts poderiam ser convertidaspara gás natural”, afirma o especialista do MITMoniz.

E mais capacidade geradora a gás está a ca-minho, com diversas iniciativas envolvendoturbinas da Siemens. Operada com uma turbi-na a vapor de ciclo combinado, uma turbina agás da Siemens bateu um novo recorde de efi-ciência, com 60,75% da energia contida no gásnatural convertida em eletricidade em umaprodução de 578 megawatts. o suficiente paraabastecer uma cidade como Berlim.

No momento, a média de eficiência de usi-nas de energia de ciclo combinado nos EstadosUnidos é de menos de 40%. Em outras pala-vras, substituir as turbinas atuais por turbinasmais eficientes da Siemens reduziria a deman-da de gás em um terço. Em 2013, seis dessasturbinas vão operar na Flórida, onde a atualiza-ção vai trazer para a operadora, a Florida Po-wer & Light, uma economia de US$ 1 bilhão,ao longo do ciclo de vida dessas turbinas.

Esse é outro exemplo de como a ecologia ea economia podem e, futuramente, deverãoandar de mãos dadas. Muitos especialistasconcordam que esse tipo de modelo sustentá-vel é a única opção possível para o futuro cres-cimento econômico.

Tecnologias como as da nova turbina a gásda Siemens estão abrindo caminho. O júri doPrêmio de Inovação da Indústria Alemã teve amesma opinião, em fevereiro de 2012, quandopremiou esse desenvolvimento que bateu re-corde. Sebastian Webel

com pesquisa de Arthur F. Pease

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peia. Na China, a proporção chega a 80%. Ouso de motores eficientes e de tecnologia decontrole pode reduzir a demanda de energianessa área em 60%. Normalmente, esse tipode investimento se amortizaria em dois anos, apartir dos quais os consumidores começariama lucrar com reduções no consumo de energia.

Outras maneiras eficazes de reduzir o con-sumo de energia e os custos associados in-cluem, por exemplo, a instalação de sistemasde gestão de energia, softwares inteligentespara aumentar processos de produção e tecno-logias para melhorar a exploração das perdasde calor em instalações industriais.

”No momento, cerca de metade da energiaprimária usada em processos industriais e ge-ração de energia é perdida em forma de calor”,explica Dr. Martin Tackenberg, especialista emgestão térmica no CT, em Erlangen. “Estamoscom um projeto que visa a identificar e desen-volver processos para aproveitar melhor, doponto de vista econômico e ecológico, essaenergia desperdiçada. Nosso objetivo é de re-duzir tais perdas a algo entre 30 e 40%, até2020. Isso significaria uma imensa economiade custos e energia.”

Ao mesmo tempo, a indústria precisa pro-curar meios de produção que reduzam o usode outros recursos naturais. Isso não só poupa-rá dinheiro, mas também diminuirá a exposi-ção a riscos associados à escassez de matéria-prima. De acordo com uma agênciagovernamental alemã, especializada em efi-ciência de materiais, a introdução de processosmais modernos para a conservação e recupe-ração de recursos naturais economizaria cercade 100 bilhões de euros por ano, nas empresasdaquele país. É uma ótima razão para que em-presas como a Siemens desenvolvam novosmétodos para tornar mais duradouros os valio-sos recursos naturais.

Por outro lado, a indústria já possui váriosmétodos para aumentar a eficiência de seusprocessos. O que realmente conta, no entanto,é assegurar que eles sejam usados globalmen-te. Companhias com orientação internacional,

como a Siemens, que atua em 190 países,exercem um papel fundamental nesse aspec-to. “Graças à nossa experiência e à nossa redeglobal, tendo acesso a conhecimento de umaregião e podemos aplicá-lo em outros merca-dos”, explica Bettenhausen. Independente de oconhecimento ter sido adquirido na Índia, naChina, na Alemanha ou nos EUA, cientistas,como Bettenhausen, querem concentrar essasinformações e colocá-las o máximo possívelem uso.

”Estamos montando uma instalação nosEUA para investigar as melhores práticas de-senvolvidas por funcionários da Siemens nomundo todo. É o Laboratório da Vida UrbanaAcessível, no qual nossos pesquisadores cons-truirão e testarão seus protótipos sob condi-ções reais.

Não importa se o tema é automação, tecno-logia predial ou eficiência energética, o objeti-vo será sempre reunir informações, processá-las e converter os resultados em medidas quemelhorem a eficiência”, complementa Bette-nhausen.

Do Carvão ao Gás. Não apenas as empresas,governos do mundo todo começam a mostraruma atitude mais responsável em relação aoplaneta. Um exemplo é a China, maior consu-midor mundial de energia e principal emissorde dióxido de carbono. A Agência Internacio-nal de Energia (IEA) prevê que, em 2035, aChina consumirá aproximadamente 70% maisenergia que os Estados Unidos.

O país já sofre as consequências ambientaisdo seu gigantesco crescimento econômico,das últimas décadas. Segundo o World WildlifeFund for Nature (WWF), em 2008, 16 das 20cidades mais poluídas se encontravam na Chi-na. Para atender às suas necessidades do paísda forma mais sustentável possível, o governochinês resolveu desvincular o crescimento eco-nômico do consumo de recursos e promoversistematicamente fontes de energia renováveise aumento de eficiência energética (pág. 15).Nos EUA, onde o consumo de energia elétrica

Inovações tornam plantas de combustíveis fósseis mais eficientes. Esquerda: usina de ciclo combinado (Irsching, Alemanha) e a usina a carvão Waigaoqiao 3, em Xangai.

Page 15: Pictures of the Future 2012

Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012 15

deve crescer cerca de 70% entre 2009 e 2015.Em 2015, a China deverá ser responsável por42% da demanda por petróleo no mundo. Namesma linha, a IEA calcula que o consumo daChina cresceu cerca de 200%, na última déca-da, e que a demanda por água pode dobrar até2030 (veja Pictures of the Future, Outono2011, pág. 82).

Durante muito tempo, essas tendênciascustaram muito caro ao meio ambiente. Atual-mente, a China é responsável por cerca de umquarto de todas as emissões de CO2 no planetae o maior produtor mundial de gases do efeitoestufa, ficando à frente dos Estados Unidos. Deacordo com um relatório da World Wide Fundfor Nature (WWF), de 2008, 16 das 20 cidadescom a pior qualidade de ar no mundo se en-contram na China. No entanto, o país estáconsciente de seus problemas e iniciou açõespara remediá-los.

“Em 2006, o décimo primeiro plano quin-quenal da China marcou uma mudança de ati-tude do país em relação à sustentabilidade”,afirma Martin Klarer, responsável pela estraté-gia corporativa na Siemens China. “A proteçãoambiental e a eficiência são elementos impor-tantes dos planos econômicos do país.”

Campeão Mundial no Uso de Ventos. A utili-zação da energia eólica é um exemplo. “Hámenos de dez anos, quase não havia geraçãode energia eólica, aqui”, explica Klarer. “Hoje, aChina é o maior mercado desse tipo de gera-ção e abriga algumas das principais empresasdo mundo.” Esse é um mercado em crescimen-to. De acordo com o jornal Shanghai Daily, em2011 a China gerou 70 terawatts-hora (TWh) –70 bilhões de quilowatt-hora (kWh) – por meioda produção de energia eólica, um crescimen-to de 40% sobre o ano anterior.

Nas comemorações pelo ano novo chinês,em 23 de janeiro de 2012, o ambiente foi

de mais festa do que nos anos anteriores. Issoporque 2012 é o Ano do Dragão, conhecidopor trazer felicidade e sucesso. Como conse-quência, o país espera um aumento considerá-vel na taxa de natalidade. De acordo com acrença popular, crianças nascidas sob esse sig-no são abençoadas com boa fortuna.

Se as previsões das Nações Unidas se confir-marem, a população da China, atualmente de1,34 bilhão de habitantes, atingirá 1,4 bilhãoem 2025. Nesse momento, metade das pes-soas vive em cidades e, já há algum tempo, aeconomia cresce cerca de 10% ao ano . Apesardessa tendência ter tirado milhões de pessoasda pobreza, ela também desencadeou umaimensa demanda por produtos, recursos eenergia. De acordo com a Agência Internacio-nal de Energia (IEA), o consumo de petróleo

A China é considerada o milagre econômico do século. No entanto, por muito tempo, o crescimentoassombroso abalou muito o ambiente. Os tempos mudaram. Hoje, as prioridades do país incluem aumentar a eficiência, reduzir emissões e criar cidades ambientalmente sustentáveis.

Boom de SustentabilidadeFórmulas para Eficiência | China

Sol em Beijing: As coisas podem um dia ser tão belas

quanto esse dia em toda a China, graças a medidas

como a promoção de mobilidade elétrica ou de ener-

gia eólica. Hoje o país é o maior mercado de energia

eólica do mundo.

Page 16: Pictures of the Future 2012

Explorando Potencial de Economia. Até omomento, megacidades como Beijing e Xangaipodem apenas sonhar com o uso de energialimpa em quantidade. Elas ainda dependemlargamente da eletricidade gerada a carvão.Nessas localidades, reduzir as emissões de CO2

incluem iniciativas como o aumento da efi-ciência de geração, o uso mais inteligente daenergia e estratégias de redução de demanda,a princípio na indústria, mas também nas ca-sas. Em 2008, por exemplo, a população podiaadquirir lâmpadas econômicas subsidiadas porum décimo de seu valor original. No primeiroano dessa campanha, 62 milhões de unidadesforam vendidas; e desde então, o número ul-trapassou os 120 milhões. Só em Beijing, exis-tem de 15 a 20 milhões de lâmpadas dessetipo em uso graças a essa campanha. Compa-radas às lâmpadas incandescentes convencio-nais, elas economizam até um bilhão de quilo-watt-hora por ano.

Quando se trata da indústria, no entanto,as autoridades preferem a via da legislação. Osmotores elétricos industriais são os maioresconsumidores de energia na China. De acordocom a Comissão Nacional de Desenvolvimentoe Reforma do país, eles são responsáveis por60% do consumo interno. “Menos de três porcento dos motores industriais chineses têm oselo de eficiência energética com nota dois ousuperior”, afirma Du Bin, gerente de produtosda Siemens Drive Technologies, na China.

Apesar disso, a situação deve mudar. Desdejulho de 2011, os motores vendidos no paísdevem ter um selo de eficiência energéticacom nota de, pelo menos, 2. Potencialmente,isso representa uma redução massiva nos cus-tos. “Se todos os motores da China fossemmais eficientes, o consumo cairia em cerca de60 TWh por ano. As emissões de CO2 se reduzi-riam em 50 milhões de toneladas métricas”,comenta Du Bin. Em colaboração com colegasda Alemanha, a Siemens Drive Technologies

16 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

A China planeja instalar turbinas eólicascom capacidade total de 150 gigawatts (GW)até 2020. É o equivalente a quase toda capaci-dade instalada de energia renovável e conven-cional da Alemanha. Vale lembrar que no fimde 2006, a capacidade de geração de energiaeólica da China era de apenas 2,6 GW.

Em outras palavras, a energia eólica é umdos mais importantes mercados do futuro daChina. Como líder em instalação offshore, aSiemens procura capitalizar sua expansão, im-pulsionada pelo imenso potencial desse seg-mento. Com águas rasas se estendendo pormuitos quilômetros de sua costa, a China ofe-rece condições ideais para a construção de par-ques eólicos. Ciente disso, na primavera de2011, a Siemens abriu uma fábrica que produznacelas para parques eólicos, num ponto pró-ximo a uma usina já existente de pás de rotor.Localizada perto de Xangai, na costa leste, asinstalações têm capacidade anual equivalenteà geração de 500 megawatts (MW).

“Estamos fornecendo não só para a China,mas praticamente para todo o mercado asiáti-co”, afirma Victor Li, líder da produção de turbi-nas na Siemens, China. “No momento, fabrica-mos turbinas de 2,3 MW, mas vamos chegar amodelos de 3,6 MW e de 6 MW.” Os frutos dotrabalho já são visíveis na província de Jiangsu,costa leste chinesa, onde a Siemens instalouum parque eólico offshore com 21 torres euma capacidade de geração de 50 MW. “Temospedidos de outros países, incluindo a Tailân-dia”, comenta Bjarne Joergensen, líder da fá-brica de pás de rotor.

Hidrelétrica Tradicional. Enquanto o uso daenergia eólica é um fenômeno recente, as hi-drelétricas são parte integral do mix chinês há100 anos. Um século atrás, a Siemens instala-va geradores com capacidade de 480 quilo-watts (kW) na primeira fábrica hidrelétrica dopaís, localizada na província de Yunnan, su-

doeste do país. Foi o início de um boom nuncavisto anteriormente. Hoje, a China tem maisinstalações hidrelétricas do que qualquer outropaís. Com capacidade de geração de 197 GW,essas usinas contribuem com cerca de 15% doque é consumido em termos de energia pelapopulação. De acordo com o Conselho de Ele-tricidade local, cerca de 4.700 TWh foram con-sumidos em 2011, quase oito vezes a deman-da anual da Alemanha.

Apesar disso, a maior parte da energia con-sumida nas grandes cidades chinesas ainda égerada a carvão. Junto com o tráfego crescen-te de veículos, essa é uma das causas da polui-ção do ar, um problema sério para o país. “Odesafio é que a maior parte das hidrelétricas selocaliza nas províncias a sudoeste do país, acentenas de quilômetros dos grandes centros”,salienta Klarer. A solução é usar linhas detransmissão de corrente contínua em alta ten-são. Essas linhas, de baixa perda, podem trans-mitir grandes quantidades de eletricidade porcentenas ou milhares de quilômetros.

Uma linha desse tipo, construída pela Sie-mens e pela fornecedora de energia ChinaSouthern Power Grid (CSG), opera desde 2010.Ela fornece energia para as cidades de Guangz-hou e Shenzhen na província de Guangdong, apartir de 5.000 MW de energia limpa geradospelas usinas hidrelétricas em Yunnan, que ficahá 1.400 quilômetros de distância. Comparadaàs emissões das usinas a carvão, a região pro-duz 30 milhões de toneladas métricas menosde CO2 por ano graças à nova linha (veja Pictu-res of the Future, Outono 2009, pág. 24).

Várias linhas adicionais do mesmo modeloestão sendo criadas, delas 14 ficarão prontasem 2015. Duas estão a cargo da Siemens, daCSG e de outros parceiros chineses. Compostaspor transformadores, conversores e outroscomponentes-chave feitos pela Siemens, asduas linhas transmitirão 11.400 MW de ener-gia limpa a Guangdong, a partir de 2013.

A central a ciclo combinado de Huaneng (esquerda) e a usina a carvão Waigaoqiao estão definindo novos padrões de eficiência.

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na China desenvolveu um motor elétrico maiseficiente para o mercado chinês, onde já estásendo fabricado. “Ele foi desenhado para serpouco custoso, robusto, e fácil de operar. Es-tando em conformidade com os padrões daComissão Eletrotécnica Internacional (IEC), cer-tamente poderá ser vendido no mundo intei-ro”, complementa Du Bin.

Também há um alto potencial para incre-mentar a eficiência nas usinas a carvão dopaís, que são responsáveis por quase quatroquintos das necessidades internas. PeguemosXangai, por exemplo. Com população de 23milhões de pessoas, seu consumo chega a 20GW e aumenta em 1 GW a cada ano. Para ofe-

recer uma resposta sustentável para essa enor-me demanda, as autoridades da cidade coloca-ram foco nas novas tecnologias. Os projetosincluem a terceira maior usina elétrica do país,Waigaoqiao, que funciona a carvão. Com turbi-nas e geradores Siemens, ela consegue umaeficiência líquida de 46%, uma das mais altasdo mundo em instalações desse tipo. Autoriza-da em 2008, a usina consome, por ano,700.000 toneladas métricas a menos do queas similares no país. Suas emissões de CO2 che-gam a 1,8 milhão de toneladas métricas a me-nos do que as demais.

A central de ciclo combinado mais eficienteda China, também baseada em turbinas e ge-radores Siemens, se localiza nas proximidades.Operada pela Huaneng Shanghai CombinedCycle Power, ela tem uma capacidade de 1.200MW e eficiência energética de 58%. Autorizadaem 2006, seu papel é o de cobrir os altos picos

A corrente contínua em alta tensão permite utilizar a energia de hidrelétricas para reduzir a poluição do ar nas megacidades. Acima: suportes para tiristores.

Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012 17

de demanda que podem abalar a rede deShanghai, particularmente nos dias mais quen-tes e nos mais frios. “Comparada a uma usina acarvão, a vantagem de uma central de ciclocombinado é sua flexibilidade”, comenta o ge-rente-geral da usina Xie Deyu. “A instalaçãocompreende três blocos, cada um com gera-ção média de 400 MW. Podemos aumentar ediminuir isso para cobrir os picos de demandaquase que imediatamente. Só no ano passado,tivemos de lidar com 310 incidentes dessetipo. Se não tivéssemos as usinas de cicloscombinados, provavelmente precisaríamosoperar mais usinas a carvão como backup, oque significaria emissões muito mais altas.”

Outra opção para lidar comflutuações no fornecimento ena demanda é explorar bateriasde carros elétricos como ummeio intermediário de armaze-namento, especialmente quan-do cidades como Shanghai co-meçam a fazer uso de fontes

variadas de energia, como a eólica. Em temposde picos ou baixas no volume de vento, essefornecimento de backup pode ser reintroduzi-do para estabilizar a rede. Um sistema dessetipo requer uma frota de elétricos muito maiorque a atualmente disponível. Entretanto, asautoridades planejam colocar pelo menos ummilhão de unidades em circulação até 2015.Para atingir essa meta audaciosa, o trabalhopara fornecer a infraestrutura necessária já co-meçou. No fim de 2011, por exemplo, a Sie-mens instalou 140 estações de carregamentopara carros elétricos em Shanghai.

Cidade Sustentável. “A China caminhou bas-tante em termos de melhoria de eficiência”,afirma Klarer, que é especialista em estratégia,“mas ainda enfrenta desafios, especialmenteem áreas metropolitanas, onde a populaçãodeve crescer em 350 milhões de indivíduos

nos próximos 15 a 20 anos.” Previsões indicamque, em 2025, haverá 220 cidades com maisde um milhão de habitantes. Muitas dessasáreas urbanas crescerão do nada. “Para assegu-rar o maior nível de sustentabilidade possível,elas vão demandar conceitos integrados emvez das soluções isoladas implementadas nopassado”, acrescenta. Um conceito desse tipoestá sendo realizado nos arredores de Tianjin,porto próximo a Beijing. A Eco-Cidade de Tian-jin oferecerá casa e trabalho para cerca de350.000 pessoas, a partir de 2020. Essa cidadetambém deverá ser a resposta a uma das maiscomplexas questões do momento: como sepode construir uma cidade sustentável basea-da em um modelo reprodutível, em condiçõesrealistas.

Um projeto desse tipo parece viável. Quase20% da eletricidade de Tianjin deve vir de fon-tes renováveis. O consumo de água deve serreduzido à metade e 90% do tráfego será ba-seado em formas verdes de mobilidade, comobicicletas, transporte público e carros elétricos.Os edifícios terão sistemas inteligentes de ge-renciamento e bom isolamento.”

Ao mesmo tempo, a nova eco-cidade servi-rá como um centro experimental. Será possívelfazer ajustes contínuos para melhorar a efi-ciência em geral. Para avançar na questão daurbanização verde, a empresa de projeto Sino-Singapore, uma joint-venture entre os gover-nos da China e de Cingapura, pretende estabe-lecer uma parceria com a Siemens. O objetivoé aproveitar uma gama mais ampla de tecnolo-gias, desenvolver e demonstrar soluções orien-tadas ao futuro e criar um modelo que faça deTianjin um padrão de cidade sustentável e rea-plicável no resto do país. Por último, e não me-nos importante, um projeto como o de Tianjinsublinha o comprometimento da China com aeficiência – conquista muito preciosa para serdeixada aos caprichos do zodíaco.

Sebastian Webel

Ao distribuir 120 milhões de lâmpadasfluorescentes, o país reduziu significa-tivamente a conta de energia.

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18 Reeditado (com atualizações) da Pictures of the Future | Primavera 2011

O Prof. Li Junfeng (55) preside oComitê Acadêmico do Instituto dePesquisa em Energia e atualmentetambém é seu diretor-adjunto. Tra-balha com foco em energias reno-váveis e questões ligadas a mudan-ças climáticas como o Mecanismode Desenvolvimento Limpo (MDL)e o mercado de carbono. Liderou oprimeiro projeto de MDL na Chinae é representante, na Ásia oriental,da Parceria para Energias Renová-veis e Eficiência Energética.

Qual é o papel das energias renováveis,na China?Li Junfeng: A China investe muito em ener-gias limpas. Atualmente, temos mais de 200gigawatts de capacidade instalada em hidrelé-trica, mais de 30 gigawatts em parques eóli-cos, e outros projetos em vista. Creio que, porvolta de 2050, a participação da energia limpana China será muito maior do que o previsto. Du Xiangwan: Em 2050, as energias renová-veis, incluindo formas exóticas como energiamarinha e geotérmica, podem chegar a 25%da produção total de energia, na China. Sehouver ampliação dessas formas renováveisem vez da construção de novas usinas a car-vão, podemos contar ainda com uma reduçãode cerca de quatro bilhões de toneladas deemissões de CO2.Shi Zhengrong: Pode me chamar de sonha-dor, mas acredito que, um dia, a China atende-rá toda a sua demanda de energia por meio defontes renováveis. É uma questão de determi-nação. Se você estiver decidido a fazer algo, écapaz de consegui-lo, especialmente na China.

Por outro lado, nesse momento, grandeparte da nova capacidade de produção deeletricidade na China vem de usinas acarvão…Shi Zhengrong: A China ainda é um país emdesenvolvimento. Precisamos de um cresci-mento econômico forte e temos que produzirenergia de forma econômica para permitir ocrescimento. No entanto, o governo percebeuma maior necessidade de proteção ambien-tal. Há regulamentações em relação às emis-sões e grande parte da alta tecnologia estásendo dirigida às novas instalações. As usinasmovidas a carvão ficarão mais limpas, mas pre-cisamos de tempo.Du Xiangwan: O carvão não desaparecerá danoite para o dia. Ele ainda é parte importantedo nosso mix de energia, representando maisde três quartos da nossa produção total. Novasusinas serão construídas no país. Ou seja,100% de energia renovável é um objetivo nãorealista. Mas, com a energia nuclear e o gásnatural, com o tempo, as fontes renováveisnos ajudarão a reduzir as emissões de CO2.

Fórmulas para Eficiência | Entrevistas

Ativando o Sonho Chinês

Li Junfeng: Concordo. Principalmente o gásnatural desempenhará um papel importante.É uma fonte de energia mais limpa do que ocarvão, mas ainda representa uma parte pe-quena do nosso mix, se comparado à Europa eaos Estados Unidos. Temos que nos atualizarnessa área, e vamos fazê-lo. Tenho certeza deque, em longo prazo, o carvão será cada vezmenos importante para nós.

Na questão das metas estabelecidas paraa redução de emissões de CO2, qual deve-ria ser o foco: emissões per capita ou porpaís?Li Junfeng: Na minha opinião, as metas deve-riam ser a calculação per capita. Qualquer ou-tro método seria injusto. Tome o exemplo daChina e da União Europeia (UE). A China temcerca de 30 províncias. A UE conta com 27 paí-ses, mas com apenas 40% da população totalda China. Por que deveríamos contar a Chinacomo um país, mas não a UE?Du Xiangwan: Acho que a medida mais justaé a per capita, uma vez que cada indivíduo de-

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Reeditado (com atualizações) da Pictures of the Future | Primavera 2011 19

O Prof. Du Xiangwan (73) éex-vice-presidente da AcademiaChinesa de Engenharia, conse-lheiro científico sênior da Aca-demia Chinesa de EngenhariaFísica e membro de comitê per-manente da Associação Chinesade Ciência e Tecnologia. É dire-tor-adjunto do Comitê Nacionaldo Conselho sobre Energia e li-dera estudos sobre a estratégiade desenvolvimento energéticono país.

O Dr. Shi Zhengrong (48) é pre-sidente do conselho de adminis-tração e presidente-executivo daSuntech, a maior produtora de pai-néis fotovoltaicos (PV) do mundo.Ele é considerado um dos homensmais ricos da China. Antes de fun-dar a Suntech, em 2001, foi dire-tor de pesquisa e diretor-executivoda Pacific Solar, um fabricante aus-traliano que comercializa a maismoderna tecnologia de superfíciespara células solares.

O ritmo do crescimento econômico da China está tirando milhões de pessoas da pobreza. Porém, eletraz problemas. A eficiência energética ainda é baixa e a demanda aumenta rapidamente. Pictures ofthe Future falou com três especialistas sobre o futuro do fornecimento de energia na China.

veria ter o mesmo direito de usar energia. AChina tem uma imensa população. Consideraroutras configurações distorceria o quadro.Shi Zhengrong: Essa é uma questão política.O objetivo da Suntech como empresa privada,além de ser rentável, é contribuir positivamen-te no aumento da sustentabilidade na produ-ção de energia. Até hoje, a Suntech forneceuentregou uma capacidade fotovoltaica total de2,5 gigawatts. É o equivalente a cinco usinasmédias de carvão. Só em 2010, entregamospainéis com capacidade de 1,5 gigawatts. Enossa produção está crescendo, contribuindopara evitar emissões de CO2 no mundo inteiro.

A China pode ser o maior produtor de pai-néis fotovoltaicos do mundo, mas apenasuma pequena parte é usada localmente.O que é preciso para fazer com que a Chi-na também comece a utilizá-los?Shi Zhengrong: O governo precisa oferecersubsídios para que fabricantes e investidoresobtenham um lucro razoável. Essa medida tra-ria um benefício adicional. O uso dessa tecno-

logia torna o processo mais barato com econo-mia de escala e com o estímulo ao ganho deeficiência pela inovação. Para atingir a parida-de de rede na China, devemos baixar os custospara algo em torno de 10 centavos de europor kWh. Esse é um objetivo ambicioso, quepode ser alcançado. Precisamos ser ambicio-sos. No passado, ouvíamos falar do sonhoamericano. Agora há muitos sonhos chineses.

Que papel desempenham as redes deenergia no contexto do aumento da par-ticipação da energia renovável na China?

Li Junfeng: O aumento da capacidade deenergia solar e eólica intensificará as flutua-ções no fornecimento de energia à rede. Ospadrões de produção sofrerão uma mudançaimportante. Esse cenário requer uma redemais estável e mais inteligente. Atualmente, aChina investe nessa área. Além disso, usinasde energia solar, eólica e hídrica tendem a serconstruídas em áreas remotas, longe dos cen-tros de consumo, que se encontram, sobretu-

do, na costa leste e em certas regiões do sul.Isso exige linhas de transmissão de correntecontínua em alta tensão, como as que forne-cemos, em 2010, ligando Yunnan e Guangz-hou, com tecnologia Siemens.

Um fator para tornar a energia renovávelmais interessante é a inovação. Os senho-res acreditam que, nesse âmbito, a Euro-pa e os Estados Unidos estejam à frente?Du Xiangwan: A inovação é crucial tanto paraos EUA como para a China. No entanto, admi-to que não temos sido muito eficazes nessaárea. O que não significa que devamos imitaro modelo do Vale do Silício. Os problemas daChina têm sua dimensão própria e vamos re-solvê-los da nossa forma. Se observarmos apesquisa energética, fica claro que a Chinatem uma crescente vantagem. Estão sendoconstruídas mais usinas novas em nosso terri-tório do que em qualquer outro lugar. Quemquiser estudar novas tecnologias de energiatêm uma boa razão para vir para a China.

Entrevista feita por Andreas Kleinschmidt.

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20 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

Em média, mais de 50% da energia de combustíveis

primários como carvão, petróleo e gás são perdidos

em forma de calor durante os processos de conversão

em formas úteis de energia. Em outras palavras, exis-

tem enormes possibilidades de aumento da eficiência,

em especial nos setores de geração de eletricidade, pro-

dução industrial e construção. De acordo com um estu-

do realizado, em 2011, pela BCC Research, o volume

mundial do mercado de tecnologias de eficiência ener-

gética irá aumentar de US$ 200 bilhões, em 2010, para

US$ 312 bilhões, em 2015.

Recentemente, a Agência Federal do Meio-Ambien-

te da Alemanha informou que, as usinas a carvão mais

modernas apresentam taxas de eficiência de no máxi-

mo 46%. No entanto, a média de eficiência das usinas a

carvão europeias é de apenas 36%, enquanto a média

mundial é de 33%. O aumento da eficiência de apenas

um ponto percentual reduziria as emissões de CO2 em

até 3%. A construção de uma única usina de 500 mega-

watts com eficiência de 45%, em vez de 36%, reduziria

as emissões anuais de dióxido de carbono em 380 mil

toneladas. A Associação Mundial do Carvão informou

que, caso as usinas a carvão com mais de 25 anos e ca-

pacidade inferior a 300 megawatts fossem substituídas

por usinas maiores e mais modernas com eficiência aci-

ma de 40%, as emissões de geradas pelas termelétricas

seriam cerca de 25% menores. Os especialistas acredi-

tam ainda que, o uso de inovações tecnológicas pode-

ria aumentar a eficiência dessas usinas para acima de

50%, até 2020 (veja Pictures of the Future, Primavera

2008, pág. 32).

As possibilidades de aumento da eficiência são ain-

da maiores no caso das usinas de ciclo combinado (tur-

bina a gás e a vapor). A eficiência média mundial das

usinas elétricas de ciclo combinado é de aproximada-

mente 40%. Porém, com a tecnologia da Siemens, a

usina mais eficiente desse tipo conseguiu converter

60,75% da energia do gás natural em eletricidade, em

maio de 2011, uma nova marca mundial. Ou seja, esse

tipo de usina moderna de ciclo combinado reduz o con-

sumo de gás e as emissões de CO2 em um terço. Os es-

pecialistas alegam ainda que o uso de tecnologias apri-

moradas, por exemplo, na forma de novos materiais,

poderia aumentar os níveis de eficiência para mais de

63%, até 2020.

A eficiência energética vem se tornando cada vez

mais importante também nas atividades industriais. De

acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE),

os cinco setores que mais consomem energia (ferro e

aço, cimento, produtos químicos e petroquímicos, pa-

pel e celulose e alumínio) respondem, atualmente, por

77% das emissões diretas de dióxido de carbono, isto é,

cerca de 8,5 bilhões de toneladas ao ano. Também

aqui, melhorias de eficiência poderiam realizar muita

coisa. Um estudo denominado “Cenário Azul”, da Agên-

cia Internacional de Energia, propõe uma redução de

24% nas emissões até 2050, em comparação com os ní-

veis de 2007. Análises de 2011 da Agência Internacio-

nal de Energia e da Organização para a Cooperação e o

Desenvolvimento Econômico (OCDE) sugerem metas

de redução de emissões aos setores acima menciona-

dos, no contexto do Cenário Azul. Por exemplo, espe-

Fórmulas para Eficiência | Fatos e Prognósticos

O Mercado Crescente das Tecnologias de Eficiência Energética

cialistas do mercado calculam que, o setor mundial do

ferro e do aço poderia reduzir as emissões em mais de

1,5 bilhões de toneladas até 2050, entre outros, otimi-

zando os processos de fundição. As análises correspon-

dem a uma redução de cerca de 1,3 bilhão de toneladas

no setor químico e petroquímico, 0,85 bilhão de tonela-

da no setor de cimento e 0,26 bilhão de tonelada no se-

tor de papel e celulose. A principal economia no setor

químico e petroquímico (cerca de 0,74 bilhão de tone-

ladas) seria obtida com aprimoramentos na eficiência

energética.

Segundo um estudo da consultoria Roland Berger,

de 2011, os elevados custos de eletricidade são um dos

principais desafios dos setores de uso intensivo de ele-

tricidade, na Alemanha, na esteira da extinção da ener-

gia nuclear no país. Estes setores ainda enfrentarão a

alta nos preços dos combustíveis, enquanto a Alema-

nha já está fazendo a transição para o uso de fontes re-

nováveis. Isso tornará necessário atualizar e ampliar as

redes energéticas e os sistemas de armazenamento de

energia. As iniciativas de aprimoramento da eficiência

têm cada vez mais importância, devido à elevação nos

custos de eletricidade. Estas iniciativas incluem moto-

res elétricos mais eficientes e a otimização do maquiná-

rio e dos sistemas de controle dos processos.

A construção civil é outra área que apresenta possi-

bilidades de aperfeiçoamento da eficiência. Segundo

estimativas da Siemens, se todos os edifício comerciais,

hospitais, escolas e universidades do mundo economi-

zassem 30% de energia, as emissões globais de CO2 se-

riam reduzidas em cerca de 500 milhões de toneladas

À Medida que as Usinas de Ciclo Combinado são Agregadas, a Eficiênciada Geração de Eletricidade Aumenta

20

25

30

35

40

45

Fon

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data

(20

09)

Média de eficiência das usinas elétricas a combustíveis fósseisem %

Participação da energia gerada pelas usinas elétricas de ciclo combinado

10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

ÁfricaMundo

Índia

OCDE Ásia

América Latina

América do Norte

Europa

Oriente Médio

Projeção de Eficiência Energéticaem Setores-Chave

Fon

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2011

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2010 2015

Volume do mercado mundial em bilhões de US$

Page 21: Pictures of the Future 2012

Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012 21

ao ano. Esta cifra corresponde à totalidade das atuais

emissões de dióxido de carbono, no Reino Unido. Por

exemplo, é possível obter entre 10% e 30% de econo-

mia de energia com sistemas aprimorados de aqueci-

mento, ar condicionado e iluminação, com retorno do

investimento num período de seis meses a três anos.

Um estudo da Siemens para avaliar formas de aumen-

tar a eficiência energética, em Londres, concluiu que a

otimização de sistemas de construção poderia reduzir

as emissões em cerca de 1,9 kg por euro investido, ou

seja, uma poupança cinco vezes maior que as iniciati-

vas de isolamento térmico externo.

A iluminação é responsável por por 19% do consu-

mo mundial de eletricidade. Tecnologias mais eficien-

tes de iluminação poderiam reduzir o consumo em cer-

ca de um terço, com a mesma capacidade. Os sistemas

de iluminação respondem por 1,3 bilhão de tonelada

ao ano de emissões no mundo, ou seja, a redução no

consumo de eletricidade pela implementação de siste-

mas mais eficientes reduziria as emissões em 450 mi-

lhões de toneladas.

Segundo um estudo realizado, em 2011, pela con-

sultoria de mercado Pike Research, o volume mundial do

mercado de tecnologias de construção com eficiência

energética aumentará de US$ 68 bilhões para US$

103.5 bilhões, em 2017. Essas tecnologias incluem sis-

temas de aquecimento, ventilação e ar condicionado

eficientes, novos conceitos de iluminação e contratos de

desempenho em economia de energia, nos quais os

clientes podem financiar medidas de economia de ener-

gia em prestações, sob a garantia de redução do consu-

mo e dos custos de manutenção.

A regulamentação oficial ajudará a promover essas

iniciativas de melhoria da eficiência nas edificações. Por

exemplo, a Comissão Europeia adotou uma diretriz em

relação à eficiência energética em edifícios, exigindo

que as novas edificações sejam certificadas como “prati-

camente neutras em termos energéticos”, até o final de

2020, e o restante da demanda de energia deverá ser

atendido por meio de fontes renováveis.

Uma análise da McKinsey, em 2011, concluiu que

várias tecnologias de construção eficientes, como as

bombas de calor geotérmicas, as janelas com vidros du-

plos e triplos e os sistemas de iluminação eficientes já se

encontram disponíveis. Outras possibilidades ainda po-

derão ser exploradas com sensores que detectam a ne-

cessidade de aquecimento ou ar condicionado, a cada

momento e em cada local. Outras novas tecnologias,

como janelas ativas que bloqueiam a luz externa em

caso de aumento da temperatura, com retorno financei-

ro em três anos, já estão sendo desenvolvidas, devendo

entrar no mercado, até o final da década.

A boa notícia é que a China, a Rússia e os Estados

Unidos apresentaram avanços iniciais significativos na

melhoria da eficiência energética. Por exemplo, a China

reduziu as emissões de CO2 de 1,2 kg para 0,5 kg por

unidade de produto interno bruto, entre 1990 e 2009.

Isso ocorreu por causa do aumento da taxa de eficiên-

cia de usinas a carvão em vários pontos percentuais,

bem como com o aprimoramento de processos produti-

vos da indústria. Por exemplo, o consumo de energia

por tonelada de aço produzido na China caiu 5%, entre

2005 e 2009, enquanto o consumo no setor de cimen-

to caiu 17% por tonelada de cimento produzido.

Sylvia Trage

Potenciais Ganhos de Eficiência em Setores de Alto Gasto de Energia

Os custos dos investimentosconsistem, sobretudo, em

custos adicionais pela aqui-sição de máquinas mais efi-

cientes e medidas paraaumentar a eficiência dos

processos industriais.

Demanda de energia:setores industriais naAlemanha, em 2010(em petajoules – PJ)

136

76

63

25

Custos de energia: se-tores industriais chave(Alemanha, em 2010,em bilhões de euros)

2,6

1,5

1,2

0,5

Participação do custototal de energia no PIB

em percentual

3,0

5,75,5

Químicos básicos

Papel e papelão

Metalurgia

Solo e pedras

Total:~23 bilhões

de euros

Total:~102 bilhões

de euros

Custos dos investimen-tos em medidas de

eficiência energética(em bilhões de euros)

~10~7

~5

~1

Economia acumuladade agora até 2050

(em bilhões de euros)

~42

~34

~20

~6

6,0

Fon

te: C

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de (

2011

)

1970–1990 1990–2010 2010–2030

Cada Vez menos Energia ÉConsumida por Unidade deCrescimento do PIB

Taxas de crescimento mundial em %

Produto Interno Bruto(PIB)

População

Consumo de energia

Consumo de energiaper capita

Consumo de energiapor unidade do PIB

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3

4

Fon

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Page 22: Pictures of the Future 2012

22 Pictures of the Future | Especial Rio+20

A nova política energética da Alemanha inclui muito mais do que abandonar a energia nuclear até2022. A expansão das fontes energéticas renováveis, como a eólica e a solar (80% do mix energético até2050) e a redução dos gases de efeito estufa (em 80% até 2050), planejadas pelo governo alemão exigi-rão muitas medidas que devem se encaixar umas nas outras como as peças de um quebra-cabeça.

Fórmulas para Eficiência | A Nova Política Energética da Alemanha

Um Quebra-Cabeça Complexo

mazenado em cavernas subterrâneas, recon-vertido em eletricidade e usado em veículos acélulas de combustível. Baterias de edifícios ede carros elétricos podem ser usadas como sis-temas intermediários de armazenagem. A Sie-mens vem realizando pesquisas nessas áreas.

4Uso de usinas elétricas a gás de altaeficiência e instalação rápida

Quando o vento diminui ou quando as nuvenscobrem o sol, as flutuações na geração deenergia devem ser rapidamente compensadas.Aqui as usinas de gás de rápido acionamentosão muito importantes. Combinadas com tur-binas de vapor, elas são bastante eficientes.Em cooperação com a E.ON, gigante do setorde energia na Alemanha, a Siemens construiua usina mais eficiente do mundo, em Irsching,na Bavária. Ela converte gás natural em eletri-cidade com uma eficiência de 60,75% e con-some 30% menos combustível por KW/h doque a média das usinas mundiais. Esta usina,que se caracteriza por uma grande reduçãodas emissões de gases de efeito estufa, atingea máxima capacidade após o arranque em me-nos de 30 minutos, gerando 578 MW de eletri-cidade,o suficiente para atender às demandasenergéticas da uma cidade do porte de Berlim.

5Tornar as usinas elétricas a carvãomais eficientes

Por anos ainda, carvão continuará sendo umpilar fundamental da geração mundial deenergia. As reservas mundiais de carvão sãograndes e, consequentemente, a geração deenergia é relativamente econômica. O grandedesafio consiste em tornar essa fonte de ener-gia mais limpa e eficiente. As usinas a carvãoda Siemens apresentam eficiência de 46%,prevendo-se eficiência de 50% no futuro. Amédia mundial atual é de cerca de 31%. Usi-nas com 50% de eficiência geram mais de umterço menos de CO2 do que a média das usi-nas no mundo. Converter as usinas a carvão aessa mesma eficiência reduziria as emissõesde carbono em 3,7 bilhões de toneladas, porano, que é quase a mesma quantidade de CO2 emitida anualmente em toda a União Europeia.

1Tornar energia renovável competitivaPara que quase a metade da energia utili-

zada na Alemanha provenha de fontes renová-veis, até 2030 (cerca de 80% até 2050), elasprecisam ficar competitivas independente-mente de subsídios. É possível atingir a metacom energia eólica. Conta-se que as inovaçõesdesenvolvidas pela Siemens Wind Power, tor-nem a energia eólica tão econômica quanto agerada com carvão. Estas inovações incluempás de rotor em forma de cimitarra, turbinassem engrenagens, software adaptáveis queajustem e otimizem a pressão do vento nos ro-tores, a automação do processo de produção eturbinas eólicas de dez MW em alto mar.

2A construção de supervias de energiade baixo nível de desperdício

Fontes renováveis são melhor aproveitadasonde são fartas: eólica em alto mar e solar emregiões quentes. Com supervias de energia,como linhas de transmissão de corrente contí-nua de alta tensão (CCAT), pode-se levar ener-gia aos consumidores sem muitas perdas. Umsistema de CCAT da Siemens vem demons-trando na China, que é possível transportar 5 mil MW de eletricidade por 1.400 km comuma perda de só 5%. Em caso de uso de linhasde transmissão convencionais de corrente al-ternada, a perda seria duas a três vezes maior.

3Desenvolvimento e expansão dos sis-temas de armazenamento de energia

Outro desafio é que a geração de energia apartir de fontes eólicas e solares varia com ascondições do clima. Assim, são indispensáveissistemas que armazenem a energia excedentedurante horas, dias e até semanas. Seria difícilexpandir as usinas de armazenamento porbombeamento, na Alemanha . É possível utili-zar a eletricidade excedente em usinas eletrolí-ticas para gerar hidrogênio ecológico, quepode ser inserido na rede de gás natural, ar-

Page 23: Pictures of the Future 2012

Pictures of the Future | Especial Rio+20 23

8Economia e uso maiseficiente de eletricidade

A energia mais limpa é a não consumida. Ain-da há muitas possibilidades de economia, en-tre outros, na área industrial. Atualmente, osmotores elétricos consomem cerca de dois ter-ços da energia utilizada em aplicações indus-triais como transmissões e bombas. Os moto-res eficientes e os inteligentes comandos daSiemens consomem até 60% menos do que ossimilares convencionais. Consequentemente,os investimentos na área se amortecem emmenos de dois anos. Com o isolamento, bom-bas de calor, tecnologias de construção inteli-gentes e sistemas eficientes de iluminação, épossível obter fortes economias de energianos edifícios, que perfazem 40% do consumomundial. Os eletrodomésticos também têmenormes possibilidades de economia. Compa-rados com os aparelhos da década de 1990,os atuais utilizam menos da metade da eletri-cidade.

9Equilibrar a oferta e a demandaGeralmente, não importa se um armazém

refrigerado ou um sistema de ar condicionadoé desligado rapidamente, ou um elevadorpode se mover mais lentamente que o nor-mal. Essas são duas das diversas possibilidadesde redução do consumo de energia em casode baixa oferta e de preços altos. Essa aborda-gem, conhecida como gestão de demanda,ameniza a sobrecarga das redes energéticas.Atualmente, pesquisadores da Siemens traba-lham na criação de sistemas de automação deconstrução, que adequam rapidamente o con-sumo de energia às flutuações de preços, aju-dando a nivelar os picos de demanda.

10Fornecimento de soluçõesinteligentes de financiamento

Sobretudo municípios e cidades buscam solu-ções inteligentes de financiamento que lhespermitam reduzir o consumo de energia, ape-sar das restrições orçamentárias. No tocante àmodernização da infraestrutura de constru-ção, uma abordagem comprovada é o contra-to de desempenho energético da Siemens –uma combinação de serviços de consultoria,instalação e financiamento. Os clientes nãoprecisam fazer investimentos iniciais: os cus-tos do projeto são amortizados com a poupan-ça na energia. Com este modelo, a Siemensmodernizou mais de 4.500 unidades no mun-do todo –gerando economias de um bilhão deeuros e reduzindo as emissões de CO2 em cer-ca de 9,7 milhões de toneladas, ou seja, maisdo que a quantidade emitida a cada ano poruma cidade do porte de Munique.

Sebastian Webel

6Separação e uso do CO2 dos resíduosgasosos das usinas elétricas

Tecnicamente, é viável separar o CO2 dos resí-duos gasosos gerados nas usinas elétricas.Apesar de ser possível armazenar o CO2 captu-rado neste processo no subsolo, essa técnicamuitas vezes enfrenta a resistência dos mora-dores locais. Utilizar os gases capturados parafins industriais é uma solução melhor. Na Sie-mens, nossos pesquisadores estão trabalhan-do, por exemplo, com algas que convertemCO2 em biomassa, ou seja, em materiais ne-cessários à produção de biocombustíveis ebioplástico, além da geração de metano (umcomponente do gás natural) e de metanol apartir do CO2 e do hidrogênio.

7Tornar a rede de energia mais ágilHá quinze anos, havia apenas algumas

centenas de produtores de energia fornecen-do eletricidade à rede da Alemanha. Futura-mente, haverá milhões de produtores gerandoeletricidade em plantas solares, eólicas e debiomassa a partir de unidades pequenas decogeração, no subsolo. Os atuais consumido-res de energia estarão se transformando, cadavez mais, em “prossumidores”, ou seja, produ-tores e consumidores de eletricidade. Estefato, combinado com o maior uso de fontesrenováveis de energia causadoras de fortesflutuações nos preços da eletricidade, torna-rão as redes inteligentes indispensáveis. Comparcerias na Alemanha, a Siemens já está de-monstrando como essas redes funcionarão.Os produtores locais de Wildpoldsried, em All-gäu, geram duas vezes mais eletricidade comsistemas fotovoltaicos, de biomassa e eólicos,ao mesmo tempo em que a consomem. Tam-bém estão sendo utilizados carros elétricos. Asredes inteligentes asseguram a estabilidade dosistema, equilibrando produção e consumo.

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Hoje, há quase 200 gigawatts de energia eólica instaladas no mundo todo, suficientes para abastecer 35 milhões de famílias médias, nos EUA. Na Alemanha, um de cada dez KW/h é gerado pelo vento. Fre-quentemente, o preço dessa energia é mais alto do que a eletricidade gerada por usinas a carvão. Enge-nheiros da Siemens estão desenvolvendo tecnologias que poderiam mudar radicalmente essa realidade.

Graças aos fortes ventos, o parque eólico do oeste da

Nova Zelândia (West Wind Farm) produz eletricidade

pelo mesmo preço que as usinas a carvão. Todavia,

engenheiros como Per Egedal (direita) trabalham nas

inovações para tornar isso possível no mundo todo.

Preços Baixos no Ar

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riças sem pontos de solda, tornando-as muitorobustas, sem pontos fracos, onde poderiamse romper. Sensores instalados no rotor e nanacela monitoram permanentemente os parâ-metros de funcionamento e acionam um alar-me, caso detectem alterações suspeitas. Assimcomo todas as instalações da Siemens, as tur-binas eólicas da West Wind Farm são criadaspara operarem 20 anos. Por isso, precisam su-portar centenas de milhões de rotações.

Atualmente, energia eólica é uma das fon-tes de energia renovável mais promissoras.Turbinas eólicas já fornecem 10% da eletricida-de gerada na Alemanha. Na Dinamarca, ondea energia eólica nasceu, ela é responsável porquase 25% da eletricidade produzida e a China

é o maior mercado para tais instalações. Hoje,a produção mundial é de quase 200 gigawatts,capacidade que dobra a cada três anos. A Co-missão Europeia estima que, até 2030, no lito-ral europeu, possam estar instalados até 135gigawatts. Isso corresponde a quase toda aprodução das usinas energéticas na Alemanhaque, hoje, é de 170 gigawatts. Ela também crêque, até 2050, a cota de energia eólica na Eu-ropa possa ser multiplicada 10 vezes, aumen-tando de 5% a 50% de toda a produção ener-gética. A Associação Eólica Europeia (EWEA)estima que, até 2020, o investimento anualem energia eólica na UE dobre para 26 bilhõesde euros. Isso não significa que surgirão par-ques eólicos em todo lugar, porém grande par-

H á algo especial nas 62 turbinas eólicas,cujos rotores giram sem parar na West

Wind Farm, 15 quilômetros a oeste de Welling-ton, a capital neozelandesa. Elas são de Brande(Dinamarca), a quase 20.000 km de distância.Cada uma produz 2,3 MW, somando 140 MW,suficientes para abastecer até 70.000 lares.Além disso, a West Wind Farm gera energia aomesmo preço que uma usina de carvão.

Uma razão para o competitivo preço dessaenergia é o forte e constante vento da região.Outro motivo é que as turbinas são unidadesaltamente tecnológicas da Siemens, cujo de-senvolvimento requer alto grau de especializa-ção e de engenharia. Tudo começa com as pásde fibra de vidro, fabricadas como peças intei-

Fórmulas para Eficiência | Energia Eólica

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Dependendo do grau de alteração, temporaria-mente a produção poderá ser reduzida pormeio do software. “Para a operadora é mais im-portante uma turbina eólica fornecer eletrici-dade pelo mais longo período possível do quegerar sempre o máximo de energia, mesmo ascondições estando adversas”, diz Egedal.

Uma perfeita calibração das pás do rotor re-duz a pressão na torre, o que faz com que ascamadas de aço das paredes da torre possamser mais finas, diminuindo a quantidade dematerial e baixando os cus-tos”, diz Egedal. Essas econo-mias são consideráveis, poishoje, algumas turbinas eóli-cas alcançam 100 metros dealtura.

Egedal também desen-volveu um programa de mo-nitoramento que identifica precocemente da-nos nas pás do rotor, por meio de sensores quemedem a frequência da vibração no interior danacela. Os padrões de frequência fornecem in-formação sobre a condição das pás. Quando édetectada uma mudança no padrão de fre-quência, o software faz acionar um alarme. En-tão, os técnicos decidem, se reparos são neces-sários e, nesse caso, o que precisa ser ajustadoantes que outros componentes sejam compro-

ção”. No futuro, não se usará mais redes de fi-bra de vidro, mas filamentos para moldar aspás do rotor. Isso faz sentido, pois trançar essasredes, produzidas por empresas na Europa, nosEUA e na China, é muito dispendioso. A Sie-mens construiu um protótipo de 45 metros decomprimento usando a técnica de filamentos.Está planejado introduzir gradualmente essatecnologia, a partir do final de 2012. Em 2014,pretende-se iniciar a produção em escala. “Es-sas e outras medidas de otimização de proces-

sos contribuirão na redução à metade dos cus-tos de produção de pás de rotor”, diz Stiesdal.

Menos é Mais. Outra inovação desenvolvidaem Brande, é a turbina eólica sem engrena-gem. As unidades eólicas convencionais dis-põem de uma caixa de engrenagem e de umgerador que gira com rapidez. Ambos podemser substituídos por um gerador sincronizadode baixa rotação e torque alto. Essas turbinassem engrenagem têm somente metade do nú-mero de componentes das turbinas normais.Isso simplifica a manutenção e reduz bastanteo peso da unidade. Com isso, a Siemens e seusclientes poupam dinheiro e reposições, pois asmáquinas ficam mais confiáveis. Por exemplo,a turbina de 6 MW sem engrenagem, introdu-zida em 2010, é 10 toneladas mais leve do quea convencional de 2,3 MW. Essa redução nopeso é muito importante em instalações eóli-cas offshore, devido aos altos custos de insta-lação e ao difícil acesso, em caso de reparos.

Uma pá de rotor do tipo B52 encontra-se naparte externa da área entre os galpões de pro-dução e os escritórios dos engenheiros, emBrande. Ela é branca, tem 52 metros de com-primento e o elegante aspecto de uma esbeltabaleia. “Essas pás de rotor são as maiores estru-turas de fibra de vidro do mundo, construídascomo componentes inteiros”, diz Egedal orgu-lhoso. O processo de produção é parecido combrincar de fazer bolos numa caixa de areia. Pri-meiro, a fibra de vidro é colocada em duas for-mas que, em seguida, são dobradas, fechadas,evacuadas, preenchidas com resina e final-mente aquecidas. A fibra de vidro é assada e,em 24 horas, transforma-se numa pá de rotor(veja Pictures of the Future, outono 2007, pág.60). Mais tarde, especialistas colam dentesplásticos, parecidos com escamas de dragão,nas pás, para pressionar o ar mais fortementecontra a pá do rotor. Esse é mais um detalheque aumenta a eficiência em 2% ou 3%.

te do investimento fluirá na “realimentação”,isto é, na substituição de unidades mais anti-gas por turbinas mais possantes.

Alta Tecnologia no Campo. Dinamarca é umdos centros de energia eólica. Brande é umapequena cidade tranquila e romântica, com ca-sas com fachadas de tijolinhos, numa paisa-gem de colinas entre o Mar do Norte e o Bálti-co. Na periferia da cidade, há uma planta daSiemens com milhares de colaboradores, in-cluindo cerca de 500 engenheiros que desen-volvem novas soluções para tornarem turbinaseólicas mais eficientes e econômicas. Um delesé Per Egedal, 36 anos, o Inventor do Ano 2011da Siemens. Graças ao seu trabalho, as turbi-nas eólicas da Siemens se encontram entre asmais eficientes do mundo. E eficiência é a cha-ve da competitividade. Se o volume de energiaproduzido por uma turbina aumenta 1%, o pre-ço do seu KW/h de eletricidade também cai em1%. Atualmente, um quilowatt-hora de ener-gia eólica terrestre custa de cinco a sete centa-vos. No mar, devido aos altos custos de instala-ção e manutenção, um quilowatt-hora custa15 centavos. “Precisamos alcançar o preço dequatro a cinco centavos por KW/h, para compe-tir com o carvão”, diz Henrik Stiesdal, enge-nheiro-chefe da Siemens Wind Power. Ele não

duvida que isso seja possível, também graçasàs invenções do colega Per Egedal.

Uma das criações de Egedal é um softwareque regula a força do vento sobre a turbina detal forma que, a unidade possa operar sem da-nos, durante os 20 anos de vida útil. Ao contrá-rio do que leigos possam crer, um rotor não de-veria girar sempre com velocidade máxima,pois suas peças se desgastariam mais rápido.Essa é a razão, pela qual as unidades de ener-gia eólica da Siemens dispõem de sensoresmontados nos rotores que monitoram a pres-são do vento nas pás. O software de Egedal usaas medições para determinar a carga de estres-se à qual a unidade está exposta num dadomomento, e a compara, então, ao perfil ideal.

metidos. Os reparos precisam ser executados omais rapidamente possível, pois os rotores nãodeveriam ficar desligados por longo período.

As turbinas da Siemens são monitoradaspelos seus três centros mundiais de controlede energia eólica, localizados em Brande, Bre-men, na Alemanha, e Newcastle, no Reino Uni-do. Destes centros de controle também são ad-ministradas as instalações de software e feitasas atualizações, que podem ser enviadas porInternet a qualquer uma das 4.000 turbinasmonitoradas.

“Muitos passos pequenos precisam ser da-dos para tornar a energia eólica competitiva”,diz Stiesdal. “Nossas inovações cobrem toda acadeia de valores, da fabricação à manuten-

Turbinas eólicas sem engrenagemsão práticas por terem menos peças,menos peso e serem mais confiáveis.

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ventor de software, desenvolveu um programaque regula a carga sobre cada rotor. Parqueseólicos, onde os rotores estão dispostos a cur-tas distâncias uns dos outros tendem a sofrerperdas significantes devido à sucção atrás dorotor da turbina. “Nesse caso, faz sentido redu-zir um pouco a potência de saída das primeirasduas turbinas de uma fila”, explica Egedal (veja Pictures of the Future, Primavera 2011,pág. 97).

Futuro Possante. Maiores, mais leves e maispossantes: ainda há campo para mais otimiza-ções nas turbinas eólicas. Em 2011, algumasunidades de 6 MW, desenvolvidas por Stiesdale sua equipe foram fabricadas e estão sendotestadas em Aalborg. A produção em larga es-cala começará em 2014. A unidade de um me-gawatt, perto dos escritórios de engenharia daSiemens, em Brande parece pequena em com-paração àquelas super turbinas. E 6 MW nãosão o fim da história. Há algum tempo, Stiesdale sua equipe estão se esforçando para alcançaros pequenos aprimoramentos que permitirão aconstrução de uma unidade de 10 MW, compás de rotor de 100 metros de comprimento.Pois, quanto maior a potência, mais eficientessão as turbinas e mais barata a eletricidade.

Porém, há limites para essa expansão demegawatts. “Provavelmente, 10MW serão o li-mite máximo para as turbinas offshore. E nãoespere ver turbinas com uma potência muitomaior que quatro MW em parques eólicos ter-restres”, diz Stiesdal. Com certeza, essas otimi-zadas turbinas eólicas já farão concorrência àsusinas a carvão, no que se refere à relação cus-to- eficácia, à eficiência, à operação livre demanutenção e à longevidade. Isso não apenasna Nova Zelândia. Jeanne Rubner

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A produção dos geradores de 2,3 MW, cujademanda é bastante alta, está sendo otimiza-da. Há um painel LED suspenso no imenso gal-pão de fabricação das nacelas. Ele é um relógiode contagem regressiva que, naquele momen-to, marca 1:44, indicando que, em uma hora e44 minutos, aquela etapa de trabalho precisaestar concluída.Como numa fábrica de auto-móveis, lá tudo é cronometrado. Cada etapade produção tem duas horas de duração. En-tão, o componente segue para a próxima esta-ção. Ao longo de oito estações, a carcaça danacela é equipada com os componentes inter-

nos, que incluem caixa da engrenagem, gera-dor, sistema hidráulico, computador, instru-mentos de medição e portas. O processocompleto resulta numa nacela pronta com umrotor à frente para instalação das pás.

O novo sistema reduziu muito o tempo demontagem de uma unidade. Enquanto em2010, ela levava 36 horas, hoje, apenas dura19 horas, poupando muito dinheiro. O sucessodá razão à Siemens. Há quase dez anos atrás,quase 800 pessoas trabalhavam na planta daSiemens, em Brande. Hoje, a fábrica tem 3.200colaboradores. Naquela época, ali eram fabri-cadas turbinas que somavam uma potência to-tal de 450 MW, por ano. Hoje, naquela plantasão construídas unidades eólicas com capaci-dade total de cerca de 4.000 MW. Isso contri-buiu para que aumentasse a necessidade de

espaço na empresa. Essa é a razão da constru-ção do novo galpão de fabricação das nacelasde 2.3 MW. “Aqui, sempre há algum tipo deconstrução em andamento ”, diz Egedal. Cola-boradores da Siemens Wind Power estão sub-metendo componentes da turbina a provas deresistência e outros testes. Pás de rotor, porexemplo, são acopladas a um guindaste espe-cial e colocadas em um permanente movimen-to para frente e para trás, durante três meses,resultando em cerca de dois milhões de oscila-ções. Assim, a Siemens simula quase 20 anosde operação em seu teste de durabilidade.

Outra inovação da equipede Stiesdal também foi testa-da lá: a “cimitarra árabe”, queserá a pá de rotor do futuro.Essa pá, levemente curvada,sob a ação do vento se torceem seu eixo, reduzindo apressão sobre ela. O conceito,

chamado de tecnologia “aeroelastic tailoredblade” (ATB), é útil em alto mar, onde massasde ar, vindas de diferentes direções , pressio-nam as pás com até 100 toneladas por segun-do. Essas pás elásticas conseguem se adaptarcom mais flexibilidade ao vento. E, como o ma-terial das pás está menos sujeito a desgaste,sua vida útil aumenta. A nova forma de pá, comsua comprovada estabilidade, permite a produ-ção de rotores mais longos que geram maisenergia, sem sobrecarregar a aerodinâmica. Es-sas pás têm 53 metros de comprimento, sendoquatro metros mais longas que as anteriores.“Mesmo sendo 500 quilos mais leves, elas pro-duzem 5% mais energia”, diz Stiesdal.

A Siemens ainda tem outras inovações empreparação. Com a meta de otimizar o desem-penho total de um parque eólico, Egedal, o in-

Montagem de uma turbina eólica sem engrenagem para um teste. A Siemens desenvolveu uma turbina de 6 MW, sem engrenagem, criada para as condições no mar.

Com a forma semelhante a uma cimitarra, a pá do rotor do futuro giraem sintonia com a força do vento.

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Fórmulas para Eficiência |Turbinas a Gás de Ciclo Combinado

A mais nova usina de energia de ciclo combinado da Siemens converte em eletricidade até 60,75% daenergia contida no gás natural – um recorde mundial. Ela pode ser ativada e desativada em cerca de 30 minutos, que são necessários para compensar as flutuações no fornecimento das fontes renováveis.

A turbina a gás SGT5-8000H é resultado de anos de

desenvolvimento.No verso o modelo de 60 Hertz para

a Flórida. Imagem maior: em Berlim, a comemoração

dos testes da turbina para os EUA .

Usina Campeã de Recordes

Um marco histórico aconteceu numa usinade energia em maio de 2011. Ela abriga

uma turbina que recebeu menção no Livro dosRecordes Guinness, e que ganhou diversos prê-mios ambientais e de inovação. A turbina a gásde ciclo combinado, o maior e mais eficientesistema desse gênero, no mundo, é a peça-chave da usina Irsching Bloco 4, na Alemanha.Com 13 metros e 444 toneladas, a turbina, de-pois de anos de teste, entrou em funciona-mento comercial na E.ON, uma empresa deenergia, em 22 de julho de 2011.

A usina, que tem capacidade de 375 mega-watts (MW), alcança uma eficiência de 40%.Combinada com uma turbina a vapor e um ge-rador de vapor de recuperação de calor da Sie-mens, a usina obteve eficiência-recorde mun-dial de 60,75%, com uma capacidade líquidade 578 MW, mais do que o planejado original-mente. Logo, ela é capaz de fornecer energiapara uma cidade do tamanho de Berlim, comseus 3,4 milhões de habitantes. Comparada ausinas antes consideradas como mais avança-

das, ela é dois por cento mais eficiente, econo-mizando cerca de 43.000 toneladas métricasde CO2 por ano, o equivalente às emissões decerca de 10.000 carros de porte médio viajan-do 20.000 quilômetros. E, em comparaçãocom a média global da frota instalada das usi-nas de ciclo combinado, esta utiliza 30% a me-nos de gás natural e expele um terço a menosde CO2 a cada quilowatt gerado.

A velocidade com que a turbina a gás podeser ativada e desativada também é inigualável.Depois de desligada por várias horas, a unida-de pode ser recolocada em pleno funciona-mento em 30 minutos. Essa flexibilidade é osegundo triunfo da usina de energia de ciclocombinado, junto com sua compatibilidadeambiental. Willibald Fischer, gerente de produ-to para a turbina de gás, afirma que “com ocrescimento das instalações geradoras deenergia renovável, uma nuvem ou uma levecalmaria no vento podem ser suficientes paracausar uma flutuação na rede. Futuramente,essas flutuações precisam ser rapidamente eli-

minadas, com o uso das usinas de energia deciclo combinado como solução backup, porexemplo.”

Espinha Dorsal para Renováveis. Há ele-mentos no cenário de Fischer que já são reali-dade. Em dias de sol, sistemas fotovoltaicos naBavária provêem mais de metade da eletricida-de necessária, e uma importante expansão nonúmero de usinas de energia renovável deveocorrer nos próximos anos.

Por volta de 2020, de acordo com Fischer,em verões com vento, deverá ser possívelatender, por diversas horas, a toda a demandade energia, na Alemanha, apenas com a eletri-cidade das energias renováveis.

Mas quando o tempo mudar de repente,usinas a combustíveis fósseis terão de ser ati-vadas o mais rápido possível. “Em 2020, preci-saremos de uma reserva nas usinas de cerca de30 a 50 gigawatts, ou de 20% a 30% da atualcapacidade instalada na Alemanha. Usinas agás flexíveis se encaixam muito bem nesse

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propósito. Os gastos de capital são baixos e ogás natural apresenta melhor balanço de CO2,

se comparado às fontes de energia fóssil”, dizLothar Balling, gerente geral para usinas a gás.

Mais de 750 colaboradores, incluindo 250engenheiros, atuaram no desenvolvimento,montagem e testes da SGT5-8000H e de suausina de energia de ciclo combinado (veja Pic-tures of the Future, Outono 2007, pág. 54). ASiemens investiu mais de 500 milhões de eu-ros em um protótipo antes da entrega à E.ON.

Em resumo, a turbina foi desenvolvida apartir da base zero em vez de ser um aperfei-çoamento de um modelo já existente. Grandeparte dos esforços responsáveis pelo recordeem eficiência e flexibilidade da instalação en-volveram aprimoramentos na turbina a gás e odesign global.

Os engenheiros aumentaram a temperatu-ra de operação da turbina, otimizaram o mate-rial e a geometria do compressor e das palhe-tas da turbina, reduziram as perdas do ararrefecido e adaptaram a caldeira, a turbina a

vapor e o gerador para turbina a gás. Mas amaior contribuição dos engenheiros para o re-corde em eficiência foi aumentar a temperatu-ra de combustão dos 1.400°C anteriores paracerca de 1.500°C na nova turbina a gás. Dadoque a temperatura na superfície das palhetasda turbina também é maior, é preciso uma pro-teção ainda melhor contra o calor.

As palhetas das turbinas foram fabricadascom uma liga de níquel, que se solidifica comoum cristal único na direção de carga, tornando-as resistentes a fraturas. Em seguida, há umabarreira de proteção térmica em duas camadasque promovem o isolamento do calor. As ca-racterísticas de arrefecimento das palhetas fo-ram otimizadas, bem como os seus perfis, afim de reduzir perdas causadas por turbulênciana ponta das palhetas do compressor. Isso foifeito, por meio de simulação tridimensional dadinâmica de fluídos dentro do compressor, umcaso extremamente desafiador para um com-putador. Alcançar a alta eficiência das turbinasrequer ainda a otimização da combinação doscomponentes. A turbina a vapor, por exemplo

(veja Pictures of the Future, Primavera 2008,pág. 32) foi desenhada especialmente para atemperatura de saída do gás.

O gerador de vapor com recuperação de ca-lor, que está localizado entre a turbina a vapore a turbina a gás, precisa ter dimensões gigan-tescas para que a conversão do grande volumedo gás de saída em vapor pos-sa ser eficiente. O caldeirãotem 7.000 toneladas métricase possui componentes paratroca de calor com um total de510.000m2 de superfície.“Uma usina desse tipo deve sercoordenada em todos os detalhes”, diz Fischer.“É como num carro, o melhor motor não temsentido, se o chassi não for bom suficiente.”

A Refinada Arte da Engenharia. Os desen-volvedores deram à usina, entre outras coisas,a capacidade de ser ligada e desligada rapida-mente, resfriar o gás da turbina apenas com are de maneira hidráulica, melhorando o espaço

entre as palhetas giratórias e a parede da co-bertura. Isso foi obtido com o ajuste das posi-ções dos rotores em três milímetros, o que pre-vine as colisões entre as palhetas e a parededurante uma partida rápida. Esta abordagemdo resfriamento do ar é mais apropriada para aflexibilidade desejada, do que um arrefeci-mento parcial ou total do vapor, porque elimi-na a necessidade de geração de vapor no mo-mento de ativar a turbina. Outro segredo dosucesso é a combinação da tecnologia da Sie-mens e da empresa norte-americana Westing-house, que a Siemens adquiriu em 1998. Odesign do rotor foi mantido, mas os engenhei-ros optaram pela câmara de combustão daWestinghouse, por ser mais fácil de experi-mentar na plataforma de testes do que a daSiemens.

A minúcia nos testes caracterizou o desen-volvimento da SGT5-8000H. A parceria com aE.ON permitiu a realização de experimentossob condições reais, entre 2007 e 2009, emIrsching. Para analisar o comportamento dausina, 3.000 sensores foram instalados para

esses testes. Dessa forma, eles puderam medirparâmetros como pressão e temperatura, vi-bração das palhetas giratórias, folgas na pontadas palhetas giratórias, fluxos, estresses mecâ-nicos e velocidades de rotação. Os resultadosforam aplicados e aprimoraram a nova turbinaSGT5-8000H.

Demanda Mundial. Os clientes já estãoaguardando em fila pela turbina a gás, campeãde recordes. A Coreia do Sul, por exemplo, en-comendou três usinas de ciclo combinado que,deverão começar a ser entregues em 2012, eum fornecedor de energia da Florida solicitouseis dessas novas turbinas na versão de 60Hertz, que permitirá uma economia de cercade US$ 1 bilhão em operações, manutenção e

custos de aquisição de bens, no ciclo de vidadas turbinas.

Usinas de energia de ciclo combinado nosEstados Unidos atualmente têm média de efi-ciência de menos de 40%. Se todas as unida-des usassem a turbina a gás da Siemens, seriapossível gerar eletricidade adicional equivalen-te à usada por 25 milhões de americanos acada ano, sem que, com isso, as emissões deCO2 aumentassem. Para testar plenamente aturbina de 60 Hertz, a Siemens investiu cercade 17 milhões de euros na renovação e expan-são da área de testes de sua fábrica de turbinasa gás em Berlim. Uma turbina para um clienteda Flórida encontra-se em fase de testes, des-de julho de 2011. E os caçadores de recordesda Siemens estão determinados a mantê-lascomo campeãs. “Espero que possamos, dentrode cinco anos, melhorar a eficiência das usinasde energia de ciclo combinado em um pontopercentual, usando uma turbina ainda maior emais quente. A tecnologia será ainda mais eco-nômica e, ambientalmente, mais compatível”,diz Balling. Fenna Bleyl

Um fornecedor norte-americano vaieconomizar cerca de US$ 1 bilhãono ciclo de vida de seis turbinas.

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De restaurantes de refeições rápidas a altastorres de escritórios, os prédios adotam as

mais diversas formas e tamanhos. A maioriadeles tem duas coisas em comum: grande de-manda de energia e imenso potencial de aper-feiçoamento de eficiência. De acordo com asestatísticas dos governos dos EUA e da Alema-nha, prédios residenciais e comerciais conso-mem 40% da energia primária, sendo respon-sáveis por 21% de todas as emissões de CO2.

Quanto desse volume de energia poderiaser poupado? “Dependendo do edifício, algoem torno de 25 e 50%”, diz Thomas Grüne-wald, chefe do projeto de pesquisa High Per-formance Building da Siemens Corporate Tech-nology e especialista em tecnologias deeconomia de energia para prédios e cidades.

As estatísticas da Siemens Retail and Com-mercial Systems (RCS), uma empresa dos EUA,especializada em gestão de energia em redescomerciais confirmam isso. Apesar do aumen-to do custo da eletricidade, os clientes dessacompanhia reduziram suas contas de luz entre15 e 30% (veja mais na pág. 86). Dado que

prédios comerciais são responsáveis por 46%da energia consumida por edifícios nos EUA, oefeito de longo prazo de potenciais de econo-mias no consumo de energia pode ser imenso.

Batatas Fritas e uma Análise de Energia. ALoadIQ, empresa de Reno (Nevada), que atuanuma área similar à RCS, financiada pelo Sie-mens Technology-to-Business Center, em Ber-keley (Califórnia), criou uma tecnologia parareduzir o consumo de energia dos 70.000 res-taurantes de refeições rápidas dos EUA. Após afase de teste, a tecnologia utiliza um avançadoprocessamento de sinais para associar altera-ções, detectadas pelos medidores, no consu-mo de energia de aparelhos como fornos, frita-deiras e geladeiras. “Quando um aparelho éligado ou desligado, o sistema verifica a altera-ção no consumo”, diz Dr. Hampden Kuhns,CEO da LoadIQ. “Cada mudança é caracteriza-da de forma diferente. Por exemplo, o sinal deuma lâmpada de 50W, com resistência elétrica,é diferente do de uma lâmpada fluorescentede 50W, com resistência indutiva.” A identifica-

ção de aparelhos pode complicar, pois muitostêm uma variedade de ciclos. “Conseguimosdecompor as propriedades elétricas e, logo, re-compô-las, dando um sinal para cada apare-lho”, explica Kuhns. “Isso pode levar à identifi-cação de diferentes atividades num aparelho,como alto consumo de energia no aquecimen-to de água de uma lava-louças. A tecnologiaaté pode ser usada em combinação com o pla-nejamento diário de uma casa comercial paradetectar aplicações ineficientes de sistemas.”

Regularmente, as informações sobre o realconsumo de energia de um aparelho são com-paradas com o seu consumo previsto e comseus concorrentes. Ao identificar graves discre-pâncias, o sistema da LoadIQ emite um relató-rio ao proprietário, recomendando-lhe reparosou sua substituição. Em 2011, a LoadIQ, querecebeu o prêmio California Clean Tech OpenEnergy Efficiency Award e uma subvenção daNational Science Foundation (NSF), no âmbitodo programa Small Business Innovative Re-search (SBIR) Phase II, começa a testar a tecno-logia em pequenos comércios.

Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012 29

Picos de demanda estão forçando as companhias energéticas a investirem bilhões de dólares em “usinas para picos de demanda” que, raramente, entram em funcionamento. Sistemas inteligentes deautomação predial, que adaptam o consumo às variações de preços, em tempo real, poderiam reduzircoletivamente muitos picos de demanda, estabilizando redes de geração e de distribuição de energia.

Edifícios InteligentesFórmulas para Eficiência | Gestão de Carga

O sistema Apogee de automatização de edifícios da

Siemens no Centro de Pesquisas da universidade UC

Berkeley (nessa página e pág. 85 à esquerda) e a nova

tecnologia da LoadlQ (dir.), ajudam a reduzir picos de

carga em redes de distribuição de eletricidade.

Page 30: Pictures of the Future 2012

Cortando Picos de Demanda. A necessidadede aumentar a eficiência e reduzir os custos deenergia não se limita a empresas e consumido-res individuais. Em muitos países, a estabilida-de total da geração e distribuição de eletricida-de está ameaçada (veja Pictures of the Future,Outono 2009, pág. 34). Quando a demandade energia se aproxima do limite, pode acorreruma queda da tensão ou um apagão. Nessecaso, fornecedores de energia acionam as usi-nas de geração compartilhada, que só são liga-das à rede quando necessário. Como é rara aativação dessas usinas, elas são caras em suaoperação. Por isso, o preço da eletricidade dis-para, podendo causar um aumento em cente-nas de por cento no quilowatt-hora.

“Nos EUA, 10% da infraestrutura de geraçãoe distribuição de energia está reservada parafornecer energia em situações de picos, que sóocorrem em 1% do tempo”, explica Dr. GeorgeLo, especialista em automação e um “SuperInovador da Siemens” da Siemens CorporateTechnology de Princeton, Nova Jersey. Paraevitar investimentos em novas instalações degeração compartilhada, os fornecedores deenergia querem reduzir os picos de consumo.“Se nos próximos 10 anos, continuarmos agin-

do como até agora, teremos que construir1.900 usinas de geração compartilhada paraatender o aumento do consumo” diz Lo.

Como empresas nos EUA e no mundo estãocriando suas soluções para conter os aumentosnos preços da eletricidade, elas começam a fo-calizar alternativas para a gestão de picos dedemanda. O sistema de automação predial daGestão Inteligente de Carga (ILM) baseado naTI, da RCS não só reduz o consumo diário deeletricidade, mas também é capaz de reagirem regime de 24 horas a variações no preço daenergia e a sinais de mercado dos fornecedo-res. No âmbito da ampliação das funções datecnologia predial da Siemens, no futuro, pré-

dios serão inseridos em programas de redes in-teligentes. Nesse ano, as capacidades da ILMserão integradas ao sistema Apogee de auto-mação predial da Siemens, permitindo que mi-lhares de edifícios Apogee funcionem como sefossem um único consumidor de energia, re-duzindo a demanda de usinas de geração paraconexão compartilhada de energia.

“Se muitos prédios pudessem ser operadosassim, o efeito coletivo seria a eliminação depicos e um nivelamento automatizado de car-gas elétricas, em tempo real”, diz Lo.

Uma Caixa que Controla um Prédio. Desco-brir como isso pode ser alcançado, sobretudoem edifícios multiuso, é a meta dos especialis-tas em eficiência energética da Saturdja DaiHall, a nova instalação de pesquisa do campusda Universidade da Califórnia, em Berkeley(UCB). Equipada com o sistema de automaçãoApogee da Siemens, a Saturdja Dai funcionacomo campo de teste para as tecnologias deredes para prédios, entre as quais se encontrao regulador de consumo (ADR). Para asseguraruma reação inteligente e automatizada de umprédio face a variações nos preços de eletrici-dade, a Siemens Corporation, a Siemens Cor-

porate Research (CT), e a Siemens BuildingTechnologies trabalham junto com a UCB paratestar uma “Caixa Inteligente de Energia”, de-senvolvida pela CT no Saturdja Dai. “A ideia éque quando houver previsão de um pico, a cai-xa rastreará uma biblioteca de cenários quevão desde a redução da refrigeração e da ilu-minação em áreas não críticas, até medidasbem ajustadas e distribuídas, abrangendo qua-se todos os aparelhos conectados a uma toma-da. O sistema leva em conta expectativas depreços e condições meteorológicas, incluindoa posição do sol em relação ao prédio durantea situação DR”, explica Lo, “Finalmente, ele es-colhe o melhor cenário e o implementa”.

Executar essa medida sem incomodar osocupantes do prédio é uma tarefa complexa,que exige a capacidade de aprender horários,hábitos e prioridades energéticas de diferentesdepartamentos dentro do imóvel. São excluí-das áreas, nas quais a demanda de energia nãopode sofrer ajustes devido a suas funções críti-cas ou vitais. Além disso, a Caixa Inteligente deEnergia minimiza inconvenientes na medidaem que maximiza a distribuição das medidaspelo maior número possível de sistemas.

A essência desse processo é um protocoloque permite sistemas de automação predial alerem sinais ADR dos fornecedores de energia.Desenvolvido pelo Laboratório Nacional Lau-rence Berkeley (LBNL) e já adotado pelo Depar-tamento de Energia dos EUA, o protocolo“OpenADR” caminha rapidamente em direçãoa uma aceitação mundial e, poderá se tornarpadrão para a construção de redes de comuni-cações. “Isso é muito importante”, afirma Prof.David M. Auslander do Departamento de Enge-nharia Mecânica da UCB e grande defensor daparticipação da universidade nessa tecnologia.“O LBNL está testando o OpenADR em inúme-ras instalações e, graças à Caixa de Energia, Sa-turdja Dai Hall é uma delas. A questão é que o

preço de atacado da energia varia de minuto aminuto, enquanto o preço no varejo frequen-temente permanece igual. A Caixa de Energiapode mudar isso, se transformar a eletricidadecomo um item dos custos fixos em uma gran-deza passível de ser gerida ativamente”.

Domenico Caramagno, gerente predial doSaturdja Dai Building acrescenta: “Milhares deprédios poderiam lucrar com essa Caixa, nãoapenas no sentido de reduzir a carga numa si-tuação ADR, alcançando assim benefícios mo-netários dos fornecedores de energia, porémpara maximizar continuamente as suas econo-mias de energia. Essa é a direção na qual pros-seguiremos”. Arthur F. Pease

30 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

Winter Spring Summer Fall0

20

40

60

80

90100

%

Load shifting

Peakshaving

Page 31: Pictures of the Future 2012

Armazenagem Subterrânea. Dessa forma,em dias de calmaria ou nublados, o hidrogêniopoderia ser retirado das cavernas e queimadoem geradores elétricos de usinas de ciclo com-binado para gerar eletricidade. Atualmente,não há turbinas que façam a combustão de hi-drogênio puro. Até 2014, a Siemens esperalançar um protótipo de turbina (veja Pictures ofthe Future, Outono 2009, pág. 7). Apesar decerca de metade da energia eólica se perderdurante a eletrólise e na combustão na turbinaa gás, não seria mais necessário desligar os ro-tores por falta de capacidade no sistema.

Assim, o problema de flutuação na geraçãode energia estaria resolvido. “Apenas na Ale-manha, dependendo do futuro consumo ener-gético, precisaremos de, no máximo, 400 ca-vernas-reservatórios de hidrogênio, cada umacom cerca de 500.000 metros cúbicos. Tam-bém seria possível utilizar os atuais 200 reser-vatórios de gás natural”, afirma Wolf. “Os 60terawatts/hora que poderiam ser armazenadosnessas unidades correspondem a cerca de 10%da demanda anual, na Alemanha. Isso poderiasuprir os consumidores por longos períodos dequeda de energia eólica ou solar”.

Duas pequenas cavernas de hidrogênio es-tão em operação no Reino Unido e nos EUA, jáhá alguns anos. Essas instalações podem com-provar a segurança dessa forma de armazena-mento. Os especialistas estimam que uma uni-

Que desperdício! No norte da Alemanha, ovento sopra, entretanto os rotores nos

parques eólicos permanecem parados. “Em até20% do tempo, os sistemas eólicos da regiãoprecisam ser desligados para evitar o excessode produção de energia num determinado mo-mento”, explica Erik Wolf, estrategista em tec-nologia da Solar & Hydro Division da Siemens.“A flutuação da produção em função das con-dições climáticas é um grande desafio para asenergias renováveis. Ou seja, a geração não sebaseia na demanda, como nas usinas conven-cionais”. A entidade que congrega as gerado-ras de energia eólica, na Alemanha, estimaque a rede energética do país não tenha conse-guido absorver 150 gigawatts/hora, em 2010,simplesmente por já estar operando com capa-cidade máxima.

Isto ocorre porque, muitas vezes, as turbi-nas eólicas ficam desativadas durante tempes-tades e as usinas antigas a carvão, com altasemissões de dióxido de carbono, são ligadas àmatriz durante as calmarias, casos que se in-tensificam, na medida em que a Alemanhaproduz cada vez mais energia a partir de fonteseólicas e solares.

Segundo o governo alemão, o país prevêsuprir metade da demanda nacional com ener-gias renováveis, até 2030, além de ter a metade 80% de participação das fontes renováveis,até 2050. Isso não será possível sem grandes

Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012 31

Na geração e distribuição de energia, o hidrogênio torna-se cada vez mais importante. O hidrogê-nio não só armazena o excedente de eletricidade dos parques de energia eólica ou solar, mas servecomo combustível automotivo. Mais importante, pode ser combinado com dióxido de carbono pro-duzido de forma renovável e criar matéria-prima para plásticos.

Os engenheiros da Siemens desenvolveram um eletro-

lisador com base em membranas de troca de prótons,

que reage à corrente elétrica em milésimos de segun-

dos, ideal para lidar com flutuações na geração de

energia.

O Combustível mais Versátil

sistemas de depósito de energia, capazes dearmazenar o excedente de picos eólicos e utili-zá-los posteriormente, em momentos de altademanda. Para enfrentar os desafios dos siste-mas com base em fontes renováveis, serão ne-cessárias tecnologias de armazenamento paratodas as situações, desde os períodos curtos(segundos ou horas) até os mais longos (diasou semanas). Com certeza, a Alemanha não éa única interessada. Atualmente, diversos ou-tros países utilizam cada vez mais as fontes renováveis de energia, e também terão que ex-pandir as matrizes com sistemas de armazena-gem.

Nessa armazenagem, a eletrólise desempe-nha um papel fundamental. Nela, a água é de-composta em gás oxigênio e hidrogênio, pelaaplicação de corrente elétrica. A uma pressãode 200 bar, a densidade energética do hidro-gênio é comparável à das baterias de íons de lí-tio.

Dessa maneira, seria possível armazenargrandes quantidades de gás em cavernas sub-terrâneas de minas de sal, como as utilizadaspor companhias de gás, ou na já existente redede gás natural, que facilmente poderia absor-ver até 5% de hidrogênio. Matematicamente,essa última poderia armazenar 130 tera-watts/hora de eletricidade na forma de hidro-gênio, quase 25% do consumo anual da Ale-manha.

Fórmulas para Eficiência | Eletrólise

Page 32: Pictures of the Future 2012

32 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

gawatt e potência máxima de 0,3 megawatt.Ele produzirá entre dois e seis quilos de hidro-gênio por hora, prevendo-se estar pronto no fi-nal de 2012. “O projeto industrial e todos osperiféricos, como o sistema de controle e a en-trada de energia, foram otimizados para seremaplicados”, informa Käppner. “Também esta-mos reduzindo custos, tanto em materiais ino-vadores quanto em características estruturais”.A produção de hidrogênio pelo método eletro-lítico ainda custa mais de10.000 euros por quilowatt decarga instalada. Porém, graçasaos aperfeiçoamentos no pro-jeto industrial, Käppner espe-ra, até 2018, reduzir os custosabaixo de 1000 euros por qui-lowatt. Até lá, prevê-se que aterceira geração de eletrolisadores da Siemensgere até 100 megawatts, convertendo, em es-cala industrial, a energia elétrica eólica exce-dente em hidrogênio. Assim, bastaria um úni-co eletrolisador de 60 a 90 megawatts paraconverter a energia excedente de um parqueeólico de grande porte. Entre este modelo de0,1 megawatt e o sistema de 100 megawatts,Käppner planeja desenvolver um estágio inter-

mediário. Este consistirá de um eletrolisadorcom potência nominal de dois megawatts. Autilização deste eletrolisador está prevista para2015. Além de armazenar energia e estabilizara rede, o sistema poderá ser usado em postosde combustíveis. Isto contornaria o transportede hidrogênio até os postos, já que o combus-tível poderia ser produzido nos próprios pos-tos, com o excedente de energia da rede eágua potável. “Fabricantes de automóveis co-nhecidos já estão preparados para dar início àslinhas de montagem de automóveis a célula decombustível”, afirma Käppner. “Assim, os auto-móveis serão movidos a hidrogênio gerado deforma renovável!”

O destaque entre as maiores vantagens dohidrogênio é a sua versatilidade. É possívelconverter hidrogênio em eletricidade, usá-locomo combustível automotivo ou na “metani-zação”, processo no qual o hidrogênio reagecom dióxido de carbono formando metano,

principal componente do gás natural. Portan-to, a energia a hidrogênio poderia ser armaze-nada na infraestrutura existente de distribui-ção de gás. Além disso, poderia ser utilizada noaquecimento ou como combustível de auto-móveis a gás. “Em principio, a metanização éuma boa ideia”, afirma Wolf, especialista daSiemens. “Porém, representa um pro cessoneutro em termos de emissões de carbono,apenas se o H2 e o CO2 forem provenientes de

energias renováveis, como usinas de biomassa.A conversão de hidrogênio em metano tam-bém consome energia; portanto, faz muitomais sentido aplicar o hidrogênio diretamente”.

Parceria Perfeita. O hidrogênio é um media-dor energético perfeito, mas também uma ma-téria-prima importante no setor químico, obti-da quase que exclusivamente a partir do gás

natural. Com isso, a meta deve ser, por umlado, produzir hidrogênio com energia elétricarenovável ao mesmo custo que a produção dogás natural. Por outro lado, o hidrogênio pode-ria formar uma parceria perfeita com o dióxidode carbono, gás causador de efeito estufa.Uma forma possível de utilizar o CO2 com ener-gias renováveis é objeto de um projeto de pes-quisa em que a Siemens, a RWE, a Bayer Tech-nology Services, a Bayer Material Science e 10outras empresas parceiras colaboram desde2010. Batizado de CO2RRECT esse projeto estáavaliado em 18 milhões de euros, incluindoum subsídio de 11 milhões de euros do Minis-tério de Educação e Pesquisa da Alemanha.

O conceito consiste em que o monóxido decarbono (CO), produto intermediário obtido apartir de fontes fósseis de energia, possa serproduzido alternativamente a partir da combi-nação de dióxido de carbono e hidrogênio,cujo subproduto é apenas água. “Esta reação é

dade de armazenamento de hidrogênio custede 10 a 30 milhões de euros. As concessioná-rias terão que investir de 50 a 700 milhões deeuros em usinas a gás, dependendo da capaci-dade.

As empresas de energia apostam na tecno-logia a hidrogênio. “Desejamos reduzir drasti-camente as emissões de CO2. Para isso, esta-mos construindo e desenvolvendo tecnologiasmais eficientes, além de usar cada vez maisparques eólicos”, afirma Dr. Sebastian Bohnes,do departamento de pesquisa da RWE Power(Alemanha). “Atualmente, a velocidade dasturbinas eólicas é limitada pelos gargalos darede. Iniciativas para usar mais as energias re-nováveis podem diminuir rapidamente a capa-cidade do sistema. A eletrólise oferece um mé-todo ideal de armazenar, na forma de gáshidrogênio, a eletricidade que não for usadaimediatamente.”

Isso pressupõe que os eletrolisadores queproduzem gás a partir de eletricidade reajamrapidamente à flutuação no fornecimento deenergia elétrica. Hoje, o tempo de reação, dealguns minutos, dos sistemas, ainda é lento.

Há anos, os pesquisadores da Siemens Cor-porate Technology trabalham no aprimora-

mento de uma tecnologia eletrolítica muitomais flexível. No eletrolisador desenvolvido,uma membrana de troca de prótons (PEM) se-para os dois eletrodos nos quais o oxigênio e ohidrogênio se formam, diferenciando-se, as-sim, da tecnologia convencional de eletrólisealcalina (veja Pictures of the Future, Primavera2011, pág. 26). “Nosso eletrolisador de PEMreage em milésimos de segundos, lidando fa-cilmente com o triplo de sua potência nominalpor algum tempo. Em outras palavras, mesmocom o aumento significativo na geração deenergia, seria possível utilizar facilmente o ex-cedente”, afirma Roland Käppner, diretor daunidade de negócios de soluções a hidrogênioda divisão industrial da Siemens.

A tecnologia de PEM da Siemens está pron-ta para ser posta em prática. Com o eletrolisa-dor experimental com potência de 10 quilo-watts, a equipe de Käppner trabalha em umnovo eletrolisador com capacidade de 0,1 me-

Um eletrolisador de 60 megawattspoderia converter a energia exce-dente de um grande parque eólico.

Page 33: Pictures of the Future 2012

desencadeada por catalisadores especiais de-senvolvidos pela Bayer junto com outros par-ceiros da comunidade científica”, diz DanielWichmann, da Bayer, gerente-geral do projetoCO2RRECT. “Com outro catalisador, também épossível produzir ácido fórmico, outro impor-tante ingrediente da química orgânica”.

O importante é que os gases CO2 e o H2 de-vam ser gerados em quantidade suficiente, fi-cando a Siemens e a RWE responsáveis poresse aspecto. No estado da Renânia do NorteVestfália, na Alemanha, a geradora de energiaRWE opera uma usina a linhito equipada comum sistema de gás de combustão que extrai oCO2 das emissões. Posteriormente, este gás éenviado a pesquisadores que estudam a utili-zação de CO2.

Como parte central desse projeto, no finalde 2012, um contentor eletrolítico da Siemensserá configurado para a realização de testesem condições reais. “A ideia é simular os perfisde carga dessa matriz, bem como as caracterís-ticas de alimentação a partir de parques eóli-cos reais”, esclarece Bohnes, especialista daRWE. “Desta forma, vamos poder identificar seo eletrolisador é capaz de lidar com as flutua-ções no fornecimento de energia”.

Do CO2 ao Plástico. Em Leverkusen, a Bayer ea empresa parceira Invite estão construindouma unidade-piloto que será inaugurada em2013. Naquele local, as reações entre o CO2 eo H2 serão utilizadas para formar CO. Se o pro-cesso funcionar, o CO gerado dessa forma po-deria ser utilizado em escala industrial, porexemplo, na produção de isocianatos. Estescompostos poderiam ser aditivos na produçãode poliuretano, material presente em pratica-mente tudo, desde automóveis, móveis e atéisolamentos. “Com essa unidade-piloto, pre-tendemos demonstrar que, é possível combi-nar a produção flutuante de hidrogênio comprocessos constantes no setor químico”, afir-ma Wichmann.

O processo CO2RRECT operará até o finalde 2013. Até então as empresas químicas egeradoras de energia colherão benefícios des-se processo. Operadores de usinas de energiaobtêm um bom aproveitamento do CO2 extraí-do, ao invés de apenas armazená-lo subterra-neamente. Além disso, evitam os custos doscertificados de emissões. Por sua vez, os fabri-cantes de plásticos diminuem a dependênciado petróleo. Existem também vantagens comrelação ao clima. “Com o processo CO2RRECTe os refinamentos contínuos dessa tecnologia,talvez seja possível evitar a emissão de mi-lhões de toneladas métricas de CO2, por anona Alemanha”, afirma Bohnes. “Isto equivale-ria a cerca de 1% a 2% do total de emissões dedióxido de carbono, nesse país”.

Christian Buck

Pictures of the Future | Especial Rio+20 33

Fórmulas para Eficiência

CurtasTecnologia eficiente nunca foi tão importante.

Atualmente, não apenas precisamos controlar a

mudança do clima, mas também lidar com a es-

cassez de recursos naturais. Soluções eficientes

não só poupam matéria-prima e energia, como

também economizam dinheiro. (pág. 12)

A China é o milagre econômico do século. Por

muito tempo, o crescimento assombroso foi às

custas do meio ambiente. Os tempos mudaram.

Hoje, as prioridades do país incluem aumentar a

eficiência, reduzir emissões e criar cidades am-

bientalmente sustentáveis. Pictures of the Future

falou com três especialistas sobre o futuro do

abastecimento energético na China.

(págs. 15, 18)

Uma rede de energia estável é necessária para

aumentar expressivamente a proporção de ener-

gia renovável no mix energético. Já há quase

200 gigawatts de energia eólica instalados no

mundo. Trabalhando com carga máxima, isso

equivale a 200 grandes usinas. Geralmente, ener-

gia eólica é mais cara que eletricidade gerada a

carvão. Engenheiros da Siemens estão criando

novas formas para otimizar as turbinas eólicas.

(pág. 24)

Companhias energéticas precisam investir

bilhões de dólares em “usinas para picos de

demanda” que, raramente, são necessárias, pois

só são usadas quando o consumo é alto demais.

Se usados em um grande número de prédios, os

sistemas de automação da Siemens poderiam

mudar essa situação. Eles adaptam, em tempo

real, o consumo às variações de preço, reduzindo

os picos de demanda e ajudando a estabilizar as

redes de geração e distribuição de energia.

(pág. 29)

O hidrogênio será cada vez mais importante

na cadeia de fornecimento de energia, tanto no

armazenamento do excesso de energia produ-

zido por parques eólicos ou instalações solares,

como em combustíveis para carros. A indústria

química ainda poderá usar o hidrogênio gerado

por energias renováveis junto com o CO2 (gás de

efeito estufa) na produção de plásticos. (pág. 31)

GENTE:

Soluções para a China:

Martin Klarer, Siemens China

[email protected]

Energia Eólica:

Henrik Stiesdal, Siemens Energy

[email protected]

Per Egedal, Siemens Energy

[email protected]

Turbina a Gás Irsching:

Lothar Balling, Energia

[email protected]

Willibald Fischer, Energy

[email protected]

Otimização Energética em Edifícios:

Thomas Grünewald, Corporate Technology

[email protected]

Dr. George Lo, Corporate Technology

[email protected]

Eletrólise:

Erik Wolf, Siemens Energy

[email protected]

Roland Käppner, Siemens Industry

[email protected]

LINKS:

Site Rio+20:

www.uncsd2012.org

Rede Global Footprint :

www.footprintnetwork.org

Siemens Energia Renovável:

www.siemens.com/renewables

A Nova Política Energética da Alemanha:

www.siemens.com/entry/cc/en/new-energy-

policy.htm

Site da Usina de Irsching:

www.kraftwerk-irsching.com

Page 34: Pictures of the Future 2012

34 Pictures of the Future | Especial Rio+20

20352035. Um jovem professor de medicina da Nigéria desejacomprar um terno sob medida em Hamburgo. Enquantoele escolhe, obtém uma noção de como os produtos sãocriados na era da rede global abrangente.

O Cliente É ReiA Economia do Futuro | Cenário 2035

Destaques36 A Nova Economia Global A Revolução Industrial foi há muito

tempo, mas mudanças radicais naeconomia mundial ainda estão empleno andamento. Hoje, não apenasos mercados emergentes experimen-tam um crescimento em suas econo-mias. Novos mercados também estãose formando, como na Colômbia e naTurquia, que a Siemens inclui na Se-gunda Onda de Países Emergentes.

Páginas 36, 47

40 Açúcar, Petróleo e Criatividade A busca de energia, no Brasil, inspi-

rou a imaginação dos engenheirosdo país, cujas inovações técnicas au-mentaram a eficiência e a estabilida-de do abastecimento energético.

44 Chamada do Fundo do Oceano Devido à crescente demanda de com-

bustíveis fósseis, empresas de petró-leo e gás exploram cada vez mais ofundo do mar. Nesse âmbito, a extra-ção seria muito mais eficiente e segu-ra se as instalações de produção esti-vessem alocadas no solo do oceano.

50 A Ciência do Lugar Ideal Na Siemens, identificar os locais

ideais para a instalação de fábricasestá se tornando uma ciência.

54 Melhores Estruturas de Tráfego A tecnologia de automação está tor-

nando as infraestruturas de tráfegomais eficientes. Futuramente, taissistemas aprenderão com a expe-riência e otimizarão holisticamente otráfego pelas regiões.

Em 2035, raramente, roupa é vendida pronta

no cabide. Quando Thomas Jones, um profes-

sor de medicina da Nigéria, encomenda um

terno na filial de Hamburgo de uma cadeia in-

ternacional de moda, pedindo para ser entre-

gue em Lagos, a empresa usa soluções de

software baseadas na web para buscar, em

termos de custos e sustentabilidade climá-

tica, a melhor combinação entre região de

plantio, tecelagem e local de produção.

Page 35: Pictures of the Future 2012

Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012 35

Nessa tarde, as lojas estão cheias no Shop-ping Center de Hamburgo, na Alemanha.

Thomas Jones, um professor de medicina daNigéria, concluiu sua agenda de reuniões comcolegas alemães e aproveita as primeiras horasda noite para procurar um terno novo. Já há al-gum tempo, comprar roupas prontas no cabi-de é coisa do passado. Jones, que agora tem40 anos, ouviu dizer que esse hábito já existiu.Seu terno não somente será feito por um al-faiate, mas também confeccionado por meiode um processo totalmente automatizado e

adequado ao meio ambiente, que vai desde acompra da matéria-prima até a produção e en-trega.

Jones sorri com certa expectativa ao entrarnuma filial de uma empresa internacional demoda que, naturalmente com seu consenti-mento, guarda suas medidas num arquivo digi-tal. “Bom dia, Thomas,” diz um jovem vende-dor. A última vez que fez compras numa filialdessa cadeia, foi há dois anos atrás, em Lagos,sua cidade natal! Obviamente, no momentoem que entrou na loja, a câmera escaneou seu

Page 36: Pictures of the Future 2012

36 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

Saindo da pobreza: investimentos diretos do

exterior na Colômbia aumentaram 56% , em

2011. Imagem: elevador de 384 metros em

Medellín.

Durante a Revolução Industrial, máquinas eteares movidos a vapor transformaram a

fabricação de roupas em um processo alta-mente mecanizado. Essas inovações fizeramcom que o noroeste da Inglaterra se tornasse ocentro da produção têxtil. Isso também causouo declínio da indústria têxtil da Índia, uma vezque ela não podia competir com a alta eficiên-cia dos sistemas mecânicos. Hoje, 250 anosmais tarde, o cenário industrial da Inglaterramudou completamente e muitas marcas íco-nes do Reino Unido são de propriedade de es-trangeiros. Os exemplos mais proeminentessão Land Rover e Jaguar, ambas em mãos daempresa indiana Tata Motors.

cação quase exclusivamente em países de mãode obra barata”.

“Agora, que tudo é feito sob medida, só ne-cessitamos de pequenas quantidades de teci-do. A única exigência é que as rotas de trans-porte sejam as mais curtas possíveis e que seconsidere as emissões de CO2”, afirma Erikson.Ele conta que, no início dos anos 2020, a em-presa quase faliu. Depois que países como a Ín-dia e a China não só produziam, mas tambémcomeçaram a comercializar, retendo grandeparte dos lucros, roupa não podia mais ser ven-dida a preço de banana.

“Rapidamente meu pai percebeu que, a erados produtos fabricados globalmente em mas-sa havia passado e que somente mercadoriasindividualizadas poderiam gerar lucro,” lembraErikson. Naquela época havia uma grande re-cessão e financiadores não estavam dispostosa investir em uma reestruturação corporativa.

Todavia, o avô de Erikson não desistiu. Como conceito de financiamento coletivo, ele usouas redes sociais para encontrar 1000 investido-res privados que acreditassem na sua visão deuma moderna e sustentável empresa. Inicial-mente, a firma apenas confeccionava roupasob encomenda, mas logo incorporou outrosfatores, como cultivo livre de pesticidas, condi-ções de trabalho justas e processos de produ-ção sustentáveis. E como cada vez mais empre-sas adotaram esse conceito, as grandes firmasde tecnologia desenvolveram programas desoftware baseados na web que, gradualmente,criaram uma abrangente rede de clientes, pro-dutores e fornecedores de matéria-prima.

Jones prova um paletó feito com o tecidoque escolhera e diz: “é muito agradável de ves-tir”. Numa parede “espelho” ele observa a suaimagem projetada, com o novo terno. “Hmm, acor ainda não é a ideal. Vou escolher uma maisclara”, diz ao mudar de ideia. Em seguida, elese lembra que deixará Hamburgo amanhã eque o terno deverá ser entregue em Lagos.

“Tudo bem”, diz Erikson, digitando a infor-mação no teclado. Três minutos mais tarde, osistema de encomendas apresenta uma novacadeia de fornecimento. “Bem, agora, seu al-godão virá do Chade, a tecelagem é de Benin eserá costurado na Nigéria”, diz Erikson. O mo-delo está disponível em todas as alfaiatarias fi-liadas à cadeia por meio dos serviços baseadosna web. “O mais difícil foi conseguir que todosos nossos fornecedores se comprometessemcom o mesmo padrão de qualidade”. Mas, des-de que os governos da África Ocidental se con-centraram na educação e em programas dequalificação profissional, isso deixou de sermais problemático do que em outros países.“Hoje em dia, um bom terno pode ser fabrica-do da mesma forma em qualquer continente. Enão precisa mais ser escuro!”, conclui Eriksoncom um sorriso. Katrin Nikolaus

rosto, o software deve tê-lo reconhecido, atua-lizando seus dados e enviando-os ao sistemado vendedor.

Os dois homens iniciam uma conversa so-bre ternos. “Meu avô sempre usava camisa eterno escuros na sua empresa”, lembra Jones.“Meu também”, responde o vendedor, que estáse preparando para ser um dos diretores-exe-cutivos da cadeia de moda, e se apresentacomo Paul Erikson, o filho do fundador. Nomomento, ele faz um estagio de uma semanana filial de Hamburgo para ter uma noção doque os clientes procuram hoje em dia. Suasanálises de mercado são bem detalhadas, masa intuição humana ainda é um fator decisivopara a sobrevivência de uma empresa demoda.

Jones sobe numa plataforma, e um escânertira e registra suas medidas. Um computadorcompara os atuais dados com os de visitas an-teriores. “Só um pouquinho mais largo nosquadris”, diz Erikson sorrindo. Então, escolhemuma cor numa tabela com mais de cem tons eum tipo de tecido. Jones se decide por um al-godão, mais adequado ao clima nigeriano.

Seis semanas antes, Buthan Singh estavaem sua plantação em Punjab, na Índia, verifi-cando se o algodão já estava pronto para sercolhido. “Deveríamos iniciar a primeira colheitaem dois dias”, diz seu auxiliar. Singh não usamétodos de colheita totalmente automatiza-dos. Ele colhe o seu algodão de acordo com ograu individual de maturação de cada planta, oque leva a uma maior qualidade e melhorespreços no mercado mundial. A fazenda perten-ce à família de Singh há cinco gerações, masapenas nos últimos 20 anos, eles conseguiramviver bem do cultivo do algodão. Isso ocorre,porque durante esse período, os subsídios go-vernamentais para produtos agrícolas foramsendo gradativamente reduzidos e quase intei-ramente abolidos.

Singh vende as suas colheitas por meio deum intercâmbio automático de matéria-prima.Uma tecelagem inglesa especializada em teci-dos de alta qualidade para ternos comprou aprimeira remessa. Os clientes dessa tecelagemvalorizam não apenas a qualidade e o preço,mas também aos métodos sustentáveis comoo algodão foi produzido. Essa informação che-ga ao cliente final por meio de um software derastreamento de produto, que utiliza etiquetasinteligentes RFID. Os clientes necessitam dessainformação na encomenda para saberemquanto essa compra representa no preço total.

“O algodão para esse terno vem de Punjab”,diz Erikson, após uma rápida olhada nas infor-mações do seu sistema. “O tecido foi fabricado– um momentinho – ah sim, na Inglaterra”.

Jones sorri antes de responder: “é bem irô-nico que, novamente, existam tecelagens naInglaterra, depois de tantas décadas de fabri-

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cargos bem pagos, encoraja investimentos dosetor privado e abre o caminho para a diversifi-cação da economia. É aí que se deve começarpara gerar empregos de forma sistemática.”

A Colômbia é um exemplo. Apesar de nãoser um grande mercado emergente como oBrasil, a Rússia, a Índia ou a China (países doBRIC), ela tem potencial de desenvolvimento eé grande o suficiente para se tornar cada vezmais atrativa para investimentos estrangeiros.Em 2011, investimentos estrangeiros diretosno país cresceram 56% comparado ao ano an-terior. A Siemens, que opera no país latino-

americano desde 1954, define a Colômbia eoutros países como a Turquia e o Vietnã comoa Segunda Onda de Países Emergentes (SE-WECs).

Esses países não só experimentam um cres-cimento econômico acima da média, comotambém vêem o surgimento de novos merca-dos e locais vantajosos para a produção local.A nova unidade da Siemens em Tenjo, perto deBogotá, por exemplo, tem um sistema de pro-dução extremamente eficiente e atende a to-dos os padrões ecológicos (veja Pictures of theFuture, Outono 2010, p. 67). A fábrica produzvários produtos, incluindo transformadores dedistribuição para fontes renováveis de energia,principalmente parques eólicos e instalaçõessolares nos Estados Unidos e no Canadá. Ostransformadores foram desenvolvidos pelosengenheiros da Siemens na Colômbia.

A inovação está cada vez mais presente emmercados emergentes, graças à crescente ne-cessidade de adaptar produtos às demandaslocais. Com o aumento da consciência de cadamercado sobre suas próprias demandas, umaabordagem “solução padrão” está tornando-secoisa do passado. No futuro, grandes empre-sas terão que descentralizar ainda mais as suasestruturas e processos e agir de maneira “mul-ti-local”, isto é, “estar em casa” e em diferenteslocais, ao mesmo tempo, e ainda inovar. Porexemplo, a Siemens investe atualmente cercade 40 milhões de euros em um centro de de-senvolvimento e pesquisa perto de Moscou.Ele será parte do Parque de Inovação Skolkovo.

e onde é destruída. E, finalmente, determinamo local de nascimento da próxima grande ideiaque impulsionará a economia global em seuprocesso contínuo de destruição criativa.

O efeito geral desses pequenos passos é tãogrande, que a economia global está constante-mente mudando o seu aspecto. Quem poderiaprever o rápido crescimento da China há 30anos? Ou o colapso da União Soviética? Equem poderia imaginar que grande parte dosetor de produção em massa migraria dos paí-ses da Europa e dos Estados Unidos para aÁsia? Ou que as pessoas, hoje, usariam a inter-

net para realizar operações logísticas – incluin-do pedir uma pizza – de maneira rápida e efi-caz?

Está claro que a estrutura da economia glo-bal está passando por grandes mudanças”, afir-ma Dr. Tom Kirchmaier, do Grupo de MercadosFinanceiros da London School of Economics(LSE). “No futuro, setores convencionais da in-dústria, primeiro, vão crescer nos mercadosemergentes de hoje. Para países altamente de-senvolvidos, isso significa que eles terão quegerar ainda mais inovações para conseguiremcrescer.”

Devido à sua organização global, empresasmultinacionais de tecnologia, como a Sie-mens, podem se beneficiar dessas tendências.Em países desenvolvidos, essas empresas in-vestem de maneira seletiva em setores da eco-nomia de alta qualidade, bem como em proje-tos de pesquisa e de inovação. Um exemplo é aprodução de sua turbina a gás em Charlotte,Carolina do Norte.

Empresas globais também têm como carac-terística criar unidades em países em desenvol-vimento e mercados emergentes. Além depreencher funções importantes de fornecedo-res, essas plantas atendem às necessidadesdos mercados locais. Redes de produção e defabricação estão sendo fortalecidas e desen-volvidas no mundo inteiro para lidar com acrescente complexidade. A importância da pro-dução para economias nacionais é enfatizadapelo professor Dani Rodrik, economista da Har-vard University, que diz que “a fabricação cria

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A economia global está mudando, mas uma de suas regras fundamentais aindase aplica: a inovação faz a prosperidade possível e duradoura.

A Nova Economia GlobalA Economia do Futuro | Tendências

A economia global está se transformandoem processo que os economistas chamam dedestruição criativa. A inovação tem trazido no-vos modelos de negócios e tornado os antigosredundantes. A maioria dessas mudanças malsão notadas, porque consistem em melhoriaspequenas nos métodos de produção, sistemasde transporte mais rápidos ou mais eficazes esistemas de comunicação cada vez melhores.Mas quando examinados como um conjunto,esses passos apontam tendências.

Elas exercem uma influência sobre o lugaronde os produtos são fabricados, a maneiracomo são feitos e por quem são consumidos.Também definem onde a prosperidade é criada

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çou e as inovações necessárias estão sendo de-senvolvidas por especialistas altamente qualifi-cados.

Criando Clima para Novas Ideias. Os fun-cionários talentosos de amanhã são o maiorbem de uma empresa. Engenheiros bem trei-nados se tornaram escassos no mundo inteiro.Apesar do crescente valor de mercado dessesindivíduos, as pressões que eles enfrentamtambém aumentam. Muitas dessas posiçõescobram um preço pessoal na forma de excessode trabalho e de exaustão, podendo levar à es-tafa. Há também uma dimensão econômicapara esse desenvolvimento. Muito trabalho eestresse no escritório diminuem o desempe-nho individual e fazem com que eles faltem aotrabalho. O Hamburg Institute of InternationalEconomics estima que o resultado é de perdasde cerca de 364 bilhões de euros, só na Alema-nha, ou um sexto do PIB local.

Esse é o motivo pelo qual as empresas es-tão concentradas não só em fazer o melhordas habilidades de seus empregados, mas tam-bém em assegurar que essas habilidades sejammantidas em alto nível. Como resultado, o tra-balho será provavelmente organizado de ma-neira diferente, no futuro. Peritos estimam quehaverá mais trabalhos por projetos, mais em-pregos freelance e mais liberdade, mas tam-bém mais responsabilidade individual. As em-presas criarão um ambiente em que será maisfácil colocar em prática novas ideias e inova-ções do que sistemas hierárquicos. O resultadopode ser uma inundação de ideias que fará aeconomia global explodir.

Em 1926, o economista russo Nikolai Kon-dratiev formulou uma teoria, segundo a qual aeconomia se desenvolve em ciclos de décadasou em ondas que vão de um período de inova-ção tecnológica ao outro. Tal mudança de pa-radigmas abre novas oportunidades e amplia aeficiência, aumentando a prosperidade. Infeliz-mente, também há períodos de transição e deespera em que ajustes dolorosos precisam serfeitos. “Há indicadores de que estamos nomeio de uma transformação desse tipo”, afir-ma Tom Kirchmaier. “Empresas pequenas eágeis estão aparecendo nos antigos centros daindústria pesada da América do Norte. En-quanto o pai pode ter ficado na linha de produ-ção, em Detroit, seu filho, agora, programaaplicativos de uso global.” A economia globalestá mudando e possibilitando novas históriasde sucesso. Essas são histórias para nações in-teiras, bem como para empresas individuais epessoas. Elas podem ser encontradas em locaiscomo Adjuntitas Dos, no México, ou na antigaárea industrial de Detroit. Nos dois casos,aconteceram graças às inovações que chega-ram a seu tempo.

Andreas Kleinschmidt

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O governo russo deverá investir no projeto cer-ca de US$ 2,8 bilhões, nos primeiros três anos.

Um dos objetivos de longo prazo da Sie-mens é o de investir em mercados emergentespara aumentar o número de produtosS.M.A.R.T. em seu portfólio global. Nesse con-texto, a abreviação S.M.A.R.T. quer dizer sim-ples, de fácil manutenção, acessível, confiávele em tempo adequado para o mercado. Ouseja, pertinentes a segmentos específicos domercado (veja Pictures of the Future, Outono2010, p. 56).

Tais produtos incluem o escâner de tomo-grafia computadorizada (CT) SOMATOM Spirit.Com preço relativamente baixo, o escâner vaipermitir que muitos hospitais façam CT pelaprimeira vez. Em países como a China, ele vaibeneficiar pessoas com dificuldade de acesso ahospitais, por exemplo, em áreas rurais. Atéagora, os hospitais nesses lugares, raramente,eram equipados a esse nível. O crescimentoeconômico e as inovações possibilitam, assim,a milhões de pessoas acesso a cuidados médi-cos de alta qualidade.

Em Chiapas, o estado mais pobre do Méxi-co, a Siemens forneceu 44 sistemas de ultras-som a hospitais, o que ajudou a reduzir a mor-talidade infantil local em cinco por cento, nosúltimos dois anos. Os habitantes da vila de Ad-juntitas Dos, no estado mexicano de Queréta-ro, viram sua qualidade de vida melhorar pordiferentes razões. Em 2011, a Siemens insta-lou painéis solares descentralizados na cidadepara que os habitantes pudessem ter energiaelétrica sem interrupção. Como resultado, ascrianças acham mais fácil fazer seus deveres

de casa à noite, e a melhor educação os ajudaa melhorar as suas possibilidades de saláriosmelhores, no futuro.

Globalização Controlada. Histórias comoessa dão esperança para o futuro. No entanto,o mundo ainda enfrenta disparidades na distri-buição de riquezas. Apesar do constante cres-cimento da prosperidade, a distância entre ri-cos e pobres também aumenta. Cada vez maispessoas encontram uma saída da pobreza, aomesmo tempo em que cada vez mais pessoas,devido à alta taxa de natalidade em países emdesenvolvimento, nascem em relativa pobre-za. Como a economia mundial deveria funcio-nar para reduzir tais disparidades? Precisamosde mais ou de menos globalização?

Talvez a pergunta deveria ser diferente,uma vez que o problema pode não ser o nívelde globalização, mas os métodos de regulari-zá-la para maximizar suas vantagens e minimi-zar suas desvantagens. A recente crise finan-ceira mostrou os riscos de regulações insu-ficientes e como a dinâmica inerente de siste-mas complexos pode colocar o mundo de ca-beça para baixo, de maneira imprevisível enuma velocidade inesperada.

“Estamos começando a entender as desvan-tagens de um processo de globalização quenão seja bem controlado, como os problemasque ele pode trazer ao mercado financeiro.Embora os mercados sejam muito importan-tes, às vezes, os governos precisam recolocá-los nos trilhos. O mercado financeiro, em parti-cular, é instável, por natureza”, afirma Rodrik.

Até que as mais sérias consequências da cri-se fiquem para trás, confiança e parcerias for-tes serão indispensáveis ao lidar com questõesfinanceiras. A Siemens responde a esse desa-fio, oferecendo soluções financeiras para cadacaso. Muito disso vai depender da capacidadedas organizações reguladoras de criarem re-gras para os processos econômicos. Se isso forpossível, os mercados emergentes poderãoatingir um crescimento mais sustentável e me-nos suscetível a crises. Ao mesmo tempo, na-ções ricas devem encontrar maneiras de conti-nuarem prósperas mesmo com a redução dapopulação.

A inovação continua sendo a chave maisimportante para o sucesso em nações alta-mente desenvolvidas e em mercados emer-gentes. Durante a Revolução Industrial, tearesa vapor atingiram eficiência inacreditável.Hoje, um potencial de produtividade similarpode ser explorado através de melhor acesso aredes globais por computadores, comunicaçãoe tecnologias de internet. A produtividade po-deria também ser aumentada ao reestruturar aenergia global e os sistemas econômicos paramelhor proteger o ambiente e conservar os re-cursos. Esse desenvolvimento apenas come-

A produção e a inovação estão crescendo em países

como o Brasil, a Rússia, a Índia e a China.

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Empresas que desejam implantar grandesprojetos de infraestrutura, como usinas de

energia elétrica, aeroportos ou hospitais preci-sam de nervos de aço, além de solidez finan-ceira e de um de parceiro confiável. Um exem-plo é o plano de uma usina de ciclo combinadoa gás e a vapor, na Bélgica, que começou, em2005, com o estabelecimento de uma novaempresa de projetos da Siemens Financial Ser-vices, a Tessenderlo Chemie, naquele país, ede uma empresa de desenvolvimento de proje-tos. Um consórcio de 10 bancos cuidou da par-te financeira, e a nova joint-venture recebeu aprimeira licença privada para geração de ener-gia, emitida pelo governo belga.

Contudo, apesar dos sólidos pilares nosquais se apoiava, o projeto encontrou dificul-dades. “Quando a construção começou, a crisefinanceira eclodiu”, lembra Hans-JoachimSchulz, da unidade SFS Project & Structured Fi-nance Energy. Mesmo assim, a construçãocontinuou sem atrasos e nenhum dos parcei-ros de projeto ou da área financeira abando-nou o barco. O motivo, como explica Schulz,foi que “estávamos no lugar certo e na horacerta, pois o governo belga queria estimular acompetitividade no setor de geração de ener-gia.” Tão importante quanto isso foi o fato de aSiemens ingressar no projeto de 440 milhõesde euros com 33% de capital próprio. “Traba-lhamos há mais de 20 anos com parceiros in-ternacionais e ganhamos a reputação de ser-mos absolutamente confiáveis”, afirma Schulz.

A usina de 430 MW a ciclo combinado co-meçou a funcionar pontualmente, em julho de2011. Com nível de eficiência de mais de 58%,ela é uma das mais modernas e eficientes daEuropa. A Siemens Energy foi responsável pelaconstrução e forneceu os principais compo-nentes, incluindo uma turbina de gás, uma tur-bina de vapor e um gerador. A Tessenderlo usacerca de metade da eletricidade gerada paraprocessos intensivos de manufatura na usinavizinha, o resto vai para a rede elétrica.

A usina é um perfeito exemplo de como aSiemens Financial Services lida com projetosde infraestrutura de larga escala envolvendojoint-ventures”, comenta Schulz. A SFS sempretrabalha com parceiros locais confiáveis paraassegurar que condições e exigências comoaprovações e a participação de comunidadesvizinhas sejam consideradas no planejamento.

Esse também é o caso do parque eólicooffshore, em construção no litoral leste do Rei-no Unido, em Lincs (veja Pictures of the Future,Primavera 2010, pág. 81).

A Siemens também é parceira financeirano projeto, além de fornecer turbinas e tecno-logias de conexão em rede. “Em projetos des-sa envergadura, trabalhamos com parceirospor anos”, afirma Schulz. Constantemente, aSiemens está ligada a projetos de longo prazo

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por meio de contratos de serviço e manuten-ção.

Modernização e Economia. A Siemens tam-bém se compromete em longo prazo para o fi-nanciamento e a modernização de sistemas deenergia. Nesse sentido, frequentemente, pré-dios de escritórios, hospitais, escolas e univer-sidades sofrem com impasses de investimento.Ciente disso, em 1996, a cidade de Berlim esta-beleceu uma parceria com a Siemens para au-mentar a eficiência energética de 200 edifíciospúblicos. Em vez de depender de novos fun-dos, o projeto foi financiado por um contratode desempenho. A Siemens identificou o po-tencial de economia associado aos custos ope-racionais de energia e de construção e imple-mentou medidas de modernização (vejaPictures of the Future, Outono 2009, pág. 60).A cidade de Berlim paga pela modernizaçãocom a economia, garantida pelo contrato. As-sim, vários prédios foram equipados com onovo sistema de aquecimento, de ventilação ede ar condicionado e o sistema de gerencia-mento dessas operações foi centralizado.

Berlim não é exceção. Em projetos seme-lhantes, a Siemens modernizou 4.500 edifí-cios no mundo todo. O resultado foi uma eco-nomia de mais de 1 bilhão de euros e aredução das emissões de CO2 em 9,7 milhõesde toneladas.

Além disso, a SFS cuida de riscos segurá-veis, entre outros, aqueles associados a novastecnologias que as seguradoras só garantemcom limitações. Por exemplo, a empresa mon-tou um conceito de seguro para a mais podero-sa usina a gás a ciclo combinado em Irsching,

Alemanha, que foi desenvolvida e construídapela Siemens. Conforme afirma o líder de ge-renciamento de produtos de turbinas a gásWillibald Fischer: “seguro para um projeto des-sa importância é vital. Além de riscos normais,como falhas no cumprimento do prazo e aci-dentes de construção, as tecnologias inovado-ras também precisam ser asseguradas. Foi oenvolvimento da SFS na fase inicial que garan-tiu a cobertura de seguro.”

A Siemens também apoia parceiros a finan-ciarem maquinário. Por exemplo, a aquisiçãoda DeltaLeasing, empresa do setor financeiro,sediada em Vladivostok na Rússia, pela SFS,trouxe a cobertura nacional com uma rede de15 escritórios no país. Um deles fica em Sama-ra, terceiro maior centro industrial do país. Lá,a ServiceMontageIntegratsiya (SMI), com suamatriz em Kazan, comprou novas máquinas deprocessamento metalúrgico, no valor de 1,36milhão de euros, da Siemens Finance Russia,por meio de um contrato de leasing. “Cada vezmais, as empresas na Rússia estão exigindoserviços de experientes parceiros financeiros”,afirma Oleg Rakitsky, líder da unidade de fi-nanças comerciais da SFS, na Rússia.

Seja em projetos de infraestrutura de gran-de escala, como usinas e aeroportos, ou namodernização de instalações industriais, a Sie-mens Financial Services está ajudando a impul-sionar os desenvolvimentos não só em merca-dos estabelecidos, como também naquelesque ainda estão em desenvolvimento. A SFSmontou uma empresa de serviços financeirosna Índia, por exemplo, que ajudará empresasprivadas e investidores públicos a financiaremprojetos. Katrin Nikolaus

A Siemens Financial Services sabe como os investimentos po-dem ser lucrativos, mesmo numa crise. Ela assessora grandesprojetos em mercados financeiros voláteis no mundo todo.

Parcerias SólidasA Economia do Futuro | Financiamento de Projetos

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A demanda do Brasil por energia torna seus engenheiros mais criativos. As inovações tecnológicas estão aumentando a eficiência e a estabilidade do fornecimento energético. Com o apoio da Siemens,o país utiliza fontes energéticas não convencionais nas lavouras e abaixo do fundo oceânico.

Em 2009, São Paulo enfrentou um apagão de seis

horas. Uma forma de atender à demanda crescente

de energia é gerar eletricidade a partir da cana de

açúcar (pág. à dir.).

Ulisses Cândido da Silva Júnior contempla omar ao seu redor. As colinas do norte do

Paraná erguem-se como ondas e declinam sua-vemente na distância até onde o olhar alcança.Cândido administra a Usina Açucareira SantoInácio, uma das cinco unidades de produçãodo Grupo Alto Alegre. Ele enxuga o suor da tes-ta e diz: “A safra começou e logo serão entre-gues toneladas de cana-de-açúcar”. Na usinaque administra, a cana será convertida em açú-car não refinado e em álcool, utilizado atual-mente nos motores da maioria dos automóveisdo Brasil. Mais da metade da cana-de-açúcarproduzida no Brasil é transformada no álcoolque abastece os postos brasileiros (vide Pictu-res of the Future, primavera de 2009, pág. 90).

A Alto Alegre é uma empresa familiar, tradi-cional entre as usinas de açúcar do Brasil. Po-rém, as mudanças ocorrem num ritmo aluci-nante; empresas de energia internacionaisrealizam aquisições no mercado e constroemunidades de produção maiores e mais eficien-tes, usando cada vez mais a automação e ou-tras tecnologias de ponta. Cândido da Silvaaponta para a outra margem do rio Paranapa-nema, que divide os Estados de Paraná e SãoPaulo. Alguns quilômetros adiante, veem-se os

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contornos de outra usina de açúcar. “Foi adqui-rida recentemente por uma empresa norue-guesa. Se não expandirmos, este também seráo nosso destino”, garante.

A viabilidade de se produzir enormes quan-tidades de combustível a partir de culturasagrícolas causa controvérsias. Mas uma coisa écerta: O Brasil produz biocombustíveis de for-ma mais eficiente que em qualquer outro lugardo mundo – devido aos métodos eficientes deprodução e ao sol escaldante. Porém, compa-rações com outros países sugerem que a cana-de-açúcar sozinha não irá conseguir saciar ademanda crescente de energia do país. Os ci-dadãos dos EUA consomem seis vezes maisenergia que os brasileiros.

Apagão de seis Horas. Porém, o Brasil está al-cançando a demanda dos EUA. A prosperidadee as demandas da classe média crescente (cer-ca de metade da população) aumentam cons-tantemente. Os analistas preveem que a de-manda dos mercados emergentes aumentarácerca de um ponto percentual em relação àtaxa de crescimento econômico. A economiabrasileira cresceu 7,5% em 2010, enquanto ademanda de energia elétrica cresceu pouco

mais 8%. A matriz elétrica já está sobrecarrega-da e a capacidade de produção insuficiente,gera os apagões.

Por exemplo, em 2009, um apagão paralisouSão Paulo seis horas, gerando um prejuízo eco-nômico de 2,5 bilhões de dólares, segundo es-timativas de Gilberto Schaefer, da SiemensEnergy no Brasil. No ano seguinte, faltou luzparcialmente em 8 estados do Nordeste. É evi-dente que as 333 usinas de São Paulo e do Pa-raná poderiam ajudar a evitar os apagões. Alémde açúcar e álcool, elas poderiam gerar energiaelétrica, o que a usina Santo Inácio já faz.

Este é um exemplo perfeito do uso eficientedos recursos. Tudo começa com a produção deaçúcar propriamente dita. A cana-de-açúcar écortada, talhada e esmagada percorrendo váriasetapas. Antigamente os resíduos, denominados“bagaço”, eram considerados lixo e queimadosao ar livre. Porém, isto já não acontece mais.“Não podemos mais desperdiçar os caules dacana-de-açúcar”, afirma Cândido, apontandopara um monte de bagaço da altura de umacasa, e ainda acrescenta: “Atualmente, queima-mos estes resíduos de uma forma controladae, com a instalação de duas turbinas a vaporde 35 megawatts, geramos eletricidade com a

Açúcar, Petróleo e CriatividadeA Economia do Futuro | Pesquisa no Brasil

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de da rede. Os primeiros MSCs da Siemens jáoperam desde 2011, perto de Curitiba. OsMSCs são outro exemplo de produtosS.M.A.R.T. (simples, de fácil manutenção, aces-síveis, confiáveis e disponíveis comercialmenteem tempo hábil), uma vez que são acessíveis ede produção local, adaptados às necessidadesdos segmentos básicos de mercado. Estes pro-dutos vêm sendo desenvolvidos em mercadosemergentes (veja Pictures ofthe Future, primavera de2011, pág. 56).

Os especialistas da Sie-mens Corporate Technologyna Alemanha otimizaram osMSCs, lidando, agora, compotências nominais maioressem ter aumentado o tamanho dos capacito-res. E a Siemens Consultoria Gerencial formu-lou um plano de negócios para a produção,venda e distribuição dos MSCs, além de desen-volver o cronograma do projeto. “Vamos admi-nistrar todas as transações internacionais des-te produto, daqui do Brasil”, afirma Tibúrcio.

Já foram recebidos vários pedidos de expor-tação. A fábrica de capacitores elétricos do Bra-sil foi estabelecida como fornecedora mundial

vida a bagaço de cana já seria ótimo, o que di-zer de uma rede de usinas? Uma configuraçãodeste tipo, denominada usina virtual, vem sen-do analisada pelos engenheiros da Siemens.“Se transformarmos mais usinas de açúcar deSão Paulo em geradoras de energia, conectan-do-às à matriz, poderíamos agregar outros 4,5gigawatts”, afirma Schaefer. Como compara-ção, a demanda de energia elétrica do Estadode São Paulo é de cerca de 30 gigawatts.

O agrupamento de usinas pequenas apre-senta vantagens. A maioria das usinas de açú-car produz apenas 30 megawatts, portanto, osinvestimentos necessários para ligá-las à ma-triz seriam desproporcionalmente elevados secada uma arcasse com estes custos individual-mente.

Porém, se as usinas vizinhas estivessem in-terligadas por redes menores, os custos de in-terligação à rede de cada usina seriam meno-res. “Se integrarmos na matriz também usinastermelétricas a gás natural de pequeno porte eflexíveis, além de pequenas hidrelétricas, po-deríamos elevar a quantidade de energia gera-da com fontes renováveis para 9 gigawatts,aproximando da energia consumida em SãoPaulo”, acrescenta Schaefer. Com isto, a possi-

Porém, estes riscos, mais os custos de inspe-ção manual de cada transformador em interva-los fixos, vêm sendo reduzidos com rapidez. Osclientes da Siemens atualmente contam com omonitoramento automático de transformado-res, dia e noite. Por exemplo, as aferições detemperatura e de saída são enviadas por Inter-net a um servidor, e a análise destes dados éencaminhada ao cliente duas vezes por dia, por

fax ou e-mail. “Somos um pronto-socorro detransformadores”, garante Scaquetti. “Podemosrecomendar que os clientes mantenham ostransformadores ativos por mais tempo que oplanejado, caso estejam em boas condições.Ou podemos alertá-los para o fato de que, senão for tomada uma providência urgente, ha-verá problemas nos próximos 30 dias”. Atual-mente, esta solução é utilizada no monitora-mento de mais de 120 transformadores. O fato

qual podemos ainda retroalimentar a matrizenergética. Com este processo faturamos oequivalente a R$ 170 por megawatt/hora”. Issocorresponde a cerca de 80 euros.

Com as receitas geradas, o investimentoinicial com equipamentos de energia teve umretorno no espaço de dois anos. A Siemens for-neceu a maior parte dos equipamentos neces-sários, incluindo uma subestação, um conver-sor de frequência e a automação da produçãode açúcar e álcool. Além disso, desenvolveuuma turbina a vapor, muito utilizada no Brasil,especialmente para esta aplicação em usinasde açúcar. Assim, tornou-se possível a reduçãodo preço da turbina em 30% em comparaçãocom modelos alternativos (veja Pictures of theFuture, primavera de 2009, pág. 88).

Usinas Termelétricas a Bagaço de Canaem São Paulo. Se uma usina termelétrica mo-

bilidade de apagões por sobrecarga do siste-ma, como o de 2009, estaria praticamentedescartada.

Na cidade de Jundiaí, Carlos Tibúrcio, fun-cionário da Siemens Energy, trabalha com outra ideia para estabilizar as matrizes energé-ticas do Brasil e de outros mercados emergen-tes. “Claro que podemos ampliar a matriz deenergia elétrica, só que isto leva tempo, alémde ser muito caro”, explica Tibúrcio.

Sua alternativa mais econômica envolve ca-pacitores de alternância mecânica (MSCs), istoé, um gabinete com muitos capacitores. Ao se-rem ligados e desligados de forma mecânica ealternada, estes capacitores conseguem absor-ver ou liberar a energia num piscar de olhos.Ou seja, os capacitores funcionariam comoamplificadores de tensão. Assim, os MSCscompensariam as flutuações de forma rápida,antes que estas comprometessem a estabilida-

de capacitores de alta tensão para os projetosda Siemens. Ou seja, os MSCs são uma inova-ção brasileira que está conquistando o merca-do mundial.

Explosões Perigosas. Os colegas de Schaeferem Jundiaí também ajudam tornar o forneci-mento de energia mais eficiente no Brasil. Aproposta deles prevê o prolongamento da vidaútil dos transformadores, reduzindo os custosde manutenção. “No Brasil, as empresas deenergia precisam investir muito em novas usi-nas. Portanto, se for possível cortar os custos demanutenção e minimizar as falhas dos trans-formadores, haverá mais investimento emenergias renováveis”, afirma David Scaquettida Siemens Energy. “É raro um transformadordanificar, mas uma falha pode ser vital”, acres-centa Scaquetti. Pode haver queda de energia,ou mesmo explosões perigosas, afirma.

Os clientes da Siemens podem monitorar seus transformadores deforma automática dia e noite.

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Professor Brito Cruz, 55, édesde 2005 diretor científi-co da Fundação de Amparoà Pesquisa do Estado de SãoPaulo (Fapesp), que promo-ve a inovação e a pesquisa edesenvolvimento no Estadode São Paulo. De 2002 a2005, ele presidiu a reno-mada Universidade de Cam-pinas (Unicamp), onde fezpós-doutorado em física.Antes, formou-se no Institu-to Tecnológico de Aeronáu-tica (ITA). Cruz trabalhou emvárias instituições de pes-quisa, incluindo os Labora-tórios Bell da AT&T em Nova Jersey.

Innovation: The Key to Generating A economia brasileira cresceu 7,5% em2010. Se mantiver o ritmo, em vinteanos, o país poderá se tornar uma dascinco maiores economias do mundo .Atualmente, o Brasil exporta principal-mente matéria-prima. Qual é o papel dapesquisa e do desenvolvimento na eco-nomia brasileira?Cruz: Infelizmente, eles detêm um papel pe-queno. As universidades fazem um bom traba-lho. Atualmente, cerca de 12 mil doutores seformam no Brasil, todos os anos. Além disso,os pesquisadores brasileiros editam cerca de30 mil artigos em publicações internacionais.Um setor problemático é o da criação e da uti-lização comercial de inovações relevantes. Odiálogo entre as comunidades acadêmica eempresarial é insuficiente e, infelizmente,muitas possibilidades não são exploradas,como deveriam. As empresas e as universida-des precisam dialogar mais e de forma estru-turada.Silva: Concordo. Não resta dúvida de que nós,brasileiros, somos inovadores. Basta olhar, porexemplo, os setores de fontes renováveis deenergia ou de aviação. Nosso trabalho nessasáreas com certeza é de categoria internacio-nal. Porém, temos muita dificuldade em trans-formar as inovações em produtos satisfatórios.Isso se deve, em parte, às condições enfrenta-das pelos empresários. Por exemplo, o Brasil fi-cou em 127º no índice de “Ease of Doing Busi-ness” do Banco Mundial, em 2010, entre ospaíses Moçambique e a Tanzânia. Os empresá-rios precisam cumprir normas, proibições eobrigações excessivas. Os empresários cha-mam-nas de “custo Brasil”.

Por que é tão difícil transformar ideias emprodutos inovadores, no Brasil?Cruz: Isso está relacionado à nossa história.Até a década de 1980, a principal meta econô-mica era substituir as importações caríssimaspor produtos locais. As altas tarifas e barreirasde importação diminuíram a concorrência en-

A Economia do Futuro | Entrevista

tre os produtos locais, facilitando a manuten-ção de sua posição de mercado. Infelizmente,isso proporcionou o sucesso de inúmeros pro-dutos brasileiros de baixa qualidade. Essa ati-tude não foi uma boa receita de qualidade,nem estimulou a inovação. A década de 1980iniciou um período de grande incerteza econô-mica, com o disparo da inflação. Naquela épo-ca, era mais vantagem contratar um contadoresperto e hábil no fluxo de caixa do que umengenheiro inovador. Somente agora, muitasempresas aos poucos estão descobrindo a im-portância da inovação.Silva: Além disso, há obstáculos concretos.Esses incluem o fato de muitas empresas dete-rem tecnologias inovadoras e planos de negó-cios viáveis, mas não terem acesso ao capitalnecessário. Esse problema é exacerbado aindamais pelas taxas de juros extremamente altas.Para piorar, os empresários, cujas ideias de ne-gócios fracassam, muitas vezes não têm umasegunda oportunidade no Brasil. Em compara-ção, nos EUA, se você falha, as pessoas não oconsideram um perdedor, mas acreditam quevocê tenha acumulado uma experiência im-portante. A atitude de muitos brasileiros, es-pecialmente os mais jovens, é problemática.Muitos deles consideram melhor conseguirum emprego público estável do que montaruma empresa. As inovações começam pelamentalidade.

Que tipo de problemas o senhor enfren-tou para fundar empresas no Brasil?Ozires Silva: Recentemente, tentamos fundaruma nova empresa de creme dermatológico eaplicações farmacêuticas à base de látex. Em2002, dois pesquisadores de uma universida-de de São Paulo entraram em contato comigoe contaram que o látex contém proteínas, quedesaceleram o envelhecimento da pele, apres-sando a cicatrização de feridas. Apesar de ter-mos patentes internacionais, os bancos se re-cusaram a conceder crédito. Então, eu e meusamigos juntamos nossas economias e fomos

de ter sido desenvolvida no Brasil não é meracoincidência, afirma. As empresas de energiaprecisam operar no país de forma muito maiseconômica que nos EUA ou na Europa. Portan-to, têm um interesse muito maior em aprovei-tar todas as oportunidades de redução de cus-tos – sem comprometer a segurança. Cada vez

mais brasileiros concordam que o uso cuidado-so dos recursos é fundamental para o desenvol-vimento econômico do país. A sustentabilidadese tornou um termo da moda, empregado porum número cada vez maior de políticos (videPictures of the Future, outono de 2010, pág.47). Porém, desde a descoberta, em 2007, de

novas reservas de petróleo, o Brasil precisa lidartambém com a fartura. No litoral do Rio de Ja-neiro, o campo petrolífero Tupi pode abrigar até8 bilhões de barris de petróleo. Porém, o petró-leo encontra-se nas profundezas: por vezes,mais de 5 quilômetros abaixo do fundo oceâni-co. Alcançar estas jazidas significa perfurar vá-

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More Value in Brazil

Professor Ozires Silva, 81,é presidente da Unimonte,renomada universidade pri-vada do Estado de São Pau-lo. Ajudou a fundar a Em-braer, fábrica brasileira deaviões que há décadas cons-titui um sucesso internacio-nal. Silva presidiu o conse-lho de administração daPetrobrás e da companhiaaérea VARIG. Foi tambémMinistro da Infraestruturado Brasil. Silva se formouem engenharia aeronáuticano Instituto Tecnológico deAeronáutica e foi piloto daForça Aérea Brasileira por 4 anos.

conversar com investidores dos EUA. A falta defundos é uma dificuldade para a empresa.Cruz: Aos 19 anos, fundei minha própria mi-croempresa. Eu e meus parceiros fomos pio-neiros na fabricação industrial de lasers noBrasil e até vendemos algumas unidades. Emparte, aquilo era um passatempo, e eu desistiquando comecei a estudar. Porém, faturei osuficiente, como estudante, para comprar umcarro. Se o cenário econômico fosse diferente,eu poderia ter tentado uma carreira de em-preendedor, em vez de ser um acadêmico.

O que o Brasil poderia fazer para ser umpaís mais inovador?Cruz: Há várias medidas que poderiam ser to-madas. Poderíamos avaliar a possibilidade desubsídios e incentivos fiscais localizados. Istopoderia apoiar um pouco as empresas brasilei-ras com subsídios para se estabelecerem emáreas com vantagem competitiva. Por exem-plo, o uso comercial da biodiversidade da re-gião amazônica pelo setor farmacêutico. Ou-tras possibilidades incluem o desenvolvimentode tecnologias inovadoras que trariam avan-ços no setor de bioenergia ou tornariam a ex-ploração de petróleo em alto mar mais eficien-te. O mesmo se aplica aos incentivos fiscais,que facilitariam os investimentos das empre-sas em inovação.Silva: A escola de aeronáutica em que estudeié um exemplo de como o governo pode inves-tir na educação. Sem aquela escola e todos osque ela formou, jamais teríamos conseguidofundar a Embraer, atualmente uma das em-presas brasileiras de maior sucesso. Não obs-tante, é preciso descer à raiz do problema eaprimorar a educação em geral, do ensinofundamental até o universitário. Por exemplo,não há professores nem estudantes estrangei-ros suficientes no país. Durante anos, as facul-dades brasileiras eram proibidas de contratarprofessores estrangeiros. Esta foi uma dasconsequências da nossa mentalidade protecio-nista.

Qual é o papel das grandes multinacio-nais na pesquisa e desenvolvimento, noBrasil?Cruz: Muitas vezes, as empresas estrangeirasentram no país com a sua cultura de inovação,servindo de modelo às empresas brasileiras.Também o fazem demonstrando de que formaos investimentos em inovação podem gerarlucros. A cultura de inovação pode ser apren-dida, por exemplo, quando as empresas inter-nacionais cooperam com fornecedores locaisou quando os funcionários mudam de empre-go e trazem conhecimentos informais aos no-vos postos. Mais da metade de todo o investi-mento em pesquisa e desenvolvimento noBrasil vem de empresas internacionais como,por exemplo, a Siemens.Silva: Também temos que criar as nossas pró-prias empresas inovadoras que triunfem nosmercados mundiais. E não apenas empresasde extração e exportação de matérias primas.Precisamos gerar mais valor agregado ao país,o que é absolutamente impossível sem haverinovação.

Após o sucesso com a Embraer, empresafabricante de aviões , em que setor o se-nhor acredita que o Brasil poderá triun-far?Silva: Isso provavelmente ocorrerá nas áreasde informática e saúde. Seria ótimo se o paíspudesse aproveitar melhor nossa rica biodiver-sidade.

Que cidade é melhor para realizar pesqui-sa: São Paulo ou Rio de Janeiro?Cruz: O Rio é uma das cidades mais lindas domundo, além disso, é onde eu nasci. No Brasil,costumamos dizer que quem mora no Rio tra-balha pensando na hora de folga. E quemmora São Paulo pensa no trabalho durante ashoras de folga. Mas ambas as cidades são im-portantes centros de inovação que se comple-mentam.

Entrevista de Andreas Kleinschmidt

rias camadas de rocha, além de uma camadacorrosiva de sal – um desafio para os engenhei-ros inovadores. Assim, o Rio de Janeiro está seconvertendo num centro mundial de pesquisade tecnologias de recuperação de petróleo comequipamentos de perfuração em alta profundi-dade no fundo do mar (vide pág. 109).

A empresa irá inaugurar em 2012 um cen-tro de pesquisa e desenvolvimento próprio, es-pecializado nesta área, no Parque Tecnológicodo Rio de Janeiro, na ilha do Fundão, em meioà baia da Guanabara. O professor Segen Este-fen já tem seu gabinete na ilha. Ele dirige aCOPPETEC, filial privada da Universidade Fede-

ral do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre outras coi-sas, a COPPETEC intermedeia projetos entreempresas privadas e a universidade, sendo amola propulsora do parque tecnológico. “O pe-tróleo abre um novo caminho”, Estefen afirma.“Porém, precisamos explorar todas as trilhasdeste caminho. Precisamos abordar as tecnolo-

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Ofundo do mar é um lugar remoto e hostil,gelado e escuro. Caranguejos cegos se

movem no fundo oceânico e peixes estranhosflutuam na água milhares de metros abaixo dasuperfície. Nessa profundidade, a pressão éimensa de centenas de bares. De forma lenta edeterminada, a humanidade avança nestes do-mínios considerando que, talvez o fundo oceâ-nico abrigue imensas reservas de petróleo egás natural. A Agência Internacional de Ener-gia estima que a demanda mundial de energiaaumentará 30% até 2035, principalmente de-vido ao progresso na China e em outros merca-dos emergentes. É improvável que só as fontesrenováveis consigam suprir essa demanda.

Ao passo que as reservas de petróleo e gásescasseiam em terra firme, o interesse pelofundo do mar aumenta continuamente. Em2007, 1,4 bilhão de toneladas de petróleo foibombeada à superfície mundial por unidadesem alto mar, totalizando 37%, da produçãoanual total. O mesmo ocorre com o gás natu-ral. A maioria das instalações em alto mar ficaem águas rasas, com profundidade média infe-rior a cem metros. Porém, o setor de petróleo egás vem atuando em águas cada vez mais pro-fundas.

Além de mais seguros, os sistemas submarinos

são mais efetivos que os processos convencionais

de extração de petróleo e gás. Por exemplo, con-

seguem explorar vários poços simultaneamente.

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gias relacionadas à extração de petróleo paradesenvolvê-las ainda mais. A meta deve sertransformá-las em empreendimentos indepen-dentes no futuro. Por exemplo, precisamosampliar as fronteiras na área de tecnologia demateriais, de matrizes inteligentes e robótica”,declara o professor.

Desde a fundação do parque tecnológico, ointeresse por terrenos na área foi enorme.“Destinamos 10% da ilha para centros de pes-quisa empresarial”, informa Maurício Guedes,diretor do parque. “Isto representa um total de350.000 m2, mas logo tivemos mais interessa-dos do que espaço disponível”. Uma parte daárea está reservada para um edifício cujos espa-ços poderão ser alugados para empresas ino-vadoras. “Para assegurar um ambiente diversi-ficado e inovador, precisamos designar áreaspara projetos pequenos e grandes”, diz. A Sie-mens dedica-se a projetos grandes, não ape-nas no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil.

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento daSiemens no Rio de Janeiro. Até 2016, a Sie-mens investirá 600 milhões de dólares no país.Apenas o centro de pesquisa e desenvolvimen-to da empresa no Rio de Janeiro representa uminvestimento de US$ 50 milhões. O centro irágerar no mínimo 800 postos de trabalho, 150dos quais diretamente em pesquisa e desen-volvimento, nos próximos 3 anos. Alguns fun-cionários serão oriundos da Chemtech, umasubsidiária plena da Siemens. A Chemtech par-ticipa de projetos da Petrobras há vários anos,

tendo sido escolhida como empresa mais ino-vadora do Brasil em 2009 (veja pág. 111).

“Na Chemtech, temos ampla especializaçãoem desenvolvimento de aplicativos, no plane-jamento de refinarias e no fornecimento deequipamentos para projetos em alto mar”, afir-ma Daniel Moczydlower, presidente executivoda empresa. “Por exemplo, fornecemos siste-mas de instrumentação e monitoramento paraplataformas de petróleo”. Futuramente, suaequipe integrará uma rede internacional deinovação, cooperando com unidades da Sie-mens, como as da Noruega e de Houston(EUA), no desenvolvimento de soluções sub-marinas (vide pág. 108).

As perspectivas da Siemens no Brasil sãobrilhantes. Entretanto, será um desafio recru-tar o pessoal para estes novos projetos. Os sa-lários de pesquisadores e engenheiros vêm su-bindo constantemente, e no setor privado já écinco vezes superior ao salário dos doutoran-dos. Em vez de cursar um doutorado, muitosestudantes preferem entrar diretamente nomercado de trabalho.

Giovanni Fiorentino, presidente na AméricaLatina da empresa de consultoria Bain, diz oseguinte a respeito da concorrência por mãode obra qualificada no Rio de Janeiro: “É umenorme desafio, pois todos estão disputandoos mesmos recursos”. Ele não se refere ao açú-car e ao petróleo, mas sim a especialistas alta-mente qualificados – estão se tornando os re-cursos mais valiosos do Brasil.

Andreas Kleinschmidt

Boa Parte do Petróleo Brasileiro Localiza-se 5 kmabaixo do Fundo Oceânico

O campo Tupi, no Brasil (acima, dir.) abriga até 8 bi-

lhões de barris de petróleo. A extração exigirá novas

tecnologias. A Petrobras (abaixo, dir.) coopera com

outras empresas no desenvolvimento de soluções.

Oceano 0 m

Camada “pós-sal”

Camada de sal

Camada “pré-sal”

1.000 m

2.000 m

3.000 m

4.000 m

5.000 m

6.000 m

7000 m

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A Economia do Futuro | Produção de Petróleo e Gás

A maior parte das reservas submarinas ain-da é explorada à superfície. Os compressores ebombas, nas plataformas, extraem o petróleoe o gás, bombeando-os do fundo do mar à su-perfície, por quilômetros de dutos. Ao atingir asuperfície, o petróleo é refinado e processado.

No entanto, seria muito mais rentável e se-guro se os sistemas de extração estivesseminstalados não nas sondas de perfuração ounas plataformas, sujeitas a tempestades, masdiretamente no fundo oceânico. Além de per-mitir explorar reservas de forma mais fácil,bombas e compressores mais próximos dos po-ços também permitiriam refinar e processar amescla de petróleo, areia e água na origem.

Tais instalações submarinas requerem me-nos tecnologia de extração que as plataformasde superfície e podem suprir áreas maiores. Asplataformas oceânicas extraem combustívelnum raio limitado. Porém, se todas as bombasfossem instaladas no fundo do mar, seria pos-sível bombear óleo de vários poços a partir deum sistema central de extração, num amploraio, e logo bombear o óleo até a superfície.Isso reduziria o número de estações de bom-beamento, diminuindo o risco de derrama-mento. Atualmente, o processamento de pe-

tróleo e gás em águas profundas gera um fatu-ramento superior a US$ 20 bilhões. A Siemenscrê que esse mercado possa dobrar, até 2020.

Uma Rede Elétrica para o Fundo Oceânico.“Como especialistas em fornecimento e trans-missão de energia, estamos criando um siste-ma submarino de energia para permitir o con-trole e o fornecimento de eletricidade paraequipamentos de processamento submarino”,afirma Atle Strømme, vice-presidente e diretorde soluções submarinas da Siemens Energia.

A Siemens ainda planeja desenvolver com-pressores próprios para águas profundas. Numsistema de energia assim, os dispositivos elétri-cos de controle de bombas e compressores de-vem estar próximos, no fundo do mar. O siste-ma incluirá transformadores, unidades dealternador de velocidade e comutadores.

Apesar do sistema submarino não estar ple-namente desenvolvido, a Siemens já fornececomponentes individuais para aplicações suba-quáticas. Desde a década de 1990, a Siemensfornece, no litoral brasileiro, transformadorespara profundidades de mil metros em alto mar.Porém, os sistemas de energização ainda seencontram em plataformas ou em terra firme,

dependendo da localização das reservas. Ape-nas alguns componentes situam-se no fundooceânico. Por outro lado, unidades compactasinstaladas no fundo oceânico trariam vanta-gens significativas, pois exigiriam um únicocabo de energia para transmissão elétrica. “Oscomponentes seriam agregados a uma matrizcomum no fundo oceânico”, esclarece Bjørn Ei-nar Brath, vice-presidente executivo da Sie-mens Energia. “Ou seja, eles poderiam ser mo-nitorados e energizados centralmente”.

Com a ajuda de um cabo ótico, a unidadesubmarina poderia ser operada e controladade uma estação de serviço em terra firme.Além disso, este cabo pode transmitir dados desensores de vigilância, permitindo que equipa-mentos de alta tecnologia monitorem conti-nuamente o sistema. “O conceito de matriz évantajoso em termos de manutenção,” afirmaBrath. “Numa situação como esta, os veículossubmarinos de operação remota (ROV) conse-guem desmontar componentes individuais damatriz-padrão de forma segura”.

Nos próximos anos, a Siemens planeja de-senvolver uma unidade submarina para usodiário. O primeiro teste prático do sistema estáprogramado para início de 2013, com lança-

O Chamado das ProfundezasCom a crescente demanda de combustíveis fósseis, as empresas de petróleo e gás se orientam cada vez maispara o mar profundo. A extração seria mais eficiente e segura se as instalações de produção estivessem nolocal. A Siemens pretende oferecer sistemas energéticos compatíveis com estas tecnologias de extração.

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mento comercial em 2014. Até lá, a principaltarefa será lacrar os componentes para evitar aentrada de água, protegendo-os das grandespressões oceânicas.

A Siemens tem uma parceria com firmas dosetor energético, sob a liderança da Chevron,incluindo a Statoil, a Petrobras, a Exxon e aShell, para criar uma rede elétrica submarinapara energizar bombas de petróleo e compres-sores de gás com tensão operacional adequa-da. Os principais componentes serão preenchi-dos com óleo, compensando a pressão do mar.

Conversores de frequência e outros compo-nentes normalmente são instalados nos com-partimentos em terra firme, antes de seremsubmersos. Isso funciona bem em águas rasas,mas o contentor convencional cheio de ar pre-cisa ser muito volumoso para suportar a pres-são a milhares de metros de profundidade. Umconversor de frequência num depósito preen-chido com óleo é mais fácil de manusear.

Mercado de Águas Profundas. Considerandoesse setor um mercado promissor, a Siemensadquiriu há, um ano, as empresas noruegue-sas Bennex e Poseidon, que atuam com opera-ções submarinas. Sediada em Bergen, a Ben-nex fabrica componentes elétricos, cabos econectores para grandes profundidades. A Po-seidon, sediada em Stavanger, é uma firma deengenharia especializada em projetos submari-nos. A empresa modifica tecnologia para utili-zação em várias aplicações subaquáticas.

Atualmente, ambas estão cooperando noplanejamento de uma instalação submarina. Atarefa envolve mais do que grandes compo-nentes. Até os mínimos detalhes fazem umaenorme diferença. Os especialistas da Bennexe da Poseidon são altamente qualificados nodesenvolvimento de soluções para águas pro-fundas. Os produtos das empresas incluem co-nectores de titânio à prova d’água, cabos elétri-cos duráveis de cobre, revestimentos em epóxicom reforço de fibra de vidro, contatos de se-gurança dupla com lacres de borracha e capea-mento protetor em aço ino-xidável. Em março de 2012,a Siemens divulgou estaradquirindo a divisão de co-nectores e medições da Ex-pro Holdings do Reino Uni-do. A unidade projeta efabrica componentes suba-quáticos como conectores de cabos, sensorese dispositivos de medição. Esses equipamentossão cruciais para a rede energética. Os conec-tores elétricos permitem a transmissão elétricae a comunicação nas instalações submarinas.

Porém, um sistema de energização elétricanão é suficiente para extrair matéria-prima. ASiemens também oferece um compressor ro-busto para o transporte de gás. O dispositivo,denominado STC-ECO, foi concebido inicial-mente para terra firme. Porém, desde 2006, oequipamento é utilizado para bombear gás deuma unidade na Holanda, canalizando-o na

rede daquele país. O fato de o equipamentonão requerer lacres o torna ideal para águasprofundas. Ao contrário dos compressoresconvencionais, com motor de distribuição ecompressor separados, os componentes princi-pais do STC-ECO são montados numa só cápsu-la. Normalmente, o motor é ligado ao depósitodo compressor com um eixo de propulsão. As-sim, o local em que o eixo penetra no depósitodeve ser lacrado de forma segura. O STC-ECO,por sua vez, não requer lacres, o que o tornaapropriado para águas profundas.

“Alta confiabilidade é fundamental em ce-nários subaquáticos”, explica Brath. As manu-tenções exigem embarcações especiais muitocaras. Por isso, os componentes devem operarsem interrupções e sem qualquer falha. Porexemplo, o STC-ECO foi projetado para am-bientes subaquáticos de forma ininterrupta nomínimo cinco anos, sem manutenção.

O sistema da Siemens na Holanda já cum-pre estas especificações. Além disso, os rola-mentos deste sistema não requerem óleo. Istoé fundamental, uma vez que é impossível tro-car o óleo no fundo oceânico. Em vez disso, osistema utiliza rolamentos magnéticos estimu-lados de forma elétrica nas quais o eixo de fato“flutua”. Atualmente, planeja-se aprimorar ocontrole elétrico dos rolamentos, para tornarmais seguras as operações submarinas. Os ro-lamentos de contato, pequenas esferas de ma-terial cerâmico que retêm o eixo em caso de fa-lha do controle magnético, também vêmsendo otimizados. O sistema completo serásubmetido a testes de desgaste ainda mais in-tensos. Serão necessários no mínimo três anosde desenvolvimento e testes para que o siste-ma possa ser utilizado em águas profundas.

A extração de petróleo a grandes profundi-dades é mais cara que operações em terra fir-me. Os dispositivos submarinos podem apri-

morar a exploração de jazidas de petróleo egás, aumentando os lucros e reduzindo os cus-tos. Isto justifica a ampliação das atividades depesquisa da empresa nessa área. A Siemens es-tabeleceu parcerias com instituições governa-mentais de pesquisa em Cingapura e no Brasil,além de ter seus próprios laboratórios emHouston, Texas (EUA) e em Trondheim (Norue-ga). “Não focalizamos apenas a tecnologia”,afirma Strømme. “O treinamento também émuito importante. Afinal, atualmente poucosengenheiros no mundo são especialistas emaplicações submarinas”. Tim Schröder

O compressor submarino STC-ECO da Siemens precisa operar por no mínimo cinco anos sem manutenção.

Futuro dispositivo de extração de fundo oceânico. Para maior confiabilidade, os sistemas submarinos pre-

cisarão da engenharia especializada do compressor STC-ECO (acima) e da tecnologia de resfriamento

criada por Wolfgang Zacharias, da Siemens.

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OBrasil tem vivido um rápido crescimentoeconômico nos últimos anos. Em 2011,

um relatório do Centro de Pesquisa Econômicae de Negócios, em Londres, citou o Brasil comoa sexta maior economia do mundo, superandoo Reino Unido. A descoberta de novas fontesde petróleo tem acentuado esta tendência,possibilitando ao governo investir mais em in-fraestrutura, sobretudo em um novo sistemade fornecimento de energia, que, por muitotempo, foi um ponto fraco no país. Apesar dasrecentes melhorias, o Brasil ainda necessita deestações de conversão especiais e transforma-dores de alto desempenho para as linhas detransmissão direta de alta tensão (HVDC), quetransportam a energia a longas distâncias (vejaPictures of the Future, Outono 2011, pág. 5;Outono 2009, pág. 25).

Desde 2006, a Siemens tem produzido noBrasil, todos os componentes necessários paraa transmissão de energia no país. Isso aumen-tou a competitividade da empresa. “Os custosde transporte são muito elevados em projetosde HVDC,” explica Tamyres Machado, diretortécnico da fábrica da Siemens em Jundiaí, per-to de São Paulo, a maior unidade de produçãode sistemas energéticos da América do Sul. So-mente os transformadores, que aceleram acorrente direta até 800.000 volts, são quase dotamanho de uma casa e pesam 100 toneladas.“Produzimos tudo no Brasil, o que nos permitiureduzir os preços”, afirma Machado.

Design Local. Jundiaí é um dos cinco locaisda Siemens, que produzem sistemas de HVDCno mundo. “Em termos de know-how, estamoslogo depois de Nurembergue, na Alemanha”,

diz Machado. “O Brasil precisa urgentementede energia, e a melhor forma de consegui-la écom hidroelétricas e sistemas de HVDC”. Novas“vias energéticas” estão sendo planejadas tam-bém no Chile e em outros países da AméricaLatina. Os Estados Unidos também estão utili-zando esta tecnologia. “Estamos produzindodois transformadores para um sistema HVDCde conexão entre Nova Iorque e Nova Jersey”,completa.

Machado teve primeiro que formar umaequipe local, para desenvolver a expertise ne-cessária dessa sofisticada tecnologia. O grupoé constituído por experientes especialistas, ale-mães e brasileiros, e por talentosos jovens pro-fissionais da Siemens. “Está muito difícil en-contrar gente qualificada. Por isso nós mesmostreinamos nossos colaboradores”, explica Car-los Tiburcio, diretor de Vendas de TransmissõesEnergéticas, da Siemens de São Paulo.

A unidade de Jundiaí criou programas deestágio e estabeleceu parcerias com universi-dades e escolas técnicas, para manter a mãode obra atualizada. Ela envia funcionários paraa central na Alemanha. Tamyres Machado en-viou 25 engenheiros para Nurembergue, pordois ou três anos, a fim de prepará-los para oseu primeiro projeto, uma nova conexão HVDCentre a Espanha continental e a Ilha de Maior-ca. O projeto foi inaugurado em 2009.

A equipe construiu estações de conversãopara a linha Cometa, que transporta a energiaproduzida em usinas hidroelétricas e em par-ques solares e eólicos do continente paraMaiorca, atendendo assim, a uma grande par-te da demanda de eletricidade da ilha. Esta li-nha, que transmite 400 MW a 250 quilovolts, é

relativamente pequena para padrões interna-cionais, mas mesmo assim, serviu de projetopiloto para estabelecer a capacidade de produ-ção necessária no Brasil e de teste de campopara transformadores.

A instalação brasileira usava primeiramentea tecnologia Siemens HVDC de Nurembergue.“Mas nossos engenheiros trabalharam num de-senvolvimento próprio, fazendo os ajustes ne-cessários às necessidades dos mercados lo-cais”, esclarece Tiburcio. “Em alguns casos,quase criaram um design de produto comple-tamente novo”.

O Brasil é um caso excepcional devido àslongas distâncias que a eletricidade tem quepercorrer. Um dos projetos envolve a criaçãode duas linhas paralelas que transportarão umtotal de 11 gigawatts de energia através demais de 2000 quilômetros, será um novo re-corde mundial. “A operação das linhas detransmissão paralelas e as estações de conver-são nos dois terminais têm que ser bem coor-denadas para garantir a estabilidade da rede”,afirma Tiburcio. As instalações de tecnologiaHVDC de Nurembergue, Jundiaí, Kalwa (Índia),Zagreb (Croácia) e Guangzou (China) mantêmestreito contato entre si, para a troca de infor-mações e assegurar que todas se beneficiemda nova expertise desenvolvida por cada umadelas.

Motores Resistentes ao Clima Tropical. ASiemens também investe em novas instalaçõesna Colômbia. Este país cresceu muito nos últi-mos anos e tem recebido cada vez mais inves-timentos. As agências de classificação de riscoaumentaram a cotação da Colômbia para

Nações em crescimento como Brasil e Colômbia estão se auto-transformando, de fornecedores de matérias-primas para fabricantes de alta tecnologia. A Siemens continua expandindo sua presença naregião, criando produtos eficientes e de alta qualidade para os mercados locais e de exportação.

A Todo VaporA Economia do Futuro | América Latina

No Brasil, a Siemens produz capacitores para linhas

de transmissão HVDC. Na Colômbia, a empresa fa-

brica transformadores elétricos desde 1956.

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“nível de investimento”. Isto significa que opaís é visto como um lugar seguro para se in-vestir. Em 2011, os investimentos estrangeirosdiretos na Colômbia aumentaram em 56% e osvalores das exportações bateram recorde, de-vido aos altos preços das matérias-primas. ASiemens está presente na Colômbia desde1954. Em 2009, ela inaugurou uma fábrica demotores elétricos de alta tecnologia em Tenjo,perto de Bogotá. A unidade tem um sistema deprodução extremamente eficiente, atendendoaos padrões ambientais mais modernos.

Essa planta, que na fase inicial recebeumuito apoio das instalações de Bad Neustadt,na Alemanha, começou a produzir motoreselétricos de vários tamanhos e potências, emmaio de 2011. Esses motores podem ser usa-dos em vários setores, desde no processamen-to de alimentos até na indústria petroleira e degás. “A Siemens é a primeira empresa a produ-zir, na Colômbia, motores com os mais eleva-dos padrões internacionais de eficiência”, afir-ma Wilson Ruiz, responsável pelas vendas demotores industriais na unidade de Tenjo. Alémdo baixo consumo de energia, os motores co-lombianos têm outras vantagens, eles resistembem ao clima tropical e sua voltagem e dimen-sões atendem às necessidades locais.

A fábrica de Tenjo já recebeu três grandesencomendas. A primeira, do Grupo Grasco,uma das maiores empresas colombianas, refe-re-se a duzentos motores especialmente ro-bustos, resistentes a oscilações e à poeira.“Eles estão substituindo motores mais velhosusados em bombas de gasolina, engenhos,máquinas misturadoras e nas fábricas de óleoe manteiga do Grupo Grasco”, afirma Ruiz.

A Siemens foi escolhida entre vários forne-cedores devido à alta eficiência e boa compati-bilidade de seus motores. “Outro fator-chavefoi a assistência técnica local”, explica Ruiz. Eleenfatiza o quanto é importante o contato dire-to com o cliente. “Eles valorizam nossos servi-ços locais. É uma grande vantagem ter uma fá-brica perto”, acrescenta. A Siemens tambémajudou a empresa Frito Lay a realizar um estu-

do de consumo de energia, em consequênciado qual, o fabricante de batatas fritas substi-tuiu vários motores velhos pelos novos eficien-tes da Siemens. O fabricante internacional decimento Cemex optou pelos motores da Sie-mens, sobretudo pela sua grande confiabilida-de. “Os novos motores vão diminuir o tempode inatividade nas instalações de embalagemda empresa”, acredita Ruiz.

A indústria e o fornecimento de energianão são os únicos setores em crescimento nospaíses emergentes da América do Sul, há umaumento na demanda do setor de saúde. ASiemens começou a produzir aparelhos básicosde raios-x no Brasil há dez anos. “Resolvemosproduzir no país para competir com sua políti-ca agressiva de preços”, explica GuilhermeMarques, diretor do Departamento de Produ-tos Clínicos da Siemens no Brasil. A fábricapaulista produz aparelhos analógicos de raios-x Multix B, reconhecidos pela sua flexibilidade,compacto design, extraordinária qualidade deimagem e mínimo grau de radiação. Os equi-pamentos são vendidos no Brasil, atendendoas necessidades e as expectativas de preçosdos clientes brasileiros.

Em 2012, a produção aumentará para aten-der à demanda maior. “Em junho, iremos parauma nova fábrica em Joinville, o que nos tor-nará mais competitivos, aumentando o know-how local. Planejamos também expandir nossoportfólio de produtos”, comenta Marques. Ointeresse dos brasileiros em tecnologia digitalde raios-x tem aumentado, mas os preços con-tinuam sendo uma barreira. Por isso, a Sie-mens começará a produzir lá aparelhos bási-cos, digitais de raios-x, como o Multix SelectDR,que é um aparelho digital com preço aces-sível, robusto e de fácil manuseio. A fábrica ca-tarinense produzirá também sistemas CT e MR.Não só para apoiar suas atividades locais, mastambém pelo compromisso de longo prazo nopaís, a Siemens pretende executar um trabalhoconjunto, em Joinville. As atividades de desen-volvimento para os mercados locais e regionaisserão executadas cada vez mais no local.

Isso já acontece na unidade de Tenjo, naColômbia, embora ela ainda dependa muito daexpertise alemã para os seus novos motores.Desde 1956, a Siemens produz transformado-res na Colômbia, que vão desde pequenos sis-temas de distribuição de energia até grandesunidades de alto desempenho. Nos últimosdois anos, essa unidade se especializou emtransformadores de distribuição para instala-ções de energia renovável. “Esse mercado estácrescendo rapidamente, sobretudo nos Esta-dos Unidos e no Canadá”, afirma Andrés Villa-te, diretor de Marketing de transformadores.

Condições Extremas. A Colômbia tem gran-des portos nos litorais pacífico e atlântico, umaposição estratégica de exportação para a Amé-rica do Norte. Os engenheiros de Tenjo tiveramum papel fundamental no desenvolvimento detransformadores de alto desempenho.

O maior desafio foram as condições climáti-cas desfavoráveis às quais os transformadoresestão expostos. “A maioria dos parques eólicosda América do Norte se encontram em áreasremotas, de temperaturas extremas e ventosfortes. Por isso, os equipamentos têm que seraltamente confiáveis”, explica Villate.

Aumenta também a demanda por transfor-madores adequados a sistemas de geração deenergia renovável. Segundo Jairo Sandoval, di-retor de Vendas em Tenjo, no início de 2011, aSiemens forneceu 41 transformadores para oparque eólico Flat Water, em Nebrasca. O FirstLight Project, o maior parque solar do Canadá,encomendou dez transformadores. “Essas uni-dades são responsáveis por 10% da nossa pro-dução no momento, mas essas cifras irão au-mentar nos próximos anos”, diz Sandoval.

A Siemens oferece atenção especial à com-patibilidade ambiental de seus produtos. Emfunção disso, os engenheiros colombianos es-tão testando, pela primeira vez, na América doSul, o uso de óleo vegetal como fluído refrige-rador e isolante. Nos transformadores, óleomineral ou de silicone é normalmente usadopara esse fim, mas suas substâncias são noci-vas ao meio ambiente. Por isso, transformado-res usados ao ar livre têm que ser protegidoscontra vazamentos. “Os óleos que estamos tes-tando não contêm óleos minerais nem halogê-nios, silicone ou outras substâncias problemá-ticas”, afirma Andrés. “Eles se distinguemtambém pelo alto ponto de inflamação e pelasboas propriedades dielétricas”. Os produtos daSiemens são apreciados pela sua alta eficiênciae tecnologia avançada, não nociva ao meioambiente, no mundo inteiro – e a América doNorte e do Sul não são diferentes nesse aspec-to. Devido à sua crescente presença nos mer-cados locais, a Siemens está em condições deoferecer as soluções ideais para seus clientessul-americanos. Ute KehseTransformadores colombianos (à esq.) e aparelhos de raios-x brasileiros, produtos sul-americanos estão em voga.

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OHospital Pediátrico Dell, no Texas Central,foi o primeiro do mundo a receber a Certi-

ficação LEED (Liderança em Design Ambientale Energia), nível platina, do Conselho de Edifi-cação Verde dos Estados Unidos. Com mais de46.000m2, o edifício localizado em Austin, é amaior clínica pediátrica da região. Inauguradoem julho de 2007, Dell faz parte da Rede Hos-pitalar Seton, o maior do Texas Central.

Hospitais são grandes consumidores deenergia. De acordo com estatísticas do Minis-tério de Energia dos Estados Unidos, em 2009,hospitais americanos consumiram 2,5 vezesmais energia e emitiram 2,5 vezes mais dióxi-do de carbono do que prédios comerciais.

Neste contexto, o certificado LEED torna-seainda mais importante, segundo Phil Risner,engenheiro autônomo, gerente de projetosLEED AP (profissional credenciado) e enge-nheiro de redes de sistemas prediais da Seton.“Quando tentamos criar um ambiente idealpara nossos pacientes e empregados, tínha-mos em mente alcançar a certificação LEED,nível platina. Para nós não havia dúvida de queum edifício verde atuaria positivamente sobreo meio ambiente e nossa capacidade de pres-tar serviços médicos,” explica Phil Risner.

Alan Bell, membro do AIA (Instituto Ameri-cano de Arquitetos) e diretor de Design e Cons-trução LEED AP da Seton, concorda. “Algumaspartes desse hospital, de 169 leitos foraminauguradas em 2007. Aproximadamente doisanos depois, no início de 2009, recebemos aCertificação LEED, nível platina. Para atingiressa meta, fomos avaliados nas suas seis cate-gorias-chave: sustentabilidade do local; efi-ciência da gestão de água; gestão energética e

de emissões; otimização do uso de materiais erecursos; qualidade ambiental do interior; ino-vação e design.” A concepção, integração e im-plementação de um sistema de automaçãopredial (BAS) exerceu um papel fundamental.

Solução Completa. A Seton selecionou a Di-visão de Tecnologias Prediais da Siemens In-dustry para instalar e integrar nas novas insta-lações hospitalares o sistema APOGEE deautomação e controle predial. Esse é um siste-ma de supervisão e controle predial e uma so-lução de gestão energética, que inclui detec-ção e alarme de incêndio e controle do sistemade emergência para o tratamento de ar. Foiconcebido para integrar sistemas tão diversoscomo acesso e segurança, comunicação inter-na, energia emergencial, detecção e supressãode incêndio, TI e, obviamente, iluminação. NaClínica Dell, o sistema BAS monitora uma varie-dade de consumidores de energia, incluindobombas, ventiladores, sistemas de refrigeraçãoe água quente, bem como uma piscina de 60mil litros de água do centro de reabilitação dohospital.

O clima subtropical de Austin é um desafiopara a qualidade do ar. Por isso, o sistema BASda Siemens monitora e controla os aparelhosde ar condicionado e o uso do ar externo. Alémdisso, ajusta equipamentos de tratamento dear, com base na redução automática de tempe-ratura, durante a noite. O sistema emite relató-rios diários sobre falhas nos ajustes ou anoma-lias específicas das instalações. Assim, eleapoia os engenheiros na manutenção perfeitados sistemas, ao mesmo tempo em que cum-pre as exigências da qualidade e pureza do ar.

BAS controla também a eficiente unidadegeradora, de 4,5 megawatts, auxiliando na to-mada de decisões energéticas complexas. Oresultado tem sido uma extraordinária econo-mia de energia. “Graças à expertise da Sie-mens, foi possível introduzir uma série de no-vas tecnologias,” afirma Alan Bell. A energiapoupada pelo Hospital Pediátrico Dell seria su-ficiente para abastecer 1.800 lares.

O Ambiente Perfeito para os Funcionários.“Infelizmente, muitas vezes, não se pode curara doença, mas pode sarar uma alma. É o quetentamos fazer”, explica a enfermeira TeresaGeorge, diretora executiva do Hospital Pediá-trico. “Tentamos fazer isso com nossa equipe,nossos projetos e nosso ambiente de traba-lho.”

A reputação de “hospital verde” atrai profis-sionais altamente qualificados e motivadospara o Dell, como pediatras e enfermeiras es-pecializados. A flutuação de funcionários émuito baixa. Enquanto a média de flutuaçãode pessoal médico nos EUA é de 10% a 15%,ao ano, a do Dell, no caso das enfermeiras, éde apenas 2,4%,. A produtividade também émais alta. Segundo estimativas da Seton, todosesses fatores contribuem para economizar oequivalente a uma conta anual de energia.

Steven E. Kuehn

Pacientes infantis recebem um tratamento

excelente no Hospital Pediátrico Dell, em

Austin/Texas. Suas instalações são exemplo

de gestão energética e de consumo de água.

Hospitais necessitam de sistemas confiáveis de fornecimento de energia, gestão de água,proteção contra incêndio e controle da pureza do ar. Graças ao sistema de automação pre-dial da Siemens, o Hospital Pediátrico Dell, no Texas, não apenas é muito eficiente, comotambém foi o primeiro do mundo a receber o nível platina da Certificação LEED.

Eficiência ExcepcionalA Economia do Futuro | Hospitals

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Empresas multinacionais não só atendem mercados globais, como fabricam seus produtos em diversospaíses. Na Siemens, identificar o lugar ideal para instalar as fábricas e, por conseguinte, para combinaras necessidades internacionais da companhia com as dos mercados locais tornou-se uma ciência.

Após uma detalhada análise , planejadores de insta-

lações escolheram Goa, na Índia, como novo centro

de manufatura (à direita). Um modelo, previamente

elaborado, de uma fábrica padronizada de eletrôni-

cos foi adaptado às condições regionais.

A Ciência no Lugar Ideal

50 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

clientes, bem como os aspectos de desenvolvi-mento do mercado e o comportamento daconcorrência.” Isso poderá levar à expansãodos centros de produção nas nações industria-lizadas, como foi o caso da fábrica de turbinasa gás construída pela Siemens em Charlotte,na Carolina do Norte, em 2011, com tecnolo-gia de ponta e investimentos de mais de 350milhões de dólares. As turbinas são compo-nentes de tecnologia avançada, cuja criaçãorequer colaboradores altamente qualificados,tecnologias precisas e pesquisa intensiva. “Es-sas exigências fazem dos EUA um lugar atraen-te para a fabricação de tais produtos, porquenesse caso o acesso à inovação é mais impor-tante do que a mão de obra barata,” argumen-ta Eric Spiegel, CEO da Siemens Corporationnorte-americana.

Fatores de Sucesso. Com a meta de identifi-car as melhores localidades das fábricas do futuro, a Siemens enfocou vários fatores de su-cesso. “Os principais são lucratividade, veloci-dade, flexibilidade de fornecimento, qualidadede processos e capacidade inovadora,” afirmaJörg Kaske. Cada um desses fatores recebe um

peso diferente, porque sua importância depen-de do cliente, da região de vendas e da linhados produtos em questão. “O próximo passo édeterminar, se a rede de produção existente seadapta a essas variáveis e analisar outras,como a dependência do desenvolvimento e arede de fornecedores existente,” explica JörgKaske. Nas fases seguintes, os especialistaselaboram vários cenários de rede e examinamseu impacto global sobre os custos. “No final,temos diversos cenários e podemos decidirqual implementar,” acrescenta.

Este processo não é realizado uma únicavez. “Ele deverá fazer parte de um sistema con-tínuo de gestão de localidade, ou seja, um pro-cedimento regular de monitoramento que, du-rante o planejamento estratégico anual, revelaas áreas que precisam ser melhoradas.” Embo-ra este método consuma mais tempo e recur-sos do que uma abordagem reativa, Jörg Kaskeacredita que os benefícios sejam maiores doque as desvantagens: “Esse sistema torna todaa rede mais eficiente e flexível, além de incluirtendências de longo prazo na fase inicial doplanejamento, reduzindo a necessidade demedidas dispendiosas de reestruturação.”

A s empresas costumavam tomar decisõesirrefletidas sobre onde construir suas fá-

bricas,” afirma Jörg-Henning Kaske, responsá-vel pela divisão de Orientação e Padrões deManufatura da Siemens Corporate Technology(CT). “Os locais de produção eram fixados combase na média salarial da região e consequen-tes reduções de custos, mas agora, as decisõesnão são mais tão simples assim.” Hoje em dia,as redes globais de produção e a distribuiçãodos centros manufatureiros têm que ser minu-ciosamente planejada e alinhada à estratégiaempresarial e às demandas do mercado e dosconsumidores. Em função disso, desenvolve-mos uma nova abordagem sobre a implemen-tação global de fábricas, que examina a redeexistente, se ajustando perfeitamente às ne-cessidades do cliente,” explica Jörg Kaske.

A prioridade é identificar os pontos fracosdo planejamento convencional de redes. “Atépouco tempo atrás, as redes submetiam-se àspressões de redução de custos,” esclarece JörgKaske. “Nessa concepção ultrapassada, fecha-va-se uma fábrica na Europa para abrir umanova na Ásia. A nova ideia é analisar os fatoresque influenciam as decisões de compra dos

A Economia do Futuro | Planejamento de Fábricas

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genéricos de fábrica. “Nós compensamos o ris-co de negligenciar certas soluções com os be-nefícios de um planejamento rápido e da previ-são correta de custos.”

A fábrica de Goa terá um papel fundamen-tal na rede de produção de automatizaçãoenergética. Os equipamentos fabricados lá se-rão exportados para os mercados emergentes,ajudando esses países a criarem infraestrutu-ras inteligentes de rede de energia elétrica(veja Pictures of the Future, Primavera 2011,pág. 22). “Para integrar de forma sensata aenergia renovável numa rede nacional, é ne-cessário criar uma rede inteligente e um equi-pamento de proteção automatizado para con-trolar as flutuações de potência às quais essetipo de energia está suscetível,” afirma Sebas-tian Schumann.

Goa também é importante por outro moti-vo: o departamento de desenvolvimento da fá-brica criará produtos personalizados “SMART”para o mercado asiático. Nesta acepção,“smart” significa “simples”, “de fácil manuten-ção”, “a preços acessíveis”, “confiáveis”, e “emtempo de entrar no mercado”, portanto, per-feito para atender as exigências locais.

Futuramente, a fábrica de Goa se transfor-mará num centro de produção global para osmercados emergentes. “A fábrica principal, im-plantada em Berlim, continuará gerenciando acoordenação da rede entre os centros de pro-dução do Reino Unido e da China,” explica Se-bastian Schumann. “A equipe berlinense asse-gurará o uso do mesmo maquinário e daconsistência dos dados dos produtos em todasas fábricas.” Assim, poderemos compensar ra-pidamente a paralisação ou desaceleração daprodução em uma determinada fábrica, inten-sificando-a em uma outra. E as atividades dedesenvolvimento em Goa darão à sua unidadeuma grande liberdade, na hora de fabricar pro-dutos específicos para os mercados emergen-tes”.

Jörg-Henning Kaske acredita que a posiçãoda Siemens se fortalecerá, quando o novo mé-todo for refinado e aplicado. “A distribuição decentros de produção planejada de maneira es-tratégica, a implementação rápida e econômi-ca no local, com base em tipos padronizadosde fábricas e a fabricação global uniformizadaserão os elementos fundamentais da rede dofuturo,” afirma ele. Nils Ehrenberg

sava problemas, quando as duas equipes sereuniam para coordenar suas atividades.”

A Siemens opera mais de 320 fábricas nomundo inteiro. Ela tem muita experiência emplanejamento e construção. “Apesar de todonosso know-how, muitas vezes, tivemos quereinventar a roda – sempre sob a ameaça derepetir os mesmos erros,” afirma SebastianSchumann.

A nova concepção de planejamento da Sie-mens acabou com esse perigo. No futuro, aempresa pretende utilizar cinco tipos básicosde fábrica, inclusive centros de produção deequipamento de energia eólica e eletrônicos.

“Em Goa, tiramos da gaveta um desenhopadronizado de fábrica de eletrônicos e oadaptamos às condições e às necessidades re-gionais,” explica Sebastian Schumann. Levou-se em consideração os materiais de construçãoe as tecnologias locais. Os sistemas de constru-ção foram adaptados às condições ambientaisda Índia.

“O processo inteiro foi gerenciado por umaúnica equipe, o que tornou a coordenação en-tre a construção dos prédios e o sistema deplanejamento do interior da fábrica mais efi-

A determinação da localização de uma fá-brica é o primeiro passo na criação de umarede de produção otimizada. “Precisamos me-lhorar também a implementação. Por isso,reestruturamos o processo de planejamentode fábricas no local”, esclarece Jörg Kaske.

O novo método foi aplicado primeiramenteem Goa, no litoral oeste da Índia, onde a Sie-mens Energy Automation construiu uma fábri-ca de disjuntores de energia elétrica que fe-cham automaticamente segmentos da rede, afim de evitar sua danificação ou a dos transfor-madores. Sebastian Schumann implantou oconceito em Goa. “Até então, o planejamentoconvencional das fábricas integrava dois pro-cessos paralelos,” conta Schumann. “A Sie-mens Real Estate planejava a construção dosprédios, enquanto um outro grupo trabalhavaindependentemente no layout, ou seja, no de-sign do interior da fábrica. Isso, às vezes, cau-

ciente, além de facilitar a tomada de decisões,”afirma Sebastian Schumann. Goa foi escolhidaapós uma aprofundada análise do local. Umaspecto importante foi o fato de o Setor deSaúde da Siemens já operar nessa cidade umafábrica de produção de aparelhos de raio X. As-sim, a nova fábrica pôde utilizar a infraestrutu-ra existente. Além disso, a Siemens já possuíadireitos de propriedade perto da fábrica deequipamentos médicos, o que acelerou o pla-nejamento e a construção da nova unidade.

Construção Rápida. A construção da fábricaem Goa terminou em janeiro de 2012, um anoapós a cerimônia de lançamento da pedra fun-damental da planta. “O novo método de plane-jamento acelerou o processo e nos permitiuprever os custos com precisão, sem extrapolaro orçamento,” afirma Schumann. Porém, eleestá consciente das desvantagens dos tipos

“Ao produzir na região, a fábrica de Goa nãoapenas compensa as flutuações da taxa decâmbio, como também reduz os custos. E osnossos produtos se adaptam de maneira flexí-vel aos diferentes requerimentos regionais dosclientes,” afirma Schumann. O tipo de capaci-dade inovadora que surge, quando o departa-mento de desenvolvimento da empresa é naÍndia, pode ser ilustrado pelos disjuntores de1.200 quilovolts desenvolvidos pela Divisão deTransmissão de Energia da Siemens, na fábricade Aurangabad.

Estes interruptores de proteção automatiza-dos são incomparáveis – nenhum outro produ-to do gênero pode operar com voltagens tãoelevadas. Eles possibilitarão à Índia construiruma rede de energia elétrica de 1.200 quilo-volts, cuja capacidade de transmissão serámais do dobro da antiga rede de 800 quilo-volts.

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Infraestruturas urbanas, seja no tráfego, no transporte, em energia ou nos edifícios, geralmente sãointerligadas de várias formas. Como resultado, uma mudança muito pequena pode ter consequênciassignificativas. Um software da Siemens facilita a gestão da complexidade do planejamento urbano.

Cidades: Gestão DigitalizadaA Economia do Futuro | Planejamento Urbano

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Atela mostra uma foto de satélite dos Esta-dos Unidos. Dr. Bernd Wachmann, líder do

projeto “Cidades Sustentáveis”, na SiemensCorporate Technology (CT), dá um zoom numcampo ao lado de Princeton, Nova Jersey. Comalguns cliques, ele introduz dois prédios de es-critórios na imagem. Ele demarca o terreno, in-clui um estacionamento e vias de acesso, e ocomplexo toma forma no mundo virtual. En-quanto Wachmann faz tudo isso, uma barrasob a imagem mostra dados como o consumode energia do prédio em diferentes períodosdo dia e do ano, como sistemas fotovoltaicospoderiam melhorar o balanço de energia,quantas pessoas poderiam trabalhar lá e comosuas atividades influenciariam o tráfego e arede de energia, a quantidade de dejetos e depoluição do ar produzidos e qual seria o seucusto operacional. “São apenas alguns parâ-metros que simulamos”, explica Wachmann. “Alista pode se expandir e incluir itens como aacessibilidade aos pedestres, o efeito de veícu-los elétricos no equilíbrio energético e mesmoa qualidade de vida. Esses aspectos podem serquantificados e modelados.

A plataforma de software usada para isso éparte do projeto Gerenciamento de Vida em Ci-dade (CLM), desenvolvido por cientistas do CT.A plataforma vem de Princeton e Munique, asinformações são avaliadas emBerlim e Viena, e Munique éresponsável pela expertise eminfraestrutura. O projeto ofere-ce soluções para visualizar ci-dades holisticamente, simularos impactos de longo prazo demudanças e formular respostasapropriadas. O CLM oferece aos urbanistasuma maneira simples de ver potenciais conse-quências de suas decisões. Também permite odesenvolvimento de cenários alternativos “oque seria se...?” como inverter a mão de umarua, aumentar a altura de um prédio ou utilizarinstalações fotovoltaicas para melhorar o equi-líbrio energético de um bairro. Isso possibilita aresolução de questões complexas de planeja-mento urbano de maneira simples e intuitiva.

As inter-relações entre os objetivos econô-micos, ambientais e sociais de uma cidade sãocomplexas. Por exemplo, o que é melhor: pro-mover o uso de veículos elétricos ou expandira rede de transporte público? Escolhendo a pri-meira opção, você não reduzirá o congestiona-mento, mas baixará as emissões de CO2. Issoocorrerá se a rede de energia que alimenta osveículos elétricos for baseada em fontes reno-váveis, que, requerem uma rede de alto de-sempenho que, em alguns casos, precisa pri-meiro ser construída, incluindo postos decarregamento. Se, por outro lado, escolhe-se otransporte público, é preciso saber se há incen-tivos suficientes para que as pessoas o utili-

zem. Tudo é muito complexo para pessoas ougovernos municipais avaliarem. Mas não é pro-blema para a plataforma CLM. “No entanto,nossos modelos não oferecem previsões exa-tas”, comenta Wachmann.”Eles têm precisãode 80%, possibilitando uma base sólida paratomada de decisão em vários níveis como insti-tuições municipais, políticas, iniciativas de ci-dadãos e moradores.”

Não há soluções rápidas para instâncias tãocomplexas quanto cidades e conflitos devemsurgir. Assim que se anunciam planos de umparque industrial ou um bairro, agências go-vernamentais e cidadãos começam a questio-nar seus potenciais impactos. Os planos iniciaispassam por várias órgãos – administrações re-gionais, companhias de serviço público e de-partamentos de gestão ambiental, escritóriosde arquitetura e fornecedores de energia. Osplanos, em geral, ficam à disposição do públi-co numa instituição administrativa pública.Uma plataforma online como o CLM pode evi-tar problemas para os planejadores, principal-mente em projetos controversos. Sob tais cir-cunstâncias, a participação do público tem umpapel essencial (pág. 50).

Cidades Modeladas Digitalmente. O CLM ébaseado em soluções para gerenciamento de

ciclo de vida de produtos (PLM), que adminis-tram todas as informações de desenvolvimen-to de produtos, produção, armazenamento evendas. Essa abordagem não só aumenta atransparência, mas também faz todo o proces-so de criação de valores ficar muito mais efi-ciente. O uso dessa tecnologia inovadora levoua grandes reduções de custo, menor tempo dedesenvolvimento e de produção e grande pro-dutividade na indústria automotiva (Pictures ofthe Future, Outono 2011, pág. 94). Até recen-temente, ela não havia sido muito usada emplanejamento urbano. Ainda assim, ThomasGruenewald, gerente de projetos para a CLMna Siemens em Princenton, crê que uma plata-forma para planejar grandes projetos de infra-estrutura poderia dar resultados similares epermitiria a promoção da sustentabilidade nascidades.

Nesse momento, especialistas do CT focamna fase de planejamento para a infraestruturaurbana, área com espaço para melhorias. Se-gundo Dr. George Lo, diretor sênior do CT, dePrinceton, 75% das decisões que determinamos custos do ciclo de vida de um prédio são to-

madas antes de um plano mais detalhado. Umestudo conduzido pela Universidade do Texas,em Austin, descobriu que 57% do tempo inves-tido na maioria dos projetos de construção édesperdiçada porque esboços iniciais precisamser alterados. Em suma, quem deseja desenharum projeto de construção urbana sustentável,que permaneça no orçamento e no prazo,deve tomar decisões durante a fase de rascu-nho.

O desenvolvimento da plataforma CLM foibeneficiado pela expertise de anos da empresaem planejamento, construção e operação desistemas de fornecimento de água, esgoto eenergia, bem como infraestrutura de transpor-te. “Podemos lidar com uma complexidadegrande porque sabemos como modelar mate-maticamente o comportamento físico dessessistemas”, afirma Tim Schenk, do CT da Sie-mens em Munique. Além disso, ele e outros es-tão examinando dados de cada vez mais cida-des sobre sua estrutura demográfica, seudesenvolvimento, seu consumo de energia esua necessidades de transporte. Os resultadospodem ser combinados no CLM para criar mo-

A plataforma apoia cidades a pre-verem consequências de propostascomplexas de planejamento.

Pesquisadores da Siemens desenvolveram uma pla-

taforma que permite simular projetos de construção

e seu impacto (à esquerda) no tráfego e nos siste-

mas de transporte, na rede de energia e na quali-

dade de vida.

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54 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

Otráfego aéreo aumenta no mundo todo.O número de milhas dos passageiros cres-

ce de 5% a 6% ao ano. Em Nova Déli, foi inau-gurado o terceiro terminal do Aeroporto IndiraGandhi, em 2010. Em Frankfurt, maior centrode tráfego da Alemanha, foi aberta uma quar-ta pista aérea, em 2011. Nos EUA, aumentamos investimentos no “NextGen”, programa deinfraestrutura avançada de aeroporto e pistas.O aeroporto internacional de Los Angeles, sex-to maior do mundo, que atende 60 milhões depassageiros por ano, está sendo ampliado. Amobilidade aérea, ferroviária e naval de pes-soas e mercadorias cresce a olhos vistos. Se-gundo o Fórum Internacional de Transporte, odeslocamento global de passageiros em todosos transportes triplicará ou até quadriplicará,entre 2000 e 2050. Ao mesmo tempo, a circu-lação de mercadorias crescerá 2,5 vezes a 3,5vezes, nesse período.

Essa forte expansão da mobilidade tem umimpacto sobretudo nas grandes cidades, quese beneficiam, mas também são vítimas desse

Para funcionarem perfeitamente, os centros de trá-

fego do futuro interligarão horários de aviões e na-

vios aos sistemas de navegação de veículos e de

trânsito de rua. Centros de controle de tráfego como

o de Berlim (dir.) obtêm dados de diversas fontes.

delos que ofereçam aos participantes uma vi-são de cenários futuros realistas.

Tudo isso aponta para uma mudança de pa-radigma, já que é possível ver em tempo realcomo decisões em uma área, por exemplo, aaltura de um prédio, impactam outras como otráfego local ou o equilíbrio energético em umbairro.

O grupo de trabalho do CLM está negocian-do com representantes de dois grandes proje-tos na China e na Europa central que queremusar a tecnologia pela primeira vez.

Simulando a Qualidade de Vida. “Mas isso ésó o começo”, diz Wachmann. “Também esta-mos trabalhando na utilização de indicadoresde desempenho (KPIs) como consumo deenergia, volume de tráfego e de transporte egeração de dióxido de carbono para obter indi-cadores socioeconômicos.” Tais indicadorespermitem inferir sobre qualidade de vida, de-senvolvimento econômico e mais. Para essefim, os pesquisadores da Siemens estão desen-volvendo um modelo de estimativas baseadona opinião de especialistas e em estudos esta-tísticos. “A qualidade de vida depende de fato-res como salários, segurança pública e condi-

ções de vida, mas as condições culturais tam-bém são levadas em consideração.”

Fatores locais como leis sobre construções edeterminações sobre eficiência energéticatambém serão melhor incorporados nas simu-lações, bem como fatores além das fronteiraslocais, que incluem tendências climáticas mun-diais, por exemplo, uma vez que o futuro con-sumo de energia em edifícios sofrerá impactospelas mudanças climáticas. O desenvolvimen-to demográfico também será levado em consi-deração. Afinal, se um bairro envelhecer, issovai demandar calçadas adaptadas e estaciona-mentos voltados a esse público. “Desde que osfatores se mantenham quantificáveis, podere-mos modelá-los”, confirma Wachmann.

O potencial oferecido pelo CLM não termi-na com o planejamento virtual. Ele pode nãosó ser usado para conceber novos bairros e re-desenhar cidades por décadas, mas tambémajudar a administrar edifícios e bairros depoisde entregues. Alguns cliques com o mouse se-rão suficientes para determinar, por exemplo,como a demanda por estacionamento e abas-tecimento para veículos elétricos em um bairrovai mudar se uma pista para carros for cons-truída. Hubertus Breuer

“Genoma Urbano” Poderia Gerar Nova Imagem das Cidades

A fim de conduzir sua série de estudos ambientais Green City Index, a Siemens e a Economist Intelligence

Unit (veja pág. 7 e www.siemens.com/greencityindex) analisaram uma grande quantidade de dados hetero-

gêneos e diversas pesquisas. Além disso, dados sobre diversos assuntos foram acrescentadas em sites opera-

dos por cidades como Viena, Londres e Berlim, abrangendo desde energia e economia até arte e cultura.

Existe tanta informação nesse universo que o especialista em sustentabilidade Jonathan Fink, da Arizona Sta-

te University, afirma ter chegado a hora de decodificar o “genoma urbano”. É mais fácil falar do que fazer,

uma vez que dados disponíveis sobre as cidades são organizados em setores como transporte, saúde e demo-

grafia. Além disso, a informação, com frequência, tem lacunas em termos de qualidade, quantidade, granula-

ridade e eficácia. Os especialistas da Siemens agora examinam como podem coletar, integrar e interpretar

tais dados de maneira rápida como parte do projeto “Cidades Sustentáveis” no departamento Corporate Tech-

nology (CT). Atualmente, estão disponíveis programas simples e, por vezes, abertos, baseados em dados di-

vulgados pelas cidades, que permitem aos usuários se atualizarem em relação ao trânsito ou descobrir aonde

podem levar suas roupas usadas ou seus vidros recicláveis. Mais importante do que isso, no entanto, é a ca-

pacidade de apresentar a vida de uma cidade, seja em termos do equilíbrio energético ou em relação ao de-

senvolvimento econômico e social. “O desafio é desenvolver uma imagem completa e coerente de uma cida-

de a partir de diversas fontes de informação e vários níveis de tempo e de espaço”, comenta Dr. Axel Polleres,

cientista de computação no CT de Viena, Áustria. “Esses esforços vão eventualmente ser melhorados com pa-

drões de relatórios desses dados, uma vez que as cidades estão cada vez mais conectadas umas com as ou-

tras.” Atualmente, uma ferramenta útil está sendo desenvolvida por Dr. Stefan Kluckner, no CT de Graz, na

Áustria, que emprega o que há de mais avançado em tecnologia de processamento de imagens para conver-

ter imagens convencionais em 2D em modelos 3D de bairros inteiros. O sistema grava cenas importantes de

ângulos que se sobrepõem em diferentes momentos e se combinam para formarem a imagem tridimensio-

nal. O objetivo é usar dados organizados espacial e temporalmente para apoiarem programas de análise na

exibição das condições atuais numa cidade e, consequentemente, utilizar as imagens como uma base para

modelos e simulações nelas. Isso possibilitaria, por exemplo, a criação de um Green City Index dinâmico e

constantemente atualizado.

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é a abordagem dos cenários, concebidos pelaDivisão de Mobilidade da Siemens, que foitema do concurso “Futuro dos Centros de Trân-sito”, lançado pelo departamento. “Nossos fun-cionários apresentaram 140 ideias,” diz o autordo projeto, Huschke Diekmann. As sugestõesforam postas na Intranet, para avaliação. Asideias vencedoras tinham um ponto em co-mum: ressaltavam o grande potencial da inter-ligação dos distintos meios de transporte.

O projeto vencedor foi “Uma Plataforma In-termodal de Informações de Passageiros.” Aproposta era interligar as informações dos di-versos tipos de transporte de uma cidade numúnico software. Para isso, seria necessário dis-ponibilizar os horários dos meios de transportepúblico e os dados sobre a situação do trânsi-to. Assim, seria possível programar um appque oferecesse um plano de deslocamento deporta a porta e que checasse as rotas alternati-vas em tempo real, sugerindo a melhor delas.A Siemens apresentou um protótipo desse pro-grama no final de 2011, na Sexta Cúpula Na-

cional de Tecnologia da Informação, em Muni-que. O programa mostra um homem se deslo-cando de forma intermodal, ou seja, se des-viando de congestionamentos com a ajuda deum smart phone e da Internet. Ele sai do carro,pega um trem e depois uma motoneta, para fi-nalmente chegar ao seu destino a pé.

O tema do segundo colocado foi “O Trans-porte Intermodal de Mercadorias.” Em média,dura 12 horas para descarregar um trem decontêineres. Primeiro, os vagões têm que serdesacoplados da locomotiva elétrica e levadoscom uma locomotiva a diesel para um outrotrilho sem cabo elétrico aéreo. Logo, um guin-daste põe os contêineres em caminhões. Se-gundo os inventores da Siemens, esse proces-so poderia ser realizado abaixo do cabo aéreomesmo, usando-se uma ponte de carregamen-to mais simples e leve. Os contêineres seriamtransportados por um trilho paralelo, similar auma esteira rolante. Assim, um trem de cargaseria descarregado em menos de duas horas e,depois seguir seu caminho. Por meio de uma

fenômeno. As metrópoles são responsáveispor cerca de 80% da produção econômicamundial. Em função disso, elas são entronca-mentos das redes globais de deslocamento depessoas e mercadorias. Assim como acontececom o intercâmbio de dados na Internet, oscentros de tráfego ou entroncamentos são cru-ciais para a estabilidade da rede como umtodo. As cidades entenderam isso. Numa en-quete patrocinada pela Siemens, há váriosanos atrás, mais de 500 prefeitos e especialis-tas em urbanismo do mundo todo considera-ram as infraestruturas de tráfego o fator maisimportante para a atratividade de suas cidadescomo centros de negócios e investimentos.

Ideias para Centros de Trânsito do Futuro.Isso significa que as redes ferroviárias e rodo-viárias continuarão se expandindo? Os especia-listas participantes da pesquisa creem que não.Antes de tudo, eles querem aproveitar melhora infraestrutura existente, uma medida maisbarata e menos nociva ao meio ambiente. Essa

As metrópoles respondem pela maior parte da produção econômica mundial. Porém, elas precisam deótimos fluxos de informações para garantir a perfeita circulação de mercadorias com seus sistemas detransporte. A TI da Siemens torna as infraestruturas de tráfego mais eficientes. No futuro, os sistemasaprenderão com a experiência e se transformarão em sistemas holísticos de otimização do trânsito.

Como TI Cria CapacidadesA Economia do Futuro | Sistemas de Tráfego

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tecnologia semelhante, nos portos marítimos,contêineres seriam descarregados de naviosdiretamente para os vagões de trem. No futu-ro, os “contêineres inteligentes” teriam um im-portante papel no transporte de mercadorias,simplesmente pelo fornecimento automáticode dados sobre os destinos e datas de entregaa um sistema de logística integrado.

Um Centro de Controle para Todos. Na Ale-manha, o projeto “Composição para a GestãoTotal de Aeroportos” (em inglês TAMS), finan-ciado pelo Ministério Federal de Economia eTecnologia, explorou o potencial de sistemasintermodais. A Siemens, líder do projeto, tra-balhou com o Centro Aeroespacial Alemão, oaeroporto de Stuttgart e outros parceiros nessapesquisa, concluída no início de 2012.

A ideia básica do projeto é simples: conec-tar tudo! Ou seja, todos os processos funda-mentais de um aeroporto devem ser interliga-dos: a capacidade e o número de decolagens eaterrissagens, horários de voos, planos deabastecimento da aeronave, carregamentos debagagens, o número de check-ins de passagei-

ros, a capacidade dos portões na hora da aco-plagem dos aviões e o destino dos caminhõesde abastecimento alimentar . Atualmente, es-tas e outras atividades são desempenhadaspor empresas de serviços autônomas. Cadauma dessas firmas aloca seus funcionários deacordo com um cronograma preciso, mas cadauma tem seu próprio sistema de controle.Como num relógio, cada engrenagem estáperfeitamente conectada à outra, até um dis-túrbio ocorrer, como por exemplo uma nevas-ca. Essa eficiente coordenação funciona graçasà integração dos sistemas de TI das diferentesempresas de serviços, que compartilham osmesmos bancos de dados. Porém, no caso deum acontecimento inesperado, soluções têmque ser bem coordenadas, pelos chefes deoperações.

No sistema automatizado da TAMS, as coi-sas ocorrem de forma diferente. Neste caso, as

empresas de serviços estão ligadas a um únicocentro de controle, que coordena as opera-ções. Os sistemas de TI de cada companhia es-tão interligados de forma que os funcionáriosrecebem uma assistência integrada, quandoprecisam tomar decisões.

“Nos aeroportos que atingiram o limite decapacidade, o novo sistema aumentará em10% o número de decolagens por hora,” afir-ma Dr. Christoph Meier, responsável pela TI deaeroportos, da Divisão de Lo-gísticas e Mobilidade da Sie-mens. Os dados se baseiamem simulações realizadaspelo Centro Aeroespacial Ale-mão, em Braunschweig. ATAMS também tem influên-cia positiva sobre as emis-sões de CO2, pois com o controle integrado dotráfego aéreo, cada avião só poderá seguir atéo ponto de decolagem, se logo levantar voo,quase eliminando as filas de aeronaves à espe-ra para decolar, levando a uma economia decombustível. Assim, a pontualidade aumenta-ria em 20%, pois nenhum operador seria sur-

preendido por decisões inesperadas da torrede controle, como alterações na direção da de-colagem. Isso traria mais vantagens econômi-cas para as companhias aéreas. A OrganizaçãoEuropeia para a Segurança da Navegação Aé-rea calcula em torno de 1 bilhão de euros porano, os prejuízos causados por atrasos devoos, na Europa.

Os resultados do projeto da Siemens sãotão encorajadores que a empresa já pretendecolocar o produto à venda ainda esse ano. Osaeroportos poderão comprar da empresa a ar-quitetura de software completa, assim como ocentro de controle.

Para os passageiros, o importante é não sóaterrissar em tempo, mas também chegar aodestino final o mais rápido possível. Frequente-mente, quando se chega a um aeroporto,nota-se que a infraestrutura local não acompa-nhou o crescimento econômico. Isto fica evi-

dente ao tomar um táxi. Em algumas cidades,a velocidade média de um táxi, nas horas depico, é menos de 20 quilômetros por hora.

Huschke Diekmann, estrategista tecnológi-co, não acredita na ideia de uma solução pa-dronizada. “Cada cidade é diferente,” afirma.Para se calcular a rota mais rápida e com me-nor impacto sobre o meio ambiente, deve-selevar em conta dezenas de parâmetros, inclusi-ve as emissões de cada meio de transporte e o

comprimento dos engarrafamentos. As solu-ções dependem da precisão dos dados. Estesterão que ser registrados e processados por sis-temas de controle de tráfico, como os instala-dos pela Siemens em mais de mil cidades.

Em 2005, a Siemens foi encarregada de im-plantar um dos centros de controle de tráfego

mais modernos do mundo, em Berlim. O fluxodo trânsito na cidade é monitorado por câme-ras de vídeo e por cerca de dois mil sensores, amaioria deles circuitos de indução, imbutidosno asfalto. Com base no fluxo do tráfego e nohorário, mais de 1.700 semáforos e 300 pai-néis de sinalização são monitorados automati-camente pelo centro de controle da cidade.Mesmo tais instalações de alto nível tecnológi-co ainda podem ser melhoradas por meio deuma tecnologia de controle ultramoderna.

Tomada de Decisão Intuitiva. Uma soluçãomais avançada é o sistema de software cogni-tivo desenvolvido pelo Dr. Georg von Wichert,um especialista em automação da SiemensCorporate Technology. Ele carregou o sistemacom dados baseados no valor médio do trânsi-to de Berlim de quatro semanas. “Aqui, ‘cogni-tivo’ significa que o sistema cria sozinho um

Pesquisadores da Siemens estão desenvolvendo um app que monitora todos os meios de transporte de uma cidade em tempo real e guia os viajantes para os seus

destinos.

Cada cidade tem razões diversas de congestionamento e precisa, por-tanto, de soluções individuais.

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Pictures of the Future | Especial Rio+20 57

modelo do trânsito da cidade e logo tomasuas decisões,” explica o especialista. Ou seja,o sistema não se baseia na situação real dotráfico, medida pelos sensores em determina-das ruas, mas avalia os dados captados pelossensores no contexto urbano geral, “com-preendendo” a situação como um todo. É umaforma de inteligência intuitiva, como a dosfuncionários de um centro de controle de trá-fego, que costumam alternar entre a avaliaçãode um programa e outro para obterem uma vi-são geral.

A vantagem do sistema cognitivo é ele po-der observar, paralelamente, dados complexose reconhecer desvios de padrões normais decongestionamento mais rápido do que um serhumano. Para isso, ele precisa ser treinado.Quando o sistema de Georg von Wichert en-cerrou sua fase de aprendizado, ficou claro quese poderia prever os fluxos do tráfego e os con-gestionamentos habituais. Também tornou-sepossível prever casos especiais, como engarra-famentos causados por acidentes ou obras nacidade. Com base nos dados, foi criado um sis-tema de assistência para ajudar os funcioná-rios do centro de controle a optarem pelo me-lhor programa de condução de semáforos.

Outra vantagem do sistema cognitivo é suacapacidade de aprender. “Numa fase posterior,geramos pequenas variações nos parâmetros,que nos permitiu testar a reação do sistema e,assim, em pequenos passos otimizar os progra-mas de controle, sem interferir no fluxo dotrânsito”, diz Georg von Wichert.

Em testes, constatou-se até que ponto otrânsito fluiria melhor com a ajuda de sistemascognitivos. O especialista está certo de que,em situações complexas, seu sistema de con-trole baseado no aprendizado terá um desem-penho superior ao de operadores humanos.

Diekmann crê que, nas próximas décadas,os sistemas de controle automático estarão ap-tos a mais do que a simples gestão do trânsitoe que haverá uma interligação entre os siste-mas de controle de tráfico rodoviário, o trans-porte público local e centros de despacho demercadorias e de correio. “Quando isso ocor-rer, as cidades terão um sistema que otimizaráo tráfego em grandes áreas,” prediz ele.

Se, algum dia, a inteligência cognitiva pu-der coordenar todos os meios de transporte ecentros de controle de tráfego, o sonho do appda super mobilidade se tornará realidade: oviajante inseriria um destino qualquer no app,que então sugeriria três rotas diferentes, in-cluindo todos os meios de transporte e levan-do em conta os mais baixos custos, tempos deviagem e emissões de CO2. Suas propostas nãose baseariam em dados teóricos, mas na situa-ção atual do tráfico. Cada vez que esta se alte-rasse, as rotas seriam reajustadas em temporeal. Johannes Winterhagen

A Economia do Futuro

CurtasA economia mundial está em transformação e

tornado possível novas histórias de sucesso. Em

muitos setores industriais, por exemplo, o cresci-

mento ocorrerá sobretudo nos mercados emer-

gentes. O conceito da Siemens de Segunda Onda

de Países Emergentes reconhece a crescente im-

portância de países como a Colômbia, o México

e a Turquia, onde novas plantas de montagem

estão em construção e novos produtos sendo de-

senvolvidos de acordo com os mercados locais.

Futuramente, as nações industrializadas terão

que ser ainda mais inovadoras. (págs. 36, 47)

Os Serviços Financeiros da Siemens sabem

como investimentos podem se tornar rentáveis,

mesmo durante uma crise. Os SFS conduzem

com segurança grandes projetos em mercados

financeiros voláteis do mundo inteiro. (pág. 39)

Matérias-primas podem ficar escassas. Devido

à crescente demanda de combustíveis fósseis,

empresas de petróleo e gás se deslocam cada vez

mais para o fundo do mar. As reservas podem ser

exploradas com maior eficiência e segurança se

as instalações forem alocadas no solo oceânico.

A Siemens desenvolve sistemas de fornecimento

de energia e tecnologia de extração. (p. 44)

Hospitais necessitam de sistemas confiáveis

de abastecimento de energia, gestão de água,

proteção contra incêndios e controle da pureza

do ar. Graças ao sistema de automação predial da

Siemens, o Hospital Pediátrico Dell, no Texas Cen-

tral, não apenas é excepcionalmente eficiente,

como também foi o primeiro do mundo a receber

o nível platina da Certificação LEED. (p. 49)

Empresas multinacionais atendem mercados

globais e fabricam seus produtos em diversos paí-

ses. Na Siemens, identificar o lugar ideal para ins-

talar fábricas e, portanto, para combinar necessi-

dades internacionais da companhia com as dos

mercados locais, tornou-se uma ciência. (p. 50)

Infraestruturas urbanas, seja no tráfego, no

transporte, em energia ou nos edifícios, estão in-

terligadas de várias formas. Assim, uma mudança

muito pequena pode ter grandes consequências.

Um software da Siemens facilita a gestão da

complexidade do planejamento urbano. (p. 52)

GENTE:

Segunda Onda de Países Emergentes:

Marianne Kiener, Corporate Development Strategy

[email protected]

Financiamento de Projetos de Infraestrutura:

Hans-Joachim Schulz, Siemens Financial Services

[email protected]

Tecnologias Submarinas:

Bjoern Einar Brath, Energia

[email protected]

América Latina:

Tamyres Machado, Diretor Técnico de Jundiaí

[email protected]

Wilson Ruiz, Distribution Diesel Motors Columbia

[email protected]

Redes de Produção Global:

Jörg-Henning Kaske, Siemens Supply Chain

[email protected]

Planejamento Digitalizado de Cidades:

Dr. Bernd Wachmann, Corporate Technology

[email protected]

Tim Schenk, Corporate Technology

[email protected]

Sistemas de Tráfego:

Huschke Diekmann, Infraestrutura e Cidades

[email protected]

Dr. Georg v. Wichert, Corporate Technology

[email protected]

LINKS:

Hospital Pediátrico Dell / LEED:

www.dellchildrens.net/about_us/about_our_

green_building/

PricewaterhouseCoopers:

www.pwc.com

Serviços Financeiros da Siemens:

www.siemens.com/sfs

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58 Pictures of the Future | Especial Rio+20

Destaques63 Sobre uma Escassez Global Enquanto as populações em vários

países cresce, a demanda por águasegue aumentando. No mundo todo,780 milhões de pessoas não têmacesso à água limpa. A tecnologia defiltragem por membranas da Sie-mens pode mudar esse cenário, pos-sibilitando o acesso à água potávelem praticamente todos os lugaresonde houver necessidade.

66 Às Margens do Lago Vitória Muitas vezes, o maior lago da África

é citado como o “gigante doente”. O mau estado de saúde do lago nãoé o único problema que afeta as co-munidades ao ser redor. Os “WaterEnergy Hubs” (Centros de Água eEnergia) fornecem energia renovável,água potável e serviços de comuni-cação às comunidades.

71 Ninguém Fica para trás Assistência médica é uma parte es-

sencial da vida de qualquer indivíduo,tanto nas áreas rurais como nas cida-des. É por isso que as economiasemergentes precisam de soluçõesnão apenas práticas e de baixo custo,mas também de instalações sofistica-das, especialmente para os centrosmédicos das grandes cidades. Páginas 71, 73, 76

78 Vamos Fazer um Acordo! Muitos dos grandes projetos não são

apenas complexos e obscuros, comotambém envolvem decisões que atin-gem profundamente as comunida-des. Os exemplos da Alemanha, Suí-ça e Brasil demonstram que cada vezmais cidadãos querem participar ati-vamente nesses projetos.

2035A era da eletricidade começou numa aldeia da

África Central, anteriormente isolada do resto

mundo. Turbinas eólicas e uma instalação de

biogás geram energia renovável. Os habitantes

usam a eletricidade para acionarem seus apa-

relhos domésticos, carregarem as estações

de abastecimento elétrico para veículos e para

a iluminação de ruas. O centro médico foi equi-

pado com um sistema de refrigeração e de ar

condicionado movido à energia solar.

Page 59: Pictures of the Future 2012

Ocaminho para a era da eletricidade é aci-dentado e coberto de capim. O mato

cresce nas laterais da pista, parecendo uma só-lida e colorida muralha. Às vezes surge umaclareira, permitindo ver uma ou duas girafas,que nos percebem quando passamos silencio-

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Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Cenário 2035

África Central, em 2035. No meio do mato encontra-se uma afas-tada aldeia que, até então, dependia de lenha para gerar energia.Porém, agora, o governo a equipou com tecnologias sustentáveis,lançando-a a uma nova era. Um jornalista em visita descobrecomo a eletricidade mudou a vida dos habitantes.

Energia Chega em Casa

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Pode-se ouvir as batidas do coração de umbebê que ainda não nasceu, numa aldeia

sem eletricidade? Pode uma família iluminarum cômodo, mesmo o preço do diesel para alâmpada se tornando impagável? Ou se conse-gue filtrar água, eliminando as substâncias tó-xicas? É possível desenvolver câmeras tão so-fisticadas e econômicas que, mesmo pequenasempresas de países em desenvolvimento, pos-sam se permitir automatizar seu controle dequalidade? Ou desenvolver equipamento dediagnóstico médico que quase todos os hospi-tais possam adquirir? Isso é possível.

Siemens reúne essas e outras soluções emseu conceito SMART (trad. do inglês: simples,de fácil manutenção, econômico, confiável eadequado ao mercado). Ele faz parte da linhainovadora da Empresa, abrangendo desde mó-dulos de processamentos de imagens para umsistema de radiografias, agora 75% mais eco-nômicos (veja Pictures of the Future, Primavera

60 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2011

samente por elas. Já há algum tempo, os táxisna África Central são movidos à eletricidade.Caso nossa bateria arrie em terreno agreste, ummotor a combustível pode estender o alcancedo veículo. No volante está o médico Dr. SalimTaylor, nosso guia. Para um médico, ele tem umestilo de vida não muito saudável, sempre comum charuto no canto da boca e sua forma de di-rigir quase tão selvagem quanto a paisagem.Porém, desse lado do Equador, quase ninguémé tão bem informado sobre o país e seus habi-tantes quanto ele. Taylor está a caminho doambulatório, numa vila distante, onde dá con-sultas semanais. Pretende ver os primeiros re-sultados do programa de desenvolvimentoque, literalmente, eletrificou o povoado.

“Droga!” xinga Taylor quando, de repente, aroda direita dianteira cai numa vala. “É o déci-mo buraco de porco-da-terra desde que deixa-mos a pista de cascalho”, diz acendendo outrocharuto. “Essa ‘estrada’ não merece esse nome,mas a aldeia, ali adiante, mudou incrivelmen-te”, prossegue. Taylor sabe disso melhor doque ninguém, pois estava lá, no ano passado,quando os técnicos lançaram o povoado daidade da pedra à nova era da eletricidade, as-sessorando as autoridades federais responsá-veis pelo projeto e apoiando os moradores.

Antes, a aldeia estava isolada do mundo,sem eletricidade ou acesso a redes de comuni-cação – um anacronismo que se tornou raro,hoje em dia, mesmo na África. Por meio donovo programa de desenvolvimento sustentá-vel, em regiões remotas, o governo vem ten-tando remover os “espaços vazios” do mapa dopaís. “Trata-se mais de uma questão de evolu-ção do que de revolução”, diz Taylor. “Não esta-mos tentando destruir as estruturas sociais etradições da vila, porém pretendemos melho-rar as condições de vida das pessoas”.

Apontando para a vegetação nos dois ladosda estrada, diz: “você percebeu que, embora jáquase tenhamos chegado à vila, a abundânciade vegetação continua igual? Há alguns anosatrás, a área em torno da vila estava totalmen-te desmatada. Porém hoje, as pessoas já nãoprecisam mais catar lenha”. Taylor lança umabaforada de fumaça e passa numa outra vala.Aos poucos, o mato fica menos denso, revelan-do uma vasta planície. Descemos um pequenomorro onde, aos seus pés, se encontra a vila.

À primeira vista, aquele grupo de cabanasredondas parece mais tradicional do que pro-gressivo. Entretanto, na savana atrás do povoa-do, há três turbinas eólicas girando lentamen-te na brisa. No meio do povoado, chama aatenção um moderno prédio, em cujo telhadocélulas fotovoltaicas ofuscam ao sol. Olhandocom atenção, vê-se que postes metálicos cominstalações de luzes LED iluminam as ruas.

“Chegamos”, diz Taylor sorrindo e desce doveículo, soltando um suspiro aliviado. “Aquele

é o centro médico”, diz apontando para o pré-dio com as células fotovoltaicas. “Ele tem umsistema de refrigeração e ar condicionado acio-nado por energia solar e um refrigerador porabsorção. O sistema mantém o prédio agrada-velmente refrigerado. Mas, hoje, faremos con-sultas nas casas”. Em seguida, retira um tabletdo bolso e cumprimenta Abdul, o prefeito davila. “Abdul é algo como um paramédico. Pe-riodicamente, ele faz relatórios sobre o estadodos pacientes da vila, me enviando os dadospor radio, que podem ser fotografias dos diag-nósticos ou resultados de exames de sangue,que alcança com aparelhos automáticos deteste, não maiores que um celular. Assim, es-tou sempre informado sobre os pacientes”.

A caminho do primeiro paciente passamospor um contentor cilíndrico com algumas esta-ções de carregamento de eletricidade. “Essa é anossa instalação de biogás”, diz Abdul com or-gulho, batendo na lateral do tanque. “Abaste-cemos a instalação com detritos vegetais e es-trume. As bactérias no tanque são usadas paraproduzir metano que é transformado em eletri-cidade. Essa instalação junto com as turbinaseólicas nos torna auto-suficientes em energia.Apontando para as estações de carregamentodiz: “não esqueça de desconectar o carro quan-do você tiver terminado, Salim!”.

Ao nos aproximarmos da cabana redondado paciente, coberta de capim, ouvimos umamúsica suave. Da panela no fogão emana umaroma de temperos e no teto há uma lâmpadaLED pendurada. “Ensopado de porco-da-terra”,diz Taylor satisfeito e lança um olhar para o ta-blet. “Evidentemente, meu paciente está me-lhor”, afirma, apontando para um menino dei-tado, que parece ter uns doze anos de idade.“Ele tem malária?”, pergunto. “Quase não vi-mos mais casos de malaria desde as últimasvacinações”, responde Taylor. “Mordidas de co-bra também não são mais tão perigosas. Gra-ças ao abastecimento estável de energia, ago-ra temos refrigeração no centro médico. Issonos permite estocar soro e outros medicamen-tos para atender a muitas situações. Com a en-trada da aldeia na era da eletricidade, seus ha-bitantes não são mais tão vulneráveis quantoantes. Antigamente, quando ocorria um aci-dente, não se podia buscar ajuda. Hoje, as pes-soas pegam um celular ou vão ao ambulatóriode bicicleta elétrica. Esse é o caso desse meni-no. Ele estava andando de bicicleta sem capa-cete, caiu e teve um traumatismo craniano”.

O médico aponta um sinal luminoso nosolhos do menino. “Estava andando rápido de-mais?”, pergunto. “Entrou num buraco de por-co-da-terra,” reponde Taylor e, sorrindo, dá umsinal para a mulher na frente do fogão, que lhedá uma colherada do ensopado para provar.“Aliás, o causador do acidente não sobreviveu”.

Florian Martini

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Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Tendências

A Siemens testa novas tecnologias que apoiarão países em desenvolvimento e seus cidadãos mais po-bres a alcançarem por si mesmos um futuro mais produtivo. Já há geradores que transformam cascasde coco em eletricidade, instalações de tratamento de efluentes que convertem esgoto em água limpae uma visão do futuro, que fará de produtos confiáveis e acessíveis marcos para uma vida melhor.

Na Índia, lâmpadas com bateria fornecem luz a um

custo inferior ao de querosene e uma usina tão pe-

quena que cabe em um caminhão produz, com cascas

de coco, energia suficiente para uma vila inteira.

Lidar com Novas Fontes de Energia

Inovação. “Não devemos desprezar essas pes-soas por serem pobres. Pelo contrário. Nossaspesquisas mostram que, de hoje até 2025,anualmente, o poder aquisitivo dos 650 mi-lhões de pessoas miseráveis na Índia triplicarápara mais de um trilhão de dólares”.

Luzes que mudam vidas. “É trágico que ain-da hoje, pessoas vivam literalmente no escu-ro”, diz Dr. Rajendra K. Pachauri, presidente doPainel Intergovernamental sobre AlteraçõesClimáticas, nas Nações Unidas, e diretor geraldo Instituto de Energia e Recursos Naturais,em Nova Deli. “Por isso, o meu instituto lançouum programa chamado ‘Iluminando um Bilhãode Vidas’, no qual a Siemens participa com suasubsidiária Osram. Esse programa está voltadopara a problemática de 1,6 bilhão de pessoasno mundo todo, sem acesso à rede elétrica”.

Dr. Rajendra K. Pachauri explica que, o pro-grama desenvolveu uma lâmpada solar e uma

estação de recarregamento, onde as pessoaspodem deixar suas lâmpadas para recarregardurante o dia, ou alugar à noite por algunscentavos. “As lâmpadas trazem benefícios, poispermitem às pessoas trabalharem ou estuda-rem à noite, contribuindo, assim, para o bem-estar econômico de seus povoados”.

Não só luz chega a diversas aldeias, mastambém eletricidade. Engenheiros do Centrode Inovação de Energia Renovável da SiemensCorporate Research and Technology (CT T), emBangalore/Índia desenvolvem uma usina ener-gética portátil que opera com eficiência, cum-prindo as normas americanas de emissão. Essainstalação consome cerca de 35 quilos de cas-ca de coco por hora, gerando eletricidade parauma típica vila indiana de 50 a 100 famílias.

“O processo parcial de combustão por oxi-dação produz hidrogênio e monóxido de car-bono, transportados para um motor de com-bustão, gerando de 25 a 300 quilowatts de

2009, pág. 87), passando por estações fotovol-taicas para recarregar lanternas e celulares(Centros de Água e Energia), no Quênia (pág.66), ou um software, desenvolvido na China,que analisa o tráfego de uma cidade, até umaturbina para combustão de gás, produzidanuma planta brasileira de biomassa de cana(veja Pictures of the Future, Primavera 2009,pág. 78, 88).

O que há de mais em fornecer tecnologiasque ajudam países em desenvolvimento e pes-soas de baixa renda, no mundo inteiro, a bus-carem um futuro mais produtivo. A Siemensestá lidando com o que o escritor C. K. Praha-lad chama de “A Riqueza na Base da Pirâmide”.

“As grandes empresas estão desenvolvendoestratégias para satisfazerem as demandas da-queles que estão na base da pirâmide”, diz Dr.B. Bowonder, diretor do Centro de Treinamentode Gestão da Empresa, em Pune/Índia, e reno-mado especialista em Gestão Tecnológica e de

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eletricidade,” diz Peeush Kumar, responsávelpelo desenvolvimento de sistemas energéticosna CT T Índia.

“Singular na nossa solução é que, graças àtecnologia de precipitação eletrostática, emdesenvolvimento em Munique, o sistema re-quer pouca água para limpeza. Além disso, oprocesso de combustão produz cinza de carvãoque pode ser convertida em carvão ativadopara a purificação da água local, podendo viraté a tornar-se uma importante fonte de rendase vendida”, acrescenta Peeush Kumar.

Um saca-rolhas que purifica efluentes. Háalgo mais essencial do que luz e energia: águalimpa. A Siemens está desenvolvendo soluçõesque mudarão a vida de pessoas ricas e pobres.Na Cingapura, onde em 2007, a Siemens fixousua Central Mundial de Pesquisa e Desenvolvi-mento de Tecnologias de Água, ela é parceiraimportante do centro estatal “Water Hub”, de-dicado ao desenvolvimento de soluções eco-nômicas de tratamento de água (veja Picturesof the Future Outono 2008, pág. 39). Naquelepaís, a Siemens Water Technologies (WT) atuacom a Siemens Corporate Technology no de-senvolvimento de novos materiais, capazes deabsorver substâncias tóxicas como o arsênico.

Arsênico é encontrado em concentraçõestóxicas em amplas áreas do norte da Índia, les-te de Bangladesh e no sudoeste dos EUA. “Emvista do perigo de envenenamento em diver-sas partes do mundo, desenvolvemos e testa-mos uma partícula e um sistema de filtragem,capazes de absorver o arsênico”, diz Dr. RichardWoodling, responsável pelo desenvolvimentotecnológico no centro global de pesquisa e de-senvolvimento da WT, na Singapura. “Esse sis-tema pode ser adaptado às necessidades deum agricultor, podendo processar 1.000 litrosde água por menos que meio centavo”, diz Dr.Richard. Uma vez filtrado, o arsênico pode serrecolhido e misturado a cimento, retirando-odefinitivamente do meio-ambiente. No iníciode 2009, a tecnologia foi testada com sucesso

na Cingapura. Pesquisadores da CT desenvol-vem, em Bangalore, um sistema de tratamentode efluentes, capaz de eliminar 95% das subs-tâncias orgânicas e até 99% dos nutrientescomo nitrogênio e fosfatos das águas residuais,sem fonte externa de energia. “A maioria dasplantas de tratamento de efluentes consomemuita energia, pois precisa de arejadores paraas bactérias que metabolizam o material orgâ-nico”, diz Dr. Anal Chavan, engenheiro pesqui-sador sênior. “Porém, o nossosistema singular usa microorga-nismos, especialmente adapta-dos, auto geradores de oxigê-nio”.

O sistema de tratamento deáguas residuais, que parece umsaca-rolhas, é movido pela forçado esgoto que, com seu fluxo descendente,gira o “saca-rolhas” expondo a água na sua su-perfície, habitada por bactérias”, diz Dr. ZubinVarghese, chefe do Departamento de Inova-ções SMART da Siemens Corporate Technology,na Índia e acrescenta: “além disso, a mesmatecnologia, porém com organismos diferentes,pode ser adaptada ao tratamento de água con-taminada com detritos químicos ou petróleo”.

Atualmente, a Corporate Technology India ea Siemens Water Technologies buscam uma aldeia para a planta-piloto. “Esse é um exemplode tecnologia SMART”, diz Varghese. “O tama-nho do sistema pode ser bem adaptado às ne-cessidades, carregado em um caminhão e leva-do para o povoado, onde, com um tratamentoadicional mínimo, como carvão ativado ou sis-tema de gaseificação com biomassa de coco,transformará esgoto em água potável”.

Um estetoscópio que reconhece corações.Aos poucos, milhões de pobres do mundo todocomeçam a ter acesso a tecnológicas básicascomo luz, energia e água limpa. Na Índia, ondequase 85% da população não têm acesso a cui-dados médicos, o governo pretende duplicar oorçamento para assistência médica para quase

2% (20 bilhões de dólares) do seu PIB. Tecnolo-gias criadas para melhorar os serviços de assis-tência médica básica estão em planejamento.Buscando garantir um parto seguro para os 30milhões de bebês que, anualmente, nascemna Índia, dos quais 30% (cerca de 27.000 pordia) são partos de risco, a Siemens está desen-volvendo um aparelho para monitorar as bati-das cardíacas (Fetal Heart Rate Monitor –FHRM), que simplificará o diagnóstico, poden-

do acelerar o tratamento em caso de gesta-ções problemáticas. “Esse será um produtoemocionante, pois não há nada comparável nomercado”, comenta Dr. Ragavan, chefe do se-tor de Assistência Médica da Siemens, na Índia,com crescimento de 15%, em 2010-2011.

Semelhante a um estetoscópio digital, omonitor, hoje ainda um protótipo funcional,está equipado com eletrônica sofisticada e al-goritmos desenvolvidos pela CT Índia. Esseeconômico aparelho é capaz de distinguir en-tre as batidas cardíacas do feto e da mãe.

Esse dispositivo, associado a um cinturão,um módulo sem cabos, um sensor acústico eum acelerômetro baseado nas contraçõesmusculares, atualmente em desenvolvimento,oferecerá a possibilidade de monitorizaçãopermanente nas maternidades.

“Quando uma contração chega ao final, asbatidas cardíacas do feto precisam retornar aonormal”, explica Archana Kalyansundar, enge-nheiro pesquisador sênior, responsável pelastecnologias rurais de assistência médica, naSiemens Índia. “Isso não acontecendo, é um si-nal de complicação. Então, o dispositivo acionaum alarme que chama o medico ao leito damãe”. Arthur F. Pease

Siemens desenvolveu um sistema de tratamento de efluentes à base de algas, removendo até 99% dos nutrientes, sem qualquer fonte externa de energia.

Um novo sistema de filtragempode purificar até 1.000 litros deágua por menos que meio centavo.

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Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Outono 2011 63

A SkyHydrant fornece proteção

contra impurezas e patógenos ao

produzir água limpa e filtrada.

Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Água Limpa

“Água por todos os lados, mas nem uma gota para beber”, escreveu o poeta Coleridge no século XVIII –um sentimento que ainda descreve a situação de 780 milhões de pessoas sem acesso à água potável. Um sistema de filtragem da Siemens que utiliza membranas está ajudando a mudar esta situação.

Solução Móvel para a Sede

Apesar de quase ¾ da Terra estarem cober-tos de água, apenas 0,3% de todas as re-

servas é própria para o consumo. A OMS esti-ma que cerca 1,8 milhão de pessoas morre acada ano de diarreia, causada por contamina-ção da água.

Mercy Nyambura (abaixo) conhece bemeste problema. Ela é estudante em Kilimambo-go, comunidade a 60 km de Nairóbi, capital doQuênia. Alguns anos atrás, sua única opçãoera beber água contaminada do rio Thika, nasproximidades. Por isso, precisou procurar ohospital inúmeras vezes. Era intolerável, ape-sar de ter solução. E essa solução criada para

pessoas como Mercy foi desenvolvida porRhett Butler da Siemens Water Technologies,em Sydney, Austrália. Anos atrás, Butler desen-volveu o SkyHydrant, um pequeno sistema detratamento de água móvel (ver Pictures of theFuture, outono de 2008, pág. 36). Visandomelhorar a vida das pessoas, ele fundou em2005 a SkyJuice, organização sem fins lucrati-vos. Seu objetivo é formar parcerias locais paradivulgar melhor o SkyHydrant, nas áreas ruraise urbanas. Atualmente, 900 unidades estãoem operação em 42 países. Um único SkyHy-drant supre a demanda de água potável deuma comunidade de até mil habitantes.

Em 2010, junto com a SkyJuice, o FundoGlobal da Natureza e a PureFlow, a FundaçãoSiemens montou 2 quiosques com água limpano país onde Mercy nasceu. Nestas pequenasestações de engarrafamento de água, a SkyHy-drants transforma água contaminada em umabebida purificada que custa apenas 0,03 dólarpor lata. “A água impura pode causar o êxododo campo para as cidades, o que nosso projetoquer evitar”, declara Ulrike Wahl, diretora deoperações da Fundação Siemens. A meta alongo prazo da fundação é transformar as es-tações de água da SkyHydrant em microem-presas. “Água potável não necessariamente

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64 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Outono 2011

Versão elétrica e de

alta velocidade do

SkyHydrant, o Aqua-

Vendor, possui vazão

de 25 mil litros por

dia.

As noites de Mali são fantásticas,” diz Piet-Willem Chevalier. “Aqui vemos muitas es-

trelas, pois não há poluição ou luzes”. O Mali,na África Ocidental, não possui uma rede na-cional de energia, e poucos têm recursos paraobter um gerador a óleo. Por isso, Chevalier,engenheiro analista de turbinas eólicas dinâ-micas da Siemens Energia, com sede em Haia,Holanda, pretende abastecer o Mali com eletri-cidade limpa. Desde 2008, ele vem trabalhan-do, em sua folga, no projeto “Amo a energiaeólica”, que treina malineses para montaremturbinas eólicas a partir de materiais locais.

Posteriormente, quem estiver treinado po-derá montar sua própria empresa, dedicada àmontagem de energia eólica e a serviços demanutenção e estações de carregamento debaterias. “Quando uma célula solar estraga, te-mos que comprar outra. Mas a energia eólicaenvolve as pessoas do local”, diz Chevalier,acreditando que o progresso tecnológico e so-cial andam juntos. “Normalmente trabalho nocomputador, mas queria montar uma pequenaturbina eólica com minhas próprias mãos”. Eleencontrou na Internet as instruções de um es-cocês, Hugh Piggott, que há décadas montavaturbinas eólicas a partir de materiais simples.

deve ser disponibilizada de graça. A Pure Flowtreina equipes de comissões de água que ope-ram e mantêm os quiosques”, afirma Whal. Oslucros garantem uma pequena renda para osfuncionários, para que os quiosques conti-nuem viáveis e oferece uma perspectiva de fu-turo para a economia da comunidade. Com osucesso da iniciativa, em 2012, a FundaçãoSiemens implantará mais 4 estações Aqua noQuênia.

Os quiosques de água limpa têm 4 SkyHy-drants de 1,5 m de comprimento, cada um pe-sando 16 kg e assemelhando-se a um tubo deórgão. Em cada tubo, há um filtro de 10 mil fi-bras com membranas finas e pequenos porosque funcionam como peneiras. “A água do rioé armazenada num tanque, cuja pressão deentrada faz com que a água flua pelos filtrosde membrana sem energia elétrica”, esclarecea gerente de projeto Christine Weyrich da Fun-dação Siemens. “Os filtros retiram todas as par-tículas em suspensão, bactérias e vírus daágua. Se necessário, pode-se desinfetar o equi-pamento com ácido cítrico, sem usar agentesquímicos”.

São instalados dois filtros em cada quios-que, normalmente um pequeno prédio de al-venaria. “Isto protege os filtros e a água purifi-cada contra a luz do sol e a sujeira”, dizWeyrich. Uma “fábrica de água” como esta,com 2 unidades, produz 20 mil litros por dia deágua potável. 4 SkyHydrants fornecem águasuficiente para mais de 2 mil moradores. Oshabitantes dos vilarejos, sempre que precisamde água se dirigem aos quiosques com latas de20 litros, que compram por apenas 0,03 dólar.“A SkyHydrants até nos ajuda a poupar dinhei-ro”, diz Mercy. “O dinheiro que gastávamos emremédios é usado para custear meus estudos:quero ser enfermeira quando crescer”.

Este exemplo mostra como o desenvolvi-mento social se relaciona diretamente com ofornecimento de água. “Água de baixa qualida-de influencia de foma negativa as oportunida-des de educação, destrói o ecossistema e cau-sa o êxodo rural. Em geral, as cidades possuemestações de tratamento para obter água potá-vel, o que envolve uma tecnologia complexa,por vezes além das possibilidades das comuni-dades de países em desenvolvimento e merca-dos emergentes. Além disso, as infraestruturasurbanas estão cada vez mais sobrecarregadascom o crescimento rápido da população.

Portanto, tecnologias autônomas e descen-tralizadas são uma boa alternativa. Esta é a ra-zão pela qual a SkyJuice também pretende co-laborar com parcerias como a do RotaryInternational e a do Oxfam para instalar SkyHy-drants em cidades de todo o mundo. Este mo-vimento já obteve um sucesso considerável,uma vez que o “tubo de órgão” já vem sendoutilizado em hospitais, escolas e favelas de paí-ses em desenvolvimento. “O SkyHydrant jáestá sendo usado em grandes cidades no Ban-gladesh, no Haiti, na Índia, no Camboja e noNepal”, esclarece Butler. “Porém, ainda há mui-to trabalho a ser feito”.

Filtragem Automática. Butler mantém suaspromessas: com a sua equipe, modernizou oSkyHydrant nestes últimos 9 meses. O resulta-do é o “AquaVendor,” que como seu antecessorsofisticado, usa a mesma fibra membranosa. Adiferença é que o sistema não precisa mais seroperado de forma manual. Um pequeno dispo-sitivo de controle opera no AquaVendor, tor-nando os processos de filtragem e purificaçãototalmente automáticos.

O sistema também se autolimpa a cada 20-30 minutos com um pequeno injetor que inse-re ar, removendo os resíduos das membranas.O dispositivo, que exige pouco espaço, produzaté 25 mil litros de água potável por dia, maisdo dobro do que o SkyHydrant consegue tratar.

O único requisito para o AquaVendor é umatomada elétrica – todo o resto funciona auto-máticamente, com pouquíssima manutenção.Segundo Butler, as unidades portáteis de trata-mento de água são ideais para prédios residen-ciais, pequenas cooperativas urbanas de águae usuários industriais de baixo volume. “O sis-tema pode ser instalado num hotel ou numaresidência na Índia e na China – imagine aspossibilidades”, afirma Butler. “Seria possíveltransformar a água da chuva coletada nos te-lhados em água potável”. Por cerca de 7 mildólares, estas unidades também seriam acessí-veis, afirmou Butler. Este novo sistema de tra-tamento está sendo testado e aprimorado emSydney, na Austrália, antes de ser lançado nasregiões do mundo assoladas pela sede.

Hülya Dagli

Page 65: Pictures of the Future 2012

O engenheiro holandês Piet Chevalier trabalha

com energia eólica no Mali. As turbinas de

900 watts projetadas por ele são fabricadas local-

mente, com materiais quase que totalmente

oriundos das regiões vizinhas.

Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2011 65

Entre 1970 e 1990, centenas de turbinaseólicas foram instaladas no Mali para bombearágua, mas poucas ainda estão em uso, segun-do Brahima Bocar, originária da região de Tim-buktu e funcionária da Siemens em Varsóvia,Polônia. “Elas foram financiadas por entidadesestrangeiras. Quando os projetos terminavam,ninguém mais se preocupava com as bombas.Aos habitantes faltava o conhecimento neces-sário para mantê-las funcionando. Não bastafornecer um produto, é preciso treinar e moti-var as pessoas a mantê-lo operando”.

Em 2008, Chevalier conheceu Bocar naDinamarca. Bocar relatou o cotidiano no Malie Chevalier descreveu as turbinas eólicas queestava montando. Logo perceberam queaquelas instalaçoes poderiam transformar avida dos malineses. Até mesmo pessoas semescolaridade conseguem montar as turbinascom facilidade, já que as pás são de madeira,que pode ser cortada e entalhada até adqui-rir a forma correta. O gerador consiste em fiode cobre enrolado e um rotor que gira dentrode um cubo de roda. “Além disso, tambémprecisamos de braçadeiras de metal e umtubo para o mastro e nada mais”, afirma Che-valier.

mas tudo é diferente na Africa, até o sentidode tempo”, ele diz. “Você tem que se ajustar aoritmo local”. As diferenças culturais foram oprincipal problema, e não a capacitação daspessoas, como Chevalier previra inicialmente.“Os malineses sabem usar ferramentas melhordo que eu”, afirma.

A Energia das Pessoas. Outro desafio era origido sistema de castas, que dita o que cadaclasse pode fazer. Apesar disto, os 10 partici-pantes incluíram 2 mulheres, uma situaçãorara na conservadora sociedade muçulmanado Mali. Todas as manhãs, Gerner pedia que osparticipantes fizessem exercícios para fortale-cer o espírito de equipe. “Foi um grande passoquando aqueles homens e mulheres deram-seas mãos”, ela afirma. Havia ainda a barreira lin-guística: os malineses falam vários dialetos, eum francês com forte sotaque. Chevalier supe-rou estas dificuldades ao elaborar cartazes ex-plicando como as turbinas eólicas são feitas.Chevalier e Gerner adquiriram a maioria dosmateriais de fornecedores locais. Importar apenas 2 componentes, ou seja, magnetospermanentes (da China) e poliéster para o iso-lamento de fios de cobre (do Senegal). Os par-ticipantes frequentaram oficinas em queaprenderam a montar turbinas eólicas com al-tura de 12 a 20 metros e rotores com diâme-tros entre 1,2 e 4,2 metros.

Uma turbina com diâmetro de 3 metrosapresenta pico de geração de 900 watts e ren-dimento de 150 kilowatts/hora (kWh) por mês,explica Chevalier. “Os materiais e a montagemcustam cerca de 350 euros, mais o custo domastro, das baterias e dos sistemas eletrônicoscomo o regulador de tensão. Apesar de serpossível adquirir estes componentes no Mali,nossa tecnologia do tipo faça você mesmo,permite produzi-las por 10 a 20% do custo nor-mal”. Isto reduz o custo em dezenas de euros.

“A eletricidade gerada por uma turbina evendida a 650 euros custa cerca de 0,20 europor kWh”, diz Chevalier. A eletricidade geradapor um pequeno gerador a óleo custa 0,80euro por kWh. “Desta forma, é possível atingiro ponto de equilíbrio em apenas um ano”. Osmalineses usam a eletricidade para iluminaçãoou para recarregar seus telefones celulares. Al-guns também compram geladeiras ou TVs. “Ti-vemos fortes tempestades em agosto de2010”, Gerner relata. O mastro de uma dasquatro turbinas concluídas ficou totalmentedanificado. Os outros três ainda não foram ins-talados porque os recursos privados de Cheva-lier se esgotaram. “Até agora, paguei tudo domeu próprio bolso e trabalhei em meu tempode folga”, ele esclarece. Portanto, Chevalierprecisa encontrar novas fontes de financia-mento para energia eólica, para tirar os mali-neses do escuro. Evelyn Runge

Choque Cultural. Depois, Chevalier entrouem contato com Yvonne Gerner, que vive pró-ximo à capital da província de Mopti. Com a as-sistente social Mamadou “Baba” Traoré, Gernerestabeleceu a Fundação Rondom Baba em2007. A fundação adquiriu um terreno e ensi-na técnicas agrícolas à população, e como tra-balhar a madeira, o couro e o metal; uma par-ceria ideal para Chevalier. “Precisava depessoas que quisessem transformar suas vidase montar suas próprias empresas”. Nenhumdos 10 participantes selecionados para a pri-meira oficina tinha emprego fixo. Faziam bis-cates; um carpinteiro fabricava móveis e umsoldador reciclava sucata.

Quando os preparativos foram concluídos,em dezembro de 2009, Chevalier viajou para oMali pela primeira vez. Ele e a fundação leva-ram duas semanas para encontrar os compo-nentes necessários, apesar de os materiais es-tarem disponíveis no local. “Eu sou impaciente,

Como gerar eletricidade em algumas das regiões mais pobres domundo? O engenheiro da Siemens Piet-Willem Chevalier ensina afabricação, a montagem e a manutenção de turbinas eólicas aos cidadãos no Mali. Isso é um exemplo clássico de sustentabilidade.

Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Energia Eólica no Mali

Faça Você Mesmo

Page 66: Pictures of the Future 2012

Quando anoitece no Lago Vitória e a águadesaparece na escuridão, aí que começa

a jornada de trabalho de Pottas Aboy e seustrês colegas. Com fortes remadas eles seguempara o meio do maior lago da África e só paramquando a margem se torna uma estreita faixano horizonte. Então, cuidadosamente, os pes-cadores quenianos lançam um pequeno bote àágua. Dentro dele há uma bateria azul e, acimadela, encontra-se uma lâmpada economizado-ra de energia da Osram, pendurada numa es-trutura de galhos. À luz da lâmpada, a águabrilha num tom verde escuro. “Essa luz atrai so-bretudo omena, um tipo de sardinha”, explicaAboy, dando um leve empurrão no bote, cons-truído por ele e, em seguida, o vê desaparecerna escuridão do lago. “Agora, ficamos esperan-do até que muitos peixes se juntem em voltada luz”, diz Aboy. “Depois, lançaremos umarede e, logo, a recolhemos”. Aboy olha fixa-mente para a noite, onde a única coisa visível éa pequena luz cintilante balançando sobre olago do tamanho da Irlanda. Equipados com as

suas novas lâmpadas, Aboy e seus colegas sãopioneiros entre os cerca de 175.000 pescado-res do Lago Vitória. Há gerações os pescadoresnativos usam luz como chamariz para os pei-xes, mas até então, as lamparinas a queroseneeram a única fonte de luz. Segundo o GlobalNature Fund (GNF), uma organização de ajudaao desenvolvimento, essa tradição tinha con-sequências fatais: o querosene, altamente in-flamável, causou sérias queimaduras em pes-cadores, além de vazar, poluindo as águas quejá não eram muito limpas, e de produzir gasesde efeito estufa. O querosene queimado na-quelas lamparinas produz cerca de 50.000 to-neladas de CO2 por ano, afirma a GNF.

Tem sido muito difícil para a população lo-cal romper com suas tradições, especialmentepelo fato dos cerca de 30 milhões de habitan-tes às margens do Lago Vitória não terem aces-so à eletricidade. Essas pessoas não têm outraopção senão usar querosene, esse tóxico com-bustível, e não apenas para pescar, mas tam-bém para iluminar os seus lares. Em 2008, as

coisas mudaram, quando a Osram AG, umasubsidiária 100% da Siemens, que está se pre-parando para tornar-se uma empresa de eletri-cidade listada publicamente, o GNF e a Tha-mes Electricals, uma empresa do Quênia,começaram a oferecer uma alternativa de fon-tes limpas e seguras de iluminação para provera região, no âmbito do projeto especial “Ume-me Kwa Wote” (Energia para Todos). Em 2011,a Fundação Siemens, um órgão caritativo, co-meçou a participar desse projeto-piloto. Jun-tos, eles apoiam essa iniciativa social chamada“Light for Life” (Luz para a Vida), cuja meta éabastecer com serviços de energia renovável eágua potável as remotas regiões do Quênia,instalando os chamados WE!Hubs (Water Ener-gy Hubs – Centros de Água e Energia). “Essescentros permitem o acesso aos serviços acimacitados, criam empregos locais, abrem oportu-nidades de empreendimentos e de educaçãoe, paralelamente, oferecem opções para umauto-sustento financeiro”, diz Ulrike Wahl, dire-tora da Fundação Siemens. “Até 2014, instala-

Há gerações, os habitantes às margens do Lago Vitória usam lamparinas de querosene para pescar e ilumi-nar seus lares. Além desse combustível sujo ser uma séria ameaça à saúde e ao meio ambiente, a água potável contaminada é outro grande problema. Essa é a razão, pela qual o projeto “WE!Hub” foi lançadopor um consórcio composto pela Osram, Fundação Siemens, Global Nature Fund e Thames Electricals.

66 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2009

Compartilhando um Futuro mais Brilhante | WE!Hub na África

Uma Fonte de Esperança para o Lago

Page 67: Pictures of the Future 2012

remos mais cinco centros, no Quênia e os trêscentros existentes, serão ampliados”. O projetoé co-financiado pela Comissão Européia.

Postos ostos Auto-Suficientes de Carrega-mento. Esses centros são pequenas estaçõesde carregamento de baterias, abastecidas porpainéis fotovoltaicos, montados no telhado,que os tornam independentes da rede elétrica.A energia gerada serve para carregar os boxesde baterias, lâmpadas à bateria e celulares.

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Graças ao sistema de filtragem de água, insta-lado no centro, os moradores também têmacesso à água potável limpa. Como o acesso àeletricidade e aos meios de comunicação setorna cada vez mais importante em países afri-canos, os centros estão se adaptando a essacrescente demanda e, futuramente, oferece-rão mais serviços. A partir de 2012, haverá ainclusão das tecnologias de informação e co-municação (TICs) e da Internet, permitindo oacesso à educação e a conexão ao “mundo” àspessoas que delas ainda não dispõem. Paraque a população alcance um maior benefíciocom esses desenvolvimentos, serão realizadostreinamentos de TICs, empreendedorismo,meio ambiente e higiene nos centros. “Os mo-radores da região podem alugar as lâmpadaseconomizadoras de energia ou recarregar suas

próprias em um dos “WE!Hub”, explica JochenBerner, diretor de Desenvolvimento de Susten-tabilidade da Osram. “Além das lâmpadas,também oferecemos água potável purificada eum serviço de carregamento de celulares.” AOsram que, em cooperação com o GNF, já im-plantou três quiosques-piloto no Lago Vitória,apoia o projeto conjunto como parceiro tecno-lógico, assessorando em questões técnicas econceituais. Na cidade de Mbita, de 15.000 ha-bitantes, às margens do Lago Vitória já há um

centro, construído em alvenaria, rodeado porbarracos de chapas onduladas. Entre as estru-turas, galinhas ciscam na poeira. Aqui, o mun-do parece dormir no calor quase insuportáveldo meio-dia. Porém, há atividade detrás dasparedes do centro, com seus 64 painéis sola-res, bombeando constantemente energia dosol tropical nas baterias de carregamento daslâmpadas economizadoras, com uma produ-ção de até 15 KW.

Carregar um boxe de baterias ou uma lan-terna dura cerca de três horas. Uma vez carre-gada, o boxe de baterias é capaz de manteracesas as lâmpadas de 11 watts economizado-ras de energia da Osram por até 12 horas, e alanterna LED por até 10 horas. “Isso é mais quesuficiente para uma noite de pesca. Mas omaior benefício oferecido pelas lâmpadas é oseu baixo custo”, diz Berner. Ele explica que to-dos que desejam alugar uma lâmpada preci-sam deixar um depósito de 1.000 shillingsquenianos, que correspondem a cerca de noveeuros. Muito dinheiro para pessoas, cuja rendamédia mensal é de apenas 35 euros. “Precisa-se considerar que, o depósito custa quase omesmo que uma nova lamparina a querosene,sendo que os clientes recebem seu depósito devolta, quando não precisam mais da lâmpada”.Berner também chama atenção para o fato deque a taxa de carregamento no centro é barataem comparação ao consumo de 1,5 litros dequerosene por noite de um pescador, ao custode 150 shillings. “Conosco, o cliente só paga100 shillings por noite, economizando, assim,30%”. Além disso, eles ainda podem usar asbaterias para acionarem outros aparelhos,como celulares e rádios.

Embora o modelo econômico pareça con-vincente, no início, como em outros projetosde desenvolvimento, ele não despertou muitointeresse. “As pessoas são muito apegadas àssuas tradições. As estruturas sociais e de toma-da de decisão são diferentes das de países in-dustrializados. Por exemplo, se um homem es-tiver interessado numa das nossas lâmpadas, épossível que a esposa vete a decisão, pois, fre-quentemente na África, as mulheres são res-ponsáveis pelo orçamento familiar”, diz Berner.Por isso,a equipe da Osram teve muito traba-lho de persuasão e, pacientemente, conseguiuestabelecer com sucesso novas relações. “Ostrês centros existentes atendem 300 equipesde pesca e 400 casas”.

Luz na Casa de Mama Austin. Embora, emprincípio, tenhamos desenvolvido as lâmpadaslimpas e claras para serem usadas por pesca-dores, hoje, elas estão cada vez mais presentesnas casas. Em Nyandiwa, a 50 quilômetros aosul de Mbita, na loja de Mama Austin, encon-tram-se essas lâmpadas. Seu barraco de cha-pas onduladas está abarrotado com todo tipo

Durante gerações, pescadores do Lago Vitória

atraíram sardinhas omena com lamparinas.

Hoje eles usam lâmpadas economizadoras de

energia da Osram.

Pessoas sem acesso à rede elétrica podem alugar

lâmpadas economizadoras de energia e obter

água pura nos centros da WE!Hub. A eletricidade

vem de painéis fotovoltaicos, fixados em telhados.

Vitória

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Na aldeia de Adjuntitas Dos, no planalto doestado de Querétaro, no México, o tempo

parece ter parado. Assim como muitos ali, Ar-temio Juárez, o morador mais idoso da aldeia,trabalha a sua roça íngreme e pedregosa coma sua enxada e carrega as sementes numa bol-sa pendurada no ombro. Seu principal meio detransporte é um carrinho de mão.

Na vila de cerca de 100 habitantes, localiza-da a 200 quilômetros ao norte da Cidade doMéxico, a uma altitude de 1.800 metros, nãohá carros nem caminhões. As 14 casas do po-voado não têm acesso à rede elétrica pública, àágua corrente ou à rede de telecomunicaçõesseja fixa ou móvel. “Estamos perdidos aqui nasmontanhas”, diz Lucía Cruz, esposa de ArtemioJuárez. “Não temos estradas e ninguém tem

luz elétrica”. Assim como cerca de outras30.000 pessoas no estado de Querétaro, Cruze sua família tiveram sempre que se arranjarsem eletricidade.

Porém, agora isso é passado. Desde o verãode 2011, uma pequena lâmpada está acesa to-das as noites na casa da família Cruz. Umacompacta lâmpada fluorescente da Osram ilu-mina a mesa onde eles comem e uma outrafica acima da rede de Bernardino, o filho deoito anos do casal. A eletricidade para as lâm-padas vem de um módulo solar fixado no te-lhado.

Como parte do projeto “Luz Cerca de Todos”(Luz junto a Todos), técnicos da Siemens insta-laram 182 módulos solares em Adjuntitas Dos eem mais nove outras comunidades num raio de

Cerca de 30.000 habitantes das montanhas de Querétaro, no México,não estão conectados à rede elétrica. Para ajudá-los, a Siemens insta-lou sistemas de energia solar que abastecem mais de 180 lares.

Vidas Novas com Luz

Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Soluções Fotovoltaicas

68 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

de mercadoria e, numa parede, vê-se um pôs-ter do presidente americano Barack Obama,cuja avó vive nas proximidades. Há uma únicalâmpada Osram pendurada no teto. “Antiga-mente, eu fechava a loja, quando o sol desapa-recia. Hoje, acendo a lâmpada e a loja ficaaberta até às nove, melhorando os meus negó-cios”, diz Mama Austin. A luz brilhante agradanão só aos clientes, mas também às crianças.“Elas podem vir à noite para estudar sem estra-gar seus olhos ou terem que respirar a fumaçadas lamparinas a querosene”, acrescenta.

As lamparinas a querosene são responsá-veis por doenças pulmonares e pela maioriados incêndios na vila, diz Ben Otieno, diretordo centro de Nyandiwa. “Uma vez, em ummês, três casas foram destruídas pelo fogo.Quando isso ocorre, as pessoas ficam literal-mente sem nada”. É por isso que Otieno crêque o êxito do projeto dependa da conscienti-zação das pessoas em relação aos benefíciosde saúde, oferecidos pelas lâmpadas Osram.

Água Potável extremamente Pura. Os cen-tros também oferecem água potável. Em par-te, isso se deve aos bem-sucedidos esforços deOtieno e seus dois colega, ao convencerem apopulação local das vantagens da água purapara a saúde. Agora, cada vez mais pessoasvêm à torneira diante do centro para enche-rem de água suas vasilhas, pagando dois shil-lings por litro. Para Otieno, esse é um investi-mento em saúde, pois muitos dos moradoresretiram água do Lago Vitória, bebendo-a semferver, apesar de lavarem suas roupas no lagoe usá-lo como vaso sanitário.

“É por essa razão que, todos os anos, se re-pete a epidemia de cólera, e a falta de assistên-cia médica adequada a torna um enorme pro-blema”, diz Otieno. “Por outro lado, a água docentro é completamente segura e isso se espa-lhou por toda a aldeia”.

A água é limpa graças a um sofisticado sis-tema de tratamento, transformando água plu-vial e água suja em água potável pura. “Com aunidade, processamos até 10.000 litros pordia. E a qualidade é superior a dos poços públi-cos”, conta Otieno, convicto de que os centrosauto-suficientes, junto com o integrado servi-ço de filtragem de água têm um futuro promis-sor no Quênia.

Para Pottas Aboy e seus três colegas está nahora de retornar ao lago, remando em direçãoda pequena luz balançando nas marolas.Quando eles alcançam o bote surgem mosqui-tos, aos quais nem dão atenção, pois estãoocupados em jogar a rede e, em seguida co-meçar a recolhê-la. A água sob a rede começaa borbulhar, quando a lâmpada ilumina o car-dume, fazendo os peixes parecerem partes deum tesouro de prata. E assim começa a jornadade trabalho de Aboy. Florian Martini

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50 quilômetros. Novas baterias foram forneci-das para armazenar a eletricidade gerada du-rante o dia. Para as pessoas dessa região mon-tanhosa, isso foi como um “amanhecer emplena noite”, diz Juárez. Agora, Bernardinopode ler um pouco antes de dormir e sua irmãtem mais tempo para suas tarefas de casa. Asduas crianças estão ansiosas pelo dia em quepossam escutar música e assistir televisão, parasaberem o que está acontecendo no mundo.

Enquanto as pessoas, nos países industriali-zados acham natural obter energia diretamentedas tomadas elétricas, a Agência Internacionalde Energia (IEA) relata que 20% da populaçãomundial ainda não têm acesso à eletricidade,ou seja, cerca de 1.4 bilhão de pessoas, a maio-ria vivendo na África e no sul da Ásia. Mesmo

no México onde, em 2010, a eletrificação al-cançou o nível de 97%, ainda há 3.5 milhões depessoas, sobretudo nas comunidades ruraiscomo Adjuntitas Dos, sem eletricidade.

Segundo um relatório do Banco Mundial, aeletricidade melhora substancialmente as con-dições de vida nessas regiões. Nele consta que,a luz elétrica tem efeitos positivos sobre a edu-cação, a saúde e o desenvolvimento econômi-co. Estudantes podem estudar à noite e, quan-do há lâmpadas elétricas ao invés de velas, aqualidade do ar também melhora. A existênciade televisão ajuda as pessoas a se manterem in-formadas quanto à saúde e questões agrícolas.E, frequentemente, o acesso à rede elétrica per-mite a criação de um pequeno negócio. Porexemplo, o proprietário de uma geladeira podealugar o seu espaço interno ou vender bebidasgeladas.

Ajudando as pessoas a viverem melhor.Querétaro continuará aprimorando os seusserviços. Até 2013, o governador José Calzadapretende abastecer todo o estado com energiaelétrica. A Siemens desempenhou um papelfundamental nas primeiras etapas do projeto.O Setor de Energia da Empresa não apenasabriu uma nova usina em Querétaro, em 2011, mas também disponibilizou a verba de

230.000 euros e a montagem dos módulos so-lares. “Além de criar empregos e de expandir onosso negócio na região, participamos no de-senvolvimento das comunidades. É por issoque organizamos programas que melhoram aqualidade de vida”, diz Louise Goeser, CEO daSiemens Mesoamérica, ressaltando que a Sie-mens pretendia dar um exemplo, demonstran-do que vale a pena apoiar o desenvolvimentosocial. Não foi fácil atingir essas metas. Os pai-néis solares tiveram que ser transportadospara as montanhas. Foram preciso oito sema-nas para instalá-los em dez aldeias, aonde al-gumas só foram alcançadas após duas horasde caminhada sob chuvas torrenciais. Para o lí-der do projeto, José Hernández, tudo isso temum forte caráter simbólico: “os habitantes de

Querétaro representam todos aqueles semacesso à eletricidade. Queremos mostrar comoela é capaz de mudar as suas vidas”.

Vendo a Luz. Energia gratuita possibilita aosmoradores de Adjuntitas Dos economizaremmuito dinheiro. “Os moradores costumavamgastar 40% da sua renda em velas, baterias ecombustível. Eles usavam as baterias de carro,por exemplo, para verem televisão”, diz Her-nández. Alguns agricultores usam suas econo-mias para pagarem empregados. “Agora, elespodem cultivar maiores áreas, suas colheitasaumentaram e ainda melhoram suas situaçõesfinanceiras”. A luz à noite ajuda as crianças aestudarem por mais tempo. “Depois da escola,as crianças têm que ajudar seus pais na lavou-ra, voltando para casa não antes do anoitecer”prossegue Hernández. Antigamente, a luz eraalgo tão precioso que as famílias consideravamum desperdício acender velas para as criançasfazerem as tarefas de casa. “Agora, elas fazemseus deveres e seus pais lhes oferecem umamelhor situação”, diz Hernández. Além demontar sistemas de energia solar em casasparticulares, a Siemens também instalou dezconjuntos comunitários, que fornecem eletrici-dade para uma geladeira e um computador emescolas, igrejas e armazéns.

Segundo o Banco Mundial, a eletricidadeusada em áreas rurais serve primeiramente àiluminação e, logo em seguida, à televisão e àrefrigeração. Aparelhos eletrônicos ainda sãoraros aqui nas montanhas. “Alguns lares têmum radio, mas poucos têm uma televisão ouum celular”, diz Hernández.

Com o acesso à eletridade, os moradores deAdjuntitas Dos tiveram que aprender a utiliza-la racionalmente. Em geral, uma família temenergia solar suficiente para quatro lâmpadase um rádio funcionarem por quatro horas.“Nós lhes explicamos que precisavam apagar aluz e desligar o radio, quando saíssem do cô-modo”, diz Hernández. “No início, isso os desa-pontou um pouco, mas em geral, eles estãomuito felizes com a mudança.” Ute Kehse

Módulos solares e lâmpadas economizado-

ras de energia não apenas trazem luz à po-

pulação de regiões remotas do México, mas

também melhoram a sua qualidade de vida.

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Page 70: Pictures of the Future 2012

Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Reciclagem de Lixo

No mundo todo, muita gente se sustenta recolhendo, separan-do e reciclando o lixo, nas cidades. A Fundação Siemens estáajudando a melhorar as suas condições de trabalho.

Materiais recicláveis no lixo ajudam muitas

pessoas em países pobres a sobreviverem.

Com talento, plásticos usados para publici-

dade podem ser transformados em moder-

nas bolsas (abaixo).

Lixo Gera Renda

O s imensos aterros sanitários nos arredo-res de Cochabamba, El Alto, La Paz e

Santa Cruz são visíveis a todos. Catadores delixo — em geral mulheres e crianças — catam,enchendo seus sacos, qualquer coisa que pos-sa ser reciclada ou aproveitada, entre monta-nhas de lixo com odor de podridão. Diariamen-te, são produzidas mais de 3.000 toneladas delixo nessas quatro cidades. Swisscontact, umaorganização de desenvolvimento, avalia que80% desse lixo poderiam ser recicláveis e que,a separação e a reciclagem gerariam 20.000empregos. Porém, a maior parte do lixo não éseparada, indo parar nos lixões e nas ruas —assim mesmo 70% da população das grandescidades bolivianas têm acesso a um serviço decoleta de lixo. O problema é que, os municípiosmenores não dispõem de suficientes meios fi-nanceiros para lidar com essa questão. “Nesseslugares, 40% das pessoas queimam o lixo, 33%o jogam em áreas verdes, por volta de 16%despeja-o em rios e 7% simplesmente o enter-ram em seus quintais,” diz Matthias Nabholz,diretor de projetos da Swisscontact, no local.

Para melhorar a gestão de lixo em diversascidades, a Fundação Siemens começou a apoiar,em 2010, o projeto “Empregos e rendimentos

por meio de gestão ambiental”, criada pelaSwisscontact, em 2009. A intenção do projetoé criar, por meio de parcerias público-privadas,abrangentes sistemas de separação de lixo, dereciclagem de plástico, vidro, papel, metal e dedetritos orgânicos, bem como a construção delocais adequados para depositar os detritos re-siduais. “Estamos aproveitando as estruturasurbanas existentes”, diz Gerhard Hütter, res-ponsável pelo projeto na Fundação Siemens.“Cooperamos com as secretarias dos bairros, osníveis mais inferiores na hierarquia da adminis-tração municipal, onde funcionários municipaisfazem acordos com coletores ‘informais’ de lixo”.

Em suas áreas especificamente determina-das, uma a três vezes por semana, esses cole-tores levam os materiais precisamente sepa-rados aos postos de coleta ou para umcentro de compostagem nas proximi-dades. Esses centros revendem o ma-terial reciclável a empresas na Bolí-via e no exterior. Os parceirosde projeto também mantêmum programa educacionalpara crianças e adultos que jáalcançou cerca de 75.000 la-res. No final de 2010, havia

200 catadores de lixo — 40% deles mulheres— trabalhando no projeto. “Em 2010, com osseus esforços, foram recuperados cerca de7.000 toneladas de lixo reciclável dos aterrossanitários,” diz Hütter.

Os incentivos certos ajudam o projeto afuncionar bem. Por exemplo, os catadores delixo recebem vestimenta de trabalho, carrinhosde mão e informações sobre detritos perigo-sos. Tão importante quanto a sua renda está-vel de cerca de 6 dólares por dia é a melhoriade seu nível social. O projeto também apoiaempreendedores emergentes, oferecendo-lhesconstantes oportunidades educacionais. “Já sepode relatar algumas histórias de sucesso”,conta Nabholz, com orgulho. Uma delas envol-ve Daniela Bolívar, uma desenhista gráfica deLa Paz. Hoje, ela administra uma pequena em-presa de reciclagem, que transforma materialplástico de publicidade em bolsas e acessórios(veja foto abaixo).

“Porém, em longo prazo, é necessário criardisposições legais para a gestão do lixo”, afir-ma Hütter. Essa questão geralmente é tratadapelos parceiros do projeto e pelas autoridadesmunicipais. “A cidade de Cochabamba anun-ciou disponibilizar um milhão de dólares para aexpansão do projeto e La Paz indicou um coor-denador próprio para o mesmo”, diz Nabholz.Isso é importante, pois cada tonelada de lixodescartada gera custos de aproximadamente30 dólares, o que não é pouco para um paíscomo a Bolívia. A primeira fase do projeto estáplanejada para se estender até o final de 2012.

Se possível, os parceiros gostariam de ofe-recer creches para os filhos dos catadores, en-quanto esses estiverem ligados ao projeto. Acooperação com as escolas locais é muito im-

portante para a Fundação Siemens. “Gos-taríamos de incutir uma consciência de

meio-ambiente, saúde e higiene nascrianças e jovens, o mais cedo

possível”, diz Hütter. Futura-mente, os parceiros tambémpretendem enfocar os proble-mas relacionados aos resíduostóxicos e eletroeletrônicos.

Hülya Dagli

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Na Índia rural, profissionais de saúde especial-

mente treinados coletam dados médicos dos mo-

radores das vilas e enviam a médicos por

smartphone. A meta é aprimorar o tratamento e

reduzir a alta taxa de mortalidade infantil.

Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Médicos Ambulantes

Em Tamil Nadu, estado do sul da Índia, a Siemens e o Christian Medical College estão testando o usode celulares na área de saúde, na zona rural. Os telefones enviam dados de pacientes a hospitaisonde softwares analíticos ajudam a agrupar recursos ao avaliar tendências de doenças.

Monitorar Doenças na Índia

Hoje, o ônibus chegou na hora em Vellore.Uma vez por mês, áreas remotas em Ta-

mil Nadu, estado do sul da Índia, recebem a vi-sita de um consultório sobre rodas, dirigidopelo Christian Medical College (CMC). Muitagente vem das vilas vizinhas para uma consul-ta ou tirar uma amostra de sangue. Nessasocasiões, as “ASHAs” também aparecem. AS-HAs ( Accredited Social Healthcare Activists –ativistas credenciadas de saúde) são voluntá-rias que promovem a educação de saúde nasvilas, recolhem dados sobre a saúde dos mora-dores e dão apoio a grávidas antes e depois doparto.

A utilização das ASHAs e as viagens dos mé-dicos às vilas nos ônibus-consultório teve ori-gem na “Missão Nacional de Saúde Rural de2005 a 2012, lançada pelo governo indianoem 2005. O programa tinha como objetivoaprimorar o atendimento de saúde às popula-ções rurais. O subcontinente indiano sofre nãosó com a falta de pessoal de saúde – o déficitno país é de cerca de 600.000 profissionais –mas também com a grande diferença no aten-dimento de saúde, disponível para as popula-ções urbana e rural. Em 2005, para cada100.000 residentes havia cerca de 4,48 hospi-

tais nas áreas urbanas e cerca de 0,77 nasáreas rurais. E mais, em 2010, havia seis vezesmais médicos nas cidades do que no interior,onde 70% da população vive.

Antes dessa iniciativa, muitos indianos nointerior do país quase não conseguiam ter con-tato com a moderna medicina ocidental. Elesse apoiavam nos tratamentos tradicionais, co-nhecidos como AYUSH – ayurveda, yoga, Una-ni (versão árabe da ayurveda), Siddha (naturo-patia do sul da Índia) e homeopatia – que sãopraticadas por especialistas treinados nas uni-versidades. As ASHAs agora funcionam comoum elo entre os moradores das vilas e os hos-pitais. Como o principal objetivo do programaé reduzir a mortalidade infantil, apenas mulhe-res atuam como ASHA. Elas vão de casa emcasa em intervalos regulares e perguntam so-bre doenças e a saúde das grávidas. Hoje, asinformações ainda são registradas em um li-vro. Esse sistema, no entanto, é incompatívelcom as mídias digitais de armazenamento usa-das em hospitais que, em alguns casos já man-têm registro eletrônico de dados de pacientes.Outro problema é que as ASHAs também têmque proteger cuidadosamente suas anotaçõescontra eventuais estragos.

Saúde Ambulante. Há três anos, Dhandapa-ny Raghavan, líder da Siemens Healthcare naÍndia, teve a ideia de coletar pelo celular os da-dos registrados pelas ASHAs nos prontuários.“Percebemos que precisaríamos de um parcei-ro experiente e competente e temos orgulhode trabalhar com o Christian Medical College”,afirma Manohar Kollegal, da Siemens Corpora-te Technology (CT), na cidade indiana de Bangalore. A CMC atua nessa área na Índia há cerca e 50 anos e está acostumada com as condições locais. A faculdade ajudou a

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Siemens a desenvolver um projeto-piloto, cha-mado “Sistema de Informação de Saúde Comu-nitária” (CHIS), já testado em alguns municí-pios. “Na primeira fase de testes, as ASHAstestaram os telefones”, comenta o professorGeorge Kuryan, líder do Departamento de Saú-de Comunitária da CMC, em Vellore. “Elas es-tão muito contentes por poder usar o sistema ecom as possibilidades oferecidas pelas novastecnologias”. Após a fase de teste, 83 cidadescom um total de 100.000 habitantes deverãose integrar ao projeto.

Uma ASHA inicia seu trabalho baixando asatualizadas informações demográficas dos ha-bitantes, inclusive dados de saúde, vindos doservidor do hospital, em seu telefone. O siste-ma informa o que ela deve observar quandoexaminar determinados pacientes. Depois deinserir os dados dos moradores, transfere-osao servidor do hospital pela rede de comunica-

ção móvel ou ao laptop do médico, no ônibus.“Nos dois casos, os médicos devem verificar seos dados estão exatos antes de armazená-losno servidor. Isso é controle de qualidade”, co-menta Kollegal. Os dados transferidos aos ser-vidores são incluídos diretamente nos prontuá-rios dos pacientes e passam por análiseestatística. Todos os softwares usados no pro-cesso, incluindo os do laptop e do smartpho-ne, são da Siemens Corporate Technology.

Um dos focos das ASHAs é o apoio a mulhe-res durante a gravidez, na preparação para oparto e no cuidado pós-natal. Segundo a Orga-nização Mundial de Saúde, em 2008, 37 decada 1.000 recém-nascidos no país morreramnas primeiras quatro semanas. A titulo compa-rativo, a Alemanha teve três mortes para cada1.000 nascimentos, no mesmo ano. Depois doparto, uma ASHA registra dados como o peso eo número de batimentos cardíacos do bebê.Em caso de emergência, ela pode chamar ummédico com seu celular.

A Siemens CT da Índia também espera ofe-recer melhor apoio aos médicos, desenvolven-do equipamentos mais baratos que podem ser

usados por pessoas leigas treinadas, como asASHAs, que ofereçam resultados confiáveis esejam robustos e confiáveis para operar emcondições adversas. A prioridade nesse sentidoé apoiar as grávidas. O aparelho que está no

estágio mais avançado de desenvolvimento éo Monitor de Batimentos Cardíacos Fetal (vejaPictures of the Future, Outono 2010, pág. 44 epág. 56), uma espécie de estetoscópio quemede e mostra os batimentos cardíacos dos fe-tos. A produção deve começar em breve na fá-brica da Siemens, em Goa. Depois da fase de

testes, as ASHAs de 83 municípios de TamilNadu usarão celulares e, mais tarde, os moni-tores de batimentos cardíacos do feto.

No caso de prematuros, é comum monito-rar não só os níveis cardíaco e respiratório, mastambém a oxigenação do sangue. Ciente disso,a CT Índia está desenvolvendo um aparelhoportátil, que mede a respiração, bem como umoxímetro de pulso, que utiliza sensores paramedir a saturação de oxigênio no sangue arte-rial depois que a pele é exposta a luz infraver-melha.

Tecnologia para Economias Emergentes.As doenças típicas da civilização moderna es-tão se espalhando pela Índia. Por exemplo, há40 milhões de diabéticos no subcontinente e,a cada ano, dois milhões de pessoas sofremataques cardíacos. As autoridades estimamque, a partir de 2020, mais de sete milhões deindianos morrerão de doenças crônicas, a cadaano. Entre os motivos estão o crescimento dapopulação e a prosperidade do país. A CT tra-balha no desenvolvimento de aparelhos sim-ples para investigar doenças cardiovasculares,

como equipamentos móveis para eletrocardio-grama. Também está nos planos a utilizaçãode um sistema de monitoramento à distânciade pacientes. “Esses equipamentos são feitossob medida para países em desenvolvimento,

como a Índia”, diz Kollegal.“Como são necessários mui-tos equipamentos para umapopulação do tamanho danossa, eles têm que ser ofere-cidos ao menor preço possí-vel. É preciso ainda que elessejam de fácil manuseio e

quase não necessitem de manutenção.” Outrodesafio para a sociedade indiana é o das doen-ças infecciosas. A Índia é o quinto país do mun-do em casos de tuberculose, e a maioria ocorrenas áreas rurais. Nesse contexto, o maior pro-blema é a água contaminada, que também éem parte culpada pela alta taxa de mortalida-

de infantil: a cada dia, mais de 1.000 criançasna Índia morrem de diarreia. As ASHAs man-têm um registro de todos os casos dessa doen-ça em seus municípios. Usando o softwareanalítico, os pesquisadores da CT podem ava-liar a base de dados de seu parceiro de projetonos hospitais e apontar os municípios, onde asocorrências são mais frequentes. Agora que ostestes foram completados, os primeiros siste-mas de tratamento de água da Siemens WaterTechnology serão entregues aos municípiosmais afetados.

Para Kollegal, já é fato que o projeto CHIS éum modelo de sucesso que pode ser imple-mentado em outros estados indianos e em ou-tros países. Na próxima fase, o projeto podeser estendido a milhões de pessoas no estadovizinho de Andhra Pradesh. Mas como Kollegalsabe, ainda há um longo caminho a ser percor-rido antes que isso aconteça.

Annapurna Verma acaba de transferir suasinformações de um celular para um laptop. Elae suas colegas ASHAs terminaram os examesdo dia e devagar o ônibus começa a se movernovamente. Michael Lang

Seis vezes mais médicos atendem na cidade do que no interior, onde vivem 70% dos indianos.

Page 73: Pictures of the Future 2012

As políticas de saúde acabam por seremtambém políticas econômicas. Quando a

China deu início às reformas econômicas, há20 anos atrás o país aboliu sua rede de segu-rança social abrangente conhecida como “tige-la de arroz de ferro”, que incluía segurança noemprego e assistência médica gratuita. Hoje,muitos chineses das áreas rurais não têm pla-no de saúde e pagam suas próprias despesasmédicas.

“Pensamos em cortar custos, para que to-dos os chineses pudessem pagar seus examesde tomografia computadorizada (TC)”, afirmaFlorian Belohlavek, gerente de marketing dosescâners SOMATOM Spirit. Esse equipamentofaz parte da iniciativa SMART da Siemens, paradesenvolver aparelhos econômicos, robustos,confiáveis e de fácil operação, para zonas ru-rais de países em desenvolvimento. O escânertem um sistema de dupla seção, ou seja, acada rotação completa do tubo de raios X emtorno do paciente são geradas duas imagensseccionais simultâneas. Isso é suficiente em ro-tineiros exames básicos da cabeça, dos pul-mões e da coluna vertebral. Devido ao preço

moderado do instrumento, até os pequenoshospitais da China podem oferecer a tomogra-fia computadorizada. “Normalmente, o SOMA-TOM Spirit é o primeiro escâner computadori-zado adquirido pelos hospitais”, esclarece. Porisso, a Siemens adaptou a interface Syngo paraesse modelo. O dispositivo é fabricado em Xan-gai, de onde é distribuído sobretudo para oBrasil, a Rússia, a Índia e a própria China. Asvendas já superaram 2 mil unidades no mundotodo. Em Xangai também se fabrica o escânerSOMATOM Emotion de 6 e 16 seções, adquiri-do como segunda unidade por muitos hospi-tais. O ciclo rápido de exame do equipamentofacilita o alto fluxo de pacientes. Além disso,gera imagens de alta resolução, permitindo odiagnóstico mais confiável de tumores e AVCs,entre outros.

Em caso de exames imagiológicos maisavançados, assim como nos países industriali-zados, os médicos especialistas dos mercadosemergentes utilizam equipamentos de pontacomo o SOMATOM Definition Flash. Esse apa-relho é utilizado em centros médicos e grandesclínicas particulares.

Alta Tecnologia nos Vilarejos da Índia. Ogoverno da Índia também se esforça para me-lhorar a assistência médica nas zonas rurais. Amaioria dos indianos vive em um dos 600 milvilarejos do país. Assim como na China, a po-pulação rural não utiliza muito os planos desaúde. Isso se agrava com a maioria dos médi-cos trabalhando nas cidades e grande partedos vilarejos estarem a um dia de viagem dohospital mais próximo. Em 2001, a Siemens, ,desenvolveu o conceito de miniclínica móvel.A ideia é oferecer assistência médica de quali-dade e acessível, no interior da Índia. O resulta-do é o ônibus “Sanjeevan”, com equipamentosbásicos de diagnóstico, incluindo raios X, ul-trassonografia, mamografia e exames labora-toriais simples, bem como medicamentos refri-gerados. Mais de 25 ônibus desse tipo foramvendidos a governos locais, ONGs e profissio-nais de saúde privada de toda a Índia.

A Índia se divide em 600 distritos. Os profis-sionais da Siemens estão pesquisando o grauem que estes distritos dispõem de equipamen-tos de diagnóstico. Por exemplo, alguns distri-tos não possuem um sistema de TC nem labo-

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Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Assistência Médica

Soluções pragmáticas e de baixo custo vem sendo usadas em países emergentes para prestar assis-tência básica às populações rurais. Nesses países também são utilizados equipamentos de ponta,especialmente nos centros médicos bem equipados, das cidades maiores.

Ninguém Fica para trás

O ônibus “Sanjeevan” leva assistência médica

moderna a vilarejos na Índia. O cardiologista

Antonio Dager, na Colômbia, e os profissionais

de saúde das províncias da China (dir.) utilizam

a alta tecnologia da Siemens (pág. 29, centro).

Page 74: Pictures of the Future 2012

74 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2011

ratório de hemodinâmica. Menos de 200 distri-tos possuem exame de ressonância magnética(RM). Os especialistas da Siemens CorporateTechnology (CT), em Bangalore, estão anali-sando como se pode contribuir para a assistên-cia médica rural na Índia“. Como os próprios ci-dadãos do interior precisam pagar suasdespesas médicas, quando eles marcam con-sultas, quase já é tarde demais”, explica Mano-har Kollegal, gerente do programa de assistên-cia médica da Siemens CT. “Precisamos de umaprevenção melhor e exames mais acessíveis”,acrescenta. Ele e seus colegas estão desenvol-vendo um equipamento de diagnóstico paraexames de urina, hematologia e sorologia. “Es-tamos tentando alcançar um alto padrão dequalidade a um custo razoável”, esclarece. Oprotótipo deverá ficar pronto em meados de2012.

Outro dispositivo da equipe indiana da Sie-mens CT é o monitor de frequência cardíaca fe-tal (veja Pictures of the Future, Primavera

2011, pág. 88), equipamento que monitora afrequência cardíaca dos fetos. Além de usarum microfone, o equipamento monitora ascontrações no útero. Com testes clínicos, con-cluídos em 2011, o equipamento está prontopara uso na Índia, prevendo-se que contribuapara diminuir a taxa de mortalidade infantil.“Desenvolvemos algoritmos exclusivos, incor-porando alarmes de diagnósticos específicospor região, referentes à frequência cardíaca fe-tal”, Kollegal esclarece.

Soluções mais avançadas, por exemplo, naárea de inteligência artificial, vêm sendo im-plementadas nas várias unidades da Siemens.Nossos pesquisadores nos EUA e na Alemanhaestão desenvolvendo um sistema de apoio àdecisão clínica, que analisa os dados e sugereo provável diagnóstico (veja Pictures of the Fu-ture, Outono 2011, pág. 60). O sistema estásendo desenvolvido por Dr. Vinay Shet e suaequipe no projeto-piloto Inteligência Coletiva.

Ultrassonografia no México. A Índia estálonge de ser o único país com alta taxa de mor-

talidade infantil. No estado mais pobre do Mé-xico, Chiapas, a educação para a saúde e a as-sistência médica à população, majoritariamen-te indígena, são dificultadas por barreiraslinguísticas, culturais e dificuldades de acesso.Para melhorar a assistência médica “no local”,a Siemens forneceu 44 equipamentos de ul-

trassom aos centros de saúde comunitários.Estes equipamentos são utilizados para exami-nar gestantes e bebês. Desde a sua introdução,há 2 anos, a mortalidade infantil no estado deChiapas diminuiu 5%.

“O governo de Chiapas também adquiriu 35unidades móveis de raios X Polymobil Plus daSiemens”, informa Mauricio Valero, gerente de

venda de produtos clínicos, na América Cen-tral. As unidades são simples e de fácil instala-ção e higiene, além de baixo custo de manu-tenção. Os equipamentos são utilizados empequenos hospitais e em unidades de assistên-cia médica básica, muitas vezes com um únicoconsultório. O governo do México tambémestá se esforçando para melhorar a infraestru-tura de saúde de Chiapas com a construção de3 novos hospitais em centros urbanos. Em seuprograma prevenção do câncer de mama, ogoverno equipou duas clínicas particulares naCidade do México e em Monterrey com siste-ma de mamografia digital e equipamento deultrassonografia para realização de exames demama tridimensionais automáticos (veja Pictu-res of the Future, Outono 2008, pág. 95).

A combinação de ultrassonografia e mamo-grafia é considerada o melhor método de de-tecção de câncer de mama, evitando falsosdiagnósticos e biópsias desnecessárias. O go-verno planeja instalar de 6 a 10 equipamentosem cidades menores. A interpretação das ima-gens geradas pelos exames deve ser feita de

forma centralizada por 2 ou 3 médicos espe-cializados, na cidade de Tuxtla, capital de Chia-pas. As imagens serão transmitidas aos espe-cialistas via links de dados. “A instalação dainfraestrutura telemática necessária deverá es-tar pronta de 18 a 24 meses”, afirma Valero.

Pacientes das Américas Central e do Sul,bem como dos EUA, procuramos serviços do Hospital Angio-grafía de Occidente, em Cali,terceira maior cidade da Colôm-bia. Neste hospital, certificadopela Joint Commission Interna-tional (JCI), Dr. Antonio Dager

atua como cirurgião cardiovascular. É o únicocardiologista colombiano qualificado para utili-zar um novo procedimento minimamente in-vasivo de substituição das válvulas cardíacas.

Dr. Dager, treinado nos EUA, utiliza dois sis-temas de angiografia Artis Zee com o aplicati-vo Syngo DynaCT Cardiac obtendo imagens tri-dimensionais. Nos últimos três anos, Dr. Dager

realizou mais de 90 procedimentos desse tipo.No momento, está montando um laboratóriohíbrido em que realizará procedimentos mini-mamente invasivos e cardíacos de campo aber-to. “Para planejar esse laboratório, visitei asede da Siemens em Erlangen, no ano passa-do. Pratiquei todas as etapas do procedimentonum laboratório híbrido”, comenta.

China, Índia, México e Colômbia: essesexemplos ilustram que a assistência médica deponta vem progredindo nos mercados emer-gentes, e não apenas nos países desenvolvi-dos. Apesar dos avanços econômicos, essespaíses devem ficar atentos aos custos, assimcomo os países industrializados.

Os desafios de prestar assistência médica apopulações rurais em áreas inacessíveis sãoenormes. Mesmo assim, vários países em de-senvolvimento conseguem aplicar uma mesclaprática de soluções de custo razoável na assis-tência médica básica nas zonas rurais combi-nada com soluções de ponta no atendimentoespecializado em cidades grandes.

Michael Lang

A mobile clinic fitted with high-techequipment provides healthcare in the Indian hinterland.

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Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Assistência Médica na Floresta Tropical

Até pouco tempo, os brasileiros da região amazônica tinham que ir às cidades para tratar da saúde.Graças a uma iniciativa privada, que leva os serviços médicos à floresta, essa situação está mudando.A Siemens apoia a ideia com aparelhos de ultrassom portáteis.

Uma Clínica sob Palmeiras

Índios como Paiki e sua família (abaixo) e outros habi-

tantes de Kikretum usufruem da expedição médica à

Amazônia. Exames e até mesmo operações são feitos

in loco (página à direita).

Paiki puxa a linha pela última vez. Hoje, elejá pescou três lampreias e cinco piranhas,

mas esse não é o seu recorde. “Os peixes nãomordem muito a isca na estação chuvosa”, ex-plica ele, “mas fica mais fácil pegá-los de novo,quando o rio baixa.” Paiki conhece bem as leisda floresta, pois passou a vida inteira na Ama-zônia. Desde sua infância, ele pesca e caça ja-valis e tartarugas.

Paiki liga o motor do pequeno barco e ma-nobra, devagar e cuidadosamente, entre ga-lhos das árvores que despontam das águas.Dentro de poucas semanas, quando a estia-gem começar, o nível do Rio Fresco baixará dezmetros, surgindo novamente os troncos do ar-voredo. No momento, eles estão ocultos pelaságuas marrom-amareladas do rio paraense.

Paiki, 31 anos, tinha que ir esta manhã aodentista, na aldeia de Kikretum que, até paraos padrões da Amazônia, é bem distante. Kik-retum tem 500 habitantes e está localizada nocentro do território da tribo Caiapó. Aqui, sóexiste floresta a perder de vista. A cidade gran-de mais próxima, Marabá, está a duas horas de

avião. O trajeto de barco até a cidade de SãoFélix do Xingu, um pouco menor, demora seishoras.

Ao invés de ir ao dentista, Paiki resolveu ir àpesca, pois tem quatro filhos para alimentar.Há uma semana, sua esposa deu à luz a ummenino,um grande motivo de orgulho paraele. Talvez algum dia o garoto se torne umguerreiro Caiapó. Primeiro, porém, ele terá quecumprir difíceis rituais e passar por provas decoragem, como retirar uma parte de um ves-peiro! Com certeza, será vítima de inúmeras pi-cadas dos agressivos insetos. Mas é assim!

Uma enfermeira-assistente do departamen-to médico da Secretaria Especial de Saúde Indí-gena (SESAI) assistiu ao parto do caçula de Pai-ki. Normalmente, os médicos e dentistas sófazem visitas de um dia às remotas aldeias in-dígenas, como a de Kikretum. “O pagé, nossocurandeiro, cuida da gente, quando ficamosdoentes”, explica Paiki, enquanto se curva paradesviar de um galho espesso, a caminho decasa. O pagé trata de picadas de cobras e“doenças do espírito,” como os Caiapós descre-

vem distúrbios psicológicos. Por exemplo, eleconstata se a enfermidade foi causada pelo es-pírito da água, ou se o paciente precisa de cer-tas ervas terapêuticas ou de uma dieta especí-fica. Porém, seus recursos não são suficientespara tratar enfermidades como tuberculose,hérnias ou malária. Nesses casos, os Caiapósrequerem tratamentos melhores, que eles bati-zaram de “remédios do homem branco.”

Território do Tamanho da Áustria. Os médi-cos da SESAI visitam regularmente Kikretumem aviões monomotores. Eles têm que ir deavião, porque o território dos 7.000 Caiapós édo tamanho da Áustria. Muitos casos não po-dem ser atendidos no local. Então, os profissio-nais enviam os índios para hospitais em cida-des distantes, como Belém do Pará, com umapopulação de mais de dois milhões de habitan-tes, localizada perto da costa atlântica. “Umavez, um dos meus filhos teve pneumonia,”lembra Paiki. “O tratamento em Belém demo-rou seis semanas. Ficamos o tempo todo aoseu lado, dormindo em cadeiras de plástico do

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hospital. Teria sido muito mais fácil se ele ti-vesse sido tratado em nossa aldeia.”

O sonho de Paiki está se tornando realida-de. Recentemente, 20 médicos chegaram aKikretum, algo nunca antes ocorrido no territó-rio dos Caiapós. A Associação Expedicionáriosda Saúde (EDS), financiada exclusivamente pordoações, transformou, por dez dias, a escolada aldeia numa pequena clínica. Os médicos eenfermeiras da ONG brasileira armaram barra-cas, instalaram motores a diesel, trouxeramaparelhos de ar condicionado, instrumentos ci-rúrgicos e até equipamentos de ultrassom daSiemens. Dentistas, antes tão temidos entre osíndios, também fazem parte do grupo. Para osCaiapós, tratamentos odontológicos significa-vam mais perder do que salvar dentes, daí asua relutância de consultar esses profissionais.

Quando a embarcação de Paiki se aproximade Kikretum, ele percebe um burburinho nasmargens do rio. Uma barca acaba de chegar deGorotiri, outra aldeia Caiapó. A bordo estãomuitos pacientes, o que significa trabalho parao grupo de oftalmologistas, pediatras, cirur-giões, ginecologistas e outros médicos, queirão realizar mais de 1.700 exames e tratamen-tos (inclusive mais de 70 operações) durantesua estadia. Paiki amarra seu barco no cais evai passear pela multidão. Ele espetou umavara fina e maleável nas guelras dos peixes queacabou de pescar, amarrando as pontas. Ospeixes estão alinhados na vara como pérolasnum colar, tanto a gorda lampreia como as pi-ranhas com seus dentes afiados. Em poucashoras, eles estarão boiando numa sopa. Mui-tos dos recém-chegados de Gorotiri vieramacompanhados. Alguns portam arcos e fle-chas, pois pretendem caçar durante sua per-manência em Kikretum. Uma gaiola contendoum impaciente papagaio de asas agitadas pa-rece perdida em meio aos índios. Uma garotaCaiapó cata formigas do pelo do seu rato.

A atracagem de um barco cheio de passa-geiros nessa aldeia é um sucesso, sobretudo seconsiderarmos os boatos espalhados em Goro-tiri. Por lá dizia-se que os médicos iriam arran-

car os olhos dos pacientes e substituí-los porolhos de botos. Os aldeões mais velhos tive-ram que convencer os doentes do contrário.Akiaboro, um experiente guerreiro Caiapó dáum bom exemplo. Ele, que se considera um lí-der político da sua tribo, levanta e atravessa amultidão com um adorno de penas verdes eamarelas de papagaio na cabeça. “O homembranco trata de algumas doenças melhor doque os pagés,” afirma ele. “Eu mesmo vim paraKikretum, para fazer um checkup.” Akiaborotambém consultará um dentista, por causa deum problema no canal de um dente. “Não con-sigo dormir há dias de tanta dor,” confessa.

A consulta de Paiki ainda vai demorar. Já éde tarde, e uma longa fila se formou na frenteda escola. Uma pequena Caiapó joga futebolcom um balão. Sua pele está coberta por pin-

turas ornamentais e correntes coloridas ador-nam os pulsos e tornozelos. Antes dos pacien-tes serem enviados para a estação detratamento adequada, seus nomes são digita-dos num computador. As enfermeiras pregametiquetas de várias cores na pele dos índios, in-dicando para onde devem ir. “Azul significa of-talmologista, rosa ginecologista, amarelo sim-boliza pediatra e verde cirurgião”, explicaClaudio Braga, operador dos computadores.

Rede sem Fio na Floresta. O hospital impro-visado de Kikretum tem um sistema de TI dedar inveja em muitas instituições. “Nossosonze laptops estão interligados por uma redesem fio. Os dados dos pacientes estão digitali-zados e acessíveis tanto nas estações de trata-mento como nas de cirurgia,” informa Braga,com orgulho. “Quase nenhum outro hospitalbrasileiro dispõe de um tal padrão de TI, comoo que temos aqui na floresta.”

Os equipamentos para os exames e os ins-trumentos cirúrgicos são esterilizados numasala atrás da escrivaninha de Braga, onde fi-cam os computadores e a impressora. Dois jo-vens da tribo dos Caiapós cobrem o teto deuma plataforma com folhas verdes de palmei-ra, como proteção para os pacientes mais ve-lhos, muitos dos quais quase não conseguemmais enxergar. Os fortes raios de sol turvam aslentes oculares aqui mais cedo do que em ou-tros lugares. Não é de surpreender o alto índicede catarata na região.

“As doenças que diagnosticamos resultamdas condições ambientais e do estilo de vidaindígena,” afirma o cirurgião Fábio Atui, quetrabalha num consultório particular e num dosmelhores hospitais de São Paulo. Apesar de terfamília, Fábio Atui sempre tira uns dias de fé-

rias não remuneradas paraparticipar das expedições daEDS, que começaram em2003. Ele considera impor-tante levar um tratamento deprimeira classe para as remo-tas regiões da Amazônia. “Os

habitantes da floresta frequentemente sofremde doenças infecciosas, fungos e escabiose,”esclarece o médico. “Eles andam longas distân-cias, muitas vezes carregando fardos pesados,o que contribui para a formação de hérnias. Jáas doenças coronárias são mais raras por aqui.”

Quando Fábio atende na floresta, ele traba-lha na barraca de cirurgia. Quem quiser entrar,tem que vestir uma roupa azul e colocar umamáscara cirúrgica, na ante-sala fechada. O ci-rurgião também usa luvas brancas de látex. Nomomento, ele está operando um paciente comhérnia. Vários instrumentos cirúrgicos estão àsua disposição. Por meio de um monitor, elepode acompanhar as funções vitais do pacien-te. Um aparelho de ar condicionado resfria oambiente interno. Do lado de fora, está quentee úmido, o clima típico da região amazônica.

“Nós realizamos apenas determinados tiposde cirurgias na floresta,” afirma Fábio. “Osdiagnósticos têm que ser rápidos e certos, e as

“Quase nenhum outro hospital brasi-leiro dispõe de um tal padrão de TI,como o que temos aqui na floresta.”

A ginecologista Iria Novaes e o cirurgião Fábio Atui usam aparelhos de ultrassom da Siemens durante sua visita aos índios da Amazônia.

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operações não podem requerer preparativosnem tratamentos pós-cirúrgicos complicados.Afinal de contas, só permanecemos aqui dezdias.” O desafio maior são os diagnósticos, poisa EDS não dispõe de aparelhos de raio X, vistoque eles são muito grandes e pesados paratransportar. Ainda assim, o cirurgião pode con-tar com uma unidade de ultrassom portátil,que a Siemens colocou à disposição.

Fábio Atui e seus colegas, assim como asenfermeiras e outros assistentes, abdicam vo-luntariamente dos confortos da civilização e desua privacidade, quando estão em missão nafloresta. As latrinas e as duchas, por exemplo,ficam num galpão de madeira perto da cozi-nha. Em vez de refeições em bons restauran-tes, os membros da equipe médica se alimen-tam apenas de feijão, arroz e carne. Naprimeira noite na floresta, o diretor da expedi-ção, Ricardo Affonso Ferreira, explica aos jo-vens médicos que participam do projeto pelaprimeira vez: “É um privilégio poder trabalharaqui. Queremos mostrar nosso respeito aos ín-dios. Não esperamos gratidão, pois não somosmissionários do século XXI.”

Fábio é da mesma opinião. Para ele, a únicaforma de evitar mais devastação florestal é ga-rantir que os índios continuem em seu territó-rio e se sentindo em casa dentro dele. Ele écontra enviá-los para um tratamento de váriassemanas na cidade. Os índios já estão expostosdemais às promessas de luxo e boa vida, veicu-ladas por programas de televisão que transmi-tem ao vivo o Carnaval no Rio e outros eventosurbanos. Os habitantes da floresta também as-sistem aos vídeos de música pop americanos eàs telenovelas brasileiras, que retratam seduto-ras cenas de prosperidade.

Os membros mais velhos da tribo sabemmuito bem o que o dinheiro compra. Nos anos80 do século passado, o ouro descoberto emseu território atraiu todo tipo de aventureiro.Os garimpeiros que invadiram a região eramobrigados a pagar aos Caiapós uma taxa peloouro extraído. Subitamente abastados, os ín-dios chegaram a adquirir até aviões. Após al-

guns anos, porém, quando as reservas aurífe-ras terminaram, a abundância material acaboutão rapidamente como chegou. A prostituiçãoe o tráfico de drogas, porém, já haviam se ins-talado nas aldeias. Os Caiapós descobriram, aduras penas, o outro lado da medalha chama-da “civilização”.

Alta Mortalidade Infantil. Na casa de Paiki,onde ele acaba de entrar com seu pescado, háduas televisões e muito lixo espalhado. Ospoucos bens da família estão guardados emsacos plásticos pendurados nas paredes. Paikicompartilha seu barraco com outra família,onde as pessoas dormem no chão, em tendasou em redes. A esposa de Paiki está amamen-tando o bebê em uma das redes. Sobretudo ascrianças indígenas sofrem com a falta de higie-ne e com o clima úmido da Amazônia. Doen-ças respiratórias são comuns. A taxa de morta-lidade infantil é aproximadamente dez vezesmais alta nesta região do que em São Paulo.

“Muitas mulheres não gostam de ser exami-nadas,” afirma a ginecologista Iria Novaes, deCampinas. “Esse exame ginecológico é o pri-meiro da maioria das mulheres daqui.” Os exa-mes médicos são feitos com a ajuda de um dosdois aparelhos de ultrassom que a Siemens dis-ponibilizou à EDS, como complemento aoapoio financeiro às expedições. À noite, poucoantes de se recolher, Iria Novaes fala sobre aspacientes que tratou durante o dia. Uma delas

é uma mulher de 27 anos, que a médica sus-peita estar sofrendo de câncer. Iria enviou umaamostra citológica para ser analisada no Hospi-tal das Clínicas de Campinas. A ultrassonogra-fia que ela fez pelo menos não acusou nenhu-ma metástase, indicando que ainda háesperança de tratamento e recuperação.

A comunicação entre pacientes e médicosde culturas diferentes não é nada fácil. Emboraintérpretes participem da expedição e algunsCaiapós, como Paiki, falem português suficien-te, a língua continua sendo um problema. Parapiorar, muitos gestos fundamentais para o en-tendimento entre doutor e paciente não sãobem compreendidos. A região amazônica nãoé o único lugar do mundo afetado por essaquestão. Em muitos aspectos, a situação dosíndios no Brasil é extrema, mas a realidade éque bilhões de habitantes de localidades ruraisdo mundo inteiro só têm acesso limitado aosserviços e tratamento médicos (veja Pictures ofthe Future, primavera de 2011, pág. 88).

A situação dessas pessoas só pode melho-rar, se duas condições forem atendidas, comojá acontece nas expedições da EDS. Os médi-cos precisam ser altamente dedicados e equi-pados com uma tecnologia moderna e acessí-vel. Ao invés de exportar sua aparelhagem, aSiemens agora está produzindo cada vez maisequipamento médico nos países emergentes,a fim de assegurar o fornecimento de tecnolo-gia de ponta a preços razoáveis.

O oftalmologista Celso Takashi Nakano coletou inúmeros donativos, o que lhe possibilitou usar na floresta o equipamento mais moderno existente no mercado.

Ao chegar na floresta, os médicos armam barracas e as transformam em pequenos hospitais.

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Nos anos 1970, se a Autoridade para Des-carte de Resíduos da Costa do Golfo, do

Texas, soubesse o que estava por acontecer,provavelmente, teria descartado a ideia. O ór-gão tinha decidido construir uma usina espe-cial para descarte de dejetos petroquímicos naárea da baía de Galvestone. Apesar de nuncater sido realizado, o projeto custou mais de 10milhões de dólares para recorrer contra os pro-testos públicos e decisões jurídicas que pare-ciam surgir do nada.

Depois de 15 anos de batalhas jurídicas einúmeras decisões em favor dos cidadãos, es-tes foram convidados para uma sessão de me-

diação no Keystone Center, em Denver, Colora-do, instituto famoso por resoluções deconflito. A iniciativa, no entanto, não ajudou.Na época, os cidadãos estavam exaltados, e oestrago já estava feito. Depois de outros cincoanos, vários membros das iniciativas popularesforam eleitos para o conselho executivo da Au-toridade para Descarte de Dejetos da Costa doGolfo. O princípio de “no meu quintal, não”prevaleceu, e o projeto de descarte virou histó-ria.

Porém, uma olhada na Suíça e no Brasilmostra que as coisas podem ser diferentes,nessas situações. Num dia de inverno de 2011,helicópteros transportavam 20 componentesde aço pesado para o canteiro onde uma usinade energia geotérmica estava sendo construí-da, no leste da Suíça. A cidade de St. Gallenqueria reduzir seu uso de combustíveis fósseispara 25% do mix, até 2050, e abastecer meta-

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O oftalmologista Celso Takashi Nakano con-sidera errado trabalhar com equipamentos ob-soletos ou de segunda mão, só porque se tratada população indígena. Celso Nakano arreca-dou um grande número de doações, que lhepossibilitou usar a aparelhagem mais modernaexistente no mercado. Ele opera sobretudo ca-taratas, uma após a outra, às vezes, 20 por dia.“Temos os casos mais difíceis do mundo aqui,”explica ele.

É um desafio enorme, até mesmo para Cel-so, considerado um especialista em casos com-plicados no Hospital das Clínicas de São Paulo.“As pupilas dos Caiapós quase não se dilatam,em consequência talvez da sua alimentação,”explica. Isso dificulta muito o seu trabalho,porque ele é obrigado a inserir seu instrumen-to cirúrgico em pupilas bastante estreitas. Ago-ra são 9:30 da manhã, hora da primeira opera-ção do oftalmologista. Celso Nakano usa umaparelho de ultrassom para eliminar as lentesturvadas e endurecidas do paciente. Em segui-da, ele introduz novas lentes com a ajuda deum par de pinças minúsculas. Pouco depois dacirurgia, o paciente acorda da anestesia numarede do hospital improvisado. O olho operadoestá coberto por um espesso curativo.

Um dos seus primeiros pacientes, cujo cura-tivo já foi removido, visitar a equipe médicadurante o almoço. Os óculos escuros que eleusa dão-lhe a aparência de um velho astro derock. “Olhem como eu estou enxergando bemagora!” ele grita em português, enquanto tiraos óculos. Antes da cirurgia, ele tinha apenas15 % de visão, mas em breve, depois da curatotal do olho, poderá recuperar até 80%. Osmédicos gritam de volta: “Meikumé!” – umafrase em Caiapó que quer dizer “Muito bem!”No final da sua estadia na aldeia, alguns mem-bros da expedição começam a usar no corpo aspinturas tradicionais da tribo.

Quanto mais próximo o fim da expedição,mais longa é a fila na frente do dentista. Já seespalhou pela aldeia que os odontólogos re-cém-chegados costumam salvar os dentes, emvez de arrancá-los. É óbvio então, que quem

ainda precisa consultar um dentista, e que an-tes tinha medo, mal espera chegar sua vez. Emuma placa na frente da tenda está escrito “ke-két meitere” (Um belo sorriso). Segundo PedroAffonso Ferreira, de Campinas, aqui os dentis-tas têm que dar o melhor de si, porque elesnão têm lâmpadas especiais suficientes. “Eu te-nho que usar uma lâmpada de cabeça, emboraa sua luz endureça alguns tipos de material rá-pido demais. Por isso, tenho que trabalhar commais agilidade.”

Hora da Chuva. O céu escureceu rapidamentelá fora, como de costume ao entardecer. As fo-lhas balançam nas árvores, e as primeiras go-tas de chuva começam a cair. Em pouco tem-po, Kikretum estará alagada. Pequenas pontesprovisórias de madeira, como as da Praça deSão Marco, em Veneza, quando os canaistransbordam, permitem aos últimos pacienteschegarem a casa ou à escola da aldeia. Maisum barco chega de Gorotiri. O último de todosvem de A’Ukre. A bordo estão, entre outros,nove pacientes com sintomas de malária. Hádois anos, quase não havia malária neste tre-cho do território Caiapó, mas ultimamente oscasos vêm se alastrando. Apenas medidas pre-ventivas podem ajudar. Os médicos da EDS sa-bem que medicina de alta tecnologia é impo-tente contra esta doença letal.

Em poucos dias, a expedição vai desarmarsuas barracas e pegar o avião monomotor emdireção ao maior aeroporto mais próximo, emMarabá. A equipe médica retornará para asgrandes cidades do sudeste brasileiro, onde amaioria deles vive e trabalha. Eles não voltarãoa Kikretum por um bom tempo, porque cadanova expedição da EDS tem um destino dife-rente. Afinal de contas, há muita gente na vas-ta região amazônica à espera de cuidados mé-dicos.

Paiki retorna ao cais e fica observando umcurumim caiapó lançar pedrinhas no Rio Fres-co com seu estilingue. “Eles nem chegaram aperfurar meu dente,” exclama Paiki alegremen-te. Finalmente, ele conseguiu consultar umdentista. Ele sorri, mostrando os dentes obtu-rados e revestidos com muito metal brilhante,nos últimos anos. “Vamos ficar tristes, quandoos doutores partirem,” afirma. Paiki imaginadeixar, algum dia, sua casa na floresta? “Nun-ca”, responde ele. A sua pátria é aqui. Talvezfosse mais fácil vender a bijuteria que sua es-posa faz nos grandes centros, mas vida lá seriabem mais complicada. “Eu sempre me percona cidade”, argumenta. O curumim começa adançar na beira do rio. Entre uma pedrinha eoutra arremessada com seu estilingue, ele can-ta o refrão de uma canção inglesa que escutouhá pouco tempo na televisão: “Baby, baby,baby, oh! Baby, baby, baby, oh!”

Andreas KleinschmidtOs médicos realizaram cerca de 1.700 exames.

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Muitos grandes projetos públicos são, por vezes, complexos e pouco transparentes. Quando não háaceitação, processos claros e estruturados, que possibilitam a participação de cidadãos na tomada dedecisão podem ajudar, como demonstraram alguns projetos na Suíça e no Brasil.

Protestos contra um projeto de linha férrea,

em Stuttgart, conduziram a uma maior parti-

cipação de cidadãos nas decisões, em toda a

Alemanha. A foto mostra uma reunião de

mediação com o ex-ministro Heiner Geißler.

Vamos Fazer um Acordo!Compartilhando um Futuro mais Brilhante | Participação de Cidadãos

de de seus 44.000 habitantes com aquecimen-to geotérmico. Essa fonte energética é poucopoluente e de fácil acesso, uma vez que extraircalor de profundidades de 4.500 metros nãorequer usinas que possam agredir aos olhos.

Ainda assim, a tecnologia não estava livrede controvérsia já que, em 2006, um projetoparecido na Basiléia, terceira maior cidade daSuíça, havia sido descartado depois que as in-jeções de água para chegar às fontes desenca-dearam um terremoto de pequena escala . “Odiálogo com os cidadãos foi importante paranós”, diz Marco Wuwiler, gerente de projetosna usina de St. Gallen. “Nos certificamos deque o projeto estivesse baseado num processodemocrático.”

A fábrica teve início, em 2009, reunindoopiniões de cerca de 50 grupos de interesse ecidadãos através de entrevistas conduzidas emcooperação com a Risk Dialogue Foundation.

”St. Gallen é uma cidade relativamente pe-quena, onde todo mundo se conhece”, co-menta Matthias Holenstein, gerente de proje-tos na fundação. “Por isso, usamos a primeirarodada de discussões para conversar com dire-

tores de associações locais, bombeiros, mem-bros antigos da comunidade, funcionários daindústria e de partidos políticos, jovens e pro-fessores, uma vez que esses grupos oferecemuma boa amostra da opinião pública. Fizemosainda pesquisas para conhecer a opinião mé-dia dos cidadãos. Verificamos que a atitude ge-

ral era positiva em relação a nosso plano. Masé claro que havia questões abertas de naturezatécnica e financeira.”

A cidade realizou uma série de eventos paradiscutir os problemas e fornecer informações

mais detalhadas aos morado-res. O principal foi uma con-ferência com 400 participan-tes, incluindo workshopsfechados, apresentações pú-blicas, interação com a mídiapara responder aos aspectosmais controversos do proje-

to, e uma exposição especial sobre o projetogeotérmico chamada “Jornada às Profunde-zas”. A Risk Dialogue Foundation participou doprojeto como observador imparcial trazendoimpressões não manifestas aos participantes eapresentou visões diferentes do projeto.“Como tais problemas foram examinados nos

Cidadãos analisaram viabilidade e ris-cos de um local para a construção deuma unidade de descarte de resíduos.

Page 80: Pictures of the Future 2012

sobre projetos públicos (veja pág 52). “Alémdisso, as linhas da batalha já haviam sido defi-nidas.”

O que Fazer? Há alguns anos atrás, Renn esua equipe mostraram como fazer as coisas deforma correta, durante uma discussão sobreuma usina de tratamento de esgoto, no cantãosuíço de Aargau. “Agora, todo mundo entendea importância do tratamento eficiente de deje-tos, mas as pessoas nas áreas afetadas sentiamque estavam sendo expostas a riscos devido à

potencial contaminação dos lençóis freáticos”,diz Piet Sellke, que trabalha no Instituto Dialo-gik. “Havia onze locais possíveis, aqui em Aar-gau, e o governo local deu permissão para queos moradores decidissem onde deveria ser exe-cutada a construção.”

Para isso, Renn e sua equipe reuniram cercade 90 moradores de doze municípios de Aar-gau e os dividiu em quatro comissões de mora-dores. Foi pedido para que de cada municípiodos possíveis locais de construção fossem en-viados dois representantes para cada uma dasquatro comissões. “Ao contrário de outrasações do gênero, as autoridades municipais es-colheram quem participaria”, explica Sellke. Osmembros dos comitês incluíam donas de casa,professores, representantes de organizaçõesde proteção da natureza, fazendeiros, e conse-

lheiros municipais. “Nem todos ti-nham o mesmo grau de informa-ção. Então, o primeiro passo foifornecer dados e material escrito.”

Em seguida, solicitou-se aosmembros que criassem diagramasde critérios para a avaliação doslocais propostos referentes a ade-

quação e riscos. Durante esse processo, elespuderam enviar perguntas a especialistas, ou-vir testemunhos, visitar os locais em questão.Os critérios levantados, por exemplo, o impac-to ambiental e a eficiência econômica, os aju-dou na comparação. Depois, em um workshopfechado, especialistas em descarte de dejetosavaliaram os critérios e deram suas próprias re-comendações. Os resultados foram apresenta-dos aos cidadãos.

As quatro comissões organizaram works-hops separados para a avaliação final a respei-to dos locais propostos”, diz Renn. “A análisedos possíveis locais de acordo com os critériosforam discutidos em pequenos grupos e emuma sessão plenária. Finalmente, eles foramsubmetidos à votação.” Um local, conhecidocomo Eriwies, recebeu a maior parte dos vo-tos. Então, foram selecionados cinco membrosde cada comissão para formarem uma “SuperComissão” que reuniria as recomendações eencaminhar os resultados às autoridades emum relatório. “Inicialmente, 80% dos membrosacreditavam que suas próprias cidades não

80 Reeditado (com atualizações) de Pictures of the Future | Primavera 2012

Hoje, cidadãos participam dadecisão em um assunto sagrado:o orçamento anual municipal.

Os cidadãos de Recife (Brasil) têm voz no orçamento municipal há dez anos.

estágios iniciais do projeto, não houve necessi-dade de uma mediação específica entre a fá-brica e outros grupos de interessados”, explicaHolenstein.

O parlamento municipal de St. Gallen anali-sou os resultados dessa fase de participaçãodos municípios, entre junho e agosto de 2010,e logo depois, no mesmo ano, realizou um re-ferendo. O resultado foi que 80% do eleitoradovotou em favor do projeto. Na Suíça, instru-mentos de base, como plebiscitos asseguramque correções possam ser feitas se alguma dú-vida sobre o projeto surgir numa fase maisavançada. Além disso, saber que, se necessá-rio, os moradores podem se defender lhes dáuma sensação de segurança e permite que ossistemas políticos funcionem efetivamente.Não é surpresa, visto que praticamos esse tipode democracia de base há alguns séculos”, as-sinala Holenstein.

Entretanto, por que o diálogo falhou noKeystone Center, nos Estados Unidos? “Tentarincluir moradores em um projeto já em cursonão funciona”, afirma o professor OrtwinRenn, diretor do instituto Dialogik, em Stutt-gart, na Alemanha, e mediador em discussões

Apresentação em St. Gallen (Suíça): elevador levava visitantes para 4.400 metros abaixo do solo, virtualmente, para o local projetado de uma usina geotérmica.

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Compartilhando um Futuro mais Brilhante

CurtasÁgua limpa pode ser escassa, sobretudo em

áreas rurais, favelas ou após catástrofes. A mo-

derna tecnologia de membranas da Siemens é

capaz de abastecer a população com esse pre-

cioso recurso com rapidez e segurança. (pág. 63)

Em 1979, a primeira turbina eólica de 22 KW

entrou em funcionamento, na Dinamarca. Piet-

Willem Chevalier, engenheiro de análises da dinâ-

mica de turbinas eólicas da Siemens Energy, em

Haia, descobriu como oferecer esse tipo de eletri-

cidade de emissão zero a algumas das regiões

mais pobres do mundo. Um clássico exemplo de

sustentabilidade. (pág. 64)

Durante gerações, os habitantes às margens

do Lago Vitória, no leste da África, usaram lampa-

rinas a querosene para pescar e iluminar os seus

lares. Essas lamparinas ameaçam a saúde e o

meio ambiente. As pessoas também dependem

das fontes de água potável contaminada, percor-

rendo diariamente longas distâncias. O centro de

energia hídrica representa uma esperança para

aqueles que lá vivem. (pág. 66)

Querétaro é um estado no centro do México,

localizado a duas horas de carro, a nordeste da

Cidade do México. Enquanto a sua capital, San-

tiago de Querétaro, dispõe de boa infraestrutura,

em muitas aldeias e fazendas no planalto, faltam

água corrente e o acesso à rede elétrica pública.

A Siemens apoia o projeto caritativo “Luz cerca de

todos” (Luz junto a todos) com a instalação de

painéis solares que já mudou a vida de muita

gente. (pág. 68).

A saúde tem um papel fundamental no desen-

volvimento sustentável. Mercados emergentes e

em desenvolvimento têm muito que recuperar na

área da assistência médica. Tecnologias da Sie-

mens apoiam a gestão de soluções práticas de

baixo custo para a assistência básica, em áreas ru-

rais, e soluções altamente sofisticadas para espe-

cialistas, nas cidades maiores. (págs. 71, 73, 75)

No mundo todo, diversos governos incenti-

vam a população interessada a se envolver nos

principais projetos de infraestrutura, melhorando

a abertura, a transparência e a responsabilidade

dos processos de decisão. Projetos na Suíça e no

Brasil lideram esse movimento. (pág. 78)

GENTE:

Hidrante Celeste:

Rhett Butler, Siemens Water Technologies

[email protected]

Christine Weyrich, Fundação Siemens

[email protected]

Planta de Energia Eólica em Mali:

Piet Willem Chevalier, Siemens Energy

[email protected]

Lago Vitória:

Jochen Berner, Osram

[email protected]

Ulrike Susanne Wahl, Fundação Siemens

[email protected]

México, Luz junto a Todos:

José Hernández, Siemens México

[email protected]

Gestão de Lixo na Bolívia:

Gerhard Hütter, Fundação Siemens

[email protected]

Rastreando as Doenças na Índia:

Manohar Kollegal, Corporate Technology India

[email protected]

Assistência de Saúde em Países Emergentes:

Florian Belohlavek, Siemens Healthcare

[email protected]

Floresta Tropical, Clínica sob Palmeiras:

Reynaldo Makoto Goto, Siemens Brasil

[email protected]

Participação Pública:

Matthias Holenstein, Risk Dialogue Foundation

[email protected]

Ortwinn Renn, Instituto de Pesquisa Dialogik

[email protected]

LINKS:

Fundação Siemens:

www.siemens-stiftung.org

Fundação SkyJuice: www.skyjuice.com.au

WHO / UNICEF Programa Conjunto de

Monitoramento do Abastecimento de Água e

Saneamento: www.wssinfo.org

Campanha 7 Bilhões de Ações da UNFPA:

www.7billionactions.org

Instituto de Pesquisa Dialogik:

www.dialogik-expert.de

Fundação Risk Dialogue:

www.risiko-dialog.ch

abrigariam uma usina de tratamento de deje-tos”, comenta Renn. “No fim, mesmo as pes-soas de Eriwies diziam que a usina deveria serconstruída lá.” O processo inteiro durou aproxi-madamente dois anos, e o governo municipalconcordou com a decisão dos habitantes.

Brasil: Terra do Orçamento Participativo.Atualmente, o foco da participação cidadã seexpandiu para além de grandes projetos e che-gou a um domínio antes considerado intocá-vel: o orçamento. O “orçamento participativo”,iniciado no Brasil em 1989, é hoje um veículobem-vindo de participação também na Europa.Esse processo, que oferece aos habitantes umvoto na distribuição de fundos públicos, podeassumir diferentes formas. A cidade de Recife,com população de 1,6 milhão de habitantes,recebeu, em 2011, o Prêmio Reinhard Mohnda fundação Bertelsmann por sua política orça-mentária. “Procuramos no mundo inteiroexemplos de fortalecimento da participação detodos os grupos sociais”, comenta a gerente doprojeto Bertelsmann Christina Tillmann. “Todosos anos, a população de Recife decide, o desti-no de 10% do seu orçamento. Aproximada-mente, 100.000 pessoas participam desse pro-cesso que, em 2010, gerou 600 propostas.”

O programa focaliza projetos de desenvolvi-mento urbano em relação os quais a popula-ção envia as suas sugestões. O governo muni-cipal distribui panfletos em todos os distritospara que os moradores possam conhecer apauta. Para isso, Recife é dividida em 18 “mi-crorregiões”, assegurando a participação de to-dos os distritos. “Quando pelo menos dez pes-soas se comprometem com uma proposta, elaé examinada pela autoridade em termos deviabilidade financeira e técnica”, explica Till-mann.

O processo é seguido de um fórum público,no qual os cidadãos elegem dez propostas pormicrorregião e escolhem delegados que, en-tão, são treinados em assuntos orçamentáriospara melhorarem as propostas. “Quem nãopode comparecer ao fórum, participa online”,comenta Tillmann. Os delegados debatem aspropostas com o Conselho Municipal que, en-tão, decide as medidas apropriadas. “O planoorçamentário completo é apresentado às mi-crorregiões e os residentes elegem represen-tantes para monitorar sua implementação”, sa-lienta Tillmann. Desde o lançamento doorçamento participativo, em 2001, quase5.000 medidas em setores como tratamentode esgoto, saúde e educação foram aprovadaspela população e implementadas.

O autor suíço, Friedrich Dürrenmatt, afirmaem sua peça Os Físicos, que problemas queatingem a todos devem ser resolvidos por to-dos. Hoje, essa frase parece mais relevante doque nunca na história. Hülya Dagli

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Pictures of the Future, Edição Especial Rio+20 (inglês)German Green City Index, análises ambientais de 12 grandes cidadesEuropean Green City Index, análise da situação ambiental das maiorescidades da Europa (inglês)U.S. and Canada Green City Index, 27 cidades dos EUA e Canadá (inglês)

Informações adicionaissobre as inovações da Siemens encontram-se disponíveis na internet em:www.siemens.com/innovation (site do Departamento R&D da Siemens)www.siemens.com/innovationnews (serviço de comunicação semanal)www.siemens.com/pof Pictures of the Future na internet, – também em es-panhol, chinês, francês, português, russo, romeno e turco.Pictures of the Future também está disponível como aplicação gratuita naApp Store.

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Livros:Life in 2050 — How We Invent the Future Today (EUR 19,95) Innovative Minds (EUR 34,90). Mais informações estão disponíveis em:www.siemens.com/innovation/lifein2050 ou em livrarias

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Pictures of the Future | Especial Rio+20 83

Pictures of the Future | Recomendação

Relação das Cidades Verdes

Como cidades em diversas partes do mundo reagem em relação à sustentabilidade ambiental urbana? A publicação Green City Index(Relação das Cidades Verdes) dá a resposta, mostrando e comparandocidades com relação a sua performance ambiental. Esses incomparáveisprojetos de pesquisa, realizados pela Siemens em cooperação com aEconomist Intelligence Unit, apoiam a compreensão e o alcance da sustentabilidade ambiental urbana e identificam as melhores práticas,que outras cidades poderão querer seguir.Cada cidade é avaliada segundo aproximadamente 30 indicadores aolongo das nove seguintes categorias ambientais: emissões de CO2, energia, prédios, uso da terra, transporte, água e saneamento, gestãode dejetos, qualidade do ar e governança ambiental. A série de projetoscomeçou em 2009 e, agora, já se estende por mais de 120 cidades naEuropa, América Latina, Ásia, América do Norte e África. Sete cidades da Austrália e Nova Zelândia serão incluídas, no final de 2012.

Vida em 2050 – Como Inventamos o Futuro, hoje

Estamos em transição para uma nova era. O clima do planeta está emrisco. O século do petróleo chega ao fim e o abastecimento de energiaprecisa ser apoiado em uma nova base sustentável. Em 2050, o núme-ro de habitantes urbanos será quase tão grande quanto a atual popula-ção e, pela primeira vez, existirão mais idosos do que crianças e jovens.

Essa é a razão pela qual os pesquisadores, inventores e engenhei-ros, hoje, precisam ser mais criativos que nunca. Computadores comomédicos assistentes, robôs como empregados domésticos, dispositivossensoriais para carros elétricos, edifícios como comerciantes energéti-cos, fazendas em arranha-céus, tetos feitos de luz, usinas energéticasem desertos e em alto mar, super computadores do tamanho de ervi-lhas, universidades virtuais, fábricas online – essas não são apenas vi-sões, mas realidades quase tangíveis em laboratórios, no mundo todo.

Nos últimos 11 anos, a revista Pictures of the Future explora o mun-do de amanhã. Em 22 edições, com mais de 2.200 páginas editadas, aPictures of the Future tem pesquisado as futuras tendências e identifi-cado as importantes tecnologias que farão parte das nossas vidas ao

longo das próximas décadas. No livro Life in 2050, Ulrich Eberl, reda-tor-chefe da Pictures of the Future, pela primeira vez, fornece um resu-mo compacto e claramente estruturado dos principais desenvolvimen-tos que determinarão, como viveremos nas próximas décadas.Considerando as tendências da sociedade, dos negócios e da política,esses avanços apontam o caminho, como numa viagem ao futuro.

Em primeira linha, o livro se dirige a jovens leitores que querem sa-ber como surgem as inovações, como os desenvolvimentos se influen-ciam mutuamente, que profissões estão sendo procuradas e como elespodem ajudar a inventar o mundo de amanhã. Manter-se informadosobre o atual trabalho dos centros de pesquisa e das indústrias é im-portante para todos, desde estudantes de escolas e universidades atépesquisadores, professores, executivos e políticos. Life in 2050 , com 240 páginas, apresenta impressões claras do trabalho em laboratórios,onde pessoas criam o futuro mundo de amanhã. O livro mostra que osdesafios do século XXI podem ser vencidos se mantivermos as nossasmentes abertas para potenciais soluções e tivermos coragem de agir.

Life in 2050

Ulrich Eberl, Beltz & Gelberg, EUR 19.95.

Redator da edição inglesa: Arthur F. Pease.

Mais informações em um vídeo online:

www.siemens.com/innovation/lifein2050Zukunft 2050 (alemão), Ulrich Eberl,

Verlag Beltz & Gelberg, EUR 17.95.

siemens.de/innovation/zukunft2050

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Editor: Siemens AGCorporate Communications (CC) e Corporate Technology (CT)Otto-Hahn-Ring 6, 81739 Munique, AlemanhaConselho Editorial: Dr. Ulrich Eberl (CC), Arthur F. Pease (CT)[email protected] (tel. +49 89 636 33246)[email protected] (tel. +49 89 636 48824)

Escritório Editorial:Dr. Ulrich Eberl (Redator-Chefe)Sebastian Webel (Diretor Executivo)Arthur F. Pease (Diretor Executivo da edição inglesa)Hülya DagliNicole ElfleinStefan Schröder

Outros autores desta edição: Dr. Fenna Bleyl, Dr. Hubertus Breuer, Christian Buck, Nils Ehrenberg, Ute Kehse, Dr. Andreas Kleinschmidt, Steven E. Kuehn, Dr. Michael Lang, Florian Martini, Katrin Nikolaus, Arthur F. Pease, Dr. Jeanne Rubner, Evelyn Runge, Tim Schröder, Dr. Sylvia Trage, Andreas Wenleder, Johannes Winterhagen

Edição de Arte: Judith Egelhof, Irene Kern, Doreen Thomas, Stephanie Rahn, Manfred Viglahn, Publicis Publishing, Munique

Internet:(www.siemens.com/pof): Volkmar Dimpfl, Florian MartiniBanco de Dados de Endereços: Susan Grünbaum-Süß, Publicis ErlangenDesign Gráfico / Litografia: Rigobert Ratschke, Gabriele Schenk, Seufferle Mediendesign, StuttgartIlustrações: Wolfram Gothe, Munique; Arnold Metzinger, MuniqueArte Gráfica: Jochen Haller, Seufferle Mediendesign, StuttgartTraduções Alemão-Inglês: Transform GmbH, ColôniaTraduções Inglês-Português: Transform GmbH, ColôniaGráfica: Margraf Editora e Indústria Gráfica Ltda., São Paulo

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